sentença que condenou maurílio arruda por improbidade e o proibiu de se candidatar
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Sentença que condenou Maurílio Arruda por improbidade e o proibiu de se candidatarTRANSCRIPT
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
lª VARA DA COMARCA DE JANUÁRIA
Autos nº 0352.09.057259-0
SENTENÇA
Vistos etc.
Trata-se de ação civi1 púb1ica por ato de
improbidade administrativa, proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS, em face de MAURÍLIO NÉRIS DE
ANDRADE ARRUDA
Alega o autor, em sintese: a) nos meses de
janeiro e fevereiro de 2009, o réu, então Prefeito Municipal
de Januária, fez publicar e circular plea cidade os
Informativos Municipais de Januária nº 01 e 02, cada um com
tiragem de 2. 000 (dois mil) exemplares, o que se trata de
órgão oficial da municipalidade; b) os informativos serviram
para explorar a imagem do então alcaide, caracterizando
nítida promoção pessoal do réu, tanto que a edição de janeiro
contém 18 (dezoito) fotos com imagens do mesmo, além de seu
nome ser citado, nas reportagens, por 35 (trinta e cinco)
vezes, ao passo que o termo "Prefeito" aparece em 20 (vinte)
oportunidades; c) a edição do mês de fevereiro, por sua vez,
contém 21 (vinte e uma) fotografias do Prefeito, o nome
"Arruda" aparece 36 (trinta e seis) vezes e a expressão
"Prefeito" é citada 21 (vinte e uma) vezes; d) a utilização
dos informativos deu-se de maneira abusiva e com o nítido
intento de explorar a imagem do j!'ntão Prefeito Municipal, ora i
réu, cuja qualidade pessoal é ,/enaltecida, o que demonstra a
clara intenção de vincular .á/ atividade administrativa à sua ·'
do réu
todas as ações /Í~ governo '-._. /
' --.,,.· ou vice-versa,\ o que
são descritas como ações pessoa; e)
viola o princípio da i
/ I ( .. /'/; Autos nº 0352.09.057259c0 1
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impessoalidade e o disposto no art. 37, §1 º, da CRFB; f)
desta forma, o
administrativa, haja
réu praticou ato
vista a violação
de
aos
improbidade
principias
constitucionais da administração pública, sendo irrelevante a
ocorrência de dano ao erário. Requer a procedência dos
pedidos, para condenar o réu nas penas do art. 12, inciso I,
da Lei 8. 429/1992. Com a inicial de fls. 02/23, vieram os
documentos de fls. 24/61.
Notificado (fls. 87/V), o réu apresentou
resposta preliminar (fls. 88/112), alegando, preliminarmente:
a) inadequação da via eleita, pois a Lei de Improbidade não
se aplica aos agentes políticos; b) inexistência de ato de
improbidade administrativa,
ilegalidade ou imoralidade,
haja vista que não agiu com
já que se limitou em dar
publicidade aos atos oficiais da Administração, que são
indissociáveis da pessoa do alcaide, de maneira que não houve
o dolo em promover-se pessoalmente. Não junta documentos.
Intimado (fls. 86/Vº), o Município de
Januária requereu sua habilitação como litisconsorte passivo
e, em sua manifestação (fls. 65/73), sustentou: a) carência
da ação, por ausência de indícios mínimos da prática de atos
de improbidade; b) ausência de lesão ao erário quando da
impressão dos informativos municipais, tanto que o então
Prefeito, ora réu, não teve qualquer participação na
confecção dos informes; c) não houve dolo ou má-fé, elementos
subjetivos essenciais para a configuração dos alegados atos
ímprobos, sendo que no caso não há a menor comprovação de que
o réu agiu no intuito de promover-se pessoalmente e enaltecer
suas qualidades pessoais, sendo que o objetivo da lei é punir
o gestor desonesto, e não o inábil. Junta documentos (fls.
75/85). ,;·'
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A / '1· . f s / pr<f iminares oram rejeitadas, uma a /' Í
;
Autos nº 0352.09.057259-0 2
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uma, e a inicial foi recebida, determinando-se a citação do
réu (fls. 114/117). Irresignados, o réu e o Município de
Januãria interpuseram recurso de agravo retido (fls. 121/145
e 146/154).
Intimado (fls. 119/Vº), o MUNICÍPIO DE
JANUÁRIA apresentou contestação (fls. 155/162), alegando, em
apertada síntese, que o réu, na condição de Prefeito
Municipal, sempre primou pela publicidade e transparência da
administração municipal, o que foi retratado nos informativos
questionados pelo MP, sem que houvesse qualquer intenção de
promoção pessoal, motivo por que não resta configurado o ato
de improbidade insistentemente imputado pelo réu, que exige o
dolo, no caso, inexistente. Requer a improcedência dos
pedidos. Não junta documentos.
O réu, regularmente citado (fls. 120/Vº),
apresentou contestação (fls. 166/191), alegando, reiterando
as preliminares invocadas na defesa preliminar. No mérito,
sustenta: a) a inexistência do alegado ato ímprobo, uma vez
que sempre observou fielmente os princípios constitucionais
da administração pública, o que se evidencia nos
informativos, os quais tiveram cunho meramente informativo,
educativo e de transparência da gestão, inclusive seu próprio
esforço pessoal, de modo que jamais houve escopo de promoção
pessoal; b) as referências feitas à sua pessoa, enquanto
Chefe do Executivo, foram de cunho meramente institucional,
tanto que, nas reportagens, seu nome é utilizado como se
fosse o próprio Município, não tendo qualquer intenção de
promoção pessoal; c) ainda assim, o ato de improbidade só se
configura em havendo elemento subjetivo, qual seja, o dolo,
caracterizado pela imoralida~ qualificada e desonestidade do /
agente público. Requer~.\ iJi'procedência dos pedidos. Não junta ' '>, J!
documentos.
Autos nº 0352.09.057259-0
y. ... ..._ ! ) i ! f z
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Houve réplica, onde o autor requereu o
julgamento antecipado da lide (fls. 195/207)
O réu especificou provas e justificou-as
quanto à pertinência e relevância (fls. 211/214), ao passo
que o autor reiterou o pedido de julgamento antecipado ( fl.
210Vº) .
Sem sanear o feito, o juízo deferiu a
prova oral requerida (fl. 216).
Em regular instrução, realizada via carta
precatória, foram ouvidas duas testemunhas do réu (fls. 266 e
2 67) .
O juízo declarou encerrada a instrução e
determinou a intimação das partes para apresentação de
memoriais (fl. 277), as quais, intimadas, reiteraram os
termos de suas respectivas peças, tendo o réu tecido
considerações acerca da pessoa do presentante do MP ( fls.
280/293 e 295/305).
sentença.
Os autos vieram-me
É o relatório.
Fundamento e decido.
De proêmio, consigno
conclusos para
que este feito
encontra-se inseri to na Metas 02 e 04, do CNJ, o qual vem
fazendo rei ter adas e sucessivas ./
cobranças para julgamento,
pelo que incide o disposto/ no art. 12, parágrafo único, /
inciso VII, do NCPC, lemby,;,ndo que os critérios cronológicos
ali definidos não s·âÔ\r/gidos e podem ser relativizados com ~~ .. --....
fulcro nos princípios/ da i proporcionalidade, razoabilidade, 1 /
I Autos nº 0352.09.057259-0 i 4
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racionalidade organizacional e eficiência da unidade
judiciária (nesse sentido, vide Enunciado nº 32, da ENFAM).
Ainda de proêmio, tenho que os agravos
retidos interpostos às fls. 121/145 e 146/154, a meu ver, não
consistem na via adequada para atacar a decisão que concluiu
pela admissibilidade da petição inicial, vez que esta é
impugnável através de agravo de instrumento, conforme
expressa previsão do art. 17, §10, da Lei 8.429/1992, o que,
in casu, não ocorreu.
Logo, resta preclusa a questão afeta às
preliminares invocadas e já rejeitadas na decisão
suprarreferida.
Ainda assim, em respeito ao debate, por
sinal enaltecido pelo NCPC, passo a tecer breves
considerações acerca da incompetência do juízo e da
impropriedade da via eleita, eis que o réu entende que, por
ser agente político, não pode submeter-se aos rigores da Lei
8.429/1992, invocando, para tanto, precedente do c. STF.
Com efeito, como já deixei consignado nos
autos nº 0352.13.003941-0, a via é adequada, uma vez que há
perfeita compatibilidade na aplicação das condutas previstas
no Decreto-Lei 201/1967 e as da Lei 8. 429/1992, consoante
matéria já decidida pelo c. STF, in verbis:
E M E N T A: RECLAMAÇÃO AÇÃO CIVIL POR
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - COMPETÊNCIA DE MAGISTRADO DE
PRIMEIRO GRAU, QUER SE CUIDE DE OCUPANTE DE CARGO PÚBLICO,
QUER SE TRATE, COMO NA/ ESPÉCIE, DE TITULAR DE MANDATO
ELETIVO (PREFEITO Ml),l'ÍICIPAL) AINDA NO EXERCÍCIO DAS /
RESPECTIVAS FUNÇÕESÍ'.'.. RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - O
Supremo Tribuni}d:\F)"deral tem advertido que, tratando-se de
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,' '!----!
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ação civil por improbidade administrativa (Lei nº
8.429/92), mostra-se irrelevante, para efeito de definição
da competência originária dos Tribunais, que se cuide de
ocupante de cargo público ou de titular de mandato eletivo
ainda no exercício das respectivas funções, pois a ação
civil em questão deverá ser ajuizada perante magistrado de
primeiro grau. Precedentes. (Rcl 27 66 AgR, Relator (a) :
Min. CELSO
27/02/2014,
DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-070 DIVULG 08-04-2014
PUBLIC 09-04-2014)
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE
PRIMEIRO GRAU PARA JULGAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONTRA
PREFEITO MUNICIPAL POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI N. 10.628/2002.
ACÓRDÃO RECORRIDO EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE
NEGA PROVIMENTO. (RE 444042 AgR, Relator (a): Min. CÁRMEN
LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 25/09/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-201 DIVULG 11-10-2012 PUBLIC 15-10-2012)
Forte nestas razões, ratifico a rejeição
da preliminar invocada.
Quanto às outras preliminares, que, como
já dito, já foram rejeitadas, sem que houvesse a interposição
do recurso cabivel, qual seja, agravo de instrumento (art.
17, §10, da Lei 8. 429/1992), deixo de reapreciá-las, ante a
preclusão, e,
aludida decisão.
mérito. Partes
ainda assim, reporto-me aos fundamentos da
Sem outras preliminares, processuais ou de /'
legitimas /e /
bem representadas. Pedido
juridicamente possivel, p6is não vedado pelo ordenamento /\_/
juridico, concorrendoc/ao[,_aJJtor o interesse de agir, pois
da prestaçef~ j.brisdicional, através da necessitou
Autos nº 0352.09.057259-0 '! !
.i
l ·'/
' < .. ~e,•
via
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processual adequada, colimando a obtenção de provimento útil.
Presentes, pois, as condições da ação e os pressupostos de
desenvolvimento válido e regular do processo.
Passo ao exame do mérito.
A controvérsia versada nos autos cinge-se
em saber se os informativos publicitários do Municipio de
Januária, que contêm as fotos do réu, tiveram o condão de
caracterizar promoção pessoal ou só se limitaram aos fins
informativos e educativos, bem como, em caso de constatação
de promoção
configuração
administrativa.
pessoal, se houve
dos indigitados
Pois bem, em
dolo e a consequente
atos de improbidade
janeiro de 2009, que
correspondeu com o início da gestão do réu à frente do
Município de Januária, após ser legitimamente eleito no
pleito de 2008' foi
Informativo Municipal,
publicado
com 2.000
a primeira tiragem do
(dois mil) exemplares,
iniciando com uma reportagem em que "começa um tempo em
Januária", constando a informação de que o réu e "Afonso do
Sindicato" foram empossados ( fl. 2 9) .
No corpo da reportagem, constou que o réu
é um renomado advogado e doutorando em Direito
Administrativo, já tendo prestado consultoria a cerca de 400
(quatrocentas) prefeituras ao longo de sua brilhante carreira
profissional. Finaliza que, depois de notícias de escândalos
de corrupção, um novo tempo de prosperidade e esperança se
inicia (fl. 29).
!
No mesmo /Ínformativo, consta
que o prefeito 1 . I •
a
Secretário de
e eito, /ora reu, recebeu ..... --·,........\/
Estado >'"da /"E-Gt.µcação, para tratar I
f Autos nº 0352.09.057259-0
a menção de
visita do
de recursos
7
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destinados à área educacional. Na mesma página, consta que o
réu, inclusive fotografado, se reuniu com profissionais da
educação, ocasião em que constou que o mesmo apresentou a
forma de sua gestão para os servidores, no intuito de
priorizá-la e fortalecer o ensino nesta urbe; arrematou que
"a educação é uma das prioridades do nosso governo, sou
professor e vamos investir pensando na melhoria da qualidade
de vida da população januarense" (fl. 31).
Ainda na mesma página, foi divulgado que a
credibilidade do novo governo atrai investimentos para
Januária, ocasião em que o nome do réu foi citado, cuja
eleição já atraiu novos investimentos para a cidade, a qual
ficou com a má fama de uma das cidades mais corruptas do
país, de maneira a ser uma oportunidade para virar a página
desse triste passado (fl. 31).
Consta, ainda, diversas fotografias do réu
em reuniões com outras autoridades, quando o município ganhou
o Samu regional, bem como a ação na agenda positiva da saúde,
em que seu nome foi novamente citado; por fim, consta a
visita do réu e sua comitiva à sede do MP local (fl. 31Vº).
No início da página 07, há uma reportagem
para que o receptor da mensagem não revelasse seus sonhos
antes da hora porque alguém do seu lado por ser o primeiro a
lhe prejudicar, e, logo em seguida, contém um breve dado
biográfico do réu, explanando sobre sua profissão de
advogado, sobre sua origem humilde e enfatizando a sua
riqueza espiritual, bem como o seu desejo de ser prefeito
desde quando era um engraxate (fl. 32).
Ainda na /{nesma página, í
consta trechos de
uma entrevista do alca}-ct\. /ecém-empossado, ora réu, extraída . ~-1.
Jornal "O Médio São/"rr·\'ncisco", do onde foram realçadas
/ I ! Autos nº 0352.09.057259-0 8
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diversas qualidades pessoais e destacou que "as pessoas têm
que chegar dentro do Poder Público não para fazer vida, mas,
sim, para transformar a vida dos outros que de fato
necessi taro do Poder Público" ( fl. 32) .
Já na página O 9 consta reportagem acerca
de um novo tempo que se inicia em Januária (fl. 35), o que
guarda estreita relação com a gestão liderada pelo réu.
O Informativo nº 02, de fevereiro de 2009,
inicia com uma enorme fotografia do réu, com a reportagem
intitula da "30 dias de avanços", fazendo menção a um governo
sério, participativo, de ações planejadas, transparentes e
dinámicas, em um verdadeiro choque de gestão, bem como a
manchete contendo sua fotografia quando da recepção do bispo
(fl. 34).
Na página 02 consta um longo editorial de
autoria do réu, destacando as ações de sua gestão frente ao
cenário de crise mundial e à turbulência política, bem como
que abriram mão de disputar a presidência de uma associação
de municípios integrantes da SUDENE com o escopo de priorizar
os assuntos internos (fl. 34Vº).
Na mesma página consta a Agenda Positiva
de Governo, com 7 (sete) fotografias, sendo que o réu se
encontra em todas (fl. 34Vº).
Na página 04 consta que o réu tornou-se o
novo presidente do CISAMF, onde também está fotografado em
companhia de outros prefeitos municipais, havendo menção,
ainda, aos 30 (trinta) dias d~ avanços (fl. 35Vº). /
Estado
Autos nº 0352.09.057259-0
consta que o Governador do
choque de gestão e, na
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entrevista, teceu diversas considerações enaltecendo a sua
pessoa e que está esperançoso de que ele fará uma bela
administração (fl. 36).
Já na página o 6, consta que o réu
recepcionou o novo bispo da diocese local, Dom José Moreira
da Silva, ocasião em que proferiu discurso na catedral local
(fl. 36Vº).
Em arremate, há duas fotografias em que o
réu aparece assinando cheque do 13º salário de servidores,
com reportagem intitulada "Enfim, servidores recebem 13°
salário", bem como um projeto de lei do Executivo isentando o
contribuinte de juros, multas e correções, o que faz parte do
chamado programa choque de gestão ( fl. 37) ' o qual vem
minudenciado na página 308, em que o réu é fotografado com a
equipe integrante do primeiro escalão da administração ( fl.
3 7Vº) .
De fato, ao que tudo indica, a tiragem dos
informativos foi custeada pelo próprio réu (fls. 54/57).
A testemunha João Milton Barbosa da
Fonseca afirmou ter conhecimento dos informativos, que não
foram pagos e encomendados por Marcelo, jornalista de
Januária, sem saber se este era servidor municipal. Aduziu
que a própria gráfica suportou os custos da impressão (fl.
?66)
A testemunha Kleuber Carneiro Jacques
afirmou que os informativos .,eram datados do '
foi Secretário de Finanças1 e que não sabe /
podendo afirmar, contud,Ó, que não foram /
dinheiro público (fl. .. /~67). I \_j_ . .---·--;
'
Autos nº 0352.09.057259-0
periodo em que
quem os pagou,
custeados com
10
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Com efeito, em que pesem os respeitáveis
argumentos deduzidos pelo réu no decorrer do processo, tenho
que a publicidade em questão, apesar de teoricamente ser de
natureza institucional, teve, sim, o condão de visar a
promoção pessoal do réu, eis que diversos atributos pessoais
foram enaltecidos, conforme acima descrito.
Entendo que o fato de os informativos
consignar o nome do réu ou fazer referência expressa à sua
pessoa por dezenas de vezes é mais do que suficiente para
demonstrar que a publicidade em muito transbordou dos limites
informativos e educativos, que é seu escopo principal,
partindo para a autopromoção.
Como dito acima, o fato de o informativo,
pertencente ao Município de Januária - e não ao réu, frise-se
consignar que o réu é uma pessoa de origem humilde mas
detentor de uma riqueza espiritual demonstra cristalinamente
a ênfase a uma qualidade pessoal - que, de fato, não deixa de
ser boa, pois isso é o que, teoricamente,
qualquer ser humano.
se espera de
Contudo, é cristalino que o teor dos
informativos supramencionados, em relação aos quais já fiz
extensas considerações, demonstrou a intenção de o réu
promover-se perante o receptor da mensagem, no caso, os
administrados, verdadeiros donos do poder, de modo que estes,
quando o leram, certamente foram induzidos a crer em tais
atributos, máxime porque por várias vezes houve a menção do
trágico histórico de corrupção que assolou esta urbe.
precipua
Município
Municipal,
Deveras, Cf' Informativo Municipal tem a
finalidade de d~f~lgar os atos praticados pelo
enquanto pessoa /jurídica, presentada pelo Prefeito .... ~/
;::. V
e jamais forlrct-J..ec"r a imagem deste e dar- lhe os ,
Autos nº 0352.09.057259-0 .f/
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créditos pelos mencionados êxitos e créditos obtidos logo no
inicio da gestão.
Aliás, como dito, o réu aparece em quase
todas as fotografias existentes, de forma a vincular os atos
da administração à sua pessoa, sem qualquer dissociação.
Ora, é regra basilar de Direito
Administrativo que as figuras do Município de Januária,
pessoa juridica de direito público, e do Prefeito Municipal,
como no caso do réu, são totalmente distintas, motivo por que
não há justificativa e tampouco licitude na divulgação de
atos governamentais à imagem do segundo, conforme ficou
cristalinamente demonstrado nos autos e alhures ponderado.
Isto é reforçado, com efeito, na
entrevista dada pelo então Governador do Estado, que só teceu
elogios à pessoa do réu, o que foi visivelmente divulgado no
meio de comunicação oficial.
O fato de os informativos terem sido
confeccionados por uma gráfica, sem custeio de recursos
públicos que, ao que tudo indica, foi o réu quem o fez
(fls. 54/57) tem o condão de demonstrar o seu intento de
promover-se pessoalmente - em que pese a intenção de não se
valer de recursos públicos, o que, por certo, tornaria a
conduta mais grave haja vista que se não houvesse tal
intenção, o réu, exímio conhecedor do Direito Público (fl.
29), certamente teria se valido de recursos públicos para o
custeio e, principalmente, não enalteceria sua imagem com o
escopo de autopromoção.
oficial, ou seja,
maneira que a sua
Autos nº 0352.09.057259-0
Aliás, é inc/ntroverso que o informativo é /
' pertencente' ao Município de Januária, de ,.") /
impre's~~·-··q,ue faz parte dos serviços de ; !
1 ' , ' /
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publicidade, necessariamente deveria ser precedida de
licitação, lembrando que, em tais serviços, é vedada a
dispensa ou inexigibilidade (art. 25' inciso II, da Lei
8.666/1993).
Deveras, a publicidade institucional visa
a divulgação dos atos e programas da administração pública,
com fins informa ti vos, educa ti vos ou de orientação social,
sendo terminantemente vedada qualquer uso de nomes, símbolos
ou imagens que configurem promoção pessoal do agente público
(art. 37, §1º, da CRFB), o que é corolário lógico dos
princípios da impessoalidade e moralidade.
E, como dito, o nome e as imagens do réu
foram divulgados em dezenas de vezes, em praticamente todas
as reportagens e fotografias existentes nos informativos.
A publicidade institucional deve, isto
sim, divulgar os atos e programas em nome do Município de
Januária, mencionando, por exemplo, "que o Município
conseguiu celebrar o Convênio X" '
"que o Município quitou
verbas salariais de servidores que estavam atrasadas" etc., e
nunca, jamais, fazer dezenas de menções ao nome do réu e
colacionar dezenas de fotografias suas.
Entendo que, ocasionalmente, não há
impedimento que os agentes públicos venham a ter seus nomes e
fotografias estampados em informativos oficiais, desde que,
frise-se, se limitem em prestar informações aos leitores,
como, por exemplo, para que saibam quem são tais agentes,
contanto que não explorem atr>ibutos
.//
riqueza espiritual.
/ Po:;:- .. 1 ~ inal, o
. ~ contestação, assever~u '-ue. seu nome . \
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pessoais, a exemplo
próprio réu, em
era utilizado como
da
sua
se
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fosse o próprio Município ( fl. 1 77, penúltimo parágrafo) , o
que reforça o escopo de promoção pessoalmente com a
publicidade em comento.
Nesse sentido, destaco entendimento
jurisprudencial:
EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. PUBLICIDADE VEICULADA EM INFORMATIVO
MUNICIPAL. FOTOS E MANIFESTAÇÕES PESSOAIS DO PREFEITO.
AUTOPROMOÇÃO. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO "IN
SPECIE". - Demonstrado pelo conjunto probatório que a
publicidade institucional extrapolou o desiderato
informativo, educativo e de orientação previstos na
Constituição Federal, incide o alcaide em violação aos
princípios da legalidade, moralidade e impessoalidade
em afronta direta ao art. 37 §1 º da CR. Fazer
publicidade de modo a vincular o próprio nome e
imagem, servindo única e exclusivamente para auto
promoção do Prefeito, exaltando as ações positivas da
Administração Pública como se suas fossem, configura
promoção pessoal vedada pela Lei nº 8.429/92.
(TJMG - Apelação Cível 1.0056.07.155546-2/001,
Relator(a): Des. (a) Belizário de Lacerda , 7ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 16/04/2013, publicação da súmula
em 19/04/2013)
EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA -INFORMATIVOS PUBLICADOS PELO MUNICÍPIO
- MENÇÃO AO NOME E À IMAGEM DO GESTOR MUNICIPAL -
VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL - PROMOÇÃO Ã IMAGEM PESSOAL DO
PREFEITO CARACTERIZADA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE ATO DE IMPROBIDADE MULTA CIVIL
APLICADA. 1. O § 1f' do artigo 37 da Constituição
Federal impede a ,identificação entre a publicidade /
institucional e o} titulares dos cargos públicos. 2.
É indevida e à imagem do Prefeito,
Autos nº 0352.09.057259-0 14
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
bem corno aos slogans de campanha, nas publicações
governamentais, por configurar violação ao princípio
da impessoalidade. 3. O próprio réu afirmou que as
publicações tinham corno objetivo marcar "o início da
sua administração", "comparando-a com as anteriores 11,
assumindo que foram feitas referéncias pessoais a ele
nos informativos. Dolo genérico caracterizado.
4. Caracterização de conduta violadora aos princípios
da Administração Pública, tipificada no art. 11, I, da
Lei n. 8.429/92. 5. Inocorrência de enriquecimento
ilícito ou lesão ao erário. 6. Aplicação apenas da
sanção de multa civil, diante das particularidades do
caso concreto. 7. Recurso provido em parte. (TJMG -
Apelação Cível 1.0183.08.153444-2/001, Relator (a):
Des. (a) Áurea Brasil , 5ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
28/02/2013, publicação da súmula em 05/03/2013)
Nestes termos, não há a menor dúvida de
que o réu, intencionalmente, incorreu em conduta vedada pelo
art. 37, §1 º, da CRFB, meti vo por que incorre no disposto no
art. 11, caput, da Lei 8.429/1992.
Vale lembrar que o rol do art. 11, acima
citado, é meramente exemplificativo, de maneira a abarcar
qualquer conduta que tenha o condão de violar, direta ou
indiretamente, qualquer princípio da administração pública, o
qual deve ser cegamente observada pelo administrador,
mormente os agentes políticos, que, por vontade própria, se
candidataram e foram eleitos para representar o povo,
verdadeiro dono do Poder (art. 1°, parágrafo único, da CRFB).
/ i
Tenho por present.é o elemento subjetivo, /
consubstanciado no dolo, haja vista/ que o réu, mandatário do '
povo durante a época dos fatos/ tinha pleno conhecimento í
acerca das determinações constitpcionais e legais, rnáxirne por ....--\'
ser renomado advogado e dq,t:Ctor~ndo em Direito Administrativo :'---·-.
Autos nº 0352.09.057259-0 15
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
(fl. 29).
O réu, que voluntariamente se candidatou a
prefeito e foi eleito pelo povo, contava, além de seu elevado
conhecimento jurídico, com assessoria jurídica, de maneira
que, no caso da menor dúvida sobre como proceder quando da
realização da publicidade, tinha a obrigação de fazer a
competente consulta e, principalmente, solicitar a elaboração
de um parecer, até mesmo para resguardar-se e demonstrar zelo
e cuidado em sua atuação e no trato com a coisa pública.
Deveras, como é sabido, assim que wna
pessoa é empossada no cargo de Prefeito Municipal, esta se
compromete em atender ao bem comum, bem como defender e
cwnprir fielmente as disposições constitucionais e da lei
orgânica municipal.
Se não agiu com dolo direto, o réu, ao
menos, assumiu o risco em razão de sua conduta, o que
configura o chamado dolo eventual, já que, ao enaltecer sua
imagens e suas qualidades pessoais, assumiu o risco de seus
atos, pelos quais deve ser responsabilizado.
Deveras, está mais do que hora de serem
coibidas práticas deste jaez, onde os gestores públicos,
mormente os municipais, simplesmente ignoram as disposições
constitucionais e legais vigentes, tanto as principiológicas
quanto as meras regras, e, passando por cima das mesmas, agem
como se fossem donos da coisa pública,
observãncia dos critérios de legalidade,
moralidade.
sem a mínima
impessoalidade e
A politizaç;ãO da máquina administrativa i
deve limitar-se somente à chelia do Executivo e aos escalões i
superiores, como nos casos/ de secretários municipais, não
·>/ ·1.,l-··-.. Autos nº 0352.09.057259-0 16
/
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
podendo, em hipótese alguma, alcançar o restante da máquina,
onde os servidores devem ser efetivos e atuarem com
independência
subordinados
face
apenas
aos
sob
interesses políticos, sendo
os prismas hierárquico e
administrativo.
Por fim, em se tratando da tutela do
patrimônio público, decorrente do microssistema próprio da
tutela coletiva, vigora os princípios da máxima amplitude
protetiva e da proteção ao vulnerável, situação em que se
amolda, de forma que caberia ao réu o ônus de comprovar
qualquer causa excludente de responsabilidade.
Nesse sentido:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO DE
PESSOAL SEM CONCURSO PÚBLICO. FUNDAMENTO
CONSTITUCIONAL DO ACÓRDÃO A QUO NÃO IMPUGNADO POR
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SÚMULA 126/STJ. ARTIGO 11 DA
LEI 8429/92. VIOLAÇÃO A PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS.
ELEMENTO SUBJETIVO DO ATO ÍMPROBO EXPRESSAMENTE
RECONHECIDO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. REVISÃO DAS
SANÇÕES IMPOSTAS. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E
RAZOABILIDADE. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO PROBATÓRIA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. O Tribunal de
origem, ao analisar a controvérsia relacionada à
contratação de pessoal sem concurso público,
caracterizando ato de improbidade administrativa,
fundou o seu entendimento em preceitos de natureza
constitucional e infraconstitucional autônomos.
Entretanto, em relação à fundamentação constitucional,
não houve a interpo,,s'ição de recurso extraordinário, o f
f
que atrai a inoidência da Súmula 126/STJ. 2. Na
hipótese -O~ ._;ltos, o Tribunal local consignou
expressamente / e~tar "presente o dolo genérico da ! j
1
Autos nº 0352.09.057259-0 / 17 '-,/'
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
apelante na conduta de contratar/manter servidores,
sem concurso público, durante todo o mandato, mesmo
sabendo da exigência constitucional de tal restrição,
tanto que realizou dois concursos públicos na sua
Administração Municipal". Deste modo, a reversão de
tal entendimento demandaria o reexame de matéria
fático-probatória, o que é vedado em sede de recurso
especial, nos termos da Súmula 7/ST,J. 3. A análise da
pretensão recursal, no sentido de rediscutir a
razoabilidade ou proporcionalidade das sanções
aplicadas, com a consequente reversão do entendimento
exposto pela Corte a quo, exigiria, necessariamente, o
reexame de matéria fático-probatória, o que é vedado
em sede de recurso especial, nos termos da Súmula
7/STJ. 4. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg no
AREsp 788.735/SE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/12/2015, DJe
14/12/2015)
ADMINISTRATIVO. CIVIL.
IMPROBIDADE. PREFEITO.
PROCESSUAL
GESTORES MUNICIPAIS.
CONTRATAÇÃO. EMPREGADOS PÚBLICOS. AUSÊNCIA DE CONCURSO
PÚBLICO. CESSÃO AO MUNICÍPIO. MULTA PROCESSUAL. ART.
538, PARAGRAFO ÚNICO, DO CPC. AFASTAMENTO. VIOLAÇÃO
DOS ART. 165, 458, II, E 535, I, DO CPC. ACÓRDÃO
FUNDAMENTADO. INEXISTENTE. PRESCRIÇÃO EM RELAÇÃO À
PARTE DOS GESTORES DA EMPRESA PÚBLICA. VERIFICADA.
DADOS NO ACÓRDÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 23, I, DA LEI
8.429/92. TIPIFICAÇÃO DA CONDUTA NO ART. 11 DA LIA E
CRITÊRIOS PARA MULTA CIVIL. SÚMULA 7/STJ. CONDUTA
ÍMPROBA DO PREFEITO AO ACOLHER OS EMPREGADOS CEDIDOS.
SÚMULA 7/STJ. CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA. POSSIBILIDADE.
SÚMULA 83/STJ. LITISCONSÓRCIO PASSIVO. DESNECESSIDADE.
SÚMULA 83/STJ. COTEJO ANALÍTICO. DEFICIÊNCIA. 1.
Recursos especiais interpostos contra acórdão que
manteve
ajuizada
concurso,
Autos nº 0352.09.057259-0
condenação do;; réus em /
contra a /contratação ,,-, I
para/·/ernÍiresa pública r--- ·1 i \. ! \
ação civil pública
de empregados, sem
municipal, que eram
18
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
cedidos à Administração Pública municipal. O acórdão
determinou a nulidade dos contratos de trabalho e
fixou multa civil em caráter solidário aos gestores.
2. Devem ser conhecidos em parte ambos os recursos
especiais, para lhes dar provimento e retirar a multa
processual aplicada com base no art. 538 do Código de
Processo Civil, uma vez que a leitura das peças de
embargos detonam apends o ímpeto de aclarar o modo de
cálculo da multa civil imposta. 3. Não há falar em
violação dos arts. 165, 458, II, 535, I e II, do
Código de Processo Civil, uma vez que a leitura do
acórdão recorrido demonstra suficiência de
fundamentação, além da ausência .de vícios. 4. o
recurso especial de Eiter Cristiani e outros deve ser
conhecido pela alínea 11 a 11, por violação do art. 23, I,
do Lei n. 8.429/92, para consignar a prescriçao em
relação aos recorrentes Jairo Cesar Colombo, José
Carlos Aparecido Hansen e Paulo Sérgio Bodini, uma vez
que o acórdão evidencia que, quando ajuizada a ação
na origem (6/6/1995), já teriam transcorrido mais de
cinco anos do término do exercício de suas funções na
empresa municipal. 5. No caso concreto, o acórdão
proferido na origem é muito claro ao evidenciar a
presença do dolo genérico e da infração ao art. 11 da
Lei n. 8.429/92, uma vez que não é aceitável a
contratação de empregados em empresa pública, com a
cessão deles ao Poder Executivo municipal sem a
ocorrência do devido concurso público. Desconstituir
tal panorama fático exigiria incorrer em violação do
teor da Súmula 7 /STJ. Precedentes: REsp 1. 424. 550/SP,
Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/
Acórdão Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma,
DJe 14.8.2014; AgRg no AgRg no AREsp 533.495/MS, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe
17/11/2014; AgRg no AREsp 135.509/SP, Rel. Ministra
Eliana Calmou, Segunda Turma, DJe
há falar em viol/ção no que tange !
Autos nº 0352.09.057259-0
12 da Lei ~n:~/_!?S<92 e 128, 459, f í
l //
\ F
'. //
18/12/2013. 6. Não
aos arts. 1 °, 2 º e
460, 512 e 515 do
19
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
Código de Processo Civil, pois a multa havia sido
fixada na origem pelo máximo admitido (100 vezes o
valor total das remunerações dos agentes). Do ponto de
vista lógico, a alter ação no modo de cálculo somente
pode diminuir tal quantum. Todavia, o acórdão não
indica os valores básicos e, assim, o tema não pode
ser sindicado, pois inviável seu exame numérico, em
razão da Súmula 7 /ST,J. 7. FiCOl.J firmado, com base no
acervo fático e nas provas dos autos, tal como
expresso no acórdão, que o acolhimento dos empregados
públicos ilegalmente contratados configurou ato de
improbidade
esbarraria
administrativa.
no teor da
Prever
Súmula
tal conclusão
7/STJ. 8. A
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é clara
ao indicar que a responsabilidade nas ações de
improbidade, entre os ímprobos é solidária. Aplicável
a Súmula 8 3 /STJ. Precedente: REsp 1. 4 07. 8 62 /RO, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
19/12/2014. 9. Não há violação dos arts. 47 e 267 do
Código de Processo Civil em razão da ausência de
formação do polo passivo com os empregados públicos
ilegalmente contratados. A questão é semelhante às
encontradas nas ações de improbidade dirigidas contra
contratações de empresas sem licitação. Aplicável a
Súmula 83/STJ. Precedentes: REsp 1.407.862/RO, Rel.
Ministro Mauro Campbel 1 Marques, Segunda Turma, DJe
19/12/2014; REsp 1. 243. 334/SP, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, Primeira Turma, DJe 10/5/2011. 10. Ambos os
recursos especiais são deficientes em fundamentar o
cotejo analítico. A deficiência de formulação enseja o
não conhecimento por esta via, como firmado na
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
Precedentes: REsp 1.339.309/SP, Rel. Ministro Napoleão
Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 27 /3/2014; AgRg .·
no AREsp 13. 853/fyP, Rel. Ministro Sérgio Kukina, I
Primeira Turma, Í DJe 15/3/2013; AgRg no REsp
1.443.872/CE),"~---Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, DJe "20/3//2015); AgRg no REsp 1. 455. 330/MG, Rel. 1 j \ /
Autos nº 0352.09.057259-0 \ / 20 ~ /
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 4/2/2015.
Recurso especial de Manoel Samartin e Simão Welsh
conhecido em parte e provido para afastar a multa
processual fixada com base no art. 538, parágrafo
único, do CPC. Recurso especial de Ei ter Cristiani e
Outros conhecido em parte e provido para afastar a
multa processual e reconhecer a prescrição em relação
a ,Tai ro Cesar Colombo, José Carlos Aparecido Hansen e
Paulo Sérgio Bodini. (STJ, REsp 1261057/SP, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/05/2015, DJe 15/05/2015)
A improbidade administrativa pode ser
conceituada, de forma simplista, como uma imoralidade
qualificada do agente que se encontra vinculado, a qualquer
título, para com a administração pública. Pressupõe má-fé e
desonestidade, nos casos dos arts. 9º e 11, da Lei
8.429/1992.
como dito acima, está mais do que na hora
de o administrador público conscientizar-se do disposto no
art. 1°, parágrafo único, da CRFB/1988, que reza, de forma
inequívoca, que o dono do poder é o povo, soberano, e que, ao
ser inserido em uma função pública, nada mais é do que um
mero representante. E ninguém é obrigado a ingressar na
função pública; faz porque assim deseja, pelo que deve ser
responsável pelos seus atos.
A função administrativa do Estado deve
pautar-se, sempre, pela supremacia do interesse público e
pela indisponibilidade da coisa pública, traços integrantes
do denominado regime juridico administrativo, em torno do que
devem gravitar todas as
públicos.
ou seja,
Poder.
E, com isso,
deve servir
ações praticadas pelos agentes
administrativa é serviente,
verdadeiro e único dono do
Autos nº 0352.09.057259-0 \ / 21
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
Infelizmente, não é o que ocorre,
principalmente nas pequenas cidades e em regiões mais
carentes, onde, em pleno século XXI, predominam o
assistencialismo, o clientelismo, o patrimonialismo e a
politização da coisa pública. Por exemplo, os cargos na
administração que sejam de livre nomeação e exoneração
portanto com critérios políticos - não o são levando em conta
a capacitação do interessante, a sua competência, a sua
especialização, mas, sim, o único fato de ser correligionário
do agente que, momentaneamente, está representando o povo,
dono do poder.
O Brasil sempre viveu e ainda vive uma
situação de verdadeiro desrespeito para com a coisa pública,
eis que os agentes públicos são eleitos e, diplomados e
empossados,
olvidando-se
agem
da
como se
função
fossem os verdadeiros donos,
meramente serviente a que,
voluntariamente, se candidataram.
Assim sendo, havendo, comprovadamente,
violação ao postulado da legalidade, mais precisamente a
ditames constitucionais, a condenação do réu nas penas do
art. 12, inciso III, da Lei 8.429/1992, é medida que se
impõe.
Passo, a seguir, á dosimetria das penas.
Em princípio, reza o parágrafo único do
art. 12, da Lei 8.429/1992, que, para a fixação das penas, o
juiz deverá levar em conta a extensão do dano causado e o
proveito patrimonial obtido pelo agente.
// Entretanto, na aplicação das normas que
! têm por escopo a tutela Ída probidade administrativa e do
' patrimônio público,
' ... "'\._ ~ ......... -~·~---.,_
nã'o -parec'!= adequado analisar apenas a 1 1 ! / ' \ ,/ 22 \ ·'
"'~--··
Autos nº 0352.09.057259-0
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
medida patrimonial do dano e do proveito.
Ao aplicador cumpre analisar e localizar,
sob o referencial dos principias constitucionais, os
instrumentos de medida que evitem, de um lado, a banalização
das sanções e, de outro, a desproporção que as torna
excessiva.
Assim, além da gravidade do ato, os
principias da proporcionalidade e da razoabilidade mostram-se
de grande utilização neste ínterim.
Nesse sentido:
ADMINISTRATIVO. LEI DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. APLICAÇÃO DA PENA. 1. A aplicação da
pena, em improbidade administrativa, deve ser
empregada de forma que seja considerada a gravidade do
ilícito, a extensão do dano e o provei to patrimonial
obtido. 2. Pena de multa pecuniária no valor de 12
(doze) vezes o valor do subsidio pago a vereador do
município. 3. Publicidade de promoção pessoal para
fins eleitorais por conta do erário público. 4.
Aplicação das penas de suspensão de direitos políticos
e perda do cargo que não se justificam. 5.
Razoabilidade e proporcionalidade da pena aplicada. 6.
Recurso especial conhecido e não-provido. (STJ - REsp
929289 / MG, RECURSO ESPECIAL 2007/0040824-8. Relator:
Min. JOSÉ DELGADO. lª T. j .18 .12. 2007; p. DJ
28.02.2008.)
Passo, então, a individualizar as penas.
Considero/• que a conduta do réu não foi
dotada de intensa gravidaôe.1', ei· s d · t t , que esrespei ou o ar . §1 o' / "!----. da CRFB, de maneira la incporrer no disposto no art.
j
Autos nº 0352.09.057259-0 \ \
\ /
/ /
37,
11,
23
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
caput e inciso I, da Lei de Improbidade.
Assim, considerando a lesividade, a
reprovabilidade dos fatos, a amplitude da lesão e a gravidade
do ato de improbidade, conforme acima colocado, de rigor a
condenação do réu MAURÍLIO NÉRIS DE ANDRADE ARRUDA às penas
do art. 12, inciso III, da Lei 8.429/1992.
Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os
pedidos, para condenar o réu MAURÍLIO NÉRIS DE ANDRADE
ARRUDA, por violação ao art. 11º, caput, da Lei 8.429/1992, à
luz das argumentações acima deduzidas.
Tendo em consideração a lesividade, a
reprovabilidade da conduta do réu, a amplitude da lesão e a
gravidade do ato de improbidade, conforme acima colocado,
aplico, nos termos do art. 12, inciso III, da Lei 8.429/1992,
as seguintes penalidades:
a) multa civil de 30 (trinta) vezes o
valor da última remuneração atualizada percebida pelo réu
enquanto Prefeito Municipal, devidamente corrigida, a partir
da propositura da presente ação, utilizando-se a tabela da
CGJ/MG;
b) proibição de contratar com o Poder
Público ou receber beneficias ou incentivos fiscais ou
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa juridica da qual seja sócio majoritário,
pelo prazo de 5 (cinco) anos;
c) suspensão dos direitos políticos pelo
prazo de 3 (três) anos e 6 (~eis) '
meses; ./
//--,\! ~·' j
d) · perdê da função pública, se ainda a l ~';\
Autos nº 0352.09.057259-0 ' '. 24
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
exercer.
A multa civil deverá ser revertida em
favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito praticado
pelo réu, nos moldes do art. 18, da Lei 8.429/1992
Condeno o réu no pagamento das custas e
despesas processuais.
Sem prejuízo, considerando que neste ano
há eleições municipais, e visando coibir a reiteração na
prática de atos de improbidade, bem como que o réu novamente
ingresse ou se mantenha na vida pública antes do trânsito em
julgado, com o risco de violar os principias constitucionais
da administração pública, aplico-lhe, ex officio, a seguinte
medida cautelar, com arrimo no poder geral de cautela (art.
297, caput, do NCPC e.e art. 798, do CPC/1973):
* Proibição de concorrer a qualquer
mandato eletivo, federal, estadual ou municipal, enquanto não
transitar em julgado a presente sentença.
Aliás, a própria jurisprudência reconhece
esse poder geral de cautela, no sentido de que o rol das
medidas é meramente exemplificativo, de maneira que o juiz
pode aplicá-las no intuito de primar pela efetividade da
prestação jurisdicional e do resultado útil do processo,
sendo totalmente adequada ao caso.
Nesse sentido:
PROCESSUAL /PENAL.
JUDICIAIS /
(ALTERJ<fATIVAS /
IMPOSIÇÃO
À PRISÃO
DE CONDIÇÕES
PROCESSUAL).
PONDERAÇÃO DE POSSIBILIDADE./~=R GERAL DE CAUTELA.
INTERESSES. ART./ 798) CPC; ART. 3º, CPC. 1. A questão 1 /
Autos nº 0352.09.057259-0 25
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
jurídica debatida neste habeas corpus consiste na
possibilidade (ou não) da imposição de condições ao
paciente com a revogação da decisão que decretou sua
prisão preventiva 2. Houve a observância dos
princípios e regras constitucionais aplicáveis à
matéria na decisão que condicionou a revogação do
decreto prisional ao cumprimento de certas condições
judicias. 3. Não há direito absoluto à liberdade de ir
e vir (CF, art. 5º, XV) e, portanto, existem situações
em que se faz necessária a ponderação dos interesses
em conflito na apreciação do caso concreto. 4. A
medida adotada na decisão impugnada tem clara natureza
acautelatória, inserindo-se no poder geral de cautela
(CPC, art. 798; CPP, art. 3 o) . 5. As condições
impostas não maculam o princípio constitucional da
não-culpabilidade, como também não o fazem as prisões
cautelares (ou processuais). 6. Cuida-se de medida
adotada com base no poder geral de cautela,
perfeitamente inserido no Direito brasileiro, não
havendo violação ao princípio da independência dos
poderes (CF, art. 2º), tampouco malferimento à regra
de competência privativa da União para legislar sobre
direito processual (CF, art. 22, I). 7. Ordem
denegada. (HC 9414 7, Relator (a) : Min. ELLEN GRACIE,
Segunda Turma, julgado em 27/05/2008, DJe-107 DIVULG
12-06-2008 PUBLIC 13-06-2008 EMENT VOL-02323-05 PP-
00921 LEXSTF v. 30, n. 360, 2008, p. 451-459)
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA.
NULIDADE DA CITAÇÃO. INEXISTÊNCIA DOS ATOS
SUBSEQUENTES. MANUTENÇÃO DO VALOR BLOQUEADO. MEDIDA
CAUTELAR INCIDENTAL. PODER GERAL DE CAUTELA.
INTELIGÊNCIA DO ART. 7 98 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTE DO STJ. I - O poder geral de
cautela consiste/ na possibilidade do juiz, no caso
'f" I de especi 1co, conce r tutela cautelar de ofício, !
determinan~~didas provisórias que julgue adequadas
ao caso concreft.~~·:I}r - Uma vez verificado que a medida
Autos nº 0352.09.057259-0
\ I \ /
26
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
adotada pelo juízo de origem foi a adequada para
coibir o risco de lesão grave ao agravado, observando
o princípio da efetividade do processo, não merece
reparos a decisão atacada. III - Recurso não provido.
(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0024.04.496973-
1/001, Relator (a): Des. (a) Vicente de Oliveira Silva ,
10ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 10/11/0015, publicação
da súmula em 12/11/2015)
Ainda nesse sentido:
o poder geral de cautela, tanto quanto o
processo cautelar em gera 1, tem origem na
Constituição. Os autores dizem que se trata de um
poder integrativo da eficácia global da atividade
j uri sdi cional. A garantia constitucional de que toda
ameaça ou lesão a direito pode ser combatida pelo
Poder Judiciário (CF, art. 5°, XXXV) implica também a
atribuição de mecanismos para que a atuação do
Judiciário, no cumprimento dessa tarefa, seja eficaz.
A medida cautelar é um desses mecanismos. O poder
geral de cautela permite que o Juiz, que é o seu
titular, tome providências de índole cautelar (isto é,
com função cautelar) que não estejam previstas
expressamente (tipificadas) e que não tenham sido
requeridas. A existência deste poder é consequência da
impossibilidade de se tipificar todos os perigos
possíveis. Isto porque as cautelares nominadas (a que
a lei deu nome), como arresto ou sequestro, são
tipificadas em função de um tipo específico de perigo
descrito pela lei. Claro que é impossível ao
legislador pensar em todos os perigos possíveis!
Impossível também /se preverem todas /
as possíveis
correlatas soluçõ~$ (WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA,
Flávio I
Renato /Correia; TALAMINI, Eduardo. Curso I
Avançado de P1ocesso Civil Volume 3 Processo
cautelar e prcf.cedimentos especiais. 8ª edição, 2007, T . r ..____...,« ........ / .1 \ Ed. RT, pp. "42V43).
1 ! l ) f
Autos nº 0352.09.057259-0 \ '·· .. ~./ 27
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
Não há que se falar em violação ao direito
de concorrer a uma função eletiva, a uma porque esta pode ser
vedada em diversas hipóteses constitucionais; a duas porque
não existem direitos nem garantias absolutos; a três porque a
presente medida se funda, também, no principio do
balanceamento.
Para viabilizar o cumprimento desta
medida, oficie-se ao Cartório Eleitoral desta comarca, para
que faça as anotações pertinentes no sentido de impedir o
registro das candidaturas.
a zelosa serventia, as Providencie,
diligências legais pertinentes, incluindo as diligências
normativas estipuladas pelo Conselho Nacional de Justiça,
como a inclusão no cadastro de condenados por improbidade.
Transitada em julgado esta sentença, abra
se vista ao MP para requerer o que de direi to e expeça-se o
necessário para o cumprimento do aqui determinado, inclusive
ofício á Justiça Eleitoral.
Autos nº 0352.09.057259-0
Disponível no RUPE. j 1
P.R. I.
! i i
l l
Januária, 26 de abr/il '
l /\ ,\ /". _;-·-;,' .·
/ \ / \j \~1. \."'/ ~l' 1 '..; ·,
de 2016
MARCO ANTONIO DE OLIVEIRA\ROBERTO
Juiz d'e Direito
\
28