setembro/outubro 2012 Água e meio ambiente …abas.org/imagens/revista29.pdf · xvii congresso...

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 1 SETEMBRO/OUTUBRO 2012 9 772238 088006 9 2

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 1SETEMBRO/OUTUBRO 2012

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2 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 3SETEMBRO/OUTUBRO 2012

EDITORIAL

ÍNDICE

QUANTO VALE AÁGUA QUE VOCÊ USA?COBRANÇA DA ÁGUA TEM DIFEREN-TES VALORES, MAS TAXAS PAGAS PE-LOS USUÁRIOS AINDA SÃO CONSIDE-RADAS BAIXAS

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CA

PA

Caros leitores,Esta é uma edição muito especial, pois estamos come-morando os cinco anos da nossa revista e a excelentenotícia sobre o Projeto Adutora do Sertão, que o colunistaCarlos Eduardo Quaglia Giampá, da seção Hidronotícias,nos traz. As águas subterrâneas são a grande fonte paramitigar a sede do Semiárido e de muitas regiões brasi-leiras, como o interior de Santa Catarina (ed. 22 – Maispoços, mais qualidade de vida) e o extremo sul do RioGrande do Sul, que sofrem com estresse hídrico. Em-bora pouco difundido pela mídia de massa, o abasteci-mento por meio dessa fonte tem sido também a saídapara cidades como Recife e o Semiárido, como apontao presidente da ABAS, Humberto Albuquerque, em seuartigo nessa edição, Seca x Produção de Água. E é saí-da também para municípios com abundância de águassuperficiais, a exemplo de Manaus (ed. 18 – Águas Tur-bulentas). A Água e Meio Ambiente Subterrâneo temtrazido esses e outros temas como os da atual ediçãoque aborda o valor da água na matéria de capa e aquestão do seu sabor (afinal, água tem gosto) graçasà iniciativa da ABAS e dos nossos apoiadores. Únicarevista do mercado com foco em água e meio ambien-te subterrâneo, queremos aproveitar a oportunidadepara fazer um agradecimento muito especial a todas

as empresas e às instituições que nos apoiaram e nosapoiam nessa jornada.Muitas delas – além de profissionais do setor – estarãopresentes no XVII Congresso Brasileiro de Águas Sub-terrâneas, XVIII Encontro de Perfuradores de Água e naVII FENÁGUA, que acontece de 23 a 26 de outubro, emBonito (MS). Um evento especial – e único no país – areunir num só local a ciência que estuda e pesquisa osmananciais subterrâneos; os profissionais que trabalhampara trazer, com qualidade, a água sob nossos pés embenefício da sociedade; e as empresas quecomercializam produtos e serviços para que os poçostubulares se tornem realidade. Para finalizar, queremostambém agradecer a você, leitor, que nos acompa-nha e nos prestigia a cada dois meses.

Um forte abraço,

Humberto José Tavares Rabelo AlbuquerquePresidente da ABAS

Marlene Simarelli, editora

0808080808

4 Agenda

5 Núcleos Regionais

6 Opinião do Leitor

8 ABAS Informa

10 Hidronotícias

28 Conexão Internacional

30 Perfuração

32 Remediação

34 Opinião

UMA EDIÇÃO PARA COMEMORAR

XVII CABASBONITO RECEBE EM OUTUBRO O MAIS IMPORTANTE EVENTO

NACIONAL DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E DE PERFURADORES

SECA X CAMPOS DE PRODUÇÃO DE ÁGUACAMPOS DE PRODUÇÃO DE ÁGUA PODEM SER A SOLUÇÃO PARA

AS ESTIAGENS CADA VEZ MAIS SEVERAS DA REGIÃO NORDESTE

OS GOSTOS DA ÁGUAQUANTIDADE DE SAIS E GASES, TIPOS DE MINERAIS E

CONTAMINANTES SÃO FATORES DETERMINANTES NA CLASSI-

FICAÇÃO E NAS DIFERENTES PERCEPÇÕES DO SABOR

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4 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

AGENDA

EXPEDIENTE

EVENTOS PROMOVIDOS PELA ABASXVII CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUASSUBTERRÂNEAS – XVIII ENCONTRO NACIONAL DEPERFURADORES DE POÇOS E VII FEIRANACIONAL DE ÁGUASData: 23 a 26 de outubro de 2012Local: Centro de Convenções de Bonito – MSInformações: Acqua ConsultoriaTelefone: (11) 3868-0726Email: [email protected]: www.abas.org/xviicongressoPromoção: ABAS – Associação Brasileirade Águas Subterrâneas

EVENTOS APOIADOS PELA ABASXIV FIMAI / SIMAI - XIV FEIRA E SEMINÁRIO IN-TERNACIONAL DE MEIO AMBIENTE INDUSTRIALE SUSTENTABILIDADEData: 06 a 08 de novembro de 2012Local: Expo Center Norte – Pavilhão AzulSão Paulo- SPInformações: 55 (11) 3917-2878Email: [email protected] Site: www.fimai.com.br

XI SIMPÓSIO DE RECURSOS HÍDRICOS DO NOR-DESTEData: 27 a 30 de novembro de 2012Local: João Pessoa – PBInformações: Acqua Consultoria – (11) 3868-0726Email: [email protected]:www.abrh.org.br/xisrhn

DIRETORIAPresidente: Humberto José T. R. de Albuquerque1º Vice-Presidente: Mário Fracalossi Junior2º Vice-Presidente: Amin KatbehSecretária Geral: Maria Antonieta Alcântara MourãoSecretário Executivo: Everton de OliveiraTesoureiro: Álvaro Magalhães Junior

CONSELHO DELIBERATIVOHelena Magalhães Porto Lira, Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues,Francisco de Assis M. De Abreu, Carlos Augusto de Azevedo, Carlos AlvinHeine, Francis Priscila Vargas Hager, Mário Kondo

CONSELHEIROS VITALÍCIOS/EX-PRESIDENTESAldo da Cunha Rebouças (in memorian), Antonio Tarcisio de Las Casas,Arnaldo Correa Ribeiro, Carlos Eduardo Q. Giampá, Ernani Francisco daRosa Filho, Euclydes Cavallari (in memorian), Everton de Oliveira, EvertonLuiz da Costa Souza, Itabaraci Nazareno Cavalcante, João Carlos Simankede Souza, Joel Felipe Soares, Marcílio Tavares Nicolau, Uriel Duarte, WaldirDuarte Costa

CONSELHO FISCALTitulares: Arnoldo Giardin, João Manoel Filho, Egmont CapucciSuplentes: Nédio C. Pinheiro, Carlos A. Martins, Carlos José B. de Aguiar

NÚCLEOS ABAS – DIRETORESBahia: Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues - [email protected] -(71) 9611-7222Ceará: Carlos Borromeu de Passos Vale - [email protected] - (98)3227-1069 / (98) 8896-3595Centro-Oeste: Nédio Carlos Pinheiro - [email protected] - (65) 9222-7374Minas Gerais: Carlos Alberto de Freitas - [email protected] -(31) 3250-1657 / (31) 3309-8000Paraná: Jurandir Boz Filho - [email protected] - (41) 3213-4744Pernambuco: Fernando Feitosa - [email protected] - (21) 9415.5727Rio de Janeiro: Gerson Cardoso da Silva Junior - [email protected] -(21) 2598-9481 / (21) 2590-8091Santa Catarina: Heloisa Helena Leal Gonçalves [email protected] - (47) 3341-7821/2103-5000Rio Grande do Sul: Mario Wrege – [email protected] - (51) 3259-7642

CONSELHO EDITORIALEverton de Oliveira, Gustavo Alves da Silva e Rodrigo Cordeiro

EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVELMarlene Simarelli (Mtb 13.593)

DIREÇÃO E PRODUÇÃO EDITORIALArtCom Assessoria de Comunicação – Campinas/SP(19) 3237-2099 - [email protected]

REDAÇÃOGabriela Padovani, Larissa Stracci e Marlene Simarelli

COLABORADORESCarlos Eduardo Q. Giampá, Juliana Freitas e Marcelo Sousa

SECRETARIA E [email protected] - (11) 3868-0723

COMERCIALIZAÇÃO DE ANÚNCIOSSandra Neves e Bruno Amadeu - [email protected]

IMPRESSÃO E ACABAMENTOGráfica Mundo

CIRCULAÇÃOA revista Água e Meio Ambiente Subterrâneo é distribuída gratuitamente pelaAssociação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS) a profissionais ligados ao setor.

Distribuição: nacional e internacionalTiragem: 5 mil exemplares

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem,necessariamente, a opinião da ABAS.Para a reprodução total ou parcial de artigos técnicos e de opinião énecessário solicitar autorização prévia dos autores. É permitida areprodução das demais matérias publicadas neste veículo, desde quecitados os autores, a fonte e a data da edição.

Assinatura da revista Água eMeio Ambiente SubterrâneoA ABAS comercializa assinaturas da Revista Águae Meio Ambiente Subterrâneo, publicação bimestraldistribuída gratuitamente aos associados da ABASe às instituições ligadas ao setor. A assinatura podeser feita pelo período de 6 ou 12 meses, renováveisa pedido do assinante. Os valores são de R$ 95para receber a revista durante 6 meses (3 edições)e de R$ 180 para receber durante 12 meses. O pa-gamento deverá ser realizado via boleto bancário.As assinaturas deverão ser feitas no site:www.abas.org/revista_assina.php.

INFORME ABAS

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 5SETEMBRO/OUTUBRO 2012

NÚCLEOS REGIONAIS

ABAS Núcleo Pernambucorenova diretoriaA ABAS Núcleo Pernambuco realizou no dia 3 deagosto, a eleição para sua nova diretoria. A cha-pa “ABAS para todos” foi eleita para o biênio 2012/2014 e tem como presidente, Fernando AntônioCarneiro Feitosa; 1º vice-presidente, Helena Ma-galhães Porto Lira e 2º vice-presidente, AlaricoAntônio Frota Mont’Alverne.

Águas subterrâneas foram temado ciclo de palestras do DRMO Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ), como parte do ciclo de palestras que promove,abordou o tema Águas Subterrâneas no Estado do Riode Janeiro – Situação Atual e Perspectivas, no últimodia 30 de agosto, em Niterói.

O evento foi realizado em parceria com a AssociaçãoBrasileira de Águas Subterrâneas – Núcleo Rio de Janei-ro e teve a participação de representantes e pesquisado-res da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) eUniversidade do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).

CT-AS prepara nova resoluçãopara perfurar poçosUma das principais frentes de atuação do Núcleo ABAS-RJ é a Câmara Técnica de Águas Subterrâneas (CT-AS)do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI), cujocoordenador é o geólogo Aderson M. Martins, um dos di-retores do Núcleo. Entre os temas atualmente tratadospela CT-AS destaca-se a elaboração de uma nova Resolu-ção sobre Autorização para Perfuração de Poços de domí-nio do Estado do Rio de Janeiro. O documento a ser pro-duzido deverá ser levado à apreciação do Conselho Esta-dual de Recursos Hídricos para tornar-se uma resoluçãodeste Conselho, a ser observada pelo INEA, órgão gestorde recursos hídricos estadual. O texto-base para discus-são é a Portaria 385, publicada em abril de 2005 pela extin-ta Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA),considerada desatualizada pelo próprio INEA, que tomoua inciativa de trazer o tema para apreciação na CT-AS. Ou-tro assunto relevante que vem sendo tratado é o PlanoEstadual de Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janei-ro (PERHI-RJ), cuja parte relativa às águas subterrâneasvem sendo acompanhada pela CT-AS, por meio de umaapresentação periódica do andamento dos trabalhos pelaFundação COPPETEC, instituição encarregada da elabo-ração, ocasião em que se disponibilizam a receber críti-cas e sugestões.

Nova diretoria da ABASCeará toma posse e édestaque na mídiaA nova diretoria da ABAS Núcleo Ceará tomouposse no último dia 30 de agosto no auditório dasede da Companhia de Saneamento Ambientaldo Maranhão (CAEMA). Composta pelos estadosdo Ceará, Piauí e Maranhão, terá como presiden-te pelos próximos dois anos o geólogo CarlosBorromeu de Passos Vale.

Destaque na mídia local, a cerimônia de posseda nova diretoria foi divulgada pelos principaisveículos de comunicação do Maranhão como osportais: CAEMA, Imirante (da Globo.com), JornalPequeno, Jus Brasil, entre outros, o que reflete aimportância da atuação do Núcleo em prol daságuas subterrâneas dos três estados.

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6 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

OPINIÃO DO LEITOR

Gostaria de parabenizar o artigo intitulado “Remediar emtrês dias?” publicado na seção Remediação da revistada ABAS. Nos últimos anos, estamos vendo a corridapara a busca do “Santo Graal” da remediação; um pro-duto, uma substância ou uma técnica que “em três dias”reabilitará completamente o local contaminado, muitasvezes locais que passaram décadas sendo contamina-dos. Ultimamente, até algumas empresas de consultoriautilizam como mote publicitário que detêm tecnologiasque possibilitam remediar, num prazo curtíssimo, con-taminações causadas por clorados, hidrocarbonetos eoutros compostos orgânicos e que tais “tecnologias” sãosuficientes em detrimento de quaisquer outras técnicas. Nós sabemos e o mundo inteiro sabe que isso nãoexiste. Existem diversos produtos fabricados por empre-

Parabéns aos autores pelo artigo sobre aremediação em três dias. Acredito que esse artigotenha sido motivado pela matéria que saiu numarevista, sobre um produto que dizia “eliminar” faselivre em três dias.

Quando l i a matéria sobre tal produto eseus ”resultados”, fiquei surpreso. É impressionan-te ver a que ponto chega o charlatanismo para atin-gir o mercado consumidor. Todos nós sabemos queremediação num prazo curto é impossível. Os “in-

sas idôneas que, realmente, quando corretamente apli-cados, nos volumes e intervalos de injeção preconiza-dos pelo fabricante, podem trazer excelentes resultadosminimizando os prazos de remediação. Entretanto, des-conheço pesquisa séria e fabricantes idôneos que, an-tes mesmo de saber as dimensões da contaminação eas características do local contaminado, já definem, pre-maturamente, um prazo para remediar.

É preciso que o mercado consumidor não caia nesseargumento ou então que elabore um contrato por meiodo qual a consultoria/fabricante cumpra esse prazo e osresultados alcançados se perpetuem ao longo dotempo. Todos nós gostaríamos e esperamos chegarnum momento em que a recuperação de áreas conta-minadas seja mais rápida e eficaz e os custos diminu-am. Para isso, existe no mundo todo pessoas trabalhan-do, desenvolvendo conhecimento e técnicas, desenvol-vendo softwares capazes de simular a eficácia de deter-minados tipos de intervenção, publicando artigos e es-tudando casos. É nessas referências que temos que nospautar ao indicar e aplicar uma ferramenta deremediação ou elaborar um prognóstico de prazo pararemediação. Ainda não se consegue em três dias, 30dias e na maioria das vezes nem em 300 dias.

O artigo “Remediar em três dias?”, de autoriade Everton de Oliveira (Hidroplan), Ana PaulaQueiroz (Waterloo do Brasil), Giovanna Galanti(Essencis) e Maurício Prado (Servmar), publi-cado na edição 28, gerou opiniões sobre otema. Acompanhe:

______________________________________________________________Alexandre Davide Miller, Hidrogeólogo M.Sc.MILLER Consultoria Ambiental Ltda

ventores” de tal produto deveriam estar no GuinessBook ou receber o Nobel de Química!

Infelizmente esse tipo de apelo comercial ainda“cola” em nosso mercado em função do desco-nhecimento técnico de alguns, pressões orçamen-tárias e expectativas de remediação num passede mágica.

______________________________________________________________Paulo Negrão, CEO e Diretor TécnicoClean Environment Brasil

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 7SETEMBRO/OUTUBRO 2012

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8 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

ABAS INFORMA

da Acqua Consultoria, empresa organizadora do even-to, estão inscritos cerca de 400 participantes e são es-perados pelo menos 800 visitantes.

Outro destaque do evento será a apresentação dos tra-balhos técnicos. Foram aprovados pela ComissãoOrganizadora, 239 estudos de alto nível técnico (na edi-ção de 2010 foram 180). “Esse número demonstra umaevolução dos estudos do setor e dos profissionais da área,o que refletirá diretamente na qualidade do evento”, ana-lisa Gustavo Alves da Silva, da Hidroplan, um dos inte-grantes da comissão que selecionou os trabalhos.

Durante o CABAS ocorrerá a eleição da nova diretoriada ABAS Nacional. A “Chapa Sustentabilidade” foi regis-trada cumprindo as regras previstas nos estatutos daABAS e terá como candidatos: presidente, Waldir DuarteCosta Filho, da ABAS Núcleo Pernambuco, como 1º vice-presidente Cláudio Pereira Oliveira, da ABAS Núcleo RioGrande do Sul e como 2º vice-presidente, Maria AntonietaAlcântara Mourão, da ABAS Núcleo Minas Gerais.

Mais informações e inscrições no site: www.abas.org/xviicongresso.

PATROCINADORESAgência Nacional de Águas (ANA), AnalyticalTechnology, CAPES, Geosol, Governo do Esta-do de Mato Grosso do Sul, MMX, Perfuratriz DTH,SABESP, Serviço Geológico do Brasil - CPRM eVale S. A.

EXPOSITORES DA FENÁGUAAçofiltro, Agência Nacional de Águas (ANA),Analytical Technology, Ar Brasil Compressores,Bombas Leão S. A., C.R.I Bombas Hidráulicas,Caimex Comércio Exterior, Chicago Pneumatic,Clean Environment, Corplab, CREA-MS, Dancor,Drill Center, Drillmine, Ebara, Franklin Electric,Geosol, Giuli Bombas, Governo do Estado deMato Grosso do Sul, Keller, Mojave, Prominas,Sampla do Brasil, Schulumberger Water Services,Serviço Geológico do Brasil – CPRM, Sidermetal,Sidrasul, System Mud e Perfuratriz DTH.

APOIO INSTITUCIONALFundação de Turismo, Governo do Estado deMato Grosso do Sul, Hidroplan e Seprotur

Gruta do Lago Azul- águas azuladas

com profundidadeestimada de 90m

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“Águas Subterrâneas para o desenvolvimento sustentá-vel” é o tema do XVII Congresso Brasileiro de ÁguasSubterrâneas (XVII CABAS), que acontece entre os dias23 e 26 de outubro de 2012, na cidade de Bonito (MS).Com atividade econômica principal focada no turismodas águas, Bonito recebe também o XVIII Encontro Na-cional de Perfuradores e a VII Feira Nacional da Água(FENÁGUA), eventos simultâneos ao congresso. A “Im-portância da Água no Desenvolvimento de Mato Grossodo Sul” será a conferência de abertura do evento, quereunirá em um só local, pesquisadores, profissionais,estudantes, além das principais empresas dos setorespúblico e privado de águas subterrâneas do país.

Esta edição do CABAS debaterá temas importantescomo: restrições de uso das águas subterrâneas; o fu-turo do Sistema Nacional de Gestão de RecursosHídricos; empreendimentos Agropecuários e as relaçõescom a água; saneamento ambiental; formação de pre-ço de poços tubulares; o papel do estado como indutordo manejo dos recursos hídricos subterrâneos; aquíferostransfronteiriços; valor econômico da água, entre outros.

O evento contará com a presença de renomados es-pecialistas, entre eles, Fernando Roberto de Oliveira, daAgência Nacional de Águas (ANA); Everton Souza, doInstituto Ambiental do Paraná (IAP), Patrícia Boson, doInstituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Francisco deAssis, da Universidade Federal do Ceará (UFC), HiroshiIetsugu, da Associação dos Engenheiros da Sabesp(AESABESP) e João Manoel Filho, da Universidade Fe-deral de Pernambuco (UFPE).

A programação começará a partir das 14h e as ses-sões técnicas, mesas redondas e conferências serãorealizadas até às 19h. A visitação à FENÁGUA seguiráaté às 21h. De acordo com a Rodrigo Cordeiro, diretor

Bonito, cidade das águas, recebe o XVII CABAS

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 9SETEMBRO/OUTUBRO 2012

ABAS INFORMA

ABAS participa do HydrocarbonSummit 2012, em WaterlooProfessores, consultores, legisladores e profissionais demeio ambiente da indústria do petróleo participaram do8º. Encontro Anual sobre Transporte, Comportamento eRemediação de Hidrocarbonetos em Meio AmbienteSubterrâneo (8th Annual Hydrocarbon Summit Transport,Fateand Remediation of Hydrocarbons in the Subsurface),da Universidade de Waterloo, no Canadá. Segundo James(Jim) Barker, organizador do evento, “o encontro permi-tiu uma ótima interação entre os 60 participantes. As pers-pectivas internacionais foram bem representadas, com apresença de Brasil, Estados Unidos (Bruce Bauman, CurtisStanley e outros), Itália (Massimo Marchesi), entre outrospaíses”. Everton de Oliveira representou o país pela ABASe pela UNESP – Rio Claro, onde é professor. Na opiniãode Oliveira, que também é diretor da Hidroplan, ”foi umexcelente encontro técnico, pois mostra o nível das pes-quisas no Canadá e garante que a pesquisa sobre o temaé relevante”.

Bruce Baumam, da American Petroleum Institute (API)considera que “o evento é uma oportunidade para oaprendizado sobre novas tecnologias. Muitos dos tra-balhos apresentados resultam de pesquisa entre con-sórcios de várias universidades, da API, de empresasde consultoria e das agências ambientais de Ontario”. Aindústria petrolífera tem mostrado interesse especial nouso das facilidades instaladas no campo de testes deBorden para experimentos com derrames controladospara entender o comportamento do etanol em meioambiente subterrâneo. Pesquisas futuras indicam focomaior na avaliação da efetividade de remediações in-situ inovadoras, como oxidação química e queima semchama (smouldering).

Revista Água e Meio Ambiente Subterrâneo completa cinco anosA Revista Água e Meio Ambiente Subterrâneo, umadas mais importantes publicações técnicas sobreáguas subterrâneas do país, está completando cincoanos em outubro. A publicação bimensal, editada pelaAssociação Brasileira de Águas Subterrâneas, tem dis-tribuição nacional e internacional. De acordo comHumberto de Albuquerque, presidente da ABAS, “apublicação é um marco nos setores de águas e meioambiente subterrâneo”.

Entre os temas abordados nas últimas 28 edições,foram pautados assuntos como utilização das águassubterrâneas para atividades industriais, áreas contami-nadas, riscos do gás metano para a contaminação daágua e meio ambiente subterrâneo, regularização depoços, gestão de recursos hídricos, construção de po-ços e qualidade das águas, restrição de perfurações,desafios na gestão de aquíferos, águas contaminadas,recuperação de passivos ambientais e Regulamentaçãoda Lei do Saneamento. Além de outros importantes te-

mas retratados nos cadernos Produção de Água e MeioAmbiente. A sessão Núcleos divulga os principais acon-tecimentos dos Núcleos da ABAS, o que possibilita umamelhor comunicação e maior difusão de notícias paraos sócios e profissionais ligados à água. As seções Opi-nião, Perfuração, Remediação e Conexão Internacional,conta com a presença de renomados profissionais na-cionais e internacionais.

A revista faz a cobertura dos principais eventos daABAS, como o Congresso Internacional de Meio Ambi-enta Subterrâneo (CIMAS) e o Congresso Brasileiro deÁguas Subterrâneas (CABAS), realizado simultaneamen-te ao Encontro Nacional de Perfuradores de Poços e àFeira Nacional da Água (FENÁGUA). Everton de Olivei-ra, Gustavo Alves da Silva e Rodrigo Cordeiro integramo Conselho Editorial da publicação que tem como edi-tora e jornalista responsável, Marlene Simarelli, daArtCom Assessoria de Comunicação, empresa respon-sável pela direção e produção editorial da revista.

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10 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

HIDRONOTÍCIAS

Carlos Eduardo Quaglia Giampá,Diretor da DH Perfuração de Poços

O manifesto publicado pela Associação Brasileira deÁguas Subterrâneas (ABAS) no último número da revis-ta (edição 28 – julho/agosto), cobrando uma ação efeti-va contra o desperdício de água e a favor do abasteci-mento em áreas do Semiárido, no Estado do Piauí, jáapresenta resposta prática.

A empresa estadual Águas e Esgotos do Piauí(AGESPISA) está licitando o Projeto da Adutora do Ser-tão, que deverá propiciar o abastecimento para 42 mu-nicípios situados na região Semiárida, atendendo a 600mil pessoas, que sofrem hoje com a falta de água, prin-

VALE DO GURGUEIA,ADUTORA DO SERTÃO

cipalmente em períodos de longa estiagem como a queestá acontecendo este ano.

O projeto está orçado em R$ 15 milhões e a obra daadutora em R$ 842 milhões. A adutora será alimentadapelas águas subterrâneas provenientes do Aquífero Ca-beças, cujos pontos de captação deverão estar num raiode dez quilômetros do Poço Violeto, situado no municí-pio de Cristino Castro (PI). Segundo o presidente daAGESPISA, Raimundo Neto Nogueira, a adutora terá au-tonomia para abastecimento por um período de 300 anos.

Parabéns, essa é uma ótima noticia!

ABES EMPOSSA NOVA DIRETORIA

PROJETO OBRIGA ANP A NOTIFICAR ANA SOBREAQUÍFEROS ENCONTRADOS EM PERFURAÇÕES

A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária eAmbiental (ABES) empossou a nova diretoria para obiênio 2012/2014 em 30 de agosto de 2012,encabeçada pelos engenheiros civis, Dante RagazziPauli, da Companhia de Saneamento Básico do Esta-

do de São Paulo (SABESP),como presidente; e ÁlvaroJosé Menezes da Costa, da Companhia de Saneamentode Alagoas (CASAL); como vice-presidente. Dante tam-bém preside a seção da ABES-SP e a CâmaraAmbiental do Setor de Saneamento.

A Câmara analisa o Projeto de Lei 3593/12, do Senado,que obriga a Agência Nacional do Petróleo (ANP) a no-tificar a Agência Nacional de Águas (ANA) quando umconcessionário encontrar um poço em que seja viável aobtenção de água proveniente de aquíferos.

A comunicação deverá ser feita durante ou ao final dafase de exploração, se o concessionário desistir e de-volver a concessão dos poços perfurados em terras semvalor energético comercial, mas que podem ser utiliza-das para a obtenção de água. Essa obrigação será in-cluída na Lei do Petróleo (9.478/97).

O projeto também altera a lei que criou a ANA (9.984/00)para obrigar a agência a regulamentar os critérios ob-servados para o aproveitamento desses poços.

A autora, ex-senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN), ar-

gumenta que, durante as perfurações, as empresas ex-ploradoras de petróleo e gás natural podem se depararcom reservas hídricas provenientes de aquíferos, quepoderiam ser utilizadas em benefício da comunidade.

“Especialmente em regiões do semiárido nordestino,de notória carência de oferta hídrica, não constitui ex-cessiva obrigação exigir que a ANP, de posse das infor-mações prestadas pelas empresas concessionárias,transmita essas informações à ANA”, defende.TRAMITAÇÃOA proposta tramita em caráter conclusivo e será analisa-da pelas comissões de Minas e Energia e de Constitui-ção e Justiça e de Cidadania.

A seção Hidronotícias/Recordar é Viver é de responsabilidade do autor.

Fonte: Agência Câmara

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 11SETEMBRO/OUTUBRO 2012

HIDRONOTÍCIAS

RECORDAR É VIVER

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12 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

PRODUÇÃO DE ÁGUA

O

SECA X CAMPOS DEPRODUÇÃO DE ÁGUAA região Nordeste sofre com estiagens cada vez mais severas e asolução para o problema da seca está na criação de campos deprodução de águaPor Humberto Albuquerque, presidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS)

Nordeste brasileiro enfrenta novo período de es-tiagens e, mais uma vez, os jornais estampam

manchetes informando que mais de 1200 municípiosestão em estado de emergência ou calamidade públi-ca. Novamente constatamos que as obras estruturantesque permitiriam ao nordestino conviver com as secasnão foram implementadas ou ainda são insuficientes. Atransferência de água do Rio São Francisco para o Nor-deste Setentrional está com seu cronograma de execu-ção bastante atrasado e as adutoras, a partir dosbarramentos existentes, ainda não conseguem atenderconvenientemente a população, os rebanhos, a agricul-tura e as indústrias existentes.

Mais uma vez teremos a repetição das providênciasadotadas em secas anteriores: programas emergenciais,frentes de serviços, distribuição de cestas de alimentos,

construção de barragens, perfuração e completação depoços tubulares, contratação de caminhões pipas, bol-sas diversas, perdão de dívidas, garantia de safra, des-vio de verbas, aproveitamento político etc.

Há bastante tempo, a ABAS propõe um programa in-tensivo de perfuração de poços tubulares para a produ-ção de água, insumo básico para minimizar os efeitosdas estiagens e, mais recentemente, defendeu a implan-tação de Campos de Produção de Água Subterrânea,semelhante a campos de produção de petróleo.

É desalentador observarmos que 190 municípiospiauienses encontram-se em estado de emergência oucalamidade pública, quando é de conhecimento públi-co a existência de enormes reservas de água subter-rânea naquele estado. Não sei se é por falta de vergo-nha ou de vontade política que o status quo é mantido.

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PRODUÇÃO DE ÁGUA

GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS E PRODUÇÃO DE POÇOS NO NORDESTE

Vejamos um exemplo do potencial hídrico nordestino: oDepartamento Nacional de Obras Contra as Secas(DNOCS) em 1972, contratou o consórcio OESA/TECNOSOLO/OTI/EPTISA para desenvolver estudos sis-temáticos da potencialidade hídrica subterrânea do Valedo Gurgueia (PI). A interpretação dos dados obtidospermitiu concluir que naquela região o manancial hídricomais promissor era o Aquífero Cabeças. Em seguida, oDNOCS contratou os estudos de viabilidade técnica e oprojeto executivo para irrigar uma área de 2 mil hecta-res, serviços realizados entre junho de 1974 e junho de1976, por meio do consórcio COTEP. Nesta fase foramperfurados poços de pesquisa e poços piezométricos,sendo o mais famoso deles o Violeto, por jorrar cercade 1000 m3/h, A iniciativa permitiu projetar e construiruma bateria de 15 poços produtores espaçados a cada1 mil metros e alinhados paralelamente à rodovia BR-135.Para execução desses poços, o DNOCS contratou aCPRM - Serviço Geológico do Brasil, que entre 1976 e1978 os perfurou e neles instalou bombas de eixo prolon-gado para produzir cerca de 500 m3/h cada um. Esta ba-teria de poços tinha capacidade para produzir 6.300 m3/he era suficiente para abastecer 840 mil pessoas.

Seguiram-se nove anos de inatividade (1977-1986)quando então o Governo Federal criou o Programa deIrrigação do Nordeste (PROINE). Em agosto de 1986, oDNOCS – então subordinado ao Ministério de Irrigação– partiu para desenvolver o Projeto de Irrigação do Valedo Gurgueia. Este projeto previa a irrigação de 30 milhectares ao longo do vale (ou 400 quilômetros) e pre-via a construção e a instalação de 200 poços de gran-de vazão. Para a perfuração dos primeiros 28 poçosfoi novamente contratada a CPRM - Serviço Geológi-co do Brasil, sendo que o acompanhamento técnicoe os estudos hidrogeológicos foram confiados ao La-boratório de Hidrogeologia (LABHID) da Universida-de Federal de Pernambuco (UFPE). Nesta etapa, en-tre 1986 e 1989, foram perfurados 23 poços produto-res e 16 piezômetros, quando o projeto foiintempestivamente encerrado.

Estima-se que no período de 1972 a 1989 foram in-vestidos mais de R$ 30 milhões, porém o mais grave éque até hoje, à exceção do avanço hidrogeológico, nãoresultou em quaisquer avanços no suprimento de águae no desenvolvimento econômico do Vale do Gurgueia,apesar da excepcional reserva de água subterrânea.

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PRODUÇÃO DE ÁGUA

CAMPOS NO MUNDO E DISTRIBUIÇÃONO NORDESTE BRASILEIROMuitos campos poderiam ser descobertos no Brasil, poiso potencial de seu recurso hídrico subterrâneo é imenso.Exemplos bem sucedidos encontram-se na Líbia, comoos Campos de Produção de Água de Wadi Ariz (73 po-ços de produção), East Fezzan (127 poços de produção),Sarir (126 poços de produção) e Tazerbo (80 poços deprodução). A água produzida está sendo transferida atra-vés de dois aquedutos paralelos (tubulações de 4 metrosde diâmetro interno), desde a zona de produção no de-serto até a região costeira em Trípoli, perfazendo cerca

Poço P-13abandonado

Em 2009, o Serviço Geológico contratou o LABHID-UFPE para fazer uma reavaliação do projeto Gurgueia,visando a implantação de um Campo de Produção deÁgua, para atender a população urbana e rural, os as-sentamentos do INCRA, os quilombolas, os municípiosconstantes dos Territórios da Cidadania, os ConsórciosNacional de Segurança Alimentar e DesenvolvimentoLocal (CONSADs) e a agricultura familiar de vasta re-gião no Estado do Piauí e suas fronteiras.

O relatório entregue em junho de 2010 conclui,após várias simulações bastantes conservadoras,que a utilização da bateria de poços existentes de-pois de reavaliada poderia produzir uma descarga

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de 20 mil m3/h. Tal quantidade seria sustentável por300 anos e abasteceria uma população de cerca de2.7 milhões de pessoas.

Infelizmente, o Ministério Público só questionou aexistência de poços jorrantes, exigindo seutamponamento – o que é correto – mas se esqueceude questionar a paralização do projeto que provocouprejuízo financeiro e econômico ao país e particular-mente ao Piauí. Este poderia ser, entre tantos outros, oprimeiro grande Campo de Produção de Água Subter-rânea a ser implantado no Brasil.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 15SETEMBRO/OUTUBRO 2012

Características dos Camposde Produção de ÁguaUm Campo de Produção de Água pode serconceituado como uma área de altapotencialidade em termos de produção deágua subterrânea, que detenha as seguin-tes características:• existência de estudos hidrogeológicos de re-conhecimento, de viabilidade e de detalhe, comconhecimento suficiente para permitir a mode-lagem do(s) aquífero(s) com a consequentegeração de cenários de explotação;• possibilidade de produção de água sufici-ente para suprir as demandas locais e comexcedentes para transferência para outras re-giões, sem comprometer seriamente as re-servas de saturação;• possibilidade de viabilizar o transporte como uso de tubulações para grandes distâncias,sem sofrer efeitos de evaporação.

Bibliografia consultada:Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil, Feitosa, Fernando A. C., Feitosa, Edilton Carneiro,Demétrio, José Geilson Alves. Zonas Estratégicas de Produção de Água Subterrânea: “Vale do Gurguéia/PI – Cenários deExplotação”. Rio de Janeiro, 2010.

de 1.200 quilômetros. A produção é de 3,4 milhões dem3/dia (representa praticamente um rio artificial).

Em Pernambuco, a Companhia Pernambucana de Sa-neamento (COMPESA) transfere água subterrânea cap-tada na bacia sedimentar de Jatobá para abastecer assedes municipais de Arcoverde, numa distância de 60quilômetros, e Sertânia. Também transfere água subter-rânea da bacia sedimentar de Fátima para abastecer assedes municipais de Afogados da Ingazeira, Custódia,Fátima, Flores, Sítio dos Nunes e São José do Egito.

No Piauí, a Água e Saneamento do Piauí S/A(AGESPISA), possui uma bateria de poços tubularescaptando água do Aquífero Cabeça e as transferindopara a sede do município de São Raimundo Nonato,localizado sobre terrenos de rochas cristalinas.

A ABAS, na medida em que denuncia os fatos aqui rela-tados, propõe aos governos federal e estaduais aimplementação urgente de ações que possibilitem a utili-zação de suas águas subterrâneas, por meio da desco-berta e da implantação de Campos de Produção de Água.

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16 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

CAPA

P

Considerada um bem econômico,a água tem diferentes valores emdiferentes locais, mas

QUANTOVALE AÁGUA QUEVOCÊ USA?Gabriela Padovani

artindo do pressuposto de que a dificuldade

em obter um produto faz com que ele se va-

lorize, a água pode ser encaixada nesse con-

texto. Em um deserto, uma única gota de água é

supervalorizada. Já em locais onde é abundante, esse

bem natural pode ser considerado sem valor, do pon-

to de vista econômico.

Antes da criação das políticas estaduais e da Polí-

tica Nacional de Recursos Hídricos havia apenas o

Código das Águas de 1934, que embora seja impor-

tante, possuía um direcionamento para o setor de bar-

ragens. Com políticas que o sucederam e com a ges-

tão descentralizada e participativa dos recursos

hídricos surgiram os Conselhos de Recursos

Hídricos, Comitês de Bacias e entidades afins. “A

partir da criação dessas entidades, foi possível esta-

belecer um preço base de cobrança pelo uso da

água”, explica Francisco C. Castro Lahóz, secretário

Executivo do Consórcio da Bacia dos Rios Piracicaba,

Capivari e Jundiaí (Consórcio PCJ), pioneiro na reali-

zação da cobrança voluntária pelo uso da água,

inciada em 1999. Já a cobrança oficial foi implanta-

da, primeiro, nas Bacias do Paraíba do Sul, em 2003,

e nas do PCJ, em 2006.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 17SETEMBRO/OUTUBRO 2012

CAPA

A ECONOMIA DA ÁGUANASCEU NA ONUA água foi determinada como bemeconômico em 1992, pelas Organiza-ções das Nações Unidas (ONU), queestabeleceu princípios para os paísesmembros seguirem. Segundo AntonioFélix Domingues, coordenador de Ar-ticulação e Comunicação da AgênciaNacional de Águas (ANA), esses prin-cípios foram criados para que nenhumpaís usasse a água em excesso en-quanto o recurso faltasse em outro. “Aágua é um bem público, que deve serconservado. As empresas não vãotomá-la, pois seu uso necessita deoutorga ou do governo estadual ou dogoverno federal”, explica Domingues.Em relação à cobrança, o papel daANA é fazer a regulação da água nanatureza. As autorizações de capta-ção de água emitidas pela agênciaexigem análise quantitativa e qualita-tiva e não de valor. Quem determinao valor pela captação da água é o pró-prio comitê de bacias.

Com base no instrumento de gestão“Cobrança”, da Política Nacional deRecursos Hídricos (Lei n° 9433/97) éimportante ressaltar que existe uma di-ferença grande entre calcular o real va-lor da água e poder cobrá-lo, sem cor-rer o risco de provocar oendividamento das concessionárias deserviços de água, prefeituras, setorprodutivo, agricultura e usuários em

geral. “O valor da água deverá seraquele que a planilha de aplicação derecursos de um plano de bacias esta-belecer como possível. Pode ocorrerque os usuários dessa baciahidrográfica não tenham capacidadede endividamento para cumprir aplanilha completa, mas, se essa baciafor estratégica economicamente, o pa-gamento do valor da água estabeleci-do deverá ser subsidiado pelos gover-nos envolvidos, comunidades ou comempréstimos nacionais e internacio-nais”, esclarece Lahóz.

UMA LONGA EQUAÇÃOPARA SER RESOLVIDAPOR GESTORESSegundo Lahóz, os fatores demandax disponibilidade são apenas compo-nentes de uma equação com dezenasde variáveis reais, proativas e restriti-vas. Equação essa que não é para serresolvida por matemáticos, mas simpor gerenciadores dos recursoshídricos por meio de negociação.“Estamos falando de cobrança do usodos recursos hídricos por baciahidrográfica. Quando o assunto é tari-fa de concessionária de serviço deágua, os fatores envolvidos são maiscomplexos, incorporando captação etratamento da água, reservação daágua, manutenção e substituição deredes, capacitação e pagamento dosfuncionários, aquisição e manutençãode equipamentos, pagamento pelo usoda água aos comitês de bacia, moder-nização dos sistemas, entre outros. In-felizmente, na prática, muitas vezes astarifas são políticas e não “reais” e ascobranças pelo uso da água no mun-do todo começa com valores simbóli-cos, para se criar a cultura, com acrés-cimos gradativos posteriores”,

complementa o secretáriodo PCJ. No caso da Com-panhia Riograndense deSaneamento (CORSAN),de Porto Alegre (RS), a co-brança da água baseia-se

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Antônio FélizDomingues,coordenador deArticulação eComunicação da ANA

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18 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

CAPA

em uma diretriz oriunda doDireito Ambiental: o Princípiodo Usuário Pagador, que exi-ge a contribuição pela utiliza-ção dos recursos ambientais,esclarece Júlio Quadros, di-retor comercial da Compa-nhia. “Além disso, a presta-ção do serviço de abasteci-mento de água demandauma cara e complexa estru-

ECONOMIA DA ÁGUA EM NÚMEROS

Preços nas principais Bacias Federais

BaciaTIPO DE USOCaptação de água brutaConsumo de água brutaLançamento de carga orgânicaTransposição de bacia

UNIDADER$/m3

R$/m3

R$/kg

R$/m3

PCJR$0,01

0,02

0,10

1,015

Paraíba do SulR$0,01

0,02

0,07

-

Rio São FranciscoR$0,01

0,02

0,07

-

Rio DoceR$0,018

-

0,100

0,022Fonte: ANA

Seguindo as normatizações da ANA, as

companhias praticam os preços baseadas

em faixas de consumo e em categorias,

como residencial, industrial, agricultura,

etc. Já nas Bacias Federais, os principais

preços aplicados são pela captação e con-

sumo de água bruta.

Com a análise das tabelas é possível

perceber que no Ceará, a água tem mais

valor que em São Paulo. Por exemplo, em

uma faixa de consumo maior que 50 m³,

o valor cobrado pelo metro cúbico em

São Paulo de R$ 3,88/m³ pode ser consi-

derado baixo, se comparado ao valor do

Ceará de 7,60/m³ – praticamente o do-

bro da taxa paulista. Veja ao lado algu-

mas tarifas residenciais de água pratica-

das em três Estados:

tura organizacional, em termos de operação, trata-mento, manutenção, obras de ampliação, etc”.

Domingues comenta que “por ser um recurso na-tural limitado, é necessário pagar para consumir aágua. A contr ibuição é fei ta também paraconscientizar a população para um uso racional dobem, além de contribuir para a melhoria da bacia deonde essa água foi retirada”.

Já na opinião de Everton de Oliveira, secretário exe-cutivo da Associação Brasileira de Águas Subterrâ-neas (ABAS) e diretor da Hidroplan, “ainda existe umcampo imenso a ser avançado pela sociedade comoum todo, e pela ABAS em particular, pela inclusãodo valor da água no valor dos bens e da riqueza deum país”.

São Paulo0 a 10 R$ 15,16 / mês

11 a 20 R$ 2,12 / m³

21 a 50 R$ 3,25 / m³

Acima de 50 R$ 3,88 / m³

Fonte: ARSESP

Rio Grande do SulPreço Base (m³) R$ 3,61

Serviço Básico R$ 17,07

Tarifa mín. s/ hidrômetro R$ 53,17Fonte: CORSAN

Ceará0 a 10 R$ 1,85 / m³

11 a 15 R$ 2,36 / m³

16 a 20 R$ 2,53 / m³

21 a 50 R$ 4,32 / m³

Maior que 50 R$ 7,60 / m³

Fonte: CAGECE

Francisco Lahóz, secretárioexecutivo do Consórcio PCJ

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20 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

ESPECIAL POÇOSCAPA

LUCRANDO COMUM BEM NATURALSegundo Domingues, o que ocorre não é asupervalorização da água ou o lucro por parte das em-presas na prestação de serviços, mas, sim, uma práti-ca desaconselhável: vender a água muito barata.“Quando você vende a água muito barato, tanto para apessoa que tem muito dinheiro, tanto para a que nãotem, você faz com que os munícipes não tenham cons-ciência do uso da água, pois quando o preço é baixo,o consumo tende a ser maior”, completa o coordena-

dor. Para Lahóz, do PCJ,são cobradas tarifassubsidiadas e não tari-fas “reais”. “A PolíticaNacional de Saneamen-to obriga a criação dasAgências de Regulaçãopara que estas calculemo valor real da água ou,no mínimo, o valor real suportável pela conces-

sionária de água e esgoto e comunidade. Muitas vezesexistem acusações de superfaturamento nas tarifas deágua, mas na maioria dos casos o que ocorre é um equí-voco, ou melhor dizendo, uma apropriação indébita dosrecursos tarifários, como por exemplo utilizando tais re-cursos de tarifa de água para outras finalidades”, opinao secretário.

Quadros, da CORSAN, destaca que por ser uma em-presa pública de saneamento, não prioriza o lucro naprestação de seus serviços. “A Companhia aplica o sub-sídio solidário, que consiste numa tarifa única cobradaaos usuários. Ou seja: os consumidores pagam a mes-ma tarifa tanto nos municípios de pequeno porte quantonos de grande porte. Com isso, o faturamento obtidonas grandes cidades garante a manutenção e o suces-so do sistema em todo o Estado gaúcho, numa políticade democratização do saneamento.”

O lançamento de água tratada até o limite de lança-mento ou sem tratamento é uma forma de transferên-cia do valor do tratamento para a sociedade como umtodo, explica Oliveira, da ABAS. “Quem deixa de tra-tar ou trata parcialmente está deixando de pagar ovalor que passa a ser assumido pela sociedade. Estevalor pode ser incorporado ao produto daquela em-presa e quem o consome pagaria por isto. Este con-ceito, como é hoje, precisa ser revisto”, ressalta.

Júlio Quadros, DiretorComercial da Corsan

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 21SETEMBRO/OUTUBRO 2012

“Não há necessidade de mudaro comportamento em relação àquantidade, somente em relaçãoà qualidade, um ponto muitoimportante a ser trabalhado”

Everton de Oliveira

MUDANÇA DE CULTURA:ABUNDÂNCIA NÃO É REALAs empresas têm opiniões semelhantes sobre aconscientização do usuário e a necessidade da mudan-ça no comportamento do brasileiro, em relação à águacomo um bem inesgotável. A mudança é totalmenteimprescindível, acreditam.

No caso da CORSAN, a empresa tem desenvolvido jun-to às comunidades atendidas diversas campanhas em proldo uso responsável da água, diz Quadros. Já MarceloMorgado, assessor de Meio Ambiente da Companhia deSaneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP),ressalta que é fundamental disseminar as informações viamídia; nas escolas e em campanhas para o público em

geral, como forma de mudar atitudes individuais para quecada um possa pensar globalmente e agir localmente, cui-dando da água e do seu pedaço do planeta.

“A resposta poderá ser simplificada dizendo-se que asolução é a implementação plena dos “Instrumentos deGestão” contidos na Política Nacional de RecursosHídricos, que são: os planos de recursos hídricos; oenquadramento dos corpos de água em classes segun-do os usos preponderantes da água; a outorga dos direi-tos de uso dos recursos hídricos; a cobrança pelo uso derecursos hídricos e o sistema de informações sobre re-cursos hídricos. Com certeza, o instrumento “Sistema deInformações” deveria ser o primeiro a ser aplicado e osdemais em conformidade com a realidade de cada re-gião hidrográfica”, explica Lahóz, do Consórcio PCJ.

“A cobrança pelo uso da água é a melhor medida paraconscientizar o brasileiro e fazê-lo poupar mais”, acres-centa Domingues, da ANA. A cobrança deveria serescalonada, cobrando diferentes taxas das empresasque captam água no rio e os consumidores que já rece-bem a água tratada em suas residências.

Porém, Oliveira segue outra linha de pensamen-to. “Não há necessidade de mudar o comportamentoem relação à quantidade, somente em relação àqualidade, um ponto muito importante a ser traba-lhado”, opina.

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22 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

MEIO AMBIENTE

definição das características da água detalha queela é inodora, insípida e incolor. Porém a água

também é considerada um solvente universal da natu-reza por dissolver minerais e outros elementos com osquais entra em contato. Portanto, a afirmação de que aágua é um elemento puro, sem gosto, cheiro ou cor nãose sustenta, pois grande parte da água do planeta con-tém minerais, gases e até mesmo contaminantes, quealteram sensivelmente seu sabor. Para os diferentes es-pecialistas, não existe na natureza água completamentepura, em sua fórmula conhecida como duas moléculasde hidrogênio e uma de oxigênio (H

2O).Conforme expli-

ca o professor do Instituto de Geociências da Universi-dade de São Paulo (USP), Uriel Duarte,”ela sempre iráconter determinados elementos químicos que são in-corporados em seu ciclo hidrológico. A evaporação daságuas para a atmosfera e formação de nuvens, posteri-ormente as chuvas, não eliminam totalmente os sais dis-solvidos em sua composição”, afirma. A água “sempreincorpora substâncias no seu ambiente de ocorrência,por menor que sejam as concentrações e graus desolubilidade”, acrescenta o hidrogeólogo do De-partamento de Recursos Minerais do Serviço

A

Geológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ) e di-retor do Núcleo ABAS-RJ, Aderson Martins.

Para o professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicasda Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS), Antonio Benetti, existem águas “puras” no senti-do de não estarem contaminadas com substâncias tóxi-cas ou microrganismos patogênicos. “Tanto as águas sub-terrâneas como as superficiais podem conter compostosque causam gosto na água. Estes compostos podem sernaturais ou podem ser introduzidos por atividades huma-nas, podem vir da presença de sais ou não”. Duarte expli-ca que toda a água existente na natureza tem gosto ousabor. “A alteração do sabor depende da composição quí-mica que a água apresenta em seu trajeto no ciclohidrológico, precipitação, evaporação, infiltração (recarga)ou escoamento superficial. Neste ciclo, a água passa aagregar ou perder componentes dissolvidos, mudando desabor em cada uma das fases do percurso”.

Quantidade de sais e gases, tiposde minerais e contaminantes que

entram em contato com a águasão fatores determinantes naclassificação e nas diferentes

percepções do seu saborPor Larissa Stracci

OS GOSTOS DAÁGUA

22 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 23SETEMBRO/OUTUBRO 2012

MEIO AMBIENTE

SAIS E GASES ALTERAMO SABOR FINALLúcio Carramillo, geólogo e professoradjunto do Departamento deGeociências da Universidade FederalRural do Rio de Janeiro (DEGEO-UFRRJ), observa que “a água podeapresentar determinados gostos prove-nientes da concentração de sais e ga-ses dissolvidos que irão acompanhá-lamesmo após seu tratamento. Quantomais sais encontrados na água, mais elasofrerá alteração de sabor em relaçãoàs águas potáveis comuns, a chamada“água sem sabor”. Outro fator que alte-ra sensivelmente o sabor é a concen-tração de gases. Quando esses doisfatores ocorrem juntos, mais sabor di-ferenciado essa água terá”,complementa. Segundo Carramillo, ossais mais comuns encontrados naságuas são: bicarbonatos, carbonatos,sulfatos, nitratos, cloretos, fluoretos,cálcio, magnésio, sódio, potássio eiodeto, que apesar de mais raro, alterasensivelmente o gosto da água. Anto-nio Benetti, diz que os sais que confe-rem gosto à água podem ser agradá-veis. “É saudável a água potável ter umconteúdo de sais balanceado, nem ex-cesso, nem déficit”, detalha.

Na visão de Martins, a salinidade éuma das principais características que

conferem gosto à água. “A salinidadeé determinada através da quantidadede sais dissolvidos, chamada de Sóli-dos Totais Dissolvidos (STD)”. Ele ob-serva que as águas de superfície (rios,lagos, etc.) podem apresentar um gos-to desagradável causado pela presen-ça de algas, bactérias, fungos, restosde vegetação em decomposição, alémde substâncias como gás sulfídrico, sul-fatos e cloretos, de origem natural ouartificial. “Em outros casos, as águaspodem ou não ter gosto dependendodos componentes iônicos em solu-ção. Aqui se enquadram muito bemas águas subterrâneas, que podemconter uma concentração maior oumenor de sais minerais, podendo seráguas leves, praticamente sem gostoou conter concentrações de substân-cias acima dos padrões depotabilidade”, complementa.

Aderson Martins,hidrogeólogo doDRM-RJ e diretordo NúcleoABAS-RJ

Principais gostos da água

ÁGUA + SAIS

Cloretos acima de 300 mg/litro salgado

Sulfatos acima de 450 mg/litro salgado e amargo

Ferro acima de 0,5 mg/litro amargo

Cloreto de Sódio (NaCl) sabor salgado

Sulfato de Sódio (Na2So4) ligeiramente salgado

Bicarbonato de Sódio (NaHcO3) ligeiramente salgado a doce

Carbonato de Sódio (Na2CO3) amargo e salgado

Cloreto de Cálcio (Ca Cl2) fortemente amargo

Cloreto de Magnésio (MgCl2) amargo e doce

ÁGUA + GASES

Gás carbônico (CO2) picante

Gás Sulfídrico ovo podre

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24 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

MEIO AMBIENTE

poluição carregada pelas águas de rios e ma-nanciais é mais um fator responsável por atribuir

gosto à água. Estima-se que dois bilhões de toneladas

CONTAMINAÇÃO ALTERA O SABORde resíduos sejam jogadas anualmente nas águas detodo o mundo (dados Relatório Água Doente – ONU,2010) e dois milhões de pessoas morram todos os anos

PARA CADA REGIÃO,UM GOSTO DE ÁGUAO gosto da água é considerado regionalizado, pois apre-senta uma quantidade de Sólidos Totais Dissolvidos con-forme os tipos de rocha das regiões em que a água es-teve em contato. De acordo com Uriel Duarte, da USP,“determinados tipos de solos são originados de deter-minados tipos de rochas que por sua vez são constituí-das de diferentes minerais. Estes minerais, apóslixiviação de seus elementos pela água, vão a ela se in-corporar, influenciando na qualidade local da água”.

A rocha que armazena e transporta a água (aquífero)e o tempo de circulação nessa rocha são fatores im-portantes na determinação do gosto da água. “A rochapode alterar o gosto da água por causa de sua compo-sição mineralógica. Já o tempo vai permitir uma maiorou menor reação entre a água e os minerais nela con-tidos, o que fornecerá um gosto mais intenso”, descre-ve Lúcio Carramillo.

Segundo Aderson Martins, o gosto da água retiradade aquíferos tem relação com a profundidade da cap-tação. “Quanto maior a profundidade, maior será o graugeotérmico, propiciando maior interação água-rocha econsequente solubilização dos minerais. Portanto, atendência é que a profundidade tenha relação com amaior mineralização da água, embora isto não signifi-que necessariamente alteração no gosto, porque estedepende das substâncias solubilizadas, por sua vez de-terminadas pela constituição mineralógica das rochasformadoras dos aquíferos”.

Outra característica que atribui gosto é a concentra-ção de oxigênio dissolvido (OD) na água, observaBenetti. “A decomposição anaeróbica, realizada por mi-crorganismos na ausência de oxigênio, em geral, geragases malcheirosos que ficam dissolvidos na água, con-ferindo odores característicos de ovo podre, peixes, ter-ra e outros. Outra característica é o pH, que determina aforma com que o composto estará presente na água”.

A

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 25SETEMBRO/OUTUBRO 2012

Lúcio Carramillo, geólogo eprofessor da DEGEO - UFRRJ

em decorrência das doenças causadas pela ingestãode água contaminada (dados Organização Mundial daSaúde – OMS, 2011).

De acordo com Antonio Benetti, da UFRGS, “os com-postos geosmina e metilisoborneol, que conferem gostode mofo à água, são compostos orgânicos produzidospor cianobactérias (algas) presentes em mananciais fer-tilizados com nutrientes originados em esgotos domés-ticos, industriais ou da drenagem agrícola. Outro exem-plo são os fenóis presentes em alguns efluentes indus-triais que reagem com o cloro usado como desinfetan-te no tratamento e formam um composto que conferegosto medicinal à água”. Lúcio Carramillo, da UFRRJ,explica que “a concentração de sais dissolvidos na água

do manancial será o maior fa-tor de alteração do gosto an-tes de seu tratamento. Poroutro lado, a contaminaçãoapresentada pela água domanancial fará com que o tra-tamento para transformar a

água bruta em potável utilize uma quantidade elevadade produtos químicos. O mais comum é o hipocloritoque tem função bactericida e acaba deixando tanto odorquanto gosto de cloro”.

Os aquíferos também estão sujeitos a receber polui-ção e ter o gosto da água alterado, dependendo desua localização. “Isto tem a ver com a natureza litológicado aquífero e seu posicionamento relativo de camadasgeológicas. Um aquífero livre, constituído pela cama-da superficial em contato diretamente com a superfí-cie, é mais vulnerável à poluição. Já um aquífero confi-nado está mais protegido da poluição por estarrecoberto por uma camada geológica constituída porum material impermeável, como por exemplo, umfolhelho ou outra rocha argilosa. A qualidade da águadepende de outros fatores como a naturezamineralógica do aquífero, sua vulnerabilidade e tam-bém a sua proximidade de fontes potencialmentepoluidoras”, detalha Aderson Martins.

HÁ RELAÇÃO ENTREGOSTO E TRATAMENTOA água continuará com gosto, se os processos de trata-mento utilizados não forem capazes de remover os com-postos originalmente presentes. “Por exemplo, os

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26 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

MEIO AMBIENTE

compostos geosmina emetilisoborneol são parcialmen-te removidos por processos declarificação química, filtração edesinfecção, usualmente utiliza-dos para tratar a água no Brasil.Isto significa que poderão estarpresentes na água potável, cau-

sando desconforto aos consumidores. Por outro lado,compostos odoríferos podem ser formados dentro daprópria estação de tratamento, através dos compostosquímicos adicionados, como o cloro. A própria rede dedistribuição pode originar gosto, pela corrosão de tubos”,explica o professor Benetti.

O padrão de potabilidade estabelece um valor máxi-mo permitido de intensidade de percepção de gosto eodor na água. O gosto se enquadra dentro do que édenominado “características organolépticas” da água,isto é, aquelas associadas aos sentidos – visão, sabor,odor. Benetti ressalta que “a água deve ser agradávelde ser ingerida. Uma água com gosto ruim ou com cor

Antonio Benetti, professor doIPH/UFRGS

causa repugnância e imediata desconfiança do consu-midor com relação a sua qualidade, mesmo se a águafor livre de organismos patogênicos e compostos quí-micos perigosos”. Segundo ele, toda água usada paraconsumo humano deve ser livre de microrganismospatogênicos e de substâncias químicas que sejam pre-judiciais à saúde.

O professor da USP, Uriel Duarte, diz que as águas“com gosto” podem ser consumidas sem tratamen-to, desde que saibamos sua proveniência. “Se espo-rádicas, as águas “com gosto” podem representareventos de contaminação e, então, termos riscos àsaúde do consumidor quando bebidas. Quando apre-sentar o mesmo “gosto” ao longo do tempo, casodas águas tidas como minerais, seu consumo diáriopode trazer benefícios e malefícios á saúde, depen-dendo da qualidade e quantidade de sais nela dis-solvidos”, esclarece ele.

Para Lúcio Carramillo, as águas minerais (sem tra-tamento) podem ser consumidas sem qualquer pro-blema. “Dependendo da água mineral que se con-suma, pode-se estar ingerindo uma água com gostodiferenciado das de abastecimento, que são trata-das.” Na visão de Aderson Martins, desde que a água

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 27SETEMBRO/OUTUBRO 2012

Degustar para classificarIdentificar diferentes odores e sabores em amos-tras de água tratada. Este é o trabalho de funcio-nários do Laboratório de Degustação, departamen-to criado pela Companhia de Saneamento Básicodo Estado de São Paulo (SABESP), na década de1990. Izabel Ernesto, supervisora do Laboratório,lembra que “a SABESP foi pioneira no Brasil (naimplantação da degustação de água), porém hojeexistem outras empresas de saneamento que jáexecutam este ensaio”.

Um grupo de degustadores treinados analisa to-das as semanas a água que chegará até as casas.Segundo Izabel, no treinamento realizado, “o ana-lista irá adquirir conhecimentos sobre os fundamen-tos da análise sensorial, reconhecendo os vários

tipos de gostos e odores, bem como a interpreta-ção e a descrição destas sensações”. Os resulta-dos das análises do degustador podem alterar oprocesso de tratamento da água em certas localida-des. O ensaio sensorial é utilizado também comouma das ferramentas de controle da qualidade dotratamento da água, identificando algumas sensa-ções em sua intensidade limiar, prevenindo proble-mas nos mananciais e podendo provocar adequa-ções no processo de tratamento. Conforme explicaa supervisora, “atualmente a legislação determina“6” em uma escala até “12” como intensidade máxi-ma de percepção para qualquer característica degosto e odor, com exceção do cloro, que é uma ca-racterística desejável em água tratada”.

Classificação das águasSALINIDADE

Doce STD até 1.000 mg/litro

Salobra STD entre 1000 e 10.000 mg/litro

Salina STD entre 10.000 e 35.000mg/litro

Hipersalina acima de 35.000 mg/litro

seja potável, ou seja, sua composição química pre-encha os critérios de potabilidade, ela pode serconsumida sem tratamento. “Existem muitas águasnestas condições, por exemplo, águas mineraiscarbogasosas, que possuem um gosto peculiar, sa-bor agradável e são consumidas sem restrições”.

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28 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

CONEXÃO INTERNACIONAL

ason I. Gerhard, professor no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Univer-sidade de Western Ontario (London, Canada), lidera pesquisas na área de hidrogeologia

de contaminantes, fluxo multifásico em meios porosos e engenharia para a sustentabilidade,J

Juliana G. Freitas, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), BrasilMarcelo Sousa, Universidade de Waterloo, Canadá

NOVOS RUMOS PARA REMEDIAÇÃODE ÁREAS CONTAMINADAS

Quais foram os principais avanços na remediação desolos e águas subterrâneas nas últimas décadas?Muitos avanços promissores aconteceram nas últimasdécadas. A pesquisa científica melhorou muito nossoconhecimento sobre fundamentos do comportamento decontaminantes em solos e rochas fraturadas. Nossa ha-bilidade de simular o comportamento dos contaminantescom modelos matemáticos também levou a um melhorentendimento conceitual da contaminação em áreas con-taminadas. Os modelos têm sido usados com sucessono projeto e otimização de sistemas de remediação. Avan-ços impressionantes também foram feitos em diversastecnologias de remediação, principalmente aplicadas in-

situ, como oxidação química, tratamentos térmicos,surfactantes e biorremediação. As legislações ambientaistambém foram fortalecidas na maior parte dos países, oque resultou numa busca mais agressiva por soluçõesinovadoras pelos responsáveis. Além disso, financiamentotem sido disponibilizado para pesquisa, desenvolvimen-to e teste piloto de novas tecnologias, que é um passofundamental antes que uma nova tecnologia possa seramplamente aceita num mercado conservador.Quais são os maiores desafios para a remediação desolos e águas subterrâneas? Quais são alguns mitoscomuns em relação à remediação?Muitos desafios ainda persistem. Muitos dos avanços naremediação foram feitos para contaminantes que são maisfáceis de tratar, como os contaminantes que não pene-tram o nível d’água, são muitos voláteis e facilmentedegradáveis, como a gasolina. No entanto, poucas opçõesexistem para os contaminantes mais tóxicos, mais está-veis, contaminantes densos que migram a grandes pro-fundidades, resistentes a processos de transferência demassa para o ar ou água, e resistentes às reações biológi-

cas – o que é um grande desafio para a pesquisa. Algunsexemplos são o creosoto, alguns hidrocarbonetos de pe-tróleo e as bifenilaspolicloradas (PCBs). O segundo desa-fio é a complexidade do site, que frequentemente reduz aeficiência de uma técnica de remediação, tais comoheterogeneidade e a química de mistura de contaminantes.Um terceiro desafio são os contaminantes emergentes,como disruptores endócrinos, nanopartículas e compos-tos perfluorados. O quarto desafio é a transferência detecnologia e compartilhamento de conhecimento, de for-ma que a experiência e sucessos alcançados em lugaresdistantes sejam acessíveis e aplicáveis por todo o mundo.Um mito comum é que para uma área que apresente umageologia ou história complexa (como derramamento comvolume grande ou por longos períodos de tempo), umaúnica tecnologia será capaz de reduzir a contaminaçãoao ponto que a água se torne potável. A combinação detecnologias, ou “trem-de-tratamento”, e tecnologiasotimizadas para atuarem em conjunto com efeito máxi-mo serão essenciais. Isso está sendo pesquisado por inú-meros grupos ao redor do mundo. Por exemplo, eu e umgrupo de pesquisadores em Ontario, no Canadá, estamosdesenvolvendo um projeto de duração de seis anos, deUS$3 milhões, chamado INTEGRATE (InnovativeTechnologies for Groundwater Remediation), com foco nacombinação de tecnologias para a remediação de solose águas subterrâneas (http://integrate.utoronto.ca). Esseé também o foco de uma colaboração entre esse projetoe pesquisadores do Centro de Capacitação e Pesquisasem Meio Ambiente (CEPEMA) da Escola Politécnica daUniversidade de São Paulo (Poli-USP), chamado “SãoPaulo - Ontario: Soil and Water Remediation Consortium”.Quais são algumas tecnologias promissoras pararemediação?

Jason I. Gerhard

indo da escala de poros até escala de campo. Seu grupo de pesquisa gerou resultados inovadores para contaminantesorgânicos em solos e rochas fraturadas. Com graduação em engenharia geológica, e mestrado e doutorado em enge-nharia civil pela Queen’s University (Canadá), ele é co-inventor e pesquisador de uma nova tecnologia para remediação,baseada na combustão auto-sustentável de contaminantes. Jason estará no Brasil, em outubro, e será um dos palestrantesda “Darcy Lecture Series”, no dia 4. Mais informações no site: www.abas.org/darcylecture. Ele conversou com agente sobre o estado atual da remediação de áreas contaminadas e a sua percepção para onde estamos caminhando.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 29SETEMBRO/OUTUBRO 2012

Um dos desenvolvimentos mais excitantesé a nova tecnologia STAR (Self-Sustaining

Treatment for Active Remediation). STAR éuma técnica capaz de destruir completa-mente líquidos orgânicos industriais alta-mente resistentes, como creosoto e óleocru. A tecnologia se baseia no processode combustão latente auto-sustentável, queé a mesma reação que lentamente conso-me carvão numa churrasqueira e gera ca-lor. Os contaminantes oleosos no solo sãodestruídos e ao mesmo tempo geram aenergia para propagar a reação nasubsuperfície até que todos oscontaminantes sejam eliminados. As-sim, tem um potencial de ser altamenteeficaz (destruição de mais de 99% damassa) e com custo relativamente bai-xo (já que somente uma pequena quanti-dade de energia é necessária para iniciaro processo). Atualmente, a tecnologiaSTAR está em estágio de testes piloto paraaplicações in-situ e ex-situ. Essa é uma daspoucas tecnologias completamente no-vas de pesquisas recentes. Mais infor-mações estão disponíveis no sitewww.siremlab.com/STAR.Quais serão as maiores mudanças nocampo da hidrogeologia no futuro?Certamente, nas próximas décadas, a ava-liação e a mitigação dos impactos dasmudanças climáticas nos recursos subter-râneos serão um dos principais focos. Amedida em que a água se torna mais es-cassa, a água subterrânea deve se tornarainda mais importante e a remediação, aconservação e a proteção serão mais im-portantes. Por outro lado, com a recessãoglobal, muitas nações devem reduzir osgastos e as empresas cortarão pesquisase desenvolvimento, criando novos desafi-os para as pesquisas dos fundamentos ci-entíficos e de novas tecnologias deremediação. É esperado que novas des-

cobertas e tecnologias surjam principal-mente por meio de uma forte colabora-ção interdisciplinar entre áreas de conhe-cimento até então distantes; isso foi o queaconteceu para o desenvolvimento doSTAR, que surgiu de uma inesperadainteração entre a ciência de combustão ea hidrogeologia de contaminantes. Aintegração de estudos de contaminaçãoda subsuperfície, águas superficiais, mu-danças climáticas, modelos hidrológicosregionais e um melhor entendimento dasinterações entre águas superficiais e sub-terrâneas certamente nos permitirão en-tender melhor as conexões dentro detodo o ciclo hidrológico.Você tem alguma sugestão para pro-fissionais no começo de carreira queatuam em águas subterrâneas?O mestrado está se tornando rapidamen-te a formação padrão nessa área. O es-copo da área se expandiu tanto que umapós-graduação pode trazer muitas van-tagens. É particularmente interessante de-senvolver um trabalho de pós-graduação,pois desenvolve as habilidades de esta-belecer hipóteses, testar com experimen-tos ou modelos e elaborar artigos científi-cos que compartilhem suas descobertascom o mundo. Essa experiência e habili-dades não necessariamente técnicas quesão desenvolvidas, como comunicaçãooral e escrita e capacidade de pensar criti-camente, são fundamentais, mesmoque o seu futuro seja na indústria e nãona pesquisa. Além disso, procure umprograma acadêmico que seja amplo,que não se aprofunde somente emhidrogeologia. Muitos cenários deremediação envolvem um grande nú-mero de disciplinas – como química,geografia, ciência do solo, física e mui-tas outras – e, portanto, é vantajoso teralguma familiaridade com áreas fora da

hidrogeologia. Alémdisso, também é van-tajoso cursar cursosfora das ciências pu-ras, tais como direito,filosofia, ciências po-líticas e letras. Tenhograduação em filoso-fia, que contribuiumuito para minha car-reira em engenharia,pois enfatiza a lógica,a ética e a habilidadede articular suasideias de uma formaconvincente.

Sondagens coletadas em área de estudo em escala piloto, emNew Jersey, com contaminação por alcatrão

Antes do tratamento

Depois do tratamento

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30 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

PERFURAÇÃO

D

Andréa Rebouças, RelaçõesPúblicas e GerenteAdministrativa da Ciclo Brocas

ESCOLHENDO ABROCA CERTA

Brocas de Perfuração

a primitiva broca de arraste passando pelas bro-cas de cones rotativos e culminando com as bro-

cas que utilizam diamante sintético em sua composi-ção, os fabricantes de brocas de perfuração tem busca-do a vanguarda tecnológica para se adaptarem às exi-gências de projetos de poços cada vez mais elabora-dos, a fim de otimizar o desempenho destas ferramen-tas nas mais variadas formações geológicas.

Em paralelo, é importante que o “perfurador” estejamunido de informações técnicas e empíricasdeterminantes no momento da escolha e utilização dabroca adequada. O grau de dureza e abrasividade dosolo, por exemplo, indicará se o mecanismo de ataquedeverá ser por acunhamento, raspagem e moagem, tor-ção, percussão ou esmagamento e até mesmo pela ero-são por ação de jatos de fluido.

Genericamente, as formações sedimentares classifi-cam-se em mole, média, dura e extremamente dura. Estavariação litológica, aliada a outros fatores, acentua a di-ficuldade na escolha da broca correta. Além disso, exis-te uma diversidade enorme de tipos de brocas que, ba-sicamente, podem ser classificadas como: brocas sempartes móveis, com partes móveis e híbridas.

A perfuração com brocas sem partes móveis ocorredevido à percussão ou rotação da coluna de perfura-

ção. Para o sistema rotativo, encontram-se as brocas dearraste (“rabo de peixe”), brocas de diamantes naturais,brocas TSP (diamante termicamente estável), PDC (com-pacto de diamante policristalino) e as impregnadas (comcristais de diamante).

Já as brocas com partes móveis são as que possuemcones, cuja estrutura de corte se modificou ao longo dotempo de acordo com as exigências do mercado. Va-riou desde cortadores formados por dentes fresados nomesmo aço dos cones, em seguida por dentes de açorecobertos com metal duro até o desenvolvimento dosinsertos de carboneto de tungstênio (“botões”), indica-dos para formações mais duras.

Contudo, a mais recente invenção é a broca híbrida,que combina elementos de uma broca PDC e de umatricônica em sua estrutura cortante, beneficiando-se dosmelhores atributos que cada tecnologia oferece. Semdúvidas, esta é a broca mais completa para a perfura-ção de intercalações duras, possuindo uma baixa varia-ção de torque, um melhor controle direcional e poucavibração com relação às demais.

Entretanto, vale ressaltar que o fator econômico é maisum requisito a ser considerado na escolha de uma ferra-menta, principalmente no caso das brocas de perfuração,que correspondem a uma pequena parcela do alto investi-mento que esta atividade necessita. Exatamente por isso, operfurador de água tem adquirido equipamentos reutilizáveise recondicionados, a custos bem mais acessíveis.

Neste contexto, são mais viáveis financeiramente asbrocas de arraste, porém apropriadas somente para for-mações moles; as brocas tricônicas, que abrangem to-das as formações apresentando um rendimento muitosatisfatório; e as brocas de PDC, mais indicadas paraformações duras e que, atualmente, já se encontram dis-poníveis no mercado nacional na condição de usadas.

Por fim, diante de tantas opções, modelos e atributos,para escolher a broca certa deve-se consultar o códigoIADC, garantindo uma fácil identificação das suas prin-cipais características, como tipo, classe de formaçãopara qual foi projetada e funções mecânicas - para asbrocas com partes móveis - e forma dos cortadores,ângulos de inclinação lateral, tipo de proteção e cum-primento do calibre - para as brocas sem partes móveis.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 31SETEMBRO/OUTUBRO 2012

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32 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

REMEDIAÇÃO

N

USO DOS BIOMARCADORES PARA IDENTIFICAR A ORIGEM DA

CONTAMINAÇÃO POR PETRÓLEOos Estados Unidos, mais de 200 milhões de car-ros consomem mais de 1,2 milhão de litros de

gasolina por dia e os americanos dirigem mais de 12milhões de quilômetros por dia (EIA, 1991). E há maisde 2 milhões de tanques subterrâneos de petróleo nopaís (Oudijk, 2009). Quando há vazamento de combus-tível, o custo de limpeza pode ficar muito elevado e nin-guém quer pagar para a limpeza do meio ambiente. Poreste motivo, são comuns casos de disputa acerca daautoria da contaminação para decisão sobre quem arcacom os custos da remediação. O uso dos biomarcadoresé um caminho para solucionar esse problema.

O QUE ACONTECE QUANDO DIFERENTESÓLEOS ENTRAM NO AMBIENTE?Quando expostos ao ambiente, os hidrocarbonetos sealteram. Geralmente, há três tipos de degradação:biodegradação, evaporação e dissolução. Cadahidrocarboneto pode ser um pouco ou muito diferentequanto aos tipos de degradação. Um exame decromotogramas pode determinar o que aconteceu como petróleo, como:• se o derramamento foi subterrâneo ou acima da su-perfície terrestre (os hidrocarbonetos voláteis irão paraa atmosfera mais facilmente);• magnitude de degradação (os hidrocarbonetos maisfracos, como os n-alcanos e olefinas, irão embora), e• o tipo de degradação: biodegradação, evaporaçãoou dissolução.

USANDO ISOPRENÓIDES PARAENTENDER A DEGRADAÇÃOPodemos usar a proporção de n-heptadecano (n-C

17alcano)

e pristano (n-C17

/pr) para entender e estimar a idade do óleo(tempo desde o derramento - Christensen & Larsen, 1993),ainda que por vezes haja muitos problemas com estes mé-todos (Oudijk, 2009). Também a proporção de n-octadecano(n-C

18alcano) e phytano (n-C

18/ph) será útil. Proporções

maiores indicam menor degradação e que, talvez, o petró-leo seja mais jovem. Proporções menores sinalizam maiordegradação e que, talvez, o petróleo seja mais velho.

BIOMARCADORESUm biomarcador é um composto orgânico, normalmen-te encontrado em oleo cru, cuja origem foi matéria ve-getal (Philp, 1985). Os biomarcadores são frequentemen-

te muito resistentes à degradação. Óleos crus têm umaproporção de pr/ph (pristano/phitano) distintas. Essaproporção não é alterada pela refinaria. O diesel tam-bém guarda essa proporção. Por isso, às vezes, pode-se definir a origem desse diesel: se é óleo cru da Nigéria,do Texas, de Angola ou de outro lugar do mundo.

No óleo cru, há muitos biomarcadores como terpanos,esteranos e hopanos. Mas esses compostos químicossão mais pesados; podemos usá-los somente em óleocru. Para diesel, precisamos de biomarcadores mais le-ves, como sesquiterpanosbicíclicos, dibenzotiofenas oualquilciclohexanos. Para diferenciar gasolinas, hábiomarcadores ainda mais leves, como diamondoidese adamantanes.

Querosenes e diesel que tiverem sido refinados deum óleo cru específico terão a mesma assinatura debiomarcadores. Entretanto, óleos crus distintos podemter assinaturas muito diferentes de biomarcadores. En-tão, podemos usar as assinaturas como uma impressãodigital e diferenciar se as origens são distintas. Para der-ramamentos catastróficos, podemos fazer uma impres-são digital mais facilmente.

Com os biomarcadores podemos saber se o derra-mamento de óleo foi catastrófico ou crônico. Se as pro-porções de pristano e phytano (ou outrosbiomarcadores) são iguais ou semelhantes nas amos-tras, o derramento foi catastrófico. Caso contrário, oderramento foi crônico. Podemos diferenciá-los porquea química do óleo cru que entra numa refinaria podemudar a cada dia. Então, o derivado de petróleo que vaisair da refinaria pode ser diferente a cada dia. Seria umfato raro, se a química do petróleo permanecesse se-melhante durante muitos meses ou anos, ao passoque um vazamento pode permanecer por muitos anos.

Gil Oudijk - Triassic Technology, Inc. - [email protected]

ReferênciasEnergy Information Administration (EIA - EUA / 1991). Motor gasoline

industry: Past, present, and future. Washington, D. C., EUA” U. S.

Department of Energy. DOE/EIA-0539.

Oudijk, G.2009.Age dating heating-oil releases, Part 1: Heating-oil

composition and subsurface weathering. Environmental Forensics 10

(2): 107-119.

Oudijk, G. 2009. Age dating heating-oil releases, Part 2: Assessing

weathering and release time frames through chemistry, geology and

site history. Environmental Forensics 10 (2): 120-131.

Pearson, G. &Oudijk, G. 1993. Investigation and remediation of

petroleum product releases from residential storage tanks. Ground-

Water Monitoring and Remediation 8 (3) 124-128.

Philp, R. P., 1985, Fossil Fuel Biomarkers: Elsevier, New York, NY, USA.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 33SETEMBRO/OUTUBRO 2012

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34 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

OPINIÃO

D

Rodrigo Cordeiro é Diretor da AcquaConsultoria, Diretor da R3 Viagens eDiretor da Associação Brasileira deEmpresas de Eventos – RegionalSão Paulo (ABEOC – SP)

iferente das demais edições, este artigo opinião nãoé redigido por um técnico, pesquisador ou especi-

alista, mas também por um apaixonado. Iniciei minha re-lação com o setor de águas subterrâneas quando ingres-sei na Acqua Consultoria, empresa organizadora de even-tos do setor em 1996, que hoje dirijo e é responsável pelasecretaria da ABAS. Tornei-me leitor assíduo dos infor-mativos da entidade, ainda no formato de boletim, acom-panhando todas as evoluções, até que em 2007 me tor-nei membro do Conselho Editorial desta revista, em par-ceria com o Dr. Everton de Oliveira.

Acredito que o desenvolvimento de um país está intima-mente ligado à importância que a sua sociedade dá para osaneamento ambiental, no tripé: água, esgoto e lixo.

A partir dos anos 90, temas ambientais entraram naspreocupações da sociedade. Ouvimos falar desustentabilidade, da possível falta de água para as pró-ximas gerações, de mudanças climáticas; passamos anos comover com os impactos dos eventos extremose nos indignamos quando nos deparamos com pesso-as que vivem no e do lixo ou sem acesso à água. Po-rém são temas complexos e enquanto alguns especia-listas afirmam que vivemos o aquecimento global, ou-tros afirmam que é resfriamento e questionam aindase pode ser global, diante da área de ocupação dasatividades humanas no planeta. São poucas as verda-des absolutas!

Fato é que a informação dinâmica, através de todosos seus meios, tornou a sociedade mais informada emais disposta a entender e opinar sobre este assunto.

Aldo Rebouças dizia que “o problema das águas sub-terrâneas é que não são fotogênicas”. Permito-me es-tender esse raciocínio para o saneamento ambiental deforma geral. Comumente as promessas são esquecidaslogo após as eleições. Este setor carece e merece aten-ção e investimentos. E, quando falamos em investimen-to, falamos em bastante dinheiro e de forma contínua,só assim poder-se-á garantir a universalização do sane-

amento, de que tanto ouvimos.Levar água de qualidade significa gerar o mínimo

de qualidade de vida e subsistência. Coletar e trataro esgoto significa saúde e responsabilidade com aspróximas gerações.Agregar valor ao l ixo etransformá-lo em produto é a única alternativa paraa questão de resíduos.

O tempo de resposta do poder público precisa mu-dar. É necessário fomentar políticas públicas integradas,leis convergentes, fortalecer, valorizar e renovar os qua-dros de órgãos gestores e ambientais.Não há mais tem-po a perder!

Estamos em ano eleitoral quando elegeremos pre-feitos e vereadores em todo o Brasil. Aí, sim, podere-mos mensurar se continuamos votando nos políticostradicionais ou se a população passará a votar naque-les que se propõem a estudar, conhecer e agir nos en-traves do desenvolvimento sustentável. Será quandopoderemos pensar em um novo país, onde a socieda-de é respeitada pelos políticos por exercer corretamentea única forma de pressão que os move: o voto comdiscernimento.

O Brasil ainda é muito desigual e essa jornada só co-meçou. A condição promissora de estados mais desen-volvidos não reflete a realidade nacional. Não é maisadmissível que dois terços da população ainda viva emcondições sub-humanas de higiene e qualidade de vida.

Depois de 16 anos organizando os maiores congres-sos e feiras do setor de infraestrutura e meio ambientepara diversas associações e sociedades e convivendocom seus diretores e associados diariamente, compos-tas por pessoas brilhantes, afirmo que a comunidadetécnica e científica quando consultada, será a agenteda maior transformação nas corretas tomadas de deci-são sobre os temas estruturais e ambientais. E o refle-xo disso se dará na melhor qualidade de vida da popu-lação que finalmente terá o tão sonhado desenvolvi-mento sustentável.

NÃO HÁ MAISTEMPO A PERDER!

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 35SETEMBRO/OUTUBRO 2012

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