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SIMBOLISMO As experiências literárias de Poe, Whitman, Baudelaire, Lautrèamont, Rimbaud e Mallarmé assinalam na poesia ocidental os pontos de ruptura estética e temática que, somados ou desenvolvidos, motivaram o aparecimento de vários grupos de vanguarda na poesia europeia do início deste século. Com a enorme repercussão de seu simbolismo, Paris se tornou o centro cultural de maior evidência na Europa, refletindo por um lado a euforia de sua “belle époque” [*] e, por outro, o pessimismo decadentista do fin de siècle”. No meio, como um sistema de equilíbrio, a tendência renascentista, revalorizadora das tradições culturais do latinidade. As ideias filosóficas e sociológicas, bem como o desenvolvimento científico e técnico da época, contribuíram para a inquietação espiritual e intelectual dos escritores, divididos entre as forças negativas do passado e as tendências ordenadoras do futuro, que afinal predominaram, motivando uma pluralidade de investigações em todos os campos da arte e transformando os primeiros anos deste século no laboratório das mais avançadas concepções da arte e da literatura. (Gilberto Mendonça TELES. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro.) Gustave MOREAU (1826-1898). Phaeton. Odilon REDON (1840-1916). Olhos fechados. (1877) (1890) 1

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SIMBOLISMO

As experiências literárias de Poe, Whitman, Baudelaire, Lautrèamont,

Rimbaud e Mallarmé assinalam na poesia ocidental os pontos de ruptura

estética e temática que, somados ou desenvolvidos, motivaram o

aparecimento de vários grupos de vanguarda na poesia europeia do início

deste século. Com a enorme repercussão de seu simbolismo, Paris se tornou

o centro cultural de maior evidência na Europa, refletindo por um lado a

euforia de sua “belle époque” [*] e, por outro, o pessimismo decadentista do

“fin de siècle”. No meio, como um sistema de equilíbrio, a tendência

renascentista, revalorizadora das tradições culturais do latinidade. As ideias

filosóficas e sociológicas, bem como o desenvolvimento científico e técnico da

época, contribuíram para a inquietação espiritual e intelectual dos escritores,

divididos entre as forças negativas do passado e as tendências ordenadoras

do futuro, que afinal predominaram, motivando uma pluralidade de

investigações em todos os campos da arte e transformando os primeiros anos

deste século no laboratório das mais avançadas concepções da arte e da

literatura.(Gilberto Mendonça TELES. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro.)

Gustave MOREAU (1826-1898). Phaeton. Odilon REDON (1840-1916). Olhos fechados. (1877) (1890)

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Belle époqueGrosso modo, a chamada belle époque, refere-se basicamente ao período europeu

compreendido entre 1870 a aproximadamente 1914, enfeixando, sob o ponto de vista

literário, à pluralidade de tendências científicas, filosóficas, sociais, comportamentais e de

oposição, em literatura, à camisa de força representada pelo Realismo/Naturalismo. Nesse

curto período, à exceção da Revolução Russa e contendas de fronteira na Alemanha não

houve guerras no continente Europeu. Época de criação de novas arquiteturas estéticas e

teorias culturais, publicação de uma série de revistas, panfletos, manifestos

fundamentalmente, pelas ideias de Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Mallarmé (esses três

últimos chamados de Três Reis Magos da Poética Moderna), Whitman, Poe etc.

- Eric Hobsbawm apresenta uma reflexão extremamente rica e importante acerca do período, antes e depois do fim do século XIX: Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991; A era dos impérios. 1875-1914; Sobre história; A escrita da história: novas perspectivas.

Movimento simbolista: características gerais

(...) não é menos certo que a nossos olhos humanos, ou seja, aos olhos

dessas orgulhosas sombras de seres puros a viver na inconsciência de sua

condição ilusória e no animado engodo do espetáculo falacioso das

tangibilidades, não é menos certo, dizíamos que a nossos olhos míopes os

objetos aparecem quase sempre apenas como objetos, independentemente

da sua significação simbólica – a ponto de, por vezes, não podermos imaginá-

los enquanto signos, apesar de sinceros esforços.

(H. B. CHIPP. Teorias da arte moderna.)

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Se alguma vez eu reencontrar a tensa força e a energia

que já possuí algumas vezes, então darei vazão à minha

cólera em livros que hão de despertar indignação. Quero

que toda a raça humana fique contra mim. Isso me daria

um prazer tão grande que me compensaria por tudo.

Charles BAUDELAIRE. Lettres à sa mère.

Para ter sapatos, ela vendeu a sua alma;

Mas o bom Deus riria se, ante infâmia tal,

Eu desse de tartufo e macaqueasse o Senhor,

Eu que vendo o pensamento e quero ser autor.

BAUDELAIRE. Soneto dirigido à musa que pode ser

comprada: La muse vénale.#

“O típico da poesia de Baudelaire é que as imagens da

mulher e da morte se interpenetram numa terceira, a de

Paris. A Paris de seus poemas é uma cidade submersa,

mais submarina do que subterrânea. Aí estão bem

marcados os elementos primevos da cidade – a sua

formação topográfica, o antigo leito abandonado do rio

Sena. O decisivo em Baudelaire é, no entanto, um

substrato social, no ‘idílio fúnebre’ da cidade: o moderno.

O moderno é um acento primordial de sua poesia. Com o

spleen ele deixa o ideal em pedaços (‘Spleen et idéal’ ).

Mas é exatamente o moderno que sempre cita a história

primeva. Isso ocorre aí através da ambigüidade inerente

às relações e aos eventos sociais da época. Ambigüidade

é a imagem visível e aparente da dialética, a lei da

dialética em estado de paralisação. Essa paralisia é

utópica e, por isso, a imagem dialética é uma quimera, a

imagem de um sonho. Tal imagem é presentificada pela

mercadoria enquanto fetiche puro e simples. Tal imagem é

presentificada pela prostituta, que, em hipostática união, é

vendedora e mercadoria”. Walter BENJAMIN. Baudelaire

ou as ruas de Paris. Paris, capital do século XX. In:

Walter Benjamin. São Paulo: Ática, 1985, p.39-40.#

Para que falar, se já não podemos mais enganar um ao outro?(August STRINDBERG. Sonho.)

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(...) ser um outro

Espírito

para o arrojar

na

tempestade

repregar-lhe a divisão e

passar altivo

apartado do segredo que

guarda

invade a cabeça

escoa barba submissa

direito do homem

sem nau

não importa

onde

vã.

(Stéphane MALLARMÉ.

Um jogo de dados jamais

abolirá o acaso.)

Retrato de Stéphane Mallarmé. Édouard

MANET.

(...) só o misticismo poderá salvar nossa sociedade do embrutecimento, do

sensualismo e do utilitário. (...) Dentro de cem anos seremos uns brutos cujo

único ideal consistirá na cômoda satisfação das funções orgânicas; graças à

ciência positiva, voltaremos à animalidade pura e simples. É preciso reagir. É

preciso voltar a cultivar em nós as superiores qualidades da alma.(G.-Albert AURIER. Ensaio sobre um novo método de crítica.)

Paul GAUGUIN (pintor pós-impressionista 1848-1903).Cristo Amarelo (1889).

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Ao iniciar uma reflexão acerca do chamado movimento simbolista em arte, é

pertinente apresentar algumas considerações preliminares afirmando, de saída,

que a partir de 1880 nada mais, em arte, seria tão absoluto e único quanto

aparentemente o fora até então. Fosse pelas novas formulações teórico-

conceituais em filosofia, em política, em psicologia, nas ciências e sobretudo em

artes... fosse pelos movimentos de independência e/ou de criação de novas

Repúblicas. Grosso modo (e desconsiderando as produções populares, na maior

parte das vezes), até o desenvolvimento do movimento realista pode-se dizer que

os movimentos, escolas, tendências artísticas de elite eram praticados de modo

relativamente harmônicos, “exarados” que eram pelos países hegemônicos. Isto

é, havia uma determinada tendência hegemônica em arte que, com algumas

variações, era desenvolvida internacionalmente, buscando, através dos artistas

locais, uma repetição obediente, atenta e absolutamente calcada na original.

No sentido de esclarecer, desde já, determinadas questões acerca da

ideologia, Marilena Chaui referindo-se à ideologia, estabelece alguns parâmetros,

fundamentados em teses gramscianas. Evidentemente, no concernente ao

conceito, a perspectiva marxista se diferencia da Romântica e da Ilustrada porque

sua base central não se alicerça na abstração povo-popular – ainda que seu

ponto de vista seja o do povo como plebe explorada, dominada e excluída –, mas

no de luta de classes. Entre a exploração econômica e a dominação política, para

Marilena Chaui, de acordo com os postulados aqui apresentados:

(...) instala-se uma mediação fundamental que permite legitimar e naturalizar

as duas primeiras. Essa mediação, Marx designou com o nome de ideologia,

produção da universalidade imaginária e da unidade ilusória numa sociedade

que pressupõe, põe e repõe as divisões internas das classes. A novidade

gramsciana inclui o de cultura como processo social global que constitui a

“visão de mundo” de uma sociedade e de uma época, e o conceito de

ideologia como sistema de representações, normas e valores da classe

dominante que ocultam sua particularidade numa universalidade abstrata.

Todavia, o conceito de hegemonia ultrapassa aqueles dois conceitos:

ultrapassa o de cultura porque indaga sobre as relações de poder e alcança a

origem do fenômeno da obediência e da subordinação: ultrapassa o conceito

de ideologia porque envolve todo o processo social vivo percebendo-o como

práxis, isto é, as representações, as normas e os valores são práticas sociais

e se organizam como e através de práticas sociais dominantes e

determinadas. Pode-se dizer que, para Gramsci, a hegemonia é a cultura

numa sociedade de classes. Hegemonia não é um “sistema”: é um complexo

de experiências, relações e atividades cujos limites estão fixados e

interiorizados, mas que, por ser mais do que ideologia, tem capacidade para

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controlar e produzir mudanças sociais. Numa palavra, é uma práxis e um

processo, pois se altera todas as vezes que as condições históricas se

transformam, alteração indispensável para que a dominação seja mantida.

Como cultura numa sociedade de classes, a hegemonia não é apenas

conjunto de representações, nem doutrinação é manipulação. É um corpo de

práticas e de expectativas sobre o todo social existente e sobre o todo da

existência social: constitui e é constituída pela sociedade sob a forma da

subordinação interiorizada e imperceptível. (CHAUI, 1989: 21-22.)

De modo mais ou menos consensual, em diferentes períodos da história, os

países hegemônicos, por meio do incentivo de seus ideólogos ou por seus artistas

apropriavam-se das produções artísticas para recriá-las de acordo com certos

interesses, e não apenas estéticos. Mario Pedrosa, em inúmeras oportunidades,

referiu-se a este fato. Em um de seus ensaios Arte culta e arte popular (1980:

p.22), Pedrosa, um dos maiores críticos de artes plásticas do Brasil, afirma:

O mercado de arte é um dos que mais claramente expressam o que significa,

na sociedade individualista, o fenômeno da acumulação de capital e o sistema

de símbolos de prestígio em que se afirma a luta pelo status nesta sociedade.

(...) com o passar do tempo, a arte erudita reivindica para si toda a criatividade

humana, convertendo toda obra em arte burguesa – até mesmo as

provenientes de sociedades pré-capitalistas (inclusive as que nasceram como

“artesanais”) – na medida em que transforma esses objetos em valores de

troca.

Desenvolvidas por segmentos ou estratos da população ligados à elite, a

apropriação de certas manifestações e modos populares de produzir arte, como a

commedia dell’arte, por exemplo, a partir de um mesmo modelo esquadrinha e

fixa as antigas formas, mais ou menos, de acordo com uma série de interesses:

classistas, estéticos, políticos, ideológicos, técnicos irradiando-as para o resto do

mundo. Nesse processo de retomada, sobretudo ideológico, com conservação

aparente da forma, o objetivo centra-se na cópia do modelo pelos artistas locais

nos quais a forma conseguiu chegar. Ainda que com pequenas modificações,

medra, nos artistas locais, o modelo-padrão. Não são poucos os historiadores das

artes a referirem-se a esse tipo de conduta como manifestação arquetípica de

uma tendência do “império do simulacro”.

Dessa forma, ao longo de todo o chamado processo civilizador – conceito

aqui utilizado de acordo com a definição apresentada por Norbert Elias (1994) –,

“sempre houve uma série de artistas, que a despeito de falarem várias línguas e

com os mais diferentes costumes, crenças, modos de vida que realizavam, em

arte, uma “mesma e única ‘desengonçada (porque fora do lugar)’ coisa”. De

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excelentes análises sobre esta questão, e aqui priorizando a cultura brasileira,

Roberto Schwarz – que cunhou a célebre expressão: “ideias fora do lugar” –

apresenta em Nacional por subtração (Que horas são?: ensaios. 1987)

excelentes pistas. Outras fontes bastante interessantes podem ser encontradas,

também, nas reflexões desenvolvidas por Néstor García Canclini. A socialização

da arte; teoria e prática na América Latina. (1980) e em Las culturas populares en

el capitalismo. (1982).

Apesar de não haver mística nenhuma, a não ser no sentido do

barateamento do entendimento – e de modo oposto como defendem ardorosa,

vazia e abstratamente os crédulos e fanáticos, por qualquer ordem/força/”coisa”

dita transcendental, inexplicável de todos os tempos – em finais de século

parecem agudizar-se os vaticínios apocalípticos acerca da vida. Nomeou-se de

belle époque ao período que vai da unificação da Alemanha, em 1870, ao início

da Primeira Guerra Mundial, em 1914. Essa designação otimista deveu-se ao fato

de não ter havido, pelo menos nesse momento, nenhuma guerra na Europa.

Apesar de o estado ser de aparente calmaria, Paris foi o epicentro do movimento

simbolista. Apresentando contundentes esbarrões aos movimentos realista e

naturalista e aos seus cânones, e “de certo modo” à classe que os criara, os

simbolistas eivados por certo tédio e descrença com relação ao mundo e suas

relações fraturam e condenam a cópia para fazer incondicional apologia ao

sonho. Talvez daí, mas naturalmente a partir de Paris, tenha tomado corpo a ideia

segundo a qual, nas manifestações eruditas, a arte não tem bandeira. O locus do

simbolismo passa a ser o onírico. Há uma intensa, diferenciada e antagônica produção artística em

nascimento e/ou em desenvolvimento em fins do século XIX e início do século

XX. Nesse contexto, medra uma efervescente e provocativa produção cultural,

posteriormente chamada de vanguardista. Os movimentos ligados às chamadas

vanguardas históricas, assim como o Simbolismo, tinham como alvo criticar, como

já mencionado, o Naturalismo. Desse modo, ao retomar vários dos expedientes

do Romantismo na literatura (poesia, sobretudo), nas artes plásticas, em teatro o

Simbolismo, lastreado na proposição de l’art pour l’art, prepara um espaço para o

caráter enigmático e polissêmico nas artes.

Como ocorre em qualquer manifestação artística, mesmo naquelas ligadas à

estética hegemônica, realismo/naturalismo encontravam-se em crise,

principalmente pelo fato de a crise corresponder àquela do próprio positivismo,

que amparava filosoficamente os pressupostos estratégicos, sociais, tecnicistas e

racionalistas dos dois movimentos. Concernente a isso, afirma Hauser (s/d: 1059): Os inimigos da República são também, e no mais alto grau, inimigos do

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racionalismo, do materialismo e do naturalismo; atacam o progresso científico

e esperam que um renascimento religioso origine também um renascimento

intelectual. Falam da “‘bancarrota da ciência”, do “fim do naturalismo”, da

“mecanização da cultura, que sufoca a alma”, mas é à Revolução, à República

e ao liberalismo que querem referir-se quando se arrojam contra a pobreza

intelectual da época.

Ainda a esse respeito, no sentido de aprofundar algumas dessas

questões, afirma Eduardo Subirats (1991: 20): O vazio simbólico e vital, a angústia e o niilismo gerados pela civilização

técnico-científica lá onde sua ordem racional e instrumental se impôs com

maior consistência, colocam – tanto para a arte e arquitetura, como para a

reflexão estética e filosófica – exigências novas que sob os paradigmas

políticos, estéticos e morais das vanguardas históricas não são solúveis.

Certamente, tal perspectiva assume como realidade radical a crise da

modernidade, embora no seu sentido mais profundo: o de uma cultura que

constantemente gera sua autodissolução e sua reformulação, o de uma

negatividade e uma crise que impulsionam sempre à criação de novos valores

e à renovação das formas culturais. O conflito do desenvolvimento econômico-

tecnológico, o sentimento geral de uma ausência de valores vitais na cultura,

suscita precisamente aquele impulso de ruptura e inovação que define de

maneira essencial a modernidade. Pois a modernidade é a figura de uma

cultura crítica que tem que constantemente questionar-se a si mesma: a

modernidade só existe como projeto emancipador por aqueles que hoje a

negam em sua opressora positividade.

Por mais paradoxal que possa parecer, era muito mais interessante ao

Estado francês aturar e mesmo controlar um pequeno e “inocente” grupo de

artistas de elite, que declarava – com produções difíceis de serem apreendidas

mais imediatamente – ser a sociedade decadente. Em tese, outras questões

serão ainda apresentadas posteriormente, o conceito decadentismo ligou-se

inicialmente àquele referido por Mallarmé que pressentia todas as coisas ligadas

a uma abstrata apreensão de queda. O conceito de decadente, entretanto, decola

a partir de Longueur (Extensão, Demora) de Paul Verlaine (1844-1896) que

afirmava: “Eu sou o Império no fim da decadência.” Após algum tempo, com o

estudo de Paul Bourde, Paul Verlaine, Jean Moréas (1856-1910) e Stéphane

Mallarmé foram apresentados como poetas decadentes ou decadentistas. [*]

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DECADENTISMO O termo decadência, normalmente acompanhado e associado ao conceito de “mal de fim

de século” perde sua sugestão característica, por meio da conotação que Jean Moreás

(Johannes Papadiamantopoulos) lhe dará pela publicação de um manifesto – e,

naturalmente influenciado por Nietzsche, que já havia usado pejorativamente o termo: contra

a burguesia, o cristianismo e o racionalismo – em 18/09/1866, no Le Figaro, denunciando a

tentativa de substituir em poesia a realidade pela ideia. Posteriormente, pela influência de

Paul Verlaine, Anatole Baju (de fato Bajut, 1861-1903) fundou um jornal chamado Le

Décadent Littéraire et Artistique, publicando na primeira página seu manifesto, fazendo

apologia ao conceito aos leitores. Acompanhada à ideia da autodenominação

“decadentismo” é preciso que se diga que os artistas pertencentes à esta tendência,

acreditavam na arte como um fazer diletantista, a partir de uma atitude essencialmente

contemplativa e de gozo hedonista. Dessa forma, e de acordo com as teses defendidas por

alguns de seus apologistas, a arte caracterizar-se-ia na única possibilidade de compensação

e preenchimento dos desapontamentos da vida (daí a recorrente atitude de esgar e de

deformidade). Assim, à luz das “explicações” apresentadas no manifesto, o próprio Moréas

proporá a substituição do termo por Simbolismo.

A respeito dos cultuadores do sentimento de tédio, mal estar, incomunicabilidade etc, o

ensaio de Walter Benjamin. A Paris do Segundo Império, notadamente o flâneur. In: Walter

Benjamin. São Paulo: Ática, 1985, pp.65-92, é extremamente revelador e estimulante.

Ao contestar e ao condenar a sociedade burguesa, as estratégias dos

simbolistas são diferenciadas daquelas dos artistas naturalistas. Em tese, os

simbolistas negam seu tempo e história e, fora dos discursos, criam obras tantas

vezes inacessíveis. Ao contrário disso, não foram poucos os naturalistas a aderir

aos ideais socialistas e à luta proletária. Desse modo, o Estado francês

preocupava-se muito mais com os naturalistas do que com os simbolistas. Assim,

sabendo ou não, os simbolistas, com sua “contestatória estética” acabaram – de

modo perverso e indireto, cooptados que foram pela profissão de fé na arte

simbólica ou “florestas de símbolos” a atender os interesses do Estado.

A expressão floresta de símbolos, criada por Charles Baudelaire, pode ser

apreendida pelas imagens mais recorrentes apresentadas em sua obra

Correspondências. Dentre essas imagens podem ser destacadas:

A natureza é um templo em que vivas pilastras

deixam sair às vezes obscuras palavras;

o homem a percorre através de florestas de símbolos

que o observam com olhares familiares. (...)

Há perfumes saudáveis como carnes de crianças,

doces como os oboés, verdes como as campinas,

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- e outros, corrompidos, ricos e triunfantes,

tendo a efusão das coisas infinitas,

como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,

que cantam os êxtases do espírito e dos sentidos.1

Hugo SIMBERG (artista finlandês, 1873-1917). O anjo ferido (1903); O jardim da morte (1896). Em ambas as obras o trânsito com o inusitado e o improvável. A realização de tais paisagens são possíveis não na realidade empírica, mas no universo dos sonhos.

Muito significativo, também, no sentido proposto é o texto de Arthur

Rimbaud (1854-1891), Alquimia do verbo, em cujo excerto abaixo apresenta

imagens sinestésicas e surpreendentes.

Atenção. A história de uma de minhas loucuras. (...)

Eu inventei a cor das vogais! – A negro, E branco, I vermelho, O azul, U verde.

– Regulei a forma e o movimento de cada consoante, e, com os ritmos

instintivos, me vangloriei de inventar um verbo poético acessível, mais cedo

ou mais tarde, a todos os sentidos.

Eu reservava a tradução.

Isto foi de início um estudo. Eu escrevia os silêncios, as noites, amontoava o

inexprimível.

Fixava as vertigens.

Eu me habituei à simples alucinação: via claramente uma mesquita no lugar

de uma usina, uma escola de tambores feita por anjos, caleças nas estradas

do céu, um salão ao fundo de um lago; monstros, mistérios; um título de

comédia levantava pavores diante de mim. Depois expliquei meus sofismas

mágicos com a alucinação das palavras!

Acabei por achar sagrada a desordem do meu espírito. (...)

1 Apud http://www.nossacasa.net/arte/texto.asp?texto=51 consulta em

07/03/2009, 20h39.

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Eu amei o deserto, os vergéis queimados, as lojas fechadas, as bebidas

tépidas. Eu me arrastava pelos becos fétidos e, com os olhos fechados, me

oferecia ao sol, deus de fogo. (...)

Eu me tornei uma ópera fabulosa: vi que todos os seres têm um destino de

felicidade: a ação não é a vida, mas uma maneira de estragar alguma força,

um enervamento. A moral é a fraqueza do cérebro.

O Estado francês já mostrara anteriormente sua força ao ter esmagado o

movimento conhecido como a Comuna de Paris. Desse modo, a crítica ao

Naturalismo era cada vez mais contundente e Émile Zola (1840-1902), o maior

promotor e incentivador do movimento, acabou por transformar-se no grande

bode expiatório de um contra-movimento de escritores e intelectuais de cultura

acadêmica, liderados, ao que tudo indica por críticos como Paul Bourget (1852–

1935): escritor que ao publicar Ensaios de Psicologia Contemporânea (1883)

acabou por filiar-se ao grupo intelectual de cultura acadêmica, levando-o a

recusar a ideologia e a estética preconizada pelos naturalistas. Aprofundando sua

oposição aos cientificistas e reiterando sua apologia à ideologia burguesa

escreveu algumas obras substituindo o romance de costumes pelo romance

psicológico. Ferdinand Brunitière (1849-1906): considerado como paradigma da

crítica aristocrática e conservadora na França e também como um dos mais

conservadores críticos que o teatro francês conheceu no século XIX. Ao adotar

proposições como graça, nobreza e elevação espiritual, o crítico condenou

duramente o impressionismo e, sobretudo, o naturalismo, propondo a exumação

de muitas obras e recomendando o “banimento” aos conspurcadores da arte

verdadeira. Suas idiossincrasias podem ser acompanhadas em Estudos Críticos

(1880-1925). Maurice Barrès (1862-1923): trata-se de um escritor e político

francês. Eleito deputado por Nancy, de 1889-91, desenvolveu uma campanha

nacionalista e apologética em prol da pátria e de seus mártires. Sua obra literária,

paradoxalmente às suas convicções burguesas, é marcada por um espírito

individualista e apaixonado e pela necessidade positivista de ordem e disciplina..

A quase totalidade dos artistas franceses do período, e mesmo aqueles que

haviam participado intensamente do movimento naturalista em outros tempos

(acabaram, também, por diferentes motivos a, naquele momento, “enterrá-lo”),

concordava com a exageradíssima tese segundo a qual:

O naturalismo, (...) era uma arte indelicada, obscena, a expressão de uma

filosofia materialista, insípida, o instrumento de uma propaganda democrática

inepta, grosseira, um conjunto de banalidades maçadoras, triviais e vulgares,

uma representação da realidade que, ao retratar a sociedade, só se ocupa do

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que no homem há de animal indomável, esfomeado, indisciplinado, e só se

ocupa da desintegração, da dissolução das relações humanas, do

enfraquecimento da família, da nação e da religião. (HAUSER, s/d: 1061-2)

Muitos outros artistas resistentes – para além dos citados no parágrafo

anterior, como Charles Baudelaire, Paul Verlaine, Stéphane Mallarmé, Marcel

Proust (1871-1922), pendendo entre o Naturalismo, o Impressionismo e o

Simbolismo e muitos outros (digamos franco-atiradores, não ligados a nenhum

dos grupos citados) – rotulavam não só os artistas-cientistas-intrusos do período

de decadentistas, bem como a sociedade burguesa como um todo. Desse modo,

de acordo com os vaticínios destes, propuseram os “resistentes” que os

apologistas à sociedade e à arte cientificistas fossem encerrados em seus

laboratórios, distantes do que chamavam de “arte verdadeira”, intentada e

materializada pela capacidade de sonhar. Verlaine, por exemplo, chamou seus

inimigos, em ato de fervor, de “assassinos das preces”.

O poeta, artista plástico e crítico Albert Aurier (1865-1892), dentre outras

reflexões, apresenta uma análise sobre a teoria simbolista no ensaio incompleto

Essai sur une nouvelle méthode critique (1890-3). Na citada obra e em outros

espaços afirmou que a arte tinha uma dupla alma e que a única forma possível de

entendê-la seria por meio do amor (e não da ciência). Realizá-la, portanto,

pressuporia transformar-se em seu amante. Esse mesmo autor – numa atitude

rigorosamente escapista [*]– pontificava, ainda, aos seus eventuais detratores que

somente o misticismo poderia salvar a humanidade por meio de um abstrato

“culto aos valores superiores da alma”: temática recorrente à totalidade dos

autores. Em sua crítica, Aurier afirma:

(...) sem dúvida, a arte realista, cuja única finalidade é a representação das

exterioridades materiais, das aparências sensíveis, constitui uma

manifestação estética diferente. De certa forma, ela nos revela, por

contragolpe, a alma de quem a faz, porquanto nos mostra as deformações

sofridas pelo objeto ao atravessá-lo. Por outro lado, ninguém contesta que o

realismo, se por um lado tem sido pretexto para muita fealdade impessoal e

banal como a fotografia, por outro lado também tem produzido incontestáveis

obras-primas, que brilham no museu de todas as memórias. Mas não é menos

indiscutível que, para quem de fato deseja refletir com lealdade, a arte ideísta

surge mais pura e elevada – com toda a pureza e elevação que separam a

matéria da ideia. (AURIER apud CHIPP, 1996: 85)

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ESCAPISMOPor escapismo, no contexto que aqui se apresenta, deve-se entender uma atitude neo-romântica, significando uma fuga do mundo real e concreto. Tal atitude direcionava para a criação de idealizados e refinados “paraísos artificiais”, cujo locus, naturalmente era aquele do sonho.

Os artistas simbolistas contestaram os naturalistas afirmando o tédio de

suas teses racionais e cientificistas que os teriam induzido à criação de um fac-

símile do mundo pretensamente real (simulacro). Dessa forma, em caminho

inverso, a arte simbolista – ao recuperar os subjetivismos do último romantismo –

teria levado seus artistas a fazer uma apologia incondicional ao anímico, ao

incognoscível e aos sonhos. Por meio dessa profissão de fé no inefável,

buscavam os simbolistas “exprimir os seres absolutos” medrados, diretamente, do

mundo das ideias. De outro modo, pode-se afirmar que essa evocação instaurava

o ser absoluto na condição de signos. Nessa perspectiva, não interessava aos

artistas ligados ao movimento simbolista retratar os objetos tal e qual eles

poderiam ser encontrados na realidade empírica. Interessava e a busca se

pautava, fundamentalmente, em evocar os objetos, por intermédio de

determinados aspectos que pudessem suscitar os (por ele denominados) estados

de alma: fruto do subjetivismo e do subconsciente. Nessa perspectiva, a visão

onírica, idealizada e prenhe de simbologia caracterizar-se-ia na única

possibilidade a partir da qual a arte poderia ser concebida e/ou alcançada

apresentando o oculto (pré-lógico), o transcendente e o inexorável: que

corresponderiam aos sentimentos verdadeiros e ideais.

Baudelaire, por exemplo, acatando e repetindo Hegel, considerava que o

prazer pelo artificial (ou seja, aquilo produzido pelo homem) era infinitamente

superior, posto que a natureza era moralmente inferior. Pode-se dizer, então, que

por meio de seu entusiasmo pela artificialidade, as obras daí resultantes

representaram uma nova abordagem ao escapismo romântico. Por esta senda,

Baudelaire afirmava que o mal era espontâneo (natural) e que, ao contrário disso,

o bem seria sempre produto da intenção e do propósito construído pelo homem

artista.

Tendo em vista a necessidade de esclarecimento, com relação ao conceito

de símbolo, Hauser (s/d) afirma que o símbolo, representaria a expressão indireta

de um significado impossível de dar diretamente, posto ser indefinível e

inesgotável. A principal diferença entre símbolo e alegoria no período teria sido

apresentada por Mallarmé, que concebia a alegoria como tradução de uma ideia

abstrata, em forma de uma imagem concreta. Assim, ao se descobrir a ideia

contida por “detrás” da alegoria poder-se-ia lê-la e traduzi-la, posto que a

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traduzibilidade faria parte de sua constituição.

Em oposição à alegoria, o símbolo reuniria a ideia e a imagem em uma

unidade indivisível, de modo que a transformação da imagem arrastaria consigo a

metamorfose da ideia, posto que o conteúdo de um símbolo não poderia ser

traduzido de outra forma. Dentre os vários textos que discutem o símbolo, Hegel

(Estética: a arte simbólica) afirma:

O símbolo é algo de exterior, um dado direto e que diretamente se dirige à

nossa intuição: todavia, este dado não pode ser considerado e aceite tal como

existe realmente, para si mesmo, mas num sentido muito mais vasto e geral.

É, assim, preciso distinguir no símbolo o sentido e a expressão. Aquele refere-

se a uma representação ou um objeto qualquer que seja o seu conteúdo; esta

constitui uma existência sensível ou uma imagem qualquer.

Antes de tudo, o símbolo é um sinal. Mas na sua simples presença, o laço que

existe entre o sentido e a expressão é puramente arbitrário. Esta expressão

que aqui temos, esta imagem, esta coisa sensível representa tão pouco por si

mesma que desperta em nós a ideia de um conteúdo que lhe é

completamente alheio, com o qual ela não tem, para falar com propriedade,

nada de comum. (...) A arte implica, pelo contrário, uma relação, um

parentesco, uma interpenetração concreta de significação e de forma.

(HEGEL, s/d: 16)

Nesse sentido, Baudelaire, antecessor mais notável da poesia simbolista e

o criador da lírica moderna em geral, foi o paradigma e condutor de um grupo de

artistas que regressou a alguns dos expedientes do Romantismo (metáfora como

célula primal e repúdio a toda poesia anterior). O poeta francês concilia o novo

misticismo à velha devoção fanática pela arte de élite, por intermédio da

utilização, ao paroxismo, de símbolos. Nesse estado, o movimento, pode-se

afirmar, caracterizou-se por uma busca, posto que a arte seria sua própria

realidade, não refletindo nada. Em consonância às ideias dos impressionistas,

pode-se entender que para os simbolistas, a realidade não era um estado, mas

um processo e não podia ser concebida como um ser, mas como um devir. Nesse

sentido, Mallarmé afirma: “o simbolista não deve retratar o objeto, mas o efeito

que este produz.”

Maria Sílvia Betti (2004), tomando algumas teses de Raymond Williams

lembra que o simbolismo reforça a ideia de que é um plano transcendental que

determina e organiza a existência humana, e não a forma concreta de

sobrevivência do homem dentro da sociedade e do trabalho. Com isso, o

simbolismo, a despeito de seu inegável fôlego inovador no que diz respeito ás

técnicas de concepção e caracterização, aponta para uma visão de mundo

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identificada aos setores mais conservadores e menos interessados na

transformação social.

Obras de Alphonse OSBERT. A musa ao nascer do sol, 1918. Embaixo, Ao cair do sol, 1894.

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Movimentos d’alma: desenvolvimento do Simbolismo

(...) embora o movimento fosse explicavelmente antiburguês, em sentido geral

quanto formal, era também, em nível mais profundo, o auge da mais fraca

tendência da época burguesa: a almejada estabilização, em novo tipo de

abstração da sociedade e da história, do mistério dos processos humanos em

geral: mistério agora, finalmente, localizado – e eis aí seu caráter burguês, em

oposição às formas metafísicas anteriores – dentro do indivíduo.

Raymond Williams. Cultura.

Apollinaire, em 1914.

Não gostamos nem da arte nem dos artistas... ignoramos

Mallarmé, sem ódio, mas ele está morto. Não conhecemos mais

Apollinaire - PORQUE - desconfiamos que faz arte com grande

conhecimento de causa, conserta o romantismo com fio

telefônico e não conhece dínamos. Os ASTROS ainda

desligados! – é enfadonho e depois às vezes eles não falam

sério! Um homem que crê é curioso. MAS VISTO QUE ALGUNS

NASCERAM CABOTINOS...

Jacques VACHÉ. Lettres de guerre. Apud Maurice NADEAU. História do surrealismo.

O verbete Simbolismo, no Dicionário de teatro de Luiz Paulo de

Vasconcellos, apresenta a seguinte definição:

Movimento artístico e literário ocorrido na França no fim do século XIX. Seu

principal precursor foi Charles Baudelaire (1821-1867), com a publicação, em

1857, de Fleurs du mal. Inicialmente, os adeptos do novo movimento, foram

chamados de “decadentes”. A origem desse nome está na crença de seus

participantes de que todas as instituições da sociedade se encontravam em

estado de decadência. A tônica do movimento é o tédio e o pessimismo,

embora a diretriz estética seja uma reação ao fac-similar do NATURALISMO.

Esta reação se expressa na ênfase dada ao subjetivismo, ao subconsciente e

às imagens pré-lógicas que existem nos sonhos e nas alucinações. A

representação desse universo onírico e atormentado só se faz possível

através do uso de uma simbologia complexa, capaz de traduzir a

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espiritualidade e o misticismo do movimento.

Patrice Pavis (1999: 360-1), item número 4, do verbete Símbolo, afirma:

Um movimento literário, no final do século XIX, o simbolismo, generalizou a

noção de símbolo fazendo dele o código da realidade; ele procura “vestir a

ideia de uma forma sensível” (Jean Moréas). Autores (...) servem-se de

símbolos para inventar uma linguagem que se basta a si mesma.

Esta estética ainda se encontra hoje naquilo que B. DORT chama de

representação simbolista: “A tentativa de constituir, no palco, um universo

(fechado ou aberto) que tome alguns elementos emprestados da realidade

aparente mas que, por intermédio do ator, remeta o espectador a uma

realidade outra que este deve descobrir”.

Os simbolistas defendiam a tese de criação de um “teatro da mente”. De

certo modo, tal proposição dava conta de que o texto teatral teria sua concretude

ao ser lido. Representá-lo seria menos importante, portanto. Para muitos dos

autores inseridos no movimento, o texto teatral funcionaria como um pretexto para

sonhar! O texto escrito, ao ser lido, intentaria muito mais a imaginação do leitor.

Por meio das palavras, o leitor construiria todas as paisagens, tanto geográficas

como humanas. Decorrente dessa nem tanta novidade (para Aristóteles a parte

menos importante da tragédia era o espetáculo: opsis), e dos inúmeros enigmas

constitutivos das obras escritas, era necessário surgir novos expedientes para

viabilizar a encenação.

À luz de novos desafios, a encenação naturalista sofreu um processo

radical de ruptura, fundamentalmente porque a estrutura dramatúrgica clássica

que lhe dava sustentação, fundamentada no reprodutivismo da realidade

empírica. As experimentações simbolistas, segundo interessante expressão,

deram início a um processo conhecido como “desdramatização”. De modo

esquemático, tal conceito diz respeito à supressão do embate de vontades que

caracterizaria o elemento fundamental do gênero que é o conflito. De acordo com

a teoria teatral hegemônica, o conflito é considerado como a “essência” do drama.

Dessa forma, a noção de curva dramática apresentada por Hegel em sua poética

acabou por ser questionada pela própria cultura e concepção de elite. A respeito

dessa discussão, dentre outros autores Anatol Rosenfeld (O teatro épico) e Peter

Szondi (Teoria do drama moderno – 1850-1950) apresentam excelentes e

esclarecedoras reflexões.

Dessa forma, aos artistas do movimento interessava a criação de

ATMOSFERAS e de CLIMAS, a partir dos quais os espectadores e/ou fruidores

passariam, no chamado processo de recepção, a ter a função de decodificar a

obra, cujo “caráter” preponderante seria o de obra polissêmica. Tal princípio foi

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defendido por um dos representantes do movimento Théodore de Banville (1823-

1891), sendo que sua peça mais ambiciosa foi O ferreiro (Le forgeron – 1887).

Banville, defensor empedernido da arte pela arte, escreve em 1857 Odes

funambulescas, com a qual tenta demonstrar a tese segundo a qual a criação

poética deveria aglutinar e conciliar os conceitos de poesia e artifício, que acabou

por levá-lo a ser chamado de “acrobata do verso”. Em 1872 escreve Pequeno

tratado de versificação francesa.

Segundo as ideias de Banville, o teatro seria tanto para o público como para

o sujeito solitário. Este último, nessa concepção o teatro subordinar-se-ia à ideia

wagneriana, sustentada por aquela de Schopenhauer, segundo a qual a obra

dirigir-se-ia aos movimentos interiores da alma.

A estética simbolista inicia-se com Mallarmé, também conhecido como

“príncipe dos poetas”, um dos maiores artistas do movimento que, dentre outras

ideias, sonhava com a criação de um teatro soberba (e não paradoxalmente)

realista, no concernente à capacidade do fantasiar humano, representando por

excelência pelo espaço anímico. Dessa forma, o poeta elogiou um conceito em

voga no período de “espetáculo numa poltrona”, sendo suas principais ideias

acerca desse e outros pontos de vista podem ser encontrados em duas fontes:

Revue Indepéndante (1886-87) e no Le livre. Segundo a crítica especializada, o

autor – para ele a poesia era a anunciação de todas as imagens suspensas

oscilantes e em constante processo de evanescência – criou e recriou sempre a

partir de um determinado conjunto de ideias. Acreditava e defendia o poeta, que

nomear um objeto representava destruir três quartos do prazer existente no

adivinhar gradual da sua verdadeira natureza. Assim, a “evocação da realidade”

representava a evocação como ideia, e esta seria sempre um símbolo. A

“evocação da realidade” pode ser encontrada em obras como Parnaso

contemporâneo. Por meio de uma sintaxe insólita Mallarmé criou: A tarde de um

fauno, Túmulo de Edgar Poe e Um lance de dados jamais abolirá o acaso. Além

desses livros de poemas, tem suas obras em prosa publicadas no livro

Divagações, de 1897.

Muitas das ideias preconizadas por Mallarmé acabaram por ser

aprofundadas por meio de muitos de seus “discípulos”. De todos os seus

neófitos, o mais conhecido foi Charles Morice (1861-1919), que escreveu La

littérature de tout à l’heure (A literatura de daqui a pouco), publicada em 1889.

Nesta obra, segundo a crítica especializada, Morice defende ser difícil ater-se e

desenvolver as remotas e genéricas ideias wagnerianas, segundo as quais o

teatro deveria ser concebido “como templo para os ritos da religião”. Os outros

discípulos de Mallarmé encontravam-se divididos em dois grupos, defendendo

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ideias opostas de uma estética simbolista no teatro, mas fundamentados no

princípio de que seria necessário conciliar o componente físico da representação

teatral com a visão abstrata do poeta.

O primeiro desses grupos, liderado por Saint–Pol Roux (1861-1940),

autodenominava-se IDEORREALISTAS (combinação de aspectos do realismo

com o idealismo). O segundo grupo, liderado por Camile Mauclair (1872-1945),

tentou impor sua concepção ou visão simbolista em março de 1892, por meio da

Revue Indépendante de Littérature et d’Art, com o ensaio Notes sur en essai de

dramaturgie symbolique. Nessa obra, Mauclair apresentou uma nova definição do

drama que, para ele, seria dividido a partir de três concepções, sendo: a primeira

como a visão mais moderna do ponto de vista psicológico – o teatro positivista de

Henri Becque e Jean Jullien; a segunda o teatro metafísico de Maurice

Maeterlinck, considerado pelo autor como mais filosófico do que dramático; e, o

terceiro que concebia o drama predestinado a criar “entidades filosóficas

intelectuais”, com personagens sobre-humanas num cenário emocional e sensual.

Esta última concepção, bastante abstrata em sua formulação, requereria atitudes

inusitadas para o cenário e para as personagens, cujas protagonistas

representariam “encarnações das ideias”, premido, portanto, pela alegoria ou pelo

símbolo; quanto às secundárias – à semelhança do Coro grego – deveriam ser

concebidas de modo realista, posto que sua função seria de ajudar o público a

entender o texto.

Com relação ao cenário, por exemplo, para muitos dos artistas inseridos no

movimento, o espaço não deveria ser vazio, mas, isso sim, evitar todos os

detalhes específicos. Nessa perspectiva, e de acordo com a percepção desses

artistas, uma simples sombra verde daria uma melhor impressão do que papelões

(telões) pintados imitando florestas. Em tese, a concepção teatral dessa segunda

tendência ou grupo, preconizava um idealizado teatro estático, altamente abstrato

e semelhante a um transe, transformando-se: “(...) em espaço de jogo ou de

sonho, o cenário simbolista propõe uma nova concepção da COR (...) ela assume

agora uma função simbólica.” (ROUBINE, 1982: 32)

Nessa perspectiva, nada deveria neste teatro ter uma função decorativa,

posto que todos os elementos deveriam confluir para criar uma visão:

- diretamente ligada àquilo que eles qualificavam/denominavam como sendo

a alma;

- sublinhar um determinado efeito: normalmente de ordem metafísica;

- evocar, de todos os modos, o intraduzível, o imprevisível, o onírico.

Stanislavski, em sendo um homem-artista de seu tempo, apropriou-se de

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muitas das sugestões propugnadas pelos simbolistas, sobretudo a aludida criação

de atmosferas que pudessem induzir os espectadores a penetrar nos ambientes,

através da evocação imaginativa. Assim, o diretor, em muitas de suas

encenações, criava de modo perfeccionista, ruídos característicos, índices

exteriores no sentido de remeter e envolver organicamente os espectadores para

o além da peça (ou para o contexto emocional do locus da obra).

Desenvolvimento das ideias simbolistas e o surgimento da reteatralização do teatro

Os fundamentos teóricos do esteticismo moderno, como filosofia da atitude

absolutamente passiva, contemplativa, perante a vida, podem filiar-se em

Schopenhauer, que define arte como a emancipação da escravidão imposta

pelo querer, o sedativo que reduz ao silêncio os apetites e as paixões. A

filosofia do esteticismo julga e avalia toda a vida do ponto de vista desta arte,

liberta de querer e de paixão. O seu ideal é um público inteiramente

constituído por artistas reais ou potenciais, de naturezas artísticas para quem

a realidade é apenas o substrato da experiência estética. Considera o mundo

civilizado como o estúdio de um grande artista, e o próprio artista o melhor

perito em arte. (...) Tudo o que é simples e claro, instintivo e sem requinte

perde o seu valor; a capacidade de percepção, o intelectualismo e o que há de

não-natural na cultura, eis o que se busca com fervor.

Arnold HAUSER. História social da literatura e da arte.

Toda obra-prima é um símbolo, e o símbolo nunca pode suportar a presença ativa de um homem.

M. MAETERLINCK. Apud M. CARLSON. Teorias do teatro.

A arte não é criada para o povo. Ela é essencialmente complexa, composta de

matizes, enquanto o povo só aprecia as mais diretas, claras e simples

representações da vida. (...) [O drama para o povo] apenas um meio de

propaganda de idéias chamadas filantrópicas ou dos interesses dos políticos [-

em suma], apenas uma paródia da arte.

Georges RODENBACH. Figaro de 17/09/1896. Apud M. CARLSON. Teorias

do teatro.

Appia, G. Craig, Meyerhold, Tairov e tantos outros, foram os paladinos dessa

exigência de reforma; todos eles se inspiravam no que se convencionou

chamar de teatro teatral. Os novos ideais fazem vacilar as próprias bases do

realismo. O que esses autores combatem é precisamente a ideia de ilusão

cênica, tudo aquilo que pretende fazer do palco a própria realidade; lutar por

um teatro teatral é lutar por algo que aceita o teatro por aquilo que ele é:

teatro. É verdade que os reformadores defendem as suas ideias com um ardor

nem sempre isento de contradições, com uma radicalidade que se pretende

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total, mas que descamba às vezes para a utopia; de qualquer forma, o seu

denominador comum é o ideal da “reteatralização” do teatro.

Gerd BORNHEIM. O sentido e a máscara.

Anna Balakian afirma que nas histórias do movimento simbolista pouca

atenção foi (é) dada ao teatro que dele se originou. Lembra a pesquisadora,

ainda, que a despeito de haver alguns estudos interessantes a respeito de Lugné-

Poe e alguns outros; do ponto de vista teatral, o que, de fato, a autora se ressente

liga-se à ausência de estudos com relação à dramaturgia simbolista e à sua

poética. Desse modo, afirma Balakian essa produção precisa ser considerada

como precursora dos movimentos de vanguarda, cuja poesia, bastante

sinestésica intentaria interesse sobretudo em: “(...) determinar em que extensão

ele [o movimento] conseguiu se desviar da convenção dramática a fim de dirigir o

teatro para novos campos, nos quais o artista dramático da metade do século XX

está mais apto a florescer.” (BALAKIAN, 1985: 99)

Afirma, ainda, Anna Balakian que:

As mutações que o simbolismo realizou na escritura do verso nada são, com

efeito, quando comparadas aos assaltos feitos à forma dramática. (...) porque

na verdade existe um certo anulamento do ator exigido pelo dramaturgo-

poeta, que está em todas as suas personagens e está procurando um médium

em vez de um intérprete. (...) Aqui está, pois, “o primeiro defeito” do teatro

simbolista: nenhuma caracterização e nenhuma oportunidade de

interpretação. (BALAKIAN, 1985: 99)

Em 1890, Paul FORT (1872-1960), opondo-se fortemente às ideias de André

Antoine e à produção desenvolvida no Théâtre Libre, funda o Théâtre de l’Art,

convidando os poetas simbolistas franceses e, especificamente, Aurelian Lugné-

Poe (1869-1940) – um dos atores do Théâtre Libre – para incorporar-se ao elenco

do novo grupo. Segundo Paul Blanchard (s/d) Lugné-Poe atuou na primeira peça

montada pelo novo teatro A intrusa, posteriormente, em Os cegos e Pelléas e

Mélisande, todas de Maurice Maeterlinck.

Inicialmente, os artistas reunidos em torno de Fort (que defendia a tese de

criação de um teatro que funcionasse como tribuna para os simbolistas e) para

quem era preciso: “purificar o ambiente de mau cheiro que emanava das

autênticas peças de carne no palco do Teatro Livre”, formaram um movimento de

arte impressionista, como necessidade de oposição ao Naturalismo, preconizando

a necessidade do retorno do subjetivismo em arte. Apesar de o movimento não ter

surgido com o drama, o grupo inicia suas atividades “teorizando” acerca da

necessidade, também, de um “teatro do sonho” ou de um “teatro da alma”. Essas

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proposições idealizadas em teatro alicerçavam-se no princípio de uma

dramaturgia/encenação deveria ter como mote não o conflito humano (segundo

os padrões postos desde, principalmente, Hegel), mas um idealizado e abstrato,

por eles denominado, “conflito da alma”. Em algumas fontes encontra-se a

informação de que o movimento teria prosperado quando o dramaturgo prosperou

Jules Renard (1864-1910) apresentou Paul Fort a inúmeros intelectuais e artistas

do movimento que se interessaram pelas ideias apresentadas pelo jovem artista.

O espetáculo de estreia foi Fausto de Christopher Marlowe (1564-1593),

em 18/11/1890. Sem sede fixa, por iniciativa de Fort, o grupo montou vários

espetáculos, todos eles contando, também, com o trabalho de artistas plásticos,

simpatizantes do movimento. Gaston Baty afirma a respeito de Fort:

Por ser ele próprio essencialmente poeta e trabalhar com poetas, pôde

considerar-se o salvador de dois naufrágios: o da poesia e o da palavra. Paul

Fort resgatou-as com coragem e decisão, à custa do movimento e do jogo

cênico, que desapareciam sob a influência das palavras, das rimas, dos ritmos

e das melodias poéticas. (BATY apud REDONDOJr., s/d: 69-70)

O teatro fundado por Fort troca seu nome para Théâtre de l’Oeuvre, em

1893, e estreia em 22/05/1893 Pelleas et Melisande de Maeterlinck. A partir dessa

data o teatro passa a ser dirigido por Lugné-Poe até 1914, que consegue montar

mais de cem espetáculos. Com ideias próprias e mais imaginativas – Lugné-Poe

transformou o novo espaço, definitivamente, no templo do teatro simbolista. Além

disso, o diretor abriu as portas do novo teatro aos dramaturgos estrangeiros e às

obras que desde então foram chamadas de obras de avant-garde.

Em tese, quando da criação do novo espaço, Lugné-Poe afirmou que o

teatro teria dois objetivos, sendo que o primeiro deles ratificava os pensamentos

de Mauclair, com relação ao texto: “lutar, criar a partir das correntes de ideias, de

controvérsias, rebelar-se contra a inércia dos espíritos que tendem a ser um

pouquinho delicados, fazer uso da nossa juventude não mais para desculpar

experiências, mas para viver violenta e apaixonadamente por meio de nossas

obras.” (POE apud CARLSON, 1997: 284) O segundo dos objetivos – tendo

presente que Poe deplorava as ideias de Zola –, bastante influenciado por Appia,

preconizava, a criação de um teatro protagonizado por figuras-sombras, maiores

do que o modelo humano, assemelhadas a marionetes em espetáculos

pantomímicos e macabros, próximos às imagéticas criadas pelos contos de fadas.

Apesar das tentativas, Lugné-Poe não conseguiu realizar seus intentos,

mas acabou por montar espetáculos de Ibsen. Segundo algumas fontes, dentre

as quais a já citada obra de Marvin Carlson, por intermédio das montagens de

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Lugné-Poe, Ibsen acaba por entrar na moda. Além disso, o diretor montou

também Gorki e novos autores. Dentre esses novos autores, podem ser citados: a

dramaturgia nacionalista de Gabriele D’Annunzio (1868-1938); a dramaturgia do

desespero, de apologia ao horror, carregada de alegorias fantásticas e abstratas

de Leonid Andreiev (1871-1919); a dramaturgia de sugestões e de atmosfera e de

imaginação intensa de Maurice Maeterlinck. O autor, em seus “cuidados e zelos"

característicos sugeria a substituição do ator por figuras de cera esculpidas,

marionetes ou sombras. Recomendava, ainda, o uso de máscaras para substituir

o rosto do ator vivo. Estas e outras ideias do dramaturgo foram apresentadas no

ensaio: Le tragique cotidien, em que, mais especificamente, no capítulo Le trésor

des humbles (Tesouro dos humildes) defende a criação de um tipo de drama

estático de ação e reflexão internas. Conclui o autor, que a vida interna do ser só

poderia ser apresentada por meio de palavras e não de ações. Além desses

autores, considerados mais significativos (por parte da crítica), foram montados,

também, textos de William Butler Yeats, Oscar Wilde, Villiers de L’Isle Adam etc.

Para se ter idéia do processo de experimentação e de “movimento

desarmônico da produção artística” francesa do período, basta que se diga que,

em 1897, é levada à cena a obra atípica (posto que fora de todas as tendências e

padrões do momento histórico) de Edmond de Rostand (1868-1918): escrita em

verso e apresentando como protagonista, um mosqueteiro – soldado e poeta

galante que viveu na França do século XVII – chamado, Cyrano de Bergerac. A

obra estreia no Théâtre de la Porte Saint-Martin, em Paris, e acaba por se

transformar em um dos maiores sucessos teatrais franceses de todos os tempos.

Vale destacar, ainda, que esse é um período em que, de modo relativamente

harmonioso, convivem, por exemplo:

- o Impressionismo em pintura, cujo nome foi dado em decorrência da obra

homônima de Claude Monet – exposto em 1874 – “Impression au soleil levant”;

- novas concepções em dança criadas por Isadora Duncan, que criava a chamada

“dança livre”;

- as esculturas de Rodin, que esculpia suas amantes no branco do mármore;

- período de Proust, Baudelaire, Rilke que escreviam, “esgrimindo” palavras, a

memória, as imagens dos sonhos e dos pesadelos;

- as novas proposições cenográficas que questionavam e, contraditoriamente,

apostavam na ideia de um “teatro total”;

- a (futura) dança de Nijinski, que incorporaria Mallarmé e Debussy...

Trata-se, enfim, de um período extremamente rico, sobretudo, no que

concerne à experimentação e à quebra do conceito-prática de um movimento

único, mobilizando todos os artistas.

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Um dos companheiros de viagem de Lugné-Poe, em suas experimentações, foi

um dos mestres da chamada antiliteratura – considerado precursor do teatro

surrealista e, também, do absurdo – Alfred Jarry (1873-1907). Jarry foi um dos

críticos mais contundentes do Naturalismo – para quem esse movimento não

passava de um empobrecido-empobrecedor simulacro – tendo sua obra mais

importante estreada no Théâtre de l’Oeuvre, Ubu rei, em 10/12/1896. Esta obra

apresenta uma crítica impiedosa ao burguês, que é apresentado como um

selvagem, idiota e poltrão. A partir da criação da personagem Ubu, Jarry – com

atitudes que buscavam sempre chocar e provocar o gosto mais conformado da

burguesia – acaba criando o conceito de patafísica: que corresponderia a uma

“ciência – bem humorada e repleta de non-sense – das soluções anárquicas e

imaginativas”. Oposta, portanto, ao Naturalismo, Ubu rei, segundo o autor,

contrapunha-se ao hipócrita e construído comportamento burguês. Além de Ubu

rei, o autor escreveu: César anticristo, 1895; Ubu acorrentado, 1900; Ubu

cornudo, 1901 (numa clara e paródica alusão à trilogia de Prometeu; ou:

Prometeu porta fogo, Prometeu acorrentado e Prometeu libertado e da qual só se

conhece a segunda delas); o romance Supermacho (paródia do conceito de

super-homem de Nietzsche), 1902; crônicas burlescas Gestos e opiniões do Dr.

Faustroll, patafísico (paródia do mito de Fausto) 1898, publicadas até 1911 etc.

Além desta intensa produção (o autor morreu jovem), Jarry foi, também, um dos

colaboradores do Mercure de France.

Apesar de a experiência ter sido relativamente curta, Lugné-Poe – sem

espaço fixo, montou de 1893 a 1914 mais de duzentas obras (trata-se de um

número absolutamente significativo), muitas delas para serem apresentadas em

numerosas viagens feitas pelo grupo –, construiu muitas de suas encenações

fundamentadas nas teses apresentadas por Appia. Por intermédio de suas obras,

Lugné-Poe conseguiu, por intermédio de seus espetáculos, impressionar e

influenciar inúmeros encenadores contemporâneos, dentre eles, especialmente,

E. Gordon Craig, na Inglaterra e William Butler Yeats, na Irlanda. Paul Blanchard

(1985) afirma que Lugné-Poe adiantou-se a Max Reinhardt (1873-1943) e Firmin

Gémier (1869-1933) montando em um circo Medida por medida, de Shakespeare,

em 1898. Quando da montagem de Solness, o construtor de Ibsen, com cenários

criados por Edouard Vuillard (1868-1940) teria provocado grandes protestos do

público pela utilização de um trampolim de plano inclinado sobre cavaletes.

Precursores da encenação moderna

Um aforismo dos mais perigosos induziu-nos e continua a induzir-nos em erro.

Homens dignos de fé afirmaram-nos que a arte dramática era a reunião

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harmoniosa de todas as artes; e que, se ainda não foi possível conseguir-se,

deveria tender para a criação, no futuro, da obra de arte integral. Chamaram,

até, provisoriamente a esta arte: a obra de arte do futuro.

Adolphe APPIA. A obra de arte viva.

Adolphe Appia(1862-1928)Algumas das características básicas para existência e desenvolvimento do

espetáculo simbolista muito deverá e/ou será viabilizada por meio de uma

publicação apresentando, com detalhes, as teorias de Adolphe APPIA. Trata-se

de La mise en scène du drame wagnérien (A encenação do drama

wagneriano,1895) – que foi traduzida em 1899 para o alemão chamando-se Die

musik und die insceniering – nesta obra o autor defende a tese de que cada

drama determinaria seu próprio cenário e que ele deveria brotar da própria obra e

não da convenção ou da realidade externa. Além disso, Appia (que tinha, então,

profunda admiração por Richard Wagner), afirma que o cenário ideal de uma obra

seria aquele CONDICIONADO pela música. Segundo Appia, depois do ator, a

música seria o elemento mais importante da encenação, tendo a sua “pintura”

definida pela iluminação, concebida como o elemento mediador do espetáculo.

Nesta perspectiva, ambas, a música e a iluminação, deveriam destacar o ator (a

base do teatro) – que a despeito de sua importância capital, também –, faria parte

da Partitur (Partitura) colocado em um espaço neutro, tridimensional e capaz de

“agigantá-lo” e destacá-lo no cenário.

A ênfase à música, dada por Appia, parece ter como matriz o pensamento

de Arthur Schopenhauer (1788-1860), segundo o qual: “A música em e por si

mesma nunca expressa os fenômenos, mas apenas a essência íntima do

fenômeno” e, também, em Friedrich Schiller (1723-1796), para quem: “(...) quando

a música alcança seu poder mais nobre, converte-se em forma”. (SCHILLER

apud CARLSON, 1997: 287)

Nessa perspectiva, o aprofundamento de suas teorias, esboçadas na obra

supracitada, foram aprofundadas através de A obra de arte viva, publicada em

1921, em que esse chamado renovador da cena moderna aprofunda muitas de

suas teses com relação ao trabalho de encenação. A partir desta publicação,

Appia apresentou, também, uma série de esboços e desenhos de concepções

para a montagem de espetáculos – em que as figuras geométricas dominam o

cenário – centrando-se fundamentalmente na questão da tridimensionalidade.

Nesse sentido, o ator que continuaria a ser o elemento mais importante do teatro

deveria ser percebido a partir de um novo enquadramento, considerando-se que

ele tinha volume e possuir tridimensionalidade. Dessa forma, em A obra de arte

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viva Appia estabeleceu uma série de reflexões tentando demonstrar esse

propósito ou essa nova tese.

O primeiro aspecto a ser destacado por Appia dizia respeito, portanto, ao

corpo do ator, assim afirma o autor:O corpo, vivo e móvel, do ator é o representante do movimento no espaço. O

seu papel, portanto, é capital. Sem texto (com ou sem música) a arte

dramática deixa de existir; o ator é o portador do texto; sem movimento, as

outras artes não podem tomar parte na ação. Numa das mãos, o ator

apodera-se do texto; na outra, detém, como um feixe, as artes do espaço;

depois reúne, irresistivelmente as duas mãos e cria, pelo movimento, a obra

de arte integral. O corpo vivo é, assim, o criador dessa arte e detém o segredo

das relações hierárquicas que unem os diversos fatores, pois é ele que está à

cabeça. É do corpo, plástico e vivo, que devemos partir para voltar a cada

uma das nossas artes e determinar o seu lugar na arte dramática.

O corpo não é apenas móvel: é plástico também. Essa plasticidade coloca-o

em relação direta com a arquitetura e aproxima-o da forma escultural, sem

poder, no entanto, identificar-se com ela, porque é móvel. (...) Diante de um

raio de luz, de uma sombra, pintados, o corpo plástico conserva-se na sua

própria atmosfera, nas suas próprias luz e sombra. (APPIA, s/d: 31-2 )

(...) o corpo humano vivo se desfaz do acidente da personalidade e torna-se

puramente um instrumento para a expressão. (CARLSON, 1997: 287)

Cenário desenhado em 1892 por Appia para A Valkíria. À direita pode-se perceber a importância da luz, os planos e os volumes.

A partir do princípio da plasticidade do ator, Appia repensou o espaço arquitetural

de encenação destacando a importância da luz (elétrica “inventada” e incorporada

ao teatro em 1898), afirmando que por intermédio da luz o espetáculo ganharia

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em “tangibilidade”, em consonância à pintura, à arquitetura e à escultura. Dessa

forma, o teatro repousaria no ator e no movimento da luz.

Aprofundando as questões a esse respeito, Appia afirmava que a essência do

drama seria, pois, o movimento e o ritmo:

Todas três – pintura, escultura, arquitetura – são imóveis, escapam ao tempo.

A pintura, não sendo plástica, escapa, além disso, ao espaço e, através dele,

à luz efetiva. Os seus grandes sacrifícios são compostos pelo poder de evocar

o espaço numa ficção de escolha; e a sua técnica autoriza-a a um número

quase ilimitado de objetos que ela tem meio de fixar sugerindo contexto do

instante escolhido. A sua participação na ideia de duração é, de qualquer

maneira, simbólica. – A escultura é plástica, vive no espaço e participa, assim,

da luz viva. Como a pintura, pode evocar o contexto dos movimentos da sua

escolha, que ela imobiliza; e, não apenas num símbolo fictício, mas uma

realidade material. A arquitetura é a arte de criar espaços determinados e

circunscritos, destinados à presença e às evoluções do corpo vivo. Exprime

este fato, tanto em altura como em profundidade e, por uma sobreposição de

elementos sólidos cujo peso assegura a solidez. É uma arte realista; (...) A

arquitetura contém o espaço por definição e o tempo na sua aplicação.

(APPIA, s/d: 44-5)

Dessa forma, ao propor uma realidade específica, a cena não deveria

reproduzir a natureza, posto que o teatro deveria reduzir-se à pura harmonia de

cores, sons e volumes, que por meio do da intervenção imaginativa do encenador

concorreriam para formação do espetáculo.

Como lembra e ratifica Léon Moussinac (s/d) a tese que daria sustentação a

esta nova proposição e que será adotada pelos simbolistas, fundamenta-se no

conceito segundo o qual o corpo humano já havia abandonado a preocupação de

ser reflexo da realidade, posto que ele se caracterizaria em sua própria realidade.

Nessa perspectiva, também a luz deveria corresponder e levar a efeito esta nova

realidade.

Da obra capital de Appia, há um conceito fundamental que orientará muito

dos encenadores e seus pósteros que afirma o seguinte:

A arte dramática dirige-se, como as artes representativas, aos nossos olhos,

aos nossos ouvidos, ao nosso entendimento – em suma, à nossa presença

integral. Por que reduzir a nada – e antecipadamente – qualquer esforço de

síntese? Saberão os nossos artistas informar-nos?

O poeta, de caneta na mão, fixa o seu sonho no papel. Fixa o ritmo, a

sonoridade e as dimensões. Dá a ler, a declamar, o que escreveu; e, de novo,

fixa-se no aspecto do leitor, na boca do declamador. – O pintor, com os pincéis

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na mão, fixa a sua visão tal como a quer interpretar; e a tela ou a parede

determinam as dimensões; as cores mobilizam as linhas, as vibrações, as

luzes e as sombras. – O escultor para, na sua visão interior, as formas e os

seus movimentos, no momento exato em que o deseja; depois, imobiliza-as

no barro, na pedra ou no bronze. – O arquiteto fixa, minuciosamente, pelos

seus desenhos, as dimensões, a ordem e as formas múltiplas de sua

construção; depois realiza-as no material conveniente. – O músico fixa nas

páginas da partitura os sons e o seu ritmo; possui o mesmo, em grau

matemático, o poder de determinar a intensidade e, sobretudo, a duração;

enquanto o poeta não poderia fazê-lo senão aproximadamente, pois o leitor

pode ler, a sua vontade, depressa ou devagar. (APPIA, s/d: 29-30)

(Consultar – http://images.google.com/images?q=Adolphe+appia&rls=com.microsoft:pt-

br:IE-SearchBox&oe=UTF-8&sourceid=ie7&rlz=1I7GZHZ_pt-BR&um=1&ie=UTF-

8&ei=rDa4Sc6YA4-EtgfNxfyqCQ&sa=X&oi=image_result_group&resnum=4&ct=title ).

Edward Gordon Craig (1872-1966)

O simbolismo é, na verdade, muito convencional; é saudável, é metódico e está universalmente espalhado. Não tem nada de teatral, se por isso se entende qualquer coisa de ostensivo, e, no entanto, é a própria essência do Teatro se desejamos fazer figurar a Arte do Teatro em seu lugar, entre as Belas-Artes. (...) Alguns têm medo do simbolismo (...) essas pessoas coram e pretendem que não gostam mesmo nada do simbolismo porque ele tem qualquer coisa de mórbido e de desprezível em si. (...) Porque não apenas o simbolismo é a origem de qualquer arte, mas é também a própria fonte de toda a vida; só com a ajuda de símbolos a vida nos é possível e não deixamos de recorrer a eles.

Gordon CRAIG. Da arte do teatro.

Habitue-se a desenhar as maquetes em pequeno e em grande e a copiá-las, fielmente, para o cenário.

Gordon CRAIG. Da arte do teatro.

A contribuição de Gordon Craig para a chamada encenação moderna

desenvolveu-se, inicialmente, na Inglaterra – amparadas em muitas das teses e

teorias de Richard Wagner e de Adolph Appia – espalhando-se para todo o

mundo. Craig iniciou sua carreira no teatro como ator da companhia de Henry

Irving. Posteriormente, dedicou-se à criação de cenários e, também, à uma nova

estética teatral, formulando conceitos ligados ao teatro simbolista. Em suas

proposições fundamentou-se na ideia, bastante recorrente naquele momento de

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“teatralidade pura”. Como não poderia deixar de ser, tais proposições

fundamentavam-se em uma oposição às tendências hegemônicas em voga no

teatro, principalmente aquelas ligadas ao teatro naturalista.

Desenho criado por Craig para a montagem de Hamlet pelo Teatro de Arte de Moscou, 1911-12.

Em 1905, Craig tem publicado seu livro A arte do teatro (On the art of the

theatre) apresentado na forma de um diálogo entre um diretor e um espectador.

Reunindo uma série de textos escritos em diferentes momentos e em diferentes

contextos, muitos dos quais já haviam sido publicados em jornais e em revistas

especializadas. Em A arte do teatro, Craig, assim como Appia já o fizera

anteriormente, atribui grande importância à iluminação e à cor. Nessa obra, dentre

outros aspectos, Craig afirmava que o teatro caracteriza-se em:

- linhas e cores: que ele chamaria de cenário e cenografia;

- em palavras: que ele considerava o corpo da peça;

- em gesto: que ele considerava a alma da interpretação; e,

- em ritmo: que ele considerava a essência da dança.

A partir de tais preceitos, amparado no conceito wagneriano de “teatro como

obra de arte total” (gesamtkunstwerk), segundo os quais “ações, palavras, linhas,

cor e ritmo” deveriam criar uma fusão, Craig, ao rejeitar o Realismo em conteúdo

e forma característicos, afirmava ser necessário adotar exclusivamente o estilo. [*]

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ESTILOApesar de ser referido a outro encenador (Meyerhold) – mas com preocupações bastante

semelhantes àquelas de Craig – Elia Kazan teria afirmado: “(...) entendo por estilização não

a reconstituição exata do estilo de uma época ou de um acontecimento (...) mas associo-lhe

a ideia da convenção, de generalização, do símbolo. Estilizar significa exteriorizar a síntese

interior de uma época ou de um acontecimento, com auxílio de todos os meios de

expressão, reproduzir os seus caracteres ocultos”. (REDONDO Júnior, s/d: 36-7). Patrice

PAVIS (1999: 147), dentre outras coisas, afirma no verbete estilização que se trata de um:

Procedimento que consiste em representar a realidade sob uma forma simplificada, reduzida

ao essencial de seus caracteres, sem detalhes demais.

A estilização, como a abstração, designa um certo número de traços estruturas gerais que

põem em evidência um esquema diretor, uma apreensão em profundidade dos fenômenos.

(...)

A estrutura dramática e cênica apela à estilização a partir do momento em que renuncia a

reproduzir mimeticamente uma totalidade ou uma realidade complexa. Toda representação,

mesmo que naturalista ou verista, baseia-se numa simplificação do objeto representando e

numa série de convenções para significar o objeto representado. (...)

O ator substitui o ato real por um ato significante que não se dá por real, mas é assinalado

como tal, em virtude de uma convenção. Paradoxalmente, é muitas vezes na medida em que

é estilizado que o ato passa a ser teatralmente válido e verossimilhante. Assim, não é

constrangedor ver os atores fazerem uma refeição em travessas e pratos vazios. A

estilização ajuda mesmo ao fascínio do jogo teatral, na medida em que devemos superpor

ao ato cênico um ato real, no interior da ficção.

Na medida em que a essência do dramático residiria na ação, caberia ao

encenador (concebido como uma espécie de demiurgo: ator, pintor de cenário e

de fatos, dramaturgo, músico...) o papel de criador único do espetáculo. Para

complementar, insiste Craig, de modo salutarmente radical, que a função do

encenador seria:

Ao receber o original das mãos do autor, o encenador compromete-se a

interpretar fielmente, segundo o texto. Depois, lê a obra e, logo da primeira

leitura, deve surgir, nitidamente, no seu espírito, a cor, a tonalidade, o

movimento e o ritmo que deverão caracterizar o seu trabalho. Quanto às

indicações cênicas feitas pelo autor, não deve, de maneira alguma, prender-se

com isso, porque não serão de qualquer utilidade. O essencial é que a

encenação se harmonize com os versos ou a prosa do texto, com a sua

beleza, com o seu espírito. Qualquer que seja o quadro que o autor pretenda

pôr-nos diante dos olhos, só conseguirá elucidar-nos completamente através

dos diálogos e não das rubricas. (REDONDO Jr., s/d: 87)

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Há que se fazer uma distinção entre o texto escrito e a obra representada.

Quando um texto é completo por si mesmo – como as peças de Shakespeare,

por exemplo –, a interpretação teatral nada lhe pode acrescentar e o teatro do

futuro deve afastar-se dessa literatura e buscar textos que só sejam completos

quando representados. O novo teatro, portanto, se baseará não só na arte do

dramaturgo, mas na do diretor de cena, que controlará, ainda que não o crie

especificamente, cada elemento de produção. (CARLSON, 1997: 296-7)

Em todas as suas encenações, Craig propõe uma cena de planos

horizontais e verticais, praticáveis geométricos, escadas (à semelhança do

conceito de volumes de Appia), sendo que o ator em seus espetáculos seria um

“elemento móvel” do décor. Ao defender o princípio de que o palco seria um

“trampolim do movimento” e não uma casa de tolerância, esse novo ator, segundo

Craig, deveria ater-se aos seguintes pontos: ao representar, o ator deveria fazê-lo

de modo a dominar a emoção (e não o contrário); lembrar-se que estilo e símbolo

eram típicos da arte; necessidade de o ator ter consciência de que seria preciso

conhecer a profissão antes de subir ao palco: sendo que essa aprendizagem

deveria durar seis anos e que esse aprendizado não poderia dar-se em público;

de que seria vital fugir ao vício dos atores de tradição que expunham as

explosões de sua intimidade diante das pessoas; lembrar-se que em interpretação

não se deveria reiventar a roda, posto que seria possível aprender a partir da

experiência de outros atores; rejeitar o conselho e experiência dos atores mais

velhos quando estes concebiam a cena de maneira a colonizá-la; aprender a ser

mais visual do que sonoro, por meio de um determinado estilo (que rejeitasse a

interpretação naturalista que era mais sonora). A esse respeito cf. de Gordon

CRAIG. Da arte do teatro. (s/d: 10), a partir do relato de Etienne Decroux.

Tal proposição ao supervalorizar o movimento, a dança e a mímica

preconizaria uma nova forma de interpretação e de ator, que deveria rejeitar a

interpretação naturalista e buscar um certo estilismo que levou-o, por fim, a

conceber o ator ideal. Esse ator ideal, em oposição àquele preso à interpretação

naturalista, que se caracterizava em elemento perturbador numa peça, Craig

nomeia de SUPERMARIONETE (SURMARIONETTE, ÜBERMARIONETTE). De

modo mais didático, a supermarionete caracterizava-se em uma interpretação

anti-realista, simbólica, anti-emocional em oposição à naturalista, representando,

portanto, uma emoção sem comover ou uma EXPRESSÃO SIMBÓLICA.

Contemporâneo de Craig, o crítico inglês Arthur Symons (1865-1945),

defende a tese, estendendo a metáfora do conceito de supermarionete, em Plays,

acting and music (cit. por Marvin CARLSON, 1997: 295 e ss.), afirmando que os

atores seriam viciados em ação física e que existiam três tipos de atores:

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(...) os de tipo Réjane, que buscam a realidade e parecem retratar as pessoas

reais em situações reais; os do tipo de Bernhardt e Irving, que se afastam da

natureza com soberba habilidade e técnica; e os do tipo Duse, que não

“atuam” em absoluto, mas simplesmente refletem o caráter essencial ou a

alma do drama. Estes últimos, naturalmente, funcionam para o texto como

marionetes ideais e são para Symons os maiores artistas. Duse “pensa no

palco”; “(...) cria a partir da própria vida uma arte que ninguém antes havia

jamais imaginado: não o realismo, não uma cópia, mas a própria coisa, a

evocação de uma vida ponderada. (...) quando uma peça toca as profundezas

da condição humana a arte de Duse é muito mais profunda do que qualquer

coisa que a brilhante superfície técnica de Bernhardt pode realizar. (...) O ator,

tal como o conhecemos, ligado à natureza, deve desaparecer; em seu lugar

deve vir a “figura inanimada – o Über-marionette”, figura da visão simbolista

que “não competirá com a vida”, mas “ir além dela”, ao transe e à visão. (...)

um ator humano, se for despojado do acidental, poderia cumprir esse papel.

(...) Só a máscara, assevera Craig em The Artists of the Theatre of the Future

(Os artistas do teatro do futuro, de 1911), pode efetivamente representar “as

emoções da alma”, os estados de espírito essenciais da humanidade.

Ainda no concernente a esse assunto e na mesma fonte bibliográfica,

encontram-se as seguintes informações:

Estabeleceu-se a discussão entre os Diretores dos teatros e as pessoas que

protestam. Tudo leva a crer que a verdade depressa surgirá. Suprima-se a

árvore autêntica que se colocou em cena, suprima-se o tom natural, o gesto

natural e chegar-se-á igualmente a suprimir o ator. É o que acontecerá um dia

e gosto de ver certos Diretores de teatros encarar desde já essa ideia.

Suprima-se o ator e arrebatareis a um grosseiro realismo os meios da cena

florescer. Não haverá mais personagem viva para confundir no nosso espírito

a arte e a realidade; personagem viva em que as fraquezas e frenitos da carne

sejam visíveis.

O ator desaparecerá e em seu lugar veremos uma personagem inanimada

que usará, se quereis, o nome de “Sur-marionettes” – até que tenha

conquistado um nome mais glorioso.

Já muito se escreveu sobre a “marionette” em bastantes boas obras. Inspirou,

até, várias obras de Arte.

Nos nossos dias, a “marionette” atravessa uma era de desgraça – muita gente

a considera uma espécie de ordem superior, derivado do boneco. Mas é um

erro. A “marionette” é a descendente dos antigos ídolos de pedra dos templos,

é a imagem degenerada de um Deus. Amiga da infância, ainda sabe escolher

e atrair os seus discípulos. Que um de vós desenhe uma “marionette” e fará

dela uma figurinha gelada e grotesca. É que se toma por uma placidez imbecil

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e uma angulosa deformidade o que é a gravidade da máscara e a imobilidade

do corpo. Porque mesmo as nossa “marionettes” modernas são seres

extraordinários. Quer que os aplausos estourem em trovoada ou se percam

isolados, a “marionette” não se comove; os seus gestos não se precipitam

nem se confundem; que se cubra de flores e de louvores, a heroína conserva

um rosto impassível. (...) ela é para mim o último vestígio da arte nobre e bela

de uma civilização passada. Mas como a arte se avilta entre mãos grosseiras,

assim as “marionettes” já não são mais do que grotescos, vulgares e histriões.

(...) O seu corpo rígido perdeu a graça hierática de outrora. (...) precisamos de

criar uma “Sur-marionette”. Esta não rivalizará com a vida, mas irá além dela;

não figurará o corpo de carne e osso, mas o corpo em estado de êxtase, e

enquanto emanar dela um espírito vivo, revestir-se-á de uma beleza de morte.

(...)

Que esse símbolo regresse e tão depressa apareça conquiste tantos corações

que vejamos renascer a antiga alegria das cerimônias, da celebração da

Criação, do hino à vida, da divina e feliz invocação da Morte. (CARLSON,

1997: 109-120)

Segundo a crítica historiográfica foram relativamente poucas as

encenações de Gordon Craig, todas elas acabaram por propor um certo furor e as

mais acaloradas discussões entre os artistas (e não exclusivamente entre aqueles

do teatro). Quando de sua estada no Teatro de Arte de Moscou, ao dirigir Hamlet,

a utilização de seus famosos biombos no espetáculo e mesmo a própria

encenação teria levado muitas pessoas ao êxtase. Dessa forma, Craig acabou

por influenciar muitos dos encenadores modernos que seguramente ficaram

atentos e levaram à prática muitas das sugestões do encenador

(fundamentalmente aquelas sugeridas, mas não experimentadas por ele). Assim,

dentre os mais influenciados podem ser citados: Leopold Jessner (1878-1945),

Alexander Yakovlevich Taïrov (1885-1950), V. Meyerhold, Yevgeny

Bagrationovich Vaktanghov (1883-1922), Max Reinhardt (1873-1843), Jean-

Jacques Copeau (1879-1949), Gaston Baty (1885-1952), Jean-Louis Barrault

(1910-1994) etc.

Vsevolod Emilievitch Meyerhold (1874-1940/2?)

(...) criador de formas e um poeta da cena (...) escrevia com gestos, com

ritmos, com toda uma linguagem teatral que inventou para as necessidades da

sua causa e que fala tanto aos olhos como o texto se dirige aos ouvidos.

C. DULLIN. Apud REDONDO Jr. Panorama do teatro moderno.

O ensino da biomecânica deve fornecer ao autor a plástica biológica perdida.

O ator deve estar fisicamente preparado – isto é – ser sensível a tudo e em

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todos os momentos dar-se conta do centro do seu próprio apoio: o seu

equilíbrio corporal. Sendo a arte do ator uma “criação de formas plásticas no

espaço” deve aprender e aperfeiçoar a “mecânica do seu corpo”.

V. MEYERHOLD. A experiência do Teatro Estúdio.

O simbolismo (...) desempenhou papel muito mais importante na Rússia, tanto

diretamente quanto como estímulo para uma posterior teoria anti-realista do

teatro. As traduções e estudos de escritores como Baudelaire, Mallarmé,

Wilde e Nietzsche, durante a década de 1890, prepararam o caminho. Nas

páginas do Mundo da arte, revista publicada em São Petersburgo de 1898 a

1904, Serge Diaghilev (1872-1929) e Alexander Benois (1870-1960)

contestaram o pressuposto crítico geral de que a arte deve ter um fim utilitário;

eles preconizavam a “expressão pura” em linha, massa e cor; a obra de arte

total à maneira de Wagner; e o exemplo evocativo, não referencial da música

como modelo de toda arte à maneira de Mallarmé.

Na Rússia, como em toda parte, os simbolistas, mesmo os que viam o drama

como a mais elevada das artes, quase sem exceção voltaram a maior parte de

sua atenção criativa e crítica para a poesia lírica. No entanto, eles produziram

grande quantidade de peças notáveis e um corpo de teoria que exerceu

grande influência sobre a brilhante geração de diretores teatrais que

despontou no início do novo século.

Marvin CARLSON. Teorias do teatro.

Meyerhold foi chamado por muitos de seus contemporâneos como o profeta

da teatralidade. O diretor entendia e insistia que o espetáculo teatral (universal e

festivo “intoxicaria o espectador com a taça dionisíaca do eterno sacrifício”)

caracterizava-se numa espécie de performance em que o público – um quarto

criador, junto com o autor, diretor, ator – não deveria esquecer-se que se

encontrava em um teatro. Esse quarto criador era chamado e instigado a

participar emocionalmente do espetáculo. Para Meyerhold, a aludida participação

emocional do espectador pressuporia o trabalho com a imaginação criativa, com o

objetivo de que ele pudesse preencher todos os detalhes que estivessem sendo

SUGERIDOS no palco.

Suas encenações transfiguravam-se em conjuntos de imagens dinâmicas a

partir das quais os atores exprimiam-se mais pelos gestos, pelas suas atitudes

(algo semelhante àquilo que Brecht, posteriormente, chamará de gestus) e pelo

movimento, como estátuas animadas (alusão às supermarionetes de Craig), do

que pelas palavras. Tal propósito esbarraria nos propósitos de seu antigo mestre

Stanislavski cujos espetáculos, elaborados a partir de um rigoroso naturalismo,

propunham o esquecimento do contexto e a entrega catártica ao espetáculo.

Segundo CARLSON (1997: 305):

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O poeta e teórico Valery Bryusov (1873-1924) é considerado o inaugurador do

movimento contra o naturalismo no teatro russo; seu artigo A verdade

desnecessária, publicada no Mundo da arte em 1902, constitui a maior

declaração dessa revista sobre o teatro e uma espécie de manifesto do novo

movimento. (...) Em A verdade desnecessária ele exortou o teatro a afastar-se

do tipo de reprodução da realidade oferecida por Stanislavski em favor de uma

estilização consciente. Em vez de atravancar-se com os detalhes da vida

diária, o teatro deve proporcionar apenas “o que é necessário para ajudar o

cenário requerido pelo enredo da peça”. (...) A ideia de Bryusov frutificou no

teatro quando Vsevolod Meyerhold (...), insatisfeito com a ênfase dada por

Stanislavski ao realismo psicológico no Teatro de Arte de Moscou, estabeleceu

sua própria companhia na Ucrânia.

Dados para uma cronologia:2

←1898-1902 – período em que Meyerhold trabalhou como ator do Teatro de Arte

de Moscou, destacando-se como ator em muitas das personagens criadas;

←1904-05 – depois de significativo período de estudos estéticos e de uma viagem

à Itália, retorna à Rússia tentando desenvolver um conceito abstrato em arte que

ele chama de ‘convencionalismo’ ou ‘condicionalismo’ (sofrendo influência das

propostas encetadas por alguns encenadores modernos);

←1905 – dedica-se à concepção e criação de um ‘teatro místico’ que

corresponderia ao simbolismo maeterlinckiano encenando do autor A morte de

Tintagiles.

←1906 – desenvolve um conceito de música aplicada à forma dramática, pela

introdução do ritmo bailado ao movimento do ator. Elimina do teatro o pano de

boca e o proscênio, buscando aproximar o espectador do espetáculo. Associa-se

à famosa atriz e encenadora Vera Feodorovna Komisarjevskaya (1864-1910) para

a montagem de espetáculo cujo propósito era sua “desmaterialização”, buscando,

assim, exprimir o “mistério” da peça (mistério utilizado no sentido da

“decodificação” de símbolos, a partir dos quais o espetáculo se estruturasse,

influenciado pelas ideias e proposições básicas do Simbolismo). Nessa

montagem de Irmã Beatriz, dentre outras coisas, o ator representava como uma

escultura projetada num fundo decorativo;

←1907 – Meyerhold vai para Berlim com Vera Feodorovna conhecer e estudar o

trabalho realizado por Max Reinhardt. Retornando à Rússia, Meyerhold monta de

2 De boas biografias sobre Meyerhold talvez a mais completa seja a

publicada em V.MEYERHOLD. Teoría teatral. Madri: Editorial

Fundamentos, 1982, p.11-23.

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F. Wedekind O despertar da primavera,3 usando vários praticáveis em planos

diferentes ;

←1908-10 – aprofunda suas experiências teatralistas, iluminando inclusive a

plateia (que tenderia a ampliar a percepção do espectador); utiliza telas no lugar

de cenários; insistindo na utilização e estilização das formas esculturais, com a

revalorização do corpo. Período de aproximação do teatro japonês e grego. Em

1909 assina encenação renovadora de Tristão e Isolda, de Wagner;

←1912-13 – dirige em Paris peça de D’Annunzio e organiza um estúdio para o

ensino da técnica da commedia dell’arte. Nesse período Meyerhold defende a

tese de que o teatro deveria sempre procurar seus efeitos mais profundos e

constitutivos, como a marionete, a pantomima, a magia (prestidigitação), a

máscara e a ação improvisada. Assim:Com esses meios o drama pode sugerir as “vastas e insondáveis

profundezas” que se encontram por baixo da realidade visível. Particularmente

útil é o grotesco – conceito que Meyerhold usa, de um modo que lembra

Hugo, para defender uma dialética de opostos, a farsa contra a tragédia e a

forma contra o conteúdo, de modo a forçar o espectador, mediante reações

ambivalentes, a ter uma visão mais profunda da realidade e a tentar “decifrar o

enigma do inescrutável”.4

←1914-17 – rompe definitivamente com o psicologismo (que tendia a ‘aprisionar’

o espectador, encenadores e cenógrafos) e com o simbolismo ao utilizar-se do

conceito de construção ao invés de decoração, para a montagem de O

desconhecido de Alexandre Blok. Durante este período mantém o Teatro Estúdio.

Em 1914 encena em Petrogrado Mistério Bufo, de Maiakovsky. Inicia, de modo

mais sistemático, um processo de experimentação de teatralidade tomando o

popular, o music-hall e o circo como bases essenciais, utilizando malabaristas,

choques físicos inusitados entre atores, recursos cenográficos mais

esquemáticos. A partir desse momento, pode-se dizer que seu teatro começa a se

politizar, fundamentalmente por ele ser partidário dos bolcheviques;

3 Frank Wedekind (1864-1918) situa-se entre o Realismo e o Simbolismo, sendo considerado, também, como um dos precursores do teatro Expressionista. Seus textos são repletos de estranheza, violência e carregados por um tom apaixonado, traçando um perfil da burguesia do período. O texto O Despertar da primavera, de 1891, segundo a documentação historiográfica, causou mais escândalos e polêmicas que os de Ibsen e Hauptmann. Além do já citado, seus outros textos importantes são: O espírito da terra (1895), Caixa de Pandora (1904) e A dança dos Mortos (1906).4 M. CARLSON. Op.cit., p.313. Pela utilização dos recursos supracitados, então, pode-se dizer que Meyerhold será um dos precursores do chamado teatro épico que será desenvolvido em período posterior, na Alemanha, por Erwin Piscator e Bertolt Brecht.

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1918-19 – período difícil da Revolução, Meyerhold sai de Moscou e vai para

a Criméia com a mulher e os três filhos, ficando preso durante um longo tempo.

Sendo libertado pelo Exército Vermelho, volta a Moscou e filia-se ao Partido

Comunista, questionando o individualismo, busca expressar em suas encenações

uma nova concepção alicerçando-se no conceito do coletivismo e apontando a

necessidade da industrialização (período de fascinação pela máquina e pela

dinâmica moderna). Dirige, a partir do conceito de construção/construtivismo5

espetáculos ao ar livre, sobretudo textos de Maiakovski: buscando harmonizar

seu gosto esteticista às propostas políticas e cubo-futuristas do poeta.

Aprofundamento das teorias próprias e daquelas herdadas por Appia, valorizando

a tridimensionalidade do ator, concebido em sua dimensão escultural. No sentido

de imprimir um sentido menos abstrato, bastante comum quando se fala em

construtivismo, o próprio Meyerhold afirma que esse movimento, surgido em

1920, através de uma declaração pública de Trabalho dos Construtivistas tinha

por objetivo rechaçar toda a herança cultural idealista do passado e guiar-se por

proposições do materialismo. Apesar de ser um movimento mais afeito à

arquitetura e às artes plásticas, Meyerhold entende que por meio dele muitos dos

problemas referentes à proletarização da arte poderiam ser resolvidos. Dessa

forma, foram alguns dos pontos do programa do construtivismo que o levaram a

formular a teoria da ‘biomecânica’.

←1920 – nomeado chefe do Departamento Teatral do Comissariado de Instrução;

fundação do Teatro da República dos Sovietes (em 1923 muda de nome para

Teatro Meyerhold). A partir desse ano, Meyerhold entrega-se ao estudo e

experimentação do sistema de treinamento dos atores, por ele denominado de

‘biomecânica’: segundo o qual o ator passa a ser concebido como atleta,

malabarista, dançarino, ‘máquina animada’. Esse sistema (fundamentado no

estudo e prática de várias modalidades esportivas, técnicas de circo e da

commedia dell’arte) pressupunha que o ator teria a função de desenhar com seu

corpo o espaço com movimentos e gestos acrobáticos e cujo resultado fosse

estilizado (anti-naturalista). Aprofunda algumas experimentações anteriores

através da utilização de construções verticais, utilização de molduras escalonadas

por diferentes planos e compartimentos agrupados: para representação de cenas

simultâneas e alternadas. Começa, também, a utilizar-se de filmes

cinematográficos como elemento descritivo. Data deste período, também, o

5 No sentido de imprimir um sentido menos abstrato, bastante comum quando se fala em construtivismo, o próprio Meyerhold afirma que esse movimento, surgido em 1920, por meio de uma declaração pública de Trabalho dos Construtivistas tinha por objetivo rechaçar toda a herança cultural idealista do passado e guiar-se por proposições do materialismo.

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processo de proletarização da cultura por meio, dentre outros aspectos, do

Proletkult.

Das grandes encenações de Meyerhold podem ser citadas: Le cocu

magnifique, de Crommelynck, em 1922; O Inspetor Geral, de Gogol, em 1926; O

percevejo, de Maiakovsky, em 1929; Os banhos, de Maiakovsky, em 1930 etc. Do

encenador são também duas obras que discutem e buscam refletir sobre o teatro

O papel do ator, 1922 e A reconstrução do teatro, 1930.

Meyerhold ‘morreu de morte não natural’; isto é, as causas e circunstâncias de

sua morte até hoje não foram esclarecidas. Sabe-se que foi assassinado (talvez

em uma execução) e que seu nome na Rússia foi reabilitado somente depois da

morte de Stalin.

Max (Goldmann) Reinhardt (1873-1943)

Na realidade, deveríamos dispor também de um terceiro teatro. (...) uma cena

enorme, apta para desenvolver nela uma grande Arte de efeitos monumentais.

Um teatro de festivais, que em nada recorde o cotidiano; uma sala consagrada

à luz e ao fervor, construída segundo o espírito grego. (...) Arte monumental de

todos os tempos, construída em forma de anfiteatro, isenta de telões e

bambolinas. E, no centro da mesma, apoiado única e exclusivamente na sua

personalidade e tão somente no vigor da palavra, o ator confundido com o

público convertido em povo, transformado em parte da ação. Sempre me opus

a considerar indispensável o marco que separa o palco do mundo exterior.

Max REINHARDT. Manifesto do Kleine Theater.

Nunca ninguém se sentiu menos ligado do que Reinhardt a fronteiras

nacionais e temporais. (...) Enquanto indivíduo, ele é tão cheio de vida que

tudo só consegue ver, inclusive o mais longínquo e o mais distante no tempo,

como um momento da vida. Ele nada vê numa perspectiva histórica, pois vê

de modo imediato – e tudo com a fantasia do homem de teatro. Uma

personalidade artística estrangeira, numa época estrangeira – tais limites não

existem para ele.

Hugo von HOFMANNSTHAL. Apud BORNHEIM. Brecht: a estética do teatro.

Mágico da luz e da cenografia, Max Reinhardt, ator e diretor alemão de origem

austríaca, influencia por suas inovações cênicas o teatro e o cinema6 dos anos

vinte e trinta, principalmente na Alemanha.

M. COURVIN. Dictionnaire encyclopédique du théâtre.

Apesar de nascido na Áustria desenvolveu totalmente sua carreira como

6 Cf. Lotte H. EISNER. A tela demoníaca: as influências de Max Reinhardt e do expressionismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra/Instituto Goethe, 1985, especialmente pp.39-49.

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ator e encenador na Alemanha. Inicia-se no teatro como ator do Deutsches

Theater de Otto Brahm, sendo consagrado por papéis de personagens idosas

(principalmente em textos de Ibsen e de Hauptmann) e considerado, a partir

desse trabalho, como um dos melhores atores do teatro alemão. Deixa o

Deutsches em 1903 (por discordar dos preceitos naturalistas, tendo em vista que

certos textos que o inquietavam não poderiam ser montados dentro dos

pressupostos do movimento), passando a fazer um estudo em profundidade da

iluminação cênica a partir do cotejo desta às obras pictóricas de vários períodos

da história. Desse estudo, o diretor acabará por aplicar a alguns de seus

espetáculos os mesmos princípios de luz e sombra utilizado em obras pictóricas,

criando, assim, efeitos e atmosferas mágicas e encantatórias a partir do uso da

iluminação teatral. Com a aplicação prática desses estudos de iluminação em

seus espetáculos, muitos acabarão por chamá-lo de “Rembrandt da luz”. Por

conta disso, a escolha pela epígrafe de Courvin, posto ser esta a qualidade mais

ressaltada de suas contribuições – além da monumentalidade de inúmeras de

suas encenações – para o teatro contemporâneo. Ao lado deste estudo, Reinhardt

monta (como foi traduzido o nome do texto no Brasil) Ralé, de Gorki, considerado

como montagem-símbolo de seu novo estilo: grandioso e perseguindo o conceito

de ‘obra de arte total’ à la Richard Wagner.

Em 1901, funda, com um grupo de atores, pintores e autores, um círculo,

fundamentado no conceito de Cabaré Literário, cuja companhia é batizada e

conhecida por Schall und Rauch (Ruído e Fumo ou Som e Fumaça). Este círculo

apresentou espetáculos (mais próximos ao intimismo) simbolistas, de grande

sucesso, durante dois anos aproximadamente, recebendo reconhecimento público

e da crítica o que o levou, a partir desse período a ser considerado como um dos

mais promissores diretores teatrais da Alemanha. Como o empreendimento foi

bem sucedido, o grupo resolve construir um novo teatro sob a direção de

Reinhardt chamado Kleine Theater (Pequeno Teatro).

Reinhardt, quando da fundação do novo teatro, apresenta um manifesto

cujas intenções eram:

Compreendo que as pessoas estão fartas de encontrar-se continuamente com

a própria miséria, todas as vezes que vão ao teatro e que sintam a nostalgia

das cores mais vivas e de uma vida superior. Isto não significa que pretenda

prescindir das grandes conquistas da Arte teatral naturalista, nem da verdade

e legitimidade que lhe são próprias, aliás nunca logradas. (...) O que pretendo

é continuar essa educação, para empregá-la de maneira diferente, algo que

não se limite à descrição de situações e de ambientes. Posso adaptar esse

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alto grau de veracidade ao essencialismo humano, mediante uma Arte

profundamente anímica e refinada, capaz de oferecer a vida do lado em que

não seja negação pessimista e que, com a sua alegria e cor, resulte

igualmente real. (...) Devo ainda acrescentar: para mim, o Teatro significa mais

do que um mero auxiliar de outras artes. Creio que o Teatro tem uma única

razão de ser: o Teatro. E também creio que deve existir um teatro que seja

propriedade exclusiva do ator teatral. (...) O Teatro dá ao ator o direito de não

se subordinar unicamente a uma doutrina literária determinada e a liberdade

de agir em todos os sentidos e dar rédea solta ao prazer de atuar e

transformar-se. Conheço as qualidades mímicas e criadoras dos atores e mais

uma vez sinto desejos de salvar para a nossa época, demasiado disciplinada,

parte da velha Commedia dell’Arte, unicamente para proporcionar ao ator a

oportunidade de improvisar, de vez em quando, e saltar as barreiras que lhe

são impostas. (REDONDO Júnior, s/d: 76-80)

Retorna ao Deutsches em 1905, na condição de seu diretor artístico,

apresentando como primeiro trabalho a montagem de Sonho de uma noite de

verão de Shakespeare em que as árvores naturais invadiam toda a área do

público, com o duplo objetivo de buscar um novo enquadramento e imprimir um

clima onírico exigido pelo espetáculo. Dessa forma, a partir desta encenação,

além de unir algumas das proposições de Appia e Craig junta a magia da ilusão,

do sonho e da poesia, que caracterizarão seu estilo grandioso. Assim, em 1906,

dando seqüência às reformas e reformulações encetadas desde o ano anterior,

dota o novo teatro com um palco giratório e com maquinarias sofisticadas e

complicadas, com o objetivo de realizar cenas de grande efeito. Constrói uma sala

de câmara com trezentos lugares: Kammerspiele, anexa ao teatro, na qual

apresentou um repertório eclético.

É considerado o primeiro grande encenador moderno a realizar, de fato, o

chamado espetáculo total. Seu teatro foi rigorosamente formalista e

grandiloqüente apresentado em praças, igrejas, circos etc., sendo também um

dos iniciadores do teatro popular de massas. Nesse sentido, toda a

documentação iconográfica consultada a respeito de suas montagens expressa a

grandeza e o fausto (que se aproxima muito do conceito de féerie) das

encenações de Reinhardt. Inúmeros são os historiadores de teatro que afirmam

que o estilo cenográfico despojado de Leopold Jessner, oposto à grandiosidade

de Reinhardt, pelo uso de escadas (ou degraus - spieltreppe) tenha se

desenvolvido exatamente para estabelecer contrapontos ao seu contemporâneo.

Do conjunto de suas montagens, a encenação do texto medieval Auto de

Todo-o-Mundo, apresentada na Catedral de Salzburgo, expressava uma

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grandiosidade raramente vista em outros períodos históricos. Por conta disso, ou

seja, da grandiosidade a partir da qual seus espetáculos foram montados, muitos

artistas o criticaram, fundamentalmente (e segundo a ótica desses), por seu teatro

ser palatável ao gosto e “padrão culinário” da burguesia.

Assim, dentre aqueles que o criticou, afirma Piscator (1968), em Teatro

político, citando Herbert Jehring:

Max Reinhardt: um genial esbanjador do teatro. Um apreciador de seus

efeitos. Um degustador de seus encantos. Max Reinhardt, a mais colorida

vocação teatral de todos os tempos, um intuitivo, um improvisador generoso,

suscetível a sugestões, distribuidor de sugestões. Max Reinhardt apresentava-

se para um público que aceitava o teatro como um luxo, como uma

preciosidade, como a mais bela jóia da existência, genial conclusão do teatro

e da grande burguesia, incomparável em suas realizações, inesgotável em

sua flexibilidade artística.

Mais dedicado às montagens, Reinhardt escreveu pouco; entretanto, parece

ter sido o primeiro entre os seus colegas diretores a escrever um livro de roteiros

de direção (Regiebuch), em que apresenta esquemas de seus trabalhos de

direção. Dentre esses textos, apresentando as convicções de Reinhardt, pode ser

encontrada em Bornheim.

Não há uma forma de teatro que seja a única forma artística verdadeira.

Deixam o bom ator trabalhar hoje num celeiro ou num teatro, amanhã numa

estalagem ou numa igreja, ou então em nome do diabo, até mesmo num palco

expressionista. (BORNHEIM, 1992: 116)

As informações historiográficas dão conta de que Reinhardt utilizava-se dos

textos teatrais “traindo-os”. Isto é, adotava-os como um ponto de partida para um

teatro de transgressão, uma vez que lhe interessava o espetáculo e o espetacular.

Pela utilização de espaços não teatrais, Reinhardt, ao criar novos

enquadramentos, acabou por explodir tanto o conceito tradicional de recepção da

obra, posto que o espectador passou a fazer parte do espetáculo, como as

clássicas delimitações que separavam a área do público daquela da encenação.

Tais experimentações do diretor fundamentavam-se no princípio segundo o qual o

teatro precisaria atingir o público “de hoje em termos de hoje”, alavancado em

propósitos em que o irracional, o sentimento, o fascínio, o maravilhoso e a

plenitude da vida interior pudessem vir à tona: sem a menor probabilidade de

reprodução da vida. Reinhardt preocupava-se e fugia do perigo de seu teatro

transformar-se em um museu, daí a opção por um teatro (além de grandioso e

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teatral) eclético, rejeitando qualquer tipo de estética normativa. Desse modo,

afirmava o grande renovador:

Não escreva prescrições, mas dê ao ator e a seu trabalho a atmosfera na qual

possa respirar mais livremente e mais profundamente. Não economize as

possibilidades do palco e da maquinaria sempre que necessárias, mas sem

impô-las a uma peça tal como era montada por seu autor ainda em vida.

Estabelecer tais fatos é tarefa do historiador erudito, e só tem valor para o

museu. Decisivo para nós é saber como tornar viva uma peça para o nosso

tempo.

À luz do exposto, pode-se considerar o encenador como um dos maiores

inovadores da linguagem teatral pela criação de uma espécie de realismo poético

e, nessa medida, as cenas de multidão criadas por Reinhardt são tidas como

geniais e raríssimas vezes superadas no teatro de todos os tempos. Vivendo em

uma Berlim, enlouquecida pelos problemas pré e pós-guerra, o encenador foi

parceiro de Erwin Piscator e Leopold Jessner, formando uma espécie de trio de

diretores considerados amantes das experiências teatrais e que consideravam o

teatro como algo para além do entretenimento e como simples arte. Para os três,

teatro representava uma força essencial na vida humana. A respeito da situação

alemã do período, Reinhardt considerava o ator como o sujeito privilegiado para

que o teatro pudesse cumprir seu papel, e assim ele destaca:

O teatro hoje em dia está lutando por sua existência, e não apenas devido a

problemas econômicos; estes são gerais. Está sofrendo, sim, de anemia. Nem

nutrientes literários, dos quais foi exclusivamente alimentado por tempo

demais, e nem uma dieta puramente teatral podem ajudá-lo...

A salvação só pode vir do ator, pois é ele, e somente ele, quem possui o

teatro. Todos os grandes dramaturgos, quer tenham ou não pisado na ribalta,

nasceram atores...

A arte do ator [não somente sua manifestação de emoção] liberta o homem do

palco convencional da vida, pois a arte do ator é expor a vida e não suprimi-la.

Em nossa época podemos voar e nos comunicar de um para outro lado do

oceano, mas o caminho para nós mesmos e para nossos vizinhos permanece

infinito. Um ator caminha nessa trilha. Com a luz do poeta ele explora o

abismo não mapeado da alma humana, ele misteriosamente se transforma,

assim como suas mãos, olhos e boca cheia de milagres, e depois reaparece...

O ator é ao mesmo tempo artista e obra de arte; ele está na fronteira entre

realidade e fantasia...

Abandonado por seus bons espíritos, o teatro pode afundar até o nível da

prostituta. Mas a paixão pelo teatro, por representar, é um dos impulsos

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básicos do homem. É esse impulso que sempre levará atores e público ao

teatro, que é a mais nobre e satisfatória educação do homem. Todos, quer o

saibam ou não, têm ânsia de se transformar. Nós todos trazemos em nós o

potencial para todas as paixões, para todos os destinos, para todas as formas

de vida interior. “Nada que é humano é estranho a nós.” Se não fosse assim,

não poderíamos compreender outros homens, nem na vida nem na arte...

(ECKARDT; GILMAN, 1996: 77-79)

Continuando na verdadeira profissão de fé no trabalho e importância do

ator, para Reinhardt – filho da velha, barroca e católica Áustria – todo bom

profissional de teatro: diretor, dramaturgo, produtor, músico etc eram

considerados como atores (e o ator como poeta), posto que:

Existiria como que uma espécie de vida implícita, dotada de “milhares de

possibilidades”; a maioria destas adoece e acaba doendo. Isso vai tão longe

que “os códigos sociais modernos aleijaram o ator”: “os pés se movem, mas a

alma não dança; o coração permanece frio”. E o ator, que é “ao mesmo tempo

escultor e escultura”, teria como missão remediar tal estado de coisas e

reavivar no homem a máxima extensão de suas possibilidades. O homem,

feito à “imagem de Deus”, alberga em si “a arte do ator originada na mais

terna infância da raça”. Esse “pálido primo” do teatro que é o cinema nasceu

na cidade grande, e não corresponde, como o teatro, a um “desejo elementar

da humanidade”. O teatro vincula-se à “verdade, não à verdade exterior, ao

naturalismo de todos os dias, mas à verdade última da alma”. Entende-se, por

aí, que a formação do ator deva ser feita em tom de exaltação: a dança para o

corpo e o canto para a voz. (BORNHEIM, 1992: 117)

Reiventando procedimentos, expedientes e novos espaços, Reinhardt

buscou sempre novas alternativas para que seus espetáculos pudessem ser

vistos por públicos diferentes em espaços diferentes; assim, um desses espaços

atípicos foi o picadeiro, em que o encenador montou, por exemplo, no Circo

Schumann, em 1910, O rei Édipo. Além do aspecto de experimentação de novos

espaços, ao buscar o circo, Reinhardt objetivou amenizar as críticas que lhe eram

feitas segundo as quais os altos preços cobrados no Kammerspielle, tornariam o

teatro de Reinhardt inacessíveis à totalidade da população.

Em 1919, já firmemente estabelecido e inspirado pela promessa da

revolução de uma cultura popular, Reinhardt, no antigo Circo Grosses

Schauspielhaus, espaço com cerca de cinco mil lugares, montou um conjunto de

obras notáveis, podendo-se destacar o espetáculo de estreia que foi A Oréstia, de

Ésquilo. O Grosses Schauspielhaus havia sido originalmente um mercado

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transformado numa arena de circo, conhecido por Zirkus Schumann. A

transformação do circo em espaço teatral ficou a cargo do arquiteto Hans Poelzig:

considerado como o jovem líder de uma concepção expressionista visionária.

Grosses Schauspielhaus. Berlim, 1919

Poelzig transformou a arena numa caverna de estalactites, um fantástico tour

de force destinado a concretizar o sonho de Reinhardt de transpor o abismo

entre o ator e público e tornar o espectador participante da ação. (ECKARDT;

GILMAN, 1996: 79)

Em 1920, o encenador lançou o Festival de Salzburgo e que, segundo a

historiografia, até os dias atuais vem sendo produzido, em cada verão, assim

como o seu Everyman (Auto de Todo-o-Mundo), do mesmo modo como

concebido por Reinhardt. Neste período afirma Gerd Bornheim:

O comportamento aberto, determinado a reiventar a experiência teatral,

tornava-o apto a assimilar tudo o que havia de significativo: entusiasmou-se

com Gordon Craig, e foi o primeiro a profissionalizar as ideias cenográficas de

Appia; fez-se o mago da luz e do som, e sentia o gosto das inovações

técnicas, ainda que atento aos riscos da desmedida. E tudo estava a serviço

da celebração coletiva, e, para atingir tal objetivo, procurava reduzir ao mínimo

a distância entre o espetáculo e público. (BORNHEIM, 1992: 116)

Apesar da grande contribuição desenvolvida por Reinhardt para o teatro

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internacional (mais de cinquenta grandes montagens), para a vanguarda alemã

dos anos vinte – em que Futurismo, Dadaísmo, Expressionismo, Surrealismo... –

disputavam espaços, ações e público, o encenador foi considerado por alguns de

seus parceiros como adequado aos padrões conservadores e ultrapassados de

teatro.

O primeiro desafio bem-sucedido à preeminência de Reinhardt veio de

Leopold Jessner. Em dezembro de 1919, menos de um mês após a

inauguração da ‘caverna’ de Poelzig, Jessner encenou, no Staatliches

Schauspielhaus, o Guilherme Tell de Schiller, (...) No passado, Tell havia sido

representado como untuoso melodrama, uma espécie de Robin Hood dos

Alpes suíços. Jessner retirou o pathos da produção, montando-a num palco

vazio dominado pelas hoje famosas ‘escadas de Jessner’. (...)

Era, então, o cenário – ou, melhor, a ausência ou pelo menos a abstração do

cenário – que anunciava essa abordagem ao teatro. As escadas de Jessner

libertaram o teatro de Berlim – e com ele o teatro ocidental – do cenário de

representação e de encenar suas exigências. À semelhança da pintura, o

teatro passara do impressionismo, e mais tarde do expressionismo de

Reinhardt, para o domínio da arte abstrata. (ECKARDT; GILMAN, 1996:

81-2)

EXCERTOS:

Manifesto Simbolista, de Jean Moréas, publicado no Le Figaro de 18/09/1886.

Como todas as artes, a literatura evolui: evolução cíclica com as voltas

estritamente determinadas que se complicam com as diversas modificações

trazidas pela marcha dos tempos e pelas revoluções dos meios. Seria supérfluo

fazer observar que cada nova fase evolutiva da arte corresponde exatamente à

decrepitude senil, ao inelutável fim da escola imediatamente anterior. (...) É que

toda manifestação da arte chega fatalmente a se empobrecer, a se esgotar;

então, de cópia em cópia, de imitação em imitação, o que foi pleno de seiva e de

frescura se desseca e se encarquilha; o que foi o novo e o espontâneo se torna o

vulgar e o lugar comum.

Assim, o Romantismo, após soar todos os tumultuosos alarmas da revolta,

após haver tido seus dias de glória e de batalha, perdeu sua força e sua graça,

abdicou de suas audácias heroicas, se fez organizado, céptico e cheio de bom-

senso; na honrosa e mesquinha tentativa dos Parnasianos, ele esperou falaciosos

renovadores; depois finalmente, tal como um monarca deposto na infância, ele se

deixou depor pelo Naturalismo, ao qual não se pode conceder seriamente senão

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um valor de protesto legítimo, mas imprudente, contra a insipidez de alguns

romancistas então na moda.

Uma nova manifestação de arte era portanto esperada, necessária,

inevitável. Esta manifestação, preparada desde muito tempo, acaba de aparecer.

E todos os anódinos gracejos dos jornalistas confiantes da imprensa, todas as

inquietações dos críticos graves, todo o mau humor do público surpreendido na

sua indolência imitadora, não fazem senão afirmar cada dia mais a vitalidade da

evolução atual nas letras francesas, esta evolução que os juízes apressados

chamaram, por uma inexplicável antinomia, de decadência. Observem, portanto,

que as literaturas decadentes se revelam essencialmente teimosas,

emaranhadas, medrosas e servis: todas as tragédias de Voltaire, por exemplo,

são marcadas por essas manchas de decadência. E que se pode reprovar, que se

reprova na nova escola? O abuso da pompa. O estranhamento da metáfora, um

vocabulário novo em que as harmonias se combinam com as cores e as linhas:

características de toda renascença.

Já propusemos a denominação de Simbolismo como a única capaz de

designar razoavelmente a tendência atual do espírito criador em arte. Esta

denominação pode ser mantida. (...)

Dizemos, portanto, que Charles Baudelaire deve ser considerado o

verdadeiro precursor do movimento atual; o senhor Stéphane Mallarmé, o

empossado do sentido do mistério e do inefável; o senhor Paul Verlaine quebrou

em seu benefício os cruéis entraves do verso que os dedos prestigiosos do

senhor Théodore de Banville haviam amaciado antes. Entretanto o Suprême

enchantement não está ainda concluído: seu trabalho pertinaz e invejoso espera

os recém-chegados. (...)

Inimiga do ensino, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição

objetiva, a poesia simbolista busca: vestir a Ideia de uma forma sensível que,

entretanto, não terá seu fim em si mesma, mas que, servindo para exprimir a

Ideia, dela se tornaria submissa. A ideia, por seu lado, não deve se deixar ver

privada das suntuosas amarras das analogias exteriores; porque o caráter

essencial da arte simbólica consiste em não ir jamais até à concepção da Ideia

em si. Assim, nessa arte, os quadros da natureza, as ações dos homens, todos os

fenômenos concretos não saberiam manifestar-se: estão aí as aparências

sensíveis destinadas a representar suas afinidades esotéricas com as Ideias

primordiais.

A acusação de obscuridade lançada contra uma tal estética pelos leitores

inconsequentes nada tem que possa surpreender. Mas que fazer? (...)

Pela tradução exata de sua síntese, é necessário ao Simbolismo um estilo

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arquetípico e complexo: vocábulos impolutos, o período que se sustenta

alternando com o período de desmaios ondulados, os pleonasmos significativos,

as misteriosas elipses, o anacoluto em suspenso, todo tropo audacioso e

multiforme: enfim, a boa língua – instaurada e modernizada, – a boa e luxuriante

e irrequieta língua francesa antes dos Vaugelas e dos Boileau-Despréaux, a

língua de François Rabelais e de Philippe de Commines, de Villon, de Rutebeuf e

de tantos outros escritores livres e dardejando o termo agudo da linguagem, (...)

O RITMO: a antiga métrica avivada; uma desordem sabiamente ordenada; a rima

brilhante e martelada como um escudo de ouro e de bronze, perto da rima as

fluidezas absconsas; o alexandrino em paradas múltiplas e móveis; o emprego de

certos números ímpares. (...)

A concepção do romance simbólico é polimorfa: por vezes uma personagem

única se move nos meios deformados por suas alucinações, seu temperamento:

nessa deformação aloja-se o único real. Os seres de gestos mecânicos, de

silhuetas enubladas, se movem em torno da personagem única: não são senão

pretextos dele para sensações e conjeturas. Ele mesmo é uma máscara trágica

ou um palhaço, de uma humanidade às vezes perfeita, se bem que racional. – Por

vezes, as multidões, superficialmente afetadas pelo conjunto das representações

ambientes, procedem com alternativas de choques e de estagnações rumo aos

atos que permanecem inacabados. Por momento, as vontades individuais se

manifestam; se atraem, se aglomeram, se generalizam para um fim que, atingido

ou frustrado, dispersa-os em seus elementos primitivos. (...)

Assim, desdenhoso do método pueril do Naturalismo – o senhor Zola foi

salvo por um maravilhoso instinto de escritor, - o romance simbólico construirá

sua obra de deformação subjetiva, alentado por este axioma: a arte não saberia

procurar no objetivo senão um simples ponto de partida extremamente sucinto.

Prefácio ao poema, “Um lance de dados...”, Stéphane Mallarmé.

“Gostaria que não lessem esta Nota ou que, lida, até a esquecessem; ela

ensina, ao Leitor hábil, pouca coisa situada além de sua penetração: mas pode

perturbar o ingênuo que deve aplicar uma olhada nas primeiras palavras do

Poema, para que as seguintes, dispostas como estão, o conduzam às últimas,

tudo sem novidade a não ser um espargimento da leitura. Os ‘brancos’, com

efeito, adquirem importância, chocam de início; a versificação os exigiu, como

silêncio em torno, ordinariamente, até o ponto em que um trecho, lírico ou de

poucos pés, ocupe, no centro, a terça parte mais ou menos de uma folha: não

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transgrido esta medida, apenas a disperso. O papel intervém cada vez que uma

imagem, por si mesma, cessa ou se oculta, aceitando a sucessão de outras e,

como não se trata, agora e nunca, de traços sonoros regulares ou de versos –

mas antes, de subdivisões prismáticas da Ideia, o instante de aparecer, e que

dura o seu concurso, em qualquer que seja a encenação espiritual exata, é em

lugares variáveis, perto ou longe do fio condutor latente, em razão da

verossimilhança, que se impõe o texto. A vantagem, se posso dizer assim,

literária, dessa distância copiada que mentalmente separa grupos de palavras ou

palavras entre si, parece por vezes acelerar ou amortecer o movimento,

escandindo-o, intimando-o mesmo segundo uma única visão simultânea da

Página: tomada esta por unidade, como o é também o Verso ou linha perfeita. A

ficção surgirá e se dissipará, rapidamente, de acordo com a mobilidade do escrito,

em volta das pausas fragmentárias de uma frase capital desde o título introduzida

e continuada. Tudo se passa, de modo geral, em hipótese; evita-se o relato.

Acrescente-se que deste emprego desnudo do pensamento com

contrações, prolongamentos, fugas, ou até seu desenho, resulta, para quem quer

ler em voz alta, uma partitura. A diferença dos caracteres de imprensa entre o

motivo preponderante, um secundário e outros adjacentes, dita sua importância à

emissão oral e seu alcance no meio, acima ou no fim da página, indicará que

sobe ou baixa a entonação. Somente certas direções muito atrevidas, as

usurpações etc, formando o contraponto desta prosódia, permanecem numa obra,

que carece de precedentes, no estado elementar: não que eu leve em conta a

oportunidade das tentativas tímidas; mas não me pertence, por mais importante,

gracioso e convidativo que se mostre um jornal às belas liberdades, agir

contrariamente ao uso, exceto numa paginação especial ou num volume meu. Eu

teria, entretanto, incluído no Poema anexo, mais do que o esboço, um ‘estado’

que não rompe inteiramente com a tradição; levada sua apresentação, em muitos

sentidos, tão longe que não ofusque ninguém: o suficiente para abrir os olhos.

Hoje ou sem presumir do futuro o que sairá daqui, nada ou quase uma arte,

reconheçamos facilmente que a tentativa participa, com imprevisto, de

investigações particulares e caras a nosso tempo, como o verso livre e o poema

em prosa. Sua reunião se verifica sob uma influência, eu o sei, estranha, a da

Música ouvida em concerto; encontrando nela muitos meios que me parecerem

haver pertencida às Letras, eu os retomo. O gênero, que venha a ser um, como

sinfonia, pouco a pouco, ao lado do canto pessoal, deixa intacto o antigo verso,

ao qual rendo meu culto e atribuo o império da paixão e dos sonhos; enquanto

que este seria o caso de tratar, de preferência (assim como segue), tais assuntos

de imaginação pura e complexa ou intelecto: que não fica razão alguma para

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excluir da Poesia – única fonte”.

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ENSAIOS E ARTIGOS DE ESTUDANTESINSTITUTO DE ARTES DA UNESPCURSO DE LICENCIATURA EM ARTES CÊNICAS

Nome: Patrícia Lima CastilhoDisciplina: História do Teatro IVProfessor: Alexandre Mate

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