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SÍNTESE DO CONHECIMENTO SOBRE O ESTATUTO AVES LÍMICOLAS E DAS AVES MARINHAS COSTEIRAS NOS PRINCIPAIS SÍTIOS NATURAIS DA COSTA OCIDENTAL AFRICANA

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SÍNTESE DO CONHECIMENTO SOBRE O ESTATUTO AVES LÍMICOLAS E DAS AVES MARINHAS COSTEIRAS NOS PRINCIPAIS SÍTIOS NATURAIS DA COSTA OCIDENTAL AFRICANA

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Agradecimentos aos seguintes pessoas por suas contribuiçãos:

Amadou Diam Ba

Paul Ndiaye

 Mohamed Henriques

©2019

Síntese do conhecimento escrita por Pierre Campredon

No âmbito do Plano de Acção MAVA para a conservação das zonas húmidas e das aves

costeiras na África Ocidental

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O estatuto das aves límicolas e das aves marinhas costeiras nos principais sítios naturais da costa ocidental africana

sumário

RESUMO ................................................................................................................................ 4

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6

FONTE DA INFORMAÇÃO E DOS DADOS ............................................................................. 8

MÉTODOS E ÂMBITO DAS CONTAGENS ...........................................................................10

AS POPULAÇÕES DAS ESPÉCIES-ALVO ............................................................................12

As aves limícolas ........................................................................................................................... 12

As aves marinhas costeiras ........................................................................................................... 16

SITUAÇÃO DAS AVES COSTEIRAS NOS PRINCIPAIS SÍTIOS .............................................18

Parque Nacional do Banc d’Arguin ...........................................................................................18

O baixo delta do rio Senegal ......................................................................................................... 22

O Parque Nacional do Delta do Saloum (PNDS) ........................................................................ 25

O aquipélago dos Bijagós .............................................................................................................. 28

CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 34

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 38

SUMÁRIO

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O estatuto das aves límicolas e das aves marinhas costeiras nos principais sítios naturais da costa ocidental africana

No âmbito do Plano de Acção para a Conservação das Zonas Húmidas e das Aves Costeiras (PAZHOC), foi efectuado um diagnóstico sobre a situação das aves costeiras nos sítios prioritários da costa ocidental africana. A análise dos relatórios dos sítios prioritários, nomeadamente os Parques Nacionais do Banc d’Arguin e do Diawling na Mauritânia, os Parques Nacionais da Langue de Barbarie e do Delta do Saloum no Senegal e a Reserva da Biosfera do Arquipélago dos Bijagós na Guiné-Bissau, juntamente com os dados das contagens mundiais e das publicações científicas, permite obter as seguintes conclusões:

º Os sítios prioritários da África Ocidental acolhem anualmente, durante 6 a 8 meses, uma grande parte das limícolas que se reproduzem na faixa compreendida entre o Norte da Europa e o Árctico, desde o Canadá até à Sibéria, e fazem parte da rota migratória do Atlântico Leste.

º Globalmente, as populações destas límicolas estão em declínio desde os anos de 1980-90.

º As causas deste declínio são difíceis de identificar ou de hierarquizar, uma vez que as limícolas usam regiões diferentes ao longo do ano. Na África

RESUMO

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O estatuto das aves límicolas e das aves marinhas costeiras nos principais sítios naturais da costa ocidental africana

resumo

Ocidental, os dois locais que reúnem a grande maioria dos indivíduos, o Banc d’Arguin e os Bijagós, não parecem ter sofrido nenhuma alteração que possa explicar esse declínio. Entre os factores responsáveis por essas alterações está a pressão de pesca, mas note-se que as aves aquáticas que se alimentam de peixes são menos afectadas do que aquelas que se alimentam de invertebrados das zonas vasosas.

º Os factores de declínio podem suceder durante a migração quando as condições climáticas não são favoráveis, forçando as aves a mudar de rota e de locais de paragem. Estes podem ocorrer nos locais de paragem para reabastecimento, que desempenham um papel fundamental, ao permitir que as aves reponham as suas reservas antes de partirem para as áreas de reprodução, geralmente localizadas a mais de 10,000 km das áreas de invernada africanas. Sabemos que o Mar de Wadden, nos Países Baixos, que representa a principal zona de paragem destas espécies, tem sofrido alguma degradação como consequência da dragagem mecânica industrial das suas zonas vasosas para a exploração de bivalves e extracção de areias.

º Finalmente, as causas podem ter origem nas áreas de reprodução se as condições climáticas forem desfavoráveis, ou quando os lemingues (roedores) não são suficientemente abundantes para as raposas ou para as aves de rapina que, em alternativa, se alimentam das aves limícolas.

º A longo prazo, sabemos que as alterações climáticas terão um papel na evolução das espécies de aves limícolas. Nos sítios de invernada em África, o aumento da temperatura pode causar hipertermia durante o período de muda das penas. A subida do nível do mar terá consequências na acessibilidade espacial ou temporal das zonas vasosas entre-marés onde as aves se alimentam.

A situação das aves marinhas costeiras abrangidas pelo Plano de Acção parece favorável, pelo menos para o Garajau-grande e Garajau-real, bem como para a Gaivota-de-bico-fino, cujos efectivos são considerados estáveis ou em crescimento. Apesar do progresso alcançado nas técnicas de contagem, em particular graças ao uso de drones, esses resultados devem ser encarados com prudência, tendo em conta as ameaças que poderão afectar a médio-longo prazo as espécies coloniais. Em todos os locais, tem sido observada a erosão das ilhas arenosas que constituem o habitat de nidificação dessas espécies, assim como episódios frequentes de submersão das posturas, relacionados com a subida do nível do mar. Outras ameaças às colónias incluem a colheita de ovos, a perturbação causada por turistas ou a introdução de porcos, que circulam livremente em algumas ilhas dos Bijagós com potencial para albergarem grandes colónias de garajaus.

As aves aquáticas não devem ser vistas apenas por seu valor intrínseco como componentes da biodiversidade. Devemos reconhecer suas funções na manutenção e equilíbrio dos ecossistemas costeiros. Também devemos considerar o seu papel enquanto indicadores do estado do ambiente. Isso é particularmente verdadeiro para as aves limícolas que cruzam grandes regiões do planeta durante o ciclo anual utilizando uma variedade de biomas e de zonas climáticas e, portanto, podem servir como “sentinelas” das mudanças globais que actualmente afectam o nosso planeta.

As incertezas que pairam sobre o futuro das aves costeiras devem incentivar maiores esforços na investigação científica, na formação de técnicos e no reforço das instituições nacionais no âmbito de parcerias ao nível da rota migratória na sua totalidade, seguindo o exemplo do que está a ser feito no âmbito do PAZHOC.

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Na interface entre o mar e a terra encontram-se os habitats mais produtivos do planeta: mares pouco profundos, zonas de vasas entre-marés, mangais e zonas húmidas costeiras. É aqui que vive a maioria das populações humanas, onde as indústrias mundiais estão concentradas e onde os alimentos são produzidos em solos férteis. É também aqui que as consequências da subida do nível do mar

e as rápidas mudanças no caudal dos rios são mais sentidas. É ainda aqui que as aves limícolas, as maiores migradoras do planeta, são encontradas, não tendo outro lugar para habitar.

A conservação das aves limícolas, das aves marinhas costeiras e dos seus habitats é de grande importância, não apenas porque elas representam um recurso partilhado entre vários países, desde as latitudes tropicais ao Círculo Polar Ártico, mas também devido ao seu papel ecológico nos ecossistemas costeiros que fornecem serviços essenciais às populações humanas. Por estes motivos, a sua

INTRODUÇÃO

Na interface entre o mar e a terra encontram-se os habitats mais produtivos do planeta

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introdução

conservação é considerada prioritária pelas instituições nacionais responsáveis pela biodiversidade e pelas áreas protegidas, em parceria com organizações regionais e internacionais envolvidas em iniciativas conjuntas de protecção da biodiversidade costeira, designadamente o PRCM e o AEWA / CMS.

Em 2015, a Wetlands International publicou um relatório alarmante sobre a situação das aves aquáticas pertencentes à rota migratória do Atlântico Leste. Neste relatório, a situação de 66 populações de aves aquáticas foi avaliada com base em dados obtidos em contagens internacionais ao longo de vários anos (Wetlands international 2015, van Roomen et al. 2015). As principais conclusões deste relatório indicam que os efectivos das populações das aves aquáticas em questão diminuíram globalmente entre 2003 e 2014 em quase 2,5 milhões de indivíduos. As razões para esse declínio são múltiplas e difíceis de discriminar, tanto mais tratando-se de espécies com elevada mobilidade, que ocupam uma sucessão de diversos ambientes durante

seu ciclo anual e que os dados sobre seus efectivos são baseados em métodos de contagem particularmente complexos. Na medida em que não sabemos se se trata de uma evolução estrutural ou de flutuações temporais, há uma necessidade urgente de investigação e monitorização em programas integrados, entre os quais o Plano de Acção para as Zonas Húmidas e as Aves Costeiras - PAZHOC implementado na África Ocidental por um conjunto de parceiros nacionais e internacionais.

Neste contexto, considerou-se apropriado produzir uma síntese da situação das populações das aves limícolas e das aves marinhas costeiras em cada um dos sítios principais abrangidos pelo PAZHOC. Deste modo, foi compilada informação para o Parque Nacional do Banc d’Arguin (Ba et al. 2018), o Delta do Rio Senegal, em particular o Parque Nacional do Diawling (Ba et al. 2018) e o Parque Nacional da Langue de Barbarie (Diop et al. 2018), o Parque Nacional do Delta do Saloum (Diop et al. 2018) e a Reserva da Biosfera do Arquipélago dos Bijagós (Henriques, 2019). A compilação de dados destes sítios e a produção do presente relatório de âmbito regional, têm por objectivo não apenas caracterizar a situação de referência sobre as tendências observadas, mas também fornecer informações úteis na definição de prioridades para a gestão e conservação de populações de aves, fornecendo elementos para as estratégias de comunicação e de advocacia do PRCM e dos seus parceiros.

Os efectivos das populações das aves aquáticas em questão diminuíram globalmente entre 2003 e 2014 em quase 2,5 milhões de indivíduos

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FONTE DA INFORMAÇÃO E DOS DADOS

As missões de campo foram realizadas pelas respectivas instituições nacionais, na maioria das vezes com o apoio de especialistas internacionais

A grande maioria dos dados sobre o efectivo populacional das aves da rota migratória do Atlântico Leste provém das

contagens internacionais de aves aquáticas realizadas fora do período reprodutor, principalmente durante o mês de Janeiro (van Roomen et al. 2014). As contagens são realizadas anualmente e coordenadas pela Wetlands International (Delany et al. 1999, Dodman et al. 1999). Contagens complementares foram efectuadas na África Ocidental em 2014, de forma a preencher algumas lacunas e a possibilitar comparações. Estas contagens adicionais foram possíveis graças aos esforços

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Fonte da inFormação e dos dados

As actividades de investigação foram simultaneamente realizadas com o apoio de equipas internacionais (...) na maioria das vezes em coordenação com organizações implicadas na gestão da rota migratória do Atlântico Leste

combinados da WSFI (Wadden Sea Flyway Initiative) e do Projecto CMB (Projecto de Conservação das Aves Migradoras), coordenado pela BirdLife International em cooperação com a Wetlands International. As missões de campo foram realizadas pelas respectivas instituições nacionais, na maioria das vezes com o apoio de especialistas internacionais. Os dados das contagens por local, bem como as instituições responsáveis por cada um dos países, estão publicados na internet em: http://www.wetlands.org

No que diz respeito às aves marinhas coloniais, os dados das contagens na África Ocidental foram obtidos a partir de contagens de colónias num número limitado de sítios conhecidos. Os resultados foram sintetizados por Veen et al. (2007), Veen et al. (2011) e Dodman (2014). Os dados relativos às populações reprodutoras foram em grande parte possíveis através das actividades realizadas pelas instituições nacionais encarregadas da gestão das áreas protegidas e da biodiversidade, com a colaboração de especialistas internacionais, em especial no âmbito do Projecto Alcyon, coordenado pela BirdLife International e financiado pela Fundação MAVA.

As actividades de investigação foram simultaneamente realizadas com o apoio de equipas internacionais, principalmente da Holanda (NIOZ, Universidade de Groningen e VEDA Consulting em particular) e, mais recentemente, de Portugal (Universidades de Lisboa e de Aveiro, ISPA-Instituto Universitário) na maioria das vezes em coordenação com organizações implicadas na gestão da rota migratória do Atlântico Leste, incluindo a BirdLife International, a Wadden Sea Flyway Initiative, o Projecto de Conservação das Aves Migradoras, a AEWA / CMS, etc.

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MÉTODOS E ÂMBITO DAS CONTAGENS

O mês de janeiro foi escolhido para a realização simultânea das contagens

Os métodos do censo diferem marcadamente, dependendo se as populações estão em migração, em invernada1 ou em reprodução. Em relação às populações de aves limícolas nos locais considerados no presente relatório, os censos foram realizados durante o inverno. O mês de janeiro foi escolhido para a realização simultânea das contagens em

1 O termo invernada, correspondente à estação do Inverno nos países temperados, refere-se ao período fora das épocas de reprodução e de migração.

toda a área de distribuição das populações, na medida em que esse mês corresponde ao período do ano em que os indivíduos se encontram mais estáveis e concentrados num número reduzido de sítios.

Os métodos de contagem apresentam diversas dificuldades e, portanto, estas devem ter sidas em conta na interpretação dos resultados (ver a análise de Oudman et al. 2017 para o PNBA). Sabemos que as margens de erro na contagem de

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métodos e âmbito das contagens

Os censos das populações das aves marinhas costeiras são realizados principalmente durante o período reprodutor

grandes bandos de aves limícolas são significativas, mesmo quando realizadas por observadores experientes. Um caso extremo surgiu no Banc d’Arguin, onde um único bando de limícolas foi estimado em 1,1 milhões de indivíduos. Além disso, a maioria destes bandos é multiespecífica, o que leva à subestimação das espécies menos abundantes, de menores dimensões ou mais discretas incluídas em bandos de espécies mais abundantes, dependendo a qualidade da contagem, em grande parte, da experiência do observador. Os bandos podem ser contados duas vezes quando diferentes áreas usadas pelos mesmos indivíduos não são contadas simultaneamente. Essa fonte de erro é frequente nos locais mais extensos e com difícil acessibilidade. Além disso, certas espécies, como o Maçarico-galego, usam ambientes fechados como local de refúgio na preia-mar, especialmente zonas de mangal, onde a visibilidade é reduzida.

De modo a compensar os erros sistemáticos de contagem dos grandes bandos nos locais de refúgio de preia-mar, são por vezes utilizadas técnicas complementares de amostragem. Nesse sentido, apenas um pequeno número de locais representativos são contados, a partir dos quais é deduzido o efectivo total por extrapolação. No entanto, não é fácil identificar os locais que apresentam o melhor nível de correlação com a área total utilizada pelas aves. A contagem de

indivíduos com anilhas de cor também é por vezes utilizada para estimar, por dedução, a abundância dos efectivos (Oudman et al. 2017).

Os censos das populações das aves marinhas costeiras são realizados principalmente durante o período reprodutor. Nesta fase as aves estão concentradas em colónias num pequeno número de locais conhecidos, facilitando as contagens. As contagens são realizadas seguindo medidas especiais, tomando em consideração os riscos de perturbação das colónias instaladas no solo e que podem causar o abandono dos adultos, elevada mortalidade das crias ou predação de ovos por outras espécies de aves (Veen et al. 2004). As contagens devem ser efectuadas evitando as horas de maior calor e enquanto as crias têm determinada idade. São realizadas por uma equipa de observadores através da contagem directa de ninhos ou medindo a área da colónia e estimando o número de casais reprodutores a partir da densidade de ninhos obtida por contagem de áreas de amostragem. Dados adicionais sobre outros parâmetros reprodutivos, como o número de ovos por ninho ou o desenvolvimento das crias, são também obtidos. Mais recentemente, o uso de drones tornou possível a realização de censos aéreos suficientemente precisos para evitar a entrada nas colónias, um método que tende a generalizar-se.

As limitações destes censos vêm geralmente do facto de que os períodos de contagem nem sempre coincidem com o período em que a colónia está completa, mas esse factor é compensado pela reprodução nestas espécies coloniais ser altamente sincronizada.

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as populações das espécies-alvo

AS POPULAÇÕES DAS ESPÉCIES-ALVO

Dois grupos de espécies de aves são referidos nesta compilação, designadamente as aves limícolas e as aves marinhas costeiras.

As aves limícolas As populações de limícolas objecto deste relatório pertencem à rota migratória do Atlântico Leste. A maioria das espécies é altamente migratória, reproduzindo-se desde o leste do Canadá à Sibéria e invernando ao longo do litoral atlântico da África, especialmente entre o Golfo de Arguin, na Mauritânia, e o arquipélago dos Bijagós na Guiné-Bissau. A sua presença na faixa costeira da África Ocidental

pode prolongar-se por um período de 6 a 8 meses para determinadas espécies, destacando-se assim a importância vital dos locais de invernada no ciclo de vida dessas espécies.

As limícolas são aves de tamanho médio, de tons discretos castanho-acinzentados, que vivem em bandos, geralmente na interface entre o mar e a terra, nas zonas entre-marés. Na baixa-mar, as zonas vasosas

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as populações das espécies-alvo

são descobertas tornando-se acessíveis às aves que aí encontram os vermes, os crustáceos e os moluscos que constituem a sua dieta. Quando a maré sobe e volta a cobrir as zonas vasosas, as límicolas deslocam-se para refúgios próximos das áreas de alimentação, onde por vezes se concentram em grandes bandos.

Observadas de longe, as limícolas são parecidas entre si, mas apresentam na realidade diferenças significativas a nível morfológico e comportamental em função da sua dieta. Espécies como o Fuselo, que se alimentam de vermes, sondam a lama às cegas utilizando o seu bico longo, equipado

com terminais nervosos extremamente sensíveis. Os maçaricos-galegos também têm um bico muito longo que lhes permite capturar os caranguejos dentro das suas galerias. Por outro lado, espécies como as tarambolas ou os borrelhos, com pernas e bicos curtos, capturam as presas, que vivem à superfície das vasas, através da visão. Essas diferenças de comportamento e de dieta facilitam a coexistência entre espécies, graças a uma partilha eficaz dos recursos. As principais espécies de aves limícolas que ocorrem na zona costeira da África Ocidental são indicadas abaixo:

O Maçarico-real Numenius arquata, é o maior da família, distinguindo-se também pelo seu bico curvo muito longo. Alimenta-se de caranguejos e de vermes. Reproduz-se na Europa até aos Urais. As populações referidas neste relatório estão em declínio.

O Maçarico-galego Numenius phaeopus, assemelha-se ao anterior, mas é menor. No Inverno, alimenta-se principalmente de caranguejos-violinistas. Nidifica na Gronelândia, Islândia, Escandinávia e Rússia. As suas populações estão em declínio.

O Fuselo Limosa lapponica, distingue-se pelo seu bico muito comprido. Alimenta-se de vermes. É a ave migradora que detém o recorde do voo ininterrupto mais longo, podendo voar 11,500 km contínuos em apenas 9 dias, sem paragens para descanso ou alimentação. A população da área geográfica deste relatório reproduz-se na Sibéria e está em declínio.

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as populações das espécies-alvo

A Perna-vermelha Tringa totanus, de patas vermelhas compridas, alimenta-se de caranguejos-violinistas, de vermes e de pequenos moluscos. Reproduz-se no Norte da Europa e a sua população está estável ou em declínio.

A Perna-verde Tringa nebularia, é semelhante à anterior, mas tem patas esverdeadas. Alimenta-se de pequenos crustáceos. Reproduz-se na Escócia e nos países escandinavos e sua população é considerada estável.

A Rola-do-mar Arenaria interpres, é pequena e atarracada, com bico curto e patas alaranjadas. Vira pedras ou algas com ajuda do bico e da cabeça para capturar pequenos crustáceos. Reproduz-se desde o Nordeste do Canadá ao Noroeste da Rússia e a sua população está em declínio.

O Pilrito-de-peito-preto, Calidris alpina, tem tamanho pequeno e bico escuro ligeiramente curvo. Alimenta-se de vermes e de pequenos moluscos. A sua área de reprodução estende-se desde a Escandinávia ao Noroeste da Sibéria. A sua população está estável ou em declínio.

A Seixoeiras Calidris canutus, de tamanho médio e aspecto robusto, tem um bico mais grosso, com o qual se alimenta de moluscos, principalmente bivalves. Reproduz-se na Sibéria e a população referida neste relatório está em declínio.

O Pilrito-de-bico-comprido Calidris ferruginea, é pequeno e o seu bico é curvo. Alimenta-se de vermes. Reproduz-se no Norte da Sibéria e a sua população está a aumentar.

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as populações das espécies-alvo

O Pilrito-das-praias Calidris alba, é pequeno, com plumagem cinzenta-clara e bico preto. Alimenta-se de crustáceos, correndo rapidamente para cima e para baixo junto à linha de água, acompanhando o movimento das ondas. Reproduz-se muito a norte em torno do Círculo Polar Ártico e a sua população parece estável.

O Pilrito-pequeno, Calidris minuta, é muito pequeno, com bico curto e fino. Reproduz-se no Norte da Escandinávia e na Rússia. Alimenta-se de invertebrados, incluindo moluscos e pequenos crustáceos. A sua população está em declínio.

O Tarambola-cinzenta Pluvialis squatarola, de tamanho médio, tem bico curto e robusto. Alimenta-se de caranguejos-violinistas, de vermes e de moluscos da superfície das zonas vasosas. Reproduz-se na tundra siberiana. Globalmente, a sua população está a aumentar, embora esteja a diminuir nas zonas de invernada africanas.

O Borrelho-grande-de-coleira Charadrius hiaticula, pequeno, atarracado e de bico curto, reproduz-se no Nordeste do Canadá, na Gronelândia e na Islândia. Alimenta-se de pequenos invertebrados na superfície das zonas vasosas. A subpopulação psammodroma que inverna na África Ocidental parece apresentar um ligeiro decréscimo.

O Borrelho-de-coleira-interrompida Chararius alexandrinus é uma pequena limícola de bico preto e fino. Reproduz-se desde a Europa Ocidental ao Noroeste da África. Alimenta-se de insectos, de pequenos crustáceos e de moluscos capturados à superfície. A interpretação das suas tendências é ambígua, mas os efectivos da África Ocidental parecem estar em declínio.

O Ostraceiro Haematopus ostralegus, apresenta plumagem preta e branca e bico forte vermelho-alaranjado. Reproduz-se nos países em torno do Mar do Norte e na Escandinávia. Tal como o próprio nome indica, alimenta-se de bivalves e de gastrópodes. A sua população está em declínio.

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as populações das espécies-alvo

Entre as 15 espécies de aves limícolas para as quais o litoral da África Ocidental desempenha um papel importante, uma dezena apresenta uma tendência global de declínio. De acordo com o relatório da Wetlands International, de um total de 17,400,000 indivíduos pertencentes a espécies bentívoras contados em 2003 durante o Inverno, houve uma diminuição de cerca de 2,500,000 em 2014. No entanto, o relatório refere que para os invernantes africanos essa diferença representaria apenas 200,000 indivíduos. Estes dados parecem sugerir uma degradação nas condições de invernada na

Europa ou nas condições de reprodução das populações que passam o Inverno preferencialmente na Europa. Geralmente, os ambientes utilizados pelas limícolas na África Ocidental têm um certo número de vantagens relacionadas com a clemência e a estabilidade do clima (as aves não precisam de armazenar – e de transportar – reservas de gordura), a acessibilidade previsível dos locais de alimentação devido à regularidade das marés, bem como a alta produtividade, mesmo se a biomassa bentónica é menor comparativamente à de locais europeus como o Mar de Wadden.

As aves marinhas costeirasAo contrário das aves limícolas referidas anteriormente, as aves marinhas alvo do Plano de Acção reproduzem-se na África Ocidental e realizam migrações de pequena amplitude. Na altura da reprodução reúnem-se em colónias em pequenas ilhas naturalmente livres de predadores terrestres ou da presença humana, onde nidificam no chão.

Todas elas alimentam-se principalmente de peixes que capturam vivos. Os garajaus capturam as suas presas através de um mergulho em voo picado desde uma altitude relativamente elevada (até ca. 15 metros). A Gaivota-de-bico-fino e a Gaivota-de-cabeça-cinzenta capturam as suas presas à superfície. As espécies consideradas neste plano são as seguintes:

O Garajau-grande Hydroprogne caspia, é o maior dos garajaus. Entre outras características, tem um bico vermelho robusto e brilhante no início da época de reprodução, tornando-se progressivamente alaranjado. Forma colónias de tamanho variável, desde algumas dezenas a vários milhares de casais. Reproduz-se de Fevereiro a Novembro, dependendo do local, e cada casal produz 1 a 3 ovos. Os locais de nidificação, entre a Mauritânia e a Guiné-Conacri, são frequentemente ilhotas arenosas e por vezes rochosas (como sucede

nas Ilhas Kiaone, no Golfo de Arguin). Embora a sua dieta consista predominantemente em peixes vivos, o Garajau-grande pode ser oportunista, por exemplo, aproveitando os peixes rejeitados pela pesca industrial (capturas acessórias) ou mesmo consumindo pequenas tartarugas-marinhas na altura da eclosão. A subpopulação da área geográfica abrangida por este relatório está estimada entre 15,000 a 20,000 casais reprodutores, apresentando uma tendência de crescimento.

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as populações das espécies-alvo

O Garajau-real Thalasseus maxima. A subespécie albididorsalis da África Ocidental reproduz-se entre a Mauritânia e a Guiné-Conacri. A população reprodutora, estimada entre 85,000 e 105,000 casais, parece estável (Wetlands International 2015, Dodman 2014, Veen et al. 2007, 2011). O Garajau-real alterna frequentemente entre locais de nidificação de ano para ano, embora disponha apenas de um número limitado de locais para nidificar. A dimensão das colónias varia de algumas centenas a mais de 10,000 casais. A postura, de um ovo por casal, ocorre de forma sincronizada entre Abril e Maio.

A Gaivota-de-bico-fino Larus genei, é uma espécie residente na África Ocidental, reproduzindo-se entre a Mauritânia e a Guiné-Bissau. Com um efectivo reprodutor estimado entre 8,000 a 10,000 casais (Veen et al. 2007, 2011), a sua população é considerada estável, ainda que os números possam variar consideralmente de ano para ano. As colónias, de algumas dezenas a centenas de casais que fazem uma postura de 1 a 3 ovos, são instaladas preferencialmente em ilhas arenosas, entre Abril e Maio. A Gaivota-de-bico-fino alimenta-se de peixes, embora ocasionalmente possa também consumir pequenos crustáceos e insectos.

La Gaivota-de-cabeça-cinzenta Larus cirrocephalus é residente na África Ocidental. Reproduz-se em ilhas costeiras, mas também em zonas húmidas do interior. As principais zonas de nidificação localizam-se no Senegal, na Gâmbia e na Guiné-Bissau. Os seus efectivos variam anualmente e a sua população parece estar em declínio desde 1997 (Wetlands International, 2015). Estima-se entre 8,000 a 10,000 casais (Veen et al. 2007, 2011) que se reproduzem entre Abril e Junho, efectuando uma postura de 2 a 3 ovos por casal. A Gaivota-de-cabeça-

cinzenta alimenta-se de peixe, mas também é oportunista capaz de consumir resíduos domésticos, frutos da palmeira (chabéu), bem como ovos de outras espécies de aves quando as colónias são perturbadas.

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SITUAÇÃO DAS AVES COSTEIRAS NOS PRINCIPAIS SÍTIOS

Parque Nacional do Banc d’Arguin

Breve descrição do sítio

O Banc d’Arguin é uma extensa zona húmida costeira localizada na Mauritânia entre o Cabo Branco, a norte, e o Cabo Timiris, a sul. Inclui-se entre os três sítios mais importantes para as aves limícolas da rota migratória do Atlântico Leste, entre o Árctico e a África do Sul. A sua produção primária depende principalmente das pradarias de ervas marinhas, que cobrem

cerca de 500 km² de zonas vasosas entre-marés, mas também do afloramento das águas profundas (upwelling) da Corrente das Canárias. O Banc d’Arguin é reconhecido mundialmente pela sua biodiversidade e, em particular, pelas suas populações de aves de importância global, pelos seus mamíferos marinhos e pelas tartarugas marinhas (Araújo & Campredon, 2017).

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situação das aves costeiras nos principais sítios

As pradarias de ervas marinhas, as zonas vasosas e os bancos de areia, os canais, as ilhas e os ilhéus, estão representados no Parque Nacional do Banc d’Arguin, uma das maiores áreas marinhas protegidas da África (11,200 Km²), classificado como Sítio Ramsar e como Património Natural da Humanidade pela UNESCO. O parque integra também importantes valores culturais e contribui significativamente para a economia do sector pesqueiro mauritaniano. É habitado por uma comunidade de pescadores, os Imraguen, os únicos autorizados a pescar nas águas do parque com o apoio de embarcações à vela.

As aves limícolas do PNBA

Desde o final da década de 1970 até aos nossos dias, que a importância mundial do Banc d’Arguin para as aves limícolas migradoras tem sido reconhecida. Vários censos, abrangendo toda a área, foram realizados por diferentes equipas de investigadores e revelaram um efectivo total de 2,380,000 indivíduos em 1980, que diminuíram significativamente para

1,459,000 indivíduos em 2014 (Figura 1). Um censo completo, realizado em 2017, apresentou um valor ligeiramente superior de 1,725,000 indivíduos para o conjunto das aves aquáticas. A análise dos censos completos, complementados por censos parciais realizados pela equipa do PNBA, bem como por investigadores do NIOZ (Real Instituto Holandês para a Investigação Marinha), permite estabelecer tendências significativas para apenas 6 espécies, das quais 5 apresentam tendências negativas, entre as quais 3 espécies de limícolas, nomeadamente o Maçarico-real, o Fuselo e a Seixoeria (as outras duas são o Corvo-marinho-africano e a Águia-sapeira, enquanto apenas o Pelicano-branco mostra uma tendência de crescimento significativo). Para todas as outras espécies, os dados são insuficientes para identificar tendências significativas. No entanto, as espécies que dependem das zonas vasosas entre-marés parecem mostrar um declínio mais acentuado do que as espécies que dependem das zonas costeiras subtidais ou marinhas (Oudman et al. 2017).

FIGURA 1 : Contagens completas de aves limícolas realizadas no Banc d’Arguin entre 1978 e 2014 (in Araújo & Campredon, 2017).

2.5M

2.3M

2.1M

1.9M

1.7M

1.5M

1.3M1978

Trotignon1980NOME

1997WIWO (37)

2000WIWO (37)

2001WIWO (37)

2006WI (20)

2014 WSFI (39)

Linear trend (total waders)

Total waders (actual counts) O número de locais contados é indicado entre parêntesis. Dados obtidos de Trotignon et al. (1980), Altenburg et al. (1982), Hagemeijer et al. (2000), Smit et al. 2001 (não publicado), Diagana & Dodman (2006), van Roomen et al. (2015) e base de dados do PNBA.

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situação das aves costeiras nos principais sítios

As aves marinhas do PNBA

O Parque Nacional do Banc d’Arguin acolhe populações de aves coloniais de importância internacional. A presença de várias ilhas e ilhéus fornece as condições favoráveis à reprodução, protegendo as aves da maioria dos predadores, condição essencial para as espécies que nidificam no solo. A situação varia consoante as espécies, e os totais revelam grandes

flutuações anuais que são difíceis de interpretar. As análises mostram uma tendência estatisticamente significativa para o Corvo-marinho-africano, cujo efectivo reprodutor está em declínio, e para o Pelicano-branco, que está a aumentar. A tabela 1 apresenta um resumo da média e do número mínimo e máximo de casais contados no PNBA durante os vários censos.

EspéciesCasais reprodutores

Média Min. Máx. Tendência

Corvo-marinho 4 688 1 400 8 130 aumento

Corvo-marinho-africano 2 012 900 2 900 decréscimo

Pelicano-branco 2 192 400 3 800 aumento

Garça-dos-recifes 862 280 1 900 decréscimo

Garça-real monicae 1 738 1 070 2 400 decréscimo

Colhereiro balsacii 2 516 1 500 4 990 estável

Flamingo 11 463 6 600 16 500 estável

Gaivota-de-bico-fino 1 411 870 1 780 aumento

Gaivota-de-cabeça-cinzenta 35 9 70 decréscimo

Tagaz 978 180 1 950 decréscimo

Garajau-grande 5 691 1 800 10 900 aumento

Garajau-real 12 526 5 630 19 353 aumento

Gaivina-comum 219 15 900 decréscimo

Gaivina-de-dorso-castanho 463 48 900 decréscimo

Chilreta / Andorinha-do-mar-anã 91 10 210 decréscimo

TABELA 1: Resumo dos dados disponíveis sobre os efectivos reprodutores de aves coloniais no Golfo de Arguin

Dados de Naurois 1969 (1959 - 1965), Campredon 1987, 2000 (1984 - 1985), Hafner et al. 1999 (1997-1999), Zwarts (1998), Veen e Dallmaijer (2004/2005/2007).

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situação das aves costeiras nos principais sítios

As tendências observadas para os efectivos reprodutores das quatro espécies de aves marinhas costeiras são positivas para os garajaus-reais e para os garajaus-grandes, bem como para as gaivotas-de-bico-fino. O número de casais reprodutores de Gaivota-de-cabeça-cinzenta no PNBA é muito reduzido para inferir possíveis tendências.

Contudo, sabemos que quatro das cinco ilhas usadas pelo Garajau-real são susceptíveis a inundações durante as marés-vivas de Abril, e que as posturas são levadas pela maré regularmente. De facto, os ilhéus arenosos de Zira, dos Flamants, dos Pélicans e da Marguerite são muito rasos, enquanto que o espaço disponível na ilha de Arel pode ser reduzido pela presença de outras espécies coloniais. O Garajau-real também já nidificou em Cheddid e Touffat, mas estas ilhas são agora frequentadas por chacais e por esse motivo não são mais utilizadas pelos garajaus. Nesse sentido, é provável que a longo prazo a população reprodutora de Garajau-real seja afectada como consequência da subida do nível do mar e da sua grande dependência dos ilhéus arenosos.

O Garajau-grande é mais generalista do que o Garajau-real relativamente ao habitat de nidificação, já que quase 60% dos efectivos se reproduzem em ilhéus rochosos. Tal como o Garajau-real, uma parte significativa dos casais de Gaivota-de-bico-fino nidificam próximo da linha da água, geralmente junto à vegetação e aos detritos depositados pelo mar, na zona inundável, o que torna esta espécie

vulnerável à subida do nível do mar no Banc d’Arguin.

Conclusões sobre o sítio e a sua capacidade de carga

As aves limícolas do Banc d’Arguin sofreram um declínio de quase um terço dos seus efectivos desde que se iniciaram os censos completos. Apesar de estes censos constituírem um esforço considerável de investigação científica, único na região, esta diminuição permanece difícil de interpretar. As condições naturais no PNBA permaneceram relativamente inalteradas, à excepção do esforço de pesca que aumentou muito desde 1980 até à actualidade. O decréscimo acentuado na abundância de corvos-marinhos-africanos, uma espécie piscívora residente, sugere que as condições se deterioraram a nível local. Os investigadores também não excluem que a diminuição da população da raia Rhinoptera marginata devido à pesca, tenha influência na dinâmica das pradarias de ervas marinhas. Da mesma forma, se a diminuição no número de seixoeiras é parcialmente explicada pela degradação dos seus locais de paragem no Mar de Wadden durante a migração, o mesmo também poderá suceder pela diminuição da sua presa favorita no Banc d’Arguin, o bivalve Dosinia isocardia, como consequência do aumento da densidade de Anadara senilis que, por sua vez, foi favorecida pelo decréscimo dos seus principais predadores, designadamente, as raias e os ostraceiros. Tendo em conta que as aves bentívoras são significativamente mais afectadas que as piscívoras (Oudman et al. 2017), é possível que o efeito da pesca na abundância das aves se exerça principalmente de forma indirecta sobre a fauna bentónica do que sobre a disponibilidade de peixes. Outros efeitos em cadeia são considerados como hipóteses actualmente em estudo, como o papel dos flamingos na estruturação das zonas vasosas e as consequências do seu decréscimo, possivelmente relacionado

Contudo, sabemos que quatro das cinco ilhas usadas pelo Garajau-real são susceptíveis a inundações durante as marés-vivas

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situação das aves costeiras nos principais sítios

com uma maior atractividade dos locais para esta espécie no baixo delta do rio Senegal (El Hacen et al. 2017).

No que diz respeito às aves marinhas costeiras referidas no âmbito do PAZHOC, confirma-se a importância do PNBA para as colónias de garajaus-grandes, de garajaus-

reais e de gaivotas-de-bico-fino. Devido à preferência das duas últimas espécies para nidificarem em ilhéus arenosos próximos dos limites da preia-mar de marés-vivas, uma atenção especial deve ser dada à subida do nível do mar.

O baixo delta do rio Senegal

Breve descrição dos sítios

O Parque National do Diawling (PND), o Aftout es Saheli e o Chott Boul

O Parque Nacional do Diawling, com uma área de 15,600 ha, está localizado no extremo sudoeste da Mauritânia, na foz do rio Senegal. O Aftout es Saheli (zona tampão) e o Chott Boul (zona periférica e sítio Ramsar) acrescentam 19,500 ha ao Parque Nacional. O lado mauritaniano do delta foi profundamente alterado após a construção da barragem de Diama, que resultou no desaparecimento de quase todas as aves aquáticas. Um grande esforço de restauração ecológica foi realizado em simultâneo com a criação do Parque Nacional, através da construção de estruturas hidráulicas que permitiram restaurar, artificialmente, o funcionamento ecológico do estuário. A partir desse momento as aves aquáticas recolonizaram a área de forma espectacular.

O sítio é constituído por zonas estuarinas, vasas entre-marés, mangais e solos hipersalinos (tannes), planícies aluvionares, lagos, lagoas e uma ria. O PND representa um local de grande importância para as aves limícolas invernantes. Quando os níveis de água são suficientemente

elevados, assume também um papel importante na reprodução de espécies coloniais, como o Flamingo-pequeno (único local de nidificação na África Ocidental), o Flamingo-comum, o Garajau-grande, o Garajau-real, bem como a Gaivota-de-bico-fino, que nidificam em numa ilhota do Aftout es Saheli. O PND faz parte da Reserva Transfronteiriça da Biosfera do Baixo Delta do Rio Senegal, que inclui áreas protegidas localizadas no Senegal, nomeadamente o Parque Nacional Oiseaux du Djoudj, Património Natural da Humanidade, e o Parque Nacional da Langue de Barbarie .

O Parque Nacional da Langue de Barbarie (PNLB)

O sítio estende-se por 2,000 ha, desde a foz do rio Senegal para sul, ao longo da costa atlântica. Consiste numa península arenosa que protege uma zona lagunar onde se encontra um ilhéu propício à nidificação de aves coloniais. Em 2003, um canal artificial foi aberto na Langue de Barbarie para evitar as inundações na cidade de Saint Louis, causando sérias consequências para o ecossistema a jusante. Desde então, o ilhéu das aves tem sofrido grande erosão tendo diminuído de 1,5 ha para 1 ha. Recentemente, uma barreira de protecção feita de pedras de laterite foi construída em torno do ilhéu para conter a erosão. O ilhéu é totalmente coberto por vegetação, parte da qual é arrancada anualmente pela equipa do parque, de forma a criar uma zona favorável à instalação das colónias dos garajaus que nidificam no chão.

O PND representa um local de grande importância para as aves limícolas invernantes

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situação das aves costeiras nos principais sítios

As aves limícolas

As informações relativas às limícolas no delta do rio Senegal, em particular nos dois locais que a este relatório dizem respeito, são muito dispersas. O número total de aves aquáticas é obtido para o PND anualmente (Fig. 2). Genericamente os efectivos variam entre 270,400 e 87,000 indivíduos, dependendo dos anos, representando as limícolas, em média, quase 6% do total (Ba et al. 2018). Triplet et al. (2009) refere que, após a abertura do canal na Langue de Barbarie, houve uma diminuição drástica no número de limícolas. Os dados recolhidos na literatura relativos às espécies de limícolas invernantes no baixo delta aqui referidas, independentemente das datas de observação, estão resumidos abaixo (n.º de indivíduos; in Isenmann et al. 2010):

Maçarico-real 100-200

Perna-vermelha 150

Seixoeira 20 000

Pilrito-pequeno 5 000 - 10 000

Pilrito-de-peito-preto Max. 20 000

Borrelho-grande-coleira 5 000 - 15 000

Borrelho-de-coleira-interrompida 1 400

Maçarico-galego 300

Perna-verde 300 - 775

Pilrito-das-praias 4 000 - 5 000

Pilrito-de-bico-comprido 3 000 - 10 000

Tarambola-cinzenta 1 500 - 2 000

Borrelho-pequeno-coleira 300 - 1 700

As duas principais espécies que frequentam a área são limícolas continentais, como o Milherango (ou Maçarico-de-bico-direito) e o Combatente. O número desta última espécie diminuiu de ca. 175,000 para 25,000 indivíduos entre 1992 e 2008, uma queda associada à altura demasiado alta do corte do arroz, impedindo o acesso aos grãos que ficam à superfície do solo. Além destas duas espécies, não abrangidas directamente pelo PAZHOC, o baixo delta do rio Senegal pode ser considerado de importância secundária para as limícolas, comparativamente aos números presentes noutros locais.

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situação das aves costeiras nos principais sítios

FIGURA 2 : Evolução do número total de aves aquáticas na parte mauritaniana do baixo delta do rio Senegal

270k

136k

237k

112k

231k

144k

175k183k

87k

248k

50k

100k

150k

200k

250k

300k

2017201620152014201320122011201020092008

As aves marinhas costeiras

Os dados disponíveis sobre a reprodução das espécies referidas nesta compilação são incompletos. Em relação ao PND, Ba et al. (2018) referem uma média de 1,500 casais reprodutores de garajaus-grandes, 100 a 200 casais de garajaus-reais e 10 casais de Gaivotas-de-cabeça-cinzenta sem especificar o ano, para um total médio de 10,000 a 18,000 casais para o conjunto de todas as espécies reprodutoras. Grande parte desse total é corresponde ao Corvo-marinho e às duas espécies de flamingos. No entanto, é conhecido que a reprodução

dessas espécies no Aftout é irregular, dependendo muito dos níveis da água.

Os dados apresentam maior precisão relativamente aos garajaus-reais reprodutores no Parque Nacional da Langue de Barbarie (Veen et al. 2015), em que o número varia entre 1,200 e 3,000 casais (Tabela 2). Os poucos dados com detalhe relativos a outras espécies referem-se à Gaivota-de-bico-fino (298 ninhos em 2015) e à Gaivota-de-cabeça-cinzenta (500 casais em 2016). O efectivo reprodutor, para o conjunto das espécies, varia entre 6,000 e 7,000 casais, consoante o ano.

Ano 1998 2000 2001 2003 2004 2005 2015

N.º de casais 1 650 1 400 1 700 1 672 2 171 1 193 3 000

TABELA 2: Número de casais reprodutores de garajaus-reais na ilha dos pássaros do PNLB

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situação das aves costeiras nos principais sítios

FIGURA 3 : Síntese das contagens de aves aquáticas invernantes no PNDS (in Diop et al. 2018)

Conclusões sobre o sítio e a sua capacidade de carga

As características ecológicas dos sítios associados ao baixo delta do rio Senegal, fortemente influenciadas pela presença de água doce, pela variabilidade e imprevisibilidade dos níveis de água e pela ausência de grandes zonas vasosas, torna-os pouco atraentes para as aves limícolas comparativamente ao PNBA ou ao arquipélago dos Bijagós. O Parque Nacional da Langue de Barbarie, apesar da sua área relativamente pequena, desempenha um

papel importante para as aves marinhas costeiras, em particular para o Garajau-real. Porém, as espécies presentes enfrentam dificuldades para nidificar com sucesso, pois o local está sujeito a erosão e as posturas são frequentemente submersas durante as marés-vivas. O espaço disponível para o estabelecimento das colónias é reduzido, quando os pelicanos usam o ilhéu como local de descanso na preia-mar, nas ocasiões em que o seu local de descanso habitual é submerso.

O Parque Nacional do Delta do Saloum (PNDS)

Breve descrição do sítio

O Parque Nacional do Delta do Saloum, abrangendo uma área de 73,000 ha, está localizado ao longo da costa atlântica do Senegal, imediatamente a norte da fronteira com a Gâmbia. O parque é constituído pelo delta dos rios Saloum, Diombos e Bandiala e inclui canais com mangais, lagoas, zonas vasosas entre-marés, bancos de areia e ilhas, um mosaico de ambientes favoráveis à biodiversidade. Uma série de ilhotas arenosas encontram-se ao largo da costa, entre as quais a Ilha dos Pássaros, um local fundamental para a reprodução das aves marinhas. A região é influenciada pelo afloramento costeiro (upwelling) da Corrente das Canárias, beneficiando ainda da matéria orgânica e dos nutrientes provenientes do continente, bem como da produtividade dos mangais.

O PNDS está inserido na Reserva da Biosfera do Delta do Saloum, com uma área de 180,000 ha, e é habitado por comunidades que se dedicam à colheita de moluscos bivalves e gastrópodes, e à pesca. O sítio abriga importantes valores culturais que estiveram na base da sua classificação como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO. Está também classificado como zona húmida de importância internacional no quadro da Convenção de Ramsar.

As aves limícolasOs dados detalhados sobre as populações de limícolas no PNDS estão dispersos. O relatório publicado por Diop et al. (2018) indica simplesmente a presença regular de quase 100,000 aves aquáticas invernantes. Em termos absolutos, os efectivos de limícolas variam entre um máximo de

5k

15k

25k

35k

Cormorans Sternes Hérons Laridés Limicoles

2018201720162015201420132012

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situação das aves costeiras nos principais sítios

33,750 indivíduos e um mínimo de 16,480 indivíduos (ver Fig. 3).

As aves marinhas costeiras As informações relativas a este grupo são mais detalhadas, dada a importância do sítio para este grupo de espécies. A monitorização regular das colónias é realizada há muitos anos, principalmente

no que diz respeito à reprodução do Garajau-real (Veen et al. 2006, 2009, 2011, 2012, 2013, 2013, 2014, 2015). Os censos mostram que o PNDS acolhe quase 50% dos efectivos reprodutores de toda a população, com um máximo de 43,000 casais reprodutores contados em 1999. Os resultados dos censos anuais são apresentados na Figura 4.

FIGURA 4 : Evolução do número de casais reprodutores de Garajau-real no Parque Nacional do Delta do Saloum entre 1998 e 2015 (Veen et al. 2015). DND: dados não disponíveis

FIGURA 5 : Efectivos invernantes das quatro espécies de aves marinhas costeiras no PNDS (in Diop et al. 2018)

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

DND DND DND DND

2008 2008 2010 2011 2012 2013 2014 20150

10k

20k

30k

40k

50k

Relativamente às outras espécies os dados são mais pontuais. O número de garajaus-grandes situou-se entre 5,900 casais (em 2000) e 7,500 casais reprodutores (em 1999, 2004 e 2011), com valores médios de 6,460 casais reprodutores em 2013. O efectivo de Gaivotas-de-bico-fino situou-se entre 6,000 e 9,000 casais reprodutores durante o período de 2001 a 2006 e diminuiu consideravelmente em 2011, quando foram contados 3,900 casais apenas. As gaivotas-de-cabeça-cinzenta, estimadas em 7,500

casais reprodutores em 2001, atingiram um máximo de 12,255 e de 15,700 casais, respectivamente em 2011 e 2013, dados que deverão ser encarados com precaução devido às diferentes metodologias de contagem adoptadas (Veen, 2013). Durante o período de inverno, parte das aves marinhas costeiras, principalmente os garajaus-grandes e as gaivotas-de-bico-fino, permanecem no delta do Saloum, como evidenciado pelos resultados das contagens internacionais (Fig. 5).

0

2k

4k

6k

8k

Sternes royalesSternes caspiennesGoélands railleursMouettes à tête grise

2018201720162015201420132012

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situação das aves costeiras nos principais sítios

Conclusões sobre o sítio e a sua capacidade de cargaNo seu conjunto, o número de aves marinhas coloniais que nidificam no PNDS representa 40,000 a 60,000 casais reprodutores, consoante o ano, sublinhando a importância do sítio à escala regional e internacional. Os garajaus-reais representam a grande maioria, sendo que o sítio acolhe em média ca. 50% da população da subespécie albididorsalis presente na África Ocidental. Existem, contudo, flutuações inter-anuais significativas, com mínimos de ca. 17,000 casais e máximos de ca. 43,000 casais reprodutores.

O PNDS assume também grande importância para o Garajau-grande, cujos efectivos variam aproximadamente de 6,000 a 7,500 casais reprodutores, i.e., entre 30% a 40% da população da África Ocidental. A população reprodutora desta espécie encontra-se dispersa por várias colónias, mas a Ilha dos Pássaros mantém uma posição de destaque com 90% dos números obtidos em 2013.

Os efectivos de Gaivota-de-bico-fino variaram de 2,500 a 9,000 casais reprodutores, consoante o ano. Em 2011, tal como para outras espécies, houve um mínimo de casais reprodutores,

confirmando a relevância das perturbações observadas nesse ano. A ilha de Jakonsa parece ter um papel importante para esta espécie, concentrando 84% dos efectivos em 2013. Os efectivos da Gaivota-de-cabeça-cinzenta parecem ter aumentando desde o início dos censos até terem atingido um máximo de ca. 15,000 casais reprodutores em 2013.

A Ilha dos Pássaros, local tradicional de nidificação das quatro espécies, tem sofrido, ao longo dos anos, uma forte erosão que fez desaparecer parte dos locais utilizados pelas colónias e que provocou riscos de submersão dos ninhos durante a preia-mar de marés-vivas. É ainda de realçar a pilhagem de ninhos, constatada em diversas ocasiões, bem como a perturbação causada por turistas não acompanhados. A instalação de torres de vigia muito próximo das áreas de nidificação teve repercussões negativas, que podem ter causado a grande diminuição nos números obtidos em 2011, bem como a dispersão das colónias para as ilhas de Ansoukala e de Jakonsa. Actualmente, ambas as ilhas são ocupadas regularmente pelas aves e, portanto, devem ser monitorizadas de perto durante o período de nidificação – de Fevereiro a Julho –, tendo em consideração os riscos de pilhagem de ninhos e a perturbação causada por turistas, pescadores ou residentes. De destacar ainda que as actividades de extracção de areia, a plantação de árvores e os acampamentos ilegais na ilha de Jakonsa, podem afectar seriamente a capacidade do PNDS para acolher as colónias. Se a existência de locais alternativos à Ilha dos Pássaros para a nidificação constitui um factor positivo, isso implica constrangimentos de vigilância que têm consequências em termos de meios, para os quais seria bom encontrar soluções.

Em 2011, tal como para outras espécies, houve um mínimo de casais reprodutores, confirmando a relevância das perturbações observadas nesse ano

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situação das aves costeiras nos principais sítios

O aquipélago dos BijagósBreve descrição do sítioO arquipélago de Bijagós emerge da plataforma continental ao largo da costa da Guiné-Bissau. É o único arquipélago deltaico activo na costa atlântica africana e compreende 88 ilhas e ilhéus, 21 das quais permanentemente habitadas pela etnia Bijagó. As ilhas são separadas por uma rede de canais e rodeadas por mangais e zonas vasosas, com uma área de 1,200 km², constituindo a mais vasta zona entre-marés do continente africano. O arquipélago beneficia do aporte de matéria orgânica e de nutrientes dos cursos de água, bem como da produtividade dos mangais.

O conjunto engloba uma área de cerca de um milhão de hectares, abrigando uma biodiversidade notável que justifica sua classificação como Reserva da Biosfera e como Sítio de Ramsar, e que levou à criação de três áreas marinhas protegidas. O modo de gestão tradicional assegurado pela etnia Bijagó, baseado em valores culturais e religiosos, contribuiu para a conservação do sítio, nomeadamente através da protecção de ilhéus ou de florestas sagradas que constituem verdadeiros oásis de biodiversidade (Biai 2015, Campredon & Catry, 2017).

As aves limícolasO arquipélago dos Bijagós representa a segunda maior concentração de aves limícolas em África, depois do Banc d’Arguin, com cerca de 700,000 limícolas paleárcticas que ali passam quase metade da sua vida durante o período de invernada. Um resumo dos censos e das estimativas populacionais é apresentado na tabela 3 (Henriques, 2019).

O conjunto engloba uma área de cerca de um milhão de hectares, abrigando uma biodiversidade notável

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situação das aves costeiras nos principais sítios

Ano Período de contagem

Zonas prospectadas

% Área prospectada

Método de contagem

Método de estimação

Estimativa populacional Fonte

1982 - 1983

1986 - 1987Dezembro-Fevereiro

Bubaque, Bolama, Bijagós 28.1 Contagens de

baixa-marExtrapolação de densidade 699 120

Poorter & Zwarts (1984); Zwarts (1988)

1992-1993 Outubro-Maio

16 áreas em 14 ilhas 64 Contagens de

baixa-marExtrapolação de densidade 710 000 Salvig et al. (1992)

1994 Dezembro Cobertura total 54Contagem aérea + contagens terrestres

Taxa de detecção (Detection rate)

750 000 Salvig et al. (1997)

1994

1995

1997

Fevereiro-November

Abril-Setembro

Janeiro-Março

Bubaque, Soga DND Contagens de baixa-mar

Contagem total máxima 15 000* Salvig et al. (1997)

2001 Janeiro- Fevereiro

44 áreas em 18 ilhas 64 Contagens de

baixa-marExtrapolação de densidade 871 750

Frikke et al. (2002); Dodman & Sá (2005)

2009

Maio

Julho

Setembro

Novembro

9 áreas contagens em 2 áreas marinhas protegidas

DND Contagens de baixa-mar

Contagem total máxima 23 241* Monteiro (2011)

2010

Agosto

Outubro

Dezembro

9 áreas contagens em 2 áreas marinhas protegidas

DND Contagens de baixa-mar

Contagem total máxima 31 092* Monteiro (2011)

2011

Agosto

Outubro

Dezembro

9 áreas contagens em 2 áreas marinhas protegidas

DND Contagens de baixa-mar

Contagem total máxima 17 979* Monteiro (2011)

2014 Janeiro 171 pontos em todos os Bijagós 58 Contagens de

baixa-marExtrapolação de densidade 481 395** van Roomen et al.

(2015)

TABELA 3 : Resumo das contagens e estimativas de limícolas no arquipélago de Bijagós

* Contagem para a qual não foi obtida uma estimativa global da população. ** Estimativa para a totalidade das zonas vasosas do arquipélago e da Guiné-Bissau (in Henriques, 2019).

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situação das aves costeiras nos principais sítios

A análise dos resultados obtidos nas cinco estimativas disponíveis revela tendências preocupantes em relação às principais espécies (Fig. 6). De facto, observa-se um decréscimo acentuado no número de pilritos-de-bico-comprido, quatro vezes inferior entre 2001 e 2014. Uma tendência semelhante é observada para o Pilrito-pequeno, cuja população diminuiu para metade no mesmo intervalo e para menos

8,5 vezes em comparação com a primeira estimativa de 1986/87. Outras espécies outrora abundantes também apresentam perdas, embora menos perceptíveis, como a Seixoeira, o Perna-vermelha e a Tarambola-cinzenta. Por outro lado, as tendências observadas para o Fuselo, o Maçarico-galego e o Pilrito-das-praias são positivas.

FIGURA 6 : Resultados das contagens de aves limícolas por espécie e por ano durante o período de inverno no arquipélago dos Bijagós (Henriques, 2019)

0

100k

200k

300k

400k

500k

600k

2014200119941992/931986/87

Haematoposostralegus

Numeniusarquata

Calidrisalba

Charadriusalexandrinus

Arenariainterpress

Numenniusphaeopus

Charadriushiaticula

Pluvialissquatarola

Tringatoutanus

Calidriscanutus

Calidrisminuta

Limosalapponica

Calidrisferruginea

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situação das aves costeiras nos principais sítios

FIGURA 7 : Localização dos sítios de nidificação das espécies de aves aquáticas coloniais no arquipélago dos Bijagós

As aves marinhas costeiras

As contagens ou estudos disponíveis sobre os garajaus-reais e os garajaus-grandes nos Bijagós são escassos. Porém, as contagens de Altenburg et al. (1992), Quadé (1994), Schmanns et al. (1997) e Brenninkmeier et al. (1998), resumidas por Dodman et al. (2004, 2005) indicam, para ambas as espécies, bem como para a Gaivota-de-cabeça-cinzenta, colónias de importância internacional. Números menores, entre 430 e 600 casais reprodutores, foram obtidos para a Gaivota-de-bico-fino. A figura 7 mostra a localização dos principais locais de nidificação das espécies coloniais (para o total das espécies).

Em 2006, uma contagem completa de garajaus-reais confirmou a presença de 19,922 casais reprodutores na ilha de Cavalos. O local foi posteriormente abandonado pelos garajaus, provavelmente

devido à introdução de porcos que circulavam livremente pela ilha (IBAP, 2008). Recentemente, estabeleceu-se uma colónia no ilhéu de Bantambour, junto à ilha de Jeta, perto do continente, mas que não faz parte do arquipélago. A população deste ilhéu foi estimada em 25,281 casais reprodutores em 2015 (Veen et al. 2015).

As estimativas da população reprodutora do Garajau-grande, da Gaivota-de-bico-fino e da Gaivota-de-cabeça-cinzenta são de algumas centenas de casais, que se reproduzem principalmente no ilhéu de Acapa Imbone, no Parque Nacional de Orango. A reprodução destas espécies é imprevisível no tempo e no espaço, e só uma monitorização ao longo do ano em todas as ilhas e ilhéus permitirá obter uma estimativa precisa dos seus efectivos reprodutores.

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Conclusões sobre o sítio e a sua capacidade de carga

O arquipélago dos Bijagós é o segundo local mais importante para a invernada das limícolas costeiras na rota migratória do Atlântico Leste, mas também como ponto de paragem para os indivíduos que invernam mais a sul. Esta importância é parcialmente explicada pela considerável extensão das vasas entre-marés. Se a biomassa dos organismos bentónicos é baixa quando comparada com aquela observada nas latitudes temperadas, essa diferença é indubitavelmente compensada por uma elevada produtividade e diversidade. Catry et al. (2016) mostraram que há uma partilha eficiente dos recursos entre as espécies, em que o Maçarico-galego, a Perna-vermelha e a Tarambola-cinzenta consomem principalmente caranguejos-violinistas; os fuselos, os pilritos-de-bico-comprido e os borrelhos-grandes-de-coleira consomem sobretudo poliquetas; enquanto que as seixoeiras

são especializadas na captura de bivalves. Assim, os nichos tróficos parecem ser relativamente estreitos e com pouca sobreposição, à excepção das espécies que se alimentam de caranguejos-violinistas, favorecendo a coabitação de um grande número de indivíduos (Lourenço et al. 2017).

No entanto, os resultados das contagens mostram uma diminuição significativa no número de indivíduos ao longo do tempo. Essa tendência é difícil de interpretar, uma vez que as características ecológicas do arquipélago não parecem ter sofrido alterações relevantes desde as primeiras contagens. Entre os factores que poderão ajudar a explicar este decréscimo, podemos mencionar Henriques (2019):

º Uma diminuição na capacidade de carga dos locais intermédios ou das áreas de reprodução das populações envolvidas (Stroudt et al. 2006, Zwarts et al. 2009);

º As dificuldades intrínsecas às contagens, que surgem da dimensão dos locais de contagem, mas também em virtude de uma parte das aves usar os mangais (pousando nos ramos das plantas ou nos tannes) onde a sua observação é mais difícil;

º A sobreexploração de recursos naturais pelo Homem no arquipélago, que pode ter consequências directas ou indirectas sobre as presas das limícolas. Apesar da pressão significativa da pesca ou da apanha de moluscos, com base no conhecimento actual nada permite concluir que estas têm influência na situação dos bentos;

Se a biomassa dos organismos bentónicos é baixa quando comparada com aquela observada nas latitudes temperadas, essa diferença é indubitavelmente compensada por uma elevada produtividade e diversidade

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situação das aves costeiras nos principais sítios

º Um aumento da perturbação: a tendência recente do desenvolvimento da caça às aves aquáticas não é, actualmente, suficientemente expressiva para exercer uma influência significativa sobre os efectivos;

º A poluição orgânica ou por metais pesados que, no entanto, mostra níveis muito baixos (Coelho et al. 2016, Catry et al. 2017, Mullié 2017), além dos elevados níveis de cádmio observados em Anadara senilis;

º As alterações climáticas, por exemplo, através da subida do nível do mar, que pode influenciar a duração da exposição das vasas entre-marés e, por conseguinte, a acessibilidade às presas (Galbraith et al. 2002, Austin & Rehfisch 2003, Lourenço et al. 2013).

Os factores que provavelmente influenciam a reprodução das aves marinhas costeiras no arquipélago parecem mais óbvios. Entre estes inclui-se a introdução de porcos na Ilha de Cavalos, um local conhecido por ter acolhido uma grande colónia de Garajau-real. O segundo factor está relacionado com erosão dos ilhéus arenosos e com os riscos de submersão das posturas. Nesse sentido, deve-se notar que a disponibilidade de locais adequados à nidificação é baixa, sendo a maioria das ilhas do arquipélago coberta por mangais ou por árvores grandes, pouco propícias para o estabelecimento de colónias de garajaus ou de espécies similares. Por enquanto, as colónias parecem encontrar soluções alternativas, particularmente no ilhéu de Bantambour, no norte da ilha de Jeta.

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CONCLUSÃO

Os censos e os estudos realizados desde a década de 1980 sobre as aves aquáticas costeiras, revelaram e confirmaram a grande importância da África Ocidental. Relativamente às aves limícolas, dois sítios reúnem a maior parte da população, designadamente o golfo de Arguin e o

arquipélago dos Bijagós, onde 2 a 3 milhões de indivíduos invernam durante 6 a 8 meses por ano, consoante as espécies. Ambos os sítios são também local de paragem para as limícolas que passam o inverno mais a sul. O baixo delta do rio Senegal e o delta de Saloum desempenham, tal como os anteriores, um papel importante para as aves aquáticas coloniais durante o período reprodutor e, em particular, para as quatro espécies consideradas no contexto do Plano de Acção.

A importância do Golfo de Arguin e dos Bijagós para as limícolas pode ser explicada pela considerável extensão das vasas entre-marés, pela produtividade e diversidade dos organismos bentónicos,

Os censos e os estudos realizados desde a década de 1980 sobre as aves aquáticas costeiras, revelaram e confirmaram a grande importância da África Ocidental

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conclusão

bem como pelos mecanismos que permitem limitar a competição entre espécies, mas também entre os sexos de uma mesma espécie, como no caso do Fuselo, por exemplo, graças a diferenças morfológicas, de comportamento e de regime alimentar e a mecanismos subtis de partilha do espaço (Catry et al. 2016). As características ecológicas destes sítios são relativamente previsíveis em termos de clima e de acessibilidade aos recursos. Como consequência, as aves não necessitam de acumular gordura e, por conseguinte, não precisam de transportá-la diariamente.

No entanto, os mesmos estudos referem uma diminuição no número total de limícolas, tanto no Banc d’Arguin como nos Bijagós. Essa diminuição é estatisticamente significativa para o Maçarico-real, o Fuselo e a Seixoeira no Banc d’Arguin. Nos Bijagós, o decréscimo é claro para os pilritos-de-bico-comprido e para os pilritos-pequenos, mas menos óbvio para as outras espécies. Diversos factores foram sugeridos pelos investigadores para explicar esse fenómeno.

Primeiro, devemos levar em consideração a incerteza relacionada com as dificuldades inerentes às contagens, principalmente quando se trata de contar grandes bandos nos sítios mais extensos, com o risco de subestimar as espécies menos abundantes, mais pequenas ou mais discretas incluídas nos bandos multiespecíficos ou de não detectar indivíduos que utilizam ambientes fechados, como os mangais, utilizados como locais de descanso durante a preia-mar.

Estas aves são grandes migradores e sua sobrevivência depende também das condições encontradas durante a migração ou durante o período reprodutor (Piersma & Lindström 2004). Parte das causas pelos quais os seus efectivos estão em declínio pode, por isso, ter origem em locais muito distantes. Sabemos, por exemplo, que os bivalves já não são tão abundantes como no passado no Mar de Wadden, um local crucial de reabastecimento para a Seixoeira, localizado a meio caminho entre a África Ocidental e a Península de Taimyr, onde a espécie se reproduz. Genericamente, as espécies de limícolas em declínio pertencentes à nossa rota migratória são aquelas que dependem do Mar de Wadden como local de paragem migratória (Stroudt et al. 2004). Adicionalmente, os impactos das alterações climáticas nos locais de reprodução já se fazem sentir. Estudos demonstraram, por exemplo, as consequências da mudança nos picos de abundância dos artrópodes relativamente aos picos de eclosão das seixoeiras – anteriormente sincronizados, mas que actualmente ocorrem mais cedo devido ao aquecimento global – no crescimento dos juvenis, agora com bicos mais curtos (Gils et al. 2016).

O declínio dos efectivos também pode ser devido a factores inerentes aos locais de invernada na África Ocidental, embora estes últimos não pareçam ter sofrido grandes mudanças estruturais. Os investigadores destacaram, por exemplo, as consequências da sobrepesca das raias sobre a estruturação das zonas vasosas, a extensão das pradarias de ervas marinhas e as comunidades de bivalves, demonstrando que a diminuição acentuada das raias levou à proliferação de Anadara senilis em detrimento de Dosinia isocardia, sendo a última a presa preferida das seixoeiras.

Sua sobrevivência depende também das condições encontradas durante a migração ou durante o período reprodutor

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conclusão

Os impactos das alterações climáticas podem igualmente ser sentidos nos locais de invernada. Assim, o aumento da temperatura do ar poderá ter consequências fisiológicas durante o período de muda das penas, que ocorre quando as aves chegam em Setembro-Outubro no período mais quente, que provavelmente causaria situações de hipertermia (Leyrer et al. 2013). Também é provável que a subida do nível do mar tenha consequências na morfologia das zonas vasosas, bem como na acessibilidade espacial e temporal dos locais de alimentação pelas aves (Galbraith et al. 2002, Austin & Rehfisch 2003). Podem ainda resultar na criação de novas zonas entre-marés conquistadas ao continente, como já suceceu na costa do Golfo de Arguin.

A situação geral das espécies de aves marinhas costeiras abrangidas pelo Plano de Acção parece boa, pelo menos para os garajaus e para a Gaivota-de-bico-fino, cujos efectivos são considerados estáveis ou em crescimento (Veen 2015, van Roomen 2015). Apesar dos progressos realizados nas técnicas de contagem, em particular devido ao uso de drones, não é fácil obter uma imagem sincronizada de todas as colónias devido à variabilidade dos períodos de reprodução. Os resultados do censos devem, portanto, ser encarados com prudência. Esta abordagem é justificada pelas ameaças que se apresentam às aves coloniais mais ou menos a longo prazo. Em todos os locais, os investigadores verificaram a erosão das

ilhotas arenosas que constituem o habitat de nidificação destas espécies e episódios de submersão das posturas. Como tal, este tipo de riscos deverá ser cuidadosamente monitorizado, devido à subida do nível do mar. Outras ameaças incluem a pilhagem de ninhos, a perturbação causada pelo turismo e ainda a introdução de porcos em ilhas com potencial para albergar grandes colónias de garajaus nos Bijagós.

As incertezas em torno das causas do declínio das aves limícolas e dos riscos que potencialmente ameaçam todas as aves costeiras, tendo em conta a degradação a curto prazo dos ecossistemas costeiros e os impactos a longo prazo das alterações climáticas, devem incentivar todos os interessados a intensificar seus esforços na protecção das zonas húmidas e das aves que delas dependem. À semelhança daquilo que é feito no âmbito do PAZHOC, é necessário incentivar parcerias à escala da rota migratória de modo a promover a investigação científica, a formação de técnicos nacionais e o fortalecimento das instituições nacionais responsáveis pela conservação da natureza.

As aves aquáticas não devem ser reconhecidas apenas pelo seu valor intrínseco como componentes da biodiversidade. Devemos reconhecer a sua função na manutenção e equilíbrio dos ecossistemas costeiros. O seu papel como indicadores da evolução do estado do ambiente deve ser também considerado. Isso aplica-se, em particular, às aves limícolas que cruzam grandes regiões do globo ao longo do seu ciclo anual, frequentando uma grande variedade de biomas e de zonas climáticas, podendo desta forma servir como “sentinelas” das mudanças globais que estão actualmente a assolar o nosso planeta (Piersma & Lindström 2004).

Os impactos das alterações climáticas podem igualmente ser sentidos nos locais de invernada

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Novas zonas entre-marés conquistadas ao continente na costa do Golfo de Arguin, como resultado da subida do nível do mar (foto En Haut !)

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