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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÂO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
SINDROME DE DOWN E PSICOMOTRICIDADE
AUTORA: AMANDA REGINA GONÇALVES BAGNO ORIENTADOR: VILSON SÉRGIO DE CARVALHO
31 DE JULHO DE 2007
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÂO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
SINDROME DE DOWN E PSICOMOTRICIDADE
Objetivo (s): Trabalho apresentado em cumprimento às exigências do Curso de Pós-Graduação em Psicomotricidade.
AGRADECIMENTOS:
Agradeço à Deus pela força, dedicação e persistência durante um ano de muito trabalho e por conquistar mais este sonho. Aos pais Lúcia e Heliton, pela forma carinhosa como me educaram. Cada um, a seu modo, me fazendo feliz. À Iara Regina, Kassia Regina e Marcello pela horas dedicadas. Desculpem se abusei. Ao meu afilhado (anjinho) Brian José, que na pureza de seus quatro aninhos foi um companheiro e tanto na realização desta monografia. Ao diretor Fernando Arduini pela atenção, compreensão e ajuda. Graças ao senhor, pela gentileza consegui concluir mais um sonho. À Érica (secretária) com seu jeitinho engraçado e muito simpática, me identifiquei logo no primeiro contato. Muito obrigada pelas palavras de apoio, ajuda e estímulo. Ganhei uma amizade valiosa. Desculpe se tomei muito seu tempo com várias, várias dúvidas. As professoras Fátima Alves e Dina Lúcia pelo ombro amigo, atenção, carinho, pelo jeito de explicar e passar os conteúdos. Ah! As dinâmicas e as músicas não vou esquecer. Ambas ficarão guardadas no meu coração. São pessoas que fizeram diferença. Ao professor Vilson com sua calma e sabedoria me orientou com muita paciência. Aos meus colegas Vanessa Schaffel, Rodrigo Toscano, Marcos, Rosangela, Viviane, Ana Paula (Cachambi) e Heloísa Helena. Muito obrigado por tudo. À Elisangela Quintanilha, pela nova amizade e pelo carinho que não poderia deixar de agradecer. Obrigado pela oportunidade e por acreditar em mim.
DEDICATÓRIA:
“Quem nada conhece, nada ama. Quem nada pode fazer, nada compreende. Quem nada compreende, nada vale. Mas, quem compreende, também ama, observa, vê... Quanto mais conhecimento houver inerente numa coisa, tanto maior o amor... Aquele que imagina que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo como as cerejas, nada sabe a respeito das uvas...”
Dedico esse trabalho aos colegas da área de Educação, em especial aos que trabalham com portadores da Síndrome de Down.
RESUMO
O objetivo deste estudo foi procurar investigar a importância do desenvolvimento corporal para crianças portadoras da Síndrome de Down em idade na educação infantil e ensino fundamental, Objetivando o esclarecimento desta anomalia, assim como, os elementos básicos da Psicomotricidade. Com o passar do tempo, a concepção de que o portador de deficiência não pode usufruir o convívio com os ditos normais, foi ficando distante e hoje, o simples ato de um ser humano nascer com vida, significa assegurar-lhe o direito ao início da sua personalidade, pondo ainda a lei a salvo para melhorar ao máximo possível a vida da criança portadora da Síndrome de Down. A escolha deste tema me possibilitou desmistificar muitos pontos obscuros, Para finalizar o trabalho foi necessário enfatizar o papel da família que é de suma importância para seu desenvolvimento dando-lhe estímulos e amor são fatores primordiais para seu crescimento.
METODOLOGIA
A metodologia científica que embasa o presente estudo é de ordem bibliográfica em
função de uma pesquisa exploratória sobre o tema. Nesta podemos destacar autores como: Cláudia Werneck, Fátima Alves, Karla Queiroz e Beatriz Helena Lefèvre.
SUMÁRIO
INTRODUÇÂO.................................................................................................................................... 08
CAPÍTULO I – A SÍNDROME DE DOWN ...................................................................................... 10 1.1. Nasce um bebê portador da síndrome de Down ........................................................................... 10 1.2. Características físicas da criança Down ....................................................................................... 11 1.3. A etiologia da síndrome de Down ............................................................................................... 13 1.4. O desenvolvimento da criança Down ......................................................................................... 15 1.5. O desenvolvimento do sistema nervoso da criança Down ......................................................... 16 1.6. Deficiência mental e síndrome de Down ................................................................................... 17 CAPÍTULO II – AS POSSÍVEIS DOENÇAS DO PORTADOR DA SÌNDROME DE DOWN...... 19
CAPÍTULO III – O PAPEL DA PSICOMOTRICIDADE JUNTO AO PORTADOR DA SÍNDROME DE DOWN ....................................................................................................................
22
3.1. A estimulação das funções motoras.............................................................................................. 23 3.2. Estimulação sensorial.................................................................................................................... 24 3.3. Estimulação auditiva..................................................................................................................... 25 3.4. Estimulação da fala....................................................................................................................... 25 3.5. Estimulação da criança em idade escolar..................................................................................... 26 3.6. Estimulação da atenção................................................................................................................ 27 Conclusão ........................................................................................................................................... 29 Bibliografia......................................................................................................................................... 30 Anexo I................................................................................................................................................. 31 Anexo II .............................................................................................................................................. 32
INTRODUÇÃO:
Os trabalhos sobre síndrome de Down surgiram há muitos anos, por volta do século
XIX, e a cada dia novos estudos surgem com propostas inovadoras sobre o assunto. No
entanto, através de pesquisas realizadas sobre a evolução dos estudos sobre a síndrome,
encontramos um fato muito interessante que é a imagem que a sociedade por muitos anos
postulou aos sindrómicos:
Infelizmente, atualmente, ainda, encontramos algumas confusões sobre o conceito de
Down, que é confundido com deficiente mentais:
“A síndrome de down é decorrente de um erro genético presente desde o momento da
concepção ou imediatamente após (...)” (SCHWARTZMAN, 1999, p. 3).
No entanto, como descreve Schwartzman (1999), sabemos atualmente que a síndrome
se trata de uma alteração genética e que os portadores da síndrome, embora apresentem
algumas dificuldades podem ter uma vida normal e realizar atividades diárias da mesma
forma que qualquer outra pessoa. Não negamos a afirmação de que o Down apresenta
algumas limitações e até mesmo precise de condições especiais para aprendizagem, mais
enfatizamos, que estes através de estimulação adequadas podem se desenvolver.
As dificuldades de aprendizagem, os distúrbios de conduta, a problemática de sua
interação completam, mas não esgotam o quadro da educação do aluno com síndrome de
Down. (MILLIS apud SCHWARTZMAN, 1999).
O interesse por este assunto surgiu a partir da descoberta das inúmeras possibilidades e
habilidades dessa criança especial e tem a intenção de discutir a importância do
desenvolvimento corporal em crianças portadoras da síndrome de na Educação Infantil/
Ensino Fundamental, além de mostrar como a psicomotricidade vem trazendo melhorias na
qualidade de vida dessas crianças.
“Na cultura grega, especialmente na espartana, os indivíduos com deficiências não eram tolerados. A filosofia grega justificava tais atos cometidos contra os deficientes postulados que estas criaturas não eram humanas, mas um tipo de monstro pertencente a outras espécies. (...) Na Idade Média, os portadores de deficiências foram considerados como produto da união entre uma mulher e o Demônio”. (SCHWARTZMAN, 1999, P. 3-7).
“Um dos grandes objetivos da educação infantil é fazer com que a criança seja mais autônoma na sala de aula. Adquirir autonomia é interiorizar regras da vida social para que se possa conduzir sem incomodar o restante do grupo. E essa adequação social é condição sine qua non para que seja integrada”. (MILLIS apud SCHWARTZMAN, 1999, p. 23)
E a partir de leituras e pesquisas propôs neste trabalho, a apresentação ao leitor um
conhecimento mais profundo sobre as crianças Down e suas habilidades e limitações.
Este conhecimento é de extrema importância para familiares e professores que poderão
estimular adequadamente a criança lhe proporcionando um grande desenvolvimento.
A entrada na educação infantil é um importante acontecimento na vida da criança.
Nessa fase, irá conviver e interagir no mundo fora de sua casa. Neste período, que exige da
criança um grande esforço de adaptação, é fundamental que ela conte com a compreensão e
ajuda dos adultos, principalmente dos professores.
As atividades oferecidas as crianças na escola contribuem para que ela vivencie
experiências de sucesso ou fracasso. A criança estimulada para a aprendizagem se empenhará
com mais vigor e interesses nas tarefas propostas, alcançando melhores resultados. Assim, a
partir das experiências bem sucedidas que a criança vai realizando no decorrer de sua vida
escolar, vai fortalecendo sua imagem e aumentando a crença em suas próprias capacidades.
O planejamento na educação infantil é, portanto, estrutural. Seus objetivos referem-se
às estruturas de pensamento que se quer que a criança construa: relações de linguagem,
lógicas, espaço temporais, psicomotoras e sócio-afetivas.
A partir desses objetivos, percebe-se que a educação infantil tem importância
fundamental no decorrer da vida do indivíduo. É uma contribuição que se torna marcante,
dependendo da relação que a criança tem com pessoas significativas neste meio, mais
particularmente os professores. Considerando os dados acima, acredita-se ser importante
aprofundar esta questão, verificando se os objetivos propostos a está educação podem estar
influenciando os educadores melhorando assim o rendimento de seus alunos.
Portanto, um estado que se propõe a investigar empiricamente à prática docente ao que
se refere aos objetivos da educação infantil, que atenda as necessidades da criança pode ser
considerado relevante e atual.
CAPÍTULO I
A SÍNDORME DE DOWN
A síndrome de Down é decorrente de uma alteração genética ocorrida durante ou
imediatamente após a concepção. A alteração genética se caracteriza pela presença a mais do
autossomo 21, ou seja, ao invés do indivíduo apresentar dois cromossomos 21, possui três. A
esta alteração denominamos trissomia simples.
No entanto podemos encontrar outras alterações genéticas, que causam síndrome de
Down. Estas são decorrentes de translocação, pela qual o autossomo 21, a mais, está fundindo
a outro autossomo. O erro genético também pode ocorrer pela proporção variável de células
trissômicas presente ao lado de células citogeneticamente normais. Estes dois tipos de
alterações genéticas são menos freqüentes, que a trissomia simples.
Estas alterações genéticas decorrem de “defeito” em um dos gametas, que formarão o
individuo. Os gametas deveriam conter um cromossomo apenas e assim a união do gameta
materno com o gameta paterno geraria um gameta filho como dois cromossomos, como toda a
espécie humana. Porém, durante a formação do gameta pode haver alterações e através da
não-disjunção cromossômica, que se realiza durante o processo de reprodução, podem ser
formados gametas com cromossomos duplos, que ao se unirem a outro cromossomo pela
fecundação, resultam em uma alteração cromossômica.
Estas alterações genéticas alteraram todo o desenvolvimento e maturação do
organismo e inclusive alteraram a cognição do indivíduo portador da síndrome. Além de
conferirem lhe outras características relacionadas a síndromes.
De forma geral algumas características do Down são: o portador desta síndrome é um
indivíduo calmo, afetivo, bem humorado e com prejuízos intelectuais, porém podem
apresentar grandes variações no que se refere ao comportamento destes pacientes. A
personalidade varia de indivíduo para indivíduo e estes podem apresentar distúrbios do
comportamento, desordens de conduta e ainda seu comportamento podem variar quanto ao
potencial genético e características culturais, que serão determinantes no comportamento.
1.1. Nasce um bebê portador da síndrome de Down.
Ao nascer um bebê Down, a síndrome de que é portador é facilmente reconhecida pelas
características marcantes já mencionadas. Por isto, desde os primeiros instantes de vida, esta
criança coloca seus pais diante de um problema que não pode ser resolvido e que precisará ser
aceito, o que provoca diferentes reações, como estado de ansiedade aguda, profunda tristeza,
confusão mental ou enorme revolta contra o mundo. Estes sentimentos quase sempre vêm
acompanhados de uma certa rejeição, o que completa a descrição de um quadro de muito
sofrimento e insegurança.
O momento de transmitir aos pais a notícia de que tiveram um bebê portador da
síndrome de Down é, por tudo o que já foi exposto, muito especial. Muitas queixas têm sido
feitas pelos pais destes babes a respeito dessa comunicação. Freqüentemente, nessa ocasião,
voltam-se agressivamente contra os portadores da notícia.
O senhor Francisco de Assis O. da Cruz e sua esposa, Regina Celi de Souza Fernandes
da Cruz, são pais de Tiago Fernandes Oliveira da Cruz, que atualmente tem oito anos e é uma
criança portadora de síndrome de Down. O casal foi vítima desta má forma de comunicação
compreende que não se trata de uma tarefa fácil, já que mexe com emoções intensas. Eles
conhecem esta dor bem de perto, no fundo da alma: o amor por um filho. O senhor Francisco
conseguiu transformar sua dor e revolta em um bem para a comunidade ao idealizar e fundar
o Projeto Rio Down, que tem como finalidade “dar boas-vindas” a bebês Down. O projeto
tem sempre alguém disponível para conversar e visitar os familiares dos bebês recém-
nascidos ou recém diagnosticados. Seus integrantes acreditam poder trazer a notícia até estes
casais com mais amor, maior fraqueza e algumas perspectivas de futuro, tão importantes e
necessárias no momento da notícia.
Parafraseando Lefèvre (1981), devemos estar atentos à ternura que esta criança pode
fazer nascer à sua volta. Este bebê vai sorrir para a mamãe, estender seus bracinhos quando
ela o convidar para o seu colo, vai se agarrar a ela quando pedir proteção. Vai abraçar com
carinho a mamãe, o amiguinho ou a boneca. Esse bebê vai se desenvolver lentamente, sendo
muito mais dependente que os outros em seu desenvolvimento, mas passará pelos mesmos
caminhos, semelhantes aos das outras crianças.
1.2. Características físicas da criança Down.
As características físicas da criança com síndrome de Down são importantes para o
médico por razões diagnósticas. Entretanto, deve-se frisar que as crianças com síndrome de
Down são mais semelhantes do que diferentes de qualquer criança da comunidade.
A cabeça da criança com síndrome de Down é um pouco menor quando comparada
com as crianças normais. A parte posterior da cabeça é levemente achatada (braquicefalia) na
maioria das crianças, o que dá uma aparência arredondada à cabeça. As moleiras (fontanela)
são, muitas vezes, maiores e demoram mais para se fechar. Na linha média onde os ossos do
crânio se encontra (linha de sutura), há muitas vezes uma moleira adicional (fontanela falsa).
Em algumas crianças, pode haver áreas com falhas de cabelo (alopecia parcial), ou em casos
raros, todo o cabelo pode ter caído (alopecia total).
O rosto de uma criança pequena com síndrome de Down apresenta um contorno
achatado, devido, principalmente, aos ossos faciais pouco desenvolvidos e ao nariz pequeno.
Geralmente, osso nasal é afundado. Em muitas crianças, as passagens nasais são estreitas.
Os olhos são, geralmente normais, quanto ao formato das pálpebras são estreitas e
levemente oblíquas. A dobra de pele (dobra palpebral) pode ser vista em muitos bebês nos
cantos internos dos olhos.
As orelhas são pequenas, às vezes, e a borda superior da orelha é muitas vezes
dobrada. A estrutura da orelha é ocasionalmente alterada. Os canais dos ouvidos são estreitos.
A boca da criança com síndrome de Down é pequena. Algumas crianças mantêm a
boca aberta e a língua pode projetar-se um pouco. À medida que a criança com síndrome de
Down, fica mais velha, a língua pode ficar com estrias. No inverno, os lábios tornam-se
rachados. O céu da boca (palato) é mais estreito do que na criança “normal”. A erupção dos
dentes de leite é geralmente atrasada. Às vezes um ou mais dentes estão ausentes e alguns
dentes podem ter um formato um pouco diferente. As mandíbulas são pequenas, o que leva,
muitas vezes, ao apinhamento dos dentes permanentes. A cárie dentária é observada com
menor freqüência na maioria das crianças com síndrome de Down do que em crianças
“normais”.
O pescoso da pessoa com síndrome de Down pode ter uma aparência larga e grossa.
No bebê, dobras soltas de pela são observadas, muitas vezes, em ambos os lados da parte
posterior do pescoço, os quais se tornam menos evidentes, podendo desaparecer, à medida
que a criança cresce.
Em alguns casos, o tórax tem um formato estranho, sendo que a criança pode
apresentar um osso peitoral afundado (tórax afunilado) ou o osso peitoral pode estar projetado
(peito de pombo). Na criança cujo coração é aumentado devido à doença cardíaca congênita,
o peito pode parecer mais globoso do lado do coração.
Os pulmões da criança com síndrome de Down em geral, não são normais. Somente
alguns poucos bebês têm pulmões subdesenvolvidos. Algumas crianças, em particular aquelas
com doença cardíaca congênita, podem apresentar pressão sangüínea aumentada nos vasos
dos pulmões, levando, às vezes, à pneumonia. Com tratamento médico adequado, estas
infecções podem ser controladas.
O abdomem de crianças com síndrome de Down geralmente não demonstra
anormalidades. Os músculos abdominais dos bebês são por vezes fracos e o abdome pode ser
um pouco protuberante.
Os órgãos genitais de meninos e meninas não são afetados na maioria das crianças
Down. Às vezes podem ser pequenos. Em alguns casos, os testículos não se encontram no
saco escrotal durante os primeiros anos de vida, mas podem estar na região da virilha ou
dentro do abdome.
As extremidades geralmente têm formato normal. As mãos e os pés tendem a ser
pequenos e grossos, e o quinto dedo é muitas vezes levemente curvado para dentro.
Os dedos dos pés da criança com síndrome de Down são geralmente curtos. Na
maioria das crianças, há um espaço grande entre o dedão e o segundo dedo, com uma dobra
entre eles na sola do pé.
A pele é geralmente clara e pode ter uma aparência manchada durante a primeira
infância. Durante as estações mais frias, a pele fica ressecada e as mãos e o rosto podem ficar
rachados mais facilmente do que nas outras crianças. Nas crianças mais velhas e nos adultos
com síndrome de Down, a pele pode ser áspera.
É preciso frisar que nem toda criança com síndrome de Down exibe todas as
características anteriormente citadas. Além disso algumas características são mais acentuadas
em algumas crianças do que em outras. Assim, embora as crianças com síndrome de Down
possam ser reconhecidas por sua aparência física semelhante, nem todas essas crianças
parecem iguais. Além do mais, algumas das características da criança com síndrome de Down
modificam-se no decorrer do tempo.
A maioria dos fatores físicos mencionados não interferem no desenvolvimento e na
saúde da criança com síndrome de Down. Apenas alguns defeitos como os cardíacos
congênitos severos ou bloqueio dos intestinos, são sérios e requerem pronta atenção médica.
Outros problemas congênitos raros também ocorrem em crianças com síndrome de Down. é
de fundamental importância que o médico não enfatize demais as características físicas da
criança, e sim apresente o bebê com síndrome de Down como um ser humano que necessita
de cuidados e carinho.
1.3.A etiologia da síndrome de Down
Não exatamente esclarecida a causa da síndrome, no entanto, alguns fatores são
considerados de riscos devido a grande incidência em que gestações na presença destes vem
apresentando alterações genéticas. Os fatores de riscos podem ser classificados como
endógenos e exógenos.
Um dos principais fatores de risco endógenos é a idade da mãe, que em idade
avançada apresentam índices bem mais altos de riscos, devido o fato de seus óvulos
envelheceram se tornando mais propensos a alterações.
Existem três tipos de cariótipo em pessoas com síndrome de Down. A sintomatologia
é a mesma, embora suas causas sejam diferentes. São essas as origens da síndrome: trissomia
simples, trissomia por translocação e mosaicismo.
1) trissomia simples (também chamada de livre ou por não disjunção). No cariótipo
vê-se claramente a trissomia: os dois cromossomos (da mãe e do pai) formando o par 21 e o
terceiro, extra, causador da síndrome. O detalhe é que os três ficam bem identificados e
separados entre si, ao contrário do que se observa na trissomia por translocação. A trissomia
livre é responsável por cerca de 96 por cento dos registros da síndrome.
Neste caso, os pais tem cariótipo normal – com 46 cromossomos em todas as células –
e a trissomia ocorre por acidente, cujas causas são até hoje discutíveis. A ciência não
conseguiu provar, ainda, que fatores podem interferir na multiplicação celular do embrião, de
modo a transformar um bebê que seria cromossomicamente perfeito num portador de
síndrome de Down. Quando a ciência usa o termo acidente, não descarta, em hipótese alguma,
que existia uma razão biológica responsável por esse erro de divisão celular.
Relação entre síndrome de Down e idade materna em nascidos vivos (por trissomia
simples)
idade da mãe (anos) incidência 15-19 20:24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49
1:2.400 1:1.500 1:1.200 1:900 1:300 1:100 1:40
(segundo Swaiman – 1989)
2) trissomia por translocação – Corresponde a dois por cento da população de crianças
com síndrome de Down. Neste caso, a técnica de bandeamento do cariótipo revela que o
cromossomo adicional está montado sobre um cromossomo de outro par – G ou D (daí não
ser uma trissomia livre). A translocação ocorre quando um cromossomo do par 21 e o outro,
ao qual depois fica agregado, sofrem uma quebra na sua região central. Os dois braços curtos
se perdem e os dois mais longos se unem. Clinicamente, a criança com trissomia por
translocação não tem diferença daquela que tem trissomia livre.
Quando fica comprovado que a origem da síndrome de Down é por translocação,
torna-se necessário fazer também o cariograma nos pais. A translocação pode ter acontecido
durante a formação das células reprodutores que deram origem ao embrião e, nesse caso, é
também vista como um acidente genético. Mas existe um tipo de translocação que é herdada.
A mãe ou o pai daquele bebê, portanto, tem um dos cromossomos 21 sobreposto e, portanto,
ao contarmos o número dos cromossomos, terá somente 45, pois o de número 21 não está
pareado. Metade dos casos de translocação são herdados de um dos pais, a outra metade
ocorre durante a formação da criança.
3) mosaicismo – Em cerca de dois por cento das pessoas com síndrome de Down
ocorre o fenômeno do mosaicismo. São indivíduos que, ao contrário dos demais casos em que
todas as células são trissômicas, possuem células normais (com 46 cromossomos) e células
trissômicas (com 47 cromossomos). O mosaicismo consiste na derivação de um caso que seria
de trissomia simples ou de translocação.
1.4.O desenvolvimento da criança Down
Ao observar com atenção esta criança, veremos que seu desenvolvimento é bem mais
lento que o bebê normal; porém, apesar de mais dependente, este bebê estará, também,
trilhando no seu dia-a-dia, ainda que bem mais devagar que uma criança com
desenvolvimento normal, as diversas fases e etapas do seu desenvolvimento.
Devido ao amadurecimento constante do seu Sistema Nervoso Central (Lefévre A., 1981,
p. 17), esta criança se desenvolverá diariamente e, mesmo que este caminhar seja bem mais
vagaroso, evoluirá patentemente em inteligência e habilidades até a idade adulta. Apesar de o
desenvolvimento lento ser comum em todas as crianças Down, existem diferenças marcantes
entre elas: cada uma terá suas graças, seu jeito de ser, de brincar, de se comunicar e também o
seu tempo de aprendizado, ficando a nosso encargo perceber a hora e a forma mais carinhosa
de nos aproximarmos dela.
Quando a criança Down se torna mais independente, conseguindo se comunicar, andar
bem e se integrar em um grupo, está pronta para freqüentar uma escola. Em alguns casos isto
pode acontecer entre três e quatro anos, em outros um pouco depois. Os pais devem estar
seguros de que uma classe, mesmo com criança mais novas do que ela, só lhe fará bem. A
partir dessa mudança, o seu desempenho lingüístico e a sua independência nas atividades da
vida diária terão grandes progressos. Notamos um benefício significativo para as que puderem
participar de uma classe totalmente normal no inicio do seu aprendizado, especialmente nas
classes maternais. A realidade mostrou que, apesar de lento, o progresso das crianças foi
evidente.
1.5. O desenvolvimento do sistema nervoso da criança Down
O sistema nervoso da criança com síndrome de Down apresenta anormalidade
estruturais e funcionais que resultam em disfunções neurológicas variando quando à
manifestação e intensidade.
(...) nas crianças mais velhas foram observadas anormalidades nos neurônios
piramidais pequenos, especialmente nas camadas superiores do córtex. (SCHWARTZMAN,
1999, p.54)
O processo de desenvolvimento e maturação do sistema nervoso é um processo
complexo, no entanto, a criança com síndrome de Down ainda esta no estágio fetal, já
apresenta alterações no desenvolvimento do sistema nervoso central.
Segundo SCHIMIDT, citado por SCHWARTZMAN (1999), em seus estudos com
fetos normais e fetos com síndromes de Down, não observou alterações significativas no
desenvolvimento e crescimento do sistema nervoso.
Outros estudiosos com WISNIEWSKI (1990), concluem que até os cinco anos o
cérebro das crianças com síndrome de Down, encontra-se anatomicamente similar ao de
crianças normais, apresentando apenas alterações de peso, que nestas crianças encontra-se a
faixa de normalidade, que ocorre devido uma desaceleração do crescimento encefálico
iniciado por volta dos três meses de idade.
Esta desaceleração encontra-se de forma mais acentuada em meninas, onde
observamos também, freqüentes alterações cardíacas e gastrintestinas.
WISNIEWSKI, citado por SCHWARTZMAN, (1999, p.47), relata que há algumas
evidencias de que durante o último trimestre de gestação existe uma lentificação no processo
da neurogênese.
Apesar da afirmação descrita por WISNIEWSKI, as alterações de crescimentos e
estruturação das redes neurais após nascimento são mais evidentes e estas se acentuam com o
passar do tempo.
“Aprendizagem e desenvolvimento não entram em contato pela primeira vez na idade escolar (...), mas estão ligados entre si desde os primeiros dias de vida da criança”. (Vygotsk, 1988, p. 110).
Segundo SCHWARTZMAN, (1999, p.51). As medidas de inteligência geral e as
habilidades lingüísticas normalmente encontram-se alterados e então não possuem padrão
definido, além de não se relacionarem com o volume encefálico podendo apresentar em
diversos níveis intelectuais.
Também observamos nos sistema nervoso do paciente Down, alterações de hipocampo
e a partir do quinto mês de vida quando se inicia o processo de desaceleração do crescimento
e desenvolvimento do sistema nervoso ocorre uma diminuição da população neuronal.
ROSS e colaboradores (1984) puderam observar “uma perda de neurônios granulares
no córtex cerebral” e WISNIEWSKI (1990) confirma a proposta de Ross e também relata
“uma diminuição no número de neurônios granulares nas camadas II e IV do córtex (...)”.
O desenvolvimento braquicefálico também é marcante no paciente com síndrome de
Down e ainda podemos observar uma hipoplasia do lobo temporal. No paciente recém-
nascido, muitas alterações não são evidenciadas , porém com o passar dos anos se evidenciam
tornando visíveis às reduções dos hemisférios cerebrais e hemisférios cerebelares, da ponte,
corpos mamilares e formações hipocampais.
Desta forma conclui-se, que as inúmeras alterações estruturais e funcionais do sistema
nervoso da criança com síndrome de Down, determinam algumas de suas características mais
marcantes como distúrbios de aprendizagem e desenvolvimento.
1.6. Deficiência mental e síndrome de Down
Segundo descreve Ferreira, na obra Miniaurélio, o termo deficiência significa falta,
carência ou insuficiência. Assim podemos entender por deficiência mental a insuficiência
funcional das funções neurológicas. O cérebro da criança Down não atingi seu pleno
desenvolvimento e assim todas suas funções estão alteradas:
Os três conceitos a que o autor citado acima se refere podem ser explicados como
bases das atividades mentais. Na verdade o cérebro de uma criança recém-nascida possui
capacidades de aprendizagem, no entanto, estas serão desenvolvidas através da internalização
de estímulos e esta se da através da aprendizagem e esta intimamente associada aos fatores
“O conceito de deficiência mental apóia-se, basicamente, em três idéias que tem sido atualizadas para definir este termo. É essencial examina-las do ponto de vista interativo. A primeira diz respeito ao binômio de desenvolvimento-aprendizagem (...) A segunda idéia se refere aos fatores biológicos (...) A última tem a ver com o ambiente físico e social (...)”.. (SCHWARTMAN, 1999, p. 243)
biológicos, como integridade orgânica e ainda sofre influências diretas dos fatores ambientais
e sociais.
Esta afirmação feita por SCHWARTZMAN (1999), é muito aceita e podemos
observar inúmeros trabalhos de outros autores coerentes a esta abordagem. Um exemplo é
Piaget, que afirma, que os indivíduos nascem apenas com potencialidades (capacidade inata) a
capacidade de aprender. Assim, todo conhecimento e todo o desenvolvimento da criança
depende de exposição ao meio e dos estímulos adivinhos deste. Para Jean Piaget, a base do
conhecimento é a transferência e assimilação de “estruturas”. Assim, um conhecimento, um
estímulo do meio é encarado como uma estrutura que será “assimilada” pelo indivíduo através
de sua capacidade de aprender.
A aprendizagem é realizada com sucesso de capacidades de assimilação,
reorganização e acomodação, estiverem integras, assim vão se dando as aquisições ao longo
do tempo. Estes três processos acontecem para que um indivíduo esteja sempre adquirido
novas informações, assim, quando se depara com um dado novo, para a internalização do
mesmo, o indivíduo deve reorganizar as aquisições já adquiridas, para acomodar os novos
conhecimentos sendo por este processo que linguagem e cognição se desenvolvem.
Considerando a grande influência do ambiente e a competência da criança para as
atividades cognitivas, para estimularmos uma criança, temos que torná-la mais competente
para resolver as exigências que a vida que em seu contexto cultural.
O portador de síndrome Down possui certa dificuldade de aprendizagem que na
grande maioria dos casos são dificuldades generalizadas, que afetam todas as capacidades:
linguagem, autonomia, motricidade e integração social. Estas podem se manifestar em maior
ou menor graus.
CAPÍTULO II
AS POSSÍVEIS DOENÇAS DO PORTADOR DE SÍNDROME DE DOWN
Cardiopatias
As cardiopatias congênitas estão presentes em aproximadamente 50% dos casos. Ela
deve ser detectada com urgência, para que a criança possa ser encaminhada para a cirurgia
cardíaca em tempo hábil.
Logo ao nascimento a criança deve passar por um minucioso exame cardiológico, que
inclui desde a ausculta dos batimentos cardíacos, a constatação da possível presença de sopro,
o exame anatômico do tórax, até realização de exames mais completos como o eletro-
cardiograma e principalmete o ecocardiograma.
Os problemas mais comuns encontrados são: defeito do canal atrioventricular;
comunicação interventricular; comunicação inter-atrial e tetralogia de Fallot.
A criança que possui uma cardiopatia congênita pode apresentar alguns sinais
indicadores: baixo ganho de peso; desenvolvimento mais lento quando comparada às outras
crianças com a mesma síndrome; mal formações toráxicas; cianose de extremidades; cansaço
constantes.
No entanto, toda criança com síndrome de Down, independentemente da presença
destes sinais, deve ser examinadas por um cardiologista e submetida aos exames
aconselhados, principalmente o ecocardiograma.
Problemas Pulmonares
A maioria das crianças com síndrome Down apresenta constantes resfriados e
pneumonias. Isto se deve a uma predisposição imunológica à própria hipotonia da
musculatura do tratorespiratório. Como o problema é crônico, é desaconselhável o uso
repetido de antibióticos. O ideal é trabalhar na prevenção doenças respiratórias, através de
exercícios específicos de sopro, da prática de atividades físicas que aumentam a resistência
cardiorespiratória, da higiene nasal com soro fisiológico e do uso de manobras específicas
como tapotagem, vibração e drenagem postural para evitar o acúmulo de secreção.
A natação pode ser aconselhada quando não há contra indicações à presença de otites
ou cardiopatias.
Instabilidade Atlanto-Axial
Aproximadamente de 10 a 20% das crianças ou jovens com síndrome de Down
apresentam a instabilidade atlanto-axial. Esta alteração consiste em um aumento do espaço
intervertebral entra a primeira e segunda vértebra da coluna cervical, Ela é causada por
alterações anatômicas (hipo-plasia do processo odontóide) e pela hipotonia músculo-
ligamentar. A instabilidade pode levar a subluxação e esta pode causar lesão medular ao nível
cervical, gerando comprometimento neurológico (sensitivomotor) ou até a morte, por parada
respiratória ocasionada por lesão do centro respiratório medular. É aconselhável que toda
criança com síndrome de Down seja submetida a um raio-x cervical nas posições de flexão,
extensão e neutra para avaliação minuciosa do espaço intervertebral entra altas (1ª vértebra) e
axis (2ª vértebra). O raio-x deve ser analisado por um médico especialista para obtenção de
um laudo seguro quando detectada a condição de instabilidade, a criança deverá, dependendo
do grau de comprometimento, ser encaminhada para cirurgia (na qual é feita a artrodese, ou
seja, a fusão das duas vértebras), ou ser orientada quanto à prática de algumas atividades
físicas. São contra indicados os movimentos bruscos do pescoço, que podem ocorrer em
atividades como: mergulho, nado golfinho, cambalhotas, equitação. No caso de cirurgias nas
quais a criança deverá ser entubada, o raí-x é essencial devido {a manobra de posicionamento
do pescoço para entubação.
O raio-x é indicado a partir de dois anos e meio a três anos de idade, podendo ser
repetido outras vezes conforme orientação médica.
Problemas de tireóide
A disfunção mais comum da tireóide nas pessoas com síndrome de Down é o
hipotireodismo. Ela ocorre em aproximadamente 10% das crianças e em 13 a 50% dos adultos
com a síndrome.
A presença desta alteração pode ser causa da obesidade, além de prejudicar o
desenvolvimento intelectual da criança.
É importante que a criança seja submetida a exames anuais da dosagem dos hormônios
da tireóide (T3, T4, e TSH), para que possa ser tratada precocemente e não seja comprometida
em seu desenvolvimento geral.
Problemas visuais
É comum a criança com síndrome de Down apresentar problemas visuais. Cerca de
50% delas têm dificuldade na visão para longe e 20% na visão para perto. Os problemas são a
miopia, hipermetropia, astigmantismo, estrabismo, ambliopia, nistagmo ou catarata. Algumas
crianças têm apresentado também obstrução dos canais lacrimais.
É aconselhável que a criança com síndrome de Down seja examinada por um
oftalmologista anualmente, para que seja indicado o procedimento mais adequado a ela. A
correção pode ser cirúrgica ou feita através do uso de óculos. A correção do problema visual é
muito importante, uma vez que a criança pode ser prejudicada em seu desenvolvimento global
por não enxergar bem.
A adaptação com os óculos deve ser gradual, dependendo da idade de cada criança. A
maioria das vezes, a criança acaba se acostumando logo e gosta de usar óculos, pois sente-se
mais segura para realizar diferentes atividades.
Problemas auditivos
Grande parte das crianças com síndrome de Down (cerca de 60 a 80%) apresenta
rebaixamento auditivo uni ou bilateral. Anualmente, a criança deve ser examinada e avaliada
por um otorrinolaringologista. para detecção de problemas e tratamento adequado.
Os déficits auditivos são leves ou moderados na maioria dos casos, e podem ter como
causas: aumento de cera no ouvido; acúmulo de secreção no ouvido médio; freqüentes
infecções de ouvido, formato anormal dos ossículos no ouvido médio. Com a presença de
otite média crônica é comum, muitas vezes a criança não apresenta quadro clínico, o exame
deve ser bastante minucioso.
O rebaixamento auditivo também pode prejudicar o desenvolvimento global da
criança.
CAPÍTULO III
O PAPEL DA PSICOMOTRICIDADE JUNTO AO PORTADOR DA SÍNDROME DE
DOWN
A psicomotricidade é a ciência que estuda o homem através do seu corpo em
movimento em relação ao seu mundo interno e externo. Na psicomotricidade o importante
não é o movimento do corpo como o de qualquer outro objeto, mas ação corporal em si, a
unidade biopsicomotora em ação.
Os elementos básicos da psicomotricidade são: a função motora, o desenvolvimento
afetivo e o intelectual estão intimamente ligados na criança. Alguns fatores que também
fazem parte da psicomotricidade são esquema corporal; coordenação dinâmica global;
estruturação espacial; lateralidade, orientação temporal; pré-escrita.
O cérebro funciona como um todo e sempre que estivemos estimulando uma área
específica afetaremos toda a função cerebral; daí a grande importância da estimulação de uma
criança portadora da síndrome.
A estimulação, quando feita com estas crianças, deve ter início o mais cedo possível.
As crianças Down ficam rapidamente fatigadas; com o cansaço, falta a energia
necessária para manterá concentração. Sempre se deve verificar se o trabalho é interessante
para elas, pois o desinteresse surge tanto como resultado de pedidos complicados, como de
com pedidos fáceis demais. As tarefas e ordens precisam ser dadas com calma, preparando a
exigência final.
O mesmo deve acontecer em casa, quando os pais desejarem que a criança mude de
atividades se estiverem sempre apressados não conseguiram que a criança mude de atividade:
se estiverem sempre apressados não conseguirão uma boa atenção da criança.
Neste capítulo, enfocarei prioritariamente as estimulações das funções motoras e das
funções sensoriais para a criança Down.
“Muitas mães se queixam de terem sido encaminhadas muito tarde para o tratamento de seus filhos e se sentem culpadas do atraso que se verifica, considerando, que o tempo perdido nunca mais será recuperado”. (Lefèvre 1981, p. 75).
3.1. A estimulação das funções motoras
L. Corial (1967, apud Lefèvre, 1981), sugere as seguintes etapas de estimulação para
controle postural nos primeiros meses de vida o bebê Down: se a criança está deitada de
costas, dobrar e encostar uma na outra as suas perninhas; se está deitada de bruços, colocá-la
com a cabeça virada para o lado. Ao segurá-la no colo, evitar a posição horizontal e sustentá-
la verticalmente. Faça-se o que for, sempre se deve lembrar que falar com a criança e acariciá-
la são ações básicas para despertar seu interesse de responder aos apelos do estimulador.
Na estimulação motora, ao rolar e movimentar braços e pernas, a criança sente e
experimenta livremente o seu corpo no espaço, disposto em várias posições. Sua
movimentação espontânea é, portanto, enriquecida com um número maior de experiências
sensitivas e sensoriais; quando pequena, a criança se delicia com estas experiências,
interessando-se em explorar todo o corpo quando livre das vestes.
Ela, então, percebe e olha suas mão e seus pés e sente sua barriguinha e os seus órgãos
genitais. Melhora, desta forma, a sua percepção de onde estão as partes do seu próprio corpo.
É importante estar atento aos movimentos estereotipados (repetitivos); a partir dessa
observação, intervenções deverão ser feitas, chamando-se a atenção com outra solicitação,
distraindo a criança para um objeto oferecido ou mudando-a de posição para, sim, não deixar
que persista nesses movimentos.
Várias solicitações para o estímulo motor poderão ser feitas conforme a posição
corporal da criança. Se estiver deitada de bruços, pode-se usar bolas de diferentes tamanhos e
que correm em diversas direções, começando pelas maiores e depois usando outras menores,
que exigem maior atenção visual.
No inicio da estimulação, a criança acompanhará por pouco tempo o rolar das bolas,
mas, com a seqüência das sessões, será capaz de acompanhar as diversas direções para as
quais rolam, assim como a sua visão de perto ou de longe.
Ao ser deitada de costas, os objetos deverão ser apresentados no alto, em movimentos
em cruz, verticais, horizontais ou circulares.
Quando estiver sentada em uma cadeirinha, a criança experimentará os movimentos
dos braços, procurando alcançar os objetos que estiverem perto ou longe.
Quando ela já souber andar, os movimentos estimulados serão o de se abaixar para
pegar uma infinidade de brinquedos simples que poderão ser oferecidos. Os estímulos de
locomoção firmando os pés no chão ou pedalando, poderão ser feitos através de um
velocípede de três rodas.
Os estímulos para o desenvolvimento destes movimentos devem ser cuidadosamente
seguidos, respeitando-se as etapas do movimento da criança, seqüência esta que torna mais
fácil superar as diferentes fases.
Deve-se estar atento, lembrando-se que antes de ser estimulada para que ande, a
criança deve ser estimulada para sentar com apoio e, depois, sem apoio.
É importante que se observe constantemente o estado de desenvolvimento da criança
para que se constate seus progressos e se analise suas possibilidades, verificando-se quando é
a hora de seguir para a próxima etapa. Se a criança já consegue se sentar na cadeira com
encosto e já é capaz de se inclinar para frente, pegando algum objeto sozinha, isto nos mostra
que já pode se sentar sem apoio; conseqüentemente, poderá ser solicitada a ir empurrando a
cadeira e estará apta aos seus primeiros passinhos. Deve-se ter o cuidado de observar se estes
movimentos são espontâneos: forçar um exercício, queimando uma etapa, é um grande erro.
3.2. Estimulação sensorial
Os estímulos das funções sensoriais certamente facilitarão a compreensão pelas
crianças do que ocorre ao seu redor. É preciso que o bebê tenha oportunidade de olhar o
mundo que o rodeia; como já citei acima, o chão é o lugar mais estimulante para isso e a
melhor posição é deitado de bruços. É importante para os pais saber que a postura de bruços
na cama ou no chão é muito útil para reforçar os músculos da coluna e facilitar o
levantamento da cabeça. Nessas condições, o bebê será solicitado pelo movimento dos
familiares, pelos objetos que rolam, se distanciam e se aproximam. Todos os sentidos devem
ter solicitados: pelo tato, experimentam-se as consistências diferentes de um pedaço de
algodão, de um brinquedo de borracha e de outros materiais: a visão seguirá os movimentos
de familiares e objetos; a audição discriminará objetos que emitem sons variados, como um
sino, um chocalho, latinhas com objetos dentro ou uma caixinha de música. É importante uma
associação consciente despertando a atenção para brincar, pegar objeto, olhá-lo e senti-lo.
Além dos movimentos das bolas em direções variadas, também se pode despertar o
interesse e a atenção infantil para uma lanterna; quando a criança consegue segurá-la, pode,
por conta própria, variar a direção do facho de luz e seguí-lo pelas paredes ou pelo chão. Com
olhos e mãos em conjunto, estará exercitando a coordenação visual-manual. O tipo de objeto
pode variar, mas deve ser deixado com ela, à medida que desperte seu interesse e curiosidade.
Querer brincar é uma condição fundamental para o progresso de um bebê.
3.3. Estimulação auditiva
As estimulações auditivas terão o objetivo de fazer a criança virar a cabeça para o lado
de onde vem o som. Com a introdução de sons diferentes, estaremos exercitando sua atenção,
deixando que escolha e reproduza ou repita alguns destes sons. No inicio ela só perceberá os
ruídos mais fortes, mas, aos poucos, começará a distinguir os mais familiares, como a porta
que se abre para a mãe entrar, a buzina do carro do pai, o som da voz do irmão. A seguir,
passará a perceber os sons vindos de longe, como a chuva caindo lá na rua, o cachorro latindo
lá no quintal, o som do avião passando. Será preciso, nestas ocasiões, chamar a atenção,
procurando despertar seu interesse com imitações, usando sons onomatopaicos, pois estes
podem lembrar o evento sonoro passado: a criança pode tentar imitar o “au-au” do cachorro,
o “piu-piu” do passarinho, num jogo que será importante para a futura articulação da fala. A
audição começa a se apurar e os lábios começam a querer trabalhar.
3.4. Estimulação da fala
A estimulação da fala é muito importante, mas é preciso lembrar ais pais da criança
Down que em alguns casos ela se processa muito lentamente e isto não quer dizer que a
estimulação esteja sendo deficiente; indica apenas que aquela criança, por motivos ainda não
explicados, tem mais dificuldade do que as outras para a fala expressiva. Mesmo que a criança
não tenha problemas de audição, pode haver dificuldades em articular os sons, como
freqüentemente se vê.
O trabalho da estimulação da fala é longo e muitas vezes os pais se sentem frustrados
ao perceber a defasagem entre a linguagem expressiva e o desenvolvimento de outras áreas,
como as motoras, perceptivas e sociais. É bastante comum o desenvolvimento melhor e mais
rápido da compreensão da linguagem falada, havendo atraso maior na expressão. Por um bom
tempo a criança compreende o que lhe dizem, mas demora a atingir a capacidade de falar o
que deseja.
Luria (1973, apud Lefèvre, 1981), considera importante uma boa evolução da
linguagem falada para o surgimento da capacidade de abstração e generalização.
Os movimentos com a boca, face e lábios, como já vimos acima, podem ser
exercitados como jogos que interessem as crianças.
Algumas crianças têm tendência a deixar a língua para fora da boca. Exercícios podem
ser feitos para retificar isso, de preferência sem ansiedade e sem que a criança perceba que a
língua para fora significa olhares e atenção para ela. Convêm assinalar quais atividades
exigem que a língua fique dentro da boca: todo movimento de coordenação, como mastigar,
soprar ou fazer caretas engraçadas requer que os lábios se juntem, levando, assim, a língua
para o seu lugar.
O uso exclusivo de alimentos moles evita a mastigação, que é um exercício muito
necessário às crianças com síndrome de Down.
Os jogos em que se provam diferentes alimentos costumam provocar exercícios
espontâneos da língua: experimenta-se o doce, o salgado, o melado, o duro, obrigando a
língua a fazer movimentos de lamber o que foi colocado num canto ou noutro da boca.
É importante prestar atenção para a hora de parar, para não deixar a criança cansada ou
irritada, sabendo deixar para o dia seguinte partes do exercício que tenham faltado.
3.5. Estimulação da criança em idade escolar.
A medida que a criança Down consiga se comunicar, andar e se integrar em um grupo,
poderá freqüentar uma escola maternal, onde a presença de crianças normais será de grande
benefício, auxiliando no seu desenvolvimento. Por outro lado, a freqüência às escolas comuns
não será benéfica somente para as crianças portadoras, mas também às crianças normais, que
se habituarão a conviver com crianças com deficiência de desenvolvimento e a compreendê-
las.
A professora poderá desfazer os preconceitos das famílias conversando e mostrando a
seus alunos que um trabalho livre e criativo não é prejudicado pela presença desta criança
mais lenta no aprendizado. É importante para ela estar presente naquela classe e, apesar da
lentidão, seu progresso será evidente.
As escolas especiais no Brasil são poucas e raras; normalmente nem existem em
cidades pequenas. As grandes cidades contam com mais recursos escolares, apesar de ainda
insuficientes, para este tipo de atendimento. Essa escassez de escolas especiais tornam-se um
pouco mais lento e difícil o aprendizado das crianças portadoras de síndrome de Down, pois
no momento que se inicia o ensino da escrita, da leitura e do cálculo, ou seja, o Curso de
Alfabetização (C.A.), a grande maioria dessas crianças tem necessidade de um aprendizado
muito mais lento e individualizado que deve ser acompanhado em classes menores, nas quais
se pode surgir a dificuldade de atenção e aplicar tarefas onde não haja competição.
Nestas classes, os estímulos distrativos podem ser controlados. É preciso que ruídos
acidentais (como buzina de carros, barulho da rua, avião passando) não se tornem mais
importantes do que a ação iniciada.
De uma forma geral, comprova-se que a criança Down que freqüenta escola com
pequeno número de alunos e professores especializados tem o mais rápido progresso no
aprendizado da leitura, do cálculo e da escrita.
3.6. Estimulação da atenção
Luria (1963, apud Lefèvre, 1981), considera o estado de alerta imprescindível como
substrato da aprendizagem e entende que o cérebro em ação é o que torna o homem capaz de
pensar e de agir.
Todos os estímulos sensitivos, visuais ou auditivos são programados e organizados
para que a atenção consiga desprezar o que é acidental e selecionar o que é importante. A
seleção e a discriminação são intimamente ligadas ao estado de alerta.
Por isso, toda a criança precisa estar atenta e vigilante para aprender coisas novas.
Quando consegue esta capacidade de atenção, se concentra no problema proposto e tanta
resolvê-lo. É preciso lembrar que crianças menores têm dificuldade para manter a atenção em
um problema proposto, pois a função cerebral responsável pelo alerta evolui lentamente e a
duração do tempo de atenção, à medida que estas crianças crescem, vai aumentando.
Os exercícios visam aumentar a duração desse tempo, mas lentamente, respeitando a
capacidade individual de cada criança. Todas as técnicas de estimulação mencionadas
anteriormente conduzirão a criança a uma maior capacidade de atenção. Luria (1963, apud
Lefèvre, 1981), entretanto, ressalva que a criança Down apresenta uma fadiga muito rápida:
sua atenção naturalmente se mantém por menos tempo.
O objetivo de tais exercícios é fazer a criança se movimentar, trabalhar o corpo
globalmente, sentindo sua postura, equilíbrio e movimentando todos os membros.
Em seqüência, Sampaio (1969, apud Lefèvre, 1981) sugere jogos dramáticos: histórias
inventadas, no faz de conta – fingir que se ganhou um presente; que está triste porque o
brinquedo quebrou, imitar soldados, robôs, bailarinas, etc.
“O importante é que, por meio de atividades terapêuticas, sejam trabalhados cooperação, organização, constituição, movimentos, autonomia, compreensão, exploração com propostas lúdicas e materiais diversos e por meio de comandos, sejam realizadas atividades motoras como correr, pular, rolar, subir, descer, rasgar, pintar, empilhar, colar, picotar, amassar, arrastar, manusear, desenhar, reconhecer cores e formas, facilitando o desenvolvimento social, afetivo, cognitivo, motor, da linguagem, de grafismo, dos hábitos e das atitudes.” (ALVES, Fátima – 2007)
Precisamos considerar que cada indivíduo é único e que, como tal, deve ser tratado
com respeito à sua subjetividade.
“A criança com um pouco de vivência, mesmo não estando com seu desenvolvimento mental organizado, já consegue mostrar aquilo que ela está trocando com o meio; assim é importante que o estímulo usado seja compatível com esta idade mental e com o interesse e a história desta criança”.
CONCLUSÃO
Os dados obtidos levaram a conclusão de que a família é primordial para a aquisição
de linguagem oral, principalmente nos primeiros anos de vida. Quando a criança encontra-se
em período de maturação orgânica e seu sistema nervoso está sendo moldado pelas
experiências e estímulos recebidos e internalizados. A estimulação do portador de deficiências
especiais na fase inicial da vida é extremamente importante para o desenvolvimento normal
da criança, e minimiza as ocorrências déficits de linguagem na primeira infância, que poderão
trazer sérias conseqüências futuras. Pois no período da primeira infância, o cérebro humano é
altamente flexível.
A educação especial é determinante no processo de estimulação inicial e cabe ao
professor de turmas especiais trabalhar suas crianças desenvolvendo nestas capacidades de
praticarem atividades diárias, participar das atividades familiares, desenvolver seu direito de
cidadania e até mesmo desenvolver uma atividade profissional. Para isso profissionais
especializados e cuidados especiais devem ser tomados, a fim de facilitar e possibilitar um
maior rendimento e desenvolvimento educacional dos portadores de tal síndrome.
Enfim, a grande importância da estimulação se dá pela grande necessidade da criança
de vivenciar experiências permitindo seu desenvolvimento, respeitando suas deficiências e
explorando suas habilidades. Esse estudo permite aos familiares (mãe, pai, cuidadores...),
aumentar suas possibilidades de observação e intervenção, objetivando aprimorar a
aprendizagem de seus filhos, que são crianças especiais, que tem dificuldades como qualquer
outra pessoa e são também crianças capazes de vencer suas dificuldades se desenvolverem
através do carinho, amor e fé.
“É fundamental a força interior dos pais campeões que apesar de todas as dificuldades, não se preocuparam somente em ajudar seu próprio filho, mais sim em estender sua capacidade de ação a tantas outras crianças da comunidade especial”.
BIBLIOGRAFIA
ALVES, Fátima. Para entender a Síndrome de Down. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2007.
WERNECK, Cláudia. Muito prazer, eu existo. Rio de Janeiro: WVA, 4ª Ed., 1995.
LEFÈVRE, Beatriz Helena. Mongolismo: orientação para famílias. São Paulo: Almed,
1981.
FATOS e MITOS – Saiba mais sobre a síndrome de down. Rio de Janeiro:
www.bbc.co.uk/portuguese/forum/story/2003/08000000-forum down/mp.shtm/
QUEIROZ, Karla. Síndrome de Down. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 06 agosto,
2006, p.4 e 5.
LEVY, Janine. O despertar do bebê – Práticas de Educação Psicomotora. São Paulo:
Martins Fontes, 1989.
SCHWARTZMAN, J.S. Síndrome de Down. São Paulo: Memnon, 1999.