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Bracara Augusta 149 SIMULACRA ROMAE 1. Introdução Escassamente referida das fontes literárias, com excepção de Plínio, que a refere como oppidum peregrino e de Ausónio, que a apelida de dives Bracara, pouco se conhecia, até há poucos anos, da cidade romana de Bracara Augusta, que foi sede de convento jurídico, capital da província da Galécia, a partir de Diocleciano e, mais tarde, capital do reino suevo. E, no entanto, um cronista árabe que acompanhou Almansor, no séc.VIII, refere a cidade ainda com as suas muralhas, tão imponente e monumental como Mérida. A perca de memória relativa à cidade romana e aos seus edifícios deverá ter ocorrido entre os sécs. IX e XI, devido a uma forte retracção do núcleo urbano, relativamente à anterior urbs romana, cuja área fortificada no Baixo Império possuía cerca de 48 ha (Martins e Delgado 1989-90). De facto, a Braga medieval nada mais era do que um pequeno núcleo habitacional, centrado em torno da cate- dral, sagrada em 1089, que ocupava apenas o qua- drante nordeste da anterior cidade romana. Lentamente, parte da cidade romana será abando- nada, talvez posteriormente ao séc. VIII, passando as ruínas dos seus edifícios públicos e privados a servir de pedreira da pequena Braga medieva, enquanto os seus terrenos se convertiam, aos pou- cos, em campos de cultivo. Foi no Renascimento que se iniciou o longo pro- cesso de redescoberta de Bracara Augusta. A partir de então, recolheram-se inscrições, descreveram-se alguns monumentos, ainda pontualmente visíveis e escreveram-se as primeiras sínteses históricas sobre as origens romanas de Braga, redigidas pelos anti- quaristas dos sécs. XVII e XVIII (Cunha 1643; Argote 1728; 1732-34) (Fig. 1). A tímida expansão da Braga moderna durante o séc. XIX e a primeira metade do séc. XX não per- mitiu acrescentar grandes conhecimentos aos rela- tos dos eruditos bracarenses baseados nas escassas fontes literárias disponíveis, na colecção epigráfica, entretanto reunida ao longo dos séculos e nalguns vestígios ainda visíveis de construções, como a muralha, ou o anfiteatro. De facto, só a partir dos anos 60 e 70 do séc. XX, com o avanço da urba- nização sobre os terrenos onde se encontrava sepultada grande parte da cidade romana se ini- ciou um processo de descoberta e, simultaneamen- 1 Professora catedrática da Universidade do Minho; Presidente da Unidade de Arqueologia; responsável pelo Projecto de Bracara Augusta Urbanismo e Arquitectura em Bracara Augusta Urbanismo e Arquitectura em Bracara Augusta. Balanço dos contributos da Arqueologia Urbana Maria Manuela MARTINS 1 Fig. 1. Gravura de Braga de 1594, pertencente à obra Civitates Orbi Terrarum de Georgio Braunio).

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Page 1: SIMULACRA ROMAE Urbanismo e Arquitectura em · PDF filedas numerosas escavações realizadas ao longo dos últimos vinte e seis anos,no âmbito do Projecto de Salvamento de Bracara

Bracara Augusta

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SIMULACRA ROMAE

1. Introdução

Escassamente referida das fontes literárias, comexcepção de Plínio, que a refere como oppidumperegrino e de Ausónio, que a apelida de divesBracara, pouco se conhecia, até há poucos anos, dacidade romana de Bracara Augusta, que foi sede deconvento jurídico, capital da província da Galécia,a partir de Diocleciano e, mais tarde, capital doreino suevo. E, no entanto, um cronista árabe queacompanhou Almansor, no séc.VIII, refere a cidadeainda com as suas muralhas, tão imponente emonumental como Mérida.

A perca de memória relativa à cidade romana eaos seus edifícios deverá ter ocorrido entre os sécs.IX e XI, devido a uma forte retracção do núcleourbano, relativamente à anterior urbs romana, cujaárea fortificada no Baixo Império possuía cerca de48 ha (Martins e Delgado 1989-90). De facto, aBraga medieval nada mais era do que um pequenonúcleo habitacional, centrado em torno da cate-dral, sagrada em 1089, que ocupava apenas o qua-drante nordeste da anterior cidade romana.Lentamente, parte da cidade romana será abando-nada, talvez posteriormente ao séc. VIII, passandoas ruínas dos seus edifícios públicos e privados aservir de pedreira da pequena Braga medieva,enquanto os seus terrenos se convertiam, aos pou-cos, em campos de cultivo.

Foi no Renascimento que se iniciou o longo pro-cesso de redescoberta de Bracara Augusta. A partirde então, recolheram-se inscrições, descreveram-sealguns monumentos, ainda pontualmente visíveis e

escreveram-se as primeiras sínteses históricas sobreas origens romanas de Braga, redigidas pelos anti-quaristas dos sécs. XVII e XVIII (Cunha 1643;Argote 1728; 1732-34) (Fig. 1).

A tímida expansão da Braga moderna durante oséc. XIX e a primeira metade do séc. XX não per-mitiu acrescentar grandes conhecimentos aos rela-tos dos eruditos bracarenses baseados nas escassasfontes literárias disponíveis, na colecção epigráfica,entretanto reunida ao longo dos séculos e nalgunsvestígios ainda visíveis de construções, como amuralha, ou o anfiteatro. De facto, só a partir dosanos 60 e 70 do séc. XX, com o avanço da urba-nização sobre os terrenos onde se encontravasepultada grande parte da cidade romana se ini-ciou um processo de descoberta e, simultaneamen-

1 Professora catedrática da Universidade do Minho; Presidente da Unidade de Arqueologia; responsável pelo Projecto de BracaraAugusta

Urbanismo e Arquitectura em Bracara Augusta

Urbanismo eArquitectura emBracara Augusta.Balanço doscontributos daArqueologia UrbanaMaria Manuela MARTINS1

Fig. 1. Gravura de Braga de 1594, pertencente à obra CivitatesOrbi Terrarum de Georgio Braunio).

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te, de destruição de amplas áreas de Bracara Augusta,que se conservavam nas grandes quintas envolven-tes da cidade.

Em meados dos anos 70 foi possível parar a des-truição sistemática dos terrenos arqueológicosonde jaziam as ruínas da Braga romana, inician-do-se, em 1976, um processo de intervençãoarqueológica sistemática, do qual resultou umanotável acumulação de evidências arqueológicasque tornaram possível (re)descobrir, de facto,Bracara Augusta.

Assim, o conhecimento que possuímos hoje destaimportante cidade romana é sobretudo devedordas numerosas escavações realizadas ao longo dosúltimos vinte e seis anos, no âmbito do Projecto deSalvamento de Bracara Augusta que logrou trazer àluz do dia os vestígios de uma cidade insuspeita,quer na sua dimensão, quer nas suas característi-

cas urbanísticas e arquitectónicas (Martins et alii1994; Martins e Delgado 1996; Martins 1999).

Todavia, pese embora os conhecimentos acumula-dos através das intervenções arqueológicas realiza-das, são ainda numerosas as lacunas que possuímosrelativamente a vários aspectos históricos da cidade.Entre elas, sublinhamos as dúvidas relativas à cro-nologia exacta da sua fundação e as esparsas evi-dências disponíveis sobre os primeiros tempos devida da cidade, em particular relativas à primeirametade do séc. I, as quais levantam numerosos pro-blemas quanto à caracterização do primitivo núcleourbano. Também são ainda muito escassos os vestí-gios de edifícios públicos de Bracara Augusta, sendode destacar, a este propósito, o facto de não ter sidoainda escavado o forum da cidade, pelo que ignora-mos por completo as características dos edificadosnormalmente associados a este espaço.

Ao longo deste trabalho procuraremos dar contados conhecimentos disponíveis sobre BracaraAugusta, focando essencialmente as questões da suafundação, do urbanismo e da arquitectura. Paratanto, usaremos basicamente o registo arqueológi-co, que nos permitirá avaliar algumas das caracte-rísticas dos espaços e construções mais importan-tes de uma cidade, que se descobre diariamenteatravés das escavações.

2. A fundação de Bracara Augusta

Bracara Augusta, uma das três cidades fundadas peloimperador Augusto no Noroeste peninsular, nofim das guerras cantábricas, nasceu da necessidadede reorganização administrativa dos territórios aNorte do rio Douro, facto que implicou a criaçãode estruturas sociais e políticas que firmassem apresença romana na região e facilitassem a inte-gração da população indígena que ocupava osnumerosos castros da região (Martins 1990; 1995;1996b).

Se o contexto cronológico e as motivações quepresidiram à fundação da nova urbs não se dife-renciam substancialmente, em termos globais, dosque caracterizaram a emergência de Lucus Augusti(Rodriguez Comenero e Covadonga Carreño 1999)e Asturica Augusta (Garcia Marcos e Vidal Encinas1996), a verdade é que o contexto sócio-cultural eeconómico da região onde surgirá Bracara Augustaregista marcadas especificidades relativamente àsáreas mais setentrionais da Hispânia, que forampalco dos últimos episódios da guerra que opôs ospovos do NO à presença romana (FérnandezOchoa e Morillo Cerdán 1999). Os dados disponí-veis para sustentar tal afirmação advêm, sobretudo,

Fig. 2: Pedestal de estátua em honra de Paulus FabiusMaximus, legado propretor do imperador Augusto, dedicadapelos bracarugustanos.

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da investigação arqueológica das últimas décadas(Silva 1995; 1999; Martins 1990; Martins et alii), umavez que as fontes escritas apenas nos fornecem ele-mentos esparsos para situar o contexto e a crono-logia da chegada dos romanos à região (Alarcão1988; Fabião 1993).

Assim, é hoje genericamente aceite a precocidadedo controlo militar romano da região do Entre-Douro e Minho, na sequência da expedição de D.Junius Brutus, em 138-136 a.C., a ausência de popula-ções bracarenses nos palcos da guerra cantábrica,mas, sobretudo, a existência uma forte ligação daregião às zonas mais romanizadas do sul daPenínsula, que se consolidou na segunda metadedo séc. I a.C., em consonância com um grande de-senvolvimento das comunidades indígenas (Silva1986; 1995; Martins 1990; 1996b). Estes aspectos, queassinalam a especificidade da região galaico-braca-rense, relativamente aos territórios ocupados pelosgalaico-lucences e Astures, ao longo do séc. I a.C.(Sastre Prats 1998; Martins et alii 2002), facilitarama integração das populações indígenas no contex-to do modelo administrativo romano, justificando,também, as particularidades da vida urbana deBracara Augusta. Entre elas, poderíamos destacar aausência do meio militar, a predominância do meioindígena na composição social urbana (Tranoy eLe Roux 1990/91) e o importante papel que a acti-vidade comercial desempenhou desde cedo nacidade (Morais 1998) (fig. 2).

Mau grado a especificidade das característicasenunciadas, apreendidas a partir da análise da epi-grafia e dos contextos arqueológicos, continua pro-blemática a data da fundação do novo aglomera-do. Com efeito, é desconhecida a cronologia daconsagração oficial de Bracara Augusta, muito embo-ra seja aceite pela generalidade dos investigadoresque a decisão imperial de criar os três centrosurbanos do NO se situe, com grande probabilida-de, entre os anos 16/15 a.C., aquando da presençade Augusto na Hispânia, como é sugerido por P. LeRoux (1994) e reiterado por outros investigadores(Rodriguez Colmenero 1996a e 1996b). Contudo,não existe em Braga qualquer referência epigráficaque confirme aquela data. Pelo contrário, a suges-tiva epigrafia honorífica datada dos inícios da cida-de é ligeiramente mais tardia, sendo possível que o

pedestal cilíndrico de Semelhe2 oferecido aAugusto, no dia do aniversário do legado propre-tor da província da Hispânia Citerior, Paulus FabiusMaximus, datado entre os anos 4 e 2 a.C. (Tranoy1980) assinale a data da consagração da cidade e oarranque do programa urbanístico de BracaraAugusta, aproveitando a estadia do legado na regiãode Braga (Le Roux, 1994, 231, nota 10). Paulus FabiusMaximus parece surgir como patrono dos bracarau-gustanos, entidade que subentende já a existênciauma nova comunidade capaz de dar resposta aexpressões de carácter cívico, como sejam as liga-das ao culto imperial (Tranoy 1980; 1981), das quaiso monumento de Semelhe parece constituir oexemplar mais antigo conhecido no NO e naPenínsula. Poderemos considerar serem expressãodo mesmo culto outros altares erguidos a Augusto,em Dume3 e Braga4. Representando um sinalinequívoco da aceitação do culto imperial porparte das elites indígenas, estes altares poderão tes-temunhar uma fase preliminar do processo de fixa-ção dessas elites no sítio de Braga, as quais revelamuma particular devoção ao imperador e respectivafamília (Tranoy 1980), registando uma política pro-dinástica, sugerida, também, pelas dedicatórias daGalécia aos netos de Augusto, Caio ou Lúcio5 edos bracaraugustanos a Agrippa Postumus (Le Roux1975).

Se a data da fundação de Bracara permanece pro-blemática, não o é seguramente o papel desem-penhado pelas elites indígenas, oriundas dos cas-tros mais importantes da região, no processo decriação da aristocracia urbana. Seduzidos pelasvantagens que o novo quadro político e adminis-trativo lhes concedia, as elites indígenas, certamen-te consolidadas no quadro da organização daregião ao longo do séc. I a.C. (Martins 1996b;Martins et alii), parecem ser os principais actoresdo novo corpo cívico, que se expressa na mençãode bracaraugustanos6, entidade que se distinguedos Bracari e que afirma a sua coesão pela ideolo-gia do culto imperial (Tranoy 1981). Parece igual-mente inquestionável o cunho ideológico e reli-gioso que presidiu à fundação de Bracara Augusta(Le Roux 1975;Tranoy 1980). Esse cunho poderá tersido reforçado pelas funções que serão atribuídasà cidade enquanto sede de convento jurídico,ainda que permaneça discutível a exacta cronolo-

2 Altar dedicado pelos Bracaraugustanos no dia do aniversário de Paulus Fabius Maximus (EE,VIII, 280=ILER 1028; Le Roux 1975;Tranoy 1981).

3 Monumento semelhante ao encontrado em Semelhe, dedicado ao Genius Caesaris (Vasconcelos 1913, 326).4 CIL II, 5123.5 CIL II, 2422.6 Cf. nota 3.

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gia da criação dos conventos, recuada para a épocade Augusto (Dopico Cainzos 1986; 1998; RodriguezColmenero 1996b), muito embora outros autoresconsiderem de uma fase mais avançada a generali-zação do fenómeno, datando-o já da dinastia júliocláudia (Fernandez Ochoa e Morillo Cerdán 1999).

De qualquer modo, quer a epigrafia, quer o regis-to arqueológico testemunham que, entre finais doséc. I a.C. e as duas primeiras décadas do séc. I danossa era, Bracara Augusta conheceu um processo depovoamento sistemático. Se as numerosas inscriçõ-es funerárias, com referência aos castella de origemdos povoadores não deixam dúvidas quanto àimportância da componente indígena no processode criação da nova urbs, o registo arqueológico,sobretudo caracterizado por materiais de importa-ção e moedas, testemunha a ocupação do sítio deBraga desde a última década antes da transição daera (Morais 1997-98; Centeno 1986; ZabaletaEstévez 2000). Indicador importante das activida-des ligadas ao novo centro urbano são os miliários,ligados à construção das vias que vão ligar BracaraAugusta às restantes cidades do NO e da Península,os mais antigos dos quais datam de Augusto,situando-se na via XVI e na XIX.

Independentemente da cronologia da criação dosconventos se situar ainda em tempos de Augustoou durante a dinastia júlio-claudia, a verdade é queo novo aglomerado parece centralizar rapidamen-te funções administrativas e religiosas importantes,que serão secundadas por uma não menos impor-tante actividade económica, reconhecida epigráficae arqueologicamente (Alföldy 1966; Morais 1998).De facto, Bracara Augusta parece herdeira da centra-lidade que o coração da área dos Bracari já possu-ía no período pré-romano, decorrente do facto deconstituir um ponto de confluência de uma vastarede de caminhos naturais7. A memória da preco-ce actividade económica do novo aglomerado estábem documentada na inscrição, datada de 42,

dedicada pelos cidadãos romanos que comercia-vam em Bracara Augusta ao governador da Citerior,C. Caetronius Miccio,8.

Se a data oficial da fundação da cidade é proble-mática, não o é menos o seu estatuto jurídico, quepermanece obscuro, contrapondo-se, a este propó-sito, duas posições diferenciadas: uma, mais tradi-cional, atribui à cidade o estatuto de oppidum pere-grino, beneficiário de uma eventual promoçãomunicipal na época flávia, na sequência da atribui-ção do ius latii à Hispânia, por Vespasiano (Tranoy1981); a outra, mais recente, devida a P. Le Roux(1994), considera que a cidade deverá ter benefi-ciado do direito latino logo desde a sua fundação.

Permanecendo em aberto a questão do estatutojurídico de Bracara Augusta, que apenas poderá seresclarecida pela epigrafia, não deixa de ser sugesti-vo pensar que a sua eventual precoce capitalidade,enquanto sede de convento e a dimensão do pró-prio projecto urbano, sugerido pela arqueologia,datável das primeiras décadas do séc. I, exigiriam aconcessão de privilégios às elites indígenas comoforma de favorecer a sua fixação no novo aglome-rado. A existência de uma ordo decurionum e demagistrados, ainda que sem prova epigráfica direc-ta, constituiriam, certamente, um importante atrac-tivo para fixar os notáveis indígenas e as suas famí-lias, pois tornava-os beneficiários da cidadaniaromana pelo desempenho dos cargos.

A epigrafia de Braga revela a especificidade dacomposição social da população de Bracara Augustaenquanto núcleo urbano, relativamente às outrasduas cidades augústeas do Noroeste, verificando-seuma escassa representação de cidadãos de direitoromano, que, ou são imigrantes ou indígenas pro-movidos, sendo dominante a presença de peregri-nos, libertos e escravos (Tranoy e Le Roux 1989-90). Neste sentido, Bracara Augusta não parece terbeneficiado de uma presença significativa dosmeios oficial e militar (Tranoy 1981), exercendo, tal-vez, uma reduzida atracção sobre imigrantes por-tadores de cidadania romana, com excepção dosprimeiros tempos após a sua fundação (Martins1996a).

Sendo ocupada basicamente por uma populaçãode origem indígena, que se romaniza rapidamente,seria esta, naturalmente, que asseguraria o desem-penho de cargos honoríficos, políticos e religiosos,

7 O problema da centralidade de Bracara Augusta no contexto da região do Entre-Douro e Minho foi sublinhado por vários auto-res, entre eles por A. Tranoy (1981) e M. Martins (1990; 1996a; Martins e Delgado 1996) e F. S. Lemos (1999).

8 CIL II, 2423.

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Fig. 3: Inscrição datada do séc. II, dedicada a Isis, por LucreciaFida, sacerdotisa do culto imperial.

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que deveriam, contudo, ser garantidos por umnúmero restrito de famílias. Assim o parece docu-mentar a epigrafia, que demonstra serem de ori-gem indígena os sacerdotes e sacerdotisas do cultoimperial.

Considerando a reduzida presença de elementosexógenos, no cômputo global da população urba-na de Braga (Tranoy e Le Roux 1989-90), mas, tam-bém, no seio da população rural, da qual a cidadedependia (Martins 1995; 1996a), deduzida da análi-se da epigrafia, será legítimo admitir que os notá-veis indígenas foram os principais agentes e bene-ficiários da vida urbana e da exploração económi-ca da região, secundados por uma minoria de imi-grantes, escassamente representados no dossier epi-gráfico de Braga.

3. Urbanismo

Mau grado o elevado número de intervençõesarqueológicas realizadas em Braga desde 1976, inci-dente sobre uma vasta área da cidade de BracaraAugusta (Martins e Lemos 1997-98), são notoria-mente escassos os vestígios construtivos reportáveisaos períodos de Augusto e júlio-cláudio. Este factosublinha o significativo desfasamento existenteentre o registo epigráfico, reportável à fundação dacidade, cuja cronologia é augústea (Tranoy 1981) eo registo arqueológico construtivo, predominante-mente datado a partir da época flávia (Martins1999). Se é certo que dispomos de um edifício, defuncionalidade problemática, na Colina do Alto daCividade, datável das primeiras décadas do séc. I(Martins 1999) e de um ou outro muro datáveis daépoca de Augusto, a verdade é que os elementosdisponíveis são largamente insuficientes para abor-dar o urbanismo de Bracara Augusta nos primeirostempos da sua existência, pois a escassez de ele-mentos arqueológicos não permite equacionar aexistência de uma malha urbana de raíz fundacio-nal, nem a extensão do primitivo núcleo urbano.Algumas explicações foram avançadas para justifi-car tão exígua presença de construções datáveisdos primeiros séculos da nossa era.

A hipótese tradicional que fazia da Bracara deAugusto um oppidum peregrino, pequeno e obscu-ro, centrado em torno da actual Sé Catedral(Tranoy 1980; 1981), requalificado em época flávia(Alarcão 1988), na sequência da sua promoçãomunicipal, o que teria justificado uma nova cen-tralidade urbana, então deslocada para a platafor-

ma superior da colina da Cividade e uma subse-quente monumentalização da cidade, não nosmerece hoje qualquer credibilidade em face dosdados arqueológicos disponíveis. De facto, se os ele-mentos construtivos do período pré-flávio sãoescassos, são, todavia, significativos os materiaisarqueológicos daquele período, constituídos porcerâmicas importadas e por numismas, os quaisregistam uma significativa dispersão pela cidade.

Os estudos realizados por Rui Morais (1997-98),para as cerâmicas finas importadas de cronologiapré-flávia e por Mar Zabaleta Estevez (2000), paraas moedas, permitem questionar, não só a origemda cidade na área da actual Sé Catedral e a suaposterior deslocação para sul e sudoeste, comosugerir, também, que Bracara Augusta teve o seunúcleo original na Colina da Cividade, local ondese registam os materiais romanos mais antigos atéhoje encontrados nas escavações. Este facto, sugereque o primitivo núcleo de Bracara Augusta se situa-va em torno da área onde foi erguido o forumadministrativo da cidade, cuja localização, na pro-ximidade do Largo Paulo Orósio, é referida nummapa do séc. XVI, local de onde procedem mate-riais arquitectónicos sugestivos da presença de edi-fícios públicos9. Por outro lado, esta zona constituio centro da área que estimamos ter sido ocupadapor Bracara Augusta, tendo em conta a localizaçãodas necrópoles (Martins e Delgado 1989-90a), bemcomo o perímetro da muralha baixo-imperial. Olocal oferece-se, por sua vez, como o lugar centralno qual convergiam alguns dos eixos viários jáidentificados arqueologicamente, cuja orientação eorganização sugerem a existência de uma únicatrama ortogonal para a cidade.

Se as moedas e as cerâmicas importadas mais anti-gas encontradas em Braga ajudam a situar onúcleo urbano primitivo de Bracara Augusta na coli-

9 Estão neste caso várias bases de colunas monumentais de diferentes dimensões, que poderiam pertencer à fachada de umtemplo e ao pórtico do forum.

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Fig. 4. Base de coluna monumental da fachada de um grandeedifício, associado ao forum, aparecido nas imediações do LargoPaulo Orósio.

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na da Cividade, concretamente na sua platafor-ma superior e respectivas vertentes, sabemos, poroutro lado, ser essa a área onde se regista amaior concentração de materiais dos períodoscorrespondentes aos reinados de Augusto,Tibério e Cláudio, o que testemunha a continui-dade de ocupação do primitivo núcleo (Morais1997-98). Por sua vez, a dispersão por toda a áreaurbana de materiais datáveis do reinado deAugusto e da primeira metade do séc. I, consti-tui um importante indicador de uma ocupaçãoque se configura já bastante extensa, anterior-mente aos flávios, ainda que se desconheça anatureza dos edifícios que poderiam estar asso-ciados a tal ocupação.

Se cotejarmos estes dados com o importante ele-mento construtivo e urbanístico que é constituídopelo edifício pré-termal do Alto da Cividade, datá-vel da época de Augusto ou Tibério (Martins 1999),somos levados a pensar que Bracara Augusta foiobjecto de uma precoce planificação. Face aosdados disponíveis podemos admitir que essa plani-ficação foi realizada logo após a fundação da cida-de, tendo contemplado a projecção de uma cidadeorganizada segundo eixos ortogonais, que se pro-longam na área envolvente, quer no traçado dasvias que ligavam Bracara Augusta às restantes cidadesdo NO e da Península, quer ainda num provávelcadastro que se deixa adivinhar pela análise dafotografia aérea e da cartografia antiga da zona10

Se o edifício pré-termal do Alto da Cividadeconstitui, pela sua modulação e orientação, a evi-dência mais segura que possuímos para afirmarque Bracara Augusta nasce como cidade planificada

e que a forma urbis que conhecemos datará dasprimeiras décadas do séc. I, a verdade é que pode-mos igualmente atribuir ao mesmo período acriação de algumas infra-estruturas, designada-mente, a construção de uma grande cloaca iden-tificada nas escavações de um terreno situado nasimediações do forum (Lemos e Leite 2000;Martins 2000). De paredes de pedra, revelandoum bom aparelho e cobertura de grandes lajes degranito, sobre a qual corria uma rua, com cercade 7,5 m de largura, esta cloaca seria, certamen-te, um dos principais eixos de drenagem daságuas e resíduos da cidade, confluindo para elavárias outras, mais pequenas (Fig. 5).

Assim, estamos em crer que a escassez de constru-ções de época pré-flávia em Braga poderá resultar,sobretudo, das remodelações sucessivas a queforam submetidos, quer os edifícios públicos, querprivados, as quais terão camuflado evidências maisantigas e sobretudo remexido os níveis arqueológi-cos fundacionais.

Tendo por base o conjunto de vestígios construti-vos disponíveis podemos afirmar que Bracara Augustaera uma cidade ortogonal, definida pelo traçado darede viária interna, com orientação dominanteNO/SE e SO/NE. As insulae identificadas são qua-dradas, com cerca de 150 pés de lado (entre os eixosdas ruas), o que permitia a existência de áreas cons-truídas aproximadamente de 1 actus (120 pés). Estamodulação, observada na área arqueológica dasCarvalheiras (Martins 1997-98; 1999; Silva 2000),onde se situa o exemplar melhor conhecido dahabitação urbana de Bracara Augusta, tem vindo a serverificada noutras insulae (Martins 2000a). Muitoembora a trama ortogonal sugerida pela conjuga-ção dos dados disponíveis sugira uma modulaçãoquadrada dominante, válida sobretudo para o perí-odo Alto Imperial, são já vários os elementos quepermitem admitir a existência de insulae com cons-trucões de diferentes dimensões. Por outro lado,atendendo ao facto da área ocupada pela cidaderomana ser uma colina, admitimos que as necessá-rias adaptações ao terreno tenham condicionadopontualmente a forma dos quarteirões.

Desconhece-se ainda a real extensão da área queterá sido objecto de planificação. O edifícioromano, recentemente descoberto nas escavaçõesda Sé Catedral, que regista uma orientação N/S(Fontes et alii 1997-98), bem como os alinhamen-

10 A existência de um cadastro, na área envolvente da cidade, é sugerida por alinhamentos perceptíveis na cartografia dos anos40, tendo sido por nós referido pala primeira vez em 1995 (Martins 1995). Neste momento, este cadastro está sendo objectode análise mais detalhada por Helena Paula Carvalho no âmbito da sua tese de doutoramento.

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Fig. 5: Interior da cloaca romana encontrada sob rua porticadanas imediações do forum.

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tos de construções conhecidas noutras áreas peri-féricas da cidade, sugerem, entretanto, que acidade se desenvolveu muito para além da primi-tiva área planificada, a qual era seguramentemuito mais pequena do que a área urbana quefoi cercada pela fortificação dos finais do séc.III/inícios do IV. De qualquer modo, a zona daactual Sé Catedral, onde foram identificados ves-tígios esparsos da época de Augusto e um edifí-cio de planta rectangular, datado de época flávia,deveria constituir um dos limites da área planifi-cada, sendo possível atribuir-lhe uma funçãocívica.

Embora tenham já sido identificados vários vestí-gios de ruas (Martins 1997-98; Lemos et alii noprelo), limitando os quarteirões construídos,torna-se difícil atribuir uma cronologia segura aestes eixos estruturais da cidade, quer porque assuas fundações não fornecem quaisquer materiaisdatáveis, quer porque foram objecto de repara-ções e remodelações consecutivas. Pese emboraestes constrangimentos, podemos considerar quea largura média das ruas de Bracara Augusta situar-se-ia entre os 10 e 12 pés, tendo sido encontrada,até ao momento, uma única via, com 25 pés delargura (Lemos e Leite 2000; Martins 2000).

Com raras excepções, como a assinalada na ruaoeste das Carvalheiras, onde possuímos lajes con-servadas da calçada tardia (Martins 1997-98), ageneralidade das ruas configuram-se com pavi-mentos formados por conglomerados de seixos,tijoleira e pedra, argamassados com areão graní-tico e argila.

Elemento característico do urbanismo de BracaraAugusta são os pórticos, anexos às ruas, queladeiam a generalidade das construções privadas,funcionando como passeios, mas também comoespaços de extensão do negócio realizado naslojas, às quais davam acesso (Martins 2000).Inicialmente muito regulares e com dimensõessemelhantes às das ruas (10 a 12 pés), estes pórti-cos, que deveriam pertencer ao domínio público,parecem começar a ser paulatinamente privatiza-dos, sendo invadidos por parte das construções.Esse processo, documentado nas Carvalheiras,logo no séc. II (Martins 1997-98; Silva 2000),generaliza-se nos finais do séc. III / inícios do IV,época em que assinalamos, quer o desapareci-mento dos pórticos, integrados nas próprias habi-tações, quer a redução das próprias ruas, invadi-das por construções. Este processo, que se encon-tra documentado noutras cidades, designadamen-te em Emerita Augusta (Mateos, 2001), representauma das evidências arqueológicas mais importan-

tes para o estudo das transformações ocorridasno tecido urbano, documentando o carácterdinâmico da construção que progressivamente vaialterando a fisionomia das cidades, criando novoscenários.

Em Braga, as alterações ocorridas na trama urba-na romana só agora começam a ser conhecidas,sendo de destacar que a construção da muralhados finais do séc. III / inícios do IV irá provocarsignificativas transformações no rígido traçadoortogonal que a cidade aparenta ter possuído noAlto Império. A perca de sentido de alguns eixosviários terá levado ao seu desaparecimento e àsua total anexação ao domínio privado. Este pro-cesso, documentado em recentes escavações reali-zadas nas Carvalheiras e na insula adjacente, data-do dos finais do séc. III/ inícios do IV, terá cria-do uma planimetria bem diferente daquela queconhecemos para a Bracara Augusta alto-imperial.

Se possuímos evidências da rede de saneamentode Bracara Augusta e podemos considerar que acriação de uma infra-estrutura básica de cloacaspoderá datar das duas primeiras décadas do séc.I, tendo por base os elementos disponíveis, maisproblemática é a abordagem do sistema de abas-tecimento de água à cidade.

Muito embora as fontes historiográficas dos sécs.XVII e XVIII (Cunha 1643; Argote 1732-34) falemde dois aquedutos que abasteceriam a Bragaromana, a verdade é que deles não possuímoshoje qualquer evidência. Todavia, é provável queparte do abastecimento da cidade fosse feito porum sistema de condutas sub-aéreas e torres deágua, que captavam os recursos hídricos dosnumerosos cursos de água com origem nos mon-tes a nordeste da cidade. Esse sistema, ainda hojevisível, conhecido pelo nome de Sete Fontes,reconstruído no séc. XVIII, abasteceu boa parteda cidade de Braga até meados do séc. XX, sendopossível que se estruturasse sobre um outro, maisantigo, datado da época romana, uma vez que éjá referido em documentos medievais. No entan-to, a confirmação da origem romana deste siste-ma carece de investigações arqueológicas queainda não puderam ser realizadas.

Apesar de não dispormos de vestígios seguros daexistência de aquedutos possuímos, todavia,numerosos testemunhos de poços (putei), distribu-ídos por toda a cidade, os quais aproveitavam arica toalha freática de Braga, representando umaimportante forma de aprovisionamento de água.Muito embora se desconheça o contexto de algu-mas destas estruturas, referenciadas na bibliogra-

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fia, entretanto desaparecidas, podemos, contudo,referir ser frequente encontrá-las associadas ahabitações, como acontece na insula dasCarvalheiras (Martins 1997-98), no conjuntoarqueológico das Antigas Cavalariças, ou na cha-mada Casa do Poço (Martins 2000).

4. Arquitectura

4.1. Arquitectura pública

Até ao momento foi apenas identificado umúnico edifício de cronologia pré-flávia, situado noAlto da Cividade, que designamos por edifíciopré-termal, uma vez que parte dele foi reaprovei-tado para a construção de umas termas públicasnos inícios do séc. II. De facto, a grande maioriadas construções romanas conhecidas até aomomento em Braga data do período flávio /antonino, altura em que Bracara Augusta parece tersofrido um complexo e alargado programa devalorização e / ou requalificação urbanas, o qualcontemplou seguras remodelações de edifícios eespaços anteriores, como aconteceu na área doAlto da Cividade, onde, nos inícios do séc. II seconstroem umas termas públicas (Martins e Silva2000; Silva 1999), sobre parte de um edifícioanterior, as quais surgem anexas a um teatro. Poroutro lado, é provável que novos edifícios públi-cos tenham nesta época sido erguidos de raíz,ocupando, eventualmente, alguns dos quarteirõesaté então ainda disponíveis. Esse poderá ser ocaso da construção, identificada sob a SéCatedral, datada entre finais do séc. I / inícios doII, cujas características e funcionalidade nãoforam ainda devidamente interpretadas (Fontes etalii 1997-98).

Os finais do séc. III / inícios do IV representamum momento de grande dinamismo construtivoem Bracara Augusta, pois verificam-se remodelaçõ-es em quase todos os edifícios públicos e priva-dos conhecidos. Tal dinamismo não será certa-mente estranho à promoção de Bracara Augusta acapital da província da Galécia, a qual deverá terdeterminado um extenso programa de obras derenovação urbana. No entanto, o maior investi-

mento realizado neste período está relacionadocom a construção de uma poderosa fortificaçãoque irá circundar uma área urbana com cerca de48 ha, alterando significativamente a fisionomiada cidade. (Fig. 6).

4.1.1. Edifício pré-termal do Alto da Cividade

O edifício mais antigo identificado em Braga, atri-buível ao período júlio/cláudio, com orientaçãoNO/SE, situa-se na plataforma superior da Colinado Alto da Cividade. Trata-se de uma complexaconstrução que não pôde ser completamente recu-perada pelas escavações.

De forma aproximadamente quadrada, com cerca150 pés de lado (43,50m), o conjunto edificadoestá definido por quatro corpos, com diferentescaracterísticas, que se estruturam em torno de umespaço central aberto. Este espaço oferece asdimensões de 21 m x 15 m (70 x 50 pés), corres-pondendo a uma área aberta com 315 m2.

O corpo este, melhor conhecido, e integralmentereaproveitado na estrutura das termas públicasque sobre ele foram construídas nos inícios doséc. II, possuía, na parte central, um conjunto deduas fiadas de seis silhares dispostos no sentidoN/S, os quais oferecem uma modulação muitoregular de 10 pés entre os eixos. Os silhares defi-nem uma galeria central, com 10 pés de largura,que funcionaria como corredor de circulaçãodando acesso a compartimentos dispostos a nas-cente e a poente (Silva 1999).

O corpo oeste oferece maiores dificuldades deinterpretação, devido às profundas remodelaçõesa que esteve sujeito, bem como ao grande desní-vel entre o tabuleiro superior e o inferior, quetorna difícil a leitura da funcionalidade das estru-turas conservadas. A fachada oeste deste corpoteria que vencer um desnível de 5 m, entre asduas plataformas da colina. A existência de umconjunto de muros e de arcos em tijoleira, situa-dos no extremo noroeste da construção, sugerema existência de galerias subterrâneas e de umafachada monumental, na qual estava integradoum fontanário.

A fachada norte, seria porticada, existindo umconjunto de silhares que o indicam, os quais pos-suem uma modulação de 12 pés. Implantados naalterite vencem o acentuado desnível do terrenopela sobreposição de vários elementos. O pórticopossuiria igualmente 12 pés de largura, tendo sidoposteriormente alterado para a construção das ter-mas e do teatro anexo.

Fig. 6. Panorâmica dos hipocaustos das termas vista de este.

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Do limite sul conhece-se apenas o quadrante su-deste, onde remata o corpo este do edifício, sendopresumido que a fachada se pudesse estruturarnum pórtico, à semelhança do que aconteceriacom a fachada norte.

A complexidade deste conjunto edificado, o seucarácter algo heterodoxo, dentro da tipologia dosedifícios romanos, bem como o facto de não tersido integralmente escavado e de parte dele ter sidosobreposto pela parede do teatro, na parte noroes-te, dificulta a sua interpretação funcional. Julgamosestar em presença de um conjunto arquitectónicodatável dos inícios do séc. I da nossa era, o qualpoderá, todavia, ter sido modificado ao longodaquele século, anteriormente à sua reforma com-pleta, nos inícios do século II, quando sobre ele sãoconstruídas as termas e o teatro. Algumas caracte-rísticas dos corpos que compõem o conjunto suge-rem a sua função como horrea (Rickman 1971).

4.1.2. As Termas do Alto da Cividade

As termas públicas do Alto da Cividade, identifi-cadas em 1977, na sequência de um salvamentonum terreno destinado a ser urbanizado, foramescavadas de forma descontinuada, tendo o seuestudo sido concluído apenas em 1999 (Martins eSilva 2000).

Localizadas na parte central da plataforma maiselevada da colina do Alto da Cividade, as termassituam-se nas imediações do forum administrativoda cidade. A sua inserção na malha urbana dacidade romana mostra que o conjunto do edifíciocom a palaestra ocupava uma área quadrada com150 pés de lado (Silva 1999).

O primeiro projecto das termas data dos inícios doséc. II estando intrinsecamente articulado com aconstrução do teatro.

Fig. 7: Planta doedifício das termas do

Alto da Cividade naFase I: 1 e 2: entrada;

3 e 4: cubiculae;5. latrinae;

6. apodyterium;7. piscina; 8. corredor;

9 e 10. frigidaria;11 e 12 tepidaria;

13. caldarium;14 a 23. áreas de

serviços;24. palaestra.

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Com base nos elementos disponíveis, admitimosterem ocorrido pelo menos três reformas do edi-fício: uma, entre finais do século II / inícios doIII, que amplia e redefine a área de banhos; outra,nos finais do século III / inícios do IV, que remo-dela profundamente os espaços internos, trans-formando a anterior zona quente em zona fria,sendo aberta uma nova área quente na parteoeste do edifício; e, uma outra, ainda, em meadosdo século IV, com remodelações na área quente,desafectação da área de serviços norte e desapa-recimento da grande palaestra a poente (Martins2000a).

4.1.2.1. Fase I

As termas públicas construídas nos inícios do séc.II correspondem a uma construção rectangular, deorientação NO/SE, com cerca de 150 pés de com-primento (43,5m) por 40 pés de largura (12m). Aforma alongada do edifício e a disposição das salase espaços resultam basicamente das condicionantesimpostas pelo aproveitamento de parte do edifica-do anterior, designadamente dos silhares, dispostoslongitudinalmente, utilizados como contrafortesdos compartimentos das termas e dos muros exte-riores, os quais possuem 2 pés de largura (60 cm)(Silva 1999; Martins e Silva 2000).

Cumpre-se nestas termas o percurso característicodos pequenos estabelecimentos de banhos, circu-lando-se através de uma sucessão de comparti-mentos frios, tépidos e quentes (Grenier 1960;Rebuffat 1991). O edifício pode, por isso, ser classi-ficado entre o tipo alinhado axial e retrógado(Krencker et alii 1929; Nielsen 1990), modelo bas-tante comum nas termas das províncias ocidentaise setentrionais (Fig. 6, 7).

O acesso era feito pelo lado sul, por um pequenopórtico, que dava acesso a três compartimentosdistintos, estando o maior, interpretado comoapodyterium, no eixo de circulação interna do bal-

neário.Trata-se de um compartimento com 40 m2,orientado E/O, com hipocausto, que seria aqueci-do apenas no Inverno, à semelhança do que acon-tecia noutros balneários do NO peninsular, desig-nadamente, em Gijon (Fernández Ochoa 1997a) eTongobriga (Dias 1997). Esta sala abre-se, a oeste, auma piscina de água fria, com 24 m2.

Por uma passagem situada no eixo da entradaprincipal, acedia-se a um corredor, de orientaçãoE/O, que permitia, quer aceder à palaestra, querentrar na primeira sala fria do complexo termal,através de ampla passagem, com um vão de 1,60 mde largura. O frigidarium é um compartimento rec-tangular, orientado E/O, com cerca de 35 m2, apartir do qual se acedia a um outro, com orienta-ção N/S, ligeiramente rebaixado.

Por uma porta, situada no eixo das entradas ante-riores, acedia-se a um primeiro tepidarium, de formarectangular, disposto no sentido N/S, aquecidodirectamente pelo praefurnium 2, localizado a nas-cente. Desta sala acedia-se a uma outra, igualmen-te com funções de tepidarium, orientada E/O, aque-cida indirectamente a partir do praefurnium 3. Aúltima sala aquecida do complexo termal, comuma abside no topo poente, onde existia um alveussemi-circular, funcionava como caldarium, sendoaquecido directamente pelo praefurnium 3, de canalexterno (Degbomont 1984).

Uma ampla zona de serviços desenvolvia-se naparte norte do edifício. O espaço exterior ao bal-neário, situado a poente, e acessível a partir devárias portas, rasgadas na fachada oeste do edifí-cio, foi interpretado como palaestra.

As abóbadas que cobririam as salas aquecidas,foram construídas com tijoleiras chanfradas, dis-postas em arco, revestidas de argamassa, sistemamuito comum na área da Galécia (Perez Losada1992). Considerando a intensa pluviosidade anualda região, admite-se que este sistema de abóbadasseria coberto por telhado de duas águas.

A volumetria proposta para o edifício é modesta,mas coerente, quer com a dimensão dos comparti-mentos, quer com a largura dos muros que supor-tavam o peso do edifício (Silva 1999) (Fig. 8).

Trata-se, por conseguinte, de um pequeno balneá-rio público, cuja área de banhos ocupa uma super-fície total de 170 m2. A modesta dimensão doscompartimentos contrasta com a significativa áreaocupada pelas zonas de serviço, que cobrem 208m2, bem como com a extensão da própria palaes-tra (Martins e Silva 2000).

Fig. 8: Modelo 3D da Fase I das termas, segundo proposta daarquitecta Paula Silva (Lab. Multimédia da UAUM).

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4.1.2.2. Fase II

Muito embora as remodelações operadas nas ter-mas nos finais do séc. II / inícios do III tenhamalterado a orgânica dos espaços centrais da área debanhos e as características de alguns comparti-mentos é mantida boa parte da estrutura do bal-neário anterior, conservando este a sua forma alon-gada, apesar de avançar, agora, parte da sua facha-da oeste sobre a área da palaestra.

Uma importante transformação registada nestafase consistiu na passagem do apodyterium a espaçofrio, tendo sido entulhada a área de serviços, ondese situava o praefurnium 1, transformada em sala fria,com acesso, quer ao apodyterium, quer ao corredorde serviço, a partir do qual se acedia ao frigidarium,o qual se alonga na parte poente.

Outra transformação importante registada nestaremodelação consistiu na ampliação do balneáriopara poente, tendo sido construído mais um espa-ço, que julgamos corresponder a uma piscina, comcerca de 1 metro de altura, à qual se acedia a par-tir do frigidarium.

Outra reforma deste período está associada àremodelação da área de serviços poente, comentulhamento de parte do seu espaço anterior ecriação de um novo compartimento frio, o queimplicou a reforma do praefurnium 2, que se tornoumais pequeno.

Datará deste período a implantação, na área deserviços norte, de uma cisterna, que armazenaria aágua destinada às caldeiras.

As reformas registadas ampliaram a área de ba-nhos que passou de cerca de 170 m2 para 246 m2e criaram um circuito de utilização dos espaçosmais flexível que, não só facilitaria a circulação,como permitiria a utilização do balneário pormaior número de utentes. A criação de um tercei-ro tepidarium e de um novo frigidarium permitiu queo circuito se tornasse quase perfeitamente circular.Embora documentado na Hispânia este tipo depercurso é pouco comum, estando representadono NO na Fase I das Termas Mayores de Asturica,datada entre meados do séc. I e meados do III(Sevillano Fuertes e Vidal Encinas 2000).

4.1.2.3. Fase III

Em finais do séc. III / inícios do IV as termas doAlto da Cividade foram objecto de uma profundaremodelação que alterou por completo, quer a suamorfologia, quer a circulação. O edifício manterá,

todavia, uma disposição rectangular alongada, con-servando a orientação NO/SE e as dimensões quejá possuía na fase anterior (Martins 2000b).

As transformações mais significativas registam-senas áreas norte e sul, bem como no corpo centralonde se situam os compartimentos de banhos. Naparte norte, verifica-se a inutilização do caldariumda fase anterior, agora integrado na área de ser-viços norte, com implantação de um praefurniumde canal externo (Degbomont 1984), no solo doantigo hipocausto. A sul regista-se um grandeentulhamento da área correspondente ao ante-rior átrio e compartimentos anexos, bem comoao apodyterium, piscina e ao corredor de circulaçãode acesso ao frigidarium. Este grande entulhamen-to transformou toda esta área numa ampla zonafria, que terá mantido a função de apodyterium, oqual, pelas suas dimensões, poderia ser usadopara a prática de exercícios físicos no período deInverno.

A área de banhos sofre igualmente uma profundareforma. O anterior frigidário, o tepidário e a áreade serviços anexa, a nascente, são entulhados etransformados numa ampla sala fria, com funçõesde frigidarium, do qual se conservou um extensopavimento de opus signinum. Por sua vez, a áreaaquecida desloca-se para poente, revelando umaorganização em três compartimentos, que formamum bloco compacto, sendo aquecidos por umúnico praefurnium, situado a norte. Pensamos quenesta fase deveria ter existido um único hipocaus-to contínuo sob os tepidaria e o caldarium (fig. 9).

Esta reforma reestruturou o sistema de funciona-mento e a circulação das termas, os dispositivos deaquecimento e o anterior sistema de drenagem,tornando a área de banhos mais pequena. Oesquema de circulação altera-se novamente, poden-do ser classificado de axial angular e retrógrado,esquema muito comum nas termas alto-imperiais,estando presente nas Fases II e IIA das termas deGijon, datadas de meados do séc. II (Fernández

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Fig. 9: Perspectiva dos hipocaustos tardios das termas. Fase IV

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Ochoa 1997) e na Fase II das termas deTongobriga datada de época trajânica (Dias1997). A utilização deste tipo de circuito emépoca tardia vem demonstrar a grande versatili-dade dos edifícios termais, em que os esquemasde circulação se adaptavam aos constrangimen-tos impostos pelas remodelações, não tendo,por isso, grande valor enquanto indicadorcronológico.

4.1.2.4. Fase IV

Em meados do séc. IV regista-se uma nova remo-delação do edifício das termas, a qual reordenanovamente os espaços aquecidos. As alteraçõesmais significativas registam-se na parte norte doedifício e na área quente do balneário.

A inutilização da área de serviços norte, com-pletamente abandonada e entulhada, faz desapa-recer o praefurnium da fase anterior, sendo abertoum novo, rasgado na fachada oeste. Esta altera-ção no sistema de aquecimento das termas obri-gou a uma reordenação das salas, passando oscompartimentos a ter uma nova disposição. Parao efeito, são erguidos novos muros que compar-timentam o espaço e que possuem a particulari-dade de revelarem aberturas para a passagem doar quente. Por sua vez, o anterior caldarium éagora entulhado e transformado em área fria,sendo aberto um novo, cujo hipocausto revela autilização de colunas, bem como o reaproveita-mento de material pétreo e laterício variado, dis-posto de forma desorganizada entre as pilae con-servadas da fase anterior.

Tudo indica que a entrada nas termas tenha con-tinuado a ser feita por sul, mantendo-se, nestafase, parte da circulação anterior.

Nesta fase registam-se profundas alterações naparte exterior do edifício, anteriormente ocupa-da pela palaestra, as quais parecem relacionadascom o desmantelamento e inutilização do teatro.

Admitimos que nesta fase as termas tenhampossuído uma palaestra, que estaria agora situadana zona anteriormente ocupada pela área deserviços norte, à qual se acedia a partir do fri-gidarium.

4.1.3. O edifício da Sé Catedral

As escavações realizadas, entre 1996 e 1998, no

interior da Sé Catedral, inseridas num projectode minimização do impacto de instalação de dre-nagens, permitiram detectar, entre outros vestí-gios, correspondentes a diferentes épocas, váriosmuros, pertencentes a um edifício romano queregista várias fases de utilização (Fontes et alii1997-98), com o qual se articula um grande muroidentificado nas escavações de 1983/84, na R. daN. Senhora do Leite (Gaspar 1985) e os murosdetectados nas escavações realizadas no interiorda Sé, em finais dos anos 80.

Trata-se de uma construção que possui pelomenos duas fases.A mais antiga, datada da épocaflávia / antonina não se encontra ainda identifi-cada com rigor, quer no que concerne à suaplanta, quer às dimensões, carecendo de umainterpretação mais detalhada do registo disponí-vel. Assinale-se, contudo, que a construção rema-tava a nascente num pórtico, com 3,80 m de lar-gura (13 pés), limitado exteriormente por ummuro baixo, cujo remate, ao nível do solo, supor-taria uma colunata. Aí poderia situar-se umaentrada do edifício, muito embora seja de admi-tir outras entradas, rasgadas nos muros perime-trais, dois dos quais registam 2 pés de largura.

Uma possível interpretação funcional do edifí-cio, como macellum, é sugerida pelos abundantesmacrorrestos de ossadas de animais e de conchasde ostras, presentes em níveis selados por umextenso pavimento de opus signinum, datável dosfinais do séc. III / inícios do IV. Ainda que aausência de uma planimetria detalhada do edifí-cio não permita sustentar essa interpretação,cabe-nos destacar a existência de uma inscriçãodedicada ao Génio do mercado, em cumprimen-to de um voto, por Flavius Urbicio,11 conhecidadesde o séc. XVIII, dada como proveniente da Sécatedral (Argote 1732-34; 227), entretanto, des-aparecida.

Para além de remodelações intermédias, deduzi-das de repavimentações, merece destaque umareforma ocorrida no edifício, entre os finais doséc. III / inícios do IV (Fontes et alii 1997-98), queo transforma numa construção rectangular, comorientação E/O, com cerca de 80 pés de largura(23,30m), por cerca de 100 pés de comprimento(29,50m), que regista um pavimento de opus sig-ninum. O edifício parece dividir-se em três navesmarcadas por pilares. Nesta fase mantem-se emfuncionamento o pórtico poente, o qual regista,também, um pavimento de opus signinum.

11 CIL II, 2423=ILER, 547.

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4.1.4. O teatro

Entre 1998-99 quando se procedia à escavação dosector NO da área correspondente à palaestra dasTermas do Alto da Cividade, fomos surpreendidoscom a descoberta de uma maciça estrutura semi-circular, com poderosos contrafortes, circundadapor uma calçada de circulação exterior, cujascaracterísticas sugeriam estarmos em presença deum teatro.

A necessidade de concluir a escavação das termas,em 1999, impediu-nos de avançar a escavação paraalém dos limites da insula, reservando-se para umfuturo próximo a escavação da área a norte, onde seprolonga a estrutura, como tivemos oportunidadede confirmar em sondagens realizadas em 2000.

Até ao momento os dados disponíveis sobre estaimportante construção estão reduzidos à parteescavada, no limite NO da palaestra das termas(Martins e Silva 2000) e aos resultados da sonda-gem de 2000, realizada na insula imediata, que con-firmaram o prolongamento para norte do alicercedo muro perimetral, bem como da calçada que oacompanha.

Em favor da interpretação desta estrutura comoteatro, pese embora a reduzida área descoberta damesma, jogam, quer as características topográficasdo local onde se implanta, que constitui o remateda plataforma superior da colina, que se desenvol-ve em anfiteatro até à plataforma inferior, quer aprópria natureza da estrutura. Tanto os elementosdisponíveis, como a curvatura do muro permitemrestituir o seu hipotético arco, facto que reforçoua interpretação da estrutura como teatro, tendoem conta as prováveis dimensões da estrutura.

A parte descoberta do muro perimetral do teatro,identificada numa extensão de 15 m, revela umalargura média de cerca de 4 m, apresentando umpoderoso enchimento de pedras misturadas comargamassa de saibro e argila, revestido por doisparamentos diferenciados. O paramento interiorpossui um aparelho muito tosco, de pedras dedimensão e talhe irregulares, o que sugere que nãose destinaria a ser visível. Conserva uma alturamáxima de 1,50 m, assentando directamente sobreenchimentos que inutilizam as estruturas anterio-res, pertencentes ao edifício pré-termal.

O paramento externo, conservado de forma des-contínua, devido a saques de pedra, revela um cui-dado e regular aparelho de opus vittatum. A parteconservada mostra que o paramento externoassentava na rocha, cuidadosamente nivelada para

o efeito, encontrando-se a mesma cortada emdegraus, de modo a permitir que o muro vencesseo acentuado desnível do terreno.A altura máximaconservada do muro é de cerca de 2 m.A interva-los regulares, de cerca de 11,50 m (cerca de 40 pés),encontramos os contrafortes, com 1,20 m de lar-gura. Destes, conservam-se dois, sendo perceptívelos locais onde se implantavam outros dois com-pletamente saqueados, sendo visível, todavia, o seualicerce, constituído por um nível de pedra miúda,sobre o qual assentavam os blocos que compu-nham os contrafortes. Tendo por base o contrafor-te que se encontra melhor conservado, sabemosque possuíam 1,20 m (4 pés) de largura, por 0,90m (3 pés) de espessura. Eram compostos por fiadasde grandes silhares almofadados com 1,20 m x 0,45 m x 0,20 m, dispostos verticalmente, ou trans-versalmente. Entre aqueles silhares dispõem-se blo-cos de aparelho isódomo.

Tendo em conta os enchimentos da vala de funda-ção do muro podemos datá-lo dos inícios do séc. II.

Circundando externamente o muro perimetral doteatro, dispõe-se uma calçada que se desenvolviaem escadaria, marcada pelo nível de assentamentodos contrafortes, ligando as duas plataformas dacolina, com cerca de 5 m de diferença de cota. Estacalçada está limitada, a sul, por um muro, que limi-tava a palaestra das termas (Martins 2000b). Trata-se de um muro de tendência circular, que acom-panha a curvatura do muro perimetral do teatro.A parte conservada assenta sobre o entulhamentode um tanque, pertencente ao edifício pré-termal,

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Fig. 10. Projecção do teatro anexo ao edifício das termas, inse-ridos na hipotética malha urbana.

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sobrepondo-se parcialmente ao lado sul daquelaestrutura. O muro acompanha a inclinação doterreno e assenta directamente na rocha, tendosido descoberto numa extensão de 22 m. Revela-semuito irregular, quer na altura conservada, a qualchega a atingir 1 m, quer na largura, que oscilaentre os 0,50 /0, 60m. O aparelho é também bas-tante irregular, por vezes muito tosco o que indicaque estaria parcialmente soterrado.A sua cronolo-gia é sugerida pelos materiais correspondentes aoentulhamento do tanque e pelo enchimento davala de fundação do muro, podendo ser datado, talcomo a calçada, dos inícios do séc. II.

A desafectação do teatro deve ter-se iniciado emfinais do séc. III / inícios do IV, uma vez que emmeados do séc. IV parte dele foi coberto por umextenso solo de terra batida que acompanha tam-bém toda a fachada oeste das termas. O estado dearrasamento do edifício, perceptível pela parte des-coberta do mesmo, sugere que deve ter sido des-montado para a obtenção de pedra, parte da qualterá sido seguramente utilizada na construção damuralha erguida na mesma época.

4.1.5. O anfiteatro

Bracara Augusta possuíu um anfiteatro, hoje total-mente soterrado e parcialmente destruído.Testemunhos que comprovam a sua existência sãoas referências a ele feitas pelos eruditos bracaren-ses dos séculos XVII e XVIII, particularmente D.Rodrigo da Cunha (1634) e Jerónimo Contador deArgote (1728; 1732-34). Ao primeiro é devida aexpressa menção da existência, na paróquia de S.Pedro de Maximinos, de um meio círculo, lugaronde estava o anfiteatro (Cunha 1634). J. Contadorde Argote é ainda mais preciso na sua localização,afirmando que se encontrava no sítio da antigaigreja de S. Pedro de Maximinos, referindo que eraredondo e que, no tempo de D. Rodrigo da Cunha,ainda se apreciavam vestígios claros da sua “fábri-ca” (1732-34). O texto de Argote deixa perceberque, na sua época, as ruínas do edifício eram jádifíceis de perceber. A última referência escrita ao

anfiteatro surge pela mão de Pereira Caldas, repor-tando-se a 1852, constando de um roteiro sobre asobras artísticas que a rainha D. Maria I e o PríncipeD. Fernando poderiam ver na viagem ao Distrito deBraga. Nele se referem “os restos escassos que aindaapparecem, nas escavações, d’antigo amphitheatro romano”(Caldas 1852).

Tendo seguramente deixado de ser visível nasegunda metade do séc. XIX, altura em que tam-bém foi destruída a antiga igreja de S. Pedro deMaximinos, a localização aproximada deste anfite-atro pode ser estimada com base na análise dafotografia aérea. O ensaio realizado por RuiMorais sobre os fotogramas de 1964, resultaram naconfirmação da existência de um meio círculo,correspondente a uma grande estrutura soterrada,situada no eixo da R. de S. Sebastião, cujo traçadocorresponderia, aproximadamente, ao decumanomáximo oeste de Bracara Augusta (Morais 2001, figs.3, 4, 5 e 6).

Considerando a localização deste importante edifí-cio lúdico, não deixa de ser sugestivo correlacionaro seu alinhamento com o teatro, recentementeidentificado na colina do Alto da Cividade, sendoigualmente de salientar que ambos os edifícios seencontram no eixo do forum e do decumano máxi-mo oriental.

Tendo em conta que a construção do teatro datados inícios do séc. II, parece-nos aceitável admitir amesma cronologia para a construção do anfiteatro,considerando a natureza lúdica dos dois equipa-mentos. De facto, ambos constituem importanteselementos de prestígio das cidades e veículos deexpressão ideológica que permitiam, nas cidadesprovinciais, a reprodução das grandes manifesta-ções de vida pública romana, como eram os mune-ra e os ludi scaenici (Fuentes Domínguez 2000). Poroutro lado, a articulação visual dos dois edifícios,de acordo com a sua topografia, sugere terem sidoconcebidos como elementos interligados na ceno-grafia da cidade, facto que reforça a ideia da suaconstrução mais ou menos simultânea.

Hoje soterrado e sobreposto por várias constru-ções, este grande equipamento deverá ter sido bas-tante arrasado, sendo possível que tenha servidode pedreira para a cidade medieval e moderna. Noentanto, estamos em crer que, tal como aconteceucom o teatro do Alto da Cividade, o anfiteatropode ter sido abandonado nos finais do séc. III /inícios do IV, tendo-se iniciado, então, o seu des-monte para obtenção de material para a constru-ção da muralha.

Fig. 11: Perspectiva do paramento exterior de um dos torreões damuralha.

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4.1.6. A muralha do Baixo-Império

A realização de diversas escavações em várioslocais periféricos da cidade de Braga, a partir dosanos 80, tendo em vista confirmar o traçado deuma muralha romana, referida pelos eruditos bra-carenses, permitiu não só confirmar parte do tra-çado sugerido para aquela fortificação, por JoséTeixeira, em 1910, como verificar que a muralha deBracara Augusta tinha características semelhantes àsdas restantes cidades do NO, como Lugo, Astorgae Gijon (Fernández Ochoa 1997b).

Os resultados mais significativos para o estudo damuralha foram obtidos nas extensas escavaçõesrealizadas na zona do Fujacal12, local onde foi postoa descoberto um extenso pano de uma poderosafortificação, cuja fundação data de finais do séc. III/ inícios do IV. A estrutura é bastante robusta,oscilando a sua largura entre os 5 e os 6 metros,exibindo um aparelho irregular, resultante de repa-rações, algumas das quais feitas já nas épocasmedieval e moderna13. O paramento internocorresponde à face externa de um muro, com umalargura de cerca de 0,90 m. Por sua vez, o para-mento externo limita o poderoso enchimento damuralha, estruturado e estratificado em camadasde grandes pedras transversais, dispostas sobreoutras compostas por pedra miúda, seixos, tijolopartido, argila e areão granítico. (Fig. 11).

Neste sector da cidade foram ainda descobertosdois torreões semi-circulares, que se encontramconservados apenas ao nível dos alicerces, reve-lando um diâmetro aproximado de 3,20 m. Osalicerces dos torreões encaixam no solo natural,revelando um raio externo composto por blocostalhados em cunha, com uma face exterior pro-nunciadamente encurvada, de modo a conferir acircularidade da estrutura e um rigoroso nivela-mento da mesma. Um dos torreões, revelou res-tos do paramento exterior em opus quadratum(Fig.11). Uma técnica construtiva semelhante foiigualmente observada no torreão identificadona R. dos Bombeiros Voluntários, muito emboranão se conservem aí vestígios do paramentoexterior.

Nas escavações realizadas no edifício da Sé

Catedral foram igualmente postos a descobertovestígios da muralha romana, que revela, aí, umenchimento semelhante ao observado no tramo daQuinta do Fujacal, registando um paramento exte-rior de grandes blocos de opus quadratum (Fontes etalii 1997-98). Um outro tramo do sector norte damuralha foi observado numa intervenção arqueo-lógica realizada numa casa da R. D. Paio Mendes.

Outras intervenções realizadas em zonas periféri-cas da cidade, com carácter mais pontual, permiti-ram definir com maior precisão o traçado damuralha, precisar a sua cronologia e confirmar assuas características construtivas.

Sabemos, assim, que a muralha de Bracara Augustaseria rodeada de torreões. Para além daqueles queforam identificados na Quinta do Fujacal, foidetectado um outro no cruzamento da R. dosBombeiros Voluntários com a Rodovia (Lemos etalii 2003),

Sabemos, também, que a construção desta muralhasacrificou edifícios, cujos materiais foram usadosna própria fortificação. No entanto, persistiu emBracara Augusta a ocupação de algumas áreas extra-muros, confirmada, por exemplo, pela cronologiatardia da habitação identificada sob o actual café/ snack das Frigideiras do Cantinho, seguramenteocupada ao longo de todo o século IV (Martins2000)

Tendo em conta que os dados disponíveis sobre amuralha foram obtidos em escavações de salva-mento, não resultando de um programa de inter-venção com vista à detecção e estudo deste impor-tante equipamento urbano, são numerosas as ques-tões que permanecem em aberto.

Por resolver estão ainda problemas de cronologia,relativos às sucessivas reparações da estrutura, querainda ao seu abandono definitivo. Outra questãoem aberto relaciona-se com as portas da muralha,sobre as quais nada sabemos, quer relativamente àsua localização, quer ao seu número. Sendo presu-mível que a muralha possuísse quatro portas, aber-tas nos eixos principais de circulação, não deixa deser possível a existência de outras, com caráctersecundário. Por outro lado, se a identificação de

13 A primeira intervenção realizada neste local data de 1983, altura em que aí foi identificada a existência de uma robusta estru-tura, com um paramento interno, cujas características apontavam para uma datação medieval (Delgado et alii 1984). Nos anos90 foram reiniciados os trabalhos, que se prolongaram até 1998 (Lemos e Leite no prelo).

14 Tudo indica que a muralha estaria ainda visível na Idade Média, acabando por servir como muro de contenção de terras, comodocumentam os sucessivos aterros contra o seu pano interior. O próprio circuito da muralha viria a ser usado como camin-ho, até épocas recentes.

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três torreões constitui uma prova em favor de umatipologia de muralha semelhante à de Lugo,Astorga ou Gijon, permanece por esclarecer, quera modulação, quer a razão de ser da variabilidadedos diâmetros dos torreões.

Finalmente, parece-nos que a definição rigorosa dotraçado da muralha constituirá ainda um proble-ma em aberto durante muito tempo, pois a suarigorosa confirmação exigiria um projecto de esca-vação sistemática em vários locais do perímetro daantiga cidade romana. De facto, alguns dados per-mitem sugerir que a muralha se desenvolveria emtroços rectilíneos, o que lhe conferiria uma formapoligonal, em vez de elíptica, como é tradicional-mente sugerido (Lemos et alii 2003).

Tendo em conta as características e cronologia damuralha de Bracara Augusta, que se insere no estilolegionário hispânico, com paralelos noutras provín-cias ocidentais, designadamente na Gália, Germâniae Britânia, é de supor que a sua construção se insi-ra numa política edilícia geral, determinada porRoma para a defesa militar do ocidente do Império(Fernández Ochoa 1997b). Tal facto poderia pressu-por que a sua construção tivesse beneficiado definanciamento imperial, bem como de uma planifi-cação feita por engenheiros militares. Por outrolado, tendo em conta a homogeneidade da obra,observada em vários locais do seu perímetro, tudoaponta para que a muralha tenha sido construídade forma continuada, como projecto único, sendoquase certo que nela foram usados materiais resul-tantes do desmonte de habitações, mas, também, dealguns grandes edifícios públicos, como seria o casodo teatro e do anfiteatro.

A construção da muralha alterou por completo aconfiguração da cidade alto-imperial, que presumi-mos de forma rectangular. A cidade que emergiuapós a construção da muralha é uma cidade fecha-da, acessível apenas pelas portas, ainda não detec-tadas. Tal facto implicou a perca de funcionalidadede muitos dos anteriores eixos viários, situação quefavoreceu a ocupação privada destes espaços, quese enchem de construções que se articulam com oedificado pré-existente. Muito embora seja impos-sível estimar, de momento, por falta de dadosarqueológicos, qual o impacto da construção damuralha sobre o urbanismo de Bracara Augusta,parece evidente que a sistemática construção dosanteriores eixos viários e dos pórticos terá altera-do a configuração das insulae alto-imperiais, sendopossível que as áreas habitacionais da cidade setenham tornado mais compactas, com reduzidosespaços de circulação entre as casas.

4.2. Arquitectura privada

Pese embora o elevado número de vestígios dehabitações identificadas até ao momento nas esca-vações, o exemplar mais elucidativo da arquitectu-ra doméstica de Bracara Augusta está representadona zona arqueológica das Carvalheiras, onde foiposta a descoberto a única planta integral de umacasa (Martins 2000a)

Considerando a recorrência dos elementos cons-trutivos que tipificam os contextos domésticos,mau grado a natural heterogeneidade das suasplantas, impossível de avaliar no presente, a casadas Carvalheiras surge-nos como protótipo dahabitação urbana corrente de Bracara Augusta. Defacto, ela representa um notável exemplo daarquitectura urbana privada e do modo como seorganizavam as áreas residenciais da cidaderomana, oferecendo características urbanísticas earquitectónicas que vêm sendo registadas nou-tros locais de Braga (Martins 2000). Entre essascaracterísticas destacamos os pórticos queladeiam as ruas e as numerosas lojas que se ins-talavam ao longo das fachadas, no piso térreodas casas (Fig. 12).

A casa das Carvalheiras insere-se numa área resi-dencial situada no sector noroeste da cidaderomana, relativamente perto do forum (Martins1997-98; 2000b)

As escavações do conjunto iniciaram-se em 1983(Delgado e Lemos 1985; 1986), tendo sido realizadasde forma descontinuada e apenas concluídas em2000.A preservação do terreno e a escavação inte-gral da área disponível permitiu pôr a descoberto

Fig. 12. Planta simplificada das estruturas encontradas no logra-douro do edifício do Ex-Albergue Distrital. São visíveis os pór-ticos, ladeando as construções de ambos os lados da rua, sob aqual corre a cloaca.

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a totalidade de um quarteirão residencial, limitadopor quatro ruas, sendo perceptíveis, nos limites daárea escavada, muros de insulae adjacentes. No anode 2002 foi escavada parte da insula situada a nas-cente, tendo sido possível observar o prolonga-mento dos eixos, quer do pórtico, quer da rua sul,bem como a rua este que separava inicialmente osdois quarteirões.

Muito embora as escavações na zona dasCarvalheiras tenham revelado materiais datáveis daprimeira metade do séc. I da nossa era, desconhe-ce-se que tipo de construção poderá estar associa-da a uma ocupação desse período. Com efeito, osmais antigos vestígios de construções presentes nolocal datam do último quartel daquele século,podendo-se afirmar que a casa das Carvalheiras foierguida na época flávia.

Adaptando-se à topografia do terreno, desenvolve-se em dois planos distintos, interligados interna-mente por escadas, revelando uma métrica rigoro-sa que obedece aos típicos cânones vitruvianos(Silva 2000).

Na primeira metade do séc. II a casa da Carvalheirassofreu uma primeira reforma que afectou todo o seuquadrante noroeste. Na origem desta reforma, quedefine uma segunda fase construtiva do conjunto

Fig. 13: Planta da casadas Carvalheiras. Fase I

Fig. 14. Modelo 3D da casa das Carvalheiras (Fase I), segundorestituição do arquitecto Rui Silva (laboratório multimédia daUAUM.

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habitacional, esteve a construção de um balneáriointegrado na estrutura da primitiva habitação.

Nos finais do séc. III / inícios do IV, a habitaçãoconheceu uma profunda remodelação. A constru-ção parece manter-se ocupada até aos finais doséculo IV, inícios do V, altura em que terá sido defi-nitivamente abandonada.

4.2.1. A Fase I

O primeiro projecto arquitectónico está definidopor uma grande habitação que ocupa uma áreade 1156m2 (110 x 120 pés), dos cerca de 1367m2,

correspondentes à área total do quarteirão (Silva2000) (Fig. 13).

Estamos em presença de uma elegante construçãode forma aproximadamente quadrada, que podeser dividida em duas áreas funcionais diferencia-das, bem marcadas pelo desnível de cerca de 3 mde altura entre a plataforma norte (mais baixa) ea plataforma sul (mais alta). Tal desnível foi resol-vido através da construção de um muro interior,erguido aproximadamente a meio da habitação.Ambas as plataformas definem espaços funcionaisautónomos, com entradas próprias que assinalama diferenciação funcional das áreas, muito emborase encontrem ligados por uma escada interior(Martins 1997-98; Silva 2000). (Fig. 13).

A casa das Carvalheiras ergue-se como um volumesólido e estável, de paredes de granito, solidamen-te implantada na rocha.

Fig. 15. Planta dasCarvalheiras, Fase II.

Fig. 16: Modelo 3D da Casa das Carvalheiras (Fase II), segundoo arquitecto Rui Silva ( laboratório multimédia da UAUM).

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A espessura dos muros mais representativos oscilaentre 0,45 m e 0,48 m nas paredes interiores (1,5pés) e 0,51 m e 0,56 m nas exteriores, valores queas aproximam da medida de 2 pés.

Bem documentados estão os silhares que supor-tavam as colunas, quer nos pórticos exteriores,quer em volta do peristilo. Trata-se de blocos degranito predominantemente quadrados (0, 45 mx 0, 45 m).

A habitação das Carvalheiras obedece a umamétrica rigorosa, verificando-se a utilização de doismódulos dominantes. O módulo de 10 pés (2,96m) caracteriza a estrutura dos pórticos exteriores,estando presente tanto na largura e altura dosmesmos, como no distanciamento entre os eixosdas colunas. Por sua vez, o porticado do peristilooferece uma modulação alternada de 10 e 12 pés,quer na altura, quer ainda entre os eixos das colu-nas que o compunham. Nos lados menores domi-na o módulo de 10 pés, enquanto nos lados maio-res o módulo é de 12 pés (Silva 2000).

A casa das Carvalheiras era servida por duas entra-das, uma a sul, com acesso directo ao átrio e salasenvolventes e outra a norte, com entrada directapara o peristilo e compartimentos que se erguemem torno deste vasto espaço aberto (Fig. 13).

Pela entrada sul, servida por um pequeno corredorque comunicava com um compartimento que pre-sumimos corresponder a uma loja, acedia-se aointerior do átrio aberto, em torno do qual se des-envolvia um conjunto de espaços de recepção.Uma escada dava ausso ao peristilo, em torno doqual se situava a parte mais privada da habitação.Os compartimentos a nascente parecem associar-sea actividades de recepção e alimentação. As salassituadas na parte sul do peristilo, poderão corres-ponder a salas de recepção, muito embora seja pos-sível que existisse inicialmente apenas uma únicasala, posteriormente dividida. No lado poente, os

compartimentos alinhados NO/SE corresponde-riam a cubiculae (Martins 1997-98; Silva 2000).

No conjunto do peristilo merece destaque a exis-tência de um poço que estaria integrado no pórti-co norte, o qual persistiu como elemento impor-tante da construção ao longo da sua ocupação.Trata-se de uma estrutura de cuidada alvenaria,cujo aparelho revela características típicas dasconstruções da época flávia.

No exterior, a casa encontra-se limitada por ruas,cujas pendentes, entre os 2 e 3%, acompanham amorfologia do terreno.

Ladeando as ruas sul e oeste desenham-se eixos decirculação pedonal porticados, com 10 pés de lar-gura, que compensariam os desníveis do terrenoatravés de pequenos lances de escadas.

Um conjunto de lojas (tabernae), abria-se nas facha-das sul e oeste da casa, com acesso directo a partirdos respectivos pórticos que acompanhavam as ruas.

No lado norte não foi reconhecida a existência delojas. Tendo em conta os elementos disponíveis épossível admitir a existência de uma fachada recua-da, encerrada por um pequeno pórtico, onde selocalizaria a entrada norte da habitação, com aces-so directo ao peristilo. Acompanhando esta facha-da, ao longo da rua, existe uma canalização querecolheria a água das chuvas, drenando para oeste(Martins 1997-98).

A fachada este, que acusa um forte declive, venci-do ao nível da rua por escadas, estaria definida pordois muros cegos. Na parte sul desta fachada pode-ria existir um estreito pórtico (Silva 2000).

4.2.2. A Fase II

A casa das Carvalheiras foi remodelada na pri-meira metade do séc. II para instalação de um bal-

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Fig. 17: Panorâmica das ruínas da casa das carvalheiras, vista denorte.

Fig. 18: Perspectiva da área porticada do peristilo de uma casaescavada no Largo S. João do Souto.

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neário, construído no quadrante noroeste. Para oefeito foram sacrificadas as lojas desse sector quese abriam ao pórtico oeste, bem como os cubiculaque se localizavam a oeste do peristilo (Fig. 15).

O balneário irá ocupar praticamente um quartoda área da construção, sendo definido por umconjunto de compartimentos frios e aquecidos, osúltimos dos quais muito destruídos, não se con-servando restos significativos dos hipocaustos queformavam os subsolos do caldarium e do tepidarium(Martins 1997-98). Conservam-se apenas as marcasdas tijoleiras que formavam a area dos hipocaus-tos, sendo de destacar a presença, nos níveis dedemolição da estrutura, de abundante materiallaterício, que permitiu reconstituir algumas dascaracterísticas construtivas do balneário que obe-dece aos cânones típicos deste tipo de equipa-mentos (Nielsen 1990; Rebuffat 1991).

Sabemos, assim, que os hipocaustos eram consti-tuídos por pilae e que as salas aquecidas possuíamuma cobertura de abóbadas de tijoleiras argamas-sadas. Estas seriam posteriormente cobertas portelhado de duas águas. Por sua vez, a identificaçãode tubuli latericii, nos níveis de destruição, permite-nos saber que, pelo menos, as paredes do caldariumpossuiriam tubuluras, por onde circulava o arquente.

Melhor conservadas estão as salas frias que con-servam um espesso solo de opus signinum.

O balneário ocupa uma área útil de 190m2, apre-sentando-se como um bloco compacto de quatrosalas que permitiam cumprir o circuito de banhosrecomendado, sendo servido por duas pequenasáreas de apoio, localizadas a norte (Silva 2000)(Fig. 16).

4.2.3. As remodelações tardias

As características da casa, adquiridas com a insta-lação do balneário, em meados do séc. II, parecemmanter-se até finais do séc. III / inícios do IV, altu-ra em que ocorreram algumas significativas remo-delações na estrutura. Estas encontram-se bemdefinidas, do ponto de vista construtivo, por umconjunto de muros que revelam um aparelho irre-gular e pouco cuidado. Os muros deste períodoencontram-se bem representados na área envol-vente do peristilo, sobretudo nos lados este e sul.Também a fachada oeste voltou a ser remodelada,sendo de destacar, como aspecto marcante dasreformas deste período, a invasão da rua oestecom construções, facto que a torna mais estreita,sendo igualmente notória a construção de muros

que começam a fugir aos alinhamentos anteriores(Martins 1997-98) (Fig. 17).

Muito embora as remodelações ocorridas nesteperíodo não se encontrem ainda completamenteesclarecidas, parece-nos indiscutível a preocupaçãoem fechar os compartimentos envolventes doperistilo com pesadas portas, conservando-se bemalguns dos elementos de arquitectura que defi-niam os limites dessas portadas. Referimo-nos àssoleiras dos compartimentos feitas de grandes blo-cos de granito, que revelam os rasgos para encai-xe das portas e trancas verticais. Conservadasencontram-se igualmente várias ombreiras late-rais, também elas constituídas por pesados ele-mentos de granito, com encaixes para trancashorizontais.

As características das portadas dos compartimen-tos referidos, mais adequadas a lojas do que acompartimentos interiores de uma habitaçãosugerem-nos uma mudança na funcionalidade doespaço envolvente do peristilo.

Admitindo-se a continuidade de utilização do bal-neário e as reformas referidas, julgamos que estaparte da habitação se transformou em área públi-ca, ainda que mantendo a sua configuração origi-nal.Aparentemente, apenas a parte sul da casa terácontinuado a ser utilizada com funções de resi-dência, mantendo, também, as características her-dadas do período anterior.

Tudo indica que o conjunto sofreu algumas remo-delações ao longo do séc. IV, que parecem articu-lar-se com a desafectação progressiva de algunsespaços. Num compartimento, dentro da vala defundação do muro norte, na área correspondenteà soleira, foram enterradas, em meados do séc. IV,cerca de 45 000 moedas de bronze, a maior partedas quais cunhadas no tempo do imperadorConstantino.

O abandono definitivo da construção poderá sersituado entre finais do séc. IV, inícios do século V.

5. Considerações finais

As intervenções arqueológicas realizadas em Braganos últimos vinte e cinco anos no âmbito do pro-jecto de Bracara Augusta trouxeram à luz do dia ves-tígios significativos que permitiram documentar,quer a estrutura da cidade, quer tipificar algunsdos seus equipamentos públicos e privados.

Sem dúvida que um dos contributos mais impor-tantes da Arqueologia Urbana se situa no reco-

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nhecimento de que Bracara Augusta foi uma cidadeque mereceu uma planificação precoce, quer noque respeita à ordenação dos seus eixos viários,quer na rigorosa definição dos seus quarteirões,que vêm revelando dimensões muito similares,quer ainda na criação de infra-estruturas de sane-amento. Se persistem ainda dúvidas relativamenteà cronologia precisa do plano ortogonal da cida-de, pelas razões que apresentamos anteriormente,parece não restar dúvidas de que Bracara Augustaterá conhecido um único plano urbanístico queabarcou uma área extensa, embora ainda nãocompletamente delimitada, cujo centro se situana zona onde tradicionalmente se admite estarlocalizado o forum administrativo da cidade. Poroutro lado, pese embora a escassez de construçõ-es conhecidas do período pré-flávio, tudo leva acrer que a área situada nas imediações do forumfoi a primeira a ser ocupada, muito embora aolongo da dinastia júlio-claudia deva ter existidouma ocupação progressiva de toda a área urbana,conforme está documentado pela dispersão dosmateriais.

Se as características da arquitectura são ainda lar-gamente desconhecidas, parece-nos, entretanto,indiscutível, a qualidade de alguns dos edifícios jáestudados. Por sua vez, as construções públicasidentificadas, ainda que não escavadas, parecemsugestivas da importância que Bracara Augusta teráassumido no contexto do programa de urbaniza-ção do NO, iniciado por Augusto. (Fig. 18).

Se é certo que a fundação da cidade parece regis-tar um marcado cunho ideológico e uma forte liga-ção à figura de Augusto e respectiva família (LeRoux 1975; Tranoy 1980), facto que parece consti-tuir uma tónica dominante na afirmação do fenó-meno urbano nas províncias ocidentais (Keay 1995),

o desenvolvimento da cidade e os posteriores pro-gramas de obras, em particular aquele que parecereorganizar a parte central do núcleo urbano, datá-vel entre a época flávia e os antoninos, configuram-se largamente devedores da importância adminis-trativa e económica que Bracara Augusta protagoni-zou no contexto regional e provincial. A intensaactividade edilícia assinalada entre finais do séc. I /inícios do II surge-nos, assim, como uma expressãoda capacidade que as elites bracarenses tiveram emexprimir a sua lealdade ao estado romano, dotandoa cidade de equipamentos carismáticos, como o tea-tro e o anfiteatro.

Apesar da natureza fragmentária dos dados dispo-níveis temos que reconhecer que o urbanismo deBracara Augusta tem que ser olhado como um pro-cesso dinâmico, alimentado por sucessivos e dife-renciados projectos edilícios, que foram estrutu-rando um tecido urbano sucessivamente retocadoao longo dos séculos. Se é verdade que aArqueologia não logrou ainda fornecer-nos senãoevidências descontínuas desse processo, também écerto que só ela poderá descobrir os elementosque nos permitam ir restituindo a evolução etransformação sofridas pela cidade ao longo da suaocupação.

Mau grado o nosso desconhecimento relativo aoscomplexos construtivos fundamentais da cidaderomana, designadamente do forum, o qual não foiainda objecto de estudo, entendemos que os dadosdisponíveis permitem considerar Bracara Augustacomo um exemplar urbano revelador do bomnível de integração das populações indígenas daárea meridional do NO peninsular, facto quepoderá ter determinado o seu protagonismo noBaixo-Império e a sua promoção a capital provin-cial ao tempo de Diocleciano.

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