sistemÁtica vegetal.odt

50
FOLHAS Introdução A folha é um apêndice caulinar presente em quase todos os vegetais superiores, salvo exceções, como por exemplo, em algumas espécies das famílias Euphorbiaceae e Cactaceae, onde nesta última é comum a transformação em espinhos. A folha é o órgão vegetativo que apresenta grande polimorfismo e adaptações a diferentes ambientes e funções. Em geral são estruturas planas (finas e amplas), de modo que o tecido clorofiliano, responsável pela fotossíntese, fica próximo à superfície. Se a forma da folha facilita a captação da luz, as aberturas necessárias para a absorção do gás carbônico levam ao mesmo tempo à perda de água. As folhas são as principais fontes de perda de água das plantas. Tendo-se em conta que a transpiração excessiva pode levar à desidratação e, até mesmo, à morte das folhas ou das plantas, em sentido amplo, a forma e a anatomia da folha devem possibilitar uma relação que permita a captura de luz e absorção de gás carbônico, evitando a perda excessiva de água. Além da fotossíntese, outros processos fisiológicos importantes para as plantas têm lugar nas folhas, tais como: respiração, transpiração e reserva de nutrientes. Para os seres vivos é importante na alimentação, sendo amplamente utilizada pelo homem na indústria e no comércio. Origem As folhas originam-se a partir de protuberâncias formadas por divisões periclinais das células nas camadas mais superficiais localizadas próximas ao meristema apical caulinar. Estas protuberâncias dão origem aos primórdios foliares, os quais têm, assim, origem exógena. No desenvolvimento da folha estão envolvidas as atividades de vários meristemas, e na maioria das folhas, o crescimento apical tem pouca duração. Partes da folha Uma folha completa apresenta: limbo (lâmina), pecíolo ou bainha, e um par de apêndices foliares chamados estípulas na base do pecíolo. A bainha é a porção terminal do pecíolo que abraça o caule é geralmente bem desenvolvida como no caso das Poaceae. Na família Apiaceae sua provável função é dar proteção às gemas axilares. As estípulas são estruturas laminares, geralmente em número de dois,

Upload: lolaabs

Post on 29-Dec-2015

96 views

Category:

Documents


49 download

TRANSCRIPT

Page 1: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

FOLHAS

Introdução

A folha é um apêndice caulinar presente em quase todos os vegetais superiores, salvo exceções, como por exemplo, em algumas espécies das famílias Euphorbiaceae e Cactaceae, onde nesta última é comum a transformação em espinhos. A folha é o órgão vegetativo que apresenta grande polimorfismo e adaptações a diferentes ambientes e funções.

Em geral são estruturas planas (finas e amplas), de modo que o tecido clorofiliano, responsável pela fotossíntese, fica próximo à superfície. Se a forma da folha facilita a captação da luz, as aberturas necessárias para a absorção do gás carbônico levam ao mesmo tempo à perda de água. As folhas são as principais fontes de perda de água das plantas. Tendo-se em conta que a transpiração excessiva pode levar à desidratação e, até mesmo, à morte das folhas ou das plantas, em sentido amplo, a forma e a anatomia da folha devem possibilitar uma relação que permita a captura de luz e absorção de gás carbônico, evitando a perda excessiva de água.

Além da fotossíntese, outros processos fisiológicos importantes para as plantas têm lugar nas folhas, tais como: respiração, transpiração e reserva de nutrientes. Para os seres vivos é importante na alimentação, sendo amplamente utilizada pelo homem na indústria e no comércio.

Origem

As folhas originam-se a partir de protuberâncias formadas por divisões periclinais das células nas camadas mais superficiais localizadas próximas ao meristema apical caulinar. Estas protuberâncias dão origem aos primórdios foliares, os quais têm, assim, origem exógena. No desenvolvimento da folha estão envolvidas as atividades de vários meristemas, e na maioria das folhas, o crescimento apical tem pouca duração.

Partes da folha

Uma folha completa apresenta: limbo (lâmina), pecíolo ou bainha, e um par de apêndices foliares chamados estípulas na base do pecíolo.

A bainha é a porção terminal do pecíolo que abraça o caule é geralmente bem desenvolvida como no caso das Poaceae. Na família Apiaceae sua provável função é dar proteção às gemas axilares. As estípulas são estruturas laminares, geralmente em número de dois, presentes na base das folhas, e variam muito em forma e tamanho, podendo ser livres ou não. Neste caso podem concrescer com o pecíolo, como no caso da roseira, ou o crescimento se dá entre estípulas da mesma folha ou entre as de folhas diferentes. As estípulas podem ser axilares (posição axilar) ou interpeciolares (entre os pecíolos de folhas diferentes). Este tipo de estípula caracteriza as espécies da família Rubiaceae. Em alguns casos as estípulas são bastante desenvolvidas, como acontece, por exemplo, na ervilha (Pisum sativum - Fabaceae). Nesta espécie as estípulas auxiliam na fotossíntese, compensando assim a redução do limbo de algumas folhas, parcialmente transformados em gavinhas. E ainda podem estar transformadas em espinhos, como ocorre em coroa-de-cristo (Euphorbia milii - Euphorbiaceae).

As estípulas, em alguns casos, são bem desenvolvidas e soldam-se formando a ócrea, que é uma membrana, que se inicia na base foliar, envolvendo uma certa extensão do caule acima da zona de inserção da folha. É encontrada nas folhas das plantas da família das Poligonáceas e é considerada como resultante da fusão de duas estípulas membranáceas, axilares. Exemplo: tapeteinglês (Polygonum capitatum - Polygonaceae). Em algumas espécies as estípulas estão presentes apenas quando a folha é bem jovem, caindo em seguida. Nessas espécies as estípulas têm o papel de proteger as gemas, do mesmo modo que as escamas de gemas. A hera miúda (Ficus repens - Moraceae) tem sua gema terminal escondida entre as estípulas das folhas novas.

O limbo é a parte essencial da folha e caracterizase, em geral, por ser uma superfície plana e ampla,

Page 2: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

sendo esta uma lâmina verde, sustentada pelas nervuras, onde possibilita uma maior área possível para a captação de luz solar e do gás carbônico. O limbo pode ser e inteiro na folha simples, ou quando a lâmina foliar é dividida em várias unidades, a folha é composta. A forma da folha é dada pela forma geral do limbo e apresenta grande variedade. O limbo foliar tem grande importância nos trabalhos de taxonomia, filogênese e identificação de plantas e uma enorme gama de conceitos foi desenvolvida para melhor definir as diversas características do limbo. Assim, eles podem ser classificados quanto à forma, margem, base, ápice, e ausência ou presença de tricomas e consistência.

O pecíolo é o eixo que sustenta a folha e serve para unir a lâmina foliar ao caule. Geralmente é arredondado na porção inferior e achatado ou côncavo na porção superior. Esta forma auxilia a sustentar a lâmina ao mesmo tempo em que é flexível. O pecíolo desempenha um importante papel na exposição da lâmina foliar à luz (fototropismo), podendo ainda estar unido à base da lâmina foliar, como ocorre na maioria das plantas, ou preso no meio da lâmina foliar.

As folhas podem ser classificadas quanto à posição do pecíolo em:

Peciolada: quando o pecíolo está presente. Exemplo: jasmim-manga (Plumeria rubra - Apocynaceae).

Peltada: quando o pecíolo está preso no meio da lâmina foliar. Exemplo: mamona (Ricinus communis - Euphorbiaceae).

Séssil: quando o pecíolo está ausente e a lâmina foliar prende-se diretamente ao caule. Exemplo: coração-roxo (Tradescantia pallida - Commelinaceae).

Nas folhas compostas, apêndices semelhantes às estípulas, presentes na base dos pecíolos são denominados estipetas. Quando qualquer uma destas estruturas faltar, nesse caso, a folha é dita incompleta.

As folhas incompletas podem ser classificadas em:

Folha peciolada: quando a folha apresenta apenas o limbo e o pecíolo. Exemplo: flor-de-São-João (Pyrostegia venust - Bignoniaceae).

Folha invaginante: é quando a bainha envolve o caule em grande extensão, geralmente de um nó ao outro. Exemplo: grama (Paspalum notatum - Poaceae).

Folha com lígula (pequena língua): quando ocorre uma formação membranosa entre o limbo e a bainha. Exemplo: lírio-do-brejo (Hedychium sp. - Zingiberaceae).

Folha adunada: é quando duas folhas opostas, sésseis, apresentam-se soldadas pela base, parecendo ser perfuradas pelo caule.

Merecem ainda especial atenção, o palmito

(Euterpe edulis - Araceae) e a bananeira (Musa paradisiaca - Musaceae). No primeiro caso, as enormes bainhas das folhas que estão presentes no topo da palmeira, envolvem o ápice caulinar protegendo-o, sendo esta porção protegida a parte comestível do palmito. Na bananeira, o caule é subterrâneo, e as bainhas formam um pseudocaule, de onde se expandirá em enormes limbos. Um ramo caulinar cresce a partir do rizoma por entre as bainhas, para produzir um cacho de flores e

Page 3: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

depois os frutos.

Glossário de características foliares

Quanto à forma do limbo: é bastante variada e serão citados a seguir apenas alguns dos tipos mais comuns:

Orbicular: com o contorno aproximadamente circular e o pecíolo inserido na margem do limbo (fig. 1). Exemplo: aguapé (Eichornia crassipes - Pontederiaceae).

Figura 1 – Orbicular

Peltada: semelhante a um escudo, contorno circular e o pecíolo inserido no centro do limbo (fig. 2). Exemplo: chagas (Tropeolum maju - Tropaeolaceae).

Figura 2 – Peltada

Ovada ou oval: com a forma de um ovo mais larga perto da base (fig. 3). Exemplo: laranja (Citrus sp. - Rutaceae).

Figura. 3 – Ovada

Obovada: a mesma forma da ovada, mas neste caso a parte mais larga é próxima ao ápice do limbo (fig. 4). Exemplo: clúsia (Clusia fluminensis - Clusiaceae).

Figura. 4 – Obovada

Cordiforme: lembra a forma de um coração, a base é bem mais larga, com uma reentrância e com os lobos arredondados (fig. 5). Exemplo: campainha (Ipomoea purpurea - Convolvulaceae).

Page 4: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura. 5 – Cordiforme

Obcordada: semelhante ao anterior, neste caso a parte mais larga é a voltada para o ápice (fig. 6).

Figura. 6 – Obcordada

Deltóide: com forma de um “delta” ou um triângulo isóscele; o ápice da folha corresponde ao ápice do triângulo (fig. 7). Exemplo: espinafre (Tetragonia sp. - Aizoaceae).

Figura. 7 – Deltóide Obdeltóide: forma de um delta invertido (fig. 8).

Figura. 8 – Obdeltóide

Elíptica: lembra uma elipse, mais larga no meio e o comprimento duas vezes a largura (fig. 9). Exemplo: ficus (Ficus microcarpa - Moraceae).

Figura. 9 – Elíptica

Reniforme: com aspecto de um rim, mais larga do que longa (fig. 10). Exemplo: begônia (Begonia acuntifolia - Begoniaceae).

Figura 10 – Reniforme

Oblonga: forma aproximadamente retangular, com pólos arredondados (fig. 1).

Figura. 1 – Oblonga

Romboidal ou rombóide: a forma da folha lembra a forma de um losango (fig. 12). Exemplo: hibisco (Hibiscus sp. - Malvaceae).

Page 5: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 12 – Romboidal

Sagitada: em forma de seta com a base reentrante e os lobos pontiagudos, voltados para baixo (fig. 13). Exemplo: copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica - Araceae).

(Parte 2 de 5)

Figura. 13 – Sagitada

Hastada: semelhante à sagitada, apenas os lobos pontiagudos que são divergentes (fig. 14).

Figura. 14 – Hastada

Espatulada: em forma de espata; oblonga ou obovada no ápice com uma base longamente atenuada (fig. 15).

Figura. 15 – Espatulada

Linear: com a forma estreita e comprida, apresenta apenas uma nervura (fig. 16).

Figura. 16 – Linear

Runcinada: folha oblanceolada com margem partida ou lacerada (fig. 17).

Figura. 17 – Runcinada

Lanceolada: o aspecto lembra o de uma lança; a folha é mais longa que larga e estreita-se em

Page 6: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

direção ao ápice (fig. 18). Exemplo: espirradeira (Nerium oleander - Apocynaceae).

Figura. 18 – Lanceolada

Oblanceolada: a folha tem a forma lanceolada, mas invertida com a parte mais larga no ápice (fig. 19).

Figura. 19 – Oblanceolada Falciforme: em forma de foice (fig. 20).

Figura. 20 – Falciforme

Assimétrica: quando há um desenvolvimento desigual das duas metades do limbo (fig. 21). Exemplo: trombeta-de-anjo (Brugmansia suaveolens - Solanaceae).

Figura 21 – Assimétrica

Quanto ao ápice: O ápice da folha está relacionado com o terço superior do limbo, oposto à inserção da folha com o caule.

Os tipos, mais freqüentes, de ápice foliar e, os mais empregados em sistemática são:

Aculeado: quando apresenta no ápice um acúleo (falso espinho) (fig. 2).

Figura. 2 – Aculeado

Page 7: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Acuminado: o limbo estreita-se gradualmente para o ápice, terminando em ponta excessivamente aguda (fig. 23).

Figura. 23 – Acuminado

Agudo: a região apical termina em ângulo agudo de maneira abrupta (fig. 24). Exemplo: espirradeira (Nerium oleander - Apocynaceae).

Figura 24 – Agudo

Aristado: no ápice existe uma ponta longa e delgada. Arredondado: o ápice forma um arco suave (fig. 25). Exemplo: calatéia-zebra (Calathea zebrina - Maranthaceae).

Figura 25 – Arredondado

Cirroso: no ápice forma-se um cirrão (gavinha). Emarginado: ápice do limbo termina com uma reentrância pouco profunda, aguda com bordos arredondados (fig. 26). Exemplo: fedegosos-rasteiro (Senna australis - Fabaceae).

Figura 26 – Emarginado

Obtuso: os bordos da lâmina formam no ápice um ângulo obtuso (fig. 27). Exemplo: maranta-zebrada (Ctenanthe burle - Maranthaceae).

Figura. 27 – Obtuso

Retuso: ápice truncado e ligeiramente emarginado, ou seja, com uma ligeira reentrância central (fig. 28).

Figura. 28 – Retuso

Truncado: ápice do limbo parecendo ter sido cortado transversalmente (fig. 29).

Figura. 29 – Truncado

Quanto à base: as formas da base estão relacionadas com o terço inferior do limbo, aquele que está em contato com o pecíolo ou com o caule, conforme for o caso.

Page 8: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Os tipos mais comuns de base são:

Aguda: quando os bordos na inserção com o pecíolo formam um ângulo agudo (fig. 30). Exemplo: hibisco (Hibiscus sp. - Malvaceae).

Figura. 30 – Aguda

Amplexicaule: base abraçando completamente o caule (fig. 31).

Figura. 32 – Amplexicaule

Atenuada: com a região basal do limbo estreitandose gradualmente (fig. 3). Exemplo: espirradeira (Nerium oleander - Apocynaceae).

Figura. 3 – Atenuada

Auriculada: base termina por um par de pequenos lobos, cada um dos lobos semelhante a uma orelha humana (fig. 34).

Figura. 34 – Auriculada

Cordada: base reentrante com os lobos arredondados dando à base a forma de um coração (fig. 35). Exemplo: papo-de-peru (Aristolochia gigantea - Aristolochiaceae).

Figura 35 – Cordada

Decorrente: a base se estende além do ponto de inserção no caule, tornando-o alado (fig. 36). Exemplo: laranjeira (Citrus sp - Rutaceae).

Figura 36 – Decorrente

Hastada: base reentrante com lobos agudos e voltados para o lado (fig. 37).

Fig. 37 – Hastada

Invaginante: estrutura tubular envolvendo o caule abaixo da aparente inserção da lâmina ou pecíolo (fig. 38). Exemplo: milho (Zea mays - Poaceae).

Page 9: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura. 38 – Invaginante

Oblíqua: base termina por lados desiguais assimétricos (fig. 39). Exemplo: sálvia-azul (Salvia sp - Lamiaceae).

Figura. 39 – Oblíqua

Obtusa: os bordos na inserção do pecíolo formam ângulo obtuso (fig. 40). Exemplo: hibisco (Hibiscus sp. - Malvaceae).

Figura 40 – base obtusa

Perfoliada: base envolve completamente o caule (fig. 41).

Figura 41 – Perfoliada

Sagitada: base reentrante e lobos pontiagudos voltados para baixo (fig. 42). Exemplo: antúrio (Anthurium andraeanum - Araceae).

Figura 42 – Sagitada

Truncada: os bordos na inserção com o pecíolo parecem ter sido cortados (fig. 43).

Figura 43 – Truncada

Quanto à margem: o limite externo da folha é denominado margem ou borda, e esta pode se apresentar inteira ou com recortes mais ou menos profundos.

Assim, de acordo com a presença ou não de recortes, podemos classificar as folhas em:

Acuneada: com projeções rígidas regulares, retas ou curvas (fig. 4).

Figura 4 – Esquema de margem acuneada

Ciliada: com tricomas partindo da margem.

Page 10: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Crenada: com dentes obtusos ou arredondados e ascendentes (fig. 45a e b). Exemplo: cóleus (Solenostemon scutellarioides - Lamiaceae).

Figura 45a – Margem crenada e em b – esquema de margem crenada

Crenulada: diminutivo de crenada.

Denteada: margem com dentes arredondados ou pontiagudos que se colocam em ângulo reto em relação ao meio do limbo (fig. 46a e b).

Figura. 46a – Denteada e em b – esquema de margem denteada

Denticulada: diminutivo de denteada. Exemplo: dombéia (Dombeya wallichii - Sterculiaceae).

Inteira: lisa sem recorte ou reentrâncias (fig. 47). Exemplo: cana-índica (Canna sp. - Cannaceae).

Figura 47 – Esquema de margem inteira

Ondulada: margem suave e superficialmente indentada, ondulada no plano vertical (fig. 48). Exemplo: saia-branca (Brugmansia suaveolens - Solanaceae).

Page 11: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 48 – Esquema de margem ondulada

Pectinada: com projeções regulares como dentes de um pente.

Serreada: com dentes agudos, inclinados para o ápice (fig. 49). Exemplo: hibisco (Hibiscus sp. - Malvaceae).

Figura 49 – Esquema de margem serreada

Serrulada: diminutivo de serreada. Exemplo: maracujá (Passiflora alata - Passifloraceae).

Sinuada: margem suave e superficialmente indentada, ondulada no plano horizontal, sem dentes ou lobos distintos.

De acordo com a presença de recortes (segmentação) mais profundos da margem do limbo podemos classificar as folhas quanto à margem em:

Fendida: com recortes laterais que chegam bem próximos ou até a metade do limbo (fig. 50), podendo ser bífida, trífida, pinatifendida, palmatifendida. Exemplo: banana-do-mato (Monstera deliciosa - Araceae).

Figura 50 – Fendida

2 Lacerada: margem cortada irregularmente (fig. 51).

Figura 51 – Lacerada

Lobada: recortes profundos que, no entanto, são menores que a metade do semilimbo, podendo ser bilobada, trilobada, multilobada, palmatilobada ou pinatilobada (fig. 52).

Figura. 52 – Lobada

Partida: com recortes profundos que vão além da metade do semilimbo, podendo ser bipartida, tripartida, multipartida, pinatipartida (fig. 53). Exemplo: tártago (Jatropha podagrica - Euphorbiaceae).

Page 12: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 53 – Partida

Secta ou cortada: recortes que alcançam a nervura principal, lembrando uma folha composta, mas os segmentos não articulam com a nervura central como na folha composta. Nas folhas sectas as partes mostram continuidade e não se destacam facilmente como nas folhas compostas (fig. 54).

Figura 54 – Secta ou cortada

Quanto a nervação ou venação: a partir dos feixes vasculares do caule derivam os feixes vasculares que se dirigem para o pecíolo, que por sua vez se ramificam pelo limbo formando uma estrutura, que sustenta a folha.

Estas ramificações são chamadas nervuras, e quanto à disposição das nervuras de maior porte, as folhas podem ser classificadas em:

Curvinérvea ou acródroma: quando apresenta várias nervuras que partem da base da folha e se reúnem, outra vez, no ápice, percorrendo o limbo em curvas paralelas (fig. 5). Exemplo: quaresmeira (Tibouchina granulosa - Melastomataceae).

Figura 5 – Curvinérvea

Palmatinérvea ou actinódroma: quando três ou mais nervuras partem, radialmente, da base do limbo (fig. 56). Exemplo: gerânio (Pelargonium hortorum - Geraniaceae).

Figura 56 – Palmatinérvea

pubescens - Poaceae)Paralelinérvea ou paralelódrama: quando várias nervuras percorrem o limbo em sentido longitudinal e, aproximadamente, paralelas umas às outras (fig. 57). Exemplo: bambu-mossô (Phyllostachys Figura 57 – Paralelinérvea

Peltinérvea: decorrente da inserção do pecíolo nas folhas peltadas, ou seja, as nervuras partem radialmente do ponto central da inserção do pecíolo. Exemplo: chagas (Tropeolum majus - Tropaeolaceae).

Page 13: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Peninérvea ou pinada: nervuras ramificadas partindo de uma nervura central mais espessa, lembrando a morfologia de uma pena de ave (fig. 58). Exemplo: laranjeira (Citrus sp - Rutaceae).

Figura 58 – Peninérvea

Uninérvea: apenas uma nervura visível (fig. 59). Exemplo: cravo (Dianthus caryophyllus - Caryophillaceae).

Figura 59 – Uninérvea

A folha é composta quando apresenta o limbo segmentado. As unidades que formam o limbo de uma folha composta são denominadas folíolos e pode apresentar um pequeno pecíolo chamado peciólulo. A região correspondente à nervura central recebe o nome de raque.

As folhas compostas podem ser classificadas de acordo com a disposição e o número de folíolos que integram o limbo composto.

Palmadas ou digitadas: com folíolos apenas na porção final do pecíolo (fig. 60). Exemplo: cheflerapequena (Schefflera arborícola - Araliaceae). Estas podem ser classificadas em:

Figura 60 – Palmada

Bifoliolada: com apenas dois folíolos terminais.

Page 14: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Trifoliolada: quando há três folíolos (fig. 61). Exemplo: feijão (Phaseolus vulgaris - Fabaceae).

Figura 61 – Folha trifoliolada

Polifoliolada: com mais de três folíolos. Exemplo: paineira (Chorisia speciosa, - Bombacaceae).

Penadas: com folíolos em toda a extensão da raque. Podem ser classificadas em:

Imparipenada: quando há um número ímpar de folíolos (fig. 62). Exemplo: rosa (Rosa spp. - Rosaceae).

Figura 62 – Folha mparipenada

Paripenada: quando um número par de folíolos se dispõe ao longo da raque (fig. 63). Exemplo: mariapreta (Senna alata - Fabaceae).

Figura 63 – Folha paripenada

Recomposta ou duplamente composta: são folhas de cuja raque principal sai ramificações secundárias, denominadas de raquilas e estas é que sustentam os foliólulos, em disposição penada e que podem ser peciolados ou sésseis. Vários membros da família Fabaceae apresentam folhas recompostas. Exemplo: pau-brasil (Caesalpinia echinata - Fabaceae).

Quanto à superfície: a superfície e o indumento da folha pode ser bastante variado, além de variar de acordo com a idade da planta ou ambiente onde a espécie vive.

Essas características podem ser classificadas em:

Glabra: quando se apresenta desprovida de tricomas. Exemplo: laranjeira (Citrus sp - Rutaceae).

Lisa: com o limbo liso, sem acidentes. Exemplo: cana-índica (Canna sp. - Cannaceae).

Pilosa: com a superfície revestida de tricomas. Exemplo: violeta (Saintpaulia ionantha - Gesneriaceae).

Rugosa: quando se apresenta enrugada.

Quanto à coloração: as folhas geralmente são verdes de ambos os lados e quando não são, diz-se que as folhas são coloridas. Este colorido pode estender-se à bainha e ao pecíolo também. Quanto à cor apresentada, as folhas podem ser classificadas em:

Bicolor: quando a face ventral é de cor diferente da face dorsal. Exemplo: coração-roxo (Tradescantia spathacea - Commelinaceae).

Listada: apresenta riscas de tonalidades diferentes. Exemplo: sanderiana (Dracaena sanderiana - Liliaceae).

Maculada: se as manchas são concêntricas. Exemplo: coração-de-maria (Iresine herbstii - Amaranthaceae).

Variegada: quando há manchas irregulares amarelas e brancas sobre um fundo verde. Exemplo: comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia amoena - Araceae).

Quanto à consistência: a consistência da folha está diretamente correlacionada com a espessura do mesófilo e espessamentos da epiderme. A nervação, bem como, os tecidos de sustentação, também influencia na consistência das folhas. Assim, podemos classificá-las em:

Carnosa ou suculenta: folha grossa com reserva de água. Exemplo: Cactaceae em geral.

Page 15: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Coriácea: mesófilo e epiderme mais espessa, mas não muito grossos, flexível, lembrando a consistência de couro. Exemplo: espadinha (Sansiviera trifasciata - Liliaceae).

Membranácea: epiderme e mesófilo pouco espesso, a folha apresenta a consistência de uma membrana, sutil, delicada e flexível. Exemplo: laranjeira (Citrus sp, Rutaceae).

Rígida: é uma folha bem grossa, não flexível. Exemplo: clúsia (Clusia fluminensis - Clusiaceae).

Quanto à filotaxia: É o arranjo ou disposição das folhas no caule. Esta disposição é feita de maneira a evitar o sombreamento da folha situada imediatamente abaixo. Em geral, as folhas mais jovens encaixam-se nos espaços deixados pelas folhas mais velhas. Existem os seguintes tipos de filotaxia: Filotaxia alterna: sempre que as folhas se colocam em níveis diferentes no caule, ou seja, em cada nó caulinar se insere apenas uma folha (fig. 64). Exemplo: cana-de-macaco (Dichorisandra thyrsiflora - Commelinaceae).

Figura 64 – Alterna

Filotaxia oposta: duas folhas se inserem no caule ao mesmo nível, mas em oposição, isto é, pecíolo contra pecíolo, ou seja, duas folhas por nó (fig. 65). Exemplo: sete-léguas (Podranea ricasoliana - Bignoniaceae).

Figura 65 – Oposta

Filotaxia oposta cruzada ou decussada: é quando o par de folhas superior coloca-se em situação cruzada em relação ao inferior (fig. 6). Exemplo: quaresmeira (Tibouchina granulosa - Melastomataceae).

Figura 6 – Oposta cruzada

Filotaxia verticilada: três ou mais folhas dispõemse no mesmo nó (fig. 67).

Figura 67 – Verticilada

Além destes tipos mais comuns, podem ser considerados outros arranjos das folhas no caule:

Equitantes: são aquelas folhas que se apresentam dobradas ao longo da nervura mediana, e as mais velhas envolvem as mais jovens. Exemplo: lírio-roxodas-pedras (Neomarica caerulea - Iridaceae).

Espiralada: neste tipo de disposição as folhas se sucedem ao longo do caule como se estivessem

Page 16: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

inseridas sobre uma linha imaginária ascendente de percurso helicoidal. Exemplo: cana-branca (Costus spirali - Zingiberaceae).

Imbricadas: as folhas se dispõem separadamente ao longo do caule e se sobrepõem.

Rosuladas: quando as folhas se dispõem em roseta, inseridas em um caule muito curto, mais ou menos ao nível do solo, como naquelas plantas ditas “acaules” dando uma aparência de roseta basal. Exemplo: vaso-prateado (Aechmea fasciata - Bromeliaceae).

Heterofilia

Na heterofilia ocorrem folhas com mais de uma forma produzida em regiões distintas de uma mesma planta, em períodos diferentes do seu desenvolvimento. É o caso do feijão (Phaseolus vulgaris - Fabaceae), onde o primeiro par de folhas é simples e do segundo em diante, trifoliado. Outro exemplo conhecido ocorre em algumas espécies de eucalipto (Euclyptus globulus - Myrtaceae), onde as folhas juvenis são sésseis e de filotaxia cruzada e as folhas produzidas em ramos mais velhos são pecioladas e apresentam filotaxia alterna.

no mesmo ramo ou no mesmo nóUm tipo especial de heterofilia é a anisofilia, em que a planta produz regularmente folhas diferentes Morfoses foliares

Além da função mais comum das folhas de que é a fotossíntese indispensável à vida da planta e a respiração, o órgão pode exercer outras funções. Várias espécies podem apresentar folhas modificadas para a realização de funções especiais ou para assegurar a sobrevivência da planta em condições excepcionais. Para designar todos os tipos de folhas usa-se o termo filoma. Segundo esse conceito, o termo folha se restringiria aos órgãos fotossintetizantes. Os filomas podem ser bastante variados, dentre estas morfoses foliares destacamse:

Cotilédones

São as primeiras folhas formadas ainda no embrião no interior da semente. Em alguns casos, acumulam reservas ou funcionam como um órgão de transferência de reservas do albúmem para o embrião. No caso do feijão (Phaseolus vulgaris - Fabaceae), o cotilédone acumula reserva, e na mamona (Ricinus communis - Euphorbiaceae) não têm acumulo de reservas. Na família das Poaceae apresenta-se o escutelo que é o cotilédone modificado para a transferência de reservas para o embrião, como, por exemplo, o milho (Zea mays - Poaceae).

Escamas ou catáfilos

Algumas vezes as folhas são reduzidas a escamas mais resistentes, os catáfilos, que revestem as gemas em repouso. A principal função dos catáfilos é a proteção da gema durante o inverno. Passando a época desfavorável, as escamas caem e a gema rebrota. Em algumas espécies como, por exemplo, alho, cebola (Allium spp - Liliaceae), os catáfilos são órgãos de reserva, intumescidos, que formam no seu conjunto um bulbo esférico.

Brácteas ou hipsofilos

Page 17: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

As folhas podem ser transformadas em estruturas vistosas ou atrativas, que auxiliam na polinização (fig 68). Exemplo: primavera (Bougainvillea spectabilis - Nyctaginaceae).

Figura 68 – Brácteas ou hipsofilos

Gavinhas

São estruturas que têm a função de prender a planta em um suporte ou enrolando-se nele (tigmotropismo). Geralmente, as gavinhas originamse do alongamento da nervura principal da folha. No chuchu (Sechium sp - Curcubitaceae) a folha é completamente transformada em gavinhas, enquanto na ervilha (Pisum sativum, Fabaceae), apenas os dois folíolos terminais da folha composta são transformados em gavinhas (fig. 69).

Figura 69 - Gavinha

Espinhos

Os espinhos são estruturas lignificadas, endurecidas e pontiagudas, que apresentam tecido vascular, resultante da redução da superfície foliar, no sentido de proteger a planta contra transpiração excessiva. Em muitas Cactaceae, as folhas inteiras podem estar transformadas em espinhos para reduzir a transpiração (fig 70). Exemplo: figo-da-índia (Opuntia sp - Cactaceae).

Figura 70 – Espinhos

Folhas coletoras

São aquelas que ocorrem em plantas epífitas, as quais desenvolvem folhas especiais que servem como reservatório de substância húmica e detritos de onde as raízes absorvem água e sais minerais. Exemplo: chifre-de-veado (Platycerium alcicorn - Polypodiaceae).

Filódio

Quando a folha é muito reduzida, o pecíolo adquire a forma e a função do limbo, realizando até mesmo fotossíntese e, durante o desenvolvimento da plântula, pode se ver essa transformação. Exemplo: acácia (Acacia podaliriifolia - Fabaceae).

Pulvino

Em representantes da família Fabaceae podem ser observados intumescimentos nos eixos da folha e folíolo chamados respectivamente de pulvinos e pulvínulos; estas estruturas são responsáveis por movimento násticos. Exemplo: dormideira (Mimosa pudica - Fabaceae).

Folhas das plantas carnívoras

São folhas que mostram variação morfológica com formas especializadas para a captura dos insetos e outros organismos. As plantas carnívoras vivem geralmente em ambientes pobres em compostos orgânicos, principalmente, pobres em nitrogênio, e para suprir esta deficiência, essas plantas

Page 18: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

capturam e digerem pequenos insetos e outros organismos (fig. 71). Alguns exemplos de plantas carnívoras são: Drosera sp. e Dionaea muscipula (Droseraceae), Nepenthes sp. (Nepenthaceae) e Sarracenia sp. (Sarraceniaceae).

Figura 71 – Planta carnívora

Filogênese

Filogeneticamente as folhas parecem ter-se desenvolvido a partir de um ramo que secundariamente se achatou, sendo devido a isso, muitas vezes difícil distinguir a folha do caule. A íntima associação entre folha e caule é expressa pela interligação entre os tecidos vasculares do pecíolo e da nervura principal, com aqueles do caule.

A folha simples e de margem lisa é considerada mais primitiva que a folha composta e com reentrâncias. Entretanto, a ausência de fósseis não nos permite a comprovação do processo evolutivo. A principal razão para se considerar a folha simples e de margem lisa como a mais primitiva é o fato deste tipo de folha estar muito bem representado entre os membros lenhosos do grupo mais primitivo das angiospermas, as Magnoliidae.

A nervação peninérvea é provavelmente mais primitiva. Esse tipo de venação é o tipo mais comum nas folhas das Magnoliidae e mesmo fora desse grupo. A nervação reticulada é mais primitiva que a venação paralelinérvea. Isso advém também do fato de que a origem das folhas das monocotiledôneas é posterior á origem das folhas das dicotiledôneas. A nervação palmatinérvea poderia ter resultado no aumento de um, dois e três pares de veias laterais com supressão do intervalo entre eles.

O conceito de que as folhas primitivas das angiospermas eram alternas ao invés de opostas baseia-se no fato de que as alternas aparecem na maioria das plantas. Convém lembrar que durante a evolução, folhas alternas podem ter levado posteriormente as folhas opostas, como ocorre na família Asteraceae. No girassol (Helianthus annuus) pode ser vista essa transição, com folhas inferiores opostas e superiores alternas.

A origem das estípulas é obscura. Especulações levaram a interpretação de que seriam vestígios dos lobos basais ou folíolos de um ancestral lobado ou folíolo de uma folha composta. Atualmente são considerados órgãos sui generis, entretanto, a ausência de fósseis não permite a confirmação. Tudo indica que esta estrutura esteja regredindo, pois são comuns nas famílias mais primitivas (Magnoliidae).

O significado adaptativo das mudanças na estrutura da folha muita vezes não está claro e nem sempre pode ser correlacionado com o ambiente, pois folhas simples e compostas são encontradas em muitos ambientes, assim como venação peninérvea e paralelinérvea e disposição alterna e oposta. Convém lembrar, também, que não se pode analisar um órgão ou organismo baseando-se em apenas um caráter, mas deve ser levado em consideração o maior número possível de características.

Page 19: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

FLORES

Introdução

As angiospermas apresentam um conjunto de características reprodutivas reunidas em uma estrutura exclusiva, a flor.

A evolução da flor foi seguramente um dos principais fatores que determinaram o sucesso e a grande diversidade das Angiospermas. Portanto, o estudo da estrutura e evolução da flor é importante na filogenia e classificação deste grupo de plantas.

A típica flor das Angiospermas é monóclina, com pistilos e estames inseridos no mesmo receptáculo e protegidos por apêndices estéreis, tendo as sépalas a função de proteção e as pétalas de atração de polinizadores.

A partir da flor primitiva, as tendências evolutivas gerais se deram nos seguintes sentidos: redução do número de elementos, disposição espiralada dos elementos passando à disposição cíclica; tépalas indiferenciadas passando à diferenciação de cálice e corola; adnação e fusão dos elementos; mudança de simetria da flor de actinomorfa para zigomorfa; formação de um hipanto que gradualmente se funde ao ovário com modificação do ovário súpero para ovário ínfero e reunião das flores em inflorescências.

Partes da flor

A flor é um ramo de crescimento determinado, localizado na porção terminal do caule, de um ramo caulinar ou axilar. No decorrer do processo evolutivo, as folhas, nós e entrenós desse ramo, sofreram profundas modificações, transformando-se em peças florais. Tais peças em conjunto formam quatro verticilos, cada um inserido em um dos nós do ramo, agora reduzido a um receptáculo. Cada uma dessas folhas modificadas, de cada verticilo floral, é denominada antófilo. Em dois desses verticilos formam-se as células sexuais sendo, portanto, chamados de verticilos férteis, os outros dois são apenas de células estéreis e, portanto, chamadas de verticilos protetores ou verticilos estéreis.

Uma flor quando completa, consta de um pedicelo que é um eixo caulinar que nasce na axila de uma ou mais brácteas. A flor será pedunculada ou séssil, caso apresente ou não o pedicelo.

Na extremidade, geralmente mais alargada, denominada receptáculo floral estão inseridos os elementos florais. O receptáculo é um ramo modificado, constituído de nós e entrenós muito curtos, podendo apresentar-se de forma bastante variada, o que pode determinar uma alteração da morfologia externa da flor. Por exemplo, em flores de grupos considerados primitivos, que em geral apresentam um grande número de peças florais, o receptáculo floral é alongado e as peças florais se dispõem ao redor dele de modo espiralado. Assim, nestas plantas, embora o eixo floral também seja de crescimento determinado, aparentam ter um crescimento indeterminado e tais flores são

Page 20: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

chamadas de acíclicas (fig. 1). Exemplo: flor de magnólia (Magnolia grandiflora - Magnoliaceae).

Nas flores especializadas, mais evoluídas, ocorre redução do número de peças florais com um encurtamento do eixo floral, constituindo um receptáculo floral mais achatado. Nestas flores, as peças florais não se dispõem mais de maneira espiralada, apresentando um arranjo cíclico ou verticilado, onde as peças de cada verticilo se inserem na mesma altura, e formam vários círculos concêntricos. Tais flores são denominadas cíclicas (fig. 2).

Figura 1 – Flor acíclica

Figura 2 – Flor cíclica

Os apêndices florais mais externos são estéreis e constituem o perianto, sendo formado pelas sépalas e pétalas. As sépalas constituem o cálice. Internamente estão as pétalas, que constituem a corola. Os apêndices florais mais internos são férteis sendo formados pelos estames (o conjunto é denominado androceu) e pistilos (o conjunto é denominado gineceu).

A flor que apresenta os dois verticilos férteis (androceu e gineceu) é dita perfeita, sendo também denominada hermafrodita ou monóclina.

Já a flor imperfeita apresenta apenas um dos elementos de reprodução. É uma flor estaminada se apresenta apenas o androceu ou pistilada se apresenta apenas o gineceu. Tal flor é dita unissexuada (masculina ou feminina) e também díclina. Uma espécie monóica possui flores monóclinas ou díclinas situadas no mesmo indivíduo, em alturas diferentes ou em posições diferentes numa mesma inflorescência. Exemplo: chuchu (Sechium edule - Curcubitaceae). A espécie dióica possui flores díclinas situadas em indivíduos diferentes. Exemplo: mamãopapaia (Carica papaya - Caricaceae). Se a espécie possui flores hermafroditas e unissexuais no mesmo indivíduo (ou não) é denominada polígama.

A flor é denominada completa se possuir os quatro verticilos: cálice, corola, androceu e gineceu, e incompleta se faltar algum destes verticilos.

Perianto

Os verticilos estéreis ou acessórios são: o cálice e a corola, formados respectivamente pelas sépalas e pétalas.

As flores são caracterizadas pelo número de peças de cada verticilo, pois este número costuma ser constante. Nas flores de Monocotyledoneae prevalece o número de três ou seus múltiplos para sépalas, pétalas, estames e carpelos. Estas flores são chamadas trímeras (fig. 3). Nos demais grupos

Page 21: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

de Angiospermae o número varia de quatro ou tetrâmeras (fig. 4), cinco ou pentâmeras ou mais (fig. 5).

Figura 3 – Flor trímera

Numa flor, reconhecem-se um ou mais planos de simetria (flor simétrica) ou nenhum plano de simetria, sendo denominada assimétrica (fig. 6). Exemplo: biri

(Canna sp. - Cannaceae) e espécies da família Maranthaceae.

Figura 4 – Flor tetrâmera

Figura 5 – Flor pentâmera

Figura 6 – Flor assimétrica

Com relação ao plano de simetria a flor pode ser classificada em:

Actinomorfa ou radiada: ocorre quando mais de dois planos de simetria podem ser traçados ao longo do eixo central. Exemplo: quaresmeira (Tibouchina granulosa, Melastomataceae) e abacate (Persea americana - Lauraceae). É importante que se observe apenas a disposição das sépalas e pétalas, pois se a observação se estender ao androceu e ao gineceu, dificilmente falaríamos em flores simétricas (fig. 7).

Zigomorfa ou dorsiventral: a flor apresenta apenas um plano de simetria, onde as peças do perianto se dispõem irregularmente em relação ao eixo central, mas simetricamente em relação a um plano, assim tanto o cálice como a corola podem ser divididos em duas metades iguais. (fig. 8). Exemplo: orquídea (Dendrobium nobile - Orchidaceae) e ervilha (Pisum sp. - Fabaceae).

Figura 7 – Flor actinomorfa

Figura 8 – Flor zigomorfa

Page 22: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Quando se analisa o perianto das flores de

Angiospermas verifica-se que nem sempre cálice e corola estão presentes na flor. Deste modo as flores podem ser classificadas em:

Aclamídeas ou nuas: quando desprovidas de perianto, isto é, não apresentam cálice nem corola (fig. 9). Exemplo: pimenta-do-reino (Piper sp. - Piperaceae).

Figura 9 – Flor aclamídea

Monoclamídeas: quando apresentam apenas um dos verticilos estéreis, ou seja, somente cálice ou somente corola (fig.10). Exemplo: mamona (Ricinus communis - Euphorbiaceae).

Diclamídeas: quando apresentam os dois verticilos estéreis, sépalas e pétalas. Exemplo: ipê-de-jardim (Tecoma stans - Bignoniaceae), e quaresmeira (Tibouchina granulosa - Melastomataceae). Por sua vez as flores diclamídeas são classificadas em:

Heteroclamídeas ou periantadas: quando a flor possui sépalas e pétalas muito diferentes entre si, na textura, forma, tamanho e coloração, como ocorre na maioria das dicotiledôneas (fig. 1). Exemplos: hibisco (Hibiscus sp. - Malvaceae) e roseira (Rosa sp. - Rosaceae).

Figura 10 – Flor monoclamídea

Figura 1 – Flor heteroclamídea

Homoclamídeas ou perigoniadas: quando não há diferenciação entre cálice e corola, ou seja, sépalas e pétalas são semelhantes em textura, coloração, forma e tamanho. Neste caso, as pétalas e sépalas são denominadas individualmente tépalas. Exemplo: líriode-São-Jorge (Hemerocallis flava - Liliaceae).

Cálice

O cálice, constituído de sépalas, é o primeiro dos verticilos florais, ou seja, o mais externo. O cálice geralmente é verde e tem a função de proteção dos órgãos essenciais (estames e pistilos). As sépalas são folhas modificadas que apresentam epiderme, nervuras e estômatos. A margem pode apresentar dentes, lobos ou segmentos, fendidos ou partidos.

O cálice pode ser classificado quanto à fusão de suas peças em:

Cálice dialissépalo: quando as sépalas são livres entre si. Exemplos: alamanda-amarela (Allamanda cathartica - Apocynaceae) e flamboyãzinho (Caesalpinia pulcherrima - Fabaceae).

Cálice gamossépalo: quando as sépalas são unidas entre si. Exemplos: trombeta-de-anjos (Brugmansia suaveolens - Solanaceae) e tumbérgia-azul (Thumbergia grandiflora - Acanthaceae).

Corola

Internamente ao cálice encontra-se a corola, que é definida como o conjunto de pétalas. Ao

Page 23: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

contrário das sépalas, as pétalas têm geralmente textura mais delicada e apresentam diferentes cores. Quando não há diferenciação entre as pétalas e as sépalas, denominamos o conjunto de tépalas. Os diferentes formatos e cores da corola estão relacionados aos diferentes polinizadores das Angiospermas. Quando as pétalas se apresentam verdes, a corola é chamada sepalóide.

Como as sépalas, as pétalas são constituídas de epiderme, nervuras e parênquima. As pétalas apresentam o limbo (porção dilatada) e a unha (parte basal mais estreita). Quando falta a unha, a pétala é chamada de séssil. A corola pode ser classificada quanto a fusão em:

Corola dialipétala, polipétala ou arquiclamídea: quando as pétalas são livres desde a base (fig. 12). Exemplo: quaresmeira-rasteira (Schizocentron elegans - Melastomataceae).

Figura 12 – Corola dialipétala

(Parte 2 de 5)

Corola gamopétala, simpétala ou metaclamídea: quando as pétalas são soldadas umas às outras, pelo menos na base (fig. 13). Exemplo: dama-da-noite (Ipomoea alba, - Convolvulaceae).

Tipos de Corola

Há diversos tipos de formas da corola, ou de combinações de características de soldadura e de planos de simetria no arranjo das peças florais, podendo ser classificadas em:

1) Dialipétala a) Actinomorfa

Crucífera: constituída de quatro pétalas iguais, dispostas em cruz com unhas longas e limbo grande (Fig. 14). Exemplo: couve, mostarda, nabo, couve-flor e repolho (Brassicaceae).

Figura 13 – Corola gamopétala

Page 24: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 14 – Corola crucífera

Rosácea: cinco pétalas dispostas de forma circular, com unha reduzida sendo chamada subséssil (fig. 15), ou até sem unha (séssil). Exemplo: morango (Fragaria sp. - Rosaceae), goiaba (Psidium sp. - Myrtaceae), roseira (Rosa sp., Rosaceae) e pêssego (Prunus pérsica - Rosaceae).

Figura 15 – Corola rosácea

Cariofilácea ou Cravinosa: constituída de cinco pétalas de unhas longas e limbo lacinulado (fig. 16).

Exemplo: cravina (Dianthus chinensis - Caryophyllaceae).

Figura 16 – Corola cariofilácea b) Zigomorfa trímera

Orquidácea: com duas pétalas laterais chamadas asas e uma mediana inferior chamada de labelo (fig. 17). Exemplo: orquídea (Cattleya sp. - Orchidaceae).

Figura 17 – Corola orquidácea c) Zigomorfa pentâmera

Vexilar: corola com cinco pétalas. Uma pétala superior livre e maior chamada estandarte ou vexilo recobrindo duas laterais, iguais, chamadas asas. As duas inferiores, unidas pelas bordas e mais internas sendo envolvidas pelas asas, constituem a carena ou quilha. Exemplo: espécies da família Fabaceae (sub-família Papilionoideae).

Page 25: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Carenal: corola constituída de cinco pétalas, porém o estandarte ou vexilo está situado internamente e recoberto em parte pelas duas asas e estas pelas duas pétalas da carena ou quilha, que são separadas. Exemplo: espécies da família Fabaceae (sub-família Caesalpinoideae).

Anômala: é toda a corola dialipétala que não se enquadra nos tipos já descritos, e que apresenta irregularidades notáveis, tais como tipos e disposição das pétalas (fig. 18). Exemplo: violeta (Viola sp. - Violaceae).

Figura 18 – Corola anômala

2) Gamopétala a) Actinomorfa Tubulosa: apresenta um número variável de pétalas soldadas entre si, formando um tubo relativamente longo e mais ou menos cilíndrico (fig. 19a e 19b). Exemplo: flores do disco de girassol (Helianthus sp., - Asteraceae) e margarida (Chrysanthemum sp. - Asteraceae).

Figura 19a – Corte longitudinal do capítulo de girassol

Figura 19b – Flor do disco

Rotácea ou Rotada: corola com tubo curto e limbo plano, circular, semelhante a uma roda (fig. 20). Exemplo: tomate (Lycopersicum sp. - Solanaceae) e manacá (Brunfelsia sp. - Solanaceae).

Figura 20 – Corola rotácea

Infundibuliforme: corola com tubo alongado que se estreita abruptamente para baixo como um funil (fig. 21). Exemplo: enrola-semana (Ipomea cairica - Convolvulaceae) e batata-doce (Ipomea batatas

Page 26: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

- Convolvulaceae).

Campanulada: o conjunto se assemelha a uma campainha, cujo tubo se alarga rapidamente na base, mantendo depois um diâmetro constante (fig. 2). Exemplo: Campanula sp. - Campanulaceae.

Urceolada: tubo alarga-se rapidamente na base e estreitando-se para cima (forma de jarra ou urna), (fig. 23). Exemplo: érica (Erica tetralix - Ericaceae).

Hipocrateriforme: corola com tubo alongado, alargando-se rapidamente na parte superior, com o limbo plano ou em forma de taça (fig. 24). Exemplo: jasmin (Jasminum sp. - Oleaceae) e vinca (Cotharanthus roseus - Apocynaceae).

Figura 21 – Corola infundibuliforme

Figura 2 – Corola campanulada

Figura 23 – Corte longitudinal da flor com corola urceolada

Figura 24 – Corola hipocrateriforme b) Zigomorfa

Labiada: corola tubulosa com o limbo dividido em dois lábios, o inferior com três pétalas e o superior com duas pétalas (fig. 25). Exemplo: cardeal (Salvia sp. - Lamiaceae).

Figura 25 – Corola do tipo labiada

Personada: corola tubulosa e bilabiada, com o lábio inferior recurvado para cima, cobrindo a fauce (abertura do tubo da corola) tal como na (fig. 26). Exemplo: boca-de-leão (Antirrhinum majus - Scrophulariaceae).

Figura 26 – Corola personada

Ligulada: Tubo da corola bem curto, com o limbo das pétalas soldados entre si, formando uma

Page 27: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

lingüeta lançada para um dos lados. A distinção das pétalas, só se faz pelos dentes do ápice do limbo (fig. 27). Exemplo: flores periféricas do capítulo de Asteraceae, tais como dálias (Dahlia sp.), margaridas (Chrysanthemum sp.) e girassóis (Helianthus sp).

c) Anômalo Corola que não se enquadra em nenhum dos tipos mencionados (fig. 28). Exemplo: cana-da-Índia (Canna generalis - Cannaceae).

Figura 27 – Corola ligulada Figura 28 – Corola anômala

Prefloração

A flor jovem encontra-se no estágio de botão floral.

Nesta fase é possível analisar a prefloração do cálice e/ou corola. A prefloração é a disposição que as sépalas ou pétalas assumem no botão floral antes da antese (exposição dos órgãos sexuais da flor).

Durante a maturação, a flor passa do estágio de botão para a antese, que pode ser definida como o momento de abertura do botão floral. São vários os tipos de prefloração:

Valvar: é a prefloração caracterizada pelo simples contato das peças florais (sépalas ou pétalas), apenas se tocando pelos bordos. Exemplo: corola das espécies de Malvaceae.

Imbricada: quando existe uma peça totalmente interna e outra totalmente externa e as restantes se recobrem e são recobertas. Exemplo: as camélias apresentam o cálice com prefloração imbricada e as rosáceas têm a corola com este tipo de prefloração

Contorta: cada sépala recobre a seguinte e é recoberta pela anterior. Exemplo: jasmim-manga (Jasminum sp. - Oleaceae).

Quincuncial: são duas pétalas externas, duas internas e uma semi-interna, isto é, com um só lado recoberto. Exemplo: cálice das Malpighiaceae.

Verticilos Férteis

Os verticilos férteis são o androceu e o gineceu, que são a parte masculina e feminina da flor, respectivamente.

Androceu

É o verticilo floral fértil “masculino”, formado pelos estames (microsporófilos) que produzem os microsporângios (sacos polínicos), encarregados de produzir os micrósporos, que são produtos imediatos da meiose; estes por sua vez são transformados em grãos de pólen que contém os microgametófitos. (Parte 3 de 5)

Um estame típico consta de uma parte estéril chamada filete ou filamento e uma parte fértil, a antera

Page 28: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

unida por um tecido denominado conectivo (fig. 29).

Estaminódios são estames estéreis que apresentam diversas funções, tais como nectários, estruturas petalóides atrativas para polinizadores e alimento para insetos e aves.

A antera é a porção do estame que fica geralmente na região superior do filete e é na antera que se formam os grãos de pólen. Geralmente a antera é constituída por duas tecas (cada uma das quais apresentando dois sacos polínicos), unidas entre si por um tecido estéril, o conectivo que é um prolongamento do filete. Neste caso as anteras são chamadas bitecas. Há também anteras monotecas que possuem somente uma teca. Exemplo: brinco de princesa (Hibiscus rosasinensis - Malvaceae).

Figura 29 – Corte transversal da antera

Ao se levar em conta o número, arranjo, fusão dos estames e características da antera, o androceu pode ser classificado de diferentes maneiras.

De acordo com o número de estames em relação ao número de pétalas, as flores podem ser classificadas em:

Oligostêmones: se o número de estames for menor que o número de pétalas. Exemplo: ipê (Tecoma stans - Bignoniaceae).

Isostêmones: se o número de estames for igual ao de pétalas (fig. 30). Exemplo: café (Coffea arabica - Rubiaceae).

Diplostêmones: se o número de estames for o dobro do número de pétalas (fig. 31). Exemplo: quaresmeira (Tibouchina granulosa - Melastomataceae).

Polistêmones: se o número de estames for maior que o número de pétalas, exceto o dobro (fig. 32). Exemplo: goiaba (Psidium guyava - Myrtaceae).

Figura 30 Flor isostêmone

Figura 31 – Flor diplostêmone

Page 29: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 32 - Corte longitudinal de flor polistêmone

Segundo o tamanho dos estames, o androceu pode ser classificado em:

Isodínamo: apresenta todos os estames de tamanhos iguais (fig. 3). Exemplo: dama-da-noite (Ipomoea alba - Convolvulaceae).

Didínamo: apresenta 4 estames, sendo 2 maiores e 2 menores (fig. 34). Exemplo: ipê-de-jardim (Tecoma stans - Bignoniaceae).

Tetradínamo: apresenta 6 estames, sendo 4 maiores que os restantes (fig. 35). Exemplo: cesto-de-ouro (Aurinia saxatilis - Brassicaceae).

Heterodínamo: apresenta pelo menos um estame de tamanho diferente (fig. 36). Exemplo: flamboyant (Delonix regia - Fabaceae).

Figura 3 – Androceu isodínamo Figura 34 – Androceu didínamo

Figura 35 – Androceu tetradínamo

Page 30: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 36 – Androceu heterodínamo

Com relação à soldadura dos filetes, o androceu pode ser classificado em:

Dialistêmone: os filetes são livres entre si.

Gamostêmone: os filetes estão soldados entre si. Neste caso podem ser de várias formas:

Monadelfo: todos os estames permanecem unidos em um só grupo (fig. 37). Exemplo: hibisco (Hibiscus sp. - Malvaceae).

Diadelfo: um dos estames é livre e os demais soldados entre si (fig. 38). Exemplo: glicínia (Wisteria sinensis - Fabaceae)

Poliadelfo: os estames são soldados pelo filete em mais de três grupos. Exemplo: flor de laranjeira (Citrus sinensi - Rutaceae).

Figura 37 – Androceu monoadelfo

Figura 38 – Androceu diadelfo

As anteras são geralmente livres entre si, porém em algumas famílias, como Asteraceae, as anteras podem estar unidas. Tal fato é chamado sinanteria (fig. 39).

Figura 39 - Sinanteria

De acordo com a disposição dos estames em relação à corola, estes podem ser:

Livres: estames presos apenas ao receptáculo (fig. 40).

Epipétalos: estames adnatos (aderentes) às pétalas (fig. 41).

Inclusos: estames que não ultrapassam o nível da entrada da corola ou do cálice (fig. 42).

Exertos: estames que se sobressaem na garganta do cálice ou da corola (fig. 43).

Figura 40 – Estames livres Figura 41 – Estames epipétalos

Page 31: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 42 – Estames inclusos

Figura 43 – Estames exertos

De acordo com a união do filete à antera estas podem ser classificadas em:

Antera basifixa: o filete une-se à antera pela base (fig. 44a).

Antera dorsifixa: o filete une-se à antera pelo dorso (fig. 44b).

Antera apicefixa: o filete une-se à antera pelo ápice (fig. 44c).

Figura 4 a – Antera basifixa Figura 44b – Antera dorsifixa

Figura 44c – Antera apicefixa

Quanto à liberação do grão-de-pólen, a deiscência (abertura) da antera, pode ser classificada em:

Rimosa ou longitudinal: a abertura ocorre por uma fenda longitudinal em cada teca, sendo este tipo o mais freqüente (fig. 45). Exemplo: cipó-una (Arrabidaea brachypoda - Bignoniaceae).

Figura 45 – Deiscência longitudinal

Valvar ou opercular: a abertura ocorre por uma ou duas valvas em cada teca. É mais raro e ocorre na família Lauraceae (fig. 46). Exemplo: abacate (Persea americana - Lauraceae).

Page 32: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 46 – Deiscência valvar

Poricida: a abertura ocorre por poros localizados geralmente na porção apical da teca (fig. 47). Exemplo: quaresmeira (Tibouchina granulosa - Melastomataceae).

Figura 47 – Deiscência poricida

Transversal: ocorre por uma fenda transversal na teca (fig. 48). Exemplo: manta-de-dama (Alchemilla xanthoclor - Rosaceae).

Figura 48 – Deiscência transversal

Microsporogênese

Microsporogênese é a seqüência de eventos que ocorre desde a formação dos microsporócitos até a tétrade de micrósporos (fig. 49).

No início da microsporogênese, as células esporógenas do interior do saco polínico, podem dar origem diretamente às células-mãe do grão de pólen (microsporócito), sofrer algumas divisões, ou parte destas também pode degenerar.

Figura 49 – Esquema de microsporogênese

Cada microsporócito (2n) sofre uma divisão meiótica (R), originando uma tétrade de micrósporos (n). Cada micrósporo da tétrade apresenta a metade do número de cromossomos da espécie (número haplóide ou n) e dá origem a um grão de pólen.

Microgametogênese

Page 33: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

O micrósporo (n) sofre uma divisão mitótica da qual resultam duas células: uma célula menor, a geradora, e uma maior, a vegetativa (ou célula do tubo). Cerca de 70% das espécies liberam seus grãos de pólen nesse estágio, e cada um desses constitui um microgametófito binucleado. Neste caso, a segunda mitose ocorre após a polinização, no estigma da planta receptora do pólen, antes do desenvolvimento do tubo polínico.

Nos restantes 30%, a célula geradora sofre uma nova mitose, resultando na formação dos dois núcleos gaméticos masculinos. Nesse caso, o grão de pólen constitui o microgametófito maduro, trinucleado.

Estrutura do grão de pólen

O grão de pólen é o microgametófito ou gametófito masculino e apresenta formas bastante variadas. A mais comum é a arredondada ou ovóide, de cor amarela e algumas vezes avermelhada. Encontram-se normalmente livres nos sacos polínicos, sendo esses grãos denominados mônades. Em algumas famílias os grãos de pólen permanecem em tétrades que podem se unir em grupos maiores formando as políades.

Pode-se ter ainda a reunião de todos os grãos de pólen em um saco polínico, formando as polínias (fig. 50), muito comum em espécies de Orchidaceae (fig. 51) e Asclepiadaceae.

O grão de pólen maduro geralmente é tricelular.

Internamente é envolvido por uma fina camada de celulose, a intina e externamente por outra camada, a exina, que confere grande resistência ao grão de pólen. A ornamentação da exina pode ser bem variada, sendo os tipos mais comuns: psilada (lisa), espinhosa, estriada, e reticulada. As aberturas são áreas delimitadas no grão de pólen, geralmente de parede fina. Tais aberturas são pontos por onde emerge o tubo polínico, durante a germinação do grão de pólen. Podem ser circulares (poro), alongadas (colpo, sulco) ou em forma de anel (fig. 52).

O estudo do grão de pólen tem papel relevante na taxonomia (palinotaxonomia), sendo importante no controle da origem e qualidade do mel, em pesquisas de arqueologia e geologia e na medicina (alergias).

Page 34: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 50 – Polínias

Figura 51 – Orchidaceae

Figura 52 - Tipos de abertura do grão de pólen

Gineceu

O gineceu compreende todos os pistilos da florA parte “feminina” da flor denomina-se gineceu e é constituída por pistilos que são folhas profundamente modificadas, os carpelos (megasporófilos), que produzem os óvulos (megasporângios) que contêm os megásporos.

Os pistilos são tipicamente compostos de um estigma (que serve como coletor e facilitador da germinação do pólen carregado pelo vento, água, ou vários animais), do estilete (região especializada para o crescimento do tubo polínico) e o ovário (uma porção basal dilatada que circunda e protege os óvulos) (fig. 53).

Figura 53 - Esquema do Gineceu

O pistilo pode ser formado por um só carpelo e nesse caso falamos em pistilo simples (unicarpelar). Se o pistilo é formado por dois ou mais carpelos unidos o pistilo é composto (bicarpelar, tricarpelar ou pluricarpelar), ou seja, é indispensável que os carpelos sejam soldados para que constituam um único pistilo (fig. 54).

O gineceu formado por dois ou mais carpelos soldados é denominado sincárpico ou gamocarpelar e quando cada carpelo constitui um pistilo e numerosos pistilos constituem o gineceu fala-se em gineceu apocárpico ou dialicarpelar como por exemplo a rosa (Rosa grandiflor -, Rosaceae) (Fig. 5, 5a e 56).

Page 35: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 54 - Carpelo e pistilo

Figura 5 - Ovário tricarpelar e dialicarpelar Figura 55a - Ovário tricarpelar e gamocarpelar

Figura 56 - Esquema de soldadura do estigma

Com relação ao número de carpelos, o ovário pode ser classificado em:

Ovário unicarpelar: o ovário é simples e, conseqüentemente, formado por um único carpelo (fig. 57).

Ovário bicarpelar, tricarpelar ou pluricarpelar: o ovário é composto, sendo formado respectivamente por 2, 3 ou mais carpelos soldados (fig. 58 e 59).

A cavidade do ovário que contém os óvulos denomina-se lóculo. De um modo geral, o número de

Page 36: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

lóculos do ovário corresponde ao número de carpelos. Segundo o número de lóculos o ovário pode ser, uni, bi, tri ou plurilocular se possui respectivamente l, 2, 3 ou mais lóculos.

A inserção do estilete no ovário pode ser: Terminal: inserção na parte superior do ovário.

Lateral: inserção ocorre lateralmente ao ovário. Ginobásico: inserção na base do ovário.

O estigma também pode apresentar-se único ou ramificado, com várias formas.

Figura 57 - Ovário simples

Figura 58 - Ovário composto

Figura 59 - Ovário composto

Flores quanto à posição do ovário

As peças florais (sépalas, pétalas e estames) exibem uma variação na sua disposição e no seu arranjo no receptáculo, e em relação ao ovário. De acordo com esta disposição a flor é caracterizada como hipógina, perígina ou epígena.

A flor hipógina apresenta ovário súpero (livre) e o pistilo se localiza acima da inserção dos demais verticilos (perianto e androceu) (fig. 60). Mesmo quando os estames são epipétalos, isto é, estão adnatos (aderentes) às pétalas em posição superior ao ovário, a flor também é hipógina. No entanto, quando as sépalas, pétalas e estames apresentam-se adnatos, isto é, soldados até uma certa altura, formando uma estrutura semelhante a um copo, denominada hipanto, o ovário é súpero, mas a flor é perígina (fig. 61). Nas flores períginas, podemos perceber o ovário apenas abrindo o hipanto.

Obs: O hipanto é definido como uma estrutura em forma de urna ou taça que circunda o ovário.

Quando os demais verticilos situam-se acima do ovário, não sendo possível separá-los dos tecidos que o revestem, o ovário é ínfero e a flor é chamada de epígina (fig. 62).

Page 37: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 60 - Flor hipógina - Ovário súpero

Figura 61 - Flor perígina - ovário súpero

Mais uma observação pode ser feita com relação à posição dos órgãos essenciais da flor. Algumas flores apresentam um prolongamento do eixo floral elevando o gineceu, o androceu, ou ambos acima dos demais verticilos florais. Se apenas o gineceu é elevado, o prolongamento do eixo é denominado ginóforo. Exemplo: pata de vaca (Bauhinia variegata - Fabaceae).

Figura 62 - Flor epígina

Se o eixo prolongado eleva o androceu acima do nível de inserção dos demais elementos do perianto, é denominado andróforo. Quando o gineceu e o androceu são elevados por um mesmo eixo este é denominado androginóforo. Exemplo: flor do maracujá (Passiflora sp - Passifloraceae).

Óvulo

O óvulo é o megasporângio das Gimnospermas e

Angiospermas, onde são formados os megásporos ou macrósporos que originarão o megagametófito (saco embrionário). Depois da fecundação, o óvulo é transformado em semente.

O óvulo consta de um maciço celular, chamado nucelo, envolvido por dois tegumentos: primina, que é a membrana externa e secundina que é a membrana interna. Esses dois envoltórios não cercam completamente a nucela, deixando uma pequena abertura, a micrópila, por onde passará o tubo polínico (fig. 63). Nem todos os óvulos apresentam os dois tegumentos; óvulos com um só tegumento são comuns em Gimnospermas e Dicotiledôneas gamopétalas e óvulos com dois tegumentos, são próprios de Monocotiledôneas e Dicotiledôneas dialipétalas.

O óvulo prende-se à placenta por meio de um eixo, denominado funículo. O funículo, de dimensões variadas, apresenta um feixe vascular que se estende até a base da nucela, ou chalaza. No óvulo, o ponto de inserção do funículo chama-se hilo.

Page 38: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 63 - Esquema de um óvulo com seus envoltórios

Tipos de Óvulos

Considerando-se a curvatura do funículo e a torsão da nucela, os óvulos podem ser classificados em:

Ortótropo: é o óvulo reto que não apresenta nenhuma curvatura; assim o funículo, chalaza e micrópila (voltada para cima) estão em linha reta (fig. 64). Os óvulos ortótropos são raros em Angiospermas e freqüentes entre as Gimnospermas.

Anátropo: este é o tipo de óvulo mais comum entre as Angiospermas. Nele o funículo sofre uma grande curvatura, o óvulo sofre uma rotação de 180° e a micrópila se aproxima do funículo. No entanto, a curvatura não afeta a forma do saco embrionário (fig. 65).

Anfítropo: quando ocorre uma curvatura semelhante à anterior, mas em que há também curvatura do saco embrionário; a chalaza não está oposta à micrópila.

Campilótropo: tipo de óvulo que apresenta uma curvatura sem afetar o saco embrionário, neste caso a chalaza não fica oposto à micrópila, como acontece no óvulo anátropo (fig. 6).

Figura 64 - Óvulo ortótropo

Figura 65 - Óvulo anátropo

Figura 6 - Óvulo campilótropo

Placentação

A região do ovário à qual os óvulos estão presos, cada um pelo seu funículo, é denominada placenta. A disposição ou localização da placenta ou placentas no ovário é denominada placentação, e é variável nas diferentes flores.

Os principais tipos de placentação são:

Parietal: os óvulos estão presos à parede do ovário ou as suas expansões (fig. 67).

Axilar: os óvulos estão presos na parte central de um ovário composto na axila dos septos. Neste caso o ovário apresenta número de lóculos igual ao número de carpelos (fig. 68).

Central Livre ou Axial: os óvulos estão ligados ao longo (ou na porção distal) de um eixo central livre na porção superior do ovário, mas ligado à sua base (fig. 69). É exclusiva de ovários uniloculares.

Figura 67 - Placentação parietal

Figura 68 - Placentação axilar

Page 39: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

Figura 69 - Placentação central livre ou axial

Megasporogênese e megagametogênese

O óvulo forma-se na cavidade do ovário (lóculo) e inicialmente começa a crescer como uma protuberância, o nucelo. À medida que ocorre o desenvolvimento, começam a crescer os tegumentos (1 ou 2), que envolvem o nucelo, exceto na região da micrópila. Cada óvulo encontra-se ligado à placenta pelo funículo.

No interior do primórdio do óvulo, uma das quatro células torna-se mais evidente que as outras, maior em tamanho, citoplasma mais denso e núcleo mais conspícuo. Esta célula chamada de megasporócito (2n) geralmente é a célula-mãe dos megásporos (fig. 70).

Após uma meiose a célula-mãe do megásporo (2n) dará origem a 4 megásporos (n). Três desses megásporos geralmente degeneram. O megásporo funcional vai então se desenvolver e dar origem ao megagametófito, que será chamado de saco embrionário. Inicialmente o megásporo cresce e o seu núcleo se divide. Os núcleos filhos migram para os pólos do saco embrionário, agora binucleado. Cada um dos núcleos sofre ainda duas divisões sucessivas, resultando um saco embrionário com 8 núcleos. De cada pólo um núcleo migra para o centro do saco embrionário; são os núcleos polares. A seguir formam- se paredes celulares. No centro forma-se uma célula binucleada (com 2 núcleos polares); esta é a célulamãe do endosperma

Na extremidade micropilar tem-se duas sinérgides mais a oosfera. Na extremidade oposta formam-se três células denominadas antípodas.

Neste estágio, o óvulo está pronto para ser fecundado (fig. 71). Em resumo, a célula-mãe do

Page 40: sISTEMÁTICA VEGETAL.odt

megásporo (2n) dá origem aos megásporos (n), um dos quais vai crescer e formar o saco embrionário (n), com todos os núcleos (n) que posteriormente vão receber suas porções de citoplasma, formando as sete células, uma das quais binucleada (n+n).

Obs: Além deste, existem vários outros tipos de saco embrionário.

Figura 70 - Megasporogênese e Megagametogênese