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Page 1: Revista Motim

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Page 3: Revista Motim

a

editorialeditorial

ExpedienteAilson Lima

Débora BrittoIgor Gomes

Rayanne MoraisThiago Farias

Apesar de ser uma bandeira ampla, ainda há muita dúvida quando se pergunta o que são os direitos humanos. Ainda há o equívoco de que defender direitos humanos é defender criminosos, direitos básicos sendo entendidos pela lógica do merecimento individual ou questão de sorte: a sorte de ter tido um pai que podia pagar os estudos, a não sorte de ter que se sustentar com um salário mínimo ou de não ter qualquer teto pra morar. Afinal, “é assim mesmo”.

Os direitos humanos tem uma longa trajetória desde sua criação, e se apresentam hoje como a soma dos direitos fundamentais com os direitos que atendem às demandas da evolução social. É o direito contra a tortura somado ao direito de proteção contra a violência de gênero, por exemplo.

Saúde e educação de qualidade. Transporte e saneamento básico. Segurança. Direitos trabalhistas e habitação. Direito à diversidade religiosa e sexual. Todos esses são pontos que buscam garantir a dignidade universal da vida humana. Mas, mesmo com o caráter de universalidade, falar de direitos básicos é, necessariamente, entrar na defesa das classes sociais mais prejudicadas. A classe trabalhadora, a classe pobre.

Não é novidade que, em benefício de uma pequena elite econômica e política, grandes massas de pessoas são oprimidas nas relações de

trabalho, transporte, educação e saúde e tantas outras. Se no regime soviético os direitos eram violados pelo estado, na sociedade capitalista contemporânea vemos os interesses privados se sobrepondo sobre estas questões.

Há criticas mais radicais que apontam os direitos humanos como um paliativo para os efeitos severos do capitalismo, um atenuador de conflitos sociais. É verdade que a questão é largamente trabalhada junto a instituições e governos, e po d e a c a b a r e n g e s s a d a e m d i s c u r s o s e a ç õ e s po l í t ic a s demasiadamente burocratizadas, servindo mais como mote de campanhas do que como agentes de mudanças estruturais.

Mas, olhando atenciosamente, os q u e s t i o n a m e n t o s m a i s comprometedores e as críticas mais profundas à lógica capitalista traçam pontos congruentes ao tema dos direitos humanos. A questão da terra, da moradia e da comunicação são pontos nefrálgicos levantados por movimentos sociais que tem amplo respaldo na abordagem dos direitos humanos. É relevante ver que os direitos não funcionam só como “diretrizes”, mas como agentes potencializadores de mudanças sociais concretas e da autonomia da população perante os governos e o poder do capital.

O q u e d e fe n d e mo s a q u i é a distribuição radical de elementos básicos à vida humana para todas as

pessoas, de forma igualitária, para que, livres de violência, assegurem sua autonomia e ident idade enquanto indivíduos e coletivos. Acreditamos que é isso que move a recente onda de protestos, em uma sociedade que se vê cada vez mais e n g a n a d a , c o m d i r e i t o s fundamentais sendo transformados em fonte de lucro pr ivado e monopolizado. Com um estado impotente diante do poder do capital, a cidadania institucional se vê cercada por muros firmes, que ora v e s te m te r n o s , o r a v e s te m uniformes militares.

O cenário que se desenha nas ruas do Brasil, sem lideranças políticas e com mais fé na ação direta do que n a s v e r e d a s d o c a m i n h o institucional, mostra a urgência de uma juventude, infeliz com a situação do país, que começa a tomar corpo com esse mesmo desejo de rad ica l i zar a democrac ia . Passando por questões estruturais ligadas à questão dos direitos humanos no Brasil, nosso objetivo é incentivar a reflexão sobre como se configura nossa sociedade, com o intuito de despertar essa mesma visão crítica que tem feito tanta gente ir às ruas.

Desafios de direitos basicos:

o que sao, pra que e porque ?

´

~ ^

Marina Mahamood

Page 4: Revista Motim

MARCOMARCOMONDAINIMONDAINI

Por Débora Britto

01

R e vo l t a po p u l a r, p r i m av e r a

brasileira, jornadas de junho. Como

você aval ia a trajetória e as

mudanças dos protestos que

aconteceram entre maio e julho de

2013?

Marco Mondaini : Tem a lgo de

inexplicável nisso. Não adianta a gente

tentar ter a pretensão de explicar, de

maneira encadeada, todos os momentos

dos protestos. Isso é uma pretensão

cientificista. Acho que vai demorar

muito tempo ainda pra gente conseguir

compreender tudo aquilo que ocorreu

no decorrer de junho, final de maio ate

j u l h o e s e m p e r s p e c t i v a d e

encerramento, porque os protestos

c o n t i n u a m e e l e s v ã o s e

metamorfoseando. Na verdade, não

existe o protesto. Na verdade, existem

vários tipos de protestos dentro do que

podemos chamar de protestos. Tem

vários protestos dentro dos protestos.

São múltiplas demandas, são múltiplos

atores, isso é uma novidade para um

país que não tem muitas tradições de

protesto. Acho que nós somos um país

muito mais caracterizado pela explosão

violenta cotidiana. Então eu quero

deixar bem claro que não é que eu

esteja dizendo que a nossa sociedade é

uma sociedade pacífica. Isso é um mito

construído. A nossa sociedade é

extremamente violenta, nosso estado é

extremamente violento. As relações

sociais são atravessadas por violência. E

as repostas à violência estrutural do

estado se dão menos de maneira

organizada e se dão mais nesses

fenômenos que acontecem no dia a dia.

As múltiplas faces da violência do

cotidiano que respondem a essa

violência maior, que é a violência do

estado capitalista. Isso não quer dizer

que eu esteja negando os vários

momentos de luta sociais, das várias

lutas sociais que marcaram a sociedade

bras i l e i r a desde o per íodo da

escravidão, passando pelas lutas do

movimento operário na época da

República e as lutas do movimento

operário. E, depois, as lutas dos novos

movimentos sociais que surgiram, só

pra ter um ponto como referência, a

part ir das lutas do movimento

feminista. Então, o novo nesses meses é

que o protesto ganhou um caráter

político. A violência ganhou um caráter

político. Mas ainda assim você não

consegue localizar lideranças após a

primeira fase dos protestos. Você

conseguia local izar l ideranças ,

inicialmente, naquela primeira fase dos

protestos, na primeira quinzena,

quando os protestos tinham a mesma

marca dos protestos de luta pela

redução das tarifas que tinham certa

sazonalidade.

Como historiador, Marco Mondaini, professor dos Programas de Pós-Graduação de Serviço Social e de Comunicação Social da

Universidade Federal de Pernambuco, recomenda cautela nas análises e interpretações do que ficou conhecido como “a voz das ruas” das

manifestações que tomaram dezenas de cidades brasileiras entre maio e julho de 2013 e que continuam, em menor volume, nas

principais cidades do país. Em entrevista à Revista Motim, Mondaini comenta tendências possíveis e raízes da indignação para o que

intelectuais à esquerda chamam de Jornadas de Junho. São temas da conversa Passe Livre, vandalismo, pacifismo, discurso midiático e o

ranço histórico do Brasil que parece fazer jus à sentença, repetida algumas vezes, no filme O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa:

É preciso que tudo mude para que tudo continue da mesma forma. Segundo Mondaini, a frase é como um pouco da história do Brasil. “As

coisas mudam, mas a força da inércia é muito grande”, diz.

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Movimento Passe Livre

02

Movimento Passe Livre

Marco Mondaini: O Movimento Passe

Livre já marcava uma inovação. Já que

era um movimento que lutava por

u m a c a u s a po nt u a l , q u e e r a

transversal aos partidos na verdade é

suprapartidário. Existe uma diferença

g r a n d e e n t r e m o v i m e n t o s

suprapartidários e apartidários. Os

movimentos suprapartidários se dão a

partir da superação dos partidos

políticos, mas sem negar os partidos.

O movimento se organiza com a

participação de militantes, de gente de

vários partidos, mas que não negam a

sua vinculação a um partido. Quando

você fala que um movimento é

apartidário, você tá negando a

existência de partido. Então, me

preocupa essa insistência em dizer

que o movimento é apartidário. Na

verdade, o que seria mais próximo da

realidade desses movimentos é o

caráter suprapartidário. Bom, na

virada da segunda fase de protestos

um caso exemplar foi o dia 20 de

junho. Foi quando o movimento deixa

de ter lideranças, elas são engolidas

pela própria dinâmica do movimento,

que ganha um caráter nacional e fica

mais claro a inexistência de uma

única bandeira de luta. As bandeiras

eram múltiplas, diziam respeito a

dimensões muito diferenciadas.

Então, tem um caráter nacional,

cacofônico. Aí começa a desenvolver

aspectos preocupantes porque a

crítica aos partidos, a manifestação

das pessoas contra partidos e contra

movimentos sociais ganha as ruas.

Mídia, protestos e a cruzada conta a corrupção

M a r c o M o n d a i n i : N e s s e

“engolimento” das lideranças pelo

movimento ocorre uma ação massiva

dos meios de comunicação, uma ação

que eu diria oportunista. Os meios de

comunicação agiram de acordo com

a s c i r c u n s t â nc i a s . Q u a n d o

perceberam esse momento de

“engol imento” das l ideranças ,

imediatamente começaram a se

apresentar como lideranças. E aí

começaram a pautar o movimento.

Então uma coisa que é cacofônica é

t rans formada pela imprensa .

Começam, dentre inúmeros cartazes,

a aparecer car tazes contra a

corrupção, contra os políticos e os

meios de comunicação passaram a

reduzir as manifestações a uma luta

contra a corrupção. É lógico que por

trás disso há um interesse. Um

interesse de vincular luta contra a

corrupção e aí de maneira subliminar

faz a vinculação entre o caráter de luta

contra a corrupção desses protestos

com a insatisfação contra o Governo

Federal. Quer dizer, isso foi uma

gigantesca obra de edição dos

protestos que acabou calando a

cacofonia das ruas e que procurou

excluir o papel dos partidos, dos

movimentos sociais dos protestos,

transformando-os num momento em

que indivíduos, principalmente jovens

f o r a m à s r u a s e m n o me d a

nacionalidade, da brasilidade. Quando

faltam elementos de identidade nesses

protestos de massa geralmente se

recorre à identidade nacional. Então

por isso a quantidade enorme de

bandeiras do Brasil, o retorno à

pintura do rosto com verde amarelo,

hinos, bandeiras, falas, discursos,

musiquinhas que falam do orgulho de

ser brasileiro. Isso é uma forma de

você neutralizar a força dos protestos.

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03

que não é dele, é do Governo do Estado,

pra levar seus filhos, babás, amigos pra

casa que ele tem em Mangaratiba, que é

uma cidade na beira da praia entro o

Rio e Angra dos Reis. E vai o Juquinha,

que é o cachorro dele. Isso causou uma

indignação na população do Rio de

Janeiro, na população carioca, em

particular, e que faz com que as pessoas

estejam lá, acampadas na rua do Sérgio

Cabral. O lema das manifestações do

Rio desde então é “Fora Sérgio Cabral”.

Há uma personalização dos protestos

em torno da figura do Sérgio Cabral.

Então é como se ele fosse hoje a

representação desses abusos que vem

sendo omitidos.

Nos protestos posteriores, são aqueles

principalmente depois de 20 de julho,

no Rio e em São Paulo, onde há uma

forte atuação dos black blocs, você vê

lideranças, organizações e bandeiras

de maneira muito clara. No dia 20 de

junho é uma coisa à parte, Não

arriscaria dizer por que as pessoas

foram às ruas.

vocês?”. Veja: nenhum, nenhuma das

respostas falou de desigualdade social.

Foram várias as falas, mas nenhuma

falava de desigualdade social. Isso é

preocupante porque o grande problema

do Brasil, o grande problema do país é o

caráter crônico da nossa desigualdade

social. Vejam, essas pessoas foram pra

rua, mas não conseguem identificar na

desigualdade social o problema zero a

prioridade absoluta pra um projeto de

reformas consistentes que mudem a

cara do Brasil. Aquelas demandas que

foram apresentadas ali, na verdade

refletem uma expressão de um

problema que, pra mim, é o problema

inicial. Agora, eu insisto, não se dá para

saber por que as pessoas foram às ruas

naquele momento e isso nunca mais

ocorreu. Desde aquele dia 20 de junho

os protestos refluíram. Foi o ápice.

Desde então, aquelas pessoas que

talvez tenham ido à rua pela uma única

vez não voltaram mais às ruas.

Antigas e novas bandeiras

Marco Mondaini: Eu sei explicar se

você me perguntar por que é que ainda

hoje as pessoas em São Paulo ainda

estão indo às ruas. Eu me aventuro a

responder. Eu falo isso por causa do

Juquinha. O que é o Juquinha? Logo

depois daquelas manifestações saiu

uma reportagem na Veja sobre o uso

que o Sérgio Cabral faz do helicóptero

Protesto espontâneo? O que levou a

classe média às ruas?

Marco Mondaini: Em primeiro lugar,

eu sempre coloco muitas dúvidas em

relação ao que se diz de movimento

espontâneo. Não existem movimentos

espontâneos. Sempre existe algum tipo

de organização, até mesmo pra você

botar na rua um bloco de carnaval,

ainda que seja um bloco de amigos, tem

que ter uma organização. Ninguém faz

um protesto com essas dimensões de

maneira espontânea. Podemos falar

nas possíveis causas que teriam levado

as pessoas à ruas. Certamente não foi

uma insatisfação com as mazelas

sociais brasileiras. Quem estava ali na

rua no dia 20 de junho não eram os

setores que frequentam a fila do SUS,

nem os que estudam em escolas

públicas. Uma boa parcela dali foi

constituída por jovens de classe média

que tem plano de saúde. Mas são

jovens. Isso é importante. Os jovens

p rec i s a m s e i n s u bo rd i n a r, s e

inconformar com a situação existente

hoje no país. Agora, só pra você ter uma

ideia, no dia seguinte ao protesto, na

minha turma de Sociologia de

Comunicação eu perguntei “E aí, quem

foi ao protesto?”. Uma grande parte da

turma disse que tinha ido ao protesto.

E logo depois eu perguntei “Vem cá,

porque é que vocês foram aos

protestos? O que causa indignação a

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Bala de borracha, repórter da Folha de São Paulo, comoção popular. Freud explica?

Marco Mondaini: Eu não me aventuraria a dar uma explicação, mas existem alguns elementos que nos ajudam a compreender. A virada dos protestos é um deles. Inicialmente, (a sociedade e mídia) aceitando a ação policial e, depois, diante de casos absurdos de violência policial, de excesso de balas de borracha, de gás de pimenta, gás lacrimogênio, violência policial etc, inclusive contra os jornalistas, a sociedade “muda de lado”. Os próprios meios de comunicação mudaram de lado. Então são várias as motivações que levam as pessoas até a rua. Certamente, foi impressionante foi o fato de em todo o território nacional terem ocorrido manifestações expressivas, que não costumam acontecer. Não fazem parte da nossa história e ainda mais dessa mane i ra . A carac ter í s t ica desse movimento é a inexistência de uma bandeira.

No campo da psicologia diriam que pode ser uma catarse coletiva a ponto causar indignação nas pessoas. Não sei se havia realmente uma indignação acumulada. Existe alguma coisa que é inexplicável e a ciência tentar explicar é tentar retornar a um cientificismo que procura ter sempre uma razão nas coisas. Há uma coisa que escapa à nossa compreensão. Eu não descartaria, por exemplo, um espírito de manada, que faz com que as pessoas f i q u e m d u r a nte a n o s , d é c a d a s , ruminando mas em um momento leva as pessoas para as ruas.

Futuro dos protestos e organização política: pauta para além das ruas?

Marco Mondaini: Eu sou historiador de profissão. É muito fácil olhar para trás, mas olhar para a frente é muito difícil. A gente, no máximo, pode estabelecer tendências. Pode estar acontecendo alguma coisa, que aí sim eu me arriscaria a construir uma hipótese. O Brasil tá

colhendo agora as contradições que foram plantadas exatamente por esses 10 anos de crescimento. O Brasil, em particular o Rio de Janeiro, se aventurou a assumir a responsabilidade de sediar eventos muito grandes, que atraem multidões, atraem os olhares do mundo inteiro. Começou com a Copa das Confederações e, em seguida, a Jornada Mundial da Juventude. Ano que vem tem Copa do Mundo. Logo depois, tem Olimpíadas. Tudo faz parte do mesmo processo que é esse da tentativa de tornar o Brasil uma potência. Só que uma potência assentada em problemas crônicos, que não foram resolvidos e que vão implicar um redirecionamento das es t ratég ias , das intenções governamentais do Estado brasileiro. S ã o p ro b l e m a s rel a c i o n a d o s a desigualdade social , segurança, imobilidade urbana vivenciadas pelas pessoas diariamente. Então, uma tendência é de que nos próximos quatro anos sejam quatro anos de protestos. Que isso que a gente viu agora seja reeditado na Copa do Mundo e depois seja reeditado nas Olimpíadas . As pessoas estão vendo esse projeto de potência, mas não veem melhorias em questões do dia a dia. Se construiu um projeto de Brasil potência, mas o dever de casa não foi feito. É possível que isso esteja gerando uma insatisfação por parte dos jovens. Então essa é uma tendência. Existe uma ou outra tendência que é de serem sempre grupos minoritários a se manifestar. Os protestos de Julho estão reunindo - o que? - mil pessoas? Mas mil pessoas que sabem muito bem o que querem ou se não sabem muito bem o que querem, sabem muito bem o que atingir, quem atingir. As sedes do poder. Mas, pra tentar vincular com o que está acontecendo hoje, com essa etapa agora, com o que aconteceu em Londres em 2011 quando o Black Bloc, mas também jovens de periferia, quebravam as lojas da city londrina, de Londres. Alguns queimavam o saque de roupas de grife e outros levavam para casa. Acho que o

que está acontecendo tem uma vinculação com o que aconteceu em Londres, da insatisfação das pessoas que estão excluídas ou então são de classe média mas fazem uma crítica em relação a essa exclusão. Em comum com junho, só o fato de estarem nas ruas.

Jovens: espanhóis indignados, americanos no Occupy Wall Street, brasileiros nas ruas. Elemento comum?

Marco Mondaini: Se você pegar o período pré-20 de junho e pós-20 de

junho, acho uma indignação em relação a um sistema que é uma fábrica de excluídos. Um sistema que é global. Os jovens que entraram em conflito com a polícia em São Paulo e no Rio de Janeiro fazem parte desse mesmo universo de indignação em relação ao sistema capitalista. Há relação de continuidade. Agora, eu não estenderia essa identificação com aqueles jovens do dia 20 de junho. Há algo de festa, Algo de identificação estética nesses momentos de massa. Há muito “oba oba” nesses momentos. Aí você pergunta “mas isso não cria, não gera socialização política?”. Pode ser que sim, pode ser que não. Pode ser que alguns daqueles jovens que estavam ali e eram despolitizados tenham sido tomados, ganhos para a política. Agora, um grande contingente daquele apareceu no protesto e pronto. Sua cota de participação política se esvaziou.. Protestos tem essa coisa de u m a m i n o r i a d á i n í c i o , v ã o contagiando , até chegar a um momento de ápice e depois refluem. Em tempos de globalização, isso contagia. O que aconteceu na Praça Tahir, na Tunísia, no Egito, em Nova York, em Porta Del Sol, é assistido pelas pessoas e isso cria um clima global.

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