sociabilidades urbanas v4n10... · 2020. 2. 27. · sociabilidades urbanas - revista de...
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Sociabilidades
Urbanas
Revista de Antropologia e Sociologia
Publicação do Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções
Universidade Federal da Paraíba (Campus I – João Pessoa)
Ano III
Número 7
Março de 2019
ISSN 2526-4702
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Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v4 n10 março de 2020 ISSN 2526-4702
Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia
GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Universidade Federal da Paraíba
Publicação Quadrimestral do GREM/UFPB
n° 7 – Março de 2019 – Ano III
ISSN 2526-4702
EDITORES
Raoni Borges Barbosa (UFPB/GREM)
Mauro Guilherme Pinheiro Koury (UFPB/GREM)
Conselho Editorial
Cláudia Turra Magni (UFPEL); Cornelia Eckert (UFRGS); Gabriel D. Noel (Argentina -
UNSAM); João Martinho Braga de Mendonça (UFPB); Jussara Freire (UFF); Lisabete
Coradini (UFRN); Luís Roberto Cardoso de Oliveira (UNB); Luiz Antonio Machado da Silva
(UERJ); Luiz Gustavo P. S. Correia (UFS); Maria Cláudia Pereira Coelho (UERJ); Maria
Cristina Rocha Barreto (UERN); Pedro Lisdero (Argentina - CONICET); Roberta Bivar
Carneiro Campos (UFPE); Rogério de Souza Medeiros (UFPB); Simone Magalhães Brito
(UFPB).
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Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v4 n10 março de 2020 ISSN 2526-4702
Expediente
http://www.cchla.ufpb.br/grem/sociabilidadesurbanas/
Sociabilidades Urbanas ISSN 2526-4702
Editores: Raoni Borges Barbosa & Mauro Guilherme Pinheiro Koury
Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia é uma revista acadêmica do
GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções. Tem por objetivo
debater as questões de formação do self e de culturas emotivas nas sociabilidades urbanas
contemporâneas na perspectiva teórico-metodológica das Ciências Sociais, sobretudo a
antropologia e a sociologia.
The Urban Sociabilities - Journal of Anthropology and Sociology is an academic journal of
GREM - Research Group on Anthropology and Sociology of Emotions. It aims to discuss the
issues of self and emotive cultures formation in contemporary urban sociabilities in the
theoretical-methodological perspective of Social Sciences, especifically with de anthropology
and sociology.
Secretaria Sociabilidades Urbanas.
E-Mail: [email protected]
O GREM é um Grupo de Pesquisa vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da
Universidade Federal da Paraíba.
GREM is a Research Group at Department of Social Science, Federal University of Paraíba,
Brazil.
Endereço / Address:
Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia
[Aos cuidados de Raoni Borges Barbosa]
GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções
Departamento de Ciências Sociais/CCHLA/UFPB CCHLA / UFPB – Bloco V – Campus I –
Cidade Universitária CEP 58 051-970 · João Pessoa · PB · Brasil
Ou, preferencialmente, através do e-mail: [email protected]
Or, preferentially, by e-mail: [email protected]
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Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v4 n10 março de 2020 ISSN 2526-4702
ISSN 2526-4702
Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia / GREM
– Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções /
Departamento de Ciências Sociais /CCHLA/ Universidade Federal da
Paraíba – v. 3, n.7, Março de 2019.
João Pessoa – GREM, 2017. (v.1, n.1 – Março/Junho de 2017) - Revista
Quadrimestral ISSN 2526-4702
Antropologia – 2. Sociologia – 3. Antropologia Urbana – 4. Sociologia
Urbana – Periódicos – I. GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e
Sociologia das Emoções. Universidade Federal da Paraíba
BC-UFPB
CDU 301
CDU 572
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Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v4 n10 março de 2020 ISSN 2526-4702
Perfil da Sociabilidades Urbanas
Revista de Antropologia e Sociologia
Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia é uma revista
acadêmica do GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções. Tem
por objetivo debater as questões de formação do self e de culturas emotivas nas sociabilidades
urbanas contemporâneas na perspectiva teórico-metodológica das Ciências Sociais, sobretudo
a antropologia e a sociologia.
Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia se propõe o esforço
de construção de uma rede acadêmica de discussão e reflexão sobre o urbano contemporâneo,
em especial o brasileiro, de uma perspectiva interacionista e figuracional da antropologia e
sociologia, de modo a enfatizar o exercício de análise da cidade enquanto comunidade
paradoxal e espaço societal de intenso conflito entre cultura objetiva e subjetiva na qual
emerge a individualidade moderna.
O fazer antropológico e sociológico se direciona, nesta proposta teórico-metodológica,
para o esforço de observação e análise da formação da cultura emotiva, dos códigos de
moralidade e do self de atores sociais situados como agências criativas e produtoras de um
espaço interacional e intersubjetivo urbano específico.
Problematiza, portanto, a dimensão processual da construção e desconstrução das
cadeias de interdependência que se manifestam socialmente enquanto objetificação de
conteúdos subjetivos trocados pelos atores sociais.
As consequências desta exigência teórico-metodológica podem ser percebidas na
preocupação, quando do fazer etnográfico e da observação micro-orientada das formas e
conteúdos sociais, do registro das tensões e dos vínculos de solidariedade e conflito entre os
interactantes no formato de encontros, pertença, confiança, traição, medos, angústias,
vergonhas, ressentimentos, humilhações, sofrimento, e ainda todo um conjunto extenso de
emoções e gramáticas morais que perfazem as práticas e o imaginário cotidiano e ordinário
dos atores sociais na cidade.
Estas emoções revelam, entre outros, as disputas morais e os códigos de moralidade
em jogo nos sistemas de posição que organizam as fronteiras e hierarquias simbólicas e
materiais entre as unidades interacionais sob análise.
A agenda teórico-metodológica e os interesses temáticos abrigados na proposta de
publicação da Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia vem sendo
amadurecidos em uma rotina de pesquisa de quase quatro três décadas desenvolvida no
GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções, cujas linhas de
pesquisa, atualmente, são as seguintes: Emoções e Consumo; Emoções e Sociabilidades
Urbanas; Emoções, Moralidade e Gênero; Estudos Teóricos em Antropologia e Sociologia
das Emoções.
Nas palavras de Koury (A Antropologia e a sociologia das emoções no Brasil: breve
relato histórico do processo de consolidação de uma área temática. Trabalho apresentado no
II Simpósio Interdisicplinar de Ciências Sociais e Humanas da UERN, 2014.), fundador e
coordenador do GREM:
“O GREM tem por objetivo a compreensão e análise da emergência da individualidade
e do individualismo no Brasil urbano contemporâneo. Enfatiza a questão da formação das
emoções, enquanto cultura emotiva, e desenvolve estudos e pesquisas sobre o processo de
formação e experiência sobre emoções específicas em sociabilidades dadas. Assim, o
processo de luto e da morte e do morrer; dos medos; das formas de sociabilidades e das
etiquetas sociais que envolvem as relações de amizade; dos processos de ressentimento e
humilhação; e das formas de estabelecimentos de laços de confiança e desconfiança entre as
camadas médias e periféricas no urbano brasileiro, faz parte do núcleo de interesse do GREM.
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Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v4 n10 março de 2020 ISSN 2526-4702
As pesquisas desenvolvidas e em desenvolvimento no GREM se debruçam sobre as imagens
e suas representações na conformação do homem comum urbano brasileiro. Debruça-se,
também, sobre as redundâncias, as ambivalências e as ambiguidades do ato executado ou
expresso, sobre os silêncios, sobre os discursos e narrativas fragmentados, sobre os gestos e
tique que, invariavelmente, acompanham um diálogo ou uma informação e, às vezes,
ampliam, modificam ou contextuam para além das frases ditas e dos sentidos do quer
expressar. Tratam, enfim, da cultura emotiva e as redes morais que se formam nela e através
dela”.
Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia parte também da
experiência acumulada nos quinze anos de publicação sobre emoções da RBSE – Revista
Brasileira de Sociologia da Emoção, fundada e editada por Mauro Koury e sediada no GREM
– Grupo de Pesquisa em Antropologia das Emoções.
Neste ínterim, Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologias se
situa em uma tradição acadêmica de pesquisas e reflexões em antropologia e sociologia sobre
o indivíduo, o social e a cultura da perspectiva das emoções, de modo a enfatizar esta
proposta no campo das sociabilidades urbanas.
Raoni Borges Barbosa
Mauro Guilherme Pinheiro Koury
Editores
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Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v4 n10 março de 2020 ISSN 2526-4702
NORMAS PARA OS AUTORES
1. A Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia, ISSN 2526-4702, é uma
publicação quadrimestral do GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das
Emoções, com lançamentos nos meses de março, julho e novembro de cada ano.
2. A Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia tem por editores: Raoni
Borges Barbosa e Mauro Guilherme Pinheiro Koury.
3. A Sociabilidades Urbanas pode ser lida inteiramente, de forma gratuita, no site
http://www.cchla.ufpb.br/grem/sociabilidadesurbanas/.
4. Todos os artigos apresentados aos editores da Sociabilidades Urbanas serão submetidos à
pareceristas anônimos conceituados para que emitam sua avaliação.
5. A revista aceitará somente trabalhos inéditos sob a forma de artigos, entrevistas, traduções,
resenhas e comentários de livros. Exceto nos casos de dossiês e autores convidados ou artigos
que o Coordenador do Dossiê ou o Conselho Editorial achar importante publicar ou
republicar.
6. Os textos em língua estrangeira, quando aceitos pelo Conselho Editorial, serão publicados
no original, se em língua espanhola, francesa, italiana e inglesa, podendo por ventura vir a ser
traduzido.
7. Todo artigo enviado à revista para publicação deverá ser acompanhado de uma lista de até
cinco palavras-chave e Keywords que identifiquem os principais assuntos tratados e de um
resumo informativo em português, com versão para o inglês (abstract), com 300 palavras
máximas, onde fiquem claros os propósitos, os métodos empregados e as principais
conclusões do trabalho.
8. Deverão ser igualmente encaminhados aos editores dados sobre o autor (filiação
institucional, áreas de interesse, publicações, entre outros aspectos).
9. Os editores reservam-se o direito de introduzir alterações na redação dos originais, visando
a manter a homogeneidade e a qualidade da revista, respeitando, porém, o estilo e as opiniões
dos autores. Os artigos expressarão assim, única e exclusivamente, as opiniões e conclusões
de seus autores.
10. Os artigos publicados na revista serão disponibilizados apenas on-line.
Toda correspondência referente à publicação de artigos deverá ser enviada para o e-mail da
Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia:
Regras para apresentação de originais
1. Os originais que não estiverem na formatação exigida pela Sociabilidades Urbanas não
serão considerados para avaliação e imediatamente descartados.
2. Os artigos submetidos aos editores para publicação na Sociabilidades Urbanas deverão ser
digitados em Word, fonte Times New Roman 12, espaço duplo, formato de página A-4. Nesse
padrão, o limite dos artigos será de até 30 páginas e 8 páginas para resenhas, incluindo as
notas e referências bibliográficas.
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3. Citações com mais de três linhas, no interior do texto, devem se encontrar em separado,
sem aspas, com recuo de 1 cm à direita, fonte Times New Roman 11, normal, espaçamento
entre linhas duplo; e espaçamento de 6x6.
4. O arquivo deverá ser enviado por correio eletrônico para o e-mail
Notas e remissões bibliográficas
1. As notas deverão ser sucintas e colocadas no pé-de-página.
2. As remissões bibliográficas não deverão ser feitas em notas e devem figurar no corpo
principal do texto. Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia, , v. 1, n. 1,
março de 2017 ISSN 2526-4702.
3. Da remissão deverá constar o nome do autor, seguido da data de publicação da obra e do
número da página, separados por vírgulas, de acordo com o exemplo 1: Exemplo 1: Segundo
Cassirer (1979, p.46), a síntese e a produção pelo saber...
4. Usa-se o sobrenome do autor, quando no interior do parêntese, em letras maiúsculas,
conforme o exemplo 2: Exemplo 2: O eu que enuncia "eu" (BENVENISTE, 1972, p.32)... .
Referências
1. As referências bibliográficas deverão constituir uma lista única no final do artigo, em
ordem alfabética.
2. Deverão obedecer aos seguintes modelos:
a) Tratando-se de livro:
• sobrenome do autor (em letra maiúscula), seguido do nome;
• título da obra (em itálico):
• subtítulo, (também em itálico);
• nº da edição (apenas a partir da 2ª edição);
• local de publicação, seguido de dois pontos (:);
• nome da editora;
• data de publicação.
Exemplo: BACHELARD, Gaston. La terre et les rêveries de la volonté. Paris:
Librairie José Corti, 1984. 1.
b) Tratando-se de artigo em revistas:
• sobrenome do autor (em letra maiúscula), seguido do nome;
• título do artigo sem aspas;
• nome do periódico por extenso (em itálico);
• volume e nº do periódico (entre vírgulas);
• páginas do artigo: (p. 15-21);
• data da publicação.
Exemplo: CAMARGO, Aspásia. Os usos da história oral e da história de vida:
trabalhando com elites políticas. Revista Dados, v. 27, n. 1, p.1-15, 1984. 2.
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c) Tratando-se de artigo em coletâneas:
• sobrenome do autor (em letra maiúscula), seguido do nome;
• título do artigo;
• In:
• nome do autor ou autores da coletânea seguido por (Orgs);
• título e subtítulo da coletânea em itálico;
• nº da edição (a partir da 2ª edição);
• local da publicação seguido de dois pontos (:);
• nome da editora;
• páginas do artigo;
• ano da publicação.
Exemplo: DIAS, Juliana Braz. Enviando dinheiro, construindo afetos. In:
Wilson Trajano Filho (Org.). Lugares, pessoas e grupos: as lógicas do
pertencimento em perspectiva internacional. 2ª edição. Brasília: ABA
Publicações, p. 47-73, 2012.
d) Tratando-se de artigos em revistas online:
• sobrenome do autor (em letra maiúscula), seguido do nome;
• título do artigo sem aspas;
• nome do periódico por extenso (em itálico);
• RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 15, n. 44, agosto de 2016 ISSN 1676-8965 volume e nº do periódico (entre vírgulas);
• páginas do artigo, se houver: ( p. 15-21);
• data da publicação
• Endereço do site
• Quando se deu a consulta.
Exemplo: FERRAZ, Amélia. Viver e morrer. Revista online de comunicação,
v. 10, n. 20, p. 5-10. www.revistaonlinedecomunicação.com.br (Consulta em:
20.06.2015).
e) Tratando-se de teses, dissertações, tccs e relatórios:
• sobrenome do autor (em letra maiúscula), seguido do nome;
• título da obra (em itálico)
• subtítulo, (também em itálico);
• Tese; Dissertação, etc.;
• local de publicação, seguido de dois pontos (:);
• nome do Programa e Universidade;
• Ano
Exemplo: BARBOSA, Raoni Borges. Medos Corriqueiros e vergonha
cotidiana: uma análise compreensiva do bairro do Varjão/Rangel. Dissertação.
João Pessoa: PPGA/UFPB, 2015
Nota geral para as referências
1. Artigo, livro, coletânea, ensaio com mais de um autor: com até dois autores:
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• Sobrenome do autor principal (em letras maiúsculas), seguido do nome e ponto e vírgula(;)
• A seguir, o nome e sobrenome do segundo autor. 2. Artigo, livro, coletânea, ensaio com mais de dois autores:
• Sobrenome do autor principal (em letras maiúsculas), seguido do nome e, após, et al.
Quadros e Mapas
1. Quadros, mapas, tabelas, etc. deverão ser enviados em arquivos separados, com
indicações claras, ao longo no texto, dos locais onde devem ser inseridos.
2. As fotografias deverão vir também em arquivos separados e no formato jpg ou jpeg
com resolução de, pelo menos, 100 dpi.
Norms to manuscripts’ presentation
The Urban Sociabilities – Journal of Anthropology and Sociology is a review
published every Mach, July and November with original contributions (articles and book
reviews) within any field in the Sociology or Anthropology of Emotion. All articles and
reviews will be submitted to referees. Every issue of Urban Sociabilities will contain eight
main articles and one to three book reviews. All manuscripts submitted for editorial
consideration should be sent to GREM by e-mail: [email protected].
Manuscripts and book reviews typed one and half space, should be submitted to the
Editors by e-mail, with notes, references, tables and illustrations on separate files. The
author's full address and the institutional affiliation should be supplied as a footnote to the
title page. Manuscripts should be submitted in Portuguese, English, French, Spanish and
Italian, the editors can translate articles to Portuguese (Sociabilidades Urbanas´s main
language) in the interest of the journal. Articles should not exceed 30 pages double-spaced,
including notes and references. Reviews should not exceed 8 pages double-spaced and notes
and references included.
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SUMÁRIO
DOSSIÊ........................................................................................................... 13
Apresentação do dossiê: Cidades e Imagens: Atores sociais, Discursos e Possibilidades de
pesquisa ................................................................................................................................ 15
Jesus Marmanillo Pereira........................................................................................................... 15
Festa na ocupação ................................................................................................................. 19
Pedro Henrique Baima Paiva ..................................................................................................... 19
Fotografando na resistência: memória e visibilidade no caso de remoção da comunidade Vila
Autódromo (RJ).................................................................................................................... 29
Ana Priscila Rezende de Carvalho ............................................................................................. 29
A presença do (in)visível: análises socioimagéticas de mulheres zungueiras na cidade de
Luanda/Angola ..................................................................................................................... 45
Osmilde Augusto Miranda ......................................................................................................... 45 Elizabeth de Oliveira Serra ........................................................................................................ 45
Pintando teorias, colorindo relações: reflexões acerca da prática do grafite a partir de uma
experiência etnográfica na cidade de Porto Alegre/RS .......................................................... 59
Leonardo Palhano Cabreira ....................................................................................................... 59
Controvérsias sobre a criminalização de sociabilidades juvenis na cidade de Pelotas/RS....... 73
Ícaro Vasques Inchauspe ........................................................................................................... 73 Francisco Luiz Pereira da Silva Neto ......................................................................................... 73
O Google street e as imagens da cidade: Experiências e diálogos de pesquisas urbanas no
sudoeste do Maranhão .......................................................................................................... 83
Jesus Marmanillo Pereira........................................................................................................... 83 Antonia Eliane Lobo Carneiro ................................................................................................... 83 Ana Paula Pinto Pereira ............................................................................................................. 83
Um cinema de cidade: imagens do urbanismo em filmes brasileiros ..................................... 97
Wendell Marcel Alves da Costa ................................................................................................. 97
Memórias dos cinemas no Vale do Mamanguape: uma análise fílmica de Teixeirinha Coração
de luto (1967) ..................................................................................................................... 113
José Muniz Falcão Neto .......................................................................................................... 113
Lisboa por suas intervenções artísticas urbanas ................................................................... 127
José Luís Abalos Júnior ........................................................................................................... 127
As cascas de Hiroshima ...................................................................................................... 131
Alexsânder Nakaóka Elias ....................................................................................................... 131
ARTIGOS ..................................................................................................... 135
Por que as pequenas cidades importam: urbanização, transformações rurais e segurança
alimentar ............................................................................................................................ 137
Cecilia Tacoli .......................................................................................................................... 137
O estudo da cidade ............................................................................................................. 145
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Donald Pierson........................................................................................................................ 145
Debates da Antropologia Contemporânea: reflexões sobre poder, campo e cultura ............. 153
Nayala Nunes Duailibe ............................................................................................................ 153
Emoções, Cidade e Sociabilidade Urbana: uma análise compreensiva da cidade de João
Pessoa-PB .......................................................................................................................... 161
Williane Juvêncio Pontes......................................................................................................... 161
O processo de modernização conservadora da cidade de João Pessoa – PB ......................... 171
Raoni Borges Barbosa ............................................................................................................. 171
Breve narrativa sobre o Projeto de Pesquisa 'Balanço comparativo da produção da UFPB
campus I sobre a cidade de João Pessoa, Paraíba', em desenvolvimento no GREM Grupo de
Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções ......................................................... 197
Mauro Guilherme Pinheiro Koury ........................................................................................... 197
Sobre os Autores ................................................................................................................ 203
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DOSSIÊ
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MARMANILLO, Jesus. Apresentação do dossiê: Cidades e Imagens: Atores sociais, Discursos e
Possibilidades de pesquisa. Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia, v.3, n.7, p.
15-18, março de 2019. ISSN 2526-4702. DOSSIÊ
http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/
Apresentação do dossiê: Cidades e Imagens: Atores sociais, Discursos e
Possibilidades de pesquisa
Presentation of the dossier: Cities and Images: Social Actors, Speeches and Research Possibilities
Jesus Marmanillo Pereira
O processo de institucionalização da pesquisa com imagens, no âmbito da sociologia e
antropologia urbana, já foi satisfatoriamente explorado por pesquisadores como Koury
(1999), Eckert e Rocha (2018) e Peixoto (1995), pesquisadores que podem ser compreendidos
como um exemplo de teoria-vivída (PEIRANO, 2006) no campo composto pelas práticas
etnográficas, fotográficas e produção audiovisual no campo da pesquisa urbana.Quero dizer
com isso, que tais pesquisadores integram uma comunidade interpretativa que, juntamente
com outros pares, tem feito circular debates e reflexões sobre o papel das imagens nas
ciências sociais: por meio de eventos e promoção de um cotidiano de pesquisa sobre o tema
do presente dossiê. Assim, nos resta fazer algumas inferências mais sucintas a respeito da
relação cidade-imagens e buscar situar o presente dossiê dentro de um campo mais amplo que
tem ganhado força e espaço, ao longo dos anos.
Observando, de forma breve, as informações do Diretório de Grupos de Pesquisa do
Conselho Nacional de desenvolvimento cientifico e Tecnológico (Cnpq) e dados do Comitê de
Antropologia Visual da Associação Brasileira de Antropologia(CAV-ABA), contabilizou-se a
existência de 81 grupos dedicados as pesquisas sobre temas urbanos, dentre os quais 51,63%
são especializados em temas relacionados à violência, conflito, sociabilidades entre outros, e a
outra “metade” faz menção a questão das imagens, sinalizando um movimento que tem
ganhado espaço.
Existem casos como o do “Grupo de Estudos de Antropologia da Cidade” coordenado
pelo professor Heitor Frúgoli Junior, que embora não faça menção aos termos “visual” ou
“imagens” tem apresentado um conjunto de pesquisas relacionados ao visual, como as de
Guilhermo Aderaldo, Alexandre Barbosa Pereira, e Gabriela Pereira de Oliveira Leal, que
tratam de temas relacionados à produção de vídeos por coletivos da periferia e grafitagem. Por
outro lado, grupos como o Núcleo de Antropologia Visual (NAVISUAL-UFRGS) que apesar
de possuir uma nomenclatura que privilegia a pesquisa com imagem, tem produzido uma serie
de pesquisas urbanas sobre medos, sociabilidades, memória e gentrificação em Porto Alegre.
O que se pretende enfatizar é um movimento de convergência nos grupos de pesquisa urbana
e visual, no sentido de pensar diferentes maneiras de pesquisar as cidades e suas imagens.
Quando se pensar nesse processo em relação a uma difusão espaço temporal dos
grupos de pesquisa visual, é possível considerar que em 1989 já existia o referido Núcleo de
Antropologia Visual (NAVISUAL), e que, em 1991 foi inaugurado o Laboratório da Imagem
e do Som em Antropologia (LISA-USP). Três anos depois, em 1994 surgiu o Grupo de
Pesquisa Imagens, Narrativas e Práticas Culturais (INARRA-UERJ). Nos anos seguintes
ocorreu uma expansão para nordeste com Grupo Interdisciplinar de Estudos em Imagem
(GREI-UFPB), em 1995, e o Laboratório de Antropologia Visual (LAC-UFPE), em 1999.
Da década posterior, podemos destacar que no ano de 2001surgiram o Laboratório de
http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/
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Imagem e Registros de Interações sociais (IRIS-UNB) em 2001, o Núcleo de Antropologia
Visual (NAVIS-UFRN) e o Núcleo de Antropologia Visual (NAVIS-UFAM), reforçando a
expansão da área. Ainda no âmbito da expansão para além do eixo sudeste, pode-se falar do
Laboratório das Memórias e das Práticas Cotidianas (LABOME-UVA) que iniciou suas
atividades em 2002, e também do Laboratório de Antropologia Visual de Alagoas (AVAL-
UFAL) e do Laboratório de Antropologia da Imagem (LAI-UFC) iniciados, respectivamente,
nos anos de 2004 e 2005.
Do final, dessa década, pode-se citar ainda, o Grupo de pesquisas Visuais e Urbanas
(VISURB - UNIFESP) surgido em 2007, o Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção em
Antropologia da Imagem e do Som (LEPPAIS-UFPEL) em 2008, o Núcleo de
Experimentações em Etnografia e Imagem (NEXTimagem-UFRJ) em 2008, e o Laboratório
de Estudos da Oralidade (LEO-UFC) que atua na produção de vídeos etnográficos desde
2009. Como últimos sinais de expansão, aponto Grupo de Pesquisa em Antropologia Visual e
da Imagem (VISAGEM-UFPA) em 2013, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Antropologia
Visual, da Imagem e do Som, Memória e Identidades (NAIMI-UNIFAP) e o Laboratório de
Estudos e Pesquisas sobre Cidades e Imagens (LAEPCI-UFMA), ambos em 2016. Apesar da
expansão ainda se está longe de se ter uma integralização total, pois a região norte representa
apenas 7,8% dos 81 grupos contabilizados enquanto o sudeste concentra 43,53% de todos os
grupos.
Como destacam Koury (1999), Eckert e Rocha (2018), esse processo de
institucionalização foi alimentado também pelo exercício de criação de grupos de trabalho,
existente desde a década de 1990. Pela criação de mostras de vídeo, como a da ANPOCS, por
exemplo, e de uma serie de esforços que resultaram em livros, dossiês etc.
Dentro de contexto da produção que relaciona o urbano a pesquisa com imagens,
buscou-se orientar a proposta do dossiê por algo já apontado por Koury (1999), que é pensar a
imagem tanto como ampliação do olhar do etnógrafo no trabalho de captação de uma
determinada realidade cultural ou como elemento de análise, artefato e produto que traz sinais
e representações que sinalizam a relação individuo-sociedade. Assim, seja pelas etnografias da
sociologia urbana de Chicago ou, por uma antropologia de alteridade mínima (PEIRANO,
1999) que toma cidade como campo, de perto e de dentro (MAGNANI, 2002), acredita-se que
a imagem fotográfica, a produção audiovisual tem evidenciado, cada vez mais, conjuntos de
práticas e saberes, interações, conflitos e diversas formas de sociabilidade desenvolvidas
pelos atores da cidade.
O presente dossiê e suas pesquisas não podem ser desvinculados dessa perspectiva,
pois representa um conjunto de jovens mestrandos, doutorandos e recém doutores que, de
alguma forma, se conectaram nesse movimento nacional. Eles trazem um conjunto de
pesquisas focadas sobre configurações de atores cujas sociabilidades, estratégias, interações e
relações foram apreendidas por meio de imagens, de narrativas etnográficas e etnografias com
grande potencial imagético. São trabalhos que apontam não apenas as realidades de
determinados atores sociais das urbes das regiões sul, sudeste, nordeste e do centro-oeste, mas
para a interação deles com contextos mais amplos a partir dos quais é possível se refletir sobre
políticas urbanas, sobre imaginários da cidade, representações e nos “grandes
empreendimentos”. Assim, longe de trabalhos atomizados sobre aspectos particulares
contidos no espaço urbano, as pesquisas contidas no dossiê convidam o leitor para
compreender como os atores sociais e suas práticas, com a produção de representações
imagéticas sobre a cidade, conectam realidades especificas com projetos mais amplos que
mobilizam percepções econômicas, sociais e políticas sobre o urbano. São pesquisas que
apontam as imagens como método, como um uso social e como maneira de observar a cidade
e seus atores sociais. Trazemos assim um conjunto de oito etnografias e dois ensaios visuais
No artigo “Festa na Ocupação”, Pedro Henrique Baima demonstra, por meio de uma
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experiência da câmera participante, importantes processos de sociabilidades existentes em
uma associação de moradores cujas ações e dramas dialogam com processos de
desapropriação, e demarcam outros sentidos específicos para a cidade. Isso nos possibilita, ao
leitor, refletir sobre o planejamento e política urbana, sobre os processos de pesquisa e,
também, a respeito importância da festa, como lugar de fortalecimento de identidade, das
relações de vizinhança e da própria mobilização popular na cidade de Goiânia (GO).
As tensões entre comunidades populares e projetos de “modernização” também
constituem o tema central no texto “Fotografando na resistência: memória e visibilidade no
caso de remoção da comunidade Vila Autódromo” de Ana Priscila Rezende de Carvalho. No
contexto das olimpíadas de 2017, a autora narra o drama, da remoção, da comunidade da Vila
Autódromo, localizada na região da Barra da Tijuca (RJ). Ela enfatiza a oposição entre a
realidade local e os megaeventos que ocorriam no Rio de Janeiro, discorrendo sobre a
trajetória de uma liderança local que mobilizou todo um arsenal imagético no campo de
disputa em torno de uma memória urbana e da defesa do “lugar”.
Já no artigo “A presença do (in) visível: análises socioimagéticas de mulheres
zungueiras na cidade de Luanda/Angola”, Osmilde Augusto Miranda e Elizabeth de Oliveira
Serra demonstram a cidade como cenário a tensão e exploração no qual se relacionam
trabalhadoras informais, conhecidas como zungueiras, o poder público e o próprio setor
econômico. Se valendo da observação direta, de registros fotográficos e de elementos da
história política de Angola e Luana, os autores trazem uma etnografia sobre essas mulheres
que trabalham andando e vendendo produtos nas ruas.
Se nos três primeiros trabalhos, as imagens e narrativas caracterizavam a cidade da
tensão entre atores marginalizados e grandes projetos e investimentos “higienização” e
“modernidade”, os dois trabalhos seguintes refletem sobre a apropriação da cidade pelos
segmentos juvenis, destacando também diferentes formas de sociabilidades. Assim, no texto
“Pintando teorias, colorindo relações: reflexões acerca da prática do grafite a partir de uma
experiência etnográfica na cidade de Porto Alegre/RS, Leonardo Palhano Cabreira analisa as
práticas e os saberes relacionados ao grafite, destacando a questão da comunicação visual, as
redes de sociabilidade e o papel do pesquisador durante o campo de pesquisa. Já Ícaro
Vasques Inchauspe e Francisco Luiz Pereira da Silva Neto, também, trazem uma pesquisa
sobre sociabilidades juvenis no artigo “Controvérsias sobre a criminalização de sociabilidades
juvenis na cidade de Pelotas/RS” ressaltando a construção de “pedaços”, trajetos e pontos de
concentração de vários tipos de agrupamentos que compõem a vida noturna no bairro do
porto, na cidade de Pelotas. Ressalta a dimensão do conflito entre moradores locais, poder
público e freqüentadores dos bares e clubes do lugar.
De Pelotas (RS) para as cidades de Imperatriz (MA) e Açailandia (MA), o dossiê traz
o artigo “O Google street e as imagens da cidade: Experiências e diálogos de pesquisas
urbanas no sudoeste do Maranhão”, no qual Jesus Marmanillo, Antonia Eliane Lobo e Ana
Paula Pinto refletem sobre o papel das imagens nos processos tecnológicos virtuais e nas
representações de cidade na internet. Eles destacam alguns usos e incorporações do aplicativo
em práticas etnográficas nas cidades do sudoeste maranhense. A representação imagética da
cidade a o imaginário urbano também são pontos tratados nos materiais seguintes, cuja
abordagem se vale de fontes cinematográficas para se pensar outras possibilidades de analises
sobre as cidades e seus atores.
Nesse sentido, no artigo “Um cinema de cidade: imagens do urbanismo em filmes
brasileiros”, Wendell Marcel Alves da Costa discorre sobre um cinema que é produzido em
circunstâncias teóricas e de linguagem que apenas a cidade oferece. Tendo como campo a
cinematografia pernambucana, ele buscar analisar o teor social, simbólico, transformações da
paisagem, afetos e ruínas, considerando os “lugares” da cidade por meio de vertentes políticas
e estéticas. Já no artigo “Memórias dos cinemas no Vale do Mamanguape: uma análise fílmica
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de Teixeirinha Coração de luto (1967)”, José Muniz Falcão Neto realiza análises fílmicas,
com filmes exibidos em dois cinemas instalados e localizados no interior do litoral norte da
Paraíba, Cine Teatro Orion (1944) e Cine Teatro Eldorado (1965), respectivamente,
construídos na cidade de Rio Tinto e Mamanguape. Grosso modo, a abordagem do autor
estabelece uma relação metafórica entre tais locais e o filme ‘Teixeirinha Coração de luto,
buscando apontar relações simbólicas voltadas para a cultura popular e para a modernização,
as quais estão intrinsecamente ligadas à formação de tipos sociais urbanos e rurais.
Finalizando o dossiê, temos os ensaios visuais de José Luís Abalos Júnior e
Alexsânder Nakaóka Elias que trazem interessantes narrativas sobre Lisboa (Portugal) e
Hiroshima (Japão) a partir, respectivamente, da prática do grafite e de trajetos de observação
realizados no “memorial da paz”. Dessa forma, no ensaio “Lisboa por suas intervenções
artísticas urbanas”, José Luís Abalos Junior socializa sua experiência de doutorado sanduíche,
sob orientação do professor Ricardo Campos, demonstrando uma tour de arte urbana
organizada pelo coletivo Yes you can spray, e como o grafite está presente no cotidiano
lisboeta. Já no “As cascas de Hiroshima” Alexsânder Nakaóka Elias traz uma narrativa
inspirada no artigo “Cascas” (2011), do historiador Georges Didi-Huberman, e em uma
pesquisa de campo realizada com base em registros fotográficos produzidos no memorial da
paz.
Referências
ECKERT, CORNELIA; ROCHA, A. L. C. Projetos, desafios e consolidação de uma linha de
pesquisa no Brasil: antropologia audiovisual. Ebook ISBN: 978-85-93380-25-9. In: Mariano
Báez Landa e Gabriel O. Alvarez. (Org.). Olhar In(com)formado: Teorias e práticas da
Antropologia Visual: Una mirada in(con) formada. Teorías y prácticas de la Antropología
Visual. Goiânia: UFG, CAPES, 2018, v. 1, p. 25-101.
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. A imagem nas ciências sociais do Brasil: Um balanço
crítico. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, Rio de Janeiro,
v. 47, p. 49-64, 1999.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. De perto e de dentro: notas para uma etnografia
urbana. Rev. bras. Ci. Soc., São Paulo, v. 17, n. 49, p. 11-29, 2002.
PEIRANO, Mariza G. S. "A antropologia no Brasil (alteridade contextualizada)". In: S.
Miceli (org.), Ciências sociais no Brasil: tendências e perspectivas. São Paulo: Editora
Sumaré, ANPOCS; Brasília: CAPES, 1999, p. 226-266.
PEIRANO, Mariza. A teoria vivida e outros ensaios de antropologia. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2006.
PEIXOTO, Clarice Ehlers. Antropologia visual no Brasil. Cadernos de Antropologia e
Imagem (UERJ), RJ, v. 1, p. 75-80, 1995.
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PAIVA, Pedro Henrique Baima. Festa na ocupação. Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e
Sociologia, v.3, n.7, p. 19-28, março de 2019. ISSN 2526-4702. DOSSIÊ
http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/
Festa na ocupação
Party in the occupation
Pedro Henrique Baima Paiva
Resumo: Esse artigo é parte da minha dissertação de mestrado e procura apresentar alguns
eventos festivos realizados por moradores que se organizam para defenderem suas casas da
desapropriação. Ao descrever a associação conhecida como ILOGU, Instituto Pró-Logística
Urbana, procuro pensar a importância do olhar antropológico na elaboração de políticas de
urbanização mais equânimes e mais justas, que para além de considerar as estruturas físicas
e os conflitos na cidade, privilegia a observação das distintas formas de apropriação e
criação dos lugares. Palavras-chave: câmera participante, planejamento urbano, operação
urbana consorciada
Abstract: This article is part of my dissertation and tries to present some festive events held
by residents who organize to defend their homes from expropriation. In describing the association known as ILOGU, Instituto Pró-Logística Urbana, I try to think about the
importance of the anthropological view in the elaboration of more equitable and fair
urbanization policies that, besides considering the physical structures and conflicts in the
city, privileges observation of the different forms of appropriation and creation of the
places. Key words: participant camera, urban planning, consortium urban operation.
Em Goiânia, no dia 25 de junho de 2016 a prefeitura apresentou à população uma
proposta de Operação Urbana Consorciada para a região entorno do maior parque da cidade, o
Jardim Botânico, que ficou conhecida como Operação Urbana Consorciada Jardim Botânico
(OUCJB). A um custo estimado de 600 milhões de reais, a OUCJB propõe a delimitação de
uma área abrangendo sete bairros: Setor Pedro Ludovico, Vila Izabel, Vila Maria José, Vila
Redenção, Areião I1, Jardim Santo Antônio e Jardim das Esmeraldas.
Essa região heterogênea chama atenção das construtoras imobiliárias por estar
próxima aos terrenos mais valorizados da cidade atualmente, no bairro Jardim Goiás, pela
presença do parque Jardim Botânico com cerca de um milhão de metros quadrados no centro
da região, e por ser predominantemente ocupada por casas residenciais e ocupações
irregulares em bairros carentes de infraestrutura pública, portanto desvalorizados.
Segundo Olbertz (2011), a Operação Urbana Consorciada caracteriza-se pela
disposição à intervenção urbanística e à regulação do mercado imobiliário, e resulta na
execução de um plano urbanístico flexível, em que há concessão de benefícios e recebimento
de contrapartidas, mediante parceria público-privada e participação social em todo processo.
Essa ferramenta segundo a autora pode ser bastante eficiente principalmente devido à
incapacidade ou falta de interesse do Estado de garantir os investimentos necessários em
infraestrutura.
Por outro lado, o Instituto Pró-Logística Urbana (ILOGU)2 é uma associação criada
por moradores que receberam ordem de despejo e são contrários à proposta da prefeitura, sua
1Embora o bairro Areião I não esteja na lista oficial dos bairros envolvidos na OUC, ele é citado muitas vezes
durante a apresentação do projeto, e é, portanto, considerado nessa pesquisa. 2Segundo a página na internet do ILOGU: www.ilogu.org.br, o instituto está registrado como pessoa jurídica de
direito privado e surgiu da necessidade coletiva de ajudar os moradores da comunidade onde o instituto está
http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/
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sede, próxima às águas do Córrego Botafogo se torna nesse contexto um lugar de múltiplos
sentidos. É lugar de reuniões comunitárias e de audiências públicas, é também uma residência
familiar, local de reuniões e de festas na ocupação.
Segundo Leite (2007) e De Certeau (2001), os lugares são polissêmicos, isto é,
possuem vários sentidos e são constituídos a partir de “estratégias” e de “táticas”. As
“estratégias” são fruto do poder especializado, se afirmam como práticas organizadoras da
cidade e implicam a construção de uma visão totalizante e homogênea, enquanto as “táticas”
são movimentos heterogêneos e imprevisíveis organizadas pela ausência de poder, ou pelos
“sem poder”, que ocorre no interior de espaços urbanos, subvertendo seus sentidos
estratégicos.
Conheci o ILOGU durante a realização da minha pesquisa de mestrado. Como técnico
da prefeitura, fui representar a Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia em uma
reunião onde os moradores reivindicavam a regularização fundiária das casas da ocupação e
refutavam o argumento da prefeitura de que eles causavam degradação ao meio ambiente.
Contudo, foi com a proposta de realizar um vídeo contando a história e as memórias
das pessoas que pude passar mais tempo com os moradores. Na Ocupação Jardim Botânico, o
trabalho de campo buscou a intersubjetividade lançando mão de imagens e de vídeos.
Inspirado nas experiências dos Vídeos nas Aldeias que começaram em 1986 quando os
pesquisadores apresentaram o material filmado aos índios Nambiquara e causaram uma
mobilização coletiva que chamou atenção e que acabou sendo levada para outros grupos
(ARAÚJO, 2012).
Também inspirado pelos princípios rouchianos na realização de uma antropologia
compartilhada a partir da filmagem participante, da edição compartilhada e da publicação do
material monográfico e audiovisual, lancei mão da câmera participante que é a dinâmica de
apresentar ao grupo o material registrado durante o trabalho de campo. Essa prática favorece o
diálogo, e a comunidade, como sujeito coletivo, dialoga sobre o que deve ser filmado, quem
deve ser filmado, como, quando e onde (ALVAREZ, 2013).
Somada à técnica da câmera participante, a antropologia do lugar se destaca nesse
estudo. Para além de descrever sua história, classificar e detalhar seus conflitos, a
antropologia do lugar nos permite observar e reconstruir a partir da memória, a cidade vivida,
sentida e experimentada. Portanto, considero aqui o “lugar” como o dos sentidos, proposto
por Marc Augé (2010, p. 51), o “lugar antropológico”, do sentido inscrito e simbolizado, “é
simultaneamente princípio de sentido para aqueles que o habitam e princípio de
inteligibilidade para quem o observa”, sendo constituído de pelo menos três características: é
identitário, relacional e histórico.
O lugar é constitutivo da identidade individual, pois todos somos de algum lugar, mas
também é relacional, pois se situa numa configuração de conjunto cuja inscrição no solo é
compartilhada com outros e se define por uma estabilidade temporal mínima que o torna
histórico, de maneira que as pessoas nele inserido não fazem história, elas vivem a história
(AUGÉ, 2010).
Segundo Tuan (1983), a princípio, um bairro é uma confusão de imagens e vai se
fazendo conhecido a partir de quando o morador, ou no meu caso, o antropólogo, passa a
identificar locais significantes como esquinas, casas e outros referenciais dentro do espaço do
bairro como centros de valor para as pessoas. Para o autor, os lugares são centros aos quais
atribuímos valor que nos atrai ou nos repelem em graus variados e onde são satisfeitas nossas
necessidades biológicas de comida, água, descanso e reprodução.
Os lugares são humanizados e humanizantes. São construídos fisicamente e
simbolicamente por meio das agências, da política, da religião, da arquitetura e etc.,
localizado, na Avenida Segunda Radial, número 794 bairro Vila Redenção em Goiânia, Goiás, ameaçados de
despejo pela prefeitura.
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misturando a história das pessoas com o lugar onde vivem. Os lugares têm uma característica
personalizada, isto é, tomam os atributos das pessoas, e para estudar o sentido de lugar das
pessoas é preciso andar pelos lugares com elas (TAMASO, 2012).
A identidade de qualquer lugar não é determinada em termos de qualquer conjunto de
parâmetros claramente definidos; lugares são estabelecidos em relação a um complexo de
estruturas objetivas, subjetivas e intersubjetivas que são inseparavelmente conjugadas dentro
da estrutura do lugar (TAMASO, 2007, p. 469).
No caso do ILOGU, trata-se de um ponto de encontro das pessoas que são do pedaço,
“uma peculiar rede de relações que combina laços de parentesco, vizinhança, procedência e
vínculos definidos por participações em atividades comunitárias”, lugar para práticas
coletivas onde todos sabem de onde você vem, do que você gosta ou se você não é dali
(MAGNANI, 2012, p. 88).
Nesse artigo pretendo apresentar trechos da etnografia realizada nos eventos festivos
que ocorreram no ILOGU para pensar como os sentidos dados aos lugares são fundamentais
para a elaboração de políticas públicas mais justas no planejamento urbano das cidades. As
falas dos moradores e outros entrevistados ao longo da pesquisa, realizada entre janeiro de
2016 e julho de 2017, serão transcritas aqui em itálico.
Instituto pró-logística urbana
A Avenida Segunda Radial começa na Avenida Circular, que contorna completamente
o terminal de ônibus chamado Isidória, na região Sul de Goiânia. Percorre cinco quarteirões
do bairro Pedro Ludovico de plena descida até chegar ao Córrego Botafogo, no limite com os
bairros Vila Izabel, Vila Maria José e Vila Redenção quando começa a subir para o bairro
Jardim Goiás a leste dali.
Professor Pedro Wilson3 sugere a participação da esposa do Interventor Pedro
Ludovico Teixeira no planejamento da cidade:
o Setor Pedro Ludovico é um setor de origem popular, feito por uma ação social do
governo do Estado. Tem esse nome porque é um bairro que teve origem mais
organizada, que a Dona Gercina4 fez em função dos pedreiros e mestres de obras que
trabalhavam em Goiânia e não tinham onde morar.
Com duas pistas largas separadas por uma ilha que abriga árvores e uma passarela para
pedestres, com o passar dos anos a Avenida Segunda Radial se tornou uma importante via que
permite a passagem de muitos veículos que trafegam pelo sistema de avenidas que se
integram através da convergência com o terminal Isidória e a Avenida Circular no bairro
Pedro Ludovico, e vai em direção a uma região de bairros nobres, do shopping Flamboyant, e
de condomínios fechados de alto padrão a leste dali.
Com muitas fachadas de comércios, com casas e poucos edifícios próximo ao
terminal, a Avenida vai ganhando mais arborização em seu ponto mais baixo, próximo ao
Córrego Botafogo, manancial importante para a cidade e que nasce dentro do Jardim
Botânico, maior parque da capital, localizado entre a Avenida Segunda Radial e a Avenida
Quarta Radial. Próximo ao córrego, quando a avenida começa um aclive é onde está
3Professor Pedro Wilson, como gosta de ser chamado, segundo a Wikipédia, enciclopédia livre da internet,
nasceu em 24 de fevereiro de 1942 na cidade de Marzagão, interior de Goiás. É advogado, professor
universitário, sociólogo e político brasileiro filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Graduado em direito e em
ciências sociais pela Universidade Federal de Goiás, foi professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
sendo que entre 1985 e 1988 exerceu o cargo de Reitor dessa mesma instituição. Foi um dos fundadores do PT
em Goiás em 1980 e sua biografia política contabiliza mandatos de vereador da cidade de Goiânia (1993 –
1995), deputado federal por Goiás (1995 – 2000; 2007 – 2011), e prefeito de Goiânia (2001 – 2004). 4Dona Gercina Borges foi esposa de Pedro Ludovico Teixeira, interventor do Estado nomeado pelo presidente
Getúlio Vargas e lembrado pela construção de Goiânia.
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localizado o ILOGU, onde também é a casa do Jorge, presidente do instituto e meu
companheiro de filmagens durante a pesquisa.
Segundo Professor Pedro Wilson,
O Córrego Botafogo, que inclusive está presente na bandeira de Goiânia, foi muito
significativo porque um afluente dele, o Areião, foi o primeiro serviço de
fornecimento de água que nós tivemos no Palácio das Esmeraldas5. Como naquela
época não tínhamos condição de retirar direto do Botafogo, o fornecimento foi pelo Areião que descia até o Palácio por declividade. Contraditoriamente, foi nessa
região do Areião que teve também o primeiro lixão de Goiânia.
Posteriormente, com energia e bombeamento, o próprio Córrego Botafogo forneceu
água para a cidade, contudo, hoje recebe apenas esgoto clandestinamente lançado ao longo de
seu curso dentro do município.
Em frente ao ILOGU, atravessando a Avenida Segunda Radial está o bairro Vila
Izabel, onde também existem algumas casas que correm o risco de desapropriação; ou por
estar na área de preservação permanente do córrego Botafogo, cinquenta metros a partir de
cada margem segundo o Plano Diretor de Goiânia6, ou por estar no caminho da obra de
expansão de uma grande via de escoamento rápido da cidade, a Avenida Marginal Botafogo,
também construída em cima da área de preservação permanente7.
O ILOGU tem um muro branco feito de placas de concreto, fica entre uma oficina
mecânica e um lote baldio. Destaca-se na sua fachada um outdoor publicitário, em cima do
muro e na frente de uma frondosa árvore de copa verde e densa, uma das três grandes
Mangueiras que fazem sombra em praticamente todo o quintal do Jorge8, local da sede do
instituto.
Sua casa no início da pesquisa não tinha portão, apenas o espaço de onde ele deveria
estar, o que facilitava ainda mais a entrada de qualquer morador que precisava do Jorge ou do
instituto. Posteriormente, após receber uma ordem de despejo e ver as máquinas da prefeitura
se aproximando e construindo pontes e avenidas às margens do córrego, Jorge instalou um
portão.
Ao entrar, logo observamos que o os muros da direita e da esquerda não existem,
segundo Jorge, caíram em decorrência de uma forte enxurrada que desceu pela Avenida
Segunda Radial e da Rua Alameda Jardim Botânico, que contorna todo o parque, após uma
forte chuva. Do lado direito o muro caiu completamente, seu vizinho montou uma retífica
automotiva às margens do córrego, certamente sem licença ambiental, onde ficam
normalmente muitos veículos estacionados. Esse lote também é ocupado, em menor parte, por
uma floricultura, já a poucos metros do Córrego Botafogo.
Ao explicar sobre a queda dos muros Jorge pondera que devia ter feito um buraco no
muro como um vizinho havia lhe recomendado, pois se tivesse feito, provavelmente a água
tinha escoado e o muro não teria caído. Mais uma “tática” na sabedoria da arquitetura popular.
Do lado esquerdo, o muro caiu parcialmente. No início onde caiu vemos um lote vazio
e mais ao fundo iniciam os muros dos fundos das casas que estão na Alameda Jardim
Botânico, sendo que o primeiro deles é o da casa do Senhor Mário, que comumente aparece
com a cabeça em cima do muro para nos cumprimentar no ILOGU. Um senhor muito
5Localizado na Praça Cívica de Goiânia, o palácio é sede oficial do governo do estado desde 1937. 6Plano Diretor de Goiânia que está em vigência foi sancionado em 2007 e prevê área de preservação permanente
os 100 metros a partir das margens do Ribeirão Anicuns e do Rio Meia Ponte e 50 metros para os demais
mananciais da cidade. Deve ser atualizado em 2017. 7A Lei 12.651/2012, o Código Florestal Brasileiro prevê em seu Art. 8ª que as áreas de preservação permanente
podem ser utilizadas na hipótese de utilidade pública, interesse social do empreendimento ou o baixo impacto
ambiental. 8Jorge é cantor, compositor e poeta. Também é presidente do ILOGU e cede parte do quintal para de sua casa
para a sede da associação.
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simpático de 73 anos que vive com a família há 40 anos na Rua Alameda Jardim Botânico.
Gosta de conversar e sempre vai às reuniões do instituto e nos almoços beneficentes.
O terreno tem aproximadamente 500 m². Na parte da frente possui um grande quintal
de terra que conta com algumas plantas, três árvores Mangueiras e embaixo delas, uma pilha
de tijolos furados, depositados na parte da frente do lote e próximo à avenida. Os tijolos
marcam o local das futuras instalações do ILOGU, parte do terreno oferecido ao instituto pelo
Jorge que espera desenvolver cursos e atividades artísticas para a comunidade. Jorge, assim
como todos os moradores que estão às margens do Córrego Botafogo, não possui escritura de
seu lote e está ameaçado de despejo.
Alguns moradores que ainda estão na região foram pioneiros e participaram da
construção dos primeiros barracos, outros compraram suas casas ou lotes dos primeiros
ocupadores, esses parecem ser a maioria, e tem ainda outros que receberam suas casas como
herança. Entre os moradores que estão no local desde a ocupação há mais de 60 anos, alguns
tiveram filhos e netos durante esses anos. Jorge os chama de “Ribeirinhos Urbanos”, que
nasceram na “berada” do córrego.
Embora não seja um conceito usado pelos próprios moradores, apenas percebi sendo
usado por Jorge, se trata de uma importante referência da ocupação. Em um manifesto escrito
por Jorge e lido por mim em uma audiência pública ele explicou: “Antigamente eu era um
Ribeirinho Rural, mas agora eu sou um Ribeirinho Urbano”, fazendo referência às mudanças
que a região havia sofrido nos últimos anos, quando deixou de ser um limite natural da cidade
para se tornar a mais uma nova centralidade da capital.
Ao fundo, atrás da terceira Mangueira, está uma pequena casa de paredes brancas com
formato bastante comum, onde o meio da parede da frente coincide com o ponto mais alto dos
dois telhados feitos de telha plana, onde está instalada uma forte lâmpada branca e aonde um
punhado de fios chega à casa do Jorge. Abaixo da forte lâmpada branca da casa está um
grande mural de fotos e recados do instituto envolvido com um plástico transparente e ao seu
lado esquerdo um banner com a logomarca do ILOGU e a lista (desatualizada) dos bairros
representados: Pedro Ludovico, Vila Redenção, Vila Izabel e Vila Maria José.
Além da parede branca, dos telhados e da luz, vemos do lado direto da casa uma
pequena janela localizada ao lado da porta de entrada, azul e de metal. Também é do lado
direito, em direção ao córrego que foi construído uma varanda, visualizada primeiramente
pela sua cobertura que continua o declive feito pelo telhado desse lado da casa e pela
visualização das colunas que lhe dão sustentação.
Dentro da casa poucos móveis preenchem os dois quartos, uma sala, uma cozinha e
um banheiro. Atrás da casa existe um pequeno banheiro externo que em dias de reuniões e
eventos fica destinado aos homens, enquanto o de dentro fica destinado às mulheres. Na
varanda, que em dia de festas vira uma grande cozinha, bar e caixa para compra de comidas e
bebidas havia no início da pesquisa dois sofás, algumas cadeiras e duas mesas que dão suporte
para a parte interna da casa, mas que como outras coisas, também se modificou com o passar
do tempo.
Em algumas ocasiões a varanda se torna sala de visitas, ou local para as refeições,
contando também com uma pia onde as louças são lavadas, um tanque e uma máquina para
lavar roupas no limite com o pequeno quintal dos fundos da casa, onde as galinhas correm
livremente. Com o tempo e o aumento dos almoços beneficentes, a varanda ganhou um forno
a lenha construído com a ajuda dos moradores e é nesse lugar polissêmico que ocorrem as
festas comunitárias na Ocupação Jardim Botânico.
Festas, sons e sabores
O lazer é parte integrante da vida cotidiana das pessoas, e pode constituir uma via de
acesso ao conhecimento dos valores, da maneira de pensar e do modo de vida dos
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trabalhadores. Se durante as reuniões do ILOGU e as audiências públicas o quintal da casa do
Jorge é palco para a discussão sobre o conflito habitacional, nos fins de semana se torna palco
de festa e entretenimento na ocupação, constituindo outra forma de dar sentido ao lugar. Para
Magnani (2003, p. 19), é preciso observar esses momentos de descontração em seu próprio
contexto, “pois se existem é porque possuem um significado para aqueles que os praticam”.
Com o objetivo principal de arrecadar dinheiro para o ILOGU, aos sábados, Jorge, sua
família e amigos fazem um restaurante na varanda de sua casa e sob as sombras das frondosas
Mangueiras, recebem dezenas de pessoas que veem para comer, beber, ouvir música e
contribuir com a luta dos moradores da ocupação. Apesar de festivos, esses dias servem
também para que os dirigentes do instituto se reúnam com moradores para recolher
documentos ou prestar esclarecimentos quanto ao processo de desapropriação enfrentado por
eles.
Muitas pessoas vão ao ILOGU em busca de comida aos sábados, alguns levam em
marmitas de isopor para comer em casa, outros comem no próprio instituto. É comum os
moradores irem com suas famílias para passar a manhã bebendo e ouvindo música antes de
almoçar. As mesas e as cadeiras brancas de plástico ficam distribuídas pelo quintal, não
organizadas em fileiras como nas noites de audiências públicas, mas em outra ordem,
formando conjuntos de mesas e cadeiras agrupadas embaixo das sombras das árvores,
reunindo famílias, vizinhos e amigos.
É importante considerarmos que “almoçar fora de casa” se tornou muito comum no
decorrer do século XX, conforme Collaço (2003, p. 177), esse fenômeno “tomou um impulso
em função das inovações que se desenrolaram na agricultura, na indústria, nos transportes e
etc.”, e se tornou mais comum para uma ampla parcela da população.
Ademais, realizar uma refeição fora do lar, “tornou-se um hábito difundido, gerando
novas interpretações que, expressas na ação social, organizam as escolhas alimentares assim
como determinam a apropriação e usos de espaços” (COLLAÇO, 2003, p. 178). Contudo,
embora sejam necessidade e lazer as principais motivações para levar as pessoas a comerem
fora de casa, essa experiência nunca é equivalente a todas as pessoas.
Nos primeiros almoços que acompanhei o cardápio foi galinhada com feijão e salada
de alface, tomate com cebola. Um cozinheiro da comunidade foi convidado para cozinhar.
Uma cozinha foi improvisada na varanda e um fogão industrial fez enormes panelas encher o
ambiente com um cheiro delicioso de comida. Instalado antes do fogão, outro vizinho cuidava
do caixa, anotando todas as vendas em um caderno e trocando dinheiro por fichas para serem
trocadas por comida ou bebida com outro morador que havia se tornado garçom. Diferentes
cozinheiros e cozinheiras passaram pela varanda do Jorge ao longo dos almoços que
acompanhei.
Eu participei de muitos desses eventos, quase sempre carregando a câmera ligada.
Com o passar do tempo, passei a assumir algumas tarefas como distribuir mesas e cadeiras no
quintal, carregar objetos, servir bebidas ou recolher latas de alumínio vazias, sempre havia
alguma coisa para fazer. Quando Jorge me via com a câmera ligada logo interagia comigo e
com a câmera, como na apresentação de um dos cozinheiros.
Eu estava filmando o cozinheiro trabalhando quando Jorge passou por nós e parou
para dialogar com a câmera: Esse aqui é o Davi, proprietário e dono da marca Taifa
Gastronomia, e começou a entrevistar Davi enquanto ele preenchia marmitas, dialogando
comigo e com a câmera:
Eu: Davi, me fala do processo que te levou a cozinhar e se tornar um chefe
de cozinha? Davi respondeu, Minha paixão pela profissão. Eu nasci para
cuidar dos outros, resumindo. Jorge então completou olhando para a câmera,
Esse é o agradecimento pelo que ele está fazendo para a comunidade, para o
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instituto, está fazendo um trabalho voluntário e a gente só tem a agradecer o
Davi.
É nesse contexto que a comida, a música, as pessoas e o lugar ganham um sentido
simbólico que se apresenta à câmera por meio do que Herzfeld (1991) chama de “debate
cultural na prática social”, nesse caso com mais relevância devido à proposta de uma câmera
participante, conduzida pelos moradores, principalmente por Jorge durante as filmagens que,
após naturalizadas ao olhar da maioria, passa a retratar momentos especiais e cotidianos na
comunidade.
Durante todo o dia o trabalho é sempre dividido entre os moradores e alguns amigos. É
claro que nem todos estão dispostos a participar diretamente executando tarefas nos eventos,
contribuem com o consumo no local, mas as pessoas que costumam ajudar, normalmente
estão por lá cada dia fazendo alguma coisa diferente. A cooperação é uma característica
marcante das relações sociais na ocupação, inclusive frente a outros problemas como
encontrar alguém para lhe ajudar com uma costura de roupa, como para lhe ceder um espaço
no terreno para morar.
As relações familiares também são importantes na ocupação. É comum para os
moradores mais antigos saber o nome dos pais e dos avós de muitas crianças que brincam no
ILOGU aos sábados, inclusive dar uma bronca e educar se for preciso. A filha do Jorge, por
exemplo, faz sua parte nos eventos cuidando da salada, descascando e cortando os legumes.
Algumas vezes, assumi a câmera e sai fotografando a festa e as pessoas da comunidade. O
filho do Jorge também participa, ora controlando as fichas do caixa, ora fazendo salada ou
distribuindo marmitas.
Semelhante aos restaurantes de imigrantes italianos na cidade de São Paulo, lugares
que não se distingue de imediato o público e o privado, onde a família forma um modelo
central para garantir a sobrevivência, inclusive econômica, implicando distintas estratégias,
“de modo que é preciso considerar de que forma o núcleo familiar está constituído para
compreender o funcionamento desse incipiente modelo de restaurante” (COLLAÇO, 2003, p.
62).
Conforme Magnani (2003, p. 30) “a organização da vida familiar, as relações de
vizinhança, as formas de entretenimento e cultura popular podem constituir, pois, uma
realidade até mesmo privilegiada para emendar alguns aspectos das orientações políticas e dos
movimentos sociais populares”.
Para Robert Park (1987), é o contato com os vizinhos que forma a base mais elementar
de associação na vida da cidade, onde interesses e associações desenvolvem sentimento local
fazendo da vizinhança, nesse sistema, a base de participação no Governo e do controle
político.
O trabalho nas festas do ILOGU é associativo, se alguém cozinha, fica sob a
responsabilidade de outro vizinho retirar as marmitas dos sacos e deixá-las prontas para
receber a comida. A geladeira da casa do Jorge fica cheia de bebidas. No primeiro almoço que
acompanhei, além da geladeira do Jorge, um freezer horizontal emprestado ficou sobre uma
carrocinha de metal refrigerando as bebidas, mas com o tempo, mais freezers foram
necessários e enfileirados na varanda, todos emprestados pela comunidade e amigos.
Esses eventos se tornaram importantes para se observar a organização do “pedaço”. A
disposição das mesas e das famílias, a cooperação da vizinhança, a divisão do trabalho, a
escolha das músicas, observar como se dão as relações sociais entre os vizinhos do bairro, não
apenas nas casas dos moradores ou nas audiências públicas, mas também em momentos de
entretenimento que preenchem o tempo livre, onde procurei “estar presente para ouvir relatos
e comentários, e observar comportamentos, no momento em que se manifestam”
(MAGNANI, 2003, p. 58).
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Lá fora, na calçada da Avenida Segunda Radial, uma faixa convida toda a comunidade
para o almoço a partir das 11:00 horas, enquanto lá dentro cada um faz sua parte, sorrindo,
conversando e trabalhando; os filhos do Jorge preparam a salada, o cozinheiro cuida da
comida, um vizinho prepara as marmitas, o outro vende as fichas no caixa e mais um se torna
o garçom. O trabalho coletivo une os vizinhos que atentem outros vizinhos e amigos que
chegam com suas famílias em busca de comida, lazer e para apoiar o ILOGU e os moradores
da Ocupação do Jardim Botânico.
Lentamente, a parte do quintal que não tem mesas e cadeiras, é tomada por
carros que chegam a todo o momento. Além da comida, a música também é um atrativo dos
eventos do ILOGU. Alguns moradores e amigos trazem equipamentos de som como caixas e
instrumentos musicais, que eles mesmos instalam. Normalmente, enquanto o palco é montado
em frente à casa do Jorge, ele recebe pessoalmente as pessoas que chegam a seu quintal, com
um aperto de mão, ou em alguns casos, com abraços e beijos.
Ao seu lado, Escuro, seu pequeno cão vira lata de longos pelos negros, recebe a todos
balançando gentilmente sua calda e se beneficiando de bons pedaços de comida cedidos pelos
visitantes. Eventualmente, outros cães da vizinhança também aparem por lá e pacificamente
passeiam ao lado de Escuro entre as pessoas e as mesas ganhando sempre um pedacinho de
comida.
Muitas crianças participam dos eventos do ILOGU, aos sábados elas podem ser vistas
andando de bicicleta, correndo ou brincando com ioiô. Já os adultos, como estão entre
vizinhos e amigos, é comum vermos abraços, beijos e comentários elogiosos sobre o cabelo,
por exemplo. É possível ver amigos que parecem não se ver a muito tempo se abraçar felizes
e fazerem brincadeiras entre si. Quanto à música, toca muito pagode, rap e rock,
principalmente nacional, mas também internacional, inclusive ao vivo.
A família do Senhor Mário, vizinha de Jorge e do instituto, vez ou outra se
comunica com a cabeça em cima do muro com as pessoas reunidas no ILOGU, relembrando
um costume antigo dos moradores de conversar de suas janelas antes de construírem os muros
entre as casas. Senhor Mário raramente perde um evento ou reunião.
Nos primeiros eventos, poucas pessoas ficavam bebendo e comendo no ILOGU, a
maioria preferia levar a comida para casa. Contudo, com o passar do tempo, a quantidade de
pessoas que passaram a ficar no quintal aumentou. Inclusive a feijoada e a caipirinha foram
adicionadas ao cardápio, e agora são servidas como opção à tradicional galinhada com
cerveja. As paredes foram decoradas com pinturas feitas por amigos, e bambus deram forma a
uma estrutura próxima a de um bar chamado agora por todos de “Quintal do Jorge”.
Durante as festas, se fala sobre a ocupação, mas se fala sobre trabalho, acontecimentos
e trivialidades da vida pessoal dos moradores, são principalmente momentos de descontração.
Normalmente, quando me vê filmando alguém, Jorge se aproxima e cumprimenta as pessoas
me apresentando-as com seu jeito irreverente: esse é o Paulinho, esse é o Sombra, o Serjão,
minha sobrinha, meu filho e etc. Apontando para mim, que filmava, esse é o Pedro, onde eu
vou ele vai, entendeu? E se diverte me apresentando às pessoas.
Em muitos momentos desses eventos a sensação é de que não existe um conflito e nem
que os moradores estão ameaçados de despejo. A comida, a música e os momentos de
descontração entre os vizinhos e amigos dão pistas importantes sobre as relações sociais do
“pedaço”, como as ações cooperativistas e as atividades rotineiras como o trabalho, a vida
doméstica e as práticas culturais.
Conforme os eventos foram atraindo mais pessoas, a cozinha precisou aumentar e o
palco precisou mudar de lugar. Foi para baixo da primeira Mangueira do quintal, próximo à
entrada da casa do Jorge. Com uma lona preta escondendo a retífica mecânica do vizinho e
uma azul rodeando o palco que contava com um microfone, uma bateria e um teclado, mais
uma vez, uma banda animou a festa na ocupação.
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Em um desses eventos colocamos embaixo de uma tenda, em frente à casa do Jorge,
uma televisão reproduzindo os vídeos gravados na comunidade, vídeos das audiências até
então realizadas e narrativas de moradores contando suas memórias sobre a origem da
ocupação. Embora tenha despertado a atenção de alguns moradores, não provocou o debate
esperado. A mesma estratégia foi utilizada outras vezes, chamando mais atenção que da
primeira vez, mas ainda com poucos debates.
Para Rocha e Eckert (2013, p. 223) “A cidade é o contexto vivido com a pluralidade
de alteridades, com aquele que eu não conheço, mas que não é excluído”, pois, é exatamente a
tolerância para com o estranho que faz a cidade ser cidade. Portanto, o fazer antropológico,
nesse contexto, desperta a consciência de que atividade humana é criada socialmente e não
dada pela natureza das coisas, e que as narrativas produzem fóruns de conhecimento entre
seus habitantes, interpretam os sentidos de continuidade de uma sociedade.
Considerações finais
O ILOGU, além de ponto de encontro das pessoas que são do pedaço, “uma peculiar
rede de relações que combina laços de parentesco, vizinhança, procedência e vínculos
definidos por participações em atividades comunitárias”, (MAGNANI, 2012, p. 88), é
também uma residência familiar que em outros dias, é apropriado pelos vizinhos para ser
palco de suas lutas pelas escrituras durante reuniões e audiências, ou para comer e festejar em
eventos da comunidade, fazendo dele um lugar de múltiplos usos, sentidos e significados,
uma sinédoque de toda a ocupação.
Para Rocha e Eckert (2013, p. 221), “a cidade, como locus, assume um lugar
estratégico e privilegiado na reflexão antropológica sobre a “comunicação” que preside as
formas de vida social no meio urbano e sobre as multiplicidades e singularidades que
encerram o vivido humano em seu espaço”.
Nesse artigo, ao observar os eventos festivos realizados por moradores que se
organizam para defenderem suas casas da desapropriação, procuro pensar a importância do
olhar antropológico na elaboração de políticas de urbanização mais equânimes e mais justas,
que para além de considerar as estruturas físicas e os conflitos na cidade, privilegia a
observação das distintas formas de apropriação e criação dos lugares.
Referencias
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CARVALHO, Ana Priscila Rezende de. Fotografando na resistência: memória e visibilidade no caso de
remoção da comunidade Vila Autódromo (RJ). Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e
Sociologia, v.3, n.7, p. 29-44, março de 2019. ISSN 2526-4702.
DOSSIÊ
http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/
Fotografando na resistência: memória e visibilidade no caso de remoção da
comunidade Vila Autódromo (RJ)
Photographing in the resistance: memory and visibility in the event of removal of Vila Autódromo
community (RJ)
Ana Priscila Rezende de Carvalho
Resumo: O presente relato etnográfico pretende apontar caminhos possíveis para se pensar as
relações entre a produção de imagens fotográficas e fílmicas e os conflitos em torno do “direito à
moradia”, tomando como objeto o caso da remoção da comunidade Vila Autódromo, na região da
Barra da Tijuca, em um contexto que ficou conhecido como “megaeventos” na cidade do Rio de
Janeiro. Indagações acerca do que muda quando os próprios sujeitos, que não possuem seus
direitos de moradia assegurados, escolhem enquadrar determinadas situações vividas por eles; o
que criam com essas imagens posteriormente e por onde elas circulam e como, então,
desestabilizam as relações de poder na produção de imagem. Os próprios sujeitos que portam e
escolhem “empunhar” a câmera em busca da construção de “visibilidades” para a situação de remoção, possibilitando a construção de redes de apoio/aliança com pessoas “de fora”, como
forma possível de legitimação dos modos que construíam e ocupavam o espaço. Proponho
apresentar os caminhos da pesquisa a partir da construção da exposição “Imagens de Memória e
de Luta” com as fotografias de Luiz Claudio Silva, morador da Vila Autódromo, quem reuniu um
acervo de imagens que narram, a partir do seu ponto de vista, uma comunidade que foi
violentamente removida entre os anos de 2013 e 2016. Para construção da exposição, que tem
ocupado, principalmente, espaços de outras comunidades que atualmente vivem processos de
remoção na cidade — com as quais busca construir uma relação de apoio/aliança —, pude ver
junto às imagens com seu autor e propor uma construção oral de suas memórias acerca do
processo e dos espaços demolidos da comunidade. Palavras-chave: remoção, moradia, cidade,
produção de imagem, visibilidade
Abstract: The present ethnographic account intends to point out possible ways of thinking about
the relations between the production of photographic and filmic images and the conflicts
surrounding the "right to housing", taking as object the case of the removal of the Vila Autódromo
community in the region of Barra da Tijuca, in a context that became known as "mega-events" in
the city of Rio de Janeiro. Inquiries about what changes when the individuals themselves, who do
not have their rights of housing assured, choose to frame certain situations they experienced; what
they create with these images afterwards and where they circulate and how, then, they destabilize
the relations of power in the production of image. The individuals themselves that carry and
choose to "wield" the camera in search of the construction of "visibilities" for the situation of
removal, allowing the construction of networks of support / alliance with outsiders, as a possible
way of legitimizing the ways that built and occupied space. I propose to present the research paths from the proposed construction of the exhibition "Imagens de Memória e de Luta" with the
photographs of Luiz Claudio Silva, a resident of Vila Autódromo, who gathered a collection of
images that narrate, from his point of view, a community that was violently remo