Sobre a utilização didática da História da Ciência

Luiz O. Q. Peduzzi

O uso da HC no ensino: considerações críticas

Para Kuhn (1974) o conhecimento científico é passado de uma geração de profissionais para a seguinte.

A educação científica está baseada em manuais escritos para os alunos.

Os manuais científicos (livros e textos) e a sala de aula são as principais fontes de conhecimento científico do aluno.

Antes destes manuais as grandes obras como Physica, de Aristóteles, Optikis, de Newton, Eletricidade, de Franklin e Química, de Lavoisier , entre outras, definiam os problemas legítimos e os métodos de investigação para as sucessivas gerações praticantes.

O estudante não consegue perceber que o quebra cabeça da ciência normal com os quais se defronta são próprios de seu paradigma, e que estúdios de outras gerações se ocuparam com seus próprios problemas, instrumentos e resoluções.

Ler os clássicos históricos pode possibilitar outro olhar aos problemas discutidos nos livros. Mas encontrariam conceitos e padrões de soluções que já foram descartados ou substituídos.

Por que submeter o estudante, futuro cientista ao resgate de concepções que os melhores e mais persistentes esforços da ciência tornam possível descartar?

As estratégias pedagógicas que não fazem uso da história da ciência (ou que a distorce) conseguem rapidamente inculcar o paradigma atual no estudante. Porém, o pouco (ou distorcido) uso da história faz com que o estudante tenha a idéia que as teorias aceitas atualmente foram construídas de forma linear a cumulativa.

Para o historiador Klein, o historiador e o cientista têm perspectivas diferentes. O primeiro interessado na riqueza e detalhes dos fatos e o último na “objetividade” do fenômeno. Os materiais históricos com fins didáticos trazem uma História da ciência de má qualidade e se for a única possível, deve ser evitada.

O uso da História das Ciências no ensino sem um devida fundamentação teórica é vulnerável à criticas.

Os estudantes trazem para a sala de aula concepções muito parecidas com conceitos já abandonados pela ciência, o que pode propiciar escolha de temas históricos que gerem debates e reflexões.

A HC não deve ser utilizada unicamente para melhorar a aprendizagem dos conhecimentos científicos para que o estudante não tenha a impressão de que a Ciência é uma coisa morta e definitiva.

A HC pode:• - propiciar o aprendizado significativo das expressões

matemáticas;• -útil para lidar com problemas das concepções alternativas;• -compreensão de importantes episódios da história do

conhecimento científico • -desmistificar o método científico, danço ao aluno um

melhor entendimento do trabalho do cientista;• -mostrar como o pensamento científico se modifica com o

tempo;• -contribuir para um melhor entendimento das relações da

ciência com a tecnologia, cultura a sociedade;• -tornar as aulas mais reflexivas;• -melhorar o relacionamento professor-aluno;• -levar o aluno a se interessar ao ensino de ciências;

O segmento histórico do curso de Mecânica do Pró-Ciências/UFSC/99

Os livros didáticos freqüentemente trazem “arremedos de HC”, certas curiosidades descontextualizadas, como o episódio em que uma maçã caiu sobre a cabeça de Newton e que o levou a lei da gravitação universal.

Curso de mecânica Pró-Ciências/UFSC/99 baseou-se no texto “força e movimento: de Thales e Galileu” (Peduzzi, 1998), com o objetivo de propiciar ao professor uma reflexão após o término do curso. O texto procura apresentar uma história que:

• -mostra problemas e criatividade dos cientistas em ação;

• -chama atenção para a semelhança entre as ideias dos alunos e as concepções superadas sobre força e movimento;

• -exibe a dimensão do coletivo;• -contribui para desfazer mitos na ciência;• -entre outros.

A análise crítica de alunos universitários de Física à um curso de Mecânica

com conteúdo histórico em seu programa

A utilização do texto obteve resultados altamente satisfatórios na disciplina de Física I da UFSC. Na avaliação os alunos fizeram uma análise crítica sobre a presença da HC no ensino de Física I.

Para o professor que deseja fazer uso da HC é indispensável:

• -se familiarizar com relatos de pesquisa desta área;

• -domínio conceitual dos temas abordados;

• -convicção de que um curso de física não pode ser explorado unicamente com resolução de problemas;

• -disposição para encarar as dificuldades inerentes a qualquer processo de mudança.