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SIMULADORES NO ENSINO DA CONTABILIDADE: ENTERPRISE SIMULATOR: CASO DE ESTUDO DO INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO DE COIMBRA Pedro Filipe Sá Silva Assistente convidado do 1º Triénio Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra Maria de Fátima Travassos Conde Equiparada a Professor Adjunto Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra Jorge Humberto Vaz Ribeiro Equiparado a Assistente do 2º Triénio Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra António Rui Trigo Ribeiro Professor Adjunto Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra Área Temática : G) Novas Tecnologias e Contabilidade Palavras chave: Ensino, Contabilidade, Simulação Empresarial, Enterprise Simulator. 23g

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SIMULADORES NO ENSINO DA CONTABILIDADE: ENTERPRISE SIMULATOR:

CASO DE ESTUDO DO INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E

ADMINISTRAÇÃO DE COIMBRA

Pedro Filipe Sá Silva

Assistente convidado do 1º Triénio

Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra

Maria de Fátima Travassos Conde

Equiparada a Professor Adjunto

Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra

Jorge Humberto Vaz Ribeiro

Equiparado a Assistente do 2º Triénio

Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra

António Rui Trigo Ribeiro

Professor Adjunto

Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra

Área Temática: G) Novas Tecnologias e Contabilidade

Palavras chave:Ensino, Contabilidade, Simulação Empresarial, Enterprise Simulator.

23g

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SIMULADORES NO ENSINO DA CONTABILIDADE: ENTERPRISE SIMULATOR: CASO DE ESTUDO DO INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E

ADMINISTRAÇÃO DE COIMBRA

Resumo

Aproximaro mundo empresarial do mundo académico foi sempre uma preocupação

das escolas de contabilidade e gestão, particularmente do ISCAC, que se traduz na

existência de Unidades Curriculares de Simulação Empresarial, que visam simular a

realidade empresarial. Não obstante se utilizarem ferramentas informáticas para o

registo de transações como sistemas ERP surgiu a necessidade de criar uma

ferramenta informática – o Enterprise Simulator - que permitisse automatizar e

sistematizar as diferentes tarefas a realizar pelos alunos no âmbito da Unidade

Curricular, como sejam, operações comerciais (compra/venda de produtos/serviços),

bancárias(depósitos, pagamentos e transferências bancárias) e fiscais (entrega do

IVA).

Resumen

Llevar el mundo de los negocios a la academia siempre ha sido una preocupación de

las escuelas de contabilidad y gestión, en particular ISCAC, que se traducen la

existencia de unidades curriculares disimulación empresarial, diseñado para simular el

mundo dos negocio. Las herramientas que se utilizan para registrar las transacciones,

como los sistemas ERP, fue la necesidad de crear una herramienta de software–

Enterprise Simulator - permitiendo automatizar y organizar las distintas tareas a ser

emprendidas por los estudiantes en el curso, como por ejemplo, las transacciones

comerciales(compra/venta de productos), bancarias (depósitos y transferencias

bancarias) e impuestos.

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Introdução

Num mercado de trabalho cada vez mais exigente, principalmente para quem inicia o

seu percurso profissional, as instituições de ensino desempenham um papel

fundamental na preparação parao mundo empresarial.A crescente complexidade do

tecido empresarial torna este desafio cada vez mais ambicioso. A Unidade Curricular

(UC) de Simulação Empresarial (SE) materializa esse esforço por parte das escolas de

contabilidade e de gestão, tentando importar para a sala de aula a realidade

empresarial. Nesta UC são realizadas diversas operações contabilísticas, recorrendo a

ferramentas informáticas comummente utilizadas nas empresas, como por exemplo,

os sistemas EnterpriseResourcePlanning(ERP). Além destas ferramentas, os

profissionais da contabilidade também contactam com ferramentas exteriores à

empresa como, por exemplo, o homebanking e ferramentas de e-

government.Contudo, estas ferramentas não estão disponíveis para uso educacional,

pelo que é preciso simular a sua utilização. Não obstante se poder criar procedimentos

suportados pelo papel para simular a execução de operações nessas ferramentas,

como por exemplo uma transferência bancária, surgiu a ideia de se criar um simulador

empresarial, o Enterprise Simulator(disponível em www.enterprisesimulator.com), que

permitisse aos alunos experimentar, ainda que num ambiente simulado, a utilização

dessas mesmas ferramentas. Assim, oEnterprise Simulator é um simulador que visa

imitar as principais operações comerciais, bancárias e fiscais. Este projecto procura

promover o contacto dos alunos de contabilidade e gestão com as principais

ferramentas tecnológicas atualmente utilizadas noquotidiano empresarial (e-

commerce, homebanking e e-government).

O presente trabalho inicia com o enquadramento sobre o contributo da simulação no

ensino, descrevendo posteriormente o funcionamento da UC de SE do Instituto

Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC) e do simulador

Enterprise Simulator. Depois são descritos alguns resultados dos três anos de

utilização do EnterpriseSimulator no ISCAC.Finalmentesão apresentadas as

considerações finais, onde é feita uma síntese do trabalho desenvolvidoe apontados

alguns trabalhos a desenvolver no futuro.

Simulação no ensino

A Simulação é amplamente utilizada e já demonstrou ser uma excelente ferramenta

em diversas áreas como, por exemplo, sistemas de produção (p. ex.,em otimização de

linhas de produção e logística), sistemas públicos (p. ex.,na previsão do tempo),

sistemas militares (p. ex.,em simuladores de voo e de cenários de guerra), sistemas

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de transporte (p. ex., naotimização de rotas de transporte), sistemas computacionais

(p. ex., em jogos de computador) entre muitos outros(Aldrich 2005; Silva 2010; Silva,

Trigo et al. 2010; Silva, Pedrosa et al. 2011; Silva, Trigo et al. 2011). As áreas de

aplicação são praticamente ilimitadas (Gogg and Mott 1993).

A simulação com fins educacionais começou nas instituições e alargou-se às

empresas como ferramenta de trabalho para formação dos colaboradores. Com a

simulação, os participantes podem explorar questões do mundo real, sem

comprometer o sistema real. Medicina, militares e empresas são principais áreas da

sociedade, onde a simulação já demonstra ser uma abordagem interessante para

ensinar (Uretsky 1995; Robinson 2002; Gaba 2007; Rosen 2008; Pasin and Giroux

2011; Silva, Pedrosa et al. 2011).

Importada porgestores ex-militares para as escolas de gestão e empresas, estas

instituições tambémqueriam beneficiar das vantagens já provadasna áreamilitare na

medicina: melhorar a capacidade de decisão, a possibilidade de

falharsemconsequências reais e aprender fazendo(Aldrich 2005; Pasin and Giroux

2011).

De forma a aumentar a interatividade das simulações, foram introduzidos conceitos da

teoria de jogos, nascendo assim numa nova e poderosa ferramenta de ensino: jogos

de simulação(Magee 2006; Silva, Pedrosa et al. 2011).A diversidade de utilização na

área da gestãoé enorme, provando ser útil em áreas específicas comoa gestão de

recursos, contabilidade analítica, gestão deprojetos, marketing egestão de recursos

humanos(Siddiqui, Khan et al. 2008; Günther, Kiesling et al. 2010; Pasin and Giroux

2011; Silva, Trigo et al. 2011).

No ensino da contabilidade, vários autores (Milner, Hogue et al. 2008; Jiang 2010;

Silva, Trigo et al. 2011) e instituições como a Accounting Education Change

Commission (AECC 1990) e a PriceWaterHouseCoopers(PWC 2003), já identificaram

a potencialidade e interesse da utilização de simuladores educacionais. Comos

simuladores, os alunos podem aplicaros conhecimentos teóricos adquiridosao longo

dos cursos, isto é “aprender fazendo”,simulando cenários reais sem qualquer risco

real.

No plano do ensino superior é fundamental ter em conta as competências,

qualificações ou capacidades dos estudantes na altura em que iniciam a sua atividade

profissional.Quanto maior for a correspondência entre as competências desenvolvidas

ao longo do curso e as competências exigidas pelo mercado de trabalho, melhor será

a integração dos novos profissionais.

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Simulação Empresarial no ISCAC

O ISCAC procura constantemente ajustar as competências lecionadas às

competências necessárias para o ingresso no mercado de trabalho.No ano letivo de

1999/2000,surgiu a primeira tentativade aproximar o mundo académico ao mercado de

trabalho, sendo criadas duas novas Unidades Curriculares (UCs), com apenas três

horas semanais,nas licenciaturas de Contabilidade e Auditoria e de Gestão de

Empresas, denominadas Contabilidade e Informática I e Contabilidade e Informática II.

Mais tarde, no ano letivo de 2007/2008, com a adequação do Ensino Superior ao

Processo de Bolonha ecom a adoção das exigências protocoladas com a Ordem dos

Técnicos Oficiais de Contas (OTOC), surgiram no ISCAC asUCsde Simulação

Empresarial (SE).EstasUCs obedecem aos critérios definidos e protocolados com a

OTOC, necessários para o acesso à profissão de Técnico Oficial de Contas (TOC). As

UCs de SE têm como objetivo simular a realidade empresarial, criando para isso um

mercado simulado (ou mercado virtual) de empresas virtuais.Assim, estasUCs

assumem-se como uma interface entre o meio académico e o meio profissional, num

ambiente de simulação que pretende utilizar diferentes áreas de trabalho na promoção

de uma perspetiva multidisciplinar, numa visão do ensino politécnico mais

profissionalizante e capaz de facilitar a inserção dos alunos na vida profissional.O

enquadramento metodológico dasUCs realça a ênfase colocada na aprendizagem

acompanhada das metodologias tipo Problem Based Learning (PBL), ao mesmo

tempo que reforça uma aprendizagem contextual integrada numa realidade que

espelha o ambiente profissional dos futuros licenciados.Na linha ideológica do

“aprender fazendo”, esta UC proporciona aos estudantes uma visão prática da futura

atividade profissional,facilitando assim a entrada no mundo do trabalho.O esforço de

modernização e qualificação encontra-se na base do desenvolvimento do Projeto em

Simulação Empresarial.

Atualmente as UCs de SE do ISCAC enquadram-se no último ano das licenciaturas de

Contabilidade e Auditoria e Gestão de Empresas. Estas UCs têm como objetivos

pedagógicos, em ambiente interativo, entre outros, por exemplo, criar um posto de

trabalho onde o estudante execute tarefas diversificadas e multidisciplinares, solucione

problemas, prepare informação, execute as tarefas de gestão corrente da empresa,

cumpra com obrigações fiscais e parafiscais.

A ideia geral de funcionamento das UCs deSE é a de criar um mercado simulado, em

que é atribuído, pelos docentes, a cada grupo de alunos (3 ou 4 alunos) uma “empresa

virtual”. As atividades das empresas distribuídas pelos grupos permitem interagir entre

eles, promovendo o relacionamento empresarial, dando assim origem a um “mercado

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virtual”. No “mercado virtual”são simuladastransações comerciais, bancárias e fiscais,

sendoposteriormente alvo do tratamento contabilístico adequado e registado no

sistema ERP (p. ex. Primavera Software, Sage, SAP, CentralGest, etc.). Tendo em

conta que só as empresas virtuais (grupo de alunos) que negoceiam podem

apresentar trabalho, está lançada a interatividade e criadas as condições para que

cada grupo (empresa)tenha de tomar decisões muito próximas do mundo real.

A Figura 1 mostra graficamente o funcionamento inicial da UC de SE.

( WDSD� &RQYHUVmR�GRV�JUXSRV�HP � HP SUHVDV

( WDSD� ( VWXGR�GDV�HP SUHVDV�UHDLV

( WDSD� 6HOHFomR�GRV�JUXSRV�GH�WUDEDOKR

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Figura 1. Funcionamento inicial da unidade curricular de Simulação Empresarial

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No início de cada semestre letivo são definidas equipas de alunos para formar

posteriormente empresas. Preferencialmente, estas empresas devem pertencer ao

sector dos serviços. Por exemplo, imaginado que a área de negócio escolhida é a

restauração. Isto significa que todas as empresas devem pertencer a esta (p. ex.

hotéis, restaurantes, cafés, etc.), para depois transacionarem produtos entre si,

criando assim o conceito de Mercado Interno (MI). Esta abordagem facilita a

compra/venda de produtos/serviços das empresas simuladas (p. ex. o hotel compra

produtos refeições ao restaurante).

Definidas as equipes, os alunos começam a estudar e analisar as características da

área de negócio no mundo real (p. ex. através da internet, entrevistas, etc.),

identificando suas principais características, como: produtos e serviços necessários

para laborar(p. ex. serviços de limpeza, alimentos, camas, serviço de lavandaria, SPA,

etc.); preços habitualmente praticados no mercado;identificar potenciais clientes e

fornecedores (p. ex. agências de viagem); termos e procedimentos específicos da

indústria (p. ex. meia pensão, pensão completa, check-in, etc.); e inserir dados no

ERP. Depois de todo este trabalho as empresas simuladas (grupo de alunos) estão

prontas a laborar. Sempre que existe uma necessidade de compra, a empresa

simulada (Grupo A)compra a outra empresa simulada (Grupo B).Como na vida real,

cada transação comercial (p. ex.compras e vendas)gera documentos comercias pelo

sistema ERP (p. ex.fatura, nota de crédito enota de débito). Cada documento é

analisado, classificado contabilisticamente e lançado no sistema ERP. Depois do

tratamento contabilístico, conforme na vida real, os documentos são organizados e

arquivadosnuma pasta organizada de acordo com as práticas contabilísticas (p.

ex.compras, vendas, recebimentos, pagamentos, etc.).

No final do semestre letivo os alunos procedem ao tratamento das demonstrações

financeiras (p. ex. Balanço e Demonstração de Resultados), emitem os documentos

em papel e arquivam nas pastas. Concluído este trabalho os professores recolhem as

pastas para proceder à avaliação (como uma espécie de auditoria).

Para saber mais sobre este tipo de UC consulte os trabalhos de Rui Almeida (Almeida,

Dias et al. 2009),PaulinoSilva (Silva, Santos et al. 2009), Pedro Silva (Silva 2010) e

Eleutério Machado (Machado, Inácio et al. 2000; Machado, Inácio et al. 2001).

O Enterprise Simulator e a sua importância para o funcionamento das UCs de SE

As UCs de SE pretendem desenvolver as competências práticas dos alunos tendo por

base o conhecimento teórico adquirido ao longo da licenciatura.Para isso, conforme

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descrito na secção anterior, os alunos formam as empresas simuladas (ou empresas

virtuais)e depois transacionam produtos no Mercado Interno (MI).Contudo, esta

abordagem apenas suporta compra/venda de produtos/serviços existentes dentro do

MI.Isto é, o MI poderá não oferecer a diversidade de produtos necessários para a

normal laboração das empresas simuladas. Pegando no exemplo das empresas da

área da hotelaria da secção anterior, por exemplo, se o hotel precisar de adquirir uma

viatura automóvel não tem empresa simulada no MI que possibilite a transação.Isto é,

com as empresas simuladas é possível realizar algumas transações comerciais,

contudo não é suficiente para responder às normais necessidades de consumo

decorrentes da atividade económica. Criar empresas simuladas que operam em todos

os ramos de atividadeé uma tarefa complexa e inviável.

Para responder a esta dificuldade foi desenvolvido o Mercado Virtual. O Mercado

Virtual tem como principal objetivo disponibilizar produtos (de fornecedores virtuais)

que não estão disponíveis no MI(nas empresas simuladas).Neste mercado as

empresas simuladas (grupo de alunos) podem adquirir produtos a fornecedores

disponibilizados pelo simulador. Ou seja, as empresas presentes neste mercado agem

como fornecedores virtuais. Todas as compras decorrentes nesse mercado geram os

respectivos documentos comerciais (p. ex. fatura) para posterior tratamento

contabilístico.

O pagamento de compras apresentava outro desafio, pois o pagamento era apenas

comprovado pela emissão do recibo.Desta necessidade surgiu o conceito de Banco

Virtual.Esta necessidade torna-se ainda mais importante devido ao facto de todas as

empresas estarem obrigadas a possuir uma conta bancária para

pagamentos/recebimentos, artigo 63º C da Lei Geral Tributária(LGT 2011).O Banco

Virtual tem como principal objetivo simular um banco on-line, onde devem ser

disponibilizados os serviços bancários básicos como pagamentos, depósitos

bancários, consulta de saldo e extrato bancário.

Periodicamente, todas as empresas têm de enviar a informação da sua atividade

económicaàs diferentes entidades do Estado a fim de apuraro montante de impostos

(CIVA 2010). De forma a ser possível simular o cumprimento da entrega obrigatória da

informação surgiu a ideia do Governo Virtual.O Governo Virtual tem como principal

objetivo disponibilizar um espaço onde as empresas simuladas podem cumprir o seu

dever, sem no entanto existir contacto com as ferramentas reais (com consequências

reais).

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Todas estas operações devem gerar documentos que comprovem a sua execução,

bem como os professores devem ter acesso a todas as transaçõesefetuadas no

Mercado Virtual, Banco Virtual e Governo Virtual para aprovar o trabalho contabilístico.

O Enterprise Simulator surgiu das necessidades identificadas na UC de SE descritas

anteriormente.Depois de analisadas as necessidades dos utilizadores foram

identificados os seguintes requisitos: possibilidade de acesso fora da escola,

promovendo assim o trabalho autónomo;possibilidade do simulador funcionar em

Sistemas Operativos (SOs) diferentes (p. ex. Windows, MacOs, Android eLinux);

preferências de utilização de ferramentas gratuitas de forma a reduzir ao máximo os

custos associados. Tendo em consideração os requisitos e avaliadas as opções de

desenvolvimento a escolha recaiu para um simulador Web. Os simuladores Web

revelam várias vantagens face às outras ferramentas de desenvolvimento(Byrne,

Heavey et al. 2010): não necessita processos de instalação e atualização por parte

dos utilizadores; execução em vários SOs; utilização de normas mundialmente aceites

e validados. Depois de definida a abordagem, iniciou-se o processo de

desenvolvimento. A Figura 2 mostra o resultado da interface desenvolvida para o

Enterprise Simulator (disponível emwww.enterprisesimulator.com).

Figura 2. Interface principal do Enterprise Simulator

A estrutura da interface do simulador foi desenvolvida de forma a obedecer a uma

estrutura global a todos os utilizadores (professor e aluno), contendo zonas bem

definidas, designadamente: menu principal; menu secundário; página principal; e

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informações gerais. Esta abordagem teve como principal objetivo facilitar aos

diferentes utilizadores a identificação das principais zonas do simulador.

No Mercado Virtual as empresas simuladas podem efetuar compras aos fornecedores

virtuais. Cada transação comercial irá gerar um documento como, por exemplo, a

fatura.A Figura 3 mostra um exemplo de umafatura gerada pelo Enterprise Simulator.

Figura 3. Exemplo de faturagerado pelo Enterprise Simulator

Todos os documentos gerados pelo Enterprise Simulator estão devidamente

identificados como não tendo qualquer validade oficial, sendo apenas utilizado para

fins académicos.

Outra funcionalidade é possibilidade de simular as operações de homebanking.O

EnterpriseSimulatorpermite aos alunos simular as operações de pagamentos e

transferências bancárias.A cada empresa simulada é atribuído um Número de

Identificação Bancário (NIB) único, com ele os alunos podem efetuar transferências

bancáriasentre empresas, podendo assim efetuar pagamentos (p. ex. pagamento de

uma compra). Para manter a congruência nas operações, os depósitos apenas podem

ser realizados pelos professores, simulando desta forma o papel de bancário. Todas

as transações bancárias são resumidas num extrato bancário. A Figura 4 mostra um

exemplo de um extrato bancário onde é possível visualizar algumas operações

bancárias realizadas ao longo do tempo de simulação. Com os extrato bancário os

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alunos podem proceder à conciliação bancária (manualmente ou através do sistema

ERP).

Figura 4. Extrato bancário do EnterpriseSimulatorAo longo da vida económica da

empresa as empresas simuladas devem cumprir com as suas obrigações fiscais

como, por exemplo, entregar a declaração periódica de IVA.A Figura 5 mostra esta

declaração no EnterpriseSimulator. De notar a semelhança com a aplicação oficial de

entrega das declarações periódicas.

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Figura 5. Simulador de IVA do Enterprise Simulator

Ao longo do período letivo poderão ocorrer lapsos involuntários por parte dos alunos

nas operações comerciais, bancárias ou fiscais.Tais lapsos poderão ser regularizados

pelo professor na sua área de administração.

No final do período letivo o professor vai analisar todo o trabalho desenvolvido pelo

grupo de trabalho (empresa simulada).O EnterpriseSimulator disponibiliza um relatório

final de toda a simulação. A Figura 6 mostra um exemplo desse relatório final.

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Figura 6. Relatório final das operações efetuadas pela empresa

O relatório final (resultado da simulação) consiste numa lista onde figuram todas as

transaçõesefetuadas por uma determinada empresa. Com ele o professor fica com

mais um elemento para proceder à avaliação dos documentos presentes na pasta

arquivador.

Experimentação

O simulador Enterprise Simulator conta atualmente com um período de utilização de

aproximadamente três anos letivos nas UCs de SE do ISCAC. O EnterpriseSimulator

já foi utilizado por cerca de 300 alunosdo último ano das licenciaturas de Contabilidade

e Auditoria e Gestão de Empresas do ISCAC.

Ao longo destes três anos, os alunos juntamente com os professores foram

participando ativamente na inserção e atualizaçãodos dados de fornecedores e

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respetivos produtos (p. ex., nomes, moradas, preços, taxas de IVA, etc.).Atualmentea

base de dados do EnterpriseSimulatorconta com, aproximadamente,60 empresas,180

fornecedores,2.200 produtos,60 declarações entregues,1.500 transaçõescomerciaise

mais de 4.000 transações bancárias.

No final de cada ano letivo existe a preocupação de auscultar a opinião dos alunos e

professores relativamente à experiência de utilização do EntepriseSimulator, por forma

a fazer um levantamento dos aspetos menos positivos da sua utilização. Em todos

estes momentos de avaliação da utilização do Enterprise Simulatorfoi interessante

perceber a motivação de todos os utilizadores, solicitando sempre a adição de novas

funcionalidades e atualizaçãode algumasjá existentes, no sentido de aumentar o

realismo das simulações. Dos inúmeros pedidos realizados pelos alunos/professores

na última avaliação, foram apontados como objetivos de trabalho futuro a possibilidade

das empresas simuladas contraírem empréstimos (para assim os alunos

compreenderem o processo de contratação de empréstimos) e a simulação de mais

ferramentas de e-government, nomeadamente a entrega das declarações à

Segurança Social e a simulação do envio da Modelo 10 (IRS).

Globalmente, os professores e alunosconsideram o EnterpriseSimulator como

umaferramentapedagógicainteressante, que contribui para melhorar a motivação e

interessepor parte dosalunos.

Conclusão

De acordo com aPricewaterhouseCoopers(PWC 2003)e a Accounting Education

Change Commission(AECC 1990)há umanecessidade crescente deferramentas

inovadorasno ensino dacontabilidade e gestão de forma a combater a apatia dos

alunos.O ensino deve orientar-se para a aprendizagem dos alunos, com o intuito de

contribuir para a sociedade do conhecimento e de formar profissionais para o mercado

de trabalho, tendo em conta as necessidades de inovação, polivalência, adaptação,

colaboração e formação ao longo da vida.

As UCs de SE assumem-se como uma interface entre o meio académico e o meio

profissional, num ambiente de simulação que pretende utilizar diferentes áreas de

trabalho na promoção de uma perspetiva multidisciplinar, imprescindível para atingir

um ensino de excelência e, fundamental para a obtenção de competências pelos

alunos.

Nestas UCs são criadas empresas simuladase posteriormente geradas transações

comerciaismais tarde registadas no sistemaERP.Masessas operaçõessão apenasuma

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pequena partedo mundo dos negócios.A fim depreencher esta lacuna, surgiu a ideia

doEnterprise Simulator(www.enterprisesimulator.com), quetem como objetivo permitir

simularoperaçõescomerciais externas, financeirase fiscais, a fim de permitir aos alunos

por em prática os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo das licenciaturas de

contabilidade e gestão.

Ao longo de três anos o projeto foi crescendo em funcionalidades e em dados

aproximados à realidade (p. ex. dados de fornecedores e respectivos produtos), sendo

indicado pelos professores e alunos do ISCAC como uma ferramenta pedagógica

interessante no ensino da contabilidade.

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