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  • 8/3/2019 Serpentes Magias

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    TraduoAlexandrina Aparecida

    Lopes de Oliveira

    Onde, Como e Porque

    so Cultuadas

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    Um relato dos ritos e mistrios ligados origem,ascenso e desenvolvimento do culto de adorao

    serpente em vrias partes do mundo, enriquecido comtradies interessantes e uma extensa descrio dos

    clebres montes e templos da serpente, tudo isto dandoforma exposio de uma das fases do flico,

    ou adorao ao sexo.

    AnnimoLondres, 1889

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    Captulo 1

    O Extraordinrio Assunto Ofiolatria De Origem Misteriosa De Predomnio Universal A Serpente Como um SmboloComum na Mitologia Serpente-Adorao Natural, porm

    Irracional Orgias Bquicas Olmpia, Me de Alexandre e oEmblema da Serpente Thermutis, a Serpente Sagrada spides

    Saturno e seus Filhos Sacrifcios no Altar de Saturno Abaddon Ritual de Zoroastro Teologia de Ophion Os

    Cutitas O Othiogeneis Os Ofiomanos Tradies Gregas

    Cecrops Os Vrios Adoradores da Serpente.

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    Ofiolatria, o culto de adorao serpente, semelhante adorao ao falo, uma das mais notveis, e primeira vista, umadas mais inenarrveis formas de religio que o mundo j conheceu.At que a verdadeira fonte de onde ela surgiu possa ser encontrada ecompreendida, sua natureza permanecer to misteriosa quanto suauniversalidade. Uma das questes mais difceis para a qual se encontrar

    uma resposta : Quando e por que o homem se interessou por um serto repulsivo e ameaador como este rptil, bem como pelos seushbitos, a ponto de prestar-lhe adorao? Entretanto, difcil en-contrar um pas no mundo antigo onde ela no possa ser encontrada,impregnando cada sistema conhecido de mitologia, e deixando provasde sua existncia e extenso na forma de monumentos, templos efortificaes com as mais elaboradas e curiosas caractersticas. Babi-

    lnia, Prsia, Hindusto, Ceilo, China, Japo, Burma, Java, Arbia,Sria, sia Menor, Egito, Etipia, Grcia, Itlia, Europa setentrional eocidental, Mxico, Peru e a Amrica , todos esses pases, derammuitas provas do mesmo efeito, e apontaram para a origem comumdos sistemas pagos, em todos os lugares onde foram encontrados. Sea adorao foi o resultado do medo ou respeito, uma questo quenaturalmente se apresenta por si mesma, e a busca de uma respostaser confrontada com o fato de que em alguns lugares, como no Egito,

    o smbolo era o de um esprito bom, enquanto que na ndia, Escan-dinvia e Mxico, era um smbolo do mal. Ficou notrio que nas regiesmais quentes do globo, onde esta criatura o inimigo mais formidvelque o homem pode encontrar, a serpente era considerada a servamitolgica de um ser do mal; enquanto nas regies frias ou temperadas

    A

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    da Terra, onde ela foi reduzida s insignificncias de um rptil sempoder criar alarme, ser vista com a mesma natureza apavorante, umfato que no pode responder a causas naturais. A uniformidade datradio pode por si s explicar satisfatoriamente uma uniformidade da

    superstio, onde circunstncias locais so to discordantes.A serpente , de modo geral, o smbolo mais presentena mitologia do mundo. Ela pode admitir em diferentes pases entreseus companheiros adeptos de Sat o mais venenoso e mais terrveldos animais de cada pas, mas preserva sua constncia, como o nicoobjeto invarivel de terror supersticioso em todo o mundo habitvel.Em qualquer lugar em que o demnio impere, observa Stillingfleet1,

    a serpente tomada com alguma venerao peculiar.A univer-salidade desta superstio singular e irracional, uma vez que no

    existe nada em comum entre a divindade e o rptil, para sugerir anoo do culto de adorao Serpente; e natural, porque consi-derando como verdade os eventos no Paraso, toda probabilidade esta favor de tal superstio que est sendo criada.2

    Pode parecer extraordinrio que a adorao serpentepudesse ter sido introduzida no mundo, e deve parecer ainda mais

    marcante, que ela devesse prevalecer quase universalmente. Comodizem que o gnero humano arruinou-se por causa da influncia desteser, pouco poderamos esperar que ela pudesse, entre todos os outrosseres, ter sido adotada como o mais sagrado e saudvel smbolo, e ter-se tornado um principal objeto de adorao. Ainda assim, descobrimosque ela o foi, de fato, porque na maioria dos ritos antigos existe algumaaluso a ela. Nas orgias de Baco, as pessoas que participavam das ce-

    rimnias costumavam carregar serpentes em suas mos, e com gritoshorrendos invocavam: Eva, Eva. Eram freqentemente coroadascom serpentes enquanto ainda faziam as mesmas exclamaes fre-nticas. Uma parte dos ritos misteriosos de Jpiter Sabazius era paradeixar uma cobra deslizar sobre o peito da pessoa a ser iniciada, comoser descrito a seguir. Acreditava-se que estas cerimnias, e suaadorao simblica, tinham comeado entre os reis magos, que eramos filhos de Chus, e atravs deles, elas foram se propagando a vrias1. Edward Stillingfleet em seu Origines Sacrae defende a autenticidade e a credibilidade das

    Escrituras em trs livros, sendo que no terceiro ele trata de cosmogonia, ou histria daformao do mundo.

    2. William John Deane (1825-1895) estudioso de Escrituras Sagradas Apcrifas dos judeus e doscristos. Autor do livro DA SABEDORIA Com Prolegmenos e Comentrios.

    3. Religioso e escritor grego, autor de estudos teolgicos sobre as heresias, combateu asdoutrinas de Orgenes e dos apolinaristas, seguidores de Apolinrio de Laodicia.

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    partes. Epifnio3 acredita que a invocao Eva, Eva, relaciona-se grande me do gnero humano que foi enganada pela serpente.Clemente de Alexandria4 tem a mesma opinio. Outros, entretanto,acreditam que Eva era o mesmo que Eph, Epha, Opha, que os gregos

    traduziram como Ophis, e atravs desta palavra denotavam serpente.Clemente reconhece que o termo Eva pronunciado com aspirao ede maneira adequada, tinha tal significado.

    Olmpia, me de Alexandre, apreciava muito estasorgias, nas quais a serpente era introduzida. Plutarco5 menciona queos ritos dessa natureza eram praticados pelas mulheres na Ednia,perto do Monte Hmus em Thrace, e chegavam ao nvel da loucura.

    Olmpia as copiava de maneira prxima em todas as suas manobrasfrenticas. Ela costumava ser seguida por muitos servos, e cada umtinha um tirso com serpentes gmeas em torno dele. Eles tambmtinham cobras em seus cabelos e nas grinaldas que usavam, de modoque ficavam com uma aparncia extremamente apavorante. Seus gritostambm chocavam muito, e tudo era acompanhado da contnuarepetio das palavras, Evoe, Saboe, Hues Attes, Attes Hues, que eramnomes do deus Dionsio. Ela era peculiarmente chamada de Hues e

    seus sacerdotes eram os Hyades e os Hyautes, igualmente conhecidospor Evas.No Egito, havia uma serpente conhecida como

    Thermuthis considerada muito sagrada, e dizia-se que os nativos tinhamfeito uso da mesma como tiara real, com a qual eles ornamentavam asesttuas de sis. Sabemos atravs de Diodorus Siculus que os reis doEgito usavam gorros altos, que terminavam em uma bola redonda na

    ponta, e ele todo era cercado com figuras de spides6

    . Os sacerdotes,da mesma maneira, tinham sobre seus gorros a representao deserpentes.

    Os antigos tinham a idia de que quando Saturnodevorava seus prprios filhos, sua esposa Ops o enganou, colocandouma pedra grande no lugar de um dos filhos, pedra que ficou conhecida

    4. Tito Flvio Clemente, escritor e religioso grego, pioneiro na defesa da idia de guerra justa

    contra a escravido e a tirania.5. Plutarco, escritor grego, nasceu em Queronia, Becia, no ano 46. Viajou pela Grcia e Egito,passou temporadas em Roma, onde conviveu com os imperadores Trajano e Adriano.Entretanto, passou a maior parte da vida em sua cidade natal, onde ocupou altos cargospblicos e dirigiu uma clebre escola. Ligado academia platnica de Atenas, no ano 95 foinomeado sacerdote de Apolo em Delfos.

    6. N.T.: spide de vipera aspis, pequenas cobras venenosas da frica do Norte, cujo veneno fatal, e que ficou famosa pelo clebre episdio do suicdio de Clepatra.

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    como Abadir. Mas Ops e Opis, representadas pelo feminino, era a di-vindade serpente e Abadir o mesmo personagem com uma deno-minao diferente. Abadir parece ser uma variao de Ob-Adur erepresenta o deus-serpente Orus.

    Uma destas pedras, que supostamente Saturno tinhaengolido ao invs de um filho encontra-se, de acordo com Pausnias7,em Delphos, foi considerada muito sagrada e costumava ter libaesde vinho derramado sobre ela diariamente; em festivais era home-nageada da mesma maneira. O propsito do exposto acima eraprovavelmente para mostrar a origem do costume, que perdurou pormuito tempo, de oferecer crianas no altar de Saturno; mas com o

    passar do tempo ele foi removido e no lugar foi erguido um altardepedra, diante do qual faziam seus votos e ofereciam sacrifcios de

    alguma outra natureza. Esta pedra que eles haviam ento substitudoficou conhecida como Ab-Adar, por causa da divindade representadaatravs dela. O termo Ab, geralmente significa, um pai, mas nestecaso, certamente, est relacionado a uma serpente, que foi indi-ferentemente intitulada como Ab, Aub e Ob. Alguns acreditam queAbadon, ou, como mencionado no livro da revelao, Abaddon, tenha

    recebido o nome do mesmo deus Ofita, e despertou adorao mundialpor bastante tempo. Ele denominado Abaddon, o anjo das pro-fundezas, o prncipe da escurido. Em outros lugares, ele descritocomo o drago, a serpente antiga, que o demnio e Sat. Assimsendo, supe-se que Heinsius esteja correto em sua opinio queexpressou sobre o assunto, quando mostra Abaddon e a serpente Pythocomo sendo iguais.

    Baseado em Eusebius8

    , costuma-se dizer que no ritualde Zoroastro,a grande expanso dos cus e da natureza em si eradescrita atravs do smbolo de uma serpente. O mesmo mencionadono Octateuch de Ostanes; e ainda mais na Prsia e em outras partes

    7. Pausnias nasceu nas primeiras dcadas do sculo II da era crist na Ldia, Anatlia. Entre osanos 143 e 176, viajou pela terra natal, Sria, Palestina, Egito, pennsula helnica e Itlia. Suaobra Descrio da Grcia fonte inestimvel para o estudo da topografia, arqueologia emitologia das cidades que visitou. Alm de detalhes sobre a topografia de cada cidadevisitada, o livro inclui, alm da sntese da histria local, ritos, costumes, lendas e supersties.

    Grande interessado em obras artsticas, o autor descreve longamente a arte religiosa earquitetura de Atenas, Olmpia e Delfos. A preciso de suas descries foi comprovada pordescobertas arqueolgicas posteriores, muitas delas resultados de indicaes de seu livro. Oantroplogo britnico James Frazer afirmou que, sem a obra do gegrafo e viajante gregoPausnias, as runas da Grcia seriam um enigma sem resposta.

    8. O bispo Eusbio de Cesaria ou Eusbio Panflio, exegeta e polemista, considerado um dosfundadores da historiografia crist. Destacou-se por procurar conciliar a heresia arianista e ateologia oficial da Igreja.

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    do oriente eles erguiam templos para a tribo das serpentes e organi-zavam festivais em sua homenagem, considerando-as o supremo detodos os deuses e os superintendentes de todo o mundo.

    A adorao comeou entre os povos da Caldia. Eles

    construram a cidade de Opis, s margens do Tigris, e eram muitodevotados divinao e ao culto de adorao serpente. Partindo daCaldia, a adorao passou para o Egito, onde a divindade da serpenteera conhecida como Canoph, Caneph, e Cneph. Tambm tinha onome de Ob, ou Oub, e era a mesma assim como Basilicus, ou aSerpente Real; era tambm o mesmo das Thermuthis, e da mesmamaneira era feito uso dela como ornamento para as esttuas de seus

    deuses. Dizia-se que a principal divindade do Egito era Vulcano, quetambm era conhecido como Opas, como soubemos atravs de Ccero.Ele era o mesmo que Osris, o Sol; e por conseguinte era freqen-temente chamado de Ob-El, ou Pytho Sol; e existiram vrios altaresconsagrados a ele, com inscries hieroglficas curiosas, que tinham omesmo nome. Esses altares eram muito altos e estreitos em comparaoao seu comprimento; assim sendo, entre os gregos, que fizeram cpiados egpcios, tudo aquilo que gradualmente se estreitava formando

    um ponto ficou conhecido como Obelos e Obelisco. Ophel (Oph-El)era um nome de mesmo sentido; e muitos montes sagrados, ou Tapha,foram ento denominados a partir da divindade serpente, para quemeles foram consagrados.

    Sanchoniathon faz meno de uma histria que eleescreveu uma vez sobre a adorao da serpente. O ttulo deste trabalho,de acordo com Eusebius, era Ethothion, ou Ethothia. Outro tratado

    sobre o mesmo assunto foi escrito por Pherecydes Tyrus, que prova-velmente era uma cpia do anterior; por causa disto, acredita-se queele o comps a partir de alguns relatos prvios dos fencios. O ttulode seu livro era a Teologia de Ophion, conhecido como Ophioneus, eos seus adoradores o chamavam Ophionid. Thoth e Athoth eramcertamente ttulos da divindade no mundo gentlico; e o livro deSanchoniathon pde, muito possivelmente, a partir de ento, sernomeado Ethothion, ou para ser mais exato,Athothion. Mas partindo

    do assunto sobre o qual foi escrito, como tambm do tratado dePherecydes, temos razo para pensar queAthothion, ou Ethothion, foium engano paraAth-Ophion, um ttulo que se relacionava mais ime-diatamente quela adorao da qual o escritor tratou. Ath era um t-tulo sagrado, como demonstramos, e imaginamos que esta dissertao

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    apenas no se relacionava meramente divindade serpentiforme, mascontinha relatos de seus adoradores, o Ophit, o principal entre osque eram os filhos de Chus. A adorao da serpente comeou entreeles, e eles foram por este motivo, denominados Etiopians, eAithopians

    para o que os gregos traduziram comoAithiopes. Eles no receberameste nome por causa de sua aparncia, como por vezes se sups, porqueo ramo de Phut e o de Luhim, eram provavelmente de uma nuanamais profunda; mas eles provavelmente se tornaram mais conhecidosa partir de Ath-Ope, e Ath-Opis, o deus que eles adoravam. Isto podeter sido demonstrado a partir de Plnio. Ele diz que a Etipia comopas (e, por conseguinte, o povo) teve o nome dethiop, de um perso-

    nagem que era uma divindade ab thiope Vulcani filio. Osthiopestrouxeram estes ritos para a Grcia, e deram o nome ilha onde seestabeleceram de Ellopia, Solis Serpentis, insula. Foi o mesmo que Euba,um nome de igual sentido, em cuja ilha estava uma regio chamadaEthiopium. Euba propriamente Oub-Aia, e significa a Ilha deSerpente. A mesma adorao prevaleceu entre os hiperbreos, comopodemos julgar a partir dos nomes das mulheres sagradas que vinhamanualmente a Delos; elas eram as sacerdotisas da Deusa Tauric.

    Hrcules foi considerado o deus principal, assim como Cronos, eacreditava-se que tinha produzido o Ovo Mundano. Ele era repre-sentado na Teologia rfica atravs do smbolo misto de um leo euma serpente e, s vezes, de apenas uma serpente.

    Os cutitas, sob o ttulo de Heliad, tinham se estabe-lecido em Rhodes, e como eles eram hivitas ou Ofitas, a ilha foiconseqentemente denominada Ophiusa. Da mesma maneira, existe

    uma tradio de que a ilha ficou uma vez repleta de serpentes (Bochartdiz que a ilha conhecida por ter sido denominada Rhodus de Rhad,uma palavra para serpente em aramaico.). A mesma noo prevalecequase em todos os lugares onde eles se estabeleceram. Eles chegaramcom os ttulos mais gerais de Leleges e Pelasgi; porm mais particu-larmente de Elopians, Europians, Oropians, Asopians, Inopians, Ophioniansethiopes, como aparece a partir dos nomes que trouxeram de herana;e na maioria dos lugares onde eles residiam houve a passagem de

    tradies que faziam aluso ao seu ttulo original de Ofitas. Na Frgia, ea partir de Hellespont, para onde enviaram colnias desde cedo, haviaum povo chamado de Ophiogeneis, ou crias da serpente, sobre os quaisse dizia que mantinham uma afinidade e correspondncia com serpentes;e prevalecia uma idia de que algum heri, que as havia conduzido,

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    tinha se transformado de serpente em homem. Em Colchis, havia o rioOphis, e havia um outro rio com o mesmo nome na Arcdia. E foi entodenominado a partir de um grupo de pessoas que tinham se estabelecidosobre seus bancos, e acreditava-se que haviam sido conduzidos por uma

    serpente. Dizem que estes rpteis so raramente encontrados emilhas, mas que Tenos, um dos Cyclades, deveria supostamente ter-sejuntado a eles (Aristoph).

    Thucydides menciona um povo datotia, chamadosOphionians; e o templo de Apolo em Petara, na Lycia, que parece tertido sua primeira instituio a partir de uma sacerdotisa do mesmo

    nome. A ilha onde est o Chipre foi chamada de Ophiusa e de Ophiodes,onde se acreditava que as serpentes existiam em abundncia. De quaisespcies elas vieram, no mencionado em lugar algum, exceto apenaspela teoria que dizia que Paphos foi uma espcie de serpente comduas pernas. Com isto ficou compreendido que a raa de Ofita, queveio do Egito e da Sria, chegou caminhando nesta ilha. Eles se esta-beleceram tambm em Creta, onde seus nmeros cresceram enor-memente, de maneira que Minos era conhecido por uma alegoria

    jamais vista, opheis ouresai, serpentes, minxisse. A ilha de Seriphus eraum enorme penhasco, chamado pelos romanos de saxum scriphium,que fizeram uso de vrios tipos de priso para pessoas banidas. Ela erarepresentada como sendo uma ilha repleta de serpentes e foi nomeadaserpentifera por Virglio, de acordo com a maneira como Scaliger corrigeo episdio.

    Os gregos dizem que a cabea da Medusa foi trazida

    por Perseu; assim representada a divindade serpente, cuja adoraofoi aqui introduzida por um povo chamado peresianos. A cabea daMedusa denotava sabedoria divina, e a ilha era consagrada serpente,como o seu nome faz parecer. Os atenienses eram consideradosSerpentigin, e tinham uma tradio de que o guardio chefe de suaAcrpole era uma serpente.

    Conta-se que a deusa Ceres colocou um drago comoguardio de seu templo em Elusis, e designou outro para tomar conta

    de Erectheus. geus de Atenas, de acordo com Androtion, era daraa da serpente, e dizem que o primeiro rei do pas foi um drago.Outros dizem que Cecrops foi o primeiro a reinar. Dizem que ele tinhadupla natureza, sendo formado pelo corpo de um homem mescladoao de uma serpente. Diodorus diz que esta era uma circunstncia

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    julgada inexplicvel pelos atenienses; contudo ele se esfora paraexplicar isto representando Cecrops como metade homem e metadeanimal, porque ele havia pertencido a duas comunidades diferentes.

    Eustatios tenta, da mesma maneira, resolver isto quase

    que com base nos mesmos princpios e com igual sucesso. Algunsdisseram que Cecrops havia sofrido uma metamorfose, tendo se trans-formado de serpente em homem. Com isto entendeu-se, de acordocom Eustatios, que quando Cecrops entrou em Hellas, ele se despiu detoda a rudeza e brutalidade de seu pas, tornando-se mais civilizado ehumano. Isto declarado por alguns como sendo um alto elogio a serprestado Grcia em seu estado inicial e diminui bastante a

    personalidade dos egpcios. O sbio Marsham, entretanto, adverte comgrande justia: mais provvel que ele tenha introduzido ourbanismo de seu prprio pas na Grcia, do que ter ficado devendoalgo para a Grcia desde ento. Quanto ao carter misto deste per-sonagem, podemos responder sobre isto facilmente. Cecrops era, comcerteza, um ttulo da divindade, que foi adorada com este emblema.Algo de igual natureza foi mencionado sobre Triptolemus e Ericthonius,e o mesmo foi dito sobre Hrcules. Os nativos de Tebas em Botia,

    assim como os atenienses, consideravam-se pertencentes raa daserpente.Os Lacedmonians referem-se da mesma maneira a si

    prprios baseando-se no mesmo original. Sua cidade conhecida porser habitada por serpentes desde tempos antigos. O mesmo ditosobre a cidade deAmyel na Itlia, que de origem espartana. Eleschegaram a um nvel de tal abundncia de serpentes ali, que a cidade

    teve que ser abandonada por seus habitantes. Argos foi infestada damesma maneira at que Apis chegou do Egito e se estabeleceu naquelacidade. Ele era profeta, o renomado filho de Apollo, e uma pessoa degrande habilidade e sagacidade, e a ele foi atribuda a bno de terconseguido livrar seu pas deste mal. Assim, Argives deu o crdito aeste personagem imaginrio de limpar sua terra desta queixa, porm,uma nova ninhada veio no mesmo trimestre de onde se supunha queApis tinha vindo. Elas eram, certamente, os hivitas do Egito, e a mesma

    histria contada sobre aquele pas. O Egito representado comotendo sido, desde velhos tempos, infestado por serpentes e quasedespovoado em sua totalidade.

    Diodorus Siculus parece entender isto literalmente,mas uma regio que era anualmente alagada, o que j era demais para

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    durar uma estao, no poderia estar propensa a tal calamidade. Asserpentes que ali infestaram eram de uma outra natureza, e a histriaas relaciona aos cutitas, dos originais Ophit, que por muito tempodominaram aquele pas. Eles passaram do Egito para a Sria, e ento

    para o Eufrates, e feita uma meno sobre esta raa particular deserpentes naquele rio, que eram inofensivas aos nativos, mas fatais aqualquer outra pessoa. Isto no pode ser tomado literalmente porquetudo que pode relacionar-se sabedoria das serpentes no o suficientepara se fazer estas distines. Estas serpentes eram da mesma naturezados pssaros de Diomedes e dos ces do templo de Vulcano; e ashistrias atribuem aos sacerdotes de Ofita, que costumavam absolver

    o seu prprio povo e sacrificar os estrangeiros, um costume que umavez prevaleceu na maior parte do mundo. Dizem que os sacerdotes deCuthite eram muito instrudos; e como eles eram Ofitas, qualquer umque tivesse tido a vantagem de receber suas informaes era consideradoinstrudo pelas serpentes.

    Como a adorao serpente era de prevalecnciaantiga, muitos lugares e muitos povos, por este motivo, receberam osseus nomes. Os que se instalaram em Campania foram chamados Opici,

    o que alguns teriam mudado para Ophici, porque foram denominadosa partir das serpentes. Eles so, na realidade, nomes de mesmo sentidoe denotam a origem dos povos.

    Deparamo-nos com lugares chamados Opis, Ophis,Ophita, Ophionia, Ophioessa, Ophiodes e Ophiusa. Este ltimo eraum nome antigo pelo qual, de acordo com Stephanus, as ilhas Rhodes,Cynthus, Besbicus, Tenos e todo o continente da frica ficaram

    conhecidos. Tambm havia cidades assim denominadas. Acrescentea estes lugares denominados Oboth, Obona, e o inverso, Onoba, deOb, que tinha o mesmo sentido.

    Clemente de Alexandria diz que o termo Eva signi-ficava serpente se pronunciado com o som aspirado adequado, eEpifnio diz a mesma coisa. Descobrimos que havia lugares com estenome. Havia uma cidade, Eva, na Arcdia, e outra na Macednia.Tambm havia um monte Eva, ou Evan, relatado atravs de Pausnias,

    e entre este monte e Ithome est a cidade de Messene. Ele tambmmenciona uma Eva em Argolis, e fala a seu respeito como uma grande

    9. N.T.: Dracontia plural de dracontium, latim, que designa as espcies Dracontium asperum.Essa planta geralmente causa perplexidade pelo aspecto extico, muitas vezes trazendo lembrana cobras ou outros rpteis. O nome Dracontium significa pequeno drago.

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    cidade. Outro nome de serpente sobre a qual ainda no atentamos,era Patan, ou Pitan. Muitos lugares em diferentes partes foram deno-minados com este termo. Entre outras, havia uma cidade na Lacnia,e outra na Mysia, que Stephanus nomeia como a cidade de olia.

    Elas foram nomeadas, indubitavelmente, por causa da adorao serpente, Pitan, e provavelmente tinham Dracontia9, que eram figurase emblemas relativos religio onde prevaleceram. Ovdio mencionaesta ltima, e faz algumas aluses sua antiga histria quando descreveMedea voando pelo ar, indo de Athea para Colchis. A cidade estavasituada nas runas de Eva, ou Evan que os gregos traduziram porEvenus. De acordo com Strabo, o nome composto de Eva-Ain, a

    fonte ou rio de Eva, a serpente. notvel que os Opici, que se acredita terem recebidoeste nome a partir do nome das serpentes, tambm tenham tido onome de Pitanat; pelo menos uma parte daquela famlia foi assimchamada. Pitanat um termo do mesmo sentido de Opici e relaciona-se aos votos de Pitan, a divindade-serpente que era adorada por aquelepovo. Menelaus era antigamente chamado de Pitanates, comosoubemos atravs de Hesquio, e a razo disto pode ser conhecida

    pelo fato de ele ser um espartano, e por isso foi considerado um dosSerpentigen, ou Ofita. Conseqentemente, ele foi representado como emblema de uma serpente sobre seu escudo. Dizem que em umabrigada, ou parte da infantaria, havia entre alguns dos gregos, oschamados de Pitanates, e por causa disto os soldados devem ter sido,sem dvida, chamados de Pitanat porque tinham o Pitan ou serpentecomo seu emblema. Semelhante a isto, entre outras naes havia os

    soldados chamados Draconarii. Em muitos pases, o smbolo militarera um emblema da divindade adorada.Tudo o que j foi dito lanou alguma luz sobre a histria

    desta idolatria primitiva, e mostramos que, em qualquer lugar ondequaisquer destas colnias Ofitas se estabelecessem, elas deixariamcomo legado seus ritos e instituies, como tambm os nomes quederam a locais e enormes monumentos, pelos quais elas podemclaramente ser localizadas.