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GÓIS, Monijany Lins de. Desenvolvimento local em sociabilidades urbanas de pequena escala: a abaxicultura no projeto de assentamento Santa Lúcia em Araçagí - PB. Sociabilidades Urbanas Revista de Antropologia e Sociologia, v.3, n.9, p. 107-124, novembro de 2019. ISSN 2526-4702. ARTIGO http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/ Desenvolvimento local em sociabilidades urbanas de pequena escala: a abaxicultura no projeto de assentamento Santa Lúcia em Araçagí - PB 1 Local development in small scale urban sociabilities: pineapple production in the Santa Lúcia settlement project in Araçagí - PB Monijany Lins de Góis Resumo: A Paraíba se destaca no cenário nacional como o maior produtor de abacaxi. O cultivo do abacaxi representa um importante fator econômico, principalmente para as pequenas comunidades rurais distribuídas pelo Estado. O Projeto de Assentamento Santa Lúcia, situado no município de Araçagí - PB segue a tendência do cultivo do abacaxi como principal atividade produtiva. A produção no próprio assentamento faz com que muitos jovens não migrem para grandes centros urbanos, permanecendo e trabalhando na atividade produtiva local. O objetivo do trabalho é enfatizar esta atividade produtiva do cultivo do abacaxi como o principal fator do desenvolvimento da comunidade estudada, o Assentamento Santa Lúcia, no sentido de promover a melhoria da qualidade de vida dos seus assentados. O trabalho se caracteriza como sendo de caráter exploratório e quanto aos procedimentos técnicos como um estudo de caso. Os resultados mostram que a abacaxicultura proporciona diversos empregos ao longo dos anos e junto a eles uma melhoria na qualidade de vida para produtores e trabalhadores, além do crescimento econômico local, tanto do Assentamento Santa Lúcia como do município onde o mesmo está inserido. Palavras-chave: desenvolvimento local, abacaxicultura, assentamentos rurais Abstract: Paraíba stands out on the national scene as the largest pineapple producer. Pineapple cultivation represents an important economic factor, especially for small rural communities distributed throughout the state. The Santa Lúcia Settlement Project, located in the municipality of Araçagí - PB, follows the trend of pineapple cultivation as the main productive activity. Production in the settlement itself means that many young people do not migrate to large urban centers, staying and working in the local productive activity. The objective of this work is to emphasize this productive activity of pineapple cultivation as the main factor of development of the studied community, the Settlement Santa Lúcia, in order to promote the improvement of the quality of life of its settlers. The work is characterized as exploratory and technical procedures as a case study. The results show that pineapple cultivation provides several jobs over the years and together with them an improvement in the quality of life for producers and workers, besides the local economic growth, both of Santa Lucia Settlement and the municipality where it is inserted. Keywords: local development, pineapple farming, rural settlements A Paraíba se destaca no cenário nacional como o maior produtor de abacaxi. O cultivo do abacaxi representa um importante fator econômico, principalmente para as pequenas comunidades rurais distribuídas pelo Estado. O Projeto de Assentamento Santa Lúcia, situado no município de Araçagí - PB segue a tendência do cultivo do abacaxi como principal atividade produtiva. A produção no próprio assentamento faz com que muitos jovens não migrem para grandes centros urbanos, permanecendo e trabalhando na atividade produtiva local. 1 Este artigo foi construído a partir da pesquisa de graduação, sob a orientação da Profa. Leiliam Cruz Dantas, que resultou na Monografia Desenvolvimento local com base na produção de abacaxi no projeto de assentamento Santa Lúcia Araçagí PB, defendida no ano de 2015, na Universidade Federal de Campina Grande UFCG, como um dos requisitos necessários à obtenção do grau de bacharel em Ciências Econômicas.

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  • GÓIS, Monijany Lins de. Desenvolvimento local em sociabilidades urbanas de pequena escala: a abaxicultura

    no projeto de assentamento Santa Lúcia em Araçagí - PB. Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e

    Sociologia, v.3, n.9, p. 107-124, novembro de 2019. ISSN 2526-4702.

    ARTIGO

    http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/

    Desenvolvimento local em sociabilidades urbanas de pequena escala: a

    abaxicultura no projeto de assentamento Santa Lúcia em Araçagí - PB1

    Local development in small scale urban sociabilities: pineapple production in the Santa Lúcia settlement project in Araçagí - PB

    Monijany Lins de Góis

    Resumo: A Paraíba se destaca no cenário nacional como o maior produtor de abacaxi. O cultivo do abacaxi representa um importante fator econômico, principalmente para as pequenas

    comunidades rurais distribuídas pelo Estado. O Projeto de Assentamento Santa Lúcia, situado no

    município de Araçagí - PB segue a tendência do cultivo do abacaxi como principal atividade

    produtiva. A produção no próprio assentamento faz com que muitos jovens não migrem para

    grandes centros urbanos, permanecendo e trabalhando na atividade produtiva local. O objetivo do

    trabalho é enfatizar esta atividade produtiva do cultivo do abacaxi como o principal fator do

    desenvolvimento da comunidade estudada, o Assentamento Santa Lúcia, no sentido de promover a

    melhoria da qualidade de vida dos seus assentados. O trabalho se caracteriza como sendo de

    caráter exploratório e quanto aos procedimentos técnicos como um estudo de caso. Os resultados

    mostram que a abacaxicultura proporciona diversos empregos ao longo dos anos e junto a eles

    uma melhoria na qualidade de vida para produtores e trabalhadores, além do crescimento

    econômico local, tanto do Assentamento Santa Lúcia como do município onde o mesmo está

    inserido. Palavras-chave: desenvolvimento local, abacaxicultura, assentamentos rurais

    Abstract: Paraíba stands out on the national scene as the largest pineapple producer. Pineapple

    cultivation represents an important economic factor, especially for small rural communities

    distributed throughout the state. The Santa Lúcia Settlement Project, located in the municipality of

    Araçagí - PB, follows the trend of pineapple cultivation as the main productive activity.

    Production in the settlement itself means that many young people do not migrate to large urban

    centers, staying and working in the local productive activity. The objective of this work is to

    emphasize this productive activity of pineapple cultivation as the main factor of development of

    the studied community, the Settlement Santa Lúcia, in order to promote the improvement of the

    quality of life of its settlers. The work is characterized as exploratory and technical procedures as a

    case study. The results show that pineapple cultivation provides several jobs over the years and

    together with them an improvement in the quality of life for producers and workers, besides the

    local economic growth, both of Santa Lucia Settlement and the municipality where it is inserted.

    Keywords: local development, pineapple farming, rural settlements

    A Paraíba se destaca no cenário nacional como o maior produtor de abacaxi. O cultivo

    do abacaxi representa um importante fator econômico, principalmente para as pequenas

    comunidades rurais distribuídas pelo Estado. O Projeto de Assentamento Santa Lúcia, situado

    no município de Araçagí - PB segue a tendência do cultivo do abacaxi como principal

    atividade produtiva. A produção no próprio assentamento faz com que muitos jovens não

    migrem para grandes centros urbanos, permanecendo e trabalhando na atividade produtiva

    local.

    1Este artigo foi construído a partir da pesquisa de graduação, sob a orientação da Profa. Leiliam Cruz Dantas,

    que resultou na Monografia Desenvolvimento local com base na produção de abacaxi no projeto de

    assentamento Santa Lúcia – Araçagí – PB, defendida no ano de 2015, na Universidade Federal de Campina

    Grande – UFCG, como um dos requisitos necessários à obtenção do grau de bacharel em Ciências Econômicas.

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    Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v3 n9 novembro de 2019 ISSN 2526-4702

    O Projeto Assentamento Santa Lúcia do município de Araçagí, situado no estado da

    Paraíba, surgiu em 1993, quando os trabalhadores, do que até era então fazenda, se

    organizaram e foram em busca da aquisição das terras através de lutas do Movimento dos

    Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, na fazenda os trabalhadores eram tidos como

    escravos, ou seja, trabalhando na fazenda e tendo seus rendimentos confiscados pelo

    fazendeiro. Diversos foram os apoios obtidos de grandes líderes. Atualmente no

    Assentamento existe uma associação que vem trabalhando para o fortalecimento da

    organização social, política e econômica das famílias, visando sempre uma melhor qualidade

    de vida.

    Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015), o município

    de Araçagí possui aproximadamente 17.186 habitantes. O referido assentamento possui 1.041

    hectares e 100 famílias residentes, que trabalham com o plantio do abacaxi direta ou

    indiretamente.

    Pretende-se fazer uma análise do Projeto de Assentamento Santa Lúcia, situado,

    Estado da Paraíba considerando a agricultura e em especial a cultura do abacaxi como

    principal potencialidade produtiva do município e propulsor do desenvolvimento local. Esta

    cultura tão importante para a localidade é hoje a principal fonte de renda para os trabalhadores

    rurais, não apenas da comunidade foco do estudo, mas de outros assentamentos, sítios e

    pequenas propriedades existentes na redondeza, contribuindo assim para o desenvolvimento

    do município.

    O objetivo do trabalho é enfatizar esta atividade produtiva do cultivo do abacaxi como

    o principal fator do desenvolvimento da comunidade estudada, o Assentamento Santa Lúcia,

    no sentido de promover a melhoria da qualidade de vida dos seus assentados. O trabalho se

    caracteriza como sendo de caráter exploratório e quanto aos procedimentos técnicos como um

    estudo de caso. Os resultados mostram que a abacaxicultura proporciona diversos empregos

    ao longo dos anos e junto a eles uma melhoria na qualidade de vida para produtores e

    trabalhadores, além do crescimento econômico local, tanto do Assentamento Santa Lúcia

    como do município onde o mesmo está inserido.

    Desenvolvimento econômico local

    Segundo Furtado (1971), a teoria do desenvolvimento trata de explicar em uma

    perspectiva macroeconômica, as causas e o mecanismo do aumento persistente da

    produtividade do fator trabalho e suas repercussões na organização da produção e na forma

    como se distribui e utiliza o produto social. Para diversos autores, desenvolvimento é apenas

    outro nome para o fenômeno crescimento econômico. Por esta visão, o crescimento

    econômico é um processo contínuo de progresso científico e sua aplicação à técnica de

    produção, mediante acumulação de capital. Porém, é possível indagar esta proposição, pois o

    “progresso da civilização” não foi verificado uniformemente em todas as regiões habitadas do

    mundo, concentrando-se em alguns poucos países (BALDWIN, 1979).

    Há diferenças entre desenvolvimento e crescimento econômico, em que

    desenvolvimento econômico está relacionado à melhoria do bem estar da população, medido

    através de indicadores de educação, saúde, renda, pobreza, etc., sendo o Índice de

    Desenvolvimento Humano - IDH, o critério mais utilizado para comparar o desenvolvimento

    de diferentes economias. Já o crescimento econômico é o aumento do Produto Interno Bruto-

    PIB, ou seja, uma elevação da produção da região estudada, em que o PIB é calculado através

    da soma de todos os produtos e serviços finais de uma região para um determinado período

    (ECONOMIA E REALIDADE, 2014).

    Dentro do desenvolvimento econômico de maneira geral, está situado o

    desenvolvimento local, em que se apontam as potencialidades de uma determinada localidade

    nesta direção. O desenvolvimento local é uma estratégia que considera o desenvolvimento de

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    comunidades identificadas geograficamente por seus recursos e potencialidades. Entretanto,

    quando mencionamos o desenvolvimento local, trata-se do desenvolvimento das pessoas e de

    suas comunidades. Com isso podemos observar que são várias as abordagens e interpretações

    citadas a respeito do desenvolvimento local ao decorrer da pesquisa.

    A noção de desenvolvimento local é posta como uma ação coordenada,

    descentralizada e focalizada que visa ativar e melhorar, de maneira sustentável, as condições

    de vida dos habitantes de uma localidade, na qual o desenvolvimento estimula a ampla

    participação dos atores relevantes deste processo (COELHO, 1996; FONTES; 1998 apud

    DANTAS, 2003).

    Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES

    (2011), o Desenvolvimento Local tem a finalidade de promover iniciativas de

    desenvolvimento endógeno, ou seja, recursos oriundos da própria região, levando em conta as

    diferentes realidades dos territórios brasileiros, como forma mais consistente de enfrentarmos

    problemas da pobreza. Não se pode deixar de conceituar também o desenvolvimento local

    que, de acordo com Buarque (2008), nessa transição para um novo paradigma do

    desenvolvimento mundial, está associado a um processo acelerado de globalização com a

    intensa integração econômica e a formação de blocos regionais. O autor conceitua

    desenvolvimento local como sendo um “processo endógeno de mudança, que leva ao

    dinamismo econômico e à melhoria da qualidade de vida da população em pequenas unidades

    territoriais” (BUARQUE, 2008, p. 25).

    Conforme o Programa Capacitar Paraná (2010), o desenvolvimento econômico local

    atualmente encontra-se em evidência como novo conceito de promoção do bem estar social.

    Há muitas organizações em todo o mundo que promovem o desenvolvimento econômico local

    promovendo o bem estar social. A definição pura do termo corresponde à totalidade de todas

    as medidas realizadas por parte do poder público e da iniciativa privada ao nível local, com

    vista o aumento do grau da competitividade do município.

    O termo “competitividade sistêmica” difundiu-se entre os profissionais que trabalham

    com Desenvolvimento Econômico Local. Esse termo possui auto significado, de acordo com

    as economias locais, com o olhar pela totalidade de fatores que influenciam o

    desenvolvimento econômico local e o estar atento à interligação destes (PROGRAMA

    CAPACITAR PARANÁ, 2010). Como destaca Albuquerque (1998), a competitividade é

    sistêmica, já que ela depende de todos os elementos do ambiente imediato da empresa, visto

    que a qualidade desse ambiente é determinante para a eficiência produtiva e,

    consequentemente, para a competitividade das empresas, ao permitir a redução dos seus

    custos econômicos de transação. Existem vários instrumentos que podem ser usados para dar

    um impulso ao fomento da economia local. A sua escolha depende, em primeiro lugar, dos

    objetivos que se pretendem alcançar localmente e, em segundo lugar, da sua disponibilidade

    ao nível local ou da disponibilidade de recursos para poder fazer uso dos mesmos

    (CAPACITAR PARANÁ, 2010).

    Muls (2008) relata que as abordagens sobre o desenvolvimento econômico local

    podem ser apresentadas como o resultado da falência dos modelos tradicionais de

    desenvolvimento fundados, seja na compreensão do Estado nacional como principal agente

    promotor do desenvolvimento, seja nas funções alocativas do mercado como facilitador do

    ótimo econômico.

    Do ponto de vista econômico pode-se obter algumas informações sobre as linhas de

    abordagens existentes do Desenvolvimento Econômico Local, somando assim os possíveis

    conhecimentos.

    Um importante ator do desenvolvimento econômico local são as micro e pequenas

    empresas. Estas podem desempenhar um papel importante e acionar um processo de

    desenvolvimento endógeno a partir do momento em que elas se organizem em redes

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    e, além disso, que essas redes estejam articuladas com outras formas intermediárias

    de coordenação que, juntas, representam o ambiente institucional de um território ou

    região. Quanto maior é o grau de coesão das redes (sociais e econômicas, formais e

    informais) entre as formas intermediárias de coordenação, que se manifestam

    essencialmente no plano territorial, maior é o estoque de capital social deste

    território e maiores serão as chances de sua estratégia de reação autônoma,

    redirecionar, a seu favor, as forças que emanam da pressão heterônoma. A

    elaboração de uma estratégia territorial de reação autônoma deve contar com a

    participação de todas as representações institucionais envolvidas (poder público

    local, empresas e sociedade civil) (MULS, 2008).

    Campanhola e Silva (2000) revelam que o desenvolvimento local deve ser, acima de

    tudo, um processo de reconstrução social, que deve se dar “de baixo para cima”, ou seja,

    começar do menor para o maior e contar com a participação efetiva dos atores sociais.

    Existem concepções variadas a respeito do desenvolvimento econômico local, de acordo com

    as diversas percepções sobre o assunto e as ênfases diferenciadas dadas aos seus aspectos.

    Para Coelho e Fontes (1998 apud DANTAS, 2003), o desenvolvimento econômico

    local deve ser visto sob a ótica da criação de redes de desenvolvimento local. Este

    procedimento é considerado uma forma inovadora de fazer política de desenvolvimento local.

    As redes devem incluir todos os atores desde os governamentais, as associações diversas, os

    pesquisadores e até as entidades representativas da sociedade civil.

    De acordo como grupo Combate à Pobreza pela Promoção do Desenvolvimento Local

    (2014), promover o Desenvolvimento Local significa implementar ações em territórios ou

    microregiões, que permitam a ativa participação do cidadão, o efetivo controle social sobre a

    gestão pública, através do fortalecimento da sociedade civil e o fortalecimento de grupos

    sociais, antes marginalizados nas esferas de tomada de decisão (COMBATE A POBREZA

    PELA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL, 2014).

    Conforme a Cooperative for Assistance and Relief Everywhere - CARE (2014), na

    prática, o conceito de Desenvolvimento Local leva em consideração cinco campos de

    dimensões: a) a inclusão social; b) o fortalecimento e a diversificação da economia local; c) a

    inovação na gestão pública; d) a proteção ambiental e o uso racional de recursos naturais e e)

    a mobilização social.

    Conforme Swinburn et al. (2006) o propósito do desenvolvimento econômico local é

    construir a capacidade econômica, de uma determinada área, para melhorar sua perspectiva

    econômica e a qualidade de vida de todos. Este é um processo pelo qual os parceiros públicos,

    o setor empresarial e os não governamentais trabalham coletivamente, tendo em foco criar

    condições melhores ao crescimento econômico e geração de emprego.

    O sucesso de uma comunidade depende da sua habilidade em se adaptar à dinâmica

    econômica de mercado, seja em escala local, nacional e internacional. Estrategicamente

    planejado, o desenvolvimento econômico local está sendo cada vez mais usado para fortalecer

    a capacidade local das comunidades de uma região, melhorar o ambiente para investimentos e

    aumentar a produtividade e a competitividade dos negócios locais, dos empreendedores e dos

    trabalhadores. A capacidade das comunidades para melhorar a qualidade de vida, criar novas

    oportunidades econômicas e lutar contra a pobreza, depende dessas serem capazes de

    compreender os processos de desenvolvimento econômico local e agirem estrategicamente no

    mercado que muda constantemente e que é cada vez mais competitivo (SWINBURN et

    al.2006).

    Para Swinburn et al. (2006), o desenvolvimento econômico local evoluiu como uma

    abordagem política no começo dos anos de 1970 em resposta ao entendimento dos governos

    municipais de que os negócios e o capital se deslocavam de um lugar para outro de acordo

    com as vantagens concorrenciais.

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    O desenvolvimento local envolve uma estratégia cujo objetivo é procurar, por meios

    endógenos, uma integração vantajosa ou uma inserção no desenvolvimento econômico

    regional, estadual, nacional e, se possível, internacional. Trata-se de uma estratégia proativa

    cujo interesse é combater a cultura passiva normalmente encontrada nas localidades, que se

    contentam em receber os benefícios emitidos pelas políticas públicas dos governos estadual e

    federal (AMARAL; CARRILLO, 2011).

    O desenvolvimento econômico local não é simplesmente o reflexo de um processo de

    desenvolvimento nacional em uma dada localidade. O que caracteriza o processo de

    desenvolvimento econômico local é o protagonismo dos atores locais na formulação de

    estratégias, na tomada de decisões econômicas e na sua implementação (PORTAL DO

    DESENVOLVIMENTO LOCAL, 2014).

    A globalização aumenta as oportunidades e a concorrência por investimentos locais.

    Ela oferece oportunidades para os empresários locais se desenvolverem em novos mercados,

    mas também apresenta desafios para os concorrentes internacionais que entram nos mercados

    locais. As corporações multissetoriais, multinacionais de produção, bancárias e de serviços

    competem mundialmente para encontrar locais eficientes, em termos de custos, para a sua

    instalação. As indústrias tecnologicamente avançadas requerem habilidades altamente

    especializadas e uma infraestrutura tecnológica de apoio. Entretanto, todos os setores da

    indústria e dos serviços precisam, cada vez mais, de habilidades altamente especializadas e

    específicas, além de um ambiente favorável para o desenvolvimento dos negócios. As

    condições locais determinam a vantagem relativa de uma área e das suas habilidades para

    atrair e reter os investimentos. Mesmo as cidades pequenas e suas áreas rurais adjacentes,

    podem desenvolver oportunidades econômicas locais em nível nacional ou internacional, isso

    por meio da valorização dos pontos fortes da sua economia local (SWINBURN et al.2006).

    No nível federal, as reformas macroeconômicas, fiscais e monetárias causam impacto

    direto na economia do nível local. Os sistemas regulatórios e jurídicos nacionais, tais como a

    reforma fiscal, privatização das agências de telecomunicação e os novos padrões ambientais,

    influenciam diretamente o ambiente local para os negócios, quer seja ampliando ou até

    reduzindo o potencial para o desenvolvimento econômico local. Em muitos países as

    atividades do governo federal continuam sendo descentralizadas, aumentando a

    responsabilidade dos governos municipais em reter e atrair a indústria privada (SWINBURN

    et al.2006).

    Ao nível regional, de acordo com Swinburn et al. (2006), as comunidades, dentro de

    suas regiões, geralmente competem para atrair os investimentos externos e locais. Existem

    oportunidades para que as comunidades dentro das diversas regiões colaborem, umas com as

    outras, no sentido de ajudar no crescimento econômico de cada uma, por exemplo, apoiando

    melhorias de infraestrutura e do meio ambiente, que possam ter um impacto regional mais

    amplo. Uma associação de municípios, ou governos estaduais, pode servir para facilitar esses

    tipos de esforço do desenvolvimento econômico local, atuando como intermediária entre

    governos federais e municipais.

    O desenvolvimento rural depende do surgimento de iniciativas que favoreçam o

    aumento, a permanência e a reaplicação da renda da agricultura no próprio município,

    estimulando o comércio local. A pequena produção agrícola tem-se constituído ultimamente

    em um dos temas de maior interesse, tanto dos estudiosos das ciências sociais e agrárias como

    das autoridades governamentais. Tal preocupação decorre do reconhecimento da importância

    desta forma de produção no conjunto da economia e que se expressa na participação da oferta

    de alimentos e matérias-primas agrícolas, quando se considera concentração de grande parte

    da população nos centros urbanos, a evolução do processo inflacionário etc. Por outro lado,

    reconhece-se que as condições de trabalho e de vida da maioria dos pequenos produtores são

    ainda bastante precárias, tornando-os vulneráveis às adversidades do meio em que vivem e

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    produzem. Destacam-se, neste particular, o problema da posse e do uso da terra, a

    comercialização da produção, o reduzido nível de organização política, dentre outros fatores,

    que se constituem em fortes restrições sociais e econômicas à melhoria de suas condições de

    vida (INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA EM AGRICULTURA, 2014).

    O significado do "espaço" da pequena produção no capitalismo pode ser melhor

    avaliado, se definidos os conceitos e as características do pequeno produtor. Contudo, esta

    não é uma tarefa fácil, visto que uma definição pressupõe qualificar algo em função (ou em

    relação) a algum parâmetro. No debate mais "ortodoxo", o pequeno produtor situa-se entre

    aquele elemento proletarizado e a classe capitalista proprietária dos meios de produção. Nesse

    sentido, Nakano (1981) o define como produtor simples de mercadoria (com algum grau de

    mercantilização) em contrapartida ao camponês "puro" (produção de subsistência). O

    primeiro estaria sujeito às relações de valor, enquanto não participante do processo de

    valorização do capital. Em suas próprias palavras:

    (...) o argumento apresentado neste texto é de que, ao nível da produção imediata na

    agricultura, se impõe apenas a lógica do valor e não a do capital, apesar de que, ao

    nível global, nas suas relações externas, a produção agrícola esteja subordinada à

    lógica do capital p.91 (NAKANO, 1981).

    Como se percebe, apesar de muito difundida e utilizada, a noção de desenvolvimento

    rural continua a ser de definição complexa e multifacetada, passível de ser abordada por

    perspectivas teóricas das mais diversas. Mesmo assim, de modo amplo, neste trabalho, o

    desenvolvimento rural é definido como um processo que resulta de ações articuladas, que

    visam induzir mudanças socioeconômicas e ambientais no âmbito do espaço rural para

    melhorar a renda, a qualidade de vida e o bem-estar das populações rurais (SHNEIDER,

    2004).

    Segundo Shneider (2004), existem múltiplos níveis da nova abordagem do

    desenvolvimento rural e estariam apoiados em seis mudanças gerais, são elas:

    Primeiro, fazendo com que esta perceba que o rural pode fornecer muito mais do

    que alimentos e matérias-primas. Segundo, uma necessidade urgente em definir um

    novo modelo agrícola que seja capaz de valorizar as sinergias e a coesão no meio

    rural, entre atividades agrícolas e não-agrícolas, entre ecossistemas locais e

    regionais, permitindo a convivência de iniciativas e atividades diversificadas.

    Terceiro, um desenvolvimento rural capaz de redefinir as relações entre indivíduos,

    famílias e suas identidades, atribuindo-se um novo papel aos centros urbanos e à

    combinação de atividades multi-ocupacionais, com claro estímulo à pluriatividade.

    Quarto, um modelo que redefina o sentido da comunidade rural e as relações entre

    os atores locais, sejam eles os agricultores ou os novos usuários (proprietários de

    sítios de lazer, moradias secundárias, empresas, condomínios, etc.). Quinto, um

    desenvolvimento rural que leve em conta a necessidade de novas ações de políticas

    públicas e o papel das instituições, que não podem ser mais exclusivamente

    direcionados à agricultura. Sexto, e último, levar em consideração as múltiplas

    facetas ambientais, buscando garantir o uso sustentável e o manejo adequado dos

    recursos p. 27 (SHNEIDER, 2003).

    Marsden (1995), Saraceno (1998), Moyano & Paniagua (1998) apud Campanhola &

    Silva (2000) consideram que um dos pontos que emergem quando se enfoca a questão do

    desenvolvimento é a separação entre os espaços urbano e rural. Historicamente, as áreas rurais

    eram aquelas dedicadas essencialmente a atividades agropecuárias, caracterizavam-se pela

    baixa densidade populacional e eram tidas como uma categoria residual frente ao processo de

    urbanização, tratando as áreas rurais como opostas ao meio urbano. Mais recentemente,

    passou-se a observar mudanças importantes no meio rural nos países desenvolvidos, que

    deixou de ser exclusivamente agrícola para se tornar uma mescla de atividades produtivas e

    de serviços das mais diferentes naturezas. Hoje há uma divisão clara entre rural e urbano.

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    Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v3 n9 novembro de 2019 ISSN 2526-4702

    O Projeto de Assentamento Santa Lúcia em Araçagí - PB

    Nos últimos anos as ocupações tornaram-se uma das principais formas de ingresso na

    terra. Essa forma de luta tem se intensificado e fortalecido a identidade de cada trabalhador/a

    camponês que, dentro de sua comunidade, de forma individual ou coletiva, vivenciam a luta

    política e a construção significativa de um projeto de vida.

    Esse elemento produziu os processos de espacialização e territorialização da terra, ou

    como disse Fernandes (1999, p.242), é a expressão do resultado de cada conquista na terra.

    Como exemplo podemos apresentar o Projeto de Assentamento Santa Lúcia/PB, que vem

    constituindo a ampliação de mais uma luta conquistada, a partir da resistência e atuação dos

    movimentos sociais,que na divergência com latifúndio e assentados, conseguiram mais uma

    fração de um território conquistado. Neste contexto, o P. A. Santa Lúcia tem buscado

    desenvolver-se com vistas à sua sustentabilidade econômica, no sentido da melhoria das

    condições de vida da sua população, em que se destaca a atividade produtiva do cultivo do

    abacaxi.

    O Assentamento Santa Lúcia está situado no município de Araçagí, localizado na

    microrregião de Guarabira, estado da Paraíba, a 90 quilômetros da capital João Pessoa. Sua

    população, de acordo com o censo do IBGE, ultrapassava os 17.000 habitantes que ocupam

    uma área de 228 km² (IBGE, 2014). O Assentamento está inserido na unidade geoambiental

    dos serrotes, inselbergues e maciços residuais. A vegetação é da caatinga hipoxerófila, com

    pequenas áreas de florestas caducifólias. O seu regime climático é quente, com chuvas de

    inverno no período de fevereiro a agosto e a precipitação média anual é de 750mm (IBGE,

    2015).

    O município surgiu em meados do século XVIII, quando a região servia de pousada

    para os mercadores e tangedores de gado que praticavam o comércio entre a cidade de

    Mamanguape, Mari e os sertões do estado. Logo, alguns dos mercadores fizeram amizades

    com os índios Guandus que ali residiam e logo se fixaram num lugar chamado Rio dos Araçás

    (IBGE, 2014). Conforme registros da BIBLIOTECA IBGE (2015), um português chamado

    Manoel estabeleceu-se em um lugar chamado de Tainha e casou-se com Francisca,

    popularmente conhecida como Dona Chiquinha, que deu origem a várias gerações.

    Logo, Manoel doou uma propriedade situada no povoado Rio dos Araçás, que então

    naquele local surgiu Araçagí, a palavra é Tupi e significa “água de araçá”. Então, chegou em

    1870 a família Melo, Padre Raulino Ricardo e trabalhadores que se interessavam pelo

    progresso deste povoado, onde edificaram a primeira casa e o templo. Temos que a

    emancipação política foi conseguida com os esforços de três homens: João Pessoa de Brito,

    João Felix da Silva e Olívio Câmara Maroja, que foi obtida graças a Lei Estadual 2.147, de 22

    de julho de 1959 (BIBLIOTECA IBGE, 2012).

    O Assentamento Santa Lúcia situa-se na microrregião de Guarabira e em específico na

    cidade de Araçagí que tem uma estimativa de 17.186 habitantes de acordo com o IBGE

    (2014), com um grande potencial econômico, através da principal fruta cultivada no

    município, o abacaxi, não deixando de lado as outras frutas e criações existentes no

    município. Araçagí faz limite ao norte com Sertãozinho, ao sul com Capim, ao leste com

    Mamanguape e Itapororoca e ao Oeste com Guarabira e Pirpirituba.

    O P.A. Santa Lúcia, localizado no município de Araçagí, possui uma área total 1.041

    ha, sendo utilizado no cultivo do abacaxi 400 ha, com pretensão de aumento do cultivo,

    podendo chegar aos 600 ha. O Assentamento engloba 100 famílias e uma população de cerca

    de 506 habitantes, representando assim um quarto da área total (INCRA/EMATER-PB,2015).

    Vejamos a localização no mapa a seguir:

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    FIGURA 1 – Mapa do município de Araçagí - PB

    Fonte: (IBGE, 2015).

    O Projeto de Assentamento Santa Lúcia existe desde 1993, quando os trabalhadores

    que moravam na fazenda onde hoje é situado o assentamento se organizaram com diversos

    apoios e foram lutar contra o proprietário da fazenda, pois eram tidos como escravos. De

    acordo com informações obtidas em pesquisa direta, estes trabalhadores realizavam suas

    atividades em um regime de escravidão, durante algum tempo, de tal modo que os mesmos

    não tinham sequer liberdade de comprar o essencial para a subsistência fora da fazenda. Na

    mesma vigorava o famoso barracão, natural no período da escravatura, de posse do

    proprietário da fazenda. Desta forma, além de trabalharem para ele, também davam lucros

    com a compra da comida e material para o trabalho de subsistência, deixando assim todo

    dinheiro na fazenda, rendendo mais ainda ao proprietário (Pesquisa direta, janeiro/2015).

    Em 1993 começou a luta, com o apoio do presidente do sindicato do município de

    Araçagí, o padre, religiosos e líderes de movimentos de Guarabira, pois Guarabira fornecida

    toda assistência, sendo ela então conhecida como a Capital do Brejo. Com toda essa estrutura

    e organização, os mesmos lutaram por seus direitos de 1993 à 1996. Em meados de 1996, a

    luta foi dada por vencida e com ela foi feita toda uma estrutura e organização, criaram a

    associação atual em 1997, onde tudo que for resolvido tem que ser decidido em assembléia

    geral (IBGE, 2012).

    Atualmente, o Assentamento Santa Lúcia tem 100 famílias, unidas com o propósito do

    desenvolvimento local e a obtenção de uma boa qualidade de vida. O poder aquisitivo do

    assentamento é significativo, a distribuição da terra é feita em lotes, em que cada assentado

    tem em média 10 hectares de terra para trabalho. Com isso, os mesmos cultivam da melhor

    maneira possível, mas a sua principal potencialidade produtiva é a cultura do abacaxi, não

    deixando de mencionar a plantação de mandioca, milho, feijão, batata, entre outros (Pesquisa

    direta, julho/2014).

    Diversos são os investimentos disponibilizados através do governo, incentivando a

    produção e por sequência gerando a obtenção de lucros. O Instituto Nacional de Colonização

    e Reforma Agrária (INCRA) é um grande parceiro do assentamento, proporcionando aos

    mesmo apoio financeiro, qualificação profissional, consultoria econômica, estudo de caso e

    viabilidade econômica juntos com outros orgão existentes (Pesquisa direta, julho/2014).

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    O P. A. Santa Lúcia possui uma entidade associativa, a Associação dos Agricultores

    da Comunidade Santa Lúcia, constituída em 27 de setembro de 1996, para promover o

    desenvolvimento sustentável do conjunto das famílias, por meio de atividades econômicas,

    culturais e desportivas. Desde sua criação, a associação vem trabalhando para fortalecer a

    organização social, política e econômica das famílias beneficiárias, promovendo formas de

    cooperação que ajudem na produção e na comercialização dos seus produtos, respeitando os

    direitos dos associados junto ao poder público, principalmente no atendimento das

    necessidades básicas da educação, saúde, habitação, transporte e lazer. Os trabalhos da

    associação são direcionados ao fortalecimento dos grupos informais na fabricação de ração

    animal, da raspa da mandioca, da comercialização do abacaxi na Empasa Paraibana de

    Abastecimento e Serviços Agrícolas – EMPASA em João Pessoa-PB e na Ceasa na cidade de

    Recife – PE (Pesquisa direta, janeiro/2015).

    O P. A. Santa Lúcia possui uma casa sede para realização de reuniões, treinamentos,

    assembléias e demais eventos que por ventura apareçam. A casa Sede era a antiga casa do

    fazendeiro, antes das reividicações e movimentos sem terra, com a concessão da fazenda e

    posse dos assentados, ela tornou-se o ponto de apoio para todos aqueles que alí lutaram por

    seus direitos de ter seu espaço de terra,sua moradia, cultivarpara seu sustento, atualmente a

    casa é utilizada apenas para eventos do próprio assentamento, eventos estes de interesse de

    todos os moradores. Essa casa é considerada a Sede da Assosciação, observa-se casa na FIG.

    2.

    FIGURA 2 – Casa Sede do P. A. Santa Lúcia

    Fonte: Monijany Lins de Góis, janeiro de 2015

    Os assentados do P. A. Santa Lúcia participam do Programa Nacional da Reforma

    Agrária e vivem basicamente da produção agropecuária e dos benefícios do governo. A

    pesquisa realizada verificou que a renda média por família gira em torno de 1,5 salários.

    A área de produção do abacaxi dos assentamentos do município de Araçagí é bastante

    distinta, variando de 2,0 até 6,0 ha. Atualmente, o P. A. Santa Lúcia possui uma área de

    produção de 400 ha, mas ainda tem área para ampliação da cultura, levando em consideração

    que a área total do P. A. Santa Lúcia é de 1.041 hectares. O sistema de produção do abacaxi

    no assentamento é convencional, ou seja, utilizam-se instrumentos de maneira primordial

    utilizando para a produção da lavoura de maneira geral e alguns assentados utilizam a

    irrigação de salvamento2. Os órgãos de apoio técnico que atuam no assentamento buscam

    2Irrigação de salvamento é o tipo de irrigação feita em terrenos que sofrem com a falta de água, utilizando

    mangueiras ou canos para irrigação.

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    orientar os assentados quanto à importância de se produzir um abacaxi com práticas mais

    sustentáveis³ e ecologicamente corretas. A transição para uma produção orgânica é algo que

    está se buscando inserir aos poucos no sistema de produção.

    No P. A. Santa Lúcia existem instituições parceiras que de uma forma ou de outra,

    atuam na comunidade, são elas:

    1. Assessoria de Grupo Especializada Multidisciplinar em Tecnologia e Extensão –

    AGEMTE;

    2. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE;

    3. Secretaria de Estado do Planejamento e Gestão – SEPLAG;

    4. Secretaria de Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e Pesca – SEDAP;

    5. Prefeitura Municipal de Araçagí – PMA;

    6. Comissão Pastoral da Terra – CPT.

    Estas entidades têm firmado alguns convênios de capacitação de assentados, apoio a

    comercialização, melhoria na infraestrutura social e produtiva do assentamento. A Assessoria

    de Grupo Especializado Disciplinar em Tecnologia e Extensão – AGEMTE vem trabalhando

    no assentamento e tem grandes perspectivas com relação a seu desenvolvimento econômico,

    principalmente na transformação da matéria prima e na sua comercialização.

    A partir das entrevistas realizadas junto à amostra das famílias do P.A. Santa Lúcia,

    constatou-se o baixo nível de escolaridade dos chefes das famílias que ali residem,

    acreditando-se que este baixo grau de escolaridade pode ser um fator comprometedor para

    alguns dos problemas encontrados na produção e comercialização do principal produto

    cultivado, que é o abacaxi. Sob este aspecto, comerciantes vão à busca da comercialização do

    abacaxi e não pagam o valor estabelecido. Esta prática acarreta prejuízo ao assentado por ele

    não realizar uma venda assegurada com contrato ou similar, como também o repasse da

    mercadoria para o atravessador ao invés de levar para os galpões na EMPASA ou Packing

    House, situados nas cidades de João Pessoa e Recife.

    Outro aspecto relevante diz respeito à renda das famílias do P. A. Santa Lúcia e com

    ela a sua qualidade de vida, poder de compra, mudanças advindas após o plantio do abacaxi,

    tendo o mesmo como o carro forte da economia daquela comunidade. Conforme os dados

    coletados, os assentados do P. A. Santa Lúcia consideram a sua renda satisfatória. O

    rendimento médio gira em torno de um salário e meio. Vale salientar que a pesquisa foi feita

    com uma amostra de 20% da quantidade total das famílias que são 100. Na percepção dos

    assentados, essa renda vem representando para os eles uma melhor qualidade de vida, um

    maior poder de compra, comparado ao período no qual não se produzia o abacaxi. Como

    exemplo disto, verifica-se a aquisição de meios de transporte como carros, motos, imóveis,

    entre outros bens materiais possuídos por boa parte dos assentados, fato este observado

    através das visitas técnicas ao assentamento, anterior à realização das entrevistas.

    As famílias do P. A. Santa Lúcia, além da renda advinda do abacaxi, possuem

    complementação de rendas através dos programas assistenciais do governo, proporcionando

    aos mesmos mais uma elevação no seu poder de compra e na qualidade de vida, seja através

    de auxílio previdenciário, como também de bolsas de incentivo, a exemplo da bolsa escola e

    da bolsa família. A partir dos dados apresentados, 35% de uma amostra de 20 famílias

    recebem auxílio previdenciários sendo estes através da aposentadoria, em todos os casos por

    terem idade necessária para a mesma. Do total de famílias entrevistadas, 25% delas recebem

    Bolsa Escola, enquanto 40% das famílias recebem auxílio do Programa Bolsa Família. Estas

    ³Práticas Sustentáveis é do tipo que obtêm certificado por ações sócio ambientais.

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    últimas, tanto o Programa Bolsa Escola como o Programa Bolsa Família, seus beneficiários

    possuem filhos de até 17 anos que estudam na rede pública de ensino e também por terem

    filhos e serem classificados como renda baixa.

    Conforme o IBGE (2015), Araçagí possui 1.800 hectares de terra com plantio ativo do

    abacaxi. Levando em consideração todos os produtores do município, a quantidade produzida

    anualmente do abacaxi no município é de 48 milhões de frutos.

    Estão envolvidas no plantio do abacaxi 80% das famílias que residem no P.A. Santa

    Lúcia. As demais famílias de um total de 20% estão envolvidas no plantio de lavoura branca e

    também oferecem sua mão de obra aos produtores de abacaxi, que contratam a mão-de-obra

    em diversos períodos no processo produtivo, chegando algumas vezes a contratar de

    comunidades circunvizinhas quando não se tem essa mão-de-obra disponível no próprio

    assentamento. Diversos dos agricultores não tem a mão de obra necessária na produção em

    casa, precisando assim contratar a parte e esse é um dos motivos que faz com que o processo

    de produção do abacaxi se torne caro.

    Observa-se que 80% das famílias de um total de 100 famílias trabalham com a

    produção do abacaxi e lavoura branca apenas para consumo, enquanto que os 20% restantes

    trabalham apenas com a lavoura branca, para consumo próprio e também exposição em feiras,

    uma vez na semana no próprio assentamento e na feira livre do município, ao qual o

    assentamento está inserido, vale salientar que a maior parte dos produtores que plantam

    apenas a lavoura branca são aqueles que já têm uma idade elevada e que já recebem auxílio

    previdenciário.

    Um aspecto que deve ser levado em consideração diz respeito ao uso sustentável da

    terra que é um dos elementos estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 para que a terra

    cumpra sua função social. Se por um lado o assentamento possibilitou a soberania alimentar

    dos agricultores. Pode-se perceber uma tendência ao cultivo de monoculturas, como a do

    abacaxi que não se dá de forma orgânica, acarretando assim diversos danos ambientais, e

    muito menos visa abastecer o consumo interno, o que torna o assentamento, ou melhor, a sua

    produção cada vez mais vulneráveis às oscilações dos preços de mercado, que por sua vez,

    são controlados pela lei da oferta e da procura. Como bem afirma Oliveira (1986) isso

    acarretaria para o agricultor,

    Ao produzir cada vez mais para atender o mercado (capitalista), tornar-se vítima do

    processo, ficando sujeito aos altos e baixos do mercado e também as crises

    decorrentes das elevadas taxas de juros e podendo também sofrer com a

    superprodutividade decorrente da utilização de utensílios agrícolas (mecanização e

    adubos), de maneira que, a superprodução pode ser sinônimo de falência devido a

    queda de preços no mercado dos seus produtos (OLIVEIRA, 1986. p.8-10).

    Nesta perspectiva não se pode restringir os assentamentos a um mero aspecto

    econômico intrínseco ao território, mas sim pela diversidade de possibilidades que o envolve

    desde os elementos concretos e abstratos, como bem afirma Santos (2007) ao dizer que o

    território deve ser entendido como o território usado, ou seja, o chão mais a identidade que é o

    sentimento de pertencer aquilo que nos pertence. Em suma, “o território é o fundamento do

    trabalho, o lugar de residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida”

    (SANTOS, 2007, p. 14).

    Conforme informações verbais do presidente da Associação do P. A. Santa Lúcia

    (Pesquisa direta, janeiro de 2015), a produção do abacaxi viabilizou o crescimento econômico

    local, tanto do município de Araçagí - PB como também do próprio assentamento e na

    microrregião de Guarabira, que tem um comércio significativo e com grande potencialidade.

    Pode-se considerar que este fator promoveu uma alavancagem da economia local, trazendo

    resultados satisfatórios para os indivíduos que residem nessa localidade. Conforme

    anteriormente mencionado, de acordo com o grupo Combate à Pobreza pela Promoção do

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    Desenvolvimento Local (2014), promover o desenvolvimento local significa implementar

    ações em territórios ou microrregiões que permitam a ativa participação do cidadão, o efetivo

    controle social sobre a gestão pública através do fortalecimento da sociedade civil e o

    fortalecimento de grupos sociais antes marginalizados nas esferas de tomada de decisão. Vale

    salientar que o abacaxi é o carro forte daquela comunidade, mas não podemos deixar de lado

    as outras produções existentes.

    Além do abacaxi cultiva-se também a chamada lavoura branca, composta por batata,

    feijão, macaxeira, castanha, milho, inhame, sendo ela de importância elevada na vida dos

    assentados. Todos têm em suas casas a liberdade que é fundamental, trabalham para si

    próprios, produzindo para seu próprio autossustento, assim, regulando seu tempo de trabalho

    e a intensidade do mesmo e, com isso, ganhando em qualidade de vida. Alguns excedentes de

    produtos tendem a ser comercializados em maior quantidade, destacam-se o inhame e o

    milho, fato que indica a importância do assentamento para o abastecimento de alimentos do

    município de Araçagí - PB, bem como de outros municípios vizinhos.

    Os assentados do P. A. Santa Lúcia também cultivam outras frutas, além do abacaxi,

    como manga, caju, laranja, graviola, goiaba, acerola, sendo elas tanto para o consumo próprio,

    como para a comercialização nas feiras, as quais alguns produtores participam. Entretanto, a

    produção do abacaxi é a principal e a cultura mais comercial da comunidade.

    Com relação às dificuldades relativas à plantação do abacaxi, muitos produtores

    relatam problemas que vão desde o plantio à comercialização.

    Observa-se que da amostra de 20%, através da entrevista realizada, os produtores

    afirmam que a maior parte dos problemas encontrados no plantio são as doenças que ficaram

    em primeiro lugar com 85% das indicações, em segundo lugar a falta de água com 10% e em

    terceiro as despesas relacionadas ao cultivo do produto, como as compras de mudas,

    agrotóxicos, limpezas dos terrenos e demais atividades. Conforme visto, as doenças ainda

    afetam bastante a produção do abacaxi, principalmente pelo fato que se a doença tomar conta

    do fruto e o mesmo ser perdido. Alguns agrotóxicos são utilizados, mas nem sempre surtem

    efeito, fazendo com que os produtores, algumas vezes, tenham prejuízos consideráveis,

    resultando em perdas, pois no período do plantio esse é o principal problema encontrado.

    No P. A. Santa Lúcia, segundo alguns produtores, a renda obtida com a venda do

    abacaxi varia de acordo com o período da venda, com o fruto e principalmente com a oferta

    do produto. De acordo com relatos dos produtores, o hectare do abacaxi, quando “o preço tá

    bom”, varia entre R$ 8.000,00 e R$ 14.000,00 no período da colheita, que é feita

    aproximadamente a cada 18 meses, período necessário desde a plantação à colheita, podendo

    também ser vendido por menos ou até mais, dependendo exclusivamente do comprador e da

    época de venda.

    Na realização das entrevistas foram detectadas diversas dificuldades e dentre elas

    estão os problemas relacionados à comercialização realizada e dentro da comercialização,

    estão os calotes que vem ocorrendo com frequência a alguns dos agricultores. Os produtores

    de abacaxi do P. A. Santa Lúcia estão sendo lesados por muitos dos atravessadores e

    comerciantes que vão à busca da compra do abacaxi na própria comunidade e ao realizar a

    compra, não pagam o valor estipulado, ou na maior parte das vezes não comparecem para

    cumprir com os acordos. Alguns dos casos podem ser causados pela má escolaridade existente

    entre os agricultores, sem se quer terá possibilidade de fazer um contrato de compra e venda,

    ou algo que assegurasse ao agricultor o direito de receber aquele valor pré-estabelecido.

    Percebe-se que 75% dos assentados da amostra, enfrentam problemas com os calotes

    sofridos através dos atravessadores e apenas 25% enfrentam dificuldades com os preços dos

    transportes para levar o abacaxi até os Packing House na CEASA em Recife e João Pessoa.

    Apesar de que nem todos os produtores querem levar a sua produção para os Packing House,

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    o que causa por consequência o risco com os atravessadores que vão à busca da produção no

    próprio lugar do plantio.

    Segundo alguns produtores, os gastos no plantio do abacaxi de início são bastante

    dispendiosos, pois o abacaxi só é colhido entre 15 e 18 meses e cada pé de abacaxi plantado

    só dá um fruto, sendo assim, alguns dos produtores do abacaxi adquirem financiamentos e

    empréstimos bancários para a viabilização de seus projetos, observa-se o GRÁF. 11 a seguir:

    Compreende-se que por ser dispendioso o plantio do abacaxi, 70% dos produtores da

    amostra utilizam o banco para financiar o plantio, viabilizando uma maior quantidade

    plantada com a possibilidade de resultados satisfatórios, enquanto que 30% afirma não utilizar

    financiamento ou empréstimo bancário por conseguirem manter o próprio plantio.

    A estrutura oferecida pela associação para facilitar a produção e comercialização do

    abacaxi são os Packing House localizados nas CEASA em Recife e João Pessoa, que

    fornecem apoio para que os produtores transportem seu produto, para que haja uma

    comercialização nos grandes centros distribuidores, possibilitando assim, uma melhor

    comercialização, com preços melhores do que quando vendidos no próprio plantio aos

    atravessadores, com os quais correm riscos de calote. A comercialização no Packing House,

    apresenta a garantia e a segurança na hora da venda de receber o referido pagamento.

    Visto que o abacaxi em algumas vezes é descartado na hora da comercialização por

    não atingir o seu tamanho necessário e o P.A. Santa Lúcia ser rico em árvores frutíferas, os

    assentados discutem a possibilidade da implantação de uma fábrica de polpa e derivados que

    pudessem vir das frutas da região. Com isto pode-se aumentar as possibilidades de

    crescimento e elevar o índice de emprego para os jovens da comunidade, utilizando as frutas

    que porventura não são absorvidas no comércio para transformá-las em produtos

    industrializados, gerando assim uma nova fonte de renda.

    Diante do que foi visto no P. A. Santa Lúcia, os assentados tem um projeto que prevê a

    instalação de uma agroindústria, ou seja, uma unidade de beneficiamento de frutas que visa

    produzir polpa de frutas congeladas, geléia e doces a partir do processamento de frutas

    existentes na comunidade. Diversas são as espécies frutíferas encontradas no P. A. Santa

    Lúcia, tais como: caju, manga, graviola, goiaba, acerola e o seu principal produto, que é o

    abacaxi, sendo essas frutas os principais componentes da agroindústria. Visto que certa

    quantidade de abacaxi algumas vezes não é levada para comercialização devido a padrões

    existentes no mercado com relação ao seu tamanho, essa quantidade não será mais dada como

    imprópria, sendo aproveitadas na agroindústria para a fabricação de diversos alimentos

    provenientes do abacaxi e demais frutas.

    Com essa iniciativa, os agricultores podem vender o seu produto no próprio

    assentamento, sem muitos gastos com o transporte, barateando os custos e porventura

    adquirindo uma nova fonte de renda. Além de promover emprego para os jovens da

    comunidade. E com essa inserção no mercado regional a agroindústria movimentará toda uma

    economia circunvizinha, através da disponibilização dos seus produtos no comércio.

    Com a implantação dessa unidade de beneficiamento de frutas no Assentamento Santa

    Lúcia, serão inúmeros os benefícios para todas as famílias envolvidas nesse projeto. O

    primeiro será a organização da produção e a inserção de um produto industrializado,

    proveniente da agricultura camponesa, ou seja, de reforma agrária, no mercado do Estado da

    Paraíba.

    Ao se implantar essa agroindústria os assentados visam aproveitar os excedentes da

    produção do abacaxi, criar opção adicional de renda através da agregação de valor à

    produção, estimular o desenvolvimento da fruticultura com base na vocação potencial da

    região, estimular a implantação de pomares em escala comercial, instigar a cooperação

    agrícola e uma gestão compartilhada.

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    Conforme os produtores, existe a possibilidade da criação dessa agroindústria, visto

    que o projeto da mesma está nas mãos do Governo do Estado, além da ampliação do cultivo

    da abacaxicultura, proporcionando assim, mais rentabilidade, melhores condições de vida,

    dando continuidade a melhorias ocorridas e por sequência continuando a viabilizar o

    desenvolvimento econômico local do próprio P. A. Santa Lúcia e do município de Araçagí,

    além de continuar do ranking de um dos mais maiores produtores de abacaxi do Estado.

    Considerações Finais

    As informações contidas no trabalho apresentam alguns indícios da relevância do

    assentamento em questão, não apenas para os agricultores que nele habitam, mas também para

    o município como um todo, seja pela garantia da produção do abacaxi, como fator elevador da

    potencialidade do local e da região, ou pelo fornecimento de alimentos excedentes para sua

    comercialização. Além disso, quando o assentamento proporciona a vida na terra, impede que

    muitos indivíduos migrem para os grandes centros regionais ou nacionais, evitando o

    crescimento de conglomerados urbanos.

    Ao passar dos anos, observa-se que o aumento do índice de emprego através da

    plantação e comercialização do abacaxi, o que vem proporcionando melhor qualidade de vida

    para os proprietários e para os trabalhadores que fornecem sua mão de obra, o município no

    onde o P. A. Santa Lúcia está inserido. Uma melhor qualidade de vida está presente na vida

    de todas as famílias do P. A. Santa Lúcia, além da renda advinda do cultivo do abacaxi,

    muitas das famílias são beneficiadas com algum programa do governo, seja ele assistencial

    previdenciário ou bolsas existentes, como bolsa família, bolsa renda, ao somar todos esses

    benefícios, essas família puderam obter veículos e até mesmo um imóvel, vivendo em

    condições melhores e mais humanas. Um dos grandes problemas existentes é o baixo nível de

    escolaridade, que por muitas vezes alguns produtores chegam a vender sua produção de

    maneira insatisfatória e com isso acarretado perdas consideráveis, por estarem sujeitos a

    calotes dos atravessadores.

    Com um melhor grau maior de escolaridade, os agricultores teriam a possibilidade de

    ter uma renda mais elevada, através do conhecimento, realizando contratos com os

    atravessadores, obtendo assim uma garantia do que foi comercializado conforme o acordo

    realizado, evitando assim os prejuízos frequentes ocorridos entre os produtores e

    atravessadores. Além de a escolaridade poder influenciar significativamente na renda, pode

    também influenciar na agricultura de forma direta, em que colocaria a disposição dos

    agricultores diversas técnicas de cultivo para a obtenção de um fruto nos padrões de

    comercialização e livres das doenças.

    A cultura do abacaxi é, de acordo com os produtores, a responsável por grande parte

    da renda dos moradores, mesmo daqueles que não cultivam a cultura, pois os agricultores que

    não fazem parte do grupo que produz o abacaxi acabam por fazer parte do processo produtivo,

    disponibilizando mão de obra necessária para os produtores, que plantam o abacaxi, na

    comunidade em estudo e nas fazendas e sítios circunvizinhas, promovendo o desenvolvimento

    econômico local, tanto no assentamento, como no município onde o mesmo está inserido e

    demais centros urbanos, que direta ou indiretamente participam do processo produtivo ou de

    comercialização. Além da ampliação da abacaxicultura, existem propostas de implantação de

    uma agroindústria relacionada à fábrica de polpas e derivados do abacaxi e das demais frutas

    produzidas na região, o que pode gerar uma renda extra, pois além de utilizar o excedente do

    abacaxi que não é vendido, implicaria novas oportunidades de emprego para os jovens.

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