série de ações locais de forma apropriada com seu poder · 2. compostagem de resíduos...

16
1

Upload: ngokhuong

Post on 25-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

2

A mudança global do clima é um tema que vem ganhando relevância nas agendas de governos, de empresas e da sociedade como um todo. Hoje, é reconhecido pela comunidade científica internacional que o aquecimento do planeta é fruto da atividade humana e demanda ações para a sua mitigação e para a adaptação de seus impactos.

Todos nós contribuímos, em maior ou menor intensidade, com as nossas emissões e é certo que sofreremos com os impactos das mudanças climáticas. Entretanto, estes tendem a afetar mais gravemente os países em desenvolvimento e a população economicamente menos favorecida em função dos menores recursos para enfrentar os eventuais impactos.

Da mesma forma que contribuímos com as causas das mudanças climáticas, também somos potenciais colaboradores para reduzí-las. Estas ações podem se dar de forma individual pelo consumo consciente ou de forma coletiva, através de políticas públicas. As ações políticas podem se dar nos vários níveis, nacional, estadual e municipal e devem ser integradas e harmonizadas entre si para surtir melhores efeitos.

3

RASCA RODRIGUESSecretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos

Embora as políticas macros, responsáveis pelas definições dos grandes rumos, sejam atribuição do Governo Federal, muito de suas implementações se dão a nível municipal. Os Governos Municipais são efetivos em promover uma série de ações locais de forma apropriada com seu poder executivo. As medidas que contribuem para o combate às mudanças climáticas são também responsabilidade dos municípios, como por exemplo: o transporte urbano, o planejamento urbano através de Plano Diretor, leis de postura municipal, lei de obrigatoriedade do uso da energia solar, campanha de combate a dengue, levantamento de pontos vulneráveis a extremos climáticos, arborização urbana, entre tantos outros.

Deste modo, é de fundamental importância o acesso a orientações e integrações das ações governamentais de todas as instâncias, voltadas ao combate das mudanças climáticas. Por isso a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA) do Paraná, por meio do Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas Globais, prevê a capacitação dos novos gestores municipais para que a questão climática seja incorporada definitivamente nas políticas públicas locais.

Governador do EstadoRoberto Requião de Mello e Silva

Secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos HídricosPresidente do Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas GlobaisLindsley da Silva RASCA RODRIGUES

Coordenadora de Mudanças ClimáticasManyu Chang

Elaboração: Coordenadoria de Mudanças ClimáticasTexto: Manyu Chang e Eliane Maria IvanchechenProjeto Gráfico: PublisiteRevisão: SEMA/ACS - Ceres Avellar e Luis Gustavo Antunes Primeira edição: Junhode 2009

4

Sabe-se que 80% das emissões de GEE no mundo ocorrem nas áreas urbanas e no Brasil 80% da população concentra-se nas áreas urbanas. Dessa forma, a discussão sobre mudanças climáticas é fundamental para que cada um possa contribuir para minimizar o aquecimento global. Muitas das melhorias com relação às emissões se encontram nas áreas urbanas sob a alçada dos gestores municipais.

A fim de nortear as ações municipais, o Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas Globais está ensejando esforços para capacitar os governos locais do Paraná para que estes possam integrar medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas em seus processos decisórios. Tais ações propiciam um uso mais sustentável dos recursos, oferecem maior conforto à população local e, ao mesmo tempo, protegem o sistema climático global.

MU

DA

NÇA

S CL

IMÁ

TICA

S

As ações de combate a mudanças climáticas mais estruturais são, em geral, de definição do Governo Federal, como por exemplo a matriz energética do país, a política de incentivo a biocombustíveis, Programa de Incentivo a Energias Alternativas - PROINFA, incentivo a pesquisas sobre mudanças climáticas e em tecnologia para a sua mitigação, políticas de taxação e de impostos e modelo de desenvolvimento econômico.

Em dezembro de 2008 foi lançado o Plano Nacional de Mudança do Clima - PNMC, onde traz uma série de ações a serem implementadas que requerem esforço concertado dos Estados e Municípios.

No Paraná, está em processo de elaboração o inventário estadual para conhecer o perfil de emissão de gás efeito estufa - GEE e já discutiu um primeiro esboço de Política Estadual de Mudanças Climáticas. O Zoneamento Ecológico Econômico do Estado – ZEE, também em processo de elaboração, ajuda a disciplinar o uso do território no Estado a fim de assegurar o uso ordenado e sustentável, por exemplo, limitar o avanço de algumas atividades produtivas em áreas de preservação.

5

Outra linha de ação adotada por muitos empresários é a neutralização de carbono. Muitos produtos e serviços destacam-se pelo fato de serem pensadas por alguma ação de seqüestro de carbono ou de redução de emissão alhures.

Muitas ações de mitigação das emissões se encontram no setor privado. Isso porque uma boa parte das emissões ocorrem durante o processo de produção. Muitos empresários, principalmente os mais progressistas, já perceberam que os produtos ambientalmente mais corretos, que no caso de proteção do clima, são aqueles cuja produção emitiram menos gás efeito estufa, têm uma aceitação maior no mercado, e portanto, se transforma em um potencial para aumentar a competitividade. Além disso, no médio e longo prazo,

os produtos ambientalmente corretos tendem a economizar recursos como matéria prima, água e energia, redundando na redução de custo.

Por exemplo, as construções sustentáveis que utilizam materiais recicláveis, economizam energia elétrica e

reutilizam água, estão afetas à indústria da construção civil.

6

MU

DA

NÇA

SCL

IMÁ

TICA

S

As ações que contribuem para a redução das emissões, em geral, trazem consigo efeitos colaterais positivos, de forma que contribuem para a melhoria do bem estar da população. Por exemplo, redução de custo, equilíbrio ambiental, alimentos naturais e saudáveis, exercícios físicos, desenvolvimento da economia local, amenidade térmica, etc.

7

Um aspecto que faz muita diferença para a efetivação de ações para combater as mudanças climáticas é o comprometimento político dos administradores municipais com relação à questão ambiental, e em particular com a questão da mudança do clima. Isso porque a sensibilização, a conscientização e o comprometimento são determinantes na priorização de políticas e na alocação de recursos.

8

Algumas ações que os municípios poderiam se engajar para contribuir no combate às mudanças climáticas. Elas se dividem em duas grandes frentes, que no contexto das mudanças climáticas consagrou-se chamar de:

Para que as ações de mitigação das emissões sejam acertadas e significativas, o município necessita conhecer o perfil das emissões a fim de centrar esforços nos setores e atividades que mais emitem.

Através da metodologia do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), são inventariados os seguintes setores: uso de energia (geração elétrica; indústria, transporte individual, coletivo e de carga; transporte aeroviário, residências, comércio, outros), mudança de uso do solo e florestas, setor agropecuário, disposição final de resíduos sólidos e tratamento de esgotos domésticos e efluentes industriais.

Principais fontes de emissãode gás carbônico (Co2)no Brasil - 1994

Emissões fugitivasprocessos industriais

Processos industriais

Mudanças nouso da terra e

florestas

Queima de combustíveisna indústria

Queima decombustíveis pelos

transportes

Queima de combustíveisem outros setores

7%9%

6%

1%

2%

AÇÕ

ES M

UN

ICIP

AIS

9

As ações no setor de transporte no município vão desde inovações tecnológicas e incentivos ao transporte público a medidas restritivas ao uso do automóvel particular através de pedágios urbanos, de rodízios e da maior taxação, bem como o estímulo ao uso de veículos flex a biocombustíveis e o aumento da eficiência dos motores.

Apesar da matriz energética nacional ser de atribuição do Governo Federal, os Estados e principalmente os municípios têm muito a contribuir pelo fato do código das edificações ser de atribuição municipal. Muitos municípios já possuem leis, aprovadas e em tramitação, que incentivam ou obrigam o uso de aquecimento solar. Com a implantação destas leis, as edificações novas passam a ser obrigadas a prover estrutura para a instalação de aquecimento solar ou quando o consumo em edificações multi-familiares exceder determinada quantidade de água quente esta deverá ser provida por aquecedores solares.

O desafio no setor do transporte é aumentar a eficiência desde a engenharia dos motores e dos combustíveis até a engenharia do tráfego. Trata-se de um dos mais complexos para se obter uma redução significativa nas emissões, dada à multiplicidade de agentes envolvidos e ao ônus político necessário para instituir limitações.

Principais fontes de emissãode gás carbônico (Co2)no Brasil - 1994

Emissões fugitivasprocessos industriais

Processos industriais

Mudanças nouso da terra e

florestas

Queima de combustíveisna indústria

Queima decombustíveis pelos

transportes

Queima de combustíveisem outros setores

7%9%

6%

1%

2%

10

Uma das soluções modernas para a redução das emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) é a gestão racional e sustentável dos resíduos sólidos. Esta se divide em três fases:

1. Coleta seletiva do lixo reciclável2. Compostagem de resíduos orgânicos3. Instalação de aterros sanitários e se possível, sistematizar a coleta de gás metano, seja para a queima ou para a geração de energia.

A transformação de lixões em aterros sanitários aumenta a produção de metano, porém o metano captado pode ser utilizado para a geração de energia elétrica.

A implantação da coleta seletiva, segregando os materiais recicláveis reduz o consumo de matéria prima e energia no processo produtivo de vidros, plástico, metais, papéis, entre outros produtos. O mesmo se aplica para o reaproveitamento de resíduos da construção e a reciclagem dos resíduos de demolição. A decomposição de resíduo orgânico é o principal responsável na geração de gás metano.

AÇÕ

ESM

UN

ICIP

AIS

11

Uma das ações concretas ao alcance dos gestores municipais é a eficiência energética - EE, que reduz o consumo da energia elétrica. Isso pode se dar, por exemplo, através do aumento da eficiência da iluminação pública com a substituição de lâmpadas a vapor de mercúrio por outras de vapor de sódio.

Construir edificações “verdes” é a maneira mais simples e efetiva de reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), o setor de construção civil é responsável por cerca de 30 a 40% do consumo global de energia nas edificações. O Brasil é o sexto país que contribui com emissão de CO2 no setor da construção civil (308 milhões de toneladas de CO2). No Brasil, as edificações requerem menos energia para a sua climatização devido ao clima mais ameno. Entretanto, mesmo assim, construções verdes podem contribuir para uma boa economia no consumo de energia, principalmente nas regiões mais quentes que utilizam o ar condicionado.

As estratégias para “tornarem verdes” os prédios incluem o uso de artefatos elétricos que utilizem eficientemente a energia, painéis solares, amplas janelas que eliminem a necessidade de iluminação artificial durante o dia e jardins nos tetos para reduzir a temperatura de apartamentos e escritórios no verão e os isolem do frio no inverno. Os edifícios “verdes” também consomem menos água, geram menos lixo e beneficiam a saúde e a produtividade de seus residentes, com benefícios para o governo e o conjunto da sociedade. Os edifícios mais eficientes hoje em dia consomem 70% menos energia do que os convencionais. Os edifícios verdes são mais caros de construir, mas esse investimento tem retorno em cinco ou seis anos.

12

Outra frente de ação é com relação à redução e prevenção dos impactos causados pelas mudanças climáticas. Nesse sentido, muitas das ações de adaptação podem ser reduzidas quando se faz um levantamento das vulnerabilidades climáticas do município, tais como locais predispostos a enchentes, ventos fortes, ciclones, chuvas de granizo, ondas de calor, ressacas marítimas, entre outros, e antepor com ações de prevenção e planos de contingenciamento.

As mudanças climáticas podem aumentar os riscos de eventos climáticos extremos como as chuvas fortes, que causam inundações e desmoronamento de morros que agravam os problemas já conhecidos. Nesse particular, a política de ocupação do espaço urbano é muito importante para aliviar tais impactos.

No Brasil, há cerca de 250 municípios com mais de 100 mil habitantes. A grande maioria dos mais de 5 mil municípios do país continua a crescer. É aconselhável que estes municípios se municiem com medidas de planejamento para minimizar no futuro os problemas já conhecidos.

Vetores importantes que provocam extremos climáticos, como o aumento na temperatura e a variação de chuvas, ainda não são conhecidos em escala local. Por isso, não se pode aferir com precisão os impactos das mudanças climáticas nas cidades brasileiras. Mas, convém precaver com o pior cenário possível para pensar em adaptações.

AÇÕ

ESM

UN

ICIP

AIS

13

A exemplo da região do Vale do Itajaí em Santa Catarina, muitos dos danos materiais e perdas humanas poderiam ter sido poupados se tivessem impedido a ocupação das encostas com riscos de desmoronamento. Neste caso, a tragédia é fruto do fracasso das políticas de acesso à moradia e de ocupação do espaço urbano.

Para saber a intensidade dos efeitos do aquecimento é preciso mapear graficamente as temperaturas de todas as áreas das cidades e em função disso, revegetar, rever os planos diretores e leis de zoneamento, aumentando a porção de área verde dos empreendimentos imobiliários, entre outros. Portanto, a solução dos problemas que causam ilhas de calor está nas mãos do poder municipal.

A ilha de calor é uma característica universal do clima urbano, propiciando temperaturas mais elevadas nas zonas centrais da cidade em comparação com as zonas periféricas e rurais. As ilhas de calor se formam em áreas com concentração de asfalto, edifícios e tráfego de veículos. O efeito mais preocupante na ilha de calor, além do calor em si que induz a um maior consumo de energia para o seu resfriamento é a qualidade do ar. O aquecimento urbano associado à poluição tem impacto danoso à saúde da população, principalmente para crianças e idosos.

14

AÇÕ

ESM

UN

ICIP

AIS

Recomenda-se que os municípios procurem identificar potenciais espaços verdes públicos por micro-regiões urbanas, pois não basta cumprir as exigências legais de percentuais de áreas verdes, porém zelar por uma distribuição homogênea dessas áreas formando parques e não pequenas praças isoladas.

Durante o crescimento das árvores ocorre o processo de fotossíntese que é o seqüestro biológico de CO2 da atmosfera. Este é o serviço ambiental prestado pelo plantio de árvores.

O Novo Código Florestal Lei 4.771, estabelece desde 1965 a obrigatoriedade da manutenção das Áreas de Preservação Permanente - APPs e Reserva Legal. Entretanto, a maioria das propriedades rurais brasileiras não cumpre esta exigência.

15

A educação ambiental é um eixo fundamental para a conscientização e mudanças no padrão de comportamento de cada indivíduo sobre a preservação ambiental na vida cotidiana. Neste eixo destacam-se três linhas de ação:

• Participação comunitária nas discussões sobre a qualidade ambiental na cidade e zona rural;

• Criação de programas de educação ambiental para e com a comunidade local;

• Incentivo nas escolas de ensino fundamental e nas universidades para a discussão com alunos sobre os problemas ambientais dos municípios, com inclusão de disciplina opcional de educação ambiental

Munidos de uma metodologia de trabalho, e seguindo os exemplos dos Governos Federal e Estadual, as cidades podem instituir o Fórum Municipal, composto por representantes governamentais, do setor empresarial e organizações da sociedade civil. O objetivo é propor e deliberar sobre políticas municipais de proteção climática e conscientizar e mobilizar a sociedade para a discussão e tomada de posição sobre os problemas decorrentes da mudança do clima

A partir dos estudos e das avaliações do inventário de emissões de GEE, o município pode elaborar seu Plano de Mudanças Climáticas, a ser aprovado pelo Fórum Municipal. O plano deve possibilitar a articulação com o plano estadual e nacional e organizar, na esfera local, todas as ações referentes às questões do aquecimento global. Também deve propor iniciativa coordenada com as já existentes para mitigar, adaptar e reduzir o impacto do desdobramento das mudanças climáticas.

16