slides motim do vintém

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

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Page 1: Slides Motim do Vintém

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Page 2: Slides Motim do Vintém

O Rio de Janeiro, no início da década de 1880, era marcado

por transformações políticas, econômicas e demográficas que

alteravam o cenário da cidade. Cada vez mais aumentava o número

de residências insalubres e carentes (conhecidos depreciativamente

como cortiços) no centro da cidade. Por falta de opção, imigrantes,

brasileiros pobres, escravos de ganho, portugueses ocupavam estas

precárias moradias. Essas habituações representavam para os

setores mais abastados da capital da corte uma ameaça à saúde

pública.

Além disso, os transportes públicos eram marcados por

precárias condições: atrasos, acidentes, superlotação eram

problemas muito comuns. Portanto, moradores ricos e pobres da

cidade sentiam o peso das transformações urbanas.

Foi neste contexto que ocorreu, nos últimos dias do mês de

dezembro de 1879 e nos primeiros dias de janeiro de 1880, na capital

da corte, manifestações populares contra o imposto de um vintém –

moeda de menor valor do Império – sobre as passagens dos bondes

urbanos. Um dos grandes motivos de indignação da população era

que o imposto recaía apenas sobre os moradores da cidade do Rio de

Janeiro e não onerava em nada os donos das companhias de bondes.

Page 3: Slides Motim do Vintém

O imposto do vintém começaria a ser cobrado a partirdo dia 1º de janeiro. Quatro dias antes da data, cincomil pessoas seguiram em direção ao PalácioImperial, em São Cristóvão, para entregar aoimperador uma petição pedindo a revogação doimposto. Rapidamente, a residência imperial foicercada por forças policiais armadas de cassetetes.Os manifestantes foram sendo afastados do Palácioem direção à área central da cidade. Mais tarde, PedroII mandaria notícia a José Lopes da Silva Trovão, oqual estava “representando” os manifestantes, de queos receberia. Porém, Lopes Trovão negou-se a seencontrar com o imperador. Os acontecimentos seintensificaram após este dia. Os manifestantes nãoreivindicavam mais o fim do imposto; decidiramnegarem-se a pagá-lo.

Page 4: Slides Motim do Vintém

“Sua majestade, por esperteza, deixou que a policia impedisse a

entrada do povo em seu palácio, julgando que assim ela e governo

atrairiam a odiosidade pública.

Foi ainda, por esperteza, que depois de ter repelido o povo pela forçaarmada e pelos capangas da secreta, pelo seu camarista, Sua

Majestade mandou comunicar que o receberia.

[...]

Felizmente, porém, o povo teve bom senso e dignidade. A

popularidade do rei corre parelhas com a sua ilustração.

Não voltou.

Dando uma tremenda lição na grandeza de sua

superioridade, desprezou a traição e o traidor.

Um amigo do Sr. A. Celso”

(O imperador e o meeting, Gazeta de notícias, Rio de Janeiro, 31 dez.

1879. p. 1. Disponível em:

http://memoria.bn.br/pdf2/103730/per103730_1879_00359.pdf

Acesso em: 01/12/2013)

Page 5: Slides Motim do Vintém

“Os meetings foram proibidos e o terrível chanfalho da polícia

ameaça os oradores.” “O D. Lopes Trovão , um dos nossos mais

populares tribunos tem sua cabeça, isto é, o seu pescoço

ameaçado!”

“Grandes revistas foram passadas

nos quartéis, e todo o nosso

exército de mar e terra está de

prontidão.”

“No entanto, que as

intenções do nosso povo

são todas pacíficas, pificas

até, como o provaram no

passeio que deram em S.

Cristóvão.

Nos que esperamos o

resultado da entrevista

imperial para desenhá-

las, somos obrigados a

limitar-nos ao que acimafica dito.”

Revista Illustrada, Rio de Janeiro, dez. 1879, p. 4-5. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DOCREADER/DOCREADER.ASPX?BIB=332747 Acesso em: 07/12/2013.

Page 6: Slides Motim do Vintém

No dia 1º de janeiro, 4 mil manifestantes saíram em

passeata em direção ao Largo de São Francisco, local de onde

partiam todos os bondes do centro. Em certo momento os

manifestantes se dividiram em grupos. Depois disso, muitos

carros de bondes foram virados, trilhos foram arrancados, mulas

foram esfaqueadas. A força militar colocou-se em prontidão.

Reprimiu os manifestantes, disparando tiros contra eles. No final

do dia o saldo aproximado foi o seguinte: quinze ou vinte feridos

e três homens mortos.

Os acontecimentos do dia 1º de janeiro de 1880 não são

consensuais. José Carlos de Carvalho, o único manifestante que

deixou relato detalhado, identificou nas depredações uma forma

de resistência à violência policial, assim como observadores dos

eventos relacionaram a atitude dos manifestantes como ato

defensivo.

Page 7: Slides Motim do Vintém

“O Mequetrefe que tantas vezes tem se dirigido a vossa imperial pessoa, mais

uma vez hoje enfrenta-se com V. M. afim de, com a sem cerimônia de uma

consciência franca, e com toda a energia de um caráter solidamente

honesto, dizer-vos:

- Majestade, vós fostes a única culpada dos assassinatos praticados em homens

do povo indefesos, pela força pública, no dia do 1° corrente.

A história, mais tarde, quando, descendo um pouco, tratar do vosso reinado há

de tomar de umas tenazes para levantar-vos, a luz da civilização para que Ela

desfeche sobre vós um epíteto que nos está a saltar do bico da pena.

É acusado aqui dizer-vos tudo o que se deu durante os quatro primeiros dias do

corrente ano; estais tão bem informado como o público em geral, por isso

abstendo-nos disso apenas registramos aqui nestas páginas alegres e

francas, toda a nossa indignação contra os atos de vandalismos autorizados por

vós.

[...] Quanto à coroa que tendes sobre a cabeça, coroa que este bom povo soube

levantá-la, ao mesmo tempo que guardava o vosso berço, para mais tarde

entregá-la limpa e honrada, essa coroa, esperamos vê-la o mais cedo possível

caída no pó das praças para nunca mais ser erguida.

No mais, como sempre, somos de V. M. o que somos de todos os outros,

O Mequetrefe”

(Majestade, O Mequetrefe, Rio de Janeiro, 3 jan. 1880. p. 3. Disponível em:

http://memoria.bn.br/pdf/709670/per709670_1880_00001.pdf Acesso em:

01/12/2013)

Page 8: Slides Motim do Vintém

“Barricadas antes

da luta”

“Apanhado segundo a parte oficial do comandante em chefe do exército em operações na

Rua Uruguaiana, contra o povo inerme. Na verdade, o seu Antonico Enéas é um bravo. Agora

o que se deu não é o que fica aí, mas sim outra coisa.”

“Barricadas antes

da luta”

“Barricada da

esquina da

Uruguaiana e 7 de

Setembro”

“Barricada da

esquina da rua

da Uruguaiana e

rua do Ouvidor”

“Barricada da

esquina da rua da

Uruguaiana e Largo

da Sé”

“Barricada da

esquina da Rua da

Uruguaiana e Rua

do Ouvidor

quarteirão

compreendido

entre esta rua e o

Largo da S锓Aspecto da Barricada central em frente o Alcazar durante a luta.

1. Um súdito polaco (morto) 2. O Pernambucano Affonso Faria de

Andrade (morto) 3. O súdito francês Carlos Milet (morto) 4. Um

cidadão brasileiro (ferido)”

Narrativa dos acontecimentos do dia 1° de janeiro no centro da cidade. (O Mequetrefe, Rio de Janeiro, 3 jan. 1880, p. 4-5. Disponível

em: http://memoria.bn.br/pdf/709670/per709670_1880_00001.pdf Acesso em: 01/12/2013)

Page 11: Slides Motim do Vintém

Em 3 de janeiro de 1880, no centro da cidade, reuniram-se na rua do Carmo

Silveira da Motta, Francisco Otávio de Almeida Rosa, Antonio Marcellino Nunes

Gonçalves, Carlos Leôncio de Carvalho, José da Costa Azevedo, Joaquim Baptista

Pereira, Joaquim Nabuco e Joaquim Saldanha Marinho. Estes deputados e

senadores posicionaram-se contra a violência policial ocorrida no dia 1º de janeiro.

Boa parte deles iria defender a causa abolicionista. Além disso, outros envolvidos

com o Motim do Vintém estariam à frente da defesa pela liberdade dos

escravizados, como José do Patrocínio e Lopes Trovão.

Em junho de 1880, foi fundada, sob liderança de Joaquim Nabuco, a

Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Dentre seus membros estavam ativistas

do Motim do Vintém. Os comícios de rua e palestras, distribuição de

panfletos, organização de passeatas mudou a forma de pensar a política no contexto

da década de 1880.

Segundo a historiadora Sandra Lauderlate Graham, “[...] [O Motim do

Vintém] redefiniu, nada mais, nada menos, os atores, a plateia e a encenação da

cultura política. A década, iniciada por agitações populares e marcada por um novo

estilo político, que assim se fazia anunciar, continuaria como uma década de

conflito. Até fins dos anos 80, os perfis gerais da vida social seriam alterados: o

Parlamento iria abolir finalmente a escravidão, e um governo republicano

substituiria a monarquia constitucional do Império. [...]” (GRAHAM, Sandra

Lauderlate. O Motim do Vintém e a cultura política do Rio de Janeiro, 1880. In:

DANTAS, Monica (org). Revoltas, motins, revoluções: homens livres pobres e libertos

no Brasil do século XIX. São Paulo: Palameda, 2011. p. 487.)

Page 12: Slides Motim do Vintém

Paralela ao grupo formado pelo Partido Liberal foi

formada uma Comissão de Paz. Composta por

médicos, advogados, homens de negócios, a

comissão repudiava a violência policial, assumindo

semelhante posição dos senadores e deputados. A

Comissão de Paz indicou um grupo de advogados

para defender gratuitamente os presos do protesto

do dia 1º de janeiro; argumentavam que as prisões

tinham sido realizadas ilegalmente. Além disso, foi

exigida a suspensão do imposto. Segundo Sandra

Graham, a formação dessa comissão queria dizer

que “a cidade dispunha de porta-vozes próprios”

(idem, p. 498).

Page 13: Slides Motim do Vintém

Depois dos acontecimentos do dia 1º de

janeiro, os passageiros continuavam

negando-se a pagar o imposto. Em abril, as

companhias de bonde pediram ao governo

para que o imposto fosse abolido.

Finalmente, em 5 de setembro de 1880, o

imposto do vintém foi suspenso.

Page 14: Slides Motim do Vintém

Manifestantes protestando no centro de São Paulo contra o aumento da tarifa de

ônibus, trens e metrôs em junho de 2013. Disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Tarifa_Zero_SP.jpg Acesso em: 01/12/2013.

Page 15: Slides Motim do Vintém

Em junho de 2013, ocorreram em São Paulo os primeiros protestos contra

o aumento de vinte centavos na tarifa de ônibus, trens e metrôs. Em 13 de

junho, houve uma intensa repressão policial contra os manifestantes

paulistas, a qual gerou uma enorme repulsa da população em escala

nacional. Nos dias seguintes, ocorreu uma série de manifestações em

todo o país contra o aumento das passagens. Os protestos foram

marcados por intensa violência das forças policiais contra os

manifestantes. Dias depois do início das grandes mobilizações, os

governantes de diferentes cidades começaram a revogar o aumento da

passagem. Os meses seguintes foram marcados por várias outras

manifestações que possuíam pautas variadas, tais como investimentos

em educação, saúde, transporte público, segurança.

Para saber mais, acesse os seguintes links:

http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/As-manifestacoes-de-

junho-e-a-midia/4/28178

http://saopaulo.mpl.org.br/2013/08/30/nao-comecou-em-salvador-nao-vai-

terminar-em-sao-paulo/

http://g1.globo.com/brasil/protestos-2013/infografico/platb/

Page 16: Slides Motim do Vintém

GRAHAM, Sandra Lauderdale. O Motim do Vintém e a

cultura política do Rio de Janeiro, 1880. In:

DANTAS, Monica (org). Revoltas, motins, revoluções:homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. São

Paulo: Palameda, 2011.

Trabalho apresentado à disciplina Didática, ministrada pela

professora Rachel Colacique, elaborado pela aluna de

graduação em História Jamile Silva Neto.