sociedade atual - evolução da informação

16
171 Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itajaí, mai/ago 2008 CONTRA PONTOS Tatiana Cuberos Vieira * Maria Eugênia Castanho ** * Possui graduação em Artes Plásticas pela Universidade Estadual de Campinas (2004) e, atualmente, é mestranda em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. E-mail: [email protected] ** Possui doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1989) e, atualmente, é professora titular da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. E-mail: [email protected] Correspondência: Rua Carlos Cordts, 168. Vila Progresso - Jundiaí - SP. CEP 13202-161. SOCIEDADE ATUAL E REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO: ganhos e perdas PRESENT DAY SOCIETY AND THE INFORMATION REVOLUTION: gains and losses Artigo recebido em 09/12/2007 Aprovado em 20/07/2008 Resumo O texto discute a influência da revolução da informação na sociedade atual. Em parte, esse fenômeno ocorre devido às inovações tecnológicas desenvolvidas através das exigências dos diversos paradigmas que o mundo acompanhou. Isto porque o modelo econômico capitalista, que prima por um progresso unilateral e extremamente concentrador de renda e poder, acelerou os ponteiros do relógio. Então, tempo é dinheiro e o homem tem pressa. Assim, surgiram novas formas de gerar e transmitir informação, deslocando a economia das indústrias para os serviços, e da força para o conhecimento. Neste cenário, o computador foi um grande ator, já que com essa ferramenta, hoje, é possível afirmar que metade da força de trabalho está envolvida na criação, manipulação ou uso da informação. Isso leva a uma reflexão: como acompanhar os avanços aliados aos riscos que o novo paradigma acarreta. Deste modo, cabe atenção de muitos, inclusive do Brasil, que vivem à margem da possibilidade de financiar pesquisas de alto custo tecnológico, para que não sofram os maiores problemas desse processo, sob a ótica da sociedade atual: a ‘informacional’. Abstract The text discusses the influence of the information revolution on today’s society. The occurrence of this phenomenon is due, in part, to technological innovations brought by the demands of diverse paradigms that the world has been following. This arises from the fact that the capitalist economic model, driven by a unilateral progress which concentrates income and power, has sped up the hands of the clock. Now, time is money and people are in a hurry. This has led to the emergence of new ways of generating and transmitting information, transforming the industrial 001-iniciais-161-186.indd 171 14/10/2008 16:48:14

Upload: rafael-miranda

Post on 17-Dec-2015

22 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Sociedade Atual - Evolução da Informação

TRANSCRIPT

  • 171Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itaja, mai/ago 2008

    CONTRAPONTOS

    Tatiana Cuberos Vieira*

    Maria Eugnia Castanho**

    *Possui graduao em Artes Plsticas pela Universidade

    Estadual de Campinas (2004) e, atualmente,

    mestranda em Educao da Pontifcia Universidade Catlica

    de Campinas.E-mail:

    [email protected]

    **Possui doutorado em Educao pela

    Universidade Estadual de Campinas (1989) e,

    atualmente, professora titular da Pontifcia

    Universidade Catlica de Campinas.

    E-mail: [email protected]

    Correspondncia: Rua Carlos Cordts,

    168. Vila Progresso - Jundia - SP.

    CEP 13202-161.

    SOCIEDADE ATUAL E REVOLUO DA INFORMAO: ganhos e perdas

    PRESENT DAY SOCIETY AND THE INFORMATION REVOLUTION: gains and losses

    Artigo recebido em 09/12/2007

    Aprovado em 20/07/2008

    ResumoO texto discute a infl uncia da revoluo da informao na sociedade atual. Em parte, esse fenmeno ocorre devido s inovaes tecnolgicas desenvolvidas atravs das exigncias dos diversos paradigmas que o mundo acompanhou. Isto porque o modelo econmico capitalista, que prima por um progresso unilateral e extremamente concentrador de renda e poder, acelerou os ponteiros do relgio. Ento, tempo dinheiro e o homem tem pressa. Assim, surgiram novas formas de gerar e transmitir informao, deslocando a economia das indstrias para os servios, e da fora para o conhecimento. Neste cenrio, o computador foi um grande ator, j que com essa ferramenta, hoje, possvel afi rmar que metade da fora de trabalho est envolvida na criao, manipulao ou uso da informao. Isso leva a uma refl exo: como acompanhar os avanos aliados aos riscos que o novo paradigma acarreta. Deste modo, cabe ateno de muitos, inclusive do Brasil, que vivem margem da possibilidade de fi nanciar pesquisas de alto custo tecnolgico, para que no sofram os maiores problemas desse processo, sob a tica da sociedade atual: a informacional.

    AbstractThe text discusses the infl uence of the information revolution on todays society. The occurrence of this phenomenon is due, in part, to technological innovations brought by the demands of diverse paradigms that the world has been following. This arises from the fact that the capitalist economic model, driven by a unilateral progress which concentrates income and power, has sped up the hands of the clock. Now, time is money and people are in a hurry. This has led to the emergence of new ways of generating and transmitting information, transforming the industrial

    001-iniciais-161-186.indd 171 14/10/2008 16:48:14

  • CONTRAPONTOS

    172 Sociedade atual e revoluo da informao:...Tatiana C. Vieira e Maria E. Castanho

    economy into a service economy and giving more weight to knowledge. In this scenario, the computer plays a predominant role, since using this tool, half of the work force is involved in the creation, handling and use of information. This prompts the refl ection: how can we keep up with the advances and the associated risks that this new paradigm brings? Steps must be taken to ensure that many in the world, including in Brazil, who have no means of fi nancing high cost technological research, do not suffer greater problems as a result of this process, from the perspective of todays information society.

    Palavras-chaveRevoluo da informao Sociedade da informao Novo paradigma.

    KeywordsInformation revolution Information society New paradigm.

    A Revoluo da Informao repetir os xitos da Revoluo Industrial,s que desta vez, parte do trabalho do crebro, e no dos

    msculos, ser transferido para as mquinas. Dertouzos

    O sculo XXI est trazendo tona uma nova reorganizao dos modos de produo e negcios e, conseqentemente, de economia, de sociedade e de poltica.

    Difi cilmente algum discordaria de que a sociedade da informao o principal trao caracterstico do debate pblico sobre desenvolvimento do nosso tempo. As preocupaes com a direo que vem tomando o novo paradigma tecnolgico da informao apontam os inmeros desafi os a enfrentar, para que a nova sociedade supere velhas e novas desigualdades.

    Das propostas polticas oriundas dos pases industrializados e das discusses acadmicas, a expresso sociedade da informao e do conhecimento transformou-se em jargo nos meios de comunicao e de pesquisa.

    Conceitualmente, tal expresso passou a ser utilizada, nos ltimos anos do sculo XX, como substituto para o conceito complexo de sociedade ps-industrial e como forma de transmitir o contedo especfi co do novo paradigma tcnico-econmico.

    001-iniciais-161-186.indd 172 14/10/2008 16:48:14

  • 173Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itaja, mai/ago 2008

    CONTRAPONTOS

    Neste novo paradigma, as transformaes tcnicas no tm mais como fator chave os insumos baratos de energia como na sociedade industrial , mas os insumos baratos de informao propiciados pelos avanos tecnolgicos na microeletrnica1 e telecomunicaes. Portanto, esta sociedade informacional, est ligada expanso e reestruturao do capitalismo desde a dcada de 80 do sculo XX. Mas desde quando a informao infl uencia a sociedade?

    A revoluo da informao na sociedade

    Informao prosperou como conceito fi losfi co na era clssica, denotando a

    imposio de uma forma, idia ou princpio, que assim se tornava in-formada

    ou formada. Depois, por sculos, o uso do termo informao foi monopolizado

    por jornalistas. Nos ltimos tempos, os mltiplos sentidos do termo tm causado

    ambigidades em interpretaes como, por exemplo, comunicando/informando

    ou notcia/informao.

    Sathler (2005, p. 27) descreve que informao se refere a uma mensagem

    informativa, na qual um dos plos funciona sempre ou predominantemente

    como transmissor, enquanto outro como receptor que no reproduz respostas ou

    reciprocidade como no caso da comunicao.

    Mas como esse conceito tem ligao com a sociedade atual? Por que autores a

    nomeiam como sociedade da informao? No livro de Straubhaar, intitulado

    Comunicao, Mdia e Tecnologia, o segundo captulo foca detalhadamente a

    evoluo da sociedade da informao.

    O histrico interessante para o entendimento global desta nova sociedade que

    se formou. Ser possvel visualizar como as invenes tecnolgicas do homem

    infl uenciaram as mudanas no uso ou transmisso de informao, que hoje

    caracterizam tanto o atual paradigma.

    verdadeiro que a importncia dos sentidos do homem sempre foi vital para sua

    existncia. Desde os tempos remotos, o homem utiliza ou troca informaes atravs

    dos sentidos da audio e da viso, alm da fala. Como nas sociedades primitivas

    no havia registros escritos, a informao e a comunicao desta poca eram

    001-iniciais-161-186.indd 173 14/10/2008 16:48:14

  • CONTRAPONTOS

    174 Sociedade atual e revoluo da informao:...Tatiana C. Vieira e Maria E. Castanho

    abordadas por diferentes formas de linguagem (rito, mito, relaes de parentesco e comunicao pictrica).

    As principais linguagens artsticas nasceram com o homem e desenvolveram seu papel como expresso e comunicao. Os testemunhos disso so os desenhos gravados no interior das cavernas, nas tbuas de madeira ou argila encontradas em escavaes arqueolgicas.

    A importncia da comunicao como instrumento verbal se destacou nas sociedades clssicas, tidas como agriculturais, a exemplo da grega, na qual se fez uso da retrica, restrito ao contato imediato de pessoa a pessoa.

    O nascimento da escrita tambm foi essencial no desenvolvimento da humanidade e na evoluo da informao. Teve origem nos primeiros desenhos rudimentares em que o homem expressava suas idias. A inveno do alfabeto veio simplifi car a arte da escrita.

    Se o papel j era conhecido na China h mais de mil anos at a data de sua introduo na Europa, no sculo XII, faltava conhecimento para reproduo e distribuio, que surgiram mais tarde, com a imprensa.

    Antes do sculo XV, embora limitados, os livros eram um meio de massa ainda restrito. As pessoas do poder no estavam particularmente interessadas que as massas pudessem ler e as necessidades econmicas no pediam por uma fora de trabalho alfabetizada. Somente no sculo XV mais pessoas no comrcio e outras atividades no agrrias passaram a querer freqentar uma escola e obter informao de livros.

    A Bblia de Gutenberg apareceu em 1455, resultado da inveno do tipo mvel de metal e da impresso mecnica. No sculo XVI, a maior disponibilidade de livros gerou o crescimento da alfabetizao e leitura, que comearam a mudar a maneira de pensar e agir das pessoas.

    Assim, a idia de opinio pblica comeou a tomar forma e lderes polticos to antigos quanto Oliver Cromwell, da Inglaterra, em torno de 1640, perceberam, utilizando a imprensa e passeatas para ganhar apoio pblico a seus mandatos.

    Conforme a Revoluo Industrial tomou velocidade, meios de massa com base industrial, tais como livros e jornais, apareceram e proliferaram, apesar ainda da limitao, do analfabetismo e da falta de dinheiro da maioria da populao. Estava surgindo a sociedade industrial. A tecnologia inovadora que provocou o

    001-iniciais-161-186.indd 174 14/10/2008 16:48:15

  • 175Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itaja, mai/ago 2008

    CONTRAPONTOS

    desenvolvimento desta sociedade foi a mquina a vapor, e sua principal funo foi substituir e amplifi car o trabalho fsico do homem.

    Com o desenvolvimento da urbanizao, as indstrias foram surgindo e trazendo os trabalhadores agrrios para os centros urbanos. Simultaneamente, as pessoas estavam ansiosas para obter informaes que as ajudassem a avanar em suas vidas pessoais, comunicando-se, expressando-se e compreendendo.

    A alfabetizao passa a ser importante para a realizao de trabalhos e a escolaridade busca sua universalizao entre a maioria da populao urbana. Alm disso, a cultura era vista como um processo de refi namento, em especial a cultura clssica, elevada e desenvolvida na Europa. Esse enfoque viria a ajudar a educar, cultivar e civilizar as pessoas vindas do interior para as cidades, que tinham a idia da cultura como educao e no como entretenimento.

    As comunicaes escritas no conseguiram competir com a rapidez da transmisso de mensagens eletrnicas, usadas nos meios interativos da telegrafi a e telefonia. O telgrafo, que comeou a funcionar em 1836, teve efeitos no comrcio e na poltica, pois transmitia a mensagem alheia de forma neutra com muita rapidez.

    Empresas podiam controlar suas fi liais em locais remotos, porque descobriram que a reduo de espao e tempo permite uma operao mais ampla. A prova da veracidade de tal idia se encontra em uma das tecnologias mais difundidas no mundo atual, que ser discutida posteriormente: a Internet.

    A telefonia tambm se espalhou rapidamente ao fi nal do sculo XIX. Derrubou posteriormente a telegrafi a devido ao desenvolvimento de tecnologia e acesso grande parte da populao.

    No comeo do sculo XX, muitas pessoas no tinham capital para acessar ou utilizar a mdia impressa, ento, outros meios, como os fi lmes, por exemplo, vieram a preencher esse vazio. A revoluo da energia motora aumentou o poder produtivo material e possibilitou a produo em massa de bens e servios, e o rpido transporte desses bens.

    Nessa poca, a cincia e a tecnologia passam a ocupar o centro do sistema produtivo, exigindo atividades de pesquisas cada vez mais complexas e, em conseqncia, desenvolvendo novas invenes. Nos anos 20, o rdio estava se tornando um meio popular, inclusive nas reas rurais, transmitindo msicas e programas.

    A descoberta sobre a converso e transmisso de imagens em sinais eltricos ocasionou um dos grandes inventos do homem: a televiso. Na dcada de 30, realizavam-se transmisses experimentais, mas em 50, os servios de televiso j

    001-iniciais-161-186.indd 175 14/10/2008 16:48:15

  • CONTRAPONTOS

    176 Sociedade atual e revoluo da informao:...Tatiana C. Vieira e Maria E. Castanho

    ofereciam uma grande variedade de programas informativos, de diverso ou de carter educativo.

    Ao afirmar-se como veculo de massa de alto custo operacional, tornou-se dependente de anunciantes, foi quando a propaganda descobriu esse meio frtil de lucro. Alis, a televiso um dos meios de comunicao mais importantes para a caracterizao da sociedade de massa.

    A histria da propaganda acompanhou o desenvolvimento dos meios de comunicao e se tornou parte essencial da economia industrial, principalmente americana. Este setor se tornou efi ciente em informar os consumidores sobre novos produtos e criar demanda para tais.

    A industrializao, a urbanizao e a comunicao estavam se unindo para criar um potencial mercado de massa de consumidores. Essa viso espalhou-se primeiro nos Estados Unidos, nos anos 50, com a principal sociedade de consumo do mundo. Vieram as lojas de departamento, os grandes catlogos de consumo, os cartazes de ruas (outdoors), alm de anncios nos diversos meios de comunicao. A televiso vem dominando a colocao de anncios desde a dcada de 50 e se espalhando cada vez mais em lares de todo o mundo.

    A combinao industrial de tecnologia e economia introduziu a produo em massa de cultura para uma audincia mais ampla, j que a industrializao reduziu os custos e aumentou a acessibilidade aos produtos culturais, como livros, jornais, revistas, discos, CDs e fi lmes. Assim, a mdia comeou a refl etir nos gostos e caractersticas variadas do pblico, expandindo-se alm das telinhas do televisor para as do computador.

    O computador: decisivo no desenvolvimento da sociedade da

    informao

    Apesar de a mdia ter infl uenciado claramente a nova sociedade, o que defi nitivamente mudou a vida do homem em relao ao uso e troca de informao comeou a se desenvolver em 1946, nos Estados Unidos. Agora, algo poderia substituir e amplifi car o trabalho mental do homem. Entra em funcionamento o primeiro computador eletrnico, que utilizava sistema de vlvulas e possua 120 metros cbicos.

    001-iniciais-161-186.indd 176 14/10/2008 16:48:15

  • 177Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itaja, mai/ago 2008

    CONTRAPONTOS

    Anos mais tarde, em 1951, os primeiros computadores foram colocados venda.

    Mas a revoluo estava por vir. A evoluo tecnolgica de eletrnica e informtica trouxeram a inveno do chip, do circuito integrado e da tecnologia digital e, em 1981, foi lanado o primeiro micro IBM/PC com sistema Microsoft, seguido da inveno pela Apple, em 1984, do primeiro computador com cones e mouse.

    O homem agora tinha a possibilidade de ter em casa o seu computador pessoal (PC), que dispunha de grande acesso interativo. Podemos dizer que o computador foi a tecnologia inovadora que resultou no desenvolvimento da sociedade da informao.

    Assim, ao longo do tempo, a sociedade comeou a utilizar cada vez mais tcnicas industriais para construir informao e oferecer servios de grande contedo informativo de forma industrializada. Setores como da agricultura, indstria e servios esto sendo alterados pelo uso das tecnologias de informao e hoje, no mnimo, metade da fora de trabalho est envolvida na criao, manipulao ou uso da informao.

    Empregos de informao incluem todos aqueles primariamente envolvidos na produo, processamento ou distribuio de informao: secretrias, gerentes, pesquisadores, educadores, seguradores, contadores, fi nanciadores, bem como jornalistas, produtores de mdia, engenheiros em computao e reas de informao, designers e assim por diante. Esses empregos esto crescendo, enquanto outros declinam, acompanhando a transformao do mundo para a sociedade da informao e do conhecimento.

    As indstrias ligadas informao, portanto, comearam a ganhar fora, trabalhando com mdia, softwares e equipamentos de computadores e telecomunicaes. A rede de telecomunicaes foi atualizada nos anos 80, conforme os computadores foram interligados atravs de vrias redes e servios de comunicao de dados. A comunicao via satlite, j em 1970, suportava milhares de circuitos telefnicos e canais de televiso, distribuindo informao para todos os continentes.

    Na virada do sculo XX, pesquisas j registram que os americanos entram na rede telefnica um bilho e meio de vezes por dia. Os telefones esto agora mais presentes do que nunca, com o desenvolvimento explosivo do servio da telefonia mvel. Nessa mesma poca, registrava-se cerca de 300 milhes de PCs em mais de 150 pases, que esto interligados Internet.

    Uma pesquisa americana realizada em 1998 estimava que a web continha cerca de 320 milhes de pginas de informao e entretenimento. No ano 2000, mais de 800 milhes de pessoas esto navegando. A rede se expandiu em 50% a cada

    001-iniciais-161-186.indd 177 14/10/2008 16:48:15

  • CONTRAPONTOS

    178 Sociedade atual e revoluo da informao:...Tatiana C. Vieira e Maria E. Castanho

    ano da dcada de 90, impulsionada pelo interesse dos usurios na World Wide Web, que veio ampliar as possibilidades do uso do computador como fonte de informao e comunicao. (DIZARD, 2000, p. 24). Mas como o computador infl uenciou na nova relao de tempo do homem?

    A nova relao com o tempo: revolues aceleradas

    Alis, somente para o homem o tempo se esvai rapidamente? Como as mquinas ou tecnologias lidam com o tempo? Pensando no desenvolvimento das ltimas tecnologias, um fi o de fi bra-tica, por exemplo, pode transmitir o contedo total de um jornal, de uma novela de televiso, ou de um fi lme de Hollywood, simultaneamente e na velocidade da luz.

    A capacidade de transmisso de informao nesses circuitos extraordinria: um cabo de fi bra, to fi no quanto um fi o de cabelo humano, pode transmitir todo o contedo da Enciclopdia Britnica em menos de um minuto (DIZARD, loc.cit.). Os nmeros das pesquisas so espantosos e caracterizam notoriamente o mundo globalizado, que distribui informao atravs das novas tecnologias para muitas pessoas em pouco tempo.

    O pesquisador Masuda (1981, p. 61), idealizador do Plano Japons para uma Sociedade da Informao, tambm analisa a relao do tempo diante da comparao entre a revoluo da energia motora na sociedade industrial e a revoluo da informao na sociedade da informao, trazendo dados interessantes.

    Recordando as datas das inovaes tecnolgicas que desempenharam papis decisivos na primeira revoluo, sabe-se que a mquina a vapor pioneira foi inventada em 1708 por Newcomen. Depois, a primeira estrada de ferro foi construda entre Liverpool e Manchester, em 1829. Na produo do automvel Ford modelo T, o inovador produto sado de uma linha de produo em massa comeou em 1909. O avio a jato apareceu em 1937. Assim, houve um perodo de 229 anos de desenvolvimento tecnolgico entre a inveno da mquina de Newcomen e o aparecimento do avio a jato. Pode-se observar o contraste com a revoluo do computador.

    001-iniciais-161-186.indd 178 14/10/2008 16:48:16

  • 179Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itaja, mai/ago 2008

    CONTRAPONTOS

    O primeiro computador a vlvula, como j foi dito, foi desenvolvido em 1946. A

    segunda gerao surgiu em 1956. A terceira gerao, utilizando circuitos integrados,

    apareceu em 1965. Os microprocessadores, circuitos integrados em uma nica

    pastilha, surgiram em 1973. Depois a inveno do cone e mouse, trouxe a quarta

    gerao em 1984. A quinta gerao realizou o desenvolvimento de processadores

    Pentium, j em 1993.

    Hoje, temos computadores de ltima gerao com capacidade de processamento

    de dados e imagens inimaginveis. Assim, considerando o perodo da primeira

    gerao at os dias atuais, o perodo de inovao soma cerca de 60 anos. Esta

    comparao mostra que a ltima revoluo est acontecendo no mnimo quatro

    vezes mais rapidamente, j que o gasto em tecnologia e pesquisa cresceu, assim

    como os profi ssionais voltados para a rea.

    Se durante milnios as transformaes foram lentas, sabe-se que nas ltimas

    dcadas o sistema obrigou o sujeito a ter pressa, pois tempo dinheiro. Ento,

    pode-se refl etir. Qual a relao de tempo na poca industrial e qual a relao de

    tempo hoje?

    Hoje, o homem tem pressa

    Muitas pessoas afi rmam que hoje o tempo passa muito rpido. Elas no percebem que o ritmo do trabalho, o consumismo exacerbado e a vida frentica da informao causam esta sensao. Viver e conviver nesta sociedade, sob o controle tecnolgico, fazem com que o ser humano se adapte ao tempo da mquina e no o inverso.

    Antigamente, materiais e objetos poderiam durar 30 anos, ao contrrio, hoje um computador, ou um pen-drive, sai de linha em dois anos, e as pessoas, ento tm que trabalhar mais para comprar mais em menos tempo. O capitalismo e as regras do mercado movem esta engrenagem que gira com mais velocidade, e a tendncia acelerar cada vez mais. Assim, a humanidade caminha guiada pela economia da informao.

    Para concluir, o Quadro 01 ilustra o caminhar da evoluo da informao diante das transformaes da produo de bens, expanso de mercados e desenvolvimento da mdia nas diferentes sociedades.

    001-iniciais-161-186.indd 179 14/10/2008 16:48:16

  • CONTRAPONTOS

    180 Sociedade atual e revoluo da informao:...Tatiana C. Vieira e Maria E. Castanho

    Quadro 01 Comparao das caractersticas de cada sociedade

    Produo Mercado Mdia

    Sociedade

    agriculturalProdutos personalizados feitos a

    mo em indstrias caseiras

    Vendido para pessoas

    do localVia mdia popular

    Sociedade

    industrial Produtos padronizados

    Vendido para mercados

    nacionais e regionais

    Via propaganda em

    mdia impressa

    Sociedade

    de massa Produo em massa

    Vendido para mercados

    nacionais e internacionais

    que compartilham uma

    cultura de massa

    Via propaganda em

    uma variedade mais

    ampla de tipos de

    mdia

    Sociedade

    da informao e do conhecimento

    Produtos em nvel nacional e

    internacional produzidos com alta tecnologia

    Vendido para o mercado

    globalizado

    e usurios

    Via propaganda em

    em diversos meios, incluindo

    distribuio digital

    Fonte: Das autoras.

    Percebe-se que o desenvolvimento da mdia foi um fator decisivo para a ampliao

    do mercado e que, de certa forma, refl ete a necessidade imposta pelo novo

    paradigma advindo da sociedade da informao e do conhecimento.

    O paradigma das tecnologias da informao

    O termo tecnologias da informao engloba vrias reas da informtica,

    telecomunicaes, comunicaes, cincias da computao, engenharia de sistemas

    001-iniciais-161-186.indd 180 14/10/2008 16:48:16

  • 181Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itaja, mai/ago 2008

    CONTRAPONTOS

    e de software. Interessante notar que a esperada convergncia dessas reas j se

    encontra expressa neste termo.

    O conceito de paradigma indica o resultado do processo de seleo de uma srie

    de combinaes viveis de inovaes (tcnicas, organizacionais e institucionais),

    provocando transformaes que permeiam toda a economia e exercendo infl uncia

    no comportamento da mesma.

    Cada novo paradigma traz novas combinaes de vantagens polticas, sociais,

    econmicas e tcnicas, tornando-se o estilo dominante durante uma longa fase de

    crescimento e desenvolvimento econmico. No caso atual, o mundo globalizado

    segue diante do modelo econmico capitalista que dita um progresso unilateral,

    extremamente concentrador de renda e poder regido pelas regras do mercado.

    Mas a tecnologia da informao no surgiu repentinamente, e outros paradigmas

    so anteriores ao atual, cada um carregando transformaes sucessivas.

    O novo paradigma uma resposta encontrada pelo sistema capitalista para o

    esgotamento de um padro baseado na produo em larga escada de cunho fordista,

    utilizao intensiva de matria e energia e capacidade fi nita de gerar variedade. A

    partir dos anos 70, evidenciou-se que o desenvolvimento baseado na produo

    em massa de bens e servios intensivos em materiais e em energia estava atingindo

    limites mximos, dando mostras de esgotamento.

    A alta dos preos do petrleo e de vrias matrias-primas naquela dcada tido

    como evento-chave para a mudana em direo ao paradigma das tecnologias da

    informao (LASTRES, 1999, p. 36).

    Uma caracterstica principal na dcada de 80 foram as inovaes dos circuitos

    integrados. A quantidade de dados colocados em um pequeno chip mais do que

    dobrou ano aps ano, alcanando alguns milhes, e ainda continua crescendo (Ibid.,

    p. 170). A microeletrnica resolve alguns dos desafi os que a sociedade industrial

    enfrentava: a diminuio de tempos ociosos, o controle e o gerenciamento de

    informao e o aumento da variedade de produtos.

    possvel visualizar rapidamente no Quadro 02 as modifi caes que perduraram

    em cada era e as caractersticas de cada paradigma. interessante ainda atentar

    para a presena marcante da tecnologia no paradigma atual e sua fora sobre a

    sociedade da informao e do conhecimento.

    001-iniciais-161-186.indd 181 14/10/2008 16:48:17

  • CONTRAPONTOS

    182 Sociedade atual e revoluo da informao:...Tatiana C. Vieira e Maria E. Castanho

    Quadro 02 Principais caractersticas dos sucessivos paradigmas

    Incio e trmino 1770 - 1840 1840 - 1890 1890 - 1930 1930 - 1970 1970 - hoje

    Descrio mecanizao

    fora a vapor

    e ferrovia

    energia eltrica,

    engenharia pesada

    produo em

    massa, fordismo

    tecnologias

    da

    informao

    Fator-chave

    algodo e

    ferro fundido

    carvo e

    transporte ao

    petrleo e

    derivados

    microeletrnica,

    tecnologia

    digital

    Setores que

    potencializaram

    o crescimento

    txteis, fundio e

    montagem de ferro, energia

    hidrulica

    ferrovirio,

    mquinas e

    navios a

    vapor

    engenharia

    eltrica e

    engenharia

    pesada

    automveis, caminhes, indstria

    aeroespacial, petroqumicos

    informao,

    informtica, telecomunicaes,

    robtica, softwares

    Infra-estruturacanais, estradas

    ferrovias, navegao mundial

    energia

    eltrica

    auto-estradas, aeroportos,

    caminhos areos redes e sistemas

    Fonte: Das autoras.

    Analisando o quadro, percebe-se que o desenvolvimento do fator-chave est intimamente ligado aos setores que impulsionam o crescimento. A mudana de paradigma inaugura uma nova era tecno-econmica, envolvendo a criao de setores e atividades; novas formas de gerar e transmitir conhecimentos e inovaes, produzir e comercializar bens e servios, defi nir e programar estratgias e polticas; organizar e operar empresas e outras instituies pblicas e privadas (de ensino e pesquisa, fi nanciamento, etc.). Destacam-se ainda novas capacitaes institucionais e profi ssionais que acompanham as inovaes.

    A partir da dcada de 60, autores como Masuda (1981) tm demonstrado que a economia se desloca da indstria para os servios, da fora para o conhecimento. Portanto, em contraposio s revolues tecnolgicas anteriores, que tinham por base energia e matria, a mudana fundamental da sociedade da informao e do conhecimento envolve a compreenso de tempo, de espao e de conhecimento.

    Alm disso, mais do que em qualquer outra era da histria da humanidade, recursos humanos qualifi cados sero de fundamental importncia para a era da

    001-iniciais-161-186.indd 182 14/10/2008 16:48:17

  • 183Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itaja, mai/ago 2008

    CONTRAPONTOS

    informao. Sero necessrios cientistas, engenheiros, educadores e tcnicos em todas as reas associadas s tecnologias da informao, especialmente em sistemas, administrao e aplicao de informao, de comunicao e de computao. Esta ser uma fora de trabalho treinada para o uso destas tecnologias, capaz de produzir com qualidade e competitividade dentro de ambientes baseados em conhecimento.

    Mas a reestruturao dos recursos humanos tambm envolve a preparao da populao, em escala generalizada, para a utilizao de sistemas e servios associados s redes de comunicao e informao, bem como a educao para produzir e consumir informao e conhecimento competentemente.

    O processo que intensifi ca o uso de informao neste mundo moderno pode ser comprovado em um simples exemplo. Agora, antes de plantar tomates so necessrios muitos planos, desenhos, tabelas e roteiros para produzir sementes geneticamente tratadas, os fertilizantes, o plantio, os tratores e as colheitadeiras, o sistema de seleo eletrnica, os recipientes e seus meios de transporte, etc. interessante notar como o modo de produo modifi cou e quantos so os envolvidos nesse novo modo de plantar e colher tomate. Nesse caso, e em praticamente tudo que se pensa, o trabalho est totalmente ligado s tecnologias de informao.

    Assim, forma-se um novo paradigma calcado nas tecnologias que so consideradas resultantes de avanos da cincia, objetivando superar os limites ao crescimento, sustentando a lucratividade e a produtividade.

    Consideraes finais

    A informao sempre fez parte da vida do homem que possui uma necessidade vital para se comunicar. A evoluo das tecnologias, pesquisas e estudos cientfi cos possibilitou, aos poucos, a revoluo da informao, que caracteriza o atual paradigma.

    Aos poucos o ser humano percebeu o quanto obter informao o ajudava a avanar em sua vida pessoal, comunicando-se, expressando-se e compreendendo. Porm, este fato passou a ser de conhecimento de toda a humanidade, inclusive dos poderosos, que aprenderam a manipular a opinio pblica e obter lucro nesse meio frtil.

    Hoje, a mdia informa aos consumidores sobre novos produtos e os coloca como uma necessidade imposta, manipulando seus gostos. A mdia os ensina o ter e ser

    001-iniciais-161-186.indd 183 14/10/2008 16:48:17

  • CONTRAPONTOS

    184 Sociedade atual e revoluo da informao:...Tatiana C. Vieira e Maria E. Castanho

    descartveis. O capitalismo os ensina o ter mais para poder gastar mais em menos tempo. Alis, antigamente, os ponteiros do relgio pareciam mais lentos e hoje, como em um contraste, parecem rodar mil vezes mais rpido.

    Descobriu-se que a reduo de espao e tempo permite uma operao mais ampla e foi assim que nasceu a Internet: campo infi nito de informao. Ento, uma nova sociedade vem se moldando s necessidades do cotidiano acelerado que o novo paradigma exige.

    Este novo paradigma prev uma revoluo nas tecnologias de informao com a interligao de inovaes em computao eletrnica, na transmisso de dados velocidade da luz, na engenharia de software, nos sistemas de controle, na revoluo da telefonia, nas redes e circuitos integrados, no recurso aos satlites de telecomunicaes, que reduzem os custos de armazenamento, processamento, comunicao e disseminao, de informaes possveis entre agentes, individuais e coletivos.

    Na veia dessa mudana, encontra-se o crescimento acelerado dos setores de informao e conhecimento, que passaram a ser fundamentais, de certa forma, dependncia para a gesto pblica, privada e individual. Assim que se justifi ca o fato de diversas pesquisas se referirem nova ordem mundial como Era, Sociedade ou Economia da informao e do conhecimento, resultante de uma revoluo informacional.

    Mas, o que pouco se fala, apesar de sua extrema importncia, que os pases que possuem melhor desempenho em termos de crescimento e produtividade so aqueles que podem desenvolver pesquisas de alto custo tecnolgico, portanto os desenvolvidos. Em contraponto, os pases em desenvolvimento vivem margem desta possibilidade, e cada vez mais, encontram problemas estruturais e de gesto que os impedem de competir na mesma base.

    O novo paradigma possui caractersticas especfi cas, segue com avanos aliados aos riscos e, em caso de pases em desenvolvimento, como o Brasil, preciso ateno para no sofrer os maiores problemas desse processo.

    Referncias

    DIZARD, Wilson. A nova mdia: a comunicao de massa na era da informao. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

    001-iniciais-161-186.indd 184 14/10/2008 16:48:17

  • 185Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itaja, mai/ago 2008

    CONTRAPONTOS

    LASTRES, Helena M. M.; ALBAGLI, Sarita (org.) Informao e Globalizao na Era do Conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

    MASUDA, Yoneji. A sociedade da informao como sociedade ps-industrial. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1981.

    SATHLER, Luciano; MELO, Jos M. (org.). Direitos comunicao na sociedade da informao. So Bernardo do Campo: UMESP, 2005.

    STRAUBHAAR, Joseph D. Comunicao, mdia e tecnologia. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.

    Notas

    1 A microeletrnica constitui o chamado complexo eletrnico: a informtica, a telemtica, a mecatrnica, a eletrnica de consumo, etc.

    001-iniciais-161-186.indd 185 14/10/2008 16:48:18

  • 001-iniciais-161-186.indd 186 14/10/2008 16:48:18