sobre a estética transcendental de i kant

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Sobre a Estética Transcendental de I. Kant Disciplina: Filosofia Moderna I ProfºDrº Hélio Lopes – UFOP Por: Juliano Gustavo Ozga. Filosofia UFSM-UFOP. Introdução Nesse trabalho pretendo expor os tópicos que penso ser de fundamental importância para a elucidação e melhor entendimento dos conceitos que envolvem a estética transcendental de Immanuel Kant, ou seja, os conceitos de Espaço e Tempo, presentes na obra Crítica da razão Pura. Os tópicos abordados serão: 1- as considerações sobre espaço e tempo; 2- a explicação kantiana do conceito de espaço; 3- a explicação transcendental do conceito de espaço; 4- a explicação do conceito de tempo; 5- a explicação transcendental do conceito de tempo; 6- as consequências extraídas de ambos os conceitos de espaço e de tempo; 7- a explicação geral kantiana de espaço e de tempo e; 8- uma breve exposição da conclusão da estética transcendental. Penso ser de fundamental importância essa elucidação expositiva pelo fato de se tratar de dois conceitos importantes que irão fundamentar as considerações posteriores de Kant para definir os conceitos de fenômeno e coisas em si e que posteriormente terão relevância na definição de conceito sintético a priori. Sobre as considerações do espaço e tempo A questão que envolverá os conceitos de espaço e tempo possui relação com o conceito de intuição, definido por Kant como “é o fim para o qual tende, como meio, todo o pensamento”, sendo assim possível a observação de que a intuição, pura ou não, será um meio entre o fenômeno e as coisas em si. Nesse caso o conceito desensibilidade é definido como uma capacidade de receptividade, ou seja, capacidade humana de receber representação, sendo por esse

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Nesse trabalho pretendo expor os tópicos que penso ser de fundamental importância para a elucidação e melhor entendimento dos conceitos que envolvem a estética transcendental de Immanuel Kant, ou seja, os conceitos de Espaço e Tempo, presentes na obra Crítica da razão Pura. Os tópicos abordados serão: 1- as considerações sobre espaço e tempo; 2- a explicação kantiana do conceito de espaço; 3- a explicação transcendental do conceito de espaço; 4- a explicação do conceito de tempo; 5- a explicação transcendental do conceito de tempo; 6- as consequências extraídas de ambos os conceitos de espaço e de tempo; 7- a explicação geral kantiana de espaço e de tempo e; 8- uma breve exposição da conclusão da estética transcendental. Penso ser de fundamental importância essa elucidação expositiva pelo fato de se tratar de dois conceitos importantes que irão fundamentar as considerações posteriores de Kant para definir os conceitos de fenômeno e coisas em si e que posteriormente terão relevância na definição de conceito sintético a priori.

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Page 1: Sobre a Estética Transcendental de I Kant

Sobre a Estética Transcendental de I. KantDisciplina: Filosofia Moderna IProfºDrº Hélio Lopes – UFOP

Por: Juliano Gustavo Ozga.Filosofia UFSM-UFOP.

Introdução

  Nesse trabalho pretendo expor os tópicos que penso ser de fundamental importância para a elucidação e melhor entendimento dos conceitos que envolvem a estética transcendental de Immanuel Kant, ou seja, os conceitos de Espaço e Tempo, presentes na obra Crítica da razão Pura.

Os tópicos abordados serão: 1- as considerações sobre espaço e tempo; 2- a explicação kantiana do conceito de espaço; 3- a explicação transcendental do conceito de espaço; 4- a explicação do conceito de tempo; 5- a explicação transcendental do conceito de tempo; 6- as consequências extraídas de ambos os conceitos de espaço e de tempo; 7- a explicação geral kantiana de espaço e de tempo e; 8- uma breve exposição da conclusão da estética transcendental.

Penso ser de fundamental importância essa elucidação expositiva pelo fato de se tratar de dois conceitos importantes que irão fundamentar as considerações posteriores de Kant para definir os conceitos de fenômeno e coisas em si e que posteriormente terão relevância na definição de conceito sintético a priori.

Sobre as considerações do espaço e tempo

A questão que envolverá os conceitos de espaço e tempo possui relação com o conceito de intuição, definido por Kant como “é o fim para o qual tende, como meio, todo o pensamento”, sendo assim possível a observação de que a intuição, pura ou não, será um meio entre o fenômeno e as coisas em si. Nesse caso o conceito desensibilidade é definido como uma capacidade de receptividade, ou seja, capacidade humana de receber representação, sendo por esse fato a sensibilidade considerada uma capacidade passiva. No entanto, a capacidade humana definida como entendimento é considerada ativa devido ao fato de que ao entendimento é “que pensa esses objetos e é dele que provêm os conceitos”, sendo assim exposto dos aspectos importantes: 1- a capacidade humana de sensibilidade passiva e; 2- a capacidade humana de entendimento ativa. Dessa exposição podemos definir uma sequência entre Pensamento – Intuição (directe [ou pura] ou indirecte [ou não pura]) – Sensibilidade.

A sensação passiva será abordada como “o efeito de um objeto sobre a capacidade representativa, na medida em que somos afetados”, desse modo sendo justificada a sua característica passiva ou de receptividade. Posteriormente Kant irá expor que a intuição empírica (ou indirecte [não pura]) como algo que se relaciona com o objeto, e seu meio relacional é através da sensação; por isso Kant a define como intuição indirecte ou não pura por sua dependência empírica para ser elaborada.

Assim sendo, o objeto da intuição empírica é denominado fenômeno, ou seja, “o objeto indeterminado da intuição empírica”. Consequentemente Kant irá definir matéria como “o que no fenômeno corresponde à sensação” e forma como “o que possibilita que o diverso do fenômeno possa ser ordenado segundo determinadas relações”. Portanto, as

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representações puras no sentido transcendental são todas as representações isentas de conteúdo que pertença à sensação, sendo assim consideradas directe ou puras devido a sua independência do aspecto empírico. Desse fato define-se a intuição pura como: “deverá encontrar-se absolutamente a priori no espírito a forma pura das intuições sensíveis em geral, na qual todo o diverso dos fenômenos se intui em determinadas condições.”, ou seja, a intuição pura ou directe será “Essa forma pura da sensibilidade”.

Sobre a extenção e a figura, Kant define-as como sobra da intuição empírica não pura ou indirecte “quando separo da representação de um corpo o que o entendimento pensa dele,... e igualmente o que pertence à sensação”.

Nesse momento é interessante expor a definição de Kant para o que ele chama de estética transcendental, ou seja, com sua própria citação, como sendo “uma ciência de todos os princípios da sensibilidade a priori”, onde são necessários dois procedimentos:

1- Isolamento da sensibilidade empírica através do momento em que “abstraindo de tudo o que o entendimento pensa com os seus conceitos, para que apenas reste a intuição pura (ou directe).”;

2- “apartaremos ainda desta intuição tudo o que pertence à sensação para restar somente a intuição pura e simples, forma dos fenômenos, que é a única que a sensibilidade a priori pode fornecer”.

A partir desse procedimento Kant irá expor os seus resultados através de duas formas puras de intuição sensível, definidas como princípios com conhecimento a priori:1- O Espaço (aspecto externo) e;2- O Tempo (aspecto interno).

Sobre a explicação kantiana do conceito de espaço

A concepção de espaço apresentada por Kant com um aspecto externo é definida como “uma representação necessária a priori, que fundamenta todas as intuições externas”, possuindo assim tanto a característica de ser o espaço a condição de possibilidade dos fenômenos como a propriedade de ser uma representação a priori que fundamente necessariamente todos os fenômenos externos. Desse modo o espaço é definido como uma intuição pura ou indirecte pelo fato de que:

1- “só podemos ter a representação de um espaço único e, quando falamos de vários espaços, referimo-nos a partes de um só e mesmo espaço”; portanto, vários espaços se incluem dentro de um espaço maior que objetivamente não é divisível, apenas subjetivamente esse espaço é possível de ser divisível pelo fato de ser uma divisão subjetiva individual.

2- “O espaço é representado como uma grandeza infinita dada”; nesse caso o espaço como grandeza infinita dada só é possível objetivamente e de forma indivisível.

Desse fato Kant conclui que “a representação originária de espaço é intuição a priori e não conceito”, ou seja, uma intuição pura e indirecte baseada no princípio do conhecimento a priori definido como espaço.

Sobre a exposição transcendental do conceito de espaço

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Para iniciar a exposição acima citada devemos definir a concepção de exposição transcendental adotada por Kant. Kant define a exposição transcendental de um conceito como “a explicação de um conceito considerado como princípio, a partir do qual se pode entender a possibilidade de outros conhecimentos sintéticos a priori” e para isso requer-se dois passos fundamentais:

1- O primeiro necessita que do conceito dado decorram realmente conhecimentos dessa natureza;

2- A consequência imediata disso será que esses conhecimentos apenas sejam possíveis apenas pressupondo-se um dado modo da explicação desse conceito, no caso, o conceito de espaço abordado transcendentalmente.

Portanto, nesse momento podemos definir o conceito de espaço transcendentalmente com a consideração final:

“o conceito transcendental dos fenômenos no espaço é uma advertência crítica de que nada, em suma, do que é intuído no espaço é uma coisa em si, de que o espaço não é uma forma das coisas, forma que lhes seria própria, de certa maneira, em si”; aqui está clara a distinção entre fenômeno e coisas em si, ou seja, “que nenhum objeto em si mesmo nos é conhecido e que os chamados objetos exteriores são apenas representações da nossa sensibilidade, cuja forma é o espaço, mas cujo verdadeiro correlato, isto é, a coisa em si, não é nem pode ser conhecida por seu intermédio; de resto, jamais se pergunta por ela na experiência”; assim sendo, os objetos exteriores são representações sensíveis expressos formalmente pelo espaço (exterior), onde seu intermédio é o espaço e seu correspondente, ou coisa em si, é necessariamente incognoscível através do espaço.

Sobre a explicação do conceito de tempo

Sobre a definição de tempo kantiana (aspecto interno) podemos inferir que o mesmo é “uma representação necessária que constitui o fundamento de todas as intuições”, tanto as intuições puras ou indirectes como as intuições não puras ou directes. Portanto, o tempo não é necessariamente um conceito empírico directo ou não puro, ou seja, ele não deriva de uma experiência qualquer. Portanto, a simultaneidade, ou seja, que uma coisa que existe num só e mesmo tempo, e a sucessão, definida como uma coisa que existe em tempos diferentes, são possíveis de surgirem na percepção se a representação do tempo for seu fundamento a priori. Por esse fato o tempo é dado a priori e possui apenas uma dimensão, sendo indivisível, donde se conclui que os tempos diferentes são sucessões de um tempo maior indivisível e os espaços diferentes são simultâneos.

O tempo é uma forma pura de intuição sensível onde sua representação originária será dada como ilimitada e, portanto indivisível objetivamente, podendo ser divisível apenas subjetivamente e internamente pelo sujeito.

Sobre a explicação transcendental do conceito de tempo

Aqui é possível concluir com as palavras de Kant sua exposição transcendental do conceito de tempo como “se a representação do tempo não fosse intuição (interna) a priori, nenhum conceito, fosse qual fosse, permitiria tornar inteligível a possibilidade de uma mudança, isto é, a possibilidade de uma ligação de predicados contraditoriamente opostos num só e mesmo objeto”, ou seja, simultâneo ou sucessivo, porém, de forma objetiva. Assim sendo, “só no tempo sucessivamente, é que ambas as determinações,

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contraditoriamente opostas, se podem encontrar numa coisa”, sendo o tempo sucessivo e o espaço simultâneo.

Por isso “o nosso conceito do tempo explica a possibilidade de tantos conhecimentos sintéticos a priori quantos os da teoria geral do movimento, teoria que não é pouco fecunda”, onde a teoria do movimento implicará a teoria geométrica, onde a teoria do movimento expressa um ponto em determinado espaço e em determinado tempo.

Sobre as consequências extraídas de ambos os conceitos de espaço e de tempo

Desde já definiremos o tempo como a condição formal a priori de todos os fenômenos em geral e o espaço, enquanto forma de toda intuição externa, limita-se, como condição a priori, simplesmente aos fenômenos externos. Por isso mesmo, só posso dizer a priori se “todos os fenômenos exteriores são determinados a priori no espaço e segundo as relações do espaço, posso igualmente dizer com inteira generalidade, a partir do princípio do sentido interno, que todos os fenômenos em geral, isto é, todos os objetos dos sentidos, estão no tempo e necessariamente sujeitos às relações do tempo”, sendo evidente que o tempo é uma condição subjetiva da nossa intuição, pelo fato de ser sempre sensível, ou seja, na medida em que somos afetados pelos objetos, e não é nada em si, fora do sujeito.

Por intuição podemos inferir que ela “é a condição própria pela qual o tempo pertence à representação dos objetos”, onde essa condição anterior aplicada ao conceito gera o fato de que “se todas as coisas, enquanto fenômenos (objetos da intuição sensível), estão no tempo, o princípio adquire a conveniente validade objetiva e universalidade a priori”. Portanto, a realidade empírica do tempo, ou seja, “a sua validade objetiva em relação a todos os objetos que possam apresentar-se aos nossos sentidos” permite a constatação da possibilidade da idealidade transcendental do tempo expressa pela firmação kantiana de que “o tempo nada é, se abstrairmos das condições subjetivas da intuição sensível e não pode ser atribuída aos objetos em si (independentemente da sua relação com a nossa intuição), nem a título de substâncianem de acidente”.

Sobre a explicação geral kantiana de espaço e de tempo

Sendo assim, pode-se inferir sobre o tempo, através da afirmação kantiana que “o tempo não é inerente aos próprios objetos, mas unicamente ao sujeito que os intui”, ou seja, é um fato interno e subjetivo.

Posteriormente Kant define espaço e tempo como “O tempo e o espaço são portanto duas fontes de conhecimento das quais se podem extrair a priori diversos conhecimentos sintéticos, do que nos dá brilhante exemplo, sobretudo, a matemática pura, no que se refere ao conhecimento do espaço e das suas relações”, sendo essa uma defesa antecipada do que posteriormente Kant irá demonstrar analogamente através da geometria. Assim sendo, se abordados conjuntamente, os conceitos de espaço e tempo são formas puras de toda e qualquer intuição de caráter sensível e empírica, sendo assim possíveis as proposições sintéticas a priori.

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Para esclarecer o que foi dito anteriormente é importante citar os exemplos kantianos dos dois partidos que abordam a realidade absoluta do espaço e tempo:

1- Partido que geralmente tomam os físicos matemáticos: deve-se aceitar dois não-seres eternos e infinitos, existentes por si mesmo, ou seja, o espaço e o tempo, que existem sem serem algo de real, somente para abranger em si tudo o que é real.

2- Partido formado por alguns físicos metafísicos: consideram o espaço e o tempo como relações de fenômenos abstraídas da experiência, ou seja, relações de justaposição e sucessão, sendo confusamente representadas nessa abstração, sendo necessário contestar a validade das teorias matemáticas a priori, quando relativas às coisas reais, como, por exemplo, no espaço, ou acerca de sua certeza apodítica, sendo que tal certeza apenas se verifica a posteriori.

A exposição final de Kant expõe sua definição de estética transcendental como sendo algo que “resulta claramente de todos os outros conceitos pertencentes à sensibilidade, mesmo o do movimento, que reúne ambos os elementos (o espaço e o tempo [pressupõe]), algo de empírico”. Sendo assim, há a pressuposição da percepção de algo que se move, porém, no espaço, considerado em si próprio, nada é móvel.

Por isso há a necessidade de que o móvel seja algo que não se encontre no espaço a não ser “pela experiência, sendo portanto, um dado empírico”. Portanto, a estética transcendental exclui o conceito de mudança de entre os seus dados a priori. O motivo para tal defesa seria que não é o próprio tempo que muda, mas unicamente algo que está no tempo (dado empírico talvez).

Assim fica evidente a necessidade da percepção de uma certa existência e sucessão de suas determinações, por conseguinte, a experiência.

Sobre uma breve exposição da conclusão da estética transcendental

 Para finalizar essa breve exposição indaga-se sobre o fato de como são possíveis

proposições sintéticas a priori, sendo que para Kant, espaço e tempo são intuições puras a priori do entendimento, onde “através das intuições (o espaço e o tempo), os juízos a priori, nunca podem ultrapassar os objetos dos sentidos e apenas têm valor para objetos da experiência possível”, onde a razão para essa afirmação é que nas intuições puras a priori do entendimento, ou seja, o espaço e o tempo, quando num juízo a priori queremos sair do conceito dado, encontramos aquilo que pode ser descoberto a priori, não no conceito, mas certamente na intuição correspondente, e pode estar ligado sinteticamente a esse conceito”.

 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:       KANT, Immanuel, Crítica da Razão Pura. Trad. Manuela Pinto dosSantos e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa: Fundação CalousteGulbenkian, 5ª ed., 2001.