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Professor On-line Tire suas dúvidas sobre piolho Professor On-line Tire suas dúvidas sobre piolho Ano 2 • n 0 15 • 2003 • www.multirio.rj.gov.br/nosdaescola ISSN 1676-5141 9 771676 514133 00015 No próximo número: Práticas Pedagógicas central de atendimento: (21) 2528-8282 • [email protected]

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Page 1: sobre piolhoTire suas dúvidas - MultiRio · 11 trouxe encartado o calendário do primeiro semestre de 2003, com o texto A Esco-la, de Paulo Freire, que veio ao encontro das dis-cussões

Professor On-line

Tire suas dúvidassobre piolho

Professor On-line

Tire suas dúvidassobre piolho

Ano 2 • n0 15 • 2003 • www.multirio.rj.gov.br/nosdaescola

ISSN 1676-5141

9 771676 514133 0 0 0 1 5

No próximo número:

Práticas Pedagógicas

central de atendimento: (21) 2528-8282 • [email protected]

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Editorial 04Planejamento escolar

Cartas 05Música no Giramundo, Espaço do professor e Calendário

Ponto e Contraponto 06Lucia Rabello de Castro, do Instituto de Psicologia da UFRJ,discute a dificuldade de se estabelecer, hoje, limites para as crianças

Zoom 10Quem sabe se planejar?

Atualidade 12A juventude está armada

Pé na Estrada 15A inclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais

Capa 18Um debate sobre planejamento

Professor On-line 24Dicas para evitar e combater o piolho

Carioca 25Escola Promotora de Saúde, programa da Secretaria Municipalde Saúde do Rio de Janeiro

Olho Mágico 27A equipe que seleciona as produções estrangeiras da programaçãoda MULTIRIO

Especial Século XX1 28Como montar um projeto

Caleidoscópio 29Os programas da MULTIRIO na sala de aula

Rede Fala 32Por uma prática educativa mais consciente

Tudoteca 34O encontro entre arte e literatura

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Cesar Maia - Prefeito • • • • • Sonia Mograbi - Secretária Municipal de Educação • • • • • Reginade Assis - Presidente da MULTIRIO • • • • • Maria Inês Delorme - Diretora de publicaçõese jornalista responsável (MTb. 22.628) • • • • • Élida Vaz - Assessora de comunicação eouvidora • • • • • Guaira Miranda - Gerente de multimídia

Equipe de Produção: Alberto Jacob Filho - Fotografia • • • • • Cristina Campos, CristinaMorel, Joanna Miranda e Suely Barreto - Conteúdo • • • • • Erick Grigorovski, EduardoFilipe e Marcus Martins - Ilustração • • • • • Elias Moraes - Produção gráfica • • • • • MarcusTadeu Tavares - Reportagem • • • • • Martha Neiva Moreira - Edição • • • • • Nancy A. Soares eCarla Helal - Revisão • • • • • Tania Oliveira - Projeto gráfico e editoração

Fotolitos e Impressão: Gráfica Esdeva • • • • • Tiragem: 40 mil exemplares

Empresa Municipal de Multimeios Ltda.Largo dos Leões, 15 - 9º andar - Humaitá - Rio de Janeiro - RJ

CEP 22260-210 • www.multirio.rj.gov.br • [email protected] de atendimento: (21) 2528-8282 - Fax: (21) 2537-1212

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ÀMULTIRIO

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www.multirio.rj.gov.br

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Sonia MograbiSecretária Municipal de Educação

Espaço do professor

Sou professor/pedagogo e trabalho na Rede Municipal desdefevereiro de 2002. Uma das coisas que mais gosto de fazer éescrever. Sempre fui muito incentivado a ler e isso acabou des-pertando meu interesse também pela escrita. Em outubro doano passado tive um artigo publicado no site da MULTIRIO.Ao ler a revista Nós da Escola número12 fiquei entusiasmadoem participar da seção “Rede Fala”. Estou mandando um artigosobre Educação Ambiental. Espero que gostem.

André Nogueira Mendes @Professor da Escola Municipal João de Camargo, SãoCristóvão, Zona Norte, Rio Janeiro (RJ)

N. da R. - Professor, recebemos seu artigo. A equipe irá analisá-lo e entrará em contato com o senhor. Obrigado pela atençãoe pelo carinho.

Música no Giramundo

Fiquei impressionada com a qualidade da aborda-gem do Giramundo Música como linguagem. OGiramundo número 12 está excelente. Acredito que otrabalho com a música desenvolve nos alunos acriatividade, o interesse, a sensibilidade. Trabalho muitocom a ajuda da música em sala de aula, seja levando CDsvariados, seja aproveitando alguma música para incentivarum novo assunto, seja levando até instrumentos musicaispara que eles os conheçam. O Projeto Político-Pedagógicode minha escola deste ano é justamente sobre os meios decomunicação, enfatizando a informática. O projeto chama-se:[email protected] uma conexão com o mundo. Isto tem pro-porcionado aos professores uma infinidade de abordagens, quepodem ser usadas desde a Educação Infantil até a 8ª série. Comoa escola já possui uma equipe de rádio, jornal, coral, dança,informática, tudo ficou mais fácil.

Mariza Schroder @Professora da Escola Municipal Ministro Gama Filho, Lins deVasconcelos, Zona Norte, Rio de Janeiro (RJ)

N. da R . - A equipe da MULTIRIO fica feliz em estar contri-buindo para a prática do trabalho do professor. O Giramundosobre música foi feito a partir de uma sugestão de uma profes-sora da rede.

Calendário

A Nós da Escola número11 trouxe encartado o calendário do

primeiro semestre de 2003, com o texto A Esco-la, de Paulo Freire, que veio ao encontro das dis-cussões que estavam acontecendo em nossa escolanaquele momento, e continuará presente em dis-cussões futuras. Nós, do J. I. Rubem Braga, acredi-tamos que a função da escola é, acima de tudo,preparar a criança para o pleno exercício de umacidadania atuante e autônoma, indo muito alémda transmissão de informações.Somos uma escola de Educação Infantil e tenta-mos criar, aqui, um clima de amizade. Queremosque nossos alunos formem amigos que os acom-panhem durante um longo período de suas vi-das. É neste contato da criança com a escola queela vai formar sua primeira impressão deste lugar,que pode ser maravilhoso e encantador. A escolanão é apenas sua estrutura física, mas é, funda-mentalmente, sua estrutura emocional. Quandouma criança se relaciona bem com as pessoas quea cercam, encontra-se em vantagem na busca doconhecimento. Ao estabelecer vínculos afetivosna escola, faz dela um segundo lar. Na nossa esco-la somos felizes!

Renata Ponce de Leone Ana Cristina Ebert @Escola Municipal Jardim de Infância RubemBraga, Lagoa, Zona Sul, Rio de Janeiro (RJ)

N. da R. - Um dos objetivos da revista é con-tribuir exatamente para o trabalho diário doseducadores.

No ano de 2003, foi previsto no Calendário Es-colar um período para que as escolas pudes-sem realizar um diagnóstico de sua realidadecom vistas à elaboração de seu planejamento,contemplando proposta presente em todas assugestões encaminhadas a nós pelo campo.Além dos dias do início do ano, foi reservadoum dia em agosto para o replanejamento dasações, que deverá ser feito em função da análi-se dos resultados obtidos no 1º semestre.

O momento do planejamento é de reflexão so-bre a escola e neste planejamento escolar de-vem estar previstos os desdobramentos dos di-ferentes eixos do Projeto Político-Pedagógico,seus principais objetivos, sua população alvo,as atividades e seu período de execução, alémdos recursos humanos, materiais e financeirosde que a escola dispõe para o seu desenvolvi-mento, sendo a avaliação ponto fundamental.

Não sendo de responsabilidade apenas do Di-retor de Escola, mas sob a liderança deste, oplanejamento deve ser elaborado e constante-mente avaliado por toda a equipe escolar, e é apartir dele que se desenvolvem os planejamen-tos específicos dos professores.

A gestão participativa é condição imprescindí-vel para a obtenção de bons resultados no pla-nejamento previsto, pois ela propicia o amplodebate em relação às questões surgidas, o flu-xo de informações, a transparência no uso dosrecursos e a busca coletiva de caminhos paraa superação das dificuldades. A cada ano, oplanejamento deve ser socializado para toda acomunidade escolar no sentido de acompanharseus desdobramentos e as estratégias paraum trabalho de sucesso.

Caro professor,

Após completarmos um ano de publicação de Nósda Escola fizemos uma pausa na distribuição darevista, acompanhando o recesso do mês de julho.Nosso trabalho continua, contando sempre comsua valiosa colaboração.

Todos os meses a sua revista estará esperando porvocê!

Atenciosamente,Equipe do Núcleo de Publicações

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2003 • N0 15 • 44 • N0 15 • 2003 ”

“ É difícil estar hoje nesselugar de autoridade, deeducador, de modelo. Oque podemos fazer?Penso que é importante,para começar, ter aconvicção de que esselugar, de professor, é seu

Recentemente o jornalO Globo publicou umaentrevista em que umapsiquiatra dizia que, nosúltimos anos, certasteorias psicológicas eeducacionais colaborarampara a idéia de que nãose pode frustrar a criança.A senhora concorda?Por quê?

Lucia - É preciso estar atentopara dois aspectos. Primeiro, paraa questão da divulgação do co-nhecimento científico e, segun-do, como ele é assimilado nosmeios não científicos e leigos.Não se pode dizer, estritamentefalando, que as teorias psicológi-cas “colaboraram” com a idéia deque não se pode frustrar umacriança porque nenhuma teoriapsicológica ou educacional diz ouinsinua tal visão. Neste sentido,não há esta “colaboração”. Nãose pode também ter controle to-tal de como certas teorias cientí-ficas serão assimiladas pelo pú-blico leigo porque a difusão nemsempre fica a cargo dos cientistase acadêmicos, mas dos profissio-nais de mídia e outros que fazemo trabalho de “traduzir” essas te-orias, tornando-as mais “pala-táveis” para o público, ou até fa-zendo seus próprios recortes doque deve ser divulgado ou não.Portanto, existe uma cadeia deressignificação das teorias entresua produção na academia atéchegar ao público em geral. Aoutra questão é que podemoshoje observar que existe realmentemuita indulgência no trato comas crianças, principalmente comcrianças de determinados seg-mentos sociais. Perguntam-noso que aconteceu com os pais e osadultos, em geral, que não se co-locam mais no lugar da autori-dade, abrem mão de sua funçãode educadores, vacilam quandotêm que dizer não e colocar limi-

tes nas crianças e nos jovens. Acho simplista dizer queforam as teorias psicológicas e educacionais que levarama esse estado de coisas. Penso que há, de uma maneirageral, uma crise de valores nas nossas sociedades. Os paise adultos se sentem, talvez, menos convictos de afirmarseus próprios valores frente aos filhos, já que o mundomudou tanto e não sabemos para onde vamos... Poroutro lado, a posição da criança no mundo tambémmudou muito. Isso se deve ao tipo de sociedade queconstruímos, baseada no consumo de bens e na pro-messa de felicidade e prazer a qualquer custo para qual-quer um, inclusive para a criança. Então, a criança, queantes era vista como um sujeito menos ativo e mais sub-metido à vontade dos pais e adultos, passa a ser vistacomo “cheia de vontades”, daquilo que quer e do quenão quer, buscando também seu próprio prazer. E aí osadultos se desorientam ainda mais, porque não sabemcomo lidar com mais essa novidade: se “cultivam” e achampositivo esse lado da “nova criança”- já que isso parecetão moderno -, ou se agem “como antigamente” se colo-cando do lado do saber. No primeiro caso, tratam acriança como um igual a eles, abrindo mão do lugar deautoridade como educadores; no segundo, evitam omal-estar gerado pelas grandes mudanças do nossomundo, as quais exigem que nós também mudemos.Portanto, não é o caso de sucumbir às pressões e ditamesda época, e nem de permanecer inflexível e parado notempo. Há que se refletir muito para poder enfrentar osdesafios que a nossa época nos coloca.

A senhora acredita que essa “educação semlimites” estaria na base da violência cometidapelos jovens hoje?

Lucia - Diria que “educação sem limites” é uma expres-são contraditória porque toda educação dá limites; opapel mesmo da educação é colocar limites, senão nãoseria educação. Se, como adultos, abrimos mão de darlimites, então estamos nos esquecendo da nossa funçãogeracional - sem a qual não existiria sociedade humana -que é de passar e transmitiràs gerações mais novas os va-lores que construímos e acre-ditamos. E é nesse sentidoque há imposição de limites,pois toda educação tem quedeslocar os sujeitos, ou seja,desposicioná-los de onde es-tão inicialmente para que“cheguem” a algum lugar. Di-gamos que seja um caminhoa percorrer, uma travessia do“eu para o outro”, já que as

crianças têm que chegar maisperto da posição dos adultos.Ou, dizendo de outra maneira,que as crianças se identifiquemcom os adultos, aceitem, pelomenos em parte, ou com reser-vas, o legado que os adultos têma transmitir. E aí vejo uma vio-lência, no sentido simbólico, éclaro. Você fala de violência nasua pergunta, mas de outra vio-lência, a violência atuada. Aquiestou falando que toda educa-ção tem um lado violento, pelodeslocamento que temos que fa-zer frente ao outro. Nisso há umalimitação ao que queremos e de-sejamos. E sem isso, por incrívelque pareça, o que impera é a vio-lência atuada, da qual você fala.A violência que ocorre pela fa-lência nas identificações, por cadaum achar que é mais “soberano”do que o outro, que ninguém“deve nada a ninguém”. Essa vi-olência, certamente, tem a vercom a falta absoluta de limites,de modelos e de identificações.

Em que medida a psicologiapode contribuir para acompreensão dos desafiosque se apresentamatualmente na relaçãoprofessor-aluno?

Lucia - Todos nós, professores,fomos aquinhoados com umadura tarefa nos nossos dias. Se háum mundo em transformação,

Estabelecer limites. Sem dúvida, uma tarefa difícil. De um lado,

adultos em dúvida sobre seus valores e sua posição de autoridade

frente a crianças e jovens. De outro, crianças e jovens que parecem

cada vez mais certos daquilo que querem ou não. Diante desta

situação, o que fazer? Questão complicada, mas que tem sido alvo

de reflexão por parte de estudiosos de várias áreas do conhecimento.

“Se, como adultos, abrimos mão de dar limites, estamos, então,

nos esquecendo da nossa função geracional - sem o que não existiria

sociedade humana - que é de passar e transmitir às gerações mais

novas os valores que construímos e acreditamos”, observa Lucia

Rabello de Castro, coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de

Pesquisa e Intercâmbio para

Infância e Adolescência

Contemporâneas (Nipiac),

da UFRJ, e professora da

pós-graduação do Instituto

de Psicologia da mesma

universidade. Nesta

entrevista, Lucia e

Renata Alves de

Paula Monteiro,

assistente de

pesquisa do Nipiac,

discutem, entre

outros assuntos,

os desafios que

atualmente se

impõem à relação

professor-aluno.

4 • N0 15 • 2003

O desafio de exercitara autoridade

Renata Alvese Lucia Rabellode Castro

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2003 • N0 15 • 55 • N0 15 • 2003

”“A capacidade deescutar o outro não édada, é aprendida. A

escola pode ser o lugarde tornar possível essa

aprendizagem

não podemos escapar nem paraa celebração do passado, nempara “deixar rolar” o presente,porque está muito difícil tomarposições. A nossa posição é difi-cílima porque, muitas vezes, semtermos absoluta certeza, temosque assumir posições frente aosjovens e crianças. É muito difícilestar hoje nesse lugar de autori-dade, de educador, de modelo,pelas razões de que falei acima.O que podemos fazer? Penso queé da maior importância, para co-meçar, ter a convicção básica deque esse lugar - o de professor - éseu. Isso significa estar ali porquese gosta, porque se tem prazerem educar, porque se vê algumsentido nesta tarefa. E por queisso seria tão importante? Porquese trata da base sobre a qual todatarefa do professor é construída.Quer se trate de crianças, jovensou adultos jovens, toda educa-ção passa por uma construçãoafetiva com “alguém” que estánum outro lugar onde o edu-cando quer chegar. Pelo menosesse parece ser o caminho para seformar sujeitos dentro do quechamamos e reconhecemoscomo sensibilidades humanas.Não sei como seria, dando umexemplo de ficção, se crianças ejovens, num determinado mo-mento, fossem educadas pormáquinas. Certamente, seriamoutros sujeitos humanos, comoutras sensibilidades as quais hojenem poderíamos prever ou co-

aquilo que pode gerar desconfor-to e mal-estar. Então, há que seidentificar o problema e buscarmeios de tornar essa escuta, queconfronta o sujeito com a dife-rença, possível. A capacidade deescutar o outro não é dada, éaprendida. A escola pode ser esselugar de tornar possível essaaprendizagem tão necessária nosdias de hoje, tão necessária comosaber ler, escrever e contar.

Qual a relação entre“fracasso escolar” eindisciplina?

Lucia - Fracasso escolar, a meuver, é o resultado de múltiplos fa-tores. Se os modelos identifi-catórios de pais e professores dei-xam de estar vigentes, se as crian-ças, por vários motivos, não con-seguem se relacionar com a escolae com os professores além dainstrumentalidade, se os profes-sores também não vêem seu tra-balho como “o seu lugar a cons-truir no mundo”, ou se a socieda-de não valoriza o conhecimento,então o fracasso escolar parece ser“a resposta” a esse estado de coisas.Estado de coisas que expressa afalência da autoridade, o descasoe o desprezo com valores como oconhecimento, e a abdicação dafunção do educador. Então, porindisciplina, estou entendendonão apenas o aluno indisciplinado,mas os pais indisciplinados, a es-cola mal posicionada, os professo-res “sem querer saber de nada”, asociedade indisciplinada e selva-gem que não sabe ou não quer seposicionar frente ao que realmen-te importa para a construção demelhores dias para todos.

Situações que sempreforam de responsabilidadeda família estão, cada vezmais, sendo delegadas àescola. Esta, por sua vez,se vê obrigada a dar contade questões que fogem a

uma pessoa, como um ser huma-no. Neste sentido, a escola devepromover não só o acesso à diver-sidade, mas também a discussãoem torno desta questão.

O professor deixou deser o transmissor deconhecimentos para setornar o mediador doprocesso de constituiçãode conceitos,conhecimento e valores,incentivando o debate ea autonomia. Nessesentido, que limites eleprecisa estabelecer paraque a dinâmica em salade aula se desenvolvaplenamente?

Lucia - Seria fundamental queessa dinâmica pudesse desenvol-ver a capacidade de todos de seescutarem uns aos outros. Hoje,há uma falência na escuta verda-deira; todos querem ser ouvidos,mas ninguém quer escutar o ou-tro. Escutar o outro demanda,em primeiro lugar, dar tempo aooutro. É necessário modificar - eisso é muito difícil - o ritmo emque vivemos, da pressa, da velo-cidade, da impaciência. O outrosempre se expressa num ritmo“outro”, ou seja, que não é o nos-so. Portanto, escutar o outro sig-nifica “aprender” a conviver coma diferença. Algumas vezes, nonosso trabalho com jovens e cri-anças em escolas e outras institui-ções, quando fazemos grupos dediscussão sobre suas vivências nacidade, constatamos que a tarefado grupo não pode ser alcançadapor esse motivo: as crianças nãose escutam, mas gritam umas comas outras o tempo todo, se ba-tem, e é muito difícil prestarematenção quando alguém fala.Então a tarefa acaba por ficar sen-do essa mesma - “a de aprende-rem a se escutar”. Algumas vezestambém só se escuta o que sequer. Há uma recusa em escutar

sua função. Diante deste quadro, quecaminhos tomar?

Renata - Uma característica do contemporâneo temsido o esvaziamento, a desertificação do espaço privadodo lar, da casa. Cada vez mais as crianças têm se encontra-do sozinhas, na companhia apenas da TV, do computa-dor. A casa também tem se transformado em um lugar depassagem, onde muitas vezes somente se come, tomabanho, dorme. Creio que isso tem trazido efeitos e a esco-la tem tido a necessidade de se adaptar, mas não vejo issocomo algo necessariamente negativo. Com o esvaziamentoda casa, a escola deve, nesse sentido, ser não só um lugarrestrito ao saber formal, mas também um lugar que possadar conta da experiência de crianças e jovens na rua, possaestar valorizando um conhecimento adquirido no cotidi-ano, função antes exercida pela família. A família tinha afunção de prover esses sujeitos em relação aos códigos daexperiência urbana, para que então as apreensões pudes-sem se configurar em um aprendizado. Cabe à escola setornar mais maleável para que crianças e jovens façam oexercício de uma outra aprendizagem neste espaço.

Pode-se avaliar a repercussão da crescentepreocupação com a violência nas grandescidades pela capacidade de crianças e jovensapropriarem-se dos espaços urbanos?

Renata - A experiência de apropriação da cidade, dese tornar cidadão, se dá de maneira caótica, informal.Para isso, é preciso que crianças e jovens possam estarvivendo isso. Lógico que algo é previamente transmi-tido pelos pais, pela família; mas para poder dar umsentido a essa experiência, é necessário “sofrer a experi-ência”. Neste sentido, a violência se coloca como umempecilho. Em nosso projeto “Oficinas da Cidade”,no qual as crianças e os jovens foram convidados arefletir sobre sua experiência na ci-dade, pudemos observar falas quecolocam claramente isso. É inte-ressante notar que essas falas mui-tas vezes são repetições da fala deseus pais, pois o medo muitas ve-zes é dos pais. É importante queeste medo possa ser falado, discu-tido, mas que não tenha um efeitoparalisante na vida destes sujeitose na sua conquista da cidade. Éimportante que a família se unaà escola no sentido de fazer comque isso aconteça da melhor ma-neira possível.

Lucia - Em todas as épocas da his-tória humana algumas situações ti-veram o poder de gerar muito

nhecer. Enfim, o que quero dizer éque o processo do conhecimento seproduz, no estado atual da nossa ci-vilização, como um processo inter-subjetivo entre pessoas, onde umaestá encarregada de representar - essanoção é importante - os outros, a so-ciedade, a humanidade. É como sedissesse: “eu aqui (professora) não faloisso (os conteúdos) em meu nome,mas em nome de muitos”, “eu estou

aqui porque represento o que construímos e temos a legar avocês (alunos)”. Portanto, é nesse sentido que o lugar deprofessor(a) tem que ser considerado pelo próprio - de seestar ali convicto de querer e poder realizar tal tarefa. E nãoapenas no sentido instrumental: “estou aqui para ganhar omeu dinheiro”, por exemplo, porque senão a ins-trumentalidade fica sendo também a arma do educando:“estou aqui para pegar o meu diploma da maneira mais fácilpossível”; “estou aqui para comer a merenda” etc. O grandedesafio a evitar na relação professor-aluno seria, a meu ver, ainstrumentalização desta relação, em que cada envolvido“usa” a relação não como um fim em si mesmo - o doconhecimento -, mas como meio. Com isso, não querodizer que os professores não tenham que batalhar por me-lhores condições de trabalho, remuneração etc., já que setrata de sua sobrevivência. Quero dizer que essas lutas nãodevem confundir a opção fundamental que a posição deprofessor(a) requer - a de fazer do lugar de professor(a) o“seu” lugar no mundo.

Em que medida uma escola que não respeitaa diversidade favorece o comportamentoviolento de alunos e professores?

Renata - A escola possui uma importante função, nãosó enquanto lugar do saber formal, mas também pelo seupapel de mediadora de relacionamentos. Em nossa pes-quisa, pudemos observar que a escola possui uma grandeimportância na fala de crianças e jovens enquanto espaçode convívio coletivo. É o primeiro lugar coletivo que acriança aprende a ocupar, em contraposição ao espaçoprivado, familiar da casa. A diversidade está presente nacidade e as crianças e os jovens são sensíveis a essa diversi-dade. No entanto, no horizonte da cidade, isso podeacabar aparecendo de forma um pouco caótica. A escolatem a possibilidade de ajudar esses sujeitos a darem senti-do a esta diversidade, a elaborarem não só intelectual-mente mas também afetivamente esta diversidade. Mui-tas vezes, conviver com a diversidade não é fácil, poden-do gerar angústia, insegurança, e até mesmo violência.Esta violência talvez venha de um grande distanciamentoentre a criança e este outro diferente, uma impossibilida-de de até poder pensar neste outro como um igual, como ”

“Com o esvaziamentoda casa, a escola deveser não só o lugarrestrito ao saber formal,mas também um lugarque possa dar contada experiência decrianças e jovens narua e que valorizeo conhecimentoadquirido no cotidiano

medo nas pessoas. É claro queessas situações variaram de acor-do com a época. Por exemplo, omedo de desobedecer ao rei, omedo das intempéries, o medodo castigo divino etc. Parece quena nossa época - como sujeitoscontemporâneos e urbanos - onosso grande desafio é vencer omedo de andar pela rua e ocupara cidade. Esse medo é objetivo,pois todos sabemos dos riscos quecorremos. Por outro lado, comodizem os jovens - e aqui pode-mos aprender com eles - se nãocorrermos esse risco, não só nãoaprenderemos a lidar com o pe-rigo, como também ficaremos“presos em casa”. Gostaria deenfatizar isso: se ficarmos parali-sados pelo medo, perderemos a“liberdade” - de ir e vir, que gra-ças a muitas lutas foi conquista-da, e da qual hoje podemos usu-fruir. Portanto, o preço da liber-dade é, e sempre foi, a coragemde arriscar-se. Não há outra saí-da. Assim, o que podemos fazernão é abdicar dessa liberdade,mas nos fortalecer para que nãoapenas os riscos desnecessáriossejam evitados, mas para que pos-samos exercer a coragem em tem-pos sombrios e difíceis.

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Planejamento: trabalho de preparação

para qualquer empreendimento,

segundo roteiro e métodos

determinados; processo que leva ao

estabelecimento de um conjunto

coordenado de ações visando à

consecução de determinados

objetivos. A definição transcrita do

Dicionário Aurélio Século XXI para

o termo planejamento pode ser

aplicada sem grandes adaptações à

rotina de qualquer profissional.

Você já pensou, por exemplo,

como um gerente de hotel,

um médico - que trabalha em

diferentes lugares - ou um

engenheiro - que precisa

coordenar a distribuição de

bebidas na cidade do Rio de

Janeiro - planeja o seu cotidiano

profissional? E o dia-a-dia de um

músico ou de uma equipe de

arquitetos que tem como

desafio criar um modelo

de escola padrão?

A equipe Nós da Escola

foi atrás destes profissionais

e resume, abaixo, como eles

se organizam,

dividem seu tempo

e planejam suas

atividades.

Trabalho na RioUrbe. Sou Coordenadora de ProjetosEspeciais. Participei da elaboração do projeto NovaEscola Padrão, que visa à construção e moderniza-ção de escolas da Prefeitura do Rio com base emuma nova concepção de ensino e de arquitetura. Fo-ram aproximadamente três meses de planejamento.Reunimo-nos com a Secretaria de Educação, com oInstituto de Nutrição Annes Dias e com a comunida-de local para levantar as necessidades de cada seg-

mento. Consultamos também algumas publicações, como o Manualpara Projetos Escolares, do Instituto Pereira Passos. Com todas estasinformações, chegamos a uma conclusão e definimos, sob o ponto devista físico, a escola padrão. Feito isto, a RioUrbe então abriu licitaçãopara que as obras fossem iniciadas. Estão sendo construídas, no mo-mento, dez novas escolas. Neste segundo semestre, deverão estar pron-tas cerca de três unidades. São escolas que têm, por exemplo, ponto detelevisão e vídeo em cada sala de aula, sistema de ventilação e paredesde tijolos de vidro para melhorar a iluminação, e que garantem totalacessibilidade a alunos portadores de necessidades educativas especi-ais.Teresa Rosolem de VassimonCoordenadora de Projetos Especiais da RioUrbe

Participo de gravaçõesde CDs de vários artis-tas, dou aulas de mú-sica e também trans-crevo partituras. Porconta disso, antes demais nada, preciso cui-dar da manutençãodos instrumentos queutilizo no dia-a-dia domeu trabalho (violão e guitarra). Se estãoafinados e apresentando um bom som,por exemplo. Além disso, tenho que es-tar lendo e estudando sempre mais, adap-tando os conteúdos das aulas de músicade acordo com o interesse e a realidadedos estudantes. Para dar conta de tantoscompromissos, que às vezes surgem deuma hora para outra, faço uso contínuoda agenda. É imprescindível. Tem dias emque fico seis horas dentro do estúdio gra-vando. Portanto, tenho que me planejarcontinuamente para dar conta tanto davida profissional quanto da particular. Ge-ralmente, faço um planejamento sema-nal, mas que na prática acaba sendoreformulado de acordo com novos com-promissos que surgem.Fernando CanecaMúsico

Não uso mais agendapara planejar o meudia-a-dia. Uso mesmoum calendário, do ta-manho de uma folhade papel, onde tenhoa possibilidade de vi-sualizar o meu cotidi-ano mensal de formaglobal. Por conta da

minha profissão, cada dia estou em umhospital e em um local diferente. Souresponsável pela elaboração do laudodos exames dos pacientes. Assim queeu chego aos hospitais pego os exa-mes que estão à espera de laudos. Temdias em que trabalho em Madureira;outros em Botafogo, Duque de Caxias eCampo Grande. O carro para mim é uminstrumento de trabalho indispensável.Entre um trabalho e outro, quando te-nho tempo, me dedico ao estudo da áreade Radiologia, minha especialidade.Portanto, ando sempre com um livro nabolsa. Todo dia à noite dou uma olhadano calendário para me certificar do querealmente farei no dia seguinte. Casocontrário, corro, sim, o risco de trocar oscompromissos.Janaína Freitas SeixasMédica, especialista em Radiologia

Na empresa em que trabalho gerencio uma opera-ção de distribuição de bebidas, que envolve 400 ca-minhões e sete depósitos. Portanto, organização éfundamental. Tenho uma rotina de reuniões sema-nais que preciso fazer com a equipe. Para agilizar otrabalho, essas reuniões têm dia e hora marcados.Os temas de algumas delas são fixos, já que há anecessidade de acompanhar sistematicamente as fa-ses da operação. Nos outros dias eu visito clientes,me reúno com os transportadores para tratar de ques-tões pontuais e faço outras atividades necessárias ao andamento daoperação. Tenho um fichário onde registro tudo que acontece. Nestefichário ponho também a minha agenda semanal, o planejamento anualestipulado para a minha área, além de todos os telefones de que pre-ciso. As informações que lanço nesse fichário me ajudam na hora defazer a avaliação do andamento da operação e da equipe.Paulo Gaspar RodriguesEngenheiro

Gerencio um hotel. Para isso, tenho que estar o tem-po todo prestando atenção em diversos serviços,atividades e procedimentos, desde os mais simples,como a limpeza dos andares e dos quartos, até asquestões mais gerais, como a administração finan-ceira do hotel, que inclui o pagamento dos funcioná-rios e das despesas. Todo dia percorro os setores dohotel. Converso com os funcionários para saber setudo está caminhando. Confiro se há falta de algummantimento na cozinha ou de algum material de lim-peza, se as roupas do quarto, por exemplo, já foram encaminhadas àlavanderia ou se já chegaram dela, se os equipamentos eletrônicos eelétricos dos quartos estão em perfeito estado. É um conjunto deinformações que deve ser checado diariamente para o bom andamen-to do hotel. Cada procedimento é importante. Esta é a minha rotina, omeu plano de trabalho diário; de certa maneira, é uma forma de preven-ção contra os imprevistos, que, na prática, acabam acontecendo.Carlos TuñasAdministrador

Aliado na rotinaprofissional

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ade Juventude armada, uma

realidade brutal

Sejam vítimas ou protagonistas decenas de criminalidade, as crian-ças e os jovens estão cada vez maisenvolvidos com a violência urba-na das grandes cidades. De 1980a 2000, por exemplo, o númerode homicídios praticados no esta-do do Rio de Janeiro por adoles-centes, na faixa etária de 15 a 24anos, aumentou 435%. Em2000, foram assassinados nadamenos do que 2.500 jovens. Osdados são do Centro de Estudosde Segurança e Cidadania daUniversidade Candido Mendes(Cesec/Ucam). A socióloga JulitaLemgruber, responsável pelo cen-tro e ex-diretora do Departamen-to do Sistema Penitenciário do Es-

tado do Rio, afirma que o Rio de Janeiro está diante deum quadro dramático, vivendo situações semelhantes àsde países que estão em guerra: “São jovens que morremem virtude do enfrentamento entre facções rivais ou des-tas em combate com a polícia, sem falar daqueles que sãovítimas da própria violência da cidade. O número dejovens desta faixa etária está diminuindo drasticamente.É uma realidade brutal”. Realidade que assusta e que,indiscutivelmente, gera reflexão, mas que também enco-bre uma outra situação igualmente preocupante: a faltade atenção em relação àqueles meninos e meninas queestão driblando as dificuldades de forma lícita e saudável.

Este debate também ganha eco nas escolas. De acordocom pesquisas norte-americanas, para os jovens, levaruma arma para a sala de aula significa impor respeito aosdemais colegas, proteger-se e defender-se. A Unesco re-alizou em 2000 uma ampla pesquisa com jovens brasi-leiros. Eles se mostraram conscientes do poder de agres-são e de intimidação das armas de fogo, mas também, eprincipalmente, das chamadas armas brancas - objetoscortantes, como faca, tesoura, canivete e estilete. Apro-ximadamente 51% dos jovens entrevistados afirmaramque já tiveram ou têm uma arma de fogo, a exemplo deseus pais e familiares. E 67% disseram que as armas - defogo ou não - são acionadas constantemente nas depen-dências das escolas. O que contribui para disseminar o

sentimento de insegurança, jus-tificando, não só na escola masem qualquer lugar da cidade, oseu uso e a sua adoção como ins-trumento de defesa.

E de trabalho também - como ana-lisou Luke Dowdney, antropólo-go e pesquisador do Instituto deEstudos da Religião (Iser). Em fe-vereiro deste ano, Luke publicouo livro “Crianças do tráfico” (Edi-tora Sete Letras), resultado de umestudo de caso com crianças “emsituação de violência armada or-ganizada” em três favelas do Riode Janeiro. Ele constatou que asarmas hoje são facilmente adqui-ridas e utilizadas pelas crianças:“De 1980 a 1985, o número dearmas ilícitas aumentou conside-ravelmente no Rio de Janeiro. Até2000, cerca de 10 mil foram apre-endidas pela polícia, entre elasarmamento bélico. Hoje, as armasestão mais acessíveis e podem sermanuseadas sem dificuldades.

Não é preciso muito conhecimen-to. Treinamento é bom, mas nãoessencial”.

Status - De acordo com seu es-tudo, as armas conferem statusàqueles que as usam e exibem. Oseu uso passa a ser símbolo depoder e de masculinidade. “Cer-ta vez, um jovem que trabalhadiretamente no tráfico me disseque aos 12 anos havia sido es-pancado. A partir do momentoem que entrou para o tráfico ecomeçou a usar armas podero-sas, o jovem jurou para si mesmoque nunca mais ninguém iriaespancá-lo. Seria chamado de se-nhor. Foi exatamente o que acon-teceu. Com certeza, não por res-peito, mas por medo.”

O uso cada vez mais constantede armas por parte de crianças ejovens está ligado à chamadacultura da violência, que impe-ra nos grandes centros urbanos.Cultura que acaba reproduzin-do um clima de insegurança, demedo e de violência, identifica-dos em qualquer classe social.Luke destaca que há tambémuma boa parcela de jovens declasse média, por exemplo, fre-qüentando academias, pratican-

do exercícios de musculação, esportes marciais e lutas -modificando seus corpos por meio de esteróides. “Que-rem mostrar sua masculinidade por meio da força físi-ca. Isso acontece em virtude dessa cultura da violência,onde as pessoas só podem e só conseguem resolverseus problemas recorrendo à violência, à criminalidadee às armas. Uma cultura que apresenta a violência comoa opção legítima, que pode e deve ser usada para con-ciliar e solucionar qualquer tipo de problema, dificul-dade e desigualdade social.”

Para a socióloga Julita Lemgruber, a desigualdade soci-al é, sim, o principal fator que desencadeia toda essacultura de violência na sociedade e que acaba, portan-to, influenciando o dia-a-dia das crianças e dos jovens:“Os adolescentes acabam se envolvendo com acriminalidade e com a violência por falta de perspecti-vas de vida. A criminalidade, muitas vezes, oferece oque a sociedade está negando para os jovens. A chanceque os nossos adolescentes têm hoje de qualquer tipode ascensão social é muito reduzida. Eles, então, en-contram no tráfico, nos meios ilícitos, uma fonte ren-tável e um espaço convidativo para reproduzir a vio-lência. Sabem que diante desta vida têm uma expecta-tiva de vida pequena. Portanto, não estão preocupa-dos nem um pouco em correr riscos”.

Minoria - Mas quem estuda o assunto também desta-ca que, embora o envolvimento de crianças e jovenscom a violência venha aumentando consideravelmen-te, não é correto afirmar que estamos diante de umajuventude armada e violenta. Estamos, sim, diante deuma sociedade armada e violenta em todo o planeta.Koïchiro Matsuura, diretor-geral da Unesco, resume:“Os jovens apenas reproduzem na escola e no seu dia-

a-dia as violências e tensões domundo”.

Mesmo aqueles que estão traba-lhando diretamente no tráficode drogas e que, portanto, an-dam armados e vivenciam dia-riamente cenas de violência sãominoria, como explica o antro-pólogo Luke: “No nosso levan-tamento, apenas 2% das crian-ças e dos jovens que moram nascomunidades pesquisadas estão,de fato, envolvidos com o ar-mamento pesado. Portanto, aocontrário do que se pensa, trata-se de um pequeno grupo, comforça e poder, sim, mas que nãopassa de uma minoria”.

Exatamente o que vem consta-tando o professor e cientista po-lítico da Universidade do Esta-do do Rio de Janeiro (Uerj), JoãoTrajano Sento-Sé: “É verdade. Seconsiderarmos o total da popu-lação que vive em favelas e co-munidades pobres do Rio, ocontingente de jovens envolvi-dos nas redes de tráfico é bempequeno. E o que percebo comapreensão é que a sociedade nãoestá dando a devida atenção àgarotada que não está envolvidacom a violência, com a crimina-

Especialista alerta para

a desatenção com os

jovens que driblam as

dificuldades sem

recorrer à violência

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Apostar em uma educação inclusiva é garantir o acesso e o processo deinclusão de estudantes com necessidades educacionais especiais emuma rede de ensino regular - da Educação Infantil ao Ensino Supe-rior. É buscar uma pedagogia diferenciada e adaptações curricularesque atendam adequadamente a estes alunos, reconhecendo que cadaum deles tem características, interesses, capacidades e necessidades deaprendizagem que lhe são próprias.

Sem dúvida nenhuma, uma política que requer, por parte das escolas,compromisso e dedicação. No dia-a-dia das escolas da Prefeitura,algumas unidades vêm trabalhando nessa perspectiva e descobrindoque, mais do que um desafio, trata-se de uma prática que auxiliaprofessores, alunos e pais a refletirem e repensarem valores e conceitos.Mudança de atitude que colabora para a constituição de uma socieda-de cidadã.

Há exatamente um ano, a Escola Municipal Marcílio Dias, em Brásde Pina, Zona Norte do Rio de Janeiro, iniciou um trabalho nesse

Equipe da Escola Municipal Marcílio Dias comemoraêxito do trabalho de integração de aluna cega

Inclusão: refletindo valores,repensando conceitos

sentido quando matriculou umaaluna com necessidades edu-cacionais especiais em uma tur-ma regular. Mesmo receosa, aequipe da escola acreditou naproposta da educação inclusiva.Pediu auxílio, fez parcerias e bus-cou novas práticas. O êxito destetrabalho é hoje comemorado portoda a comunidade e, principal-mente, pela protagonista destahistória: Natália da CunhaMedeiros, 10 anos.

Vaidosa, como as meninas de suaidade, Natália está sempre comalgum enfeite no cabelo e unhas

O Projeto Protagonismo Juvenil (PJ) dos Pólos de Educaçãopelo Trabalho da Secretaria Municipal de Educação do Rio deJaneiro (SME) pretende desenvolver a capacidade de reflexãocrítica do aluno, bem como a percepção de seu papel de agentetransformador de sua própria história. As oficinas de PJ foramimplantadas no Pólo em função de um dos objetivos maisimportantes deste programa: contribuir na formação decidadãos críticos, participativos e, antes de tudo, solidáriose capazes de perceber no outro um aliado maior para atransformação de nossa sociedade.

Como este projeto não está vinculado a uma disciplina ou aconteúdos específicos, ele permeia todas as formas delinguagem e se abre a todas as possibilidades de interaçãoentre conhecimento e vida. Tenta percorrer processossingulares de criação, reflexão, experimentação e pesquisa pormeio de propostas que estabeleçam elos entre elementosespecíficos da prática educativa e o cotidiano do aluno. É otrabalho, entendido como fazer concreto, experiência vivida econsciente, que abre caminhos para a construção deconhecimento e constituição de autonomia.

A ênfase deste processo gira em torno de dinâmicas quepossibilitem a ação e experimentação do aluno, o que traz àtona todas as formas de relação que o indivíduo estabelece como outro e com o mundo, permitindo-lhe, assim, um diálogointerno de autodescobertas. A reflexão, portanto, está presenteem todos os momentos da experimentação, seja na observação,na imaginação ou na ação propriamente dita. A atitudeinvestigadora que examina, que explora, que analisa, conduz a

questionamentos que levam a descobertas de novas respostas,capazes de despertar a coragem de inventar caminhosalternativos e soluções não convencionais. Este processoatua diretamente na auto-estima do aluno, que percebe seupoder de intervir na realidade manipulando seus elementos,analisando-os, levantando hipóteses sobre eles, imaginando-lhesnovos encaminhamentos, colocando-os em prática, dando-lhesum formato concreto, observável e possível de ser avaliado.

Acreditar na ação protagonista do aluno é convidá-lo a discutircoletivamente os rumos e as dificuldades sentidas no decorrerda oficina numa prática de organização e condução da própriaexperiência, fundamental para o exercício da cidadania.Aposta-se num fazer pedagógico prenhe de sentido esignificado, discutido, fruto e/ou provocador de reflexões quepossam ampliar conceitos, visões e opiniões. O poder deinterferir na realidade se torna evidente quando é vivido nasdecisões tomadas coletivamente. O professor, tambémprotagonista deste processo, deve garantir o respeito àsdecisões tomadas e rediscuti-las sempre que perceber talnecessidade. O sentido de compromisso e responsabilidade detodos se fundamenta na clareza de que rumos do trabalho sãoconstruídos a partir das escolhas e das ações do coletivo. Ébuscar no coletivo o conhecimento de si mesmo e, por meio docoletivo, transformar-se, transformando-o.

Professoras Eliane Cerqueira e Maria José LourençoPólo de Educação pelo Trabalho - Escola Municipal Sérgio Buarque

de Holanda, Barra da Tijuca, Zona Oeste, Rio de Janeiro.

lidade. Na garotada que não sevale destes meios para sobrevi-ver. Ou seja, da grande massa dejovens que ainda está apostandotodas as suas fichas na busca deuma qualidade de vida por mei-os lícitos. É preciso, sim, criar edesenvolver projetos que invis-tam nestes jovens que são muitomais numerosos”.

Qualificação - João Trajano foicoordenador do Curso de For-mação em Cidadania e Direi-tos Humanos para Jovens Li-deranças, oferecido pelo Insti-tuto Brasileiro de Inovações emSaúde Social (Ibiss). O projeto,destinado a adolescentes de co-munidades pobres da regiãometropolitana do Rio de Janei-ro, tem o objetivo de qualificarestes jovens - justamente aque-les que geralmente são coopta-dos pelo tráfico de drogas.

“Constatamos que muitos adolescentes não optampela criminalidade, pelo uso das armas, pelo tráfico,porque têm a chance e a sorte de cruzar, por exemplo,com um programa social com o qual se identificam.Todos nós temos necessidade de pertencer a um gru-po e ser aceito por ele. Uma facção, por exemplo, émuitas vezes vista pelos jovens como um grupo deamigos, um time, que vai lhe conferir identidade den-tro de sua comunidade. Portanto, é preciso oferecer aesses jovens projetos que os atraiam. O garoto que temessa chance não se arrepende. Ele passa a fazer partede um projeto. E fazendo parte deste projeto passa ater um projeto de vida e será mais um aliado contra aviolência.”

João explica que quando um adolescente participa deum movimento social, está ligado a determinada ati-vidade artística ou esportiva - é, por exemplo, umgrafiteiro, joga capoeira, desenvolve a linguagem tea-tral na escola - , ele incorpora este pertencimento comoum dado relevante na constituição de sua identidade,na sua vida: “O que faz total diferença. Os jovensquerem reconhecimento. Eles precisam, como nós,adultos, que alguém chegue e fale que eles são bonsem determinada área. Temos uma juventude que é

vítima da violência e do medo.Sendo vítima, ela acaba com-partilhando determinadas prá-ticas, muitas vezes negativas. Osíndices de atos violentos envol-vendo jovens são maiores doque gostaríamos. Isso tudo é re-sultado de uma forte degrada-ção da sociabilidade civil”.

De acordo com o sociólogoLuke, é preciso, mais do quenunca, que a sociedade e, prin-cipalmente, as escolas incenti-vem a cultura da paz. É neces-sário mostrar para os jovens quea paz é a opção mais acertadapara os relacionamentos, sejameles pessoais ou profissionais.Mas não é só isso: “É tambémfundamental que se ofereçam aeste jovem educação de quali-dade e oportunidades no mer-cado de trabalho e de participa-ção em projetos sociais.

Natália estátotalmenteintegrada à

turma daMarcílio Dias

Secretaria de Educação investe em oficinas para juventude

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pintadas. Suas melhores amigas são Bruna Lobato e Priscila Rebelo.Andam sempre juntas, brincam e dividem segredinhos na sala deaula. Quando não está na escola, se diverte com os desenhos anima-dos da TV e com suas bonecas. Também se dedica ao estudo dalíngua inglesa, em um curso perto de sua casa. Nos finais de semana,passeia com os pais e com as primas. Vão ao shopping, ao cinema ousaem apenas para fazer um lanche. Uma vida com que Natália - cegadesde os três meses de idade - sempre sonhou. Sonho que tornou-serealidade há pouco mais de um ano, quando sua mãe, Dalva Clara daCunha Medeiros, e seu pai, Robson Santa Rosa de Medeiros, resolve-ram matriculá-la na Escola Municipal Marcílio Dias, em Brás de Pina,bairro da Leopoldina, Zona Norte do Rio de Janeiro.

Tomada de decisão familiar nada fácil. Pelo contrário, difícil e sofrida.Natália estudava, há nove anos, no Instituto Benjamin Constant,referência nacional no ensino de deficientes visuais. Lá, contava comuma excelente infra-estrutura, tanto de profissionais quanto de recur-sos, mas que, na opinião de sua mãe, cerceava o seu desenvolvimento,crescimento e liberdade: “Natália estudava em horário integral e sórelacionava-se com crianças e adolescentes que tinham problemas devisão. A rotina era sempre de casa para o instituto e do instituto paracasa. Natália reclamava que não tinha uma vida normal, uma vida deuma criança de sua idade. Aquela situação me deixava angustiada.Mas tirá-la do instituto, conhecido nacionalmente por sua excelência,e matriculá-la em uma escola do da Prefeitura do Rio que promovesseuma educação inclusiva seria a melhor solução? Tirá-la de uma turmade seis alunos deficientes visuais para uma de 30, todos normais, seriauma boa opção?”

Dalva apostou que sim depois que recebeu indicação de uma amiga econversou com Ieda Lane, professora itinerante do Instituto HelenaAntipoff, da SME, lotada na 4ª Coordenadoria Regional de Educa-ção (CRE). Ieda, especializada em Educação Especial, explicou aDalva que Natália, uma vez alfabetizada, faria parte de uma turmaregular da 3ª série do Ensino Fundamental. Duas vezes por semana,fora do horário escolar, a menina receberia apoio em uma sala derecurso, onde seriam desenvolvidas adaptações para a sua autonomia.Além disso, Natália também receberia, em sua escola, a visita da pro-fessora itinerante. Na ocasião, Ieda indicou a Escola Municipal MarcílioDias, que ficava próxima à casa de Natália. Mesmo receosa do resulta-do do trabalho, Dalva deu sinal verde.

Receio que, na verdade, também partia da própria escola. Afinal,segundo a diretora Maria Virgínia Corrêa, a unidade nunca haviamatriculado uma criança com necessidades educacionais especiais.Jaqueline Freire Mendes, escolhida para ser a professora de Natália,confessa que inicialmente também ficou assustada com o desafio, masprocurou estudar de que maneira poderia trabalhar com Natália. “Ede nenhuma maneira subestimei a sua capacidade por causa da suadeficiência visual. Pelo contrário, tratava Natália como mais uma alu-na. Aluna que requeria, sim, uma atenção diferenciada, como os de-mais estudantes. Apenas isso, nada mais”.

Planejamento coletivo - Pensando assim, Ieda e Jaqueline elabora-

ram um planejamento coletivoque desse conta da deficiência vi-sual de Natália e possibilitasse,cada vez mais, sua autonomia emsala de aula. Ao iniciar o trabalho,as professoras perceberam que aaluna tinha, sim, uma deficiên-cia, mas que, na prática, em nadaprejudicava o seu processo deaprendizagem. A menina já ha-via sido alfabetizada em braile, liae escrevia sem maiores problemase portanto podia freqüentar a 3ªsérie do Ensino Fundamental.No entanto, era preciso dar sen-tido a todas as atividades desen-volvidas na sala de aula, auxiliarNatália a compreender todos osconceitos trabalhados - direitode todos.

Sendo assim, ao ler uma histó-ria, por exemplo, Jaqueline uti-lizava materiais em braile, bemcomo recursos multissensoriais(como maquetes e fantoches)que facilitassem a compreen-são da história ou do temaabordado. Ao mesmo tempo,na sala de recurso, Ieda inves-tia em atividades que favoreci-am o desenvolvimento de ou-tros sentidos, como o olfato e o

entre as professoras Jaqueline eIeda. Até hoje, as duas reúnem-se semanalmente. Juntas, avali-am a melhor forma possível dedar significado aos conheci-mentos e às atividades da salade aula, propiciando, ao mes-mo tempo, recursos e adapta-ções para que Natália seja cadavez mais independente no seudia-a-dia.

Potencial que nunca foi postoem dúvida pelos seus profes-sores, muito menos pelos seuspais - o que, na opinião dasduas educadoras, foi essencialpara o crescimento e para aauto-estima da menina. Se hojeela tira bons conceitos nas ava-liações escolares, faz curso deinglês, fica sozinha em casaenquanto seus pais trabalham,é por iniciativa própria, forçade vontade, determinação econfiança em si mesma. “A Na-tália é uma pessoa superlegal.Uma grande amiga. Uma gran-de aluna. É apenas cega. É sóisso. Gosto dela desse jeito. Etodos nós devemos respeitarisso” - resume sua amiga Bru-na Lobato, 10 anos.

tato - auxiliando assim o processo de aprendizagem. Nas aulas deCiências, a professora confeccionava mapas em auto-relevo paraque Natália percebesse diferentes dimensões e formas. Já em Ma-temática, Natália trabalhava com jogos e materiais concretos,elaborados em diversas texturas e formas. Materiais que, levadospara a sala de aula, também acabavam auxiliando a aprendiza-gem dos outros alunos - deixando claro que a presença de Natá-lia em uma turma regular não só beneficiava a estudante, mastoda a classe na constituição de conhecimentos e valores.

Segundo Jaqueline, as crianças vêm trabalhando valores necessá-rios à vida cidadã, como amor ao próximo, solidariedade e respei-to às diferenças. Exercício que, na verdade, nem precisou serimposto aos colegas de Natália. Semanas antes de sua chegada,Jaqueline trabalhou com os alunos da escola, a partir de umahistória infantil, a importância de se viver em uma comunidadeheterogênea, onde cada pessoa é um ser humano diferente umdo outro e que merece respeito, atenção e carinho sempre. Noseu primeiro dia de aula, Natália foi recebida com festa. Os alu-nos presentearam-na com um livro cheio de dizeres de boas-vindas.

Mudanças - Portanto, se em um primeiro momento a presençade Natália se revelou um complicador no planejamento escolar,em seguida representou um ganho. “Muitas vezes, vencer os desa-fios que esses alunos impõem pode se refletir em um melhor de-sempenho para toda a turma. Afinal, o professor tem de revermétodos, procedimentos, linguagens, atividades e encaminhamen-tos. O que aconteceu neste último ano” - destaca a professora Ieda.

Trabalho que, de lá para cá, provocou mudanças. A insegurançada professora Jaqueline, o receio da mãe Dalva e a curiosidade dosamigos em relação à amiguinha nova, por exemplo, são coisas dopassado. Do início do trabalho, ficou apenas o comprometimento

Para Jaqueline(esquerda), a

entrada deNatália na escolabeneficiou todos

os alunos

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Planejar, a previsãopossível

Planejamento exige pesquisa,análise e reflexão sobre a realida-de da comunidade escolar, co-nhecimento das demandas edesejos da comunidade e, ainda,clareza de intenções e dos objeti-vos educacionais adequados aosistema de ensino ao qual a esco-la está submetida. É preciso con-siderar a história do bairro, daescola, do seu entorno, de cadaturma e de cada aluno que inte-gra a comunidade escolar, arti-culando tudo isso aos concei-tos, conteúdos de cada uma dasáreas do conhecimento, aos va-lores desejáveis para a vida feliz,solidária; estes conceitos, conteú-dos e valores precisam ser cons-tituídos de maneira integradaaos aspectos da vida cidadã,como saúde, sexualidade, vidafamiliar e social, meio ambiente,trabalho, ciência e tecnologia,cultura e diferentes linguagens.

Não é pouco, nem simples, maspossível e desejado que a açãopedagógica tenha um planeja-mento prévio, algo como uma

carta náutica que busca orientar, que se flexibiliza diantedas tormentas e/ou das calmarias, mas que não prescin-de de alguns portos seguros, de referências norteadoras.

Nesse sentido, o ato de planejar é muito mais do quedescrever passo a passo as tarefas e atividades, mas apre-senta-se como um recurso para auxiliar o professor a nãoperder de vista a intencionalidade de sua ação; o ato deplanejar favorece uma antecipação de possíveis relaçõesprodutivas entre os saberes que envolvam de significa-do e desejo a vida escolar, para professores e alunos. Oplanejamento também ajuda educadores e alunos abalizarem-se dentro do tempo/espaço escolar, ou seja,ainda que se considere que os tempos de conhecer sãodiferenciados entre os alunos, as estratégias do professorpodem ser modificadas, alteradas, para garantir a todoso acesso e a apropriação dos saberes historicamente acu-mulados nesse processo de constituição de novos sabe-res, direito de todos.

O professor é o mediador desse complexo processo, não-linear, de idas e vindas, com ritmos diferentes de pessoapara pessoa. O professor precisa intermediar, de formarespeitosa e produtiva, as diferenças de gêneros, etnias,crenças religiosas e das expressões culturais, reconhe-cendo a importância “desse encontro de diferenças”como necessário e imprescindível para o processo deconstituição de conhecimentos, conceitos e valores deseus alunos, de todas as idades. É por meio desse encon-tro entre as diferenças, dessa teia de relações produtivas,

respeitadas as diversidades, queo conhecimento se constitui.

O planejamento de uma turma,por expressar as especificidadesde um determinado grupo comseu professor, com seus ritmos eencaminhamentos peculiares,resulta no registro escrito de umprocesso que, em princípio, nãodeve ser usado ou seguido poroutros grupos, mesmo que damesma série. Alternativas ricas evaliosas são, por exemplo, a ela-boração conjunta do planeja-mento, com professores de di-ferentes áreas e séries e, ainda, asdiscussões posteriores que mos-tram onde e quais devem ser asadequações necessárias, os acer-tos e as mudanças de rumos.

A atividade de planejar, na esco-la, deve estar sintonizada com osobjetivos do Projeto Político-Pe-dagógico da instituição onde es-tão expressos os Princípios Éti-cos, Políticos e Estéticos orien-tadores da vida escolar e das de-cisões teórico-metodológi-

Ao divulgar o calendário deste ano, a Secretaria Municipal de Educação

(SME) do Rio de Janeiro reservou dias para o professor planejar suas

ações, acompanhá-las e avaliá-las. Foram dois dias em fevereiro e

outros dois em março. No mês de agosto, está previsto mais um.

A decisão reforça a importância do planejamento escolar, que, muito

mais do que um guia para o professor, deve ser entendido como um

instrumento flexível e norteador na busca de êxito e eficácia na

constituição de conhecimentos e valores, na escola.

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cas, que, em última análise, aca-bam por definir as próprias prá-ticas pedagógicas. Sob estas con-dições, o planejamento se tornavivo ao contextualizar-se no co-tidiano dos alunos, garantindoa participação dos professoresem sua elaboração e transfor-mando a escola em uma insti-tuição participativa, democrá-tica e autônoma.

Participação - Para os educa-dores Paulo Roberto Padilha eJosé Eustáquio Romão, direto-res do Instituto Paulo Freire, estaconcepção derruba a construçãovertical, linear e hierarquizadaque vem caracterizando a práti-ca do planejamento no sistemaeducacional brasileiro. No arti-go Planejamento Socializado As-cendente da Escola, publicadono livro “Construindo a escolacidadã”, os educadores dizemque “o planejamento educacio-nal e a organização do trabalhoescolar, pensados e acompanha-dos por todos e para todos, nãoserão atividades meramente bu-rocráticas, técnicas, como temocorrido no país nos últimos 25anos. Será, sim, um verdadeiroexercício de cidadania, porqueenvolverá a participação e a to-mada de decisões. Isso significaque, por meio de uma práticademocrática e de um planeja-mento interativo e parti-cipativo, os professores estarãodesfazendo, pela ação educa-tiva, a crença de que planejar éuma atividade complexa e paraa qual apenas os especialistas es-tão devidamente preparados”.

Desfazendo também a crença deque, uma vez elaborado, o pla-nejamento deve ser seguido à ris-ca pelos professores que o vêemcomo uma camisa-de-força, noqual conteúdos e prazos devemser cumpridos rigorosamente. E

que, por conta disso, ignoram, evitam e negamqualquer assunto proposto pela turma que não es-teja de acordo com o cronograma ou com o temado dia ou ainda qualquer problema da vida decada um dos seus alunos.

Ser flexível. Regra para as turmas de educação infantil,onde o movimento e a curiosidade são constantes eexigem um replanejamento permanente. Saber adap-tar-se às situações imprevistas traz qualidade para o tra-balho do professor. Cada professor deve planejar pro-postas e atividades diversificadas, que propiciem a utili-zação de diferentes linguagens, de forma que todas ascrianças possam atuar com autonomia e liberdade deexpressão, interagindo com os colegas de forma coope-rativa e solidária. Uma prática adotada nas turmas deeducação infantil, que reforça essas idéias, é o registrodiário do planejamento, feito coletivamente com os alu-nos. Dessa forma, vários conceitos são desenvolvidoscom as crianças (espaço, tempo, transformação).

Sabe-se, hoje, que o planejamento sofre continuamenteinfluências e modificações que muitas vezes são oriun-das da própria reavaliação dos educadores ou dos enca-minhamentos dos alunos, ou da própria dinâmica dasmudanças que ocorrem no mundo, do qual a escola éparte integrante.

Os professores que trabalham com educação de jovense adultos vivem muitas vezes situações em que o pla-nejamento que fizeram “fura” logo no início da aula.“Certa vez planejei falar sobre fábulas, mas assim quecomecei um aluno pediu que eu ensinasse a ver ashoras em relógio de ponteiro. Ele trabalhava e só sabiaver as horas em relógio digital. Parei tudo, perguntei sea turma queria também e fui ensinar. No PEJ, talvezmais do que em outros segmentos, até porque lidamoscom adultos que já trabalham e trazem muito de suaexperiência para a sala de aula, o planejamento temque ser repensado constantemente, muitas vezes du-rante a aula”, diz Angela Batouli, que trabalha há 13anos como professora do PEJ.

Mudança - O sociólogo suíço Phillippe Perrenoud, noseu último livro “Ensinar: agir na urgência, decidir naincerteza”, afirma que a escola mudou: “Mudou de es-trutura, de programas, de tecnologias, de formas deensinar e avaliar. Essas mudanças seguem diferentes di-reções; por um lado, a modernização dos conteúdos edos métodos, ligada à evolução dos conhecimentos ci-entíficos e das tecnologias; por outro, a humanização darelação pedagógica em função de uma nova concepçãodos direitos humanos e dos direitos da criança, dos valo-res, do pluralismo cultural e das liberdades”.

“Portanto, é preciso entender”-afirma a professora FabianaSueira Jardeu, da Escola Muni-cipal México, em Botafogo,Zona Sul do Rio de Janeiro - “queo planejamento é e deve ser fle-xível, passível de interferências,de ajustes e de modificações. Àsvezes planejamos uma determi-nada aula. Mas quando chega nahora de executá-la percebemosque ela não corresponde às nos-sas expectativas e muito menos àdos alunos. Ela toma uma dire-ção totalmente diferente daque-la planejada, idealizada previa-mente - o que de certa formapode ser absolutamente positi-vo. Talvez, nós, professores, nãosoubemos explorar da melhorforma aquele conhecimento, nãopromovemos uma contex-tualização ou, simplesmente, nãorespeitamos as características pró-prias da faixa etária da turma eseus interesses reais. Se somos res-ponsáveis e buscamos uma edu-cação de qualidade, devemosentão estar sempre repensandonossas estratégias”.

Estratégias que, para alcançar seusobjetivos, devem prever, antes demais nada, a coerência entre oplanejamento (objetivos, conteú-dos e atividades) e a possibilida-de que o aluno tem de aprendere de se desenvolver. O planeja-mento de atividades sem cone-xão com os objetivos e conteú-dos propostos faz com que essasatividades tenham um fim em simesmas, sem nenhum significa-do para o processo de aprendiza-gem dos alunos, sem nenhumsignificado para a vida escolar.Do mesmo modo, os conteúdos.Eles não devem ser vistos comofim, mas como meio para a cons-tituição dos seus alunos.

Idéias que, na verdade, baseiam-se em teorias, pesquisas, experi-

ências, metodologias e estudos.O educador francês CélestinFreinet, por exemplo, nos anos20 do século passado, por acre-ditar que o interesse da criançaestava dentro e fora da escola,idealizou a atividade aula-passeiocom o objetivo de trazer motiva-ção e ação para o binômio tradi-cionalmente compartimentado:vida e escola. Freinet percebeuque o ensino é muito mais efici-ente quando se baseia no desejoe no prazer do aluno.

Contextualização - ParaFreinet, aproximando os alunosdos conhecimentos e do dia-a-dia de sua própria comunida-de, os estudantes podem se va-ler destes conhecimentos paramodificar a sociedade em quevivem. Aprende-se, por exem-plo, mais História e Geografiaem uma aula-passeio porque émais fácil compreender o con-teúdo quando ele faz parte deum contexto.

O educador Paulo Freire, que fi-cou conhecido mundialmenteao escrever, em 1968, o livro Pe-dagogia do oprimido, costuma-va dizer que antes de ensinaruma pessoa a ler as palavras épreciso ensiná-la a ler o mundo.Segundo ele, ninguém ensinanada para ninguém e as pessoasnão aprendem sozinhas. É pre-ciso pôr fim à educação “bancá-ria”, em que o professor depositaem seus alunos os conhecimen-tos que possui.

Prática, hoje, defendida pormuitos. Por exemplo, por umgrupo de sete professores de ci-ências do Programa de Jovens eAdultos (Peja II) da SME, queestá empenhado em reformularas apostilas do programa, bus-cando tornar o ensino e a apren-dizagem mais dinâmicos e, prin-cipalmente, sintonizados com o

cotidiano dos alunos. Quem explica é o professor Ale-xandre Faria, professor do Ciep Gustavo Capanema, naMaré, Zona Norte do Rio de Janeiro, responsável pelacoordenação da equipe: “Quando o Peja II foi criado,em 1998, contávamos com material de apoio produzi-do por terceiros. Material muito bom, mas que nãoaproximava os conhecimentos do dia-a-dia dos nossosalunos. Por exemplo, ao tratar de tipos de vegetação, oslivros chamavam a atenção para as tundras, origináriasda região ártica. Por que não privilegiar os pantanais e osmanguezais do nosso país, por exemplo? As aulas acaba-

vam distantes do universo doaluno. Resultado: desinteresse,baixa auto-estima e evasão esco-lar. Reunimo-nos e planejamosentão reverter essa situação, refa-zendo as apostilas com exemplose exercícios práticos relacionadosà vida dos estudantes”.

Uma boa decisão, na avaliaçãoda professora Maria de Fátima

Trabalho organizado comuma semana de antecedência

Cada professor tem uma forma diferente de organizar seu trabalho. Uns registram em cadernos,outros montam matrizes e alguns dizem que até fazem anotações, mas que a memória é a grandealiada na hora de planejar. Rosana Siquara, professora do ano um do ciclo do Ciep Agostinho Neto,no Humaitá, Zona Sul, tem um inseparável caderno. Lá tudo está escrito, desde o plano de aula atéobservações sobre o desempenho dos alunos: “Procuro registrar nele meu planejamento semanal”.

Estão ali também registradas as parcerias produtivas, as atividades previstas e aquelas que nãoforam realizadas por conta de algum imprevisto, além de muitas outras informações úteis para queRosana consiga fazer uma avaliação sobre o trabalho desenvolvido. “Tenho tentado, desde o iníciodo ano, sempre ao final do dia, fazer uma avaliação de cada aluno, se eles conseguiram alcançar oobjetivo proposto em cada atividade etc. Isso exige disciplina e algumas vezes falta tempo”.

Na prática, essas anotações funcionam como um rascunho daquilo que é mais importante nodesenvolvimento do trabalho com os alunos. Até porque não há planejamento que resista a uma salalotada com 30 alunos com histórias, interesses e necessidades completamente diferentes. Reavaliaro processo a toda hora é fundamental.

Mas, por mais que a flexibilidade seja uma característica marcante de um planejamento eficaz, hárotinas no dia-a-dia. A turma de Rosana tem reservado, diariamente, um tempo para acompanhar ocrescimento das plantas da sementeira da sala. Meia hora pela manhã, logo que chegam à escola.“É um momento antes da aula começar que os alunos se ambientam no espaço da sala”. Após oalmoço está previsto um período, também de meia hora, para a brincadeira.

Todos os dias, no início da aula, os alunos lêem um livro. Também é reservado um espaço para otrabalho em grupo e para a turma desenhar. Uma vez por semana as crianças trabalham naprodução dos livros dos animais, projeto desenvolvido pelas turmas do primeiro ano do ciclo daAgostinho Neto. É nessa hora que Rosana consegue introduzir um pouco da linguagem artística,realizando atividades de pintura, dobradura, colagem e desenho.

O vídeo é outro recurso previsto. Mas não toda semana. A sala de exibição é concorrida e elaprocura agendar os filmes com antecedência. “Na verdade, no planejamento anual da escola jáficam indicados alguns dos filmes que serão exibidos. Qualquer exibição extra é marcada em umlivro na sala dos professores”, explica. Música, arte e informática são outras linguagens que têmvez, duas vezes por semana, no planejamento de Rosana. São atividades extraclasse que contamcom professores específicos.

Mesmo com toda a organização, imprevistos sempre acontecem. Nessa hora, na opinião de Rosana,o que vale é o bom senso e a criatividade. Se foi programada uma atividade interessante e metadeda turma faltou, ela lança mão de folhas de atividades, já rodadas, para não prejudicar os ausentes.

Nessa hora vale também a parceria com outros professores, como a que Rosana tem com MárciaRodrigues, da outra turma de primeiro ano do ciclo do Ciep. O planejamento diário delas não éigual, mas muitas idéias – para dar conta ou não de imprevistos e questões pontuais que aparecemna sala de aula – são aproveitadas uma da outra. “As turmas são diferentes e isso determina oritmo do trabalho. A Rosana, por exemplo, já trabalhou este ano conceitos como campo e cidade,que meus alunos ainda não viram. Certamente muitas das atividades realizadas sobre o temaconstarão no meu planejamento”, explica Márcia.

Essa perspectiva de trabalho conjunto é, na opinião de Bárbara Salles, professora da Sala deLeitura do Ciep do Humaitá e de Língua Portuguesa da Escola Municipal Joaquim Abílio Borges,em Botafogo, um dos conceitos mais difíceis de serem incorporados pela escola: “Dá muito trabalhoe exige a participação de todos”.

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Em recente debate sobre plane-jamento e projeto político-peda-gógico, uma educadora afirmouque todo ano “a novela se repe-tia”: muito se falava, mas poucoseram os avanços. Grandes pales-tras, oficinas, debates. Os diaspassam rapidamente e, quandovemos, já entramos na rotina es-colar, premidos pelo calendário,pelas urgências “burocráticas”,pela necessidade de cumprir o“conteúdo”, a legislação, tantasobrigações... que nem sobra tem-po para o “pedagógico”. E nosperguntamos: como escrever ou-tra história? Será que há saídas?Respondemos que sim e que ou-tro mundo é possível, desde queeste enredo seja assumido mais co-letivamente, capítulo a capítulo,por todas as pessoas, sem perder-mos a visão do todo.

Mudar os rumos da história nãoé fácil e começa com a tomadade consciência para o fato de quepor trás de qualquer ação há sem-pre uma intenção. Se pensarmosna educação escolar, existe sem-pre um projeto a favor ou contraa emancipação humana, mesmoque ele não esteja explicitamen-te formalizado. Evidenciar estesnós é uma forma inicial dedesatá-los.

Dialogando com a professora,cabe-nos também discutir o sen-tido de “acompanhamento”, que,etimologicamente, significa ca-minho, caminhada. É possívelcaminhar só ou acompanhado.Mas quem caminha só perde a

* Doutor e mestre pela Faculdadede Educação da USP. DiretorPedagógico do Instituto PauloFreire, professor-pesquisador doNúcleo de Pesquisa do Curso dePedagogia (Nupped) daUnicastelo/SP e docente daAssociação Educacional Nove deJulho - Uninove/SP. É autor dolivro Planejamento dialógico: comoconstruir o projeto político-pedagógicoda escola. 3. ed. São Paulo: Cortez,2003.

oportunidade de passar o bastão para outra pessoa a suafrente e, com isso, demora mais para chegar e retarda ocaminho dos demais. Andar junto fortalece a empreita-da, dá mais ânimo durante o percurso e encoraja a quem,no passo solitário, poderia perder, aos poucos, o própriosentido da caminhada. Além disso, mesmo que se come-tam alguns equívocos no trajeto, eles poderão renderboas aprendizagens coletivas. E mais: caminhar junto éhumanizar-se no processo.

Por outro lado, avaliar pressupõe organizar a campanha.Não se trata de, aleatoriamente, seguirmos juntos a mes-ma estrada. Trata-se, ao contrário, de decidirmosdialogicamente sobre o que será importante no nossotrajeto, de percorrermos diferentes caminhos e, comunicidade, deliberarmos sobre o melhor deles. Avaliar éfazer julgamentos de mérito, de valor. Ao mesmo tempoem que avaliamos somos avaliados(as); por isso, não fazsentido continuarmos pensando que apenas um parti-cipante do processo pedagógico - por exemplo, o pro-fessor - deva ser o único a decidir sobre o quê, como,quando e a partir de quais padrões e critérios se vai ava-liar a aprendizagem ou o que acontece em toda a escola.

E quanto ao planejamento? Como planejar sem “ler omundo”? Como intervir democraticamente na realidadesem conhecê-la processualmente, sem acompanhar o queaconteceu, sem avaliar os problemas e os méritos doque já fizemos? Lembremo-nos que a separaçãoentre planejamento, avaliação e acompanhamen-to do processo educacional deve ser, no máxi-mo, um recurso didático-pedagógico para estu-darmos e enfrentarmos os desafios da realidade.No entanto, estamos diante de termosindissociáveis que se reportam às dimensões parti-culares e universais da realidade, portanto, à totali-dade complexa dos contextos aos quais se referem.

Quando planejamos, pensamos necessariamente ofuturo, com base nas experiências do passado e nasvivências do presente. Planejar é antecipar e organizar ocaminho. É definir princípios, diretrizes, propostasde ações e, principalmente, como acompanha-remos e avaliaremos este processo. E isso pode

ser feito com muita ciência, comseriedade e, ao mesmo tempo,com muito prazer, amorosidadee afetividade.

Quanto mais dialógica, prazerosa,democrática e participativa for acaminhada, mais estaremos contri-buindo para mudar e melhorar anossa escola, a nossa educação e anossa sociedade e, por conseguin-te, para diminuir cada vez mais ointervalo entre intencionalidades,discursos e práticas.

Artigo/Paulo Roberto PadilhaArtigo/Paulo Roberto PadilhaArtigo/Paulo Roberto PadilhaArtigo/Paulo Roberto PadilhaArtigo/Paulo Roberto Padilha*****

Planejamento, avaliação e acompanhamentoUma relação indissociável

da Cunha, à frente da Diretoriade Ensino Fundamental daSME. Para ela, ao planejar, o pro-fessor deve sempre levar em con-ta, portanto, a função social daescola, que deve funcionar arti-culada com seu tempo, com suahistória e com seu contexto: “Ou-tro exemplo: se os professorespercebem que é preciso dar maisênfase na leitura e na escrita, aescola pode estabelecer um pla-nejamento coletivo que dê con-ta deste objetivo. Os professorespodem trabalhar seus conteú-dos a partir de vários textos -jornalísticos, literários, científi-cos. Ou criar um projetointerdisciplinar onde a leitura ea escrita estejam permeandotodo o trabalho. Por meio dodiálogo, do conhecimento com-partilhado e do pensar pedagó-gico do grupo, o professor tro-cará experiências, acertos e errospara desenvolver o projeto”.

Integração - Seja na Educa-ção Infantil, no Ensino Fun-damental ou no Ensino Espe-cial, o ato de planejar é o mes-mo. Diferentes serão os enca-minhamentos, as práticas pe-dagógicas e os objetivos traça-dos para serem alcançados emcada segmento de ensino, masque, vistos de forma global, de-vem ter a mesma finalidade.Para isso, o planejamento inte-grado e construído coletiva-mente torna-se indispensável.

Uma tarefa árdua, com certe-za. Afinal, é preciso que osprofessores tenham consciên-cia da importância desse pla-nejamento e estejam predis-postos a elaborá-lo. O estudi-oso francês Edgar Morin, au-tor do livro “Os sete saberesnecessários à educação do fu-turo”, acrescenta: “É precisopromover a interligação en-

cada turma. “Foram dois diasde intenso trabalho, mas valeua pena. Tudo que planejamosfoi registrado para auxiliar o tra-balho do professor. A partici-pação de todos os profissionaisfoi valiosa e extremamenterica”, comemora a coordenadorapedagógica da escola, LúciaMaria Lessa Pinheiro.

Quando os professores estãointegrados, quando o planeja-mento é construído coletiva-mente e traduz os objetivos doProjeto Político-Pedagógico daescola, quando as práticas pe-dagógicas estão contextua-lizadas com o dia-a-dia dos es-tudantes, a escola cumpre o seupapel, mesmo enfrentandotodo o tipo de dificuldade. Osdesafios, à primeira vista,intransponíveis, são pouco apouco superados. Por contadisso, novos replanejamentossão realizados. E é isso que man-tém a escola viva.

tre os saberes”. Para ele, o currículo escolar mínimo efragmentado não oferece aos alunos uma visão dotodo - o que é imprescindível. Quando as áreas deconhecimento não se complementam nem se inte-gram, dificulta-se o entendimento da perspectiva glo-bal que favorece a aprendizagem.

É o que vem constatando a equipe de professores daEscola Municipal México, localizada em Botafogo,Zona Sul do Rio de Janeiro. Os educadores estão per-cebendo o quanto a troca de informações entre eles éessencial para a construção de um bom planejamentoe o quanto é importante promover um currículo inte-grado: “Conversar com aquele professor que já lecio-nou para sua turma permite identificar as necessida-des de cada aluno, o que ele já sabe, conhece e enten-de. Suas aspirações e características. Ganhamos tempoe informações que nos ajudarão no nosso trabalho,que estará de acordo com o dia-a-dia dos alunos eaproximará a escola dos estudantes e vice-versa”.

No início deste ano, todos os professores da escola sereuniram para elaborar o planejamento de trabalho.Divididos, inicialmente, por áreas de conhecimentoe depois por segmentos, os professores debateram,avaliaram e definiram um planejamento anual quedesse conta dos conteúdos propostos pelaMultieducação e das especificidades da realidade de

Um exemplo de matrizde planejamento

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Nota dez para a saúde escolarda Rede Municipal de Ensi-no do Rio de Janeiro. Atual-mente, o município do Rio éapontado pela OrganizaçãoPanamericana de Saúde(OPAS) como referência, noBrasil, no desenvolvimento daproposta Escola Promotora deSaúde. Idealizado pela Orga-nização Mundial de Saúde(OMS), essa iniciativa visaimprimir um novo conceitode trabalho na interface saú-de e escola.

Na prática, trata-se de umaproposta que pressupõe par-ceria entre a escola, a comuni-dade e os serviços de saúde deuma determinada região, como objetivo de desenvolver - emconjunto - práticas de pro-moção de saúde que atendamaos reais interesses das comu-nidades locais. No Rio, o pro-jeto está vinculado ao Progra-ma Saúde Escolar da Secre-taria Municipal de Saúde(SMS), coordenado pelo mé-dico Carlos dos Santos Silva:“O objetivo é debater com aspessoas de que forma elas po-dem e devem ser responsáveispela promoção da saúde desua escola, de sua comunida-de, de seu bairro. É uma novaforma de discutir saúde emespaços escolares, muito dis-tante do caráter assistencialistae emergencial”.

Programa une escola e comunidade emtorno de práticas de promoção de saúde

Uma saudávelparceria

Discussão que foi iniciada no final do ano 2000, quando equi-pes do projeto começaram a percorrer escolas da rede com aintenção de construir um projeto de saúde local que desse pri-oridade a temas de interesse dos próprios alunos, professores efuncionários. O trabalho inédito foi desenvolvido nestes doisúltimos anos, inicialmente em 120 escolas, abrangendo 114mil alunos, e teve como ponto de partida o resultado de umaampla pesquisa realizada entre maio de 1999 e junho de 2001,com aproximada-mente 1.600 alunos,a partir de 7 anos,matriculados no En-sino Fundamental(ver gráficos).

Debates - O levan-tamento identificouque situações de con-flito, questões ligadasà sexualidade, às do-enças sexualmentetransmissíveis e aouso indevido de dro-gas podem afetar asaúde e, conseqüen-temente, a qualidadede vida dos alunos ede sua comunidade.De posse destas infor-mações, a equipe ela-borou o projeto pilo-to da proposta Esco-las Promotoras deSaúde e realizou umasérie de oficinas, en-contros, seminários ecentros de estudos en-tre médicos e profes-sores, com o objetivo dediscutir os temas e cons-truir projetos comu-

Atenção, professores: dados doDepartamento de Biologia doInstituto Oswaldo Cruz mos-tram que cerca de 30 a 40%das crianças de 3 a 7 anos têmpiolho. E o que é mais alarman-te: hoje não há uma única esco-la do Rio de Janeiro que não te-nha um de seus alunos com a en-fermidade. Júlio Vianna Barbo-sa, biológo responsável peloprojeto Estudo da Pediculose, afir-ma que, na prática, os númerosdevem ser bem maiores do queos registrados: “Isto porque exis-te uma ocultação dos casos, porparte das escolas, dos pais oudos professores. As pessoas têmvergonha de assumir que seusfilhos estão com piolho. Acre-ditam que a doença está ligadaà falta de higiene e às classesmenos favorecidas. O que não éverdade”.

O piolho é um inseto que pode parasitar qualquerpessoa, independentemente de classe social e cor depele. Ao contrário do que se pensa, o piolho não voae não pula. Sua transmissão se dá pelo uso comumde objetos, como bonés, escovas, pentes e prende-dores de cabelo. Gosta de ambientes com alta tem-peratura e umidade e se reproduz com extrema rapi-dez. Um piolho fêmea, por exemplo, coloca, emmédia, durante sua vida, de 150 a 180 ovos.

Como se alimenta de sangue, cria feridas. “Feridasperigosas, pois, ao se alimentar de sangue, os piolhosdefecam e, se houver bactérias em suas fezes, elasentram em contato com a corrente sangüínea, po-dendo provocar, por exemplo, febre, anemia egânglios atrás das orelhas, deixando as pessoas debi-litadas. Portanto, a prevenção é a solução. Às vezes,os pais e os professores acham que o piolho é umaenfermidade apenas de crianças e jovens. Não é ver-dade. O uso dos mesmos objetos, até mesmo de tra-vesseiros, é uma forma de se transmitir a doença. Jávi famílias inteiras com piolho”, explica Júlio.

Com o objetivo de tirar dúvidas da população, in-centivar a prevenção, oferecer cursos de capacitação

para professores da cidade do Rio e desenvol-ver pesquisas na área de pediculose, o

Instituto Oswaldo Cruz mantém,desde 1997, o serviço Disque Pio-lho, que funciona de segunda a sex-

ta-feira. Em breve, o Institutoreativará também o programa de visi-tas às escolas do município do Rio.Uma equipe de estudantes e pesqui-sadores irá às escolas para conversarcom os alunos e professores. Leva-

rão materiais informativos, álbunsilustrativos sobre o assunto e microscó-pios, onde a garotada poderá ver bemde pertinho e com bastante nitidez os

piolhos. As escolas interessadas já podem en-trar em contato com o departamento.

Tome nota

• Use sempre o pentefino, independente de acriança estar ou não compiolho. Além de ser umamedida preventiva, é aforma mais correta deretirar os piolhos e asninfas (filhotes de piolho)do couro cabeludo

• Se a criança está compiolho, dilua uma porçãode vinagre em água (namesma proporção). Molheum pedaço de algodão namistura e, como se fosseuma escova, deslize-oem cada 3 ou 4 fios decabelo. A mistura removeos piolhos e seus ovos

• Não use nenhummedicamento semorientação médica

• Nunca use querosene,Neocid ou qualquer outroinseticida, pois sãotóxicos ao ser humano

• Ferva sempre os objetospessoais, como pentes,bonés, lençóis e roupas

Disque PiolhoProjeto Estudo da PediculoseInstituto Oswaldo CruzTelefones:2598-4378 / 2598-4380 /2598-4381 ramal 126

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Tira-dúvidasServiço da Fiocruz dá dicas de comose prevenir contra a enfermidade

sobre piolho

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nitários. Paralelamente, o pro-grama também iniciou ativida-des de promoção de saúde nasescolas, buscou referência deatendimento médico e elabo-rou parcerias com outros de-partamentos e órgãos da Pre-feitura do Rio para desenvol-ver iniciativas visando à pro-moção de saúde nos ambien-tes escolares. Foram publica-dos informativos, revistas ecoleções pedagógicas, que dãoinformações sobre meio ambi-ente, qualidade de vida e ou-tros temas ligados à saúde.

Para este ano a meta é divulgarem cada uma das escolas da Pre-feitura do Rio a iniciativa do pro-grama Escola Promotora de Saú-de, fazendo com que elas se tor-nem unidades multiplicadorasde práticas, atitudes e ambien-tes saudáveis, como explica o co-ordenador Carlos dos SantosSilva: “Na verdade, toda escolapode ser promotora de saúde.Este é o nosso objetivo. É preci-so, antes de tudo, refletir, deba-ter e abordar as necessidades edemandas da escola a partir desuas prioridades, além de formu-

Para criar uma escola promotora de saúde...

...construa ambientes saudáveis que favoreçam relações interpessoais mais harmônicas e solidárias nacomunidade;

...identifique com a comunidade escolar demandas e necessidades para discutir em grupo as prioridades,as propostas e a busca de soluções possíveis;

...identifique os parceiros locais da escola e outros possíveis que possam se articular e se somar àsatividades de promoção de saúde na comunidade;

...destaque os trabalhos, projetos e sugestões para melhoria da qualidade de vida e observe como seencaixam nos eixos principais de uma Escola Promotora de Saúde. Um painel pode ser boa estratégiapara divulgar, repensar, planejar e incentivar a comunidade;

...a formação de um grupo de trabalho facilita a construção coletiva de propostas e ações nodesenvolvimento de uma ação local mais efetiva e sustentável.

lar ações para a cons-trução de um ambien-te saudável e estabele-cer parcerias com os ser-viços de saúde parasubsidiar o trabalho depromoção de saúde nacomunidade”.

No último dia 21 demaio, o Programa deSaúde Escolar divul-gou o livro Solta a voz:saúde e riscos em esco-lares, publicação quereúne a pesquisa rea-lizada entre 1999 e2001 com alunos darede. Os dados cole-tados sobre o quepensam e como agemcrianças e jovens emrelação à sexualidadee às drogas, por exem-plo, são de extremaimportância para oreplanejamento deações das escolas pro-motoras de saúde. Ca-da uma das dez Coor-denadorias Regionaisde Educação do Riorecebeu o livro. Fo

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Quem assiste à programação da MULTIRIO não imagina o traba-lho que está por trás da seleção de animações, séries e documentáriosque irão compor a grade. São horas na frente da TV, visionandoprogramas produzidos no Brasil e no exterior. Sem falar na revisãodas traduções das legendas e na escolha das vozes para dublar falasde personagens, quando se trata de programa inédito.

Este trabalho é realizado por Lilian Oswaldo Cruz e Roberto Carlos dePaula, da Assessoria de Aquisições. Entre 2001 e 2002, eles assistiram aquase 200 horas de programas, que resultaram na compra de 72 títulos(ou, aproximadamente, 95 horas anuais). Todo o processo é acompa-nhado por uma comissão interna da MULTIRIO e por professores darede municipal de ensino, que assistem às fitas e aprovam-nas para aaquisição. “As reuniões com a SME são sempre muito produtivas. Osdebates em torno dos temas tratados nos programas são ricos e as suges-tões de como usá-los com os alunos, muito criativas”, observa Lilian.

Com quase 20 anos de experiência na área, com passagens pela direçãode programação da TV-Escola, da TVE, pela coordenação de Educa-ção à Distância do Ministério da Educação e pelo Departamento deDifusão Cultural da Embrafilme, Lilian investe na variedade de for-matos, gêneros e assuntos. A intenção, como ela mesma informa, “éoferecer para alunos e professores da rede uma outra visão do produtoaudiovisual, que vá além daquela veiculada pela TV comercial”.

Este ano, oito programas já estão em fase de aquisição. Todos eles foramescolhidos com cuidado para atender a necessidade de diversificação.Há séries de animação, documentários, docudramas e filmes produzi-dos em países como Inglaterra, Tchecoslováquia e Croácia sobre temasdiferentes, como relação familiar, ética, ciências, história etc. Entre asnovidades, há episódios inéditos da divertida série de animação Matilda,que trata de questões ligadas ao meio ambiente.

O que não pode faltarna sua videoteca*

Crônicas da minha escolaSérie francesa de 20 programas que mostra como viveme estudam os alunos em países de diferentes continentes.Tem a educação como eixo narrativo e a escola comoagente de humanização e constituição da cidadania.

Cenas do séculoCom imagens exclusivas e recursos visuais de últimageração e música original, esta produção canadenseapresenta os momentos mais importantes dos últimos100 anos.

A arte em questãoProdução francesa que mostra obras de arte que foramimportantes em seu tempo. Os oito programas foramfilmados dentro dos grandes museus parisienses, comoo Louvre e o d´Orsay.

EcovídeoEsta série brasileira, composta de10 programas, recorreao relato de pessoas que mantêm estreita relação coma natureza para abordar noções básicas de ecologia.O cenário é a bela região amazônica.

Contos desfeitosOs contos clássicos da literatura infantil são recriadosem ambiente atual nos 20 episódios desta série francesa.

MatildaMatilda é uma pata intrometida que está sempre tentandocorrigir a natureza, espantando-se com os resultados -por vezes desastrosos - de sua intromissão. A sérieaborda a inter-relação dos seres vivos e a relação destescom o meio ambiente. A produção é da Tchecoslováquia.

Meu pequeno planetaCasal de irmãos, conduzido por uma aranha, explora asrelações com a natureza, desvendando seus segredose facilitando a constituição de conceitos científicos.A série, produzida na França, é composta de 26 programas.

Alma negraMulher conta para o neto a história de seus ancestrais,trazidos da África para a América como escravos,revelando, por meio de belíssimas imagens animadas,o processo de abolição da escravatura. Produçãocanadense.

ShakespeareA série apresenta os textos do dramaturgo inglês noformato de animações. Cada episódio tem um diretordiferente, o que faz da série rico material para se discutir atransposição de textos para a linguagem visual, além de serfundamental ao estudo da literatura universal. A produção éuma parceria entre Inglaterra e Rússia.

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Roberto Carlos de Paula e Lilian Oswaldo Cruz

Equipe de Aquisições investena variedade de gêneros eformatos na hora de selecionardocumentários, animaçõese filmes que irão ao ar

Um outro olharsobre a TV

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Para sua atualizaçãoCuriosidades científicas, os sonhos infantise o belo conto Pedro e o Lobo estão em destaque

Sinopse

Os 12 episódios que compõem esta série partem de perguntas feitas por criançaspara tratar de temas ligados às ciências naturais (animais, diferentes partes do corpo,fenômenos da natureza). As questões são abordadas a partir de uma perspectivaeducativa.

Na Escola

Este programa é uma boa oportunidade para o professor das séries iniciais do Ensi-no Fundamental trabalhar a noção de pesquisa e das etapas deste tipo de atividade.Antes de iniciar a atividade vale a pena refletir, junto com toda a equipe pedagógica,sobre algumas questões: O que define o início de uma pesquisa? Pesquisar é fazercópias de livros ou textos da internet, que pouco entendemos? Qual é o objetivo deuma pesquisa?

Incentive sua turma a guardar o resultado das pesquisas realizadas ao longo do anoe escolham juntos o que julgarem ser mais interessante para mostrar às outras turmas(livros confeccionados, experiências realizadas, murais construídos e fotos registran-do diferentes etapas destes trabalhos, por exemplo). Se mais de uma turma estiverenvolvida na atividade, pode-se, ao final do ano, organizar uma mostra de toda aprodução, aberta ao público.

Sugestão de Leitura

BROTTO, F.O. Jogos Cooperativos: Se o impor-tante é competir, o fundamental é cooperar. Proje-to Cooperação. Ed. Renovada Santos: SP, 1997.

TV

As Crianças Perguntam

Área de Conhecimento

Ciências

Ficha Técnica

Tipo de produção:Animação

País: Irlanda

Produção:Brow Bag Films

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Especial Século XX1

Oficina ensina comoOficina ensina comoOficina ensina comoOficina ensina comoOficina ensina comoelaborar projeto na escolaelaborar projeto na escolaelaborar projeto na escolaelaborar projeto na escolaelaborar projeto na escola

Cerca de 500 professores já foram capacitados

Projeto. No dicionário, descrição escrita e detalhada de umempreendimento a ser realizado; plano; delineamento; esque-ma. Na prática, uma tarefa das mais complicadas para muitosdaqueles que se propõem a realizá-la. Especialmente quandose trata de um projeto de trabalho que estrutura e integra con-teúdos de aprendizagem.

A equipe do site Século 21, da MULTIRIO, vem realizando, háalguns meses, uma série de oficinas cujo objetivo é discutircom os professores da Prefeitura do Rio a importância de setrabalhar nessa perspectiva e, com vistas à Mostra Século 21,como desenvolver projetos que incorporem a mídia no proces-so educativo, tendo como ponto de partida o conteúdo do site.

As dinamizadoras Jacqueline Guerreiro, professora de Históriada Prefeitura, e Simone Fadel, do Pólo de Ciências e Matemáti-ca da Escola Municipal Orsina da Fonseca, já capacitaram cer-ca de 500 profissionais e apontam que há uma falta de entendi-mento sobre o que, de fato, é trabalhar com projeto na escola.“As dúvidas vão desde questões gerais, do tipo como conven-cer a equipe da escola a montar um projeto de trabalho oucomo articulá-lo com o Projeto Político-Pedagógico, até as maispráticas como, por exemplo, estabelecer os objetivos do proje-to”, informa Jacqueline.

Questões pertinentes, sem dúvida, e que se somam ao fato dealguns professores terem usado pouquíssimo o computador.Diante disso, no início de cada encontro, chamado de Oficinade Elaboração Criativa de Projetos, as dinamizadoras fazemuma espécie de sensibilização do público com a linguagem dainformática, usando o conteúdo do site, seja pela internet oucom o CD-ROM. Daí partem para a questão do uso da mídia epara as etapas de desenvolvimento de um projeto que incor-pore as diferentes linguagens da mídia no cotidiano escolar.

Articulação -Articulação -Articulação -Articulação -Articulação - Nesse sentido, uma das idéias discutidas pelasdinamizadoras é que, seja qual for o projeto, ele deve estararticulado com os temas pertinentes àquela comunidade es-colar. Antes de começar a elaborá-lo é importante que os pro-fessores tentem responder a algumas perguntas: quais aspotencialidades da minha escola, que assuntos interessam aessa comunidade, que habilidades os profissionais desta uni-dade têm, de que forma este projeto pode ajudar a superaralgumas dificuldades daquela comunidade etc.

Daí em diante é partir para a formatação propriamente dita. E éexatamente nesta etapa que muitas das dúvidas aparecem,principalmente pelo fato de ter que se estabelecer um vínculoentre a idéia a ser implementada e o trabalho já realizado naescola. “Os professores conseguem identificar bem as ques-tões que interessam à unidade escolar, mas têm dificuldade nahora de fazer uma análise do que é o problema. Normalmenteeles se limitam a descrevê-lo e não chegam a refletir sobre oque aquela situação concreta representa para o cotidiano da

A Mostra Século 21 deProjetos Educacionaisé uma iniciativa daPrefeitura do Rio deJaneiro, por meio daSecretaria Municipalde Educação e daMULTIRIO, que visaincentivar a utilizaçãoda mídia no processode aprendizagem.As inscrições estãoabertas até o dia 30 desetembro e podemparticipar professoresde 5ª a 8ª séries ou doPrograma de Educaçãode Jovens e Adultos(Peja), que tenhamdesenvolvido trabalhoscom pelo menos umadas diferentes mídias.Todos os projetosdevem ter como pontode partida um dostemas abordados nosite Século 21.Os cinco melhoresprojetos serãoapresentados durante aMostra, realizada emnovembro em parceriacom a Divisão de Mídiae Educação da SME.Para outras informações,acesse o sitewww.multirio.rj.gov.br/seculo21 ou ligue para2528-8220.

escola”, explica Simone. Esse“diagnóstico” é fundamental,pois dará subsídios para a equi-pe de professores estabeleceros objetivos gerais do projeto- as metas, o que se pretendeatingir, a contribuição para acomunidade escolar -; e os es-pecíficos - de que forma e rea-lizando que tipo de atividadespara que as metas esta-belecidas sejam alcançadas.

Um outro aspecto que Jacque-line e Simone procuram dis-cutir é a necessidade de seter uma visão orgânica doprojeto. É muito comum nasescolas, segundo elas, seplanejar um empreendimen-to de forma burocrática ehierarquiza-da. Geralmentese faz um planejamento “ver-tical”, que não vincula os ob-jetivos às atividades que se-rão realizadas, o que torna di-fícil, por exemplo, estabele-cer critérios para avaliar asetapas do trabalho.

Avaliação, aliás, é um dos as-suntos que mais se discutenos encontros. “Não há umacultura na escola de avaliaçãode processo. Pouca coisa cos-tuma ser registrada e se pen-sa pouco nas formas de veri-ficar se as metas foram, defato, alcançadas”, diz Simone.Por conta disso, nas oficinasse trabalha bastante a idéia deque o registro, com fotos etextos explicativos, deve serfeito ao longo do processo. Epara que sirva de base para acriação dos critérios de avali-ação, o registro deve sinteti-zar os principais momentosdo desenvolvimento do traba-lho, como define a professo-ra: “Aqueles que expressemo que foi estabelecido nosobjetivos do projeto”.

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Estas propostas são feitas a título de sugestão. Não é nossa intenção passar receitasao professor. Consideramos que todos os vídeos podem ser usados por todos os

segmentos, em parte ou totalmente. Quem deve fazer esta opção é você, professor!

InternetCD-ROMImpressosProfessoresVídeoEnsinoFundamental

EducaçãoInfantil

Programação MULTIRIO

Canal 3 da NetDiariamente, das 7h30 às 11h30

BandRioDe segunda a sexta-feira, das 7h às 8h e das 14h às 15hSábado e domingo, das 10h às 11h

Sinopse

Adaptação de conto musical de Sergei Prokofiev, com atores reais contracenandocom personagens e cenários produzidos em computação gráfica. O resultadodesta combinação é um cenário mágico que estimula a fantasia das crianças.

Na Escola

Neste conto, criado em 1936, cada personagem é representado por um instru-mento musical. O programa, além de promover entretenimento, é uma excelen-te fonte de pesquisa, pois apresenta instrumentos musicais pouco conhecidospelo público em geral, como oboé, clarineta, trompa, entre outros. A partir daproposta deste vídeo, pense na realização de uma atividade cênica, na qual outrosinstrumentos, diferentes dos apresentados no filme e produzidos pelos alunos,possam dar vida à história representada ou criada pelo grupo. Também pode serinteressante dividir a turma em grupos. Cada um deve ficar encarregado de umafunção específica: criação e produção de instrumentos, produção do texto teatraletc. O terceiro momento desta proposta será associar a sonoridade dos instru-mentos ao estilo e à forma de encenar o texto.

TV

Pedro e o Lobo

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Sinopse

A série, composta de 13 episódios, é um convite para a descoberta do mundo dossonhos infantis. Cada episódio apresenta uma criança, entre 6 e 12 anos, descrevendoe ilustrando seu sonho. Os temas são variados e tratam desde relações com os animais,com a família, até medos e fantasias. A técnica de animação confere à produção umcaráter inovador e um aspecto visual estimulante.

Na Escola

Professores de Artes e Língua Portuguesa podem usar o programa para realizar umprojeto integrando conceitos trabalhados nas séries iniciais do Ensino Fundamental.Vejamos como: a manifestação artística compreende o ato de imaginar, criar, construire transformar dimensões da vida ligadas à sobrevivência do homem no mundo. Umadas preocupações de professores que atuam no Ensino Fundamental é oferecer aosalunos oportunidades para que eles possam experimentar o mundo e, a partir daí,interpretá-lo, recorrendo aos cinco sentidos e às diferentes linguagens. A narração desonhos ou mesmo de histórias imaginadas e representadas de formas bem variadasfortalece a constituição de conceitos em diferentes áreas do conhecimento.

Outra proposta interessante é integrar artes e a linguagem matemática. Pode-se traba-lhar com associações livres e brincar usando “A caixa de regras”, atividade em que oprofessor propõe que os alunos sentem-se em círculo. Na roda o professor segura umacaixa nas mãos e pede que cada criança diga uma palavra. Das palavras, apenas algumasserão postas na caixa (à medida que os alunos forem falando, o professor diz “essaentra, essa não”), obedecendo a critérios criados pelo professor. Os alunos devem des-cobrir qual foi a regra usada para botar esta ou aquela palavra na caixa. A regra podeestar relacionada a vários conceitos, como coisas vivas, cores, formas, funções (o que seusa para comer, para dormir, para tomar banho etc.).

Fique Atento!

Exercitar as diversas linguagens (plástica, cênica, oral etc.) capacita as crianças a seexpressarem de forma mais rica, criativa e, conseqüentemente, mais autônoma.Os episódios apresentados nesta série provocam uma reflexão sobre a relação entre adimensão lógica e a dimensão estética da realidade: enquanto a lógica organiza, classi-fica, qualifica, ou seja, estabelece critérios, a estética propõe brincar com estes critérios.

TV

Um Sonho de Criança

Área de Conhecimento

Música

Ficha Técnica

Tipo de produção:Animação

País: França

Produção: Capa Prod.

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Área de Conhecimento

Artes

Ficha Técnica

Tipo de produção:Animação

País: Canadá

Produção:Tooncan Production Inc.

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Trabalhando em turmas cujos alunos apresentam muitasdificuldades na constituição de conhecimentos, conceitos evalores, percebi, ao longo do tempo, que algumas práticaspodem ajudar a consolidar o trabalho do educador.

É muito importante, ao iniciar o ano letivo, que o perfil decada educando e da turma, de um modo geral, seja traçadopor meio de uma diagnose. E que durante todo o períodoletivo o professor acompanhe os progressos dos alunos, re-gistrando os avanços, as modificações percebidas, bem comoas estratégias utilizadas e as intervenções feitas, a fim deque as dificuldades apresentadas durante todo o processosejam superadas.

O educador precisa compreender que os resultados, na suagrande maioria, dependem de uma ação pedagógica consci-ente e direcionada. Nesse sentido, o planejamento ocupauma posição de real importância, pois possibilita ao profes-sor coordenar e s istematizar sua prática, de modointerdisciplinar, explorando e ampliando as experiências doseducandos, de forma diversificada e dinâmica.

Rubem Alves demonstra preocupação em relação a este as-pecto quando afirma: “Quanto mais separado da experiên-cia um determinado conteúdo, maiores e mais complicadasas mediações verbais”. Isto significa que, ao planejar, o pro-fessor precisa refletir não só em relação aos conteúdos aserem trabalhados, mas a tudo o que diz respeito ao proces-so de constituição de conhecimentos, conceitos e valores.

Outro aspecto relevante no planejamento é a questão dafunção social dos conteúdos. De um modo particular, oplanejamento deve atender às especificidades dos educandose da comunidade, se aproximando o máximo possível docontexto social, e, ao mesmo tempo, se conectar ao mundoe às suas constantes transformações, de modo a intermediare aprimorar as várias linguagens e conhecimentos. Tudo oque se experimenta e se vive é mais facilmente interiorizado.Que realidade temos? Que realidade pretendemos? Como?Precisamos nos perguntar a todo momento.

O constante aperfeiçoamen-to do educador nesse pro-cesso é essencial. Seus co-nhecimentos precisam seratualizados e consolidados,de forma a se sentir capaz deutilizá-los com o máximo deaproveitamento e destrezaem meio à diversidade, poisé por meio dela que temos aoportunidade de desenvol-ver os diferentes tipos de in-teligência. A postura dianteda avaliação é preponderan-te! É necessário ter uma vi-são global do educando ecompreender o constanteprocesso de constituição deconhecimentos, não perden-do de vista os objetivos pro-postos. Não podemos utili-zar a avaliação como instru-mento de exclusão e classi-ficação. Avaliar é acolher,construir e incluir! Sugereação, tomada de decisão. Aavaliação viabiliza um ensi-no melhor. Como temos usa-do os mecanismos de avalia-ção? Como recurso discipli-nar? De submissão? Aplicaresses instrumentos requercuidado porque se trata deseres humanos com suas pe-culiaridades e múltiplas ex-periências. Sendo assim, nãoimplica em aprovação ou re-provação , e s im numamelhoria da qualidade devida. Ao longo do períodoletivo nosso olhar precisa seracolhedor, entendendo asdiferenças individuais, enossas ações voltadas para apossibilidade de superação,de sucesso.

Por uma prática educativa

O professor precisa acreditar nas potencialidades de seus alunos

mais consciente

Paulo Freire diz que “... nãohá ignorantes absolutos,nem sábios absolutos; háhomens que, juntos, buscamsaber mais...”. Esse é outroponto importante a ser ob-servado: a sala de aula. Tan-to o aluno quanto o profes-sor têm muito a aprenderum com o outro, por issoesse espaço deve ser marca-do por momentos de trocade experiências, de conhe-cimentos, onde o cresci-mento ocorra de maneiracoletiva. É também de Pau-lo Freire a afirmação de que“não há diálogo se não háuma intensa fé no homem,no seu poder de fazer e refa-zer”. Em outras palavras, oeducador precisa acreditar,fervorosamente, nas poten-cialidades de seus educan-dos, e interferir de modoadequado e eficiente paraque os obstáculos que apa-reçam durante a caminhadasejam superados. E é a cer-teza de estarmos no rumocerto que nos traz tranqüili-dade e nos anima a conti-nuar. A cada dia temos sidodesafiados a mudar e a ino-var. O ambiente escolar é olugar privilegiado para essesacontecimentos, e o diálogo,ponto de partida e chegada.

Muitos são os desafios enfrentados. Mas não deixemos cairno esquecimento o fato de que somos mediadores de espe-ranças, e se desanimarmos estaremos comprometendo inú-meras vidas. O educador faz a diferença a partir do mo-mento em que assume uma postura de enfrentamento di-ante dessas circunstâncias desfavoráveis que nos cercam. Aescola/professor tem servido de referencial para muitos denossos alunos, que buscam uma direção, um futuro. Háque se acolher, que se amar! Por isso, se desejamos formarcidadãos, sujeitos de seu próprio conhecimento, autôno-mos e críticos, temos que primeiro servir de exemplo. Odiscurso e a prática não podem se separar. A escola é o lugarde compartilhar, de crescer e de se realizar.

Não existem “fórmulas milagrosas”. Mas há pre-ceitos e diretrizes que devem nortear a práticapedagógica de cada educador, além de muitadisposição, pois “nada de grande no mun-do é feito sem paixão” (Hegel).

Se você quiser colaborar com esta nova seção envie-nos seu artigo por e-mail ([email protected]) ou em disquete (Largo dos Leões, 15 -9º andar - Humaitá - Rio de Janeiro - RJ - CEP 22260-210). O texto deve ser digitado em fonte Arial 12 e ter, no máximo, 6 mil caracteres.

Todos os artigos serão submetidos à avaliação prévia e publicados de acordo com a programação da revista. A MULTIRIO não se responsabilizapelos conceitos emitidos nos artigos e se reserva o direito de, sem alterar o conteúdo, resumir e adaptar os textos.

Leila Ferreira de Salles

• Escola Municipal Zilda Nunes da Costa

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Leitura e arte, umencontro promissor

PortinholasAna MariaMachadoIl. Luísa MartinsBaêta BastosEd. MercuryoJovem (2003)

Uma menina queadorava pintar edesenhar casas naareia da praia des-cobre um grandee belo livro com pinturas de Portinari queabrem portas, portinhas e portinholas paraum mundo de sonhos.

Uma aventura nomundo de TarsilaMércia M. Leitão e Neide DuarteIl. Claudio MartinsEditora do Brasil S/A (2000)

O universo interessante da pintora Tarsilado Amaral é revelado ao leitor pelos olhosdo sensível e atento menino Rafa.

Em cena Rex,apresentando:vida decachorro.Um passeiopela obra deAngelo deAquinoMércia M.Leitão e NeideDuarteIl. MarianaMassaraniEditora do Brasil S/A (1996)

As autoras partem de situações vividaspelo cão Rex, nas telas de Angelo deAquino, para contar uma história ale-gre e cheia de aventuras.

Um fotógrafo diferentechamado DebretMércia M. Leitão e Neide DuarteIl. Zeflávio TeixeiraEditora do Brasil S/A (1996)

As obras do artista Debret são o ponto departida desta publicação. As belas ima-gens e o texto sensível apontam cami-nhos para se entender o trabalho do famo-so pintor francês.

Um feliz encontro da escritora que gosta de pintar com o pintor que gostavade escrever. Assim é Portinholas, o mais novo lançamento de Ana MariaMachado que, com 33 anos de carreira, mais de 100 livros publicados noBrasil e em mais 17 países, e vários prêmios tomou posse na AcademiaBrasileira de Letras no último dia 29 de agosto.

Em 48 páginas, um texto poético conta a história da menina que fica tãomaravilhada ao folhear um grande livro com as pinturas de Candido Portinarique consegue, através dele, viajar por um mundo cheio de meninas combelos laços de fita, meninos que se divertem jogando futebol e soltandopipas e palhacinhos que brincam de gangorra. Como ilustrações fotos detelas do artista e desenhos de Luísa Martins Baêta Bastos.

Homenagear Portinari era um sonho antigo de Ana Maria Machado. Notexto de apresentação de Portinholas ela escreve: “Este livro levou anos ama-durecendo. Nasceu de dois projetos distintos. Um era o sonho de fazer umahistória ilustrada com pinturas de Portinari. Outro era a idéia de trabalharcom desenhos infantis e explorar a criação artística. De um jeito atraente paracrianças, sem dar a impressão de aula”. Ela conseguiu, de uma forma encan-tadora e cheia de magia, reunir as duas idéias e lançar seu Portinholas no anodo centenário do pintor.

Grandes pintores, aliás, já foram tema de muitos livros, geralmente tradu-ções, para crianças. No entanto, só mais recentemente, segundo a escritoraNeide Duarte, é que a obra de artistas famosos, e não apenas sua biografia,está disponível para o público infantil. Ela mesma, junto com Mércia M.Leitão, é autora de três publicações do gênero. Uma sobre a obra de JeanBaptiste Debret, outra sobre Tarsila do Amaral e uma terceira que trata dotrabalho de Angelo de Aquino.

Especialista em artes plásticas e integrante da equipe de projetos culturaisdo Departamento de Educação Fundamental da Secretaria Municipal deEducação, ela acredita que não poderia ser mais promissora a união de artee literatura. “Normalmente se constrói o texto e depois se faz a imagem. Éimportante oferecer às crianças outras formas de relacionar texto e ima-gem”, diz. E é exatamente o que ela e Mércia propõem nos três livros quefizeram juntas.

São três artistas de diferentes momentos da arte brasileira, com estilos diver-sos, que retrataram bem o seu tempo. Em cada uma das publicações o leitoré convidado a interagir, seja criando um texto para uma imagem e vice-versaou recriando uma determinada imagem. “Eu sempre imagino que o artistaficaria mais satisfeito sendo conhecido mais pela sua obra do que pela suabiografia”, observa.

Em Portinholas, Ana Maria Machado reúne poesia à obra de Portinari