sentença que condenou maurílio arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais VARA DA COMARCA DE JANUÁRIA Autos 0352.09.057259-0 SENTENÇA Vistos etc. Trata-se de ação civi1 púb1ica por ato de improbidade administrativa, proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, em face de MAURÍLIO NÉRIS DE ANDRADE ARRUDA Alega o autor, em sintese: a) nos meses de janeiro e fevereiro de 2009, o réu, então Prefeito Municipal de Januária, fez publicar e circular plea cidade os Informativos Municipais de Januária 01 e 02, cada um com tiragem de 2. 000 (dois mil) exemplares, o que se trata de órgão oficial da municipalidade; b) os informativos serviram para explorar a imagem do então alcaide, caracterizando nítida promoção pessoal do réu, tanto que a edição de janeiro contém 18 (dezoito) fotos com imagens do mesmo, além de seu nome ser citado, nas reportagens, por 35 (trinta e cinco) vezes, ao passo que o termo "Prefeito" aparece em 20 (vinte) oportunidades; c) a edição do mês de fevereiro, por sua vez, contém 21 (vinte e uma) fotografias do Prefeito, o nome "Arruda" aparece 36 (trinta e seis) vezes e a expressão "Prefeito" é citada 21 (vinte e uma) vezes; d) a utilização dos informativos deu-se de maneira abusiva e com o nítido intento de explorar a imagem do j!'ntão Prefeito Municipal, ora i réu, cuja qualidade pessoal é ,/enaltecida, o que demonstra a clara intenção de vincular .á/ atividade administrativa à sua ·' do réu todas as ações governo '-._. / ' --.,,.· ou vice-versa,\ o que são descritas como ações pessoa; e) viola o princípio da i / I ( .. /'/; Autos 0352.09.057259c0 1

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Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

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Page 1: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

lª VARA DA COMARCA DE JANUÁRIA

Autos nº 0352.09.057259-0

SENTENÇA

Vistos etc.

Trata-se de ação civi1 púb1ica por ato de

improbidade administrativa, proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO

DO ESTADO DE MINAS GERAIS, em face de MAURÍLIO NÉRIS DE

ANDRADE ARRUDA

Alega o autor, em sintese: a) nos meses de

janeiro e fevereiro de 2009, o réu, então Prefeito Municipal

de Januária, fez publicar e circular plea cidade os

Informativos Municipais de Januária nº 01 e 02, cada um com

tiragem de 2. 000 (dois mil) exemplares, o que se trata de

órgão oficial da municipalidade; b) os informativos serviram

para explorar a imagem do então alcaide, caracterizando

nítida promoção pessoal do réu, tanto que a edição de janeiro

contém 18 (dezoito) fotos com imagens do mesmo, além de seu

nome ser citado, nas reportagens, por 35 (trinta e cinco)

vezes, ao passo que o termo "Prefeito" aparece em 20 (vinte)

oportunidades; c) a edição do mês de fevereiro, por sua vez,

contém 21 (vinte e uma) fotografias do Prefeito, o nome

"Arruda" aparece 36 (trinta e seis) vezes e a expressão

"Prefeito" é citada 21 (vinte e uma) vezes; d) a utilização

dos informativos deu-se de maneira abusiva e com o nítido

intento de explorar a imagem do j!'ntão Prefeito Municipal, ora i

réu, cuja qualidade pessoal é ,/enaltecida, o que demonstra a

clara intenção de vincular .á/ atividade administrativa à sua ·'

do réu

todas as ações /Í~ governo '-._. /

' --.,,.· ou vice-versa,\ o que

são descritas como ações pessoa; e)

viola o princípio da i

/ I ( .. /'/; Autos nº 0352.09.057259c0 1

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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

impessoalidade e o disposto no art. 37, §1 º, da CRFB; f)

desta forma, o

administrativa, haja

réu praticou ato

vista a violação

de

aos

improbidade

principias

constitucionais da administração pública, sendo irrelevante a

ocorrência de dano ao erário. Requer a procedência dos

pedidos, para condenar o réu nas penas do art. 12, inciso I,

da Lei 8. 429/1992. Com a inicial de fls. 02/23, vieram os

documentos de fls. 24/61.

Notificado (fls. 87/V), o réu apresentou

resposta preliminar (fls. 88/112), alegando, preliminarmente:

a) inadequação da via eleita, pois a Lei de Improbidade não

se aplica aos agentes políticos; b) inexistência de ato de

improbidade administrativa,

ilegalidade ou imoralidade,

haja vista que não agiu com

já que se limitou em dar

publicidade aos atos oficiais da Administração, que são

indissociáveis da pessoa do alcaide, de maneira que não houve

o dolo em promover-se pessoalmente. Não junta documentos.

Intimado (fls. 86/Vº), o Município de

Januária requereu sua habilitação como litisconsorte passivo

e, em sua manifestação (fls. 65/73), sustentou: a) carência

da ação, por ausência de indícios mínimos da prática de atos

de improbidade; b) ausência de lesão ao erário quando da

impressão dos informativos municipais, tanto que o então

Prefeito, ora réu, não teve qualquer participação na

confecção dos informes; c) não houve dolo ou má-fé, elementos

subjetivos essenciais para a configuração dos alegados atos

ímprobos, sendo que no caso não há a menor comprovação de que

o réu agiu no intuito de promover-se pessoalmente e enaltecer

suas qualidades pessoais, sendo que o objetivo da lei é punir

o gestor desonesto, e não o inábil. Junta documentos (fls.

75/85). ,;·'

_.-'\.. /./ - --.,._":';,{"""·,\

A / '1· . f s / pr<f iminares oram rejeitadas, uma a /' Í

;

Autos nº 0352.09.057259-0 2

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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

uma, e a inicial foi recebida, determinando-se a citação do

réu (fls. 114/117). Irresignados, o réu e o Município de

Januãria interpuseram recurso de agravo retido (fls. 121/145

e 146/154).

Intimado (fls. 119/Vº), o MUNICÍPIO DE

JANUÁRIA apresentou contestação (fls. 155/162), alegando, em

apertada síntese, que o réu, na condição de Prefeito

Municipal, sempre primou pela publicidade e transparência da

administração municipal, o que foi retratado nos informativos

questionados pelo MP, sem que houvesse qualquer intenção de

promoção pessoal, motivo por que não resta configurado o ato

de improbidade insistentemente imputado pelo réu, que exige o

dolo, no caso, inexistente. Requer a improcedência dos

pedidos. Não junta documentos.

O réu, regularmente citado (fls. 120/Vº),

apresentou contestação (fls. 166/191), alegando, reiterando

as preliminares invocadas na defesa preliminar. No mérito,

sustenta: a) a inexistência do alegado ato ímprobo, uma vez

que sempre observou fielmente os princípios constitucionais

da administração pública, o que se evidencia nos

informativos, os quais tiveram cunho meramente informativo,

educativo e de transparência da gestão, inclusive seu próprio

esforço pessoal, de modo que jamais houve escopo de promoção

pessoal; b) as referências feitas à sua pessoa, enquanto

Chefe do Executivo, foram de cunho meramente institucional,

tanto que, nas reportagens, seu nome é utilizado como se

fosse o próprio Município, não tendo qualquer intenção de

promoção pessoal; c) ainda assim, o ato de improbidade só se

configura em havendo elemento subjetivo, qual seja, o dolo,

caracterizado pela imoralida~ qualificada e desonestidade do /

agente público. Requer~.\ iJi'procedência dos pedidos. Não junta ' '>, J!

documentos.

Autos nº 0352.09.057259-0

y. ... ..._ ! ) i ! f z

\ /

3

Page 4: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Houve réplica, onde o autor requereu o

julgamento antecipado da lide (fls. 195/207)

O réu especificou provas e justificou-as

quanto à pertinência e relevância (fls. 211/214), ao passo

que o autor reiterou o pedido de julgamento antecipado ( fl.

210Vº) .

Sem sanear o feito, o juízo deferiu a

prova oral requerida (fl. 216).

Em regular instrução, realizada via carta

precatória, foram ouvidas duas testemunhas do réu (fls. 266 e

2 67) .

O juízo declarou encerrada a instrução e

determinou a intimação das partes para apresentação de

memoriais (fl. 277), as quais, intimadas, reiteraram os

termos de suas respectivas peças, tendo o réu tecido

considerações acerca da pessoa do presentante do MP ( fls.

280/293 e 295/305).

sentença.

Os autos vieram-me

É o relatório.

Fundamento e decido.

De proêmio, consigno

conclusos para

que este feito

encontra-se inseri to na Metas 02 e 04, do CNJ, o qual vem

fazendo rei ter adas e sucessivas ./

cobranças para julgamento,

pelo que incide o disposto/ no art. 12, parágrafo único, /

inciso VII, do NCPC, lemby,;,ndo que os critérios cronológicos

ali definidos não s·âÔ\r/gidos e podem ser relativizados com ~~ .. --....

fulcro nos princípios/ da i proporcionalidade, razoabilidade, 1 /

I Autos nº 0352.09.057259-0 i 4

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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

racionalidade organizacional e eficiência da unidade

judiciária (nesse sentido, vide Enunciado nº 32, da ENFAM).

Ainda de proêmio, tenho que os agravos

retidos interpostos às fls. 121/145 e 146/154, a meu ver, não

consistem na via adequada para atacar a decisão que concluiu

pela admissibilidade da petição inicial, vez que esta é

impugnável através de agravo de instrumento, conforme

expressa previsão do art. 17, §10, da Lei 8.429/1992, o que,

in casu, não ocorreu.

Logo, resta preclusa a questão afeta às

preliminares invocadas e já rejeitadas na decisão

suprarreferida.

Ainda assim, em respeito ao debate, por

sinal enaltecido pelo NCPC, passo a tecer breves

considerações acerca da incompetência do juízo e da

impropriedade da via eleita, eis que o réu entende que, por

ser agente político, não pode submeter-se aos rigores da Lei

8.429/1992, invocando, para tanto, precedente do c. STF.

Com efeito, como já deixei consignado nos

autos nº 0352.13.003941-0, a via é adequada, uma vez que há

perfeita compatibilidade na aplicação das condutas previstas

no Decreto-Lei 201/1967 e as da Lei 8. 429/1992, consoante

matéria já decidida pelo c. STF, in verbis:

E M E N T A: RECLAMAÇÃO AÇÃO CIVIL POR

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - COMPETÊNCIA DE MAGISTRADO DE

PRIMEIRO GRAU, QUER SE CUIDE DE OCUPANTE DE CARGO PÚBLICO,

QUER SE TRATE, COMO NA/ ESPÉCIE, DE TITULAR DE MANDATO

ELETIVO (PREFEITO Ml),l'ÍICIPAL) AINDA NO EXERCÍCIO DAS /

RESPECTIVAS FUNÇÕESÍ'.'.. RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - O

Supremo Tribuni}d:\F)"deral tem advertido que, tratando-se de

Autos nº 0352.09.057259-0

,' '!----!

f

/

'

' ' / ' 5

Page 6: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

ação civil por improbidade administrativa (Lei nº

8.429/92), mostra-se irrelevante, para efeito de definição

da competência originária dos Tribunais, que se cuide de

ocupante de cargo público ou de titular de mandato eletivo

ainda no exercício das respectivas funções, pois a ação

civil em questão deverá ser ajuizada perante magistrado de

primeiro grau. Precedentes. (Rcl 27 66 AgR, Relator (a) :

Min. CELSO

27/02/2014,

DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em

ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-070 DIVULG 08-04-2014

PUBLIC 09-04-2014)

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO

EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE

PRIMEIRO GRAU PARA JULGAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONTRA

PREFEITO MUNICIPAL POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI N. 10.628/2002.

ACÓRDÃO RECORRIDO EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE

NEGA PROVIMENTO. (RE 444042 AgR, Relator (a): Min. CÁRMEN

LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 25/09/2012, ACÓRDÃO

ELETRÔNICO DJe-201 DIVULG 11-10-2012 PUBLIC 15-10-2012)

Forte nestas razões, ratifico a rejeição

da preliminar invocada.

Quanto às outras preliminares, que, como

já dito, já foram rejeitadas, sem que houvesse a interposição

do recurso cabivel, qual seja, agravo de instrumento (art.

17, §10, da Lei 8. 429/1992), deixo de reapreciá-las, ante a

preclusão, e,

aludida decisão.

mérito. Partes

ainda assim, reporto-me aos fundamentos da

Sem outras preliminares, processuais ou de /'

legitimas /e /

bem representadas. Pedido

juridicamente possivel, p6is não vedado pelo ordenamento /\_/

juridico, concorrendoc/ao[,_aJJtor o interesse de agir, pois

da prestaçef~ j.brisdicional, através da necessitou

Autos nº 0352.09.057259-0 '! !

.i

l ·'/

' < .. ~e,•

via

6

Page 7: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

processual adequada, colimando a obtenção de provimento útil.

Presentes, pois, as condições da ação e os pressupostos de

desenvolvimento válido e regular do processo.

Passo ao exame do mérito.

A controvérsia versada nos autos cinge-se

em saber se os informativos publicitários do Municipio de

Januária, que contêm as fotos do réu, tiveram o condão de

caracterizar promoção pessoal ou só se limitaram aos fins

informativos e educativos, bem como, em caso de constatação

de promoção

configuração

administrativa.

pessoal, se houve

dos indigitados

Pois bem, em

dolo e a consequente

atos de improbidade

janeiro de 2009, que

correspondeu com o início da gestão do réu à frente do

Município de Januária, após ser legitimamente eleito no

pleito de 2008' foi

Informativo Municipal,

publicado

com 2.000

a primeira tiragem do

(dois mil) exemplares,

iniciando com uma reportagem em que "começa um tempo em

Januária", constando a informação de que o réu e "Afonso do

Sindicato" foram empossados ( fl. 2 9) .

No corpo da reportagem, constou que o réu

é um renomado advogado e doutorando em Direito

Administrativo, já tendo prestado consultoria a cerca de 400

(quatrocentas) prefeituras ao longo de sua brilhante carreira

profissional. Finaliza que, depois de notícias de escândalos

de corrupção, um novo tempo de prosperidade e esperança se

inicia (fl. 29).

!

No mesmo /Ínformativo, consta

que o prefeito 1 . I •

a

Secretário de

e eito, /ora reu, recebeu ..... --·,........\/

Estado >'"da /"E-Gt.µcação, para tratar I

f Autos nº 0352.09.057259-0

a menção de

visita do

de recursos

7

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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

destinados à área educacional. Na mesma página, consta que o

réu, inclusive fotografado, se reuniu com profissionais da

educação, ocasião em que constou que o mesmo apresentou a

forma de sua gestão para os servidores, no intuito de

priorizá-la e fortalecer o ensino nesta urbe; arrematou que

"a educação é uma das prioridades do nosso governo, sou

professor e vamos investir pensando na melhoria da qualidade

de vida da população januarense" (fl. 31).

Ainda na mesma página, foi divulgado que a

credibilidade do novo governo atrai investimentos para

Januária, ocasião em que o nome do réu foi citado, cuja

eleição já atraiu novos investimentos para a cidade, a qual

ficou com a má fama de uma das cidades mais corruptas do

país, de maneira a ser uma oportunidade para virar a página

desse triste passado (fl. 31).

Consta, ainda, diversas fotografias do réu

em reuniões com outras autoridades, quando o município ganhou

o Samu regional, bem como a ação na agenda positiva da saúde,

em que seu nome foi novamente citado; por fim, consta a

visita do réu e sua comitiva à sede do MP local (fl. 31Vº).

No início da página 07, há uma reportagem

para que o receptor da mensagem não revelasse seus sonhos

antes da hora porque alguém do seu lado por ser o primeiro a

lhe prejudicar, e, logo em seguida, contém um breve dado

biográfico do réu, explanando sobre sua profissão de

advogado, sobre sua origem humilde e enfatizando a sua

riqueza espiritual, bem como o seu desejo de ser prefeito

desde quando era um engraxate (fl. 32).

Ainda na /{nesma página, í

consta trechos de

uma entrevista do alca}-ct\. /ecém-empossado, ora réu, extraída . ~-1.

Jornal "O Médio São/"rr·\'ncisco", do onde foram realçadas

/ I ! Autos nº 0352.09.057259-0 8

Page 9: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

diversas qualidades pessoais e destacou que "as pessoas têm

que chegar dentro do Poder Público não para fazer vida, mas,

sim, para transformar a vida dos outros que de fato

necessi taro do Poder Público" ( fl. 32) .

Já na página O 9 consta reportagem acerca

de um novo tempo que se inicia em Januária (fl. 35), o que

guarda estreita relação com a gestão liderada pelo réu.

O Informativo nº 02, de fevereiro de 2009,

inicia com uma enorme fotografia do réu, com a reportagem

intitula da "30 dias de avanços", fazendo menção a um governo

sério, participativo, de ações planejadas, transparentes e

dinámicas, em um verdadeiro choque de gestão, bem como a

manchete contendo sua fotografia quando da recepção do bispo

(fl. 34).

Na página 02 consta um longo editorial de

autoria do réu, destacando as ações de sua gestão frente ao

cenário de crise mundial e à turbulência política, bem como

que abriram mão de disputar a presidência de uma associação

de municípios integrantes da SUDENE com o escopo de priorizar

os assuntos internos (fl. 34Vº).

Na mesma página consta a Agenda Positiva

de Governo, com 7 (sete) fotografias, sendo que o réu se

encontra em todas (fl. 34Vº).

Na página 04 consta que o réu tornou-se o

novo presidente do CISAMF, onde também está fotografado em

companhia de outros prefeitos municipais, havendo menção,

ainda, aos 30 (trinta) dias d~ avanços (fl. 35Vº). /

Estado

Autos nº 0352.09.057259-0

consta que o Governador do

choque de gestão e, na

9

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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

entrevista, teceu diversas considerações enaltecendo a sua

pessoa e que está esperançoso de que ele fará uma bela

administração (fl. 36).

Já na página o 6, consta que o réu

recepcionou o novo bispo da diocese local, Dom José Moreira

da Silva, ocasião em que proferiu discurso na catedral local

(fl. 36Vº).

Em arremate, há duas fotografias em que o

réu aparece assinando cheque do 13º salário de servidores,

com reportagem intitulada "Enfim, servidores recebem 13°

salário", bem como um projeto de lei do Executivo isentando o

contribuinte de juros, multas e correções, o que faz parte do

chamado programa choque de gestão ( fl. 37) ' o qual vem

minudenciado na página 308, em que o réu é fotografado com a

equipe integrante do primeiro escalão da administração ( fl.

3 7Vº) .

De fato, ao que tudo indica, a tiragem dos

informativos foi custeada pelo próprio réu (fls. 54/57).

A testemunha João Milton Barbosa da

Fonseca afirmou ter conhecimento dos informativos, que não

foram pagos e encomendados por Marcelo, jornalista de

Januária, sem saber se este era servidor municipal. Aduziu

que a própria gráfica suportou os custos da impressão (fl.

?66)

A testemunha Kleuber Carneiro Jacques

afirmou que os informativos .,eram datados do '

foi Secretário de Finanças1 e que não sabe /

podendo afirmar, contud,Ó, que não foram /

dinheiro público (fl. .. /~67). I \_j_ . .---·--;

'

Autos nº 0352.09.057259-0

periodo em que

quem os pagou,

custeados com

10

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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Com efeito, em que pesem os respeitáveis

argumentos deduzidos pelo réu no decorrer do processo, tenho

que a publicidade em questão, apesar de teoricamente ser de

natureza institucional, teve, sim, o condão de visar a

promoção pessoal do réu, eis que diversos atributos pessoais

foram enaltecidos, conforme acima descrito.

Entendo que o fato de os informativos

consignar o nome do réu ou fazer referência expressa à sua

pessoa por dezenas de vezes é mais do que suficiente para

demonstrar que a publicidade em muito transbordou dos limites

informativos e educativos, que é seu escopo principal,

partindo para a autopromoção.

Como dito acima, o fato de o informativo,

pertencente ao Município de Januária - e não ao réu, frise-se

consignar que o réu é uma pessoa de origem humilde mas

detentor de uma riqueza espiritual demonstra cristalinamente

a ênfase a uma qualidade pessoal - que, de fato, não deixa de

ser boa, pois isso é o que, teoricamente,

qualquer ser humano.

se espera de

Contudo, é cristalino que o teor dos

informativos supramencionados, em relação aos quais já fiz

extensas considerações, demonstrou a intenção de o réu

promover-se perante o receptor da mensagem, no caso, os

administrados, verdadeiros donos do poder, de modo que estes,

quando o leram, certamente foram induzidos a crer em tais

atributos, máxime porque por várias vezes houve a menção do

trágico histórico de corrupção que assolou esta urbe.

precipua

Município

Municipal,

Deveras, Cf' Informativo Municipal tem a

finalidade de d~f~lgar os atos praticados pelo

enquanto pessoa /jurídica, presentada pelo Prefeito .... ~/

;::. V

e jamais forlrct-J..ec"r a imagem deste e dar- lhe os ,

Autos nº 0352.09.057259-0 .f/

11

Page 12: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

créditos pelos mencionados êxitos e créditos obtidos logo no

inicio da gestão.

Aliás, como dito, o réu aparece em quase

todas as fotografias existentes, de forma a vincular os atos

da administração à sua pessoa, sem qualquer dissociação.

Ora, é regra basilar de Direito

Administrativo que as figuras do Município de Januária,

pessoa juridica de direito público, e do Prefeito Municipal,

como no caso do réu, são totalmente distintas, motivo por que

não há justificativa e tampouco licitude na divulgação de

atos governamentais à imagem do segundo, conforme ficou

cristalinamente demonstrado nos autos e alhures ponderado.

Isto é reforçado, com efeito, na

entrevista dada pelo então Governador do Estado, que só teceu

elogios à pessoa do réu, o que foi visivelmente divulgado no

meio de comunicação oficial.

O fato de os informativos terem sido

confeccionados por uma gráfica, sem custeio de recursos

públicos que, ao que tudo indica, foi o réu quem o fez

(fls. 54/57) tem o condão de demonstrar o seu intento de

promover-se pessoalmente - em que pese a intenção de não se

valer de recursos públicos, o que, por certo, tornaria a

conduta mais grave haja vista que se não houvesse tal

intenção, o réu, exímio conhecedor do Direito Público (fl.

29), certamente teria se valido de recursos públicos para o

custeio e, principalmente, não enalteceria sua imagem com o

escopo de autopromoção.

oficial, ou seja,

maneira que a sua

Autos nº 0352.09.057259-0

Aliás, é inc/ntroverso que o informativo é /

' pertencente' ao Município de Januária, de ,.") /

impre's~~·-··q,ue faz parte dos serviços de ; !

1 ' , ' /

12

Page 13: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

publicidade, necessariamente deveria ser precedida de

licitação, lembrando que, em tais serviços, é vedada a

dispensa ou inexigibilidade (art. 25' inciso II, da Lei

8.666/1993).

Deveras, a publicidade institucional visa

a divulgação dos atos e programas da administração pública,

com fins informa ti vos, educa ti vos ou de orientação social,

sendo terminantemente vedada qualquer uso de nomes, símbolos

ou imagens que configurem promoção pessoal do agente público

(art. 37, §1º, da CRFB), o que é corolário lógico dos

princípios da impessoalidade e moralidade.

E, como dito, o nome e as imagens do réu

foram divulgados em dezenas de vezes, em praticamente todas

as reportagens e fotografias existentes nos informativos.

A publicidade institucional deve, isto

sim, divulgar os atos e programas em nome do Município de

Januária, mencionando, por exemplo, "que o Município

conseguiu celebrar o Convênio X" '

"que o Município quitou

verbas salariais de servidores que estavam atrasadas" etc., e

nunca, jamais, fazer dezenas de menções ao nome do réu e

colacionar dezenas de fotografias suas.

Entendo que, ocasionalmente, não há

impedimento que os agentes públicos venham a ter seus nomes e

fotografias estampados em informativos oficiais, desde que,

frise-se, se limitem em prestar informações aos leitores,

como, por exemplo, para que saibam quem são tais agentes,

contanto que não explorem atr>ibutos

.//

riqueza espiritual.

/ Po:;:- .. 1 ~ inal, o

. ~ contestação, assever~u '-ue. seu nome . \

Autos nº 0352.09.057259-0

pessoais, a exemplo

próprio réu, em

era utilizado como

da

sua

se

13

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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

fosse o próprio Município ( fl. 1 77, penúltimo parágrafo) , o

que reforça o escopo de promoção pessoalmente com a

publicidade em comento.

Nesse sentido, destaco entendimento

jurisprudencial:

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. PUBLICIDADE VEICULADA EM INFORMATIVO

MUNICIPAL. FOTOS E MANIFESTAÇÕES PESSOAIS DO PREFEITO.

AUTOPROMOÇÃO. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO "IN

SPECIE". - Demonstrado pelo conjunto probatório que a

publicidade institucional extrapolou o desiderato

informativo, educativo e de orientação previstos na

Constituição Federal, incide o alcaide em violação aos

princípios da legalidade, moralidade e impessoalidade

em afronta direta ao art. 37 §1 º da CR. Fazer

publicidade de modo a vincular o próprio nome e

imagem, servindo única e exclusivamente para auto­

promoção do Prefeito, exaltando as ações positivas da

Administração Pública como se suas fossem, configura

promoção pessoal vedada pela Lei nº 8.429/92.

(TJMG - Apelação Cível 1.0056.07.155546-2/001,

Relator(a): Des. (a) Belizário de Lacerda , 7ª CÂMARA

CÍVEL, julgamento em 16/04/2013, publicação da súmula

em 19/04/2013)

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA -INFORMATIVOS PUBLICADOS PELO MUNICÍPIO

- MENÇÃO AO NOME E À IMAGEM DO GESTOR MUNICIPAL -

VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL - PROMOÇÃO Ã IMAGEM PESSOAL DO

PREFEITO CARACTERIZADA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA

IMPESSOALIDADE ATO DE IMPROBIDADE MULTA CIVIL

APLICADA. 1. O § 1f' do artigo 37 da Constituição

Federal impede a ,identificação entre a publicidade /

institucional e o} titulares dos cargos públicos. 2.

É indevida e à imagem do Prefeito,

Autos nº 0352.09.057259-0 14

Page 15: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

bem corno aos slogans de campanha, nas publicações

governamentais, por configurar violação ao princípio

da impessoalidade. 3. O próprio réu afirmou que as

publicações tinham corno objetivo marcar "o início da

sua administração", "comparando-a com as anteriores 11,

assumindo que foram feitas referéncias pessoais a ele

nos informativos. Dolo genérico caracterizado.

4. Caracterização de conduta violadora aos princípios

da Administração Pública, tipificada no art. 11, I, da

Lei n. 8.429/92. 5. Inocorrência de enriquecimento

ilícito ou lesão ao erário. 6. Aplicação apenas da

sanção de multa civil, diante das particularidades do

caso concreto. 7. Recurso provido em parte. (TJMG -

Apelação Cível 1.0183.08.153444-2/001, Relator (a):

Des. (a) Áurea Brasil , 5ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em

28/02/2013, publicação da súmula em 05/03/2013)

Nestes termos, não há a menor dúvida de

que o réu, intencionalmente, incorreu em conduta vedada pelo

art. 37, §1 º, da CRFB, meti vo por que incorre no disposto no

art. 11, caput, da Lei 8.429/1992.

Vale lembrar que o rol do art. 11, acima

citado, é meramente exemplificativo, de maneira a abarcar

qualquer conduta que tenha o condão de violar, direta ou

indiretamente, qualquer princípio da administração pública, o

qual deve ser cegamente observada pelo administrador,

mormente os agentes políticos, que, por vontade própria, se

candidataram e foram eleitos para representar o povo,

verdadeiro dono do Poder (art. 1°, parágrafo único, da CRFB).

/ i

Tenho por present.é o elemento subjetivo, /

consubstanciado no dolo, haja vista/ que o réu, mandatário do '

povo durante a época dos fatos/ tinha pleno conhecimento í

acerca das determinações constitpcionais e legais, rnáxirne por ....--\'

ser renomado advogado e dq,t:Ctor~ndo em Direito Administrativo :'---·-.

Autos nº 0352.09.057259-0 15

Page 16: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

(fl. 29).

O réu, que voluntariamente se candidatou a

prefeito e foi eleito pelo povo, contava, além de seu elevado

conhecimento jurídico, com assessoria jurídica, de maneira

que, no caso da menor dúvida sobre como proceder quando da

realização da publicidade, tinha a obrigação de fazer a

competente consulta e, principalmente, solicitar a elaboração

de um parecer, até mesmo para resguardar-se e demonstrar zelo

e cuidado em sua atuação e no trato com a coisa pública.

Deveras, como é sabido, assim que wna

pessoa é empossada no cargo de Prefeito Municipal, esta se

compromete em atender ao bem comum, bem como defender e

cwnprir fielmente as disposições constitucionais e da lei

orgânica municipal.

Se não agiu com dolo direto, o réu, ao

menos, assumiu o risco em razão de sua conduta, o que

configura o chamado dolo eventual, já que, ao enaltecer sua

imagens e suas qualidades pessoais, assumiu o risco de seus

atos, pelos quais deve ser responsabilizado.

Deveras, está mais do que hora de serem

coibidas práticas deste jaez, onde os gestores públicos,

mormente os municipais, simplesmente ignoram as disposições

constitucionais e legais vigentes, tanto as principiológicas

quanto as meras regras, e, passando por cima das mesmas, agem

como se fossem donos da coisa pública,

observãncia dos critérios de legalidade,

moralidade.

sem a mínima

impessoalidade e

A politizaç;ãO da máquina administrativa i

deve limitar-se somente à chelia do Executivo e aos escalões i

superiores, como nos casos/ de secretários municipais, não

·>/ ·1.,l-··-.. Autos nº 0352.09.057259-0 16

/

Page 17: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

podendo, em hipótese alguma, alcançar o restante da máquina,

onde os servidores devem ser efetivos e atuarem com

independência

subordinados

face

apenas

aos

sob

interesses políticos, sendo

os prismas hierárquico e

administrativo.

Por fim, em se tratando da tutela do

patrimônio público, decorrente do microssistema próprio da

tutela coletiva, vigora os princípios da máxima amplitude

protetiva e da proteção ao vulnerável, situação em que se

amolda, de forma que caberia ao réu o ônus de comprovar

qualquer causa excludente de responsabilidade.

Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO

REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO DE

PESSOAL SEM CONCURSO PÚBLICO. FUNDAMENTO

CONSTITUCIONAL DO ACÓRDÃO A QUO NÃO IMPUGNADO POR

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SÚMULA 126/STJ. ARTIGO 11 DA

LEI 8429/92. VIOLAÇÃO A PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS.

ELEMENTO SUBJETIVO DO ATO ÍMPROBO EXPRESSAMENTE

RECONHECIDO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. REVISÃO DAS

SANÇÕES IMPOSTAS. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E

RAZOABILIDADE. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO PROBATÓRIA.

IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. O Tribunal de

origem, ao analisar a controvérsia relacionada à

contratação de pessoal sem concurso público,

caracterizando ato de improbidade administrativa,

fundou o seu entendimento em preceitos de natureza

constitucional e infraconstitucional autônomos.

Entretanto, em relação à fundamentação constitucional,

não houve a interpo,,s'ição de recurso extraordinário, o f

f

que atrai a inoidência da Súmula 126/STJ. 2. Na

hipótese -O~ ._;ltos, o Tribunal local consignou

expressamente / e~tar "presente o dolo genérico da ! j

1

Autos nº 0352.09.057259-0 / 17 '-,/'

Page 18: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

apelante na conduta de contratar/manter servidores,

sem concurso público, durante todo o mandato, mesmo

sabendo da exigência constitucional de tal restrição,

tanto que realizou dois concursos públicos na sua

Administração Municipal". Deste modo, a reversão de

tal entendimento demandaria o reexame de matéria

fático-probatória, o que é vedado em sede de recurso

especial, nos termos da Súmula 7/ST,J. 3. A análise da

pretensão recursal, no sentido de rediscutir a

razoabilidade ou proporcionalidade das sanções

aplicadas, com a consequente reversão do entendimento

exposto pela Corte a quo, exigiria, necessariamente, o

reexame de matéria fático-probatória, o que é vedado

em sede de recurso especial, nos termos da Súmula

7/STJ. 4. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg no

AREsp 788.735/SE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL

MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/12/2015, DJe

14/12/2015)

ADMINISTRATIVO. CIVIL.

IMPROBIDADE. PREFEITO.

PROCESSUAL

GESTORES MUNICIPAIS.

CONTRATAÇÃO. EMPREGADOS PÚBLICOS. AUSÊNCIA DE CONCURSO

PÚBLICO. CESSÃO AO MUNICÍPIO. MULTA PROCESSUAL. ART.

538, PARAGRAFO ÚNICO, DO CPC. AFASTAMENTO. VIOLAÇÃO

DOS ART. 165, 458, II, E 535, I, DO CPC. ACÓRDÃO

FUNDAMENTADO. INEXISTENTE. PRESCRIÇÃO EM RELAÇÃO À

PARTE DOS GESTORES DA EMPRESA PÚBLICA. VERIFICADA.

DADOS NO ACÓRDÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 23, I, DA LEI

8.429/92. TIPIFICAÇÃO DA CONDUTA NO ART. 11 DA LIA E

CRITÊRIOS PARA MULTA CIVIL. SÚMULA 7/STJ. CONDUTA

ÍMPROBA DO PREFEITO AO ACOLHER OS EMPREGADOS CEDIDOS.

SÚMULA 7/STJ. CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA. POSSIBILIDADE.

SÚMULA 83/STJ. LITISCONSÓRCIO PASSIVO. DESNECESSIDADE.

SÚMULA 83/STJ. COTEJO ANALÍTICO. DEFICIÊNCIA. 1.

Recursos especiais interpostos contra acórdão que

manteve

ajuizada

concurso,

Autos nº 0352.09.057259-0

condenação do;; réus em /

contra a /contratação ,,-, I

para/·/ernÍiresa pública r--- ·1 i \. ! \

ação civil pública

de empregados, sem

municipal, que eram

18

Page 19: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

cedidos à Administração Pública municipal. O acórdão

determinou a nulidade dos contratos de trabalho e

fixou multa civil em caráter solidário aos gestores.

2. Devem ser conhecidos em parte ambos os recursos

especiais, para lhes dar provimento e retirar a multa

processual aplicada com base no art. 538 do Código de

Processo Civil, uma vez que a leitura das peças de

embargos detonam apends o ímpeto de aclarar o modo de

cálculo da multa civil imposta. 3. Não há falar em

violação dos arts. 165, 458, II, 535, I e II, do

Código de Processo Civil, uma vez que a leitura do

acórdão recorrido demonstra suficiência de

fundamentação, além da ausência .de vícios. 4. o

recurso especial de Eiter Cristiani e outros deve ser

conhecido pela alínea 11 a 11, por violação do art. 23, I,

do Lei n. 8.429/92, para consignar a prescriçao em

relação aos recorrentes Jairo Cesar Colombo, José

Carlos Aparecido Hansen e Paulo Sérgio Bodini, uma vez

que o acórdão evidencia que, quando ajuizada a ação

na origem (6/6/1995), já teriam transcorrido mais de

cinco anos do término do exercício de suas funções na

empresa municipal. 5. No caso concreto, o acórdão

proferido na origem é muito claro ao evidenciar a

presença do dolo genérico e da infração ao art. 11 da

Lei n. 8.429/92, uma vez que não é aceitável a

contratação de empregados em empresa pública, com a

cessão deles ao Poder Executivo municipal sem a

ocorrência do devido concurso público. Desconstituir

tal panorama fático exigiria incorrer em violação do

teor da Súmula 7 /STJ. Precedentes: REsp 1. 424. 550/SP,

Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/

Acórdão Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma,

DJe 14.8.2014; AgRg no AgRg no AREsp 533.495/MS, Rel.

Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe

17/11/2014; AgRg no AREsp 135.509/SP, Rel. Ministra

Eliana Calmou, Segunda Turma, DJe

há falar em viol/ção no que tange !

Autos nº 0352.09.057259-0

12 da Lei ~n:~/_!?S<92 e 128, 459, f í

l //

\ F

'. //

18/12/2013. 6. Não

aos arts. 1 °, 2 º e

460, 512 e 515 do

19

Page 20: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Código de Processo Civil, pois a multa havia sido

fixada na origem pelo máximo admitido (100 vezes o

valor total das remunerações dos agentes). Do ponto de

vista lógico, a alter ação no modo de cálculo somente

pode diminuir tal quantum. Todavia, o acórdão não

indica os valores básicos e, assim, o tema não pode

ser sindicado, pois inviável seu exame numérico, em

razão da Súmula 7 /ST,J. 7. FiCOl.J firmado, com base no

acervo fático e nas provas dos autos, tal como

expresso no acórdão, que o acolhimento dos empregados

públicos ilegalmente contratados configurou ato de

improbidade

esbarraria

administrativa.

no teor da

Prever

Súmula

tal conclusão

7/STJ. 8. A

jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é clara

ao indicar que a responsabilidade nas ações de

improbidade, entre os ímprobos é solidária. Aplicável

a Súmula 8 3 /STJ. Precedente: REsp 1. 4 07. 8 62 /RO, Rel.

Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe

19/12/2014. 9. Não há violação dos arts. 47 e 267 do

Código de Processo Civil em razão da ausência de

formação do polo passivo com os empregados públicos

ilegalmente contratados. A questão é semelhante às

encontradas nas ações de improbidade dirigidas contra

contratações de empresas sem licitação. Aplicável a

Súmula 83/STJ. Precedentes: REsp 1.407.862/RO, Rel.

Ministro Mauro Campbel 1 Marques, Segunda Turma, DJe

19/12/2014; REsp 1. 243. 334/SP, Rel. Ministro Benedito

Gonçalves, Primeira Turma, DJe 10/5/2011. 10. Ambos os

recursos especiais são deficientes em fundamentar o

cotejo analítico. A deficiência de formulação enseja o

não conhecimento por esta via, como firmado na

jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.

Precedentes: REsp 1.339.309/SP, Rel. Ministro Napoleão

Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 27 /3/2014; AgRg .·

no AREsp 13. 853/fyP, Rel. Ministro Sérgio Kukina, I

Primeira Turma, Í DJe 15/3/2013; AgRg no REsp

1.443.872/CE),"~---Ministro Herman Benjamin, Segunda

Turma, DJe "20/3//2015); AgRg no REsp 1. 455. 330/MG, Rel. 1 j \ /

Autos nº 0352.09.057259-0 \ / 20 ~ /

Page 21: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 4/2/2015.

Recurso especial de Manoel Samartin e Simão Welsh

conhecido em parte e provido para afastar a multa

processual fixada com base no art. 538, parágrafo

único, do CPC. Recurso especial de Ei ter Cristiani e

Outros conhecido em parte e provido para afastar a

multa processual e reconhecer a prescrição em relação

a ,Tai ro Cesar Colombo, José Carlos Aparecido Hansen e

Paulo Sérgio Bodini. (STJ, REsp 1261057/SP, Rel.

Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em

05/05/2015, DJe 15/05/2015)

A improbidade administrativa pode ser

conceituada, de forma simplista, como uma imoralidade

qualificada do agente que se encontra vinculado, a qualquer

título, para com a administração pública. Pressupõe má-fé e

desonestidade, nos casos dos arts. 9º e 11, da Lei

8.429/1992.

como dito acima, está mais do que na hora

de o administrador público conscientizar-se do disposto no

art. 1°, parágrafo único, da CRFB/1988, que reza, de forma

inequívoca, que o dono do poder é o povo, soberano, e que, ao

ser inserido em uma função pública, nada mais é do que um

mero representante. E ninguém é obrigado a ingressar na

função pública; faz porque assim deseja, pelo que deve ser

responsável pelos seus atos.

A função administrativa do Estado deve

pautar-se, sempre, pela supremacia do interesse público e

pela indisponibilidade da coisa pública, traços integrantes

do denominado regime juridico administrativo, em torno do que

devem gravitar todas as

públicos.

ou seja,

Poder.

E, com isso,

deve servir

ações praticadas pelos agentes

administrativa é serviente,

verdadeiro e único dono do

Autos nº 0352.09.057259-0 \ / 21

Page 22: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Infelizmente, não é o que ocorre,

principalmente nas pequenas cidades e em regiões mais

carentes, onde, em pleno século XXI, predominam o

assistencialismo, o clientelismo, o patrimonialismo e a

politização da coisa pública. Por exemplo, os cargos na

administração que sejam de livre nomeação e exoneração

portanto com critérios políticos - não o são levando em conta

a capacitação do interessante, a sua competência, a sua

especialização, mas, sim, o único fato de ser correligionário

do agente que, momentaneamente, está representando o povo,

dono do poder.

O Brasil sempre viveu e ainda vive uma

situação de verdadeiro desrespeito para com a coisa pública,

eis que os agentes públicos são eleitos e, diplomados e

empossados,

olvidando-se

agem

da

como se

função

fossem os verdadeiros donos,

meramente serviente a que,

voluntariamente, se candidataram.

Assim sendo, havendo, comprovadamente,

violação ao postulado da legalidade, mais precisamente a

ditames constitucionais, a condenação do réu nas penas do

art. 12, inciso III, da Lei 8.429/1992, é medida que se

impõe.

Passo, a seguir, á dosimetria das penas.

Em princípio, reza o parágrafo único do

art. 12, da Lei 8.429/1992, que, para a fixação das penas, o

juiz deverá levar em conta a extensão do dano causado e o

proveito patrimonial obtido pelo agente.

// Entretanto, na aplicação das normas que

! têm por escopo a tutela Ída probidade administrativa e do

' patrimônio público,

' ... "'\._ ~ ......... -~·~---.,_

nã'o -parec'!= adequado analisar apenas a 1 1 ! / ' \ ,/ 22 \ ·'

"'~--··

Autos nº 0352.09.057259-0

Page 23: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

medida patrimonial do dano e do proveito.

Ao aplicador cumpre analisar e localizar,

sob o referencial dos principias constitucionais, os

instrumentos de medida que evitem, de um lado, a banalização

das sanções e, de outro, a desproporção que as torna

excessiva.

Assim, além da gravidade do ato, os

principias da proporcionalidade e da razoabilidade mostram-se

de grande utilização neste ínterim.

Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. LEI DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. APLICAÇÃO DA PENA. 1. A aplicação da

pena, em improbidade administrativa, deve ser

empregada de forma que seja considerada a gravidade do

ilícito, a extensão do dano e o provei to patrimonial

obtido. 2. Pena de multa pecuniária no valor de 12

(doze) vezes o valor do subsidio pago a vereador do

município. 3. Publicidade de promoção pessoal para

fins eleitorais por conta do erário público. 4.

Aplicação das penas de suspensão de direitos políticos

e perda do cargo que não se justificam. 5.

Razoabilidade e proporcionalidade da pena aplicada. 6.

Recurso especial conhecido e não-provido. (STJ - REsp

929289 / MG, RECURSO ESPECIAL 2007/0040824-8. Relator:

Min. JOSÉ DELGADO. lª T. j .18 .12. 2007; p. DJ

28.02.2008.)

Passo, então, a individualizar as penas.

Considero/• que a conduta do réu não foi

dotada de intensa gravidaôe.1', ei· s d · t t , que esrespei ou o ar . §1 o' / "!----. da CRFB, de maneira la incporrer no disposto no art.

j

Autos nº 0352.09.057259-0 \ \

\ /

/ /

37,

11,

23

Page 24: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

caput e inciso I, da Lei de Improbidade.

Assim, considerando a lesividade, a

reprovabilidade dos fatos, a amplitude da lesão e a gravidade

do ato de improbidade, conforme acima colocado, de rigor a

condenação do réu MAURÍLIO NÉRIS DE ANDRADE ARRUDA às penas

do art. 12, inciso III, da Lei 8.429/1992.

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os

pedidos, para condenar o réu MAURÍLIO NÉRIS DE ANDRADE

ARRUDA, por violação ao art. 11º, caput, da Lei 8.429/1992, à

luz das argumentações acima deduzidas.

Tendo em consideração a lesividade, a

reprovabilidade da conduta do réu, a amplitude da lesão e a

gravidade do ato de improbidade, conforme acima colocado,

aplico, nos termos do art. 12, inciso III, da Lei 8.429/1992,

as seguintes penalidades:

a) multa civil de 30 (trinta) vezes o

valor da última remuneração atualizada percebida pelo réu

enquanto Prefeito Municipal, devidamente corrigida, a partir

da propositura da presente ação, utilizando-se a tabela da

CGJ/MG;

b) proibição de contratar com o Poder

Público ou receber beneficias ou incentivos fiscais ou

creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por

intermédio de pessoa juridica da qual seja sócio majoritário,

pelo prazo de 5 (cinco) anos;

c) suspensão dos direitos políticos pelo

prazo de 3 (três) anos e 6 (~eis) '

meses; ./

//--,\! ~·' j

d) · perdê da função pública, se ainda a l ~';\

Autos nº 0352.09.057259-0 ' '. 24

Page 25: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

exercer.

A multa civil deverá ser revertida em

favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito praticado

pelo réu, nos moldes do art. 18, da Lei 8.429/1992

Condeno o réu no pagamento das custas e

despesas processuais.

Sem prejuízo, considerando que neste ano

há eleições municipais, e visando coibir a reiteração na

prática de atos de improbidade, bem como que o réu novamente

ingresse ou se mantenha na vida pública antes do trânsito em

julgado, com o risco de violar os principias constitucionais

da administração pública, aplico-lhe, ex officio, a seguinte

medida cautelar, com arrimo no poder geral de cautela (art.

297, caput, do NCPC e.e art. 798, do CPC/1973):

* Proibição de concorrer a qualquer

mandato eletivo, federal, estadual ou municipal, enquanto não

transitar em julgado a presente sentença.

Aliás, a própria jurisprudência reconhece

esse poder geral de cautela, no sentido de que o rol das

medidas é meramente exemplificativo, de maneira que o juiz

pode aplicá-las no intuito de primar pela efetividade da

prestação jurisdicional e do resultado útil do processo,

sendo totalmente adequada ao caso.

Nesse sentido:

PROCESSUAL /PENAL.

JUDICIAIS /

(ALTERJ<fATIVAS /

IMPOSIÇÃO

À PRISÃO

DE CONDIÇÕES

PROCESSUAL).

PONDERAÇÃO DE POSSIBILIDADE./~=R GERAL DE CAUTELA.

INTERESSES. ART./ 798) CPC; ART. 3º, CPC. 1. A questão 1 /

Autos nº 0352.09.057259-0 25

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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

jurídica debatida neste habeas corpus consiste na

possibilidade (ou não) da imposição de condições ao

paciente com a revogação da decisão que decretou sua

prisão preventiva 2. Houve a observância dos

princípios e regras constitucionais aplicáveis à

matéria na decisão que condicionou a revogação do

decreto prisional ao cumprimento de certas condições

judicias. 3. Não há direito absoluto à liberdade de ir

e vir (CF, art. 5º, XV) e, portanto, existem situações

em que se faz necessária a ponderação dos interesses

em conflito na apreciação do caso concreto. 4. A

medida adotada na decisão impugnada tem clara natureza

acautelatória, inserindo-se no poder geral de cautela

(CPC, art. 798; CPP, art. 3 o) . 5. As condições

impostas não maculam o princípio constitucional da

não-culpabilidade, como também não o fazem as prisões

cautelares (ou processuais). 6. Cuida-se de medida

adotada com base no poder geral de cautela,

perfeitamente inserido no Direito brasileiro, não

havendo violação ao princípio da independência dos

poderes (CF, art. 2º), tampouco malferimento à regra

de competência privativa da União para legislar sobre

direito processual (CF, art. 22, I). 7. Ordem

denegada. (HC 9414 7, Relator (a) : Min. ELLEN GRACIE,

Segunda Turma, julgado em 27/05/2008, DJe-107 DIVULG

12-06-2008 PUBLIC 13-06-2008 EMENT VOL-02323-05 PP-

00921 LEXSTF v. 30, n. 360, 2008, p. 451-459)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA.

NULIDADE DA CITAÇÃO. INEXISTÊNCIA DOS ATOS

SUBSEQUENTES. MANUTENÇÃO DO VALOR BLOQUEADO. MEDIDA

CAUTELAR INCIDENTAL. PODER GERAL DE CAUTELA.

INTELIGÊNCIA DO ART. 7 98 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

POSSIBILIDADE. PRECEDENTE DO STJ. I - O poder geral de

cautela consiste/ na possibilidade do juiz, no caso

'f" I de especi 1co, conce r tutela cautelar de ofício, !

determinan~~didas provisórias que julgue adequadas

ao caso concreft.~~·:I}r - Uma vez verificado que a medida

Autos nº 0352.09.057259-0

\ I \ /

26

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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

adotada pelo juízo de origem foi a adequada para

coibir o risco de lesão grave ao agravado, observando

o princípio da efetividade do processo, não merece

reparos a decisão atacada. III - Recurso não provido.

(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0024.04.496973-

1/001, Relator (a): Des. (a) Vicente de Oliveira Silva ,

10ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 10/11/0015, publicação

da súmula em 12/11/2015)

Ainda nesse sentido:

o poder geral de cautela, tanto quanto o

processo cautelar em gera 1, tem origem na

Constituição. Os autores dizem que se trata de um

poder integrativo da eficácia global da atividade

j uri sdi cional. A garantia constitucional de que toda

ameaça ou lesão a direito pode ser combatida pelo

Poder Judiciário (CF, art. 5°, XXXV) implica também a

atribuição de mecanismos para que a atuação do

Judiciário, no cumprimento dessa tarefa, seja eficaz.

A medida cautelar é um desses mecanismos. O poder

geral de cautela permite que o Juiz, que é o seu

titular, tome providências de índole cautelar (isto é,

com função cautelar) que não estejam previstas

expressamente (tipificadas) e que não tenham sido

requeridas. A existência deste poder é consequência da

impossibilidade de se tipificar todos os perigos

possíveis. Isto porque as cautelares nominadas (a que

a lei deu nome), como arresto ou sequestro, são

tipificadas em função de um tipo específico de perigo

descrito pela lei. Claro que é impossível ao

legislador pensar em todos os perigos possíveis!

Impossível também /se preverem todas /

as possíveis

correlatas soluçõ~$ (WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA,

Flávio I

Renato /Correia; TALAMINI, Eduardo. Curso I

Avançado de P1ocesso Civil Volume 3 Processo

cautelar e prcf.cedimentos especiais. 8ª edição, 2007, T . r ..____...,« ........ / .1 \ Ed. RT, pp. "42V43).

1 ! l ) f

Autos nº 0352.09.057259-0 \ '·· .. ~./ 27

Page 28: Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Não há que se falar em violação ao direito

de concorrer a uma função eletiva, a uma porque esta pode ser

vedada em diversas hipóteses constitucionais; a duas porque

não existem direitos nem garantias absolutos; a três porque a

presente medida se funda, também, no principio do

balanceamento.

Para viabilizar o cumprimento desta

medida, oficie-se ao Cartório Eleitoral desta comarca, para

que faça as anotações pertinentes no sentido de impedir o

registro das candidaturas.

a zelosa serventia, as Providencie,

diligências legais pertinentes, incluindo as diligências

normativas estipuladas pelo Conselho Nacional de Justiça,

como a inclusão no cadastro de condenados por improbidade.

Transitada em julgado esta sentença, abra­

se vista ao MP para requerer o que de direi to e expeça-se o

necessário para o cumprimento do aqui determinado, inclusive

ofício á Justiça Eleitoral.

Autos nº 0352.09.057259-0

Disponível no RUPE. j 1

P.R. I.

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Januária, 26 de abr/il '

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de 2016

MARCO ANTONIO DE OLIVEIRA\ROBERTO

Juiz d'e Direito

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