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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física UMA HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA GINÁSTICA ARTÍSTICA PAULISTA SILVIO MASSAKI SAGAWA São Paulo 2011

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física

UMA HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA GINÁSTICA ARTÍSTICA

PAULISTA

SILVIO MASSAKI SAGAWA

São Paulo

2011

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física

UMA HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA GINÁSTICA ARTÍSTICA

PAULISTA

SILVIO MASSAKI SAGAWA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora

do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu /

Mestrado em Educação Física da Universidade

São Judas Tadeu, como exigência parcial para

obtenção do título de Mestre em Educação Física,

sob orientação da Profa. Dr a. Eliana de Toledo

Ishibashi, na linha de pesquisa Educação Física,

Escola e Sociedade.

São Paulo

2011

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Sagawa, Silvio Massaki

S129u Uma história do desenvolvimento da ginástica artística paulista / Silvio

Massaki Sagawa. - São Paulo, 2011. 142 f. : il. ; 30 cm

Orientadora: Eliana de Toledo Ishibashi

Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo,

2011.

1. Ginástica artística. 2. Ginástica - História. I., Eliana de Toledo. II.

Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto

Sensu em Educação Física. III. Título

CDD – 796.47

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca

da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecária: Elizangela L. de Almeida Ribeiro - CRB 8/6878

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SILVIO MASSAKI SAGAWA

UMA HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA GINÁSTICA ARTÍSTICA

PAULISTA

Dissertação de Mestrado apresentada a USJT – Universidade São Judas Tadeu, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação Física, sob a orientação da Professora Doutora Eliana de Toledo Ishibashi

Banca examinadora

________________________________________

Titular – Prof. Dra. Eliana de Toledo Ishibashi (orientadora) Universidade São Judas Tadeu – SP

________________________________________

Titular – Prof. Dra. Vilma Lení Nista-Piccolo Universidade São Judas Tadeu – SP

________________________________________

Titular – Prof. Dr. Edivaldo Gois Junior Universidade Federal do Rio de Janeiro – RJ

São Paulo

2011

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Dedico este trabalho a minha querida esposa Isabella,

mesmo sem saber, foi a pessoa que mais contribuiu para

que esta etapa da minha vida fosse cumprida.

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AGRADECIMENTOS

Agradecer a todas as pessoas que fazem parte da minha história, talvez não

coubesse em uma dissertação, pois graças à Deus, familiares, amigos,

colegas, companheiros que me deram força para a conclusão desta etapa

foram muitos, mas algumas pessoas são especiais.

Ao professor Edivaldo Gois Junior, pois sem a sua ideia e seu convite, nada

disto teria se quer iniciado.

A minha orientadora, professora Eliana de Toledo Ishibashi, que acolheu com

muito carinho e dedicação, e que sem ela não teria finalizado este trabalho.

Ao nosso grande protagonista, professor Nestor Soares Publio, por ter aceitado

o nosso convite e mais uma vez contribuído na construção de uma história na

Ginástica Artística brasileira.

A professora Vilma Lení Nista-Piccolo, que em sua casa dedicou mais uma vez

o seu tempo para a construção de conhecimento para o mundo acadêmico.

A professora Clarice Morales, que abriu as portas da Federação Paulista de

Ginástica para que este trabalho pudesse ser concluído.

A professora Yumi Yamamoto Sawasato, que me recebeu em sua academia

para uma bate papo ginástico.

Ao Esporte Clube Pinheiros, em especial a Yara Rovai, responsável pelo

Centro de Pró-Memória do clube.

Ao Club Athlético Paulistano, em especial a Ana Paula e Rosa responsáveis

pelo museu do clube.

Aos fiéis amigos, Vagner, Terra, Marchetti, Myrian e Marisa que estiveram a

disposição para o que eu precisava.

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Aos coordenadores do curso de Educação Física da Uninove, professores,

Ritsue, César e Hergos, que incentivaram a todo instante a realização e a

conclusão deste projeto.

Aos meus pais e irmãos que muito deixei de encontrá-los para escrever, mas

compreenderam e deram força neste momento da minha vida, como foi a vida

inteira.

E por fim, e com certeza não menos importante, três pessoas que são mais do

que amigos, são irmãos, Osmar Novaes Ferreira Junior, João Paulo de Castro

Villas Boas e Daniel Barsottini.

Osmar, uma convivência desde o ensino fundamental até os dias de hoje.

João Paulo, que conheci na Uninove para trabalharmos juntos com ginástica.

Daniel, ninguém sabe de onde veio, mas veio ao local certo.

Esses irmãos de espírito que sempre estão ao meu lado, nos momentos mais

difíceis me ajudam a enfrentar, na tristeza choram comigo, e compartilham

todas as alegrias que a vida nos proporciona.

Meus sinceros agradecimentos a todas essas pessoas.

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RESUMO

A Ginástica Artística (GA) é uma modalidade esportiva que parece crescer a cada ano, principalmente porque as competições internacionais têm revelado ginastas brasileiros com grandes potenciais, e, que, estão se destacando e conquistando medalhas. No entanto, pouco ainda se conhece e se registrou sobre seu desenvolvimento no Brasil. Assim, esta dissertação buscou colaborar com as produções acadêmicas acerca deste desenvolvimento, centrando seu lócus para a cidade de São Paulo, compreendendo que muitas das ações na cidade, em diferentes contextos, impactaram no desenvolvimento da ginástica artística brasileira. Para alcançar este objetivo, optou-se pelo resgate da memória de um grande personagem que viveu e auxiliou neste processo: Nestor Soares Publio. Sua experiência, iniciativas, acervo e intervenções para desenvolver a modalidade foram importantes e merecem registro e análise, propiciando a melhor compreensão deste processo de evolução da modalidade em seu tempo, e seus ecos na atualidade. Dois métodos de pesquisa foram utilizados, sendo um deles a História Oral, com a técnica de depoimento oral (Publio), tendo como principal referencial teórico Paul Thompson (2002). A pesquisa também pode ser caracterizada como documental, pois abarca o acervo de profissionais renomadas na área da GA como: Vilma Lení Nista-Piccolo, Yumi Yamamoto Sawasato, Clarice Morales e que também atuaram no recorte histórico desta pesquisa. Compõe esta fonte de documentos, imagens, matérias de jornal e dados de relatórios anuais de dois clubes pioneiros na prática da modalidade e que auxiliaram no desenvolvimento da GA na capital, tendo se destacado no cenário brasileiro por seus feitos, a saber Esporte Clube Pinheiros e Club Athlético Paulistano, bem como o acervo da Federação Paulista de Ginástica. Assim, com depoimentos e documentos inéditos, esta pesquisa pôde evidenciar diferentes contextos, iniciativas e atores que auxiliaram no desenvolvimento da modalidade, assim como também deflagrou que algumas problemáticas do passado, ainda são recorrentes na atualidade, o que dentre outros motivos, reforça a justificativa deste estudo/pesquisa.

Palavras chave: Ginástica Artística, História da Ginástica, Nestor Soares

Publio.

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ABSTRACT

Artistic Gymnastics (GA) is a sport that seems to grow every year, mainly because the international competitions have shown Brazilian gymnasts with big potential, and that are excelling and winning medals. However, little is known and recorded on their development in Brazil. Thus dissertation sought to collaborate with academic productions about this development, focusing its locus to the city of São Paulo, realizing that many of the actions in the city, in different contexts, impacted on the development of artistic gymnastics in Brazil. To achieve this goal, we chose to rescue the memory of a great character that lived and helped this process: Nestor Soares Publio. His experience, initiatives, collection and interventions to develop the sport were important and worth recording and analysis, providing a better understanding of this process of evolution of the sport in their time, and its echoes today. Two research methods were used, one of oral history, with the technique of oral testimony (Publio), the main theoretical Paul Thompson (2002). The research may also be characterized as a documentary, since it covers the collection of renowned professionals in the field of GA as Vilma Lení Nista-Piccolo, Yumi Yamamoto Sawasato, Clarice Morales and also worked in the historical portrait of this research. Composes this source documents, images, newspaper articles and data from annual reports of two clubs pioneered the practice of the sport that helped in the development of GA in the capital, having been prominent in the Brazilian scene for their achievements, namely Esporte Clube Pinheiros and Club Athletico Paulistano, as well as the achievements of the Federation of Gymnastics. Thus, with interviews and unpublished documents, this research might show different contexts, initiatives and actors who assisted in the development of the sport, and also sparked some problems of the past, applicants are still in the news, which among other reasons, reinforces the justification study / research.

Keywords: Artistic Gymnastics, History of Gymnastics, Nestor Soares Publio.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11

2. SÃO PAULO: UMA TERRA PROMETIDA PARA O POVO ALEMÃO .......... 21

3. ADENTRANDO NA HISTÓRIA DE PUBLIO E NUMA HISTÓRIA DA

GINÁSTICA ARTÍSTICA PAULISTA ................................................................. 27

4. DO CONHECIMENTO À ATUAÇÃO POLÍTICA – NOVOS RUMOS

PARA A GINÁSTICA ARTÍSTICA ..................................................................... 39

4.1 Articuladores para uma ginástica organizada .......................................... 48

5. COLOCANDO OUTROS IDEAIS EM PRÁTICA ........................................... 54

5.1 Elementos formadores de uma nova ginástica ........................................ 71

6. A INSERÇÃO DA GINÁSTICA DESPORTIVIZADA NOS CLUBES

PAULISTAS E O INÍCIO DE SEU DESENVOLVIMENTO ................................ 80

6.1 O Esporte Clube Pinheiros (ECP) ............................................................ 81

6.2 O Club Athlético Paulistano (CAP) .......................................................... 94

7. A UNIVERSIDADE: FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO ................................. 105

8. O RECONHECIMENTO PÚBLICO ............................................................. 111

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 118

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 124

ANEXO I – CURRÍCULO DE NESTOR SOARES PUBLIO ............................ 130

ANEXO II – MATÉRIA “GENTE NOTÁVEL” PUC-SP ..................................... 139

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1. INTRODUÇÃO

No ensino fundamental fui apresentado a várias modalidades esportivas

nas aulas de Educação Física, porém uma delas só conheci pelas escolinhas

de esportes oferecidas no SESI: a Ginástica Artística (GA), e foi paixão ao

primeiro rolamento.

A GA é uma modalidade esportiva que encanta várias pessoas, pela

beleza de seus exercícios, pela leveza e graciosidade apresentada pelas

mulheres e a ousadia e força apresentada pelos homens. Ela desafia a lei da

gravidade e faz com que seu praticante se sinta livre para voar e girar em todas

as direções. Tem como objetivo realizar exercícios de alto grau de dificuldade

dentro de uma técnica apurada e exigida na sua execução, portanto ela pode

ser compreendida como “a arte que busca a perfeição dos movimentos”.

Impulsionado por esta paixão, e também por outras modalidades

esportivas de maneira mais ampla, o curso de Educação Física na graduação

foi o caminho que trilhei para entender a GA e a amplitude desta área de

conhecimento.

Ao longo deste caminho, especializei-me realizando cursos e tive a

oportunidade de conhecer pessoas importantes na área, como a professora

Yumi Yamamoto Sawasato (técnica e árbitra internacional), Clarice Morales

(presidente da Federação Paulista de Ginástica desde 2001), Vilma Lení Nista-

Piccolo (ex-técnica e grande colaboradora do desenvolvimento da GA,

principalmente na área acadêmica, desde que lançou o primeiro manual da

modalidade no país) e Nestor Soares Publio, protagonista desta pesquisa.

Em 2004 surgiu a oportunidade de conhecer e trabalhar com Nestor

Soares Publio, quando o mesmo foi convidado a ministrar um curso no ENAF

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(Encontro Nacional de Atividade Física). O professor necessitava de um auxiliar

para ministrar este curso, pois encontrava-se debilitado por uma recente

cirurgia e assim fui convidado para exercer esta função.

Dois dias com este professor foram suficientes para entender o quanto

era necessário me munir de informações não somente das técnicas dos

movimentos ginásticos, mas também de questões históricas para poder

contribuir com o desenvolvimento desta modalidade esportiva, assim como ele

o fazia.

Autor de um livro sobre a evolução da GA que, aliás, é uma das poucas

obras que tratam deste aspecto da modalidade, o professor mostrou por meio

de sua experiência, a importância de entender todo um contexto do passado,

não só para ter um olhar mais crítico e fundamentado do presente ou prever o

futuro, mas sim, para poder ter ações no presente que pudessem auxiliar no

desenvolvimento da GA.

Literaturas clássicas como a de Carrasco (1982) até as atuais como, de

Nista-Piccolo (2005), “Compreendendo a Ginástica Artística”, se assemelham

na sua apresentação ao mencionarem que a GA é uma modalidade em

constante evolução. No entanto, os estudos acerca deste processo evolutivo

ainda parecem insuficientes para deflagrar, de maneira historicizada, os

processos e os autores que mais possibilitaram que este crescimento

acontecesse.

Outra menção importante desses autores, e de outros renomados desta

modalidade, refere-se à falta de pesquisas, seja na parte técnica de

movimentos, na preparação dos seus atletas (nos aspectos físicos,

psicológicos, dentre outros), assim como na perspectiva histórica,

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especialmente no Brasil. Corroborando com estes autores, estes aspectos

também constituem-se em questões pilares que justificam este trabalho.

Apesar de grandes nomes estarem surgindo nesta modalidade no

âmbito desportivo, não podemos depender apenas dos mesmos, e de seus

resultados, para o desenvolvimento da GA brasileira.

Esta pesquisa centrou seu lócus para a cidade de São Paulo,

compreendendo que muitas das ações na cidade, em diferentes contextos,

impactaram no desenvolvimento da ginástica artística brasileira. Para alcançar

este objetivo, optou-se pelo resgate da memória de um grande personagem

que viveu e auxiliou neste processo: Nestor Soares Publio. Sua experiência,

iniciativas, acervo e intervenções para desenvolver a modalidade foram

importantes e merecem registro e análise, propiciando a melhor compreensão

deste processo de evolução da modalidade em seu tempo, e seus ecos na

atualidade.

Para que os objetivos desta pesquisa pudessem ser atingidos foi

utilizada a metodologia da História oral, que, segundo Thompson (2002), é a

primeira espécie de história, ela é tão antiga quanto à própria história.

Parafraseando Queiroz (1987), a oralidade é uma fonte conservadora e que

difunde o saber, antes mesmo das figuras desenhadas nas paredes e da

escrita propriamente dita, povos passavam de geração para geração seus

conhecimentos e crenças por meio da oralidade. A escrita surgiu para

cristalizar o relato oral.

O objetivo da História oral está no alcance da memória ao passado do

indivíduo, o quanto sua subjetividade permitir, tentativa de uma aproximação

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maior da realidade e ou verdade. A subjetividade, assim como os fatos mais

visíveis, também é de interesse da história.

Uma coisa é saber que as ruas ou campos em torno de uma casa tinham um passado antes que ali tivesse chegado; bem diferente é ter tido conhecimento, por meio das lembranças do passado, vivas ainda na memória dos mais velhos do lugar, das intimidades amorosas por aqueles campos, dos vizinhos e casas em determinada rua [...] (THOMPSON, op.cit, p. 30-31).

Segundo Gonçalves e Lisboa (2007) a História oral é um método pelo

qual consegue-se extrair o máximo de informações de um indivíduo ou de um

grupo de indivíduos que fazem parte do contexto.

Ressalta-se que de forma alguma, a História oral tem como objetivo

contrapor os documentos escritos, e sim contribuir com a oralidade a

construção de uma história mais humana e significativa (THOMPSON, 2002).

Segundo Meihy (2006), ela pode revelar pequenos detalhes, que não estão nos

documentos escritos, e que podem levar o nosso olhar num outro ângulo de

entendimento de um fato ocorrido e descrito nos documentos oficiais.

Já de acordo com Bretas (2000), esta metodologia é uma das

possibilidades de construir conhecimento, pois tem a finalidade de formulação

de documentar um caminho histórico e reflexão social por meio das lembranças

resgatadas pela memória.

A técnica utilizada nesta pesquisa é o depoimento oral, na qual existe

apenas um tema gerador para que o depoente tenha a ideia de que assunto

será tratado. O tema gerador utilizado para o nosso protagonista foi: “Fale

sobre sua relação com GA”.

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O depoimento de quem faz parte da história pode contribuir de forma

significativa no entendimento do caminho percorrido para o desenvolvimento de

um determinado contexto.

Pois um acontecimento vivido é finito ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas a chave para tudo o que veio antes e depois. Num outro sentido é a reminiscência que prescreve, com rigor, o modo de textura (WALTER BENJAMIN apud LUCENA, 1999, p13).

Um relato oral é carregado de sentimentos, emoções, gestos, suspiros e

até o silêncio, e tudo isto pode ser mais um instrumento para enriquecer a

construção ou a re-construção de uma história.

A descoberta da história oral pelos historiadores, agora em andamento, provavelmente não será ignorada. E ela não é apenas uma descoberta, mas também uma reconquista. Oferece a história um futuro livre de significação cultural do documento escrito. E devolve também ao historiador a mais antiga habilidade de seu ofício (THOMPSON, 2002, p. 103).

A história oral tenta, com a ajuda dos protagonistas e pelas suas

recordações, elaborar versões que acreditamos ser próximas da realidade

(GIGLIO, SIMSON, 2001).

[...] o ato de relembrar deveria ser uma atividade mental exercida com mais freqüência, pois é um espaço para o reencontro com a nossa identidade (BRETAS, 2000, p.84).

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O referencial teórico na utilização da História oral foi o de Paul

Thompson (2002) 1, sendo que autores nacionais também foram consultados

para a construção deste trabalho.

Este estudo limitou-se a buscar o entendimento do desenvolvimento da

GA paulista pela vivência do nosso protagonista e único depoente: Nestor

Soares Publio. Coronel reformado pela Polícia Militar de São Paulo, nascido

em 03 de setembro de 1935, foi atleta de GA, professor, técnico, dirigente

(Confederação Brasileira de Desportos - CBD, Confederação Brasileira de

Ginástica - CBG, Federação Paulista de Ginástica - FPG), docente,

pesquisador e árbitro. Atualmente exerce a função de conselheiro do Conselho

Regional de Educação Física o CREF2, responsável pelo Comitê de Ética.

Um profissional de tamanha importância que merece não só ser

lembrado, como também pesquisado neste processo de entendimento do

desenvolvimento desta modalidade. Assim, pesquisar sobre sua vida ajudará a

entender esse processo de evolução da GA no cenário paulista, lócus desta

pesquisa, constituindo-se uma das justificativas deste estudo. Segundo o

próprio Publio:

1 Paul Thompson, autor britânico, nascido em 1935, foi graduado pela universidade de Oxford

em 1958, com o First Class Honours em história moderna. Em 1964, depois de três anos como pesquisador, Junior Fellow em Queen’s College, Oxford, foi nomeado professor de sociologia da Universidade de Essex. Para continuar com sua investigação e ensino em sociologia foi nomeado professor de investigação em sociologia em 1988. Aposentado recentemente Paul Thompson é considerado um dos pioneiros da História Oral na Grã-Bretanha, e hoje uma das maiores autoridades mundiais na reflexão e na utilização desse método para o registro histórico. Fundou em 1987 a National Life Story Collection (hoje conhecida como National Life Stories) na Biblioteca do British National Sound Archive. É um dos fundadores da Oral History Society e editor do Oral History Journal. Entre 1994 a 2001 foi diretor da ESDS (Economic and Social Data Service) Qualidata da Universidade de Essex.Além do clássico livro “A voz do passado”, é autor de vários livros como: “The Work of William Moris” (1967), “The Edwardians” (1975), “Our Common History” (org.) (1982), “Living the Fishing” (1983), “I don’t Feel Old” (1990) e “The Myth We Live by” (1990). 2 Em anexo I, currículo completo de Nestor Soares Publio.

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[...] para “efeito” de influência, vamos dizer, do professor Publio no desenvolvimento da ginástica nacional, (destaca-se) a criação da massificação aqui (SP); fazer o primeiro campeonato copa do mundo com pódio; participar daqueles festivais; fazer essas pesquisas na Universidade de São Paulo; (os) cursos técnico-esportivos formando professores; a criação das categorias mirim, infantil, juvenil, que são a base da ginástica. Eu acho que seriam as coisas mais importantes... (que) “dá” para falar da colaboração no desenvolvimento da ginástica nacional, inclusive quando eu fui presidente do conselho em 74 a 76, e quando eu fiz o primeiro curso internacional de árbitro aqui (Brasil, RJ).

Estabelecido nosso protagonista, cuja escolha se justifica por seu

extenso currículo vinculado à GA, e por suas ações nela realizadas, o recorte

histórico se estabeleceu entre 1950 a meados de 2000, período de maior

atuação deste protagonista bem como um período de acontecimentos

marcantes na história da GA, como a oficialização da modalidade junto a FIG e

a realização do primeiro Campeonato Brasileiro no ano de 1951.

O acervo do professor Publio contempla informações até então não

analisadas academicamente, contidas em seus documentos, imagens e fatos,

em registros de cursos e eventos, “causos” e conhecimentos, principalmente

pelas suas lembranças. Muitas destas informações não foram contadas e nem

descritas em seu livro, assim como, em nenhuma outra obra. Informações, sem

dúvida, que ajudam a confeccionar uma história da ginástica artística paulista

num período também pouco estudado, já que a literatura específica da área

debruça-se mais sobre o método alemão no país (entrada, práticas,

associações, etc) e sobre as duas últimas décadas vividas na modalidade, a

partir do sucesso de Daiane dos Santos.

Além do uso da História oral, esta pesquisa também se apropria de uma

pesquisa documental, utilizando o acervo deste professor, assim como, o

acervo de profissionais que foram por ele capacitados e que também tiveram (e

ainda têm) grande destaque na atuação com a modalidade.

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Uma delas é a professora Ms. Yumi Yamamoto Sawasato3, que foi aluna

e ginasta de Publio e mais tarde técnica do Esporte Clube Pinheiros (onde o

professor também atuou como técnico). Hoje é uma renomada árbitra

internacional, docente universitária e proprietária da academia de Ginástica

Artística feminina “Yashi”.

Clarice Morales4, atual presidente da Federação Paulista de Ginástica

(FPG) e docente universitária na área da GA, e fez interlocução com nosso

protagonista, uma vez que este também presidiu a FPG.

E a terceira profissional foi a professora Dra. Vilma Lení Nista-Piccolo5,

que foi ao Esporte Clube Pinheiros para treinar e aprender GA com o professor

3 Possui graduação pela Universidade de São Paulo (1970) e mestrado em Educação Física pela Universidade de São Paulo (1986).Diretora e coordenadora técnica da Yashi, professora da FMU e FEFISA. Árbitra internacional e eleita a melhor árbitro do mundo no ciclo 2001-2004

pela FIG.Endereço para acessar o currículo lattes:http://lattes.cnpq.br/6401958337893741.

4 Possui graduação em educação Física pela Universidade de São Paulo (1976), graduação

em pedagogia pela sociedade educacional liceu acadêmico São Paulo (1980), especialização em curso técnico desportivo Ginástica olímpica pela Faculdade de Educação Física de Santo Andre (1980), especialização em curso técnica desportiva especialização basquetebol pela Universidade de São Paulo (1977), especialização em ginástica artística I pelo Instituto Superior de Cultura Física Manuel Fajardo (1999), especialização em ginástica Artística II pelo INSTITUTO SUPERIOR DE CULTURA FÍSICA MANUEL FAJARDO (1999) e mestrado em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2002) . Atualmente é professor III do Centro Universitário FIEO e efetivo da Prefeitura Municipal de São Paulo. Tem experiência na área de Educação Física. Atuando principalmente nos seguintes temas: EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL, MÍDIA. Endereço para acessar o currículo lattes:http://lattes.cnpq.br/2280650266472882.

5 Licenciada em Educação Física e Bacharel em Fisioterapia, Mestre em Educação e Doutora

em Psicologia Educacional pela Universidade Estadual de Campinas. Foi professora da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, onde desenvolveu vários projetos de pesquisa e de extensão, criou diferentes grupos de estudo e foi chefe do Departamento de Educação Motora. Foi professora titular da Universidade Sao Judas Tadeu, onde criou e coordenou o Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física, sendo a responsável pela implantação dos Cursos de Mestrado e Doutorado na área. Também implantou o curso de graduação em Educação Física e Esporte da Metrocamp (Campinas), onde criou o Instituto do Esporte. Tem experiência na área de Educação Física escolar e na Ginástica, temas que apresenta diversas publicações. Desde 2000, quando estudou na Universidade de Harvard, tem se dedicado aos estudos da Inteligência Coporal Cinestésica. Atualmente integra o Programa de Pós-graduação em Educação Física da Universidade Federal do Triângulo Mineiro onde se concursou. Endereço para acessar o currículo lattes:

http://lattes.cnpq.br/7144740286058457.

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Publio, tendo anos mais tarde se formado em Educação Física (com foco nesta

modalidade) sendo a pioneira nas publicações nesta área ao lançar o primeiro

manual de ginástica no nosso país (com slides). Seu nome ainda é

referendado, pois é uma das maiores pesquisadoras e colaboradoras no

desenvolvimento da GA paulista, assim como em cenário nacional.

Este acervo de fontes também foi composto por documentos, dos

Centros de Memória, dos clubes paulistas: “Esporte Clube Pinheiros” e o “Club

Athlético Paulistano”. Estes Clubes foram selecionados, pois a partir da

oficialização da Ginástica no Brasil (1951), destacaram-se em competições e

também por nosso protagonista ter atuado como técnico no Clube Pinheiros.

Várias de suas ações como dirigente da FPG aconteceram neste clube, com

reflexos em tantos outros, assim como o Clube Paulistano. Portanto, fazem

parte do recorte delimitado da nossa pesquisa.

A pesquisa limitou-se à abordar as lembranças do protagonista, e

daquilo que foi encontrado nos acervos, tanto de seus discípulos quanto dos

centros de memória dos referidos clubes, bem como o acervo da FPG. Sendo

assim, acreditamos que ainda existe muito a se explorar sobre a GA paulista e

consequentemente nacional, pois São Paulo é dos berços desta modalidade

esportiva.

Sendo nosso protagonista paulista, com atuação em sua maior parte em

São Paulo, entendemos que elucidar alguns fatos decorrentes da origem desta

modalidade em São Paulo faz-se necessário para melhor compreensão.

Neste contexto, esta dissertação se organiza na chegada dos imigrantes

alemães em São Paulo e a disseminação de sua cultura relacionada à

atividade física, para assim, adentrarmos na história do protagonista e a sua

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relação com a GA paulista. Além disso, ressalta-se sua posição de profissional

entregue à modalidade, de sua atuação política na tentativa de colocar suas

ideias em prática; os clubes que auxiliaram neste processo de

desenvolvimento, até sua principal vocação e a atuação na formação de

professores, sendo reconhecido em diferentes setores sociais por todo o

trabalho realizado no decorrer de sua vida.

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2. SÃO PAULO: UMA TERRA PROMETIDA PARA O POVO ALEMÃO

No intuito de compreendermos alguns fatos acerca do desenvolvimento

da GA que se sucederam em São Paulo, optamos em fazer o resgate de

alguns aspectos relacionados à imigração alemã, entendendo-a como um dos

pontos de ancoragem do entendimento desta evolução, assim como da

pesquisa, uma vez que o método alemão de ginástica (desde meados do

século XIX), praticado em São Paulo, “abriu” portas para a prática da

modalidade GA.

Segundo Siriani (2003), o ano que marca a imigração alemã no estado

de São Paulo data de novembro de 1827, pois neste mês foi registrado pelo

Império o envio de imigrantes alemães para São Paulo. No dia 13 de dezembro

de 1827, foi registrado o desembarque de 226 imigrantes alemães, sendo a

maioria deles prussianos, pois foram os que mais sofreram exploração em suas

terras, bem como o avanço tecnológico.

O camponês alemão se deparava em seu quotidiano com trabalhos

extenuantes numa pequena área para o plantio, e o que conseguiam ganhar,

mal garantia o seu sustento. Por isso, a possibilidade de conquistar grandes

terras em território brasileiro fez com que estes camponeses se aventurassem

em solo desconhecido. Para o emigrante, partir significava a expectativa de

libertar-se e iniciar uma nova vida, numa nova terra (SIRIANI, 2003).

Alimentado por promessas do império brasileiro, como a aquisição de

grandes áreas de terra para o cultivo, muitos alemães migraram para o Brasil, e

como citado acima, alguns desembarcaram em São Paulo com o objetivo de

ter as mínimas condições de vida, porém sem uma estrutura organizada. São

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Paulo fez com que estes imigrantes tivessem um difícil começo em suas novas

jornadas.

Durante aproximadamente dois anos estes imigrantes ficaram alojados

no Hospital Militar de São Paulo até conseguirem o que vieram buscar: um

pedaço de terra para tentar fazer fortuna (MINCIOTTI, 2008).

A ideia inicial era organizar os imigrantes em núcleos coloniais no

interior de São Paulo, ofertando-lhes uma grande área de terra que seria

dividida entre as famílias, para que cada uma delas obtivesse o seu sustento.

Como não havia uma determinação efetiva sobre isto, cada cidade colocava os

imigrantes onde acreditava ser melhor, sendo assim a província de Santo

Amaro foi o local escolhido por São Paulo para enviar seus imigrantes

(SIRIANI, 2003).

A partir deste difícil começo os imigrantes alemães foram se

estabelecendo em São Paulo, alguns nas atividades agrícolas e outros

posteriormente, em comércios no centro de São Paulo, pois muitos deles, em

seu país de origem mantinham uma atividade urbana como, alfaiates,

sapateiros e pedreiros, em decorrência disto os imigrantes alemães também

foram importantes no processo de desenvolvimento do comércio em São

Paulo.

Siriani (2003) relata que a maior dificuldade dos alemães foi a religião,

pois o Brasil adotava o catolicismo e não o luteranismo, por isso a maioria dos

casamentos só foram realizados em cartórios. De acordo com Fiorin (2002) até

cemitérios para acatólicos foram construídos para que seus entes pudessem

ser sepultados, pois os mesmos não poderiam ser enterrados em cemitérios

católicos.

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Com o intuito de manter suas raízes culturais, preservar e fortalecer

suas tradições e sentir-se alemão, mesmo estando distante de sua terra natal,

os imigrantes trouxeram consigo o germanismo, que significava praticar sua

cultura demonstrando o seu amor pela pátria. Desta maneira, um alemão

sempre será alemão, mesmo nascido no Brasil ou em outro país (SEYFERTH,

1982).

Neste processo, o elemento que mostra principalmente a peculiar

germanidade, é sua organização social dentro de uma nova terra, construindo

seu mundo físico social, cultural e religioso próximo a sua terra de origem,

mantendo sua língua e os costumes de sua terra natal, sendo um dos seus

costumes a prática do turnen (TESCHE, 2008).

Acredita-se que manter a cultura de um povo em território estrangeiro,

depende da luta pela imposição de seus significados na sociedade mais ampla.

Neste sentido, o que esta envolvida nesta questão é a definição da identidade

cultural e social de um povo, mesmo estando distante de seu país de origem,

ainda sim, continuar sendo parte integrante daquela sociedade (FREITAS,

2007).

Segundo a mesma autora, a identidade é estabelecida por marcações

simbólicas, como o hino, a bandeira, a culinária, que são exemplos que

marcam simbolicamente uma nação ou uma região. Então, quando

simbolizamos o germanismo do povo alemão, sem dúvida, o turnen é um

destes símbolos.

Como descrito anteriormente o turnen não foi apenas uma atividade

física idealizada para fortalecer soldados, e sim, para mostrar ao mundo “quem

era o povo alemão”.

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Por esta perspectiva, mesmo distantes de seu país de origem, os

imigrantes alemães mantiveram os seus costumes para que seus filhos que

aqui nascessem, mantivessem a mesma cultura, pois “a identidade não é uma

coisa com a qual nascemos, mas são formadas e transformadas no interior da

representação” (HALL, 1977 apud FREITAS, 2007). Então, um indivíduo pode

se considerar alemão, mesmo tendo nascido num território distante, como o

Brasil.

Esta atividade cultural alemã foi introduzida e tomou força em nosso

país, a prática de atividade física. Antes até dos imigrantes italianos e ingleses

fundarem suas colônias em São Paulo, os teuto-brasileiros paulistanos já

praticavam atividades físicas, em especial o turnen (NICOLINI, 2001).

Por volta de 1870 surgiram as primeiras instituições de amparo

educacionais, sociais e esportivas, voltadas especificamente para este grupo,

na tentativa da manutenção de alguns traços culturais (MINCIOTTI, 2006).

O primeiro clube alemão do estado de São Paulo foi o Germania,

fundado no ano de 1876, por jovens moradores da cidade de São Paulo. De

modo geral, este clube apresentava atividades sociais e também atividades

físicas, uma delas a prática do turnen, idealizada pelo mestre Jahn (NICOLINI,

2001).

Publio (1998) ressalta que em São Paulo, a ginástica de Jahn chegou a

partir de 1888, com o “Deustcher Turnverein”, atual Clube Ginástico Paulista,

em 1890 com o “Deustcher Turnerchaft Von”, atual Associação de Cultura

Física, em 1899 com o “Sport Club Germânia”, e somente em 1900 com o Club

Athlético Paulistano. Estes clubes organizavam festivais de ginástica com o

objetivo de congraçamento e lazer, como acontecia na Alemanha.

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Essa propensão às atividades físicas, bem como seus interesses sociais

e econômicos, culminaram na criação desses e outros clubes e agremiações

germânicas, em que uma de suas principais atividades físicas era a ginástica

idealizada por Jahn, o turnen. Desta forma, isto trouxe muitas contribuições

para o desenvolvimento da ginástica na cidade de São Paulo, e não somente

na capital, mas também em outras cidades.

A pesquisa realizada por Fiorin (2002) ressalta que em Campinas

(estado de São Paulo), imigrantes alemães também plantaram suas raízes a

partir de 1846 e que 18 anos depois, em 1864, criaram a Sociedade Alemã de

Instrução e Leitura (SAIL), com o objetivo de manter viva a sua língua natal,

bem como sua cultura. Com o aparecimento de novos colégios e incentivados

por esta primeira sociedade, os campineiros aprenderam uma das principais

características da cultura alemã: o turnen.

Segundo Publio (1998), no campeonato de Ginástica para amadores de

2ª categoria em 1946, nas dependências da Associação de Cultura Física, o

ginasta Henrique Buck, do Clube Campineiro de Regatas e Natação6, da

mesma cidade de Campinas sagrou-se campeão.

Estas associações criadas pelos alemães tinham como objetivo manter

sua identidade cultural, sendo assim somente alemães e seus descendentes

frequentavam e participavam das atividades proporcionadas por estas

entidades.

Somente a partir de 1942 por uma exigência do governo brasileiro, sobre

a nacionalização obrigatória das entidades estrangeiras em todo o território

nacional, primeiro pela alteração de seus nomes, e depois a obrigatoriedade de

6 Clube este que posteriormente teve o comando da professora Vilma Lení Nista-Piccolo.

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brasileiros também fazerem parte do corpo administrativo dos mesmos. Um

exemplo disto é que a partir deste ano o “Sport Club Germânia” passou a se

chamar Esporte Clube Pinheiros (NICOLINI, 2001).

A partir então deste ano (1942), os brasileiros passam a fazer parte dos

clubes e tem acesso a ginástica alemã, abrindo as portas para a disseminação

e desenvolvimento da modalidade GA no Brasil.

Acreditamos que ainda faltam estudos para desvelar os acontecimentos

deste período e deste processo de transição também, pois o que temos até

hoje é uma linearidade do turnen, para a ginástica de solo e aparelhos, depois

para a Ginástica Olímpica (GO) e hoje a conhecida GA. Estudos como o do

professor Tesche mostra o processo no Rio Grande do Sul, porém será que

isto ocorreu da mesma forma em São Paulo? Isto ainda merece nossa atenção.

Porém nosso estudo reporta-se, de acordo com o recorte, a partir da

oficialização da GO (1951) a meados de 2000, a qual já denominamos GA.

E para auxiliar neste processo, exatamente no ano de 1935 nasce no

município de Guapiaçú, interior de São Paulo, Nestor Soares Publio, filho de

Polycarpo Soares Publio e Alzira Henrique de Souza Publio.

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3. ADENTRANDO NA HISTÓRIA DE PUBLIO E NUMA HISTÓRIA DA

GINÁSTICA ARTÍSTICA PAULISTA

Nestor Soares Publio foi um cadete que não passou despercebido na

escola da Força Pública de São Paulo (antiga Polícia Militar de São Paulo).

Sua dedicação ao querer aprender, e principalmente transmitir seus

conhecimentos, tornou este aspirante um respeitado coronel.

Esta vontade de aprender e ensinar surgiu na escola de sua formação, o

Instituto Monsenhor Gonçalves, quando deslumbrou-se com o professor de

Educação Física, e disse o seguinte para ele:

[...] eu falei na época para ele que eu gostava tanto das aulas dele, que eu gostaria de ser professor de Educação Física. Ele falou: “Ah, quem sabe você um dia será!”

O seu futuro profissional pode ter sido traçado a partir deste momento.

Publio tinha como objetivo fazer o curso de Educação Física, para realizar seu

sonho e se tornar professor desta área.

Encontrou na Escola da Força Pública de São Paulo esta chance, pois

aconselhado pelo seu primo João Jorge, soldado da Força Pública de São

Paulo, que ciente de que o esporte era bastante valorizado nesta instituição, e

conhecendo seu primo (que apreciava a atividade física), acreditava que Publio

poderia ter um futuro promissor.

Deixando em segundo plano o seu sonho de graduar-se em Educação

Física, Publio seguiu o conselho de seu primo e prestou o exame para a

Academia da Polícia Militar do Barro Branco (APMBB), da Força Pública de

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São Paulo. Aprovado no exame, em 12 de fevereiro de 1954, iniciou o Curso

preparatório de Formação de Oficiais (NEPOMUCENO, 2000).

Nestor Soares Publio, talvez pela paixão que tinha pelas aulas de

Educação Física, se destacava em várias modalidades esportivas como

futebol, basquete, atletismo e foi exímio executante de exercícios ginásticos,

mesmo sem saber direito o que estava fazendo, como destaca a imagem e sua

fala:

Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

Tesoura de costas num cavalo de verdade é mole! Na escola de cadetes eu nem sabia o que era ginástica olímpica e já estava fazendo tesoura de costas no cavalo, onde se apoiava a mão na garupa e fazia tesoura em cima do pescoço, de costas, pendurava “tchu” apoiava “pu”. Eu subia no cavalo de oitava, pegava o sipilho e fazia a oitava e entrava no cavalo.

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A primeira escola a introduzir a ginástica em suas aulas foi a escola

militar, e o método ginástico alemão foi o escolhido, incentivada pela imperatriz

do nosso país e um dos indicativos para este incentivo seria a formação da

Guarda Nacional por soldados prussianos (TOLEDO, 1999). Porém não foi esta

escola ginástica que perdurou e estruturou a Força Pública de São Paulo.

Segundo Goellner (1992), o método Francês chega ao Brasil em 1907,

pois o governo contratou uma missão militar francesa para ministrar instrução

militar à Força Pública do Estado de São Paulo.

O método Francês idealizado por Dom Francisco de Amóros y

Ondeano7, desenvolveu-se na primeira metade do século XIX, influenciada

pela escola alemã e baseada nas ideias de Frederich Ludwig Jahn e Guts

Muths, que tinham como preocupação além da visão anatomofisiológico,

questões morais e patrióticas em consequência do militarismo (SOARES,

2007).

Sendo assim, algumas formas de trabalho, como a utilização de alguns

aparelhos como barra fixa, argolas e cavalos, são métodos de características

utilizados pelos alemães. Então, mesmo não sabendo o que era a ginástica

olímpica, na época denominada ginástica de aparelhos, Publio vivenciou de

alguma forma esta modalidade na escola de cadetes (APMBB) da Força

Pública de São Paulo.

7 Considerado o precursor do método francês, a ginástica francesa não visava apenas formar um homem forte e sadio, mas sua ênfase se concentrava na disciplina e na consciência dos deveres e serviços para com o estado nacional. Segundo Soares (2007), Amoros fragmentou a ginástica em quatro dimensões para o atendimento as necessidades, são elas: a civil e industrial, militar, médica e cênica ou funambulesca. Para a ginástica civil e industrial Amoros prescreveu quinze grupos de exercícios para formar a base de seu método, e esse grupo de exercícios mostrava nitidamente sua função utilitarista na formação do homem para o atendimento a nação e ao capitalismo.

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E sem saber que modalidade Ginástica Olímpica já havia sido

estruturada e oficializada em nosso país desde 1951, constituindo-se um marco

na história da modalidade devido à realização oficial do primeiro Campeonato

Brasileiro (GAIO, GOIS, BATISTA, 2010).

Suas “peripécias acrobáticas” não pararam por aí, pois na escola

conheceu outros aparelhos, deixando evidente mais uma vez a influência

alemã na formação dos instrutores do curso de Educação Física da Força

Pública de São Paulo, aproximando Publio da GA.

A imagem do ginasta abaixo não é o nosso protagonista, mas seu nome

aparece na reportagem indicando a primeira colocação no individual na

categoria estreante.

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (sem data e nome do jornal).

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Segundo depoimento de Publio, ele foi o primeiro estreante a realizar um

giro gigante na barra fixa numa competição.

Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

Esta imagem representa o exercício realizado pelo estreante, no qual em

sua fala:

Instrutor de Educação Física em 59, mais de 50 anos atrás, estava eu num giro gigante numa barra, quase enferrujada, ao relento, não tinha nada embaixo de proteção, era num chão duro, sem courinho, sem magnésio, era louco mesmo.

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Após cinco anos da sua entrada no curso preparatório da APMBB, da

Força Pública, o aspirante Publio torna-se tenente para conseguir realizar seu

sonho: entrar na Escola de Educação Física da Força Pública do Estado de

São Paulo, o primeiro curso de Educação Física do nosso país, para se tornar

então um professor de Educação Física. E em 16 de dezembro de 1959, por ter

sido o primeiro colocado do curso, foi efetivado como instrutor da Escola de

Educação Física nas disciplinas de Ginástica de Aparelhos e Educação Física

Geral.

Publio sabia que para ser instrutor deveria conhecer mais sobre a

modalidade e não apenas ser um exímio executante. Então, sua busca pela

história da modalidade começa neste momento:

[...] quando eu assumi a escola aqui (SP), eu queria uma história da ginástica para dar no meu curso. Sou professor do curso e não tenho nem a história do meu esporte! Então cheguei lá no exército (RJ), falei com o professor da disciplina, tenente Oziris Labatite Rodrigues: o senhor não tem ai um currículo, um histórico da ginástica? (tenente) ah! Não tenho, não sei o que, veja lá na biblioteca. Fui lá à biblioteca da escola (RJ) e ai eu comecei (a procurar), aquelas revistas de Educação física da escola do exército, e numa estava lá histórico da ginástica em aparelhos, autor Oziris Labatite Rodrigues. Não sei da onde é que ele copiou aquilo rapaz, mas tava lá, depois da batalha de Jena, o Napoleão invadiu Berlim não sei o que [...]

Não somente em questões históricas, Publio utilizou-se do manual8 da

escola da Força Pública para ministrar suas aulas, fez adaptações que

acreditava serem necessárias para seu melhor emprego e dizia que realizava

uma “adaptação Publiana” para os exercícios e suas exigências.

8 Em 1830 Amóros lança, o “Manual de Educação Física, Ginástica e Moral”, que apoiado pelo

governo francês, idealizou uma nomenclatura completa para alunos e professores sobre anatomia, fisiologia, música e um método adaptável à Ginástica civil, industrial, militar e médica (LANGLADE &LANGLADE, 1986).

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Como assessor técnico de Educação Física na APMBB em 1970, foi um

instrutor rígido e confeccionou uma espécie de tabela de pontuação para as

provas de exame de cadetes para a escola da Educação Física.

(Criei) uma espécie de tabela lá na escola de cadetes, (quando) eu fui assessor técnico de Educação Física. Então, tinha prova de 80 metros, 1000, altura, distância, peso. O aluno participava de cada uma dessas provas e eu colocava a nota dele na tabelinha. A prova que mais reprovava na academia de cadete era a subida na corda, [...] imagine, você para entrar na polícia, tinha que subir 6 metros de corda, 4 metros dava nota média. Ai eu falei, é a prova mais fraca eu botei lá 10 metros, para ganhar (nota) 10, tem que subir 10 metros, subiu 9 metros é nove e meio, teve um cara que subiu 2 metros (e) tirou nota 2, foi a prova que mais reprovou, dali a pouco foi a prova que mais deu 10, [...]

Apesar de realizar algumas adaptações, Publio seguia o método

Francês adotado oficialmente pela Força Pública de São Paulo, que em 1921,

já tinha se tornado o método oficial das Forças Armadas, de acordo com o

decreto n. 14.784 do Ministério da Guerra. Em 1929, além das Forças

Armadas, o referido método começa a ser utilizado nas instituições de ensino

civil (GOELLNER, 1992).

O método Francês continha um conjunto de 17 séries de exercícios

como, marchar, trepar, equilibrar, saltar, levantar e transportar, correr, lançar,

nadar, mergulhar, escorregar, patinar, esgrimir, dançar, utilizar o cavalo,

praticar o tiro, jogar bola, boxear com punhos e pés, entre outros exercícios

que compunham seu programa de treinamentos. Estes treinamentos eram

acompanhados por dois tipos de fichas individuais, a de informações gerais e

outra de aproveitamento do treinamento (RAMOS, 1982).

Publio aproveita essa ideia Amorosiana e também cria “famílias” de

exercícios ginásticos:

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[...] (criei) dez famílias para fazer os exercícios, (para orientar os alunos na execução), rotação para frente, rotação para trás, combinações de rotações, (na) longitudinal, impulsão de pernas, braços, depois posicionamento do dorso, posição (da) perna (para) abertura, antepulsão, retropulsão, [...], (pensei numa sequência pedagógica do mais fácil para o mais complexo) então se faz o rolamento para frente (para) se chegar até no mortal (para frente) [...]

Publio também confeccionou fichas individuais com 40 exercícios para

acompanhar a evolução de seus alunos, da mesma maneira que o manual do

método Francês.

Uma escola militar francesa que era modelo na época era a Escola

Militar de Joinville-le-Pont que foi fundada em 15 de junho de 1852, e foi

comandada inicialmente por Amorós, o Comandante d’Argy e Napoleão Laisné.

Os princípios adotados pela escola foram a instrução para o ensino da

Ginástica nos corpos de tropa e nos estabelecimentos militares (GOELLNER,

1992). Já Publio (1998) traz em sua obra que a data da fundação da escola é

em 22 de junho do mesmo ano9.

Um regulamento elaborado em 1846, com características amorosianas,

foi utilizada como referência básica da escola de Joinville-le-Pont por mais de

meio século (GOELLNER, 1992). Na França, a Educação Física foi dominada

por Amorós e pela escola de Joinville-le-Pont, na formação de jovens e adultos

para atendimento principalmente ao exército francês (PUBLIO, 1998).

Nesta escola foi introduzida uma espécie de coreografia, o denominado

bailado de Joinville-le-Pont, que era um dos marcos do método Francês. Como

o exército brasileiro adotou este método, todos os oficiais militares do Brasil

deveriam aprender e participar deste bailado.

9 Aqui encontramos uma diferença de sete dias em relação à data da fundação, os dois

autores estão fundamentados em praticamente as mesmas referências, mas mesmo assim a divergência apenas na data.

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Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

Esse bailado aqui é gozado, ele é dançado por 12 figuras, essa é a estreia principal com a outra que está lá atrás (o que se encontra de costas e o que esta a sua frente, que na foto não é possível a visualização) e mais 5 pessoas aqui (os laterais) , então são 12 (integrantes no total). [...] (os dois centrais) entram com o duplo, (demonstram) o passo, volta no duplo, faz o passo outra vez e para, os dez laterais repetem o passo, e assim por diante, são 7 minutos de saltitamento.

Esta imagem representa uma apresentação do bailado em homenagem

ao professor Auguste Listello10 (da esquerda para a direita, o primeiro que se

encontra de terno). Infelizmente não é possível visualizar Publio, pois o mesmo

se encontra encoberto pelo indivíduo que está de costas para a imagem.

Em janeiro de 1964, Publio e sua equipe do bailado participaram de uma

jornada de apresentações pelo Brasil, que foi denominado como “Caravana da

10 Um dos criadores do Método Desportiva Generalizada, quando era um dos diretores do Instituto Nacional de Esportes da França no pós-guerra. No Brasil, esteve por 12 vezes ministrando cursos. No primeiro curso, em Santos, em 1952, ele apresentou o Handebol de Salão, sendo considerado o introdutor da modalidade no Brasil. (cev.org.br/qq/listello>acesso em 17/11/2011). Publio era o interprete de Listello nos cursos que ministrava no Brasil (PUBLIO,1998).

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Cultura”, dirigida pelo embaixador Carlos Magno, com o objetivo de divulgar

este bailado bem como outros números culturais como música, pintura, teatro e

literatura, por diversos estados do Brasil. A próxima imagem fica claro a

presença de Publio (à esquerda de frente), em uma de suas exibições.

Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

Por sua atuação com os seus comandados e por apresentar a história

do bailado em “Francês” para o Adido Militar Francês, quando em visita à Força

Pública e à APMBB, Publio recebeu uma bolsa de estudos para realizar o

Curso de Oficial de Esportes na École Interarmées dês Sports, em

Fontainebleau, na França, no ano de 1968, onde se interessou pela base da

Educação Física e claro especificamente pela GA (NEPOMUCENO, 2000).

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Devido ao sucesso e beleza do bailado, e também pelo seu aprendizado

na França, em 1976, ao assumir o comando da Escola de Educação Física da

Polícia Militar, recebeu uma ordem de seu superior:

O comandante geral disse para mim: “Major eu quero 100 cadetes dançando esse bailado lá na abertura do mundial”.

Na época “Major” Publio tentou argumentar com seu comandante:

Falei isso é (uma) ordem absurda comandante hoje é dia 04 de agosto, o mundial inicia no dia 24 de agosto, não da para fazer!

E seu comandante não hesitou:

Major, cadete faz tudo, treine de manhã, de tarde e de noite, quero 100 cadetes dançando o bailado!

Conclusão: vinte dias depois estava o Major Publio com os 100 cadetes

dançando o bailado de Joinville-le-Pont na abertura do Campeonato Mundial de

Atletismo do “Conseil Internacional de Sport Militar”, no Rio de Janeiro, no

estádio Célio de Barros.

Publio aplicava na Escola de Educação Física da Força Pública todos os

conhecimentos adquiridos na França, estudioso e interessado em saber o quê

e porquê estava fazendo determinado tipo de exercício, buscava

fundamentação teórica para sustentar sua prática, inspirado na filosofia de um

grande pensador, Francis Bacon.

Francis Bacon foi um filósofo e estadista inglês, considerado grandioso

pelo seu saber, inteligência e pelos seus estudos. Estudante da manutenção

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orgânica e o desenvolvimento físico e pela filosofia, afirmava que a

necessidade da investigação científica era de extrema importância, pois a

prática sem a teoria seria inútil e perigosa, bem como seu inverso (RAMOS,

1982).

[...] eu fui designado (para ser o) instrutor da escola (Educação Física da Força Pública), porém um instrutor na época não era de nada na ginástica, quem fazia (os exercícios) eram os especialistas. Tinha sargento especialista em cada aparelho e eu fazia tudo por imitação. Então fui procurar a parte teórica, eu falei é uma estupidez ter apenas a parte prática, (existia um exame chamado de) carro de fogo, se reprovasse no carro de fogo perderia tempo de promoção, voltava para o quartel e reprovava no curso. O carro de fogo era o exame do meio do ano e era tudo prático, eu falei tenente tem que ter alguma coisa de teoria para ensinar, tem que saber ensinar os exercícios e não somente executar [...]

Mesmo a escola da Força Pública de São Paulo, sendo norteada pela

escola francesa, a prática de exercícios físicos em aparelhos é bastante

aparente. Sendo assim Publio foi apresentado a GA nesta instituição, como

ginasta conquistou importantes resultados, como primeiro colocado no curso de

instrutores alcançou o posto de instrutor na escola de Educação Física. Desta

forma, como mostra sua fala anterior, a falta de uma teorização daquilo que

estava sendo realizado era imprescindível para a aplicação de um trabalho com

seriedade e também científico.

Sua busca pelo conhecimento da modalidade é aguçada, e por esta

necessidade, procura e descobre pessoas e instituições que poderiam auxiliar

no seu desenvolvimento e crescimento como professor de Educação Física e

principalmente pelo entendimento da ginástica.

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4. DO CONHECIMENTO À ATUAÇÃO POLÍTICA – NOVOS RUMOS PARA A

GINÁSTICA ARTÍSTICA

Em 02 de junho de 1948, foi fundada em São Paulo a Federação

Paulista de Halterofilismo (FPH) e que algumas semanas depois, agregou a

ginástica, à pedido do então diretor do departamento de Educação Física do

estado, o senhor Silvio de Magalhães Padilha, passando a se chamar

Federação Paulista de Ginástica e Halterofilismo (FPGH) (PUBLIO, 1998).

A primeira diretoria da FPGH foi composta por: Presidente: Dr. Paulo

Eduardo Stempniewski; 1º vice-presidente: Tenente Otavio Carlos Gonçalves;

2º vice-presidente: Dr. Halem Chati; Diretor técnico de Ginástica: Arthur Stamm

Jr.; e Diretor técnico de Halterofilismo: Renato Pace (FPGH, 1952).

Os primeiros Clubes filiados foram:

D. Floresta

C. R. Tietê

Associação Cultura Física

Clube Ginástico Paulista

Clube Hercules

Clube Elektron

Tenis Clube Paulista

Clube Esportivo da Penha

Associação dos Professores de Educação Física

Clube Campineiro de Regatas e Natação

São Paulo Futebol Clube

Sport Club Corinthians Paulista

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Sociedade Esportiva Palmeiras

Clube de Halterofilismo Músculo de Ferro

Clube Santista de Halterofilismo

Sociedade de Ginástica da Escola de Paraquedistas Civis do

Estado de São Paulo.

Além dos clubes citados, ainda estavam tratando de sua filiação os

clubes C. A. Ipiranga, Ginásio Apolo Brasileiro de Campinas, Santos Halteres

Clube, Clube Ourinhense e Academia Pesos e Halteres (FPGH, 1952).

A FPGH recebeu em 1952 e 1954 as equipes olímpicas da Alemanha e

do Japão respectivamente, para realizar apresentações de Ginástica Olímpica

em alguns estados brasileiros e São Paulo foi um desses estados, como

mostra a imagem a seguir11:

Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

11

Este documento pertence à FPG e foi retirado por Publio para consulta, na época em que ocorreu um incêndio nas dependências da FPG.

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A seleção alemã veio ao Brasil em setembro de 1952 para

apresentações de ginástica e para divulgar seus conhecimentos sobre a

modalidade. Os ginastas que faziam parte desta equipe eram: Hans Relp

(chefe da delegação), Theo Wied, Erich Wied, Helmuth Bantz, Hans Plann,

Jakob Kiefer, Alfred Schwarzmann, Adalbert Dickhut e Friedel Overwien, como

mostra o documento abaixo:

Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

A seleção japonesa veio ao Brasil dois anos depois, em 1954, também

para realizar apresentações e auxiliar no conhecimento e desenvolvimento

desta modalidade de ginástica.

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Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

Os ginastas que faziam parte desta equipe eram: Kondo Takashi (Chefe

da delegação), Takemoto Masao, Kondo Akira, Ono Takashi, Kubota Masami,

Kaneco Akitomo, como mostra o documento abaixo.

Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

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Fonte: Imagem do acervo do centro de Pró-memória do ECP.

Estas apresentações realizadas por estas equipes olímpicas, tanto

alemãs quanto japonesas, por muito ajudaram a melhorar e a divulgar ainda

mais esta modalidade, como mostra o depoimento do nosso protagonista:

Visita da equipe campeã olímpica japonesa de 54, e a equipe olímpica alemã em 52, essas equipes fizeram demonstrações aqui no Brasil, e (depois disto) a nossa ginástica melhorou [...]

Talvez esta tenha sido um dos motivos que impulsionou o

desmembramento da ginástica da FPGH, em janeiro de 1956, para se tornar

autônoma, fundando-se então a Federação Paulista de Ginástica (FPG), sendo

o primeiro presidente Dr. Arthur Stempniewsky (PUBLIO, 1998).

Em 1960, nessa busca pelo conhecimento (ainda mais que estava na

docência da modalidade), Publio descobriu um professor que foi considerado

um dos maiores conhecedores da ginástica no Brasil: Antônio Boaventura da

Silva, que em 1956 na fundação da FPG foi designado como diretor técnico do

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departamento ginástica de solo e aparelhos. Boaventura, como muitos o

chamavam, era professor da Escola Superior de Educação Física da

Universidade de São Paulo (USP)12, e tinha boa experiência, assim como

muitos contatos nacionais e internacionais nesta área, produzindo vários

artigos sobre o assunto.

Publio começou a assistir a suas aulas no Tênis Clube Paulista,

aprendendo muito com ele, e também lhe ofertando o que aprendia por seus

caminhos, como artigos, cursos e palestras13.

Esta convivência com Boaventura possibilitou vários aprendizados a

Publio, inclusive sua inserção política na área da Ginástica. Devido a esta

relação entre eles, no ano de 1960 Boaventura convida Publio para participar

de uma assembleia na FPG, na qual aconteceria uma eleição para compor

uma nova diretoria da federação. E, sem hesitar, Publio aceita o convite e

participa da mesma.

No ano de 1960, a FPG passava por um drama, pois o presidente da

época, o senhor Arthur Stamm Junior, ausentou-se da federação deixando este

barco à deriva por mais de seis meses, este foi um dos principais motivos para

a assembleia acontecer e assim eleger o novo comandante. Em seu

depoimento Publio relata o motivo da ausência de Arthur Stamm Junior:

[...] (a) federação estava fechada, porque o Stamm (que) era o presidente, (teve que se ausentar porque) sua fábrica de aparelhos de ginástica, a Indústria Aparelho Ginástica Olímpica IAGO, sofreu um incêndio, (e neste incidente) ele se queimou e ficou seis meses fora da federação como presidente [...]

12

A respeito do professor Boaventura consultar a dissertação de mestrado de Luiz Fernando Costa de Lourdes (Antonio Boaventura da Silva: o professor e suas concepções sobre a educação física nas décadas de 1940 – 1970). 13

No currículo em anexo encontra-se todos os cursos, artigos e palestras que foram realizados por Nestor Soares Publio.

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A matéria de jornal mostra o dilema em que a ginástica paulista vivia, ou

até melhor dizendo, sobrevivia, sem um corpo diretor para organizar os eventos

e seus clubes filiados nos primeiros seis meses do ano de 1960.

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (sem data e nome do jornal).

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Antônio Boaventura da Silva torna-se então o presidente da FPG (na

referida assembleia acima mencionada) e imediatamente nomeia-se como

diretor técnico Nestor Soares Publio. Surpreso com o convite, Publio ainda

tentou convencer Boaventura que não tinha conhecimentos específicos para

isto, mas

[...] chamaram o Boaventura para assumir a presidência, então ele me levou para ser o diretor técnico, falei, mas eu não entendo nada (de ginástica) (não adiantou, então) falei tá bom.

A partir deste momento Publio passa a fazer parte da política de

desenvolvimento da GA paulista, por meio da FPG, e ao lado de Boaventura

até 1968 como diretor técnico, e a partir de 1969 até 1971 como presidente,

organizando competições, criando categorias, como o mirim e infantil com

sequências obrigatórias para cada categoria. Em 1981 retorna para mais uma

gestão, para dar continuidade a este trabalho.

Na gestão de Publio como presidente da FPG14 além da promoção de

campeonatos, principalmente para massificação do esporte, promoveu também

cursos de arbitragem e cursos de capacitação técnica de ginástica. Estes

eventos e cursos serão apresentados posteriormente.

Em 1968 concomitante a sua presidência da FPG foi designado como

Membro do Conselho de Assessores de Ginástica da CBD e em 1974 em

assembleia geral foi eleito presidente do Conselho de Assessores de Ginástica,

cumprindo um mandato de três anos 1974 a 1976.

14

A FPG atualmente ainda procura oferecer cursos de arbitragem com o mesmo objetivo, e também para tentar captar mais indivíduos para este setor que ainda é escasso no Brasil, por isso ainda necessitamos de mais interessados e entendidos no que diz respeito a esta modalidade.

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Assim como Boaventura e Publio, muitos profissionais passaram pela

presidência da FPG ao longo de sua existência, colaborando com o

desenvolvimento da ginástica, e, portanto, da GA.

Seguem no quadro abaixo os presidentes da FPG e seus respectivos

mandatos:

Quadro 1: Cronologia Presidencial da FPG15

PRESIDENTE GESTÃO

Dr. ARTHUR STEMPNIEWSKY 1948-1956

ARTHUR STAMM JUNIOR 1956-1960

ANTONIO BOAVENTURA DA SILVA 1960 à 1967

NESTOR SOARES PUBLIO 1968-69, 1970-71 e 1979 à

1981

Dr. JOSÉ LEONARDO FERRAZ MÔNACO 1972-1973

JOÃO PASTOR JUNIOR 1974-1975

Dr. ERMEFRED GIANNINI 1976-1977

MAURÍCIO LOPES LIMA 1978-1979

FERNANDO AUGUSTO BROCHADO 1982-1983

HUMBERTO CARLOS MAGALHÃES DA SILVA 1983-1984

LUIZ KLABIN 1984

CELSO WIZEMBEG 1985 à 1987

MARCIO TADASHI ISHIZAKI 1988 à 1990

MARIA REGINA ROCHA FREDERICO 1991 à 2000

CLARICE MORALES 2001 até a atualidade

15

Ata de eleições e prestações de contas da FPG de 1965 à 2001. Não existe nesta ata os nomes de dois presidentes citados no livro do professor Publio, a do Dr. José Leonardo Ferraz Mônaco e João Pastor Junior. Segundo depoimento, Publio indicou esses senhores para a presidência, mas quem comandava a federação era o próprio Publio, nas quais as gestões seriam 71/72 e 72/73 respectivamente.

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Até os anos 70, a presidência da FPG16 tinha um mandato de dois anos,

já nos anos 80 passa a valer três anos de mandato e a partir de 1992 o

mandato passa ser de quatro anos para acompanhar o ciclo olímpico.

Estar à frente de uma entidade federativa, ainda mais na área da

ginástica e naquela época (de pouca visibilidade e investimento nesta prática)

não foi nada fácil. Publio, consciente disso, não trabalhou sozinho e sabia que

podia contar com algumas pessoas, principalmente seus companheiros,

amigos e apaixonados pela ginástica.

4.1 Articuladores para uma ginástica organizada

A partir de sua oficialização no Brasil em 1951, a GA necessitava de

pessoas interessadas em realmente expandir este conhecimento e a gerir

ações que realmente pudessem promover seu desenvolvimento. Alguns

profissionais, que já atuavam com a Ginástica em diferentes contextos, uniram-

se para concretizar este ideal, formando um “famoso” trio da época: Nestor

Soares Publio, Enrique Wilson Libertário Rapesta17 e Siegfried Günther

Fischer18.

16

Segundo a atual presidente da FPG, Clarice Morales, a situação da FPG, não é muito confortável, pois teve que sair de seu prédio de origem, e apenas neste ano de 2011, a FPG terá sua sede própria. Todo dinheiro arrecadado para a compra de sua sede veio dos campeonatos e cursos para o aprendizado da GA e cursos de formação de árbitros. Hoje a FPG está fixada na rua Alcântara Machado nº130,5º andar, sala 52. 17 O professor Rapesta foi um excelente ginasta argentino e foi um dos maiores incentivadores da ginástica no Brasil. Trazido pelo Dr. Aguinaldo Santos ao Rio de Janeiro para passar uma temporada orientando a ginástica brasileira. O professor Rapesta com sua técnica apurada na ginástica, logo foi convidado a orientar outras equipes de Ginástica Artística e passou a fazer parte do Conselho de Assessores de Ginástica da CBD e essa integração o prendeu definitivamente ao nosso país. Supervisionou, preparou e organizou a participação brasileira nos Jogos Pan-Americanos de 1963 em São Paulo e treinou a equipe carioca que venceu o brasileiro de 1965, que brando e hegemonia da equipe do Rio Grande do Sul. Representante da FIG ministrou vários cursos de arbitragem na América Latina e atuou como árbitro representando o Brasil nos Jogos Olímpicos de Moscou (1980) e Barcelona (1992). Em 23 de

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Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio. Esta imagem é da praça vermelha em Moscou onde o trio (da direita para a esquerda, Rapesta, Publio e Fischer) participaram dos Jogos Olímpicos de 1980.

Segundo Publio cada um destes profissionais tinha uma função

específica para a promoção da Ginástica, em suas palavras: “eu era o

organizador e professor, Rapesta era o técnico e Fischer, o político.”

fevereiro de 1997 foi homenageado com o título de Membro Honorário da União Pan-Americana de Ginástica.

18

Emigrado da Alemanha em 1924, Fischer trouxe de uma tradição familiar a paixão pela ginástica. Em 1967 ingressou na SOGIPA e foi orientado pelo Profº. Karl Black. Iniciou como dirigente em 1951 na Federação Atlética Rio-Grandense e integrou o grupo que fundou a Federação Rio-Grandense de Ginástica em 1962, sucedendo a Osvaldo Bruno Diedrich, atuando como presidente desta entidade por um período de dez anos, e ainda participava como ginasta em competições. Em 1960 passou a fazer parte do Conselho de Assessores de Ginástica da CBD, com este cargo e em 1968 nos Jogos Olímpicos no México, Fisher estreitou contato com o suíço Arthur Gander na ocasião presidente da FIG, este relacionamento ajudou o Brasil a fazer parte do cenário mundial da Ginástica, oferecendo a oportunidade de participar do Curso Intercontinental para Árbitros em Madri (1971), titulando três brasileiros com breves de Árbitros Internacionais. Em 1978 foi eleito como presidente da CBG, cargo que ocupou durante seis anos, neste mesmo ano conseguiu a classificação para enviar equipes completas no Campeonato Mundial de Ginástica Artística em Estrasburgo. Em 1980 foi eleito como Membro do Conselho Executivo da FIG.

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[...] esse trio aqui chamava máfia da ginástica, Fischer, Rapesta e eu é que realmente (momento onde refletiu) (pausa, suspiro) até estava pensando, acho que a ginástica hoje tem duas etapas, antes da máfia da ginástica e depois da máfia da ginástica. Porque antes era da ginástica empírica todo mundo fazia no RGS, o berço era lá, os gaúchos foram campeões diversas vezes, fizeram um monte de campeonato com o Uruguai, Paraguai e a partir de 51 (com a) oficialização da ginástica no país, os gaúchos foram penta campeões brasileiro em 53, 55, 57, 58 aí parou até 65, porque tinham apenas três estados que faziam ginástica (o) RGS, SP e RJ, e pelo estatuto da CBD se não tivesse três inscritos na prova não poderia acontecer o campeonato, então RGS sempre entrava e RJ e SP (por muitas vezes não conseguia montar suas equipes) impossibilitando a realização do mesmo [...]

De acordo com este depoimento a partir da união deste trio a GA

brasileira rumou para um desenvolvimento científico, buscando realizar

intercâmbios internacionais, principalmente por intermédio de Fischer, pois o

mesmo, segundo Publio,

[...] foi o político nosso, de pan-americanos (a outros eventos) que o Havelange, mandava o Fischer como delegado do Brasil para assistir a ginástica, a fazer amizade e montar o esquema da ginástica (no Brasil), e como Fischer falava uns oito idiomas (isto facilitava esta articulação), então ele ia lá e conversava com Deus e todo mundo (e convidava outros países a levar festivais de ginástica para o Brasil) [...]

Por este trâmite a GA brasileira começa a ganhar maior visibilidade, o

que auxilia no desenvolvimento da modalidade.

Este trio não mediu esforços para organizar mais campeonatos

brasileiros de GA, pois com maior número de competições, a chance de

aparecer e se desenvolver a modalidade aumenta. E isto se confirmou alguns

anos depois.

Após 27 anos de organização dos eventos e campeonatos da ginástica,

nasce em 25 de novembro de 1978 a Confederação Brasileira de Ginástica

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(CBG), elegendo seu primeiro presidente o Dr. Siegfried Günther Fisher

(www.cbginastica.com.br> acesso em 19/06/2011).

No entendimento dos diretores da CBD e das Federações e

principalmente de Publio não haveria melhor nome para assumir este cargo,

pois o senhor Fischer tinha contato com os mais importantes nomes da

ginástica mundial.

Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio. Na primeira imagem ao centro o Dr. Roberto Abranches (diretor jurídico da CBD), à direita Fischer e à esquerda Publio, demais eram delegados de federações de ginástica. A segunda imagem o Dr. Roberto Abranches cumprimentando Fischer eleito como presidente da CBG e Publio à esquerda, que presidiu esta assembléia.

Assembléia (da) CBG (em 25 de novembro de) 1978, eu (Publio) presidindo a assembléia que elegeu a confederação de ginástica, [...] a CBD fez uma assembléia (com) todos os presidentes das federações (que) foram lá para eleger o presidente, eu (Publio) era (o) presidente da federação de São Paulo, então me designaram como presidente da assembléia, e ai eu indiquei o Fischer para ser o primeiro presidente da CBG.

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Fischer assume a primeira gestão da CBG e cumpre mandato de três

anos (1979 - 81). Após este mandato a segunda assembleia é constituída para

nova eleição e neste momento Publio foi colocado numa situação

constrangedora, mas colocou seus princípios morais em primeiro lugar.

[...] então o Coronel Roquete que tinha o projeto medalha de ouro no Rio de Janeiro lá no CEFAN me convidou para ser o presidente da confederação na segunda gestão, mas tinha uma condição, a de colocar o Fischer para fora. Falei eu não vou trocar um cargo desse para estragar uma amizade que eu venho de milênios de jeito nenhum, então não aceitei, e o Fischer foi reeleito.

A partir daqui, a ginástica brasileira tem uma entidade para organizar e

divulgar a modalidade em todo território nacional.

Com a evolução da ginástica e o caminho trilhado rumo às competições

houve a necessidade da criação de uma entidade para discutir e decidir todas

as questões no que dissessem respeito às Ginásticas no mundo, o fruto

semeado torna-se a Federação Internacional de Ginástica (FIG)19.

A CBG como outras organizações mundiais, se prepara para

compreender e seguir um regulamento específico das práticas gímnicas

desportivizadas, que é elaborado pela FIG.

Seguindo as regras que regem a ginástica, elaboradas pela FIG, e

repassadas para as confederações nacionais e suas respectivas federações,

Publio, Rapesta e Fischer, começam a colocar os seus ideais em prática na

tentativa da evolução da ginástica nacional.

Publio irá auxiliar neste processo, por meio da proposição e docência de

cursos de formação de técnicos e árbitros, como será mostrado mais adiante.

19

Esta entidade acredita na necessidade de tornar o julgamento das séries de ginástica mais objetiva, e para classificar e premiar os melhores ginastas de uma maneira mais justa cria-se então o código de pontuação para tentar alcançar esse objetivo (www.figgymnastics.com> acesso em 26/06/2011).

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Pelos conhecimentos “práticos” que possuíam da ginástica, os

componentes do trio articulador, denominado pelo protagonista como “máfia da

ginástica”, atuaram além dos ginásios. O senhor Fischer na administração e

política junto aos órgãos nacionais e internacionais (CBG/FIG), senhor Rapesta

na área técnica (cursos de arbitragem e treinamento técnico) e Publio na área

teórica de organização e regulamentos.

Desta maneira, este trio abrangeu os setores mais importantes para a

concretização de um ideal, a disseminação e o desenvolvimento da GA

brasileira, desde sua base até o alto rendimento.

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5. COLOCANDO OUTROS IDEAIS EM PRÁTICA

Não somente pela divulgação e massificação deste esporte, Publio

confessa em nota no jornal que também começou o trabalho na ginástica em

São Paulo com outros dois objetivos:

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica.(13 de junho de 1961, jornal “A gazeta esportiva”, reportagem “Brasil pensando na Olimpíada”).

Quanto ao primeiro objetivo, esta reportagem deixa claro o desejo,

vencer os gaúchos era uma questão de honra, que neste ano já aconteceria

uma disputa acirrada entre paulistas e gaúchos, com os cariocas “correndo por

fora”, este objetivo demorou a ser alcançado, como também mostra a

reportagem, mesmo porque a supremacia ainda era dos gaúchos.

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Em sua fala explica como eram realizadas as competições:

[...] em 60 os campeonatos brasileiros eram (realizados) somente de dois em dois anos só para adultos, e só tinham os três estados que podiam competir pelo estatuto, aí em 65 nós resolvemos fazer na marra o campeonato porque (em) 58 tinha sido o último, e daí em 65, (em) SP eu escalei uma equipe para ir com dois soldados para completar a equipe e poder competir, então estavam RGS, SP, RJ [...]

Então o campeonato brasileiro só poderia acontecer com a inscrição de

no mínimo três equipes, e somente o Rio Grande do Sul possuía uma equipe

constante. São Paulo e Rio de Janeiro tentavam, de várias maneiras, constituir

suas equipes, mas encontravam dificuldades, como já foi discutido

anteriormente, quando num ano São Paulo conseguia montar uma equipe era o

Rio de Janeiro que não conseguia, por este motivo que após o ano de 1958 e

até 1965 não aconteceram os campeonatos.

Encontra-se aqui um conflito de datas, pois foi encontrada a seguinte

reportagem, datada em 11 de junho de 1959, falando do favoritismo dos

paulistas e gaúchos no V Certame Nacional.

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Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (A Gazeta Esportiva, 1959).

Com o professor Boaventura na presidência da FPG e Publio na direção

técnica, muitas competições foram idealizadas e organizadas por estes

precursores, elaborando calendário para competições em diferentes níveis,

como mostram as reportagens a seguir:

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Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica, (sem o nome do jornal).

[...] o Boaventura quando assumiu a federação aqui em 60 (diretor técnico) ele começou com o infanto-juvenis [...]

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Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica, (A Gazeta Esportiva, 1961).

Esta reportagem mostra realmente o sucesso da competição, pois 500

ginastas entre as categorias infantil, juvenil e aspirante participaram do evento,

e a matéria também elogia o trabalho dos árbitros da FPG.

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Na tentativa de uma padronização, Publio elabora sequências

obrigatórias para as categorias, dividindo-as em nível de dificuldade de acordo

com a categoria, para orientar técnicos, ginastas e arbitragem, e também na

tentativa de melhorar o nível técnico dos nossos ginastas. A reportagem a

seguir mostra uma sequência elaborada para o campeonato paulista na

categoria infanto-juvenil aspirantes.

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica, (Jornal A Gazeta Esportiva, 1960)20

20

Assinatura de Publio no canto do jornal, com a data de publicação da reportagem.

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Uma sequência de fácil execução para os três aparelhos propostos,

solo, salto e barra fixa, pois mesmo com poucos recursos de aparelhagem, os

movimentos poderiam ser realizados em aparelhos adaptados. Exemplo disto

seria o salto sobre o cavalo, que neste caso é demonstrado em conjunto de

gavetas de plinto e sem a utilização de um trampolim. Exercícios de menor

complexidade, porém realizados com as técnicas da GA, este era o objetivo da

época.

Vários eventos competitivos ocorreram durantes os anos que se

prosseguiam, e isto ajudavam ainda mais na divulgação e propagação da

modalidade.

[...] (em) 68 eu fiz o primeiro campeonato brasileiro mirim e obtivemos sucesso, então sugerimos numa assembléia para que tivesse um infanto-juvenil no brasileiro (também) [...]

Esses campeonatos fizeram tanto sucesso que a partir de então começaram os campeonatos brasileiros infanto-juvenis, em 71 [...]

Sua sugestão foi aceita em assembleia na CBG e a partir de então

seriam realizados oficialmente os Campeonatos Brasileiros desta categoria.

Segundo Publio, esta é a base de formação da GA paulista e nacional; a

criação dessas categorias facilitaria a encontrar novos talentos e também a

disseminar a modalidade no país.

Para realizar esses campeonatos, verbas e aprovações de superiores

eram necessárias para viabilizar o projeto, e isto foi uma das pedras

encontradas no caminho de Publio e Boaventura:

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...na nossa época você realizava (os campeonatos) de acordo com a orientação do CND, (era) uma programação de 12 campeonatos por ano, a gente colocava campeonato infantil, juvenil, adulto, aberto, interclubes, (porém) ao apresentar ao brigadeiro Jerônimo Bastos, ele mandava cortar pela metade, “isso ai não dá tempo para fazer, corta pela metade e apresenta!” (seguíamos a orientação e) cortávamos pela metade, e apresentávamos apenas 6 (campeonatos) para ele, e (mesmo assim ele) falava esses 3 (campeonatos) aqui vocês podem fazer, o resto, coloca que não foi aprovado.

Desta forma, não foi fácil a tarefa dos dirigentes da ginástica desta

época, pouco incentivo e verbas para a realização de campeonatos dificultaria

a divulgação e a propagação da modalidade no país, e parece que ainda

sofremos do mesmo problema.

Além disto, os campeonatos brasileiros só aconteciam de dois em dois

anos, e algo também precisava ser feito, então na tentativa de aumentar a

quantidade de competições, para que o espaço entre elas diminuíssem,

contaram com uma ajuda de um Major no ano de 1971,

[...] então (Major) (Maurício Duque) Bicalho em 71, para não ter (campeonatos brasileiros apenas) de dois em dois anos, ele começou a fazer na Olimpíada do exército um campeonato brasileiro no meio, então 71 tinha a olimpíada do exército, 72 brasileiro, 73 olimpíada do exército, 74 brasileiro, e assim começou a ter brasileiro de ano em ano [...]

A partir de 1971 campeonatos de GA aconteceram anualmente,

Brasileiros e Olimpíada do Exército, isto auxiliava no processo de

desenvolvimento da GA, pois motivava ginastas e clubes a dar continuidade

em seus treinamentos. O espaço de dois anos para que acontecesse um

Campeonato Brasileiro, onde eram selecionados atletas e técnicos para

representar a Seleção Brasileira em campeonatos internacionais, desmotivava

principalmente os ginastas.

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Um dos eventos que alcançou um número bastante expressivo foi a 1ª

Operação Juventude de Ginástica Olímpica, promovida pela FPG e realizado

nas dependências do Ibirapuera, no ano de 1975, que contou com a

participação de 3000 atletas, realizando provas de solo, salto e barra.

Para que um evento com esta magnitude ocorresse de forma ordenada,

Publio a organizou de maneira tão eficaz, que em três horas a competição já

tinha chegado a seu fim. Este evento foi filmado pela TV Cultura, que pediu a

Publio para explicar como foi realizado esta organização. Em seu depoimento,

Publio fala como organizou este evento para atender esta demanda, e lógico se

orgulha disto

Aqui é o ginásio, o campeonato de massificação que eu fiz no Ibirapuera, 3000 garotos, idade de zero a cem anos, série unissex, para homem e mulher (era) igual, três aparelhos solo, salto e barra, montei trinta e dois aparelhos, a cada cinco minutos entravam 80 (ginastas) no ginásio para fazer ginástica, mais cinco minutos mais 80 (ginastas), cinco minutos mais 80 (ginastas) depois de 15 minutos tinham 240 (ginastas) fazendo ginástica ao mesmo tempo [...]

Em seu depoimento pode-se verificar que o objetivo de Publio era

incentivar a prática da GA, para os dois gêneros, unificando as sequências, e

em todas as faixas etárias, inclusive adultos. Para massificar um esporte

precisa-se tanto de praticantes quanto de incentivadores, sendo assim mesmo

não se tornando um atleta de alto rendimento, a vivência no esporte pode

auxiliar no processo de divulgação do mesmo.

Esta imagem mostra todos os aparelhos montados e alinhados para que

facilitasse o deslocamento dos atletas de um aparelho para o outro e a cada

cinco minutos oitenta ginastas entravam na área de competição para iniciar as

suas apresentações e outros oitenta ginastas saiam para receber a premiação.

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Segundo Publio foram utilizados 16 colchões para o solo, 08 conjuntos de

gavetas de plinto para o salto e 08 barras paralelas, somando os 32 aparelhos

utilizados para este evento.

Acredita-se que pela sua experiência adquirida em eventos militares

pode ter contribuído para a boa organização e execução do evento.

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (jornal a Gazeta Esportiva, 1975).

A próxima imagem mostra a adaptação feita por Publio utilizando o

aparelho barra paralela simétrica (apenas um varal) para realizar os exercícios

da barra fixa, demonstrando que é possível adaptar os materiais para trabalhar

com a iniciação e a massificação da modalidade.

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Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (jornal a Gazeta Esportiva, 1975).

Nesta imagem também fica claro a adaptação, conjunto de gavetas de

plinto na realização do salto sobre o cavalo21, um aparelho com maior

facilidade de aquisição, devido o seu menor custo, principalmente pelas

escolas.

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (jornal a Gazeta Esportiva, 1975).

21

Na atualidade com a mudança do aparelho, a prova chama-se salto sobre a mesa.

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65

Este evento foi organizado pela FPG com a presidência do Dr. Ermefred

Giannini, no qual Publio era o diretor técnico da FPG neste ano (1975). Ele foi o

comandante e contou com o auxílio dos alunos da graduação em Educação

Física das Universidades de Mogi das Cruzes, da Universidade de São Paulo e

da Polícia Militar.

Publio reuniu forças de diferentes setores, Universidades, Clubes e FPG

para este evento, exemplo a ser seguido até hoje, desta maneira poderemos

desenvolver e evoluir a GA paulista e nacional.

Este evento é um marco na massificação da GA paulista, pois

atualmente existe o campeonato de massificação denominado “Troféu São

Paulo” que é realizado com os moldes muito semelhantes a este organizado

por Publio.

O sucesso foi tão grandioso deste evento, que a matéria que saiu no

jornal ocupou duas páginas inteiras de reportagem do dia 30 de junho de1975,

no jornal a Gazeta Esportiva. Jornal este um dos principais da área esportiva

da época, e que apresentava muitas matérias sobre a modalidade.

A sequência de exercícios foi montada por Publio e também saiu em

nota de jornal para maior divulgação deste evento esportivo.

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66

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (jornal a Gazeta Esportiva, 1975).

Estas sequências de exercícios foram utilizadas para todas as idades

nesta competição, pois o objetivo maior era a massificação; os exercícios eram

de simples execução facilitando e possibilitando que várias pessoas, sejam

elas de clubes, academias e ou escolas pudessem participar. Como foi dito

anteriormente, além da adaptação de alguns aparelhos, a prova de salto foi

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realizada sem a utilização de um trampolim, sendo que em uma competição

oficial de GA isto não seria permitido.

Nesta competição, houve a participação de uma importante personagem

da ginástica paulista, a professora Vilma Lení Nista-Piccolo.

Vilma foi aluna de Publio, e não aprendeu apenas os gestos técnicos da

modalidade, mas também a incentivar e a colaborar na massificação da GA.

Participando da Operação Juventude, pelo Clube Campineiro de Regatas e

Natação (Campinas, São Paulo), a professora Vilma, lotou cinco ônibus de

atletas e rumou ao Ibirapuera para o evento.

Segundo Vilma, foi nesta competição que aprendeu com Publio como

organizar um evento desta natureza, e assim colocou em prática esse exemplo

em seus festivais para promover a massificação e o desenvolvimento da

ginástica em Campinas. Realizou vários festivais de ginástica, incluindo

também a ginástica rítmica (GR), como mostra a reportagem a seguir:

Fonte: Acervo pessoal da professora Vilma Lení Nista-Picollo (sem data e nome do jornal).

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Esta reportagem traz o valor que a imprensa em todos os seus setores

(escrita e televisiva) dava a ginástica de Campinas destacando com muito

entusiasmo a preparação de sua equipe para a realização do 8º Festival de

Ginástica, onde os mais de duzentos atletas regatenses participariam da GA e

GR.

Pelos vários festivais promovidos pela professora Vilma e o seu trabalho

como técnica de ginástica do Clube Regatas, este clube desenvolveu-se e

colheu muitos frutos na GA, um exemplo disto foi a conquista do vice-

campeonato paulista de 1977, como mostra a reportagem:

Fonte: Acervo pessoal da professora Vilma Lení Nista-Picollo (sem nome do jornal).

Além da 1ª Operação Juventude de Ginástica Olímpica, como

destacamos, outro marco na história da GA foi a realização da 3ª Copa do

Mundo de 1978, em São Paulo, na qual tanto Fischer quanto Publio mesmo

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não exercendo função específica na Federação nem na Confederação, mas

sim por suas influencias políticas e sociais, conseguiram trazer ao Brasil esta

etapa da Copa do Mundo.

[...] o Fischer (trouxe) a Copa do Mundo para (o Brasil) em 78, aqui em São Paulo, e eu organizei [...]

Realizar um campeonato desta importância requer uma série de

cuidados na sua organização, não poderíamos cometer erros e assim

demonstrar que a ginástica brasileira estava bem estruturada e organizada

para receber um evento como este. Então Publio organizou este evento nos

moldes internacionais.

[...] a terceira copa do mundo, foi a primeira no Brasil, foi feito no

Ibirapuera, primeiro campeonato com pódio22

no Brasil [...]

Para melhor qualidade do evento e melhor desempenho dos atletas,

aparelhos foram importados para a realização desta competição e foram

adquiridos por intermédio da FPG presidida por Maurício Lopes de Lima.

Porém, a aquisição destes aparelhos foi um pouco conturbada e

constrangedora para a ginástica paulista, pois segundo depoimento de Publio,

Fischer solicitou ao seu amigo Spieth o envio dos aparelhos em confiança e

que a FPG pagaria os aparelhos com a arrecadação após a realização do

evento. Infelizmente como este material passou pela alfândega brasileira como

doação à FPG o presidente senhor Maurício não efetuou o pagamento.

Posteriormente alguns aparelhos foram vendidos e pagos ao amigo de Fischer,

os que não foram vendidos ficaram no Centro Olímpico de São Paulo.

22

É um plano elevado onde os aparelhos de GA são montados para uma competição.

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Aparelhos de boa qualidade são imprescindíveis para que os ginastas

realizem os exercícios com eficiência e segurança, e com mais esta conquista,

o Brasil caminha para o desenvolvimento.

A realização deste tipo de evento abriria uma porta para que o Brasil

tivesse visibilidade internacional, possibilitando além da aquisição dos

aparelhos a visualização de ginastas internacionais e um intercâmbio entre

técnicos e ginastas, auxiliando assim o desenvolvimento da GA nacional.

Bons aparelhos e bons profissionais: esta é uma junção necessária para

o desenvolvimento da GA. Sem estes dois fatores limita-se a execução de

alguns exercícios nos aparelhos que compõem esta modalidade.

Então com aparelhagem adequada e a preparação de professores e

técnicos fica mais viável atingir resultados mais expressivos, aumentando a

capacidade dos nossos ginastas de alto rendimento, assim como melhor

preparação dos ginastas de base nas escolinhas de iniciação.

Esta deficiência ainda não foi superada, pois na atualidade, São Paulo,

ainda não possui um centro de treinamento especializado para a GA, bem

como em outros estados do nosso país.

Mesmo sem um centro de treinamento, os paulistas vêm mostrando

importantes resultados, um exemplo disto é o ginasta Arthur Zanetti da cidade

São Caetano do Sul, estado de São Paulo. Treinado por Marcos Goto, Zanetti

foi vice-campeão mundial nas argolas, conquistado recentemente no Japão e

assegurando uma vaga para os Jogos Olímpicos de Londres em 2012.

Com todas as dificuldades e sem o devido apoio político organizacional,

os ginastas brasileiros demonstram sua vontade de vencer numa modalidade

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ainda de pouca visibilidade. A GA ainda necessita de uma política séria e

voltada para este esporte no Brasil.

Para alcançar estes objetivos, preparar técnicos e ginastas que

entendam esta modalidade de regras estabelecidas pela FIG, torna-se

necessário, então, que sejam organizados cursos preparatórios para munir os

interessados a contribuir neste processo.

5.1 Elementos formadores de uma nova ginástica

Publio, dentro e fora de sua gestão na FPG, sabia que a GA somente

poderia se desenvolver a partir de algumas iniciativas pilares, e uma delas era

a capacitação dos professores e técnicos, pois via que somente organizar

eventos não era o suficiente.

Assim, o primeiro curso internacional que Publio ministrou foi em 1966,

no DEFE foi marcado por um encontro inesperado

[...] o primeiro curso internacional que eu ministrei, convidado pelo Boaventura, (foi) lá no DEFE, tinha mais de 500 pessoas fazendo (o curso), (no intervalo) nós saímos (para) tomar um café, (quando) alguém bateu nas minhas costas assim “bem que você me falou que ia ser professor!” “hoje eu estou aqui como seu aluno”, falei não brinca!

Publio estava ministrando o curso em que seu antigo professor de

Educação Física do colégio tornou-se seu aluno, uma surpresa muito

gratificante para ambas as partes.

Publio não somente lecionou cursos, tendo muitos professores como

alunos, como também possibilitou que outros profissionais (nacionais e

internacionais) o fizessem.

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Em 1969, Publio trouxe para o Brasil o professor Frances Georges de

Chautemps, responsável pelos cursos de treinadores da federação francesa.

Este professor veio ao Brasil para disseminar seus conhecimentos a

pedido FPG, na verdade seu próprio pedido, pois Publio era o presidente da

FPG neste ano. Este curso foi ministrado nas dependências do Esporte Clube

Pinheiros (ECP), onde Publio tornar-se-ia técnico da equipe de ginástica

artística no ano seguinte.

[...] quando eu trouxe para (SP) o Chautemps, Georges Chautemps para dar aula (no ECP) ele falou “você não quer me emprestar o “Schick” (ginasta), eu o levo numa mala e te devolvo campeão, não sei o que, (Publio) (se o) senhor quer levar o senhor leva! Em 74 no mundial de Varna na Bulgária, estávamos lá em Paris e o Schick e o Abramides (ginastas) falaram, “não dá pra dar um pulinho na casa do Chautemps”, eu falei nós vamos pro Brasil amanhã, se vocês quiserem alugamos um carro e vamos até (lá), (mas) mal vamos chegar, são 300km, passamos a noite com ele, (e depois vamos) embora. (Então) alugamos um carro, fomos até lá, tiramos foto com ele, e aí eu falei (você) queria esse cara (Schick) no mundial, esta aqui o Schick oh! To vindo do mundial com ele!

Neste ano (1970), então técnico23 da equipe do ECP, Publio traz dois

japoneses Takehisa Ishihara e Hideaki Kurihara para ministrarem um curso

técnico de GA, com o objetivo mais uma vez de aprender e disseminar técnicas

de GA para a evolução da modalidade no nosso país (PUBLIO, 1998).

Um dos passos mais importantes para a evolução da GA nacional foi o

1º Curso Internacional de Arbitragem, organizado por Publio, formando então

os primeiros árbitros internacionais, inclusive o próprio organizador.

Até então nenhum curso internacional de arbitragem havia sido realizado

em território brasileiro, não por desconhecimento, mas sim por interesse, pois

23

Sua passagem como técnico pelo ECP será abordado posteriormente, pois esta entidade é um dos mais antigos clubes que trabalham com esta modalidade e receberá maior detalhamento e atenção em outro subcapítulo.

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[...] só o Rapesta tinha (o brevet24

de árbitro), então o Rapesta nunca

quis fazer curso de árbitro aqui no Brasil, porque (assim) teriam mais pessoas para concorrer com ele, então ele não fazia, e se só podia mandar para as olimpíadas e mundiais quem tivesse o brevet de árbitro [...]

Por coincidência esta informação chega às mãos de Publio

[...] quando eu fui presidente do conselho da (CBD) em 74 a 76, eu fiz o primeiro curso internacional de árbitro aqui (Brasil), quando fui para Berna Suíça, como delegado do Brasil, [...] eu fiquei sabendo (que) nós poderíamos fazer um curso internacional aqui no Brasil, tanto é que eu fiz, veio o presidente da federação internacional (FIG) (Arthur Gander), para ver a avaliação do curso, (e) formamos 8 árbitros, Sergio Bastos, Schic, o Abramides, eu, Bedeu, formamos 8 árbitros internacionais, (e) recebemos o brevet [...]

Este curso foi intermediado pelo senhor Fischer, pois o mesmo tinha

contato e amizade com o presidente da FIG, o senhor Arthur Gander. Este

curso foi organizado e realizado no ano de 1976 nas dependências da Escola

de Educação Física do Exercito, no Rio de Janeiro, por Publio.

Com o brevet internacional, Publio a partir de então poderia arbitrar

internacionalmente, o que ocorre no ano de 1980 no qual

[...] o Brasil foi beneficiado pelo boicote (americano) em Moscou, e Publio e Rapesta foram para Moscou como árbitros [...]

A imagem a seguir refere-se ao momento em que Publio recebe o

certificado de participação como árbitro da FIG nos Jogos Olímpicos de

Moscou no ano de 1980.

24

Reconhecimento da Federação Internacional de Ginástica qualificando o árbitro para as competições.

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Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

Este curso internacional teve como principal objetivo munir a arbitragem

brasileira de como internacionalmente os exercícios devem ser executados e

que mundialmente os olhares da arbitragem verificariam as performances dos

ginastas, sendo assim, não somente para acompanhar este processo no

exterior, mas também, para que nossos árbitros julgassem de forma correta,

coerente, justa e igualitária em todo território nacional.

Mas esse primeiro curso internacional foi um negócio também bacana que eu fiz aqui, como presidente do conselho e depois (desse), nós fizemos mais outros, diversos outros cursos, eu fui professor do curso internacional lá de Minas Gerais, fui professor do curso internacional da escola de Educação Física da Polícia, e então a cada ciclo (olímpico, realizávamos) um curso lá na FIG, e depois poderíamos fazer aqui, e assim hoje nós temos uma série de árbitros formados que já foram em mundiais e foram às olimpíadas, temos o Gilberto Pandinga, temos o Luis Picasso, temos o Zamur, Fernando Brochado, Carlos Resende, Mario Pardini [...]

No ano de 1981, quando o técnico soviético Alexander Korosov veio ao

Brasil para ministrar cursos, Publio na qualidade de presidente da FPG

organizou toda a sua agenda para tentar atender o maior número de clubes e

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ginastas para este aprendizado em São Paulo, no intuito de melhorar a

capacitação dos técnicos, objetivando a melhor preparação dos ginastas

paulistas na modalidade.

Esta matéria de jornal mostra Publio, os professores Herculano Ferreira

Santos e Juarez Araújo, tratando sobre o roteiro de programação do técnico

soviético.

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (sem nome do jornal).

O técnico russo esteve em São Paulo para treinamentos dos nossos

atletas entre os dias 16 a 20 de junho de 1981. Nesta reportagem do dia 19 de

junho, o técnico visita o Tênis Clube, em Santos.

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Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (sem nome do jornal).

O ECP foi o clube de São Paulo que recebeu o maior número de aulas

com o professor Korosov. Motivo pela escolha deste clube foi porque nosso

protagonista atuava como técnico e diretor do setor de ginástica do ECP, assim

facilitaria a organização do curso. Os treinamentos ocorreram à noite nos dias

15 a 19 e no dia 20 à tarde, seguido de encerramento de sua estadia em São

Paulo.

O principal objetivo desta visita ao Brasil era auxiliar a preparação de

nossos ginastas nas séries obrigatórias para os mundiais e também para os

Jogos Olímpicos de Los Angeles, que aconteceriam em 1984. Neste Jogos

Olímpicos o Brasil conquistou pela segunda vez a vaga para participar deste

evento e foi representado por Gerson Gnoatto no setor masculino, obtendo a

70º colocação e no setor feminino com Tatiana Figueiredo, conquistando a 57º

colocação na competição I e em 27º na competição II (PUBLIO, 1998).

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Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (sem nome do jornal).

Além do técnico masculino Korosov, também estava no Brasil, Mihail

Klimenko, técnico feminino, que estava ministrando treinamentos e cursos para

os ginastas e técnicos. O recorte do jornal, a seguir, fala dos dois técnicos

soviéticos, os objetivos da sua estadia no Brasil, e as técnicas que

acompanharam Mihail Klimenko no setor feminino. Dentre elas, encontra-se o

nome da técnica e árbitra internacional Yumi Yamamoto Sawasato.

De muita valia foi o aprendizado com os técnicos soviéticos que vieram

ao Brasil, pois a partir deste momento, mesmo que ainda timidamente, a GA

brasileira, passou ter maior visibilidade no cenário internacional.

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Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (sem nome do jornal).

Na imagem anterior pode-se observar o erro do Jornal, tratando a

professora e técnica Yumi Sawasato como técnico.

A professora Yumi25 trabalhou no ECP com as equipes do setor

feminino, na mesma época em que se encontrava Publio, juntos auxiliaram o

ECP a se tornarem uma das potencias da ginástica paulistana.

25

Numa visita para uma conversa com a técnica Yumi Yamamoto Sawasato, realizada no dia 08 de setembro de 2011, sendo também uma grande colaboradora deste esporte no nosso país, tentamos verificar se ainda havia alguns documentos que pudessem auxiliar a nossa pesquisa. A técnica lamentou e disse que aproximadamente há um mês tinha se desfeito de quase tudo o que tinha sobre documentos de ginástica, pois não tinha mais um local apropriado para arquivar tamanho acervo, inclusive sobre a história de seu próprio clube a Academia de Ginástica Artística Feminina “YASHI”, que nasceu praticamente após sua saída do ECP.

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Questionada em relação a sua saída do ECP, Yumi disse que estava

tendo dificuldades em trazer novas e mais pessoas (internacionais) para

realizar este intercâmbio de ginástica, e que isto dificultaria o desenvolvimento

dos ginastas e técnicos do clube, como não ocorreu um acordo com a diretoria

do clube, Yumi foi dispensada, assim como segundo a mesma Publio também.

Por estas e muitas outras ações de Publio, ginastas, técnicos e clubes

puderam desfrutar de eventos que enriqueceram seu conhecimento no que diz

respeito a GA.

Este tipo de intercâmbio é de extrema importância para o

desenvolvimento de uma modalidade esportiva como a GA, assim como para

qualquer outro esporte.

O Brasil já mostrou a importância deste tipo de ação, a vinda de um trio

Ucraniano, proporcionou ao nosso país importantes conquistas individuais e

por equipes. Este assunto será abordado posteriormente.

Ainda somos um país em ascensão na GA, por isso necessitamos de

mais investimentos para que possamos realizar mais cursos como este, assim

como eventos para divulgação e massificação desta modalidade, em clubes,

escolas e academias, só assim seria possível mostrar ao mundo que o Brasil

também pode ser uma potência mundial em GA.

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6. A INSERÇÃO DA GINÁSTICA DESPORTIVIZADA NOS CLUBES

PAULISTAS E O INÍCIO DE SEU DESENVOLVIMENTO

Publio atuou de maneira bastante expressiva como técnico e depois

como supervisor técnico do departamento de ginástica, e técnico num clube

tradicional da cidade de São Paulo, o Esporte Clube Pinheiros (ECP), onde foi

um dos primeiros a trabalhar a ginástica desportivizada, então denominada

Ginástica Olímpica e hoje a atual GA.

Desta forma acredita-se na necessidade de buscar neste clube,

informações a respeito desta modalidade. O ECP possui o Centro de Pró-

memória, que fica dentro do próprio clube, onde em consulta em seu acervo e

informações obtidas no acervo da FPG, identificamos também que o Club

Athlético Paulistano (CAP), também teve papel importante no desenvolvimento

da GA no cenário paulista, principalmente nos anos 80 em que travou várias

batalhas com o ECP nos campeonatos de ginástica.

Apesar do protagonista não ter atuado no CAP, buscamos informações

no acervo deste clube na tentativa de enriquecer este trabalho e tentar

desvendar se de alguma maneira o protagonista influenciou também o

desenvolvimento da GA neste clube (Os dados do CAP serão abordados

posteriormente).

Os dados apresentados destes clubes mostram parcialmente a entrada

da ginástica, ou seja, indícios de como foi a entrada e o começo do

desenvolvimento da GA no início do século na cidade de São Paulo no

contexto clubístico, ainda mais considerando-se que os clubes, historicamente,

são responsáveis também pelo desenvolvimento do esporte de alto

rendimento. Assim, a GA começa seu processo de organização como esporte

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em São Paulo e no país, em diferentes níveis e a partir de diferentes

estratégias.

Apresentaremos então este processo de inserção e desenvolvimento no

ECP e a participação e as contribuições do protagonista no clube, e que

consequentemente refletiram para o desenvolvimento da GA paulistana e

brasileira.

6.1 O Esporte Clube Pinheiros (ECP)

O clube foi fundado em 1899 como Sport Club Germânia, anos mais

tarde por se localizar a beira do rio Pinheiros, seu nome foi modificado para

ECP (www.ecp.org.br/inst_ecp.asp> acesso em 16/11/2011).

A GA foi iniciada em 1952 e oficializada em 1953, três anos antes até da

criação da FPG. O precursor da modalidade que no início chamava-se

Ginástica de solo e de aparelhos foi Paulo Merbach, tendo sido atleta e depois

técnico durante 23 anos no ECP (Revista do Pinheiros, 2006).

A imagem seguinte é datada, segundo dados obtidos no centro de pró-

memória do ECP, aproximadamente entre 1953 a 1960, onde já se configura o

trabalho do professor Paulo, uma apresentação ao ar livre, no qual um atleta

está realizando uma parada de mãos no cavalo com alças, mesmo parecendo

ser de caráter demonstrativo o ginasta utiliza um uniforme peculiar nas

competições deste aparelho.

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Fonte: Imagem do acervo do Centro de Pró-memória do ECP.

Na década de 50 e 60 esta modalidade era mais solicitada como

demonstração do que propriamente para competições (Revista do Pinheiros

s/d). Na imagem acima tudo indica uma demonstração da ginástica de

aparelhos ao ar livre, inclusive como era praticada quando foi idealizada por

Jahn na Alemanha.

A imagem a seguir mostra as mulheres também realizando suas

performances ao ar livre, não havia informações concretas sobre esta imagem,

ela estava datada apenas com a década de 50, isso mostra que praticamente

desde o início da ginástica neste clube as mulheres também já tiveram

participação efetiva desta modalidade. Infelizmente, nesta imagem não temos a

identificação das ginastas.

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Fonte: Imagem do acervo do Centro de Pró-memória do ECP.

Já a imagem a seguir mostra as mulheres realizando uma performance

nas barras paralelas assimétricas (paralela simétrica masculina adaptada), as

ginastas são: ao centro Vera Themudo Camargo Silva, logo acima Ivone Félix

Beirão e no canto superior à esquerda Naíra, no canto superior direito Iris e

abaixo Regina Murça e inferior direito Maria Helena. Foram identificadas

apenas seis das oito ginastas, que acreditamos serem também as seis ginastas

que estão na imagem anterior. Esta imagem não consta a data.

A imagem mostra a utilização do aparelho barras paralelas assimétricas.

Pela imagem observa-se que só existe a possibilidade de diferenciar a altura

das barras, mas a distância entre elas não é possível, como é na atualidade.

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Fonte: Imagem do acervo do Centro de Pró-memória do ECP.

Desde a década de 50 existem indícios de que as mulheres já

participavam da ginástica neste clube, talvez então seja por isso que conseguiu

construir ao longo dos anos grandes conquistas no setor feminino como será

abordado nas décadas seguintes no decorrer do desenvolvimento da GA neste

clube.

A imagem a seguir data-se o ano de 1965. O técnico ainda é o professor

Paulo Merbach, com os respectivos ginastas: Roberto Nemer, Roberto Moraes,

Carlos Sanches, Rubens Oliveira, Fernando Brochado, Luis Damasceno.

Possivelmente esta seja a equipe masculina de competição pela

uniformidade e perfil dos ginastas, mesmo porque ao final dos anos 60 e

aproximadamente até os anos 80 o esporte competitivo tomou força e é um dos

objetivos da Educação Física.

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Fonte: Imagem do acervo do Centro de Pró-memória do ECP.

Segundo Publio (1998), no VI Campeonato Brasileiro de Ginástica

(1965), São Paulo teve que montar uma equipe masculina para que

acontecesse a competição, pois apenas o Rio de Janeiro e o Rio Grande do

Sul tinham inscritos suas equipes, e de acordo com as regras da época, seria

necessário no mínimo três equipes inscritas para que a competição

acontecesse.

A equipe paulista ficou com a 3ª colocação e os cariocas conseguiram,

neste ano, quebrar a hegemonia gaúcha, sagrando-se campeã. Esta proeza foi

possível devido ao excelente trabalho e pela estratégia utilizada pelo técnico

Rapesta, que exigiu nos treinamentos a perfeição nas séries obrigatórias, e nas

séries livres montou sequências mais simples, porém com a devida técnica e

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limpeza na execução, impressionando a arbitragem e também seus rivais

(PUBLIO, 1998).

A imagem a seguir está datada em março de 1967, onde ginastas do

professor Paulo Merbach, um deles realizando um giro gigante na barra na

empunhadura palmar. Mais uma vez, aparentemente parece ser uma

demonstração de ginástica ao ar livre, porém neste ano segundo Publio (1998)

acontece nas dependências do ECP o VII Campeonato Brasileiro de Ginástica,

cujas paulistanas conquistaram a segunda colocação por equipes26 e o

masculino27 apenas com participação individual.

Fonte: Imagem do acervo do Centro de Pró-memória do ECP.

26

Não constam os nomes dos clubes das ginastas que fizeram parte da equipe paulista, apenas os nomes: Aparecida C. Pery, Fumie Hashimoto, Yumi Yamamoto, Alice Kussano, Nancy Kussano e Eny Machado. 27

Os ginastas são: José Roberto Papa e Jairo Ribeiro Cordioli, sem identificação do clube.

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Na década de 60 a ginástica aparecia muito mais como demonstrativa

como propriamente competitiva, pois a ginástica brasileira tinha propósitos

maiores em educar o físico e à saúde, não exclusivamente pela influência dos

militares, mas também de médicos, com suas ações na questão de higiene,

trouxeram para as famílias brasileiras novos hábitos, com intuito de um

processo de reorganização social (CASTELLANI FILHO, 1991).

A ginástica então como esporte competitivo, começa a aparecer no

cenário mundial provavelmente devido ao seguinte fato.

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Método Desportivo

Generalizado28 se proliferou por todos os países, sobre influência da cultura

europeia como elemento predominante nas práticas corporais. Pode-se creditar

esse fato a Guerra Fria, pois igualmente os países do Bloco Socialista e do

Bloco Capitalista começaram a investir mais no Esporte, acreditando ser, este,

um meio de demonstrar a superioridade de um sistema sobre o outro. Busca-se

então a eficiência e eficácia no esporte, por meio do aperfeiçoamento do gesto

motor, denominada de pedagogia tecnicista, que imperou durante o período

pós-70 (BUENO, 2000).

Vale a pena ressaltar que não entraremos em discussão sobre o

processo de esportivização da ginástica e sim apenas uma ponte para

entender essa mudança de cunho mais demonstrativo da ginástica para o

competitivo.

Talvez então seguindo esta tendência mundial, a partir dos anos 70,

começa uma nova era da ginástica no ECP, o clube formou uma das equipes

28

De Auguste Listello, que foi trazio ao Brasil pelo professor Boaventura.

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mais representativas, composta pelos atletas João Francisco Tavares Levy,

Peter Christian Fatio, José Carlos Sant’Anna Aranha e João Luiz Ribeiro.

Em novembro de 1969 nosso protagonista foi contratado para ser o

supervisor técnico da seção de ginástica do clube e solicitou a contratação do

ginasta Kenshi Ohara, que fazia parte da seleção japonesa, para lhe auxiliar na

formação de uma equipe de ponta. Este ginasta foi contratado para ser o

técnico da equipe masculina do ECP a partir do ano de 1973.

A vinda e atuação de Ohara possibilitou grande evolução para os

ginastas do ECP, exemplo disto foram as conquistas de José Fernando Costa

Abramides29 em 1973 e a conquista do XII Campeonato Brasileiro de Ginástica

de 1974, onde a equipe paulista masculina (a base eram os atletas do ECP)

sagrou-se campeã da competição, quebrando a hegemonia gaúcha

(PUBLIO,1998).

Outros ginastas que merecem destaque foram João Luis Ribeiro30, Luiz

Renato Schick31 e João Vicente Confessori Machado. Este último será

abordado posteriormente.

Além destas ações, vale ressaltar o ginasta João Luis Ribeiro, que

iniciou seus treinamentos no RGS, continuando depois no RJ e a lapidação

final com o técnico japonês Ohara em SP. Nesta época, Minas Gerais também

realizava seus trabalhos com a GA e também contribuiu na formação deste

ginasta, pois foi no fosso de Minas Tênis Clube, que ele treinou e executou o

exercício Tsukahara como saída do aparelho barra fixa. Aqui demonstra que a

29

Campeão brasileiro (1973), participação do Mundial (1974) e Jogos Pan-americanos do México (1975) e Vice-campeão Sul-americano (1976). 30

Campeão brasileiro (1978), Bronze no pan-americano (1979), primeiro breve masculino no Mundial (1979) e primeiro representante brasileiro em Jogos Olímpicos (1980). 31

Tricampeão brasileiro (1974/75/76), participação no Mundial (1974) e pan-americano (1975), Campeão sul-americano (1976).

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união de forças pode gerar o crescimento de um ginasta e porque não da

modalidade como um todo. Este é um fator que deve ser trabalhado, pois nem

todos pensam assim, mesmo a história mostrando este caminho.

Pensando na ginástica não somente paulista, mas também nacional,

Publio em reportagem mostra a preocupação na preparação dos ginastas para

as olimpíadas e diz que se melhoramos o nível de nossos ginastas, grande

parte deste mérito é do técnico japonês.

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (sem data e nome do jornal).

Em nota da reportagem acima Ohara aponta para uma necessidade: a

de adquirimos aparelhos de ponta para o treinamento dos nossos atletas:

Quando esses atletas treinaram na Alemanha, sentiram uma diferença brutal. Os equipamentos são melhores, os aparelhos dão mais confiança.

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Como foi apresentado anteriormente, a FPG na tentativa de sanar este

problema adquiriu os aparelhos para a realização da III Copa do Mundo de

ginástica que ocorreu em São Paulo. Somando a esta situação na tentativa de

auxiliar, não somente na confiança dos aparelhos Publio realiza uma obra

importante no ECP.

Publio construiu neste clube um fosso, o terceiro no país e o primeiro em

São Paulo, uma estrutura muito importante no treinamento de acrobacias por

parte dos atletas. O fosso construído teve as seguintes dimensões: 18 metros

de comprimento com 1,70 metros de profundidade como confirma Publio

[...] esse fosso aqui ele tinha 18m, você fazia assimétrica, fazia argolas e fazia o salto, dava para (treinar) os três, e a barra fixa também estava aqui [...]

Fonte: Imagem do Acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

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Além dos aparelhos citados em seu depoimento, uma parte do tablado

do solo também terminava no fosso, assim possibilitando a execução de

exercícios também neste aparelho.

Com este tipo de estrutura, abre-se a possibilidade da realização de

elementos acrobáticos de maior grau de dificuldade, pois como o fosso é

preenchido por flocos de espuma os ginastas podem realizar suas acrobacias

com maior segurança, diminuindo o risco de acidentes, e assim auxiliando no

desenvolvimento dos ginastas do ECP.

Durante oito anos Ohara treinou o ECP e a ginástica paulista a

conquistar diversos títulos, inclusive campeonatos brasileiros, e no ano em que

deixou o clube viu o resultado de seu trabalho com um de seus ginastas, João

Vicente Confessori Machado, sagrando-se campeão Sul-Americano adulto nas

argolas.

Fonte: Imagem do acervo do Centro de Pró-memória do ECP.

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Isto demonstra mais uma vez a eficiência dos conhecimentos de Ohara

para o desenvolvimento da ginástica paulista. Mas em 1981 Ohara deixa São

Paulo e vai para Minas Gerais para se tornar técnico do Minas Tênis Clube,

onde segundo Publio forma uma equipe quase imbatível.

Neste mesmo ano a equipe do Pinheiros mostra sua força, tanto no setor

masculino, quanto no feminino, sagrando-se campeão por equipes nos dois

setores no campeonato paulista da categoria juvenil. A reportagem ainda

mostra que a 2ª colocação por equipes no masculino ficou com o CAP, uma

batalha das equipes que perdurou por vários anos, e ainda a 3ª colocação com

o Campineiro de Regatas, liderada pela professora Vilma.

Além da 1ª colocação por equipes o ECP, praticamente dominou o

individual, sendo que no masculino ficou com as duas primeiras colocações e

no feminino o pódio foi completo, domínio absoluto.

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica.

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Verifica-se então, que trazer técnicos estrangeiros é uma necessidade

da GA brasileira, o conhecimento técnico deles é superior ao nosso, e ainda

necessitamos disto.

Este tipo de iniciativa realizada por Publio em 1973, reflete-se anos

depois, em 1999, com a contratação de uma equipe Ucraniana composta por

Oleg Ostapenko32, Iryna Ilyashenko33 e Nadia Ostapenko34. Este trio comandou

a equipe brasileira feminina durante dois ciclos olímpicos, com o principal foco

nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 (SCHIAVON, 2009).

Segundo a mesma autora o trabalho realizado durante dez anos por este

trio, trouxe uma visibilidade maior para a ginástica nacional e internacional, o

exemplo disto são as conquistas de medalhas em etapas da copa do mundo e

um exercício catalogado com o nome de uma brasileira “dos Santos”.

Porém, o Brasil ainda necessita de uma medalha olímpica para adentrar

de vez no cenário internacional, e aqui deparamo-nos num problema antigo. Há

duas situações semelhantes: a vinda de um técnico japonês e depois um trio

ucraniano e uma única questão. Eles já saíram do nosso país, mas o que ficou

de legado? Estamos preparando ginastas para realizarem exercícios com

perfeição e de grande dificuldade a se destacarem no cenário internacional,

como tivemos a nossa Daiane dos Santos, mas e os nossos técnicos? Quem

está preparando? Seria necessário rever os objetivos para a contratação

desses técnicos estrangeiros, pois eles já se foram. E agora?

A iniciativa de trazê-los ao Brasil é excelente, precisamos disto e ainda

necessitamos deste intercâmbio. Pelo fato de Publio acreditar nisso, tomou

32

Técnico russo, mas por viver boa parte de sua vida na Ucrânia, considera-se ucraniano. 33

Técnica de ginástica e trabalha com Oleg desde 1994. 34

Coreógrafa e esposa de Oleg.

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essas iniciativas. Todavia, se faz necessário algo a mais, além da preparação

de ginastas, como por exemplo, formar técnicos mais capacitados. Muitos

cursos oferecidos foram também para os técnicos, mas ainda falta a

continuidade deste tipo de trabalho, pois é mais difícil capacitar com excelência

um técnico do que propriamente um ginasta.

No ECP Publio trabalhou de 1970 a 1989, e todas as suas ações, como

a vinda do técnico japonês, o fosso, visavam o desenvolvimento da ginástica,

não apenas do clube, mas também da ginástica paulista, como demonstrado

neste subcapítulo. O clube que iremos abordar agora não passou efetivamente

pelas mãos de Publio, mas o reflexo de suas ações no ECP e como membro

da FPG, fizeram também deste clube um importante divulgador e massificador

da modalidade no cenário paulista.

6.2 O Club Athlético Paulistano (CAP)

Como descrito anteriormente, ao pesquisar o acervo da FPG e também

do ECP, identificamos que este clube apesar do protagonista não ter atuado

como técnico, liderou várias batalhas com o ECP, principalmente na década de

80, sendo assim acredita-se na importância de se pesquisar a história deste

clube no âmbito da ginástica.

Algumas imagens foram encontradas em seu acervo (CAP), mas

infelizmente a maioria delas sem data ou qualquer referência do que se tratava,

por isso a análise das imagens bem como alguns fatos ocorridos foram

baseados nos relatórios anuais que o clube possui desde a sua fundação.

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O Club Athlético Paulistano foi fundado em 1900 (www.paulistano.org.br,

acesso em 14/11/2011) e de acordo com os relatórios anuais consultados em

seu centro de memória, a ginástica inicia a partir de 1926 pelo professor

Alberto Reichenbach. Neste ano, o professor realizou 758 exames físicos para

os participantes desta modalidade, um número expressivo que mostrava o

interesse dos associados em exercitar-se pela ginástica.

Nos relatórios anuais até 1934 não se tem claro o que e como eram

feitos os exercícios de ginástica, apenas que existia uma seção de ginástica,

sem aparelhagem específica. O relatório traz que o número de associados com

interesse na ginástica é muito grande, por isso pensa em melhorias para este

setor no ano seguinte.

A partir de 1935, começam a chegar alguns aparelhos e assim aproxima

o trabalho da ginástica de aparelhos. De acordo com o relatório de 1935, foram

instalados os seguintes aparelhos:

15 espaldares duplos;

01 cavalo para salto;

02 cordas ;

02 varas;

01 aparelho de parede com pesos;

01 punching;

05 colchões de lona.

Não existe uma confirmação do porquê deste tipo de material, e quem

realizou esta solicitação, mas acreditamos que estamos nos aproximando da

GA pelo aparelho cavalo para salto, o primeiro aparelho confeccionado por

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Jahn, dando origem a esta modalidade. Saltos e trabalhos de força que parece

ser a característica desejada com estes materiais.

Esta nova aquisição parece ter aumentado o interesse dos associados,

computando-se no ano de 1936, segundo o relatório anual do clube, uma

frequência de 8.404 pessoas entre homens, mulheres e crianças.

No relatório anual de 1937 este número chega ao total de 13.114,

atingindo o auge em termos numéricos, sendo

Homens: 3.882

Mulheres: 3.699

Crianças: 5.533

Este crescente número pode ser pelo fato de que nas escolas,

principalmente as de origem alemã, as aulas de Educação Física eram

norteadas pela ginástica, talvez por este motivo o elevado número de crianças.

Depois deste glorioso ano o número de participantes começa a

decrescer consideravelmente, o ultimo relatório onde se encontra registro desta

atividade é de 1956, cujo número registrado é de apenas 469 participantes. O

professor ainda é Alberto Reichenbach.

No relatório anual de 1965 aparece pela primeira vez o termo ginástica

de aparelhos (antiga ginástica olímpica), e os professores são: Roberto Eliazar

Nemer (Turma Masculina), Marilena Pacini (Turma Feminina).

Com a mudança da nomenclatura esta ginástica torna-se mais

específica, e toma o caráter competitivo efetivamente, tanto que um ano depois

a ginástica do clube se destaca no campeonato de estreantes, com um de seus

ginastas sagrando-se campeão. E em 1967 a equipe sagrou-se campeã

paulista de ginástica olímpica de estreantes.

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O campeonato de estreantes, organizado pela FPG, foi de extrema

importância na ginástica paulista, pois os clubes e ginastas começavam suas

competições por este campeonato, inclusive Publio foi um deles.

Este campeonato importante tinha por finalidades os seguintes itens:

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (sem data e nome do jornal).

A reportagem aponta também que estas finalidades foram inovações

idealizadas pelo professor Boaventura em sua gestão como presidente da FPG

(1965 -1968) onde Publio era seu diretor técnico.

Mais uma vez, deixa claro a vontade pelas suas ações o desejo da

disseminação e desenvolvimento da GA paulistana.

Em 1969, o relatório anual traz que mediante estes resultados, o clube

filia-se a FPG, oficializando sua modalidade perante a entidade que comanda a

ginástica paulista.

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O relatório anual de 1970 mostra que número de praticantes da

Ginástica Olímpica aumentou, e assim para melhorar as condições de seus

associados, monta um local apropriado e destinado tão somente a esta prática,

não somente um local como também novos aparelhos foram adquiridos.

Este fato pode ter ocorrido devido a conquista brasileira do tri-

campeonato mundial de futebol, esporte bastante praticado e valorizado pelo

CAP. Este clube procurava atender de forma igualitária a todas as modalidades

esportivas e principalmente para o atendimento a vontade de seus associados.

A duas imagens a seguir mostram uma sala equipada com alguns

aparelhos de Ginástica Olímpica como, colchões, barras paralelas simétricas,

argolas, potro, cavalo com alças, barra fixa, gavetas de plinto e espaldar.

Fonte: Imagem do acervo do Centro de Pró-memória do CAP (sem data).

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A imagem a seguir mostra, além do investimento realizado em relação à

aquisição de equipamentos, uma aula com alunos trabalhando elementos no

solo e também ao fundo na barra fixa.

A imagem parece demonstrar já um grupo de ginastas de treinamentos

para competições.

Fonte: Imagem do acervo do Centro de Pró-memória do CAP (sem data).

Para o CAP, a década de 70 foi marcada pela estruturação desta sala de

treinamento de Ginástica Olímpica, e também por resultados expressivos em

torneios estaduais, assim como a organização interna de alguns campeonatos,

seguindo a tendência mundial do método desportivo generalizado descrito

anteriormente.

Continuando a análise dos relatórios anuais do clube, o que se refere ao

ano de 1977 registra um número expressivo de participantes desta modalidade,

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chegando a 4.070 ginastas no setor feminino e 1.655 ginastas no setor

masculino, frequentando aulas de ginástica no CAP.

Este número voltou a ascender devido aos resultados expressivos do

clube em campeonatos, assim como resultante da ascensão do próprio esporte

na capital.

Publio nesta década (70 – 80) foi técnico do ECP e presidiu a FPG ou

assessorou a mesma, proporcionando campeonatos e cursos para maior

divulgação da modalidade, portanto mesmo não fazendo parte deste clube,

pelas suas ações, contribuiu indiretamente para o crescimento da GA no CAP.

Com um número maior de praticantes da modalidade o clube cria a

possibilidade de selecionar os melhores ginastas formando uma equipe mais

homogênea e competitiva e isto aparece na próxima década.

Na década de 80, o CAP trava disputas acirradas com ECP, como

mostra as reportagens da época. Nesta década, o CAP consegue bons

resultados tanto por equipes como individuais, desta maneira auxiliando o

crescimento e o desenvolvimento da modalidade em seu clube

consequentemente para a ginástica paulista.

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Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (sem data e nome do jornal).

Esta reportagem mostra a disputa entre esses clubes onde o CAP vence

em duas categorias no masculino por equipes até 13 anos e até 15 anos,

seguido pelo ECP nas duas categorias, e em terceiro lugar na categoria até 15

anos aparece o Clube Campineiro, comandado por Vilma, ex-ginasta e

capacitada por Publio.

No setor feminino o ECP se destaca vencendo as duas categorias, até

11 anos e até 13 anos. O CAP aparece apenas em 5º e 7ª lugar na categoria

até 13 anos, e mais uma vez o Clube Campineiro sob o comando de Vilma

sagrando-se vice-campeã na categoria até 11 anos. Vale ressaltar que o

feminino do ECP era comandado por Yumi Sawasato também discípula de

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Publio, que no individual até 13 anos as três primeiras colocações foram

conquistadas por suas ginastas.

No individual masculino destaques para os ginastas do CAP nas duas

categorias e mais uma vez o trabalho de Vilma aparecendo com a 3ª colocação

na categoria até 13 anos e 2ª colocação na categoria até 15 anos.

Aqui mais um exemplo desta batalha entre os clubes, agora na categoria

mirim, o CAP campeão no masculino e o ECP campeão no feminino por

equipes, no individual aparecendo mais uma vez o Clube Campineiro

sagrando-se campeão individual no masculino e a terceira colocação no

feminino.

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (sem data e nome do jornal).

Mais uma vez a disputa acirrada na competição e aqui ocorre uma

inversão nas colocações entre masculino e feminino. No masculino o CAP

vence a disputa, ficando na segunda posição o ECP. Já no feminino, o ECP

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vence deixando a segunda colocação para o CAP. Na imagem pode-se

verificar a professora Yumi observando sua ginasta35 na trave de equilíbrio.

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (sem data e nome do jornal).

O CAP se destacou junto ao ECP em vários torneios promovidos pela

FPG, alguns atletas dos dois clubes, bem como de outros mais, foram

35

Vanda Cristina de Oliveira, campeã individual geral. Possivelmente realizando uma estrela sem as mãos na trave de equilíbrio.

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escolhidos para fazer parte da seleção paulista e participaram do treinamento

com o técnico russo como descrito anteriormente.

Além desses dois clubes foi constatada a presença do Clube Campineiro

de Regatas e Natação, que não passou por despercebido nas competições

verificadas acima, sob o comando de Vilma mostraram sua força.

O fruto da organização de uma federação empenhada para o

desenvolvimento da GA paulista, comandada por Publio, promoveu várias

competições para auxiliar o desenvolvimento da GA.

Estes eventos promovidos pela FPG, e como verificados, muitas vezes

divulgados em nota de jornais, propiciaram maior visibilidade e por

consequência maior interesse em conhecer esta modalidade. Assim tanto

ginastas, técnicos e interessados, buscam cursos específicos para melhor

compreender a GA.

Este interesse atinge também a graduação em Educação Física, onde

os alunos buscaram a capacitação para trabalharem com esta modalidade.

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7. A UNIVERSIDADE: FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO

Publio foi instrutor e docente voluntário na Escola de Educação Física-

Universidade de São Paulo (EEF-USP), de ginástica de aparelhos e solo, junto

à XX Cadeira, de 1966 a 1972, e fez parte do corpo docente na EEF-USP de

1972 a 1985 como auxiliar de ensino contratado a título precário, junto ao

Departamento de Ginástica da EEF-USP, e professor assistente MS-2, junto ao

Departamento de Ginástica da EEF-USP, ministrando a disciplina de Ginástica

Olímpica de 1985 a 1990.

Durante esses anos, Publio também ministrou na EEF-USP, cursos de

especialização em técnica desportiva em Ginástica Olímpica de 1976 a 1990,

na mesma entidade de 1991 a 1993, promoveu e desenvolveu o curso de

atualização em Ginástica Olímpica.

Publio guarda com muito carinho e orgulho algumas anotações e

cadernetas que utilizava em seus cursos técnicos na USP, e explica como fazia

sua avaliação:

Tá tudo na caixa, tem até coisa da USP aqui também, do curso técnico que eu ministrava, tem o nome do pessoal aqui, dia letivo, notas (...) pessoal, ano letivo, nota final. (A avaliação era dividida da seguinte maneira:) avaliação prática 30(%), avaliação teórica 30(%), monografia 25(%), pasta sobre ginástica 05(%), conceito e aproveitamento 10(%) (obtendo) a média final 100(%).

No curso de graduação Publio adaptou uma relação de 40 exercícios

que selecionou de programas franceses, como fez na Escola da Polícia Militar,

e aplicou em suas aulas na graduação como mostra sua fala

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Isso aqui é uma série que eu fiz lá para a USP, nível 1, nível 2, nível 3 e nível 4, (ao realizar) 70% dos exercícios (o aluno avança para outro nível), 70% passa para esse (outro nível), 70% passa para esse (outro nível), isso aqui eu tirei lá do programa Francês e depois eu fiz uma adaptação Publiana, eu peguei só o solo e coloquei dez exercícios para cada um e (segue) uma sequencia (pedagógica), da cambalhota simples para frente você (chega) até um mortal (para frente), (da) cambalhota de costas você (chega até) um mortal de costa é só ir aumentado a dificuldade.

Para animar e incentivar os alunos da graduação e mostrar que eles

seriam capazes de realizar os movimentos da GA, Publio contava uma história,

a de um “urso” que realizava vários exercícios no solo e também em aparelhos,

muitos não acreditavam, mas

[...] (o urso) faz estrela sem as mãos no solo, o urso, faz rasteirinha no cavalo com alças, faz parada de mão nas argolas, parada de mão com rolo na paralela, faz giro gigante na barra fixa, e quando eu falava isso para os técnicos, a turma ria, eu falava, eu vou mostrar para vocês, vou provar! (Então) eu levava o filminho (provando o ato).

Apesar de sua cobrança técnica, Publio era querido pelos graduandos e

assim os cativou na graduação assim como em seus cursos técnicos, na qual

se formaram vários professores que trabalharam com a modalidade.

Se há um negócio que eu me gabo de ter feito, foram esses cursos técnicos na USP, foram mais de 10 anos de cursos técnicos, e (isso) ai foi trabalho por tabela, porque ensinei os professores a como ensinar e hoje você tem ai, uns 30 (professores) trabalhando na ginástica, mas na época (em) que eu (ministrei) os cursos 80% (dos professores) da ginástica de São Paulo, praticamente eram os professores que (fizeram) o curso comigo.

Na USP, Publio também realizou algumas pesquisas, em uma dessas

aproveitou a vinda dos soviéticos para concretizar um trabalho na área da

GA36.

36

Outras pesquisas foram realizadas por Publio, constam em anexo no seu currículo.

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[...] (quando) a equipe olímpica (russa) veio (ao Brasil) em 1981, eu peguei esses caras para fazer uma das minhas pesquisas, (junto) com meus alunos do Pinheiros, (mais) as quatro primeiras equipes dos JEBS, os 17 melhores do brasileiro, e então comparei os quatro grupos (com) quatro exercícios de flexibilidade.

Publio também promoveu cursos técnicos em GA na Universidade de

Mogi das Cruzes (UMC), na qual despertou o interesse em muitos alunos e

professores desta instituição. Um dos professores foi Eduardo Günther

Montero, que foi aluno de Publio e que foi meu técnico quando ginasta e

professor na graduação.

Outra a despertar seu interesse pela ginástica durante a estadia de

Publio na UMC foi a professora Myrian de Queiroz Telles Mossri, no qual seus

alunos foram incentivados e levados a Operação Juventude em 1975, cujos

alunos da graduação da UMC, foram voluntários para ajudar no bom

andamento da competição.

Reflexos dos cursos de capacitação técnica em GA promovidos por

Publio e a necessidade de mais estudos nesta área, em 1993, foi formado na

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a Equipe Universitária de

Estudos da Ginástica (EUNEGI), na qual as líderes deste grupo são Myrian

Nunomura e Vilma Lení Nista-Piccolo (eunegi.blogspot.com/> acesso em

17/11/2011).

Este grupo conta com os seguintes professores pesquisadores, Clayton

Xavier de Carvalho, Laurita Marconi Schiavon, Mariana Harumi Cruz

Tsukamoto, Michele Viviene Carbinatto e Paulo Daniel Sabino Carrara.

(eunegi.blogspot.com/> acesso em 17/11/2011).

Neste contexto, a Faculdade de Educação Física da UNICAMP, por

meio do grupo EUNEGI, promove seminários, cursos, intercâmbios

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internacionais e organização de eventos internacionais (Fórum e o Seminário

Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC))

(OLIVEIRA et.al., 2009).

Segundo os mesmos autores até o ano de 2009, foram defendidos nove

trabalhos referentes à área de GA, e que por sua característica docente a

maioria dos trabalhos tem enfoque na área escolar, havendo também outros

focados para o treinamento desportivo, história e códigos de pontuação.

Esta tendência dos graduandos e pós-graduandos em Educação Física

pode ser reflexo de fatores como: a cidade possui uma tradição neste esporte,

há mais de duas décadas; a modalidade é praticada na maioria dos clubes da

cidade; a faculdade oferece em sua grade curricular uma disciplina obrigatória,

quatro eletivas e mais quatro de aprofundamento em ginásticas nos seus

cursos de licenciatura e bacharelado; a faculdade possui um grupo universitário

de prática da ginástica (o grupo ginástico UNICAMP), assim como o grupo de

pesquisa em ginástica, dentre outros fatores.

Em consulta ao II SIGARC, que ocorreu nos dias 23 a 30 de junho de

2010, foram apresentados 50 trabalhos, sendo que 24 deles estavam

relacionados especificamente à área de GA, porém somente dois deles

referente à história, uma delas relacionada à história da GA no Rio Grande do

Sul e outra da professora Laurita Marconi Schiavon, que relacionava mais a

vida das ginastas no processo de sua formação desportiva

(www.ginasticas.com > acesso em 17/11/2011). Aqui então, justificamos mais

uma vez a necessidade de uma busca histórica da GA paulista e também

nacional.

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Numa pesquisa realizada por Nunomura et.al. (2010) foi verificado o

perfil e os motivos que levaram 46 indivíduos (34 Feminino e 12 Masculino), a

se tornarem técnicos de GA, nesta pesquisa foram constatados que todos

possuíam graduação em Educação Física e 20 deles possuíam especialização.

O mais interessante foi que muitos dos técnicos que ingressaram na

modalidade, não tiveram vivencia como ginastas de alto rendimento, isto pode

significar que o curso de Educação Física e os cursos de capacitação estariam

atendendo a necessidade da formação básica de técnicos de GA.

Então, os cursos de graduação em Educação Física estariam atendendo

as necessidades desta formação? Talvez para o trabalho de base da ginástica,

sim, mas para o alto rendimento, ainda não. Por isso, a necessidade do

empenho de grupos como EUNEGI, iniciativas das federações e confederações

na promoção de cursos de capacitação de técnicos, seminários e intercambio

internacional, são essenciais para o desenvolvimento da GA.

Segundo Nunomura et.al. (2010) e Luz e Miranda (2010), que confirmam

esta necessidade, precisamos de uma preparação mais adequada aos técnicos

de alto rendimento e ainda aponta outro problema que é antigo, os

equipamentos de GA, como mostra a reportagem a seguir.

Fonte: Acervo da Federação Paulista de Ginástica (Folha de São Paulo, 1978).

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Nesta reportagem, ano em que aconteceu a III Copa do Mundo de GA

no Brasil, o técnico do ECP o japonês Kenshi Ohara, fala dos problemas

apresentados no Brasil para maior aprimoramento e desenvolvimento da GA,

como a falta de mão de obra qualificada, aparelhos e instalações adequadas e

mais pessoas interessadas especificamente na modalidade.

As ações de Publio nas Universidades trouxeram grandes colaboradores

para a GA paulista, e esses, já formaram e incentivaram seus alunos a se

tornarem atuantes na GA, seja como técnicos em clubes e academias,

professores de escolas, professores universitários e pesquisadores na área da

GA. Quanto maior o número desses profissionais em todos estes setores,

quem sabe teremos maiores investimentos em equipamentos e locais

apropriados e adequados a esta prática?

Ainda hás muito o que fazer, mas tudo o que já foi feito, precisa ser

considerado e respeitado por todos nós, o reconhecimento de um trabalho

pode levar ao caminho do desenvolvimento, e mais do que isso, professores

que são exemplos, com ações, envolvimento e ética no esporte.

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8. O RECONHECIMENTO PÚBLICO

Nestor Soares Publio foi e é um personagem importante na história da

GA paulista e nacional, pelos seus feitos foi reconhecido em algumas situações

que levaremos em destaque.

Jornais da época enalteciam o trabalho realizado por Publio, neste

recorte é reconhecido como um grande incentivador da GA. Esta imagem

mostra Publio em um de seus cursos técnicos na USP.

Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio (03 de junho de 1985, jornal a Gazeta Esportiva).

Muitas reportagens foram mostradas nesta dissertação e muitas delas

sem a identificação do nome do jornal, porém tudo indica que o jornal que mais

publicou e ajudou a GA paulista foi a Gazeta Esportiva, pois a maioria das

reportagens obtidas nesta pesquisa que continham a identificação era deste

referido jornal.

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Na maioria das reportagens além de mostrar a ginástica, o jornal elogia

todo o trabalho da FPG, regida por Publio.

Pela sua atuação na universidade como descrito no capítulo anterior, a

Pontifícia da Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), presta uma

homenagem a Publio com a matéria “gente notável”37, falando do seu passado

e presente, sua trajetória de vida, sua história na Polícia Militar e a paixão pela

GA.

Em 2004 foi homenageado pela FPG com um torneio de GA, que leva

seu nome, sendo reconhecido por todo seu esforço pela GA paulista.

Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

37

Em anexo 2 matéria completa.

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Um torneio de massificação como idealizado e executado por ele em

1975 (Operação Juventude).

Outra competição de massificação realizada em Jundiaí, onde a

comissão técnica também prestou uma homenagem a Publio por seu trabalho

pela GA. Nesta ocasião prepararam uma grande mesa de café da manhã para

recepcioná-lo.

Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio (Publio de branco e comissão técnica ao lado).

Em 2007, foi homenageado pelo comitê organizador do 1º SIGARC,

sendo membro do comitê de honra, pelos seus feitos na GA. Infelizmente não

pode estar presente, mas compareceu em 2010.

Pela sua atuação na GA, Publio também foi reconhecido pela área da

Educação Física, na qual o CREF, no ano de 2010, inaugurou um auditório em

sua sede com o nome de Publio.

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Fonte: Imagem do acervo pessoal de Nestor Soares Publio.

Segundo Publio, muitas pessoas passaram pelas federações e as

confederações que administravam a ginástica no Brasil. Não podemos deixar

de citar esses personagens que fizeram parte da implantação e

desenvolvimento histórico pedagógico da Ginástica Artística Brasileira.

Os principais nomes no cenário nacional foram: Antonio Boaventura da

Silva, Enrique Wilson Libertário Rapesta e Siegfried Gunther Fischer (PUBLIO,

1998).

Dos frutos que Publio colheu, um deles foi a professora Yumi Yamamoto

Sawasato, que trabalhou ao seu lado no ECP, que tanto contribuiu e que ainda

contribui na GA paulista e nacional, representando o Brasil na arbitragem.

A professora Myrian Nunomura aluna de Publio na USP e sua sucessora

após sua aposentadoria e grande pesquisadora da área.

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A professora Vilma Lení Nista-Piccolo cujo aprendizado, disseminou a

modalidade nos clubes, escolas e universidades, que também já colheu seus

frutos como, por exemplo, a professora Laurita Marconi Schiavon e Eliana de

Toledo Ishibashi, grandes pesquisadoras da área de ginástica, que muito

aprenderam com Vilma e Publio, entre outros mais.

Bem como o autor desta dissertação, que se não fosse o trabalho destas

e de outras pessoas também nada saberia sobre a GA.

Não temos na história da GA brasileira um único pai e sim, vários

personagens que não mediram esforços para que esta modalidade

desenvolvesse no nosso país.

Por isso, vale a pena abordar neste capítulo o idealizador da GA na

Alemanha, com o objetivo de ressaltar a importância de que uma pessoa ou um

grupo de pessoas podem fazer a diferença.

Segundo Langlade & Langlade (1986), os principais nomes da Ginástica

alemã foram Basedow, Spiess, Vieth, Eiselen, Frieser, Massmann, Dien e

Lange. Porém, segundo Publio (1998), sua impulsão e seu desenvolvimento se

deram principalmente por Johann Friedrich Ludwig Christoph Jahn (1778 –

1852).

Destaca-se que a Escola Alemã foi também a primeira a incluir a

Ginástica no currículo escolar no mesmo plano das matérias chamadas

teóricas ou intelectuais (LANGLADE & LANGLADE, 1986).

Basedow, um pedagogo alemão, pensava num ensino atraente e

universal, destacando o maior valor que tem a educação sobre a instrução, ou

seja, construir um indivíduo e não apenas condicioná-lo. Concede aos

exercícios físicos e trabalhos manuais uma grande importância, orientando que

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estes devessem ocupar uma parte considerável da jornada escolar. Suas

ideias sobre educação estavam centradas numa neutralidade religiosa, e que a

educação fosse para todos, para que inclusive os pobres um dia pudessem se

tornar pedagogos.

Guts Muths foi o responsável pela pedagogização da ginástica,

constituindo sua base sistemática a uma ginástica educativa. Foi considerado o

Pai da ginástica pedagógica moderna e com seus ideais e algumas obras como

“A ginástica para a Juventude” (1793) e “Livro da Ginástica para os Filhos da

Pátria” (1817), destacava o nacionalismo e a nobreza do povo alemão. Com

estas obras Guts Muths influencia outros pedagogos, principalmente Jahn

(SIGOLI, DE ROSE JR., 2004).

Johann Friedrich Ludwig Christoph-Jahn, denominado por vários autores

como o pai da ginástica (Turnvater), nasceu no dia 11 de agosto de 1778, em

Lanz, Prignitz, Alemanha, vindo a falecer em 15 de outubro de 1852. Filho de

um pastor luterano foi educado pela Sagrada Escritura e no luteranismo

(PUBLIO, 1998).

Ainda segundo este autor, apesar de seus pais se dedicarem aos

estudos de Jahn, este não tomou um caminho regular, em 1795 fugiu do Liceu

e surgiu no ano seguinte, na Universidade de Halle, para estudar Teologia.

Como geralmente entrava em conflitos com os colegas de sala, refugiou-se em

uma gruta para dar continuidade em seus estudos e acabou tornando-se

autodidata na Literatura alemã.

Jahn foi professor polivalente no “Instituto Palmann”, em 1806 foi

nomeado professor da Universidade de Greifswald, em 1808 foi nomeado pelo

Rei da Prússia professor de História da Universidade de Bonn e em 1817 foi

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honrado pelas Universidades de Halle e Kiev com o título honorífico de doutor

em Filosofia (PUBLIO, 1998).

Brochado e Brochado (2005), traz ainda que em Berlin, Jahn lecionou na

“Berlinisch-Kollnisches Gymnasium” e “Plamanns Anslat”.

Influenciado por Guts Muths “pai da ginástica pedagógica alemã”, pelo

trabalho realizado pelos “Charistitis”, a utilização do equilíbrio pelos acrobatas,

os exercícios profissionais dos marinheiros como escalar e trepar em mastros.

Com as Cruzadas da Idade Média a arte do tiro, o arco, da cavalaria a esgrima,

Jahn reúne todas estas técnicas e idealiza um movimento ginástico para atingir

seus objetivos, marcamos aqui o nascimento de um ideário chamado “turnen”.

Que de acordo com a história, chega ao Brasil pelo Rio Grande do Sul,

como descrito, pesquisado e registrado no livro do nosso protagonista

“Evolução Histórica da Ginástica Olímpica”

Durante o trajeto percorrido nesta história, de 1950 a meados de 2000

conhecemos melhor quem foi Nestor Soares Publio e sua importância no

desenvolvimento da GA paulista, e, por conseguinte brasileira.

Nestor Soares Publio pelas suas diversas ações, assim como seus

amigos Rapesta e Fischer, professor Boaventura e suas sementes, em

diversos setores contribuiu de maneira eficaz na construção de uma

modalidade no nosso país, a GA. Um dos principais precursores desta

modalidade em território paulista e brasileiro deve ser lembrado e estudado

para melhor compreendermos os fatos ocorridos e as consequências do que

temos e do que somos em GA na atualidade, assim como os outros

personagens que também fazem parte desta história.

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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pesquisar sobre a história de uma modalidade se torna relevante, na

medida em que o processo de investigação avança, ou seja, a descoberta de

novas histórias, documentos, imagens, livros e pessoas que sabem de algo por

que viveram aquele momento, podem trazer à tona uma reconstrução do

passado e uma reavaliação de tudo o que está acontecendo no presente. Se

hoje estamos neste patamar é porque algo foi feito para que isto acontecesse,

ou até mesmo deixou de ser feito. Então o passado pode mostrar

acontecimentos relevantes para um possível entendimento da atualidade, não

como justificativa, mas como reflexo de ações geradas no passado.

Portanto, a busca pela história e pela historicidade dos fatos, e de seus

atores, se torna intrigante na medida em que realizamos novas descobertas, ou

até mesmo quando olhamos para o passado com outra lente para tentarmos

entender o contexto de outra maneira, por outro olhar, por outra visão, na

tentativa de enriquecer o presente e construir o futuro.

Esta pesquisa mostrou que há pessoas e entidades que podem fazer a

diferença na construção e no desenvolvimento de uma modalidade esportiva.

Apesar de todos os contratempos e obstáculos que o próprio percurso nos traz,

com organização e vontade conseguimos atingir os objetivos propostos.

Nestor Soares Publio iniciou sua carreira na Escola da Força Pública de

São Paulo (antiga Polícia Militar), e, por consequência, iniciou sua vida na GA.

Pela sua habilidade e facilidade em realizar exercícios ginásticos, logo chamou

a atenção de seus superiores no Curso de Instrutores de Educação Física na

Escola da de Educação Física da Polícia Militar em 1959, levando-o então a se

tornar instrutor da instituição, conquistando aqui seu primeiro objetivo: o de se

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tornar professor. Principalmente a partir deste momento, sua busca pelo

entendimento da GA o levou para o trajeto da organização, atuando

inicialmente na FPG e mais tarde na CBG.

Na organização e difusão da GA em nível estadual e nacional, contou

com o auxílio e ensinamentos de Siegfried Günther Fischer e Enrique Wilson

Libertário Rapesta, apaixonados pela mesma modalidade. Formaram um trio, e

juntos articularam muitas ações que contribuíram para o desenvolvimento da

GA no cenário paulista, bem como brasileiro e também internacionalmente.

Uma dessas ações ocorreu em 1975 com a Operação Juventude, um

campeonato de massificação promovida pela FPG, idealizada e concretizada

por Publio, contando com a participação de 3000 atletas de diversas idades e

ainda a participação de graduandos em Educação Física da USP, da UMC e da

PM de São Paulo. Se hoje o principal evento paulista de massificação é o

Troféu São Paulo, acreditamos que o pontapé inicial foi proporcionado por

Publio, quando realizou este evento, e assim outros estados seguiram o

exemplo criando seus campeonatos de massificação.

Idealizado pelo professor Antonio Boaventura da Silva, Publio

concretizou iniciando as categorias de base, como mirim, infantil e infanto-

juvenil, não somente para participarem de campeonatos de massificação, mas

também para campeonatos paulista e brasileiro, formando uma base melhor na

tentativa de conquistas internacionais e que algumas delas foram

conquistadas.

A III Copa do Mundo de GA, realizada em São Paulo, foi uma conquista

de Fischer, pela sua influência política conseguiu trazer este evento ao Brasil,

onde a competição foi organizada nos moldes internacionais pelas mãos de

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Publio, demonstrando não somente aos brasileiros, mas também ao mundo,

que o Brasil também tinha condições de realizar um evento desta magnitude.

Na CBG, foi responsável por trazer o primeiro Curso Internacional de

Arbitragem, formando nossos primeiros árbitros internacionais, inclusive o

próprio, abrindo as portas para que a GA brasileira fosse representada também

no âmbito da arbitragem, idealizada por ele e concretizada pelas mãos de

Fischer.

Em sua passagem como supervisor técnico do departamento de

ginástica e técnico da equipe de ginástica do ECP, trouxe o técnico japonês

Kenshi Ohara, que muito contribuiu com seus conhecimentos sobre a GA, e

que segundo Publio, se os ginastas melhoraram seu nível técnico, boa parte

desta evolução foi mérito de Ohara. Ao reconhecer o trabalho do técnico

japonês, constatou o resultado positivo de sua contratação, como as

conquistas de João Confessori, Abramides, Schick entre outros ginastas.

Anos depois, em 1999, uma situação semelhante ocorre com a

contratação do trio Ucraniano, Oleg Ostapenko, Nadia Ostapenko e Iryna

Ilyashenko. Esta equipe trabalhou com a seleção brasileira durante dois ciclos

olímpicos, com objetivo nos Jogos Olímpicos em Pequim. Talvez, mais um

exemplo seguido da iniciativa de Publio que ocorreu em 1973 com contração

do técnico japonês já descrito acima.

Por sua atuação como técnico, pelos cursos de capacitação e também

como professor na graduação da USP, muitos alunos tornaram-se agentes

disseminadores desse conhecimento em clubes, escolas e academias.

Em depoimento Publio disse: “olha, acho que 80% dos professores que

estão trabalhando com GA passaram pelas minhas GARRAS”.

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Essa garra foi demonstrada por Publio em todo trajeto da sua vida na

GA, pois não foi nada fácil desenvolver esta modalidade como verificamos na

pesquisa e também em sua fala:

(se) hoje temos os campeonatos (de diversas categorias), que eu acho que isso é a base da nossa ginástica, (e é) por isso que eu (falo) daquela máfia da ginástica (que) foi com Fischer, Rapesta e eu, que houve toda esta transformação, nós comemos o pão que o diabo amassou, pagamos para trabalhar (para difundir a ginástica) [...]

Nestor Soares Publio, sem dúvida nenhuma, foi e é um dos maiores

precursores e incentivadores da GA em território nacional; com muito afinco,

dedicou boa parte da sua vida em prol da GA brasileira, buscando informações

nos países desenvolvidos e trazendo para o nosso país, disseminando este

conhecimento para todas as pessoas que estivessem interessadas em buscar

maior conhecimento desta modalidade. Pelas suas ações, muitos eventos

aconteceram, muito foi feito por este senhor para que a GA se tornasse uma

modalidade de grande repercussão nacional e este entusiasmo foi propagado e

muitos alunos nessas décadas abarcaram no processo de entendimento e

desenvolvimento da GA brasileira.

O que foi apresentado no recorte limitado pela pesquisa, e que merece

mais atenção, é que muitas equipes estrangeiras e técnicos internacionais

vieram ao Brasil para auxiliar nossos ginastas e técnicos a aprender as práticas

da GA, e algumas dessas situações foram proporcionadas pelo nosso

protagonista.

Necessitamos ainda desse tipo de intervenção internacional. O Brasil

ainda é um país que anda a passos lentos no desenvolvimento desta

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modalidade, pois as dificuldades que se passavam há cinquenta anos parecem

até mais intensas agora, inclusive na organização federativa.

Seria necessário que esses técnicos, ao chegar em nosso país, viessem

para preparar novos técnicos e não apenas novos ginastas. Caso contrário,

ficaríamos estacionados no tempo, pois só transformar um ginasta campeão e

depois voltar ao seu país de origem, não é o suficiente para a nossa real

evolução. Como poderemos dar continuidade a este processo sem a

capacitação de nossos técnicos? Só poderemos evoluir se tivermos condições

de trabalhar com tempo e continuidade; é um processo de formação e

capacitação que levaremos anos para conquistar e temos esta capacidade.

Desta forma, acredita-se que é possível disseminar a GA em todo

território nacional, pois com o maior número de técnicos capacitados teremos

maior chance de abranger este imenso país. Somos ricos em todos os

sentidos, a diversidade pela miscigenação no nosso país é gigantesca. Sem

dúvida, há condições de selecionar talentos para esta modalidade que ainda

não tem tradição, mas pode ter, e estamos mostrando isto mesmo com

dificuldades.

Além da capacitação, também foi mostrado nesta pesquisa que há

aproximadamente 30 anos, sofríamos com condições inadequadas para

treinamento, como equipamentos e locais apropriados, e que esta situação

parece não ter mudado, pelo fato de ainda sofremos com o mesmo problema.

Então, ainda há a necessidade da evolução de muitos fatores, para

efetivamente disseminar e desenvolver esta modalidade no Brasil.

A GA no Brasil ainda esta concentrada nos territórios onde praticamente

iniciou no processo de sua entrada, a história do turnen, nomenclatura de

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origem da GA, indica a entrada pelo sul do Brasil, depois em São Paulo e

também no Rio de Janeiro, e se pensarmos nas potências que representam a

GA brasileira estamos praticamente no mesmo espaço.

Então, os trabalhos de Publio, Rapesta, Fischer, Boaventura e outros

amantes da ginástica, não podem parar por aqui. Muitos de seus discípulos

estão trabalhando para disseminar a modalidade, mas acreditamos que só isso

não é o suficiente.

Uma integração e união de forças das Confederações, Federações,

Clubes, Escolas, Academias, Universidades, Setores privados e o Governo

brasileiro, são necessárias para o desenvolvimento da GA no Brasil, e isto

Publio e seus amigos tentaram realizar, pois estiveram presentes em cargos

importantes em quase todos estes setores. Sem esta união se torna difícil a

realização de um trabalho sério, digno e merecedor para a GA nacional.

Por isso, mais pesquisas são necessárias para auxiliar no

desenvolvimento desta modalidade esportiva, tanto no âmbito da técnica

específica de movimento e treinamentos, bem como históricos, pois se não

soubermos o que já foi feito, como saber o que fazer?

“Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas sim fazer uma história nova” (Mahatma Gandhi)

Para construirmos uma nova história precisamos aprender com o

passado, só assim poderemos tomar ações para proporcionar o progresso da

modalidade. Sendo assim os feitos do nosso protagonista em vários setores,

clubes, federações, confederações e universidades, poderão servir de exemplo

para o desenvolvimento da GA paulista e nacional.

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da Faculdade de Educação Física da UNICAMP. Revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v.7, n.1, p.41 – 60, 2009. PUBLIO, N. S. Evolução Histórica da Ginástica Olímpica. Guarulhos, SP:

Phorte Editora, 1998. QUEIROZ, M.I.P. Relatos orais: “indizível” ao “dizível”. In: Von Simson, O.M. (org. e intr.) Experimentos com histórias de vida (Itália – Brasil). São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, Enciclopédia Aberta de Ciências Sociais, v.5, p.68-80, 1988. RAMOS, J. J. Os exercícios físicos na história e na arte. IBRASA, 1982.

SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE GINÁSTICA ARTÍSTICA E RÍTMICA DE COMPETIÇÃO (SIGARC). Disponível: http//www.ginasticas.com. Acesso em: 17 nov. 2011. SCHIAVON, L.M. Ginástica Artística feminina e história oral: a formação desportiva de ginastas brasileiras participantes de Jogos Olímpicos (1980-2004). 2009. 357f. Tese (Doutorado em Educação Física). Universidade

Estadual de Campinas, São Paulo. SEYFERTH, G. Nacionalismo e identidade étnica. Forianópolis: Fundação

Catarinense de Cultura, 1982. SIGOLI, M. A., DE ROSE JR., D. A história do uso político do esporte. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Brasília, v.12, n.2, p.111-119. 2004. SIRIANI, S. C. L. Uma São Paulo alemã: vida quotidiana dos imigrantes

germânicos na região da capital (1827-1889). São Paulo: Arquivo do Estado, Imprensa Oficial, 2003. SOARES, C. L. Educação Física: raízes européias e Brasil. 4. Ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. TESCHE, L. O turnen, a educação e a educação física nas escolas teuto-brasileiras, no Rio Grande do Sul: 1852-1940. Ijuí:Ed. Unijuí, 2002.

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______. Elementos formadores de uma identidade. 1º ENCONTRO ALESDE. “Esporte na América Latina: atualidade e perspectivas” UFPR - Curitiba - Paraná – Brasil. 30, 31/10 e 01/11/2008 THOMAS, J.R.; NELSON, J.K.; SILVERMAN, S. J. Métodos de Pesquisa em Atividade Física; tradução Denise Regina de Sales, Márcia dos Santos

Dornelles. 5ª ed., Porto Alegre: Artmed, 2007. THOMPSON, P. A voz do passado: história oral. 3ed; Editora Paz e Terra:

Rio de Janeiro; 2002. TOLEDO, E. de. Proposta de conteúdos para a ginástica escolar: um paralelo com a teoria de Coll. 1999. 215f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.

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ANEXOS

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ANEXO I – CURRÍCULO DE NESTOR SOARES PUBLIO

1. IDENTIFICAÇÃO

NESTOR SOARES PUBLIO, nascido aos três de setembro de 1935, na cidade

de Guapiaçú, Estado de São Paulo, brasileiro, casado, filho de Polycarpo

Soares Publio e de Alzira Henrique de Souza Publio, residente à Rua Vinicius

de Moraes, nº 71, Jardim Liberdade, Jundiaí, São Paulo, CEP: 12315-475, R.G.

1.757.154 e telefone (11) 3379-7035.

2. FORMAÇÃO ACADÊMICA

2.1. Graduação

Curso de Instrutor de Educação Física (CIEF), feito na Escola de Educação

Física de Polícia Militar do Estado de São Paulo (EEF-PMESP), no ano de

1959, registrado como Professor de Educação Física no Ministério de

Educação e Cultura, sob o número 4.614 (Decreto Lei nº 1.043 - D.O. da

União de 21/X/1.969).

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2.2. Especialização

2.2.1. Curso de Mestre D'Armas (CMA) feito na EEF- PMESP, em 1969.

2.2.2. Curso de Técnica Desportiva em Ginástica Olímpica, feito na EEF-

USP, em 1971.

2.2.3. Curso Continental de Arbitro de Ginástica Olímpica, promovido

pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e Federação

Internacional de Ginástica (FIG), realizado no Rio de Janeiro em

fevereiro de 1976.

2.2.4.Curso de Aperfeiçoamento e Técnica Desportiva Biomecânica,

promovido pelo Ministério de Educação e Cultura e realizado pela EEF

USP de 19/IV a 10/VII/1976.

2.2.5. V Curso Intercontinental de Árbitros de Ginástica Olímico

promovido pela FIG e realizado em Moscou, em janeiro de 1980.

2.2.6. Curso Técnico Internacional de Ginástica Olímpica promovido

pela Confederação Brasileira de Ginástica, realizado em Belo Horizonte,

Minas Gerais, de 30/VII a 07/VIII/1988.

2.2.7. Curso Nacional e Continental de Árbitros de Ginástica Olímpica,

promovidos pela CBG e FIG, realizados em Belo Horizonte, Minas

Gerais, no período de 04/III a 13/III/1989.

2.2.8. Curso Estadual de Arbitragem, da Federação Paulista de

Ginástica, para reciclagem dos árbitros, para o ciclo olímpico 1997/2000,

realizado em São Paulo, em fevereiro de 1997.

2.3. Pós-Graduação (Strictu Sensu)

2.3.1. Curso de Pós-Graduação em Educação Física-Nível Mestrado,

realizado na EEF-USP, em 1977/1978, com defesa da tese:

"Flexibilidade e desenvolvimento técnico na ginástica olímpica", em

30/XI/1983.

2.3.2. Curso de Mestrado na UNICAMP, em Campinas, S.P., como aluno

especial na disciplina de História da Educação Física no Brasil, realizado

no segundo semestre de 1993, sob orientação do Professor Dr. Ademir

Gebara.

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3. FORMAÇÃO PROFISSIONAL

3.1. Técnico de Ginástica Olímpica das equipes da EEF-PMESP (1960/68),

do Tênis Clube Paulista (1963/71), e do E.C. Pinheiros (1970/89).

3.2. Diretor Técnico de Federação Paulista de Ginástica (FPG) nas diretorias

de 1960/61, 1964/65, 1972/73 e 1974/75.

3.3. Presidente da Federação Paulista de Ginástica durante as gestões de

1968/69, 1970/71 e 1979/80/81.

3.4. Membro do Conselho de Assessores de Ginástica da Confederação

Brasileira de Desportos de 1968 a 1973 e de 1977 a 1979.

3.5. Presidente do Conselho de Assessores de Ginástica da Confederação

Brasileira de Ginástica (CAG-CBD), no triênio 1974/75/76.

3.6. Técnico da Seleção Brasileira de Ginástica Olímpica, nos IV Jogos Luso

Brasileiros realizado no Brasil em 1969, e no Campeonato Mundial de Varna,

Bulgária em 1974.

3.7. Arbitro de ginástica olímpica nos campeonatos da Federação Paulista de

Ginástica, da Confederação Brasileira de Ginástica e da Federação

Internacional de Ginástica, tendo atuado nos IV Jogos Pan-americanos

realizados em São Paulo em 1963, no II Campeonato Sul-americano

realizado em Porto Alegre em 1969, no Campeonato Mundial de Forth-Worth,

Texas, em 1979 e nos Jogos Olímpicos de Moscou, na União Soviética em

1980.

3.8. Chefe da Delegação Brasileira de Ginástica Olímpica, nos Jogos Pan-

americanos de Cali, Colombia, em 1971, e México em 1975, Campeonato

Mundial, em Moscou, em 1981 e no Campeonato Mundial de Stuttgart, na

Alemanha, em 1989.

3.9. Comandante e Diretor de Ensino da Escola de Educação Física de

Polícia Militar do Estado de São Paulo, de 1976 a 1981.

3.10. Organizador e Diretor Técnico da Copa do Mundo de Ginástica

Olímpica, promovida pela CBG e FIG , realizada em São Paulo, em 1978.

3.11. Delegado do Brasil, nos Congressos da Federação Internacional de

Ginástica, realizados em Berna, Suíça (1975), Estrasburgo, França (1978),

Moscou, União Soviética (1981) e Seul, Coréia do Sul (1988).

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3.l2. Coordenador de Ginástica Olímpica e Organizador dos Jogos Estudantis

Brasileiros (JEBs), promovidos pelo DED/MEC, em Maceió-Alagoas, em

1974 e em São Luiz do Maranhão, em 1988.

3.13. Professor dos Cursos de Especialização em Técnicas Desportivas-

Ginástica Olímpica, na EEF-USP, de 1976 a 1990.

3.14. Professor dos Cursos de Atualização em Ginástica Olímpica, na EEF-

USP em 1991, 1992 e 1993.

3.15. Curso para dirigentes del deporte dentro Del programa de la

Escuela Itinerante de Administration de Solidaridad Olímpica, promovido

pelo Comitê Olímpico Internacional de 01 a 06 de abril de 1991, em São

Paulo, Brasil.

3.16. Arbitro de Ginástica Olímpica, do Campeonato Brasileiro Interclubes

Adulto – Enrique Rapesta, promovido pela Confederação Brasileira de

Ginástica, e realizado em Porto Alegre, RS, de 26-28 de novembro de 1998.

3.17. Coordenador da Mesa Redonda sobre a “Participação Brasileira nos

Jogos Pan-americanos 99”, na SEMANA DOS JOGOS PAN-AMERICANOS

99, promovida pelo Departamento de Esporte da EEFE-USP, no dia 20 de

agosto de 1999.

4. PARTICIPAÇÃO EM COMISSÕES

4.1. Membro da Comissão de Coordenação dos Cursos de Especialização

em Técnica Desportiva da EEF-USP, nomeado pela Portaria 04/1983.

4.2. Membro da Comissão de que trata o artigo 10 da Portaria 11/83, de

24/05/83, para outorga do Prêmio "Mérito Universitário" no exercício de 1984,

nomeado pela Portaria 22/84, do Sr. Diretor da EEF/USP.

4.3. Membro da Comissão de Supervisão dos Cursos de Especialização em

Técnicas Desportivas da EEF-USP no ano de 1985, conforme Portaria 2/85

de 15 de fevereiro de 1985.

4.4. Membro da Comissão de Biblioteca da EEF-USP, nomeado pela Portaria

07/1988, de 14 de abril de 1988.

4.5. Membro da Comissão de Pesquisa e Extensão Universitária da EEF-

USP, nomeado pela Portaria 35/88, de 27 de novembro de 1988.

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4.6. Presidente da Comissão de Sindicância, designado pela Portaria 37/89

do Senhor Diretor da EEF/USP referente a registro de diplomas, junto à

Reitoria.

4.7. Presidente da Comissão de Sindicância, designado pela Portaria 50/89

do Senhor Diretor da EEF/USP referente a furto de cronômetro do patrimônio

da EEF/USP.

4.8. Membro da Comissão Especial encarregada de coordenar os trabalhos

para participação na "90 Japan Inter-University women's EKIDEN

Championship", nomeado pela Portaria 16/90, de 09/V/1990.

4.9. Membro da Comissão para elaboração do questionário de avaliação

discente dos professores, designado pela Portaria DG/001/90 do Chefe do

Departamento de Ginástica da EEF/USP.

4.10. Presidente da Comissão de Sindicância designada pela Portaria 20/90

do Senhor Diretor da EEF/USP referente a furto na sala de audiovisual.

4.11. Presidente da Mesa Receptora de votos para escolha do Vice-Diretor

da EEF/USP, designado pela Portaria 40/90 do Senhor Diretor da EEF/USP.

4.12. Presidente da Comissão para Cursos de Extensão Universitária –

Técnicas Esportivas, designado pelo Chefe do Departamento de Esporte da

EEF/USP, conforme Portaria EFE-01/92.

4.13. Membro da Comissão Julgadora para Concurso de Docente no

Departamento de Esporte, designado pela Portaria EFE-03/92, do Chefe do

Departamento de Esporte.

4.14. Presidente da Mesa Receptora e Apuração de Votos da eleição do

Vice-Diretor da EEF/USP, conforme Portaria 03/92 do Senhor Diretor da

EEF/USP.

4.15. Presidente da Comissão Julgadora de Licitação da EEF-USP, para o

exercício de 1992, designado pela Portaria do Diretor de 4/V/92, publicada no

D.O.E. de 6/V/92.

4.16. Membro da Comissão Organizadora do I Encontro de História da

Educação Física e do Esporte promovido pela UNICAMP, no período de 28 a

30 de outubro de 1993, em Campinas, S.P.

5. ATIVIDADE CIENTÍFICA

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5.1. Participação em Congressos

5.1.1. XXI Congresso Mundial de Medicina no Esporte, promovido pela

Federação Internacional de Medicina Esportiva, realizado em Brasília,

Distrito Federal, de 07 a 12/IX/1978, com apresentação de trabalho.

5.1.2. Simpósio Paulista de Educação Física Adaptada promovido pela

EEF-USP, realizado no CEPEUSP, em dezembro de 1986, como

congressista.

5.1.3. I Seminário de Pesquisa em Educação Física e em Esporte:

Situação e Perspectivas, promovido pela EEF-USP, realizado em

março de 1990, participando como expositor de tema livre.

5.1.4. XVII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, promovido

pelo CELAFISCS da Escola Superior de Educação Física de São

Caetano do Sul, realizado de 07 a 10/V/1990, com apresentação de

trabalho.

5.1.5. I Congresso Internacional de Medicina do Esporte, promovido

pelo Panathlon Internacional realizado nos dias 16 e 17 de outubro de

1992, em São Paulo.

5.1.6. I Simpósio de Psicologia do Esporte, promovido pelo

Departamento de Esporte de EEF/USP, no período de 25 a 28 de

novembro de 1992.

5.1.7. IV Congresso Nacional de Biomecânica, promovido e realizado

pelo Departamento de Biodinâmica do Movimento e pela EEF/USP de

2 a 4 de dezembro de 1992, em São Paulo.

5.1.8. I Encontro de História da Educação Física e do Esporte,

promovido pela Faculdade de Educação Física da UNICAMP, realizado

de 28 a 30 de outubro de 1993, em Campinas, S.P., com apresentação

de trabalho.

5.1.9. Seminário Internacional EEFE-USP – CPG/PET-APES,

realizado pela Comissão de Pós-Graduação e pelo PET-CAPES, da

EEFE/USP, no dia 29 de outubro de 1998.

5.2 Trabalhos publicados

5.2.1 PUBLIO, N.S. Histórico da Ginástica Olímpica. Desportos.

2,(17):11-4, 1977.

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5.2.2. PUBLIO, N.S. Treinamento de Ginástica Olímpica para ginastas

de elite. Desportos, 2 (18): 21-2, 1977.

5.2.3. PUBLIO, N.S. et alii. Plano de Ação Desportiva Ginástica

Olímpica. São Paulo, Secretaria Municipal de Esportes, 1980.

5.2.4. PUBLIO, N. S. Histórico da Ginástica Olímpica. A Gazeta

Esportiva, p.24-5, São Paulo, Caderno de Esportes, 26/04/87.

5.2.5. PUBLIO, N.S. Flexibilidade e desenvolvimento técnico na ginástica

olímpica. Revista Paulista de Educação Física, 2 (2): 45-47, 1988.

5.2.6. PUBLIO, N.S. Julgar: um dos grandes problemas. Gazeta

Esportiva,p.11 São Paulo, 11 set 1988.

5.2.7. PUBLIO, N.S. Flexibilidade e desenvolvimento técnico na ginástica

olímpica. Revista Paulista de Educação Física, 4 (1/2):58, 1990.

5.2.8. PUBLIO, N.S. Mudanças na ginástica, depois de Seul. Gazeta

Esportiva, p.8, São Paulo, 13 ago 1991.

5.2.9. PUBLIO, N.S. 40 ans de gymnastique au Bresil. World of

Gymnastics.Moutier, n.2 p.27, 1991.

5.2.10 PUBLIO, N.S. História da Ginástica Olímpica. Revista Brasileira

de Ciência e Movimento. v.6, n.1, p.88-90, 1992.

5.2.11 PUBLIO, N.S. Ginástica Olímpica: Um século de história. 1881-

1991. Coletânea do I Encontro de História da Educação Física e do

Esporte. FEF/UNICAMP, 1993.

5.2.12 PUBLIO, N.S. & TANI, G. Aprendizagem de habilidades motoras

seriadas da ginástica olímpica. Revista Paulista de Educação Física, 7

(1) : 56-68, 1993.

5.2.13. PUBLIO, N.S. Evolução Histórica da Ginástica Olímpica, Phorte

Editora, São Paulo, 1998.

6. ATIVIDADE DIDÁTICA

6.1. Instrutor de Educação Física Geral, Ginástica em Aparelhos e Natação,

nos Cursos da EEF-PMESP de 1960 a 1968

6.2. Instrutor e Docente Voluntário na EEF-USP, de ginástica de parelhos e

solo, junto à XX Cadeira, de 1966 a 1972, nos termos do art. 104 do decreto

nº 52.326/69.

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6.3. Auxiliar de Ensino contratado a título precário, junto ao Departamento de

Ginástica da EEF-USP, de 1972 a 1985.

6.4. Professor Assistente MS-2, junto ao Departamento de Ginástica da EEF-

USP, ministrando a disciplina de ginástica olímpica de 1985 a 1990.

6.5. Conferencista do evento "ESPORTE E JORNALISMO", promovido pelo

Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP, em 9 de junho de

1988, sobre o tema: Ginástica Artística.

6.6. Professor do Curso Comunitário de ginástica olímpica realizado na EEF-

USP, no segundo semestre de 1989.

6.7. Palestrista na Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual

de Campinas, sobre o tema: Uma visão geral da situação da ginástica

olímpica em vários níveis: estadual, nacional e internacional, proferida em 8

de abril de 1992.

6.8. Professor do Curso Comunitário de ginástica Olímpica para crianças da

comunidade, no primeiro semestre de 1992, com realizou de pesquisa, já

concluída e publicada.

6.9. Professor do Curso de Atualização Técnica em ginástica olímpica,

realizado na EEF/USP, durante o ano de 1992.

6.10. Professor do Curso de Atualização e Iniciação Pedagógica em ginástica

olímpica no segundo semestre de 1993.

6.11.Professor do Curso Comunitário de ginástica olímpica para crianças da

comunidade, no primeiro semestre de 1993, com realização de pesquisa, em

fase de conclusão.

6.12.Professor Assistente junto ao Departamento de Esporte da EEF/USP,

ministrando a disciplina de ginástica olímpica nos cursos de graduação em

Educação Física de 1991 a 1993.

6.13.Professor Assistente junto ao Departamento de Esporte da EEF/USP,

ministrando a disciplina de ginástica olímpica no Curso de Bacharel em

Esporte, no segundo semestre de 1993.

7. CARGOS ATUAIS

7.1. Professor Assistente MS-2 lotado no Departamento de Esporte da EEF-

SP, nomeado em RTC, em caráter permanente conforme parecer do CERT

259/86, publicado no D.O. do Estado em 15/II/86.

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7.2. Arbitro Internacional de ginástica olímpica, brevetado pela Federação

Internacional de Ginástica, para o período 1988-1992.

7.3. Diretor de Desportos Terrestres da Diretoria do Panathlon Clube de São

Paulo, eleita para o biênio 1994-95.

7.4. Membro do Conselho Fiscal da Federação Paulista de Ginástica, eleita

para o período 1994-96.

8. OUTROS DADOS

8.1. Coronel da Reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo (D.O.

nº79 de 01/V/1985).

8.2. Aposentado como Professor Assistente, Referência MS-2, PG-QDUSP,

em RTC, lotado na Escola de Educação Física e Esporte da USP, a contar

de 29/06/99 (D.O.E. de 27/08/99, p.38).

8.3. Professor, voluntário, na disciplina de Ginástica Olímpica, no Curso de

Bacharel em Esporte, na EEFE-USP, no segundo semestre de 1999.

8.4. Conselheiro e Assessor da Diretoria do CREF-4/SP

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ANEXO II – MATÉRIA “GENTE NOTÁVEL” PUC-SP

Publio: passado e presente em poucas palavras

Falar sobre o antigo e o novo da vida dos nossos entrevistados não é uma tarefa fácil. Algumas vezes é até árdua. Mas sempre aprendemos muito. Fechamos o ano de 2010 viajando do passado para o presente do nosso entrevistado. Esperamos que o conteúdo dessa matéria sirva para jovens, adultos e idosos, para que aprendam a entender, entre tantas coisas, um pouco sobre os limites de cada um.

Mar de rosas?! Quem disse que a vida é assim? A vida é feita de conquistas e derrotas, de alegrias e tristezas. Mas, entre altos e baixos, a presença da família parece ser um elixir para a manutenção da vida. Sejam nos primeiros passos, nas primeiras broncas ou na convivência com um grande amor e seus frutos, os deveres vão sendo cumpridos e suas marcas vão sendo deixadas nos caminhos percorridos por cada um. Se nem tudo foram flores ou como gostaríamos que fosse, só saberemos lá na frente, mas ter história para contar, é perfeito.

A história de Nestor Soares Publio podia ser apenas mais uma história - um menino de origem humilde, filho de semianalfabetos, que veio para São Paulo com a cara e a coragem. Porém, como cada vida tem a sua peculiaridade, Publio faz parte do grupo que percorreu caminhos muito além dos tradicionais para a sua época e se deu bem.

Coronel Publio, como é conhecido na sua corporação, comandou a centenária Escola de Educação Física da Polícia Militar - EEFPM - célula-máter da Educação Física nacional, na qual se licenciou em Educação Física em 1959. Sim, são exatos 51 anos de formação e atuação profissional até o momento, porque ele não para.

Mas, já em 1959, graduação era pouco para o garoto de Guapiaçú/SP, cidade próxima de São José do Rio Preto. Então, por mérito, ganhou duas bolsas de estudo: França (1968), fazendo o Curso de Oficial de Esportes na École Interarmées des Sports de Fontainebleau e no Japão (1972), na Universidade de Tokyo, na qual acompanhou os treinamentos do quase tri-campeão olímpico Sawao Kato, hoje seu amigo. Fez Mestrado em Educação Física (EEFE-USP/1978), escreveu a Evolução Histórica da Ginástica Olímpica, que se tornou bibliografia básica em quase todas as Instituições de Ensino Superior de

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Educação Física do país e foi árbitro internacional de Ginástica Artística. Hoje, aos 75 anos, completos no dia 03 de setembro, ele quer mais. "Desejo terminar meu livro sobre os processos pedagógicos publianos para o ensino da Ginástica Artística", afirmou.

APAIXONADO PELA GINÁSTICA

A Ginástica para ele, assim como o seu exemplo de vida, pode ser definida na frase:

“SER ÚTIL SEM UTILIZAR-SE, SER HUMILDE SEM HUMILHAR-SE, SERVIR SEM SERVIR-SE, POIS O PASSADO DE CADA UM É O ESPELHO DE SEU FUTURO”.

O garoto que brincava no Clube Palestra de São José do Rio Preto e fazia loucuras na barra fixa, que foram repetidas durante o curso de cadetes na Academia de Polícia Militar do Barro Branco - APMBB, só foi conhecer a Ginástica em 1959, nas aulas de Ginástica de Aparelhos do Curso de Instrutores de Educação Física - CIEF. Publio, na época, fazia quase tudo por imitação, observando a execução dos monitores especializados. Por ser bom executante e ter sido o primeiro colocado no curso, foi convidado para ser instrutor na pioneira do Brasil, onde passou mais de 20 anos de sua vida militar. Ele garante que os "sabores" com a Ginástica foram imensos. Muitos campeões passaram pelos ensinamentos do coronel, que fica feliz de ter sido útil, disciplinando e educando muitos alunos através da atividade física.

Publio sempre foi um esportista muito ativo e eclético. Gostava e executava todas as modalidades esportivas, pois gostava de ensinar, executando os exercícios. Deu aulas de ginástica geral, esportes aquáticos e ginástica em aparelhos na EEFPM, foi técnico de ginástica por mais de 20 anos no Clube Pinheiros, mais de 10 anos em cursos técnicos na USP, além de professor na Escola Britânica (Saint Paul's School).

Ele conta que "comeu o pão que o Diabo amassou", trabalhando na Ginástica Olímpica de São Paulo e do Brasil por mais de 40 anos. Chegou a pagar para trabalhar, o que não tira a sua convicção de que fez parte de um trio (Dr. Fischer, Prof. Rapesta e Publio), que plantou a semente, para que hoje a Confederação Brasileira de Ginástica - CBG pudesse estar colhendo os frutos.

Além do prazer pela profissão, Publio precisava trabalhar muito para sustentar a família e três filhos em escolas e faculdades.

Mas, o excesso de trabalho, corroeu suas cartilagens e ele já foi submetido a 3 artroplastias total de quadris - duas vezes no esquerdo (1997 e 2009) e uma vez no direito (2002). "Os médicos me avisavam que eu estava abusando, mas nunca pensei que pudesse me prejudicar tanto no futuro. Agora pago o preço do excesso acumulado", contou.

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Contrariado com essa realidade, Publio contou que não pode jogar mais futebol - modalidade na qual chegou a ser apelidado de flecha ligeira, pela sua velocidade na ponta direita, voleibol, handball, natação atletismo, esgrima e hipismo. Pois qualquer abuso pode ocasionar uma nova fratura. "Atualmente nado 3 vezes por semana e faço fisioterapia publiana na piscina, além da parte aeróbia - hidroterapia". Contrariado sim, desanimado jamais. Publio continua ativo!

Ele nem sabe se é velho ou idoso. Sempre brinca, dizendo que cronologicamente está com 75, mas fisiologicamente a idade é outra. O único problema é que ele não pode mais fazer o que fazia. "Quando penso que eu saltava 1,68m de altura, naqueles tanques de areia, e 6,42m de distância, terra cavalo no hipismo (saltar no chão, com o cavalo a galope, e voltar a montar), não dá para acreditar que hoje esteja tão limitado e incapaz para qualquer atividade acrobática ou mesmo uma corrida desenvolta".

"Poderia dizer que sou um 'cara' sofrido, porque pelo que batalhei para manter e estudar meus filhos, merecia ser mais feliz na hora de usufruir minha aposentadoria (desde 1985). Mas, quando planejava viajar o mundo com minha querida, ela se encontra impossibilitada", desabafa. "Procuro minimizar o sofrimento, cuidando da minha qualidade de vida, tentando deseducar meus netos, auxiliando meus filhos, colaborando, quando solicitado, com o Conselheiro do Conselho Regional de Educação Física do Estado de São Paulo - CREF4/SP e com palestras em Instituições de Ensino Superior".

"Agora, mais do que nunca, acredito em Deus. Acredito que temos uma cruz para carregar e como se diz popularmente 'PROBLEMAS SÓ MUDAM DE ENDEREÇO'" Nestor Soares Publio

Hoje, ele adoraria ter ele mesmo como avô. Ele admite que como pai talvez tenha sido muito rígido em virtude da disciplina militar e de não tolerar coisas erradas. "Mesmo assim meus filhos dizem entender por que eu agia daquela forma quando eram menores". Como marido ele duvida que sua querida esposa aceite qualquer oferta para trocar de marido, mesmo que seja por dois de 40. "Para ela, eu ainda continuo sendo aquele super-homem que ela teve como namorado e que até hoje se gaba com suas colegas".

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Família é o que Publio tem de mais precioso em sua vida. Em janeiro, essa relação que deu certo, completará 50 anos. Com dificuldade Publio e sua querida esposa, criaram 3 filhos, sempre com exemplos de disciplina, atitude e humildade. "Felizmente todos estão bem, nos consideram muito e reconhecem o sacrifício que fizemos para seus estudos", comentou.

Mas admite que sem o seu melhor presente eu não teria chegado até aqui. Seu saudoso pai lhe deu a oportunidade de fazer o ginasial, que ele concluiu em 1953, tendo na sequência vindo para São Paulo para prestar vestibular para a Academia Militar do Barro Branco. A Polícia Militar, para ele, é 'uma verdadeira mãe', que lhe deu roupa (fardamentos), estudo, comida e aposentadoria.

“Nem todos podem ganhar medalhas, mas podem dar o melhor de si para

conseguir o melhor resultado”

Nestor Soares Publio