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Universidade Federal do Piauí Centro de Educação Aberta e a Distancia SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Antonio de Pádua Carvalho Lopes

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Este texto é destinado aos estudantes aprendizes que participam do programa de Educação a Distância da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Piauí (IFPI), com apoio do Governo do estado do Piauí, através da Secretaria de Educação.Você está iniciando o estudo de Sociologia da Educação, uma disciplina importante para o exercício da docência, porque, como veremos ao longo do curso, pode ajudar o professor a compreender o contexto qual ele realiza sua prática educativa e a pensar essa prática. Ao analisar sua prática social, o professor compreenderá ser a escola um espaço social situado historicamente. Com isso, esperamos que você, sem se tornar sociólogo, possa utilizar o conhecimento produzido por essa disciplina para melhor compreender a escola e seus sujeitos.

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  • Universidade Federal do Piau

    Centro de Educao Aberta e a Distancia

    SOCIOLOGIA DA

    EDUCAO

    Antonio de Pdua Carvalho Lopes

  • Ministrio da Educao MEC

    Universidade Aberta do Brasil UAB

    Universidade Federal do Piau UFPI

    Universidade Aberta do Piau UAPI

    Centro de Educao Aberta e a Distncia CEAD

    Sociologia da Educao

    Antonio Pdua Carvalho Lopes

    2013

  • Apresentao

    Este texto destinado aos estudantes aprendizes que participam do

    programa de Educao a Distncia da Universidade Federal do Piau (UFPI),

    Universidade Estadual do Piau (UESPI), Instituto Federal de Educao, Cincias e

    Tecnologia do Piau (IFPI), com apoio do Governo do estado do Piau, atravs da

    Secretaria de Educao.

    Voc est iniciando o estudo de Sociologia da Educao, uma disciplina

    importante para o exerccio da docncia, porque, como veremos ao longo do curso, pode

    ajudar o professor a compreender o contexto qual ele realiza sua prtica educativa e a

    pensar essa prtica. Ao analisar sua prtica social, o professor compreender ser a

    escola um espao social situado historicamente. Com isso, esperamos que voc, sem se

    tornar socilogo, possa utilizar o conhecimento produzido por essa disciplina para

    melhor compreender a escola e seus sujeitos.

    Para isso, discutiremos, principalmente, as relaes entre a escola e a

    sociedade. Voc, dado o nvel de escolaridade que possui, tem j uma experincia

    importante com a escola. Durante a disciplina, contudo, preciso que voc olhe a escola

    e a educao com outro olhar, de modo desnaturaliz-la e compreend-la como

    construo histrico-social. No esquecendo que voc viveu todo esse perodo de sua

    escolarizao na condio de aluno e agora deseja e procura uma nova insero na

    escola na condio de professor. Que rupturas e continuidades h entre esses dois

    modos de viver a escola? Qual o sentido da escola para ns que optamos por continuar

    vivendo nossas vidas na relao com essa instituio chamada escola? O que nos leva a

    optar por continuar na escola?

    Se vamos enfatizar a dimenso escolar da educao, no podemos

    esquecer que esta no se restringe escola. Como prtica social, a educao encontra-se

    diluda nas diferentes relaes de interdependncia que os homens estabelecem entre si.

    A educao encontra-se, pois, presente em diferentes momentos da vida social, sendo a

    educao escolar apenas ma forma de educao. Portanto, a Sociologia da Educao

  • procura tambm entender a educao que ocorre fora da escola, nos diversos momentos

    em que os indivduos interagem na sociedade e mesmo, dentro de uma mesma

    sociedade entre os diversos grupos, talvez o mais correto fosse falarmos em educaes,

    no plural. Podemos at no ter frequentado, mas no escapamos da educao.

    Desse modo, muito do que discutiremos durante o curso talvez voc j

    tenha proximidade ou tenha intudo a partir de sua experincia como membro da

    sociedade. Contudo, voc dever esforar-se para repensar as vises que advm de sua

    condio de membro da sociedade. importante para a disciplina que se inicia que voc

    exercite o repensar de suas noes sobre sociedade e procurar modificar o seu olhar para

    ela ou experimente olh-la de perspectivas com as quais voc no est acostumado. Para

    ajud-lo no seu repensar, nesse texto, vamos estudar esses temas a partir das vrias

    teorias da Sociologia. Com isso, voc deve j suspeitar que defendemos a ideia de que a

    Sociologia da Educao baseia-se no pensamento e nele que ela encontra seus

    referenciais conceituais e metodolgicos para analisar o fenmeno educativo. Veremos,

    aqui, que h outras maneiras de se conceber a Sociologia da Educao e que explicitar a

    que voc encontrar nesse livro importante para que voc possa compreender a

    proposta que ele tem.

    Este livro compe-se de textos, atividades e sugestes de pginas na

    internet para voc realizar mais leituras. Uma bibliografia ser indicada ao final de cada

    captulo para que voc possa estudar mais sobre o tema. Na leitura dos textos propostos

    vai proporcionar a voc aprofundar os temas discutidos nas unidades do curso. Faz-la

    imprescindvel para a sua formao e para um melhor aproveitamento do curso.

    importante que voc partilhe suas reflexes com seus colegas de turma

    nos chats e na pgina da disciplina. Voc deve, tambm, comentar os textos de seus

    colegas, ajudando-os a pensar suas escritas. Esse debate sobre as diferentes

    compreenses dos temas estudados na disciplina importante para a formao de todos.

    As unidades propostas nas diferentes unidades do curso encontram-se

    no no final do texto, como costumeiramente elas aparecem, mas ao longo do mesmo, e

    devem ser realizadas no momento em que aparecem no livro para eu voc tenha uma

    aprendizagem mais efetiva.

    Os contedos foram organizados em quatro unidades. Na primeira

    unidade voc estudar a histria da Sociologia, suas relaes com a nascente sociedade

    industrial/capitalista, e compreender as relaes entre Sociologia e Sociologia da

    educao. Na segunda unidade voc vai iniciar o estudo do pensamento dos tericos

  • clssicos da sociologia e conhecer o modo como eles analisaram o fenmeno educativo.

    Na terceira unidade voc vai compreender alguns dos temas fundamentais da relao

    escola-sociedade e analisar o lugar na da escola na sociedade. E conhecer mais sobre a

    relao famlia e escola e o modo como o estudo das trajetrias escolares, especialmente

    em camadas populares, podem ajudar a entender o papel da escola na sociedade e

    proporcionar melhores condies para o professor pensar suas aes didticas e

    pedaggicas considerando e relacionando mais efetivamente com as famlias de seus

    alunos.

    Finamente, no esquea a importncia da leitura para a sua formao. Por

    acreditar nessa importncia que indicaremos textos complementares ao longo do

    curso. Lembre-se do seu papel na formao que ora inicia e de como do seu

    desempenho depende o que voc aprender na disciplina. Esperamos que voc, ao final

    da disciplina, tenha refeito seu olhar sobre a escola e seus sujeitos e que o conhecimento

    aqui apresentado possa estimul-lo a buscar mais informaes o que aqui estudaremos.

  • Sumrio

    UNIDADE 1 - A SOCIOLOGIA E A SOCIOLOGIA DA EDUCAO.................................07

    1.1 O Surgimento da Sociologia .................................................................................. 07

    1.2 A Sociologia e a Sociologia da Educao ............................................................. 14

    UNIDADE 2 O PENSAMENTO CLSSICO EM SOCIOLOGIA E A ANLISE DA

    EDUCAO ........................................ 18

    2.1 mile Durkheim ................................................................................................19

    2.2 Max Weber (1864 1920) ................................................................................25

    2.3 Karl Marx (1818 1883) ..................................................................................29

    UNIDADE 3 A EDUCAO COMO OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA, AS

    DESIGUALDADES SOCIAIS E AS TRAJETRIAS ESCOLARES ....... 38

    3.1 A Escola como Espao Sociocultural .......................................................................39

    3.2 A Escola: Homogeneidade e Heterogeneidade ........................................................40

    3.3 Processos de Socializao e Educao .....................................................................51

    3.4 A Temtica das Desigualdades e as Teorias Contemporneas sobre a Educao

    Escolar ............................................................................................................................53

    3.5 Pierre Bourdieu .........................................................................................................53

    3.6 Paul Willis.................................................................................................................55

    3.7 As desigualdades sociais e as trajetrias escolares .................. 57

    3.7.1 Algumas Caractersticas dos Estudos sobre trajetrias Escolares ...... 59

    3.7.2 O Estudo das Desigualdades em Face da Escola e a Construo do Sucesso

    Escolar em Camadas Populares ...................................................................................................60

    MINICURRCULUM ..................................................................................................63

    REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................................64

  • 7

    UNIDADE 1

    A SOCIOLOGIA E A SOCIOLOGIA DA EDUCAO

    Resumindo

    Nessa unidade voc conheceu a histria da Sociologia, suas relaes com

    a nascente sociedade industrial/capitalista. Soube como um conhecimento laborado

    importante para compreender as possibilidades e limites desse conhecimento. Alm

    disso, estudou as relaes entre a Sociologia e a Sociologia da Educao, procurando

    enfatizar os vnculos existentes entre a anlise da educao e a Sociologia. Desse modo,

    esta unidade tratou da constituio da sociologia como conhecimento e das diferentes

    formas que ela assume ao estudar a educao. Viu-se, ainda, a importncia da

    Sociologia para a formao de professores e para a sua pratica educativa.

    1.1 - O Surgimento da Sociologia

    Vivendo em sociedade estamos imersos naquilo que o centro da anlise

    da Sociologia. A Sociologia como forma de conhecimento tem seu interesse marcado

    pelo desejo de compreender a vida social. Como afirma Peter L. Berger (1986, p.27) o

    socilogo poder est interessado em muitas coisas. Mas seu interesse dominante ser o

    mundo dos homens, suas instituies, sua histria, suas paixes.

    Assim, voc inicia aqui um percurso em seu ser convidado a pensar

    sobre a vida em sociedade, procurando ver e entender a vida social com o auxilio do

    conhecimento produzido pela Sociologia. Esperamos que voc possa descobrir-se tendo

    um novo olhar para a sociedade, pois como afirma Peter L. Berger (1986, p.30)

    qualquer atividade intelectual torna-se estimulante a partir do instante em que se

    transforma em uma rota de descoberta. Desejamos que essa disciplina seja para voc

  • 8

    Figura 1. A liberdade guiando o Povo (1830),

    Mus de Louvre Paris. Quadro de Delacroix.

    uma rota de descoberta sobre a vida social, possibilitando a voc, quem sabe, (...) a

    sbita revelao de novas e insuspeitadas facetas da existncia humana em sociedade

    (BERGER, 1986, p.33).

    Talvez voc esteja se perguntando sobre qual o lugar da Sociologia em

    curso de formao de professores. Propormos a voc, agora, um percurso visando

    entender melhor este lugar. Uma forma de se pensar este lugar entender o que a

    Sociologia como forma desconhecimento e o que faz o professor em sua prtica

    profissional.

    Comearemos por procurar entender o que a Sociologia. Inicialmente, a

    Sociologia pode ser compreendida Giddens, (2005, p.24) [...] como o estudo da vida

    social humana, dos grupos sociais e da sociedade.. Como voc pode observar essa

    conceituao a sociologia aparece relacionada como o estudo das formas coletivas

    (sociais) da existncia humana.

    Como forma de conhecimento, a Sociologia deseja

    responder diversas indagaes que resultam da curiosidade do ser humano sobre sua

    condio: Como se organiza a vida em sociedade?

    Qual a relao entre indivduo e sociedade? Como

    ocorrem as transformaes na sociedade? O que

    mantm a sociedade coesa?

    Ou ainda, como afirma Peter L. Berger

    (1986, p.29), os socilogos procuram responder as

    seguintes indagaes: O que as pessoas esto

    fazendo uma com as outras aqui? Quais as relaes

    entre elas? Como essas relaes se organizam em

    instituies? Quais as ideias coletivas que movem os

    homens e as instituies?

    Voc pode se perguntar se o desejo de saber e

    compreender a vida coletiva algo recente, como a

    Sociologia, ou remoto. Afinal, essas indagaes

    parecem ser parceiras antigas do homem na busca na

    compreenso do seu mundo e do seu viver.

    Certamente, a reflexo e a observao dos homens sobre as diferentes

    sociedades e o meio social no qual vivem uma prtica antiga da histria da

    humanidade.

  • 9

    Contudo, a Sociologia como forma de conhecimento especfico se

    constituiu, como veremos, mais recentemente. Isso por serem necessrias algumas

    condies sociais para que uma reflexo, com as pretenses da Sociologia, surgisse. E

    que condies eram essas?

    Nascida e vinculada aos efeitos ocasionados na sociedade pela

    Revoluo Francesa de 1789 e pela Revoluo Industrial, a Sociologia traz as marcas

    das transformaes que essas revolues deixaram no mundo. Devemos, pois,

    compreender melhor essa dupla Revoluo para perceber como as mudanas que elas

    ocasionaram no mundo e como essas mudanas proporcionaram a base necessria para a

    construo de um saber do tipo da Sociologia. Mas, o que significa a palavra

    Revoluo? Uma Revoluo implica na mudana radical de uma dada situao.

    Pensando essa dupla Revoluo, que transformaes radicais elas fizeram no mundo?

    Qual a relao dessas duas mudanas com a emergncia de um conhecimento voltado

    para a compreenso do mundo social? Procure compreender essas Revolues. Para

    ajud-lo nessa compreenso, faa a atividade 1 proposta da pgina 22.

    Como estvamos dizendo, a Sociologia vai procurar entender essas

    transformaes ao mesmo tempo em que resulta delas. Assim a Sociologia vai trazer as

    marcas desse perodo, especialmente por sua vinculao com as correntes de

    pensamento elaboradas no bojo dessas transformaes e que se destaca a relao que a

    ento nascente Sociologia vai estabelecer com o conservadorismo europeu do sculo

    XIX. Os conservadores, principalmente os franceses, pensavam que a Revoluo

    Francesa, com as transformaes que promoveu na organizao social, provocara uma

    desarrumao na ordem social, transformando a sociedade com suas propostas de

    igualitarismo, racionalismo, individualismo e secularizao.

    O dicionrio ser uma ferramenta de trabalho importante para voc, durante o curso.

    Por isso, se voc ainda no comeou a utiliz-lo, comece a faz-lo, pesquisando o

    significado dos termos igualitarismo, racionalismo, individualismo, e

    secularizao. Utilize, em suas pesquisas, dicionrios da lngua portuguesa e de reas

    como Filosofia, Pedagogia, Sociologia e Histria.

    Os conservadores, como Edmund Burke (1729-1797), Joseph de

    Maistre (1754-1821) e Louis de Bonald (1754-1840), preocupavam-se essencialmente

    com a manuteno da ordem social. Suas posturas eram uma reao ao Iluminismo.

  • 10

    Nisbet (1980, p. 126) afirma que [...] no h uma nica proposio crucial sobre o

    homem, sociedade, religio e conservadores. Mas em que constitui o iluminismo? Faa

    a atividade 2, da pgina XX, antes de continuar a leitura do livro.

    Agora que voc pesquisou sobre o iluminismo podemos voltar a falar do

    pensamento conservador e de sua relao com a Sociologia. Assim, a Sociologia como

    conhecimento vai se gestando a partir do conjunto desses pensamentos, no sendo,

    contudo, uma mera continuao do mesmo. Mesmo assim, as marcas de uma

    preocupao com a ordem social e o equilbrio da sociedade so ressonncias desse

    pensamento no interior da Sociologia. Essa preocupao, inclusive, vai ser uma das

    marcas de nascena da Sociologia e de sua preocupao inicial com a vida social.

    A sociologia vai se consolidando, pois, pelo

    conjunto do pensamento que se elaborou no sculo; XIX e do

    desejo de conhecer esse mundo que surgia a partir das

    transformaes geradas na sociedade pela dupla Revoluo.

    Para a construo dessa modalidade de conhecimento

    concorreram diversos autores e ideias.

    Com Auguste Comte (1798-1857), a Sociologia

    concebida como uma Fsica Social.

    Entendo por Fsica Social a cincia que tem por objeto prprio o estudo dos fenmenos sociais, considerados com o mesmo esprito

    que os fenmenos astronmicos, fsicos, qumicos e fisiolgicos, isto

    , como submetidos a leis naturais invariveis, cuja descoberta o objeto especial de suas pesquisas. (COMTE, 1989, p.53)

    Foi Auguste Comte quem criou o termo sociologia para denominar

    forma de conhecimento:

    Acredito que devo arriscar, desde agora, esse termo novo, sociologia,

    exatamente equivalente minha expresso, j introduzida, de fsica social, a fim de poder designar por um nome nico essa parte

    complementar da filosofia natural que se relaciona com o estudo

    positivo do conjunto das leis fundamentais apropriadas aos fenmenos sociais. (COMTE, 1989, p.61)

    Contudo, bom que se entenda que, embora o termo sociologia tenha

    sido criado por Auguste Comte, nenhuma forma de conhecimento resulta da reflexo

    de um s pensador, mas da reflexo de muito a pensadores que, analisando os

    problemas postos por sua poca histrica, vo criando novas formas de compreend-los.

    Figura 2. Auguste Comte

  • 11

    Desse modo, como j dissemos antes, a Sociologia resulta da ao de diversos

    pensadores.

    Com essas marcas de nascimento, a Sociologia surge com o interesse

    prioritrio de analisar os grupos sociais, sem, contudo, descuidar do individuo. Ou mais

    precisamente com o interesse de compreender a vida social dos agrupamentos humanos.

    Um dos pontos centrais do esforo realizado pela Sociologia

    compreender a relao individuo e sociedade de modo a no separar radicalmente um

    do outro. Norbert Elias (1897-1990) nos ajuda a superar essa dicotomizao, quando

    nos mostra que a sociedade formada por indivduos interdependentes, constituindo

    teias de interdependncia ou configuraes, que so de diversos tipos (ex. famlia,

    escola, cidades).

    Em que consiste essas teias de interdependncias de que fala Norbert

    Elias? Elias (1994, p. 249) assim se expressa sobre elas:

    A imagem do homem como personalidade fechada substitudo aqui pela personalidade aberta que possui um maior ou menor Grau (mas nunca absoluto ou total) de autonomia face a de outras pessoas e que,

    na realidade, durante toda a vida fundamentalmente orientada para outras pessoas e dependente delas. A rede de interdependncia entre

    os seres humanos o que os liga. Eles formam o nexo do que aqui

    chamado configurao, ou seja, uma estrutura de pessoas mutuamente

    orientadas e dependentes. Uma vez que as pessoas so mais ou menos dependentes entre si, inicialmente por ao da natureza e mais atravs

    da aprendizagem social, da educao, socializao e necessidades

    recprocas socialmente geradas, elas existem, poderamos nos arriscar a dizer, apenas como pluralidade, apenas como configuraes. Eis o

    motivo porque (...) no particularmente frutfero conceber os

    homens imagem do homem individual. Muito mais apropriado ser conjecturar a imagem de numerosas pessoas interdependentes

    formando configuraes (isto , grupos ou sociedades de tipos

    diferentes) entre si.

    Assim, com o conceito de configurao Norbert Elias desejava ver

    superada a idia de um homem completamente isolado da sociedade, situando este em

    suas relaes com os outros na sociedade.

    Nem sempre se tem conscincia das relaes das quais fazemos no

    interior da sociedade. As teias de independncias podem relacionar pessoas que no

    reconhecem essa relao, algumas vezes, inclusive, pessoas situadas em diferentes

    espaos geogrficos.

  • 12

    Portanto, a noo de interdependncia central para o modo como

    Norbert Elias analisa a sociedade. Para explicit-la melhor ele faz uma analogia como

    uma partida de xadrez:

    (...) como em um jogo de xadrez cada ao decidida de maneira

    relativamente independente por um individuo representa um movimento no tabuleiro social, jogada que por sua vez acarreta um

    movimento de outro individuo -, limitando a autonomia do primeiro e

    demonstrando sua dependncia (ELIAS, 2001, p. 158).

    Nas relaes de interdependncias configuraes os vnculos podem ser

    amigveis ou hostis. Assim o conceito de configurao utilizado para compreender, por

    Norbert Elias, no trs em si a idia de harmonia numa configurao h tanto aliados

    como inimigos.

    Agora que voc compreendeu o sentido da Sociologia para Norbert Elias,

    voc deve se perguntar sobre como o socilogo se situa na sociedade. Como possvel

    conhecer a sociedade, como deseja fazer o socilogo, sendo parte dela e resultado dela?

    Norbert Elias (1999, p. 13), alerta para o fato de que [...] aquele que

    estuda e pensa a cidade ele prprio um de seus membros [...] mostrando a

    importncia do estudo da sociedade colocar-se como parte da sociedade. Para ele o

    socilogo a estudar a sociedade deve manter em relao a ela uma postura de

    distanciamento (para controlar seus preconceitos) e engajamento (para compreender a

    experincia que os homens tm da vida social).

    Agora, que vimos um pouco mais sobre o modo de pensar a sociedade de

    Norbert Elias, possvel formularmos, com esse autor, um novo conceito para a

    Sociologia ela o estudo de indivduos interdependentes.

    A esta altura voc deve est se perguntando sobre possveis finalidades

    do estudo da Sociologia. Que razes podem existir para que voc se envolva no estudo

    sistemtico da sociologia alm de ser ela uma disciplina obrigatria de seu curso

    universitrio. Enfim, voc pode est de perguntando para que serve a Sociologia?

    Veremos agora algumas respostas dadas a essa pergunta por alguns praticantes dessa

    forma de conhecimento conhecida como Sociologia.

    Norbert Elias (1999) aponta como uma das tarefas centrais da sociologia

    a de tornar mais transparente as teias de interdependncia nas quais as pessoas

    encontram-se envolvidos. Essas teias de interdependncias so opacas e possuem um

  • 13

    carter incontrolvel. Com a anlise dessas teias a Sociologia contribuiria para impedir

    que as pessoas fossem arrastadas por essas teias de um modo cego e arbitrrio.

    Franco Ferrarotti 91986, p.151) aponta uma outra utilidade da Sociologia

    considerando seus usos para auxiliar a tomada de decises polticas. Nesse caso, a

    Sociologia seria til por ser

    (...) capaz de oferecer ao poltico uma srie de alternativa possvel,

    avaliar como uma grande aproximao o custo social das decises

    tomadas ou a tomar, revelar as condies existentes e as mudanas a

    efetuar na estrutura demogrfica, na escola, nos servios pblicos fundamentais para que as decises tomadas em vista de um posterior desenvolvimento no tenham efeitos de distoro nem transformem o

    desenvolvimento socioeconmico equilibrado num processo de expanso pura e simples, condenado a agravar os desequilbrios

    preexistentes e a criar outros novos.

    Podemos ainda pensar em outras unidades da Sociologia. Com suas

    pesquisas, a Sociologia nos ajuda a pensar nossa experincia de modo mais amplo,

    desnaturalizando o mundo no qual estamos imersos e ajudando a superar a sensao de

    familiaridade que temos em relao a ele. Como afirma Giddens (2005, p. 24):

    A maioria de ns v o mundo a partir de caractersticas familiares a

    nossa prpria vida. A sociologia mostra a necessidade de assumir uma viso mais ampla sobre por que somos como somos e por que agimos

    como agimos. Ela nos ensina que aquilo que encaramos como natural,

    inevitvel, bom ou verdadeiro, pode no ser bem assim e que os dados de nossa vida so fortemente influenciados por foras histricas e sociais. Entender os modos sutis, porm complexos e

    profundos, pelos quais nossas vidas individuais refletem os contextos

    de nossa experincia social fundamental para abordagem sociolgica.

    Assim, atravs da Sociologia, possvel compreendermos nossa

    condio no mundo, de modo a v-la em sua relao com as foras histricas e sociais

    que a influenciam. Como afirma C. Wright Mills (1982), a imaginao sociolgica

    permite realizarmos a juno entre histria, sociedade e biografia e, dessa forma,

    compreendermos o mundo no qual vivemos. Dessa maneira, possvel perceber o que

    est acontecendo no mundo e o que acontece com cada um de ns.

    Como voc pode perceber a Sociologia, desde a sua gnese, uma forma

    de conhecimento onde o desejo de compreender vincula-se, muitas vezes, ao desejo de

    intervir no contexto que estuda. Esse vnculo, contudo, no o principal na produo do

    conhecimento pela Sociologia, sendo sua misso primeira ver e compreender a realidade

    social. Como afirma Peter L. Berger (1986, p. 13) a sociologia no uma ao, e sim

  • 14

    uma tentativa de compreenso. evidente que essa compreenso pode ser de utilidade

    para quem age.

    1.2 - A Sociologia e a Sociologia da Educao

    Agora que voc j sabe o que Sociologia deve estar se perguntando

    sobre o que todo esse percurso feito tem a ver com a Sociologia da Educao. Ou, dito

    de outra forma, o que sociologia da Educao e qual sua importncia nos cursos de

    formao de professores? sobre este tema que refletiremos um pouco agora, antes de

    prosseguirmos no estudo de alguns temas da sociologia da Educao.

    Vamos pensar essas perguntas por parte

    Veremos, na prxima unidade do curso, que a Sociologia da Educao

    nasce juntamente com a Sociologia, especialmente se considerarmos a obra de mile

    Durkheim. Antes disso, contudo, preciso dizer que h vrias maneiras de se conhecer

    e de praticar a Sociologia da Educao. Veremos agora algumas dessas possibilidades

    de compreenso o que seja a Sociologia da Educao.

    Antnio Cndido, no texto Tendncias do desenvolvimento da Sociologia

    da Educao, de 1955, identificou trs grandes orientaes nos estudos sociolgicos da

    educao:

    Uma filosfico-sociolgica caracterizada por preocupar-se com a

    definio do carter social do processo educativo, procurando

    estabelecer as articulaes gerais existentes entre a sociedade e a

    educao;

    Uma pedaggico-sociolgica caracterizada pela preocupao como

    o estudo social da educao, visando o bom funcionamento da escola;

    e finalmente,

    Sociologia da Educao que v a Sociologia da Educao como um

    ramo da Sociologia e, embora herdeira das duas anteriores tenta, ao

    mesmo tempo, afastar-se do carter especulativo da primeira e do

    imediatismo da segunda orientao. (PEREIRA; FORACCHI, 1997,

    p. 7-18).

  • 15

    Pelo modo como estamos construindo a disciplina, voc deve ter

    percebido que procuramos desenvolv-la mais de acordo com esta ltima orientao.

    Podemos pensar a Sociologia da Educao como

    sendo

    [...] o ponto de vista (sociolgico) sobre os fenmenos educativos (quaisquer eu sejam as suas

    extenses) que se refaz e amplia

    continuamente na troca, nem sempre igual, com as demais

    sociologias [...]. (ESTEVES, 1993, p. 101)

    H, portanto, uma relao estreita entre

    a Sociologia da Educao e as teorias sociolgicas,

    que requer conhecimentos bsicos nessa rea de saber. A ideia aqui colocada a da

    ruptura com uma compreenso que fragmenta a Sociologia em sociologias especiais.

    Voc deve estar se perguntando, agora que j sabe qual a perspectiva do

    curso, sobre a importncia desse estudo para sua atividade como docente.

    Qual a importncia da Sociologia para a prtica dos professores?

    Karl Manheim e W.A.C. Stewart (1978) afirmam que a importncia da

    Sociologia para os futuros docentes est, especialmente, em fornecer-lhes instrumentos

    para a anlise da sociedade, ajud-los a pensar o lugar da educao na ordem social e a

    compreender as vinculaes da educao com outras instituies (famlia, comunidade,

    igrejas, dentre outras). Isso significa tornar mais claros os horizontes de sua prtica

    profissional e a relao dela com a sociedade.

    Stephen E. Stoer (1992) aponta as seguintes razes para o estudo da

    Sociologia da Educao por futuros professores:

    a Sociologia da Educao pode aumentar as possibilidades de uma

    melhoria da prtica docente;

    a Sociologia da Educao pode esclarecer os docentes sobre as

    dimenses sociais de sua profisso;

    a Sociologia da Educao pode possibilitar aos docentes a

    compreenso dos determinantes sociais do processo educativo dos

    alunos;

    a Sociologia da Educao pode levar os docentes a entender as tenses

    sociais existentes nas escolas;

  • 16

    a Sociologia da Educao pode auxiliar os decentes na elaborao de

    currculos, na estruturao de atividades escolares, na interpretao da

    legislao educacional e das polticas educacionais;

    a Sociologia da Educao pode ajudar os professores a perceber a

    importncia das diferenas e identidade culturais na escola;

    e, especialmente, a Sociologia da educao pode ajudar os docentes a

    interrogar a sua prtica e a escola e a recri-las.

    As razes apontadas acima nos levam a compreender o lugar da

    sociologia da educao nos cursos de formao de professores e a importncia dela para

    a prtica profissional do professor. O professor, atravs da Sociologia da Educao,

    pode compreender melhor os sujeitos presentes no espao escolar, a ao escolar e a si

    mesmo.

    Contudo voc no esquecer que a Sociologia da Educao interessa a

    compreenso do modo como a sociedade se reproduz e dos processos de socializao

    em geral. Como vimos, embora a escola tenha ocupado um local central na analise

    realizada pela Sociologia da Educao, seu interesse mais abrangente e envolve

    dimenses importantes da vida social influenciadoras, inclusive, da ao escolar.

    EXERCICIO DE FIXAO

    Atividade 1

    Pesquise sobre a Revoluo Francesa e sobre a Revoluo industrial,

    destacando os aspetos dessas Revolues que modificaram a vida social. Depois, tente

    compreender como essas transformaes proporcionaram o surgimento da Sociologia.

    Por ultimo, escreva um pequeno texto e compartilhe esse texto com seus colegas.

    Atividade 2

    Pesquise sobre Iluminismo e produza um pequeno texto sintetizando as

    ideias e os principais representantes desse movimento e compartilhe com seus colegas

    Atividade 3

  • 17

    Sobre a ideia de uma sociologia processual em Norbert Elias, leia o texto

    de Tatiana Savoia Landini, no endereo

    http://www.pg.cefetpr.br/ppgep/Ebook/cd_Simposio/artigos/mesa_debate/art27.pdf e

    comente, especialmente, os princpios da sociologia de Elias.

    Atividade 4

    Antes de prosseguir na leitura do livro, escreva um pequeno texto

    indicando como voc responderia essa pergunta. Depois compare suas respostas com as

    colocadas a seguir no texto e, caso pense ser necessrio, reformule seu texto.

    Atividade 5

    Escreva um texto dizendo o que voc entendeu ser a Sociologia e como o

    conhecimento pro ela produzido se vincula com a nossa vida. Disponibilize seu texto

    para seus colegas de turma e discuta os textos deles. Considerando essa discusso refaa

    seu texto.

    Atividade 6

    Antes de ler algumas possveis respostas a esta indagao, escreva um

    pequeno texto, expondo como voc pensa a relao entre Sociologia e docncia. Partilhe

    suas reflexes com os colegas de curso.

    Atividade 7

    Considerando o acima exposto, como voc explicaria a necessidade do

    professor se apropriar dos instrumentos da anlise sociolgica para a

    sua prtica docente?

    Leia o texto as finalidades sociolgicas da educao na formao de

    professores, de Telmo H.L. Caria no endereo

    hhtp://home.utad.pt/~tcaria/actividades_interesses/AsFinalidadesSocio

    logicas.pdf e responda:

    Como a Sociologia da Educao pode ajudar os professores a superar

    sua relativa passividade diante dos problemas da escola?

    Como proposta a resoluo da dicotomia entre subjetivismo e

    objetivismo na construo do conhecimento sociolgico?

  • 18

    UNIDADE 2

    O PENSAMENTO CSSICO EM SOCIOLOGIA E A ANLISE DA

    EDUCAO

    Resumindo

    Nessa unidade, voc iniciou o estudo do pensamento dos tericos

    clssicos da Sociologia e conheceu o modo como eles analisaram o fenmeno

    educativo. Voc ver que o pensamento clssico em Sociologia tem sua importncia

    pelo carter profundo, original e pela repercusso desse pensamento na Sociologia que

    hoje elaborado. Voc compreendeu a necessidade de conhecer os conceitos elaborados

    e o modo como cada um dos pensadores clssicos aqui estudados realizaram sua anlise

    da sociedade. Para o estudo do pensamento clssico em sociologia estamos

    considerando as obras de mile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Outros pesadores

    poderiam ser acrescidos a esta lista, contudo, considerando a carga horria da disciplina

    e seus objetivos, estudaremos somente esses trs tericos fundamentais para a

    construo da sociologia como conhecimento.

    Introduo

    Como voc viu anteriormente, a Sociologia como forma de

    conhecimento foi se constituindo graas ao desenvolvimento do pensamento sobre a

    sociedade fruto das transformaes da sociedade e do empenho de pensadores que

    procuraram desenvolver formas de conhecer a vida social.

    Um autor torna-se clssico pela importncia de sua obra para a

    continuidade ou mesmo a constituio de um determinado campo de saber. Sua

    importncia pode ser constatada pela recorrncia de seus temas ou pela necessidade que

    outros autores tm de dialogar com os escritos desses pendores.

  • 19

    Sem desconhecer a existncia ou a importncia de outros autores

    contemporneos aos que aqui sero estudados por voc, nos concentraremos no

    pensamento de mile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Esses autores so

    importantes por terem se tornado a base de diferentes correntes tericas hoje presentes

    no campo da Sociologia.

    2.1 mile Durkheim

    Como j dissemos acima, a Sociologia tem nas obras de mile

    Durkheim (1858-1917), Max Weber (1864-1920) e Karl Marx (1818-1883) seus

    marcos referenciais clssicos. Os dois primeiros desses pensadores marcaram, com os

    seus trabalhos, a gnese da Sociologia como foram de conhecimento, procurando

    constru-la como campo de conhecimento.

    Comearemos o estudo desses clssicos pelo pensamento do francs mile

    Durkheim. Antes de estudarmos alguns aspectos de sua obra, veremos alguns dados

    biogrficos de Durkheim.

    Datas Dados Biogrficos Algumas Obras

    1858

    Nasce Durkheim em

    Epinal, Loraine na

    fronteira Nordeste da

    Frana

    1879 Durkheim entra na Escola

    Normal Superior

    1882

    Concurso de docncia em

    Filosofia. Nomeado

    professor em Seans eSaint-

    Quentin.

    1885

    Solicita licena para

    estudar cincias sociais m

    Paris e depois na

    Alemanha

    1886 Retorna da Alemanha

    1887

    Nomeado professor de

    pedagogia e cincia social

    na faculdade de Bourdeaux

    Publica os artigos

    Estudos recentes da cincia social;

    A cincia positiva da moral da Alemanha;

    A filosofia nas

  • 20

    universidades alems.

    1888

    Artigo sobre suicdio e naturalidade;

    Artigo curso de cincia social aula inaugural.

    1893 Defende a tese de

    doutorado

    Diviso do trabalho social;

    Contribuio de Montesquieu na constituio da cincia

    social.

    1895

    As regras do mtodo sociolgico.

    1896 Funda o LAnne

    Sociologique

    1897

    O Suicdio

    1902 Nomeado para a cadeira de

    pedagogia da Sorbonne

    1906

    Nomeado professor da

    cadeira de pedagogia da

    faculdade de Letras de

    paris, onde ensina

    paralelamente sociologia e

    pedagogia

    A determinao do fato moral

    1911

    Julgamento da realidade e julgamento de valor

    1913

    A cadeira eu era titular

    passa a denominar-se

    cadeira de sociologia

    1915 Durkheim perde seu nico

    filho, morto na guerra.

    A Alemanha acima de tudo

    A mentalidade alem e a Guerra.

    Quem quis a guerra? As origens da segundo

    documentos diplomticos

    1917 Morre em Paris

    1922

    Educao e Sociologia

    Educao Mora

    Sociologia e Filosofia

    1928

    O socialismo a definio, seu comeo, a doutrina saint-simoniana.

    1950

    Lies de sociologia: fsica dos costumes e do

    direito.

    1955

    Pragmatismo e Sociologia

    1970

    A cincia social e a ao

  • 21

    Como voc pode observar no quadro acima as obras de Durkheim que se

    refere diretamente educao foram publicadas aps sua morte a partir de notas de

    aulas organizadas por ex-alunos seus.

    Durkheim preocupou-se em constituir a ento nascente Sociologia como

    uma cincia. Para tanto se dedicou a definir, para essa forma de conhecimento que

    procurava consolidar, um objeto de estudo e uma metodologia que garantisse um lugar

    de conhecimento de homem sobre o mundo.

    Ento, qual era para ele o objeto de estudo da Sociologia? Para o francs

    mile Durkheim, o objeto de estuda da sociologia eram os fatos sociais. Leia o trecho

    do livro As regras do mtodo sociolgico de mile Durkheim, no qual ele define os

    fatos sociais:

    Para conhecer mais sobre conceitos de fatos sociais leia o trecho retirado do livro

    As regras do mtodo sociolgico de mile Durkheim.

    Chegamos assim a conceber de maneira precisa qual o domnio da sociologia, o qual

    no engloba seno um grupo determinado de fenmenos. O fato social reconhecvel

    pelo poder de coero externa que exerce ou suscetvel de exercer sobre os indivduos;

    e a presena empreendimento individual que tenda a violent-lo. Todavia, podemos

    defini-lo tambm pela difuso que apresenta no interior do grupo, desde que, de acordo

    com as precedentes observaes, se tenha o cuidado de acrescentar como caracterstica

    segunda a essencial, que ele existe independentemente das formas individuais que toma

    ao se difundir.

    Em alguns casos, este ltimo critrio ate mesmo mais fcil de aplicar do que o

    anterior. Com efeito, a coero fcil de constatar quando ela se traduz no exterior por

    qualquer reao direta da sociedade, como o caso em se tratando do direito, da moral,

    das crenas, dos usos, e at das modas. Mas, quando no seno indireta, como a que

    exerce uma organizao econmica, no se deixa observar com tanta facilidade.

    Generalidade e objetividade combinadas podem ento ser mais fcies de estabelecer. A

    segunda definio no constitui seno uma forma diferente que toma a primeira; pois o

    comportamento que existe exteriormente s consequncias individuais s se generaliza

    impondo-se a estas.

    Poder-se-ia, todavia, perguntar se esta definio completa. Com efeito, os fatos que

    nos fornecem a base para ela so todos eles modos de agir; so de ordem fisiolgica.

  • 22

    Ora, existem tambm maneira de ser coletivas, isto , fatos sociais de ordem anatmica

    ou morfolgica. A sociologia no se pode desinteressar daquilo que concerne os

    substratos da vida coletiva. No entanto, o nmero e a natureza das partes elementares de

    que e composta a sociedade, a maneira pela qual esto dispostas, o grau de coalescncia

    a que chegaram, a distribuio da populao na superfcie do territrio, o nmero e a

    natureza das vias de comunicao, a forma das habitaes, etc., no parecem, a um

    primeiro exame, passiveis de se reduzirem a modos de agir, de sentir e pensar.

    Contudo, em primeiro lugar, apresenta estes diversos fenmenos o mesmo trao que nos

    serviu para definir os outros. Do mesmo modo que as maneiras de agir de que j

    falamos, tambm as maneira de ser se impem aos indivduos. De fato, quando

    queremos conhecer como est uma sociedade dividida politicamente, como se compem

    estas divises, a fuso mais ou menos completa que existe entre eles, no com o

    auxilio de uma investigao material e por meio de observaes geogrficas que

    poderemos alcan-lo; pois estas divises so morais, ainda quando apresentam algum

    ponto de apoio na natureza fsica.

    somente atravs do direito pblico que se torna possvel estudar tal organizao, pois

    ele que a determina, assim como determina nossas relaes domsticas e cvicas. Tal

    organizao no , pois, menos obrigatria do que outros fatos sociais. Se a populao

    se comprime nas cidades em lugar de se dispensar nos campos, porque existe uma

    corrente de opinio, uma presso coletiva que impe aos indivduos esta concentrao.

    No podemos escolher a forma de nossas casas, nem a de nossas roupas; pois uma to

    obrigatria quanto a outra. As vias de comunicao determinam de maneira imperiosa o

    sentido em que se fazem as migraes interiores e as trocas, e mesmo at a intensidade

    de tais trocas e tais migraes, ect., etc. Por conseguinte, haveria no mximo,

    possibilidade de acrescentar lista de fenmenos que enumeramos como apresentando

    o sinal distintivo do fato social uma categoria a mais, a das maneiras de ser; e como

    aquela enumerao nada tinha de rigorosamente exaustiva, a adio no era

    indispensvel.

    Mas no seria nem mesmo til; pois tais maneiras de ser no passam de maneiras de

    agir consolidadas. A estrutura poltica de uma sociedade no mais do que o modo pelo

    qual os diferentes segmentos que a compem tomaram o hbito de viver uns com os

    outros. Se suas relaes so tradicionalmente estreitas, os segmentos tendem a se

    confundir; no caso contrrio, tendem a se distinguir.

  • 23

    O tipo de habitao a ns imposto no seno a maneira pela qual todo o mundo, em

    nosso redor, e em parte das geraes anteriores, - se acostumaram a construir as casas.

    As vias de comunicao no passam de leitos que a corrente regular das trocas e das

    migraes, caminhando sempre no mesmo sentido, cavou para si prpria, etc. Sem

    dvida, se os fenmenos de ordem morfolgica fossem os nicos a apresentar esta

    fixidez, poder-se-ia acreditar que constituem uma espcie parte.

    Mas as regras jurdicas constituem arranjos no menos permanentes do que os tipos de

    arquitetura e, no entanto, so fatos fisiolgicos. A simples mxima moral seguramente

    mais malevel; porm, apresenta formas muito mais rgidas do que os meros costumes

    profissionais ou do que a moda. Existe toda uma gama de nuanas que, sem soluo de

    continuidade, liga os fatos de estrutura mais caractersticos a estes livres correntes da

    vida social que no esto ainda presas a nenhum molde definido.

    O que quer dizer que no existe entre eles seno diferenas no grau de consolidao que

    apresentam. Us e outros no passam de vida mais ou menos cristalizada. Pode, sem

    duvida, ser mais interessante reservar o nome de morfolgicos para os fatos sociais

    concernentes ao substrato social, mas sob a condio de no perder de vista que so da

    mesma natureza que os outros. Nossa definio compreender, pois, todo o definido, se

    dissermos: fato social toda maneira de agir fixa ou no, suscetvel de exercer sobre o

    individuo uma coero exterior; ou ento ainda, que geral na extenso de uma

    sociedade dada, apresentando uma existncia prpria, independente das manifestaes

    individuais que possa ter.

    (DURKHEIM, mile. As regras do mtodo sociolgico. 13. ed. So Paulo:

    Companhia Editora Nacional, 1987, p. 8-9).

    Durkheim foi influenciado pelo pensamento cientificista do sculo XIX estando

    interessado em definir um objeto de estudo e uma metodologia para a Sociologia.

    Dada a definio do objeto de estudo da Sociologia e a possibilidade de

    reconhec-lo na sociedade, como este objeto poderia ser estudado? Para Durkheim, os

    fatos sociais deveriam ser tratados como coisas. O que significa tratar os fatos sociais

    como coisas? Significa trat-los como algo que, para ser reconhecido, necessita de um

    esforo de pensamento.

    Como vivemos cotidianamente imersos na sociedade, temos a iluso de

    conhecer os fatos sociais. Por isso Durkheim afirma a necessidade de suspeitar das

  • 24

    noes primeiras que formam nosso senso comum, as pr-noes. Considerar os fatos

    sociais como coisas reconhecer que eles no so imediatamente imperceptveis, mas

    sua compreenso requer o auxlio da cincia. Assim, como essa afirmao, Durkheim

    quer indicar a postura intelectual a ser adotada no estudo dos fatos sociais.

    E como Durkheim via a educao? Para Durkheim, a educao

    considerada um fato social, isto , satisfaz os trs critrios de definio do fato social:

    coercitiva (por se impor aos indivduos) exterior ao indivduo (por ser construda

    socialmente) e geral.

    A coercitividade pode ser percebida na fora que a regra social exerce

    sobre o individuo, embora esse possa resistir a ela e essa fora se faa presente e

    imperceptvel pela conformao do individuo a ela. No se resiste a era social, contudo,

    sem que uma sano seja aplicada ao que se ape a ela.

    A exterioridade os fatos sociais em relao ao indivduo pode ser

    compreendida considerando que o individuo ao nascer j encontra uma sociedade

    constituda e, tambm, que sociedade uma criao da ao de vrios indivduos que

    por suas interrelaes vo construindo a vida social.

    Sua definio de educao diz que a educao :

    [...] a ao exercida, pelas geraes adultas, sobre as geraes que no

    se encontram ainda preparadas para a vida social; tendo, por objetivo,

    suscitar e desenvolver, na criana, certo nmero de estados fsicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade poltica, no seu

    conjunto, e pelo meio social, ao qual a criana, particularmente, se

    destine. (DURKHEIM, 1973, p. 41).

    Durkheim afirma que em cada um de ns existiriam dois seres: um

    individual (constitudo de todos os estado mentais que no se relacionam seno

    conosco mesmo e com os acontecimentos de nossa vida pessoal) e outro social (um

    sistema se idias, sentimentos e hbitos, que exprimem em ns, no a individualidade,

    mas o grupo ou os grupos indiferentes de que fazemos parte). O objetivo da educao

    constituir em cada individuo o ser social.

    Na educao, teramos uma relao entre desiguais (adulto j portando

    a sociedade em si e uma criana, na qual falta esse ser social) e de carter assimtrico

    (adulto age sobre a criana, visando criar nela o ser social).

    Considerando a necessidade de unidade da sociedade e, ao mesmo

    tempo, sua diversificao, a educao se caracterizaria, tambm, segundo Durkheim,

  • 25

    por ser ao mesmo tempo uma e mltipla, tendo em vista preparar o individuo para a

    vida coletiva e para o meio social especial a que ele particularmente se destinar.

    O professor , na viso de Durkheim, a encarnao e a personificao do

    dever. Portanto, a autoridade moral a qualidade principal do professor. Essa

    autoridade no deve ser exercida tendo como base a violncia fsica, mas a ascendncia

    moral do professor.

    A liberdade e autoridade no se excluem, estando relacionadas

    intimamente, pois, para Durkheim, a liberdade resulta da autoridade bem compreendida.

    Ser livre no fazer aquilo que se tem vontade, mas ser dono de si prprio, sabendo agir

    segundo a razo, cumprindo o dever. A autoridade do professor deve dotar a criana

    desse domnio sobre si mesma pela interiorizao da norma (DURKHEIM, 1073).

    A cada perodo histrico e a cada sociedade corresponde um tipo de

    educao. Durkheim considera ilusrio querermos educar nossos filhos sem considerar

    o perodo e a sociedade que vivemos. Se criarmos nossos filhos com idias avanadas

    ou ultrapassadas em relao a nossa poca, a sociedade punir essa inadequao de

    formao, pois no permitir ao individuo uma vida conforme seu tempo.

    A educao , para Durkheim, um mecanismo importante de reproduo

    da sociedade, pois atravs dela se perpetuam pensamentos, maneiras de ser e posies

    sociais, sendo, portanto, fundamental para a manuteno da coeso e para a manuteno

    da sociedade.

    2.2 Max Weber (1864 1920)

    Estudaremos agora alguns aspectos da obra do socilogo alemo Max

    Weber. Como fizemos com o francs mile Durkheim veremos inicialmente uma

    cronologia da vida e obra de Weber.

    Como Durkheim, Weber pensou tambm sobre o objeto da sociologia e a

    metodologia para o estudo desse objeto.

    Datas Dados Biogrficos Algumas Obras

    1864 Nasce Max Weber em

    Erfurt, na Turinga.

    1889 Muda-se para Berlim com a

    famlia

  • 26

    1882

    Inicia o curso de Direito na

    universidade de Heildberg,

    seguindo tambm cursos de

    Economia, Histrias outras

    matrias

    1889

    Apresenta sua tese de

    doutoramento sobre histria

    das Companhias comerciais

    na idade Mdia

    1891 Inicia em Berlim a docncia

    universitria Histria Agrria Romana

    1893 Casa-se com Maria nne

    Schnitger

    1894

    Torna-se professor de

    Economia Poltica em

    Fribourg

    As tendncias na evoluo d

    situao dos trabalhadores

    rurais na Alemanha Oriental

    1896 Torna-se professor

    catedrtico em Heildelberg

    As causas sociais da

    decadncia da civilizao

    antiga

    1903

    Funda com Werber Sombart

    os Arhiv fur

    Sozialwissenchaft um

    Sozialpolitik

    1904 Viagem para os Estados

    Unidos

    Publicao de A tica

    protestante e o esprito do

    Capitalismo

    1910

    Funda com Tonniel e

    Simmel a Sociedade alem

    de Sociologia

    1916-1917 Publica trabalhos sobre

    Sociologia da Religio

    1918 Ministra curso na

    Universidade de Viena

    1919

    Assume a ctedra de

    Economia da Universidade

    de Munique

    1920 Morre Weber em Munique

    na epidemia de gripe

    1921 publicada Economia e

    Sociedade

    1923 Histria Geral da Economia

    Para o alemo Max Weber, a Sociologia deveria encontrar-se na anlise

    da ao social, sendo em cincia compreensiva. E o que Max Weber entendia por ao

    social? Para Weber a ao social ocorre quando o sentido pensado pelo individuo

    considera a conduta dos outros no momento em que uma ao praticada. Assim, o

  • 27

    sentido que d ao social seu carter especfico. A

    Sociologia deveria, pois, compreender os significados

    existentes nessas aes.

    Weber, em seu texto Sobre algumas categorias

    da Sociologia Compreensiva, assim define a ao social;

    A ao que especificamente tem importncia para a Sociologia

    compreensiva , em particular um comportamento que: 1) est

    relacionado ao sentido subjetivo pensado daquele que age em

    referencia ao comportamento do outros; 2) est co-determinado no seu decurso por uma referencia significativa e, portanto, 3) pode

    ser explicado pela compreenso a partir deste sentido mental

    (subjetivamente). (WEBER, 1992, p. 315).

    Como voc j deve ter percebido a proposio de Weber para a anlise

    sociolgica difere de Durkheim especialmente pelo fato de Weber pensar, como voc j viu a

    ao social e o sentido como componentes importantes da sociedade. Desse modo, para Weber,

    o objetivo primordial da Sociologia captar a relao de sentido da ao humana.

    Na perspectiva sociolgica elaborada por Weber, um outro conceito

    importante o de tipo ideal. Weber, no texto Objetividade do Conhecimento nas

    Cincias Sociais e na Cincia Poltica, assim define tipo ideal:

    Obtm-se um tipo ideal mediante a acentuao unilateral de um ou vrios pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande

    quantidade de fenmenos isoladamente dados, difusos e discretos, que

    se podem dar em maior ou menor nmero ou mesmo falar por

    completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados, a fim de se tornar um quadro homogneo

    de pensamento. impossvel empiricamente na realidade esse quadro,

    na sua pureza conceitual, pois trata-se de uma utopia. A atividade historiogrfica defronta-se como a tarefa de determinar, em cada caso

    particular, a proximidade ou afastamento entre a realidade e o quadro

    ideal [...] Ora, desde que cuidadosamente aplicado, esse conceito cumpre as funes especficas que deles se esperam, em benefcio da

    investigao e da representao. (WEBER, 1992, p. 137, grifos do

    autor).

    Os tipos ideais, como voc pode perceber no pargrafo anterior, so

    construes do pesquisador que so usadas para analisar o mundo, no significando que

    encontraremos pelo mundo estes tipos ideais. A utilidade da constituio dos tipos

    ideais est como afirma Giddens (2005, p. 34), no fato de que [...] qualquer situao no

    mundo real pode ser compreendida ao compar-la a um tipo ideal.

    A anlise que Weber faz da sociedade capitalista reconhece que h uma

    luta latente entre os indivduos pela existncia. Portanto, o conflito parte dessa anlise

  • 28

    da sociedade. Assim, existiria na sociedade uma seleo que resultaria desse processo

    de luta entre os indivduos nessa seleo social.

    Como parte de um contexto de luta, a educao vincula-se aos diferentes

    tipos de dominao construdos por Weber. Na escola, como em outras instituies

    sociais, temos a presena da dominao.

    Para Weber, deve-se entender por dominao a probabilidade de

    encontrar obedincia dentre de um grupo determinado para mandatos especficos (ou

    para sorte de mandatos). Essa deve encontrar um determinado grau mnimo de

    vontade de obedecer e uma crena em sua legitimidade.

    Weber concebe trs tipos ideais de legitimidade como base para a

    dominao:

    1. Racional que se baseia na crena na legalidade das ordenaes

    institudas e dos direitos de mando dos chamados por essas

    ordenaes a exercer a autoridade: autoridade legal;

    2. Tradicional que se baseia na cresa cotidiana da santidade das

    tradies que vigoram desde tempos longnquos e na legitimidade

    dos que so designados por essa tradio para exercer a autoridade:

    autoridade tradicional;

    3. Carismtica que se baseia sobre a entrega extracotidiana

    santidade, ao herosmo ou exemplaridade de uma pessoa e s

    ordenaes por elas criadas ou reveladas: autoridade carismtica.

    No texto Os letrados chineses, Weber afirma, embora no pretenda ser

    exaustivo, quanto as finalidades da educao, que historicamente:

    [...] dos dois opostos no campo das finalidades da educao so: despertar o carisma, isto , qualidades hericas e dons mgicos, e

    transmitir o conhecimento especializado. O primeiro tipo corresponde

    estrutura carismtica do domnio; o segundo corresponde estrutura

    (moderna) de domnio, racional e burocrtico. Os dois tipos no se opem, sem ter conexes ou transies entre si (WEBER, 1982, p.

    482)

    Desse modo, a educao carismtica corresponderia a dominao

    carismtica; educao do especialista, a dominao burocrtica. Weber distinguiu

    ainda um terceiro tipo, a do homem culto, expresso empregada por ele no:

    [...] sentido de mostrar que o fim da educao no era um tratamento

    especializado, seno uma qualidade no modo de viver valorizado como culto. A personalidade culta no sentido cavalheiresco ou

  • 29

    asctico ou (como na China) literrio ou (como na Grcia) ginstico-

    musical ou (como nos anglo-saxes) na forma convencional do

    gentleman era o ideal educativo determinado pela estrutura de domnio e pelas condies sociais de pertencimento amada dos

    senhores (WEBER, 1992, p.751 e 752).

    Nos diferentes tipos de sociedade, Weber percebe a existncia de relao

    entre a posse e um determinado tipo de educao e o estabelecimento de prestgio

    social, que redunda muitas vezes em benefcios econmicos e privilgios para seus

    consumidores.

    Assim, a importncia da anlise de Weber para o estudo da educao

    reside especialmente no fato de que Weber concebe a educao para alm da instituio

    escolar, destacando, por exemplo, o papel da famlia na formao dos jovens; A

    autoridade dos pais e da escola influencia muito alm daqueles bens culturais de carter

    (aparentemente) formal, pois forma a juventude e dessa maneira os homens. (WEBER,

    1992, p. 172).

    Weber concebe a educao e sentido amplo, por exemplo, quando discute

    a obra A tica protestante e o esprito do capitalismo, a formao religiosa dos catlicos

    protestantes. Assim, para Weber, a educao no se restringia escola, mas em diversas

    esferas da sociedade teramos produo, atravs de uma ao educativa, dos homens e

    das mulheres.

    2.3 Karl Marx (1818- 1883)

    Como fizemos com Max Weber e mile Durkheim, colocaremos agora

    alguns marcos temporais da vida e da obra de Karl Marx, para que voc possa situ-lo e

    seu contexto histrico.

    Para Saber Mais

    Indicamos a leitura dessa obra como complementar: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich.

    A ideologia alem. Disponvel em:

    < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000003.pdf >.

  • 30

    Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) no produziram

    um pensamento estritamente sociolgico. Contudo, a aproximao da Sociologia com a

    obra por eles escrita foi fundamental para o desenvolvimento da Sociologia.

    Datas Dados biogrficos Algumas Obras

    1818 Nasce Karl Marx em Trves, na Prssia

    renana.

    1835 Estudos de direito na Universidade de

    Bonn

    1836 Estuda Direito, Filosofia e Histria em

    Berlim

    1841 Doutoramento em Filosofia pela

    Universidade de Iena

    1842 Redator da Gazeta Renana Escreve artigos diversos

    1843

    Questo Judaica.

    Introduo contribuio

    da filosofia do direito em

    \Hegel. Manuscritos de

    1843.

    1844 Conhece Fredrich Engels Manuscritos de 1844. A

    sagrada famlia.

    1845 Teses sobre Feuerbach. A

    ideologia Alem.

    1847 Misria da Filosofia

    1848 Funda a Nova Gazeta Renana Manifesto do Partido

    Comunista

    1849 Trabalha assalariado e

    capital

    1850 As lutas de classe na

    Frana

    1852 O Dezoito Brumrio de

    Luis Bonaparte

    1857 Fundamentos da crtica da

    economia poltica

    1859 Contribuio Crtica da

    Economia Poltica

    1864

    Marx colabora para a criao da

    Associao Internacional dos

    Trabalhadores (I Internacional)

    1865 Salrio, preo e lucro

    1867 O Capital, livro I

    1871 A guerra Civil na Frana

    1875 Crtica do Programa de

    Gotha

    1883 Karl Marx morre em Londres

    1885 O Capital, livro II

  • 31

    (publicado por Engels)

    1894 O Capital, livro III

    (publicado por Engels)

    1905 Livro IV de O capital

    A obra de Karl Marx refere-se, especialmente, ao desenvolvimento da

    sociedade capitalista, embora no se restrinja a ela. A sociedade capitalista caracteriza-

    se por ser uma sociedade produtora de mercadoria. No livro 1 de sua obra O Capital,

    Marx assim se define mercadoria:

    [...] a mercadoria , antes d mais nada, um objeto externo, uma coisa

    que, por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a natureza, a origem delas, provenham do estomago ou da fantasia.

    (MARX, 1895, p.41).

    No pensamento de Marx, ao e

    teoria se relacionam intrinsecamente. O seu

    interesse de estudo volta-se para a totalidade, o

    que implica o estudo do mundo material e do

    mundo humano considerados em seu

    desenvolvimento histrico.

    Assim, a histria da humanidade de

    e a histria da relao dos homens com a natureza

    e das relaes que os homens estabelecem entre si.

    Essas relaes so mediatizadas pelo trabalho

    humano. Por isso, trabalho uma categoria central do pensamento de Marx.

    Para Marx, o cerne das transformaes da sociedade era a existncia do

    conflito entre as diferentes classes sociais. Em cada poca histrica, haveria uma classe

    dominante e uma classe dominada, definidas a partir das relaes que estabelecem com

    a propriedade dos meios de produo. Na sociedade

    capitalista, os capitalistas, que detm capital, formariam classe dominante da sociedade.

    A outra parcela da populao, a assalariada, comporia a classe operria. Os conflitos e a

    insurreio da classe domina poltica e/ou economicamente proporcionariam a

    transformao da sociedade.

    Como voc j deve ter percebido, o homem como ser social tem, para

    Marx, a caracterstica de ser um ser da prxis, ou seja, um ser cuja atividade cria a

    realidade. A prxis constituidora da vida social do homem, sendo o homem um ser

    Figura 3. Karl Marx

  • 32

    social e histrico que produz e produzido pela sociedade. Dessa forma, a educao

    um processo histrico no qual os homens em mtua relao vo se constituindo.

    Embora Marx no tenha escrito obras especficas sobre educao, ao

    longo de sua obra podemos perceber a preocupao com a formao dos homens e,

    portanto com a educao.

    Na perspectiva da anlise marxista, o projeto de formao do homem

    deve se encaminhar para a superao da separao entre trabalho manual e trabalho

    intelectual e realizar a formao do homem completo. E o que seria esse homem

    completo? Aquele que surgiria de uma sociedade e uma formao possibilitadora do

    desenvolvimento das capacidades humanas, resultante da superao da diviso entre

    trabalho manual e trabalho intelectual. Vejamos como a isso se refere Marx, em um

    trecho de seu livro A Ideologia Alem;

    Com efeito, desde o momento em que o trabalho comea a ser

    distribudo, cada um dispe de uma esfera exclusiva e determinada,

    que He imposta e da qual no pode sair; o homem caador, pescador, pastor, ou crtico, e a deve permanecer se no quiser perder

    seus meios de vida o passo que na sociedade comunista, onde cada um no te uma esfera de atividade exclusiva, mas pode aperfeioar-se no ramo que lhe apraz, a sociedade regula a produo geral, dando-me

    assim a possibilidade de hoje fazer tal coisa, amanh outra, caar pela

    manh, pescar a tarde, criar animais ao anoitecer, criticar aps o jantar, segundo meu desejo, sem jamais tornar-me caador, pescador,

    pastor ou crtico. (MARX, 1986, p.47).

    Assim, a diviso do trabalho seria um obstculo importante para a

    ampliao ou limitao das capacidades intelectuais de muitos seres humanos. A

    formao proposta por Marx envolveria, portanto, mltiplas dimenses do ser humano.

    O uso da mo de obra infantil nas fbricas no sculo XIX levou Marx a

    propor medidas, procurando disciplinar esse uso e favorecer o desenvolvimento das

    crianas. No trecho abaixo, as concepes de Marx sobre educao, especialmente sobre

    a educao das crianas proletrias encontram sua formao mais explcita:

    Para conhecer mais sobre Trabalho dos adolescentes e das crianas de ambos os

    sexos leia o texto abaixo:

    Trabalho dos adolescentes e das crianas de ambos os sexos

  • 33

    Por adulto, entendemos toda pessoa que j completou 18 anos.

    Consideramos a tendncia da indstria moderna a fazer com que crianas e adolescentes

    dos dois sexos cooperem no grande movimento da produo social, como um processo

    e uma tendncia legitima e razovel, ainda que o reino do capital tenha feito disto uma

    abominao.

    Numa sociedade racional, qualquer criana, desde os nove anos, deve ser

    um trabalhador produtivo, assim como nenhum adulto, de posse de todas as suas

    faculdades, pode-se isentar dessa lei geral da natureza. Se quisermos comer, preciso

    trabalhar, e no somente com o nosso crebro, mas tambm com as nossas mos.

    Entretanto, no atual momento, s devemos nos ocupar das crianas e jovens das classes

    trabalhadoras. Julgamos til dividi-los em trs categorias, que devem ser tratadas de

    modo diferente. A primeira categoria compreende as crianas entre nove e 12 anos, a

    segunda as de 13 a 15 anos, e a terceira os jovens de 16 e 17anos. Propomos que a

    utilizao da categoria em qualquer tipo de trabalho na fbrica ou a domicilio, seja

    legalmente restrita a duas horas dirias; a da segunda categoria a quatro horas e a

    terceira a seis horas. Para a terceira categoria, deve haver uma interrupo, de pelo

    menos uma hora, para refeio e recreao.

    Seria desejvel que as elementares comeassem a instruo das crianas,

    idade antes da idade de nove anos. Mas, no momento, s devemos pensar nas medidas

    absolutamente necessria para contra-arrestar as tendncias de um sistema social que

    degrada o operrio, a ponto de torn-lo um mero instrumento para a acumulao do

    capital; e que, fatalmente transforma os pais em mercadores de escravos que vendem os

    seus prprios filhos. O direito das crianas e dos adultos deve ser defendido, uma vez

    que eles no podem faz-lo por si mesmos. , portanto, dever da sociedade agir em seu

    nome.

    Se a burguesia e a aristocracia so negligentes em seus deveres para com

    os seus descendentes, um problema delas. Desfrutando do privilgio de membros

    dessas classes, essas crianas esto condenadas tambm a padecer dos seus

    preconceitos.

    O caso da classe operria PE bem diferente. O trabalhador no abe

    livremente. Frequentemente, ele muito ignorante para compreender que o verdadeiro

    interesse do seu filho, ou as condies normais do desenvolvimento humano, no

    entanto. A parte mais esclarecida da classe operria compreende planamente que o

  • 34

    futuro da sua classe e, por conseguinte, da especial humana, depende da formao da

    gerao operaria que cresce.

    Ela compreende, antes de mais nada, que as crianas e os adolescentes

    devem ser preservados dos feitos destruidores do sistema atual. E isto s pode ser

    realizar pela transferncia da razo social em fora social; o que, nas circunstancias

    presentes, s pode ser feito atravs de leis gerais impostas pelo poder do \estado. Ao

    imporem tais leis, as classes operrias no estaro fortalecendo o poder governamental.

    Ao contrrio, elas estaro transformando o poder dirigido contra elas, em seu agente. O

    proletariado far, ento, atravs de uma medida geral, aquele que ele tentaria, em vo,

    realizar atravs de uma profuso de esforos individuais.

    Por tudo isso, declaramos:

    A sociedade no pode permitir nem aos pais, nem aos patres, o emprego

    de crianas e adolescentes para o trabalho, a menos que se combine o trabalho produtivo

    com a educao. Por educao ns entendemos trs coisas:

    1. Educao mental;

    2. Educao corporal, tal qual e produzida pelos exerccios

    ginsticos e militares;

    3. Educao tecnolgica, compreendendo os princpios gerais e

    cientficos de todos os processos de produo e, ao mesmo tempo,

    iniciando as crianas e os adolescentes no manejo dos

    instrumentos elementares d rodos os ramos industriais.

    A diviso das crianas e dos adolescentes em trs categorias. De 9 (nove)

    e 18 (dezoito) anos, deve corresponder a uma marcha gradual e progressiva em sua

    educao mental. Fsica e tecnolgica.

    Os gastos dessas escolas tcnicas devem ser cobertos, em parte, pela

    venda dos seus produtos.

    Essa combinao do trabalho produtivo pago com a educao mental, os

    exerccios corporais e a aprendizagem politcnica, elevaria a classe operria bem acima

    do nvel das classes burguesas e aristocrtica.

    Fica subentendido que o emprego de criana ou adolescente, entre nove e

    dezoito anos em qualquer tipo de trabalho noturno, ou em qualquer ramo industrial que

    possa acarretar efeitos nocivos para a sade, deve ser severamente proibido pela lei.

    (MARX, 1990, p. 147)

  • 35

    Como voc pode observar no trecho acima, Marx procurou indicar a

    construo de uma educao que compreende a superao da diviso entre trabalho

    manual e trabalho intelectual e que possibilite a constituio do homem completo. Em

    seu tempo, procurou posicionar-se em relao ao modo como era utilizada, nas fbricas,

    a mo de obra infantil, procurando, contudo, defender o princpio da unio entre ensino

    e trabalho, cuja separao um fator de limitao do desenvolvimento do ser humano.

    Atravs da educao tecnolgica, os trabalhadores poderiam

    compreender a organizao do trabalho e transform-lo de modo a ter seus interesses

    realizados. No se trata, portanto, de mero treinamento em determinadas habilidades

    tcnicas, mas do domnio do modo de organizao da produo.

    EXERCCIO DE FIXAO

    Atividade 1

    Aps a leitura do trecho As regras do mtodo sociolgico de mile

    Durkheim, responda:

    O que fato social?

    Quais as caractersticas do fato social, segundo Durkheim?

    Considerando a definio de Durkheim, d exemplos de fatos

    sociais.

    Atividade 2

    Leia o texto de Durkheim no endereo: e responda as seguintes questes:

    Sobre a relao educao e trabalho, sugerimos a leitura complementar do

    seguinte texto> SAVIANI, Demerval. Trabalho e educao: fundamentos

    ontolgicos e histricos. Revista Brasileira de educao, rio de Janeiro, v 12, n.

    34, jan./abr. 2007. Disponvel em: <

    http://www.scielo.br/scielophp?script=sci_arttex&pid=S1413-

    2478200700012&Ing=pt&nrm=iso acesso em: 22 jun. de 007

  • 36

    http://www.ufrgs.br/tramse/pead/textos/durkheim.pdf

    Quais as crticas dirigidas por Durkheim s definies de

    educao que ele analisa em seu texto?

    Que critrios Durkheim observou para elaborao de sua

    definio de educao?

    Por que educao definida em Durkheim como uma e mltipla

    ao mesmo tempo?

    Por que o carter social da educao uma conseqncia da

    definio que Durkheim tem de educao?

    Atividade 3

    Leio o texto de Alonso Bezerra de Carvalho, Burocracias e educao

    moderna: anotaes a partir de Max Weber, no endereo

    htt://www.fet.unicamp.br/sipc/anais7/Trabalhos%5CxBurocracia%20e%20Educa%C3

    %A7%C3%A3o%20Moderna.pdf , e responda:

    Qual a relao entre burocracia e educao?

    O que dominao e qual sua relao com a legitimidade?

    Qual o papel dos diplomas a dominao burocrtica?

    Atividade 4

    Observando o conceito de Marx, que exemplos voc daria de

    mercadoria?

    Atividade 5

    Leia o texto Introduo ao capital de Karl Marx de Alex callinicos no

    endereo http://www.espacoacademico.com.br/038/38tc_callinicos.htm , e faa um

    resumo, procurando compreender especialmente os conceitos de capital, mercadoria,

    valor de uso e valor de troca.

    Atividade 6

    1. Procure conhecer, na sua cidade as condies em que se d a escolarizao

    das crianas e dos adolescentes, procurando conhecer os ndices relativos

    educao (nmero de matrcula, nmero de crianas em idade escolar e taxas de

  • 37

    rendimento escolar), bem como dados sobre trabalho infanto-juvenil. Analise as

    repercusses desse trabalho na escolarizao das crianas.

    2. Leia o texto Politecnia ou educao tecnolgica: desafios ao ensino mdio

    e a educao profissional de Nilson Marques Dias Garcia e Domingos Leite

    Lima Filho, disponvel no endereo

    http://www.anped.org.br/reunioes/27/diversos/te_domingos_leite.pdf, e

    responda:

    a) Em que consiste a politecnia?

    b) Faa uma sntese das polticas implementares para a educao

    profissional.

    c) Quais os desafios eu esses autores apresentam para a educao profissional

    no presente?

    3. Faca um quadro comparativo das concepes de educao de Durkheim,

    Weber e Marx.

  • 38

    UNIDADE 3

    A EDUCAO COMO OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA, AS

    DESIGUALDADES SOCIAIS E AS TRAJETORIAS ESCOLARES

    Resumindo

    Nessa unidade voc compreendeu alguns dos temas fundamentais da

    relao escola-sociedade e analisou o lugar da escola na sociedade. Nela devemos

    pensar a especificidade da escola como instituio e sua vinculao a determinados

    tipos de sociedade. Sempre existiu algo denominado escola? Que sociedades necessitam

    da escola para transmisso de seus valores e conhecimentos? Para o exerccio da

    docncia importante perceber os elementos da vida social que influenciam a escola em

    sua organizao e funcionamento. Situar a escola histrica e socialmente importante

    para compreender seu papel, nossa ao como professores e a constituio dos alunos

    como tais. Estudou, pois, alguns aspectos da relao escola e sociedade procurando

    compreender o lugar da escola e da docncia na sociedade.

    Estudaremos alguns dos modos como te ocorrido a relao famlia e

    escola em diferentes camadas sociais procurando compreender o papel da famlia na

    escolarizao dos filhos e o modo como a escola tem compreendido e interagido com os

    diferentes contextos familiares. Aqui veremos como o estudo de trajetrias escolares

    realizados pelas famlias no processo de escolarizao dos filhos. Veremos, tambm

    como importante que o professor conhea as lgicas de socializao das famlias de

    meio populares e a da escola para exerccio de sua profisso.

  • 39

    3.1 A escola como Espao Sociocultural

    Talvez voc nunca tenha se perguntado, mas ter a

    escola existido desde sempre? O que torna a escola socialmente

    necessria? A escola existe em todas as sociedades humanas?

    A educao tem um sentido amplo e varia de sociedade

    para sociedade e, dentro de uma mesma sociedade, entre os diferentes

    grupos sociais que a compem, sendo mais correto falarmos da

    existncia de educaes. Assim, a educao ocorre em diferentes

    espaos sociais e no somente na escola.

    Vivendo em uma sociedade na qual a escola encontra-se

    marcantemente presente, voc pode pensar que ela sempre existiu ou

    que tenha sido sempre a forma de organizao que hoje conhecemos.

    Contudo, preciso saber que a escola resultado de uma construo

    histrico-social e que assumiu e tem diferentes formas de organizao. Voc deve estar

    se perguntando: por que a escola tem essa caracterstica? Porque ela surgiu e responde

    as necessidades sociais de formao que foram se constituindo ao longo da histria das

    sociedades humanas.

    Assim, o estabelecimento de um espao fsico e um tempo especialmente

    destinado ao ensino foi resultado de um processo histrico, no qual a educao foi

    assumindo a forma escolar que hoje conhecemos passando a ocorrer sob a orientao de

    um grupo profissional especfico: os professores.

    Na sua organizao ao longo do tempo a escola, foi se estruturando e

    criando, no s a figura do aluno, mas outros sujeitos da ao escolar como vigias,

    Em todas as sociedades

    temos a presena de

    formas de transmisso

    entre as geraes de

    valores, viso de

    mundo, regras de

    conduta e classificao

    que organizam a vida

    social do grupo. A

    educao consiste,

    pois, nessas formas de

    transmisso e ocorre

    no s no espao

    escolar.

    Para termos uma primeira aproximao com o conceito da escola, vejamos essa

    definio: Instituio que se prope a construir para a formao de educando como

    pessoa e como membro da sociedade, mediante a criao de condies e oportunidades

    de ampliao e de sistematizao de conhecimento. O termo Escola considerado

    genrico e abrange conceitualmente a escola como instituio social, sua funo e sua

    estrutura dentro da sociedade politicamente organizada e administrada. O termo escola

    vem do grego schole, que significa descanso ou o que se faz na hora do descanso, pois

    na Grcia Antiga a escola era para os que no precisavam trabalhar. (DUARTE, S.G.

    DBE, 1986)

  • 40

    porteiros, merendeiras, zeladoras, coordenadores, inspetores de alunos, diretores, dentre

    outros.

    3.2 A Escola: Homogeneidade e Heterogeneidade

    Como afirma Antonio Cndido (1977), a escola parte de um

    sistema de ensino. Isso torna muito semelhante o conjunto das escolas que

    compem esse sistema, mas cada escola tem sua especificidade ligada

    sociabilidade nela constituda. Desse modo, no devemos esquecer que,

    mesmo considerando a existncia de uma certa homogeneidade, cada escola

    torna-se nica pela sua histria, pelas interrelaes entre seus professores,

    alunos e servidores tcnico-administrativos e pela relao que ela estabelece

    com a comunidade na qual se situa ou que a freqenta.

    Apesar dessa heterogeneidade de escolas, a escola cumpre determinadas

    funes socialmente definidas, que torna sua existncia necessria. Desse modo,

    importante nos perguntarmos; Qual o lugar da escola na sociedade? O que torna sua

    existncia necessria?

    A escola, alm de der um espao importante de socializao, no qual

    os indivduos se preparam para a vida social, tem assumido centralidade na sociedade

    moderna, como afirma Meyer (1991, p. 43), por

    Ter uma rede de regras que cria classificao pblica de pessoas e conhecimento. Ela define quais os indivduos pertencem a essas

    categorias e possuem o conhecimento apropriado. E define quais

    pessoas tm acesso as posies valorizadas na sociedade. A educao um elemento central no quadro de organizao da sociedade,

    construindo competncias e ajudando a criar profisses e

    profissionais.

    Assim, a escola uma instituio historicamente constituda como locus

    de formao das novas geraes. um espao onde se realiza a transmisso da cultura

    socialmente valorizada, sendo tambm espao de convivncia, de conflitos e de

    constituio de identidades.

    possvel que voc j tenha percebido o quanto a sociedade modera,

    mesmo considerando a crise da escola, destaca a escola como uma instituio

    importante para a formao de seus membros. Assim voc pode perceber a importncia

    da escola como uma organizao fundamental da sociedade. Isso ocorre,

    Socializao:

    processo por

    intermdio do qual

    nos tornamos

    membros de uma

    determinada

    sociedade

  • 41

    principalmente, pela relevncia que o domnio do cdigo escrito passa a ter nessa

    sociedade, pelo lugar da escola na classificao pblica das pessoas conhecimentos e

    pela sociabilidade que passa a ser desenvolvida de modo significativo no espao

    escolar.

    Por isso, voc j deve ter percebido, as pessoas ingressam

    cada vez mais cedo no universo da escola e prolongam a permanncia no

    sistema escolar com a ampliao das necessidades de escolarizao, fruto

    tambm da massificao o sistema escolar. Isso, ao tempo em que se

    refora a ao da escola na sociedade, faz surgir novas classificaes e

    hierarquizaes para os diplomas e para os espaos escolares.

    Por outro lado, a escola passa a ser questionada a parte das

    novas formas de constituio e circulao do saber advindas do emprego

    de novas tecnologias de comunicao. Espao de disputa, de incluso e

    excluso, a escola levada a se recriar e a cada momento em suas prticas

    e, ao mesmo tempo, procura manter caractersticas que se consolidaram em seu interior

    ao longo dos tempos.

    As disputas existentes na sociedade perpassam o universo escolar, sendo

    os objetivos da escola legitimados e questionados a partir dos interesses e valores

    presentes nos diversos grupos da sociedade.

    Desse modo, para Claude Dubar (1990, p.174), a escola j no pode ser

    pensada como uma instituio no sentido clssico do tempo, j que esse sentido nos leva

    a considerar que uma instituio deva ter [...] uma forte capacidade de integrao

    funcional em torno de valores fulcrais [...]. Assim, a escola j no proporcionaria a

    integrao funcional dos valores, importante para sua definio como instituio.

    Isso ajuda-nos a entender, segundo esse autor, o sentimento de crise da

    escola que se tem o que no significa que a escola tenha deixado de funcionar, mas

    simplesmente que ela no funcionaria mais como uma instituio. Isso significa

    reconhecer a heterogeneidade dos sujeitos presentes na escola e de seus objetivos, que

    geram novas modalidades de coordenao de suas aes no espao escolar, e reconhecer

    a escola como produtora, tambm, de excluses e desigualdades e como espao de

    disputas e conflitos.

    Na escola, temos, pois, continuamente, a constituio de interaes

    sociais que implicam conflitos e negociaes entre sujeitos sobre aspectos diversos da

    realidade escolar. Assim, h na escola uma diversidade de sentidos construdos por seus

    Para Claude Dubar

    (1996) a escola,

    tradicionalmente, teria

    funes de

    distribuio, educativa

    e de socializao, que,

    na

    contemporaneidade,

    tenderiam a se

    distinguir e a

    constituir-se de modo

    separado.

  • 42

    sujeitos, o que torna a escola um espao plural, no qual diferentes sujeitos e sentidos

    interagem.

    Leitura complementar

    Um dos temas que apareceram ao longo de nosso estudo sobre a escola

    foi o do afastamento da ideia da escola como instituio social. Assim, importante

    procurar refletir mais sobre o que seja uma instituio social. O texto abaixo vai ajud-

    lo nessa tarefa. Leia co ateno e, ao final da leitura, discuta como a escola hoje se

    aproxima ou afasta do modelo de instituio social.

    O que uma instituio social?

    J definimos a instituio como um padro de controle, ou seja, uma

    programao da conduta individual imposta pela sociedade. Provavelmente tal definio

    no ter despertado qualquer oposio no leitor, visto que, embora difira da acepo

    comum do termo, no entra em choque direto com o mesmo. No sentido usual, o termo

    designa uma organizao que abranja pessoas, como, por exemplo, um hospital, uma

    priso ou, no ponto que aqui nos interessa uma universidade.

    De outro lado, tambm ligado s grandes entidades sociais que o povo

    enxerga quase como um ente metafsico a pairar sobre a vida do indivduo, como o

    Estado, a economia, ou o sistema educacional. Se pedssemos ao leitor que

    indicasse uma instituio, ele provavelmente recorreria a um desses exemplos e no

    estaria errado. Acontece, porm que a acepo comum do termo parte duma viso

    unilateral. Em termos mais precisos, estabelece ligao por demais estreita entre o termo

    e as instituies sociais reconhecidos e reguladas por lei. Talvez isso constitua um

    exemplo da influencia que os advogados exercem em nossa maneira de pensar. Seja

    como for, no contexto deste trabalho, tornar-se importante demonstrar que, sob a

    perspectiva sociolgica, o significado do termo no exatamente este. por isso que

    desejamos ocupar um momento da ateno do leitor para, num captulo pouco extenso,

    demonstrar que a linguagem uma instituio.

  • 43

    Diremos mesmo que muito provavelmente a linguagem a instituio

    fundamental da sociedade, alm de ser a primeira instituio inserida na biografia do

    individuo. uma instituio fundamental porque qualquer outra instituio, sejam quais

    forem suas caractersticas e finalidades, funda-se nos padres de controle subjacentes da

    linguagem.

    Sejam quais forem as outras caractersticas do Estado, da economia e do

    sistema educacional, os mesmos dependem dum acarbouo lingustico de classificaes,

    conceitos e imperativos dirigidos conduta individual; em outras palavras, dependem

    dum universo de significados construdos atravs da linguagem e que por meio dela

    podem perceber atuantes.

    Por outro lado, a linguagem a primeira instituio com que se defronta

    o individuo. Esta afirmativa pode parecer surpreendente. Se perguntssemos ao leitor

    qual a primeira instituio com que a criana entra em contato, ser provavelmente a

    famlia que lhe vir mente.

    E de certa forma no deixa de ter razo. Para a grande maioria das

    crianas a socializao primria tem lugar no mbito duma famlia especifica, quer por

    sua vez representada uma faceta peculiar da instituio mais ampla do parentesco na

    sociedade a que pertence. No h duvida que a famlia uma instituio muito

    importante. [...] acontece, porm, que a criana no toma conhecimento desse fato. Ela

    de fato experimenta seus pais, irmos, irms e outros parentes que possam estar por

    perto naquela fase.

    S mais tarde percebe que esses indivduos em particular, e os atos que

    praticam, constituem uma das facetas duma realidade social muito mais ampla,

    designada como a famlia. de supor que essa percepo ocorra no momento em que

    a criana comea a comprara-se com outras crianas o que dificilmente acontece na

    fase inicial da vida. J a linguagem muito cedo envolve a criana nos seus aspectos

    macrossociais.

    No estgio inicial da existncia, a linguagem aponta as realidades mais

    extensas, que se situam alm do microcosmo das experincias imediatas do individuo.

    por meio da linguagem que a criana comea a tomar conhecimento dum vasto mundo

    situado l for, um mundo que lhe transmitido pelos adultos que a cercam mais que

    vai muito alm deles.

  • 44

    A linguagem: a objetividade da realidade

    Antes de mais nada o microcosmo da criana, evidentemente, que

    encontra sua estruturao atravs da linguagem. Esta realiza a objetivao da realidade,

    o fluxo incessante de experincias consolida-se, adquire estabilidade numa srie de

    objetos distintos e identificveis. Isso acontece com os objetos materiais.

    O mundo transforma-se num todo orgnico formado por rvores, mesas,

    telefones. Mas a organizao no se restringe distribuio de nomes, tambm as

    relaes significativas que se estabelecem entre os objetos.

    A mesa pode ser levada para debaixo da rvore se quisermos subir nesta;

    e pelo telefone podemos chamar o mdico se algum adoece. A linguagem ainda

    estrutura o ambiente humano da criana por meio da objetividade e por estabelecer