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Apelação Cível n. 2010.077182-5, de Araquari Relator: Des. João Batista Góes Ulysséa APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. DÉBITO QUITADO. IMPROCEDÊNCIA DO PLEITO INICIAL. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ RECONHECIDA. IMPOSIÇÃO DE MULTA E INDENIZAÇÃO DO ART. 18 DO MESMO DIPLOMA LEGAL. PRETENSÃO DEDUZIDA CONTRA FATO INCONTROVERSO. ART. 17, INCISO I, DO CPC. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. Mostrando-se incontroverso o débito alimentar que ampare a propositura da ação de execução de alimentos, o reconhecimento da litigância de má-fé é medida que se impõe, com a aplicação de multa e indenização, nos termos do art. 18, caput, e § 2º do CPC. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 2010.077182-5, da comarca de Araquari (Vara Única), em que são apelantes D. A. L. e outros, e apelado G. R. L.: A Segunda Câmara de Direito Civil decidiu, por votação unânime, negar provimento ao recurso. Custas legais. O julgamento, realizado no dia 29 de novembro de 2012, foi presidido pelo Exmo. Sr. Des. Trindade dos Santos, com voto, e dele participou o Exmo. Sr. Des. Gilberto Gomes de Oliveira. Lavrou parecer pela douta Procuradoria-Geral de Justiça o Exmo. Sr. Dr. Paulo Roberto de Carvalho Roberge. Florianópolis, 5 de dezembro de 2012. João Batista Góes Ulysséa RELATOR

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Page 1: ServletArquivo Alimentos Má-fé Litigância

Apelação Cível n. 2010.077182-5, de AraquariRelator: Des. João Batista Góes Ulysséa

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.DÉBITO QUITADO. IMPROCEDÊNCIA DO PLEITO INICIAL.LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ RECONHECIDA. IMPOSIÇÃO DEMULTA E INDENIZAÇÃO DO ART. 18 DO MESMO DIPLOMALEGAL. PRETENSÃO DEDUZIDA CONTRA FATOINCONTROVERSO. ART. 17, INCISO I, DO CPC. SENTENÇAMANTIDA. RECURSO IMPROVIDO.

Mostrando-se incontroverso o débito alimentar que ampare apropositura da ação de execução de alimentos, o reconhecimentoda litigância de má-fé é medida que se impõe, com a aplicação demulta e indenização, nos termos do art. 18, caput, e § 2º do CPC.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.2010.077182-5, da comarca de Araquari (Vara Única), em que são apelantes D. A. L.e outros, e apelado G. R. L.:

A Segunda Câmara de Direito Civil decidiu, por votação unânime, negarprovimento ao recurso. Custas legais.

O julgamento, realizado no dia 29 de novembro de 2012, foi presididopelo Exmo. Sr. Des. Trindade dos Santos, com voto, e dele participou o Exmo. Sr.Des. Gilberto Gomes de Oliveira.

Lavrou parecer pela douta Procuradoria-Geral de Justiça o Exmo. Sr. Dr.Paulo Roberto de Carvalho Roberge.

Florianópolis, 5 de dezembro de 2012.

João Batista Góes UlysséaRELATOR

Page 2: ServletArquivo Alimentos Má-fé Litigância

RELATÓRIO

D. A. L., D. I. L e D. G. L, representados por sua genitora A. T. da. S.,interpuseram recurso apelatório contra a sentença que, proferida nos autos da açãode execução de alimentos proposta em desfavor de G. R. L., a extinguiu,condenando-lhes ao pagamento da multa de 1% e da indenização de 10%, ambassobre o valor da causa, por litigância de má-fé, nos termos dos arts. 18, caput, e § 2º,do Código de Processo Civil.

Em suas razões, os Apelantes postularam o provimento do recurso, coma reforma da sentença, afastando as penalidades impostas por litigância de má-fé,sustentando, que: (a) em nenhum momento agiram de má-fé, além de serem pessoaspobres; (b) não foi possível constatar que o Executado havia realizado o depósitoreferente a verba alimentar, porque este nunca realizou pagamentos nas datasacordadas, além dos alimentandos residirem em local de difícil acesso, carente deônibus urbano e agências da Caixa Econômica Federal, lotérica ou caixa eletrônico;(c) os recibos juntados comprovam que os valores da verba alimentar foramdepositados tão somente após o ajuizamento da execução; e (d) o Apelado nãomerece ser indenizado, porque não sofreu nenhum constragimento com a propositurada ação, e com frequência atrasa a verba alimentar.

Intimado, o Apelado apresentou contrarrazões e pugnou pelodesprovimento do recurso, com a manutenção da sentença (fls. 56/60).

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer da lavra do Exmo.Dr. Paulo Roberto de Carvalho Roberge, manifestou-se pelo improvimento do recurso.

Esse é o relatório.

Gabinete Des. João Batista Góes Ulysséa

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VOTO

Objetivam os Apelantes o afastamento das penalidades impostas nasentença que reconheceu a litigância de má-fé, uma vez que quitados os valorespretendidos na execução de alimentos proposta contra o Apelado.

Sustentam que não agiram de má-fé, porque são pessoas pobres e semcondições de verificar os pagamentos da verba alimentar, além do Executadocomumente atrasar as prestações e residirem em município de difícil acesso,impossibilitados de verificação diária dos depósitos, diante da distância da respectivaagência bancária.

Anote-se que a decisão atacada, impôs a condenação sob os seguintesargumentos (fls. 42/44):

No que tange à litigância de má-fé, verifica-se configurada no presente caso,vez que era de conhecimento da exequente que os valores executados estavamdevidamente pagos, conforme documentos das fls. 27/30.

No mais, requereu o Ministério Público para que o executado juntassecomprovantes de pagamento das prestações posteriores à data em que o réuapresentou justificação. Considero desnecessária o cumprimento de tal diligência,uma vez que a comprovação do pagamento das parcelas vincendas até a justificaçãoensejam presunção que os alimentos vem sendo prestados devidamente.

Ante o exposto, julgo extinta a execução.[...]Aplico à ré multa por litigância de má-fé no importe de 1% (um por cento) do

valor dado à causa, devendo ainda indenizar o exequente, em quantiacorrespondente a 10% (dez por cento) do valor atribuído à causa, consoante art. 18,caput e § 2º, do CPC.

Verifica-se, assim, a condenação dos Apelantes por litigância de má-fé,no importe de 1% sobre o valor da causa (art. 18, do CPC), por indícios de que tinhamconhecimento do adimplemento da verba alimentar, pelo Executado, além dacondenação, dos primeiros, nos moldes do art. 18, § 2º, do CPC.

No caso em análise, constata-se que os Exequentes ingressaram com aexecução à satisfação do crédito alimentar dos meses de agosto a outubro de 2009,totalizando o montante de R$ 456,43, conforme planilha apresentada à fl. 3 dos autos.Todavia, pelo despacho de fl. 14, o juízo a quo ordenou a citação do Executado:

[...]Cite-se o executado, na forma do art. 733 do CPC, para, em 03 (três) dias,

efetuar o pagamento do débito alimentar descrito na petição inicial, provar que o fezou justificar a impossibilidade de efetuá-lo, sob pena de ser-lhe decretada a prisão de01 (um) a 02 (dois) meses.

Intimado, o Executado apresentou justificativa (fls. 21/23), juntandocópias dos extratos bancários referentes aos pagamentos da verba alimentarpleiteada pelos Exequentes, bem como pugnando pela condenação destes porlitigância de má-fé, nos moldes dos artigos 16 e 17, inciso II, do Código de Processo

Gabinete Des. João Batista Góes Ulysséa

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Civil, com a aplicação da multa do art. 18, § 2º, do mesmo diploma legal.Ademais, foi apresentada manifestação pelos Exequentes, contestando

os pagamentos, inclusive salientando como sendo dos meses atuais, uma vez que asdemais prestações anteriores encontravam-se atrasados (fl. 38)

Tais considerações são necessárias, porque evidenciam que, de fato,está configurada a litigância de má-fé, uma vez que a parte pretendia receber valoresincontroversamente adimplidos pelo alimentante. Isso porque, mesmo após oExecutado ter juntado aos autos os recibos referentes a prestação alimentícia, osExequentes continuaram no sentido de não reconhecer os pagamentos atuais,persistindo na tese de que permaneciam em atraso. Contudo, como muito bemponderado pela DDa. Magistrada a quo ao sentenciar o feito, a ação de execução foipromovida com fulcro no art. 733 do CPC, cuja cobrança é restrita às três últimasprestações vencidas antes do ajuizamento da ação de execução e que seencontravam adimplidas. Portanto, impondo aos Exequentes o manejamento de açãoprópria, com fulcro no art. 732 do CPC, para o fim de execução das prestaçõesanteriores.

Dessa maneira, tem-se que o Executado, ora Apelado, comprovoudevidamente os pagamentos que lhe estariam sendo cobrados, estando caracterizadaa litigância de má-fé dos Apelantes, porque pleitearam pagamento da verba alimentarjá adimplida, conforme os extratos bancários que foram anexados nos presentesautos.

Outrossim, bem destacou o ilustre Procurador de Justiça, Dr. PauloRoberto de Carvalho Roberge, em seu parecer (fls. 85 e 86):

O executado comprovou, por meio de recibos de depósitos bancários, que osalimentos exigidos estavam pagos e que a satisfação do crédito se deu por meio dedepósito em conta poupança indicada pela mãe dos exequentes, o que permite dizerque esta tinha, ou pelo menos deveria ter, plena ciência do fato.

Ao ofertarem a réplica, insistindo na cobrança e dizendo que não reconheciamaqueles pagamentos como sendo dos meses exigidos, mas relacionados a parcelasantigas, vencidas e não pagas, deixaram de corrigir o equívoco cometido em tempo emodo oportuno, revelando a conduta descrita no artigo 17, I e II do Código deProcesso Civil.

Nessa direção, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. GRATUIDADE DE

JUSTIÇA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. [...]. Litigância de má-fé. A parte exeqüenteingressou com execução de valores que sabia não serem devidos, utilizando-se detítulo executivo inválido e omitindo, propositalmente, a existência do acordo quereduziu os alimentos. A má-fé e falta de lealdade processual está flagrante nopresente caso, sendo cabível a condenação ao pagamento de multa. Contudo, oartigo 18 do CPC estipula que a multa não pode superar 01% sobre o valor da causa.Logo, a fixação da multa em 20% sobre o valor da causa mostra-se acima dopermissivo legal, devendo o recurso ser provido em parte, apenas para reduzir acondenação no ponto. DERAM PARCIAL PROVIMENTO. (Apelação Cível n.70047252663, rel. Des. Rui Portanova, j. 12-4-2012).

Gabinete Des. João Batista Góes Ulysséa

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EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. DÉBITO QUITADO ANTES DO AJUIZAMENTODA DEMANDA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. Comprovado que ao tempo da propositurada demanda o alimentante já havia adimplido a obrigação alimentar, cabível acondenação dos exequentes em litigância de má-fé. Apelação desprovida, de plano(Apelação Cível n. 70041264144, rel. Des. Jorge Luís Dall'Agnol, j. 20-10-2011).

Portanto, mantenho a decisão que reconheceu a litigância de má-fé dosExequentes/Apelantes, com a condenação dos Recorrentes ao pagamento de multade 1% sobre o valor da causa.

Outrossim, reconhecida a litigância de má-fé, deve permanecer aimposição da indenização aludida no art. 18, § 2º, do CPC:

Art. 18. O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante demá-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o valor da causa e aindenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os honoráriosadvocatícios e todas as despesas que efetuou.

[...].§ 2o O valor da indenização será desde logo fixado pelo juiz, em quantia não

superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, ou liquidado porarbitramento.

Portanto, à vista do exposto, nega-se seguimento ao recurso.Esse é o voto.

Gabinete Des. João Batista Góes Ulysséa