Download - Sociedade Atual - Evolução da Informação
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171Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itaja, mai/ago 2008
CONTRAPONTOS
Tatiana Cuberos Vieira*
Maria Eugnia Castanho**
*Possui graduao em Artes Plsticas pela Universidade
Estadual de Campinas (2004) e, atualmente,
mestranda em Educao da Pontifcia Universidade Catlica
de Campinas.E-mail:
**Possui doutorado em Educao pela
Universidade Estadual de Campinas (1989) e,
atualmente, professora titular da Pontifcia
Universidade Catlica de Campinas.
E-mail: [email protected]
Correspondncia: Rua Carlos Cordts,
168. Vila Progresso - Jundia - SP.
CEP 13202-161.
SOCIEDADE ATUAL E REVOLUO DA INFORMAO: ganhos e perdas
PRESENT DAY SOCIETY AND THE INFORMATION REVOLUTION: gains and losses
Artigo recebido em 09/12/2007
Aprovado em 20/07/2008
ResumoO texto discute a infl uncia da revoluo da informao na sociedade atual. Em parte, esse fenmeno ocorre devido s inovaes tecnolgicas desenvolvidas atravs das exigncias dos diversos paradigmas que o mundo acompanhou. Isto porque o modelo econmico capitalista, que prima por um progresso unilateral e extremamente concentrador de renda e poder, acelerou os ponteiros do relgio. Ento, tempo dinheiro e o homem tem pressa. Assim, surgiram novas formas de gerar e transmitir informao, deslocando a economia das indstrias para os servios, e da fora para o conhecimento. Neste cenrio, o computador foi um grande ator, j que com essa ferramenta, hoje, possvel afi rmar que metade da fora de trabalho est envolvida na criao, manipulao ou uso da informao. Isso leva a uma refl exo: como acompanhar os avanos aliados aos riscos que o novo paradigma acarreta. Deste modo, cabe ateno de muitos, inclusive do Brasil, que vivem margem da possibilidade de fi nanciar pesquisas de alto custo tecnolgico, para que no sofram os maiores problemas desse processo, sob a tica da sociedade atual: a informacional.
AbstractThe text discusses the infl uence of the information revolution on todays society. The occurrence of this phenomenon is due, in part, to technological innovations brought by the demands of diverse paradigms that the world has been following. This arises from the fact that the capitalist economic model, driven by a unilateral progress which concentrates income and power, has sped up the hands of the clock. Now, time is money and people are in a hurry. This has led to the emergence of new ways of generating and transmitting information, transforming the industrial
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economy into a service economy and giving more weight to knowledge. In this scenario, the computer plays a predominant role, since using this tool, half of the work force is involved in the creation, handling and use of information. This prompts the refl ection: how can we keep up with the advances and the associated risks that this new paradigm brings? Steps must be taken to ensure that many in the world, including in Brazil, who have no means of fi nancing high cost technological research, do not suffer greater problems as a result of this process, from the perspective of todays information society.
Palavras-chaveRevoluo da informao Sociedade da informao Novo paradigma.
KeywordsInformation revolution Information society New paradigm.
A Revoluo da Informao repetir os xitos da Revoluo Industrial,s que desta vez, parte do trabalho do crebro, e no dos
msculos, ser transferido para as mquinas. Dertouzos
O sculo XXI est trazendo tona uma nova reorganizao dos modos de produo e negcios e, conseqentemente, de economia, de sociedade e de poltica.
Difi cilmente algum discordaria de que a sociedade da informao o principal trao caracterstico do debate pblico sobre desenvolvimento do nosso tempo. As preocupaes com a direo que vem tomando o novo paradigma tecnolgico da informao apontam os inmeros desafi os a enfrentar, para que a nova sociedade supere velhas e novas desigualdades.
Das propostas polticas oriundas dos pases industrializados e das discusses acadmicas, a expresso sociedade da informao e do conhecimento transformou-se em jargo nos meios de comunicao e de pesquisa.
Conceitualmente, tal expresso passou a ser utilizada, nos ltimos anos do sculo XX, como substituto para o conceito complexo de sociedade ps-industrial e como forma de transmitir o contedo especfi co do novo paradigma tcnico-econmico.
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Neste novo paradigma, as transformaes tcnicas no tm mais como fator chave os insumos baratos de energia como na sociedade industrial , mas os insumos baratos de informao propiciados pelos avanos tecnolgicos na microeletrnica1 e telecomunicaes. Portanto, esta sociedade informacional, est ligada expanso e reestruturao do capitalismo desde a dcada de 80 do sculo XX. Mas desde quando a informao infl uencia a sociedade?
A revoluo da informao na sociedade
Informao prosperou como conceito fi losfi co na era clssica, denotando a
imposio de uma forma, idia ou princpio, que assim se tornava in-formada
ou formada. Depois, por sculos, o uso do termo informao foi monopolizado
por jornalistas. Nos ltimos tempos, os mltiplos sentidos do termo tm causado
ambigidades em interpretaes como, por exemplo, comunicando/informando
ou notcia/informao.
Sathler (2005, p. 27) descreve que informao se refere a uma mensagem
informativa, na qual um dos plos funciona sempre ou predominantemente
como transmissor, enquanto outro como receptor que no reproduz respostas ou
reciprocidade como no caso da comunicao.
Mas como esse conceito tem ligao com a sociedade atual? Por que autores a
nomeiam como sociedade da informao? No livro de Straubhaar, intitulado
Comunicao, Mdia e Tecnologia, o segundo captulo foca detalhadamente a
evoluo da sociedade da informao.
O histrico interessante para o entendimento global desta nova sociedade que
se formou. Ser possvel visualizar como as invenes tecnolgicas do homem
infl uenciaram as mudanas no uso ou transmisso de informao, que hoje
caracterizam tanto o atual paradigma.
verdadeiro que a importncia dos sentidos do homem sempre foi vital para sua
existncia. Desde os tempos remotos, o homem utiliza ou troca informaes atravs
dos sentidos da audio e da viso, alm da fala. Como nas sociedades primitivas
no havia registros escritos, a informao e a comunicao desta poca eram
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abordadas por diferentes formas de linguagem (rito, mito, relaes de parentesco e comunicao pictrica).
As principais linguagens artsticas nasceram com o homem e desenvolveram seu papel como expresso e comunicao. Os testemunhos disso so os desenhos gravados no interior das cavernas, nas tbuas de madeira ou argila encontradas em escavaes arqueolgicas.
A importncia da comunicao como instrumento verbal se destacou nas sociedades clssicas, tidas como agriculturais, a exemplo da grega, na qual se fez uso da retrica, restrito ao contato imediato de pessoa a pessoa.
O nascimento da escrita tambm foi essencial no desenvolvimento da humanidade e na evoluo da informao. Teve origem nos primeiros desenhos rudimentares em que o homem expressava suas idias. A inveno do alfabeto veio simplifi car a arte da escrita.
Se o papel j era conhecido na China h mais de mil anos at a data de sua introduo na Europa, no sculo XII, faltava conhecimento para reproduo e distribuio, que surgiram mais tarde, com a imprensa.
Antes do sculo XV, embora limitados, os livros eram um meio de massa ainda restrito. As pessoas do poder no estavam particularmente interessadas que as massas pudessem ler e as necessidades econmicas no pediam por uma fora de trabalho alfabetizada. Somente no sculo XV mais pessoas no comrcio e outras atividades no agrrias passaram a querer freqentar uma escola e obter informao de livros.
A Bblia de Gutenberg apareceu em 1455, resultado da inveno do tipo mvel de metal e da impresso mecnica. No sculo XVI, a maior disponibilidade de livros gerou o crescimento da alfabetizao e leitura, que comearam a mudar a maneira de pensar e agir das pessoas.
Assim, a idia de opinio pblica comeou a tomar forma e lderes polticos to antigos quanto Oliver Cromwell, da Inglaterra, em torno de 1640, perceberam, utilizando a imprensa e passeatas para ganhar apoio pblico a seus mandatos.
Conforme a Revoluo Industrial tomou velocidade, meios de massa com base industrial, tais como livros e jornais, apareceram e proliferaram, apesar ainda da limitao, do analfabetismo e da falta de dinheiro da maioria da populao. Estava surgindo a sociedade industrial. A tecnologia inovadora que provocou o
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desenvolvimento desta sociedade foi a mquina a vapor, e sua principal funo foi substituir e amplifi car o trabalho fsico do homem.
Com o desenvolvimento da urbanizao, as indstrias foram surgindo e trazendo os trabalhadores agrrios para os centros urbanos. Simultaneamente, as pessoas estavam ansiosas para obter informaes que as ajudassem a avanar em suas vidas pessoais, comunicando-se, expressando-se e compreendendo.
A alfabetizao passa a ser importante para a realizao de trabalhos e a escolaridade busca sua universalizao entre a maioria da populao urbana. Alm disso, a cultura era vista como um processo de refi namento, em especial a cultura clssica, elevada e desenvolvida na Europa. Esse enfoque viria a ajudar a educar, cultivar e civilizar as pessoas vindas do interior para as cidades, que tinham a idia da cultura como educao e no como entretenimento.
As comunicaes escritas no conseguiram competir com a rapidez da transmisso de mensagens eletrnicas, usadas nos meios interativos da telegrafi a e telefonia. O telgrafo, que comeou a funcionar em 1836, teve efeitos no comrcio e na poltica, pois transmitia a mensagem alheia de forma neutra com muita rapidez.
Empresas podiam controlar suas fi liais em locais remotos, porque descobriram que a reduo de espao e tempo permite uma operao mais ampla. A prova da veracidade de tal idia se encontra em uma das tecnologias mais difundidas no mundo atual, que ser discutida posteriormente: a Internet.
A telefonia tambm se espalhou rapidamente ao fi nal do sculo XIX. Derrubou posteriormente a telegrafi a devido ao desenvolvimento de tecnologia e acesso grande parte da populao.
No comeo do sculo XX, muitas pessoas no tinham capital para acessar ou utilizar a mdia impressa, ento, outros meios, como os fi lmes, por exemplo, vieram a preencher esse vazio. A revoluo da energia motora aumentou o poder produtivo material e possibilitou a produo em massa de bens e servios, e o rpido transporte desses bens.
Nessa poca, a cincia e a tecnologia passam a ocupar o centro do sistema produtivo, exigindo atividades de pesquisas cada vez mais complexas e, em conseqncia, desenvolvendo novas invenes. Nos anos 20, o rdio estava se tornando um meio popular, inclusive nas reas rurais, transmitindo msicas e programas.
A descoberta sobre a converso e transmisso de imagens em sinais eltricos ocasionou um dos grandes inventos do homem: a televiso. Na dcada de 30, realizavam-se transmisses experimentais, mas em 50, os servios de televiso j
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ofereciam uma grande variedade de programas informativos, de diverso ou de carter educativo.
Ao afirmar-se como veculo de massa de alto custo operacional, tornou-se dependente de anunciantes, foi quando a propaganda descobriu esse meio frtil de lucro. Alis, a televiso um dos meios de comunicao mais importantes para a caracterizao da sociedade de massa.
A histria da propaganda acompanhou o desenvolvimento dos meios de comunicao e se tornou parte essencial da economia industrial, principalmente americana. Este setor se tornou efi ciente em informar os consumidores sobre novos produtos e criar demanda para tais.
A industrializao, a urbanizao e a comunicao estavam se unindo para criar um potencial mercado de massa de consumidores. Essa viso espalhou-se primeiro nos Estados Unidos, nos anos 50, com a principal sociedade de consumo do mundo. Vieram as lojas de departamento, os grandes catlogos de consumo, os cartazes de ruas (outdoors), alm de anncios nos diversos meios de comunicao. A televiso vem dominando a colocao de anncios desde a dcada de 50 e se espalhando cada vez mais em lares de todo o mundo.
A combinao industrial de tecnologia e economia introduziu a produo em massa de cultura para uma audincia mais ampla, j que a industrializao reduziu os custos e aumentou a acessibilidade aos produtos culturais, como livros, jornais, revistas, discos, CDs e fi lmes. Assim, a mdia comeou a refl etir nos gostos e caractersticas variadas do pblico, expandindo-se alm das telinhas do televisor para as do computador.
O computador: decisivo no desenvolvimento da sociedade da
informao
Apesar de a mdia ter infl uenciado claramente a nova sociedade, o que defi nitivamente mudou a vida do homem em relao ao uso e troca de informao comeou a se desenvolver em 1946, nos Estados Unidos. Agora, algo poderia substituir e amplifi car o trabalho mental do homem. Entra em funcionamento o primeiro computador eletrnico, que utilizava sistema de vlvulas e possua 120 metros cbicos.
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Anos mais tarde, em 1951, os primeiros computadores foram colocados venda.
Mas a revoluo estava por vir. A evoluo tecnolgica de eletrnica e informtica trouxeram a inveno do chip, do circuito integrado e da tecnologia digital e, em 1981, foi lanado o primeiro micro IBM/PC com sistema Microsoft, seguido da inveno pela Apple, em 1984, do primeiro computador com cones e mouse.
O homem agora tinha a possibilidade de ter em casa o seu computador pessoal (PC), que dispunha de grande acesso interativo. Podemos dizer que o computador foi a tecnologia inovadora que resultou no desenvolvimento da sociedade da informao.
Assim, ao longo do tempo, a sociedade comeou a utilizar cada vez mais tcnicas industriais para construir informao e oferecer servios de grande contedo informativo de forma industrializada. Setores como da agricultura, indstria e servios esto sendo alterados pelo uso das tecnologias de informao e hoje, no mnimo, metade da fora de trabalho est envolvida na criao, manipulao ou uso da informao.
Empregos de informao incluem todos aqueles primariamente envolvidos na produo, processamento ou distribuio de informao: secretrias, gerentes, pesquisadores, educadores, seguradores, contadores, fi nanciadores, bem como jornalistas, produtores de mdia, engenheiros em computao e reas de informao, designers e assim por diante. Esses empregos esto crescendo, enquanto outros declinam, acompanhando a transformao do mundo para a sociedade da informao e do conhecimento.
As indstrias ligadas informao, portanto, comearam a ganhar fora, trabalhando com mdia, softwares e equipamentos de computadores e telecomunicaes. A rede de telecomunicaes foi atualizada nos anos 80, conforme os computadores foram interligados atravs de vrias redes e servios de comunicao de dados. A comunicao via satlite, j em 1970, suportava milhares de circuitos telefnicos e canais de televiso, distribuindo informao para todos os continentes.
Na virada do sculo XX, pesquisas j registram que os americanos entram na rede telefnica um bilho e meio de vezes por dia. Os telefones esto agora mais presentes do que nunca, com o desenvolvimento explosivo do servio da telefonia mvel. Nessa mesma poca, registrava-se cerca de 300 milhes de PCs em mais de 150 pases, que esto interligados Internet.
Uma pesquisa americana realizada em 1998 estimava que a web continha cerca de 320 milhes de pginas de informao e entretenimento. No ano 2000, mais de 800 milhes de pessoas esto navegando. A rede se expandiu em 50% a cada
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ano da dcada de 90, impulsionada pelo interesse dos usurios na World Wide Web, que veio ampliar as possibilidades do uso do computador como fonte de informao e comunicao. (DIZARD, 2000, p. 24). Mas como o computador infl uenciou na nova relao de tempo do homem?
A nova relao com o tempo: revolues aceleradas
Alis, somente para o homem o tempo se esvai rapidamente? Como as mquinas ou tecnologias lidam com o tempo? Pensando no desenvolvimento das ltimas tecnologias, um fi o de fi bra-tica, por exemplo, pode transmitir o contedo total de um jornal, de uma novela de televiso, ou de um fi lme de Hollywood, simultaneamente e na velocidade da luz.
A capacidade de transmisso de informao nesses circuitos extraordinria: um cabo de fi bra, to fi no quanto um fi o de cabelo humano, pode transmitir todo o contedo da Enciclopdia Britnica em menos de um minuto (DIZARD, loc.cit.). Os nmeros das pesquisas so espantosos e caracterizam notoriamente o mundo globalizado, que distribui informao atravs das novas tecnologias para muitas pessoas em pouco tempo.
O pesquisador Masuda (1981, p. 61), idealizador do Plano Japons para uma Sociedade da Informao, tambm analisa a relao do tempo diante da comparao entre a revoluo da energia motora na sociedade industrial e a revoluo da informao na sociedade da informao, trazendo dados interessantes.
Recordando as datas das inovaes tecnolgicas que desempenharam papis decisivos na primeira revoluo, sabe-se que a mquina a vapor pioneira foi inventada em 1708 por Newcomen. Depois, a primeira estrada de ferro foi construda entre Liverpool e Manchester, em 1829. Na produo do automvel Ford modelo T, o inovador produto sado de uma linha de produo em massa comeou em 1909. O avio a jato apareceu em 1937. Assim, houve um perodo de 229 anos de desenvolvimento tecnolgico entre a inveno da mquina de Newcomen e o aparecimento do avio a jato. Pode-se observar o contraste com a revoluo do computador.
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O primeiro computador a vlvula, como j foi dito, foi desenvolvido em 1946. A
segunda gerao surgiu em 1956. A terceira gerao, utilizando circuitos integrados,
apareceu em 1965. Os microprocessadores, circuitos integrados em uma nica
pastilha, surgiram em 1973. Depois a inveno do cone e mouse, trouxe a quarta
gerao em 1984. A quinta gerao realizou o desenvolvimento de processadores
Pentium, j em 1993.
Hoje, temos computadores de ltima gerao com capacidade de processamento
de dados e imagens inimaginveis. Assim, considerando o perodo da primeira
gerao at os dias atuais, o perodo de inovao soma cerca de 60 anos. Esta
comparao mostra que a ltima revoluo est acontecendo no mnimo quatro
vezes mais rapidamente, j que o gasto em tecnologia e pesquisa cresceu, assim
como os profi ssionais voltados para a rea.
Se durante milnios as transformaes foram lentas, sabe-se que nas ltimas
dcadas o sistema obrigou o sujeito a ter pressa, pois tempo dinheiro. Ento,
pode-se refl etir. Qual a relao de tempo na poca industrial e qual a relao de
tempo hoje?
Hoje, o homem tem pressa
Muitas pessoas afi rmam que hoje o tempo passa muito rpido. Elas no percebem que o ritmo do trabalho, o consumismo exacerbado e a vida frentica da informao causam esta sensao. Viver e conviver nesta sociedade, sob o controle tecnolgico, fazem com que o ser humano se adapte ao tempo da mquina e no o inverso.
Antigamente, materiais e objetos poderiam durar 30 anos, ao contrrio, hoje um computador, ou um pen-drive, sai de linha em dois anos, e as pessoas, ento tm que trabalhar mais para comprar mais em menos tempo. O capitalismo e as regras do mercado movem esta engrenagem que gira com mais velocidade, e a tendncia acelerar cada vez mais. Assim, a humanidade caminha guiada pela economia da informao.
Para concluir, o Quadro 01 ilustra o caminhar da evoluo da informao diante das transformaes da produo de bens, expanso de mercados e desenvolvimento da mdia nas diferentes sociedades.
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Quadro 01 Comparao das caractersticas de cada sociedade
Produo Mercado Mdia
Sociedade
agriculturalProdutos personalizados feitos a
mo em indstrias caseiras
Vendido para pessoas
do localVia mdia popular
Sociedade
industrial Produtos padronizados
Vendido para mercados
nacionais e regionais
Via propaganda em
mdia impressa
Sociedade
de massa Produo em massa
Vendido para mercados
nacionais e internacionais
que compartilham uma
cultura de massa
Via propaganda em
uma variedade mais
ampla de tipos de
mdia
Sociedade
da informao e do conhecimento
Produtos em nvel nacional e
internacional produzidos com alta tecnologia
Vendido para o mercado
globalizado
e usurios
Via propaganda em
em diversos meios, incluindo
distribuio digital
Fonte: Das autoras.
Percebe-se que o desenvolvimento da mdia foi um fator decisivo para a ampliao
do mercado e que, de certa forma, refl ete a necessidade imposta pelo novo
paradigma advindo da sociedade da informao e do conhecimento.
O paradigma das tecnologias da informao
O termo tecnologias da informao engloba vrias reas da informtica,
telecomunicaes, comunicaes, cincias da computao, engenharia de sistemas
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e de software. Interessante notar que a esperada convergncia dessas reas j se
encontra expressa neste termo.
O conceito de paradigma indica o resultado do processo de seleo de uma srie
de combinaes viveis de inovaes (tcnicas, organizacionais e institucionais),
provocando transformaes que permeiam toda a economia e exercendo infl uncia
no comportamento da mesma.
Cada novo paradigma traz novas combinaes de vantagens polticas, sociais,
econmicas e tcnicas, tornando-se o estilo dominante durante uma longa fase de
crescimento e desenvolvimento econmico. No caso atual, o mundo globalizado
segue diante do modelo econmico capitalista que dita um progresso unilateral,
extremamente concentrador de renda e poder regido pelas regras do mercado.
Mas a tecnologia da informao no surgiu repentinamente, e outros paradigmas
so anteriores ao atual, cada um carregando transformaes sucessivas.
O novo paradigma uma resposta encontrada pelo sistema capitalista para o
esgotamento de um padro baseado na produo em larga escada de cunho fordista,
utilizao intensiva de matria e energia e capacidade fi nita de gerar variedade. A
partir dos anos 70, evidenciou-se que o desenvolvimento baseado na produo
em massa de bens e servios intensivos em materiais e em energia estava atingindo
limites mximos, dando mostras de esgotamento.
A alta dos preos do petrleo e de vrias matrias-primas naquela dcada tido
como evento-chave para a mudana em direo ao paradigma das tecnologias da
informao (LASTRES, 1999, p. 36).
Uma caracterstica principal na dcada de 80 foram as inovaes dos circuitos
integrados. A quantidade de dados colocados em um pequeno chip mais do que
dobrou ano aps ano, alcanando alguns milhes, e ainda continua crescendo (Ibid.,
p. 170). A microeletrnica resolve alguns dos desafi os que a sociedade industrial
enfrentava: a diminuio de tempos ociosos, o controle e o gerenciamento de
informao e o aumento da variedade de produtos.
possvel visualizar rapidamente no Quadro 02 as modifi caes que perduraram
em cada era e as caractersticas de cada paradigma. interessante ainda atentar
para a presena marcante da tecnologia no paradigma atual e sua fora sobre a
sociedade da informao e do conhecimento.
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Quadro 02 Principais caractersticas dos sucessivos paradigmas
Incio e trmino 1770 - 1840 1840 - 1890 1890 - 1930 1930 - 1970 1970 - hoje
Descrio mecanizao
fora a vapor
e ferrovia
energia eltrica,
engenharia pesada
produo em
massa, fordismo
tecnologias
da
informao
Fator-chave
algodo e
ferro fundido
carvo e
transporte ao
petrleo e
derivados
microeletrnica,
tecnologia
digital
Setores que
potencializaram
o crescimento
txteis, fundio e
montagem de ferro, energia
hidrulica
ferrovirio,
mquinas e
navios a
vapor
engenharia
eltrica e
engenharia
pesada
automveis, caminhes, indstria
aeroespacial, petroqumicos
informao,
informtica, telecomunicaes,
robtica, softwares
Infra-estruturacanais, estradas
ferrovias, navegao mundial
energia
eltrica
auto-estradas, aeroportos,
caminhos areos redes e sistemas
Fonte: Das autoras.
Analisando o quadro, percebe-se que o desenvolvimento do fator-chave est intimamente ligado aos setores que impulsionam o crescimento. A mudana de paradigma inaugura uma nova era tecno-econmica, envolvendo a criao de setores e atividades; novas formas de gerar e transmitir conhecimentos e inovaes, produzir e comercializar bens e servios, defi nir e programar estratgias e polticas; organizar e operar empresas e outras instituies pblicas e privadas (de ensino e pesquisa, fi nanciamento, etc.). Destacam-se ainda novas capacitaes institucionais e profi ssionais que acompanham as inovaes.
A partir da dcada de 60, autores como Masuda (1981) tm demonstrado que a economia se desloca da indstria para os servios, da fora para o conhecimento. Portanto, em contraposio s revolues tecnolgicas anteriores, que tinham por base energia e matria, a mudana fundamental da sociedade da informao e do conhecimento envolve a compreenso de tempo, de espao e de conhecimento.
Alm disso, mais do que em qualquer outra era da histria da humanidade, recursos humanos qualifi cados sero de fundamental importncia para a era da
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informao. Sero necessrios cientistas, engenheiros, educadores e tcnicos em todas as reas associadas s tecnologias da informao, especialmente em sistemas, administrao e aplicao de informao, de comunicao e de computao. Esta ser uma fora de trabalho treinada para o uso destas tecnologias, capaz de produzir com qualidade e competitividade dentro de ambientes baseados em conhecimento.
Mas a reestruturao dos recursos humanos tambm envolve a preparao da populao, em escala generalizada, para a utilizao de sistemas e servios associados s redes de comunicao e informao, bem como a educao para produzir e consumir informao e conhecimento competentemente.
O processo que intensifi ca o uso de informao neste mundo moderno pode ser comprovado em um simples exemplo. Agora, antes de plantar tomates so necessrios muitos planos, desenhos, tabelas e roteiros para produzir sementes geneticamente tratadas, os fertilizantes, o plantio, os tratores e as colheitadeiras, o sistema de seleo eletrnica, os recipientes e seus meios de transporte, etc. interessante notar como o modo de produo modifi cou e quantos so os envolvidos nesse novo modo de plantar e colher tomate. Nesse caso, e em praticamente tudo que se pensa, o trabalho est totalmente ligado s tecnologias de informao.
Assim, forma-se um novo paradigma calcado nas tecnologias que so consideradas resultantes de avanos da cincia, objetivando superar os limites ao crescimento, sustentando a lucratividade e a produtividade.
Consideraes finais
A informao sempre fez parte da vida do homem que possui uma necessidade vital para se comunicar. A evoluo das tecnologias, pesquisas e estudos cientfi cos possibilitou, aos poucos, a revoluo da informao, que caracteriza o atual paradigma.
Aos poucos o ser humano percebeu o quanto obter informao o ajudava a avanar em sua vida pessoal, comunicando-se, expressando-se e compreendendo. Porm, este fato passou a ser de conhecimento de toda a humanidade, inclusive dos poderosos, que aprenderam a manipular a opinio pblica e obter lucro nesse meio frtil.
Hoje, a mdia informa aos consumidores sobre novos produtos e os coloca como uma necessidade imposta, manipulando seus gostos. A mdia os ensina o ter e ser
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descartveis. O capitalismo os ensina o ter mais para poder gastar mais em menos tempo. Alis, antigamente, os ponteiros do relgio pareciam mais lentos e hoje, como em um contraste, parecem rodar mil vezes mais rpido.
Descobriu-se que a reduo de espao e tempo permite uma operao mais ampla e foi assim que nasceu a Internet: campo infi nito de informao. Ento, uma nova sociedade vem se moldando s necessidades do cotidiano acelerado que o novo paradigma exige.
Este novo paradigma prev uma revoluo nas tecnologias de informao com a interligao de inovaes em computao eletrnica, na transmisso de dados velocidade da luz, na engenharia de software, nos sistemas de controle, na revoluo da telefonia, nas redes e circuitos integrados, no recurso aos satlites de telecomunicaes, que reduzem os custos de armazenamento, processamento, comunicao e disseminao, de informaes possveis entre agentes, individuais e coletivos.
Na veia dessa mudana, encontra-se o crescimento acelerado dos setores de informao e conhecimento, que passaram a ser fundamentais, de certa forma, dependncia para a gesto pblica, privada e individual. Assim que se justifi ca o fato de diversas pesquisas se referirem nova ordem mundial como Era, Sociedade ou Economia da informao e do conhecimento, resultante de uma revoluo informacional.
Mas, o que pouco se fala, apesar de sua extrema importncia, que os pases que possuem melhor desempenho em termos de crescimento e produtividade so aqueles que podem desenvolver pesquisas de alto custo tecnolgico, portanto os desenvolvidos. Em contraponto, os pases em desenvolvimento vivem margem desta possibilidade, e cada vez mais, encontram problemas estruturais e de gesto que os impedem de competir na mesma base.
O novo paradigma possui caractersticas especfi cas, segue com avanos aliados aos riscos e, em caso de pases em desenvolvimento, como o Brasil, preciso ateno para no sofrer os maiores problemas desse processo.
Referncias
DIZARD, Wilson. A nova mdia: a comunicao de massa na era da informao. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
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185Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itaja, mai/ago 2008
CONTRAPONTOS
LASTRES, Helena M. M.; ALBAGLI, Sarita (org.) Informao e Globalizao na Era do Conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
MASUDA, Yoneji. A sociedade da informao como sociedade ps-industrial. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1981.
SATHLER, Luciano; MELO, Jos M. (org.). Direitos comunicao na sociedade da informao. So Bernardo do Campo: UMESP, 2005.
STRAUBHAAR, Joseph D. Comunicao, mdia e tecnologia. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
Notas
1 A microeletrnica constitui o chamado complexo eletrnico: a informtica, a telemtica, a mecatrnica, a eletrnica de consumo, etc.
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