simulação de incêndio com o fire dynamic simulator (fds)

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CENTRO UNIVERSITÁRIO EUROAMERICANO – UNIEURO PRÓ-REITORIA E PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PERÍCIA DE INCÊNDIO E PRODUÇÃO DE PROVAS JUDICIAIS LEANDRO MAGALHÃES MARIANI SIMULAÇÃO DE INCÊNDIO UTILIZANDO A FERRAMENTA COMPUTACIONAL FIRE DYNAMIC SIMULATOR: Teste da Hipótese de Incêndio Urbano Ocorrido em Samambaia-DF Brasília, Setembro/2009

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Curso de Especialização em Perícia de Incêndio e Produção de Provas Judiciais. LEANDRO MAGALHÃES MARIANI. Simulação de Incêndio Utilizando a Ferramenta Computacional Fire Dynamic Simulator: Teste da Hipótese de Incêndio Urbano Ocorrido em Samambaia-DF

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Page 1: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

CENTRO UNIVERSITÁRIO EUROAMERICANO – UNIEURO

PRÓ-REITORIA E PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PERÍCIA DE INCÊNDIO E PRODUÇÃO DE

PROVAS JUDICIAIS

LEANDRO MAGALHÃES MARIANI

SIMULAÇÃO DE INCÊNDIO UTILIZANDO A FERRAMENTA COMPUTACIONAL

FIRE DYNAMIC SIMULATOR:

Teste da Hipótese de Incêndio Urbano Ocorrido em Samambaia-DF

Brasília, Setembro/2009

Page 2: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

ii

LEANDRO MAGALHÃES MARIANI

SIMULAÇÃO DE INCÊNDIO UTILIZANDO A FERRAMENTA COMPUTACIONAL

FIRE DYNAMIC SIMULATOR:

Teste da Hipótese de Incêndio Urbano Ocorrido em Samambaia-DF

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como

pré-requisito parcial para a conclusão do curso de

Especialização em Perícia de Incêndio e Produção de

Provas Judiciais do Centro Universitário

Euroamericano – Unieuro.

Orientador: Prof. Luiz Carlos da Silva Pereira

Brasília, Setembro/2009

Page 3: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)
Page 4: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

iii

LEANDRO MAGALHÃES MARIANI

SIMULAÇÃO DE INCÊNDIO UTILIZANDO A FERRAMENTA COMPUTACIONAL

FIRE DYNAMIC SIMULATOR:

Teste da Hipótese de Incêndio Urbano Ocorrido em Samambaia-DF

Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do

grau de Especialista em Perícia de Incêndio e

Produção de Provas Periciais e aprovada em sua

forma final pelo curso de Pós-graduação Lato Sensu

em Perícia de Incêndio e Produção de Provas

Judiciais do Centro Universitário UNIEURO.

Data de aprovação:

Banca examinadora _________________________________________ Prof. Luiz Carlos da Silva Pereira – Orientador Centro Universitário UNIEURO _________________________________________ Coordenação Centro Universitário UNIEURO

Page 5: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

iv

Dedico este trabalho a minha família

que sempre está ao meu lado nas minhas

conquistas e nos momentos difíceis.

Page 6: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

v

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, nosso Criador e Mestre de todas as nossas decisões.

Ao Professor Luiz Carlos da Silva Pereira pelas orientações indispensáveis para a

produção e conclusão do meu trabalho.

Ao Msc. André Telles Campos por compartilhar sua inteligência, conhecimento e

dinamismo de maneira altruísta e sempre disponível.

Ao 1º Tenente QOBM/Comb. Rissel Francisco C. Cardock Valdez, perito de incêndio

do CBMDF, por estar sempre disposto a discutir as idéias relacionadas ao trabalho e

disponibilizar as informações e instrumentos necessários para o desenvolvimento do estudo.

Aos amigos Gabriel Motta de Carvalho e Rodrigo de Almeida Freitas pelas constantes

idéias compartilhadas e pelo apoio na busca e produção do conhecimento necessário para a

pesquisa.

À Msc. Maria de Fatima Magalhães Mariani, minha querida mãe, pelo constante apoio

ao meu desenvolvimento intelectual e pelo tempo demandado na disposição de orientações

metodológicas inerentes a produção desta monografia.

Finalmente, agradeço à Dulce Helen Lim, minha querida esposa, e aos meus filhos,

Bruna Lim Mariani e Daniel Lim Mariani, pelo apoio e compreensão. Todos sacrificaram o

meu tempo que lhes eram destinados na contrapartida da conclusão deste trabalho.

Page 7: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

vi

“O homem moderno não combate as

calamidades com a humildade; descobriu

que elas devem ser combatidas com os

conhecimentos científicos.”

Bertrand Russell

Page 8: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

vii

RESUMO

O presente trabalho realizou um estudo de caso da simulação do incêndio ocorrido em

dezembro de 2008 numa residência em Samambaia-DF utilizando o aplicativo computacional

Fire Dynamic Simulator. Estudos anteriores apontaram a eficiência do aplicativo em

simulação de incêndio e teste de hipóteses de incêndio. A simulação de incêndios é ferramenta

difundida na perícia de incêndio e proporciona maiores possibilidades de análise do

comportamento do incêndio e de suas possíveis causas. O aplicativo Fire Dynamic Simulator

dispõe de possibilidades de cálculos de diversos parâmetros inerentes ao incêndio e

interessantes para a perícia. Um fator importante da simulação é a visualização dos resultados

em formato gráfico facilitando a análise das hipóteses. Neste estudo, foi realizada uma

comparação da situação simulada com os vestígios produzidos pelo incêndio de forma que foi

possível verificar a operacionalidade do uso do aplicativo na perícia de incêndio e sua

capacidade de desenvolver subsídios para a produção do laudo pericial.

Palavras chaves: incêndio, simulação, computacional, perícia, hipótese.

Page 9: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

viii

ABSTRACT

The present study was based in a case study of simulation of fire occurred in

December 2008 in a residence on Samambaia-DF using the computer application Fire

Dynamic Simulator. Previous studies showed the efficiency of the application in simulation of

fire and testing of fire hypothesis. The simulation of fire is widespread tool in the fire

investigation and provides greater scope for analysis of the fire behavior and its possible

causes. The Fire Dynamic Simulator application disposes plenty of calculations of various

parameters of the fire, a lot of them interesting for investigation. An important factor in the

simulation is the visualization of results in graphical format facilitating the analysis of the

hypotheses. In this study, was performed a comparison of the simulated simulation with the

traces produced by the real fire; therefore, it was possible to verify the operability of the

application usage on the fire investigation and its ability to develop subsidies for the

production of the investigation technical report.

Keywords: fire, simulation, computational, investigation, hypothesis.

Page 10: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura Página

Figura 2.1 Triângulo do fogo (CBMDF, 2008) ..........................................................................5

Figura 2.2 Diagrama ilustrando os arquivos usados e criados pelo FDS, Smokezip e

Smokeview (FORNEY, 2008) ..................................................................................................20

Figura 3.1 Croqui do local do incêndio (ROCHA; VALDEZ, 2008).......................................22

Figura 3.2 Sofá de dois lugares, material incendiado (ROCHA; VALDEZ, 2008)..................23

Figura 3.3 Marca de combustão do sofá na parede de madeirite (ROCHA; VALDEZ, 2008) 24

Figura 3.4 Simulação em T=0 do cenário virtual criado pelo FDS..........................................32

Figura 4.1 Simulação em T=0s.................................................................................................35

Figura 4.2 Simulação em T=120s.............................................................................................35

Figura 4.3 Simulação em T=240s.............................................................................................36

Figura 4.4 Simulação em T=360s.............................................................................................36

Figura 4.5 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s ..........................................................37

Figura 4.6 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s e carbonização .................................38

Figura 4.7 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s e carbonização .................................38

Figura 4.8 Temperatura dos sólidos e carbonização em T=372 ..............................................39

Figura 4.9 Temperatura dos sólidos e carbonização em T=444s.............................................40

Figura 4.10 Temperatura da fase gasosa no plano x=1,5m em T=360s ...................................41

Figura 4.11 Temperatura da fase gasosa no plano y=3,5m em T=360s....................................41

Page 11: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

x

LISTA DE TABELAS

Tabela Página

Tabela 1 - Estimativa da temperatura de algumas fontes de calor..............................................5

Page 12: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

xi

LISTA DE ABREVIATURAS, NOMENCLATURAS, ABREVIATURAS E SIGLAS

CBMDF Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal

CONFEA Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura

DF Distrito Federal

FDS Fire Dynamic Simulator

INPE Intituto Nacional de Pesquisas Espaciais

GD Graphics Draw

GLUT OpenGL Utility Toolkit

JPEG Joint Photografic Experts Group

LAP Laboratório Associado de Plasma

NIST National Institute of Standards and Technology

PNG Portable Network Graphics

SMV Smoke View

Page 13: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

xii

LISTA DE SÍMBOLOS

CO – Monóxido de carbono;

CO2 – Dióxido de carbono;

GHz – Gigahertz;

h – Hora;

J/kg – Joule por quilograma;

kg/m3 – Quilograma por metro cúbico;

kJ/kg/K – Quilojoule por quilograma por Kelvin;

kW/m2 – Quilowatt por metro quadrado;

m – Metro;

min – Minuto; oC – Graus Celsius;

O2 – Oxigênio;

s – Segundo;

T – Intervalo de tempo (s);

W/m/K – Watt por metro por Kelvin.

Page 14: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

xiii

SUMÁRIO

Título Página

1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................1

1.1 Definição do problema ...................................................................................................2

1.2 Objetivos.........................................................................................................................2

1.2.1 Objetivo geral .................................................................................................................2

1.2.2 Objetivos específicos ......................................................................................................2

1.3 Estrutura do trabalho.......................................................................................................2

2 REFERENCIAL TEÓRICO ...........................................................................................4

2.1 Incêndio ..........................................................................................................................4

2.2 Perícia de incêndio..........................................................................................................7

2.3 Perito de incêndio ...........................................................................................................9

2.4 Laudo pericial ...............................................................................................................10

2.5 Modelagem de Incêndios ..............................................................................................12

2.6 Aplicativo FDS .............................................................................................................13

2.6.1 Funcionalidade do FDS ................................................................................................13

2.6.2 Modelos utilizados pelo FDS........................................................................................14

2.6.3 Dados de entrada...........................................................................................................15

2.6.4 Dados de saída ..............................................................................................................16

2.6.5 Smokeview.....................................................................................................................18

3 METODOLOGIA.........................................................................................................21

3.1 Descrição do Caso em Estudo ......................................................................................21

3.1.1 Foco inicial ...................................................................................................................21

Page 15: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

xiv

3.1.2 Forma de surgimento do incêndio ................................................................................22

3.1.3 Forma de propagação do incêndio ................................................................................23

3.1.4 Análise final e conclusão ..............................................................................................24

3.2 Descrição do Método Utilizado ....................................................................................25

3.2.1 Informações gerais........................................................................................................25

3.2.2 Dados de entrada...........................................................................................................26

3.2.3 Dados de saída ..............................................................................................................31

3.2.4 Simulação .....................................................................................................................32

4 RESULTADOS .............................................................................................................34

5 CONCLUSÃO..............................................................................................................42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................44

APÊNDICE ..............................................................................................................................47

APÊNDICE A - Código-fonte do arquivo de entrada para o FDS ...........................................48

Page 16: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

1

1 INTRODUÇÃO

A investigação das causas de um incêndio está intrinsecamente relacionada a métodos

científicos de coleta e análise dos dados. As hipóteses definidas em um laudo pericial se

baseiam, principalmente, na observação empírica do perito de incêndio e em seus

conhecimentos científicos adquiridos em sua capacitação.

Nas mais diversas áreas, as pesquisas científicas são instrumentalizadas com

ferramentas computacionais. A velocidade do processamento de informações destas

ferramentas contribui substituindo o esforço humano no uso de métodos mecânicos e

repetitivos. Desta forma, a ocupação do pesquisador se maximiza para um uso maior de sua

capacidade cognitiva, o que traz benefícios extremos para a pesquisa.

A inserção da simulação computacional na perícia de incêndio traria diversas

possibilidades de dados complementares à fundamentação do laudo pericial. Além de

facilidades como o cálculo de variáveis puramente técnicas, cito como possibilidade principal

a reprodução gráfica simulada do incêndio, uma complementação que facilitaria o

entendimento do laudo pericial.

Para atingir o objetivo necessário da simulação de um incêndio, o aplicativo Fire

Dynamic Simulator já foi utilizado em pesquisas anteriores e possui as ferramentas

pertinentes às informações necessárias para um laudo pericial.

Estudos anteriores apontam a eficiência do aplicativo Fire Dynamic Simulator no teste

de hipóteses de incêndio. Neste estudo, será verificada a operacionalidade desta ferramenta

computacional na aplicação do método em uma situação real.

A hipótese sugerida no laudo pericial do incêndio escolhido para o estudo será

simulada aplicando as ferramentas do aplicativo Fire Dynamic Simulator e depois serão

descritas considerações sobre os resultados.

Page 17: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

2

1.1 Definição do problema

Para a utilização do aplicativo Fire Dynamic Simulator para a perícia de incêndio

deve-se verificar sua efetiva adequação às situações reais. Desta forma, o problema foi

definido como citado a seguir.

É efetiva a simulação de um incêndio real utilizando o aplicativo FIRE

DYNAMIC SIMULATOR considerando a hipótese admitida no laudo pericial?

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

Apresentar os resultados da simulação de um incêndio real utilizando a ferramenta

computacional Fire Dynamic Simulator e apresentar as informações pertinentes para a perícia

de incêndio.

1.2.2 Objetivos específicos

• Descrever o método para a simulação do incêndio com o aplicativo Fire

Dynamic Simulator;

• Utilizando o Fire Dynamic Simulator, simular o incêndio ocorrido em

18/12/2008 na residência localizada na QR 211 Conjunto 02 Casa 12,

Samambaia-DF;

• Verificar a operacionalidade do uso do aplicativo na perícia de incêndio e sua

capacidade de desenvolver subsídios para a produção do laudo pericial.

1.3 Estrutura do trabalho

Após uma breve introdução do estudo, este trabalho será estruturado em quatro

capítulos com os seguintes tópicos principais:

Page 18: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

3

• Referencial teórico: neste capítulo serão explanados os conceitos relacionados

à perícia de incêndio, modelagem de incêndios e ao método utilizado pelo

aplicativo Fire Dynamic Simulator;

• Metodologia: neste capítulo serão descritos a situação escolhida para o estudo e

o método utilizado para a simulação do incêndio;

• Resultados: compreende neste capítulo a exposição dos resultados encontrados

na pesquisa;

• Conclusão: neste capítulo serão expostas as conclusões do estudo de caso.

Page 19: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

4

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Incêndio

Dezaneti (2009) define fogo como uma forma no estado de plasma1 que emite ondas

eletromagnéticas na freqüência de energia térmica. O fogo possui forma, temperatura e

concentração de espécies iônicas para cada nível de energia que emite.

Para atingir o estado de fogo, a partir de dois reagentes deve-se ocorrer uma reação de

oxidação e redução. Nesta reação, o reagente redutor é definido como combustível e o

reagente oxidante como comburente. (PEREIRA, 2009)

Esta reação é denominada combustão e para iniciá-la é necessária uma energia de

ativação, normalmente uma fonte de calor (Tabela 1). Após o início, a energia liberada inicia

uma nova combustão entre os reagentes, assim como ocorre em todas as reações

subseqüentes. Esta dinâmica é definida como reação em cadeia, responsável por sustentar as

reações de combustão e prover um período de existência para o fogo. (CBMDF, 2006)

Os elementos essenciais para o fogo, ou seja, combustível, comburente, energia de

ativação e reação em cadeia podem ser representados de uma forma pedagógica no triângulo

do fogo (Figura 2.1). Esta representação permite afirmar que se algum lado do triângulo for

retirado o fogo não será possível.

1 Estado da matéria no qual os átomos estão completamente dissociados em núcleos e em elétrons.

(LAP/INPE, 2009)

Page 20: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

5

Tabela 1 - Estimativa da temperatura de algumas fontes de calor

Fonte: Tactical Firefghting, Paul Grimwood, modificada por CBMDF (2006)

Figura 2.1 Triângulo do fogo (CBMDF, 2008)

Page 21: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

6

A principal característica do fogo é a sua chama, que é o formato visual do fogo que o

ser humano pode distinguir produzido pela energia luminosa emitida. Outra característica do

fogo é a fumaça, um produto da combustão formado por resíduos mais leves que o ar.

(DEHANN, 2007)

O Manual Básico de Combate a Incêndio do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito

Federal (2006) define incêndio como o fogo não controlado pelo homem que, com a ação das

chamas, do calor e da fumaça pode destruir patrimônio e vidas.

O incêndio se inicia a partir da ignição de algum material. Ignição é definida como o

início do processo onde a combustão é auto-sustentada, ou o início da reação em cadeia. A

quantidade de energia necessária mensurada na forma de temperatura para iniciar a ignição de

um material é denominada ponto de ignição. Cada material possui ponto de ignição específico

o que é relacionado às suas propriedades de densidade, capacidade térmica e condutividade

térmica. (DEHANN, 2007)

A fonte de calor necessária para a combustão e para a ignição sempre é proveniente de

algum material aquecido, reação química, chama ou corrente elétrica. Desta forma, a causa do

incêndio está relacionada à fonte de calor que proveu energia inicial para a ignição.

(DEHANN, 2007)

Dehann (2007) cita como fontes primárias de calor as mais comumente encontradas

em causas de incêndio: fósforos, acendedores, isqueiros e velas. Como fontes secundárias, o

autor cita: faíscas, objetos ou superfícies quentes, fricção, radiação e reação química.

As fontes acima podem ser relacionadas a quatro hipóteses fundamentais de causas de

incêndio: fenômeno termo-elétrico, combustão espontânea, fenômenos naturais ou

intervenção humana. (PEREIRA, 2008)

O estudo das hipóteses e a investigação da possível causa do incêndio são analisados

na perícia do incêndio.

Page 22: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

7

2.2 Perícia de incêndio

Buscando a origem da palavra, perícia, do latim, peritia, significa habilidade, saber.

Segundo a Resolução nº 345/1990-CONFEA, perícia é a atividade que envolve a apuração

das causas que motivaram determinado evento ou da asserção de direitos.

No campo forense, a perícia se destaca como a atividade capaz de traduzir a natureza

técnica das provas de um fato litigioso para uma linguagem palpável às autoridades jurídicas e

aos interessados, de forma a expor a verdade dos acontecimentos tornando a justiça possível.

Depreende-se do Código de Processo Penal brasileiro que as conclusões do laudo pericial

possuem validade de prova judicial no âmbito jurídico brasileiro.

Qualquer campo de domínio do saber está sujeito a análise pericial. As mais diversas

áreas de conhecimento exigem a intromissão da perícia, desde a medicina até as artes

plásticas, e, da mesma forma, os incêndios.

Desta forma, perícia de incêndio é uma ciência forense que investiga as causas de um

incêndio com o intuito de buscar a verdade. Tal como as demais áreas de perícia, há uma

estreita relação entra a perícia de incêndio e os princípios científicos. (LENTINI, 2006)

Lentini (2006) afirma que, por ser uma ciência, a perícia de incêndio pode ser

realizada adotando-se o método científico. Os fatores que caracterizam o incêndio como, por

exemplo, o combustível, o comburente e o agente ígneo, devem ser estudados isoladamente

pelo perito. O perito ainda deverá definir hipóteses sobre como ocorreu o incêndio e, a partir

dos materiais e informações colhidas, realizar testes.

O método científico para a perícia de incêndio se configura como uma seqüência de

passos que devem ser seguidos para uma organização do processo científico e o alcance

satisfatório do objetivo final. Esta seqüência é próxima da metodologia aplicada na perícia de

incêndio antes da inserção do método científico (DEHANN, 2007):

1. Observar o evento - no caso, o cenário do incêndio;

2. Definir o problema – normalmente a causa do incêndio;

3. Coletar dados – entrevistas, fotos ou vídeos do incêndio;

4. Formular hipóteses;

Page 23: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

8

5. Testar as hipóteses e buscar novas informações, inclusive hipóteses

alternativas;

6. Revisar as hipóteses que necessitem serem ajustadas as informações

disponíveis;

7. Alcançar uma hipótese final e rever novamente todos os dados, de forma a

assegurar que as demais hipóteses possam ser excluídas;

8. Produzir uma conclusão final, com todas as explicações possíveis baseadas nas

informações disponíveis.

As hipóteses são relacionadas às causas do incêndio. Braga & Landim (2008) citam os

fenômenos termoelétricos, os fenômenos naturais e os fenômenos químicos. Os autores

subdividem as causas de intervenção humana em ação pessoal intencional, ação pessoal

acidental e ação pessoal indeterminada.

Braga & Landim (2008) considera também causas de incêndio as de origem acidental

e as relacionadas à ação de criança. Há situações onde não há elementos suficientes para

sustentar uma causa específica, são os casos das causas descritas como não apuradas. Abaixo

a descrição das principais causas citadas pelos autores:

• Fenômeno termoelétrico – causa de conseqüência do mau funcionamento da corrente

elétrica, tal como o curto-circuito e a sobrecarga da rede elétrica.

• Fenômeno natural – causa relacionada aos comportamentos da natureza ou anomalias

da edificação. Exemplos: descarga elétrica por raio, vendaval, terremoto.

• Fenômeno químico – causa intrínseca às combinações de substâncias químicas que

produzem reações com liberação de calor. É o caso das reações espontâneas.

• Origem acidental – possíveis defeitos de funcionamento de equipamentos que podem,

acidentalmente, gerar uma fonte de calor.

• Ação pessoal intencional – causa provocada pela ação humana com intenção de causar

o incêndio. Também conhecido como incêndio criminoso. Normalmente relacionado a

incêndios que envolvem ressarcimento do prejuízo por meio de seguro.

• Ação pessoal acidental - causa provocada pela ação humana sem intenção de causar o

Page 24: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

9

incêndio. São exemplos: velas esquecidas acesas, cigarros mal apagados.

• Ação pessoal indeterminada - causa provocada pela ação humana, porém sem

elementos suficientes que possam comprovar que a ação foi intencional.

2.3 Perito de incêndio

O perito é o profissional responsável por analisar fatos juridicamente relevantes ao

contexto em litígio e descrever as informações conclusivas em um laudo. Nomeado pelo juiz,

o perito deve ser uma pessoa qualificada tecnicamente para desenvolver a perícia específica

da sua área de domínio. O profissional responsável por desenvolver a perícia de incêndio é

denominado perito de incêndio. (PIRES, 2008)

Conforme o Código de Processo Penal, o perito possui prazo estabelecido para entrega

do laudo e deve se responsabilizar a fornecer informações verídicas sob pena de sanções

administrativas, penais e civis. A qualificação é requisito indispensável para o perito, pois a

perícia produzirá provas judiciais que poderão decidir o rumo jurídico de vidas.

O perito é o profissional habilitado não apenas para perícias judiciais, mas também

para atividades periciais em geral. Muitas pessoas e instituições privadas recorrem aos

serviços do perito para sanarem dúvidas sobre algum assunto que não possuem domínio.

Contudo, o perito de incêndio deve procurar identificar os interessados pelos

resultados da perícia de incêndio. Como já exposto acima, o sistema jurídico é um dos

principais interessados, porém, não menos importantes, existem outros inclusos no contexto.

O primeiro interessado é o próprio perito, uma vez que suas habilidades dependem de

seu interesse pela ciência e pela absorção de conhecimentos específicos à perícia de incêndio.

O perito deve procurar manter-se atualizado sobre o estado da arte e possuir acesso as

novidades científicas do seu campo de atuação. (LENTINI, 2006)

Outro interessado é a empresa para o qual o perito trabalha que pode ser o próprio

governo ou uma instituição privada. A competência aliada à qualidade dos trabalhos

realizados pelo perito reflete para o público os adjetivos da instituição de que faz parte.

(LENTINI, 2006)

Page 25: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

10

Os clientes, as partes responsáveis pelos pedidos de perícia, também são importantes

interessados pelo processo. Talvez, sem eles, o profissional de perícia nem existiria. O perito

de incêndio deve atentar que uma perícia não pode ser direcionada para divulgar apenas o que

os clientes desejam ouvir, mas sim para a busca da verdade. (LENTINI, 2006)

Por fim, Lentini (2006) cita a sociedade como uma das principais interessadas pelos

resultados da perícia de incêndio. As conclusões divulgadas pelo perito não só desvendam os

acontecimentos de um incêndio, como também estabelece fatores que podem ser utilizados

para a prevenção de futuras ameaças. A descoberta de um equipamento inseguro que acarrete

sua retirada do mercado e o auxílio no julgamento de um incendiário criminoso são atitudes

que beneficiam toda a sociedade.

2.4 Laudo pericial

Segundo a Resolução nº 345/1990-CONFEA, laudo é a peça na qual o perito,

profissional habilitado, relata o que observou e dá suas conclusões ou avalia o valor de coisas

ou direitos fundamentadamente.

Pereira (2008) subdivide o laudo pericial de incêndio conforme o exposto a seguir,

respeitando-se a ordem que devem ser descritos no laudo produzido. Na confecção do laudo,

o perito deve atentar para a necessidade de registro fotográfico da situação e do trabalho

desenvolvido, sempre considerando que o resultado da perícia produzirá provas judiciais:

1. Espelho: local de descrição de dados específicos da perícia. Deve conter informações

relativas à ocorrência do evento, tipo do evento, local com referências geográficas,

data e hora da ocorrência, data e hora dos exames in loco realizados pelos peritos,

condições climáticas na hora da ocorrência do evento, interessados, dados do perito

responsável pela execução da análise, entre outras informações pertinentes. A visita

dos peritos ao local da ocorrência para realização dos exames deve ser acompanhada

das partes interessadas.

2. Qualificação: espaço destinado para a descrição dos dados pessoais dos interessados

pela ocorrência e das testemunhas do evento. O perito deve atentar para a correta

qualificação de cada indivíduo, coletando dados específicos e individuais de cada um,

Page 26: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

11

de forma a evitar confusões por uma possível duplicidade de informações.

3. Histórico da ocorrência: espaço reservado para a narrativa das testemunhas e dos

interessados sobre informações da ocorrência conforme ponto de vista específico de

cada um. O perito, através desta narrativa, pode detectar erros e exageros com relação

ao evento.

4. Histórico do sinistro: espaço destinado para a descrição técnica do perito sobre o

cenário do incêndio. Deve conter principalmente as seguintes informações: a visão

periférica externa ao incêndio; a descrição métrica do cenário do incêndio e do bem

sinistrado, bem como as suas características e composições físicas; a zona de origem

do incêndio e; os danos ocorridos por ocasião do sinistro.

5. Exames realizados: neste item serão informados todos os exames realizados para a

determinação do foco inicial, a forma de surgimento e a propagação do incêndio.

Deverá ser descrito todos os materiais colhidos no local e os exames que serão

realizados neles. Durante a descrição, o perito deverá atentar para a ordem cronológica

dos exames realizados no local para evitar dúvidas quanto da realização dos trabalhos.

6. Confronto de informações: as informações prestadas pelos interessados e testemunhas

serão confrontadas em todos os aspectos neste item. Para isto, o perito deverá utilizar,

inclusive, as informações geradas pelos seus exames no local do ocorrido e nas

amostras colhidas.

7. Análise final: neste item o investigador descreverá uma síntese do acontecido. O texto

deverá ser claro quanto aos indicativos que antecederam o surgimento do fogo, a

eclosão e a propagação do incêndio. Um método eficiente e bastante utilizado para

esta análise é o método de separação sintética numérica, ou seja, as hipóteses são

eliminadas no decorrer do processo permanecendo apenas a hipótese mais provável.

8. Conclusão: espaço destinado para as informações conclusivas da perícia. O perito

deverá ser claro e objetivo na exposição de suas conclusões se atendo apenas a

descrições sobre a causa do incêndio.

Page 27: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

12

2.5 Modelagem de Incêndios

Durante o incêndio, os processos físicos e químicos acontecem de forma simultânea.

Enquanto a energia está sendo liberada pelo combustível queimado, a temperatura do

ambiente cresce, gases são expelidos, reações químicas das mais diversas modificam as

propriedades dos materiais. (LENTINI, 2006)

Os modelos de incêndio trazem uma tentativa de simular as mudanças que estes

processos sofrem no decorrer do tempo. As descrições dos processos são geradas a partir de

equações algébricas utilizando-se métodos numéricos. (LENTINI, 2006)

Inicialmente, os modelos de incêndio eram usados apenas na área de engenharia

relacionada à proteção de incêndio. Há registros do uso dos modelos de incêndio desde a 2ª

Guerra Mundial. Países como Estados Unidos, Reino Unido e Japão iniciaram seus estudos do

fogo a partir de modelos neste período. (LENTINI, 2006)

A evolução da complexidade dos modelos de incêndio inseriu no processo o uso dos

computadores para aumentar a velocidade dos cálculos e diminuir os erros. Com o avanço da

tecnologia e da velocidade de processamento dos computadores, atualmente os modelos

computacionais utilizados permitem a análise de uma infinidade de processos de alta

complexidade. (LENTINI, 2006)

A utilização de modelagem de incêndio na perícia de incêndio é muito comum, porém

como ferramenta de teste de hipóteses. Existem vários aplicativos computacionais

desenvolvidos para este fim. Porém, o perito deve estar consciente que os resultados

apresentados pelo programa serão satisfatórios às informações de entrada lançadas.

(LENTINI, 2006)

A aproximação da realidade do incêndio a partir da modelagem de incêndio dos

programas atuais está relacionada à quantidade de dados reais inseridos nos dados de entrada

do aplicativo e à qualidade desses dados. Sendo que, tais dados são inseridos pelo próprio

perito, conforme a sua percepção da análise da realidade do cenário. (LENTINI, 2006)

A eficiência ou não da modelagem de incêndio está atrelada então à qualidade da

perícia realizada, não havendo modelos que descubram as causas do incêndio por si só. Desta

forma, o perito, ao decidir pela utilização da modelagem, estará ciente que deverá colher

Page 28: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

13

informações do cenário do incêndio em quantidade maior que o normal, para que o resultado

apresentado se aproxime da realidade. (DEHANN, 2007; LENTINI, 2006)

Putaansu (2004) cita a importância das anotações do perito no local do incêndio, pois

os detalhes necessários para os dados de entrada do programa de modelação podem não ser

encontrados nas fotos e vídeos.

O aplicativo FDS é citado por Dehann (2007) e Lentini (2006) como programa

popularmente utilizado para o teste de hipóteses. Estudos de Rajão (2008) e Braga & Landim

(2008) apontam o FDS como uma excelente ferramenta para a modelagem de incêndios e

teste de hipóteses. Rajão (2008) sugere a utilização do FDS na atividade de perícia de

incêndio do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal.

2.6 Aplicativo FDS

2.6.1 Funcionalidade do FDS

O Fire Dynamic Simulator (FDS), em português, “Simulador de Dinâmica do

Incêndio”, é um aplicativo computacional desenvolvido pelo NIST que simula o fluxo do

fogo e da fumaça em um incêndio. A rotina do programa foi desenvolvida baseando-se na

solução numérica de equações relacionadas ao fluxo do fogo, enfatizando o fluxo de calor

transportado pela fumaça. (MCGRATTAN et al, 2009)

As equações diferenciais relacionadas à dinâmica do fogo no incêndio são

solucionadas pelo FDS utilizando o método de diferenças finitas2 e o método de volumes

finitos3. Os dados são atualizados em tempo real e interpretados numa malha tridimensional.

O programa também possibilita a simulação da dinâmica da fumaça e os acionamentos

2 Método criado para solução numérica de equações diferenciais usando para isto uma aproximação para um sistema algébrico que possa ser numericamente resolvido com técnicas de análise numérica. (MENEZEZ & DOMINGUEZ, 2006) 3 Método evoluído do método das diferenças finitas que utiliza para a resolução de equações diferenciais um modelo baseado em grandezas físicas. (SILVA, 2008)

Page 29: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

14

dos sprinklers, sendo que, para isto são utilizadas coordenadas de Lagrange4. (MCGRATTAN

et al, 2009)

Além das ferramentas contidas no aplicativo, existem add-ons5 que podem ser

integrados ao FDS para diversas funcionalidades, como, por exemplo, o 3dsolid2fds

ferramenta criada por Johannes Dimyadi em 2008 e utilizada para exportar elementos gráficos

tridimensionais em formato CAD para o formato de entrada do FDS.

2.6.2 Modelos utilizados pelo FDS

Modelo hidrodinâmico

O FDS utiliza a solução numérica das equações de Navier-Stokes próprias para

escoamento de fluídos em baixas velocidades, considerando a condução térmica realizada

pela fumaça e pelo fogo.

Modelo de combustão

O modelo utilizado pelo FDS é o de fração de mistura. Ou seja, é definida a fração de

gás que se transforma em combustível efetivo na reação de combustão. Rangel e Büchler

(2005) citam que utilizando este método torna-se possível o cálculo de situações

intermediárias de combustão. Tais situações são características de incêndios reais, onde

ocorrem reações de combustão incompleta.

Para aplicação computacional, o método é consideravelmente eficiente, uma vez que

não é utilizado um grande número de equações, mas apenas uma equação por caso.

(RANGEL E BÜCHLER, 2005)

4 Método desenvolvido pelo matemático Joseph Louis Lagrange para determinação da trajetória da partícula de um fluido em um escoamento (www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JophLouL.html, acessado em 15/09/2009) 5 Programas (software) que ampliam os recursos de outros programas. (www.dicweb.com, acessado em 15/09/2009)

Page 30: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

15

Radiação térmica

O modelo utilizado para o cálculo é baseado no método do volume finito. O método é

eficiente para aplicação computacional, pois, apesar da complexidade dos fenômenos, é

utilizada uma capacidade mínima do computador.

Superfícies sólidas

Os materiais especificados para simulação do incêndio devem possuir informações

sobre seu comportamento de queima e condições térmicas. A transferência de calor e massa

entre as superfícies são normalmente determinadas empiricamente. No FDS, pode ser

utilizado o Direct Numerical Simulation (DNS), método que possibilita calcular esta

transferência.

Sprinklers e detectores automáticos

O FDS utiliza a correlação entre a inércia térmica e a diferença do fluxo de calor para

simular a ativação dos sistemas de sprinklers, detectores de calor e de fumaça. A simulação do

efeito da água pulverizada pelo sprinkler é calculada utilizando o modelo das equações de

Lagrange.

2.6.3 Dados de entrada

Para a simulação, são necessários dados de entrada, que são parâmetros inseridos pelo

usuário e interpretados pelo FDS para a construção do cenário e das propriedades físico-

químicas dos materiais analisados. (MCGRATTAN et al, 2009)

Todos estes parâmetros devem ser descritos pelo usuário num arquivo de texto. As

informações inseridas dizem respeito aos limites físicos do cenário, ao número de células da

área física virtual, as propriedades dos materiais, as condições de combustão, as condições do

ambiente, a geometria das construções e as informações de saída. (MCGRATTAN et al, 2009)

A área física virtual, que o autor cita como grade numérica, consiste na divisão do

Page 31: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

16

cenário físico em diversas células tridimensionais de igual dimensão. Os objetos e

construções inseridos no arquivo de entrada são descritos na forma de blocos retangulares

tridimensionais e devem possuir tamanho mínimo de uma célula, sob o risco de não serem

interpretados corretamente pelo aplicativo. (MCGRATTAN et al, 2009)

Os materiais dos objetos e das construções são especificados considerando os diversos

parâmetros relacionados às suas propriedades físico-químicas. Rajão (2008) cita os principais,

além dos citados por Mcgrattan et al (2009), conforme descrevo a seguir com suas respectivas

unidades de medida:

• Condutividade térmica (W/m/K);

• Calor específico (kJ/kg/K);

• Densidade (kg/m3);

• Espessura do perfil das estruturas ou da camada de sólido que compõem um

objeto composto (m);

• Temperatura de referência (Cº);

• Calor de reação (J/kg);

• Calor de combustão (J/kg).

Mcgrattan et al (2009) cita que as propriedades dos materiais tais como condutividade

térmica, calor específico e espessura do perfil podem ser encontradas nos manuais dos

fabricantes e em livros relacionados ao assunto. Já as informações dos materiais sobre o

comportamento da queima sob diferentes fluxos de calor já são bem mais específicas, porém

ainda assim é possível encontrar literatura relacionada a este assunto.

2.6.4 Dados de saída

Os dados de saída do FDS podem ser gerados sob vários formatos. Usualmente são

gerados arquivos de texto, onde os dados são separados por vírgulas (extensão CSV), arquivo

facilmente visualizável em qualquer editor de planilha ou texto. (MCGRATTAN et al, 2009)

Outra forma de saída de dados é a visualização gráfica, sendo que, para isto, o

Page 32: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

17

aplicativo Smokeview, o qual faz parte do pacote de instalação do FDS, é o utilizado. O

arquivo de saída para o Smokeview possui a extensão SMV.

As informações de saída possíveis são várias. Estas informações consistem nas

variáveis calculadas pelo FDS para cada simulação. Elas devem ser solicitadas no arquivo de

entrada e cuidadosamente selecionadas, uma vez que, após o processo de simulação não há

possibilidade de solicitar novos dados. (MCGRATTAN et al, 2009)

Para cada unidade de célula, Mcgrattan et al (2009) cita a temperatura, densidade,

pressão e velocidade como variáveis calculadas pelo FDS em função do tempo de simulação.

Na superfície dos sólidos, o FDS calcula, entre outras variáveis, o fluxo de calor e

taxa de massa consumida. Considerando esta infinidade de possibilidades de dados de saída, o

usuário deve escolher cuidadosamente os dados interessantes para o seu estudo, devido

também à possíveis limitações quanto a espaço na memória física do computador, uma vez

que os arquivos de saída podem ser muito grandes. (MCGRATTAN et al, 2009)

Para a fase gasosa, Mcgrattan et al (2009) cita as seguintes variáveis calculadas pelo

FDS:

• Temperatura do gás;

• Velocidade do gás;

• Concentração de cada gás;

• Concentração de fumaça e visibilidade;

• Pressão

• Liberação de calor por unidade de volume;

• Fração de mistura;

• Densidade do gás;

• Vapor de água por unidade de volume.

Para superfícies sólidas, o FDS produz resultados associados à energia balanceada

entre a fase sólida e gasosa, tais como (MCGRATTAN et al, 2009):

Page 33: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

18

• Temperatura interna e externa;

• Fluxo de calor de radiação e convecção;

• Taxa de queima;

• Vapor de água por unidade de área.

O FDS gera ainda informações globais da simulação (MCGRATTAN et al, 2009):

• Taxa total de liberação de calor;

• Tempo de ativação dos sistemas de sprinklers e detectores automáticos;

• Fluxos e massa e energia através das aberturas ou dos sólidos.

2.6.5 Smokeview

Conforme Mcgrattan et al (2009), o Smokeview (SMV) é um aplicativo que produz

imagens e animações dos resultados gerados pelo FDS. Este programa acompanha o pacote de

instalação do FDS disponibilizado pelo NIST e produz resultados eficientes quanto a

visualização da fumaça e do fogo, conforme os dados da simulação do FDS. A animação

produzida pelo SMV é tridimensional e demonstra todo o modelo físico que o usuário inseriu

no arquivo de entrada do FDS.

O código de programação do SMV foi escrito na linguagem C, para a visualização dos

dados, e Fortran 90, para a leitura dos dados gerados pelo FDS. O SMV utiliza as bibliotecas

gráficas OpenGL e GLUT, além das bibliotecas utilizadas para captura de imagens, tais como

a GD, PNG e JPEG. (FORNEY, 2008)

É possível visualizar no SMV tanto dados dinâmicos quanto estáticos, além dos

seguintes recursos, entre outros (FORNEY, 2008):

Fumaça realística - o fogo, a fumaça e o jato dos sprinklers são demonstrados pelo

aplicativo de forma realística, sendo que a transparência da fumaça é gerada a partir da

densidade calculada pelo FDS. O fogo e o jato dos sprinklers são gerados a partir dos dados

Page 34: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

19

de densidade da água e da taxa de liberação de calor, todos calculados pelo FDS.

Contorno colorido – são contornos utilizados para visualizar informações da fase

gasosa, tais como temperatura e densidade. Podem ser utilizados para a fase sólida com

informações sobre o fluxo de radiação ou a taxa de liberação de calor. São desenhados na

forma de planos coloridos ou em escala de cinza, horizontais ou verticais, conforme a direção

das coordenadas.

Vetores de fluxo – são similares ao contorno colorido, porém indicam a direção e a

magnitude dos dados gerados.

Exploração dos dados – para aumentar as possibilidades de análise e simulação dos

dados, o usuário pode alterar a aparência da forma que informações são mostradas pelo SMV.

É possível, por exemplo, inverter a ordem das cores dos objetos do cenário ou destacar algum

dado específico. O usuário possui controle sobre o tempo da animação, de forma que pode

escolher o instante da simulação que deseja analisar.

Edição dos blocos – o SMV permite edição dos blocos inseridos no cenário, podendo

modificar sua geometria e propriedades. Podem-se criar novos blocos ou apagar blocos

existentes. O SMV realiza a edição modificando as linhas do arquivo de entrada do FDS.

Movimento da cena – o usuário possui fácil controle do recurso de movimentação do

cenário, tal como, aproximação em algum objeto ou rotação do cenário.

Blocos transparentes – o SMV torna possível modificar as cores dos blocos do cenário

podendo modificá-los para blocos transparentes, possibilitando a visualização da cena através

destes sólidos.

Passeio virtual (Tour) – recurso que simula, durante a animação, um trajeto percorrido

pelo observador dentro do cenário, sob a visão do observador. O programa disponibiliza

padrões de trajetos que podem ser modificados pelo usuário.

Compressão de dados – recurso que permite comprimir os dados em arquivos de

menor tamanho. A compressão é realizada pelo programa smokezip, o qual é executado em

modo background, deixando o SMV livre para o usuário utilizar.

A Figura 2.2 ilustra os diversos processos do pacote de aplicativos do FDS.

Page 35: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

20

Figura 2.2 Diagrama ilustrando os arquivos usados e criados pelo FDS, Smokezip e Smokeview (FORNEY,

2008)

Page 36: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

21

3 METODOLOGIA

3.1 Descrição do Caso em Estudo

A situação escolhida para o estudo foi o laudo pericial do CBMDF sobre o incêndio

ocorrido na QR 211, conjunto 02 casa 12, Samambaia-DF no dia 17 de dezembro de 2008, às

17h08min.

O laudo identificado como LAUDO DE INVESTIGAÇÃO DE INCÊNDIO EM

EDIFICAÇÕES N.º 220/2008, foi produzido pelos peritos de incêndio do CBMDF Cap

QOBM/Comb Alessandro Santos da Rocha e 1° Ten QOBM/Comb Rissel Francisco Coelho

Cardoch Valdez. Nos anexos do laudo estão contidos o croqui do local do incêndio e os

registros fotográficos.

Conforme os dados do laudo pericial, o incêndio ocorreu em um sofá de dois lugares e

ocasionou a morte de uma criança com idade de 10 anos. O exame do local foi realizado no

dia 18 de dezembro de 2008, sendo coletadas as informações como se seguem.

3.1.1 Foco inicial

O local do foco inicial do incêndio foi um sofá de dois lugares, em tecido e espuma,

com armação em madeira, localizado na sala de estar da residência, junto à parede comum a

um dos quarto (Figura 3.1).

Page 37: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

22

Figura 3.1 Croqui do local do incêndio (ROCHA; VALDEZ, 2008)

3.1.2 Forma de surgimento do incêndio

A partir dos exames, os peritos concluíram que o incêndio surgiu devido ao contato do

material combustível presente no sofá com uma chama aberta, provocada por ação pessoal

indeterminada (Figura 3.2).

Page 38: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

23

Figura 3.2 Sofá de dois lugares, material incendiado (ROCHA; VALDEZ, 2008)

3.1.3 Forma de propagação do incêndio

O incêndio propagou-se com suas chamas na direção vertical e no sentido ascendente

sobre o material combustível presente sobre o sofá de dois lugares (Figura 3.3). A fuligem da

combustão incompleta dos materiais resultante da baixa ventilação local distribuiu-se

horizontalmente basicamente na sala de estar.

Page 39: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

24

Figura 3.3 Marca de combustão do sofá na parede de madeirite (ROCHA; VALDEZ, 2008)

3.1.4 Análise final e conclusão

Após análise das informações obtidas nos exames realizados no local do sinistro, as

fotos registradas e o termo de declaração da testemunha do incêndio, todos constantes no

laudo, os peritos descartaram a hipótese de fenômeno termelétrico e a hipótese de que o

incêndio tenha sido relacionado à superfície aquecida.

Desta forma, os peritos de incêndio, considerando a confrontação harmônica e

recíproca entre as informações prestadas e as investigações procedidas, concluíram que o

incêndio foi causado por ação pessoal indeterminada, com a sub-causa de contato de chama

aberta.

Page 40: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

25

3.2 Descrição do Método Utilizado

A hipótese baseada na conclusão do Laudo nº 220/2008 – CBMDF foi simulada

utilizando o FDS, sendo que para isto, foi criado um arquivo de entrada para leitura do

aplicativo. Neste arquivo foram inseridos os dados peculiares da hipótese a ser testada e os

dados de saída desejados.

Para a inserção dos dados de entrada, foi criado um arquivo com extensão .FDS com o

nome de “laudo22008cbmdf.fds”. A inserção dos dados foi realizada utilizando o editor de

arquivos de texto Bloco de Notas (Notepad) tudo no sistema operacional Windows Vista.

A descrição da metodologia do uso do FDS é basicamente a descrição da produção do

arquivo de entrada, a partir dos parâmetros escolhidos, utilizando a sistemática da linguagem

de programação Fortran 90.

3.2.1 Informações gerais

Nas três primeiras linhas, foram inseridos comentários sobre o arquivo de entrada, de

forma a situar o usuário sobre do que se trata o arquivo. Tais comentários não interferem nos

comandos de programação, possuem função apenas informativa.

1 Monografia do Curso de Especializacao em Pericia de Incendio e Producao de Provas

Periciais

2 Pos-graduando Leandro Magalhães Mariani

3 Arquivo de entrada para teste da hipotese do Laudo numero 220/2008 – CBMDF

Na quarta linha inicia-se a linha de programação com o cabeçalho contendo a

descrição do nome dos arquivos de saída e do título da situação que será simulada.

Page 41: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

26

4 &HEAD CHID=' laudo22008cbmdf', TITLE='Simulação de incendio referente ao laudo

220/2008-CBMDF' /

Na linha cinco, foi inserido o domínio computacional o qual representa o espaço físico

real que será simulado. O parâmetro “IJK” representa o número de células em que o domínio

tridimensional descrito será dividido, sendo “I” o número de células para o eixo “x”, “J” para

o eixo “y” e “K” para o eixo “z”. As coordenadas do domínio computacional representadas

pelo parâmetro “XB”, são expressas como os pontos iniciais e finais de cada eixo de

coordenadas (x, y e z) em metros.

5 &MESH IJK=41,40,36, XB=0.0,4.1,0.0,4,0.0,3.6 /

Na linha seis, foi informado o tempo referente à simulação que será realizada,

expresso em segundos.

6 &TIME T_END=1200 /

Na sétima linha, foi inserido um comando de miscelânea, o qual informa a superfície

(SURF) padrão a ser utilizada na simulação se não for especificado o tipo de superfície, e a

temperatura ambiente do cômodo (TMPA) de 25º C.

7 &MISC SURF_DEFAULT='PAREDE', TMPA=25 /

3.2.2 Dados de entrada

A partir da oitava linha, foram inseridos os dados peculiares da situação específica que

será simulada. Os dados específicos dos materiais componentes do sofá tecido e espuma

Page 42: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

27

foram consultados na própria documentação do FDS.

Na linha oito foi especificado o tipo de superfície que será simulada como a fonte de

calor que ocasionará a ignição dos materiais. O “queimador”, do inglês, Burner, representa a

fonte de calor com sua respectiva taxa de liberação de energia por unidade de área

(HRRPUA), medida em kW/m2. O tipo de partícula que será liberada pela fonte de calor é

especificado pelo parâmetro PART_ID, que no caso é a fumaça.

O parâmetro RAMP_Q informa ao FDS que a energia do queimador será liberada por

estágios conforme a proporção indicada no parâmetro ramp a partir da Linha 9. Ou seja, o

queimador iniciará (T=0s) liberando 0,05% do valor do HRRPUA chegando a 100% da taxa

de liberação somente no tempo T=30s. A partir de T=280s o queimador diminuirá sua taxa de

liberação até um valor de 0,05% do HRRPUA em T=330s. Utilizando este fator, a simulação

aproxima-se da realidade, pois é possível variar a taxa de liberação de calor.

8 &SURF ID='BURNER', HRRPUA=1000., PART_ID='SMOKE', RAMP_Q='ramp' /

9 &RAMP ID='ramp',T=0.0,F=0.005/

10 &RAMP ID='ramp',T=30.0,F=1.000/

11 &RAMP ID='ramp',T=280.0,F=1.000/

12 &RAMP ID='ramp',T=330.0,F=0.005/

Na linha treze, foram inseridas as dimensões e a localização da fonte de calor no

domínio computacional, a partir das coordenadas X, Y e Z. No caso, a fonte de calor é

caracterizada por um plano bidimensional (VENT) com dimensões de 10 x 10 cm.

13 &VENT XB= 1.60, 1.70, 3.35, 3.45, 0.60, 0.60, SURF_ID='BURNER' /

A partir da linha quatorze até a linha vinte e um, foram inseridas as especificações

peculiares ao tecido (MATL_ID), um dos materiais que compõem a estrutura do sofá

Page 43: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

28

incendiado. Para a efetiva simulação, foram necessárias informações sobre o calor específico

(SPECIFIC_HEAT), condutividade (CONDUCTIVITY) e densidade (DENSITY).

14 &MATL ID = 'TECIDO'

15 SPECIFIC_HEAT = 1.0

16 CONDUCTIVITY = 0.1

17 DENSITY = 100.0

Na linha dezoito, foi especificada a proporção de material consumida pela combustão

a qual varia de 0 a 1, sendo, no caso, de valor 1, ou seja, todo o material será consumido

(NU_FUEL).

18 NU_FUEL = 1.

Na linha dezenove, foi especificada a temperatura de referência, que, conforme

Mcgrattan et al (2009), é a temperatura onde a fração de massa do material diminui a uma

taxa de 0.1 s (REFERENCE_TEMPERATURE).

19 REFERENCE_TEMPERATURE = 350.

Na linha vinte e vinte e um, foram especificados o calor de reação

(HEAT_OF_REACTION) e o calor de combustão (HEAT_OF_COMBUSTION) do tecido.

20 HEAT_OF_REACTION = 3000.

21 HEAT_OF_COMBUSTION = 15000. /

Page 44: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

29

A partir da linha vinte e dois até a trigésima quarta linha foram inseridos os dados

específicos da espuma, madeirite e do plástico. Os parâmetros inseridos foram semelhantes

aos do tecido.

A partir da linha quarenta e quatro foram inseridos os dados pertinentes a superfície do

sofá (SURF_ID). Foi especificada a cor (COLOR) do sofá simulado e se o material será

consumido durante a combustão (BURN_AWAY).

44 &SURF ID = 'SOFA'

45 COLOR = 'GREEN'

46 BURN_AWAY = .TRUE.

Os materiais que formam o sofá foram colocados na linha quarenta e sete (MATL_ID).

O parâmetro “(1:2,1)” gera uma interpretação no FDS de que o material é formado por tecido

(1) e espuma (2), os quais formam uma camada de sofá (1).

47 MATL_ID(1:2,1) = 'TECIDO','ESPUMA'

Na linha quarenta e oito foi inserida espessura de cada material que forma o sofá, ou

seja, tecido (1) e espuma (2). A linha trinta e seis especifica o tipo de partícula que será

liberado pela queima.

48 THICKNESS(1:2) = 0.002,0.1

49 PART_ID = 'SMOKE' /

Iniciando na linha cinqüenta, os dados específicos do material da parede e da televisão

foram inseridos.

Page 45: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

30

50 &SURF ID = 'PAREDE'

51 COLOR = 'SANDY BROWN'

52 MATL_ID = 'MADEIRITE'

53 THICKNESS = 0.012

54 PART_ID = 'SMOKE'/

55 &SURF ID = 'TV'

56 COLOR = 'GRAY'

57 MATL_ID = 'PLASTICO'

58 THICKNESS = 0.01

59 BURN_AWAY = .TRUE.

60 PART_ID = 'smoke'/

Na linha sessenta e um foram inseridos os parâmetros relacionados à especificação das

partículas de fumaça. Nesta linha o FDS interpreta que é desejada a visualização da fumaça na

simulação.

61 &PART ID='SMOKE', MASSLESS=.TRUE., SAMPLING_FACTOR=1 /

A partir da linha sessenta e dois até a linha cento e oitenta e nove, foram colocadas as

obstruções físicas que compõem o cenário a ser simulado. Ou seja, foram inseridas as

coordenadas tridimensionais que dimensionam os objetos contidos no cenário.

O cenário foi desenhado previamente utilizando a ferramenta de desenho técnico

AutoCAD 2007®. As coordenadas em formado de entrada do FDS foram importadas a partir

do desenho em formato CAD com o auxílio da ferramenta 3dsolid2fds.

As aberturas de portas e janelas do cenário foram especificadas a partir de suas

coordenadas tridimensionais, conforme o exposto nas linhas abaixo (HOLE). Os indicadores

Page 46: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

31

VENT representam as aberturas de ventilação do cenário, no caso apenas o plano da

coordenada mínima de Z não possui abertura total, de forma a simular o assoalho.

190 &VENT MB='YMAX', SURF_ID='OPEN' /

191 &VENT MB='YMIN', SURF_ID='OPEN' /

192 &VENT MB='XMAX', SURF_ID='OPEN' /

193 &VENT MB='XMIN', SURF_ID='OPEN' /

194 &VENT MB='ZMAX', SURF_ID='OPEN' /

195 &HOLE XB= 3.9, 4.2, 2.6, 3.4, 0.0, 2.1 / porta da rua

196 &HOLE XB= 3.9, 4.2, 1.6, 2.1, 1.0, 1.8 / janela

3.2.3 Dados de saída

O FDS permite diversas possibilidades de dados de saída. Numa simulação, o perito

de incêndio deve atentar para escolha dos dados pertinentes à análise que será realizada para a

produção da conclusão final.

Na situação em estudo, a temperatura alcançada pelo local onde se encontrava o sofá

em função do tempo é uma informação importante, considerando as conseqüências que o

aumento de temperatura trouxe para o cenário e para a vítima fatal. Os dados de temperatura

possibilitam também uma análise do comportamento da temperatura ambiente durante o

incêndio.

Adotando o local próximo da fonte de calor como referência, as linhas cinqüenta e três

a cinqüenta e cinco descrevem o comando para a coleta dos dados da temperatura dos gases

nos planos existentes nas coordenadas x = 1,50 m, y = 3,50 m e z = 0,60 m.

197 &SLCF PBX=1.50,QUANTITY='TEMPERATURE' /

198 &SLCF PBY=3.50,QUANTITY='TEMPERATURE' /

Page 47: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

32

199 &SLCF PBZ=0.60,QUANTITY='TEMPERATURE' /

A linha cinqüenta e seis solicita a coleta dos dados relacionados a temperatura do

ambiente. E na linha cinqüenta e sete foi informado o fim dos comandos do arquivo.

200 &BNDFQUANTITY='WALL_TEMPERATURE'/

201 &TAIL /

3.2.4 Simulação

Após a produção do arquivo de entrada, foi executada a simulação a partir da linha de

comando do Windows Vista® inserindo-se a linha descrita abaixo.

fds5 laudo22008cbmdf.fds

Primeiramente, a simulação foi executada com tempo igual a T=0, apenas para

visualizar o cenário virtual criado pelo aplicativo (Figura 3.4).

Figura 3.4 Simulação em T=0 do cenário virtual criado pelo FDS

Page 48: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

33

Após visualização e verificação se a simulação do cenário ficou condizente com a

situação real estudada, foi realizada a simulação com T=1200s. As múltiplas interações

realizadas pelo aplicativo até o término do processo de simulação alcançou um tempo de

10h40min, utilizando um computador com processador Intel® Core™2 Duo T7700 de 2.40

GHz.

Page 49: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

34

4 RESULTADOS

Os arquivos gerados foram os seguintes:

laudo22008cbmdf.out - Lista dos parâmetros de entrada e informações

relevantes de saída, tais como tempo do

processo de simulação e uso do processador.

laudo22008cbmdf.prt5 - Dados dos comportamentos das partículas.

laudo22008cbmdf.smv - Arquivo de leitura do Smokeview.

laudo22008cbmdf_01.bf - Dados das fronteiras do cenário gerados pelo

comando BNDF.

laudo22008cbmdf_01.sf - Dados das fatias do cenário gerados pelo

comando SLCF.

laudo22008cbmdf_02.sf - Dados das fatias do cenário gerados pelo

comando SLCF.

laudo22008cbmdf_03.sf - Dados das fatias do cenário gerados pelo

comando SLCF.

laudo22008cbmdf_hrr.csv - Arquivo de dados separados por vírgulas

sobre informações do calor liberado.

Ao executar o arquivo laudo22008cbmdf.smv o programa Smokeview é iniciado e a

simulação pode ser visualizada a partir da animação. A simulação do início e progressão do

incêndio a partir da fonte de calor e visualização das chamas é possível executando o

comando HRRPUV (RLE), no menu Load/Unload -> 3D Smoke. A simulação é iniciada a

partir do tempo inicial T=0s (Figura 4.1).

Page 50: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

35

Figura 4.1 Simulação em T=0s

Em T=120s, já é possível visualizar a progressão das chamas sobre o sofá (Figura 4.2).

Figura 4.2 Simulação em T=120s

Em T=240s, as chamas iniciam a propagação para fora dos limites do foco inicial.

Page 51: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

36

Figura 4.3 Simulação em T=240s

Em T=360s, o incêndio generalizou no sofá (Figura 4.4).

Figura 4.4 Simulação em T=360s

Utilizando as informações de saída relacionadas à temperatura do ambiente, é possível

Page 52: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

37

analisar a temperatura dos objetos contidos no cenário no momento T desejado. Para isto,

basta executar o comando WALL TEMPERATURE no menu Load/Unload -> Boundary File.

A temperatura dos objetos sólidos no momento T=360s é simulada conforme

demonstra a Figura 4.6. A diferença das cores representa as diferentes temperaturas, conforme

a legenda a direita.

Figura 4.5 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s

Na Figura 4.6 e Figura 4.7, os pontos na cor preta representam o sólido carbonizado,

que podem ser visualizados executando o comando char, no menu Show/Hide -> Boundaries.

Page 53: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

38

Figura 4.6 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s e carbonização

Figura 4.7 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s e carbonização

Page 54: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

39

A partir da representação do estado de carbonização dos sólidos representados na a

Figura 4.6, percebemos a semelhança entre o incêndio simulado e o estado final dos sólidos

após o incêndio real (Figura 3.2 e Figura 3.3).

A simulação nos permite inferir que, para a hipótese simulada, a extinção do incêndio

ocorreu neste estágio, permanecendo as marcas de carbonização no momento T=360s, ou

após 6 minutos do início da ignição do sofá. Considerando a representação das diferentes

temperaturas, a simulação nos remete a um alcance máximo de 775º C na temperatura do

cenário.

Continuando a simulação, percebemos que o padrão de carbonização se distingue do

estado final dos sólidos periciados. No momento T=372s, a parede de madeira atrás do sofá

está quase totalmente carbonizada (Figura 4.8). Em T=444s, grande parte do teto e da parede

já estão carbonizados (Figura 4.9).

Figura 4.8 Temperatura dos sólidos e carbonização em T=372

Page 55: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

40

Figura 4.9 Temperatura dos sólidos e carbonização em T=444s

Para a fase gasosa, os arquivos de saída permitem visualizar a temperatura dos gases

ao longo dos planos pré-determinados. O comando a ser executado está no menu

Load/Unload -> Slice Files -> Temperature.

A simulação calcula uma temperatura máxima de 1025º C dos gases do incêndio no

momento T=360s. Na altura do sofá, a temperatura calculada está entre 425º C e 625º C

(Figura 4.10 e Figura 4.11).

Page 56: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

41

Figura 4.10 Temperatura da fase gasosa no plano x=1,5m em T=360s

Figura 4.11 Temperatura da fase gasosa no plano y=3,5m em T=360s

Page 57: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

42

5 CONCLUSÃO

A simulação da hipótese com o FDS foi efetiva, tornando possível a visualização do

comportamento do incêndio e a existência de mais um parâmetro de confirmação de que a

hipótese defendida pelo perito está correta.

A hipótese defendida pelos peritos que produziram o laudo nº 220/2008 é condizente

com a situação de incêndio simulada no FDS. Os registros fotográficos são de extrema

importância para a análise da simulação, permitindo a comparação dos resultados simulados

com o produto do incêndio periciado.

A simulação do comportamento do incêndio em função do tempo retorna informações

sobre o tempo do incêndio e os comportamentos parciais do incêndio. Estes dados são

importantes para o perito podendo ser utilizados, por exemplo, para análise dos dados

pertinentes as entrevistas das testemunhas sobre o desenvolvimento do incêndio.

A possibilidade de simulação da temperatura máxima atingida permite ao perito

verificar no local do sinistro a existência de vestígios relacionados a materiais com ponto de

ignição próximo ao da temperatura simulada, fortalecendo ainda mais a hipótese.

Um fator importante da simulação é a possibilidade de visualização do material

carbonizado. O produto do incêndio mais perceptível é o material carbonizado e o FDS

permite a visualização do comportamento do processo de carbonização dos materiais em

função do tempo.

O material visual que o FDS permite produzir, tais como as figuras e vídeos da

simulação, traz um escopo de informações amigável para o entendimento dos clientes

interessados na perícia. Isto facilita a assimilação da conclusão do perito e diminui dúvidas

leigas relacionadas ao comportamento do incêndio periciado.

A base de programação do arquivo de entrada em Fortran 90 não causa grandes

complexidades no processo de simulação. Os comandos utilizados são simples e alinhados a

uma lógica instintiva a profissionais qualificados, contexto onde o perito de incêndio está

inserido. Além disso, a tecnologia é acessível, uma vez que o programa é gratuito e um

Page 58: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

43

computador pessoal é o equipamento necessário para a simulação.

A qualidade das informações inseridas no arquivo de entrada do FDS exige do perito

de incêndio um alto grau de conhecimento das propriedades físicas e químicas dos materiais

existentes no cenário incendiado. A utilização da ferramenta induz a um aumento do hábito de

pesquisa do perito nas literaturas de alta qualidade técnica visando à busca de dados cada vez

mais confiáveis sobre as propriedades dos materiais.

O aplicativo permite simular a concentração de monóxido de carbono e dióxido de

carbono decorrentes da combustão. Evidencio a sugestão de estudos posteriores para verificar

a efetividade da simulação do comportamento destes gases, considerando seu estágio de

concentração letal para o ser humano durante o incêndio.

Desta forma, a operacionalidade do uso do FDS condiz com as necessidades da perícia

de incêndio. O aplicativo é eficaz no desenvolvimento de subsídios adicionais para a

produção do laudo pericial.

Page 59: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 61: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

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Page 62: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

47

APÊNDICE

Page 63: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

48

APÊNDICE A - Código-fonte do arquivo de entrada para o FDS

Page 64: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

49

Monografia do Curso de Especializacao em Pericia de Incendio e Producao de Provas Periciais

Pos-graduando Leandro Magalhães Mariani

Arquivo de entrada para teste da hipotese do Laudo numero 220/2008 – CBMDF

&HEAD CHID='laudo22008cbmdf', TITLE='Simulação de incendio referente ao laudo 220/2008-CBMDF' /

&MESH IJK=41,40,36, XB=0.0,4.1,0.0,4,0.0,3.6 /

&TIME T_END=1200 /

&MISC SURF_DEFAULT='PAREDE', TMPA=25 /

&SURF ID='BURNER', HRRPUA=1000., PART_ID='SMOKE', RAMP_Q='ramp' /

&RAMP ID='ramp',T=0.0,F=0.005/

&RAMP ID='ramp',T=30.0,F=1.000/

&RAMP ID='ramp',T=280.0,F=1.000/

&RAMP ID='ramp',T=330.0,F=0.005/

&VENT XB= 1.60, 1.70, 3.35, 3.45, 0.60, 0.60, SURF_ID='BURNER' /

&MATL ID = 'TECIDO'

SPECIFIC_HEAT = 1.0

CONDUCTIVITY = 0.1

DENSITY = 100.0

NU_FUEL = 1.

REFERENCE_TEMPERATURE = 350.

HEAT_OF_REACTION = 3000.

HEAT_OF_COMBUSTION = 15000. /

&MATL ID = 'ESPUMA'

SPECIFIC_HEAT = 1.0

CONDUCTIVITY = 0.05

DENSITY = 40.0

N_REACTIONS = 1

NU_FUEL = 1.

REFERENCE_TEMPERATURE = 350.

HEAT_OF_REACTION = 1500.

HEAT_OF_COMBUSTION = 30000. /

&MATL ID = 'MADEIRITE'

Page 65: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

50

CONDUCTIVITY = 0.14

SPECIFIC_HEAT = 1.214

DENSITY = 800./

&MATL ID = 'PLASTICO'

CONDUCTIVITY = 0.2

SPECIFIC_HEAT = 1.5

DENSITY = 1500.

N_REACTIONS = 1

HEAT_OF_REACTION = 3000.

HEAT_OF_COMBUSTION = 25000.

REFERENCE_TEMPERATURE = 400.

NU_FUEL = 1.0 /

&SURF ID = 'SOFA'

COLOR = 'GREEN'

BURN_AWAY = .TRUE.

MATL_ID(1:2,1) = 'TECIDO','ESPUMA'

THICKNESS(1:2) = 0.002,0.1

PART_ID = 'SMOKE' /

&SURF ID = 'PAREDE'

COLOR = 'SANDY BROWN'

MATL_ID = 'MADEIRITE'

THICKNESS = 0.012

PART_ID = 'SMOKE'/

&SURF ID = 'TV'

COLOR = 'GRAY'

MATL_ID = 'PLASTICO'

THICKNESS = 0.01

BURN_AWAY = .TRUE.

PART_ID = 'smoke'/

&PART ID ='SMOKE', MASSLESS=.TRUE., SAMPLING_FACTOR=1 /

&OBST XB = 4.0,4.1,-6.66134e-016,4.0,3.6,3.7 /

&OBST XB =3.9,4.0,-6.66134e-016,4.0,3.56923,3.66923 /

Page 66: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

51

&OBST XB=3.8,3.9,-6.66134e-016,4.0,3.53846,3.63846 /

&OBST XB=3.7,3.8,-6.66134e-016,4.0,3.50769,3.60769 /

&OBST XB=3.6,3.7,-2.22045e-016,4.0,3.47692,3.57692 /

&OBST XB=3.5,3.6,-2.22045e-016,4.0,3.44615,3.54615 /

&OBST XB=3.4,3.5,-2.22045e-016,4.0,3.41538,3.51538 /

&OBST XB=3.3,3.4,-2.22045e-016,4.0,3.38462,3.48462 /

&OBST XB=3.2,3.3,-2.22045e-016,4.0,3.35385,3.45385 /

&OBST XB=3.1,3.2,2.22045e-016,4.0,3.32308,3.42308 /

&OBST XB=3.0,3.1,2.22045e-016,4.0,3.29231,3.39231 /

&OBST XB=2.9,3.0,2.22045e-016,4.0,3.26154,3.36154 /

&OBST XB=2.8,2.9,2.22045e-016,4.0,3.23077,3.33077 /

&OBST XB=2.7,2.8,2.22045e-016,4.0,3.2,3.3 /

&OBST XB=2.6,2.7,-2.22045e-016,4.0,3.16923,3.26923 /

&OBST XB=2.5,2.6,-2.22045e-016,4.0,3.13846,3.23846 /

&OBST XB=2.4,2.5,-2.22045e-016,4.0,3.10769,3.20769 /

&OBST XB=2.3,2.4,-2.22045e-016,4.0,3.07692,3.17692 /

&OBST XB=2.2,2.3,-2.22045e-016,4.0,3.04615,3.14615 /

&OBST XB=2.1,2.2,2.22045e-016,4.0,3.01538,3.11538 /

&OBST XB=2.0,2.1,2.22045e-016,4.0,2.98462,3.08462 /

&OBST XB=1.9,2.0,2.22045e-016,4.0,2.95385,3.05385 /

&OBST XB=1.8,1.9,2.22045e-016,4.0,2.92308,3.02308 /

&OBST XB=1.7,1.8,2.22045e-016,4.0,2.89231,2.99231 /

&OBST XB=0.2,0.3,3.9,4.0,2.4,2.43077 /

&OBST XB=0.3,0.4,3.9,4.0,2.4,2.46154 /

&OBST XB=0.4,0.5,3.9,4.0,2.4,2.49231 /

&OBST XB=0.5,0.6,3.9,4.0,2.4,2.52308 /

&OBST XB=0.6,0.7,3.9,4.0,2.4,2.55385 /

&OBST XB=0.7,0.8,3.9,4.0,2.4,2.58462 /

&OBST XB=0.8,0.9,3.9,4.0,2.4,2.61538 /

&OBST XB=0.9,1.0,3.9,4.0,2.4,2.64615 /

&OBST XB=0.9,4.0,3.9,3.92,0.0,2.4 /

&OBST XB=0.3,0.4,4.53249e-014,0.1,2.4,2.46154 /

Page 67: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

52

&OBST XB=0.4,0.5,4.52277e-014,0.1,2.4,2.49231 /

&OBST XB=0.5,0.6,4.52277e-014,0.1,2.4,2.52308 /

&OBST XB=0.6,0.7,4.51444e-014,0.1,2.4,2.55385 /

&OBST XB=0.7,0.8,4.51444e-014,0.1,2.4,2.58462 /

&OBST XB=0.8,0.9,4.50473e-014,0.1,2.4,2.61538 /

&OBST XB=0.9,1.0,4.50473e-014,0.1,2.4,2.64615 /

&OBST XB=1.0,1.1,4.49502e-014,0.1,2.4,2.67692 /

&OBST XB=1.1,1.2,4.49502e-014,0.1,2.4,2.70769 /

&OBST XB=1.2,1.3,4.49502e-014,0.1,2.4,2.73846 /

&OBST XB=1.3,1.4,4.49502e-014,0.1,2.4,2.76923 /

&OBST XB=1.4,1.5,4.49502e-014,0.1,2.4,2.8 /

&OBST XB=1.5,1.6,4.49502e-014,0.1,2.4,2.83077 /

&OBST XB=1.6,1.7,4.49502e-014,0.1,2.4,2.86154 /

&OBST XB=1.7,1.8,4.49502e-014,0.1,2.4,2.89231 /

&OBST XB=1.8,1.9,4.49502e-014,0.1,2.4,2.92308 /

&OBST XB=1.9,2.0,4.49502e-014,0.1,2.4,2.95385 /

&OBST XB=2.0,2.1,4.49502e-014,0.1,2.4,2.98462 /

&OBST XB=2.1,2.2,4.49502e-014,0.1,2.4,3.01538 /

&OBST XB=2.2,2.3,4.49502e-014,0.1,2.4,3.04615 /

&OBST XB=2.3,2.4,4.49502e-014,0.1,2.4,3.07692 /

&OBST XB=2.4,2.5,4.49502e-014,0.1,2.4,3.10769 /

&OBST XB=2.5,2.6,4.49502e-014,0.1,2.4,3.13846 /

&OBST XB=2.6,2.7,4.49502e-014,0.1,2.4,3.16923 /

&OBST XB=2.7,2.8,4.49502e-014,0.1,2.4,3.2 /

&OBST XB=2.8,2.9,4.49502e-014,0.1,2.4,3.23077 /

&OBST XB=2.9,3.0,4.49502e-014,0.1,2.4,3.26154 /

&OBST XB=3.0,3.1,4.49502e-014,0.1,2.4,3.29231 /

&OBST XB=3.1,3.2,4.49502e-014,0.1,2.4,3.32308 /

&OBST XB=3.2,3.3,4.49502e-014,0.1,2.4,3.35385 /

&OBST XB=3.3,3.4,4.49502e-014,0.1,2.4,3.38462 /

&OBST XB=3.4,3.5,4.49502e-014,0.1,2.4,3.41538 /

&OBST XB=3.5,3.6,4.49502e-014,0.1,2.4,3.44615 /

Page 68: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

53

&OBST XB=3.6,3.7,4.49502e-014,0.1,2.4,3.47692 /

&OBST XB=3.7,3.8,4.49502e-014,0.1,2.4,3.50769 /

&OBST XB=3.8,3.9,4.49502e-014,0.1,2.4,3.53846 /

&OBST XB=3.9,4.0,4.49502e-014,0.1,2.4,3.56923 /

&OBST XB=1.0,1.1,3.9,4.0,2.4,2.67692 /

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Page 69: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

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Page 70: Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)

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