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  • 7/24/2019 Srgio Costa

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    Srgio Costa

    Desprovincializando a sociologia: a contribuio ps-colonial

    RESUM

    Este ensaio discute as contribuies dos estudos ps-coloniais para a renovao dateoria social contempornea. Considera-se, em primeiro lugar, o carter da crticaque os estudos ps-coloniais endeream s ci!ncias sociais. Em seguida, discutem-se as alternativas epistemolgicas que apresentam, considerando-se tr!s

    concepes-c"ave # modernidade entrelaada, lugar de enunciao $"brido$,su%eito descentrado. & concluso ' que, a despeito de sua contund!ncia e dasuspeita de alguns autores de que a teoria ps-colonial implode a baseepistemolgica das ci!ncias sociais, boa parte da crtica ps-colonial tem comodestinatrio a teoria da moderni(ao. )este ponto, apresenta a*inidades comob%ees tra(idas por cientistas sociais que nada t!m a ver com o ps-colonialismo.+utros aspectos levantados pelos estudos ps-coloniais no desestabili(am,necessariamente, as ci!ncias sociais, podendo mesmo enriquec!-las.

    !alavras-c"ave:Estudos ps-coloniais i*erena eoria sociolgica.

    +s estudos ps-coloniais no constituem propriamente uma matri( terica /nica.rata-se de uma variedade de contribuies com orientaes distintas, mas queapresentam como caracterstica comum o es*oro de esboar, pelo m'todo dadesconstruo dos essencialismos, uma re*er!ncia epistemolgica crtica sconcepes dominantes de modernidade. 0niciada por aqueles autores quali*icadoscomo intelectuais da dispora negra ou migratria # *undamentalmente imigrantesoriundos de pases pobres que vivem na Europa +cidental e na &m'rica do )orte #,a perspectiva ps-colonial teve, primeiro na crtica literria, sobretudo na 0nglaterrae nos Estados 1nidos, a partir dos anos de 2345, suas reas pioneiras de di*uso.epois disso, e6pande-se geogra*icamente e para outras disciplinas, *a(endo dostrabal"os de autores como 7omi 8"ab"a, Ed9ard :aid, ;a

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    "ierrquicas gan"am signi*icado ?7all, 233@aA. Colonial, por sua ve(, vai al'm docolonialismo e alude a situaes de opresso diversas, de*inidas a partir de*ronteiras de g!nero, 'tnicas ou raciais.

    elimitar o campo terico preciso no qual se inserem os estudos ps-coloniais no' tare*a *cil. alve( no se%a nem mesmo uma tare*a concreti(vel, uma ve( que

    os estudos ps-coloniais buscam precisamente e6plorar as *ronteiras, produ(ir,con*orme quer 8"ab"a ?233BA, uma re*le6o para al'm da teoria. )o obstante,no ' di*cil recon"ecer a relao pr6ima entre os estudos ps-coloniais e pelomenos tr!s correntes ou escolas contemporneas. & primeira ' o ps-estruturalismo e, sobretudo, os trabal"os de errida e oucault, com quem osestudos ps-coloniais aprenderam a recon"ecer o carter discursivo do social. &recepo do ps-estruturalismo, contudo, no ' a mesma que *a(em autores comoD

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    Iartinica rant( anon ?23JL M23LFNA, quando buscou descrever o mundo modernovisto pela perspectiva do negro e do coloni(ado.

    + orientalismo de que *ala :aid caracteri(a uma maneira particular de percepo da"istria moderna e tem como ponto de partida o estabelecimento a prioride umadistino binria entre +cidente e +riente, segundo a qual cabe quela parte que se

    auto-representa como +cidente a tare*a de de*inir o que se entende por +riente. +orientalismo constitui, assim, uma maneira de apreender o mundo, ao mesmotempo que se consolida, "istoricamente, a partir da produo de con"ecimentospautados por aquela distino binria original.

    & inspirao que anima :aid # e, como se mostra mais adiante, boa parte dosautores ps-coloniais # ' a crtica *oucaultiana $episteme$ das ci!ncias "umanas?oucault, 23@F, pp. B24ss.A. rata-se de mostrar que a produo de con"ecimentoatende a um princpio circular e auto-re*erenciado, de sorte que $novos$con"ecimentos construdos sobre uma base de representao determinadarea*irmam, ad infinitum, as premissas inscritas nesse sistema de representaes. +orientalismo caracteri(a, assim, um modo estabelecido e institucionali(ado de

    produo de representaes sobre uma determinada regio do mundo, o qual sealimenta, se con*irma e se atuali(a por meio das prprias imagens e doscon"ecimentos que ?reAcria.2+ +riente de Orientalism, ainda que remeta,vagamente, a um lugar geogr*ico, e6pressa mais propriamente uma *ronteiracultural e de*inidora de sentido entre um ns e um eles, no interior de uma relaoque produ( e reprodu( o outro como in*erior, ao mesmo tempo em que permitede*inir o ns, o si mesmo, em oposio a este outro, ora representado comocaricatura, ora como esteretipo e sempre como uma sntese aglutinadora de tudoaquilo que o ns no ' e nem quer ser.

    :tuart 7all ?233JaA busca generali(ar o caso do orientalismo, mostrando que apolaridade entre o +cidente e o resto do mundo ?West/RestA encontra-se na base

    de constituio das ci!ncias sociais. + ponto de partida de 7all ' igualmente anoo de *ormao discursiva, derivada de oucault. ratado nesses termos,discurso no se con*unde com ideologia, entendida como representao *alseada ou*alsi*icada do mundo. )o cabe, por isso, discutir o teor de verdade dos discursos,mas o conte6to no qual eles so produ(idos, qual se%a, o $regime de verdade$dentro do qual o discurso adquire signi*icao, se constitui como plausvel e assumee*iccia prtica. Esses regimes de verdade, ou na variao pre*erida por 7all,$regimes de representao$, no so *ec"ados e mostram-se aptos a incorporarnovos elementos rede de signi*icados em questo, mantendo um n/cleo originalde sentidos, contudo, inalterado ?Idem, pp. F52ss.A.F

    Oalendo-se da id'ia de :aid de que os discursos se servem de $arquivos$ ou *ontes

    de con"ecimento comum para se constituir, 7all enumera os principais recursosque, ao longo do processo de e6panso colonial, vo nutrindo e constituindo odiscurso West/Rest, a saberK os con"ecimentos clssicos, as *ontes bblicas ereligiosas, as mitologias ?Eldorado, lendas se6uais etc.A, al'm dos relatos devia%antes. & partir dessas *ontes constituem-se as polaridades entre o +cidente #civili(ado, adiantado, desenvolvido, bom # e o resto # selvagem, atrasado,subdesenvolvido, ruim. 1ma ve( constitudos, tais binarismos tornam-se*erramentas para pensar e analisar a realidade. 7all investiga obras de autores*undadores das ci!ncias "umanas em meados do s'culo PO000 ?basicamente &dam:mit", 7enr< Qame, Ro"n Iillar e &dam ergusonA, mostrando como a polaridadeWest/Rest, contempornea do 0luminismo, se instala no interior destas.

    + discurso West/Rest, con*orme 7all, no ' dominante apenas no mbito dessesprimeiros trabal"os das ci!ncias "umanas, ele se torna um dos *undamentos da

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back1http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back2http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back2http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back1
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    sociologia moderna que toma as normas sociais, as estruturas e os valoresencontrados nas sociedades denominadas ocidentais como o parmetro universalque de*ine o que so sociedades modernas. &ssim, sob a lente da sociologia, asespeci*icidades das sociedades $no ocidentais$ passam a *igurar como aus!ncia eincompletude, em *ace do padro moderno, depreendido e6clusivamente das$sociedades ocidentais$. 8ons e6emplos da incorporao pela sociologia moderna do

    binarismo West/Restseriam, para 7all, categorias como patrimonialismo, emSeber, e modo de produo asitico, em Iar6, que, de *ormas distintas, *raseam omovimento interno de sociedades de*inidas como no ocidentais na gramticaimplicitamente comparativa que toma as sociedades europ'ias como padro.

    & polaridade West/Restencontra-se tamb'm na base da narrativa "istrica adotadapelas ci!ncias sociais modernas e pela sociologia, em particular. rata-se de umagrande narrativa centrada no Estado-nao $ocidental$ e que redu( a "istriamoderna a uma ocidentali(ao paulatina e "erica do mundo, sem levar em contaque, pelo menos desde a e6panso colonial no s'culo PO0, di*erentes$temporalidades e "istoricidades *oram irreversvel e violentamente %untadas$ ?7all,233@a, p. FGGA.Gal no signi*ica, obviamente, que o autor acredite na simetria de

    poder e em iguais possibilidades de in*lu!ncia m/tua entre o $+cidente$ e o $restodo mundo$, implica, contudo, que as partes representadas como opostas eseparadas, vale di(er, antinTmicas, na verdade se completam "istrica esemanticamente.

    & metodologia da comparao implcita e o tipo de narrativa "istrica da sociologiamoderna *a(em com que tudo o que ' diverso no $resto do mundo$ se%adecodi*icado como um aindano e6istente, uma *alta a ser compensada por meioda interveno social cabvel em cada conte6to e em cada 'poca "istricaKdominao colonial, a%uda ao desenvolvimento, interveno "umanitria etc. Comisso, 7all no pretende naturalmente atribuir a responsabilidade pelos colonialismose imperialismos s ci!ncias sociais modernas. Iostra, contudo, como as disciplinas

    desse campo reprodu(em a perspectiva colonial, ao alimentar e legitimar o modelodominante de representao das relaes entre a Europa e o resto do mundo.B

    #s alternativas episte%olgicas ps-coloniais

    & $desconstruo$ da polaridade West/Restconstitui o termo comum que une osdi*erentes autores identi*icados com o marco ps-colonial. U precisamente essaidenti*icao do vi's colonialista no processo de produo do con"ecimento que,como se a*irmou mais acima, mel"or de*ine o pre*i6o $ps$ do termo ps-colonial.

    &*inal, do ponto de vista cronolgico, esse pre*i6o re*ere-se a e6-colTnias comcondies ps-coloniais radicalmente distintas.L0nteressa, por isso, abordar aqui ops-colonial, a *orma de $descontruo$ da polaridade West/Restque se constitui,"istoricamente, no mbito da relao colonial, mas que se perpetua mesmo depoisde e6tinto o colonialismo, como modo de orientar a produo do con"ecimento e ainterveno poltica.

    & tare*a que os autores ps-coloniais atribuem a si ' imodesta. Cabe, primeiro,mostrar que a polaridade Rest/Westconstri, no plano discursivo, e legitima, nombito poltico, uma relao assim'trica irreversvel entre o +cidente e seu outro,con*erindo ao primeiro um tipo de superioridade que no ' circunstancial, "istricae re*erida a um campo espec*ico # material, tecnolgico etc. rata-se da atribuiode uma condio de superioridade que ' ontolgica e total, imutvel,essenciali(ada, uma ve( que ela *a( parte da prpria constituio lgica e semnticados termos da relao. + segundo passo ' mostrar que a polaridade West/Rest'

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back3http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back4http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back5http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back3http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back4http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back5
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    incua do ponto de vista cognitivo, uma ve( que o*usca aquilo que supostamentebusca elucidar, a saber, as di*erenas internas dessa multiplicidade de *enTmenossociais subsumidos nesse outro gen'rico, bem como as relaes e*etivas entre o+cidente imaginado e o resto do mundo.

    al es*oro de desconstruo dos binarismos ?coloniaisA vem seguindo percursos

    diversos no mbito dos estudos ps-coloniais e, pelo menos desde o importanteensaio de :piva= ?2344A, des*e(-se a e6pectativa de que uma perspectivaepistemolgica nova surgiria, dando-se vo( ao ?ps-Acoloni(ado. & autora mostraque ' ilusria a re*er!ncia a umsu%eito subalterno que pudesse *alar. + que elaconstata, valendo-se do e6emplo da Vndia, ' uma "eterogeneidade de subalternos,os quais no so possuidores de uma consci!ncia aut!ntica pr'- ou ps-colonial,trata-se de $sub%etividades precrias$ construdas no marco da $viol!nciaepist!mica$ colonial. al viol!ncia tem um sentido correlato quele cun"ado poroucault para re*erir-se rede*inio da id'ia de sanidade na Europa de *inais dos'culo PO000, na medida em que desclassi*ica os con"ecimentos e as *ormas deapreenso do mundo do coloni(ado, roubando-l"e, por assim di(er, a *aculdade daenunciao. &ssim, no lugar de reivindicar a posio de representante dos

    subalternos que $ouve$ a vo( desses, ecoada nas insurg!ncias "ericas contra aopresso, o intelectual ps-colonial busca entender a dominao colonial comocerceamento da resist!ncia mediante a imposio de uma episteme que torna a *alado subalterno, de antemo, $silenciosa$, vale di(er, desquali*icada.

    Cientes da impossibilidade constatada por :piva=, os estudos ps-coloniais buscamalternativas para a desconstruo da antinomia West/Restque se%am distintas dasimples inverso do lugar da enunciao colonial. rata-se, portanto, no de dar vo(ao oprimido, mas como de*inem >ieterse e >are=" ?233L, p. 2FA, de umadescoloni(ao da imaginao o que implica uma crtica que no se%a simplesmenteanticolonialista,Juma ve( que, "istoricamente, o combate ao colonialismo teria sedado ainda no marco epistemolgico colonial, por meio da rei*icao e do

    congelamento da suposta di*erena do coloni(ado em construes nativistas enacionalistas. + ps-colonialismo deve promover precisamente a desconstruodesses essencialismos, diluindo as *ronteiras culturais legadas tanto pelocolonialismo como pelas lutas anticoloniais.

    Histrias entrelaadas

    & desconstruo da dicotomia Rest/Westpassa, primeiramente, pelareinterpretao da "istria moderna. Com e*eito, a releitura ps-colonial da "istriamoderna busca reinserir, reinscrever o coloni(ado na modernidade, no como ooutro do +cidente, sinTnimo do atraso, do tradicional, da *alta, mas como parteconstitutiva essencial daquilo que *oi construdo, discursivamente, como moderno.

    0sso implica descontruir a "istria "egemTnica da modernidade, evidenciando asrelaes materiais e simblicas entre o $+cidente$ e o $resto$ do mundo, de sorte amostrar que tais termos correspondem a construes mentais sem correspond!nciaemprica imediata. Esse ' o pro%eto perseguido pelo "istoriador indiano da1niversidade de C"icago, ipes" C"a=rabart< ?F555A. :ob a divisa $provinciali(ar aEuropa$, o autor busca radicali(ar e transcender o universalismo liberal, mostrandoque o racionalismo e a ci!ncia, antes de serem marcas culturais europ'ias, soparte de uma "istria global, no interior da qual o monoplio $ocidental$ nade*inio do moderno *oi construdo tanto com o au6lio do imperialismo europeu,como com a participao direta do mundo $no ocidental$. 0sto ', as "istriasnacionais de pases no europeus se apresentam como narrativas de construo deinstituies # cidadania, sociedade civil etc. #, que s encerram sentido se

    pro%etadas no espel"o de uma $Europa "iperreal$, na medida em que ignoram ase6peri!ncias e*etivas das populaes de tais pases. )essas "istrias nacionais, aEuropa imaginada ' a morada do verdadeiro su%eito moderno, do qual mesmo os

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    socialistas e os nacionalistas mais combativos buscam construir, pela imitao, umsimilar nacional ?para uma crtica, ver :antos, F55BA.

    & tentativa de dar plausibilidade id'ia de "istrias que, a despeito de seremnarradas como "istrias nacionais, apresentam interpenetraes e se determinammutuamente, toma corpo nos conceitos de $"istrias partil"adas$ e $modernidade

    entrelaada$, cun"ados por anderia ?F555A, sociloga indiana da 1niversidade deWurique. Com os conceitos, a autora busca, de um lado, e6pressar ainterdepend!ncia e a simultaneidade dos processos de constituio das sociedadescontemporneas e, de outro, destacar a representao dicotTmica, cingida, dasinterseces "istricas nas representaes modernas. + termo $partil"ado$ carregaduplamente o sentido das e6presses sharede divided, isto ', trata-se de "istriascompartil"adas em seu desenrolar, mas divididas em sua apresentao erepresentao. U importante destacar que, ao en*ati(ar as interpenetraes das"istrias modernas, a autora no busca o*uscar as assimetrias de poder quemarcam tal relao, tampouco signi*ica a*irmar que tudo est entrelaado namesma medida e na mesma proporo. rata-se de conte6tuali(ar astrans*ormaes observadas num *ei6e de relaes interdependentes entre as

    di*erentes regies do mundo, de *orma a dar sentido s assimetrias e sdesigualdades construdas no interior da "istria moderna comum.

    & insist!ncia na id'ia de uma constituio entrelaada da modernidade carrega umainteno dupla. 0nicialmente, busca-se mostrar a cegueira epistemolgica que obinarismo West/Restlega s di*erentes disciplinas. +u se%a, ao tratar esse $outro$do +cidente, de *orma evolucionista e "ierrquica, como um vcuo de sociabilidade,$pr'-estgio do si mesmo europeu$, disciplinas como a sociologia acabam tomandopor novos e decorrentes da globali(ao contempornea processos como $adebilitao da soberania nacional, in*ormali(ao e *le6ibili(aao do trabal"o,depend!ncia de acontecimentos remotos, "ibridicidade cultural$ ?Idem, p. BLA #todos eles, na verdade, vel"os con"ecidos das sociedades ?ps-Acoloniais.

    &o mesmo tempo, a !n*ase na constituio entrecru(ada da modernidade buscalanar lu( sobre o papel das colTnias como campo de e6perimentao damodernidade. :e, pelo menos desde a publicao dHO capitalde Qarl Iar6, aimportncia da e6panso colonial na *ormao do capitalismo ' con"ecida, a !n*aseps-colonial na "istria partil"ada busca c"amar a ateno para outras dimensesdessa interdepend!ncia. Conrad e anderia ?F55F, p. FJA nomeiam estudosdiversos que, dentro desta perspectiva, mostram como a id'ia ?modernaA dere*ormar a ordem social por meio da $interveno orientada estrategicamente$ 'gestada na segunda metade do s'culo P0P, primeiro nas colTnias e s depois 'importada, como possibilidade de $moderni(ao$, da Europa. E6emplos de talprocesso so os pro%etos de reestruturao urbana e6perimentados primeiro no

    norte da X*rica e depois aplicados na rana, bem como a t'cnica de veri*icao daidentidade pela impresso digital, inicialmente posta em prtica em 8engala.

    O lugar de enunciao ps-colonial: elogio do hrido

    Em ve( de buscar os *atos e as cone6es que possam reposicionar o ?ps-Acoloni(ado na "istria moderna, outros autores, mais convictos das possibilidadesdo ps-estruturalismo, concentram seu es*oro ?ps-colonialA na relao entrediscurso e poder, buscando encontrar um lugar de enunciao que possa escapar sadscries essencialistas e transgredir as *ronteiras culturais traadas pelopensamento colonial. + crtico literrio indiano 7omi 8"ab"a ?233BA ' quempersegue essa estrat'gia com mais pertincia. :eu interesse est voltado para os

    espaos de enunciao que no se%am de*inidos pela polaridade dentroY*ora, mas

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    se situem entre as divises, no entremeio das *ronteiras que de*inem qualqueridentidade coletiva.

    Em contraposio s construes identitrias "omogenei(adoras que buscamaprisionar e locali(ar a cultura, apresenta-se a id'ia da di*erena, articuladaconte6tualmente, nas lacunas de sentido entre as *ronteiras culturais. i*erena

    aqui no tem o sentido de "erana biolgica ou cultural, nem de reproduo deuma pertena simblica con*erida pelo local de nascimento, de moradia ou pelainsero social, cultural etc. & di*erena ' construda, no processo mesmo de suamani*estao, ela no ' uma entidade ou e6presso de um estoque culturalacumulado, ' um *lu6o de representaes, articuladas ad hoc, nas entrelin"as dasidentidades e6ternas totali(antes e essencialistas # a nao, a classe operria, osnegros, os migrantes etc. )esses termos, mesmo a remisso a uma supostalegitimidade legada por uma tradio $aut!ntica$ e $original$ deve ser tratada comoparte da per*ormati(ao da di*erena # no sentido lingZstico do ato enunciativo eno sentido dramat/rgico da encenao. &ssim, tal reivindicao de legitimidadeprecisa ser entendida a partir da conte6tualidade discursiva em que se insereK

    ermos do enga%amento cultural, se%am eles antagonistas se%am de *iliao, soprodu(idos per*ormativamente. & representao da di*erena no tem de serinterpretada apressadamente como um con%untopr!-fornecidode caracteres'tnicos ou culturais no mbito de um corpo *i6o da tradio. a perspectiva daminoria, a articulao social da di*erena representa uma comple6a negociao emcurso que busca autori(ar os "ibridismos que aparecem nos momentos detrans*ormao "istrica. + $direito$ de signi*icar a partir da peri*eria do poderautori(ado e privilegiado no depende da persist!ncia da tradio tal direito est*undado no poder da tradio de ser reinscrita por meio das condies deconting!ncia e contradio que respondem s vidas daqueles que $esto emminoria$. + recon"ecimento que a tradio louva ' uma *orma parcial deidenti*icao. etomando o passado, tal recon"ecimento introdu( outras

    temporalidades culturais na inveno da tradio. Esse processo torna estran"oqualquer acesso imediato a uma identidade original ou tradio $recebida$ ?8"ab"a,233B, p. FA

    & a*irmao da di*erena, con*orme descrita por 8"ab"a, no pode ser entendidacomo ao social, nos termos utili(ados normalmente pelas teorias sociolgicas daao, uma ve( que a ao no pode ser inscrita numa narrativa terica. 0sto ', nose veri*ica em 8"ab"a uma relao deci*rvel entre ao e estrutura, nem umalin"amento entre selfe sociedade que pudesse ser decodi*icado num modelosociolgico generali(anteK $no pode "aver qualquer fechamentodiscursivo dateoria$ ?Idem, p. G5 ver tamb'm IcDennan, F555, p. @@A. Iesmo a id'ia desu%eito precisa ser compreendida *ora dos cnones das ci!ncias sociais. & rigor,

    8"ab"a evita a remisso id'ia de um su%eito que se%a de*inido pelo vnculo a umlugar na estrutura social ou que se%a caracteri(ado pela de*esa de um con%untodeterminado de id'ias. + su%eito ' sempre um su%eito provisrio, circunstancial ecingido entre um su%eito *alante e um su%eito $*alado$, re*le6ivo. + segundo nuncaalcana o primeiro, s pode suced!-lo. 0sso, contudo, no implica a impossibilidadeda resist!ncia dominao.

    & subverso possvel est relacionada com o desli(amento do sentido dos signos. &id'ia, como se mostra adiante, tomada emprestada do ps-estruturalismo, ' de queos signos possuem possibilidades inesgotveis de signi*icao e s podem gan"arum sentido particular, ainda assim provisrio e incompleto, num conte6tosigni*icativo determinado. )en"um conte6to discursivo particular esgota

    plenamente o repertrio de signi*icaes atribuveis a um signo a ao criativa 'aquela que subverte, rede*ine o signo, a partir de um lugar enunciatrio deslocadodos sistemas de representao *ec"ados. )o se trata, portanto, con*orme 8"ab"a,

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    de uma interveno in*ormada por um sistema de representao concorrente, masde um lugar *ronteirio, de alguma maneira *ora dos sistemas de signi*icaestotali(antes e que ' capa(, por isso, de introdu(ir inquietao e revelar o carter*ragmentrio e ambivalente de qualquer sistema de representao. & e*iccia dainterveno ' tamb'm sempre contingente, aberta, inde*inida, trata-se de umaao dentro da rea de in*lu!ncia do su%eito, mas *ora de seu controle.

    + lugar de enunciao entre os sistemas de representao ' de*inido por 8"ab"acomo um $terceiro espao$ e corresponde ao conte6to $no qual a conting!nciaespacial das *ronteiras nacionais e raciais ' combinada com o que ele descrevecomo a conting!ncia temporal do indeci*rvel$ ?>"ilips, 2333, p. J4A. 0sto ', oterceiro espao no se re*ere a um locus*i6o na tessitura social, mas sim aoinstante no qual o carter construdo e arbitrrio das *ronteiras culturais *icaevidenciado. al acontece quando signos so deslocados de seu re*erenciamentoespacial e temporal e ainda se encontram, por assim di(er, em movimento, ou se%a,no *oram inscritos num outro sistema de representao totali(ante. Essedeslocamento caracteri(a o momento de $"ibridao$ do signo e, embora operadocom a participao do su%eito ', como mencionado, *ortuito, aleatrio, ' uma

    interao contingente ?8"ab"a, 233B, pp. 24Lss.A.

    & id'ia de "ibridismo adotada por 8"ab"a tem sua origem na anlise do lingZista eterico da cultura Ii="ail 8a="tin, o qual distingue uma involuntria $mistura deduas linguagens sociais dentro de uma mesma a*irmao$ e a $con*rontaaodialgica$ de duas linguagens na *orma de um $"ibridismo intencional$ ?;rimm,233@, p. LGA. 8"ab"a nega o trao intencional, mostrando que o *enTmeno da"ibridao independe da vontade do su%eito. &l'm disso, a "ibridao se presta, narelao colonial, no apenas reao dominao, mas tamb'm a*irmao doprprio poder do coloni(ador. Con*orme o autor, di*erentemente do que postularamos $ps-estruturalistas ocidentais$, $puristas da di*erena$, o poder no se produ(unicamente por meio da transpar!ncia # das regras de classi*icao, de incluso e

    e6cluso, da identidade do colonial e do coloni(ado etc. )a relao colonial,*undem-se cadeias de signi*icaes que "ibridi(am a reivindicada identidade purado coloni(ador, ao mesmo tempo em que o coloni(ado se, de um lado, apenas imitao coloni(ador, tamb'm desloca, "ibridi(a signos da dominao colonial, esva(iando-os da simbologia da dominao ?8"ab"a, 233L M234LN, p. GBA.

    & partir do uso cun"ado por 8"ab"a, os conceitos $"ibridismo$ ?e $"ibridao$Agenerali(am-se nos estudos ps-coloniais, ainda que gan"em em cada autormati(es distintos ?para uma comparao, ver >apastergiadis, 233@A.@& despeitodos di*erentes usos, o conceito permite operar dois movimentos *undamentais. +primeiro ' descontrutivistaK ao revelar o trao "brido de toda construo cultural,busca-se desmontar a possibilidade de um lugar de enunciao "omog!neo.

    [ualquer lugar da enunciao ', de sada, um lugar "eterog!neo, de modo que apretenso de "omogeneidade ' sempre arbitrariamente "ierarqui(adora. + segundomovimento ', se assim se pode di(er, normativoK o "ibridismo de*ine uma condioglobal cosmopolita. rata-se da re*er!ncia a uma cultura e a um mundo "bridocomo aluso a uma ecumenemundial acima das barreiras raciais, nacionais, 'tnicasetc.K $uma cultura internacional, baseada no no e6otismo do multiculturalismo ouna diversidadede culturas, mas na inscrio e na articulao de culturas dahiride"?8"ab"a, 233B, p. G4A. Esse ideal cosmopolita con*ere uma conotaopositiva multiplicao das possibilidades de percepo do mundo a partir de umlugar *ora do conte6to espacial e simblico das comunidades imaginadas queacompan"a a globali(ao. Esse $convite$ "ibridao ' inerente s biogra*iascontemporneas, de *orma geral, e encontra na *igura do migrante $ps-colonial$

    sua representao emblemtica. + cosmopolitismo como "ibridao inscreve-seassim no "ori(onte de possibilidades, como alternativa ao universalismomodernistaK

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    + modernismo combate a etnicidade em nome do universalismo, da identidade detodas as pessoas com seus direitos individuais. + ps-colonialismo *a( o mesmo emnome da mistura e da "ibride(, reivindicando uma "umanidade de tal maneira*undida em suas caractersticas culturais que no " c"ances para qualquerabsolutismo 'tnico. & isso que eu me re*iro como cosmopolitismo sem modernismo?ridman, 233L, p. @JA.

    >ara al'm de seu papel como remisso a um lugar de enunciao que se impeentre as *ronteiras culturais e como ideal cosmopolita, o termo "ibridismo gan"ou,no campo da sociologia, com um ensaio de )ederveen >ieterse ?233L, F55GA, usomacroanaltico como categoria de estudo da globali(ao. + autor considera que asanlises correntes nesse campo buscam, em geral, associar globali(ao emodernidade e acabam se tornando um ane6o da teoria da moderni(ao,tradu(indo a globali(ao como uma ocidentali(ao do mundo ?#esterni"ationA. +sautores que pretendem *ugir a essa viso da globali(ao, como "erborn, &min,>red e Satts, indicam que cada sociedade $retrabal"a$ a modernidade, de*inindosuas prprias tril"as moderni(antes. ecaem, contudo, invariavelmente, numpolicentrismo que continua o*erecendo uma representao esttica e

    unidimensional da globali(aoK $a multiplicao dos centros que continua, contudo,ainda amparada no centrismo$ ?>ieterse, 233L, p. B4A. odas essas abordagensdesconsideram, segundo >ieterse, algo *undamental no processo de globali(ao,que ' precisamente a gobali(ao da diversidade.

    + autor postula que a globali(ao deve ser entendida como "ibridao, o queimplica um processo de multiplicao e interpenetrao dos modos disponveis deorgani(ao # transnacional, internacional, macrorregional, nacional,microrregional, municipal #, uma combinao, nas di*erentes es*eras sociais, delgicas de coordenao variadas, al'm do surgimento, no mbito cultural, de umam!lange gloal. Esta id'ia corresponde a uma generali(ao dos processos deinterpenetrao cultural, descritos, como casos particulares, em e6presses como

    creoli(ao, mesti"a$e, orientali(ao, cross over culturee que destacam a"ibridao das partes envolvidas e o surgimento permanente de novas misturas. alno implica assumir que as partes que se %untam na m!langese%am puras,originrias. )esse sentido, a "ibridao que tem lugar na globali(ao correspondea uma mistura de misturas.

    >ara tornar seu argumento plausvel, >ieterse contrape id'ia de cultura como umcon%unto de propriedades ortogen'ticas e endTgenas de uma comunidade orgnicae "omog!nea, em geral, associada a um local geogr*ico determinado, o conceitode cultura translocal, "eterogen'tica e "eterog!nea, desenvolvida em redes di*usas.Enquanto, no primeiro caso, os intercmbios culturais so vistos como um*enTmeno esttico e que sempre *a( re*er!ncia a um centro, no segundo, os

    intercmbios so *luidos, descentrados, transculturais. & globali(ao representariao processo, obviamente no linear, que condu( generali(ao desse segundo tipode relao cultural, levando, assim, no "omogenei(ao, mas diversi*icao,no "egemonia cultural, mas interpenetrao cultural, no ocidentali(ao,mas m!lange gloal, ou se%a, "ibridao ?Idem, pp. J2ss.A.

    Iesmo que inovador, o uso *eito por >ieterse da id'ia de "ibridao como categoriade anlise da globali(ao apresenta problemas graves, parte dos quais ele prpriorecon"eceK $o que *alta ' o recon"ecimento do atual desnvel, assimetria edesigualdade nas relaes globais$ ?Idem, p. LBA. & ine6atido do conceito no meparece, contudo, um problema de re*inamento terico, como se *osse possvel,como parece acreditar >ieterse, precis-lo, por meio de novas pesquisas. +

    problema ' metodolgico. )a operao desenvolvida por >ieterse, o conceito"ibridao vai acumulando tantas *unes e de*inies que acaba se tornando osinTnimo do que deveria e6plicar, como mostra o prprio ttulo do ensaio do autorK

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    $;lobali(ation as "ieterse, seu uso como categoria analtica ', ameu %u(o, um equvoco. + conceito multi-uso *unciona como um moin"o que

    primeiro quebra para depois *undir as nuanas e as di*erenciaes que devemprecisamente despontar na anlise. [uando parte da id'ia de "ibridao, o analista' levado ao raciocnio circularK parte da premissa de que a?sA modernidade?sA, asculturas, as pessoas, a globali(ao, ele prprio so "bridos, para concluir,triun*almente, depois de um enorme es*oro de desconstruo e metonimi(ao,que a?sA modernidade?sA, as culturas, as pessoas, a globali(ao, ele prprio so,Eure=a\] "bridos.

    %a diferena ao su$eito

    & concepo de di*erena *ormulada, tanto por 8"ab"a como por :tuart 7all e >aul;ilroara o autor, a id'ia de %ogo em D'vi-:trauss ' perpassadapor certa $'tica da presena$, como se "ouvesse uma origem /ltima, uma ess!ncia

    por trs do signo que, em algum momento, pudesse ser atuali(ada, *eita presentena linguagem. &qui de*inem-se, para errida, duas *ormas de conceber as ci!ncias"umanasK a primeira busca a origem /ltima, a verdade por trs das iluses da

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    representao, a segunda aceita a participao no %ogo incerto, a partir de umaposio *lutuante. Esta segunda, a qual ele se *ilia, ' desconstrutivista, buscasempre o resduo meta*sico presente nos discursos generali(antes, se%am elesdi*erencialistas ou universalistas.

    & radicalidade contida na id'ia de diff!rancee na diluio da oposio entre su%eito

    e estrutura operada por errida ', con*orme entendo, interpretada, ou mel"ortalve(, operada, de maneira distinta por 8"ab"a, de um lado, e por 7all e ;ilro

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    potencialmente, os conte6tos de signi*icao, introdu(indo a incerte(a, aambival!ncia, o rudo e a d/vida naquilo que parecia coerente, $puro$, preciso,ordenado. al aposta no implica, contudo, $re-centrali(ar$ o su%eito, dando-l"e umpapel de protagonista social, como *omentador da "ibridao. Esse processo,reiterando, escapa ao controle do ator. )o " uma teleologia do "ibridismo, nem arei*icao da consci!ncia de um ator que pudesse concreti(-la. + que o autor

    a*irma ' que as migraes de signos aumentam os conte6tos de produo decadeias de signi*icao "bridas # apenas como possibilidade\ & presena de $signosestrangeiros$ tamb'm pode levar # e e*etivamente leva # petri*icao das*ronteiras culturais, mediante a construo da *igura do $*orasteiro$ como o $outro$da prpria identidade dominante # os c"amados processos de othering. Em quemedida a migrao de signos produ(ir mais "ibridao ou mais adscries ' algoque o su%eito migrante, como mencionado, pode in*luenciar, mas no podecontrolar. + su%eito ' um signo na cadeia de signi*icaes.

    Em contrapartida, 7all quer ir al'm dos %ogos te6tuais da inscrio e da reinscrio,buscando construir, com base na id'ia de su%eitos descentrados, uma sociologiapoltica das negociaes culturais.

    7all busca distinguir tr!s concepes de su%eitoK o cartesiano ou do iluminismo #auto-re*erido com uma identidade autocentrada e constituda pela ra(o #, o dasociologia e o su%eito descentrado, denominado ps-moderno. + su%eito dasociologia constitui-se em suas relaes com

    M...N $outros com signi*icao$, os quais transmitem ao su%eito valores, signi*icadose smbolos # a cultura # dos mundos que elaYele "abita. M...N + su%eito continuatendo uma ess!ncia interna nuclear, qual se%a, um $eu verdadeiro$, mas *ormado emodi*icado em contnuo dilogo com mundos culturais $e6ternos$ e com asidentidades que tais mundos o*erecem ?7all, 233F, p. F@LA.

    ;. 7. Iead, C. 7. Coole< e os interacionistas simblicos seriam as *iguras centraisno desenvolvimento dessa concepo de su%eito e identidade, que se tornaramclssicas na sociologia. & concepo de su%eito descentrado decorre dedesenvolvimentos tericos diversos que produ(em, em seu con%unto, a imagem deum indivduo que no possui uma identidade permanente ou essencial. & id'ia deuma identidade completa e /nica revela-se uma *antasia ante a multiplicao dossistemas de representao a nos con*rontar com $uma *ervil"ante variedade deidentidades possveis$ ?Idem, p. F@@A. )esse conte6to, a sensao de quepossumos uma identidade uni*icada que nos acompan"a por toda a vida nos 'provida por uma $narrativa do self$, por meio da qual se ressigni*ica o con%unto denossas e6peri!ncias a partir de um *io de coer!ncia e continuidade.

    & concepo de su%eito descentrado desenvolvida por 7all pode ser entendida comoum desdobramento, na verdade um abrandamento, do pro%eto terico de oucault arespeito da subordinao dos su%eitos aos discursos. >ara c"egar sua prpria*ormulao, 7all ?233@b, pp. B2ss.A reconstri a re*le6o de oucault com o intuitode mostrar que os trabal"os mais tardios do autor indicam dois sentidos diversosdessa subordinao. + primeiro est associado ao momento de construo einstitucionali(ao, nas di*erentes 'pocas, do discurso disciplinador que, aoenquadrar, constitui os di*erentes su%eitos. &o mesmo tempo, contudo, os discursosprodu(em um $lugar para o su%eito$, na medida em que abrem espao para umposicionamento individual. +u se%a, o discurso gan"a sentido, uma ve( que ns nosposicionamos e, dessa *orma, nos tornamos su%eitos, em *ace do regime de verdadeque uma determinada *ormao discursiva estabelece. al posicionamento no se

    con*unde com autonomia e inteno do su%eito por'm, ainda assim, permite,

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    con*orme 7all, identi*icar um momento, no processo de produo do self, marcadopela autoconstituio, pela su$ectification.

    Esse momento, no mbito da produo discursiva do self, representa o *undamentoda noo de su%eito descentrado postulada por 7all. rata-se de analisar a relaoentre su%eito e *ormao discursiva, de sorte a indicar os mecanismos que levam os

    indivduos a se identi*icar ou no com determinadas posies,

    M...N bem como as maneiras como esses indivduos marcam, estili(am, produ(em edesempen"am tais posies M...N encontrando-se em constante e agonsticoprocesso de lutar contra, resistir, negociar e acomodar-se s ordens regulativas ounormativas com as quais eles esto con*rontados e que os regula ?7all, 233Je, p.2GA.

    + conceito-c"ave utili(ado por 7all para descrever o processo de posicionamento dosu%eito no interior de uma *ormao discursiva determinada ' a id'ia de articulao,analisada nos dois sentidos que a palavra possui em ingl!s, qual se%a, o de *alar, searticular, ser articulado e o de cone6o de dois elementos que podem constituiruma unidade em determinadas circunstncias, como o $camin"o articulado$, noqual cabine e carreta podem constituir uma unidade circunstancial.

    + princpio da articulao possvel, mas no necessria, pode ser observado tantono processo de constituio dos su%eitos individuais que se reposicionam,permanentemente, em *ace da *ormao discursiva, como na produo dos su%eitoscoletivos. & tare*a terica, que ainda no *oi reali(ada, ' precisamente mostrar sobquais circunstncias discursos e su%eitos se *ormam, isto ', se articulam. )esseescopo, uma teoria da articulao representa

    M...N tanto uma maneira de entender como os elementos ideolgicos c"egam, sobcertas condies, a se condensar num discurso, quanto uma maneira de questionarcomo estes se articulam ou no, em certas con%unturas, como determinadossu%eitos polticos. Em outras palavrasK a teoria da articulao questiona como umaideologia descobre seu su%eito e no como o su%eito encontra os pensamentos quel"e pertencem necessria e inevitavelmente. al teoria permite pensar como umaideologia con*ere poder s pessoas, possibilitando-l"es dar sentido ouinteligibilidade sua situao "istrica sem redu(ir as *ormas de inteligibilidade situao social ou posio de classes das pessoas ?7all, 233Jb, p. 2B2A.

    & re*er!ncia a su%eitos coletivos no deve sugerir a id'ia de grupos constitudospr'-discursivamente, a partir de condies ob%etivas, materiais e que, por assimdi(er, este%am espera de um discurso que deci*re sua condio comum e osconstitua como su%eitos. :u%eitos e discursos *ormam-se de modo simultneo, ou,em outras palavras, su%eitos s podem se articular a partir de discursos. &rticulaopermanece, contudo, para 7all, um conceito estritamente analtico-descritivo e quese aplica a qualquer *orma de relao entre su%eito e *ormao discursiva, isto ',no quali*ica a priorise determinada posio assumida pelo su%eito reprodu( asrelaes de dominao ou se tem o sentido de resigni*icar as relaes sociais.

    )o ", no trabal"o de :tuart 7all, um lugar normativo *ora do discurso ou anteriorao %ogo poltico, a partir do qual se possa valorar as posies assumidas pelosu%eito. ampouco " constantes normativas que *uncionem como medidas dea*erio daquilo que passa a ser $dese%vel$. &inda assim, ou talve( precisamentepor isso, os instrumentos analticos desenvolvidos pelo autor, quando aplicados aoestudo de conte6tos concretos, permitem no apenas descrever *enTmenos, mastamb'm conte6tuali(-los poltica e normativamente. >or isso, para avaliar se aidenti*icao buscada reprodu( as categori(aes "egemTnicas ou se articula novas

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    di*erenas, 7all recorre a categorias au6iliares que permitem, em alguma medida,valoraes no sentido poltico e normativo. estaca-se aqui conceitos como polticade representao, transcodi*icao ?trans-codingA e novas etnicidades ?ne#ethnicitiesA, construdos, sobretudo, lu( da e6peri!ncia das lutas anti-racistas na0nglaterra nas /ltimas quatro d'cadas.

    & rigor, 7all distingue dois momentos na resist!ncia cultural contra o racismo. +primeiro coincide com a *ase em que o termo lac&*oi cun"ado como re*er!nciacomum e6peri!ncia de marginali(ao e das prticas racistas dominantes na ;r-8retan"a. & estrat'gia da resist!ncia combina, nesse perodo, a luta pelo acesso aodireito de construo das prprias representaes e a contestao $damarginalidade, a qualidade estereotipi*icada e a nature(a *etic"i(ada das imagensdos negros, mediante a contraposio de um con%unto HpositivoH de imagens donegro$ ?7all, 233Jc, p. BBF ver tamb'm 233JdA. + *oco da resist!ncia ao racismo,nessa primeira *ase, ' de*inido por 7all como o campo das relaes derepresentao em oposio ao que predomina na segunda *ase e que ele c"ama depolticas de representao. Essa id'ia remete constituio discursiva do social eimplica entender representao no como uma e6presso e apresentao p/blica

    de realidades e relaes pr'-constitudas, mas como momento constitutivo dasrelaes sociais. & poltica de representaes remete, por isso, a uma intervenovoltada para in*luenciar os termos mesmos em que o social se constitui ?7all,233@b, 233@cA.

    Essa segunda *ase caracteri(a o momento em que a resist!ncia anti-racista interagecom os discursos do ps-estruturalismo, do ps-modernismo, da psicanlise e do*eminismo, observando-se o que 7all de*ine como $o *im da inoc!ncia$, ou se%a, orecon"ecimento de que a categoria lac&' uma construo poltica e cultural, $aqual no pode ser *undada num con%unto de categorias raciais *i6adas transculturalou transcendentalmente e que, por isso, no encontra qualquer amparo nanature(a$ ?7all, 233Jc, p. BBGA. + *im do su%eito centrado # lac& people# como

    uma totalidade positiva *ora o movimento anti-racista a deparar-se com a questoda di*erena e da diff!rance, nos termos tratados acima. 0sto ', se as *ormas derepresentao racistas organi(am o mundo em di*erenas binrias, *i6as eontolgicas # preto ou branco, lac& or ritish#, o anti-racismo no pode seresumir na busca pela representao positiva daquele que ' considerado, nessaspolaridades, in*erior ' preciso desmontar o prprio sistema de representaes. aadv'm a aposta na poltica de representaes, o que implica recon"ecer e assumirplenamente a "eterogeneidade e o descentramento do su%eito, buscar a diff!rancem/ltipla no interior da di*erena binria ?brancoYpretoA e recuperar as interseesentre raa, classe, g!nero e etnia. U precisamente na articulao dessas di*erenas# todas elas mveis, cambiantes, construdas no momento de sua mani*estaodiscursiva # que o su%eito da resist!ncia anti-racista se constitui como $nova

    etnicidade$.4

    &'%-(possibilidades de u%a sociologia ps-colonial

    &o buscar tradu(ir em termos sociolgicos a re*le6o ps-colonial #*undamentalmente a partir dos trabal"os de 7omi 8"ab"a # e avaliar seu impactosobre a produo terica no campo das ci!ncias sociais, IcDennan ?F55GA c"ega aum resultado ambivalente. e um lado, mostra que os estudos ps-coloniaisalve%am o calcan"ar de &quiles da sociologia de tr!s *ormas di*erentes. Em primeirolugar, deslegitimam uma certa sociologia do subdesenvolvimento, mostrando queela insiste, ainda, na representao de um $outro$ in*erior e carente de civili(ao.Em segundo, atingem a sociologia multiculturalista ou pluralista, quando mostram

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back8http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#back8
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    que a id'ia de um espao imparcial de representao de di*erenas culturais pr'-e6istentes ' implausvel. Em terceiro, recaem sobre o con%unto de disciplinas dasci!ncias sociais vinculadas ao estilo de teori(ao generali(ante, inadequado paracaptar a dinmica socialK $M...N os estudos culturais ps-coloniais, ao sublin"ar aHper*ormatividadeH e a HliminalidadeH mais do que o posicionamento estrutural e asavaliaes racionais, o*erecem uma discusso mais ampla e um sentido mais

    inclusivo da rique(a da e6peri!ncia social do que a sociologia$ ?Idem, p. 4FA. &omesmo tempo, contudo, IcDennan mostra que a teoria ps-colonial, caso ten"aalguma pretenso analtica, ser prisioneira do mesmo dilema imposto sociologia.&*inal, teori(ar implica, em algum momento, redu(ir a e6peri!ncia s prioridades es categorias conceituais do marco analtico escol"ido.

    ;ostaria de propor uma apro6imao entre os estudos ps-coloniais e as ci!nciassociais um pouco distinta daquela que *a( IcDennan. estringirei min"asobservaes ao campo da sociologia, dei6ando ao leitor que ten"a maior domniodas respectivas reas de estudo a tare*a de re*letir sobre as relaes entre a teoriaps-colonial e os demais campos das ci!ncias sociais, sobretudo a antropologia e aci!ncia poltica.

    &ntes de tudo " que se abandonar a postura reativa e de*ensiva *reqZentementeassumida pela sociologia e tomar a radicalidade do discurso ps-colonial,antigenerali(ante, anti-estalishmente $ameaador$ do modernismo sociolgicono em seus termos, mas como estrat'gia per*ormtica de construo de novosespaos institucionais. 0nteressa atravessar a bruma retrica, de sorte a identi*icarquais so, e*etivamente, os impulsos novos que os estudos ps-coloniais podemtra(er para a sociologia. )o ' o caso, aqui, portanto, de con*rontar $estilostericos$ ou epistemologias, mas de destacar alguns pontos de tangenciamento epossibilidades de traduo. >ara tanto, retomo o roteiro de apresentao dasalternativas epistemolgicas ps-coloniais, a partir dos tr!s momentos destacadosanteriormente, quais se%am, a crtica leitura teleolgica da "istria moderna, a

    busca de um lugar "brido de enunciao e, por *im, a $articulao$ do su%eitodescentrado.

    & sociologia ', sem d/vida, vulnervel crtica ps-colonial da viso teleolgica damoderni(ao. )o obstante, parece-me que o alvo particular dessa crtica no ' asociologia, como tal, mas um ramo particular dessa disciplina # a macrossociologiada moderni(ao. +ra, a crtica teoria da moderni(ao, escola de pensamentoque vive sua *ase urea nos Estados 1nidos, nos anos de 23L5 e 23J5, remontapelo menos ao *inal da d'cada de 23J5, quando atacava-se, precisamente, ocarter etnoc!ntrico, endogenista de tal corrente e a suposio de que da$moderni(ao$ da economia decorreria, automaticamente, trans*ormaes emoutras es*eras, como a democrati(ao da poltica e a seculari(ao cultural ?Qn^bl,

    F552A.

    >ro%etada sobre a discusso em torno da teoria da moderni(ao, a crtica ps-colonial gen'rica teleologia moderni(ante das ci!ncias "umanas e da sociologia,em particular, pode ser mais bem *ocali(ada e perde parte de sua contund!ncia.>ercebe-se que ela, ainda que permanea %usti*icada e importante, trata deproblemas que di(em respeito mais diretamente a uma corrente terica particular ere*ere-se a insu*ici!ncias que, dentro da prpria sociologia, % *oram " muitoidenti*icadas e contornadas de alguma maneira. )esse sentido, concepes comoentangled modernit'no iluminam uma (ona de sombra da sociologia, nem so,por assim di(er, *ormuladas a partir de uma posio e6terna e imune ao $regime deverdade$ da sociologia. & despeito da radicalidade retrica, concorrem, dentro da

    prpria sociologia, com categorias macrossociolgicas voltadas para uma descriono evolucionista da moderni(ao e esto submetidas aos crit'rios de validaoprprios disciplina. +u se%a, na medida em que pleiteiam alguma *orma de

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    ressonncia acad!mica, os estudos ps-coloniais no t!m como se *urtar aoapro*undamento da interlocuo com marcos que disputam o mesmo terrenoterico, abandonando, assim, a postura anti-estalishment.

    Essa tare*a permanece ainda irreali(ada. Com e*eito, at' o momento, o interesseps-colonial pelas contribuies que, no campo da prpria sociologia, buscam

    superar o marco macrossociolgico da teoria da moderni(ao, como ' o caso deautores como :. &min ?2343A, 0. Sallerstein ?233@A ou ;. "erborn ?233L, F555A,no passou de descarte sumrio, numa ou noutra re*er!ncia marginal ?>ieterse,233L Conrad e anderia, F55F para uma crtica um pouco mais circunstanciada,ver IcDennan, F555A.

    + segundo momento da crtica ps-colonial descrito acima trata da busca de umlugar de enunciao "brido, vale di(er, no entremeio das *ronteiras culturais. &id'ia de um terceiro espao, acima e al'm das *ronteiras culturais, ainda que possaser construda como um instante no te6to literrio ?8"ab"a o*erece e6emplosdiversos nessa direoA, parece-me desprovida de qualquer relevncia sociolgica.+u se%a, no ", na topogra*ia social, terceiros lugares todos os lugares

    enunciatrios de*inem imediatamente *ronteiras. )esse sentido, o elogio do "brido', como o nacionalismo, o vanguardismo ou o nativismo, um discurso que, ao serenunciado, *unda novas *ronteiras identitrias. Esse discurso pode ter, emdeterminadas circunstncias polticas e "istricas, um e*eito de mostrar o cartercontingente das unidades culturais construdas # a nao, a etnia, o movimentosocial. 0sso, contudo, no ' inerente nature(a mesma do discurso sobre o"ibridismo, mas s articulaes que tal discurso permite ou *omenta sob condiesespec*icasK o mesmo elogio do "brido, que permite a uma elite de imigrantescultivados na 0nglaterra construir sua tribuna para criticar a arrogncia da(nglishnessou para desconstruir a pretenso de unidade e pure(a do $povoalemo$ ?7a, 2333A, pode servir, como *oi o caso no 8rasil dos anos de 23B5, decimento da ideologia da mestiagem, nacionalista, "omogenei(adora e

    "etero*bica.

    Como categoria analtica e, mais especi*icamente, como categoriamacrossociolgica de estudo da globali(ao, o conceito de "ibridismo ' igualmenteinadequado, uma ve( que sempre ' reposto, num movimento circular, comosinTnimo dos processos que pretendia e6plicar.

    >ode-se concluir que o termo "ibridismo no apresenta qualquer interesse para asociologia. Esta pode investigar o "ibridismo como discurso dos atores, na medidaem que tal discurso, sob determinadas circunstncias, introdu( a d/vida ondepairam certe(as essencialistas e empo#ersminorias culturais. Como categorianormativa ou analtica, contudo, a in'pcia do conceito salta aos ol"os.

    Cabe, por *im, retomar a importncia da contribuio ps-colonial para a discussoentre su%eito e di*erena ou, mais precisamente, para *undamentar umamicrossociologia das articulaes culturais. Como procurei mostrar, os estudos ps-coloniais t!m aqui uma importncia terica que vai al'm de reas de pesquisaparticulares, como os estudos de minorias nacionais, as relaes 'tnicas ou oracismo. Com e*eito, naquele *raseamento, despido do $e6cesso retrico do ps-estruturalismo literrio$ ?;ilro

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    Constrem, assim, um marco analtico que permite ao mesmo estudar a relaoentre su%eito e discurso e identi*icar o espao de criatividade do su%eito. Essacontribuio dos estudos ps-coloniais permanece mpar e, seguramente, a%uda asci!ncias sociais a, *inalmente, reencontrar seu vigor criativo.

    )ibliogra*ia

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    B&inda que sua alternativa ao eurocentrismo, apoiada na teologia da libertao eno mar6ismo, o distinga dos autores ps-coloniais, o telogo Enrique ussel vemprodu(indo, na &m'rica Datina, um tipo de crtica que se identi*ica com aperspectiva ps-colonial. Con*orme o telogo, a modernidade cont'm um n/cleo adintraracional que ' universalista e cosmopolita.*d e,traalimenta umarepresentao mstica de si mesmo que ele resume em sete elementos

    constitutivos, a saberK 2A a civili(ao moderna autode*ine-se como superior FA asuperioridade obriga a desenvolver os rudes, como e6ig!ncia moral GA o camin"ode tal processo educativo deve seguir o camin"o europeu BA como o brbaro seope ao processo civili(ador, deve-se recorrer viol!ncia, se tal *or necessria paragarantir a moderni(ao LA a empreitada e6ige vtimas e, como num ritual desacri*cio, o "eri moderni(ador investe suas vtimas da aura de participantes de umprocesso redentor JA $para o moderno, o brbaro tem uma HculpaH ?o opor-se aoprocesso civili(adorA que permite HIodernidadeH apresentar-se no s comoinocente seno tamb'm como HemancipadoraH da culpa de suas prprias vtimas$@A o carter civili(ador da modernidade impe custos inevitveis aos povos$atrasados$ ?ussel, F555, p. @5A. + vigor da crtica ao eurocentrismo *eita porussel pode ser avaliado no mbito das pol!micas entre o telogo e a 'tica

    discursiva de 7abermas e &pel, o ps-modernismo de Oattimo e o comunitarismode a

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    deslocamento # pelo menos potencial # das *ronteiras culturais centradas nosEstados nacionais. 0sso no signi*ica, naturalmente, que todas as novas identidadesreivindicadas ten"am o carter da nova etnicidade, de*inida pelo recon"ecimento daprpria transitoriedade, conting!ncia e "eterogeneidade. & vulnerabili(ao das*ronteiras culturais produ(, igualmente, movimentos de reivindicao de identidadespuras, estabili(adas pela de*inio de uma *ronteira simblica $nsYeles$ e pelo

    o*uscamento de todos os demais ei6os di*erenciadores ?7all, 233F, pp. G53ss.233@dA.

    3ratando dos estudos culturais em con*er!ncia de 2335, 7all ?F555, p. BFAevidencia que sua postura no ', naturalmente, de desapreo pela teoria. rata-se,segundo ele, de buscar conviver com a tenso irredutvel entre teoria e polticaK$)o se trata de uma antiteoria, mas das condies e dos problemas para odesenvolvimento de um trabal"o terico como pro%eto poltico$.

    &rtigo recebido em abrilYF55L&provado em &gostoYF55L

    Srgio Costa, doutor em sociologia pela reie 1niversitat 8erlin, &leman"a, 'pro*essor livre-docente de sociologia pela 1niversidade Divre de 8erlim epesquisador do Centro 8rasileiro de &nlise e >lane%amento ?CebrapA. >ublicou maisde B5 artigos em peridicos e coletneas em vrios pases. Entre seus livrosdestacam-seK*s cores de (rcilia, ?8elo 7ori(onte, Editora da 1I;, F55FA%imensionen der %emo&ratisierung?ran=*urtYI, Oervuert, 233@A,0enseits von=entrum und eripherie, ?Iering, 7ampp, F55LA, coeditado com 7. 8run="orst. E-mailK scostaf(edat.*uberlin. de.

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#top9mailto:[email protected]://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext#top9mailto:[email protected]