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Joaquina Soares (ed.)

SetúbalArqueológica

Vol.142013

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Título PRÉ-HISTÓRIA DAS ZONAS HÚMIDAS. PAISAGENS DE SAL / PREHISTORY OF WETLANDS. LANDSCAPES OF SALT

MAEDS/ADS - Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal/Assembleia Distrital de Setúbal& SIMARSUL, S.A.

Joaquina Soares

Fotografia de Rosa Nunes | Caminhos imprevisíveis do sal da série Águas de Silêncio

Barbara Polyak

Ana Castela

Belgráfica, lda

Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de SetúbalAvenida Luisa Todi, 162 - 2900-451 Setúbal (Portugal)Tel.: +351 265 239 365/265 534 029Fax: +351 265 527 678E-mail: [email protected]: www.museu-maeds.orgBlog: http://maedseventosactividades.blogspot.com/

2013, Autores e MAEDS

0872-3451

362428/13

500 exemplares

LISNAVE. Estaleiros Navais, S.A.

APSS - Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, SA

SetúbalArqueológicaVol.142013

Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal/Assembleia Distrital de Setúbal

Carlos Tavares da SilvaJoaquina Soares

Edição

Direcção

Page 4: Setúbal Arqueológica_14-3.pdf

Joaquina SoaresCaçadores-recolectores semi-sedentários do Mesolítico do paleoestuário do Sado (Portugal)

Nuno Bicho, Telmo Pereira, Célia Gonçalves, João Cascalheira, João Marreiros, Rita Dias

Os últimos caçadores-recolectores do vale do Tejo: novas perspectivas sobre os concheiros de Muge

Mário Varela GomesCastelo Belinho’s village (Portimão Algarve) and the sea. Landscape, resources and symbols

José Ramos, Salvador Domínguez-Bella, Juan Jesús Cantillo, Eduardo Vijande, Manuela PérezNovedades en el conocimiento de las sociedades tribales neolíticas en la banda atlántica de Cádiz.

Explotación de recursos marinos e hipótesis del uso de la sal

João Luís CardosoA evolução do paleoestuário da ribeira de Barcarena entre os finais do VI milénio e os finais do III

milénio a.C. segundo a presença de Ostrea edulis L.

César NevesA evolução do processo de neolitização numa paisagem estuarina: a ocupação do Monte da Foz 1

(Benavente, Portugal)

Joaquina Soares, Carlos Tavares da SilvaEconomia agro-marítima na Pré-história do estuário do Sado. Novos dados sobre o Neolítico da Comporta

Joaquina SoaresSal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Maria da Conceição Freitas, César Andrade, Tiago Silva, Celso Pinto, Alexandra AmorimEvolução holocénica da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Anne SchmittComposition chimique des céramiques et des argiles de Ponta da Passadeira

Leonor RochaA Praia do Forte Novo. Um sítio de produção de sal na costa algarvia?

F. Javier Abarquero Moras, Elisa Guerra Doce, Germán Delibes de Castro, Ángel L. Palomino Lázaro, Jesús del Val Recio

Explorações pré-históricas de sal nos arredores das lagunas de Villafáfila (Zamora, Espanha)

Serge Cassen, Olivier WellerIdées et faits relatifs à la production des sels marins et terrestres en Europe, du VIe au IIIe millénaire

13

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255

Índice

Page 5: Setúbal Arqueológica_14-3.pdf

171Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

Sal e conchas na Pré-História portuguesaO povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Joaquina Soares*

* Directora do MAEDS (Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal) e Prof.ª de Arqueologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Resumo

A produção de sal marinho por via ígnea, em moldes cerâmicos, adquire apreciável visibilidade arqueológica na costa sudoeste peninsular, na segunda metade do IV/início do III milénio cal BC, associada à Revolução dos Produtos Secundários da Criação de Gado, e integrada em economia agro--marítima. O sal atinge nesse periodo um valor acrescentado face à súbita ampliação da procura. Com capacidade para alimentar trocas a longa distância entre o litoral e o interior, os pães de sal, de fácil transporte e armazenagem, são, porém, invisíveis no registo arqueológico. Para ultrapassar esta difi-culdade, a autora propõe-se seguir o rasto do sal através de indicadores indirectos: registos de conchas de moluscos marino-estuarinos em povoados do interior. Estes vestígios faunísticos, alimentos e/ou objectos de prestígio, sem capacidade económica para suportarem fluxos regulares de trocas, poderiam circular associados ao sal. Ambos os recursos integraram a economia agro-marítima dos principais estuários da Costa Sudoeste da Península Ibérica (Tejo, Sado, Guadalquivir). A principal base empírica do presente artigo é constituída pela informação recolhida no estabelecimento produtor de sal da Ponta da Passadeira, localizado na margem sul do estuário do Tejo.

Abstract

Salt and shellfish in the Portuguese PrehistoryThe settlement of Ponta da Passadeira (Tagus estuary)

The archaeological evidence of marine salt exploitation in Portugal is very impressive at the second half of the IV millennium cal BC, embedded in an economic pattern heavily dominated by marine re-sources exploitation, namely fishing and shellfish gathering.

The available information suggests a slight intensification in salt exploitation at the end of the IV and first half of the III millennium cal BC, when the Secondary Products Revolution took place, providing a great amount of agricultural food surplus. At this period we can pursuit the salt exchange networks from the estuarine sites to the largest settlements of the hinterland (more than one hundred kilometres away from the coast), through a few estuarine mollusc shells (namely Venerupis decussata, Pecten maximus, Cerastoderma edule and Ostrea sp.) found in those consumption and storage centres (ditched enclosures and fortified sites).

The author highlights the data from the coastline site of Ponta da Passadeira (Tejo estuary), where salt was obtained by boiling seawater, in ceramic vessels. This activity is represented in the archaeo-logical record by large deposits of ceramic fragments, sets of furnaces and pit fireplaces.

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172 Sal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Ponta da PassadeiraLocalização e paleoambiente

O povoado pré-histórico da Ponta da Pas-sadeira localiza-se sobre uma restinga arenosa da margem sul da desembocadura do esteiro da Moi-ta, estuário do Tejo (Fig.1). A montante da restinga, em situação de abrigo, formou-se um sapal, parcial-mente ocupado por salina sub-actual (SE). A norte, a restinga confina com um raso de maré assente so-bre plataforma de abrasão, formada por arenitos mal consolidados do Plio-plistocénico. Os vestígios do povoado pré-histórico situam-se no sector NW da restinga. Esta inclui ainda formações dunares, actu-almente muito desmanteladas, com a cota máxima de 5.9 m.

O sítio arqueológico apresenta um enquadra-mento paisagístico notável e detém uma posição estratégica no que concerne à exploração dos re-cursos estuarinos. Pertence à freguesia do Lavradio, concelho do Barreiro, distrito de Setúbal. Possui as seguintes coordenadas geográficas: 38º 41’ 48’’ N ; 9º 2’ 32’’ W. Presentemente encontra-se muito des-truído; instalou-se sobre areias de praia e estender--se-ia provavelmente até ao ilhéu do Rato (achado de cerâmicas pré-históricas), que neste pressuposto estaria ligado à margem continental (Figs. 1 a 3); terá também abrangido o espaço da salina sub-actu-al, de acordo com informação de operário do Lavra-dio que ali trabalhou nos anos 40 do século XX, e nos relatou o aparecimento de milhares de fragmentos cerâmicos como os da nossa intervenção, quando re-pararam os compartimentos da marinha (Figs. 5, 7 e 8).

No decurso da escavação identificámos um bosque de Pinus, a partir de raízes conservadas em posição de vida, desde o povoado neolítico (praia actual) até cerca de 200m adentro do estuário (Figs. 2 e 6). Estas evidências permitem supor a existên-cia, durante a Pré-história recente, de um ecossiste-ma de duna verde bem consolidado. Foram identifi-cadas as espécies Pinus pinea e Pinus pinaster, mas poderão ainda vir a ser reconhecidos outros taxa, como o género Quercus, a julgar pelos resultados do estudo dos macrorrestos vegetais recuperados no povoado neolítico. A datação de seis amostras de madeira das referidas raízes (Quadro 1, Fig. 4) veio

mostrar que o bosque já existia muito antes da ins-talação do povoado neolítico da Ponta da Passadeira, estando em perfeita consonância com a sequência da paleovegetação regional proposta por Paula Queiroz e J. Mateus (1994). Tenha-se presente que as análises palinológicas obtidas para a Lagoa de Albufeira reve-laram, para a zona polínica datada entre cerca de 6000 e 4400 cal BC, o domínio absoluto do pólen arbóreo.

O bosque deverá ter persistido na região nos IV-III milénios cal BC, embora em retracção, pois aquele seria um factor locativo estratégico para um estabelecimento cuja principal actividade económi-ca – extracção de sal marinho por via ígnea (Nen-quin, 1961; Multhauf, 1996, p. 21) – era fortemente consumidora de combustível vegetal.

Reconhecemos, igualmente, vestígios de um paleossapal, imediatamente a SE da jazida arqueo-lógica (Fig. 7), e parcialmente sobreposto pela areia da praia actual. O nível limo-argiloso correspon-dente ao paleossapal foi datado de 4330 ± 40 BP (Beta 134667), a que corresponde, para calibração a 2 sigma, o intervalo de 3083-2887 cal BC, con-temporâneo da ocupação da Ponta da Passadeira. O sapal instalou-se em áreas antes ocupadas por flo-resta, em retracção devida a uma subida do nível marinho. Esse sapal deverá ter sido intensamente explorado pela população neolítica, enquanto fonte de abastecimento das argilas necessárias à activida-de oleira (Schmitt, neste volume). O estudo polínico do referido nível limo-argiloso, realizado por Luís Gómez-Orellana Rodríguez, Castor Muñoz Sobrino e Pablo Ramil-Rego, da Universidade de Santiago de Compostela, mostrou um absoluto domínio de Chenopodiaceae (vegetação instalada em área in-tertidal), o que implica uma sedimentação em am-biente de alta salinidade, e coloca em destaque as condições favoráveis à salicultura. Registaram-se espécies próprias de meios pantanosos com influ-ência salina como as integradas nos géneros Sarco-cornia, Salicornia, Suaeda. Identificaram-se tam-bém espécies dos géneros Beta, Atriplex, Salsola, que povoam os sistemas dunares do litoral atlântico ibérico, e os géneros Corema e Juniperus, próprios da chamada duna cinzenta. A vegetação arbórea é relativamente escassa, ficando aquém dos 10%, mas muito variada, com destaque para o Quercus robur.

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173Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

Fig. 1 - Localização do sítio arqueológico da Ponta da Passadeira. A seta indica a Península de Setúbal e a oval, a área arqueológica da Ponta da Passadeira.

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174 Sal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Fig. 2 - A restinga da Ponta da Passadeira poderia ter estado ligada ao actual ilhéu do Rato. As pontuações brancas assinalam raízes do bosque neolítico em posição de vida, por agora datado do VI ao IV milénios cal BC (Quadro1, Fig. 4). Foto aérea Google Earth.

Fig. 3 - Vista aérea da Ponta da Passadeira, em 1973, aquando dos trabalhos de terraple-nagens para a constru-ção da fábrica Fisipe. Em penúltimo plano, a ilha do Rato. Arqui-vo da Quimiparque.

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175Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

Os carvões recolhidos nos contextos ar-queológicos foram pouco numerosos. Porém, o respectivo estudo antracológico (Quadro 2), rea-lizado por Ernestina Badal e Yolanda Carrión, da Universidade de Valência, permitiu completar o cenário biofísico e o espectro de recursos vege-tais lenhosos explorado pela população da Ponta da Passadeira.

Dos macrorrestos vegetais provenientes das C.4 e C.3 (com exclusão da C.3A) chega-nos a con-firmação da exploração dos ecossistemas litorais atrás reconstituídos. Domina claramente, entre os restos arbóreos, o género Pinus, com cerca de 22%. O género Quercus detém somente cerca de 7% dos restos considerados. Indicando a provável existên-cia de formação ripícola na região, registou-se a presença de Salix sp. e Ulmus sp.

O elevado consumo de combustíveis vegetais parece ter sido determinante na gestão dos recur-sos. A presença de numerosos restos de ossos incar-bonizados (em ambas as camadas), provavelmente resultantes de práticas de carácter higiénico, refor-ça também a ideia da elevada procura de materiais combustíveis para alimentar quer os fornos de pro-dução cerâmica, quer as estruturas de combustão onde se procederia à evaporação da água salgada para obtenção de sal.

O achado de brácteas de pinha poderá indicar também a prática da recolecção de pinhão.

Em síntese, a Ponta da Passadeira terá benefi-ciado de um ambiente litoral muito mais produtivo que o actualmente existente. A linha de costa esta-ria bem mais avançada para o interior do estuário. Este, embora já de estrutura dendrítica, associada a dinâmica transgressiva, e à instalação de manchas de sapal, na transição para o III milénio cal BC, comportaria nas suas margens os ecossistemas de duna cinzenta e duna verde. As manchas de bosque ribeirinho, que circundaram o habitat do Neolítico final, certamente mais reduzidas que no V milénio cal BC, não deveriam ser muito diferentes das que actualmente se observam a montante, na área de Barroca d` Alva (Alcochete). A análise polínica do paleossapal colocou em evidência a elevada salini-dade do meio.

Estratigrafia e cronologia radiocarbónica

A estratigrafia da Ponta da Passadeira (So-ares, 2001) revelou a existência de uma ocupação do Paleolítico médio (base da C.5), não considerada neste texto, e uma ocupação do Neolítico final/Cal-colítico inicial, com fase de intensa actividade olei-ra e de produção de sal marinho por via ígnea em formas cerâmicas (C.4), e fase de retracção do esta-belecimento com a constituição de estruturas nega-tivas de rejeição, do tipo lixeira doméstica (C.3). As camadas superiores de cobertura são arqueologica-mente estéreis (Figs. 8, 9, 16 e 20).

Datações radiocarbónicas

Duas datações balizam os inícios da ocupa-ção neolítica da Ponta da Passadeira, corresponden-tes ao último quartel do IV milénio, transição para o III milénio cal BC (Quadro 1, Fig. 4).

A amostra Beta 160055, de carvão de Pinus sp., foi recolhida em uma estrutura de combustão em fossa (Estr. XXV), da base da sequência neo-lítica (S.53; Q.F4; C.4C), destinada à produção de sal por ebulição de água estuarina. A amostra OxA-6389, constituída por osso humano (calcâneo), in-tegrava a argila de um forno de produção cerâmi-ca (Estr.II, S.49, Q.C6, C.4). Este osso deixa-nos a sugestão da proximidade de um espaço funerário, com sepulturas talvez em fossa, acidental e pontu-almente perturbadas pela extracção de argila. Não se registaram soluções de continuidade na ocupa-ção do sítio, na limitada área objecto de escavações (120m2); constatou-se grande dinamismo, associa-do ao funcionamento de fornos e lareiras de eva-poração da água salgada, e de mudanças de uso no espaço habitado; à C.3, menos argilosa, e mais rica em matéria orgânica, pejada de estruturas negativas de tipo lixeira, corresponde uma segunda fase de ocupação (datada da 1ª metade do III milénio cal BC), na área periférica do povoado, onde ocorreu a nossa intervenção, marcada, com já afirmámos, pela retracção do estabelecimento.

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176 Sal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Ref. de Lab. Tipo de amostraData calibrada* (cal BC)

(1σ) (2σ)

Data 14C (BP)

* Calculada a partir de data convencional de radiocarbono, utilizando a curva de calibração IntCal09 radiocarbon Cal (Reimer et al., 2009) através do programa CALIB REV.6.1.0 (Stuiver & Reimer, 1993) e, no caso das amostras de conchas marino-estuarinas, a curva marine 09.14c (Reimer et al., 2009), com ΔR = 0.

Beta-193894 6100±70 cal BC 5206 - 5161 (18,5%)cal BC 5136 - 5129 (2,3%)cal BC 5119 - 5103 (5,3%)cal BC 5099 - 5095 (1%)cal BC 5079 - 4934 (72,9%)

cal BC 5217 - 4841 (100%)

5720±50 cal BC 4652 - 4640 (6,5%)cal BC 4617 - 4493 (93,5%)

cal BC 4689 - 4458 (100%)

Beta-189082 5040±40 cal BC 3941 - 3857 (69,9%)cal BC 3842 - 3839 (2,4%)cal BC 3819 - 3782 (27,7%)

cal BC 3953 - 3759 (94,4%)cal BC 3742 - 3714 (5,6%)

Beta-126092 4600±70 cal BC 2958 - 2761 (100%) cal BC 3063 - 2654 (100%)

Beta-139710 4560±70 cal BC 2896 - 2723 (95,2%)cal BC 2717 - 2703 (4,8%)

cal BC 2994 - 2603 (100%)

Beta-126093 4550±70 cal BC 2885 - 2701 (100%) cal BC 2969 - 2583 (100%)

Beta-160055 4450±50 cal BC 3327 - 3218 (47,9%)cal BC 3176 - 3159 (6,4%)cal BC 3121 - 3022 (45,7%)

cal BC 3339 - 3203 (39,2%)cal BC 3197 - 3005 (51,6%)cal BC 2990 - 2929 (9,2%)

Beta-287036 6000±60

Beta-193895 4740±80 cal BC 3163 - 3146 (4,8%)cal BC 3131 - 2902 (95,2%)

cal BC 3296 - 2872 (100%)

Turfa

Pinus pinea

Carvão(Pinus sp)

Beta-190879

OxA-6389 4305±70 cal BC 3080 - 3070 (3,2%)cal BC 3025 - 2876 (96,8%)

cal BC 3309 - 3297 (0,4%)cal BC 3283 - 3276 (0,3%)cal BC 3265 - 3240 (1,4%)cal BC 3105 - 2837 (85,1%)cal BC 2815 - 2673 (12,8%)

Beta-126095 4750±70 cal BC 3163 - 3145 (5,8%)cal BC 3133 - 2917 (94,2%)

cal BC 3284 - 2885 (100%)

Beta-126094 4650±70 cal BC 3018 - 2853 (100%) cal BC 3165 - 3142 (0,8%)cal BC 3138 - 2727 (99,2%)

Beta-139711 4640±70 cal BC 3013 - 2845 (100%) cal BC 3114 - 2692 (100%)

Beta-134667 4330±40 cal BC 3011 - 2978 (33,6%)cal BC 2959 - 2950 (8,8%)cal BC 2942 - 2898 (57,6%)

cal BC 3083 - 3066 (3,4%)cal BC 3027 - 2887 (96,6%)

Contexto

Bosque

Pinus pineaBosque

Pinus pineaBosque

Pinus pineaBosque

C.4

C.4 Osso humano(calcâneo)

C.4 Conchas(Venerupis decussata)

C.4

C.3/4

C.3/4 Conchas(Venerupis decussata)

Sapal

C.3

C.3 Conchas(Venerupis decussata)

C.3

Conchas(Venerupis decussata)

Conchas(Venerupis decussata)

Conchas(Venerupis decussata)

Conchas(Venerupis decussata)

cal BC 4976 - 4976 (0,5%)cal BC 4961 - 4826 (91,2%)cal BC 4816 - 4800 (8,3%)

cal BC 5038 - 4764 (97%)cal BC 4758 - 4728 (3%)

Beta-287038 5070±40Pinus pineaBosque cal BC 3946 - 3909 (31,7%)cal BC 3879 - 3802 (68,3%)

cal BC 3963 - 3779 (100%)

Beta-287039 5710±40Pinus pineaBosque cal BC 4602 - 4492 (100%) cal BC 4682 - 4634 (11,4%)cal BC 4621 - 4459 (88,6%)Bo

sque

sub

mer

soPo

voad

o. F

ase

IPa

leos

sapa

lPo

voad

o. F

ase

II

Quadro 1 - Datações radiocarbónicas do povoado da Ponta da Passadeira e de ecossistemas naturais da sua envolvente imediata.

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177Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

Fig. 4 - Representação gráfica do Quadro 1 (calibração a 2 sigma). A ocupação humana revela-se contínua entre cerca de 3300 e 2600 cal BC. A estratigrafia permitiu separar duas fases comprovadas pela mudança de uso do espaço e consistentes com as datas radiocarbónicas. O sapal é justamente contemporâneo do habitat e a floresta da envolvente próxima do povoado, pujante nos VI/V milénios cal BC, estaria em declínio nos IV/III milénios, talvez em resultado de oscilação eustática positiva associada a sobreexploração de madeira para a actividade de extracção de sal por via ígnea.

Economia, estruturas e cultura material

Estratégias de subsistência

Os vestígios directos e indirectos da activida-de económica dão-nos conta de uma economia de largo espectro, assente na exploração dos recursos

marinhos – pesca e recolecção –, complementada pela agro-pastorícia (economia agro-marítima). Foi possível diferenciar nesta estrutura económica duas componentes principais, em função dos espaços de consumo. A produção destinada à subsistência do próprio grupo, ou seja, ao consumo local, e a pro-dução destinada ao sistema de trocas, ou seja, a um

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178 Sal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Fig. 5 - Vista do topo da duna da restinga da Ponta da Passadeira, para o quadrante SE. Após a duna observa-se o que resta de uma salina sub-actual invadida por sapal. Em último plano, a Serra da Arrábida.

Fig. 6 - Ponta da Passadeira. Máximo da baixa-mar, vendo-se algumas rai-zes do bosque submerso neolítico.

Fig. 7 - Ponta da Passadeira. Afloramento na praia de argilas do paleossapal onde se recolheram amostras para estudo palinológico, data-ção e para análises químicas e mineralógicas (seta negra). A seta cinzenta assinala o povoado.

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179Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

consumo externo, de escala regional. No primeiro caso, constatou-se a prática sistemática da recolec-ção de moluscos caracteristicamente estuarinos: Venerupis decussata, Ostrea sp. e Solen margina-tus1. Porém, o marisco recolectado, em algumas conjunturas, poderia destinar-se também a consumo externo, enquanto produto complementar nas redes de troca do sal, de que falaremos a seguir. Tenha-se presente o generalizado apreço pela amêijoa, duran-te o III milénio BC, podendo mesmo este molusco ter adquirido o carácter de alimento de prestígio, nos povoados do interior. Os custos de transporte e conservação, talvez mais do que os de recolec-ção, conferiam-lhe um elevado valor acrescentado. Perante a relativa invisibilidade do sal no registo arqueológico, as conchas de moluscos marino-estu-arinos parecem-nos, por agora, um bom indicador dos circuitos daquele produto.

O estudo da fauna de vertebrados, realiza-do por Miguel Telles Antunes, colocou em desta-que a importância da pesca. Com efeito, os peixes possuem uma boa representação frente aos mamí-feros (Quadro 3), ampliada pelo facto de serem muito afectados pela conservação diferencial dos restos faunísticos. Estão representadas espécies que frequentam águas estuarinas, como a dourada (dominante), associada ao sargo, robalo, ratão e cação (Quadro 4). O tipo de pesca realizado pela população da Ponta da Passadeira oferece nítidas semelhanças com a actividade piscatória das po-pulações coevas do Sado (p. ex. Barrosinha, neste volume). O gado doméstico (bovino e ovicaprino) documenta a prática da pastorícia, mas é escasso; de sublinhar a ausência de suídeos. A importância da caça é elevada: coelho, veado e provavelmente cavalo. As aves também fizeram parte da dieta desta população, estando presentes espécies aquáticas e terrestres (Quadro 4). A agricultura seria certamente praticada nos solos ligeiros da envolvente do po-voado, eventualmente fertilizados por algas, como até há bem pouco tempo ocorria na Beira Litoral. Desta actividade apenas possuímos documentos in-directos, representados por escassos instrumentos em pedra polida e elementos de mós. O subsiste-

ma tecnológico uso-intensivo da indústria em pe-dra lascada, ao contrário do expedito, encontra-se mal representado; utilizou sílex, a partir de seixos rolados, localmente disponíveis, para a produção de lâminas, transformadas ou não por retoque dos bor-dos laterais.

Produção de sal marinho

A vocação do local para a salicultura encon-tra-se bem expressa nos resultados da análise polí-nica do paleossapal, ao revelarem a existência de um meio de elevada salinidade datado de finais do IV /inícios do III milénios cal BC. As estruturas de combustão destinadas quer à cozedura dos moldes cerâmicos, quer à evaporação de água salgada, bem como as acumulações de fragmentos de cerâmica resultantes da fragmentação intencional dos mol-des cerâmicos, para remoção dos pães de sal, e da rejeição de peças defeituosas ou partidas durante o processo de cozedura da produção oleira confirmam aquela actividade.

A extracção pré-romana de sal marinho, in-dependentemente do aparato técnico a que recorria, teria em comum a utilização do fogo na fase de eva-poração da água salgada. No registo arqueológico pré-histórico, esta prática manifesta-se através de entulheiras de fragmentos de recipientes cerâmicos, associadas a lareiras. Foram estas evidências que levaram J. L. Escacena Carrasco e colaboradores (1996) a atribuir ao sítio de Marismilla, no paleo-estuário do Guadalquivir a actividade de extracção de sal marinho, por via ígnea. Os mesmos argumen-tos estiveram na base de idêntica atribuição por nós proposta em 2000 para a Ponta da Passadeira (Soares, 2000), e por A. C. Valera et al. (2006), para a jazida de Monte da Quinta 2, ambas no estuário do Tejo.

Na Ponta da Passadeira, identificámos, em primeiro lugar, fornos de produção cerâmica (Figs. 8, 16-18), até agora desconhecidos nos restantes sí-tios referidos; são constituídos por placa térmica de combustão sub-circular cujo diâmetro máximo não ultrapassa 1,4m. A partir desta, elevar-se-ia antepa-

1 - A ausência de Cerastoderma edule e de Scrobicularia plana parece indicar um ambiente de influência oceânica mais acentuada, menos assoreado que o actualmente existente.

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180 Sal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

ro abobadado (Fig. 19) e/ou abóbada de argila (Fig. 20), que seria, por hipótese, desmontada em cada fornada. A placa e/ou câmara de cozedura assenta-vam sobre infraestrutura em argila muito plástica, em tronco de cone invertido (Fig. 20), que atingia uma profundidade, em geral superior a 0,50m, esca-vada nas areias de praia, onde o povoado se instalou. Neste sedimento arenoso dificilmente se conserva-ria o calor, pelo que a infraestrutura dos fornos antes descrita teria a função de garantir a concentração e conservação de calor. Os fornos organizavam-se em baterias e associavam-se a entulheiras extensas (Figs. 16-20). As argilas utilizadas na construção dos fornos e no fabrico dos recipientes cerâmicos são de origem local, extraídas do paleossapal, se-gundo as análises químicas e mineralógicas realiza-das por Anne Schmitt (Schmitt, neste volume). Para reduzir a plasticidade da argila eram adicionados e.n.p. de quartzo recolhidos nas areias da praia. A análise de uma amostra de 100 recipientes cerâmi-cos provenientes de entulheiras de fornos, permite--nos considerar a hipótese de uma dupla valência para estas estruturas: cozedura de recipientes cerâ-micos e “cozedura” de água salgada para obtenção de salmoura, em grandes (capacidade máxima ca. 30 litros) recipientes troncocónicos, de fundo plano (Fig. 21, nos 12-13). Na fase de retracção do povoa-do, constatámos a reutilização de câmaras de com-bustão de fornos para depósito de lixos domésticos (Fig. 20).

As escavações no Sector 60 não revelaram a presença de fornos, mas somente de lareiras em fossa (Figs. 9-14), revestidas por argila muito rube-facta, que na fase de abandono eram colmatadas por entulheiras de fragmentos de cerâmica, onde abun-davam corniformes (Figs. 10 e 11), exclusivamente de tipo unicorne (Fig. 15). Nos Sectores 52 e 53, en-contrámos na base da sequência estratigráfica uma concentração de lareiras e respectivas entulheiras, as quais foram sobrepostas por fornos e suas entu-lheiras (Figs. 8 e 13); também no Sector 54 (Fig. 16) observámos a sobreposição de um forno a uma lareira em fossa.

Em síntese, na área escavada, que correspon-de a um sector periférico do povoado, é bom não esquecer, as lareiras em fossa parecem anteceder o

aparecimento dos fornos, mas por agora nada nos garante que ambas as estruturas não tenham coe-xistido, em espaços diferenciados. Os fornos olei-ros podem ter desempenhado também um papel na cadeia operatória da produção de sal em sentido restrito, mais provavelmente na fase de fabrico de salmoura em grandes e médios recipientes tronco-cónicos de fundo plano (Fig. 20).

As cerâmicas (Fig. 21), quase exclusivamen-te lisas, de formas monótonas e estandardizadas, possuem pastas pouco depuradas, obtidas a partir de argilas locais (paleossapal) com desengordurante sobretudo de quartzo; foram cozidas em ambiente maioritariamente oxidante, com limitado controlo das temperaturas. Os recipientes foram montados, na sua maior parte, segundo a técnica do rolo, bem visível na parede externa dos vasos, onde o inci-piente alisamento deixa perceber as sucessivas fia-das de rolos ligados entre si, ao contrário do obser-vado na parede interna onde o alisamento foi mais cuidado, certamente para assegurar a impermeabili-zação. Analisámos duas amostras aleatórias, de 100 exemplares, provenientes de entulheiras associadas em um caso a lareiras (Quadro 5) e, em outro, a for-nos (Quadro 6), como já referido. Constatámos a ocorrência de uma clara diferenciação quantitativa para idêntico repertório tipológico, de acordo com a morfologia da estrutura de combustão associada à entulheira. Assim, no sector das lareiras em fos-sa (S.60), dominam as taças em calote (57%). Nas entulheiras dos fornos, predominam os vasos tron-cocónicos (72%). Ambas as formas são mal alisadas externamente. Por agora não podemos ainda expli-car cabalmente esta bipolaridade no comportamento das formas cerâmicas. No entanto, é provável que os vasos troncocónicos de maior capacidade (30 litros) fossem aquecidos nas placas térmicas dos fornos, talvez já sem cobertura (Fig. 20), enquanto as taças em calote (capacidade ca. 3 litros) seriam aquecidas nas lareiras em fossa, sobre suportes corniformes (Fig. 12). Podemos estar perante uma cadeia ope-ratória que começa pela produção de salmoura nos grandes vasos troncocónicos, aquecidos nos fornos, e que prossegue através da concentração da salmou-ra e cristalização do sal em taças em calote (mol-des de pães de sal), aquecidas nas lareiras em fossa.

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181Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

Quadro 2 - Ponta da Passadeira. Carvões vegetais recolhidos nas camadas arqueológicas (C.4 e C.3.) Taxa identificados por Ernestina Badal e Yolanda Carríon (Universidade de Valência).

Quadro 3 - Ponta da Passadeira. Comparação entre as frequências de mamíferos e peixes, seg. M. Telles Antunes. Se atendermos ao facto dos restos osteológicos de peixes oferecerem menor resistência aos agentes destrutivos da geodinâmica externa podemos afirmar que surgem aqui muito subvalorizados, o que nos permite supor a existência de uma dieta equilibrada entre recursos marinhos e terrestres ou mesmo enriquecida nos primeiros se levarmos em consideração o contributo dos invertebra-dos marinhos que ficam fora desta análise.

* Não se incluíram os restos do topo da C.3 (C.3A), por aí terem sido observadas perturbações de períodos históricos.

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182 Sal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Quadro 4 - Ponta da Passadeira. Lista das espécies de ma-míferos, aves e peixes identificadas. Seg. M. Telles Antunes (Universidade Nova de Lisboa).

definição desta problemática2. As taças carenadas, raras em qualquer uma das amostras, são, regra geral, de fabrico mais cuidado, podendo mesmo ostentar polimento na superfície externa, com ou sem engobe.

Exploração de sal: especialização funcio-nal ou divisão socioterritoral do trabalho?

Quando em 1996 José Luis Escacena e cola-boradores publicaram o sítio de Marismilla, a pri-meira jazida pré-histórica da costa sudoeste ibérica onde foi admitida a exploração de sal por aqueci-mento artificial das águas salgadas, os autores co-locaram a hipótese de estarem perante um acampa-mento sazonal, ocupado apenas na estação quente e seca, economicamente especializado na produção de sal, e como tal na dependência de um povoado de economia agro-pastoril como Papa Uvas (Aljara-que). A partir da tipologia da cultura material, pois a ausência de matéria orgânica impediu os citados autores de obterem datações radiocarbónicas, o sítio foi datado do final do IV e do III milénios BC.

Quando iniciámos os trabalhos de campo na Ponta da Passadeira, tentámos testar, sem sucesso, o paradigma de estabelecimento especializado, ocu-pado sazonalmente por grupo destacado de povoado estável. Com efeito, a Ponta da Passadeira revelou uma economia ambientalmente sustentada (Quadros 2-4), sendo a extracção de sal, realizada em moldes intensivos e especializados, excedentária em relação à procura local, mas integrada naquele modo de vida anfíbio. A comparação da Ponta da Passadeira com o Neolítico da Comporta, e em particular com os sí-tios da Barrosinha e Possanco (Tavares da Silva et al., 1986; Soares e Tavares da Silva, neste volume), reforçou a ideia de uma integração da actividade

2 - A tecnologia cerâmica utilizada na Ponta da Passadeira encontra inequívocos paralelos no Neolítico da Comporta (Barrosinha e Pos-A tecnologia cerâmica utilizada na Ponta da Passadeira encontra inequívocos paralelos no Neolítico da Comporta (Barrosinha e Pos-sanco) e em outras jazidas europeias dedicadas à produção de sal. Encontrámos flagrantes similitudes no sítio de Provadia-Solnitsata (Bulgaria): “L`argile est de provenance local [...] le dégraissant est local, la forme ouverte, le montage rapide réalisé à la masse ou aux colombins [...] La fragmentation est toujours importante du fait de leur bris intentional”(Weller, 2012, p. 71). Também neste último sítio, encontramos formas troncocónicas de elevada capacidade.

Porém, podemos também admitir, de acordo com a estratigrafia observada nesta área, uma evolução no processo de fabrico de pães de sal, com a utilização de lareiras em fossa e moldes sob a forma de ta-ças em calote, numa primeira fase, havendo em um momento posterior, uma alteração tecnológica com utilização dos vasos troncocónicos como moldes de pães de sal de média e grande volumetria, utilizando para esse efeito, como fonte de calor, as placas tér-micas dos fornos. Teremos de aguardar pelo estudo integral dos materiais e estruturas, para uma melhor

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183Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

Fig. 9 - Ponta da Passadeira. Perfil estratigráfico do Sector 60. Atenda-se à lareira em fossa (aberta nas areias de praia da C.5) repleta de fragmentos de recipientes cerâmicos, bem como à respectiva entulheira (C.4).

Fig. 8 - Ponta da Passadeira, 2000, Sectores 52 e 53. Perfil estratigráfico oeste. C.1 - Duna móvel com a espessura de cerca de 2m; C.2A - Areia contendo nódulos de argila cinzento-esverdeada, correspondente aos trabalhos de reconstrução da salina sub-actual (anos 40 do século XX). Arqueologicamente estéril. Espessura máxima 0,10 m. C.2B - Lentícula, descontínua, de areia eólica. Arqueologicamente es-téril. Espessura máxima 0, 17m. C.2C - Areia argilosa, castanho-pardacenta, com indícios de pedogénese. Espessura máxima 0,30 m. C.2D - Argila esverdeada característica de sapal, antropizada através de construção de marinha em período histórico. Limite inferior, irregular, com preenchimento de fossas abertas na C.3 - prováveis alicerces de muretes em terra, que teriam pertencido a marinha. Espessura máxima 0,65 m. C.3 - Areia argilosa de cor castanho-escura. Presença de materiais pré-históricos. Espessura máxima (no exterior das fossas) 0,45 m. C.4A - Entulheira, rica em cerâmica exclusivamente pré-histórica (Neolítico final - Calcolitico), depositada contra as paredes de fornos de cozer cerâmica, muito deformados. Matriz areno-argilosa castanho-escura. Esp. máxima 0,40m. C.4B - Entulheira rica em fragmentos de cerâmica embalados em sedimento areno-argiloso mais escuro que o da C. 4A. Parece relacionar-se com a laboração das fossas de combustão da C.4C. Esp. máxima 0,20m. C.4C - Areia argilosa castanho-acinzentada-clara, com pequenos nódulos ferruginosos, corres-pondente à abertura de fossas de combustão para a produção de sal por via ígnea (Neolítico final - Calcolítico). Espessura máxima 0,20 m. C.5A - Areia de praia. Bege clara. Esp. máxima 0,10 m. C.5B - Areia acinzentada com nódulos ferruginosos escuros. Esp. máxima 0,07m. C.5C - Areia alaranjada com nódulos ferruginosos. Esp. máxima 0,13 m. C.5D - Areia branca de praia. Escavada em 0,20 m de espessura. Presença de alguns artefactos paleolíticos.

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185Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

Fig. 10 - Ponta da Passadeira, 1999. Sector 60. Levantamento da entulheira da C.4A, realizado à escala 1:20.

Fig. 11 - Ponta da Passadeira. Sector 60. Aspecto de entulheira rica em corniformes, associada à laboração de uma bateria de lareiras em fossa destinadas à produção de sal.

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186 Sal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Fig. 12 - Ponta da Passadeira. Planos do Sector 60, correspondentes ao topo da C.5, com a representação das estruturas de com-bustão em fossa, destinadas à produção de sal. A sua laboração originou extensa entulheira (Figs. 10 e 11). Em cima, esquema de funcionamento de uma dessas lareiras.

salineira na economia estuarina de carácter agro--marítimo.

Economia marítima e exploração de sal

A exploração de sal marinho parece, pois, ter integrado um modelo económico agro-marítimo, instalado em ambientes estuarinos do Sudoeste da Península Ibérica, com maior visibilidade nos estu-ários do Tejo, Sado e Guadalquivir. Praticando em-

bora alguma agro-pastorícia, aquelas comunidades neolíticas assentam a sua subsistência sobretudo na pesca e recolecção, como ficou patente nos conjun-tos faunísticos obtidos no habitat da Barrosinha, no Sado (Tavares da Silva et al., 1986, e neste volume), e Ponta da Passadeira, no estuário do Tejo (Soares, 2000, 2001, 2003, 2008).

A partir da Revolução dos Produtos Secun-dários da Criação de Gado (RPS), no último quar-tel do IV milénio cal BC, transição para o seguin-te (Soares, 2003), a produção de sal marinho tem

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187Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

Fig. 14 - Ponta da Passadeira. Sector 60. Conclusão da es-cavação das lareiras em fossa (abertas nas areias de praia da C.5) destinadas à evaporação da água salgada. Ao fundo, vê-se o perfil estratigráfico do enchimento de uma dessas la-reiras, obtido segundo o seu diâmetro máximo.

Fig. 13 - Ponta da Passadeira. Desmontagem de entulheira de lareiras de produção de sal, constituída por numerosos fragmentos de recipientes cerâmicos.

condições para se intensificar, dando resposta à necessidade de conservação dos excedentes propor-cionados pela RPS3. Esses excedentes terão sido armazenados em povoados permanentes, de fos-sos e silos, associados a importantes manchas de solos de elevada fertilidade agrícola, bem como nas fortificações que a partir dos inícios do III mi-lénio cal BC integram os sistemas de povoamento das sociedades agro-pastoris tribais complexas (Soares, 2011). Com efeito, na paisagem arque-ológica multiplicam-se os povoados de fossos e os fortins, contrastando com os habitats abertos e semi-sedentários das comunidades estuarinas.

Para a recuperação das redes de distribuição de sal, uma vez que este não deixa vestígios nos contextos arqueológicos de consumo, utilizámos, como marcadores desses circuitos, os registos de conchas marino-estuarinas nos arqueossítios do in-terior (Fig. 22), por vezes a mais de duzentos qui-lómetros do litoral4. Essas conchas (sempre em re-duzidas quantidades), embora possam materializar alimento de prestígio (elevados custos de conserva-ção e transporte), elementos da simbólica mágico--religiosa e/ou adornos (valorização da distância

geográfica na criação de valor e de conhecimento esotérico), não teriam, por si só, capacidade eco-nómica para alimentar circuitos de trocas regulares litoral-interior. Associadas ao comércio do sal, tan-to mais que partilham a mesma origem (ecossiste-mas litoral e pré-litoral), adquirem novas valências e emprestam a sua materialidade a um produto tão importante quanto silencioso, como o sal. A este, sim, estaria reservado o papel de catalizador da in-teracção litoral-interior.A informação funerária destas comunidades estu-arinas, embora escassa, aponta para a persistência do ritual de inumação intra-habitat, em fossa, que

3 - Além das necessidades nutricionais próprias do ser humano estimadas em média em 2gr/dia, o sal teria um papel essencial a de-sempenhar na conservação de peixe, carne (30-40Kg de sal por 100 Kg de carne), na alimentação de gado doméstico, nos lacticínios, na metalurgia (Fernández Jurado, 2006).4 - Sem a preocupação de exaustividade, refiram-se os seguintes povoados do interior que forneceram conchas de moluscos marino--estuarinos: Escoural, Barrada do Grilo, Monte da Tumba, Porto Torrão, Marco dos Albardeiros, Mercador, Porto das Carretas, Pijotilla, Sítio 3 da Torre do Esporão, Outeiro de S. Bernardo, Igreja Velha de S. Jorge (Vila Verde de Ficalho), Cerro do Castelo de Santa Justa, Cabezo Juré.

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188 Sal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Fig. 15 - Ponta da Passadeira. Corniformes provenientes de recolhas de superfície (espe-cialmente na zona interdital).

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Fig. 16 - Ponta da Passadeira. Perfil estratigráfico. Sector 54, Qs. C6-G6. Atenda-se ao perfil de um forno de produção cerâmica cuja infra-estrutura mergulha na C.5, e do qual se conserva uma massa argilosa deformada. Observam-se duas gerações de entulheiras na C.4: uma anterior, cortada pelo forno e pelo menos aparentemente correlacionável com uma lareira em fossa de fabrico de sal; outra respeitante à laboração do forno.

nossa perspectiva, à primeira divisão socioterritorial do trabalho no Sudoeste da Península ibérica (agri-cultores-criadores da gado/ pescadores-mariscado-res-salicultores). Este modelo económico de feição arcaizante, com forte componente recolectora ou depredatória, assente na exploração dos ecossiste-mas estuarinos, em que os meios de produção se-riam muito provavelmente colectivos e as relações sociais de produção de tipo parental e igualitário, irá engendrar uma diferenciada cultura ribeirinha, encapsulada em formação social consideravelmente hierarquizada (Soares, 2011). Esta divisão socioter-ritorial do trabalho gera dinamismo, fracturas e de-sigualdades sociais de escala regional, fracturas que seriam ocultadas através de processos de integração, necessariamente desiguais. Sal e conchas tornam-se agentes de desigualdade e de complexidade social, em um mundo em profunda transformação como o do III milénio cal BC, no SW ibérico.

parece filiar-se no dos últimos caçadores-pescado-res-recolectores mesolíticos. Muito provavelmente, estas comunidades ter-se-ão mantido relativamen-te afastadas da ideologia megalítica, característica das comunidades tribais de economia agro-pecuária produtora de excedentes, do Neolítico final. Confi-gura-se, assim, um modo de produção agro-marí-timo de forte componente recolectora, que se terá integrado socialmente de forma periférica e depen-dente no modo de produção agro-pecuário hegemó-nico, do Neolítico Final. O sal seria o “ouro bran-co” das comunidades estuarinas, que, por hipótese, o trocariam por cereais e/ou cabeças de gado. Esta realidade socioeconómica, com expressão somente em uma fimbria litoral que por agora foi regista-da nos estuários do Guadalquivir (Escacena et al., 1996), da Ribª de Quarteira (Rocha, 2003), do Sado (Soares e Tavares da Silva, neste volume) e do Tejo (Soares, 2000; Valera et al., 2006), corresponde, na

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190 Sal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Fig. 17 - Ponta da Passadeira. Sec-tor 55, Qs. C-G/1-3; Sector 54, Qs. C-G/6-10. Planos da C.4 com a re-presentação de bateria de fornos e respectivas entulheiras.

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191Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

Fig. 18 - Bateria de fornos localizados na praia, dos quais se conserva apenas a infra-estrutura escavada nas areias (C.5). A camada respeitante à sua construção e laboração (C.4) fora erodida e transportada pelas águas da preia-mar. No centro das estruturas recuperadas podem ver-se ainda restos de rubefacção, e, em um caso, vestígios de provável canal de acesso à câmara de combustão.

Fig. 19 - Ponta da Passadeira. Escavação de 2000. Sectores 52 e 53. Aspecto de um forno em argila, muito deformado, de planta subcircular, em processo de seccionamento para obtenção de perfil. A sua entulheira encontrava-se quase inteiramente escavada. A quadrícula possui 1m de lado. À direita, hipótese de reconstituição esquemática da secção de um destes fornos, em que a câmara de cozedura estaria apoiada em anteparo, com paralelos no registo etnográfico norte africano (Schütz, 1992).

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192 Sal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Quadro 6 - Ponta da Passadeira. Espólio cerâmico. Entu-lheiras (Cs. 4A e 4B) de fornos (Sector 53. Qs. F8-9, G7, H5, H9, I9). Amostra de 100 exemplares (NMI) obtida aleatoriamente.

Quadro 5 - Ponta da Passadeira. Espólio cerâmico. Entu-lheiras de lareiras em fossa. Sector 60. Qs. A2-3, B3, C2-4, D3, E2-5, F2-3, F5-6. C. 4A. Amostra de 100 exempla-res (NMI) obtida aleatoriamente.

Fig. 20 - Ponta da Passadeira. Perfil de forno localizado no talude de erosão fluvial. A sua infraestrutura em argila foi implantada em fossa escavada directamente nas areias de praia da C. 5. A zona preenchida a negro mostrava alteração térmica; a zona infe-rior, cinzenta, não possuía alteração térmica e conservava a plasticidade e cor da argila do paleossapal. Ao forno associa-se uma entulheira conservada no lado oposto à vertente erosiva (C. 4). A câmara de cozedura, aparentemente com cobertura perecível, foi utilizada para depósito de lixo doméstico rico em conchas de moluscos marino-estuarinos, na fase de retracção do povoado (C.3). É possível que os fornos tivessem a dupla função de cozer cerâmica e produzir sal, como no esquema que se junta.

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193Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

Fig. 21 - Ponta da Passadeira. Repertório cerâmico característico de ambas as fases de ocupação. As semelhanças com a tipologia cerâmica do Possanco (Comporta, Sado) são flagrantes.

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194 Sal e conchas na Pré-História portuguesa. O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)

Fig. 22 - Prováveis rotas de sal marinho nos IV e III milénios BC, no Sudoeste da Península Ibérica.Povoados de economia agro-marítima: 1 – Monte da Quinta 2 (Benavente), 2 – Ponta da Passadeira (Barreiro), 3 – Possanco (Comporta), 4 – Vale Pincel II, 5 – Palheirão Furado, 6 – Etar de Vila Nova de Milfontes, 7 – Montes de Baixo, 8 – Praia do Forte Novo (Quarteira), 9 – El Rincón (Huelva), 10 – Asperillo, 11 – Marismilla; Povoados de economia agro-pecuária do interior onde se registaram conchas de moluscos marínhos: 12 – Escoural, 13 – Barrada do Grilo, 14 – Monte da Tumba, 15 – Porto Torrão, 16 – Pijotilla, 17 – Monte Novo dos Albardeiros, 18 – Porto das Carretas, 19 – Mercador, 20 – Perdigões, 21 – Sítio 3 da Torre do Esporão TESP3, 22 – Outeiro de S. Bernardo, 23 – Igreja Velha de S. Jorge (Vila Verde de Ficalho), 24 – Cabeço Juré, 25 – Cerro do Castelo de Santa Justa, 26 – Valencina de La Concepcion.

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195Pré-História das Zonas Húmidas / Prehistory of Wetlands

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