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Revista da SOCA. Sociedade Caboverdiana de Autores. N° 01. Dezembro de 2009 Soca MAGAZINE Sociedade caboverdiana de Autores

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Sociedade caboverdiana de Autores

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EditorConselho editorial

DesignRevisão

Fotografia

Foto da capaFoto da contracapa

ImpressãoPeriodicidade

TiragemPropriedade

Danny SpinolaDanny SpínolaDaniel MedinaGiordano CustódioJosé Maria BarretoManuela BarbosaEduardo Ramos CunhaTomé VarelaAlbino Baptista, Eneias Rodrigues Jorge GonçalvesDaniel RendallAlbino Baptista.Eneias RogriguesTipografia SantosTrimestral1000 ExemplaresSOCA Sociedade Caboverdiana de Autores

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Vai-se comemorar, dentro em breve, o trigésimo quinto aniversário da Independência Nacional, o que significa que há já algum tempo que somos os realizadores e protagonistas do nosso próprio destino e que va-mos orquestrando e construindo o nosso rumo, não tanto ao nosso bel-prazer, mas um pouco ao nosso jeito e com as nossas próprias mãos.Quer dizer, também, que já não nos quedamos de mãos no queixo à espera do navio que nunca mais vem, mas, sim, que já dobramos o cabo da esperança e cá vamos singrando ao sabor dos nossos passos em busca do nosso norte.Mas, é estando nós conscientes do vosso grande coração, dessa vossa férrea vontade em avançarmos rumo ao progresso e à nossa meta co-mum, maior, que é o usufruto do vosso trabalho, caros amigos e confra-des, que temos vindo a batalhar sob o lema: “Para uma Autoria Digna e Próspera”: Os vossos braços, o vosso ânimo e labor, o vosso engenho e a vossa experiência são necessários e muito caros, mais do que nunca, nesta fase da nossa caminhada.Não tenhais dúvidas, caros amigos, esta Revista é vossa. Ela existe para vos servir. É uma forma de concerto e aliança convosco. Colaborar e participar nela não é só um direito, nem apenas um dever, mas sim uma conquista vossa, de plena legitimidade.Daí que um apelo particular vos seja dirigido desde esta tribuna, que é vossa:A tendência para uma certa incredulidade no futuro, um certo deixa acontecer, é cada vez mais flagrante, nos dias que correm; assim como uma certa tendência para um jeito passivo de reivindicação, que não passa de murmúrios soltos ao vento, é cada vez mais constante à nossa volta. Mas é preciso haver esperança e optimismo no amanhã e pensarmos sempre que a maioria dos nossos sucessos alcançados é fruto do nosso esforço. É preciso que se crie e se retempere cada vez mais a consciência intelec-tual e moral; que se reivindique e se exija o melhor, sem hesitação nem temor, pois, se o futuro é nosso, quem melhor do que nós mesmos a defendê-lo e a querer construí-lo.Segundo o nosso programa de actividades, que começou com o lança-mento da revista e do site, mais a entrega dos cartões de sócios e o inicio da cobrança das quotas, vamos despoletar os mecanismos fundamentais para cobrar e distribuir os direitos autorais e combater a pirataria. Estes são os nossos grandes desígnios e desafio neste momento. Neste número, poderão apreciar vários assuntos e mensagens do vossointeresse, pelo que contamos com o vosso total engajamento e dedica-ção na sua divulgação e apreciação.Bem-haja a todos.

DS

Editorial

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Sociedade Caboverdiana de Autores

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SumárioEditorial 3ORGÂNICA DA SOCA 6INFORMAÇOES EM RETROSPECTIVA 8O REGIME JURÍDICO DO MECENATO EM CABO VERDE 12Poema de António Silva Roque 16

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Destaque 22Nela Barbosa 22Uma pintura de múltipla paixão ou de Enigmática Viagem 22

Informação Importante 30

Perfil 32Ferro Gaita 32

Homenagem 36Pantera 36Uma figura de proa na música caboverdiana 36HOMENAGENS DA SOCA Cesário Boca, Daniel Rendall e Lela Violão 40

FICHA DE INSCRIÇÃO 43

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Departamento de Administração, Finanças e Património(Responsável — Daniel Spínola)Gestão corrente de pessoal e dos equipamentos;Conservação do arquivo e documentos;Cobranças de jóias e quotas;Registo das receitas e satisfação das despesas;Execução do expediente burocrático-administrativo;

Departamento dos Direitos de Autor(Responsável — José Maria Barreto)Registo e gestão das obras dos autores;Contrato com os autores;Fiscalização do cumprimento da legislação;Autorização e exploração das obras dos autores;Arbitragem de conflitos entre autores.

Departamento das Relações Internacionais e Institucionais(Responsável — Daniel Medina)Acordos, protocolos e contratos com instituições nacionais, estrangeiras e internacionais;Adesão a organismos e convenções internacionais;Contratos com organismos, agências e associações estrangeirasinternacionais.

Departamento da Fiscalização, Cobrança e Distribuição(Responsável — Giordano Custódio)Fiscalização das actividades culturais;Estabelecimento de tarifas;Cobrança de direitos;Distribuição pelos titulares dos direitos cobrados;Actividades de Imprensa e comunicação.

Departamento da Acção e Promoção Culturais(Responsável — Manuela Barbosa)Defesa da liberdade de criação intelectual;Promoção da união entre os autores;Garantia da protecção social dos autores;Actividades culturais.

ORGÂNICA DA SOCA

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INFORMAÇOES EM RETROSPECTIVASOCA faz apresentação da revista e da sua página na Internet Praia, 03 Abr (Inforpress) - A Sociedade Cabo-verdiana de Autores (SOCA) vai proceder, nesta sexta-feira, na Cidade da Praia, à apresentação oficial da sua página na Internet e ao lançamento da revista SOCA Magazine. A cerimónia, que vai contar com a presença dos seus associados, convidados e entidades locais, está agendada para as 18:30 horas, no Palácio da Cultura Ildo Lobo, no Platô. Na ocasião, além do lançamento da revista e do site, o novo Concelho da Administração, presidido pelo jornalista e escritor Danny Spínola, far-se-á igualmente a apresentação do plano de actividades da SOCA para 2009 e a entrega de cartões de sócios da Sociedade. De acordo com o guião do programa, haverá também a projecção em vídeo de uma repor-tagem sobre a Companhia de dança Raiz di Polon e a dança em Cabo Verde. O dirigente da Sociedade congratulou-se já com a apresentação pública da revista e com a inauguração do novo site. Em editorial da revista SOCA Magazine, Danny Spínola explica que, para este número zero, foram escolhidos alguns temas que espera sejam de interesse dos leitores. Com 42 páginas, a revista vai ter uma linha editorial com algumas rubricas permanentes, tais como: “Destaque”, que fará um enfoque de um determinado artista ou tema; “Perfil”, rubrica com a qual se pretende dar a imagem de artistas cabo-verdianos, quer em forma de entrevista, quer de reportagem ou ensaio, e “Homenagem”, que escolherá determinados artistas a serem homenageados através de trabalhos que retratam a sua vida e obra. Neste número, em que se traça o perfil do poeta, romancista e ensaísta, Oswaldo Osório, merece destaque a Companhia de Dança Raiz di Polon, através de um olhar à dança contemporâ-nea cabo-verdiana, num ensaio assinado por Danny Spínola. O grande homenageado é o compositor, músico e dramaturgo cabo-verdiano Ano Nobo, falecido há cinco anos. A re-vista terá também espaços de informações sobre a SOCA e seus associados, e informações formativas sobre questões autorais e outras. “Pretendemos ser um meio de divulgação das actividades da SOCA e dos artistas em geral, mas, sobretudo, um meio de comunicação e ligação forte com os nossos associados”, acrescenta o autor do editorial. A SOCA, Socie-dade Cabo-verdiana de Autores, foi criada a 19 de Fevereiro de 2005, com o objectivo de proteger, promover e gerir os direitos morais e patrimoniais dos autores cabo-verdianos que, ultimamente, na opinião de Danny Spínola, se têm caracterizado por uma grande dinâmica em termos de criação e produção literárias, artísticas e cientificas. Segundo Danny Spínola, de então para cá, a SOCA programou um conjunto de acções e estratégias de implemen-tação das principais atribuições e competências que lhe cabem, tendo envidado esforços no sentido de ter uma sede própria com mobiliários e equipamentos indispensáveis ao seu funcionamento, nomeadamente mobiliários de escritório e algumas unidades informáticas. Entre outras acções, a SOCA pretende, assim que começar a cobrar os direitos autorais, desenvolver acções de formação dirigidas aos membros e quadros privativos, de forma a ca-pacitá-los em determinadas áreas, nomeadamente, formação nas áreas de cobrança e dis-tribuição de direitos de autor, gestão corrente de pessoal e dos equipamentos, e fiscalização de actividades culturais. A realização de workshops e conferências, com vista à divulgação e informação periódica sobre suas actividades e participação em actividades afins, dentro e fora do país, no quadro da cooperação com organismos congéneres, constam também na agenda da Sociedade Cabo-verdiana de Autores. Quanto ao site da SOCA, o seu dirigente

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garante tratar-se de um portal dinâmico e interactivo, que vai veicular informações sobre as acti-vidades que a Sociedade desenvolve, mantendo uma dinâmica interactiva de comunicação e di-vulgação. A SOCA pretende, ainda, realizar programas radiofónicos de informação e divulgação, e promover acções de informação e divulgação na rádio e na televisão. A partir desse conjunto de proposições, Danny Spínola diz que a Sociedade Cabo-verdiana de Autores espera manter os seus sócios informados sobre os seus direitos e deveres, bem como sobre a vida da Sociedade. O objectivo é estar sempre em sintonia com os seus sócios, prestando-lhes um serviço de qualidade, protegendo, promovendo e gerindo os seus interesses e pretensões, e direitos autorais, assegura Danny Spínola. JMV Inforpress/Fim

Revista SOCAMagazine homenageia músico e compositor Ano Nobo 2009-04-03 11:52:37 Praia, 03 Abr (Inforpress) – A revista SOCAMagazine, cujo número zero é dado à estampa esta sexta-feira, pelas 18:30 horas, no Palácio da Cultura, na Cidade da Praia, presta homenagem a Ano Nobo, um dos mais notáveis compositores e músicos cabo-verdianos. Num artigo assinado por Firmino Cachaça, traça-se o perfil e o percurso do artista, natural de São Domingos, nascido a 1 de Janeiro de 1933 e falecido, aos 71 anos de idade, na sua residên-cia de Lém-Pereira (São Domingos), a 14 de Janeiro de 2004, vítima de ataque cardíaco. De acordo com Firmino Cachaça, Ano Nobo “nunca recebeu nada de ninguém pelo seu trabalho artístico”, tendo se ficado “sempre um autor apagado, esquecido mesmo, humilde, amante da sua terra, do seu povo e da sua família”. A sua maior recompensa e fonte de alegria – acrescenta o articulista – “foi, sem dúvida, ver a plêiade de artistas que deixou atrás de si, com alguns dos seus filhos em primeira linha”. Autor de mais de 400 composições, exímio tocador de instrumentos musicais de corda (dominava violão, viola – de seis e de dez cordas – bandolim, cavaquinho, violino e gaita de boca, Ano Nobo foi também autor de peças teatrais, algumas delas publicadas e encenadas nos festivais de teatro que se realizam em Cabo Verde. Filho de Henrique Lopes Tavares e de Vicência Correia Tavares, Fulgêncio de Circuncisão Lopes Tavares, ou simplesmente Ano Nobo, tornou-se uma figura da música popular em Cabo Verde, graças ao seu talento como compositor e músico. As suas letras retratam episódios do quotidiano, num estilo bem humorado, inventivo e agradável. Segundo Firmino Cachaça, muitas das músicas de Ano Nobo ganharam projecção nacional e mesmo internacional, pois foram interpretadas e gravadas em disco por artistas conhecidos como Frank Mimita, Bana, Ildo Lobo e o conjunto Os Tubarões, Dany Silva, Zeca de Nha Reinalda, Maria de Barros, Mariana Ramos, Maria Alice, Manuel de Candinho, entre outros. Entre as com-posições que obtiveram maior sucesso, podem citar-se “Adelaide”, “Linda”, “Lolinha”, “Falsia di Tanha”, “Ta Pinga Tchapo-Tchapo”, “Baíno”, “Ressana Godim” ou “Camarada Pepé Lopi”. Como dramaturgo, o seu mérito foi reconhecido publicamente com a atribuição de um prémio à sua peça Julgamento de Totó ku Tota, que venceu o concurso de melhor peça teatral de Cabo Verde, em 1999. Note-se que, no âmbito da apresentação da SOCAMagazine, a Sociedade Cabo-verdiana de Autores vai proceder também à apresentação da sua página na Internet, onde os cibernautas poderão consultar os estatutos e as funções da SOCA, conhecer as actividades que vai desen-volvendo, entrar em contacto com seus corpos dirigentes, e até ler notícias culturais e entrevistas a artistas. JMV Inforpress/Fim

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SOCA homenageia Daniel Rendall, Lela Violão e Cesário “sapateiro” 2009-04-13 08:21:19 Praia, 13 Abr (Inforpress) - Os músicos cabo-verdianos Daniel Rendall, Lela Violão e Ce-sário Duarte “sapateiro”, todos residentes na Cidade da Praia, vão ser homenageados, no próximo dia 25 de Abril, pela Sociedade Cabo-verdiana de Autores (SOCA), apurou a Inforpress. Um concerto musical, com convidados especiais ainda por definir, presen-ça de intervenientes que irão falar sobre os homenageados, atribuição de diplomas e uma projecção vídeo sobre a música tradicional cabo-verdiana darão continuidade ao programa de actividades da SOCA para 2009. Este programa vai desenvolver-se entre Abril e Novembro, com a realização de várias actividades todos os meses: concertos; debates sobre a tarifação dos direitos autorais; lançamento de concursos de fotografias sobre Cidade Velha; uma grande feira de diversão, de Arte e de Cultura nos palcos de Assomada e Ribeira Grande de Santiago; ciclo temático sobre Corsino Fortes; lança-mento de um livro de contos do jornalista e escritor Fernando Monteiro e outros eventos temáticos. Referindo-se à sessão de homenagem do dia 25 de Abril, o presidente do CA da SOCA, Danny Spínola, afirmou que na ocasião cada um dos intervenientes con-vidados para dissertar sobre os homenageados, destacará uma faceta do percurso ou da actividade criadora dos artistas, com relevo para o seu papel no enriquecimento da música tradicional cabo-verdiana. Daniel Rendal é conhecido sobretudo pelo seu traba-lho de compositor para alguns dos grupos musicais mais importantes do arquipélago. Acumulando a profissão de funcionário público com a de alfaiate, nas horas de ócio, “um artista” (como ele diz de si próprio com particular sentido de humor), é sobrinho de outra figura tutelar da música de Cabo Verde – Luís Rendall, o responsável pela in-trodução do chorinho brasileiro na música insular. Dono de uma voz poderosa, boémio e trovador incorrigível, é presença constante e incontornável nas noites da Cidade da Praia, a capital. Nascido na ilha de S. Vicente, Lela Violão, hoje com 80 anos, feitos a 18 de Janeiro, começou a tocar viola aos oito anos de idade, de ouvido, às escondidas do pai, e aos 14, ainda sem que o pai soubesse, já tocava em bailes e festas. Apesar de uma vida toda feita de música, só em 2007, aos 78 anos, gravou seu primeiro disco, um CD com 12 temas de música tradicional cabo-verdiana, Caldo de Rabeca. Outro nome do panorama musical cabo-verdiano que será distinguido pela SOCA é o Cesário Duarte, aliás popularmente conhecido por “Cesário Sapateiro”. Natural da ilha de São Nicolau, onde nasceu a 26 de Fevereiro de 1932, este “exímio clarinetista”, como o classifica o jornalista Silva Roque, formou-se na escola do conhecido professor de mú-sica, Nho Reis, tendo sido condiscípulo de Manel Clarinete, Luís Morais, Morgadinho, Manel de Ti Djena, entre outros. Com passagens por São Vicente, onde se fixou aos 12 anos, “Cesário Sapateiro” vive actualmente na Cidade da Praia, no bairro de Eugénio Lima. Aos 77 anos de idade, continua a alimentar o sonho de deixar impregnados num CD os sons da sua criatividade. JMV Inforpress/Fim

Foto: Albino BaptistaFoto Lela: Daniel Rendall

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O REGIME JURÍDICO DO MECENATO EM CABO VERDEO MECENATO CULTURAL

Conceito clássico: Protecção aos artistas e às artes, a título meramente filantrópico.

Conceito moderno:A esse conceito, as sociedades modernas acrescentaram um conjunto de vanta-gens económicas (ex: incentivos de natureza fiscal concedidos aos mecenas).

Quem tem a responsabilidade de apoiar a cultura?

O sector público.Todavia a responsabilidade de fomentar, proteger e desenvolver o nosso legado histórico-cultural não é tarefa exclusiva do Estado;

O sector privado.O sector privado também poderá desempenhar um papel preponderante na de-fesa e preservação da cultura.

O Regime Jurídico do Mecenato em Cabo Verde:

Lei nº 45/VI/2004, de 12 de Julho;DR nº 8/2004, de 25 de Outubro – Regulamenta o Mecenato Cultural;DR nº 9/2004, de 25 de Outubro – Regulamenta o Mecenato Desportivo;Portaria nº 39/2005, de 4 de Julho – Cria o Serviço de Registo dos Mecenas e dos Beneficiários (SRMB).

Friso do prédio da suprema corte dos EUAin revista “Diálogo”

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O REGIME JURÍDICO DO MECENATO EM CABO VERDEObjectivos subjacentes à Lei do Mecenato:

Fomentar, proteger e desenvolver as seguintes áreas:Social, Cultural, Desportiva, Educacional, Ambiental, Juvenil, Científica, Tecnoló-gica, Saúde e Sociedade de Informação.

Quem pode ser Mecena?

As pessoas singulares e colectivas (empresas) que apoiem, através de concessão de doações ou patrocínios, as entidades públicas e privadas que exerçam acções relevantes nas áreas atrás mencionadas.Quem pode ser Beneficiário?

Podem ser Beneficiários:

a) As entidades e as instituições previstas no artigo 13º e 18º da Lei do Mecenato, designadamente as que exerçam acções relevantes nas áreas atrás menciona-das;

b) O Estado e as autarquias locais;

c) As associações de municípios;

d) As fundações em que o Estado ou as autarquias participem no património inicial.

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Que tipos de liberalidades podem ser concedidas?

As liberalidades podem ser concedidas em DINHEIRO ou em ESPÉCIE e podem ainda revestir a forma de DOAÇÕES ou de PATROCÍNIOS.

Quais as VANTAGENS em ser Mecenas?

Satisfação pessoal;

Prestígio que resulta de associar o seu nome a actividades culturais de relevante interesse para a sociedade;

Vantagens económicas (benefícios fiscais)

Que benefícios fiscais são concedidos aos Mecenas?

Mecenas – Pessoas Colectivas:

Aceitação como custos, na sua totalidade, das liberalidades concedidas, majoradas em 30%, até ao limite de 1% do volume das vendas ou da prestação de serviços;

Mecenas – Pessoas Singulares:

Dedução à colecta do valor correspondente a 30% do total das importâncias concedidas, até ao limite de 15% da colecta.

Onde e como registar-se como Mecenas?

O registo dos mecenas é feito junto dos Serviços de Registos de Mecenas e Beneficiários (SRMB) da Direcção Geral das Contribuições e Impostos, mediante carta dirigida ao director-geral.

Para registar-se deve o requerente anexar à referida carta os seguintes elementos identificativos: Nome, designação e cópia dos respectivos estatutos, NIF; Domicílio fiscal; Área económica em que desenvolve a sua actividade; Lista de actividades que pretende apoiar.

Devem também os Beneficiários se registar?

Sim. Os beneficiários também podem se registar. Para tal devem formalizar o seu pedido de registo junto da DGCI, anexando ao seu pedido os seguintes elementos:

Cópia do seu programa ou plano de actividades respeitante ao ano em que recebem a liberalidade;

Comprovação documental da utilização ou aplicação das liberalidades recebidas na prossecução do fim para que foram concedidas.

“Declaração de Interesse Cultural”

Os projectos e actividades culturais, cujos valores de financiamento sejam superiores a 500 contos devem ser objecto de reconhecimento por parte do departamento do Governo responsável pela Cul-tura.

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Que incentivos fiscais são atribuídos aos Beneficiários?

Os beneficiários sujeitos ao IUR, farão constar na sua Declaração Fiscal Anual o valor das liberalidades que tenham recebido, as quais não poderão ser tidas em conta para o apuramento do imposto.

Existem incompatibilidades na concessão de liberalidades?

Sim. As liberalidades não podem beneficiar directamente as pessoas vinculadas a quem as praticar, designadamente:

A sociedade de que seja administrador, gerente, accionista ou sócio à data das liberalidades, ou nos 12 meses anteriores ou posteriores;O cônjuge, os parentes até ao 3º grau e os afins;O sócio, mesmo quando se trata de outra pessoa jurídica.

Sanções Administrativas:São previstas sanções administrativas para situações de SIMULAÇÃO de liberalidade com o fim de obter ganho ilegítimo, ou obtenção de vantagem financeira ou material em decorrência da concessão duma doação ou patrocínio.

Em Síntese:Para que os mecenas e os beneficiários possam usufruir dos benefí-cios fiscais previstos na Lei do Mecenato, é necessário:Estarem registados no SRMB da DGCI;Haver transferência EFECTIVA de recursos para o beneficiário (sem proveito pecuniário ou patrimonial directo para o Mecenas);Os projectos ou actividades culturais financiados por Mecenas, de valor superior a 500 contos, têm que ser previamente declarados de interesse cultural pela entidade governamental responsável pela cul-tura;Ter o Mecenas a sua situação fiscal devidamente regularizada.

Apresentado no Forum Internacional Sobre a Eco nomia da Cultura Praia, 16-21 de Novembro de 2008 Por: Emanuel Moreira, Dir. Geral de Contribuições e Impostos

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Poema de António Silva Roque 1

A liquidez da madrugada Perfura sonhos de seda

E a mágoa infindaAbsorve os dias inúteis de tédio e sal

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É esta voz do vento Que saracoteia as ancas

Na planura do vale 3

É de seda a vozE de veludo o grito

A espuma que escorre por entre os dedos É a macieza da luz intacta

4

O cavalo indomado Adivinha seus passos seguros

Na savana da liberdade 5

O rio transborda pelas margens da saudade E um barco afunda-se na música encharcada de sol

Seu capitão ensimesmado fuma seu último cigarro de espanto 6

Os cabelos loiros da chuva Cobrem lábios de sol E há ninhos de amor

Embalados pelos gemidos do violino incandescente. 7

A harpa do ventoExala sílabas versos e palavras

A eclipse de AbrilAdvoga luz e primavera

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Entre o zumbido do pássaro verde E a angústia da hora

O poeta constrói partituras de dor e desalento 9

A cruz que do horizonte emerge É a estátua do teu corpo lenho

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A brisa é vinho que embriaga Teu corpo livre e intacto

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O dia breve acabaAo som das luzes do sol

Gaivotas de amor doidas voam Para além das montanhas de toda a imaginação.

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12Estarei louco por procurar a chave das portas da loucura?

É meu o reino de aquémCom jardins de luar suspensos

Com vinhos e violinos de saudade

13Abóbada das tuas pálpebras

AborrecidasCaídas

De sonho interdito

14Há sempre um horizonte opaco

Coberto pelo lençol da noite A fazer da vida a trincheira macabra da liberdade tolhida.

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Agora tolhidos os gestosSó voa o pensamento

Na madrugada de todos os sonhos.

16Estrelas e algas e sonhos

Perfumes de jasmim ou de rosa Povoam a planura por onde pássaros de amor

Vêm beber a fuga de outros caminhos

17Ruína da morte cavalga com seu ciclone às costas

E a caravela afunda-se no lago vermelho de sangue.

18O relógio do sol apaga as sombras do dia

Com ponteiros loucos no norte magnético da vida.

19Maio é agora outra trincheira

E o soldado adivinha outra arma nas mãos do inimigo Tacteia sonhos e soletra sílabas de medo.

20

Há mil anos havia pássaros loucos de amorCantando na colina da Cidade proibida

Versos de veludo e espuma

21Enterraram o canto da hora livre

No escombro tenebroso do luar negro.

22Violaram os túmulos dos reis que não tiveram império

E embalsamaram seus corpos com o sal amargo da vingança

23Perderam os soldados no labirinto da Cidade

Seus passos de música e de luar

24Escorre a luz do sol por entre a frincha da janela

Por onde se vê o mundo e a sua redondeza Por onde se vê o fim do finito

Convergindo com a miopia dos olhares

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Homenagens: Cesário, Daniel Rendall e Lela Violão

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Homenagens: Cesário, Daniel Rendall e Lela Violão

Para uma autoria digna e próspera,a SOCA aposta fortemente na Homenagem aos seus artistas e criadores como forma de reconhe-cimento das suas actividades em prol da arte e da cultura.„

Apresentação da Revista e do WebsiteCesário Duarte em entrevista à RTP África;Daniel Rendall e o Presidentte da CMP;Lela Violão

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DestaqueNela BarbosaUma pintura de múltipla paixão ou de Enigmática Viagem

“Quando pinto, lanço a alma por dentro de mim” E.R.

Para falar dos quadros de Nela Barbosa, teremos de falar, em primeiro lugar, do seu primeiro quadro que constitui como que a sua primeira vez e que, como toda a primei-ra vez, é marcante, é perene, é inolvidável.Esse primeiro quadro de Nela Barbosa, segundo entendi, representa o seu primeiro amor, o amor à primeira vista, o baptismo de fogo no mundo da arte, o primeiro passo rumo à eternidade.É o primeiro quadro, o momento iniciático, o alfa da descoberta, da busca, da partida para o infinito, e da liberdade de pintar; da liberdade do ofício de pintar, que é o mes-mo que dizer da felicidade de existir.Será o primeiro olhar, a grande paixão, o ponto de partida para tudo o resto: para a multiplicidade das cores e das criações; para a sucessão dos anseios e desejos, dos sentimentos e entrega. E é preciso falar aqui do seu primeiro quadro: Liberdade, que foi Independência no Feminino, como homenagem à mulher criadora, à mulher emancipada e independente, à mulher artista e à mulher madura para o estro e a es-tesia, que se confunde com a própria autora.Falar desse quadro é o mesmo que falar do início dessa caminhada inefável e incomen-surável pelo maravilhoso e misterioso universo de cores e de luz, onde a realidade e a fantasia se fundem como seivas da mesma flor.Aliás é a própria autora que diz: “ esse quadro, Liberdade, é uma parte de mim que está presente em todos os meus melhores momentos”.Falar dos quadros ou da pintura de Nela Barbosa é falar de uma confabulação e vo-cação à arte e à criação, num espaço-tempo de paixão e razão, onde a convicção, a entrega e o labor se corporizam num fulgor de enunciação e devir.Através dos quadros de Nela Barbosa, que podem demonstrar que a essência da pin-tura reside nas cores, podemos aportar a um mundo de sentimentos e sensações que nos transportam a uma infinidade de pensamentos e reflexões, de forma espontânea e natural, sobre o nosso quotidiano e o mundo palpitante que nos rodeia.

Óleo s/Tela, 80x140, s/ TítuloFoto: Albino Baptista

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Uma pintura de múltipla paixão ou de Enigmática Viagem

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Acrílico s/ Tela, 120x100, s/ TítuloAcrílico s/ Tela, 120x100, s/ TítuloAcrílico s/ Tela, 120x100, s/ TítuloFoto: Eneias RodriguesÓleo s/ Tela, 80x120, s/ TítuloFoto: Albino Baptista

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Acrílico s/ Tela, 88x116, s/ TítuloFoto: Eneisas Rodrigues

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Óleo s/Tela, 90x116, s/ TítuloFoto: Albino Baptista

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A orquestração “tímbrica” da sua paleta de cores, conjugada com o seu amor ao universo an-tropomórfico e humanístico que nos envolve, dá-nos a dimensão clara do mundo que ansiamos habitar, das necessidades que nos afligem, e dos sonhos que nos transvazam a alma.Ao percorrermos essa galeria de quadros de Nela Barbosa, temos a sensação de estarmos perante algo original e maravilhoso, que nos seduz e nos concita à me-ditação e à invocação da luz, da paz e da serenidade.A energia invisível desse mundo recriado e a magia das cores magistralmente buriladas subju-gam-nos, pela forma especial como se comunicam connosco, como se manifestam no nosso inconsciente, invadindo-nos os olhos e o coração de ouro e de sol, alertando-nos para uma outra dimensão da vida.Quando contemplamos esses quadros, apreendemos facilmente o sentido profundo das coisas, ainda que estejam transfiguradas ou travestidas, e há, nesse instante de encontro entre o olhar e o ver, a consciência da transcendência da vida, que muitas vezes vivemos como meros mo-mentos, transitórios, de prazer.E há então a consciência da necessidade, íntima, de conhecermos e desfrutarmos, com mais propriedade, as dádivas da vida.E não há dúvida que esses quadros de Nela Barbosa são dádivas da vida à nossa vida, pois são quadros laborados com amor, com paixão, com espiritualidade, de forma a criar uma realidade vivida em homenagem à arte de viver vivendo.E se quisermos explorar um pouco o mundo das significações, dos significantes e metafísica desses quadros, é preciso termos em conta a complexidade de que se reveste a contemplação, e compreensão da obra de arte, devido, por um lado, à cadeia de interrelacionamento dos vários componentes de um quadro, que pode ser diversa, consoante a sensibilidade e vivência do es-pectador, e até do momento de contemplação e, por outro lado, à própria dinâmica subjacente

Óleo s/ Tela, 120x90, s/TítuloFoto: Albino Baptista

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à interpretação da obra de arte que nos remete para a possibilidade de uma multiplicidade de leitura.Assim sendo, o que se pode dizer de Nela Barbosa e da sua pintura é que ela possui uma nova forma de abordar o impressionismo, utilizando fotografias da sua própria lavra para compor os seus quadros que acabam por ter um cunho e uma aparência completamente diversos do objecto-ponto-de-partida, devido à maneira como manipula o espaço, as cores, os planos e os contornos decorativos, de forma plasticizante, criando uma realidade outra, às vezes fluída, às vezes palpável, de atmosfera lírica e exótica, entre o figurativo e o abstracto, embora algumas vezes de matiz marcadamente realista.Tendo a realidade e a natureza caboverdianas como pontos de partida para a elaboração da sua obra, Nela Barbosa consegue imprimir uma dinâmica cromática aos seus quadros, plastici-zando as cores em manchas grumosas e planas; em pontos espessos e superfícies lisas e líqui-das, ao mesmo tempo que cinzela e modela nuances de luz, que transverberam e conferem aos seus cenários e paisagens uma atmosfera de altos e baixos-relevos; de luminosidade e sombra, mas também de jogos de distorção e de transfigurações de imagens, que ora são nítidas, ora esbatidas e indefinidas, ou quase abstractas.Uma menção particular merece a sua paleta de cores, pouco usual, que se individualiza muito, constituindo como que uma marca própria, principalmente na forma como conjuga os tons de cores quentes e frias, as nuances de luz e os espaços de fundo, que nos encanta e fascina pelas surpresas que causam ao captarmos as sugestões contidas nas imagens referenciais, ou nas aparentes abstracções cromáticas que propõe, que atestam talento e técnica amadurecidos.Navegando entre a orografia das ilhas, os quotidianos dos islenhos e as simbologias culturais de Cabo Verde, os quadros de Nela Barbosa referem-se, sem dúvida alguma, ao universo só-cio-cultural caboverdiano, às “Costelas da Caboverdianidade das Ilhas”.Alargando um pouco esse aportar analítico a uma visão sensitiva e dialéctica, numa variação de abordagem e linguagem, diremos que:Com um certo predomínio de uma linguagem de cores, a pintura de Nela Barbosa discorre entre o informalismo, ou tachismo, com a utilização de materiais diversos que imprimem aos seus quadros uma dinâmica perceptiva, pelo movimento que a alternância entre o baixo e alto relevos, em sintonia com os jogos de cores, de nuances e alternâncias, despoletam à visão; mas também na utilização da técnica, algumas vezes, do primitivismo e do naíve, com os figurativos de linhas e traços, sem volume nem perspectivas, sobre um fundo cromático.As cores e as formas parecem surgir, repentinamente, como se tivessem materializado do nada, de inesperadas veredas, imperceptíveis, de sob o manto das construções que orquestra.Muitas das pinturas de Nela Barbosa assemelham-se a incursões e excursões, de enigmáticas viagens, por paisagens exóticas e fantásticas, ora de frondosos bosques de cores, ora de fron-dosas achadas de erosão, arenosas, basálticas ou simplesmente vazias, em que só há a resso-nância de uma única cor em reverberações prismáticas.Carregada de electrizante paixão, pelo vigor das pinceladas e das construções cromáticas e tachistas, os quadros de Nela são como que relâmpagos e trovoadas em permanente diálogo entre o céu e a terra, donde não faltam chuvas, enxurradas, avalanches e intempéries. Mas, encontramos também a bonança e a esplendorosa beleza do resplandecer do sol: sobre o tem-po, sobre a alma e a vida, em cânticos de amor, plenos de riso, de espiritualidade e da louca e desenfreada vontade de viver, isto é, da entrega apaixonada à vida.Com matizes diversas, desde o sombreado, passando pelo baço e indefinível, até ao resplan-decente, as pinturas de Nela Barbosa intumescem-se de subtis mensagens e comunicações, mesmo em se tratando dos mais abstractos dos seus quadros.Jovem de muito talento, Nela Barbosa tem, sobretudo, uma pintura própria de criação e safra individual, em que revela um interior rico, apaixonado e já de uma certa maturidade estética e imagética, não obstante algumas influências aqui e ali.Ela utiliza uma técnica um pouco à semelhança dos impressionistas no seu processo de criação em que pinta a partir de retratos e figuras seleccionadas, mas imprimindo sempre a sua criação, recriação, e a sua perspectiva das coisas. Mas, o que lhe interessa muito, ainda, é retratar a cultura cabo-verdiana: hábitos, costumes e também paisagem, pelo que procura sempre momentos e coisas especiais da mundividência da população que transpõe para os seus quadros, mas sempre numa perspectiva e visão própria.

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Art. 13°(Direitos dos sócios)

1. Os sócios da SOCA têm direito a:a) Eleger e ser eleitos para os órgãos sociais;b) Participar nas Assembleias-Gerais;c) Requerer a convocação das reuniões extraordinárias da Assembleia-Geral, nos termos deste estatuto;d) Receber os montantes correspondentes aos direitos autorais de que sejam titulares e que, em sua representação, hajam sido cobrados pela SOCA;e) Solicitar aos órgãos da SOCA informações e esclarecimentos relativos à actividade da mesma;f) Examinar, na sede da SOCA, a documentação relativa à escrita e às contas, nos 15 dias antecedentes à realização das Assembleias-Gerais e em quaisquer outros períodos fixados pela Direcção;g) Fixar o montante dos direitos autorais e as condições de utilização e exploração das respectivas obras;h) Ter cartão de membro da SOCA;i) Beneficiar da protecção social, nos termos regulamentares;j) Gozar de apoio e assistência jurídicos garantidos pela SOCA nas questões relacio-nadas com os respectivos direitos autorais, incluindo utilização da via contenciosa, desde que se reconheça viabilidade à pretensão e nos termos regulamentares;k) Ser representado pela SOCA, em juízo e fora dele, quando estejam em causa os seus direitos autorais;l) Solicitar a sua demissão.

2. Os sócios de mérito não podem eleger nem ser eleitos para os órgãos sociais da SOCA.

Art. 14°(Deveres dos sócios)

1. Os sócios da SOCA estão sujeitos aos seguintes deveres: a) Pagar a jóia e as quotas; b) Participar na realização dos fins da SOCA e contribuir para reforçar o seu prestí-gio e para a defesa do seu bom-nome; c) Cumprir e respeitar os estatutos e regulamentos da SOCA e as deliberações dos respectivos órgãos;

Informação Importante

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d) Participar nas reuniões das Assembleias-Gerais e nas demais actividades da SOCA;e) Exercer os cargos, funções e comissões para que sejam designados ou eleitos pelos órgãos competentes;f) Declarar à SOCA todas as obras e produções de cujos direitos autorais sejam titulares;g) Confiar à SOCA a gestão e administração dos direitos autorais e referidos na alínea antecedente;h) Não alienar nem onerar ou sob qualquer outra forma comprometer, total ou par-cialmente, sem autorização da SOCA, os direitos referidos nas alíneas anteriores;i) Sujeitar-se ao rateio dos montantes correspondentes aos direitos autorais cobra-dos;j) Dar conhecimento à SOCA de qualquer violação dos respectivos direitos autorais de que tenham tido conhecimento.

2. Os deveres referidos nas alíneas f’), g) e h) do número antecedente não prejudicam as obrigações resultantes da inscrição dos membros da SOCA noutras sociedades de autores, existentes no estrangeiro.

3. Não é aplicável aos sócios de mérito o disposto no número 1.

Art. 15°(Perda de qualidade de sócio)

A qualidade de membro da SOCA pode perder-se por exoneração voluntária, por exclusão e em caso de morte.

Art. 16°(Exoneração voluntária)

Qualquer membro pode exonerar-se da qualidade de membro da SOCA, por sua própria iniciativa e mediante solicitação formulada nesse sentido à SOCA, sem pre-juízo do cumprimento das suas obrigações estatutárias e das responsabilidades ad-quiridas com a SOCA.

Art. 17º(Expulsão)

A qualidade de sócio da SOCA pode ainda perder-se por sanção disciplinar que determine a expulsão, nos termos dos presentes estatutos.

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PerfilFerro GaitaO nome FERRO GAITA vem da combinação de dois instrumentos: O Ferro (pedaço de metal tocado com uma faca) e a Gaita (tipo de acordeão), utilizados na música tradicio-nal caboverdiana, como instrumentos base do género musical mais tocado pelo grupo: o FUNANÁ, que teve a sua génese, com a chegada do acordeão a Cabo Verde, com o camponês do interior de Santiago a apoderar-se deste instrumento e a cantar a sua alma e a sua vivência típica; com muita pobreza, revolta e contestaçäo escondidas, motivos que levaram a que essa música fosse proíbida em lugares públicos, durante a época colonial.A 22 de Julho de 1996, nasce o grupo musical FERRO GAITA, formado por 3 jovens mú-sicos, que descobriram na Gaita, no Ferro, na Bateria e na Viola- Baixo, novos caminhos para o Funaná, os quais iniciando as suas actuações em bares e em concertos de rua, cedo chamaram a atenção das pessoas pelo som quente e diferente que apresentavam, tendo como corolário o convite para participar num dos maiores Festivais de Cabo Verde em Maio de 97, o Festival da Gamboa, na Praia – ilha de Santiago.Em Junho de 1997, o grupo gravou, em Rotterdam – Holanda, o seu primeiro CD, FUN-DU BAXU, tendo como base o Funaná e o Batuco. O trabalho, cuja comercializaçäo se iniciou a 22 de Agosto, foi o CD mais vendido em Cabo Verde e nas comunidades caboverdianas durante esse ano.Depois de 2 anos a actuar em vários pontos do mundo e em Cabo Verde, em Setem-bro e Outubro de 1999 o grupo gravou, em Brockton – EUA, o seu segundo CD, Rei di Tabanka, caracterizado por uma clara evolução técnica, que abrangeu outros estilos musicais tradicionais como: o Funaná (lento, rápido e sambado), o Batuque, a Tabanka (com a introdução de instrumentos tradicionais de sopro como a Bombona (Búzio com mais de 100 anos), Meia Bumba e Cornetinha, e o Finaçon (em parceria com uma lenda viva de Cabo Verde: NHA NÁSIA GOMI, com 75 anos na altura), tendo o CD sido muito bem aceite, com o grupo a cimentar a sua posição no mercado e continuando a realizar vários espectáculos por todo o mundo. Em 2001, o grupo associou-se à editora Lusáfrica, com a publicação do CD Rei di Funa-ná, uma compilação de 10 músicas dos 2 primeiros CD e a convite da editora, o grupo realizou espectáculos em grandes salas europeias, culminando com uma grande digres-säo pela Europa, ao lado de grandes nomes da música caboverdiana, como Cesária Évora, Ildo Lobo, Luís Morais entre outros (Junho de 2002). Em 2002, o grupo foi nomeado para o Kora Awards (maior prémio da música africana), na categoria de melhor grupo de música tradicional.Iniciou, em Novembro de 2002, a preparação da gravação do seu terceiro CD de ori-ginais, Bandêra Liberdadi, tendo o mesmo sido gravado e misturado em Cabo Verde, entre Março e Junho de 2003, com algumas gravações adicionais em Portugal e Estados Unidos, e masterizado em Nova Iorque, no The Lodge, tendo chegado ao mercado ca-boverdiano em Dezembro 2003.O mesmo teve muito sucesso, demonstrando a maturidade do grupo, tendo como base o Funaná, a Tabanca, o Batuque, o Finason e apresentando como novidade a Ladainha e a Tabanca-Reza.

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Em Outubro de 2006, o grupo gravou um CD / DVD ao vivo na Praia, de nome Ferro Gaita ao Vivo – Finkadu na Raiz, como forma de comemorar o seu 10º aniversário, tendo o mesmo chegado ao mercado em Dezembro de 2006.Em 2007, o grupo foi distinguido pelo Governo de Cabo Verde com a medalha de Mérito Cultural de 1ª classe, e homenageado pelo Ministério da Cultura de Cabo Verde. Depois de vários espectáculos em 2007 e início de 2008, o grupo encontra-se a traba-lhar no seu próximo CD de originais que irá estar no mercado durante o ano de 2008.Na conclusão dos festejos do seu 12º aniversário, o grupo musical Ferro Gaita anunciou a apresentação do seu 4º CD de originais, de nome Cidade Velha.O lançamento desse CD teve lugar, no dia 22 de Dezembro, no Auditório do BCA / Garantia / Promotora, em Chã de Areia – Praia.Nessa mesma cerimónia foi apresentado oficialmente o site www.ferrogaita.cv e foram entregues diplomas de mérito a 10 empresas / instituições que se distinguiram no apoio ao grupo durante a sua existência.

O CD Cidade Velha foi gravado, misturado e masterizado entre Praia, Rotterdam, Boston e Lisboa, e contou com a participação especial de vários músicos como: João Cerilo, Dick de Ano Nobo (EUA), Zé Carlos, Zé di Pinton (Holanda), Kim Alves, Meno Petcha, Fé-lix Lopes, Mané Calote, Nhu Náni, Vitor de Santa Cruz, secção de sopro da Banda Militar, para além dos elementos da Escola de Música Tradicional do Grupo Ferro Gaita.O mesmo mantém o estilo musical do grupo, através do Funaná (rápido, lento e sam-bado), Batuque, Tabanca e apresenta como novidade a gravação pela 1ª vez de uma Talaia-Baxu, com composições de Iduino, Ferro Gaita, João Cerilo, Kim Alves, Félix Lopes e apresentando três jovens compositores como Nenas Rambo, Polito dos Orgãos e Ecio Cardoso do Meio da Achada.

Foto: Repórter

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Com 12 anos de vida, o grupo já actuou em vários palcos mundiais, com artistas de renome e participou em diversos eventos de grande prestígio, entre os quais:

Festival da Gamboa, Praia – Maio 97, 98, 99, 01, 02, 03, 05, 06, 07 e 08 Festival Mundial da Juventude – Cuba – Agosto 97 Festival de Santa Maria, Ilha do Sal – Setembro 97, 98, 99, 00, 03, 05 e

08 TOURNÉE ÁFRICA OESTE– MAURITÂNIA, SENEGAL, GÂMBIA, MALI E

GUINÉ-BISSAU – FEV. 98 – CCF Holanda, Dunya Festival – Junho 98 Expo 98, Praça Sony – Julho 98 Festival da Baia das Gatas, Ilha de S. Vicente – Agosto 98, 00, 02, 04, 07

e 08 Festival Sete Sois Sete Luas, Ilha de Santo Antão – Outubro 98, 00 e 06 Portugal – passagem de ano Tropical – Lisboa – Dezembro 98 Espanha – 2 actuaçoes em Madrid – Janeiro 99 Portugal – Carnaval do Atlântico – RTP – Fevereiro 99 Ilha do Fogo – festas de São Filipe – Maio 99, 00, 04 e 06 Alemanha – CMT 2000 – Stuttgard – Janeiro 2000 Tourneé por Portugal, França e Holanda – Março/Abril 2000 França - FIT 2000 - Paris- Abril 2000 Boston / EUA – Festival só Sabi – Boston Center for the Arts – Maio 2000 Portugal – Coliseu de Lisboa - com Tito Paris - Junho 2000 Angola – 5 shows (Luanda e Benguela) com Mendes Brothers e Gerard

Mendes, Jun./Jul. 2000 Alemanha – Hannover – Expo 2000 – Sony Plaza - Julho 2000 Festival da Boavista – Agosto 00, 01, 02, 03, 04, 05, 06, 07 e 08 Santo Antão – Festival Escurralete – Porto Novo – Setembro 00, 01, 03, 05

e 07 Ilha do Maio – Festas do Município – Setembro 00, 01, 03, 04, 05, 06, 07

e 08 Strictly Mundial (Saragoça – Espanha – 16 Novembro 2000 Portugal (Lisboa) – Pavilhäo Atlântico – Festa da Cesária – Abril 2001 França (Paris) – Zenith – Festa da Cesária – Abril 2001 Portugal – Festas da Cidade de Torres Vedras – Junho 2001 Angola – Festival do Eclipse do Sumbe – Kwanza Sul – Junho 2001 França – Olympia de Paris – Outubro 2001, Noite Lusafricana com Bonga

e Kappa Dech. França – Festival Tous Azymuths – Março 2002 Europa (França, Suiça, Suécia, Alemanha e Inglaterra), Cesária & Friends

- 10 a 27 Julho 2002 Tournée em França – Outubro / Novembro – Lusáfrica 2002 Tournée na Áustria e Alemanha – Julho / Agosto 2003 Ilhas Canárias – Las Palmas e Tenerife – Semana de Cabo Verde – Dez.

2003 Holanda – Apresentação do novo CD – Fev. 2004 EUA (Boston, Providence, New York e New Jersey) – Abril 2004 Portugal (Lisboa e Coimbra) – Queima das Fitas – Maio 2004 Holanda e Bélgica – Setembro 2004 EUA (New Orleans e New York) – Novembro 2004 Canada – Montreal – Novembro 2004 EUA (Washington e Bóston) – Abril 2005 Canadá – Montreal (Nuits d´Afrique), Hamilton e Toronto (Harbourfront)

– Julho 2005 Antilhas – Ilha de Saint Lucia – Festival Heineken Kalalu – Dezembro 2005 S. Tomé e Príncipe – 5 espectáculos – Março 2006 Portugal (Lagos) – 2º Festival Cineport – Junho 2006 Cabo Verde (Praia da Gamboa) – Gravação do CD / DVD ao Vivo – Outu-

bro 2006 Lançamento do CD / DVD ao Vivo Finkadu na Raiz – Dezembro 06 Digressão por Holanda, Bélgica, Luxemburgo, França e Suiça – Fev. / Mar-

ço 07 EUA (New York) – SOB´S – Junho 07 França – Semana de Cabo Verde em Paris – Junho 07 Holanda (Rotterdam) – Festival Calor – Junho 07 Brasil (Fortaleza e Minas Gerais) – Julho 07

O grupo musical Ferro Gaita é composto por:

ESTÊVÃO TAVARES (IDUINO) GAITA, VOZ, CORO E BÚZIO;

CARLOS LOPES (BINO BRANCO)FERRINHO, VOZ, CORO;

JORGE MARTINS (JORGE PIMPA) BATERIA, VOZ E CORO;

FRUTUOSO DE PINA (PITÓ) CANECA, BOMBONA, BÚZIOS E CORO;

EMANUEL TAVARES (MANEL DI TILINA) PERCUSSÃO, VOZ, CORO, BÚZIO;

ADÃO BRITO BAIXO E CORO; Técnico de son: MÁRIO “RUSSO” BETTENCOURT; Produção executiva e managment: AUGUSTO VEIGA.

Tem a seguinte produção discográfica: Fundu Baxu – 1997 – Ferro Gaita Produções; Rei di Tabanka – 1999 – Ferro Gaita Produções; Rei di Funaná – 2001 – Compilação: Lusáfrica / Harmonia; Bandêra Liber-dadi – 2003 – Ferro Gaita Produções; Ferro Gaita ao Vivo Finkadu na Raiz – CD / DVD -2006 – Ferro Gaita Produções.Foto: Repórter

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HomenagemPantera Uma figura de proa na música caboverdiana

Foi a 01 de Março de 2001 que Orlando Pantera morreu vítima de uma pancreatite aguda, quando ti-nha tudo preparado para gravar o seu tema de ouro Lapidu na Bo, que certamente o catapultaria para o ranking dos melhores músicos e compositores de Cabo Verde, visto que o tema já estava em voga, com muito sucesso.Foi depois de regressar a Cabo Verde, uma vez mais, com concertos no Centro Cultural Francês da Praia, no Mindelo e no Quintal de Música, na Praia, com três magníficos espectáculos, que o músico, compositor e intérprete, Orlando Pantera, teve o problema que o vitimaria. Orlando Monteiro Barreto, ou simplesmente Orlando Pantera, era um jovem promissor que marcou a mú-sica caboverdiana, de forma especial, antes de morrer, nas vésperas da sua coroação através da gravação de um CD a solo.Morreu num momento crucial da sua carreira, quando tinha tudo preparado para o grande salto na vida.Depois de ter viajado pelo mundo, em concertos mil: Portugal, França, Holanda, Brasil, EUA, África, com grupos musicais, grupos de dança e de teatro, que demonstram claramente a sua faceta de artista multifa-cetado, voltou a Cabo Verde, várias vezes, para compartilhar com o seu povo a sua veia e verve artísticas e a sua glória.Orlando Pantera regressou a Cabo Verde, primeiro, com a companhia de Dança de Clara Andermmat para apresentar Uma história da dúvida, um projecto de espectáculo interactivo e diversificado que põe em cena bailarinos, músicos e actores.Estando empenhado na investigação, divulgação e preservação das músicas genuínas de Cabo Verde, ou de raiz caboverdiana, Orlando Pantera pautou as suas actuações sempre por um reportório em que o batuque, a tabanca e o funaná estavam presentes, às vezes em perfeita mistura e harmonia, de forma tipicamente santiaguense, cantando em jeito de Dente d’Oru e de Nha Násia Gomi, ao mesmo tempo que possuía um ritmo universalista e contagiante.Conhecido em Cabo Verde pela sua participação, com sucesso, no álbum Porton di Nos Ilha d’Os Tuba-rões, Orlando Pantera produziu música com temas e arranjos de mérito, e o facto é que, na sua curta vida de 33 anos, marcou a sua época e a sua geração, criando e integrando vários grupos musicais e actuando em grandes concertos, em vários países e em várias ilhas de Cabo Verde, logrando, inclusive, algumas ho-menagens e louvações no Festival da Gamboa e no Festival Sete Sois Sete Luas (1998), onde recebeu uma distinção do então Ministro da Cultura de Cabo Verde.Pantera entregou-se de forma dinâmica, enérgica e total à música.Dedicou grande parte da sua vida à pesquisa no domínio musical, na medida em que dizia que para se con-seguir singrar no mundo da música era preciso muito amor, muita dedicação, muito esforço e humildade.Teve como objectivo principal, no seu percurso, trabalhar, árdua e perseverantemente o seu talento e as suas criações, mas também procurar aprender muito e apreender a realidade que o cercava para poder deixar um trabalho bem feito, rico e profícuo, como legado aos seus filhos e netos. Queria deixar à gera-ção vindoura um trabalho de interesse, forte, estruturado e rico, bem pensado e elaborado que pudesse

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despertar o interesse de todos, principalmente dos jovens que poderiam tê-lo como objecto de estudo para um voo mais alto, mais rico, mais profundo ainda.Era importante para ele deixar um trabalho que despertasse a curiosidade de todos e que fosse também um marco na história da música caboverdiana, sem paralelo. E isso ele con-seguiu, sem dúvida alguma.Ele trabalhava as suas composições de acordo com o seu estado de espírito. Tanto po-dia começar pela melodia, que lhe surgia de repente no espírito, como pela letra que se impunha na mente. Às vezes, sentia-se a viajar, longe da realidade que o cercava, para muito longe mesmo, para ir buscar algo que, às vezes, se traduzia em coisas malucas ou maravilhosas. E são dessas viagens que ele fazia por lugares estranhos e enigmáticos, que ele extraía a sua melodia e conseguia fazer coisas novas, inéditas, nunca ouvidas antes. Isso acontecia consoante o sentimento que lhe atravessava a alma e que lhe determinava um determinado tipo de composição.Para ele, era muito importante o casamento perfeito entre a letra e a melodia. Achava que era determinante uma harmonização entre a letra e a melodia para se conseguir impor-se ao público e se atingir o alvo pretendido – os jovens, as crianças, ou os velhos. E era fundamental fazer algo simples, mas imponente, que pudesse cativar qualquer um, e se impusesse naturalmente para ser melodia corrente na boca de todos.De facto, a maioria das suas composições retratava o quotidiano da população cabo-verdiana, a injustiça social, mas também o amor (lembremo-nos de “Na Bu Regasu”) e a saudade, que são temas típicos do universo musical dos compositores caboverdianos.Não há dúvidas de que Pantera deu um grande contributo à música caboverdiana através da criação de um estilo próprio, a partir da raiz, da matriz da música tradicional cabover-diana, que investigou com afinco, para estilizar em melodias e roupagens novas, sem deixar perder a base original, genuína, tipicamente caboverdiana. Isto, principalmente com as modalidades da Tabanka, do Funaná e do Batuku, que pôs na moda e no reportório dos músicos caboverdianos em geral. Aliás, foi sempre essa a sua intenção, o seu objectivo: estudar e trabalhar a música caboverdiana, juntamente com outros músicos e parceiros, para fazê-la evoluir e projectá-la, com muito impacto, tanto a nível nacional, como inter-nacional.No seu percurso, conta uma variedade de arranjos musicais que passam por quase todos os géneros de música que têm chegado a Cabo Verde. Ele experimentou de tudo para ver o resultado, fazendo arranjos com uma diversidade de melodias e ritmos sobre a base musi-cal caboverdiana, que procurou preservar sempre para não deturpar o que é genuinamente cabo-verdiano. A sua intenção foi sempre enriquecer a música caboverdiana, tornando-a mais rica e fluida com a inserção de melodias de outras músicas, como o Zouk, por exem-plo, que o ajudou no início do seu percurso e que, quanto a ele, possibilitou uma grande abertura e enriquecimento da música caboverdiana, inclusive, no surgimento de novos compositores e músicos.Uma das grandes preocupações de Pantera foi sempre deixar algo importante aos jovens, um trabalho, uma mensagem, um conselho, uma orientação. Ele teve sempre como pre-ocupação levá-los a entender que, para conseguirem algo na vida, para conseguirem ter êxito na vida, é preciso trabalhar com seriedade e dedicação de forma a provarem que são capazes e merecedores, antes de fazerem qualquer exigência, que foi o que ele fez.Pantera começou a sua carreira musical propriamente dita, com a fundação de um grupo musical em Assomada, denominado “Rakodja”, que traduzia exactamente o seu objecti-vo, enquanto forma de estar na música, que era “investigar, recolher, tratar e acariciar o manancial da cultura musical tradicional da ilha de Santiago”, principalmente o batuku, a tabanka e o funaná, com vista a um trabalho de estilização das mesmas, com uma nova linguagem e roupagem.Queria levar as pessoas a entender e apreciar devidamente o batuku, que durante muito tempo fora desprezado e repudiado, e considerado incivilizado, visto que, quanto a ele, essa música possuía margem para um tratamento diferenciado.Queria realçar acordes pouco habituais na música cabo-verdiana, com uma linha melódi-ca diferente, mas que mantivesse a forma peculiar de atitude do homem do campo. Queria dar um certo realce ao homem do campo e valorizá-lo devidamente.Tinha também como objecto desta pesquisa a história e a evolução da sociedade cabo-verdiana ao longo do tempo.

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O humor e uma certa chamada de atenção para casos flagrantes da vida real e da sociedade constituíam ainda a base das suas composições, como desafio ao status estabelecido, de não revelar certas coisas consideradas tabus.Dizia que a sua música possuía influência de músicas variadas, de todas as latitudes, para não correr o risco de ser influenciado por uma música apenas, o que não serviria bem ao seu propósito de fazer uma música nova, com estilo próprio, mantendo a sua raiz genuína.Reconheceu sempre que andou com a influência da música clássica, do JAAZ, e da música flamenga para poder fazer algo diferente e inédito, tendo começado por ter a música brasileira como objecto de estudo para fazer o seu trabalho, mas sempre com o devido respeito pela questão autoral, não utilizando jamais parte ou influência directa das músicas que ouvia, para não reproduzir o que já tinha sido feito.Pautou o seu trabalho na confluência e harmonização dos trabalhos tradicionais, das grandes composições e dos grandes compositores caboverdianos, que teve como mo-delo maior, utilizando também grandes melodias universais de forma a criar uma mú-sica de raiz autóctone com dimensões universais, que pudesse levar qualquer um a querer ouvi-la e apreciá-la devidamente, quando executada.Ele queria fazer uma música que representasse um virar de mentalidade das pessoas sobre a música, e, principalmente, que fizesse as pessoas sentarem-se para tentarem entender e apreciar o que ouviam. E queria fazer, essencialmente, música caboverdia-na, de forma livre e inédita, explorando, inclusive, as linhas melódicas de “S. João” e de outros ritmos de festejos populares para consagrar na sua música.O seu sonho era conseguir criar uma escola de música que pudesse responder aos anseios dos jovens e levá-los a saber interpretar as pautas, os acordes e as linhas me-lódicas para que a música caboverdiana pudesse evoluir.Para ele, era importante o convívio com outros músicos, principalmente com os de qua-lidade, para poder crescer, desatacando que, quanto a ele, para que uma música fosse de qualidade, devia ter o poder de contagiar aqueles que a ouviam, para que ficassem num estado de encantamento, o que só era possível com uma música que tocasse as almas das pessoas.Ele achava que era preciso pensar a música a longo prazo para se poder erigir uma música que permaneça e seja eterna. Tinha de ser algo com muita vida, que tenha en-canto, pelo que era preciso dar importância à melodia, que tem de ser algo cativante, capaz de manter as pessoas presas durante muito tempo, porquanto seria algo inesgo-tável, que não seria apreendido de uma só vez.A sua forma de trabalhar e de fazer música foi sempre compartilhada, dando e receben-do ideias de todos para a melhoria das composições e arranjos.A confiança e a segurança foram sempre os seus aliados e a chave para se sentir à vontade, assumindo com seriedade tudo o que fazia.Ele quis sempre fazer uma música diferente que quebrasse a rotina de ouvir sempre as mesmas coisas todos os dias.

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Na verdade, Orlando Pantera foi um astro, um cometa e um mito no universo musical caboverdiano. Começou de forma magistral a sua carreira, com orquestrações especiais para o grupo Os Tubarões e seguiu em frente, pleno de luz e de palpitações criativas, impregnadas de melodia e ritmos cativantes. Ele encarnava, de forma especial, o espírito da música e da própria poesia, que nele era algo natural, por estar tão ligado à tradição da população santiguense, que, diga-se, de passagem, é altamente metafórica no seu falar.Pode-se dizer, afirmar mesmo, que ele foi um dos pioneiros em plasmar na música, de forma revolucionária, toda a mundividência e forma de estar e pensar da população ca-boverdiana, a partir da investigação do modus vivendi da população santiaguense, por ter conseguido aliar nas suas composições o genuinamente tradicional com o universal ao fazer a fusão de ritmos e músicas tradicionais com melodias e acordes de outras latitudes e universos musicais.Foi um dos precursores do novo estilo caboverdiano, que agora está em voga, com o batuku na moda, na linha de frente de todas as grandes obras discográficas cabover-dianas.Com a sua sensibilidade fina, à flor da pele, ele orquestrou trabalhos maravilhosos sobre a cultura e a idiossincrasia do povo caboverdiano, trazendo factos históricos e acontecimentos importantes da historiografia caboverdiana para a ribalta, para o gran-de público, com um estilo muito próprio e genuíno, recuperando as raízes da tradição cultural genuinamente caboverdiana, com temas de cariz satírico, dramático, humorís-tico, lírico e até erótico.Com uma grande versatilidade no manejo de vários instrumentos musicais, ele con-seguiu compor músicas extraordinárias que revolucionaram a forma de estar e de encarar a música caboverdiana, demonstrando ser um potencial virtuoso de criações musicais.Realmente, ele conseguiu fazer músicas originais a partir das músicas tradicionais ca-boverdianas, com influências, mas sem cair na alienação de emprestar totalmente mú-sica alheia para fazê-la sua, sendo sempre, sem dúvida alguma, um artista criativo e autêntico.Cantava de forma especial, como só ele mesmo, com brio, com mímica, com drama-tização, com espontaneidade e com toda a alma e ser, variando os acordes e os tons consoante os temas e as letras que se acasalam de forma perfeita com a melodia dos arranjos. Tinha uma forma peculiar de interpretar qualquer música, o que encantava qualquer um.Ele era simples e complexo ao mesmo tempo, como se tivesse duas personalidades: a de um simples e simpático amigo de folguedo, tertúlias e boémia, do dia a dia; e a de um potentado no palco, onde reinava como se fosse um transformer, ou se estivesse possesso, e quase que como um animal…Se ele tivesse tido chance, seria, para Cabo Verde, praticamente, o que foi Bob Marley para Jamaica, mas foi sem dúvida alguma, em termos de revolução musical o nosso Jim Brown, Big Walter ou Chuck Berry, e o curioso é que ele conseguiu misturar ritmos e melodias tão diversos como o Jazz, o Flamengo, o Samba, o Merengue e outros, de uma forma tão especial e tão performativa, e com uma performance tal na interpreta-ção que se diria, quem o escutasse, que estava perante uma música totalmente nova, inédita, sem referências palpáveis, ou pelo menos identificáveis.As suas letras eram bem elaboradas e conseguidas, em termos poéticos e narrativos, assim como as suas composições musicais.À semelhança dos grupos Cordas do Sol e Tabanka Rasa, Orlando Pantera demonstrou que, com um pouco de conhecimento de música, é possível recuperar as nossas raízes musicais e torná-las em verdadeiros sucessos de arte e consumo, e que não precisamos de adoptar músicas alheias.

DSFoto: Jorge Gonçalves

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HOMENAGENS DA SOCACesário Boca, Daniel Rendall e Lela ViolãoNão saberei dizer se sou a pessoa indicada, a voz autorizada para invocar, nesta oração, a per-sonalidade artística de tão ilustres figuras. Coube a mim esta tarefa ingente que, por razões de querer ser útil, aceitei, sem perder de vista que há personalidades mais abalizadas nesta plateia que podiam ser chamadas para, enfim, vir fazer aquilo que estou tentando doravante alinhavar. Começarei por falar de Cesário Duarte. Em criança, já ouvia falar deste homem que hoje se encontra entre nós na qualidade de homenageado, nesta louvável iniciativa da SOCA, através do seu Presidente Daniel Spínola.Em criança, já ouvia falar de Cesário Duarte. O seu nome já me era familiar por causa dos discos que o meu pai trazia de Holanda. Lembro-me do disco de Marino Silva, lembro-me do da Mité Costa, todos eles traziam temas do compositor de que agora me ocupo.Lembro-me do célebre tema: “Ó baskulante ka bo mexe/Ka bo papia /Manta e ka di meu /E Bia Spencer ki traze-l/ Ó nho Zezé nhu deta la ketu/ Nho dixa di sina/ Pamodi /Garda ta dadji”Este é, na verdade, um dos temas do Cesário que eu fixei na minha memória de menino.Já exercendo funções de jornalista na Praia, soube que ele vivia em Eugénio Lima. Muni-me de um gravador e fui à casa do compositor, e ele recebe-me com enorme afecto. A minha intenção era chamar atenção para a figura de Cesário Duarte que parecia na altura a esbater-se, já que, em meu entender, ninguém se lembrava dele, quando ele é credor de respeito e admiração de todos nós. E logo a Directora do jornal A Semana se prontificou a publicar a entrevista sob o título “Um músico sapateiro”. Creio que ele ficou satisfeito, e eu também. E sei que muitas outras pessoas ficaram satisfeitas pelo meu concentrado esforço de divulgar uma figura tão cara para nós.A partir de dados colhidos de forma um pouco arbitrária, pude ficar a saber que ele é originário de S. Nicolau, Vila Ribeira Brava, onde nasceu. Ali cresceu até ser levado para Mofina, localidade sobranceira à Ribeira Brava. Já com 9 anos, é levado para S. Vicente onde concluiu a 4ª classe. Logo de seguida, torna-se sapateiro e começa a ganhar a vida para sustentar a famílivva. Em 1948, entra para a Escola do Maestro Nho Reis (José Alves dos Reis). Aprende a solfejar, o clarinete e saxofone. Em 1950, já actuava na banda municipal do Mindelo. Em 1952, deixa a cidade que o acolheu, aos 9 anos, para se fixar na então vila de Assomada – ilha de Santiago, onde prossegue a sua carreira de Sapateiro na oficina de um tal Barbosa do Fogo. Na Assomada não conseguiu levar avante os seus dotes artísticos. Em Setembro de 1952, fixa residência na Praia e é convidado por Jorge Cornetim que era regente da banda da capital cabo-verdiana. Entrou, a 24 de Novembro de 1952, como músico de 3ª classe. Faz logo um concurso

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e transita para músico de 2ª classe, ficando em primeiro lugar, e um ano depois já era músico de 1ª classe com estatuto de contramestre. Na Escola de música de Nho Reis, ele foi condiscípulo de Manel de Ti Djena, Morgadinho, entre outros nomes sonantes da música cabo-verdiana.Jorge Barbosa, num poema dedicado a Gabriel Mariano, escreve incitando: Vai agora que és jovem/ Vai agora que acreditas nos teus sonhos/ Vai e manda fotografias da estátua da liberdade/ O mundo é grande a nossa terra é que é pequenaCreio que Cesário Duarte não teve a tentação de emigrar. Esses versos não ecoaram nos seus ouvidos! Os seus colegas Luís Morais, Manel de Ti Djena, Morgadinho, esses, sim, seguiram rumo a Dacar e mais tarde à Europa. E lá conseguiram projecção. Tiveram a sorte que Cesário não teve. Gravaram, correram o mundo em actuações e ficaram célebres, enquanto que aqui o sucesso de Cesário Duarte é um sucesso sem voz, pois a pequenez do meio, os condicionalis-mos de uma terra pobre terão castrado a possibilidade de ele ir um pouco mais além daquilo que ele realmente apresenta. No entanto, mesmo dentro das limitadas oportunidades de afir-mação, ele conseguiu afirmar-se como trovador do povo. Satírico quanto basta, com sentido de picardia, Cesário Duarte castigou as mazelas da nossa sociedade. Diria que, a rir, ele foi castigando os maus hábitos e as imperfeições da sociedade cabo-verdiana.As suas composições estão espalhadas por diversos discos e, muitas vezes, com estatuto de te-mas populares, o que representa uma tremenda injustiça. Felizmente, nalguns casos os registos estão feitos de forma adequada.Notabilizou-se como clarinetista e saxofonista e fundou o conjunto Madrugada do qual faziam parte Sete, Antoninho Violão, Morgado, Nenezinho. Mais tarde, funda o conjunto Afrika Show onde pontuam nomes como Luís Lobo e, mais tarde, o seu primo Ildo Lobo. E falando de Ildo Lobo, numa entrevista que tive o privilégio de conduzir, o notável intérprete reconhecia que Cesário Duarte foi quem o lançou no mundo da música.Aquando do passamento do artista, Cesário não foi nem tido, nem achado para dar o seu testemunho daquele que fora seu pupilo e amigo de estimação.Em conversa com Ildo Lobo, um dia, ele disse-me: Cize teve um pequeno comércio, um peque-no conjunto electrónico, mas é um homem desprendido da matéria, ele dá o que não tem. Tem pouca sorte, mas é um homem feliz. Eu gosto muito da sua forma de ser. E foi assim, nestes termos, que ele é visto pelo saudoso Ildo Lobo e, um pouco, seguramente por muitos de nós. Saindo da perspectiva destas questões, queria recordar-vos aqui o célebre tema “Cesário é bóka/ Naris di Klarineti”.Contou-me o Cesário que, na véspera do casamento de um seu amigo, ele fez esta música para satirizá-lo. Mas, suspeitando que este podia zangar-se, ele colocou a música na primeira pessoa. Ele e Manuel Clarinete até estabeleceram um diálogo artístico em que um escrevia sobre um assunto, outro respondia musicalmente. E a propósito do tema de que vos falei, o amigo que ia contrair matrimónio era “um bom safado”, e Cesário teve que o satirizar nestes termos: Cesário boka/ naris di Klarineti/ rapika-m tanbor pa nu ben dansa txa-txa- txa. /Primera ves N ka pega-bu/ segunda ves N ka pega-bu (…) na kel di sinku el kai-m na mon/ dja N pega malandru/ Txapu txapu txakoleta”. Enfim, é assim o nosso Cesário. Brejeiro, solidário, amigo, humilde e discreto. Uma figura que merece a nossa admiração.Não queria terminar sem agradecer a vossa paciência em me ter escutado com muito interesse, igualmente queria agradecer à SOCA, na pessoa do seu Presidente, Daniel Spínola, por me ter convidado para falar de um assunto que me é caro: falar dos bons exemplos da arte e do humanismo. Ocupar-me-ei de seguida de Lela Violão. Também com igual emoção e interesse, procurarei traçar o perfil deste grande artista que já tem nome na galeria dos grandes desta nação. Natural de S. Vicente, Manuel Tomás da Cruz, mais conhecido por Lela Violão, era um tocador à moda antiga. Aos 8 anos já dedilhava o seu instrumento de eleição, e aos 14 tocava em bai-les e festas, às escondidas do pai. Esta é uma das primeiras referências que se tem deste exímio executante do violão, que se notabilizou tocando em todos os cantos do arquipélago, para além de várias actuações que ele fez no estrangeiro através do conjunto Simentera, isto já no Outono da sua vida. Consta que ele foi emigrante em São Tomé e Príncipe, onde perdeu um dedo de uma das mãos, o que não o impediu de se notabilizar como um dos maiores executantes do violão neste arquipélago. O seu nome só pode estar associado a um Pedro Magala da Boa Vista, a Voginha, Tazinho, Humbertona, e, ainda, a outros cujos nomes não nos ocorrem neste momento. As suas execuções, a nível do violão, perderam-se no tempo. Fica apenas a memória daqueles que assistiram às suas actuações nas salas de baile, nas serenatas, ou nas chamadas “noites cabo-verdianas” realizadas num restaurante qualquer deste país. Da sua discografia fica para sempre Caldo de Rebeca – em parceria com o violinista Martin Schaefer. Neste trabalho, constituído por 12 temas, Lela Violão e Martin Schaefer traçam o

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perfil da música tradicional visitando quase todos os temas que enformam a identidade musical de Cabo Verde.

Quanto a nós, é curioso que um homem como Lela Violão, que amealhou riqueza (a sua arte), viva em privações. Mas tudo isso é resultado da sua honestidade, pois nunca serviu de meios ilícitos para ascender ao poder financeiro. Nos últimos tempos, Lela Violão, pai de 30 filhos, vem enfrentando dificuldades financeiras várias, tendo sido, por isso, alvo de várias homenagens e campanhas de solidariedade de colegas músi-cos e da sociedade em geral. O gesto do conjunto Simentera é nobre, pois Lela é credor do nosso respeito e da nossa admiração, e também da nossa solidariedade. Ele bem merece. Focalizando a sua biografia, sabemos que ele nasceu em 1929 e, desde cedo, ouvindo e de-dilhando o violão, Manuel Tomás da Cruz (Lela) integra uma grande geração de tocadores e compositores que animavam festas e serões e que constituem parcela importante do património musical das ilhas. Convidado a dar o meu testemunho sobre esta notável figura, não posso fugir às circunstâncias em que eu o conheci. É do conhecimento de todos que Lela Violão andou a calcorrear o mapa das ilhas. Terá vivido em quase todas as parcelas do território. Lembro-me que, aí por volta de 1985, ele se encontrava integrado nos serviços das Obras Públicas. Sendo ele amigo do meu pai, ele fre-quentava a nossa casa. Ali, conjuntamente com outros amigos, propiciava à nossa família várias tocatinas. E a recordação maior terá sido a oportunidade de o ter assistido, ao lado do malogrado compositor Tony Marques e do talentoso artista Nazálio Fortes, bem como, ainda, com o intérprete Zé Pepilopi, numa permanente manifestação artística, tão ao gosto da época (ainda a serenata não tinha perecido entre nós). São estes factos que fazem a imagem do Lela Violão, para mim (isto numa perspectiva de afecto), e para nós, a imagem maior é o de ter sido um artista de elevado mérito, e que não será de fácil substituição, pois cada artista tem a sua identidade, e, neste aspec-to, Lela Violão é original. E o epíteto “violão” é prova consequente da mestria que ele revelou na execução do instrumento, ao qual se afeiçoou desde criança. É assim a vida dos grandes homens – nascem para o engrandecimento da nação. E Lela Violão é seguramente um deles. E permitam que eu continue a falar neste tom confessional, porque afinal falo de artistas, mas falo sobretudo de amigos. E é esta a minha voz sob suspeita. Todavia, o talento desses artistas anula de forma eloquente essa eventual suspeição. Daniel Rendall já me era familiar. Quando aí por volta de 1979 tomei conhecimento do disco Djonsinho Cabral, vi que nele constava uma morna assinada por este compositor, cujo tema se intitulava “Nhô Santiago”, que é um hino de desespero, de saudade e de esperança. Foi a partir dessa altura que pude acompanhar melhor o compositor, apreciando temas que a sua inspiração vai ditando. Os exemplos acabados do seu lirismo estão espelhados nos temas “Kabral ka More”, “Morena abri bo Janela”, “Luta pa Vida”, composições enquadradas num leque que poderá atingir centenas. Dos seus dados biográficos, dizem-me que ele nasceu a 5 de Setembro de 1947 (uma época terrível para Cabo Verde, já que o país enfrentava uma situação de seca, e consequentemente de fome). Filho de João Moreira Tavares Monteiro e Clara Maria Rendall Monteiro, o compositor de que falamos foi baptizado com o nome de Daniel Alberto Rendhal Moreira Monteiro. Consta que aos 9 anos já tocava o violão. Esse menino-prodígio viria a revelar-se mais tarde um compositor de elevada categoria estética, ombreando-se com muitos outros que também vão dando o seu contributo para a edificação do património estético-musical de Cabo Vede. Por razões profissionais, o compositor já teve experiências de viver além fronteiras, tendo estado em Moçambique (serviço militar), Guiné-Bissau onde exerceu alto cargo a nível do Ministério da Economia e Finanças, e, de regresso ao país, trabalhou na secretaria de Estado e Juventude, no Ministério da Cultura e Desporto. Acreditamos que essas múltiplas experiências terão moldado a sua personalidade artística, pois em cada momento da sua criação denota-se um sentido de um criador consciente das suas responsabilidades cívicas e sociais. Tenho, por mim, que Daniel Ren-dall é um “guerreiro” que não entrega as armas. E a sua arma de combate é a música – neste combate “sem ferro nem clarim”, mas nem por isso menos heróica. Daniel Rendall continua entre nós, participando sempre que possível em vários actos culturais, com o seu violão e a sua ma-viosa voz. Um artista comprometido com as nossas raízes, e que muito já deu a este Cabo Verde. Formulamos votos para que ele continue a trabalhar com afinco e com o sentido estético a que ele nos tem habituado. Bem-haja Daniel, tão dilecto filho das ilhas!z!

António Silva Roque

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FICHA DE INSCRIÇÃO

Nome:______________________________________________________________________________________________________

Nome artístico:______________________________________________________________________________________________________

Profissão:______________________________________________________________________________________________________

Endereço:______________________________________________________________________________________________________

Telefone: ______________________ E-mail: ______________________________________________________

Domínio Autoral:

Arquitectura Artes plásticas Audiovisual Dança Dramaturgia Fotografia Informática Literatura Música

OBS: ______________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________

Data: Em _____/ ______/____________

Assinatura

_______________________________________

Fazer fotocópia; preencher com letras maiúsculas e enviar para SOCA com uma foto tipo passe______________________________________________________________________________________________________Achada Sto António, Rua da Capela, C.P. 290 A, Praia-Cabo Verde Telefone/Fax +2382622172- E-mail: [email protected]

Sociedade caboverdiana de Autores

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Soca „para uma autoria digna e próspera“