arq romana em bracara augusta.uma analise das tecnicas edili.pdf

622
Jorge Manuel Pinto Ribeiro Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma análise das técnicas edilícias Volume I - Texto Jorge Manuel Pinto Ribeiro Dezembro de 2010 UMinho | 2010 Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma análise das técnicas edilícias Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais

Upload: doankhue

Post on 07-Jan-2017

269 views

Category:

Documents


23 download

TRANSCRIPT

  • Jorge Manuel Pinto Ribeiro

    Arquitectura romana em Bracara Augusta.Uma anlise das tcnicas edilcias

    Volume I - Texto

    Jorg

    e M

    anue

    l Pin

    to R

    ibeir

    o

    Dezembro de 2010UMin

    ho |

    201

    0Ar

    quite

    ctur

    a ro

    man

    a em

    Bra

    cara

    Aug

    usta

    . Um

    a an

    lise

    das

    tcn

    icas

    edilc

    ias

    Universidade do MinhoInstituto de Cincias Sociais

  • Bolsa no mbito do CREN - POPH - Tipologia 4.1 / Formao avanada, comparticipadapelo Fundo Social Europeu e por fundos nacionais MCTIS, com referncia SFRH / BD / 27753 / 2006

  • Dezembro de 2010

    Tese de DoutoramentoArqueologia

    Trabalho efectuado sob a orientao doProfessora Doutora Maria Manuela MartinsProfessor Doutor Ricardo Mar

    Jorge Manuel Pinto Ribeiro

    Arquitectura romana em Bracara Augusta.Uma anlise das tcnicas edilcias

    Volume I - Texto

    Universidade do MinhoInstituto de Cincias Sociais

  • DECLARAO

    Nome: Jorge Manuel Pinto Ribeiro

    Endereo electrnico: [email protected]

    Telefone: 919533272

    N Bilhete de Identidade: 12073543

    Ttulo da Dissertao:

    Arquitectura Romana em Bracara Augusta Uma Anlise das Tcnicas Edilcias

    Orientadores:

    Professora Doutora Maria Manuela Dos Reis Martins

    Professor Doutor Ricardo Mar

    Ano de concluso: 2010

    Ramo de Conhecimento do Doutoramento:

    Arqueologia, rea de conhecimento de Materiais e Tecnologias

    DE ACORDO COM A LEGISLAO EM VIGOR, NO PERMITIDA A REPRODUO DE

    QUALQUER PARTE DESTA TESE/TRABALHO.

    Universidade do Minho, ____/_____/2010

    Assinatura:______________________________________

  • iii

    Agradecimentos

    Um trabalho de investigao desta natureza seria inexequvel sem a colaborao de um

    grande nmero de pessoas. Gostvamos de agradecer a todos aqueles que, directa ou

    indirectamente, contriburam para tornar esta tese possvel. A lista longa, contudo, peo

    desculpa s pessoas que porventura no so nomeadas.

    Gostvamos de agradecer em primeiro lugar aos nossos dois orientadores por terem

    aceite dirigir esta tese e pelos conhecimentos cientficos que nos transmitiram. Professora

    Manuela Martins, a quem devemos a oportunidade de trabalhar no Projecto de Salvamento de

    Bracara Augusta, que esteve na origem do projecto e nos aconselhou ao longo destes quatro

    anos, agradecemos a amizade, os seus conselhos, correces meticulosas e os seus numerosos

    comentrios crticos, mas sempre pertinentes ao nosso trabalho. Ao Doutor Ricardo Mar que

    conhecemos em Roma, agradecemos as incessantes orientaes dadas e a oportunidade de

    partilhar com ele o seu extraordinrio conhecimento. O nosso muito obrigado por nos ter

    recebido na sua casa em Barcelona, pelos estmulos e ensinamentos a que sempre se prontificou

    e pela sua disponibilidade.

    Gostaramos seguidamente de expressar a nossa gratido Dra. Isabel Silva, directora do

    Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa (MRADDS), por todas as facilidades que

    sempre concedeu no acesso aos materiais, desenhos e arquivos fotogrficos daquela instituio.

    Tambm gostvamos de agradecer a colaborao de todos os funcionrios do MRADDS, em

    particular, Clara Lobo, pela sua disponibilidade, profissionalismo e amizade. Um obrigado

    igualmente ao Manuel Santos, Felismina Vilas Boas, pela rapidez e eficcia com que atendiam

    os nossos pedidos. Gostaramos ainda de destacar a contribuio de uma pessoa que j no faz

    parte do nosso mundo, o Filipe Antunes, uma parte desta tese iniciou-se com base nas suas

    pesquisas.

    Ao Dr. Armandino Cunha, responsvel pelo Gabinete de Arqueologia da Cmara

    Municipal de Braga (GACMB) agradecemos as facilidades que nos concedeu no acesso aos

    materiais, arquivos fotogrficos e desenhos daquela instituio. Uma palavra tambm para os

    seus colaboradores pela sua ajuda logstica e disponibilidade.

    A nossa gratido estende-se tambm ao Cnego Dr. Jos Paulo Abreu, director do Museu

    Pio XII, pelas facilidades que nos concedeu no acesso ao esplio arquitectnico daquela

  • iv

    instituio. Gostvamos igualmente de deixar aqui um agradecimento aos seus colaboradores

    pela sua disponibilidade.

    Ao Cnego Dr. Pio Alves de Sousa, director do Tesouro do Museu da S de Braga,

    agradecemos s facilidades que nos concedeu no estudo dos elementos arquitectnicos que

    integram a coleco daquela instituio. Um obrigado igualmente aos seus colaboradores, pela

    pacincia e disponibilidade.

    Uma palavra de especial gratido igualmente Fundao para a Cincia e Tecnologia

    (FCT) pela concesso de uma bolsa que representou um apoio fundamental para a realizao

    desta tese.

    Expressamos, igualmente, a nossa gratido Universidade do Minho e a Unidade de

    Arqueologia (UAUM) por nos ter propiciado todas as condies para a execuo da nossa tese.

    Ao Dr. Rui Morais e Dra. Manuela Delgado com quem aprendemos a gostar dos

    materiais arqueolgicos, agradecemos o encorajamento constante. Ao Dr. Rui Morais, em

    particular, agradecemos o entusiasmo contagioso com o qual sempre acompanhou os nossos

    trabalhos. A ele tambm devemos dados que ajudaram em muito a realizao de algumas partes

    desta tese, designadamente o seu estudo sobre os materiais de construo e numerosos

    documentos grficos.

    No queramos ainda deixar de referir os investigadores, funcionrios e colaboradores,

    actuais e passados, da Unidade de Arqueologia: Dr. Jos Meireles, pelo apoio e amizade, Dra.

    Maria do Carmo Ribeiro, pelos encorajamentos constantes. Um obrigado igualmente ao Dr. Lus

    Fontes e ao Dr. Jos Manuel Freitas Leite, pela disponibilidade, conselhos e amizade. Um

    agradecimento especial Cristina, com quem partilhamos muito mais do que trabalho e

    Fernanda, pelo sua amizade e apoio constante. Merecem destaque porque estiveram presentes,

    em todos os passos possveis e imaginveis. Uma palavra igualmente para o Z Nuno que

    distncia continua a fazer parte da equipa. Cumpre-nos ainda agradecer ao Eurico Machado,

    com quem demos os primeiros passos em arqueologia aps a concluso da licenciatura. Um

    obrigado igualmente Engenheira Natlia Botica e Clara Rodrigues. Gostvamos ainda de

    manifestar o nosso agradecimento aos restantes funcionrios e colaboradores da Unidade de

    Arqueologia.

    Ao Dr. Carlos Alves do Departamento de Cincia da Terra da Universidade do Minho

    agradecemos a ajuda e orientaes preciosas dadas na anlise dos granitos de Braga e da

    regio.

  • v

    Gostaramos igualmente de agradecer ao Sr. Vasco Jcome Avelar, titular da Casa do

    Avelar, pela sua amabilidade e pelas facilidades que nos concedeu no estudo dos elementos

    arquitectnicos pertencentes sua famlia.

    A realizao deste trabalho contou com a ajuda de vrias pessoas. No tratamento da

    documentao grfica trabalharam Cristina, Fernanda, a quem agradecemos as vrias plantas e

    restituies cedidas, Eurico Loureiro e Paula Gis. O desenho dos capitis e bases monumentais

    deve-se a Csar Figueiredo. A insero dos dados recolhidos numa base de dados em Access foi

    realizada por Diana Barbosa.

    Os nossos agradecimentos vo tambm para todas as pessoas que nos acompanharam

    ao longo destes quatros anos e que sempre nos apoiaram. Obrigado Jlia Andrade, Andr

    Machado, David Mendes, Pedro Silva, Ricardo Silva, meus amigos desde os tempos da

    Licenciatura no podiam deixar de ser referidos.

    Gostvamos ainda de deixar uma palavra de agradecimento aos nossos amigos, que

    sempre estiveram presentes e que, de perto ou de longe, contriburam para a concretizao

    deste trabalho. Sabemos quem eles so e quanto so importantes para ns, no queremos

    desvalorizar a nossa amizade atravs de uma concluso que consistisse numa simples listagem

    de nomes.

    Um agradecimento muito especial para a Sara, que nos bastidores sempre nos apoiou,

    pelo seu amor, pacincia e amizade. A nossa relao cresceu em paralelo com este trabalho, a

    primeira servindo de base slida para o desenvolvimento do segundo.

    Finalmente devo um agradecimento muito especial minha famlia cuja presena

    constitui os pilares fundadores daquilo que sou e daquilo que fao. Aos meus pais que sempre

    me apoiaram, por me terem disponibilizado aquilo que nunca tiveram e minha famlia prxima

    no seio da qual sempre encontrei reconforto e possibilidades de evaso: a minha irm Manuela,

    o meu cunhado Antnio e o meu sobrinho Rodrigo.

  • vi

  • vii

    minha me e ao meu pai,

    Eles sabem porqu

  • viii

  • ix

    Resumo

    Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias

    Pretendeu-se com este trabalho caracterizar a arquitectura romana de Bracara Augusta,

    partindo de uma anlise detalhada e diacrnica dos materiais de construo e das tcnicas

    construtivas que foram utilizadas. No se trata, portanto, de um estudo arquitectnico de carcter

    morfolgico e funcional, mas antes de uma valorizao da arquitectura pblica e privada tendo

    por base o uso das matrias-primas e materiais (pedra, argila, madeira, cimentos) e das

    tecnologias usadas na execuo dos elementos verticais e horizontais das construes (muros,

    colunatas, pavimentos, coberturas). Na verdade, as dezenas de escavaes realizadas em

    Braga, desde 1976, forneceram um conjunto significativo de vestgios susceptveis de permitirem

    caracterizar a arquitectura da cidade e, simultaneamente, verificar as particularidades dos

    materiais utilizados e as tcnicas construtivas que formalizaram solues para resolver certos

    problemas, como sejam, desnveis, terraos, ou coberturas em abbada. A circunstncia de

    Bracara Augusta ser uma cidade romana que utilizou basicamente o granito como matria-prima,

    onde at hoje no foi encontrado qualquer vestgio de opus caementicium, mesmo na construo

    de edifcios pblicos de grande envergadura, como as termas ou o teatro, justifica a oportunidade

    desta investigao, uma vez que ela far salientar a especificidade da construo nesta

    importante cidade do NO peninsular. Assim, foi feito um estudo detalhado dos edifcios pblicos

    j descobertos, que consideramos mais relevantes, como as termas e o teatro, bem como de

    todos os edifcios privados susceptveis de fornecerem informaes teis relativamente edilcia

    romana. Estruturas relacionadas com o abastecimento e saneamento de guas da cidade, com a

    tecnologia de aquecimento dos balnerios e outros equipamentos, foram, tambm, tidos em

    conta neste trabalho. O estudo das matrias-primas foi completado com uma caracterizao dos

    tipos de granito usados na construo, numa perspectiva diacrnica, os quais foram

    confrontados com as principais manchas daquele material permitindo identificar as provveis

    zonas de extraco.

  • x

    Abstract

    Roman Architecture in Bracara Augusta. An analysis of edilician techniques

    The purpose of this work is to characterize the roman architecture of Bracara Augusta,

    from a detailed and diacronical analysis of construction materials and constructive techniques

    that have been used. Therefore its not an architectural study based on morphologic and

    functional criterions, but a valuation of public and private architecture having for base the use of

    raw materials and materials (stone, clay, wood, cements) and technologies applied in the

    execution of constructions vertical and horizontal elements (walls, colonnade, floors, coverings)

    Actually, excavations carried out in Braga, since 1976, had supplied a significant amount of

    vestiges liable to allow city architecture characterization and, simultaneously, to verify the used

    materials particularities and constructive techniques that had legalized solutions to clear up

    certain problems, like, unlevellings, terraces, or coverings in vault. Bracara Augusta was a roman

    city where construction was essencialy realized in granite, and, until today any vestige of opus

    caementicium was found, even in imposing public buildings construction, as the baths or the

    theater. This fact justifies the opportunity of this research, since that it will emphasize

    construction specificity in this important city of north-west Iberian Peninsula. Thus, we made a

    detailed study of the public buildings already discovered, that we consider more relevant, as the

    baths and the theater, as well as of all private buildings susceptible to supply useful information in

    relation to roman edilice. Water supply and sanitation structures, heating baths systems and other

    equipment, had been, also, considered in this work. Raw materials study was completed with a

    characterization of the granite types used in construction, in a diachronical perspective, which had

    been compared with the main granite massifs allowing to identify the probable areas of roman

    quarrying.

  • xi

    Les villes portent les stigmates des passages du temps, occasionnellement les promesses dpoques futures

    Marguerite Yourcenar, escritora (1903-1987)

  • xii

  • xiii

    ndice Agradecimentos iii Resumo ix Abstract x Lista de figuras xxi Lista de quadros xxvii Abreviaturas xxix Introduo 3 PARTE I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta 1 Introduo 9 2 A evoluo dos estudos de arquitectura e construo romanas 9 2.1 Do estudo dos monumentos ao estudo da construo romana 9 2.2 A investigao dos sistemas decorativos 18 3 O contexto de anlise: Bracara Augusta 21 3.1 A fundao da cidade 21 3.2 O desenvolvimento urbano 23 3.3 A economia da cidade 27 4. Problemtica, objectivos, fontes e metodologia 31 4.1 Arquitectura e construo em Bracara Augusta: estado das investigaes 31 4.2 Objectivos 34 4.3 As fontes 35 4.3.1 As fontes literrias e histrico-documentais 35 4.3.2 As fontes iconogrficas 38 4.3.3 As fontes cartogrficas 39 4.3.4 As fontes arqueolgicas e os monumentos conservados 42 4.4 Metodologia 44 4.4.1 Etapas do trabalho 44 4.4.2 A base arqueogrfica: as escavaes 47 4.4.2.1 ZA Termas do Alto da Cividade 47 4.4.2.2 O Edifcio Pr-Termal 49

    4.4.2.3 ZA Teatro do Alto da Cividade 50 4.4.2.4 ZA As Carvalheiras 51 4.4.2.5 ZA Escola Velha da S 54 4.4.2.6 ZA ex Albergue Distrital 56 4.4.2.7 ZA R. Frei Caetano Brando, 183-185/Santo Antnio das Travessas, 20-26 57 4.4.2.8 ZA R. D. Afonso Henriques, 20-28 58 4.4.2.9 ZA Aqueduto de Gualtar 60 4.4.2.10 A muralha baixo-imperial 61 4.4.2.11 Outros stios arqueolgicos 63

    a. Rua Gualdim Pais, n 28-38 63 b. Claustro do Seminrio de Santiago 64 c. Cardoso da Saudade (Antiga Fbrica) 65 d. Outros arqueosstios 66

  • xiv

    PARTE II - Os materiais de construo em Bracara Augusta

    1 Introduo aos materiais de construo na arquitectura romana 73 1.1 Os materiais ptreos 74 1.1.1 As pedreiras (lapicidinae) 77 1.1.2 O transporte 79 1.1.3 O modo de trabalho 83

    1.2 As argamassas e aglomerados com cal 84 1.2.1 A cal 85 1.2.2 As argamassas 86 1.3 Os materiais latercios 88 1.3.1 O processo de fabrico 88 1.3.2 Tipos de elementos 90 1.4 A madeira 91 1.5 Os materiais metlicos 94 1.6 O vidro 95 2 Os materiais utilizados em Bracara Augusta 97 2.1. Os materiais ptreos 97 2.1.1 Materiais ptreos locais 97 2.1.1.1 Tipos de granitos identificados 98 2.1.1.2 As pedreiras (lapicidinae) que abasteceram Bracara Augusta 99 2.1.1.3 O transporte 101 2.1.1.4 O modo de trabalho 103 2.1.1.5 Exemplos de uso de materiais ptreos locais 105 2.1.1.5.1 Edificios Pblicos 105 2.1.1.5.2 Edificios Privados 107 2.1.1.5.3 Os elementos arquitectnicos 108 2.1.2 Materiais ptreos importados 110 2.1.2.1 Exemplos de uso de materiais ptreos importados 110 2.1.2.2 O transporte 111 2.2 Argamassas e aglomerados com cal em Braga 112 2.2.1 Argamassas para alvenaria e preparao de solos 113 2.2.2 Opus signinum 114 2.2.3 Argamassas de revestimento 115 2.3 A terra 116

    2.4 Os materiais latercios 117

    2.4.1 O processo de fabrico 117 2.4.2 Os tipos de elementos 119 2.4.2.1 Elementos quadrangulares 119 2.4.2.2 Elementos rectangulares 121

    2.4.2.3 Elementos circulares, em quarto de crculo e triangulares 122 2.4.2.4 Os tijolos em aduela 123 2.4.2.5 Os tubuli 126 2.4.2.6 As telhas 127 2.4.2.7 Os canos e canalizaes 129

  • xv

    2.4.3 Marcas nominais e sinais 130 2.5 A madeira 133

    2.6 Os materiais metlicos 134 2.6.1 As oficinas 135 2.6.2 Os materiais 136 2.7 O vidro 138 2.7.1 As oficinas 138 2.7.2 Os materiais 139 PARTE III - As fundaes e substrues

    1 Introduo s fundaes e substrues no mundo romano 147 1.1 As fundaes 148 1.1.1 A profundidade das fundaes 149 1.1.2 As tcnicas de construo 150 1.1.3 A classificao das fundaes 152 1.2 As fundaes em terreno plano 153 1.3 Fundaes em terrenos em declive ou com pendente (muros de conteno e

    substrues) 155 2 As fundaes dos edifcios de Bracara Augusta 158 2.1 Edifcios com fundaes em terreno plano 159 2.1.1 Fundao linear simples (contnua) alicerada numa vala (A1) 159 2.1.1.1 Domus das Carvalheiras 160 2.1.1.2 Domus do ex Albergue Distrital 161 2.1.1.3 Domus da Escola Velha da S 162 2.1.1.4 Domus das Ruas Frei Caetano Brando/ Santo Antnio das Travessas 162 2.1.1.5 Domus do Seminrio de Santiago 163 2.1.1.6 Edifcio pr-termal 164 2.1.1.7 As termas pblicas do Alto da Cividade 164 2.1.1.8 O teatro 165 2.1.1.9 Edifcio pblico da rua D. Afonso Henriques ns 20-28 166 2.1.2 As fundaes descontnuas (A3) 169 2.1.2.1 Fundaes descontnuas de prticos exteriores 170 2.1.2.2 Fundaes descontnuas de prticos interiores 175 2.1.3 As fundaes lineares de edifcios termais com cobertura abobadada (A4) 177 2.1.3.1 As termas do Alto da Cividade 179 2.1.3.2 O balnerio das Carvalheiras 182 2.1.3.3 O balnerio da rua D. Afonso Henriques, 42-56 183 2.1.3.4 O balneum da Escola Velha da S 184 2.1.3.5 Outros balnea 184 2.2 Edifcios com fundaes em declive ou pendente (muros de conteno) 186 2.2.1 Os grandes muros de conteno que criam plataformas (B1) 187 2.2.1.1 Domus das Carvalheiras 187 2.2.1.2 O edifcio Pr-Termal 188 2.2.2 Os muros de conteno que no definem plataformas (B2) 189 2.2.3 Substruturas complexas (criptoprticos) (B3) 190

  • xvi

    PARTE IV - Os elementos verticais: alados dos muros e decorao arquitectnica 1 Introduo aos alados dos muros romanos 197 2 Os muros de Bracara Augusta 199 2.1 Alvenaria irregular 199 2.1.1 Os materiais 203 2.1.2 O aparelho 203 2.1.3 A aplicao em obra 203 2.1.4 Muros de alvenaria irregular 204 2.2 Alvenaria regular 231 2.2.1 Os materiais 236 2.2.2 O aparelho 236 2.2.3 A aplicao em obra 236 2.2.4 Muros de alvenaria regular 237 2.3 As pedras de talhe 269 2.3.1 Os materiais 272 2.3.2 O aparelho 272 2.3.3 Os tipos de elementos 273 2.3.4 A aplicao em obra 273 2.3.5 Estruturas em pedra de talhe 273 2.4 Muros com solues mistas 309 2.5 Muros e estruturas em material latercio 311 3 A decorao arquitectnica 313 3.1 Introduo 313 3.2 Importncia dos elementos arquitectnicos 314 3.3 A decorao arquitectnica em Bracara Augusta 316 3.3.1 Os materiais 316 3.3.2 Os tipos de elementos 316 3.3.3 Caracterizao dos elementos estudados 317 3.3.3.1 Enquadramento arquitectnico 318 3.3.4 Elementos conclusivos 329 PARTE V - As coberturas 1 Introduo s coberturas no mundo romano 345 2 Coberturas de edifcios de Bracara Augusta 348 2.1 Os telhados 348 2.2 Abbadas em material latercio 351 2.3 Abbadas em caementicium e silharia 355 PARTE VI - Os acabamentos e as infra-estruturas de aquecimento, abastecimento e drenagem de guas 1 Introduo aos acabamentos e infra-estruturas do mundo romano 361 2 Os acabamentos em Bracara Augusta 377 2.1 Os solos 377 2.1.1 Solos em terra batida 381

  • xvii

    2.1.2 Solos em opus signinum 382 2.1.3 Solos em tijolo 384 2.1.4 Solos revestidos com mosaicos 385 2.1.5 Solos em pedra 389 2.2 Revestimento de paredes 389 2.2.1 Os rebocos 391 2.2.2 Revestimento em opus signinum 392 2.2.3 Revestimento em mosaico 392 2.2.4 As pinturas 393 3 As infra-estruturas de aquecimento em Bracara Augusta 395 3.1 Introduo 395 3.2 Os dispositivos de aquecimento 398 4 Infra-estruturas de abastecimento e drenagem de guas em Bracara Augusta 405 4.1 Introduo 405 4.2 Infra-estruturas de abastecimento e armazenamento de gua detectadas 411 4.2.1 Aquedutos 411 4.2.2 Canalizaes 413 4.2.3 Poos 414 4.2.4 Tanques 415 4.2.5 Cisterna 415 4.3 Infra-estruturas de drenagem de gua detectadas 415 4.3.1 Cloaca 415 4.3.2 Canalizaes 416 PARTE VII Os processos construtivos 1 Introduo aos processos construtivos no mundo romano 433 2 A construo de obras pblicas 440 2.1 A tomada de decises 441 2.2 O financiamento das obras 442 2.3 A concepo e projecto de obra 444 2.4 A planificao das obras 449 2.5 A execuo das obras 452 2.5.1 A preparao do terreno 452 2.5.2 A montagem do estaleiro de obra 453 2.5.3 A obra 455 3 A construo de obras privadas 455 4 O clculo dos custos de obra 458 5 Agentes envolvidos no processo construtivo 465 5.1 Tomada de deciso e direco da obra 465 5.2 Trabalhos de agrimensura 466 5.3 Execuo da obra 466 5.4 Acabamentos 467 5.5 Execuo de trabalhos complementares 467 5.5.1 Corte da madeira 467 5.5.2 Extraco de pedra na pedreira 467 5.5.3 Maquinaria de obra 467

  • xviii

    5.5.4 Transporte e abastecimento dos materiais de construo 468 6 As ferramentas 468 6.1 O trabalho da pedra 469 6.1.1 Ferramentas de extraco e aparelhamento 469 6.1.2 Ferramentas de talhe 470 6.2 O trabalho da madeira 473 6.2.1 Ferramentas usadas na fase do corte 473 6.2.2 Ferramentas usadas na oficina 473 6.3 Instrumentos de agrimensura 474 7 As machinae 475 7.1 Machinae tractoriae et elevatoriae 477 7.2 Os andaimes 481 7.3 As escoras e cimbres 483 8 Ensaio de abordagem dos processos construtivos em Bracara Augusta 484 8.1 O processo construtivo do teatro de Bracara Augusta 485 8.1.1 A tomada de deciso 486 8.1.2 O financiamento da obra 487 8.1.3 A elaborao do desenho / projecto 489 8.1.4 A planificao da obra 490 8.1.5 A preparao do terreno 491 8.1.6 A execuo 492 8.1.6.1 Os intervenientes 492 8.1.6.2 Os materiais 493 8.1.6.3 A construo 495 Muro perimetral 496 Cavea 497 Orchaestra 498 Corpo cnico 499 A scaena 499 A frente cnica 500 O postscaenium 501 A baslica norte 501 Aditus norte 503 Sistemas de drenagem 504 Acabamentos 504 8.1.7 Concluso 505 8.2 O processo construtivo da domus das Carvalheiras 509 8.2.1 Decises e desenho de projecto 510 8.2.2 Preparao do terreno 511 8.2.3 Implantao do traado do edifcio 512 8.2.4 A execuo da obra 513 8.2.4.1 Os intervenientes 513 8.2.4.2 Os materiais 515 8.2.4.3 A construo 517 Muro de conteno 518 Muros perimetrais e interiores 518 trio e peristilo 520

  • xix

    Coberturas 522 Prticos externos 522 Acabamentos 523 8.2.4.4 Custos de obra 524 8.3 Agentes do processo construtivo em Bracara Augusta 525 8.3.1 Os encomendadores 525 8.3.2 Os arquitectos 526 8.3.3 Os artesos 526 8.4 As ferramentas usadas em Bracara Augusta 531 8.5 As machinae usadas em Bracara Augusta 537 Consideraes finais 559 Bibliografia 571

  • xx

  • xxi

    Lista de figuras

    Figura 1 - Mapa do Imprio Romano no sc. II 21 Figura 2 - Cidades fundadas no NO 22 Figura 3 - Mapa da cidade com a localizao das principais vias e necrpoles 26 Figura 4 - Mapa simplificado da rede viria da Pennsula Ibrica com representao das principais vias que ligavam a Bracara Augusta 26 Figura 5 - Planta de Bracara Augusta com localizao das vias e das necrpoles 27 Figura 6 - Disperso na cidade dos vestgios relacionados com as oficinas locais 30 Figura 7 - Planta da cidade de Braga atribuda a Georgius Braun (1594) 68 Figura 8 - Mappa da cidade de Braga Primas de Andr Soares (1868) 69 Figura 9 - Folha XX da planta topogrfica de Fransciso Goullard (1883/4) 69 Figura 10 - Planta da cidade de Braga de Jos Teixeira (1910) 70 Figura 11 - Fotografia area de Braga (RAF 1938-1948) 70 Figura 12 - Negativo de extraco de silhares no substrato rochoso das Termas 100 Figura 13 - Identificao de diclases no substrato rochoso das Termas 100 Figura 14 - Tijolos em aduela formas identificadas em Braga 124 Figura 15 - a. fistula aquariae encontrada na domus das Carvalheiras

    b. Estela descoberta nas cercanias do Convento dos Remdios 136 Figura 16 Pedreiras subterrneas 140 Figura 17 Pedreira subterrnea 140 Figura 18 Pedreiras a cu aberto 140 Figura 19 Extraco com cunhas 140 Figura 20 Extraco com cunhas 140 Figura 21 Extraco de fustes 140 Figura 22 Talhe de um silhar 140 Figura 23 Faces de um silhar 140 Figura 24 Negativos de extraco Termas 140 Figura 25 Diclases Termas 140 Figura 26 Transporte na pedreira 141 Figura 27 Sistema de Ctesiphon 141 Figura 28 Sistema de Metagenes 141 Figura 29 Carro de bois 141 Figura 30 Carpentum 141 Figura 31 Benna 141 Figura 32 Cisium 141 Figura 33 Rheda 141 Figura 34 Barco de transporte fluvial 141 Figura 35 Nave onerariae 141 Figura 36 Utilizao dos tijolos na construo 142 Figura 37 Utilizao dos tijolos na construo dos espaos termais 143 Figura 38 Croquis do balnerio das Carvalheiras 193 Figura 39 Proposta de restituio do corpo 4 do edifcio Pr-Termal 194 Figura 40 UE0333 e 0340 CARV 333 Figura 41 UE0388 CARV 333 Figura 42 Muro 83 Ed.PT 333 Figura 42 UE0165 RAH20-28 334

  • xxii

    Figura 44 UE0581 FCB/SAT 334 Figura 45 Muro 27 T 334 Figura 46 Muro 1 Ed.PT 335 Figura 47 UE0326 T 336 Figura 48 B3 Ed.PT 336 Figura 49 B5 Ed.PT 336 Figura 50 B7 Ed. PT 336 Figura 51 B8 Ed.PT 336 Figura 52 B9 Ed.PT 336 Figura 53 B10 Ed.PT 336 Figura 54 B11 Ed.PT 336 Figura 55 B12 Ed.PT 336 Figura 56 B13 Ed.PT 337 Figura 57 B14 Ed.PT 337 Figura 58 B15 Ed.PT 337 Figura 59 B19 Ed.PT 337 Figura 60 B23 Ed.PT 337 Figura 61 B26 Ed.PT 337 Figura 62 B29 Ed.PT 337 Figura 63 B30 Ed.PT 337 Figura 64 B32 Ed.PT 337 Figura 65 B33 Ed.PT 337 Figura 66 UE0820 TR 338 Figura 67 UE1501 TR 338 Figura 68 UE1502 TR 338 Figura 69 UE1502 TR 338 Figura 70 UE1631 TR 338 Figura 71 UE1631 TR 338 Figura 72 UE1637 TR 338 Figura 73 UE1637 TR 338 Figura 74 UE1704 TR 339 Figura 75 UE1708 TR 339 Figura 76 UE1710 TR 339 Figura 77 Contraforte sul TR 339 Figura 78 UE0783 TR 339 Figura 79 UE0784 TR 339 Figura 80 UE0786 TR 339 Figura 81 UE0409 CARV 339 Figura 82 UE0412 CARV 339 Figura 83 UE0419 CARV 340 Figura 84 UE0419 CARV 340 Figura 85 UE0438 CARV 340 Figura 86 UE0439 CARV 340 Figura 87 UE020 EVS 340 Figura 88 UE060 EVS 340 Figura 89 UE0272 EVS 340 Figura 90 UE079 EVS 340

  • xxiii

    Figura 91 UE0630 FCB/SAT 340 Figura 92 UE0664 FCB/SAT 340 Figura 93 UE0872 FCB/SAT 341 Figura 94 UE0872 e UE0843 FCB/SAT 341 Figura 95 UE0884 FCB/SAT 341 Figura 96 UE0884 FCB/SAT 341 Figura 97 UE0158 RAH20-28 341 Figura 98 UE0153 RAH20-28 341 Figura 99 UE0153 RAH20-28 341 Figura 100 UE0824 Colina 341 Figura 101 Exemplo de telhado 357 Figura 102 Elementos constituintes do telhado 357 Figura 103 Tegulae e imbrice 357 Figura 104 Sistema de encaixe das telhas 357 Figura 105 Tegulae e imbrice 357 Figura 106 Cimbre e abbada 357 Figura 107 Representao de um hipocausto em corte 366 Figura 108 Hipocaustum 367 Figura 109 Pont du Gard Gravura de Clerisseau 371 Figura 110 Algumas medidas do Pont du Gard 374 Figura 111 Castellum Aquae de Nemausus 374 Figura 112 Area 6 T 427 Figura 113 Area 12 T 427 Figura 114 Area 13 T 427 Figura 115 Area 13 T 427 Figura 116 Area 35 T 428 Figura 117 UE0161 e UE0185 EVS 428 Figura 118 UE0324 T 428 Figura 119 UE0341 T 428 Figura 120 UE0342/0343/0344 T 428 Figura 121 UE0150 e UE0280 EVS 428 Figura 122 Pr4 UE0322 T 428 Figura 123 Pr5 UE0317 T 428 Figura 124 UE003 UM 429 Figura 125 Canalizao E Colina 429 Figura 126 Canalizao E Colina 429 Figura 127 Canalizao F T 429 Figura 128 Canalizao H T 429 Figura 129 Canalizao J T 429 Figura 130 UE1507 TR 429 Figura 131 UE1508 TR 429 Figura 132 UE1509 TR 429 Figura 133 UE0754 FCB/SAT 429 Figura 134 Arquitecto 542 Figura 135 Construtor 542 Figura 136 Agrimensor 542 Figura 137 Canteiro 542

  • xxiv

    Figura 138 Canteiro 542 Figura 139 Escultor 542 Figura 140 Carpinteiro 542 Figura 141 Carpinteiro 542 Figura 142 Carpinteiro 542 Figura 143 Ferreiro 542 Figura 144 Ferreiro 543 Figura 145 Ferreiro Bellicus 543 Figura 146 Ferreiro 543 Figura 147 Pedreiros 543 Figura 148 Ferramentas de pedreiro 543 Figura 149 Oleiro 543 Figura 150 Oficina de carpinteiro 543 Figura 151 Representao de uma obra 543 Figura 152 Ferramentas associadas ao trabalho da pedra (extraco e talhe) 544 Figura 153 Ferramentas para o talhe da pedra 545 Figura 154 Serra 546 Figura 155 Upupa 546 Figura 156 Serra de madeira 546 Figura 157 Serpa 546 Figura 158 Ferramentas associadas ao trabalho da madeira 546 Figura 159 Ferramentas associadas ao trabalho da madeira 546 Figura 160 Groma 547 Figura 161 Estela do agrimensor pompeiano Nicostratus 547 Figura 162 Chorobates 547 Figura 163 Dioptra 547 Figura 164 Mecnica de funcionamento dos guindastes 548 Figura 165 Utilizao das polias 548 Figura 166 Colocao de silhares com alavanca 548 Figura 167 Ajustamento lateral dos silhares 548 Figura 168 Cabrestante de traco vertical (sucula) e horizontal 549 Figura 169 Cabra representada na pintura de Estabias 549 Figura 170 Polipastos 549 Figura 171 Guindaste para cargas pesadas 549 Figura 172 Trofu de Augusto na Turbie (Mnaco) 550 Figura 173 - Perspectiva do trofu de Augusto na Turbie 550 Figura 174 Lajeado acompanhado de marcos situado na base do monumento 550 Figura 175 Elementos que denunciam o uso de mquinas 550 Figura 176 Grua dos Haterii 551 Figura 177 Gravura do tmulo dos Haterii 551 Figura 178 Cabrestante 552 Figura 179 Restituio de uma mquina adaptada ao levantamento de fustes monolticos 552 Figura 180 Machinae de levantamento e de traco 553 Figura 181 Machinae de levantamento e de traco 553 Figura 182 Solues diversas utilizadas para a fixao dos blocos 481 Figura 183 Andaime mvel utilizado para trabalhos de reduzida altura 554

  • xxv

    Figura 184 Andaime embutido 554 Figura 185 Andaime independente 554 Figura 186 Cimbre para arcos e abbadas de pequeno porte 555 Figura 187 Cimbre para arcos e abbadas de grande porte 555

  • xxvi

  • xxvii

    Lista de quadros

    Quadro 1 Nveis de opus signinum detectados em Braga 115 Quadro 2 Tijolos em aduela da forma I detectados em Braga 124 Quadro 3 Tijolos em aduela da forma II detectados em Braga 125 Quadro 4 Tijolos em aduela da forma III detectados em Braga 125 Quadro 5 Tubuli detectados em Braga 127 Quadro 6 Diferentes tipos de tegulae e imbrices detectados em Braga 129 Quadro 7 Canos detectados em Braga 129 Quadro 8 Tijolos em U detectados em Braga 130 Quadro 9 Marcas nominais e sinais identificados em Braga 131 Quadro 10 Listagem dos materiais de construo representativos dos tipos estudados 132 Quadro 11 Vidraa plana recolhida em Braga, em quilogramas, por escavao 139 Quadro 12 Bases ticas monumentais identificadas em Braga 328 Quadro 13 Capiteis monumentais identificados em Braga 328

  • xxviii

  • xxix

    Abreviaturas ALB Albergue ALT - Altura CARV Carvalheiras CS68 Cardoso da Saudade 1968 CS93 Cardoso da Saudade 1993 CVL Cavalarias DIAM - Dimetro DDS D. Diogo de Sousa EA Elemento arquitectnico Ed.PT Edifcio Pr Termal EVS Escola Velha da S FCB Rua Frei Caetano Brando FCB/SAT Rua Frei Caetano Brando n183/185 - Rua Santo Antnio das Travessas n 20/26 FUJ Fujacal GACMB Gabinete de Arqueologia da Cmara Municipal de Braga GP Rua Gualdim Pais HOSP Hospital IMC Imaculada Conceio MRADDS Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa N. Inv. Nmero de inventrio R - Rua RAH 20/28 Rua Afonso Henriques n 20/28 RAH 42/46 Rua Afonso Henriques n 42-46 SST Seminrio de Santiago T Termas do Alto da Cividade TMSB Tesouro do Museu da S de Braga TR Teatro UAUM Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho UE Unidade estratigrfica ZA Zona Arqueolgica

  • xxx

  • INTRODUO

  • Introduo

    3

    Toute construction rsulte de lassemblage volontaire de matriaux naturels divers, plus

    ou moins transforms par lhomme. Traduction matrielle dune volont intellectuelle dfinie,

    sa ralisation apparat intimement tributaire des connaissances techniques acquises, des

    moyens matriels et financiers disponibles au moment de sa ralisation, ainsi que des matriaux

    et des ouvriers pouvant tre runis pour la mise en uvre1".

    Jacques Seigne (2004 : 51)

    Introduo

    O objectivo fundamental deste trabalho teve em vista caracterizar a arquitectura da

    cidade romana de Bracara Augusta, localizada no NO peninsular, integrada, at Diocleciano, na

    provncia Citerior ou Tarraconense.

    O ponto de partida da nossa abordagem da arquitectura romana de Braga constituiu-se

    na anlise detalhada e diacrnica dos materiais de construo e das tcnicas construtivas que

    foram utilizados em vrios edifcios pblicos e privados, conhecidos a partir das escavaes

    realizadas nos ltimos 35 anos, no mbito do Projecto de Bracara Augusta, da responsabilidade

    da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho.

    Tendo por base uma anlise das caractersticas das construes presentes nas

    diferentes zonas arqueolgicas intervencionadas procedeu-se a uma seleco de um conjunto de

    7 zonas, totalizando 3 edifcios pblicos e 4 privados, que foram valorizados em funo da sua

    diversidade construtiva e funcional, mas tambm da sua diacronia

    Pretendeu-se deste modo valorizar a edilcia de Bracara Augusta, tendo por base o uso

    das matrias-primas e materiais necessrios construo, como a pedra, a argila, a madeira, ou

    os cimentos, bem como as tecnologias usadas na execuo dos elementos verticais e horizontais

    das construes, sejam eles muros, colunatas, pavimentos, ou coberturas. Foram igualmente

    valorizadas as tcnicas usadas nos acabamentos dos edifcios, bem como as infra-estruturas

    associadas ao aquecimento e ao sistema de abastecimento e drenagem das guas.

    Tendo como objectivo principal o estudo da edilcia romana de Braga, este trabalho

    norteou-se, igualmente, por outros objectivos secundrios.

    1 Qualquer construo resulta da mistura voluntria de materiais naturais diversos, mais ou menos transformados pelo homem. Traduo

    material de uma vontade intelectual definida, a sua realizao surge intimamente tributria dos conhecimentos tcnicos adquiridos, dos meios

    materiais e financeiros disponveis no momento da sua realizao, assim como dos materiais e dos operrios que puderam ser reunidos para o

    cumprimento da obra.

  • Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias

    4

    Um deles articulou-se com a identificao das fontes de abastecimento dos materiais

    ptreos e argilosos usados na construo, pretendendo-se, deste modo, valorizar a explorao

    dos recursos do territrio. Procurmos, deste modo, estabelecer uma necessria articulao

    entre a cidade e o territrio, percepcionada atravs de uma das actividades econmicas mais

    importantes dos centros urbanos: actividade construtiva.

    Um outro objectivo teve em vista a identificao tcnicas usadas na construo de

    diferentes categorias de edifcios. Para o efeito foram analisadas as fundaes e substrues, as

    tcnicas de execuo dos suportes verticais, designadamente as que se relacionam com a

    construo dos muros e das colunatas. Foram igualmente valorizados os sistemas de cobertura

    dos edifcios e os acabamentos, tanto ao nvel da construo dos pavimentos, como dos

    revestimentos das paredes. Tambm as infra-estruturas que formalizam os sistemas de

    aquecimento do edifcios e os sistemas de abastecimento e drenagem das guas sujas

    mereceram a nossa ateno, tendo sido analisados os vestgios arqueolgicos mais sugestivos

    que se articulam com os referidos sistemas, de inegvel importncia na vida urbana.

    Finalmente, um ltimo objectivo teve em vista avaliar as evidncias que nos pudessem

    levar a interpretar o processo construtivo em Bracara Augusta, de modo a identificar os agentes

    envolvidos na actividade edilcia, ensaiando-se, igualmente, uma aproximao ao uso das

    ferramentas de trabalho de diferentes materiais e utilizao de mquinas.

    Atravs da anlise e interpretao sistemtica da informao disponvel relativa

    arquitectura pblica e privada de Bracara Augusta, procurmos, assim, identificar eventuais

    recorrncias, quer de natureza cronolgica, nomeadamente quanto hiptese de alguns

    materiais e tcnicas possurem dataes especficas, quer de natureza funcional,

    designadamente quanto possibilidade de alguns materiais e tcnicas serem especficos ou no

    de determinadas formas de arquitectura, quer ainda de natureza tecnolgica, relacionadas com

    a eventualidade de algumas pedreiras terem sido selectivamente exploradas para a construo

    de alguns edifcios e de alguns elementos construtivos, denunciarem a possvel existncia de

    ateliers locais.

    Pretendeu-se, assim, ensaiar uma valorizao dos edifcios romanos conhecidos at ao

    momento, no apenas de um ponto de vista cronolgico e funcional, mas, sobretudo, do ponto

    de vista dos materiais usados, das tecnologias empregues e dos sistemas construtivos que

    deram expresso arquitectura de Bracara Augusta.

  • Introduo

    5

    Este trabalho encontra-se estruturado em dois volumes, integrando o primeiro toda a

    informao usada para responder aos objectivos que nos propusemos atingir com a nossa

    investigao, sendo o segundo dedicado apresentao do catlogo dos elementos

    arquitectnicos e construtivos estudados em vrios edifcios e da parte grfica que ilustra o

    estudo desenvolvido.

    O primeiro volume encontra-se estruturado em sete partes distintas. A Parte I representa

    um apartado introdutrio ao estudo da edilcia romana em Bracara Augusta, no qual se

    apresenta um breve historial da evoluo dos estudos de arquitectura romana, bem como do

    processo construtivo. Nele se procede igualmente abordagem e caracterizao do contexto no

    qual desenvolvemos o nosso trabalho, a cidade de Bracara Augusta, sistematizando-se a as

    vrias fontes disponveis para o estudo da sua edilcia, bem como a metodologia que foi

    utilizada. Na Parte II sero analisados os vrios materiais de construo utilizados na cidade: a

    pedra, as argamassas, os tijolos, os metais e, finalmente, a madeira. Cada um destes materiais

    ser objecto de uma anlise detalhada no que respeita sua obteno, fabrico, transporte e

    aplicao na obra, procurando-se, igualmente valorizar as questes relacionadas com o

    aprovisionamento das diferentes matrias-primas.

    Nas partes seguintes so equacionados diferentes aspectos relacionados os sistemas e

    tcnicas construtivas, desde a implantao das fundaes e substrues, construo dos

    muros, colunatas, pavimentos e telhados, sendo igualmente abordados os acabamentos e infra-

    estruturas. Assim, na Parte III procede-se anlise dos vrios tipos de fundaes e de

    substrues assinaladas nos edifcios romanos de Braga. A Parte IV est dedicada valorizao

    dos elementos verticais dos edifcios, isto , aos muros e respectivos alados, subdivididos por

    categorias: muros de alvenaria irregular, muro de alvenaria regular, elementos em pedra de talhe

    e estruturas mistas. Neste apartado ser igualmente valorizada a temtica dos sistemas de

    decorao arquitectnica. A Parte V aborda a problemtica das coberturas, designadamente dos

    telhados e abbadas, estando a Parte VI reservada aos acabamentos e s infra-estruturas.

    Analisa-se aqui o revestimento dos solos e paredes, bem como as infra-estruturas relacionadas

    com as instalaes de aquecimento e com os sistemas de abastecimento e drenagem de guas.

    Por ltimo, na Parte VII procuramos avaliar o processo construtivo, luz das evidncias

    disponveis, nomeadamente quanto aos agentes envolvidos no processo de obra e ao uso de

    elementos auxiliares de trabalho que tm interveno nas diferentes etapas da construo, como

    as maquinarias e as vrias ferramentas usadas no contexto da obra.

  • 6

  • PARTE I

    Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta

  • Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta

    9

    1. Introduo

    objectivo deste captulo definir o contexto temtico, geogrfico e metodolgico do nosso

    trabalho. Aps uma breve abordagem relativa problemtica do estudo da arquitectura e

    construo romanas (2), proceder-se- a uma apresentao da cidade de Bracara Augusta,

    assim como da sua evoluo ao longo do mundo romano (3). Em seguida sero definidos a

    problemtica relativa ao estudo da arquitectura e construo da cidade (4.1), os objectivos que

    nos propusemos atingir no nosso trabalho (4.2.), as diferentes fontes disponveis, sendo

    particularmente valorizada a informao arqueogrfica relativa a vrios stios escavados (4.3).

    Finalmente, ser equacionada a metodologia de anlise usada na nossa investigao (4.4).

    2 A evoluo dos estudos de arquitectura e construo romanas

    2.1 Do estudo dos monumentos ao estudo da construo romana

    O interesse pelos monumentos romanos data dos finais da Idade Mdia, materializando-

    se em estudos e descries que se basearam em metodologias de anlise muito distintas e em

    diferentes olhares que se foram desenvolvendo sobre as construes da poca clssica,

    apreciadas quer do ponto de vista esttico, quer tecnolgico ou funcional. Paralelamente, foi-se

  • Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias

    10

    desenvolvendo a arte da representao grfica dos grandes monumentos, que constitui hoje

    uma fonte de estudo dos mesmos, pese embora a sua frequente natureza idealizada.

    O sculo XV marca o arranque dos estudos dos edifcios romanos, sendo de referir o

    papel desempenhado pela obra de Vitrvio no desenvolvimento desses trabalhos. Efectivamente,

    a redescoberta do 10 livros de Arquitectura do autor supra-citado provocou uma onda de

    interesse pela construo romana.

    Escrito sensivelmente na ltima metade do sculo I a. C. o Tratado de Vitrvio

    corporiza uma srie de conhecimentos bsicos e prticos para a construo quer de obras

    pblicas, quer privadas que denunciam, em parte, a sua formao de engenheiro militar.

    Desenvolvendo uma srie de conceitos fundamentais que deviam ser aplicados arquitectura,

    como a proportio, a euritmia, a symetria ou a firmitas, a utilitas e a venustas, Vitrvio apresenta

    a sua experincia e enuncia uma srie de conselhos para aplicao dos conceitos citados

    referidos.

    Ao longo dos sculos seguintes a obra de Vitrvio foi interpretada de diferentes ngulos e

    perspectivas, tendo sido simultaneamente elogiada e criticada, beneficiando, todavia, de uma

    grande divulgao, sendo a nica fonte histrica que se preservou sobre a arquitectura da

    antiguidade.

    A descoberta do tratado de Vitruvio, no sculo XV, por parte de humanistas como Leon

    Battista Alberti deu lugar a uma utilizao intensa dos conceitos vitruvianos, criando uma nova

    linguagem arquitectnica de inspirao clssica.

    A obra de Alberti, De re aedificatoria libri decem, baseada na obra de Vitruvio de

    consulta mais simples, sendo de destacar o criticismo de Alberti (Tavernor, 1998) relativamente

    a alguns conceitos vitruvianos que considera pouco claros e imprecisos. Tal como o tratado de

    Vitruvio a compilao de Alberti distribui-se em dez livros, sendo os trs primeiros considerados

    genericamente como mais interessantes. No primeiro livro o autor trata as distintas partes de um

    edifcio e as questes que antecedem a construo em si. O segundo livro aborda os materiais

    de construo, enquanto que o terceiro desenvolve os mtodos de construo.

    A partir da obra de Alberti e at meados do sculo XVI, surge uma srie de tratados que

    pretende explicar os conceitos vitruvianos, com base na anlise dos monumentos antigos,

    potenciando simultaneamente conceitos de teoria arquitectnica novos. Estas obras das quais

    fazem parte Lidea della architettura universale de Vincenzo Scamozzi (Oechslin, 1997) ou M.

    Vitruvius per Iocundum solito castigador factus, cum figuris et tabula, ut iam legi et intellegi

  • Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta

    11

    possit, de Fra Giovanni Giocondo (Fontana, 1988), tiveram por objectivo explicar a obra de

    Vitrvio e aplicar os termos tcnicos usados pelo autor arquitectura renascentista (Pizzo, 2007:

    8).

    Surge ento uma nova linguagem arquitectnica que potencia uma srie de estudos nos

    quais dado grande valor ao aspecto grfico. Estes trabalhos favoreceram igualmente o estudo

    das regras tericas das ordens clssicas, o que permitiu entender melhor os elementos

    arquitectnicos descontextualizados.

    Mais tarde, com Guarino Guarini (sculo XVII) e a sua obra Disegni di architettura civile

    ed eclesistica y Architettura civile (Grnert, 2003) regista-se uma mudana de paradigma, pois

    este autor considera que a arquitectura da poca devia corrigir as regras usadas na Antiguidade

    e desenvolver outras novas, tendo por base a combinao de conhecimentos retirados de

    Arquitectura, da Geometria e da Matemtica (Pizzo, 2007: 9).

    . Em substncia, os estudos da arquitectura clssica desenvolvidos entre o sculo XVI e

    os incios do XVIII constituem uma prtica erudita caracterizada pela vontade de criar uma

    linguagem arquitectnica nova, capaz de fomentar um novo gosto esttico, atravs da

    sistematizao terica dos conhecimentos tcnicos da antiguidade clssica. Paralelamente, os

    estudos realizados permitiram a criao de um importante corpus grfico da arquitectura antiga.

    Tendo tido origem na Pennsula itlica, inspirados nas obras de arquitectura romana

    sobreviventes, os estudos difundem-se rapidamente por outros pases, designadamente, pela

    Alemanha, Frana, Inglaterra e Espanha. Neste mbito merecem destaque alguns autores e

    obras de referncia, como Walter Rivius1 (Vitruvius Teutsch, de 1548), Hans Blum2 (Von den fnff

    Slen de 1550), Henry Wotton3 (The elements of Architecture, do sculo XVII), Franois Blondel4

    (Cours dArchitecture), Jean Louis de Cordemoy5 (Nouveau trait de toute larchitecture ou lart

    de batir) e, finalmente, Claude Perault (Les dix livres darchitecture de Vitruve, corrigez et traduits

    nouvellement en Franais) e Fray Lorenzo de San Nicols6 (Arte y Uso de Architectura).

    No sculo XVIII, com a descoberta de Pompeia e Herculano regista-se uma nova

    aproximao ao mundo clssico, com a realizao de vrios estudos sobre a tcnica edilcia

    romana que se desenvolvem naturalmente na Pennsula Itlica. Nesta fase surgem novas linhas

    1 Zimmer, 2003 2 Zimmer, 2003b 3 Ruhl, 2003 4 Freigang, 2003 5 Middleton, 1962-1963 6 Borngsser, 2003

  • Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias

    12

    de investigao que vm acrescentar-se corrente anterior de estudar e compreender as

    tcnicas clssicas para aplic-las ao mundo contemporneo. J. Ciampini, na sua obra Vetera

    Monimenta realiza uma importante inovao, relacionando os edifcios de Roma com a tcnica

    construtiva utilizada, explicando os diferentes tipos de paramentos e as suas caractersticas

    tcnicas. Esta obra tambm importante porque contempla uma srie de lminas onde se

    apresenta uma primeira tipologia de paramentos murrios, marcando, indiscutivelmente, uma

    mudana na tcnica de representao grfica dos edifcios antigos.

    Ao longo do sculo XVIII o estudo da arquitectura antiga preterido em favor de outras

    reas da Antiguidade, reconhecendo-se que os ensinamentos retirados do estudo dos

    monumentos resultam da leitura e interpretao de quem os realiza, sendo como tal subjectivos.

    O sculo XIX assiste, numa primeira fase, continuao das teorias desenvolvidas no

    sculo anterior e paralelamente continuidade da reinveno da Antiguidade Clssica. Nesse

    mbito, surgem alguns trabalhos que, numa primeira anlise, parecem nada acrescentar ao

    estudo da edilcia romana. Contudo, algumas obras revelam algumas inovaes importantes,

    como seja o uso da fotografia na documentao dos edifcios, como acontece, concretamente,

    no trabalho de J.H. Parker (De variis structurarum generibus penes Romanos veteres). Esta obra

    revela de forma clara os conhecimentos da edlicia romana naquela poca, apresentando de

    forma ordenada os materiais e tcnicas. Outro autor que convm referir A. Nibby, cujas

    publicaes demonstram uma particular ateno pelos materiais de construo (Nibby, 1830;

    1838), oferecendo, simultaneamente, uma perspectiva inovadora sobre a anlise dos

    monumentos, pois considera os edifcios como composies de caractersticas tcnicas.

    Pode-se afirmar com propriedade que data deste perodo a verdadeira preocupao com

    o estudo dos materiais de construo. No que respeita representao grfica das construes

    registam-se igualmente algumas inovaes, sendo de destacar a obra de L. Canina,

    LArchitettura antica descritta e dimostrata coi monumenti, que integra uma seco dedicada

    arquitectura, na qual o autor faz referncia s influncias etruscas e gregas, fornecendo uma

    srie de indicaes sobre a construo das muralhas, o tipo dos materiais utilizados ou a

    tipologia dos edifcios romanos e o uso das ordens arquitectnicas, oferecendo uma componente

    grfica bastante rica em pormenores construtivos e arquitectnicos. A importncia desta obra foi

    sublinhada por Antnio Pizzo (2007: 46) que salienta a capacidade do autor percepcionar o

    edifcio do ponto de vista da estrutura, facto que lhe permitiu realizar uma anlise muito

    detalhada dos elementos arquitectnicos, decorativos e estruturais.

  • Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta

    13

    Datam igualmente do sculo XIX os primeiros grandes estudos dos aspectos tcnicos da

    arquitectura romana, abordados em obras de mbito geral no seio das quais as questes

    relacionadas com as tcnicas construtivas passaram a assumir crescente importncia.

    Ser justo considerar que a valorizao desta temtica beneficiou de duas grandes obras

    de referncia: Lart de btir chez les romains, de A. Choisy, publicada em Paris, em 1873 e La

    tcnica della construzione presso i romani, de A. Giovannoni, editada em Roma, cerca de 1925.

    Estes estudos pioneiros apoiaram-se essencialmente nos edifcios romanos ou itlicos,

    centrando-se em trs tipos de questes: os materiais construtivos e o estudo dos aparelhos; os

    aspectos tcnicos relacionados com a construo das abbadas e, finalmente, toda a informao

    relacionada com o trabalho da pedra.

    G. Lugli (1957) considera mesmo que A. Choisy demonstrou uma invulgar capacidade

    para estudar o opus caementicium e para efectuar um estudo relevante sobre a arquitectura dos

    arcos e das abbadas (Pizzo, 2007: 52). O recurso axonometria faz com que as

    representaes grficas de estruturas complexas, como as abbadas, apresentem grande

    qualidade, sendo possvel perceber perfeitamente a sua volumetria. O autor adapta a

    componente grfica aos fins de explicao do mecanismo construtivo da estrutura. A obra

    comea por tratar a questo das abbadas (estrutura, componentes, materiais e tcnica

    construtiva), passando seguidamente para as obras de cantaria e terminando com uma

    aproximao econmica aos custos de obra.

    O sculo XX marcado pela afirmao de duas perspectivas distintas no estudo da

    arquitectura romana. Uma associa-se claramente vontade de experimentar novas metodologias

    e tcnicas de investigao ao estudo dos edifcios e, uma outra, relacionada com a valorizao

    de hipteses baseadas nos trabalhos anteriores de maior relevncia.

    O interesse crescente pelas tcnicas de construo e de engenharia romana est

    igualmente presente na obra de Giuseppe Cozzo, Ingegneria Romana, publicada em Roma em

    1928, com vrias reedies em 1954 e 1970. Este manual ilustra perfeitamente o tipo de obra

    cientfica dedicada aos aspectos tcnicos da construo, apresentando vrias ilustraes

    relativas ao ciclo completo de produo de uma tcnica edilcia, descrevendo as suas vrias

    fases, desde a extraco do bloco de pedra, ao transporte e construo. Inclui ainda um

    esquema que ilustra a construo de um arco, uma reproduo da montagem de um andaime e

    do respectivo edifcio, bem como uma tipologia de materiais latericios.

  • Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias

    14

    Outro autor que teve um papel bastante importante nos estudos da arquitectura foi G.T.

    Rivoira, que publicou, em 1921, um manual intitulado Architettura Romana, no qual desenvolve

    a temtica dos sistemas abobadados e a questo da esttica dos edifcios numa perspectiva

    histrica e tcnica. Este autor integra-se numa corrente de pensamento, bastante divulgada nas

    primeiras dcadas do sculo XX, que defendia que a compreenso dos vestgios arquitectnicos

    era apenas inteligvel com o auxlio de uma forte formao histrica acompanhada por amplos

    conhecimentos tcnicos e cientficos.

    Da mesma corrente faz parte Giovanoni (1925), autor que defende uma colaborao

    estreita entre arquelogos e arquitectos na compreenso e anlise da arquitectura romana. Na

    obra de Giovannoni possvel observar a desmontagem do edifcio em vrias actividades

    construtivas sequenciais. A obra estrutura-se em torno de duas orientaes fundamentais: uma

    primeira que valoriza a questo dos elementos estruturais sob uma perspectiva funcional e, uma

    segunda, em que a estrutura contextualizada no monumento, sendo a primeira imprescindvel

    para o entendimento do edifcio como um todo.

    Podemos considerar que, at meados do sculo passado, o interesse fundamental das

    investigaes cingiu-se basicamente definio de sequncias tipolgicas e cronolgicas de

    construo dos edifcios. Nesse mbito, podemos referir os trabalhos de autores como G. Lugli

    (1957) e M.E. Blake (1947, 1959, 1973).

    O trabalho de Lugli constitui uma referncia obrigatria no estudo da edilcia romana.

    Com efeito, o autor estudou em profundidade os monumentos romanos do Lacio, procedendo

    datao dos edifcios estudados atravs da tcnica construtiva ou ento atravs de paralelismos

    com edifcios de Roma, tipologicamente semelhantes. As cronologias construtivas por ele

    apontadas constituem ainda hoje um instrumento e uma metodologia importante para a datao

    de monumentos romanos.

    A obra de Blake (Ancient Roman Constructions), constitui um trabalho monumental, em

    trs volumes, no qual o autor analisa a totalidade dos monumentos romanos italianos

    conhecidos, organizados por tipos (edifcios de carcter privadopblico). Num outro captulo a

    autora elabora uma anlise exaustiva dos materiais de construo.

    As dcadas de sessenta e setenta do sculo XX representaram uma nova etapa na

    evoluo dos estudos sobre a construo romana, comeando a ser publicados vrios trabalhos

    sobre diferentes tipos de materiais, designadamente cimentos e argamassas, ou materiais

    latercios e respectivas marcas. Nesta altura verifica-se igualmente um interesse acrescido pelo

  • Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta

    15

    estudo das tcnicas e materiais construtivos no mbito de estudos arquitectnicos que vo

    sendo realizados sobre diferentes categorias de edifcios. Neste mbito merecem destaque as

    obras de L. Crema e J. B. Ward Perkins.

    L. Crema publicou, em 1959, um artigo sobre lArchitettura Romana, na Enciclopdia

    Clssica, que funciona como um manual bastante completo e eficiente, no qual os edifcios

    apresentam-se muito bem estudados e distribudos por seis grandes perodos, desde a fase ps-

    etrusca primeira metade do sculo IV. Cada perodo contempla uma introduo sobre as

    caractersticas tcnicas que a identificam, sendo depois analisadas vrias temticas, como

    sejam os materiais e a estrutura dos edifcios, os princpios de desenho e decorao, o

    planeamento da cidade, a arquitectura militar, os edifcios civis, templos, termas, teatros,

    anfiteatros e circos, os arcos monumentais e portas, as casas e vilas e os sepulcros.

    Alguns anos mais tarde J.B. Ward Perkins editou um manual, publicado em 1974, no qual

    a arquitectura romana analisada em termos de evoluo cronolgica e de evoluo tcnica.

    Trata-se de uma obra de sntese que aborda a arquitectura romana desde o perodo republicano

    at Antiguidade Tardia, centrando-se nos edifcios mais monumentais.

    Os anos 80 do sculo XX marcaram um terceiro momento neste tipo de estudos. Com

    efeito, nesta altura surgem importantes manuais sobre as tcnicas de construo romanas,

    como a obra de referncia de Jean-Pierre Adam (1995) e outros mais especficos como a obra

    editada por R. Ginouvs e R. Martin (1985).

    A obra La Construction Romaine de J.P. Adam consiste num manual de referncia que

    aborda a questo da construo de uma forma muito prtica. Todos os processos construtivos

    encontram-se representados atravs de esquemas e de uma componente grfica muito prpria.

    O autor explica de forma clara e ilustrada as vrias tcnicas utilizadas, os materiais utilizados na

    construo romana, bem como a sua extraco e produo.

    R. Ginouvs o autor de um dicionrio, publicado em trs volumes, entre 1985 e 1998,

    que estuda as caractersticas tcnicas da arquitectura grega e romana. O dicionrio comporta

    um nmero exaustivo de termos tcnicos, traduzidos em vrias lnguas, que constitui um

    precioso auxiliar na descrio dos elementos de arquitectura, contribuindo para uniformizar os

    lxicos descritivos.

    O primeiro volume est dedicado aos materiais e tcnicas de construo, o segundo aos

    elementos construtivos realizados com os materiais e tcnicas indicados no volume precedente,

    enquanto o terceiro aborda os volumes e funes da arquitectura, ou seja, os edifcios

  • Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias

    16

    caractersticos da arquitectura do mundo romano, apoiando-se nos elementos descritos no

    segundo volume. importante ainda referir que esta obra beneficia de uma componente grfica

    de grande qualidade, que junta fotografias, desenhos e vrios esquemas.

    C. F Giuliani publicou, em 1990, (com reedio melhorada em 2006) a obra LEdilizia

    nellAntichit, um manual cujo contedo bastante inovador. O autor considera que o

    arquelogo deve adquirir algumas noes de engenharia de forma a entender o monumento e o

    seu comportamento, dando particular ateno s questes das deformaes (geolgicas e

    trmicas) e da esttica dos edifcios. Num dos primeiros captulos o autor tenta transmitir

    algumas das noes de fsica que esto presentes e influenciam o comportamento das

    estruturas, como a presso, a flexo composta, a toro, procurando definir os vrios elementos

    que podem influenciar uma construo. Seguidamente, o autor aborda o edifcio, de cima para

    baixo, analisando coberturas, alados, fundaes e acabamentos, no deixando de referir os

    materiais de construo, separando-os em materiais naturais e artificiais. Aborda, tambm, a

    questo da organizao e gesto de obra e as maquinarias associadas. Finalmente, o autor

    dedica um ltimo ponto s leses associadas aos edifcios e respectivas consolidaes. A obra

    revela-se igualmente bastante informativa do ponto de vista grfico, uma vez que comporta uma

    grande quantidade de desenhos tcnicos bastante elucidativos dos contedos, bem como um

    CD realizado com imagens e reconstrues.

    Datam igualmente dos anos 90 do sculo passado dois trabalhos de R. Marta nos quais

    o autor desenvolve as questes relacionadas com a funcionalidade dos edifcios romanos, com

    as vrias tcnicas edilcias e os materiais de construo.

    A esta fase ficamos a dever a publicao de uma srie de monografias dedicadas a

    temticas muito variadas, relativas construo, versando sobre cimentos, opus caementicium,

    material latercio, bem como sobre o trabalho da pedra.

    Tentando valorizar o mbito geogrfico dos estudos em causa, poderamos considerar

    que eles foram particularmente importantes na Pennsula Itlica, onde se desenvolveu a

    investigao das tcnicas construtivas, tendo por base vrias cidades, designadamente Roma e

    stia. J a panormica noutros pases e regies oferece uma imagem de maior atraso, apenas

    superada, j nos anos 90, quando se verifica o aparecimento de vrios estudos monogrficos

    sobre cidades ou mesmo sobre edifcios especficos. Destaque-se ainda a edio no Reino Unido

    de trabalhos sobre a indstria latercia, em Frana de obras sobre o estudo do trabalho da pedra

  • Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta

    17

    e sobre materiais construtivos, o mesmo se verificando em certas zonas orientais do Imprio e

    no Norte de Africa.

    O panorama de estudos dedicados temtica da construo romana na Pennsula

    Ibrica oferece-se algo distinto, uma vez que o impulso para a investigao de tais temticas foi

    bastante mais tardio em Espanha e Portugal do que nos outros pases, sendo os seus resultados

    igualmente bastante mais heterogneos. No entanto, haver que salientar alguns trabalhos

    importantes realizados nos dois pases, bem como publicaes sobre temticas arquitectnicas

    e construtivas, sendo contudo de destacar uma maior investigao destes domnios na vizinha

    Espanha, muita da qual realizada no mbito do estudo monogrfico de monumentos de

    diferentes cidades romanas, designadamente de muralhas, aquedutos, fora, edifcios termais, ou

    teatros.

    J o estudo de materiais e tcnicas construtivas mereceu menor ateno, muito embora

    tenham sido publicados vrios trabalhos sobre os materiais ptreos e latercios, com destaque

    para o estudo das marcas, de diferentes stios romanos. No cenrio peninsular no deixa de ser

    igualmente louvvel o esforo empreendido nos anos 90 por Lourdes Roldn Gmez no sentido

    de sistematizar o estudo das tcnicas de construo e dos materiais utilizados nos edifcios

    pblicos da Btica, em particular de Carteia (1992) e Itlica (1993).

    Tambm as cidades de Tarragona e de Mrida tm sido objecto de estudos relacionados

    com a tcnica edilcia, cabendo destacar o recente trabalho de Antnio Pizzo, arquelogo

    associado ao projecto de estudo de Mrida. Na sua tese, defendida em 2007, com o ttulo Las

    tcnicas constructivas de la Arquitectura pblica de Augusto Emerita aborda de forma muito

    aprofundada uma srie de questes muito relevantes, designadamente, no mbito das

    metodologias de investigao, com claro destaque para a Arqueologia da Arquitectura e da

    abordagem dos edifcios pblicos romanos de Augusta Emerita, apresentando para cada um

    deles a histria da investigao, a anlise das estruturas, a descrio do edifcio, a anlise

    estratigrfica, a tcnica construtiva e os elementos arquitectnicos. O captulo IV da tese encerra

    uma sntese sobre os materiais de construo, os aparelhos e os elementos funcionais dos

    edifcios, descritos com grande pormenor, enquanto que o seu captulo V constitui uma

    aproximao arqueologia da construo, atravs da qual se analisa a organizao do trabalho

    na arquitectura pblica emeritense.

    A nvel nacional o quadro dos conhecimentos relativos ao estudo das tcnicas

    construtivas, no mbito da arquitectura romana, apresenta-se ainda bastante deficitrio, mau

  • Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias

    18

    grado a longa tradio de estudos assumida pela investigao nacional no domnio da

    arqueologia clssica. Esta situao decorre de um deficiente / inexistente estudo de grande

    parte das estaes romanas escavadas no nosso pas, a maioria das quais aguarda publicao

    monogrfica. Neste contexto, justo sublinhar o contributo dado para a valorizao desta

    temtica pela publicao das escavaes de Conimbriga (1974-1979) e de Tongobriga (Dias,

    1997).

    2.2 A investigao dos sistemas decorativos

    Os primeiros trabalhos realizados sobre elementos decorativos da arquitectura romana

    datam dos incios do sculo XX e constituem estudos dedicados geralmente ao capitel corntio,

    como o de Ronczewski, nos anos 20. Posteriormente, na dcada de 30, surgem algumas obras

    que prosseguem os estudos centrados naquele tipo de capitis.

    Neste contexto, cabe destacar a obra de Kahler Die Romschen Kapitelle des Rhein

    Gebietes, trabalho dedicado aos capitis corntios renanos, que permitiu demonstrar a

    existncia de variantes dos modelos itlicos, indicadores de diferenas de estilos consoante as

    regies de provenincia.

    Mais tarde surgem vrios trabalhos realizado por autores italianos, dando incio na

    dcada de 40 a um corpus de capitis, nos quais participaram inicialmente Scrinari (1952) e

    Belloni (1958), com estudos realizados sobre materiais provenientes de Aquileia e de Milo

    respectivamente.

    J na dcada de 70 surge a importante obra de W Heilmeyer, intitulada Korinthische

    Normal kapitelle. Studien zur Geschichte der rmischen Arkitekturdekoration, na qual se realiza

    um estudo cronolgico e tipolgico dos capitis alto-imperiais essencialmente de Roma e da sia

    Menor.

    Os estudos desenvolvidos sobre esta matria apresentam um novo dinamismo nas

    dcadas de 70 e 80 do sculo passado, momento em que se comea a dar particular ateno

    aos elementos da arquitectura decorativa. Surgem assim grandes obras de referncia no

    contexto internacional tais como os trabalhos de Patrizio Pensabene (1973), sobre os capitis de

    Ostia ou o de Jos Lus de la Barrera Anton (1982), relativo aos capitis de Mrida.

  • Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta

    19

    A monografia dedicada aos capitis de stia apresenta um estudo exaustivo de 774

    capitis que passou a funcionar como obra de referncia, muito til na catalogao e anlise

    deste tipo de elementos arquitectnicos. Por sua vez, o estudo dos capitis de Mrida engloba

    109 peas, tendo o autor conseguido afinar cronologias para o material do templo de Diana e do

    teatro, identificando o tipo de artista que os teria realizado (Encarnao, 2000-2001). Estes

    trabalhos assentaram numa metodologia inovadora caracterizada por uma anlise minuciosa das

    peas e na identificao das pedreiras de origem das matrias-primas.

    Em 1992 surgiu uma obra que forneceu uma viso global dos capitis da Pennsula

    Ibrica, da autoria de Maria Angeles Gutierrez Behemerid, baseada no seu estudo de cerca de

    1000 capitis, divididos por perodos cronolgicos: tardo-republicano/ Augusto, Jlio-Claudio,

    Flvio, Trajano/ Adriano, segunda metade do sculo II, sculo III e finalmente sculo IV. Cada

    pea apresenta-se descrita sumariamente, tendo-lhe sido atribuda a respectiva cronologia.

    Os dados obtidos neste estudo permitiram abordar a cronologia de introduo das

    diferentes correntes artsticas na Pennsula Ibrica, o seu grau de divulgao, a sua durao.

    Bem como os gostos particulares de cada poca. Cada corrente encontra-se precedida por um

    texto introdutrio que fornece noes gerais sobre a mesma e que seguido da listagem dos

    respectivos capitis.

    Jos Lus de la Barrera publicou em 2000, um trabalho sobre La decoracin

    arquitectnica de los foros de Augusta Emerita, que consiste numa catalogao exaustiva dos

    elementos arquitectnicos presentes na cidade e no Museu Nacional de Arte Romano de Mrida,

    uns descontextualizados e outros conservados ainda in-situ nos edifcios.

    Trata-se de uma obra estruturada em cinco captulos, que fornece um catlogo das

    peas, uma anlise tipolgica e estilstica do conjunto, abordando-se, tambm a arquitectura dos

    fora a partir das ilaes e resultados do estudo dos elementos decorativos. No captulo IV o autor

    desenvolve alguns aspectos mais tcnicos relacionados com os materiais, as pedreiras

    solicitadas e os ateliers / oficinas emeritenses. Finalmente, nas concluses o autor refere a

    existncia de um grande dinamismo da cidade de Mrida nos primeiros anos aps a sua

    fundao, indicando tambm que a cidade beneficiou da proximidade de grandes quantidades

    de granito e que era esse o material mais representado na construo (granito revestido com

    estuque), at ascenso da cidade a capital de Provncia, acontecimento que alterou os usos

    construtivos em vigor e deu maior protagonismo ao mrmore com toda a mestria tcnica e

    formao que esse material nobre requer.

  • Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias

    20

    O caso de Emerita Augusta constitui um exemplo muito interessante para estudo de

    programas arquitectnicos implementados pelas magistraturas locais nas construes pblicas.

    Neste mbito, os materiais de decorao arquitectnica analisados por Jos Lus de La Barrera

    parecem representar um veculo da propaganda imperial que se manifesta na edilcia romana

    provincial.

    Em 2006 surge uma tese de doutoramento, da autoria de Jvier A. Domingo,

    subordinada ao tema dos Capiteles Tardorromanos y Altomedievales de Hispania (ss. IV-VIII

    d.C.). O trabalho, que inclui um catlogo de 900 peas analisadas, encontra-se dividido por

    zonas geogrficas: Nordeste Peninsular, Levante Peninsular, Sul Peninsular, Oeste Peninsular,

    Centro Peninsular, Noroeste Peninsular, ncleo mozrabe e ncleo asturiano.

    A nvel nacional, merecem destaque os trabalhos de Ldia Fernandes (1998) e Maria

    Antonieta Brando Ribeiro (1999).

    Ldia Fernandes defendeu em 1998 uma tese de mestrado subordinada ao tema dos

    Capitis romanos da Lusitnia ocidental, tendo estudado um conjunto de 116 peas. Este

    trabalho particularmente interessante uma vez que a autora no se limita a uma abordagem

    arqueolgica, tentando interpretar o mundo do simbolismo e das ideias para chegar aos artistas

    que executaram cada uma das peas.

    Maria Antonieta Brando publicou em 1999 um trabalho sobre os capitis de Beja, num

    total de 28 elementos, dos quais 22 capitis e 6 fragmentos. A obra integra quatro captulos,

    onde se fala de Pax Iulia, enquanto enquadramento histrico-cultural aos capitis estudados. No

    captulo III abordam-se os vrios tipos de capitis: jnico, corntio, corintizante e o compsito. No

    ltimo captulo insere-se o catlogo descritivo, indicando, para cada pea, localizao,

    provenincia, bibliografia, reconstituio, estudo analtico e comparativo. A obra integra ainda um

    glossrio muito til explicando cada um dos elementos constituintes de um capitel.

    No que respeita ao estudo dos capitis deu-se globalmente sempre maior ateno ao

    capitel corntio relativamente aos das outras ordens. Contudo, existem alguns trabalhos pontuais

    sobre capitis toscanos. Lezine desenvolveu um estudo sobre dois capitis toscanos encontrados

    na Tunsia, Patrizio Pensabene abordando os capitis de Cherchel Arglia. Obras nas quais os

    autores apresentam tipologias. Para a ordem jnica a referncia a obra de Bingl: Das

    Ionische Normalkapitelle in Hellenistischer und rmischen Zeit in Kleinasien na qual estudado

    um grande conjunto de peas originrias de sia Menor. Os conhecimentos sobre o capitel

  • Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta

    21

    compsito beneficiaram dos trabalhos de Zorzi e Strong que fornecem informaes valiosas

    sobre a sua criao e desenvolvimentos.

    3.O contexto de anlise: Bracara Augusta

    3.1 A fundao da cidade

    Figura 1. Mapa do Imprio Romano no sc. II (Ribeiro, 2008: 208)

    Quando os romanos iniciaram a conquista da Pennsula Ibrica, no sculo III a.C., j

    existiam cidades, localizadas essencialmente na costa ibrica, no vale do Gualdalquivir e no sul

    de Portugal. No entanto, medida que avana a conquista romana e o controlo de novos

    territrios peninsulares, estabelecem-se acampamentos e fundam-se novos aglomerados

    urbanos.

    No que respeita ao NO peninsular o primeiro contacto das populaes pr-romanas com

    os exrcitos romanos ocorreu j no sculo II a.C., no contexto de uma expedio militar levada a

    cabo pelo cnsul Decimus Junius Brutus, em 138-136 a.C. (Martins, 2009: 184), data que

    marca o incio do processo de pacificao desta regio, igualmente assinalado pelo grande

    desenvolvimento econmico da mesma e pela reorganizao de alguns povoados que, cuja

    dimenso e estrutura urbana justifica a sua designao como oppida (Martins, 2009: 185).

    Pese embora a pacificao precoce da rea meridional do NO, que ser posteriormente

    integrada no conventus bracarense, a submisso definitiva da Pennsula Ibrica do ponto de

  • Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias

    22

    vista militar e poltico estar apenas concluda com o fim das guerras cantbricas, por volta de

    19 a.C.

    Figura 2. Cidades fundadas no NO

    Augusto ir aplicar medidas poderosas de reorganizao no territrio hispnico que

    passaram por trs pontos fundamentais: a diviso administrativa de toda a Pennsula Ibrica em

    provncias, conventos e civitates; a criao de uma rede de importantes centros urbanos,

    estabelecidos em pontos estratgicos, que obedeciam, necessariamente, a critrios hierrquicos,

    dentro do quadro administrativo e territorial romano e a implantao de uma rede viria densa,

    que assegurava a ligao entre os diferentes centros urbanos (Martins, 2009: 188). neste

    contexto que vamos assistir fundao de um significativo nmero de cidades durante o

    governo de Augusto, cujo estatuto jurdico variou consideravelmente.

    No NO peninsular Augusto fundou trs novas cidades, Lucus Augusti, Asturica Augusta e

    Bracara Augusta, destinadas a funcionar como capitais conventuais. Grande parte dos

    investigadores considera que a fundao daqueles centros urbanos ter sido decidida aquando

    da estadia do imperador na Hispnica, isto entre 16 e 15 a.C. (Le Roux, 1994 apud Martins,

    2004: 152).

    A circunstncia relacionada com o precoce controlo romano do actual territrio situado

    no Entre-Douro-e-Minho ter facilitado a criao de Bracara Augusta, que ocupou uma posio

    central no contexto daquela regio (Lemos, 2002: 96; Martins, 2009: 170). Trata-se

    efectivamente de uma regio que manteve desde muito cedo contacto com as reas mais

  • Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta

    23

    romanizadas do sul da Pennsula, o que permitiu a disseminao de tecnologias, produtos e de

    ideias de origem mediterrnica, que facilitaram uma rpida integrao social da populao

    indgena no modo de vida romano e no modelo de organizao territorial imposto por Augusto

    (Martins, et al. 2006: 28).

    A criao de Bracara Augusta numa regio pacificada, desenvolvida e aberta a novas

    formas de organizao constitua uma medida fundamental no processo de consolidao da

    poltica imperial, pois como centro urbano a cidade constituiu-se como plo agregador de outras

    iniciativas, funcionando como centro administrativo, n da rede viria e como local de residncia

    das elites indgenas oriundas dos castros da regio, as quais tiveram um papel fundamental na

    implantao de uma nova ordem social, econmica e cultural (Martins, 2009: 170).

    Bracara Augusta representa a nica fundao urbana de Augusto no territrio portugus

    a norte do Douro, sendo uma das grandes capitais administrativas do NO peninsular,

    controlando, por isso, um amplo territrio politico-administrativo, constitudo por uma complexa

    malha de civitates (Martins, 2009: 168).

    3.2 O desenvolvimento urbano

    O conhecimento que se tem da cidade romana resulta de mais de trs dcadas de

    escavaes realizadas na rea urbana de Braga. Esse conhecimento permite admitir a fundao

    civil da cidade, ao contrrio do que ter acontecido com Lucus Augusti e Asturica Augusta que

    tero tido origem em campamentos militares (Rodrguez Colmenero e Covadonga Carreo,

    1999; Sevillano Fuertes e Vidal Encinas, 2002). Os dados arqueolgicos permitem saber

    igualmente que a cidade beneficiou de um plano ortogonal, que orientou os eixos virios e

    estabeleceu uma malha de quarteires quadrados, estimada em 150 ps de lado, entre o eixo

    das ruas (Martins, 2004: 154; Ribeiro, 2008: 253).

    O forum da cidade encontrava-se situado na plataforma mais alta, junto da actual Capela

    de S. Sebastio, ocupando a totalidade do actual Largo Paulo Orsio, sendo a sua localizao

    sugerida por uma referncia escrita ao forum romanorum no mapa quinhentista de Braga,

    atribudo a Georg Braun e pelo achado de vrias bases de colunas em granito, de grandes

  • Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias

    24

    dimenses, encontradas na zona do actual quartel dos Bombeiros Voluntrios (Martins, 2004:

    154; 2009: 178:).

    Os eixos de circulao principais da cidade devero corresponder actual Rua de S.

    Sebastio, para o decumanus maximus ocidental, sendo ainda problemtico o traado do

    mesmo na parte oriental (Carvalho, 2008: 99). Atendendo largura da rua romana identificada

    na zona arqueolgica do antigo Albergue Distrital, bem como monumentalizao da mesma,

    com prticos de ambos os lados e ao facto de sob ela correr uma grande cloaca (Lemos e Leite,

    2000: 21), entende-se que a referida rua dever corresponder ao cardo mximo norte, tendo

    persistido na Idade Mdia com o nome de Rua Verde (Ribeiro, 2008: 100). Na parte sul da

    cidade presumvel que o cardo mximo coincida com o traado da actual Rua dos Bombeiros

    Voluntrios (Martins, 2008: 100).

    As primeiras dcadas de vida da cidade so ainda mal conhecidas, muito embora os

    estudos epigrficos e arqueolgicos indiquem que as cidades augstea e jlio-cludia

    conheceram um programa de povoamento relativamente rpido (Martins, 2009: 174), que

    permitiu uma florescente actividade econmica que teve a sua mxima expresso no urbanismo

    e arquitectura da cidade flvia-antonina.

    Com efeito, a maior parte dos edifcios pblicos e privados identificados nas escavaes

    realizadas at ao momento em Braga podem ser datados entre a poca Flvia e os incios da

    dinastia antonina, com particular destaque para a poca de Trajano / Adriano, perodo em que

    se construiu o teatro (Martins et al., 2006: 27) e as termas pblicas do Alto da Cividade

    (Martins, 2005: 9).

    Com base nos resultados dos trabalhos arqueolgicos realizados em Braga possvel

    indicar que a cidade romana ter atingido a sua mxima expanso no sculo II, com a edificao

    de vrios edifcios de prestgio como as j referidas termas e teatro, a que podemos juntar um

    anfiteatro erguido fora da rea urbana, identificado a partir da anlise da fotografia area, mas

    cujas runas eram ainda visveis no sculo XIX (Morais, 2001: 56).

    A importncia e desenvolvimento da cidade no Alto-Imprio so ainda comprovados pela

    comple