ser polônico-braspolino - visões e percepções da polônia

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Este artigo traz algumas visões e percepções sobre a Polônia, visitada em setembro de 2011 por um grupo de brasileiros braspolinos, que através de um intercâmbio da Braspol² com a Wspólnota Polska³ lá estiveram com a finalidade de estudar um pouco mais sobre o idioma polonês, sobre a arte e cultura polonesa, além da visitação à alguns pontos históricos e turísticos da Polônia. Uma sinópse de como foi percebida a Polônia hoje, dentro de uma contextualização histórica. Uma breve reflexão em ser polônico e militar na Braspol.

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Page 1: Ser Polônico-Braspolino - Visões e Percepções da Polônia

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BRASPOL – REPRESENTAÇÃO CENTRAL DA

COMUNIDADE BRASILEIRA POLONESA

NÚCLEO DE SANTA BÁRBARA- PALMEIRA - PR.

Fundado em 23 de setembro de 1993

SER POLÔNICO-BRASPOLINO

Visões e percepções da Polônia

Vera Lúcia de Oliveira Mayer ¹

RESUMO - Este artigo traz algumas visões e percepções sobre a Polônia, visitada em

setembro de 2011 por um grupo de brasileiros braspolinos, que através de um intercâmbio

da Braspol² com a Wspólnota Polska³ lá estiveram com a finalidade de estudar um pouco

mais sobre o idioma polonês, sobre a arte e cultura polonesa, além da visitação à alguns

pontos históricos e turísticos da Polônia. Uma sinópse de como foi percebida a Polônia hoje,

dentro de uma contextualização histórica. Uma breve reflexão em ser polônico e militar na

Braspol.

Palavras-chave: Polônia; Braspol; Braspolinos; Polônicos.

ABSTRACT - This article aims to bring some views and perceptions of Poland, visited in

September 2011 by a group of Brazilians braspolinos that through an exchange of Braspol

with Wspólnota Polska were there for the purpose of studying a little more about the Polish

language, on the Polish art and culture, as well as visits to some historical sites and tourism

in Poland. A synopsis of how it was perceived in Poland today, within a historical context. A

moment's thought to be military in Poland and Braspol

Keyword: Poland, Braspol, Braspolinos; Polish

______________________

¹ Secretária de Cultura do Núcleo da Braspol de Santa Bárbara – Palmeira – Paraná. Esteve na

Polônia em setembro de 2011.

² Representação Central da comunidade Brasileiro-Polonesa no Brasil. Tem sede em Curitiba Pr e

inúmeros núcleos em vários estados do Brasil.

³ Wspólnota Polska. É uma associação da comunidade polonesa, não governamental e de

organização pública, operando com a captação de recursos junto ao Senado Polonês, dedicada a

fortalecer os laços entre a Polônia e as pessoas de origem polonesa que vivem no exterior.

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Desde a minha infância alimentava o sonho em conhecer a terra dos antepassados

poloneses, pertenço às famílias Hoinastki e Przybysewski.

A esperança se frutificou quando da criação do núcleo da Braspol ² em Palmeira nos

anos 90. Dado ainda o envolvimento com as questões culturais do município a partir de

2001, onde militamos com paixão pelas questões étnicas polonesas, resgatando

historicamente um pouco da sua trajetória no Município de Palmeira.

Concentramos nossa pesquisa na localidade de Santa Bárbara, zona rural, território

que abrigou a maior leva de imigrantes nos idos anos de 1890 na região. Cerca de 500

pessoas. Trabalho este que resultou em nossa obra: “Os imigrantes poloneses, seus

descendentes... algumas histórias”, publicado em 2006, e que se constituiu em referência

bibliográfica de significativa importância para demais pesquisadores em nossa região, com

alguns desdobramentos positivos, como incentivo à escritura de histórias de famílias.

Já há algum tempo a Braspol Nacional mantém intercâmbio com a Wspólnota

Polska³ a qual possibilita a estadia de brasileiros descendentes ou que mantém laços

culturais com a etnia, cuja finalidade está na troca de experiências e estudos das

comunidades braspolinas e entidades polonesas que desejam resgatar a unidade e a

valorização da polenidade em vários segmentos, dentro e fora do território Polonês.

Destarte, dedicados membros da Braspol têm concretizado a realização de uma

experiência concreta que proporciona estar de corpo e alma em contato com o povo polonês.

Aqui em especial, não poderíamos deixar de mencionar o nome dos amigos André

Hamerski, Rizio Wachowicz, Maria de Lourdes Kuchenny e Geraldo Zapalowski que já

viabilizaram a ida de várias pessoas para a Polônia proporcionando a maravilhosa

experiência em estar no território polonês, para um aperfeiçoamento do idioma, história da

arte, costumes e tradições.

Em setembro, próximo passado, eu e mais 26 braspolinos entre paranaenses e

riograndenses pudemos estar durante 17 dias na Polônia.

Foram dias que com certeza jamais se apagarão de nossa memória, pois o que lá

vivenciamos foram momentos indescritíveis que as nossas registradoras fotográficas não

puderam alcançar.

Proponho-me aqui relatar alguns aspectos do que pudemos perceber mais

pontualmente.

Uma coisa é ouvir os relatos dos que vieram, ou dos que recentemente estiveram, ou

então estudar os conteúdos que os livros didáticos nos apresentam sobre a história da

Polônia, oriunda de uma visão da Europa Ocidental. Outra coisa é estar na Polônia,

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conhecer e sentir de perto o que se passou nas entrelinhas da história, a história vivida e

concebida pelos indivíduos anônimos perante a historiografia.

A Polônia se sustenta hoje em grandes pilares como: A família, a religiosidade, a

escola e o patriotismo, o resto se engaja ou se ampara nisto. Difícil é não fazer comparações

com a nossa realidade.

Foi fácil perceber que pouco difere conversar com o motorista do ônibus, com a

camareira do hotel, com os professores, com guias de turismo ou com membros da

Wspólnota Polska. Todos, indistintamente têm o mesmo discurso, os mesmos sentimentos,

que em linhas gerais nos causaram a mesma versão da história geral, e ainda mais sobre as

peculiaridades regionais.

Discorrem naturalmente e sem amparo historiográfico sobre a consolidação da

Polônia como nação e os efeitos do imperialismo europeu. Os sentimentos nacionalistas que

resistiram ao domínio e a xenofobia do império Austro Húngaro aos povos eslavos. Período

em que o idioma e a religião foram mantidos e preservados em casa, daí o grande e

importante papel da família, católicos por excelência, não dispersaram a fé e se mantiveram

unidos também pela religiosidade. Do curto período de independência, dos heróis nacionais,

dos conflitos e horrores das guerras do século XX. Descrevem com minúcias a ocupação,

perseguição e humilhação imposta pelo e nazismo diante da nação Polonesa, isso retratado

no memorial em Auschwitz e Birkenau.

O povo polonês, como se não bastasse, viveu mais de 40 anos à mercê do

comunismo soviético, envoltos na “cortina de ferro” sob os mandos e desmandos do exército

vermelho. - Isto posto, para dizer que o povo polonês conhece a sua história, dialoga e

reflete com ela.

O que mais pode nos surpreender é que em tão pouco tempo da histórica derrubada

do muro de Berlin em 1989, e de lá distam apenas 22 anos, como o Estado e o povo Polonês

se reestruturou rumo à democracia, tomada no seu principio básico que emana “do povo,

pelo povo e para o povo”.

Uma Polônia hoje inserida no mundo, como uma Nação soberana e respeitada

principalmente pela sua cultura, pois se trata de uma cultura que as pessoas não querem

esconder, muito pelo contrário, se orgulham dela, querem preservar e mostrar para o mundo

toda a singularidade polônica, seja pelas artes, pela música, pela gastronomia ou pela

religião.

Deparamos-nos com um concerto de Chopin ao ar livre em plena praça pública em

Varsóvia, com a música de raiz e o artesanato regional em Zakopane, com museus e galerias

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de arte por todas as cidades visitadas. Com estudantes e estudiosos dedicados a inúmeras

áreas do conhecimento nas cosmopolitas cidades de Rzeszów e Cracóvia.

Foi fácil notar que a gênese da estrutura educacional na Polônia está, em primeiro

lugar na família, na Igreja e depois no espaço escolar. Assim, as crianças e os adolescentes

levam de casa e da convivência religiosa os princípios básicos de educação. Nas escolas

aprendem-se as disciplinas escolares propriamente ditas. Escovar os dentes, o respeito às

leis, por exemplo, são fatores que não preocupam e não se ocupam os professores. Não se

percebeu ações de vandalismo e muito menos depredação do patrimônio público, infrações

de transito e uma consciência de preservação ambiental invejável. Rios não poluídos,

cidades limpas e arborizadas, lindos jardins e um colorido que nos encantaram os olhos e

despertaram inundadas emoções.

As metas da Wspólnota Polska e tantas outras entidades polonesas em dispensar

investimentos na educação da juventude, são dignas de elogios e altas considerações. Pois

entender que é nos jovens que se depositam as perspectivas dos bons caminhos traçados para

o futuro, interna e externamente, é uma ação que também temos a refletir e principalmente

aderir. Conscientizar e educar os jovens é meta a ser adotada por todos, com o intuito de que

eles ajudem a cuidar do mundo, hoje imersos no universo do neoliberalismo, fruto de um

capitalismo selvagem que invade e destrói os princípios de família, de religião de sociedade

solidária, pois desencadeia o consumismo exagerado, o individualismo e o lucro

indiscriminado.

No âmbito da gastronomia, tivemos a oportunidade de conferir que a alimentação do

povo polonês se baseia nos princípios da nutrição, cardápios combinados caloricamente,

uma educação alimentar sadia, abundante, saborosa e rica na sua apresentação.

Nossos antepassados tanto recomendaram como viveram uma intensa relação com o

sagrado dentro da igreja católica, pois isso ainda é vivo e perene na Polônia. Uma Polônia

que na contemporaneidade viu em João Paulo II um aliado forte, não apenas na questão

dogmática do catolicismo, mas como sábio estadista que muito contribuiu, interagiu e reagiu

diante da Perestroika4 pretendida pelo comunismo, esteve a favor dos Poloneses. Apoiou a

ascensão do “Solidariedade” respaldando o movimento e seu líder Lech Walesa5 a inaugurar

uma nova fase na história cujos desdobramentos atingiram todo leste europeu.

___________________

4Perestroika: Termo que em russo significa reconstrução ou reestruturação. Uma das políticas

introduzidas na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas por Mikhail Gorbachev, em 1985,

recebeu a conotação de abertura econômica. 5

É um político polonês e ativista dos Direitos Humanos. Foi um dos fundadores do sindicato

Solidarność (Solidariedade) Agraciado com o Nobel da Paz de 1983 e o primeiro presidente da

Polônia após a derrocada do comunismo. 1990/1995.

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E porque não reconhecer que aí, o mundo viu um elemento fundamental para a queda

do comunismo soviético.

João Paulo II tornou-se um mito icônico, pois representa para os poloneses e para os

católicos do mundo todo, a vanguarda da fé católica no mundo hoje. Conscientes disso os

poloneses ostentam sua imagem em todos os logradouros, sejam eles nos templos ou nos

espaços públicos e privados, disseminam a importância deste polonês no rol da história da

humanidade que se perpetua como mais um herói polonês, que defendeu seu povo.

O que pode nos servir como lição: é que devemos mais do que nunca, assumir nossa

identidade como polônicos, refletir e praticar a polenidade em nossas comunidades,

braspolinas ou não, disseminar com convicção a positividade de uma nação que se supera

pela fé, pelo trabalho e principalmente pela esperança de um mundo melhor.

Estar na Polônia significa poder desfrutar da hospitalidade de sua gente, de

vislumbra-se com sua paisagem, urbana e rural, ímpar em todos os lugares. De provar e

comprovar da sua vasta e farta gastronomia e ainda em se deparar com uma natureza

exuberante, um patrimônio histórico edificado totalmente conservado, um turismo

organizado, estruturado pensado para os visitantes.

Retornar da Polônia é poder disseminar a singularidade de um povo do qual

descendemos, com mais propriedade e discernimento.

Daí a militância como braspolinos não mais só como compromisso, mas como honra

e principalmente com muito prazer.

Bardzo dziękuję - Muito obrigado.

Texto apresentado nas comunicações da 3ª Vitrine Literária dos escritores polônicos.

Porto Alegre em 3 de dezembro de 2011.