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Setembro/2007 - Edição n° 11 - Ano 5 A JORNAL DA TRABALHO INFANTIL. ATÉ QUANDO? ENTREVISTA COM O PSIQUIATRA LUIZ ALBERTO PY. PÁG. 3 ABAS 15 - INTERNAÇÕES. PÁG. 4 PUBLICAÇÕES EM DESTAQUE. PÁG. 9 GIRO DE NOTÍCIAS. PÁGS. 10 E 11 Foto Iolanda Huzak Foto Ayres PP Ana Paula Lockmann, da Amatra XV, entrega documento sobre estresse ao senador Suplicy. Pág.11 Quase três milhões de crianças e adolescentes trabalham no Brasil. Esses números demonstram que dez anos depois da Marcha Global Contra o Trabalho Infantil, a mobilização de autoridades públicas e da sociedade deve ser permanente, conforme relatam o ministro Lelio Bentes do TST e os juízes da 15ª Região, Tárcio Vidotti e José Roberto Dantas Oliva. Págs. 5 a 8

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Page 1: Setembro/2007 - Edição n° 11 - Ano 5 TRABALHO INFANTIL. ATÉ …da... · 2012. 10. 2. · Setembro/2007 - Edição n° 11 - Ano 5 AJORNAL DA TRABALHO INFANTIL. ATÉ QUANDO? •

Setembro/2007 - Edição n° 11 - Ano 5

AJORNAL DA

TRABALHO INFANTIL.ATÉ QUANDO?

••••• ENTREVISTA COM O PSIQUIATRA LUIZ ALBERTO PY. PÁG. 3

• • • • • ABAS 15 - INTERNAÇÕES. PÁG. 4

• • • • • PUBLICAÇÕES EM DESTAQUE. PÁG. 9

••••• GIRO DE NOTÍCIAS. PÁGS. 10 E 11

Foto Iolanda Huzak

Fot

o A

yres

PP

Ana Paula Lockmann, da Amatra XV, entregadocumento sobre estresse ao senador Suplicy. Pág.11

Quase três milhões de crianças e adolescentes trabalham no Brasil. Esses números demonstramque dez anos depois da Marcha Global Contra o Trabalho Infantil , a mobilização de autoridadespúblicas e da sociedade deve ser permanente, conforme relatam o ministro Lelio Bentes do TST

e os juízes da 15ª Região, Tárcio Vidotti e José Roberto Dantas Oliva. Págs. 5 a 8

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JORNAL DA AMATRA XV2

AMATRA XVAssociação dos Magistrados da Justiçado Trabalho da 15ª RegiãoR. Riachuelo, 473 – Sala 62 – BairroBosque – Campinas-SP.Fones (19) 3252-0368 e 3253-6055Site: www.amatra15.org.br

Presidente – Ana Paula P. LockmannVice-Presidente – Flávio LandiSecretário Geral – Guilherme G. FelicianoDiretor Financeiro – Luís Rodrigo F. BragaDiretora Cultural – Luciana CaplanDiretora Social – Alzeni Ap. de O. FurlanDiretor de Com. Social – Ricardo R. LaraiaDiretor de Assuntos Legislativos –Francisco Alberto da M. P. GiordaniDiretora de Benefícios e Convênios –

Déborah Beatriz Ortolan Inocêncio NagyDiretor de Aposentados – Hermelino deOliveira SantosComissão Disciplinar e de PrerrogativasTitularesFlávio Allegretti de Campos CooperManoel Carlos Toledo FilhoTeresa Cristina PedrasiSuplentesLorival Ferreira dos SantosRita de Cássia Scagliusi do CarmoJosé Antonio DosualdoConselho FiscalAna Maria de VasconcellosAntonia Sant´anaMarcelo Magalhães RufinoDiretorias RegionaisJoão Alberto Alves Machado (Araçatuba)

Maria Helena Falco Salles (Bauru)José Roberto Dantas Oliva (Pres. Prudente)Márcia C. Sampaio Mendes (Ribeirão Preto)Alessandro Tristão (São José do Rio Preto)Lúcio Salgado de Oliveira (S. J. dos Campos)Mauro César Luna Rossi (Sorocaba)

JORNAL DA AMATRA XVTiragem: 3,7 mil exemplaresPublicação Trimestral da Amatra XVConselho Editorial: Ana Paula P.Lockmann, Ricardo Regis Laraia eFlávio LandiProd. Editorial: Roncon & Graça ComunicaçõesJornalistas Responsáveis: Edécio Roncon(MTb 16.114) e Vera Graça (MTb 17.485)Site: www.rongra.com.brE-mail: [email protected]

EDITORIAL

Diz o senso comum que uma imagem vale mais do quemil palavras. A foto de capa desta edição do Jornal daAmatra XV é impactante, não só por sua beleza, mas

por todo o repertório que traz consigo:o trabalho infantil, registrado em umadas regiões de maior expressãoeconômica do país, o interior doEstado de São Paulo, em canavialpróximo à cidade de Ribeirão Preto.

A foto, de autoria de IolandaHuzak, foi tirada na década de 90.Impossível não olhar para o meninoque lá aparece e se perguntar: o queé que se fez do futuro daquele jovem?Será que teve sua cidadaniaresgatada por órgãos do Estado epôde brincar e estudar no tempo quelhe restava de infância eadolescência? Ou será que repetiu ahistória de outras tantas crianças eadolescentes? Submetidos aotrabalho infantil, tornam-se adultossem estudo, vão desempenhartrabalhos de pouca ou nenhumaqualificação e receber baixossalários, quando há trabalho a lhesser oferecido.

Os organismos internacionaisreconhecem que o Brasil enfrentaesta questão com seriedade e, defato, as estatísticas do IBGE e doMinistério do Trabalho e Emprego demonstram decréscimodo trabalho infantil no País nos últimos anos. Ainda assim, osnúmeros são estarrecedores. Conforme aponta José RobertoDantas Oliva, em seu livro O Princípio da Proteção Integral e oTrabalho da Criança e do Adolescente no Brasil, em 2002 onúmero de crianças e adolescentes trabalhando (na faixaetária de 5 anos completos a 16 incompletos) foi estimadoem 2.988.294. Destes, 1.719.046 não tinham qualquer tipode remuneração.

Porém, como alerta o ministro Lelio Bentes, do TribunalSuperior do Trabalho, dados mais recentes apontam um cres-cimento de 0,47% do número de crianças que trabalhamno Brasil, entre os anos de 2004 e 2005.

A despeito de tais números, o Brasil apresenta uma dasmais avançadas legislações sobre o tema. Como é sabido, aConstituição Federal veda qualquer trabalho a menores de

16 anos, salvo na condição de apren-diz, a partir dos 14 anos. Já a Con-venção n° 138, da Organização Inter-nacional do Trabalho, adota como re-gra a idade em que cessa a obriga-ção escolar mínima, nunca inferioraos 15 anos, mas abre a possibilida-de, para países cuja economia e sis-temas educacionais não estejambem desenvolvidos, de se estipular aidade mínima de 14 anos para o tra-balho. A Recomendação n° 146, daOIT, ao seu turno, sugere o limite mí-nimo dos 16 anos de idade, para ojovem começar a trabalhar.

A exemplo de outros repre-sentantes do Estado, os juízestrabalhistas estão na ponta delança do enfrentamento deste dramasocial. Demandas verdadeiramen-te aflitivas lhes chegam às mãos,demandas em que se busca não sóa proibição de se tomar o trabalho decrianças e adolescentes, mas, nomais das vezes, de se garantir oregistro profissional e o pagamento deverbas trabalhistas sonegados destesjovens que já serviram como mão-de-

obra de baixo custo.A articulação entre as diversas autoridades que atuam nesta

área – juízes trabalhistas e da infância e juventude, membrosdo Ministério Público e auditores fiscais do trabalho, mostra-se necessária e inadiável. Como diz o ministro Lelio Bentes,“é um problema que tem que ser resolvido com toda asociedade e principalmente, com a participação de váriosórgãos do governo. A responsabilidade passa pelas autoridadespúblicas, mas também por nós, enquanto cidadãos brasileiros.Não depende apenas de um ministério”.

Assim cada vez mais urgente se mostra à necessidade deconhecimento e aprofundamento do tema, missão que o Jornalda Amatra XV procura fomentar com esta edição.

O QUE SE FEZ DO FUTURODAQUELE JOVEM?

Flávio Landi,vice-presidente da Amatra XV

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JORNAL DA AMATRA XV 3

SAÚDE

UM OLHAR ACIMA DO HORIZONTE

QUALIDADE DE VIDA

O médico psiquiatra e psicanalista Luiz Alberto Py, autor de sete livros, sendo o mais recente Misté- rios da Alma (editora Best Seller, 2007- Rio), é

colunista do jornal O Dia (Rio) e da revista Caras. Consultoreventual de diversos programas da TV Globo (Linha Dire-ta, Domingão do Faustão e Luciano Huck, entre outros) , Pytambém faz palestras em instituições de ensino e empre-sas. Py é presidente da Associação Brasileira dePsicoterapia Analítica de Grupo (ABPAG), participa de di-versas entidades internacionais de Psicoterapia e man-tém o site www.cantodaalma.com.br . Ele respondeu essaentrevista ao Jornal da Amatra XV por e-mail.

Jornal da Amatra XV – Como o juiz pode se prepararpara que o trabalho feito em casa e que não pode serdeixado de lado, não se transfor-me em um “fardo emocional”,tanto para o magistrado comopara a sua família?

Luiz Alberto Py - Este trabalhofeito em casa é parte da totalidadedo trabalho do juiz e precisa assimser considerado. Da mesma formacomo um professor leva provas paracorrigir em casa e um médico pre-cisa ler grande quantidade de livrose revistas especializados para semanter em dia com os progressosde sua especialidade. E todos osdemais profissionais têm aobrigação para com eles própriosde cultivar a excelência em seutrabalho, para tanto investindoparte do tempo fora do ambientede trabalho em um esforço quereverte em benefício da qualidadedo mesmo. Quando o juiz enten-de que o “fardo” faz parte de seucompromisso profissional, serácapaz de orientar sua famíliapara perceber a importância dotrabalho feito em casa pelo seuchefe. Penso ser importante o estabelecimento de horários elimites, razoáveis e flexíveis, para que o trabalho em casaseja visto como um evento natural e bem aceito, tanto pelojuiz quanto pela família. É preciso se enfatizar o entendimentode que a remuneração auferida cobre este tempo quenunca deve ser tomado como um “extra” não remunerado.

Jornal da Amatra XV – O juiz convive com situações deconflito e uma quantidade enorme de trabalho. O que sepode fazer para que isto não afete sobremaneira sua vidafamiliar e social?

Luiz Alberto Py - Creio ser um equívoco a idéia de que o juizseria uma vítima de uma tarefa excessivamente onerosa emo-cionalmente pelos conflitos vividos e pelo volume de trabalho.Se algum juiz, ou qualquer outro profissional se sente prejudi-cado ou injustiçado por suas condições de trabalho, terásempre a oportunidade de buscar outras formas de realizaçãopessoal e profissional.

Jornal da Amatra XV – A sua expressão “olhar acimado horizonte” se aplica aqui?

Luiz Alberto Py - Uso essa expressão para indicar aimportância de se manter o olhar distante de nossos pequenosproblemas pessoais e sugerir uma postura ao mesmo tempo

altaneira e descontraída. Quando a utilizei pela primeira vez,estava desenvolvendo a idéia de que um pequeno gestopode trazer grandes mudanças.

Jornal da Amatra XV – Quem é chamado a decidir muitasvezes tem dúvidas. Gostaria que o senhor comentasse aquelasua frase de que “a loucura é feita de certezas”.

Luiz Alberto Py - Na minha experiência profissional, aoperceber que os psicóticos graves se caracterizavam, entreoutras coisas, por uma extremada convicção em suas idéias,fui aos poucos, me dando conta de que o apego às certezasera uma atitude pouco saudável e fruto de uma insegurançaemocional merecedora de atenção. Sabemos que apossibilidade de se cometer erros é um dos ônus da atividadedos juízes. Convém lembrar que a capacidade para suportardúvidas, tanto quanto a serenidade para tomar decisões, faz

parte da saúde mental que sepode esperar de um juizexperimentado, competentee emocionalmente sadio.

Jornal da Amatra XV – Osenhor também diz que 99%dos seus maiores proble-mas nunca aconteceram.Como conviver em relativaharmonia com a ansiedadee a correria do dia-a-dia?

Luiz Alberto Py - Estafrase, como a anteriormentecitada, faz parte do meu livroMistérios da Alma, recen-temente lançado e no qual pro-curo fazer reflexões escla-recedoras e úteis sobrepensamentos polêmicos. Estafrase ironiza o fato de que, naimensa maioria, nós tende-mos a nos preocupar comquestões imaginárias. O dia-a-dia não precisa carregaransiedades nem correriasexcessivas.Quando nos pro-pomos a realizar o melhor que

podemos, sem nos exigir fazer mais do que somos capazes, a vidase torna mais viável e iremos encará-la com alegria e serenidade.

Jornal da Amatra XV – Os profissionais modernosrecebem, cotidianamente, uma avalanche de novasinformações, de forma veloz e às vezes até instantânea.Como vencer a sensação de que, por mais que se faça,não consegue abranger este universo de informações?

Luiz Alberto Py - Aqueles que pretendem fazer mais do quepodem acabam por produzir muito menos do que seriampotencialmente capazes.

Jornal da Amatra XV – O profissional passa por grandesquestionamentos quando é chegado o tempo da aposentadoria. Qual a melhor maneira de enfrentar esta nova fase da vida?

Luiz Alberto Py - Em nosso País, de uma forma geral, aspessoas costumam se aposentar ainda muito jovens, cheias deenergia e saúde. É importante que o aposentado ou aquele emvias de se aposentar considere que sua expectativa de vida estáprovavelmente acima dos 85 anos. Portanto, existe um longotempo para muitas realizações. É o momento quando a pessoapode se perguntar, com calma, o que pretende fazer de sua vida,qual o significado que deseja dar a ela, quais os sonhos quealmeja realizar. Eles estão ao nosso alcance!

Luiz Alberto Py, psiquiatra e autor de vários livros

Foto Divulgação

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JORNAL DA AMATRA XV4

SÉRIE - CONHECENDO A ABAS 15PARTE 1 - INTERNAÇÕES

SAÚDE

Maurício Corrêa de Cerqueira César

Somente sabemos se um plano de saúde é bom ao utilizá-lo. Énesta hora, quando o evento futuro e incerto (uma definição doDireito) em saúde acontece e precisamos recorrer àqueles

serviços que nos foram hipoteticamente prometidos, que descobri-mos a extensão de nossa (in)segurança. Infelizmente, em algumassituações, nossa descoberta é um pouco tardia. E, por esse motivo,optar pelo que é comprovadamente seguro enquanto estamos sadi-os é uma decisão sábia. Claro que não é porque pagamos segurodo automóvel que desejamos tê-lo furtado. Viver o sinistro nunca éinteressante, mesmo muito bem segurado.De qualquer maneira,importante é conhecer nossas garantias. Assim, iniciamos, agora,série de artigos tratando de todos os aspectos práticos de nossaentidade de assistência à saúde. E começaremos pelas coberturasoferecidas pelo plano, mais especificamente a de internações.

Nossa cobertura para internações foi a primeira a ser instalada.Ou seja, quando os participantes fundadores deram início à entidade,em setembro de 1994, somente possuíam essa cobertura. Foinecessário certo tempo, portanto, até que a atual abrangência dacobertura assistencial estivesse delineada. Entretanto, desde aquelaépoca, quando a ABAS 15 ainda era denominada SAS(Superintendência de Assistência à Saúde), a cobertura para asinternações já era de vanguarda, garantindo benefícios que só setornariam obrigatórios vários anos depois, com a edição da Lei 9656/98, que regulou os planos de saúde no país.

Internar é usar estrutura hospitalar, com pernoite. A ABAS 15 ofe-rece cobertura para os quatro tipos de internações existentes, a sa-ber: clínicas, cirúrgicas, obstétricas e psiquiátricas. Internação clínicaé aquela onde o usuário é internado para tratamento de qualquerproblema de saúde que esteja a apresentar. Internação cirúrgica éaquela decorrente da necessidade de ser submetido a uma cirur-gia. Internação obstétrica é a relativa à ocorrência de partos. Internaçãopsiquiátrica é a necessária ao tratamento de problemas psiquiá-tricos, incluindo os decorrentes da adição de drogas e alcoolismo.

Em nosso plano, não há limitação quanto ao número de dias deinternação, mesmo em UTI. A permanência deve, entretanto, serjustificada. Exceções a esta regra são os casos de internaçãopsiquiátrica e para tratamento de dependência química, cuja coberturase limita, respectivamente, a 30 e 15 diárias anuais por usuário, nãocumulativas. Como regra, também não são cobertas cirurgiasestéticas, tratamentos antiéticos e internações com caráter derepouso, geriátrico ou com finalidade de emagrecimento (spas).

O padrão de acomodação que o plano prevê consiste em quartoindividual com direito a acompanhante, telefone, ar-condicionado ebanheiro privativo. Não reembolsamos despesas extras, tais comolavanderia, telefonemas, estacionamento, refeições deacompanhante (exceto refeição do acompanhante de menores de18 anos e de maiores de 60 anos).

Para solicitar o reembolso de despesas com internações emgeral, é necessário que nos sejam enviados os seguintesdocumentos, em seus originais: a) relatório médico descrevendo acausa da internação ou o procedimento realizado; b) recibos/notasfiscais dos honorários de todos os profissionais intervenientes; e c)nota fiscal ou recibo hospitalar discriminado (devem ser especificadastodas as taxas, materiais, medicamentos, diárias e outras despesascobradas pelo hospital). Tais documentos são fundamentais para aavaliação da cobertura e processamento do reembolso, além deserem uma exigência da Receita Federal. A cobertura da entidade éprestada segundo o modelo segurador, ou seja, por livre escolha deprofissionais e estabelecimentos de saúde, com posterior reembolsode despesas. Em caso de despesas urgentemente realizadas, emsituações de internações hospitalares e com a finalidade de evitarque o participante fique a descoberto, tendo em vista os elevadosvalores envolvidos em certas situações, a entidade possibilita arealização de adiantamentos, cuja prestação de contas deverá serrealizada em até 30 dias da data de sua concessão. Dispomos,ainda, de estabelecimentos hospitalares credenciados (nas cidadescom maior concentração de usuários), com os quais mantemos

estreitos laços de parceria e que oferecem, além de resolutividademédica e alto conceito técnico, excelência no atendimento aos nossosassociados. Ao lado de tudo isso e sem qualquer custo adicional,também está disponível a nossa já solidificada parceria com oSistema Unimed, que permite atendimento integral em toda a redecredenciada da cooperativa médica onde o usuário estiver cadastrado(segundo as regras do sistema Unimed local).

Os limites de cobertura para as internações são fixados daseguinte forma:

1) Despesas hospitalares: são reembolsadas com base emuma tabela própria da entidade. Na parte de diárias e taxas, os valoresreembolsados são definidos segundo critérios médios de valoresde cobrança praticados pelos melhores hospitais da capital paulista.Materiais e medicamentos são reembolsados conforme as tabelasdos fabricantes, acrescidos da taxa de comercialização máxima.Materiais especiais, como órteses e próteses, bem como outros,utilizados em cirurgias vídeo-laparoscópicas, por exemplo, tambémsão reembolsados com base nos preços de mercado e seguindocritérios de razoabilidade.

2) Honorários médicos: são reembolsados com base na tabelada Associação Médica Brasileira, em sua versão atualizada,multiplicada pelo fator definido por nosso Conselho Especial.

Além disto, há um limite anual de reembolso por usuário,equivalente a 1000 vezes a contribuição vigente de participante.Exceções são os casos de exposição voluntária a risco potencial(prática de esportes radicais e sinistros decorrentes de ato ilícito),cujo limite anual de gasto por usuário equivale a 15% do valor normal.

Os limites de cobertura da entidade existem, mas são bastanteelevados. É a combinação dos amplos limites de cobertura com ovalor da contribuição prestada ao plano que nos permitem afirmarcomo é excepcional a relação custo/benefício da ABAS. Atualmente, aassociação dispõe de médico e enfermeira auditores, que, alémdos serviços regulares de auditoria médica e conferência dasdespesas, também auxiliam os participantes e seus dependentesno curso de tratamentos médicos requisitados, desde o diagnósticoda patologia até a definição do tratamento mais adequado. Dispomos,ainda, de serviço de negociação de despesas médicas e, com aautorização do participante, podemos assumir a negociação dosvalores de hospitalizações, materiais e honorários médicos com osprofissionais escolhidos, de forma a otimizar os recursos financeiros,garantir o reembolso integral das despesas e possibilitar negociaçãotécnica de serviços, que absolutamente não fazem parte da rotina daimensa maioria das pessoas. Os limites existem para possibilitar aaplicação uniforme dos critérios de reembolso e a fixação do“quantum” a ser pago a título de contribuição. São eles quepossibilitam o cálculo atuarial de um sistema de saúde. A entidadeos aplica da forma mais benéfica possível, mas sua existência éfator de igualdade e segurança dos associados. Nunca é demaislembrar que a cobrança como particular é muito variável. O mesmoserviço que custa “x” para um paciente poderá custar dez vezes maispara outro. É por esse motivo que sempre incentivamos a negociaçãodas despesas como se estivessem sendo suportadas pelo pró-prio usuário, independentemente do ulterior reembolso. Somentea atitude consciente dos associados e seus dependentes em rela-ção à entidade pode garantir a manutenção dos custos assisten-ciais em patamares razoáveis.

As internações hospitalares são uma das despesas em saúdemais significativas. Facilmente podem chegar a valores que equiva-lem ao de um bom carro ou até mesmo, de um imóvel. Estargarantido numa situação dessa magnitude representa segurançainestimável. E a ABAS 15, com sua cobertura para interna-ções, oferece, concretamente, tal segurança.

Maurício Corrêa de Cerqueira CésarGerente Executivo da ABAS 15

Especialista em Gestão de Sistemas de Saúde (EPGE/FGV)Mestrando em Saúde Coletiva (FCM/Unicamp)

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JORNAL DA AMATRA XV 5

XOXOXOXOXOXoxoxoxoxo

Foto Divulgação

TRABALHO INFANTIL - ENTREVISTA

TRABALHO INFANTIL10 ANOS DA MARCHA PELA ERRADICAÇÃO

Continua na página 6

O trabalho infantil é um problema latente em todo o mundo e tem como um de seus mais importantes combatentes o ministro

Lelio Bentes Corrêa, do Tribunal Superior do Traba-lho (TST). No dia 10 de agosto, ele recebeu em seugabinete o juiz da 15ª Região Tárcio Vidotti e a equi-pe de reportagem da Associação Nacional dos Ma-gistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), ocasiãoem que falou ao Jornal da Amatra XV sobre a impor-tância de ações afirmativas, que visem à erradi caçãodo trabalho infan-til, a exemplo dahistórica MarchaGlobal Contra oTrabalho Infantil,ocorrida em 1998.

A Marcha Globalsurgiu a partir deum encontro de 27entidades da soci-edade civil dasAméricas, Europa,Ásia e África. Foi or-ganizada a partir deHaia, na Holanda, epercorreu várioscontinentes. Seuobjetivo era mobili-zar um esforçomundial que visas-se proteger e pro-mover os direitos de todas as crianças, especialmenteos direitos de receber uma educação gratuita e de quali-dade e de permitir a elas uma vida livre da exploraçãoeconômica, bem como da realização de qualquer traba-lho que possa ser danoso ao seu desenvolvimento físico,espiritual, mental, moral ou social.

Na América do Sul, a Marcha Global teve como um deseus coordenadores o ministro Lelio Bentes Corrêa. “Omovimento objetivava conceber e estruturar um movimen-to mundial de sensibilização da sociedade para o tematrabalho infantil. Não tenho dúvida de que o evento foium marco no combate ao trabalho infantil no Brasil eno mundo. A Marcha foi uma mobilização sem preceden-tes e conseguiu chamar a atenção da sociedade para oproblema”, afirma o ministro.

O percurso da Marcha realmente foi global. As mobili-zações em cada país e em cada continente se encontra-ram em Genebra, por ocasião da Conferência Anual daOrganização Internacional do Trabalho (OIT). A Marchada Ásia se iniciou em Manila e percorreu cerca de 12 pa-íses daquele continente, até chegar à Europa, quando foi

iniciada a Marcha no continente. Já na América Latina,São Paulo foi o ponto de partida, onde pessoas saírampara percorrer as capitais do sul do País, em direção aBuenos Aires. A partir daí, outro grupo continuou a Mar-cha, até o México. As 500 crianças que saíram do Brasile muitas outras de países diversos chegaram à OIT.Pela primeira vez, o Palácio das Nações Unidas permitiuo ingresso de pessoas não credenciadas.

Convenção N° 182 da OITLelio Bentes lembra da importância da Marcha para a

c o n v e n ç ã o182 da OIT,que trata daproibição daspiores formasde trabalho in-fantil e a açãoimediata paraa sua elimina-ção. O docu-mento reco-nhece que otrabalho infan-til é em gran-de parte, cau-sado pela po-breza e que asolução, emlongo prazo,está no cresci-mento econô-

mico sustentado. Os países que assinaram a convenção,dois anos depois, entre eles o Brasil, comprometeram-sea adotar medidas para assegurar a proibição e a elimina-ção das piores formas de trabalho infantil, com urgência.“A Convenção 182 nasceu do clamor da sociedade civile foi concebida no bojo de um processo de mobilizaçãosocial sem precedentes”, afirma o ministro.

O ministro, que também atuou como oficial de progra-mas para América Latina, no Programa Internacional paraa Erradicação do Trabalho Infantil, na sede da OIT, emGenebra, lembra que o Brasil e os Estados Unidos esta-vam entre os primeiros dez países que aprovaram porunanimidade a Convenção. “A experiência mudou o ru-mo da minha atividade profissional”, relembra o ministro.

Uma realidade preocupante, segundo Lelio Bentes, éque a mobilização de combate ao trabalho infantil, queteve o ápice em 1998, durante a Marcha, está gradual-mente diminuindo. “Uma das análises feitas é que os pro-gramas governamentais, como Bolsa Escola e Peti,Programa Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil, não

O ministro Lelio Bentes é entrevistado por Renata Dourado,apresentadora do programa da Anamatra, Trabalho em Revista

Foto Anamatra

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JORNAL DA AMATRA XV6

TRABALHO INFANTIL - ENTREVISTA

alcançam crianças que são vítimas, por exemplo, do tráficointernacional de drogas ou da exploração sexual”, avalia.

Mudança de AtitudeDados recentes apontam um crescimento de 0,47%

do número de crianças que trabalham no Brasil, entre osanos de 2004 e 2005. O último dado oficial da PesquisaNacional por Amostra de Domicílios (PNAD), revela que2.934.724 crianças, entre 5 e 15 anos de idade, estãono mercado de trabalho.

O ministro acredita que o caminho para a erradicação éa capacitação e a inserção desses jovens no mercado detrabalho. De acordo com estudo do IBGE, um milhão decrianças e adolescentes brasileiros não estudam nem tra-balham. Isso porque a tendência da criança que trabalha éabandonar os estudos e com o tempo, o próprio mercadode trabalho abandona esse jovem, que não tem capacitação.

“É um problema que tem que ser resolvido com toda asociedade e, principalmente, com a participação devários órgãos do governo. A responsabilidade passa pe-las autoridades públicas, mas também por nós, enquan-to cidadãos brasileiros. Não depende apenas de um mi-nistério”, alerta o ministro.

Para Lelio Bentes, o que o Brasil precisa é de umamudança de atitude, que passa por um processo demobilização social, para o qual foi decisiva a contribuiçãode todos os segmentos da sociedade civil, marcadamenteas entidades representativas de trabalhadores e emprega-dores, instituições religiosas, meios de comunicação e or-ganizações não-governamentais.

Uma História de LutaMinistro do Tribunal Superior do Trabalho desde agos-

to de 2003, Lelio Bentes Corrêa, possui ampla atuação nocombate à exploração dos trabalhos infantil e escravo, sen-do autor de diversos estudos sobre o tema. Atualmente, émembro do Conselho Consultivo do Missão Criança (DF)e da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança (SP).

De 1997 a 1999, atuou como coordenador da Américado Sul na Marcha Global contra o Trabalho Infantil. Em2002, chefiou a Coordenadoria Nacional de Combate aoTrabalho Infantil e Proteção do Trabalhador Adolescente eintegrou o Conselho Superior do MPT de 2001 a 2003. Aatuação do ministro também passa pela Organização In-ternacional do Trabalho (OIT), em Genebra (Suíça), quandofoi cedido para atu-ar como oficial deprogramas para aAmérica Latina noPrograma Interna-cional para a Erra-dicação do Traba-lho Infantil (IPEC),entre 2002 e 2003.Lelio Bentes foitambém secretá-rio-geral da Interna-tional Coalition forthe Elimination ofChild Labour andfor Education econselheiro doFórum Nacional dePrevenção e Erradicação do Trabalho Infantil.

Trabalho infantil em semáforo. Uma realidade presente em todo o País

Foto Iolanda Huzak

Ministro Lelio Bentes Corrêa

Foto Site TST

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JORNAL DA AMATRA XV 7

NÚMEROS DESALENTADORES

TRABALHO INFANTIL - ARTIGO

Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios– PNAD, realizada no ano de 2005, foiconstatado um aumento no índice de trabalho

infantil no Brasil. O número de pessoas ocupadas nafaixa de 5 a 17 anos de idade sofreu um acréscimo de0,47%, passando de 11,8% em 2004 para 12,2% em2005. Isso significa que a quantidade de trabalha-dores de 5 a 17 anos pulou de 5,3 milhões para 5,45milhões, nesse período de 2004 a 2005, ocorrendo umacréscimo de 148 mil crianças e adolescentes.

Na faixa etária de 5 a 15 anos de idade, constata-seque no período 2004-2005 havia no Brasil 2.934.724pessoas ocupadas . Em termos absolutos, o Estadocampeão de trabalho infantil é o da Bahia, com 334.056crianças e adolescentes ocupados irregularmente.Quando observamos apenas a taxa de ocupação dessapopulação, o primeiro do ranking é o Estado do Piauí,com 17,11% (116.649 pessoas). Ainda em termospercentuais, o maior índice de aumento foi no Estadode Sergipe, com acréscimo de trabalho infantil na ordemde 2,5%, ficando o Estado do Maranhão com o maiorpercentual de redução dessa chaga social, compercentual de diminuição de 4%. Esses dados, extraídosda Nota Técnica 2006 – SAGI/MDS (Secretaria deAvaliação e Gestão da Informação do Ministério doDesenvolvimento Social), são significativos porqueindicam a reversão da tendência de diminuição dosíndices de trabalho infantil, que experimentávamos hámuitos anos.

Essa nota técnica do Ministério do DesenvolvimentoSocial e Combate à Fome informa que o crescimentomaior no índice de ocupação se deu entre as meninas,não obstante os meninos ainda constituam dois terçosdo total de crianças empregadas. Assim, enquanto noperíodo pesquisado o mercado informal de trabalho foiacrescido de 56,4 mil meninos, a quantidade demeninas aumentou em 91,9 mil.

Outro dado preocupante é adiminuição da faixaetária quando analisado o aumento do trabalho decrianças e adolescentes. A taxa de ocupação depessoas no grupo de 5 a 9 anos cresceu de 1,45% para1,78%, com aumento de 50,8 mil novos trabalhadoresneste grupo. Também houve acréscimo na faixa etáriaentre os de 10 a 14 anos de idade, com aumento de151 mil novas pessoas nesse contingente (8,8%). Jáentre os adolescentes de 16 e 17 anos, cujo trabalho épermitido, houve uma redução de 53,7 mil trabalhadores,no mesmo período.

Acreditamos que esses números desalentadorespoderão ser agravados com a equivocada integraçãodo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – Petiao Programa Bolsa Família – PBF, que eliminou osincentivos específicos para a retirada das crianças dotrabalho ao adotar como principal critério de percepçãodo benefício a renda familiar, tirando do foco doprograma o combate ao trabalho infantil, cujas causasnão se limitam à baixa renda. Assim, ao uniformizar o

tratamento das famílias que têm e que não têm criançase ou adolescentes em situação de trabalho infantil, aintegração eliminou os incentivos das famílias para aretirada dessas pessoas da situação do trabalho infantil,o que certamente contribuirá para o recrudescimentoda prática do trabalho precoce. Essas conclusões sãopartilhadas pelos integrantes do Fórum Nacional dePrevenção e Erradicação do Trabalho Infantil – FNPETI(veja Nota Explicativa) .

Não obstante fuja ao alcance deste texto umaabordagem mais aprofundada a respeito das causasdo retrocesso nas estatísticas do trabalho infantil noBrasil, a apresentação aqui realizada tem o intuito dealertar a sociedade de que há muito ainda por fazer naluta contra essa chaga social, a exploração de criançase adolescentes.

A integração do Programa de Erradicação doTrabalho Infantil (Peti) ao Programa BolsaFamília eliminou os incentivos para a retiradadas crianças do trabalho ao adotar a renda comoprincipal critério. Esta foi a principal conclusãodos integrantes do Fórum Nacional dePrevenção e Erradicação do Trabalho Infantil(FNPETI), durante reunião ordinária, realizadaem Brasília, no dia 4 de julho. De acordo comestudo elaborado pela professora Maria dasGraças Rua, da Universidade de Brasília (UnB),por solicitação do FNPETI com apoio da OIT, aadoção da renda foi a principal estratégia paraa promoção da eqüidade entre os beneficiáriosda integração. ‘Porém, ao adotar estritamenteesse critério, perdeu-se de vista a especificidadedo trabalho infantil, ou seja, houve perda do focono trabalho infantil, cujos fatores causais nãose limitam à baixa renda’ , diz a avaliação.

NOTA EXPLICATIVA

Juiz dotrabalho, titular

da 4ª VaraTrabalhista de

Ribeirão Preto-SP (TRT-15) e

mestre emDireito pela

UniversidadeEstadual Pau-lista (Unesp).

Representanteda Anamatra noFórum Nacionalde Prevenção e

Erradicaçãodo Trabalho

Infantil(2001-2004).

Tárcio José VidottiFoto Divulgação

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JORNAL DA AMATRA XV8

CHAGA OCULTA NOS LARESJosé Roberto Dantas Oliva

L onge dos olhos da fiscalização, um exército depequenos trabalhadores, formado principalmente pormeninas, está trocando a infância pela realização de

afazeres domésticos na casa de terceiros. São criançasque a miséria subtraiu do seio familiar. Em vez de brincar,lavam a louça e limpam a casa. Ir à escola, por vezes,constitui apenas uma das suas muitas tarefas: levar os filhosdo empregador insensível.

As estatísticas não são precisas. Segundo estimativasda Organização Internacional do Trabalho (OIT), conformenotícia publicada pela Folha Online em 10 de junho de 2004,cerca de “10 milhões de crianças atuam como ‘escravos’ dotrabalho doméstico em todo o mundo [...]”, problemaamplamente ignorado em muitos países.

Em 12 de junho daquele ano, quando pela terceiravez foi comemorado o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil,já advertia a OIT que muitas crianças e adolescentes sãovítimas da exploração no serviço doméstico. Sem proteçãoalguma, por trás de portas fechadas, podem, ainda, sofrermaus tratos, assédio sexual ou abusos diversos, físicos oupsicológicos. Estão entregues, na verdade, à própria sorte.

Relatório da OIT aponta, conforme reportagem jácitada da Folha Online, para um quadro devastador: “[...]cerca de 2 milhões de crianças trabalham como empregadasdomésticas na África do Sul, 559 mil no Brasil, 264 mil noPaquistão, 250 mil no Haiti, 200 mil no Quênia e 100 mil noSri Lanka. Cerca de 700 mil trabalham na capital daIndonésia, Jacarta, 200 mil em Dacca, Bangladesh, e 150mil em Lima, Peru. No Haiti, 10% destes menores têmmenos de 10 anos e no Marrocos, 70% das crianças‘empregadas em casas’ têm menos de 12 anos [...]”.

O Escritório da OIT no Brasil, por meio do seu site eem folder utilizado para divulgar os principais projetosem desenvolvimento no País, estima que seriamaproximadamente 500 mil as vítimas dessa modalidadeperversa de exploração do trabalho infantil, que atuam comodomésticas, em casas de terceiros, afastadas de suasfamílias e sem oportunidade de estudar e brincar. Apesar dadivergência numérica em relação aos dados divulgados emGenebra, uma coisa é certa: o problema é extremamentegrave também aqui e precisa ser combatido sem trégua.

Submetidas a extensas jornadas de trabalho, semsalário regular, ganhando miseravelmente ou tendo comocontraprestação apenas de moradia, roupas usadas ecomida, vêem-se tais crianças privadas de qualquerperspectiva de um futuro melhor.

A invisibilidade é uma agravante. Como se sabe, acasa é asilo inviolável do indivíduo. Ninguém nela podepenetrar sem consentimento do morador, salvo em caso deflagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro oudurante o dia, por determinação judicial. Se por um ladoesta é uma importante conquista do cidadão, asseguradano artigo 5º, XI, da Constituição Federal como um dos direitose garantias individuais fundamentais, constituindo crime aviolação do domicílio (art. 150, §§ 1º a 5º do Código Penal),por outro acaba dificultando o acesso, descoberta e as açõesde combate e erradicação do trabalho infantil doméstico.

Afora isto, a pobreza gera, muitas vezes, sentimentode gratidão da própria família da criança ou adolescenteexplorado, que enxerga no explorador uma espécie de

protetor, numa incrível inversão de valores. Para quem passaa ter a miséria como destino irreversível, entregar um filhopara quem vai dar-lhe moradia e comida em troca de“pequenos” afazeres domésticos, pode parecer uma solução– talvez a única ao alcance – para evitar a fome e odesconforto extremo. Por este prisma, o explorador da mão-de-obra infantil passa a ser visto como aquele que teveum gesto de caridade.

É comum, em situações tais, os próprios tomadores deserviço jactar-se benfeitores, pronunciando frases como “estácomigo desde criança” ou “é como se fosse da família” ou “étratado como filho”. Frase repetida, verdade aceita.

Ulceração social das mais graves, o trabalho infan-til doméstico tem cicatrização muito mais dolorosa e difícil,por estar incrustado no recôndito dos lares. Sua preven-ção e erradicação, assim, passam pela sensibilização dasociedade. Precisamos todos adquirir a nítida cons-ciência de que lugar de criança não é na cozinha e nemlimpando o chão, mas brincando, estudando e se envolven-do com atividades lúdicas. Profissionalizando-se, a partirda adolescência.

Por fim, o combate a esta triste realidade nãoprescinde, obviamente, de políticas sérias de inclusão sociale fortalecimento da educação.

Juiz titular da 1ª Vara do Trabalho de PresidentePrudente, professor das Faculdades Integra-das Antônio Eufrásio de Toledo, mestre emDireito das Relações Sociais pela Puc-SP,especialista em Direito Civil e Processual Civil,diretor regional da Amatra XV, representante daEscola da Magistratura da 15ª Região nacircunscrição de Presidente Prudente e autor dolivro O Princípio da Proteção Integral e o Trabalhoda Criança e do Adolescente no Brasil (2006),editado pela LTr.

TRABALHO INFANTIL - ARTIGO

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JORNAL DA AMATRA XV 9

TÓPICOS AVANÇADOS DODIREITO MATERIAL

DO TRABALHO

PUBLICAÇÕESFontes: Editoras Best Seller, Elsevier, Manole e LTr

Sub-Título: Alguns Pensamentos e Suas HistóriasAutor: Luiz Alberto PyEdição: 2007 - 128 páginasEsta publicação traz reflexões a respeito de frases de grandes

pensadores através da história. DeSócrates a Lao-Tsé, o cineastaamericano Orson Welles, passando pornomes como Jean Paul Sartre, CharlesBeard, Mark Twain, Henry Ford, entreoutros, são alguns pensadores,escritores, filósofos e poetas citados peloautor. Ele acrescenta ainda reflexõessobre temas que percorrem inquietaçõese ansiedades comuns a todos nós. Naspalavras dos mais diversos pensadores,pinçadas muitas vezes de realidadesdistantes no tempo e no espaço, o autor

revisita verdades que ainda buscamos - os eternos mistériosque a alma humana carrega desde tempos imemoriais.

Este livro tem por objetivo colaborar para uma melhorcompreensão do direito do trabalho e dosfenômenos a ele relacionados, pondo aoalcance do leigo a compreensão dasespecificidades desse direito especial.É uma obra voltada para estudantes, masde utilidade também para profissionais,uma vez que a facilidade de consultaauxiliará a esclarecer dúvidas ousolucionar problemas do dia-a-dia dequem trabalha diretamente com o tema.A obra tem uma finalidade eminen-temente pragmática: servir de fonte deconsulta ou estudo, com o intuito de ir

ao encontro dos que lidam, de forma acadêmica ouprofissional, com o Direito do Trabalho.

Autor: Rodrigo Garcia SchwarzEdição: Maio/2007 – 272 páginas

Foram reunidos, de maneira inédita, dezenove juslaboris-tas que analisaram o texto daConsolidação das Leis do Trabalho demaneira exaustiva, constituindo-se estanuma obra sem precedentes e deinegável util idade a estudantes eprofissionais do Direito. A CLT regula asrelações individuais e coletivas detrabalho, bem como comporta normas dedireito processual do trabalho, sendo,pois, uma eficaz ferramenta jurídica,onde são encontradas praticamen-te todas as normas laborais, sejam elas

de direito material ou processual. Trata-se de obra didática,completa e fácil de manusear.

Organização: Costa MachadoCoordenação: Domingos Sávio Zainaghi

A obra faz a reflexão de que é importante perceber que apreocupação com outros tipos deconflito, sem que ainda tenha sido dadaa resposta adequada para o conflitobásico da incidência do direito dotrabalho, que é a relação de emprego,faz apenas com que a Justiça doTrabalho, no fundo, deixe de ter umarazão de existir, enquanto órgãoespecífico do Poder Judiciário. Nesteaspecto, cabe indagar: a quem interessauma Justiça do Trabalho desvirtuada desua função específica? Aprofundam-se as

injustiças do sistema, que correm sem o freio do direito sociale sem que se apresente uma alternativa.

Autor: Jorge Luiz Souto MaiorEdição: Fevereiro/2007 - 120 páginas

Sub-Título: Um Breve Olhar Sobre a Idade MédiaAutor: Gerson Lacerda PistoriEdição: Maio/2007 - 136 páginas

A história do Direito do Trabalho começa com aindustrialização no século XIX? Por que os livros de Direito

do Trabalho, ao examinarem a suahistória na Europa, geralmente nãoabordam esse período da Idade Mé-dia? Há relações e semelhanças en-tre o trabalho livre executado prin-cipalmente na Idade Média baixa, como trabalho realizado no início daindustrialização nos oitocentos e otrabalho contemporâneo em plenaépoca da globalização? Essas questõespontuam esta obra, que analisa histó-rica e juridicamente o período medie-

val em que o trabalho livre se estrutura na Europa.

Em que medida a atividade processual probatória podevulnerar a dignidade da pessoa humana e maltratar

direitos fundamentais como a inte-gridade física, a honra e a privacida-de/intimidade? Sob que condições asprovas podem ser legitimamen-te constituídas? E uma vez constituídas,quando podem ser produzidas noprocesso? Como serão valorizadas emjuízo? Eis a ordem de indagaçõescujas respostas se ensaiam neste livro,sob o prisma da cooperação proces-sual e do princípio da proporcionali-dade. Sugestão como leitura com-

plementar em cursos de pós-graduação em Direito.

Autor: Guilherme Guimarães FelicianoEdição: Maio/2007 - 240 páginas

HISTÓRIA DODIREITO DO TRABALHO

EditoraLTr

CLT INTERPRETADAARTIGO POR ARTIGO,

PARÁGRAFO POR PARÁGRAFO

EditoraManole

MISTÉRIOSDA

ALMA

EditoraBest Seller

DIREITODO

TRABALHO

EditoraElsevier

RELAÇÃO DE EMPREGO&

DIREITO DO TRABALHO

EditoraLTr

EditoraLTr

DIREITO À PROVAE DIGNIDADE HUMANA

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JORNAL DA AMATRA XV10

Um grupo de dez juízes do Tribunal Regional do Trabalhoda 15ª Região, capitaneados por Manoel Carlos ToledoFilho, que mantêm estreito relacionamento com os profes-sores da Universidade de Córdoba, na Argentina, partici-pou, no período de 15 a 18 de agosto, de evento que ficouconhecido como 1° Encontro Internacional de Professoresde Direito do Trabalho e Seguridade Social da América La-tina. Os magistrados brasileiros, Jorge Luiz Souto Maior,Firmino Alves Lima e Luciana Caplan proferiram palestras

para uma platéia repleta de professores e estudantesda universidade Argentina. Aproveitando a oportunida-de, os magistrados brasileiros visitaram órgãos de 1ª e 2ªinstância da Justiça do Trabalho da Argentina e troca-ram informações sobre procedimento e direito mate-rial laborais. Entusiasmados com o sucesso do evento,organizadores e participantes elegeram a cidade de Cam-pinas para a realização do 2° Encontro Internacional,que deverá ocorrer em 2008.

Participantes do Evento de Córdoba já organizam o2° encontro, que será em Campinas

O juiz Firmino Alves Lima (com o computador aberto)durante palestra na Universidade Federal de Córdoba

GIRO DE NOTÍCIAS

ENCONTRO DE CÓRDOBA

RIBEIRÃO PRETO E SOROCABA

A diretoria da Amatra XV, representada pela presidente AnaPaula Lockmann e pelo vice Flávio Landi, esteve na re-gional de Ribeirão Preto, no dia 10 de agosto, para a posse danova diretora regional, juíza Márcia Cristina SampaioMendes. Em seguida, foi realizado evento na Escola daMagistratura, com exposição do juiz, José Antonio Ribeirode Oliveira Silva, enfocando a responsabilidade do em-

pregador por acidente do trabalho.No dia 23 de agosto, foi realizado encontro na regional de

Sorocaba. A presidente da Amatra XV, durante toda a tardeabordou com os juizes da regional, os problemas da circuns-crição e também dúvidas sobre questões associativas. Esseencontro foi organizado com o apoio do diretor da regional deSorocaba, juiz Mauro César Luna Rossi.

CANAL ABERTO

Diretoria do Grupo Bandeirantes de Comunicação e osmagistrados que irão colaborar com o Canal Aberto

Um canal de comunicação entre a Justiça e a so-ciedade. Esse é o objetivo do Canal Aberto com aJustiça, novo quadro do programa Ciranda da Cidade,da Rádio Bandeirantes, transmitido de Campinaspara toda a região. Juízes das áreas trabalhista,cível e cr iminal e membros do Ministér io Pú-blico e Defensoria Pública, tirarão as dúvidas dosouvintes, a part i r de uma discussão sobre umtema pert inente da semana. Assuntos, como di-reito do trabalho, também serão discutidos no progra-ma. A Rádio Bandeirantes (AM – 1170 Khz) contacom o apoio insti tucional da Amatra XV, TRT da15ª Região e Justiças Estadual e Federal de Campinas.

Márcia Cristina SampaioMendes, nova diretorada regional daAmatra XV de RibeirãoPreto, recebeu a diretoriada entidade para uma visita

Diretoria da Amatra XVvisita regional

de Sorocaba

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JORNAL DA AMATRA XV 11

GIRO DE NOTÍCIAS

ENCONTRO COM SENADOR SUPLICY

Representantes de associações e magistrados reuniram-seno dia 20 de agosto, na sede da Apamagis, com o senadorEduardo Suplicy, para debater assuntos de interesse da cate-goria e da sociedade. Entre os assuntos discutidos, o projetode lei nº 374/07, de autoria do senador, que altera o artigo 66da Lei Orgânica da Magistratura, reduzindo o período de fériasdos magistrados de 60 para 30 dias.

Nesse encontro, a presidente da Amatra XV, Ana PaulaLockmann, entregou ao senador o trabalho realizado pelaprofessora da Unicamp, Marilda Lipp, sobre o tema EstresseOcupacional do Juiz do Trabalho. Esse trabalho foi realizado àpedido da Amatra XV, pelo juiz Giordani (presidente da entidadena época) e idealizado pelo juiz Zanella. O senador foi convi-dado a participar ativamente de uma jornada diária de ummagistrado. Após ouvir a todos, Suplicy afirmou que iria reava-liar o projeto, com base nos argumentos e trabalhos recebidos.

Presidente da Amatra XV, Ana Paula Lockmann,em encontro na Apamagis com o senador Suplicy

Foto Ayres PP

JANTAR DOS APOSENTADOS

O Jantar Anual dos Aposentados realizado pela AmatraXV superou todas as expectativas, com muita alegria edescontração. No dia 22 de agosto, no restaurante Baracat,em Campinas, os magistrados aposentados marcarampresença – mais de 80%, em uma festa muito animada,com o reencontro de muitos colegas que não se viam háanos. Seis ex-presidentes do Tribunal marcaram pre-sença nesse Jantar Anual. O presidente do TRT-15, LuizCarlos de Araújo também esteve no evento e fez umabonita saudação aos colegas aposentados.

A diretoria da Amatra XV gostou muito dos resulta-dos e já incorporou o Jantar Anual dos Aposentados ,ao calendário de eventos da entidade, o que certamen-te deve se repetir pelos próximos anos.

Antonino Edson Botelho Cordovil, Hermelino deOliveira Santos e Francisco Alberto Giordani

Flávio A. Cooper, Ana Paula Lockmann, Oswaldo Preuss,Amélia Maria Moreira Silva e Antônio Bosco da Fonseca

Ralph Cândiae CarlosAlberto

Moreira Xavier

O 2ºCafé Fi-l o s ó f i -co , pro-m o v i -do pelaAmat raX V e mparceriacom a Ematra, dia 3 de agosto, no Espaço Culturaldo TRT-15, em Campinas, uniu descontração,cultura e um saboroso café da manhã. As palestrasestiveram a cargo do juiz Gerson Pistori e doprofessor Regis de Morais.

PROJETOS DE LEI CAFÉ FILOSÓFICO

Fotos Setor de Imprensa do TRT 15

Foto Setor de Imprensa do TRT 15

O projeto de lei que cria 65 cargos de juiz do trabalhosubstituto e outros 65 de analista judiciário – a seremocupados pelos assistentes dos magistrados, no Tribu-nal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª Região foi en-caminhado em 17 de agosto à Câmara dos Deputa-dos. Apresentado pelo Tribunal Superior do Trabalho(TST) por requerimento da corte regional, o projeto re-cebeu o nº 1.796/2007 e aguarda designação de relator.

Também deu entrada na Câmara dos Deputados,em 10 de setembro, pelo Tribunal Superior do Traba-lho, o anteprojeto que amplia de 36 para 55 juízes,a composição do Tribunal Regional do Trabalhoda 15ª Região. Como projeto de lei, essa proposta re-cebeu o número 1.989/2007.

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JORNAL DA AMATRA XV12