serviço social em equipe multidisciplinar (40hs - ssoc)_unid_i(1)

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    Autor: Prof. Jos Aparecido Batista JniorColaboradores: Profa. Amarilis Tudella Nanias

    Profa. Maria Francisca S. Vignoli

    Profa. Ronilda Ribeiro

    Servio Social em

    Equipe Multidisciplinar

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    Professor conteudista: Jos Aparecido Batista Jnior

    Jos Aparecido Batista Jnior de Sorocaba/SP. assistente social graduado pelo Instituto Manchester Paulista deEnsino Superior. Atuou como coordenador de projetos sociais em uma ONG de So Paulo e como educador social daGuarda Mirim em cidades prximas a Sorocaba.

    Tem MBA em Gesto de Projetos e mestre em Polticas Sociais.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ouquaisquer meios (eletrnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem

    permisso escrita da Universidade Paulista.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    B333s Batista Junior, Jos Aparecido.

    Servio social em equipe multidisciplinar. / Jos AparecidoBatista Junior. So Paulo: Editora Sol, 2014.

    160 p. il.

    Nota: este volume est publicado nos Cadernos de Estudos ePesquisas da UNIP, Srie Didtica, ano XIX, n. 2-032/14, ISSN 1517-9230.

    1. Servio social. 2. Equipe multidisciplinar. 3. Gernciacientfica. I. Ttulo.

    CDU 36

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    Prof. Dr. Joo Carlos Di GenioReitor

    Prof. Fbio Romeu de CarvalhoVice-Reitor de Planejamento, Administrao e Finanas

    Profa. Melnia Dalla TorreVice-Reitora de Unidades Universitrias

    Prof. Dr. Yugo OkidaVice-Reitor de Ps-Graduao e Pesquisa

    Profa. Dra. Marlia Ancona-LopezVice-Reitora de Graduao

    Unip Interativa EaD

    Profa. Elisabete Brihy

    Prof. Marcelo Souza

    Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar

    Prof. Ivan Daliberto Frugoli

    Material Didtico EaD

    Comisso editorial:Dra. Anglica L. Carlini (UNIP)

    Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Ktia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valria de Carvalho (UNIP)

    Apoio: Profa. Cludia Regina Baptista EaD Profa. Betisa Malaman Comisso de Qualificao e Avaliao de Cursos

    Projeto grfico: Prof. Alexandre Ponzetto

    Reviso: Virgnia Bilatto Valria Nagy

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    Sumrio

    Servio Social em Equipe MultidisciplinarAPRESENTAO ......................................................................................................................................................7

    INTRODUO ...........................................................................................................................................................7

    Unidade I

    1 GERNCIA CIENTFICA E PRESTAO DE SERVIOS.............................................................................91.1 A gerncia cientfica ...........................................................................................................................11

    1.2 Mudanas nos processos de trabalho .......................................................................................... 222 A EXPLORAO DOS SERVIOS NA SOCIEDADE CAPITALISTA .....................................................37

    3 TRABALHO E SERVIO SOCIAL ................................................................................................................... 543.1 Processo de trabalho e Servio Social .......................................................................................... 543.2 A prtica como trabalho e a insero do assistentesocial em processos de trabalho ............................................................................................................ 59

    4 POR QUE SERVIO SOCIAL TRABALHO ............................................................................................... 644.1 Objeto e produto do Servio Social .............................................................................................. 74

    Unidade II

    5 A REESTRUTURAO PRODUTIVA E AS NOVAS MODALIDADESDE SUBORDINAO DO TRABALHO ............................................................................................................ 84

    5.1 Reestruturao do capital, fragmentao do trabalho e Servio Social ....................... 865.2 Os servios na contemporaneidade: o trabalho nos espaos ocupacionais.................92

    6 REESTRUTURAO NOS BANCOS E AO DO SERVIO SOCIAL .................................................99

    7 O SERVIO SOCIAL E A SADE DO TRABALHADOR NASORGANIZAES PBLICAS E PRIVADAS .................................................................................................112

    8 A INSERO DO SERVIO SOCIAL COMO ESPECIALIZAODO TRABALHO COLETIVO DO ASSISTENTE SOCIAL .............................................................................123

    8.1 As estratgias profissionais ............................................................................................................1268.2 O instrumental tcnico-operativo e o produto do seu trabalho ....................................133

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    APRESENTAO

    Objetivos da disciplina

    A disciplina Servio Social em Equipe Multidisciplinar tem como objetivo levar voc, aluno(a), reflexo sobre o trabalho e a cooperao, entendendo o trabalhador como um meio de interao coletiva;e, neste sentido, contextualizar a especificidade do trabalho na sociedade burguesa e a insero doServio Social como especializao do trabalho em equipe.

    A identificao dos elementos constitutivos do processo de trabalho do assistente social englobaa anlise dos fenmenos, das polticas sociais, das dinmicas institucionais, bem como o estudo dosespaos scio-ocupacionais do bacharel em Servio Social no primeiro, segundo ou terceiro setor.

    Com isso, vamos trazer discusso as contradies existentes no cotidiano do assistente social

    como trabalhador coletivo e especializado, suas estratgias profissionais e o produto do seu trabalhoe atuao nos processos frente s mudanas no padro de acumulao capitalista e regulao social.

    Objetivo geral

    Discutir a particularidade e singularidade da insero do Servio Social nos processos de trabalho;analisar e refletir sobre o trabalho concreto do assistente social; refletir sobre os principais desafiosenfrentados pela profisso a partir da reestruturao produtiva, assim como discutir a insero doprofissional neste contexto.

    Objetivos especficos

    Identificar os espaos scio-ocupacionais nos quais se insere o assistente social.

    Refletir sobre o contexto socioeconmico e o trabalho do assistente social.

    Desenvolver a leitura crtica sobre a realidade do mundo do trabalho na qual o assistente socialest inserido.

    Compreender a insero do assistente social nos processos de trabalho.

    INTRODUO

    O profissional formado em Servio Social um tcnico liberal, ou seja, tem uma possibilidade amplade espao de trabalho, pois pode desenvolver trabalhos pontuais ou contnuos, com contratao formalou prestao de servios sem vnculo empregatcio para diferentes organizaes.

    De maneira generalista, o profissional liberal quer representar:

    De acordo com o presidente da Confederao Nacional das ProfissesLiberais (CNPL), Francisco Antonio Feij, [...] o liberal designado para

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    aquele profissional que tem total liberdade para exercer a sua profisso.Ele pode constituir empresa ou ser empregado, no entanto. Feij lembraque o profissional liberal sempre de nvel universitrio ou tcnico.Tambm est registrado em uma ordem ou conselho profissional e onico que pode exercer determinada atividade, o que o deixa com umaresponsabilidade maior pelo produto de seu trabalho. Entram na listamdicos, advogados, jornalistas, dentistas, psiclogos, entre outrascategorias (GAZETA DO POVO, 2007).

    importante no perdermos esse referencial, que pode potencializar novo mercado e trazer maiorenvolvimento das organizaes com a utilizao dos servios do assistente social. Entretanto, para queseja possvel desenvolver tal realidade, o tcnico precisa dispor de todos os instrumentos necessrios(financeiro, tcnico, humano e estrutural) para o desenvolvimento do trabalho liberal.

    A graduao norteia o aluno, no entanto na prtica que os desafios se instalam, pois nesse momento que todo o embasamento terico que foi adquirido precisa ser estabelecidopelo profissional; os fatores histricos que influenciaram a construo da profisso ainda estopresentes nos espaos scio-ocupacionais, ou seja, a forte influncia do pensamento conservador em especial o religioso, benevolente, caritativo entendendo a profisso como associada aodom, ao amor e compaixo.

    nesse conflito apresentado que a formao terica potencializa o olhar crtico do aluno, possibilitandoa interpretao construda pela categoria profissional quanto aplicabilidade do assistente social einstruindo-o para que seja um tcnico, e no um cuidador do ser humano.

    A base da profissionalizao, em termos interventivos e reflexivos, d-se por meio do Cdigode tica Profissional dos Assistentes Sociais, aprovado em 13 de maro de 1993, e das devidasalteraes contidas nas Resolues CFESS ns290/94, 293/94, 333/96 e 594/11, pois trazem consigoos princpios fundamentais, reconhecendo a liberdade como valor tico central das demandaspolticas a ela inerentes.

    O objetivo principal desta disciplina a capacitao do profissional para o desenvolvimento desua ao em equipes multidisciplinares nos diferentes campos de atuao, com liberdade, tica e

    profissionalismo.

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    SERVIO SOCIAL EM EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

    Unidade I

    1 GERNCIA CIENTFICA E PRESTAO DE SERVIOS

    Nesta primeira unidade, trataremos da anlise da industrializao no cotidiano da sociedade,bem como dos resultados promovidos pelo modo econmico capitalista, que concentra ariqueza socialmente produzida. Em seguida, trataremos de um tema que merece destaque nasreflexes sobre a contextualizao e interveno profissional: tica. Abordaremos tambmos fundamentos que operam na interveno do assistente social na promoo de aespreviamente planejadas.

    Reportamo-nos definio mais ampla da palavra gerncia, que se refere a: 1 Ao de gerir,dirigir ou administrar. 2 Funes de gerente (MICHAELIS, 2009). Ou seja, a palavra est associada aoato de administrar e dirigir. Nesse sentido, preciso que o tcnico detenha o conhecimento cientficopara fazer a interlocuo de teoria e prtica prxis. Marx, em Manuscritos(1844), analisa a relaoentre a prxis e o conhecimento e estabelece que a prtica fundamenta a relao entre o homem ea natureza, ou seja, unidade sujeito-objeto.

    Nessa troca, saber e prtica-homem e natureza, o assistente social e os demais tcnicos quecompem a equipe de trabalho precisam compreender seus papis na prestao de servios, seja deforma individual ou coletiva, em prol de um objetivo comum. Como ferramenta facilitadora, h oplano de trabalho de cada profissional, ou seja, o projeto interventivo.

    Projetono est relacionado apenas rea administrativa, j que significa:

    1 Plano para a realizao de um ato; desgnio, inteno.2 Cometimento,empreendimento, empresa. 3 Redao provisria de qualquer medida(estatuto, lei etc.).4ConstrRepresentao grfica e escrita com oramentode uma obra que se vai realizar. P. de lei:proposio escrita apresentada a

    uma cmara legislativa sobre qualquer assunto, para, depois de discutida emplenrio, ser convertida em lei; propositura.P.-tipo:projeto padronizado quedeve ser seguido em diversas obras ou instalaes da mesma natureza. Pl:projetos-tiposeprojetos-tipo(MICHAELIS, 2009).

    O significado que mais se aproxima da disciplina o que mostra o projeto como um plano para arealizao de um ato; desgnio, inteno. Identificamos, ento, que projeto um conjunto de inteneselaboradas com o intuito de realizar algo (fato/inteno), seja por um tcnico ou pelo coletivo. Noh ao crtica (se no houver o projeto para sua realizao) associada intencionalidade de realizaralguma coisa, no importando qual seja o fato gerador.

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    Unidade I

    Segundo Helosa Lck (2003, p. 27), projeto :

    [...] o conjunto organizado e encadeado de aes de abrangncia e escopodefinidos, que focaliza aspectos especficos a serem abordados num perodode tempo, por pessoas associadas e articuladoras das condies promotorasde resultados, com um determinado custo.

    Ela coloca com nfase a necessidade de um projeto ser desenvolvido por pessoas pr-ativas, ou seja,com atitude e que saibam visualizar os resultados e custos para essa obteno, sendo planejado compeculiaridade, com o fim de alcanar o objetivo central desse.

    Um projeto pode ser definido como uma srie de servios relacionados,normalmente voltados para alguma produo importante, e quenecessita de um perodo significativo de tempo para ser realizado; pode-

    se destacar nesta interpretao que para haver a elaborao de qualquerprojeto preciso tempo, assim, nenhum feito da noite para o dia(CHASE, 2006, p. 78).

    De acordo com Chase (2006), preciso haver preparo metodolgico para o incio do projeto econversa entre os envolvidos sobre as intervenes a serem desenvolvidas.

    H outros autores que defendem a ideia de que no h nenhuma definio universalmentereconhecida para projeto, visto que seu significado pode mudar de acordo com a linha depensamento de quem o faz. Entretanto, h pontos que todos os projetos devem adotar, comodiscursa Fusco (2007, p. 59):

    [...] no existe nenhuma definio de projeto reconhecida universalmente.Assim, diferentes especialistas usam, s vezes, definies bastante diferentes.No entanto alguns pontos importantes devem ser considerados para balizara definio de projeto: o objetivo da atividade de projeto deve ser buscara satisfao das necessidades dos consumidores; a atividade de projetopode ser aplicada tanto a produtos (ou servios) como a sistemas (quechamamos processos); a atividade de projeto , em si mesma, um processo

    de transformao. O projeto comea com um conceito e termina na traduodesse conceito, em uma especificao de algo que vivel e passvel de serproduzido.

    Como se percebe, para este autor, no de grande importncia a caracterizao/o significado doprojeto (como palavra), mas sim os objetivos que devem ser alcanados para que este esteja de acordocom o objetivo da ao e da equipe.

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    SERVIO SOCIAL EM EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

    Observao

    No haver trabalho em equipe se o prprio tcnico no se reconhecer

    como tal, identificando suas atribuies e competncias, limites epossibilidades e conflitos existentes na relao com os demais profissionais,em virtude da diferenciao do processo formativo pessoal e profissional.

    1.1 A gerncia cientfica

    Neste item objetivaremos entender a relao entre o tcnico, o conhecimento, a cincia e aaplicabilidade, pois preciso compreender que, ao ser absorvido um saber, por meio de pesquisas debase documental, emprica, identificao da realidade (observao) etc., preciso que essa cincia seja

    utilizada pelos demais profissionais ou pela populao, j que nenhum conhecimento vlido se deixadoretido.

    Temos o significado da palavra cincia:

    s.f. Conjunto organizado de conhecimentos relativos a certas categoriasde fatos ou fenmenos. (Toda cincia, para definir-se como tal, devenecessariamente recortar, no real, seu objeto prprio, assim como definiras bases de uma metodologia especfica: cincias fsicas e naturais.) /Conjunto de conhecimentos humanos a respeito da natureza, da sociedade

    e do pensamento, adquiridos atravs do desvendamento das leis objetivasque regem os fenmenos e sua explicao: o progresso da cincia. / Cinciapura, cincia praticada independentemente de qualquer preocupao deaplicao tcnica. / Cincia poltica, politicologia (HOLANDA, 2010).

    So saberes relativos a um determinado objeto. A cincia parte de um conjunto existente narealidade apresentada ao pesquisador, seja de maneira direta ou indireta. Neste ponto preciso terclareza de que todo conhecimento no uma verdade absoluta, pois apresenta um recorte da conjunturatotalitria de algo.

    Para fins de exemplificao, podemos nos remeter ao conhecimento do que questo social,entretanto, para ampliao deste, necessria a compreenso da conjuntura scio-histrica, em especial,a industrial, inserida no modo econmico capitalista; percepes que nos faro entender a gnese daexpresso, bem como relativizar com a realidade, concomitante sua materializao ou suas expresses.

    Ento, a cincia est direcionada produo do conhecimento, e este influenciado pela informao.Mas qual o significado de informao?

    1 Ato ou efeito de informar. 2 Transmisso de notcias. 3 Comunicao.4Ao

    de informar-se. 5 Instruo, ensinamento.6 Transmisso de conhecimentos.

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    Unidade I

    7 Indagao.8 Opinio sobre o procedimento de algum. 9 Parecer tcnicodado por uma repartio ou funcionrio. 10 Investigao. 11 Inqurito.12 Miner Presena de quartzo hialino e outros satlites denunciadoresdo diamante. I. privilegiada: informao que no tornada pblica, mas utilizada por pessoas que a conhecem, para negociar na bolsa, a fim deobter vantagens (MICHAELIS, 2009).

    Ento, informao, segundo o dicionrio, [...] Transmisso de notcias [...] instruo, ensinamento[...] indagao [...] investigao. Para gerar uma cincia preciso fazer um questionamento e, a partirdeste, remeter s pesquisas que direcionaro possvel resposta, sem esquecer que o conhecimentogerado um segmento da totalidade e das relaes cotidianas.

    O que pretendemos identificar primeiro os pormenores que norteiam uma interpretaocrtica da realidade, bem como a autoanlise do tcnico em relao sua atuao profissional, seja

    individualmente ou coletivamente, neste caso. Entender quais os limites profissionais, institucionais,legais ou outros faz que tenhamos meios para o desenvolvimento de aes diferenciadas, com ointuito de no prejudicar a ao profissional.

    fato que muitos profissionais, de diferentes categorias, atuam apenas com intervenes imediatistas,ou seja, no refletindo, na sua totalidade, historicidade e construo do objeto.1Para fundamentaoterica, possvel recorrer discusso sobre a metodologia empregada pelos profissionais envolvidos;para tanto, remeteremos ao texto de Jos Paulo Netto (2009), o qual trata os conceitos de Marx.

    Para composio do debate nos remeteremos s questes histricas e contemporneas, ou seja,faremos uma contraposio da atualidade com o passado, vislumbrando deixar nossos momentos deestudos o mais instigantes possvel.

    Jos Paulo Netto (2001) discursa sobre o fato de como era difcil ser marxista, uma vez que esseestudioso vivia para analisar e produzir escritos que relatavam o cotidiano, o mais real possvel, dostrabalhadores e do socialismo. Mas, em contraposio, questionamos: ser que nos dias atuais tambmno somos pressionados pelo modo de consumo, acmulo da riqueza socialmente produzida, ou seja,pelo modo econmico capitalista?

    Compreender algo cientificamente implica fazer interpretaes profundas, nos distanciandode prticas imediatistas, generalistas, pouco propositivas, voltadas ao achismo, e aes que aindaacontecem no cotidiano profissional, compreendendo, assim, a teoria para melhorar a prtica.

    O conhecimento cientfico no pode ser associado a rtulos, nem por prticas simplificadas para otcnico, ou seja, aplicar o que j foi aplicado com outras pessoas; o correto seria construir intervenesnovas, pois os envolvidos so outros sujeitos; assim, deteremos um conhecimento tcnico voltado aopblico a que realmente se destina.

    1 Para matria de compreenso, entenda objeto como situao a ser trabalhada; esta uma forma de utilizarmosvocbulos menos cotidianos ao reproduzir uma ao profissional.

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    SERVIO SOCIAL EM EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

    O assistente social deve ter a clareza de que o saber uma construo, e precisa, com frequncia,realizar a interlocuo de teoria e prtica, desta forma:

    a realidade no padronizada;

    a sociedade no homognea;

    incluir o pblico-alvo da ao necessrio para um resultado efetivo, eficaz e eficiente.

    Logo, o conhecimento deve ser utilizado como subsdio para que seja possvel, em seu cotidianoprofissional, respeitar o pblico a quem se destina a ao. Respeito, aqui, ouvir, incluir e compartilharo saber.

    Todos os envolvidos esto em uma mesma posio: h interao dos tcnicos com o pblico da

    ao, e no h perspectiva de hierarquizao decorrente de diversas intervenes, visto que pontofavorvel para a adeso dos envolvidos, to certo que nenhum conhecimento e respectiva aplicabilidadetero a confiabilidade e participao do pblico-alvo ou da equipe, se no tiver ocorrido a escuta e realparticipao destes.

    Nesse sentido, no podemos deter o conhecimento apenas para a rea econmica do sujeito, pois preciso envolver a anlise da forma mais totalitria possvel, para que no compactuemos com o queNetto (2009, p. 669-70) diz:

    [...] o conhecimento da realidade no demandaria os sempre rduosesforos investigativos, substitudos pela simples aplicao do mtodode Marx, que haveria de solucionar todos os problemas: uma anliseeconmica da sociedade forneceria a explicao do sistema poltico,das formas culturais etc.

    No observamos tambm essa conduta sendo aplicada? Ento, proporcionar renda ao sujeito suficiente para melhorar a situao de vulnerabilidade que enfrenta?

    Em um primeiro momento, tal fator pode contribuir para a situao; porm, a longo prazo, no ter

    efeitos duradouros, visto que a situao s foi observada sob uma tica; e precisamos, como tcnicos, iralm do que est posto, ou seja, obter informaes que direcionem ao caso para posteriores intervenesmais politizadas e crticas, com base estrutural.

    No possvel desconsiderar a apreenso da realidade como realmente para o estudo terico etcnico, sem haver distores de quem observa, e, para isso, preciso disponibilidade para tal interveno.Mas so todos os profissionais que atuam dessa maneira? No cabe aqui quantificar questes, masprovocar em voc momentos para refletir sobre sua futura atuao como colega de profisso.

    Karl Marx, ao pesquisar a sociedade moderna (burguesa), fundamentou-se no modo de produo,certamente pelo motivo de um no existir sem o outro. Com isso, temos a diviso de classes sociais: de

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    Unidade I

    um lado, os detentores do meio de produo e concentradores da riqueza socialmente produzida, e, deoutro, um grande nmero de pessoas que tm, da venda da fora de trabalho, meios para a sobrevivncia.

    Cabe insistir na perspectiva crticade Marx em face da herana culturalde um legatrio. No se trata, como pode parecer a uma viso vulgar,de crtica, de se posicionar frente ao conhecimento existente pararecus-lo ou, na melhor das hipteses, distinguir nele o bom do mau.Em Marx, a crtica do conhecimento acumulado consiste em trazer aoexame racional, tornando-os conscientes, os seus fundamentos, os seuscondicionamentos e os seus limites ao mesmo tempo que se faz averificao dos contedos desse conhecimento a partir dos processoshistricos reais (NETTO, 2009, p. 672).

    A crtica no est associada a dizer se algo ruim ou bom, mas a investigar (estudar) o objeto

    (situao do problema), trazendo para o campo reflexivo como se construiu e quais so seus limites. muito importante esse momento para se reconhecer o objeto como ele em si mesmo e em comunidade,pois fazemos parte de um grupo. Assim, no possvel efetuar uma crtica sem abstrair de todos oscondicionantes de que tal participa e influenciado, seja em equipe ou individualmente.

    Conforme Netto (2009) revela, o mtodo era resultado de uma complexa investigao, e no hcomo criar maneiras de interveno sem prvio e intenso contato com o objeto. Esse princpio refora aideia de que no possvel construir um saber e uma ao da noite para o dia. Algumas reflexes sopertinentes:

    ao trabalharmos na perspectiva de autonomia, no precisamos ordenar ningum a fazer algo;

    a aplicabilidade deve ser algo nivelado com a equipe e o pblico-alvo, e realizvel;

    o tcnico torna-se um facilitador, um gerenciador, e no mandante e dono da verdade.

    Ao construirmos o saber at o presente momento, vlido refletirmos sobre o que uma teoria, jque tal nos cobrada no cotidiano profissional em diversos aspectos, como mostra Netto (2009, p. 673):

    [...] teoria uma modalidade peculiar de conhecimento (outras modalidadesso, por exemplo, a arte, o conhecimento prtico da vida cotidiana, oconhecimento mgico-religioso) [...] Mas a teoria se distingue de todasessas modalidades e tem especificidade: o conhecimento terico oconhecimento do objeto tal como ele em si mesmo, na sua existncia real eefetiva, independentemente dos desejos, das aspiraes e das representaesdo pesquisador.

    O autor trata de maneira objetiva o assunto: teoria o conhecimento da situao como realmente, e no conforme a vontade do pesquisador, porque no profissional transpassar o seu achar para oobjeto, pois este ser corrompido, e, assim, no conseguiremos chegar a uma teoria.

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    Essa situao pode causar certo conflito, j que, ao fazer uma investigao, preciso entender queo objeto existe independentemente da intencionalidade do pesquisador. Porm, tal caracterstica nocoloca o tcnico como um sujeito passivo; pelo contrrio, este deve ter papel ativo no processo da buscade conhecimento que chamamos de teoria, mas o reiterando, no o influenciando.

    Est conseguindo acompanhar nossas reflexes? de suma importncia que leia o texto, alvo dosnossos estudos at o momento, de Jos Paulo Netto (2009) na ntegra. Para isso, recorra s refernciasbibliogrficas para uma busca textual.

    Paralelamente cincia, temos os instrumentais utilizados pelo pesquisador como ferramentafacilitadora; assim, Netto (2009) coloca que h inmeros instrumentais que podem ser utilizadospelo tcnico, porm devem ser formas para apoderar-se da matria. Ou seja, o conhecimentoest inserido em um processo dinmico, na medida em que h contradies que resultam em suasuperao e conduzem a outros nveis, provocando outras contradies, fazendo um movimento

    em espiral.

    Pensando em uma perspectiva macro, podemos trazer esse pensamento de processos ao mundo emque vivemos, composto por um conjunto de transformaes. bom enfatizar que o fato de algo mudarno est associado a uma mudana para melhor ou pior, mas que ou est diferente.

    Devemos entender que o indivduo se relaciona conforme desenvolve as atividades de produo efaz a interao com o meio; logo, no estamos falando de algo homogneo e esttico; pelo contrrio,reforamos a ideia de que no se podem padronizar nossas aes.

    O conhecimento deve partir, na perspectiva de Marx, do concreto e real, com grande valia paranossas reflexes, visto que alguns profissionais imediatistas e no tcnicos partem do achismo pararealizarem uma teoria. preciso que haja abstrao, que, segundo Netto (2009. p. 684), :

    [...] a capacidade intelectiva que permite extrair, da sua contextualidadedeterminada (de uma totalidade), um elemento e isol-lo, examin-lo; umprocedimento intelectual sem o qual a anlise invivel alis, no domniodo estudo da sociedade, o prprio Marx insistiu com fora que a abstrao um recurso indispensvel para o pesquisador. A abstrao, possibilitando a

    anlise, retira de elemento abstrado as suas determinaes mais concretas,at atingir determinaes das mais simples. Neste nvel, o elemento deque foi extrado: nela, ele se concretiza, porquanto est saturado de muitasdeterminaes.

    Podemos notar que no h abstrao sem a presena da intelectualidade, ou seja, do saber, sendonecessrio compreender o todo que envolve o objeto, para que seja distanciado de aes imediatistas epouco comprometidas com a realidade.

    Para tanto, importante sabermos identificar a realidade, certo? Como interventores de umadeterminada situao, temos de fazer teoria a partir dela, e, assim, a realidade concreta exatamente

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    Unidade I

    por isto, por ser a sntese de muitas determinaes, a unidade do diverso que prpria de todatotalidade (NETTO, 2009, p. 685).

    Com isso, estamos realizando o conhecimento terico, que :

    [...] nesta medida, para Marx, o conhecimento do concreto, que constituia realidade, mas que no se oferece imediatamente ao pensamento, deveser reproduzido por este e s a viagem de modo inverso permite estareproduo. J salientamos que, em Marx, h uma contnua preocupao emdistinguir a esfera do ser da esfera do pensamento; o concreto a que chegao pensamento pelo mtodo que Marx considera cientificamente exato (oconcreto pensado) um produto do pensamento que realiza a viagem demodo inverso. Marx no hesita em qualificar este mtodo como aquele queconsiste em elevar-se do abstrato ao concreto, nico modo pelo qual o

    crebro pensante se apropria do mundo (NETTO, 2009, p. 685).

    Embora o trecho utilizado seja autoexplicativo, vale acrescentar que, para Marx, no h conhecimentoconcreto sem anlise concreta; o que refora a necessidade de buscar a realidade como ela realmente, partindo de algo que existe.

    Se pensarmos em nosso cotidiano e na elaborao de projetos de intervenes, trataremos de conhecerdiversas realidades, at mesmo de uma mesma comunidade ou grupo de pessoas, uma vez que cada parteanalisada representa uma unidade do todo. Assim, a abstrao algo que no se pode dissociar do pesquisador.

    Para melhorar as identificaes da realidade, podemos elencar categorias, que so:

    [...] formas de modos de ser, determinaes de existncia, frequentementeaspectos isolados de [uma] sociedade determinada ou seja: elas soobjetivas, reais (pertencem ordem do ser so categorias ontolgicas);mediante procedimentos intelectivos (basicamente, mediante a abstrao),o pesquisador as reproduz teoricamente (e, assim, tambm pertencem ordem do pensamento so categorias reflexivas). Por isto mesmo, tantoreal quanto teoricamente, as categorias so histricas e transitrias: as

    categorias prprias da sociedade burguesa s tm validez plena no seumarco (um exemplo: trabalho assalariado) (NETTO, 2009, p. 685-6).

    As categorias fazem parte do todo, mas no deixam de possuir sua historicidade e complexidade;assim, tambm devem partir do real e concreto, que, por sua vez, faro uma teoria (reflexo). precisotraz-la para a compreenso da parte em relao ao todo de que faz parte e, com isso, ter uma reproduoideal, chamada de categoria, que implicar a apreenso intelectual dessa riqueza.

    Ao reproduzirmos a desconfigurao do pensamento de Marx, possivelmente estejamos sendo influenciadospelo pensamento positivista que diz que o mais simples explica o mais complexo (NETTO, 2009, p. 686), e Marxvem dizer o contrrio, que o momento vivido discursa sobre o passado, e importante conhecer o seu incio.

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    Obviamente, entender a realidade concreta (hoje) traz a necessidade, ao pesquisador comprometido,de entender sua construo at chegar gnese e, com isso, entender a dinmica do objeto atual, focoda interveno do profissional ou da equipe.

    Para Marx, o mtodo:

    [...] no um conjunto de regras formais que se aplicam a um objetoque foi recortado para uma investigao determinada nem, menos ainda,um conjunto de regras que o sujeito que pesquisa escolhe, conforme asua vontade, para enquadrar o seu objeto de investigao. [...] O mtodoimplica, pois, para Marx, uma determinada posio (perspectiva) do sujeitoque pesquisa: aquela em que se pe o pesquisador para, na sua relao como objeto, extrair dele as suas mltiplas determinaes (NETTO, 2009, p. 689).

    importante salientarmos que em todas as profisses necessria a presena de pessoas que sedediquem pesquisa, ou seja, que subsidiem no campo terico a profisso, e outra parcela que atue naprtica; porm, esta no est dispensada da necessidade de fazer pesquisa, associando uma atividade outra. Assim, Netto (2009) coloca de forma mais direcionada aos assistentes sociais alguns caminhosque precisam ser seguidos para que consigamos efetuar uma pesquisa consistente:

    Em primeiro lugar, o profissional necessita possuir uma viso global dadinmica social concreta. Para isto, precisa conjugar o conhecimentodo modo de produo capitalista com a sua particularizao na nossasociedade (ou seja, na formao social brasileira). O/a assistente social no (nem pode ser) um/a economista nem um/a especialista em histria, masno compreender de forma adequada nem mesmo os problemas maisimediatos que se pem diariamente sua atuao profissional, se notiver aquela viso que demanda o estudo atento de uns poucos textos deintroduo economia poltica e de alguns historiadores brasileiros semprecom a preocupao de trazer atualidade os resultados aos quais assim tiveracesso. Bem-conduzido e atualizado, esse estudo propiciar ao profissionaltambm o conhecimento da natureza de classe do Estado brasileiro e danossa estrutura social, e suprfluo observar que o curso de graduao deve

    oferecer os contedos mais essenciais desse estudo.

    Em segundo lugar, o profissional precisa encontrar as principais mediaesque vinculam o problema especfico com o que se ocupa, com as expressesgerais assumidas pela questo social no Brasil contemporneo e com asvrias polticas sociais (pblicas e privadas) que se propem a enfrent-las.O conhecimento dessas polticas sociais (que implicam, antes de tudo, oconhecimento das suas fontes e formas de financiamento) indispensvelpara o profissional contextualizar a sua interveno; e a determinaodaquelas mediaes possibilita apreender o alcance e os limites da suaprpria atividade profissional. Estas exigncias pem-se a todo profissional

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    interessado na compreenso da sua atividade para alm do seu dia a dia:dada a sua alocao socioprofissional seja no planejamento, na gesto,na execuo , nenhum/a assistente social pode pretender qualquer nvelde competncia profissional se prender exclusivamente aos aspectosimediatamente instrumentais e operativos da sua atividade.

    Em terceiro lugar, ao profissional cabe apropriar-se criticamente doconhecimento existente sobre o problema especfico com o qual seocupa. necessrio dominar a bibliografia terica (em suas diversastendncias e correntes, as suas principais polmicas), a documentaolegal, a sistematizao de experincias, as modalidades das intervenesinstitucionais e instituintes, as formas e organizaes de controle social,o papel e o interesse dos usurios e dos sujeitos coletivos envolvidosetc. Tambm importante, neste passo, ampliar o conhecimento sobre a

    instituio/organizao na qual o prprio profissional se insere (NETTO,2009, p. 694-95).

    Como se pode perceber, o autor e pesquisador da profisso coloca alguns passos que precisamostrilhar para no poluirmos as pesquisas, as aes profissionais e os resultados em relao aos sujeitos dainterveno (cabe ao tcnico querer ir alm do que est posto no seu cotidiano de trabalho e atuao).

    Vale acrescentar que tambm preciso fazer a interao dos saberes de outras profisses, vistoque h outros pesquisadores que podem contribuir para a interpretao e plano de ao do objetodestinado, bem como importante que o assistente social no seja limitado, pois pouco provvel quehaja uma prtica eficiente e inovadora sem existir uma base de conhecimentos slidos e verdadeiros.

    Saiba mais

    Para maior conhecimento e inter-relao com o discutido at estemomento, leia o seguinte texto na ntegra:

    NETTO, J. P. Servio Social: direitos sociais e competnciasprofissionais. Introduo ao mtodo da teoria social. Braslia: CFESS/ABEPSS, 2009. p. 760.

    Com frequncia so utilizados os termos eficiente, eficaz e efetivo, expresses voltadas reaadministrativa, mas que contribuem para outros saberes, em especial, em equipe multidisciplinar.Nesta vertente, o profissional precisar ter clareza de seu conhecimento, pois suas aes refletiro emdeterminada realidade; para tanto, faremos uma discusso sobre tais palavras e respectivos conceitos.

    Eficiente refere-se a 1 Ao, capacidade de produzir um efeito; eficcia. 2 Mec Rendimento

    (MICHAELIS, 2009). Pode-se observar que eficincia a capacidade de fazer alguma coisa importante

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    no que tange ao trabalho profissional. Dessa forma, o profissional precisa saber (ter competncia) paradesenvolver determinada ao considerada eficiente.

    Chiavenato e Sapiro (2009, p. 30) colocam como eficinciaos atos de:

    fazer as coisas da maneira certa;

    resolver problemas;

    salvaguardar os recursos aplicados;

    cumprir o dever;

    reduzir custos.

    De acordo com os autores citados, no h como ser eficiente se no houver clareza na meta, bemcomo estratgia em situaes futuras e na absoro de responsabilidades. Como realizar aes ouestudos corretos sem saber quais sero executados e objetivados? Como resolver os problemas, se noh a absoro das responsabilidades? Como cumprir o dever, se no sabido qual executar?

    possvel perceber, ento, como complexo o conhecimento e as intervenes. Na medida em quetemos acesso a essa realidade, possvel o fortalecimento do tcnico, de forma individual ou coletiva, jque a equipe trabalha com o mesmo objetivo. pertinente visarmos a atitudes eficientes, pois:

    [...] relaciona-se com a maneira pela qual fazemos a coisa. o comofazemos, o caminho, o mtodo. No projeto anterior (aprovao em umcertame), se escolhermos corretamente o melhor material, a melhorequipe docente e estudarmos de forma pr-ativa, bem provavelmenteseremos aprovados em menos tempo. A est a eficincia: a economiade meios, o menor consumo de recursos dado um determinado grau deeficcia (CHIAVENATO, 2006, p. 181).

    O assistente social, ao tratar de um conhecimento, deve fazer a interlocuo com a prtica, j que se

    trata de uma profisso interventiva, uma vez que preciso escolher os meios corretos para alcanarmoso objetivo e, consequentemente, desenvolver aes pr-ativas.

    J a palavra eficaz, no dicionrio, significa: 1 Qualidade daquilo que eficaz.2 Qualidade daquiloque produz o resultado esperado [...] (MICHAELIS, 2009). Ou seja, est associada a fazer corretamenteaquilo que est no objetivo.

    Chiavenato e Sapiro (2009, p. 30) discursam que ser eficaz :

    fazer as coisas certas;

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    produzir alternativas criativas;

    maximizar a utilizao dos recursos;

    obter resultados;

    aumentar o lucro.

    O conceito utilizado para eficazassocia-se ao fazer o que deve ser, de fato, feito; realizao dasmetas e propsitos; a diminuir desperdcios e no t-los com aes criativas visando aos resultados.Chiavenato (2009) acrescenta que eficcia:

    [...] consiste em fazer a coisa certa (no necessariamente da maneira certa).Assim, est relacionada ao grau de atingimento do objetivo. Se desejamos

    fazer algo [...] e logramos xito nesse projeto, somos eficazes. Dessa forma,se evidencia o cumprimento da misso, chegar ao resultado desejado(CHIAVENATO, 2006, p. 181).

    Ao nos direcionarmos ao vocbulo efetivo, temos: 1 Real, verdadeiro.2 Que produz efeito; que temefeito; eficaz.3 Que no tem interrupo; permanente: Servio efetivo.[...] (MICHAELIS, 2009). Paranossos estudos serem efetivos, preciso estar concentrado no ato de proporcionar a continuidade dasaes, ou seja, ter a permanncia da ao para se atingir as metas.

    A efetividade do tcnico est direcionada ao fato de este conseguir manter-se no meio ao qualfoi proposto, com resultados bem-sucedidos durante o percurso do trabalho, para o qual teve umacoordenao de esforos e quereres de maneira ordenada, para que o pblico envolvido, interno eexterno, ficasse satisfeito.

    Chiavenato (2006, p. 181) discursa sobre o conceito de efetividade com um breve exemplo prticoe ldico:

    [...] por fim, a efetividade ressalta o impacto, medida que o resultadoalmejado (e concretizado) mudou determinado panorama, cenrio.

    Considerando a construo de escolas e o incremento no nmero deprofessores contratados, a efetividade evidenciar, por exemplo, de quemaneira isso contribuiu para a reduo do ndice de analfabetismo (impacto).Nesse diapaso, h autores que defendem que a efetividade decorre doalcance da eficcia e da eficincia, simultaneamente. Numa outra acepo,pode ser entendida, tambm, como satisfao do usurio. Na ponta dalinha, a efetividade ocorre quando um produto ou servio foi percebidopelo usurio como satisfatrio.

    O autor nos direciona a entender que a efetividade o impacto que o resultado das aesdesenvolvidas pelos profissionais causou em determinada realidade; se est associada ao objetivo

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    do trabalho; e se o resultado foi satisfatrio, no somente para os realizadores, mas tambm parao pblico-alvo.

    Para o assistente social, de grande valia essa preocupao com o ndice de satisfao dos sujeitos daao desenvolvida, pois no haver resultado com excelncia se o profissional no atingir as expectativasdas pessoas que foram o foco da construo do trabalho. Neste sentido, pertinente criar mecanismosde interlocuo com os demais tcnicos, caso seja foco do trabalho da instituio (nos remeteremos aexemplos de aes desenvolvidas com outros profissionais, j que o objetivo desta disciplina).

    O assistente social, de maneira ampla, estuda e age em prol do desenvolvimento humano de formaigualitria. Mas o que significa desenvolvimento?

    1 Ato ou efeito de desenvolver. 2 Crescimento ou expanso gradual. 3Passagem gradual de um estdio inferior a um estdio mais aperfeioado.

    4 Adiantamento, progresso. 5 Extenso, prolongamento, amplitude [...](MICHAELIS, 2009).

    Independentemente da rea, nenhuma atitude que vise ao desenvolvimento deve ser entendidacomo forma de elevar algo a um nvel melhor; preciso trabalhar com a autonomia dos envolvidos, poiso que pode ser bom para voc, pode no ser para o outro; logo, a questo colocar em nvel melhor muito relativa, j que cada tcnico e cada indivduo possui seu entendimento de bom e ruim.

    O conceito de desenvolvimento estava associado industrializao, ao acmulo da riquezasocialmente produzida, emprego e renda para todos, sob responsabilidade do mercado e de empresasprivadas (viso neoliberal), porm houve o incremento do desenvolvimento social para tratar dosproblemas crescentes no que tangia desigualdade e excluso social em diversos aspectos.

    O tema Desenvolvimento desperta tanto interesse que h um conjunto de aes que aOrganizao das Naes Unidas (ONU) prope ao mundo, os chamados Objetivos de Desenvolvimentodo Milnio (ODM) promovidos na Assembleia do Milnio. Trata-se de um debate entre os chefesde Estado e de governos do planeta. Das 191 delegaes presentes, 147 foram lideradas porsuas autoridades de mais alto escalo, ou seja, um evento com uma magnitude jamais realizada,resultando na aprovao da Declarao do Milnio, ocorrida em setembro de 2000, tendo como

    objetivos:

    erradicar a extrema pobreza e a fome;

    atingir o ensino bsico universal;

    promover a igualdade de gnero e a autonomia das mulheres;

    reduzir a mortalidade infantil;

    melhorar a sade materna;

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    combater o HIV/Aids, a malria e outras doenas;

    garantir a sustentabilidade ambiental;

    estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

    Soares (2008, p. 49) enftico e relata que o desenvolvimento social diferente do econmico epossui duas vertentes:

    [...] a primeira deriva da nfase em nveis mnimos, necessidades bsicas econceitos relacionados. Est associada com a noo humanitria [...] de quedeve ser uma prioridade mundial no deixar ningum abaixo de certo nvelde qualidade de vida; esse conceito se integra a outro importante na cinciapoltica, que o da cidadania, [...] que inclui direitos sociais.

    A segunda vertente distributiva. Tem tambm origem valorativa, nosentido de que ideologias ou quase-ideologias sociais consideram que aconcentrao de benefcios numa sociedade acima de certo nvel ticae moralmente inaceitvel. Talvez a mais fcil de medir seja a concentraode renda [...], porm, conceitualmente, ela se aplica a todos os benefciossociais.

    Conceituar a expresso desenvolvimento social algo complexo, mas no valer nada saber adefinio se no houver uma reflexo terica sobre o tema, que deve ser analisado de acordo com oprocesso vivenciado; assim, seu significado se redefine na medida em que a realidade se faz presente,levando a uma percepo maior: o mundo no esttico e previsvel.

    1.2 Mudanas nos processos de trabalho

    O assistente social no diferente de outros tcnicos e precisa ter claro para si que os processos detrabalho esto em constante transformao, sobretudo para atender aos interesses do empresariado.

    Saiba mais

    Indicamos a leitura, na ntegra, e a interpretao do texto de MariaCarmelita Yazbek (doutora em Servio Social, professora do programa deps-graduao em Servio Social da PUC/SP, representante de rea doServio Social na Capes), intitulado Pobreza e Excluso Social: Expressesda Questo Social no Brasil (Revista Temporalis, n. 3. Braslia: ABEPSS,2001), pois a apropriao do conhecimento reforada com a busca denovos saberes de forma totalitria.

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    Lembrete

    No se pode caracterizar o sujeito com vulnerabilidade econmicacomo pobre, pois esta expresso no o define, j que uma situao (e noum estado concreto) no passvel de mudanas.

    interessante comearmos contextualizando as reconfiguraes do capitalismo que traz em seubojo consequncias marcantes e significativas aos trabalhadores que esto no processo de mudanasocial regressiva (YAZBEK, 2001, p. 33). Mas por qu?

    O modo de diviso capitalista por si s desigual, ou seja, cuja apropriao da riqueza socialmentegerada extremamente diferenciada (YAZBEK, 2001, p. 33). Nossa sociedade, como dito, separada porclasses, que so:

    empresariado: capitalistas detentores dos meios de produo e da riqueza socialmente produzida;

    trabalhadores: proletrios que trabalham como empregados nesses meios de produo, ou seja,vendem sua fora de trabalho para suprir as necessidades cotidianas e gerar rendimentos aosempresrios.

    com os detentores dos meios de produo que est concentrado o maior nmero dos resultadosda produo em relao aos trabalhadores, enquanto estes possuem apenas o salrio como forma decustear as despesas bsicas para si e sua famlia. Como de conhecimento pblico, os trabalhadores quetm mo de obra pouco qualificada ou que esto no mercado informal de trabalho tm baixos salriosou rendimentos, acarretando desigualdade cotidiana no acesso e na permanncia situao de sujeitosde direitos.

    No ser possvel a criao de nenhuma interveno se no tivermos uma aproximao desseconhecimento diante das diferenciaes entre os tecidos socialmente estabelecidos, pois os interessesso antagnicos. Dessa maneira, o termo mudana social regressiva (YAZBEK, 2001, p. 33) representaas mudanas que so realizadas para beneficiar apenas o empresariado; assim, nos trabalhadores e nasociedade em geral, refletida uma sensao de retrocesso na questo das conquistas.

    A contradio das classes sociais dada pela estrutura econmica, pois preciso intensificar otrabalho na tangente da apropriao dessa riqueza social, que deveria ser distribuda a todos; mas, comoj discursado, no . Yazbek (2001, p. 33-4) explana que a contraditria conjuntura atual assume novasconfiguraes e expresses como:

    [...] as transformaes das relaes de trabalho;

    [...] a perda dos padres de proteo social dos trabalhadores e dos setoresmais vulnerabilizados da sociedade que veem seus apoios, suas conquistase direitos ameaados.

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    Ento, o modo econmico atual gera diversos problemas de natureza social, sobretudo, aos trabalhosque, por estarem nessa condio, j se apresentam em grande parte como vulnerabilizados. Paracomplemento dos estudos preciso remeter a alguns significados das expresses:

    pobreza;

    excluso;

    subalternidade.

    Ao trabalharmos, na perspectiva terica ou prtica, com a pobreza, no abordamos essa perspectivaassociada somente questo econmica e/ou de renda, mas como um fenmeno multidimensional,categoria poltica que implica carecimentos no plano espiritual, no campo dos direitos das possibilidadese esperanas (YAZBEK, 2001, p. 34). H diferentes formas de se viver em situao de pobreza e

    so interessantes essas observaes, para no fecharmos nossos olhares e reduzi-los a apenas umdirecionamento.

    O termo excluso pode ser entendido como modalidade de insero que se define paradoxalmentepela no participao e pelo mnimo usufruto da riqueza socialmente construda (YAZBEK, 2001, p.34). Ao indivduo ou grupo que presencia a excluso so negados os direitos, bem como o exerccio dacidadania em detrimento dos interesses dos empresrios.

    J a subalternidade uma palavra complexa associada s desigualdades, injustias e opresses. Assim,diz respeito ausncia de protagonismo, de poder, expressando a dominao e a explorao (YAZBEK,2001, p. 34). Muitas vezes enxergamos o pblico-alvo de nossas intervenes como uma pessoa errada,que no quer ser auxiliada, mas no refletimos sobre a construo da sociedade capitalista, bem comosuas influncias no cotidiano.

    A expanso capitalista, por sua vez, intensifica a desigualdade, visto que faz parte de sua caractersticaa existncia da diferenciao, e, com o aumento do nmero de trabalhadores, a pobreza intensificada,pois a pobreza uma face do descarte de mo de obra barata, que faz parte da expanso capitalista(YAZBEK, 2001, p. 35). A gerao da pobreza cria o ser necessitado, que desamparado em diversosaspectos e vive com tenso, em virtude da sua instabilidade no trabalho (YAZBEK, 2001), pois a venda de

    sua mo de obra a nica forma de promover rendimento. Para fins de exemplificao, s observarmosas filas de candidatos a alguma vaga de emprego: o nmero muito maior do que a quantidade deoportunidades oferecidas e, com isso, os que as ofertam podem reduzir os salrios e outros benefcios.

    Com a falta do trabalho formal, intensifica-se a necessidade de o ser humano (proletrio) flexibilizarsua forma de obteno de renda, aumentando o nmero de trabalhadores informais, trazendo em seubojo a falta das protees que teriam se estivessem em um trabalho formal, o que reflete diretamenteem seus direitos sociais, e no s trabalhistas.

    certo que a sociedade contempornea desigual, sobretudo, por ser resultado do modoeconmico capitalista, com dificuldades de acesso a servios e produtos essenciais manuteno da

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    vida, principalmente aos trabalhadores que esto na posio de subalternizados e excludos, para quemtais questes deveriam ser tratadas com a perspectiva dos direitos, e no sendo repassadas na formade ajuda. Tal ajuda no prestada com a interpretao de que as pessoas so excludas pelo mododesigual de distribuio da riqueza social, mas na perspectiva de que estas no conseguiram se adaptarao modo de vida e as regras do capitalismo, fortalecendo a poltica neoliberal; assim, tal caridade validada como uma obrigao moral, e no um direito passvel de pleito.

    Ao tratar da questo do pensamento dos liberais, Yazbek (2001, p. 36) diz que estes entendem comonecessria a filantropia revisitada, a ao humanitria, o dever moral de assistir aos pobres, desde queeste no se transforme em direito ou em polticas pblicas dirigidas justia e igualdade. A partirdeste momento, preciso que se redobre a ateno frente s suas aes como futuro profissional, parano compactuar com esse pensamento nem reproduzi-lo.

    Em linhas gerais, interessante refletir sobre a questo social no Brasil e sobre como ela no

    analisada e combatida como deveria, com aes politizadas, no sendo vista como expresso de relaesde classe e, neste sentido, desqualific-la como questo pblica, questo poltica, questo nacional,numa sociedade privatizada que desloca a pobreza para o lugar da no poltica (YAZBEK, 2001, p. 36). entendido que essas problemticas so resolvidas com aes filantrpicas e de forma individualizada,mas na realidade que todas as necessidades so aparentes.

    Observao

    O que acontecer se promovermos a despolitizao das aes deenfrentamento da questo social? Promoveremos o afastamento de aespblicas de maneira eficiente, eficaz e efetiva, desqualificando as polticassociais e reforando o no direito e a benevolncia. Nesta perspectiva,deve-se ter claro que as aes no so judicialmente reclamveis.

    Com esse modo de agir e de interpretar, potencializado o crescimento do abismo entre o pas reale o pas legal (YAZBEK, 2001, p. 37), j que as aes no so realizadas em meio s questes legalmenteinstitudas, contemplando um modelo de Estado reducionista em relao s intervenes no camposocial, e apelativo quanto solidariedade social. As aes no condizem com o que a realidade pede,

    provocando o aumento das aes do terceiro setor, ou seja, aes privadas para fins pblicos, mas nona perspectiva do direito legalmente institudo.

    No pensem que o autor contra as iniciativas do terceiro setor, pelo contrrio, mas precisorefletir sobre essas questes, para amplificarmos nosso senso crtico e no termos uma interpretaofragmentada; assim, na medida em que as instituies agem em campos que deveriam ser do Estado,este fica em situao cada vez mais confortvel, deixando de preocupar-se com seus deveres.

    A proposta neoliberal visa a aes reducionistas; possuem viso de poltica social apenas paracomplementar o que no se conseguiu via trabalho, famlia ou comunidade (YAZBEK, 2001, p. 37), ouseja, as aes estatais so realizadas em ltima instncia.

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    O Estado brasileiro contemporneo no atua em reas em que a sociedade possa assumir talresponsabilidade, portanto as polticas pblicas tendenciosamente assumem perfil de improvisaoe inoperncia, no sendo universais nos acessos. Dcadas de clientelismo consolidaram uma culturatuteladora que no tem favorecido o protagonismo nem a emancipao dessas classes em nossasociedade (YAZBEK, 2001, p. 37).

    Quando refletimos sobre mudarmos nossas aes, para tentarmos (e conseguirmos) intervir deforma renovadora na cultura promotora da desigualdade tutelada e subalternizada. O que se pretendecom a troca do direito? [...] uma maneira de construir a lealdade dos subalternos (YAZBEK, 2001). Assim reforada a ideia de perda do protagonismo, troca de favores e do afastamento de aes entendidascomo direito do cidado e dever do Estado.

    Tal conduta intensificada pela maneira como somos criados, ou seja, com condutas individuais,torna difcil uma ao politizada, j que a sociedade em situao de pobreza tem suas dificuldades como

    certezas de vida, no conseguindo analisar e solicitar seus direitos.

    Sabemos que as sequelas da questo social permeiam a vida das classessubalternas destitudas de poder, trabalho e informao. Sabemos tambmque em nossa prtica cotidiana a relao com o real uma relao coma singularidade expressa nas diferentes situaes que trabalhamos. E a secolocam nossos limites e nossas possibilidades. Limites de vrias ordens,mas, sobretudo, limites de ordem estrutural (YAZBEK, 2001, p. 39).

    Ou seja, as dificuldades sociais no so problemas contemporneos, mas fazem parte de um processoem favor de uma minoria denominada empresrios, e preciso que haja envolvimento na rede de servio,para que possamos trabalhar de maneira coletiva com as expresses da questo social vivenciadas pelosvulnerabilizados.

    preciso entender que a assistncia social um direito legalmente constitudo e no contributivo,que faz parte do trip seguridade social-sade-previdncia social, avano apresentado na redao daConstituio Federal de 1988. Porm, presenciamos a diminuio com os gastos sociais, o que no tornapossvel o investimento na proteo social de maneira plena.

    Para maior compreenso das transformaes nos processos de trabalho, pertinente remetermos Revoluo Industrial, pois, com ela, houve a mudana do cotidiano do trabalho, o qual foi sendoreconfigurado at chegar contemporaneidade.

    A Revoluo Industrial teve incio no sculo XVIII, na Inglaterra, com a mecanizao dos sistemas deproduo, j que, anteriormente a esse sistema, eram utilizados a manufatura e o artesanato como formade obteno dos produtos para o cotidiano; tem como bero a Inglaterra, por motivos que a favoreciam,como intensas reservas de carvo mineral que eram utilizadas como fonte de energia para conduziras locomotivas a vapor e mquinas, o nmero de habitantes e as condies para o financiamento dasferramentas necessrias para a instalao (humanas ou no). Para satisfazer aos interesses do capital,havia mercado consumidor para comprar os produtos fabricados.

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    Vale destacar que as fbricas, nesse perodo, no proporcionavam condies de trabalho adequadas.Os operrios tinham ambientes de trabalho precrios, com iluminao prejudicada, insalubres, semventilao, salrios insuficientes para a manuteno dos gastos cotidianos, jornadas de trabalhoexaustivas (mais de 15 horas de trabalho dirias), utilizao de mo de obra infantil.

    Nesse momento da histria, eram desconhecidos os direitos trabalhistas, fazendo os que estavamna condio de mercadoria ficarem coagidos e no reclamarem dos problemas vividos, pois aosdesempregados no restava nenhum auxlio.

    No decorrer dessa triste realidade, os trabalhadores comearam a reconhecer-se como um grupo.As primeiras representaes em relao s manifestaes foram as trade unions, espaos reservadospara que os operrios pudessem se unir para pleitear melhores condies de trabalho em mbito geral,podendo ser comparados a um sindicato.

    Outra tentativa para conseguirem direitos e melhor qualidade de vida no trabalho foi o ludismo, oqual teve como caracterstica a violncia.

    Por muito tempo no havia leis que assegurassem direitos aos trabalhadores.Mas estes sempre lutaram. Uma das primeiras manifestaes foi o ludismo,movimento em que os trabalhadores destruram as mquinas das fbricas.Equivocadamente a elas eram atribudas as pssimas condies de suaexistncia. No possuam ainda conscincia poltica para compreender queo sistema capitalista e a burguesia eram os responsveis pela explorao quelhes era imposta.

    Foi com a organizao de sindicatos, denominados trade unions, nos pasesanglo-saxnicos, que a luta ganhou maior consistncia, desde os primrdiosdo sculo XIX.

    O movimento operrio ingls foi o primeiro a existir, porque foi na Inglaterraonde primeiro se implantou o capitalismo. Greves e passeatas, emboraduramente reprimidas, ocorriam sob a direo de sindicatos e associaesoperrias (GIANOTTI, 2007, p. 11-2).

    Com a industrializao, houve aumento da fabricao de produtos, diminuindo os gastos deproduo, o que tornava os preos mais atrativos aos consumidores; todavia, gradativamente, ostrabalhadores eram substitudos pelas mquinas, movimento que ocorre at os dias atuais.

    A poluio ambiental, o aumento da poluio sonora, o xodo rural e ocrescimento desordenado das cidades tambm foram consequnciasnocivas para a sociedade. At os dias de hoje, o desemprego um dosgrandes problemas nos pases em desenvolvimento. Gerar empregos tem setornado um dos maiores desafios de governos no mundo todo. Os empregosrepetitivos e pouco qualificados foram substitudos por mquinas e robs.

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    As empresas procuram profissionais bem-qualificados para ocuparemempregos que exigem cada vez mais criatividade e mltiplas capacidades.Mesmo nos pases desenvolvidos tm faltado empregos para a populao(SOARES, 2008).

    A Inglaterra pressionava os pases que ainda possuam escravos, pois queriam o aumento do mercadoconsumidor e trabalhadores mais domveis; assim, o Brasil, parceiro comercial, tambm estava nessaperspectiva e precisava atender aos interesses do processo de industrializao, pois grandes latifundiriosdas colnias inglesas estavam se sentindo lesados, j que, devido ao aparecimento, nessas regies, dotrabalho assalariado, aumentou o custo de produo, e, como o Brasil no tinha esse custo, os produtosbrasileiros eram mais baratos, e os ingleses donos de terras pressionavam o parlamento para que fossetratado o fim da escravido de maneira mais direta, proporcionando, em 1845, a aprovao da leiAberdeen Act(Lei Bill Aberdeen), que autorizava a Marinha Real Britnica a apreender qualquer navioenvolvido no trfico negreiro.

    Como consequncia, cinco anos mais tarde, em solo brasileiro, foi criada a Lei Eusbio deQueirs, que proporcionou a diminuio substancial do trfico, que era a forma mais usada paraconseguir escravos, embora alguns senhores contrabandeassem ilegalmente escravos africanos,mas ainda assim a medida proporcionou aumento significativo do preo a ser pago para a obtenode escravos.

    Aps essa observao visvel que o trabalho esteve e est presente em toda a vida cotidiana, pois,com o resultado, ou seja, com o salrio, possvel comprar os bens necessrios para a manuteno davida; entretanto, como j analisado, ele se torna insuficiente, e esta condio coloca o trabalhador emsituao vulnervel, que pode ser potencializada por outras questes, pois:

    O trabalho humano se encontra na base de toda a vida social. Os homens,impulsionados pelas necessidades vitais, apropriam-se da natureza eproduzem os bens necessrios sua manuteno, que lhes do condiesde existir, de se reproduzir e de fazer histria, salientaram Marx e Engels(1982, p. 19). Satisfeitas as primeiras necessidades, surgem outras exigindonovas solues que direcionam o homem nas relaes com os outroshomens. Enredado nesse conjunto de relaes sociais, como um ser social e

    histrico, este desenvolve sua prxis, atividade material pela qual ele faz omundo humano e transforma-se a si mesmo (VAZQUEZ, 1977, p. 9).

    Assim, atravs de contnuas transformaes das condies sociais realizadaspela prxis humana, foram sendo gerados os progressos econmicose sociais, bem como toda uma cultura. Na teoria marxista, o modo deproduo oferece elementos para caracterizar as sociedades e analisar assuas transformaes (BULLA, 2003, p. 2).

    As relaes partem das necessidades construdas pelo homem. As atividades so desenvolvidas paraatender a uma determinada necessidade humana e, ao mesmo tempo, comercial. Nesse sentido, o modo

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    de produo oferece ferramentas para atender a tais exigncias na mesma proporo em que faz odesenvolvimento da prxis.

    O homem tem a diferenciao com os demais animais em razo da capacidade de planejar asaes executadas, ou seja, caso precise de uma cadeira, detm a inteligncia para tal transformao danatureza para seu benefcio, diferentemente dos outros animais, que agem apenas por instinto.

    Sob esse prisma, a sociedade no homognea, pois apresenta necessidades diferenciadasentre os grupos que a formam (relaes de produo e foras produtivas); consequentemente, taisrelaes modelam a sociedade em classes e estrutura; o modo de produo utilizado influenciardiretamente os que pertencem ao mesmo tecido social (trabalhador ou empresrio), assim:

    [...] no processo de trabalho, os homens criam determinadas relaesentre eles (relaes de produo), que, juntamente com a capacidade de

    produzir (foras produtivas), constituem o modo de produo. O nvelde desenvolvimento dessas foras produtivas materiais e as relaes deproduo correspondentes determinam, segundo Marx e Engels (1982), osdiferentes tipos de sociedade. As relaes de produo modelam, portanto, aestrutura social e a repartio da sociedade em classes. Quando as condiesmateriais de produo mudam tambm, se alteram as relaes entre oshomens que ocupam a mesma posio na sociedade de classes (BULLA,2003, p. 2).

    Na dcada de 1930, tem incio a instalao, de forma intensa, das indstrias no Brasil, pois,anteriormente a esse momento, o ritmo no justificava a concentrao dos proletrios nos centrosurbanos. [...] Antes de 1930, um parque industrial ainda incipiente no permitira a concentrao doproletariado, mas a questo social j se fazia perceber localizadamente (BULLA, 2003, p. 5).

    A dcada em questo foi importante para as transformaes sociais nacionais, em virtude daRevoluo de 1930, que fez uma diviso no modo de produo do Brasil, migrando da cultura rural emanual para a urbanizada e industrial:

    [...] na realidade, a referida revoluo pode ser considerada como um ponto

    divisrio entre dois perodos distintos da histria da sociedade brasileira: apoca de vigncia do sistema agrrio-comercial, amplamente vinculado aocapitalismo internacional, e a do sistema urbano-industrial, voltado para omercado interno que emergia paulatinamente, encontrando bases cada vezmais slidas de expanso (BULLA, 2003, p. 5).

    Nesse mesmo momento da histria do pas, houve crescimento significativo da industrializao, dossalrios, do mercado consumidor, das pessoas nos centros urbanos, da renda individual, mas tambmascenderam, na mesma proporo, os problemas de cunho social, como:

    concentrao de renda;

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    diferenciao das classes sociais;

    problemas urbanos: saneamento bsico, falta de moradia, infraestrutura;

    acesso educao;

    tenses na relao entre capital e trabalho.

    Como podemos constatar a seguir:

    A partir de 1930, o Brasil entrou num perodo de maior desenvolvimentoeconmico, que se refletiu no aumento da renda per capita, dos salriosreais e do consumo. Simultaneamente, registrou-se um incremento dataxa de crescimento da populao e de urbanizao. A concentrao da

    populao nas reas urbanas trouxe consigo problemas de assistncia,educao, habitao, saneamento bsico, de infraestrutura e tantos outros.Na medida em que a industrializao avanava, crescia a concentrao darenda, ampliando-se as desigualdades sociais, aumentando as tenses nasrelaes de trabalho e agravando-se a questo social (BULLA, 2003, p. 5).

    O Estado, com a viso liberal, no atuava nesses problemas de forma direta, deixando a liberdadede interveno aos envolvidos, trabalhadores e empregadores, relao desigual devido ocupao quecada ator possui na dinmica industrial que fica ntida na Constituio Federal de 1891 (a ausncia doEstado na economia), bem como na interveno diante desses problemas emergentes.

    O Estado, com sua concepo liberal, expressa mais manifestamente naConstituio Brasileira de 1891, negava-se a intervir nos conflitos entrepatres e empregados e se opunha a realizaes sociais distributivas decarter obrigatrio (FISCHLOWITZ, 1964).

    De acordo com as concepes vigentes, no se admitia a intervenodireta do Estado na economia. Ele atuava como um simples reguladordo livre jogo das foras econmicas, administrando, cobrando impostos,

    fornecendo meios de comunicaes e transportes baratos para a circulaode mercadorias (FLORES, 1986, p. 98).

    Ao contrrio do que acontecera em governos anteriores, entretanto, ogoverno populista, que assumiu o poder logo aps a Revoluo de 1930,reconheceu a existncia da questo social, que passou a ser uma questopoltica a ser enfrentada e resolvida pelo Estado (BULLA, 2003, p. 5).

    Com o incio avassalador da industrializao no Brasil, os detentores do poder comeam a ficarcoagidos com as manifestaes dos trabalhadores, pois dependiam diretamente de sua fora de trabalho,motivo que levou o ento presidente, Getlio Vargas, a criar diversas polticas sociais em detrimento dos

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    interesses dessa classe, ficando margem os desempregados, situao analisada como uma forma depunio por no ajudarem o pas a se desenvolver; porm, fator para o crescimento do capitalismoter o exrcito de mo de obra de reserva, conforme Marx expe.

    Nessa mesma dinmica, os proletrios comeam a se enxergar como um grupo que possui problemasparecidos. Tm incio, ento, as manifestaes em prol de melhores condies de trabalho e de vida,movimento igual ao europeu. Apenas nessa dcada e durante o governo Vargas (1930-1945) foraminstitudas duas Constituies Federais, em 1934 e 1937. O presidente tinha como uma das principaiscaractersticas o populismo.2

    Art. 115 A ordem econmica deve ser organizada conforme os princpios daJustia e as necessidades da vida nacional, de modo que possibilite a todosexistncia digna. Dentro desses limites garantida a liberdade econmica.

    [...] Art. 121 A lei promover o amparo da produo e estabelecer ascondies do trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a proteosocial do trabalhador e os interesses econmicos do Pas.

    [...] b) salrio mnimo, capaz de satisfazer, conforme as condies de cadaregio, s necessidades normais do trabalhador;

    [...] Art. 138 Incumbe Unio, aos Estados e aos Municpios, nos termosdas leis respectivas:

    a) assegurar amparo aos desvalidos, criando servios especializados eanimando os servios sociais, cuja orientao procuraro coordenar;

    [...] c) amparar a maternidade e a infncia;

    [...] e) proteger a juventude contra toda explorao, bem como contra oabandono fsico, moral e intelectual;

    f) adotar medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir a

    moralidade e a morbidade infantis; e de higiene social, que impeam apropagao das doenas transmissveis;

    g) cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os venenos sociais(BRASIL, 1934).

    2 O populismo pode ser definido, em sntese, como a poltica estatal de controle das classes trabalhadoras urbanas(operariado, classes mdias assalariadas, pequena burguesia proprietria). Em outras palavras, no populismo, os gruposburgueses que exercem o poder, incapacitados de controlar as camadas populares, recorrem ao Estado para que esteintermedeie os conflitos de classes (SILVA, 1992, p. 53).

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    Como podemos verificar, aos trabalhadores formais foi institudo o salrio mnimo, um primeiroindcio de proteo para uma vida mais digna para o proletariado. So estabelecidas, via salrio mnimo,garantias primrias de sobrevivncia, a partir da venda e compra de sua fora de trabalho, nico meiopara viabilizar seu sustento.

    Contudo, o art. 115 responsabiliza a economia para basear-se nos princpios da justia e asnecessidades da vida nacional, de modo que possibilite a todos existncia digna; entretanto, no eramtodos que possuam meios para serem trabalhadores, sobretudo, pela falta de oportunidades.

    No art. 138, torna-se evidente a preocupao do Estado em relao aos movimentos reivindicatrios;h a inteno de agir a fim de distanciar o trabalhador dessa prtica, sendo um sujeito submisso aogoverno.

    No Ttulo IV da Constituio de 1934 (Da Ordem Econmica e Social), so priorizadas aes para

    melhoria na vida do trabalhador, porm o nmero de pessoas sem trabalho era to grande que, em 1931,havia em torno de 2 milhes de desempregados e subempregados no pas, principalmente, em So Pauloe no Rio de Janeiro, devido:

    ao deslocamento da classe trabalhadora rural para o meio urbano;

    politizao da questo social, que passa a ser tratada como problema social;

    ao desemprego causado pela crise econmica de 1929;

    ao desabastecimento decorrente da Segunda Guerra Mundial;

    expanso do assistencialismo que norteava as medidas trabalhistas.

    Na Constituio Federal de 1937, da qual este estudo destacou o captulo que trata da famlia, estoestabelecidas garantias no mbito social:

    Art. 124 A famlia, constituda pelo casamento indissolvel, est soba proteo especial do Estado. s famlias numerosas sero atribudas

    compensaes na proporo dos seus encargos.

    Art. 125 A educao integral da prole o primeiro dever e o direito naturaldos pais. O Estado no ser estranho a esse dever, colaborando, de maneiraprincipal ou subsidiria, para facilitar a sua execuo ou suprir as deficinciase lacunas da educao particular.

    [...] Art. 127 A infncia e a juventude devem ser objeto de cuidadose garantias especiais por parte do Estado, que tomar todas as medidasdestinadas a assegurar-lhes condies fsicas e morais de vida s e deharmonioso desenvolvimento das suas faculdades. O abandono moral,

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    intelectual ou fsico da infncia e da juventude importar falta gravedos responsveis por sua guarda e educao, e cria ao Estado o dever deprov-las do conforto e dos cuidados indispensveis preservao fsica emoral. Aos pais miserveis assiste o direito de invocar o auxlio e proteodo Estado para a subsistncia e educao da sua prole (BRASIL, 1937).

    O Estado expressa a centralidade das aes na famlia, fazendo distino entre as compostas emmaior nmero; institui alguns direitos sociais, a exemplo da educao como dever do Estado, bemcomo proteo especial criana e ao adolescente. Estabelece, em relao s famlias que no possuemcondies de sustento da prole, a interveno do poder pblico visando subsistncia; entretanto, nocoloca com especificidade as aes a serem desenvolvidas.

    De certa forma, nos artigos citados, pode-se observar a indicao de uma viso de proteo aobrasileiro pobre, certamente em face das graves mazelas sociais, em uma poca na qual a questo social

    era a elas vinculada.

    O Estado comeava a tornar legais as aes que se dirigiam aos pobres, por receio de suasconsequncias. O objetivo era diminuir o nmero de miserveis, acabando com a possibilidade decrescimento e, assim, impedir uma desordem social. nessa perspectiva que o governo engendraalgumas responsabilidades para si, como a garantia de proteo famlia, em especial, quelas comgrande nmero de membros, crianas e jovens.

    Assim, a Constituio Federal de 1937 incorporava em seu texto a proteo ao indivduo vinculadoao trabalho, com o entendimento de que proporcionaria sua autonomia, e, ao Estado, era dado o deverda proteo dessa realidade, como perceptvel no art. 136:

    O trabalho um dever social. O trabalho intelectual, tcnico e manual temdireito proteo e solicitude especiais do Estado. A todos garantido odireito de subsistir mediante o seu trabalho honesto e este, como meio desubsistncia do indivduo, constitui um bem que dever do Estado proteger,assegurando-lhe condies favorveis e meios de defesa (BRASIL, 1937).

    Com as manifestaes populares, sobretudo dos trabalhadores, por melhores condies de trabalho

    e de vida, nesse mesmo ano, 1937, surge o Estado Novo, com o objetivo de promover uma nova unidadenacional. Contudo, as aes visavam, de fato, a firmar o poder dos detentores dos meios de produo edo prprio Estado, como vemos a seguir:

    O Estado Novo nasceu tendo como o seu grande projeto poltico a construoda unidade nacional. Apenas um pas, com o seu povo unido em torno deum ideal, seria capaz de se desenvolver e ocupar lugar de destaque entre asnaes modernas. Da a justificativa da elite dirigente para a nova polticaimplementada pelo regime. Assim, a supresso dos partidos e a intervenonos sindicatos visavam conteno das manifestaes dos antagonismosentres as classes sociais, prejudiciais formao de um verdadeiro esprito

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    nacional e, por conseguinte, evoluo brasileira (AGGIO; BARBOSA;COELHO, 2002, p. 36).

    No perodo de 1937 a 1945, houve o agravamento da perda de poder aquisitivo dos trabalhadores,em decorrncia da Segunda Guerra Mundial, por encarecer os gneros bsicos da alimentao popular;tambm houve o incremento da produtividade para suprir as necessidades dos pases aliados, criando-sediversos turnos de trabalho, o que ocasionou o aumento de acidentes. Como consequncia, o governoimpedia os movimentos reivindicatrios alegando a necessidade de unio e do esprito patriota face aoconflito mundial.

    Os direitos sociais estavam atrelados aos interesses econmicos do pas conjuntamente aos daclasse burguesa, uma vez que a massa era formada pela classe trabalhadora. O governo de GetlioVargas pretendia disciplinar as relaes entre o capital e o trabalho por intermdio do controledos sindicatos e pela concesso lenta das leis trabalhistas, como enfatiza Santos (1979): [...] a

    poltica social do Estado teria instaurado, no ps-trinta, uma anomalia a cidadania regulada ao invs de uma cidadania verdadeiramente universal. Vargas, que estava no poder, temia aascenso e o acirramento desses movimentos, a exemplo do que acontecia com os movimentosoperrios europeus. Para conseguir a adeso e o consenso dos trabalhadores, ele estabeleceu umasrie de medidas de poltica social, de carter preventivo, integradas ao conceito de progressosocial e institucional. Em sua grande parte, essas medidas tambm beneficiavam a classe mdia eatendia, de certa forma, s aspiraes da burguesia, dando condies de aumento da produo.Ele conseguiu, assim, estabelecer uma poltica de compromissos e conciliaes entre os gruposdominantes, as camadas mdias e os trabalhadores, que sustentavam a ideologia da paz social,que deu suporte expanso do capitalismo no Brasil. A questo social, que antes era encarada comouma questo de polcia, passou a ser considerada como uma questo de Estado, que demandavasolues mais abrangentes.

    O Estado adotou, a partir da, uma poltica de proteo ao trabalhador,incentivando o trabalho e o aumento da produo. Criou o Ministrio doTrabalho, Indstria e Comrcio, em novembro de 1930, e promulgou umalegislao trabalhista que respondia, de certa forma, s necessidades dotrabalhador e aos interesses mais amplos da industrializao emergente.Assim, foi sendo dado um tratamento sistemtico questo social que,

    ao mesmo tempo, aliciava e atrelava as classes subalternas poltica dogoverno, sem permitir maiores chances de participao (BULLA, 2003, p. 6).

    Na dcada de 1930, as caixas de penses e aposentadorias, primeira forma de previdncia social dopas, passam a ser administradas pelas prprias categorias profissionais e tinham maior visibilidade asque faziam de forma direta o pas crescer:

    [...] em 1933, as caixas de aposentadorias e penses deixam de pertencer sgrandes empresas e passam a abranger categorias de profissionais, surgindo,a partir dessa data, os institutos de aposentadorias e penses. Ainda em1933, foi criado o Instituto de Aposentadoria dos Martimos e, no ano

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    seguinte, 1934, o Instituto de Aposentadoria e Penses dos Comercirios edos Bancrios. Em 1936, os trabalhadores da indstria foram beneficiadoscom a criao do Instituto de Aposentadoria e Penses dos Industririos.Em 1938, foram fundados mais dois rgos do mesmo tipo dos anteriores,o Instituto de Aposentadoria e Penses para Trabalhadores do Transporte eCarga e o Instituto para a Assistncia dos Servidores Civis. Nos anos seguintesforam sendo ampliadas as categorias beneficiadas, estabelecendo-se que asque no fossem cobertas pelos institutos continuariam a pertencer s caixasde aposentadorias e penses existentes antes de 1930 (BULLA, 2003, p. 6).

    A Constituio Federal de 1946 refora a ideia de que o trabalho responsvel pela garantia de umcotidiano digno ao brasileiro, fazendo-nos deduzir que o entendimento predominante do legisladorera de que o problema no estava no sistema econmico capitalista, mas no indivduo. Nesse sentido,os detentores dos meios de produo procuravam impor maior ritmo de trabalho aos empregados,

    resultando numa concentrao da riqueza socialmente produzida no pas, dominando no apenas omeio de produo, mas tambm os envolvidos nesse processo.

    Marx (1998, p. 571) reflete que a produo capitalista, portanto, s desenvolve a tcnica e adominao do processo social de produo exaurindo as fontes originais de toda riqueza: a terra e otrabalhador. Portanto, o meio de produo, na figura do capitalista, extrai desses dois ltimos a terrae o trabalhador , a fora e os meios para a obteno de riqueza, cujo resultado no ser distribudo atodos, mas apenas ao capitalista.

    Embora as legislaes faam referncia justia social na organizao da ordem econmica,conforme consta a seguir, a realidade de nossa sociedade indica que, na luta de classes que caracteriza osistema capitalista, o trabalhador no alcana existncia digna por meio do trabalho, tendo de enfrentarduras condies, muitas vezes, at aviltantes.

    Art. 145 A ordem econmica deve ser organizada conforme os princpiosda justia social, conciliando a liberdade de iniciativa com a valorizao dotrabalho humano.

    Pargrafo nico A todos assegurado trabalho que possibilite existncia

    digna. O trabalho obrigao social (BRASIL, 1946).

    Todavia, sabe-se que, no modelo econmico capitalista, a diferenciao de acesso a bens e serviosentre o empresariado e os trabalhadores se faz presente em sua operacionalizao e materializao.Diante da desigualdade entre duas classes sociais, os objetivos dos liberais confrontam-se comprticas igualitrias que trazem no seu bojo propostas reducionistas na esfera da proteo social(YAZBEK, 2001, p. 36).

    As aes com caractersticas assistencialistas se faziam presentes, principalmente, pelo fato de avida cotidiana da camada trabalhadora ser cada vez mais prejudicada, em funo da falta de acesso aosservios essenciais para a manuteno da vida, conforme evidenciado anteriormente. Com a crescente

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    vinda do homem do campo para os centros urbanos para buscar insero no mercado de trabalho, como intuito de melhorar sua qualidade de vida, a Constituio Federal de 1946 assegurou, no art. 156, que:

    [...] a lei facilitar a fixao do homem no campo, estabelecendo planos decolonizao e de aproveitamento das terras pblicas. Para esse fim, seropreferidos os nacionais e, dentre eles, os habitantes das zonas empobrecidase os desempregados (BRASIL, 1946).

    Com o xodo rural, vinham, concomitantemente, questes de cunho social, como falta de moradia,alimento, trabalho e educao, dificuldades no acesso aos servios de sade, de lazer e culturais; umgrande nmero de pessoas concentrava-se em poucas regies, principalmente em cidades do centro-suldo pas, como So Paulo e Rio de Janeiro.

    A Carta Constitucional em pauta, no art. 157, estabelece: I salrio mnimo capaz de satisfazer,

    conforme as condies de cada regio, as necessidades normais do trabalhador e de sua famlia. Assim, aproteo do cidado e de sua famlia deveria partir do prprio trabalhador, com base em um rendimentoque, ao longo dos anos, foi perdendo o poder de suprir o bsico para o indivduo e para o ncleo familiar.

    A ideia da garantia de uma vida plena, a partir do trabalho e do salrio mnimo, torna-se cada vezmais evidente, sendo essa a maneira encontrada para tirar do Estado a responsabilidade do que se refere proteo plena do indivduo. Afirma-se, ao mesmo tempo, que a soluo dos problemas estava nomercado (emprego e empresas), focando, desta forma, as aes do governo aos que no conseguiam,via trabalho, condies mnimas de sobrevivncia.

    No h uma revoluo dos elementos objetivos do processo de produo,genericamente os meios de produo continuam os mesmos do perodoartesanal. O elemento simples da manufatura continua sendo o trabalhadore sua ferramenta: o trabalhador detalhista e seu instrumento constituemos elementos simples da manufatura (MARX, 1983, p. 271).

    No entanto as posies teleolgicas primrias so cindidas em tarefasespecficas, cuja consequncia imediata o aumento da produtividadedo trabalho: O maior aprimoramento das foras produtivas do trabalho

    e a maior habilidade, destreza e bom senso com os quais o trabalho emtoda parte dirigido ou executado parecem ter sido resultados da diviso dotrabalho (SMITH, 1983, p. 41).

    Como j percebia Adam Smith, ao analisar a manufatura de alfinetes, a diviso (manufatureira) dotrabalho por meio da cooperao especializada colima um aumento das foras produtivas, o qual se devea trs fatores: a) aumento da destreza do trabalhador: a repetio contnua da mesma ao limitada ea concentrao e ateno nela ensinam, conforme indica a experincia, a atingir o efeito til desejadocom um mnimo de gasto de fora (MARX, 1983, p. 269); b) diminuio dos tempos desperdiados: namanufatura, o fluxo de trabalho no interrompido, pois o trabalhador especializado realiza semprea mesma tarefa e no precisa mudar de lugar e de instrumento; c) e, por fim, o aperfeioamento e a

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    especializao das ferramentas: como o trabalhador se dedica a uma mesma atividade, ele ir utilizarapenas uma ferramenta para tal, a qual no ter outra funo. Isso permite que o instrumento sejaadaptado para servir especificamente a esta ou quela tarefa, enquanto na cooperao simples umamesma ferramenta era utilizada para funes distintas (TRISTO, p. 9-10).

    Podemos analisar que as mudanas no processo de produo, essencialmente, so as mesmas dopassado. Comparadas contemporaneidade, o que as difere so as formas tecnolgicas utilizadas nessecotidiano e em detrimento do interesse capitalista, que tem, como resultado, a apropriao da fora detrabalho, bem como o acmulo da riqueza socialmente produzida, favorecendo os interesses de umaminoria e a excluso dos que esto na situao de trabalhadores, assunto que ser abordado com maiornfase no prximo tpico.

    2 A EXPLORAO DOS SERVIOS NA SOCIEDADE CAPITALISTA

    Toda a produo capitalista, medida que ela no apenas processo detrabalho, mas processo de valorizao do capital, tem em comum o fatode que no o trabalhador quem usa as condies de trabalho, mas, que,pelo contrrio, so as condies de trabalho que usam o trabalhador: s,porm, com a maquinaria que essa inverso ganha realidade tecnicamentepalpvel. Mediante sua transformao em autmato, o prprio meio detrabalho se confronta, durante o processo de trabalho, com o trabalhadorcomo capital, como trabalho morto que domina e suga a fora de trabalhovivo. A separao entre as potncias espirituais do processo de produo eo trabalho manual, bem como a transformao das mesmas em poderes docapital sobre o trabalho, se completam, como j foi indicado antes, na grandeindstria erguida sobre a base na maquinari