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1 Arquivo Público do Estado de São Paulo Sequência Didática Autoritarismo, democracia e anistia São Paulo 2013

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Arquivo Público do Estado de São Paulo

Sequência Didática

Autoritarismo, democracia e anistia

São Paulo

2013

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“O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula”

Bruna Luquini Moreira

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Curso: História – 7º semestre

Sequência Didática

Eixo temático: Cidadania

Componente curricular: Regime militar brasileiro (1964 – 1985)

Tema: Autoritarismo, democracia e anistia

Ano: 3º ano do Ensino Médio

Justificativa

A discussão sobre a Lei de Anistia nos faz relembrar um período da história do

Brasil, onde foi instaurado um regime autoritário que suspendeu os direitos políticos

de todos os cidadãos. É preciso pensar sobre o processo de redemocratização do

país como uma conquista de diferentes grupos sociais, refletindo sobre o significado

do termo anistia para cada um dos grupos envolvidos e sobre o processo de

reconstrução da cidadania, através de documentos oficiais que registram o período.

Objetivos gerais

Esta sequência didática com o tema Autoritarismo, democracia e anistia tem

como objetivo fazer com que o aluno seja capaz de estabelecer relações entre

manifestações político-culturais e a política no contexto das tensões sociais e

políticas do período militar. O aluno será capaz de analisar os processos de

resistência da história no Brasil contemporâneo, que resultaram na reconstrução da

democracia brasileira.

Objetivos específicos

- Observar as características de um governo militarizado, marcado pelo

autoritarismo, censura e tortura aos opositores;

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- Analisar o Ato Institucional nº 5 (AI-5) como uma medida de exceção que

visava torturar, exterminar, banir ou exilar líderes políticos e sociais. Caracterizar as

ondas de protestos que ocorreram com o adventoAI-5, que incluem passeatas e

ações armadas, bem como a produção cultural da época;

- Analisar as diferentes interpretações da Lei de Anistia de 1979: impunidade e

esquecimento, liberdade e reparação ou verdade e justiça? A anistia ampla, geral e

irrestrita.

Desenvolvimento da atividade

Parte I (aulas 1 e 2) – Analisar os instrumentos de repressão do regime militar.

Observar os diferentes testemunhos históricos sobre casos de tortura e repressão,

como por exemplo, o caso do militante do MR-8 Stuart Angel Jones, o jornalista

Vladimir Herzog (anexo I) e os presos políticos do Hércules 56.

Estratégia: Aula expositiva sobre o caso do militante Stuart Angel Jones e a luta de

sua mãe Zuzu Angel para trazer à tona a verdade sobre a morte de seu filho. Aula

expositiva sobre o caso do jornalista Vladimir Herzog, analisando a foto tirada após

ser assassinado no DOI-CODI e o laudo da causa da morte (indicação do site

http://www.vladimirherzog.orgpara entender a missão do instituto Vladimir Herzog

na busca do direito à justiça e à verdade).

Após a exposição, os alunos discutirãotrechos do documentário “Hércules 56”

(disponível na íntegra no youtube) do diretor Silvio Da-Rin, analisando e anotando

no caderno os seguintes pontos:

• Qual foi a sequência dos acontecimentos que culminaram na libertação dos

presos políticos do avião Hércules 56?

• Quais foram as principais exigências descritas no manifesto dos militantes

que sequestraram o embaixador dos Estados Unidos?

• De acordo com o depoimento dos militantes, por que a leitura do manifesto

em rede nacional foi tão importante?

• Para que essa atividade aconteça, os alunos precisam ter

previamente assistido ao documentário inteiro, o que seria

solicitado com antecedência.

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A atividade valerá 1,5 ponto

Parte II (aula 3 e 4) – Observar os diferentes protestos que ocorrem a partir do AI-5,

como por exemplo, a “Passeata dos Cem Mil”, identificando através das fotografias

contidas no livro “1968 Destinos 2008: A passeata dos 100 Mil” do fotógrafo Evandro

Teixeira (anexo II). Analisar algumas músicas de protesto produzidas no período da

ditadura militar, levando em conta a importância dessas músicas na composição do

pensamento crítico do povo brasileiro.

Estratégia: Apresentação em Power Point de algumas imagens contidas no livro de

Evandro Teixeira com anotação no caderno dos seguintes pontos:

• Personalidades encontradas nas fotos: músicos, políticos, escritores,

estudantes e atores;

• Dizeres escritos nas faixas de protesto;

• Postura e gestos das pessoas identificadas nas fotografias.

Ler e interpretar as músicas Cálice (anexo III) e Angélica (anexo IV) (relembrar o

caso do estudante Stuart Angel Jones) do cantor e compositor Chico Buarque,

baseando-se nos seguintes pontos:

• Contexto histórico da produção

• Alguma música se relaciona com algum fato já estudado? Qual?

• Qual a importância da liberdade de expressão para o indivíduo?

A atividade valerá 2,0 pontos

Parte III (aulas 5 e 6)–Contexto de abertura política do governo de João Figueiredo.

Entender o processo de redemocratização como um esforço de grupos sociais,

representações políticas e pressões de diversos setores. O processo sendo como

uma conquista da sociedade. A anistia ampla, geral e irrestrita (anexo V:POUCO

ampla. Nada geral. Muito restrita. Movimento. São Paulo, 12 ago. 1979, p.23.

Apesp.).

Estratégia: Analisar os diferentes entendimentos sobre a Lei de Anistia de 1979 e

sua abrangência bilateral:

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• Liberdade e reparação: para os militantes que resistiram ao regime ditatorial e

acabaram presos, exilados ou banidos do país. A anistia enquanto liberdade,

necessária para que essas pessoas pudessem voltar ao Brasil bem como os

presos políticos saírem do cárcere; (anexo VI:HOJE, presos políticos do Rio

iniciam greve de fome. Folha de São Paulo. São Paulo, 22 jul. 1979, p.7.

Apesp, 30/0209 e PROIBIDAS visitas a prédio de SP. Folha de São Paulo.

São Paulo, 19 ago. 1979, p. 5. Apesp, 30/0211.);

• Impunidade e esquecimento: para os defensores do regime ditatorial, que

cometeram inúmeros crimes contra os cidadãos. Devemos levar em conta o

contexto da criação da Lei de Anistia, que foi parcial, num momento em que a

liberdade e a representação do Congresso era restrita, inexistindo igualdade

para com os sujeitos envolvidos. Não podemos analisar historicamente como

um acordo social (anexo VII: MILITARES conservadores acham anistia

prematura. Folha de São Paulo. São Paulo, 8 jul. 1979, p.7. Apesp, 30/0208

e O PODER se perdoa. Movimento. São Paulo, 2 a 7 jul. 1979, pp. 5 e 6.

Apesp)

• Verdade e justiça: Promover um debate sobre o tema na atualidade e pensar

a anistia com uma forma de exercer a justiça e trazer a tona os crimes que

ocorreram no período estudado. (anexo VIII: Movimento. São Paulo, 17 jun.

1979, p.24. Apesp)

A atividade valerá 3,5 pontos

Obs.: Todos os documentos serão apresentados em powerpoint.

Avaliação

A avaliação da atividade partirá do princípio de que todos os alunos possuem

nota 10. Será feita de modo contínuo, verificando a participação dos alunos e de

seus registros em caderno e, cada atividade que o aluno não cumprir ou não

participar, serão retirados pontos de sua média. Após a sistematização de todas as

informações anotadas durante as aulas, o aluno irá produzir um texto final (valendo

3 pontos) relacionando os principais assuntos abordados na sequência didática

proposta.

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Anexo I

Foto de Vladimir Herzog após ser assassinado nas dependências do Doi-Codi

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Anexo II

Fotografias retiradas do livro 1968 Destinos 2008: A passeata dos 100 mil

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Anexo III

Cálice (Gilberto Gil – Chico Buarque) – http://www.chicobuarque.com.br

Ano 1973

Pai, afasta de mim esse cálice(ambiguidade: cale-se)

Pai, afasta de mim esse cálice

Pai, afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga

Tragar a dor, engolir a labuta

Mesmo calada a boca, resta o peito(Não adianta querer o silêncio porque não

Silêncio na cidade não se escutahá silêncio, não há censura. Mesmo existindo

De que me vale ser filho da santaa censura, ainda resta a cuca.)

Melhor seria ser filho da outra

Outra realidade menos morta

Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado

Se na calada da noite eu me dano

Quero lançar um grito desumano(A desumanidade é o que predominava no

Que é uma maneira de ser escutadomomento.)

Esse silêncio todo me atordoa

Atordoado eu permaneço atento

Na arquibancada pra a qualquer momento

Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda

De muito usada a faca já não corta

Como é difícil, pai, abrir a porta

Essa palavra presa na garganta

Esse pileque homérico no mundo

De que adianta ter boa vontade

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Mesmo calado o peito, resta a cuca

Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno

Nem seja a vida um fato consumado

Quero inventar o meu próprio pecado

Quero morrer do meu próprio veneno

Quero perder de vez tua cabeça

Minha cabeça perder teu juízo

Quero cheirar fumaça de óleo diesel

Me embriagar até que alguém me esqueça

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Anexo IV

Angélica (Miltinho – Chico Buarque) – http://www.chicobuarque.com.br

Ano 1977

Quem é essa mulher(Zuzu Angel)

Que canta sempre esse estribilho

Só queria embalar meu filho

Que mora na escuridão do mar

Quem é essa mulher

Que canta sempre esse lamento

Só queria lembrar o tormento(Viveu em busca do direito à verdade sobre o caso

Que fez o meu filho suspirarda morte de seu filho.)

Quem é essa mulher

Que canta sempre o mesmo arranjo

Só queria agasalhar meu anjo

E deixar seu corpo descansar(Ela buscava a localização do corpo de seu filho,

que foi preso e morto em 1971 no Centro de Informações de Segurança da

Aeronáutica.)

Quem é essa mulher

Que canta como dobra um sino

Queria cantar por meu menino

Que ele já não pode mais cantar

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Cartas de Zuzu Angel para Chico Buarque, de 1973 e 1975, um ano antes de sua

morte

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Anexo V

POUCO ampla. Nada geral. Muito restrita. Movimento. São Paulo, 12 ago. 1979,

p.23. Apesp.

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Anexo VI

HOJE, presos políticos do Rio iniciam greve de fome. Folha de São Paulo. São Paulo, 22 jul. 1979, p.7. Apesp, 30/0209.

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PROIBIDAS visitas a prédio de SP. Folha de São Paulo. São Paulo, 19 ago. 1979, p. 5. Apesp, 30/0211.

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Anexo VII

MILITARES conservadores acham anistia prematura. Folha de São Paulo. São Paulo, 8 jul. 1979, p.7. Apesp, 30/0208.

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O PODER se perdoa. Movimento. São Paulo, 2 a 7 jul. 1979, pp. 5 e 6. Apesp.

Anexo VIII

Movimento. São Paulo, 17 jun. 1979, p.24. Apesp.