semÂntica e estilÍstica -...

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VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA SEMÂNTICA E ESTILÍSTICA Rio de Janeiro / 2008 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO Conteudista Conteudista Antônio Carlos Siqueira de Andrade

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VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE

COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

SEMÂNTICA E ESTILÍSTICA

Rio de Janeiro / 2008

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

ConteudistaConteudistaAntônio Carlos Siqueira de Andrade

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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

Todos os direitos reservados à Universidade Castelo Branco - UCB

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou por quaisquer meios - eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização da Universidade Castelo Branco - UCB.

Universidade Castelo Branco - UCBAvenida Santa Cruz, 1.631Rio de Janeiro - RJ21710-250 Tel. (21) 3216-7700 Fax (21) 2401-9696www.castelobranco.br

Un3s Universidade Castelo Branco

Semântica e Estilística / Universidade Castelo Branco. – Rio de Janeiro: UCB, 2008. - 36 p.: il.

ISBN 978-85-7880-024-6

1. Ensino a Distância. 2. Título.

CDD – 371.39

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Apresentação

Prezado(a) Aluno(a): É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de gradu-

ação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, consequentemente, propiciando oportunidade para melhoria de seu desempenho profi ssional. Nossos funcionários e nosso corpo docente es-peram retribuir a sua escolha, reafi rmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua.

Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhe-cimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica.

Seja bem-vindo(a)!Paulo Alcantara Gomes

Reitor

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Orientações para o Autoestudo

O presente instrucional está dividido em duas unidades programáticas, cada uma com objetivos defi nidos e conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam atingidos com êxito.

Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades com-plementares.

A Unidade 1 corresponde aos conteúdos que serão avaliados em A1.

Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das duas unidades.

Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todo o conteúdo de todas as Unidades Programáticas.

A carga horária do material instrucional para o autoestudo que você está recebendo agora, juntamente com os horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que você administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso.

Bons Estudos!

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Dicas para o Autoestudo

1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo.

2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite interrupções.

3 - Não deixe para estudar na última hora.

4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor.

5 - Não pule etapas.

6 - Faça todas as tarefas propostas.

7 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento da disciplina.

8 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a autoavaliação.

9 - Não hesite em começar de novo.

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SUMÁRIO

Quadro-síntese do conteúdo programático ................................................................................................. 09

Contextualização da disciplina .................................................................................................................... 11

UNIDADE I

SEMÂNTICA

1.1 - Defi nição de Semântica ....................................................................................................................... 131.2 - Criação semântica ............................................................................................................................... 141.3 - Transferência de sentido ..................................................................................................................... 151.4 - Tipologia das relações de sentido ........................................................................................................ 16

UNIDADE II

ESTILÍSTICA

2.1 - Conceituação de Estilística ................................................................................................................. 202.2 - Análise estilística ................................................................................................................................ 22

Glossário ...................................................................................................................................................... 29Gabarito ........................................................................................................................................................ 30Referências bibliográfi cas ............................................................................................................................ 33

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9Quadro-síntese do conteúdo programático

UNIDADES DO PROGRAMA OBJETIVOS

I. SEMÂNTICA 1.1 - Defi nição de Semântica 1.2 - Criação semântica1.3 - Transferência de sentido1.4 - Tipologia das relações de sentido

• Delimitar o seu campo de atuação;• Examinar os processos de criação lexical;• Apresentar as possibilidades de relações semânticas que as palavras exprimem.

II. ESTILÍSTICA2.1 – Conceituação de Estilística2.2 – Análise estilística

• Fixar o propósito dos estudos estilísticos;• Abordar as possibilidades fonéticas, sintáticas e le-xicais;• Introduzir técnicas de apreciação, através de recur-sos fonéticos, morfológicos, sintáticos e semânticos.

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11Contextualização da Disciplina

Semântica

A vida só tem sentido se o sentido da vida for compreendido.

Não se trata de um jogo (banal) de palavras. Não é por acaso que o estudo do signifi cado das palavras tenha fi cado para o último dos instrucionais de Língua Portuguesa. Ele segue a grade curricular do Curso de Letras que, sensível à importância do assunto, o coloca no fi nal como que para ressaltar o valor semântico das pala-vras, que se sobrepõe a qualquer nível gramatical. Afi nal a língua é, antes de tudo, a forma mais completa de veicular signifi cados.

Além do mais, vivemos numa época em que o contato entre a humanidade rompeu com todas as barreiras – tecnicamente é possível se comunicar com cada habitante do planeta com as tecnologias de informa-ção que possuímos. Junto com toda essa disponibilidade, pode se esconder o desejo de subjugar pessoas através da manipulação da realidade. É nessa encruzilhada que o conhecimento sobre as possibilidades de sentido das palavras encontra sua motivação maior.

Estilística

A Estilística é a chave para penetrar no mundo da arte literária, fruir os aspectos estéticos que o autor impri-me em sua obra. É também um passaporte para chegar aos textos que extrapolam o formal, o literário, porque alcançam uma grandeza maior: retratam a condição humana no seu cotidiano, na sua imprevisibilidade, na sua dramaticidade e na sua sublimidade.

Ao profi ssional de Letras são importantes os conceitos postulados pela Estilística como ferramental didático em suas atividades, mas também é fundamental usar esses conceitos para a fruição pessoal – por que não vi-venciar a viagem intratexto que o autor oferece?

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13UNIDADE I

SEMÂNTICASEMÂNTICA

A palavra SEMÂNTICA deriva de SEMAINÔ (sig-nifi car), que se origina de SÊMA (sinal) e é, em sua origem, o adjetivo correspondente a sentido.

Os gregos viam a língua como refl exo da realidade, e as questões ligadas ao signifi cado tinham importân-cia capital, porque era através da língua que se anali-sava essa realidade.

Decorre daí a preocupação em observar se o ato de nomear as coisas era natural ou convencional.

Aristóteles defi niu a palavra como a menor unidade signifi cativa da fala.

Semântica, em sentido lato, preocupa-se com qual-quer sinal: brasões, bandeiras, gestos, gritos ou outro sinal utilizado para transmitir mensagens e, principal-mente, tudo que se refere às palavras.

Em sentido estrito, Semântica estuda as palavras no seio da língua: o que é uma palavra, quais as relações entre forma e sentido, as relações entre as palavras, a sua função etc.

Guiraud (1980: 07) defi ne Semântica como estudo do sentido das palavras. Preocupa-se, portanto, com o signo verbal.

Originariamente, designava um ramo de estudo da linguagem. Mais tarde, a palavra foi utilizada pelos lógicos e pelos psicólogos, o que resulta em três ques-tões:

1. Problema linguístico – cada sistema de signos tem suas regras específi cas referentes à sua natureza e à sua função.

2. Problema lógico – quais as relações do signo com a realidade? Em que condições ela se aplica a um objeto ou a uma situação que ele tem a função de signifi car?

3. Problema psicológico – por que e como nos co-municamos? O que é um signo e o que se passa em nosso espírito e no de nosso interlocutor quando nos comunicamos? Qual o substrato e o mecanismo fi sio-lógico e psíquico desta operação?

Como ciência, a Semântica surgiu no século XIX, com M. Bréal, que defendia a sua unifi cação com a

Etimologia – o estudo do modo como se fi xam os sig-nifi cados e as alterações de sentido.

Como observa Marques (1976: 16):

O vocábulo Semântica foi utilizado pela primeira vez, em 1883, por Michel Bréal, para designar uma nova ciência que, ao lado da Fonética e da Morfolo-gia, preocupadas com a análise do corpo e da forma das palavras, estudaria as mudanças de sentido, a es-colha de novas expressões, o nascimento e a morte das locuções.

A Semântica tradicional é de base lexicológica por-que toma a palavra como unidade fundamental com-posta de signifi cante e signifi cado, distinguindo a pa-lavra daquilo que ela nomeia, isto é, o referente.

Para Marques (1976: 25), a união forma/conceito estabelece-se no intercâmbio social, decorrente de sua aceitação, por isso varia de língua para língua e na mesma língua varia no decorrer do tempo, o que resulta em fenômenos como a sinonímia, a polisse-mia, a homonímia e sentidos fi gurados.

A par dessa convencionalidade, existe uma motiva-ção no plano fonológico: chiar, sibilar; no plano mor-fológico: lenhador, construtor; no plano semântico – braço (de rio) – transferência de sentido estabele-cida pela semelhança entre braço (do corpo), que se estende lateralmente e de rio, que se estende para a terra numa das margens da corrente principal.

Mussalin & Bentes (2006: 19) apresentam três abor-dagens para Semântica:

1. Semântica Formal – A Semântica Formal des-creve o signifi cado a partir do postulado de que as sentenças ou frases se estruturam logicamente.

Essa visão remonta a Aristóteles que, analisando o raciocínio dedutivo, mostrou que existem relações de signifi cado que não dependem das expressões.

Exemplo: Todo homem é mortal. João é homem. Logo, João é mortal.

A premissa menor (João é mortal) está contida na premissa maior (Todo homem é mortal) ou, o conjun-to dos homens está contido no conjunto dos mortais.

1.11.1 - Definição de Semântica

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14Esse raciocínio se fi xa através das relações con-

traídas, independente do signifi cado de homem e de mortal.

Alterando-se as expressões e mantendo as relações, o raciocínio será sempre válido.

Gottlib Frege afi rma que o estudo científi co do sig-nifi cado deve considerar apenas os aspectos objeti-vos, pois as representações individuais variam de in-divíduo para indivíduo (Ibidem: 20).

Uma palavra como árvore tem um lado que é co-mum a todos: é uma planta, possui diversos tipos e pode ser reconhecida através de uma imagem sonora ou visual ou tátil. Isso é referência. Já a experiência que cada indivíduo tem em relação ao signifi cado va-ria – árvore para um ecologista tem um signifi cado diferente do de um desmatador, que vende a madei-ra ou derruba as árvores para cultivar uma lavoura. Pode representar algo próximo, para aquele que vive numa fl oresta, ou distante para aquele que vive numa grande cidade, onde a existência de árvores é escassa. Isso é sentido.

Assim, se a Semântica se ocupa ou se preocupa com os aspectos objetivos do signifi cado, é a Psicologia que vai se ocupar da experiência subjetiva desse mes-mo signifi cado.

2. Semântica da Enunciação – Na Semântica For-mal, o conceito de verdade é externo à linguagem ou a linguagem é um meio para se alcançar a verdade. Postula uma ordem no mundo que dá conteúdo à lin-guagem.

A Semântica da Enunciação acredita que a lingua-gem constitui o mundo, ou não há uma ordem no mundo “...que não seja dada independentemente da

linguagem e da história. A linguagem constitui o mundo, por isso não é possível sair fora dela.” (Ibi-dem: 27). E na página seguinte:

A linguagem, afi rma Ducrot, é um jogo de argumen-tação enredado em si mesmo; não falamos sobre o mundo, falamos para construir um mundo e a par-tir dele tentar convencer nosso interlocutor da nossa verdade, verdade criada pelas e nas nossas interlocu-ções. A verdade deixa, pois, de ser um atributo do mundo e passa a ser relativa à comunidade que se forma na argumentação. Assim, a linguagem é uma dialogia, ou melhor, uma ‘argumentalogia’; não fa-lamos para trocar informações sobre o mundo, mas para convencer o outro a entrar no nosso jogo discur-sivo, para convencê-lo de nossa verdade.

O uso dos dêiticos – eu, você, isto – nos dá a (fal-

sa) sensação de estarmos fora da língua. Entretanto, a referência é uma ilusão criada pela linguagem, pois sempre estamos inseridos nela.

3. Semântica Cognitiva – Na Semântica Cognitiva, o signifi cado é central na investigação sobre a lingua-gem.

O signifi cado...não tem nada a ver com a relação de pareamento entre linguagem e mundo...ele emerge de dentro para fora, e por isso ele é motivado... A sig-nifi cação linguística emerge de nossas signifi cações corpóreas, dos movimentos de nossos corpos em in-teração com o meio que nos circunda (Ibidem: 34).

O signifi cado é mais uma questão cognitiva do que um fenômeno estritamente linguístico. A linguagem articulada é apenas uma das manifestações superfi -ciais da nossa estruturação cognitiva, que lhe antece-de e dá consistência.

1.21.2 - Criação Semântica

O processo básico de criação semântica é a no-minação.

Sempre que se deseja nomear ou dar nome a algu-ma coisa, um conceito, traduzir uma idéia, cria-se uma palavra nova, baseada nos recursos lexicológi-cos (morfologia e semântica) – é o neologismo; ou utiliza-se uma palavra já existente que, nesse caso, passa a ter mais um sentido.

O neologismo surge, não do desejo de inovar, mas de designar algo porque não existe um termo ou o termo antigo se encontra desgastado.

A criação é coletiva. Tão importante é produzir ou inventar uma nova palavra quanto aceitá-la e passar a utilizá-la.

Um exemplo é a criação e a modernização dos meios de transporte. Antes as estradas não tinham pedágio. Hoje temos rodovias pedagiadas. E quem ultrapassar os limites de velocidade, estará sujeito a multagem eletrônica.

Os ônibus e trens exigiam fi chas e bilhetes. Hoje nós temos bilhetagem também eletrônica.

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15O processo de nominação atende a designações

objetivas, como é o caso do vocabulário técnico ou científi co – teleprocessamento, termômetro, nanotec-nologia; ou se vale da subjetividade para conotar um sentido: Ela é muita gata.

De todos os processos, a derivação e a composição estão na base de muitos casos, embora a onomatopeia e os estrangeirismos sejam também muito fre-quentes.

No caso das onomatopeias, a língua fornece re-

cursos imitativos de determinados sons que nem sempre utilizamos de forma consciente: quem diria que o verbo chiar é uma criação onomato-paica? Já em miar parece que a associação ao ruído emitido por gatos está mais aparente.

Os estrangeirismos também são frequentes, a ponto de ter denominações próprias: anglicis-mos (provenientes da língua inglesa), galicismos

(provenientes da língua francesa), italianismos, germanismos entre outros e se devem a contatos de natureza econômica, cultural e social.

Muito se critica a utilização de estrangeiris-mos. De um lado, temos a invasão ou abuso na utilização de termos de outra língua, o que deve ser evitado; de outro, a necessidade de designar algo quando a nossa língua não oferece um ter-mo que se adapte tão bem ao objeto ou conceito designado.

O exemplo mais conhecido é o da palavra fu-tebol, aportuguesada a partir do inglês football. Alguns puristas propuseram ludopédio ou pedí-bolo.

E que tal, em vez de carnê (do francês carnet), usar choribel, ou ludâmbulo para turista?

1.31.3 - Transferência de Sentido

A transferência de sentido se dá por metáfora ou me-tonímia.

A palavra metáfora (grego metáphora) forma-se a partir de meta = trans + phorein + levar e signifi ca transferência.

Muitos autores acreditam que a linguagem antiga tem uma natureza metafórica. Para Renan (apud TO-DOROV, 1977), a metáfora foi o grande procedimen-to da formação da linguagem.

O homem primitivo utilizava-se de palavras e ex-pressões de maneira fi gurada: exprimia seus pensa-mentos na linguagem da poesia.

Igualmente, “...a linguagem dos selvagens moder-nos com frequência é descrita como metafórica e rica em expressões fi guradas” (Ibidem: 36).

A metáfora é uma comparação condensada que afi r-ma uma identidade intuitiva e concreta. A relação é a de sentido através de características, ou melhor, a transmutação de sentido é decorrência de traços de semelhança que mentalmente se podem estabelecer entre o sentido próprio e o sentido novo. Ullman (1997: 440) observa que a metáfora tem grande im-portância na força criadora da língua.

Essa importância se comprova na grande quantidade de metáforas que refl etem o habitat em que vivemos. Há, por exemplo, as metáforas antropomórfi cas:

Pé do morroCoração da fl orestaPulmões da cidade E as metáforas animais – transferência de caracterís-

ticas dos animais para os humanos: burro, cachorro, porco, vaca etc.

As sinestesias fazem parte desse recurso: voz quen-te, cheiro doce, cores berrantes.

Metonímia

A transferência do nome de um objeto ou ação a outro objeto se dá a partir de relações objetivas de causa/efeito ou continente/conteúdo.

Exemplos: “Me traz uma Skol.”

Etimologia

A Etimologia tem um papel fundamental para a Se-mântica, pois estuda as relações de signifi cado que uma palavra conserva com outra palavra mais antiga e da qual se origina.

Em termos sincrônicos, estuda a formação de pala-vras a partir de um étimo ou termo base (radical).

A etimologia defi nida no primeiro parágrafo é tam-bém chamada etimologia erudita, baseada no conhe-cimento das formas primitivas e das leis que propor-cionaram a sua evolução ou transformação.

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16Paralelamente, existe um processo denominado eti-

mologia popular ou falsa etimologia em que uma pa-lavra é formada a partir de semelhanças formais, mas que não tem relação genética com a palavra de que, pretensamente, se origina.

É o caso de sombrancelha, chuva de granito, por exemplo.

Cohen (in: TODOROV et al, 1977: 23) endossa esse processo, ao afi rmar que “... a busca histórica entre as palavras... é caminho estreito e mesmo errôneo.” As relações de afi nidades devem ser consideradas as-sim:

A etimologia popular aproxima pela forma ou pelo sentido palavras que, do ponto de vista da etimologia erudita não têm nada em comum, mas que, funcional-mente, são sentidas como aparentadas.

1.41.4 - Tipologia das Relações de Sentido

Os estudos gramaticais na Antiguidade, não só reconheciam as categorias lógicas, mas também a tipologia das relações: a sinonímia, a antonímia, a homonímia.

Tais relações podem ser:

Unívocas – o significante e o significado tradu-zem exatamente o que se quer dizer;

Equívocas – os conteúdos são distintos: homoní-mia – canto (ângulo: canto da sala) e canto (verbo cantar);

Multívocas – os conteúdos são coincidentes: si-

nonímia – belo/bonito; Diversívoca – há oposição conceitual: antoní-

mia.

Ambiguidade

É a situação em que um segmento sonoro, uma construção ou uma palavra apresenta duplicidade de sentido. Pode ser:

Fonética: Ela ficou como herdeira da família.Vou dar uma olhadinha no jogo.Aquela é a Miss Java.

Gramatical:Eu vi o acidente do carro.Camelô vende pirata no centro (a elipse de pro-

duto favorece a ambiguidade).Político reclama que mídia quer destruir sua ima-

gem. Lexical – pode se dar através da:• Polissemia: uma mesma palavra nomeia coi-

sas diferentes. E cada sentido é percebido como extensão de um sentido básico. A vantagem da po-lissemia é que uma mesma palavra nomeia coisas diferentes, evitando a sobrecarga, isto é, a memo-rização de uma palavra para nomear cada coisa di-ferente; por outro lado, pode causar ambiguidade.

Ex.: Parece que esse acordo teve o dedo do Mi-nistro da Fazenda.

Ponha dois dedos de café para mim.

• Homonímia – situação em que palavras que possuem significados diferentes são pronunciadas e/ou grafadas da mesma maneira.

Há descontinuidade de sentido. Ex.: banco (de jardim) e banco (casa de crédito); pinto (filhote da galinha) e pinto (verbo pintar); almoço (substanti-vo) e almoço (verbo almoçar).

A homonímia também pode causar ambiguidade:

Ele comprou uma lima (fruta ou ferramenta?).

Sinonímia

Sinônimos são palavras que guardam entre si um significado e/ou uso comum.

Nesse caso, belo e bonito são sinônimos.

Muitos autores acham que não há sinonímia perfei-ta. Outros só aceitam a sinonímia perfeita na lingua-gem científi ca – H2O = água; cloreto de sódio = sal; ácido ascórbico = vitamina C.

Geraldi e Ilari (1995: 42) exemplificam a sinoní-mia através de paráfrases:

1. Pegue o pano e enxugue a louça.2. Pegue o pano e seque a louça.Em que a equivalência ocorre por causa do em-

prego de palavras sinônimas.

Em3. É difícil encontrar esse livro.e4. Este livro é difícil de encontrar.As estruturas sintáticas se equivalem.

Em5.Esta sala está cheia de fumaça.e6. Abra a janela.

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17Embora diferentes, traduzem a mesma intenção

de quem as profere, ou seja, um pedido para abrir a janela porque o ambiente está irrespirável.

Antonímia

É a situação em que uma palavra carrega um sen-tido que se opõe a outro. É o seu contrário, embo-ra essa oposição não seja defi nitiva ou fechada. Por exemplo, nascer opõe-se a morrer, mas não são ações contrárias, mas dois momentos extremos do mesmo processo de viver (Ibidem: 54).

Para Ilari (2003: 25):

Os antônimos formam pares que se referem a reali-dades “opostas”: Ações: perdi o lápis, mas em compensação achei uma nota de 10 reais.Qualidades: a sopa estava quente, mas o café estava frio.Relações: o gato estava embaixo da mesa; a gaiola do canário estava sobre a mesa.A “oposição” existente entre dois antônimos pode ter fundamentos diferentes: – diferentes posições numa mesma escala. Ex: quen-te e frio representam duas posições na escala da tem-peratura.– início e fi m de um mesmo processo: fl orescer e murchar.– diferentes papéis numa mesma ação: bater e apa-nhar.Encontramos antônimos entre: – substantivos: bondade versus maldade. – adjetivos: duro versus mole. – verbos: dar versus receber. – advérbios: lá versus cá. – preposições: sobre versus sob.

Expressões Idiomáticas

Quando se estuda uma língua estrangeira, há todo um cuidado em memorizar as expressões idiomáticas, que devem ser aceitas como construções acabadas ou bloqueadas e por isso jamais devem ser traduzidas ou interpretadas literalmente.

Alguns gramáticos, que conservam um ranço auto-ritário em relação à língua e sobre quem deve “le-gislar” sobre ela, defendem mudanças como risco de morte, em vez de risco de vida; correr atrás do lucro, em vez de correr atrás do prejuízo revelam um to-tal desconhecimento do que signifi ca uma expressão idiomática. É como se elas só existissem na língua dos outros.

Imagine substituir “Estou morto de fome” por “Es-tou falecido de fome”. Ou como eles (os tais gra-máticos) resolveriam a expressão “ao pé da letra”, sinônima de “literalmente”, palavra localizada dois parágrafos acima?

Recursos Lexicais

A seleção vocabular está presente em quase todas as nossas atividades expressivas, seja na fala, seja na escrita. Essa atividade pertence à nossa gramática in-ternalizada e para nós é imperceptível quase sempre, e só nos damos conta disso quando queremos nos lembrar de uma palavra que naquele momento não está disponível em nossa memória.

Existem palavras que trazem uma carga positiva ou negativa, como:

• Loja, negócio ou birosca, tendinha• Separar-se de alguém ou largar (de) alguém• Escrever ou rabiscar• Magra ou seca• Colar ou grudar

Existem também palavras que intensifi cam uma rea-lidade:

• A sala está suja (ou imunda).• Ele amava a mulher (ou adorava).

Há recursos expressivos que consistem em tornar coisa o que é humano – a reifi cação: Os passageiros viajavam empilhados no ônibus das seis.

Ou o processo contrário – a personalização: A ci-dade recebe sorridente os visitantes. A reifi cação e a personalização podem ser positiva ou negativa:

• Esse rio já matou muitos banhistas. (personaliza-ção negativa)

• Como ela consegue sair com aquilo? (reifi cação negativa)

• A cidade chorou a morte do poeta. (personalização positiva)

• Nosso país sempre recebe os turistas de braços abertos. (personalização positiva)

A transposição para o plano animal ou das coisas é

outra forma de intensifi car uma realidade positiva ou negativamente:

• O casal apaixonado voltou feliz para seu ninho. (casa)

• Arrume seu quarto. Ele está um ninho!• Tire as patas da minha bicicleta.• O moleque limpou o focinho na cortina.

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18Essa aproximação entre o ser humano e animais

pode se dar por:

Semelhança física – Aquela mulher tem pescoço de girafa.

Ações dos animais – O bandido arrastou-se pelo chão.

Designações do corpo humano – Levante o rabo dessa cadeira!

Coletivos – Eu não gosto daquela cambada.

Linguagem animal – Deu uma topada na pedra e saiu ganindo de dor.

Atividades

1) Ilari (2003: 151) afi rma que a polissemia afeta a maioria das construções gramaticais, dando como exemplo o aumentativo – Paulão – que pode ser interpretado como “pessoa grande” “pessoa alta”, “pessoa grosseira”, “desajeitada” ou até mesmo “uma pessoa com quem todos se sentem à vontade”.

Teste essa afi rmativa, dando as possíveis ou possível interpretação para os aumentativos abaixo:1.1. Minhocão (viaduto)1.2. Carrão1.3. Mulherão1.4. Jogão1.5. Bobão

2) Aponte se os sufi xos das palavras abaixo indicam dimensão ou afetividade (sentimento positivo ou nega-tivo):

2.1. Gatinha (garota)2.2. Gatinha (animal)2.3. Mulherzinha2.4. Sujeitinho2.5. Roupinha (de neném)2.6. Roupinha (básica)

3) Ilari (2003: 154) narra um episódio ocorrido em uma escola rural, no interior de São Paulo. A professora ensinou à turma que era inadequado pedir para “mijar”. E todos seguiram a orientação da pro-

fessora, pedindo para “fazer xixi”, exceto um garoto que continuou utilizando a mesma pergunta inadequada.A mestra chamou o pai do garoto que, contrariado, ameaçou tirar o fi lho da escola, porque, para ele, quem faz

xixi é mulher; homem mija.Há por trás dessa atitude uma questão de valores, crenças, que se manifestam na seleção vocabular, além de

uma dose de subjetividade. Tente completar as sequências abaixo, utilizando a palavra mais adequada a cada situação:

3.1. Para a mãe de um sujeito violento, seu fi lho é ____________. - bandido; nervoso; marginal; agressivo.

3.2. O pai de uma menina volúvel acha a fi lha__________. - pilantra; insensível; namoradeira; atenciosa.

3.3. Quando um pobre morre, os parentes e conhecidos vão ao seu__________. Quando um rico morre, todos vão ao seu__________. E se ele for muito rico e importante, os convidados vão assistir às suas_________. - funeral; enterro; exéquias.

3.4. O prefeito____________(d) as verbas públicas. - roubou; furtou; fez mau uso.

3.5. Num convite formal de casamento, é mais apropriado usar_____________________. - casório; enlace matrimonial; união; cerimônia.

3.6. “Jogar luz em” é o mesmo que focar; focalizar; esclarecer; ensinar.

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194) Dê exemplo de: 4.1. procedimento médico –4.2. procedimento bancário –4.3. operação fi nanceira –4.4. operação policial – 5) Existem verbos que se empregam genericamente, embora possuam outros mais específi cos. Essa alternân-

cia evita repetições desnecessárias. Tente achar os verbos específi cos para aqueles destacados a seguir.

5.1. O ministro pôs as fi nanças em ordem.____________5.2. A mulher pôs em dúvida as explicações do marido.__________5.3. Bom governo é aquele que põe a educação em primeiro lugar.__________5.4. O jornal deu a notícia do sequestro.__________5.5. A atriz deu uma festa em sua casa.__________5.6. O juiz teve um gesto de surpresa.__________5.7. O detido não tinha documentos.__________5.8. O escritor fez uma crônica em pouco tempo.__________

6) Muitas vezes, os animais são usados para traduzir características do comportamento humano. Coloque, ao lado de cada animal, a qualidade ou defeito que ele representa:

6.1. touro – 6.2. porco – 6.3. tartaruga – 6.4. pavão – 6.5. formiga – 6.6. cobra –6.7. raposa – 6.8. burro – 6.9. cordeiro –6.10. lesma – 6.11. camaleão – 6.12. boi –6.13. abelha – 6.14. baleia – 6.15. lebre –6.16. leão – 6.17. cavalo – 6.18. rato –

7) Muitos estudiosos consideram a analogia ou etimologia popular um processo tão legítimo quanto a etimo-logia erudita no que toca à formação de palavras, pois muitas vezes há uma relação de sentido com a palavra tomada como ponto de partida para a sua criação.

Coloque ao lado das palavras que se seguem as formas corretas e, sempre que possível, explique a associação entre elas:

7.1. Pernambular –7.2. Eletricocardiograma –7.3. Principício –7.4. Despencadeiro –7.5. Vasculhante –7.6. Paratrapo –7.7. Serve-serve –7.8. Figo –7.9. Cerular –7.10.Vide-verso –7.11. Choque-terra –7.12. Cabeçário –

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20 UNIDADE II

ESTILÍSTICAESTILÍSTICA

De acordo com Todorov & Ducrot (1977: 83), a Es-tilística é a herdeira mais direta da Retórica e consti-tuiu-se a partir do século XIX.

Entretanto, a noção de Estilo é bem anterior. No século XVIII, já havia obras contendo sugestões de como escrever bem, apoiadas, na maioria das vezes, em obras clássicas, de onde extraíam os exemplos.

Buffon, por outro lado, fi xa uma outra concepção de

estilo com a sua célebre defi nição: “O estilo é o ho-mem.”, ou seja, o autor imprime na sua obra a própria marca individual.

Charles Bally apresenta uma outra concepção. Para ele, a Estilística deve ser descritiva e não normativa e, ao invés de se ocupar com os autores ou a Literatura, deve se ocupar com a língua.

Ele parte da ideia de que a língua exprime o pen-samento e os sentimentos e que a expressão desses sentimentos é o objeto da Estilística. O enfoque é na enunciação e não no enunciado.

Na defi nição constante do Dicionário de Linguísti-

ca (DUBOIS: 1978: 237), Bally defi niu a Estilística como

Estudo dos fatos de expressão da linguagem organi-zada do ponto de vista de seu conteúdo afetivo, isto é, expressão dos fatos da sensibilidade pela linguagem e ação dos fatos de linguagem sobre a sensibilidade.

E a seguir

A Estilística, ramo da Linguística, consiste, portan-to, num inventário das potencialidades estilísticas da língua (“efeitos do estilo”) no sentido saussureano, e não no estudo do estilo de tal autor, que é um “empre-go voluntário e consciente destes valores”...O senti-mento é uma deformação cuja natureza é causada pelo nosso eu... desse modo, a metáfora existe porque podemos tornar o espírito “vítima” da associação de duas representações.

Leo Spitzer procura estabelecer uma correlação en-tre as propriedades estilísticas de um texto e a psiquê do autor. E confi rma: “O estilo é o homem”. Descre-ve unicamente o sistema de procedimentos presentes. O fator estilístico pode referir-se tanto ao pensamen-to, quanto aos sentimentos.

Mattoso Câmara (1973: 166) defi ne Estilística como “Disciplina linguística que estuda a expressão (v.) em seu sentido estrito de EXPRESSIVIDADE da lingua-gem, isto é, a sua capacidade de emocionar e suges-tionar (v. afetividade).”

Emoção e sugestão podem ser transmitidas por:

a) Processos fônicos;b) Associações signifi cativas;c) Construções sintáticas.

Assim temos:

a) Estilística fônica – ressalta a expressividade do material fônico dos vocábulos, isolados ou agrupados em frases;

b) Estilística semântica – estuda a conotação refe-rente ao valor afetivo ou socialmente convencional que adere à signifi cação das palavras;

c) Estilística sintática – trata das variantes de colo-cação, suscetíveis de causar emoção ou sugestionar.

Assim, a Estilística estuda esses processos na lin-guagem literária, procurando depreender a linguagem pessoal ou estilo do autor; sua personalidade e a sua maneira de compreender e sentir a vida. Também faz parte da estilística o estudo das fi guras de lingua-gem.

Em Contribuição à Estilística Portuguesa (1978: 13), Mattoso caracteriza estilo como defi nição de uma personalidade em termos linguísticos. Mais adiante, completa:

“O estilo caracteriza-se como um conjunto de ‘ex-pressões’, independentemente da circunstância de ser um predicado do indivíduo” (p. 16).

Pelo que foi dito, estilo representa um desvio do pa-

drão, mas não a tal ponto de inviabilizar a expressão linguística.

No que diz respeito às tarefas da Estilística, esta-belece:

• Caracterizar, de maneira ampla, uma personalida-de, partindo da linguagem;

• Isolar os traços do sistema linguístico, que não são propriamente coletivos, mas individuais;

2.12.1 - Conceituação de Estilística

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21• Concatenar e interpretar os dados expressivos de-

terminados (exteriorização psíquica e apelo) que se integram nos traços da língua.

Muito do estilo se deve à natureza da obra e o mes-mo escritor pode variar de uma para outra obra.

Escritores com as mesmas tendências estéticas apresentam traços em comum, o que pode resultar numa escola literária ou num estilo de época.

A hierarquização proposta por Paul Imbs (apud MONTEIRO,1991:106) ajuda a entender a noção de estilo:

Níveis:Estilo de uma família linguística.

Demais níveis:• Uma língua particular;• Uma época;• Um gênero literário;• Uma escola ou movimento literário;• Um escritor;• Uma fase da vida do escritor;• Uma obra específi ca;• Um capítulo, parte ou parágrafo;• Uma frase ou enunciado.

Assim como a gramática se preocupa com a nor-ma gramatical, a Estilística vai se preocupar com os desvios – alterações ou variações que podem ocor-rer por desconhecimento da norma ou por intuito expressivo. Essa segunda ocorrência entende norma como os hábitos, construções ou usos da maioria da população. Da mesma forma, só interessa à Estilísti-ca os desvios que contêm efeitos expressivos.

Numa frase como “Nós é São Paulo.”, de acordo

com a norma culta, há um erro claro de concordân-cia.

No exemplo a seguir, Clarice Lispector se desvia da norma para criar um efeito expressivo, no caso, quer enfatizar a idéia de união, fusão em uma só pes-soa, tamanho era o amor: “Eu estou apaixonada pelo teu eu. Então nós é.”

Ou: “Eu sou tua e tu és meu, e nós é um.” Há palavras – estrela, oceano, saudade – que pa-

recem mais expressivas ou poéticas – que outras

– caderno, pires, farinha (MONTEIRO,1991:17). No entanto, é o contexto que vai determinar o grau de expressividade de uma palavra.

Importante para demarcar o campo de atuação da Estilística é considerar a Conotação, portadora dos componentes afetivos da linguagem em oposição à Denotação, esta menos sujeita às interferências sub-jetivas e mais ligada ao aspecto conceitual da lin-guagem.

Algumas das funções da linguagem estão direta-mente relacionadas à Estilística, como as funções poética e emotiva (de acordo com a terminologia proposta por Roman Jakobson), o que não impe-de que as outras funções sejam utilizadas com in-tenções expressivas. Guimarães Rosa explora com maestria, no conto Famigerado, a função metalin-guística. Lembremos algumas classifi cações de fun-ções da linguagem.

Karl Bulher estabelece três funções:• Representativa • Apelativa • Exteriorização psíquica Ogden e Richards estabelecem cinco funções:• Simbolização da referência• Expressão de atitude para com o ouvinte • Expressão de atitude para com o referente • Promoção dos efeitos pretendidos • Apoio de referência

Halliday propõe: • Ideacional – a linguagem manifesta conteúdos re-

lacionados à experiência que o falante tem do mun-do real ou do seu universo interior.

• Interpessoal – linguagem como instrumento de relação social.

• Textual – a linguagem estabelece vínculos com a situação em que é usada.

Dell Hymes acrescenta a função contextual – des-crição do ambiente físico que cerca emissor e re-ceptor – às seis funções propostas por Jakobson, a saber:

Referencial, Fática, Poética, Metalinguística, Co-nativa e Emotiva.

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22

A análise estilística não deve se limitar à identifi ca-ção de recursos, fi guras e outros artifícios utilizados intencionalmente pelo autor. Deve também procurar o potencial estilístico, interpretando aspectos estilísti-cos, compreendendo os traços evocatórios e avalian-do o desvio como instaurador da função poética.

A fi gura que importa como desvio estilístico é aque-la que corresponde a uma alteração de sentido, enri-quecendo o texto com novas signifi cações e que tenha por fi nalidade a presentifi cação (apreensão de uma re-alidade particular das coisas).

J. Dubois (apud MONTEIRO, 1991) propõe o se-guinte esquema de análise:

Expressão• metaplasmos (nível morfológico)• metataxes (nível da sintaxe)

Conteúdo• metassememas – nível semântico• metalogismos – nível lógico

As fi guras abaixo, extraídas, na maioria dos casos, do livro Estilística, de J. Lemos Monteiro, Editora Ática, 1991; seguem como exemplifi cação.

Metaplasmos – são alterações ou desvios nas formas e na constituição sonora das palavras (nível morfofo-nológico).

Aférese – esmoralizado (queda do fonema inicial /d/): burro esmoralizado (G. Rosa). Associações com esmo, esmola (desnorteado, imprestável).

Síncope – mito (queda de fonema medial): “No zuo de um minuto mito.” (G. Rosa). Traduzindo: idéia de fração de minuto. Consequências:

– Mito, adjetivo reforça a noção de rapidez ou ins-tantaneidade;

– Mito, associa-se ao vocábulo homônimo (algo ina-creditável);

– Mito, sua redução intensifi ca a motivação sonora que indica a idéia de brevidade.

Apócope – supressão no fi m da palavra: abreviã (abreviada); privo (privada); supro (supremo) – G. Rosa.

Prótese – acréscimo inicial: “Deus nos sacuda.” (G. Rosa). A formação de um trocadilho enfatiza a ideia de ser a ajuda divina também para despertar e dar vi-talidade e não somente para socorrer.

Epêntese – acréscimo medial: “Em fl agrante deli-tro.” F. Pessoa em autógrafo de foto em que bebia.

Paragoge – acréscimo fi nal: noturnazã (G. Rosa) por noturna. Geralmente tem efeito intensivo.

Metágrafos (infrações ortográfi cas) – Dôra, Dorali-na (romance de Raquel de Queirós). O acento man-tém o o fechado para que se associe com dor.

“Ai que lindo, liiiindo.” (Drummond). Valor super-lativo ou intensifi cador.

“O encanto óticoTornou o pranto ex-ótico.” (Cassiano Ricardo)O hífen transforma exótico em vocábulo bissêmico:

estranho: fora do olho ou da visão.

Neologismo – é o recurso morfológico mais fre-qüente entre todos os metaplasmos. Utiliza predomi-nantemente a sufi xação como recurso: parentagem, educativismo, fi nalmência, vingancista (José Cândi-do de Carvalho).

Diminutivos – sua função é mais emotiva que di-mensiva.

• Metataxes – desvios que alteram a estrutura sin-

tática.

Polissíndetos, anáforas, repetições têm efeito basi-camente sensorial, agindo sobre a memória auditiva e são importantes para a intensifi cação dos conteúdos e estruturação do ritmo.

Anacolutos, silepses e inversões requerem esforço intelectual para a sua depreensão, mas o efeito estilís-tico, por outro lado, é mais acentuado.

O desvio sintático requer plena consciência das pos-sibilidades de expressão que o código oferece. Po-dem deixar as palavras soltas ou desordenadas e sem pontuação.

A poesia lírica, principalmente, é mais apropriada para metataxes, pois o fl uxo de sentimento nem sem-pre pode ser controlado e o sentimento é sugerido através das interjeições, reticências, elipses, frases truncadas, repetições e inversões.

• Metassememas – Os metassememas são fi guras que substituem um semema por outro. É o caso da metáfora, metonímia, oxímoro.

• Metalogismos – São as fi guras de pensamento – hipérbole, antítese, eufemismo, ironia, paradoxo – que rompem com os aspectos lógicos do discurso.

A escolha estilística se apoia na seleção e na com-binação.

2.22.2 - Análise Estilística

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23Na seleção, temos as operações de substituição

e escolha, pertencentes ao eixo paradigmático; na combinação, temos as operações de arranjo, pertencentes ao eixo sintagmático.

A organização frasal se faz através dos pro-cessos de hipotaxe e parataxe.

A hipotaxe “é o processo sintático que consiste em explicitar por uma conjunção subordinativa ou coordenativa a relação de dependência que pode existir entre duas frases que se seguem num enunciado longo, numa argumentação etc.” (DUBOIS, 1978: 325). A parataxe “é um pro-cesso sintático que consiste na justaposição das frases sem explicitar, seja por uma partícula de subordinação, seja por uma partícula de coorde-nação, a relação de dependência que existe en-tre elas, num enunciado, num discurso ou numa argumentação” (Ibidem: 426).

Na parataxe, a linguagem é predominantemente afe-tiva, apropriada para a transmissão de estados emo-cionais.

Na hipotaxe, a linguagem traduz rigidez de raciocí-nio lógico, adequada para a transmissão de conteúdos informativos ou intelectivos.

Na Literatura Infantil, por exemplo, predomina a parataxe, pois não é o mundo racional que importa, mas o mundo dos sentimentos, da simplicidade, do encantamento.

A prosa tem como característica predominante a ob-jetividade, a denotação. O enunciado é dependente de outro. As relações (lógicas) expressam causalida-de, fi m, condição.

Na poesia, encontramos elementos plurissignifi cati-vos. A sua linguagem busca a expressão, o lirismo e as imagens.

Atividades

1) Identifi que as fi guras de sintaxe:

1.1.V. Revma. está gripado?1.2. Fiz o trabalho todo.1.3. Fui de carro; ela, de ônibus.1.4. Os brasileiros somos alegres.1.5. “Parece-lhes que a podridão anônima os alcança a eles mesmos?” (Brás Cubas – M. de Assis).1.6. A maioria dos amigos disseram que viriam.1.7. “E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas e sufocava-o a tosse.” (A. Garret).1.8. Os povos destas ilhas é de cor baça e cabelo escorregadio.

2) Lapa (1959) ilustra três situações a respeito do uso de preposições (p.211/12):

2.1. Nem sempre a preposição liga dois elementos do discurso, já que pode ser colocada à frente:

“Do fundo da choça rude...veio um lento gemido.”“Com infi nita caridade e doçura o abraçou.”“Entre duas pedras acendeu uma fogueira...”

São exemplos tirados de (ou a ) Eça de Queirós que, segundo o autor, tem tendência para autonomizar o mor-fema, a exemplo de outros autores realistas.

Comente a expressividade de tal colocação, isto é, o que o autor conseguiu com esse deslocamento. 2.2. Mais adiante, o autor afi rma que a preposição nem sempre é um elo indispensável para a clareza da

frase:

“Ali se quedava a olhar o Tomé que o chamava, – um grande riso de alegria nas feições amorenadas.” (Latino Coelho).

Qual seria a preposição mais adequada a tal contexto? Como foi possível a omissão?

2.3. A preposição não desempenha somente funções lógicas: 2.3.1. O livro está sobre a mesa. 2.3.2. A janela deitava sobre o jardim. 2.3.3. Sobre ser parvo, é ainda mauzinho.

Que valores semânticos você vê no uso da preposição nos exemplos acima?

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243) Identifi que as fi guras de pensamento:

3.1. “Eu preparo uma canção que faça acordar os homens, e adormecer as crianças.” (Drummond).3.2. Morri de rir com aquela piada.3.3. Durante o Reinado de Momo, a cidade é só samba.3.4. Até que ela é bonitinha. (=muito feia).3.5. Entregou a alma a Deus.

O conto a seguir desfaz a ideia de que somente as funções poética e emotiva são exclusivas da arte literária. Guimarães Rosa constrói sua narrativa em torno do signifi cado de uma palavra – famigerado – valorizando e explorando a função metalinguística.

Famigerado (Guimarães Rosa)

Foi de incerta feita — o evento. Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça? Eu estava em casa, o arraial sendo de todo tranquilo. Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela.

Um grupo de cavaleiros. Isto é, vendo melhor: um cavaleiro rente, frente à minha porta, equiparado, exato; e, embolados, de banda, três homens a cavalo. Tudo, num relance, insolitíssimo. Tomei-me nos nervos. O cavalei-ro esse — o oh-homem-oh — com cara de nenhum amigo. Sei o que é infl uência de fi sionomia. Saíra e viera, aquele homem, para morrer em guerra. Saudou-me seco, curto pesadamente. Seu cavalo era alto, um alazão; bem arreado, ferrado, suado. E concebi grande dúvida.

Nenhum se apeava. Os outros, tristes três, mal me haviam olhado, nem olhassem para nada. Semelhavam a gente receosa, tropa desbaratada, sopitados, constrangidos coagidos, sim. Isso por isso, que o cavaleiro solerte tinha o ar de regê-los: a meio-gesto, desprezivo, intimara-os de pegarem o lugar onde agora se encostavam. Dado que a frente da minha casa reentrava, metros, da linha da rua, e dos dois lados avançava a cerca, for-mava-se ali um encantoável, espécie de resguardo. Valendo-se do que, o homem obrigara os outros ao ponto donde seriam menos vistos, enquanto barrava-lhes qualquer fuga; sem contar que, unidos assim, os cavalos se apertando, não dispunham de rápida mobilidade. Tudo enxergara, tomando ganho da topografi a. Os três seriam seus prisioneiros, não seus sequazes. Aquele homem, para proceder da forma, só podia ser um brabo sertanejo, jagunço até na escuma do bofe. Senti que não me fi cava útil dar cara amena, mostras de temeroso. Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse, também, não adiantava. Com um pingo no i, ele me dissolvia. O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo. O medo O. O medo me miava. Convidei-o a desmontar, a entrar.

Disse de não, conquanto os costumes. Conservava-se de chapéu. Via-se que passara a descansar na sela — de-certo relaxava o corpo para dar-se mais à ingente tarefa de pensar. Perguntei: respondeu-me que não estava doente, nem vindo à receita ou consulta. Sua voz se espaçava, querendo-se calma; a fala de gente de mais lon-ge, talvez são-franciscano. Sei desse tipo de valentão que nada alardeia, sem farroma. Mas avessado, estranhão, perverso brusco, podendo desfechar com algo, de repente, por um és-não-és. Muito de macio, mentalmente, comecei a me organizar. Ele falou:

— "Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada..."

Carregara a celha. Causava outra inquietude, sua farrusca, a catadura de canibal. Desfranziu-se, porém, quase que sorriu. Daí, desceu do cavalo; maneiro, imprevisto. Se por se cumprir do maior valor de melhores modos; por esperteza? Reteve no pulso a ponta do cabresto, o alazão era para paz. O chapéu sempre na cabeça. Um alarve. Mais os ínvios olhos. E ele era para muito. Seria de ver-se: estava em armas — e de armas alimpadas. Dava para se sentir o peso da de fogo, no cinturão, que usado baixo, para ela estar-se já ao nível justo, ademão, tanto que ele se persistia de braço direito pendido, pronto meneável. Sendo a sela, de notar-se, uma jereba pa-puda urucuiana, pouco de se achar, na região, pelo menos de tão boa feitura. Tudo de gente brava. Aquele pro-punha sangue, em suas tenções. Pequeno, mas duro, grossudo, todo em tronco de árvore. Sua máxima violência podia ser para cada momento. Tivesse aceitado de entrar e um café, calmava-me. Assim, porém, banda de fora, sem a-graças de hóspede nem surdez de paredes, tinha para um se inquietar, sem medida e sem certeza.

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25— "Vosmecê é que não me conhece. Damázio, dos Siqueiras... Estou vindo da Serra..."

Sobressalto. Damázio, quem dele não ouvira? O feroz de estórias de léguas, com dezenas de carregadas mor-tes, homem perigosíssimo. Constando também, se verdade, que de para uns anos ele se serenara — evitava o de evitar. Fie-se, porém, quem, em tais tréguas de pantera? Ali, antenasal, de mim a palmo! Continuava:

— "Saiba vosmecê que, na Serra, por o ultimamente, se compareceu um moço do Governo, rapaz meio es-trondoso... Saiba que estou com ele à revelia... Cá eu não quero questão com o Governo, não estou em saúde nem idade... O rapaz, muitos acham que ele é de seu tanto esmiolado..."

Com arranco, calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fi to à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.

O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, insequentes, como difi cultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava: E, pá:

— "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... faz-mege-rado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?

Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?

— "Saiba vosmecê que saí ind'hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro..."

Se sério, se era. Transiu-se-me.

— "Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o legítimo — o livro que aprende as palavras... É gente pra informação torta, por se fi ngirem de menos ignorâncias... Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam... A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei?"

Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:

— Famigerado?

— "Sim senhor..." — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfi m nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo — apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. — Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio:

— "Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho..."

Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

— Famigerado é inóxio, é "célebre", "notório", "notável"...

— "Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?"

— Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos...

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26— "Pois... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?"

— Famigerado? Bem. É: "importante", que merece louvor, respeito...

— "Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?"

Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse:

— Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!...

— "Ah, bem!..." — soltou, exultante.

Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si, desagravava-se, num desafogaréu. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — "Vocês podem ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição..." — e eles prestes se partiram. Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d'água. Disse: — "Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!" Seja que de novo, por um mero, se torvava? Disse: — "Sei lá, às vezes o melhor mesmo, pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não..." Mas mais sorriu, apagara-se-lhe a inquietação. Disse: — "A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfi anças... Só pra azedar a mandioca..." Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Espo-rou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.

Vocabulário

Alarve: grosseiro, selvagemAlazão: cavalo castanho-avermelhadoCelha: cílios, pestanasEncantoável: um canto, um recuoÍnvios: intransitáveis, impraticáveisSolerte: sagaz, espertoSopitado: sonolento, adormecido

4) Tente decifrar os neologismos abaixo:

4.1. antenasal – 8º parágrafo;4.2. esmiolado – 9º parágrafo;4.3. cabismeditado – 10º parágrafo;4.4. enigmava – 11º parágrafo;4.5. verivérbio – 21º parágrafo;4.6. mumumudos – 19º parágrafo.

5) Explique as expressões a seguir:

5.1.incerta feita – 1º parágrafo;5.2. por um és-não-és – 4º parágrafo;5.3. pra mor de – 14º parágrafo; 6) Dê uma possível interpretação para as frases que se seguem:

6.1. “Com um pingo no i, ele me dissolvia.” – 3º parágrafo.6.2. “O medo me miava.” – idem.6.3. “Redigiu seu monologar.” – 10º parágrafo.6.4. “A conversa era para teias de aranha.” – 11º parágrafo.6.5. “O livro que aprende as palavras.” – 16º parágrafo.6.6. “Habitei preâmbulos.” – 19º parágrafo.

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277) Explique o sentido das construções sintáticas que se seguem:

7.1. “Saíra e viera, aquele homem, para morrer em guerra.” – 2º parágrafo.7.2. “Os outros, tristes três, mal me haviam olhado, nem olhassem para nada.” – 3º parágrafo.7.3. “Disse que não, conquanto os costumes.” – 4º parágrafo.

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28

Se você:

1) concluiu o estudo deste guia;2) participou dos encontros;3) fez contato com seu tutor;4) realizou as atividades previstas;

Então, você está preparado para as avaliações.

Parabéns!

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29Glossário

Cognitiva: referente à função de comunicação e se concretiza através da frase assertiva, aquela que objetiva a informação, fazer conhecer um pensamento do falante.

Convencionalidade: refere-se à possibilidade de um signo ser convencial ou arbitrário, no sentido de que todos os falantes o aceitam como portador de um dado sentido.

Dêitico: elemento linguístico que faz referência à situação em que o enunciado é produzido; ao momento e ao falante. Exemplos: os pronomes eu e tu, os demonstrativos, como este, esse, aquele, o tempo verbal presente do indicativo etc.

Motivação: opõe-se a convencionalidade. Diz-se dos signos que se criam através de um impulso, como a se-melhança fonética, como é o caso das onomatopeias.

Signo: aquilo que representa algo, que está no lugar de algo. Pode ser verbal ou não-verbal. O signo verbal representa uma ideia, um conceito, uma ação.

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30Gabarito

OBS.: Um gabarito sobre interpretação é sempre discutível porque não conta com o apoio da objetividade da língua. Em quase todas as atividades aqui apresentadas o aspecto subjetivo é preponderante, pois trata-se da ex-ploração do potencial expressivo da língua. E nesse caso, cada usuário da língua tem uma leitura, que depende da sua sensibilidade, do seu envolvimento com o tema. Por isso não estranhe se houver alguma divergência – a língua é fl exível em seus aspectos interpretativos e semânticos.

Unidade I

1.1.1. O formato (sinuosidade) lembra uma grande minhoca.1.2. Um carro bonito, moderno, desejado.1.3. Mulher alta, muito bonita, portadora de medidas generosas.1.4. Um jogo muito disputado e com excelente qualidade técnica de ambas as equipes.1.5. Uma pessoa muito boba.

2.2.1. Afetividade.2.2. Dimensão. 2.3. Afetividade.2.4. Afetividade.2.5. Dimensão.2.6. Afetividade.

3.3.1. Nervoso.3.2. Namoradeira.3.3. Enterro – funeral – exéquias.3.4. Fez mau uso.3.5. Enlace matrimonial.3.6. Esclarecer.

4.4.1. Cirurgia, aplicação de medicamentos, curativos etc.4.2. Transferências de valores, depósitos, retiradas.4.3. Empréstimos, aplicações.4.4. Incursões, policiamento ostensivo, prisões.

5.5.1. Saneou.5.2. Duvidou.5.3. Prioriza.5.4. Noticiou.5.5. Ofereceu.5.6. Esboçou.5.7. Não portava.5.8. Compôs/escreveu. 6. 6.1. força 6.2. sujeira 6.3. lentidão 6.4. vaidade 6.5. trabalho 6.6. traição 6.7. esperteza 6.8. obtusidade 6.9. mansidão 6.10. lentidão 6.11. falsidade 6.12. paciência 6.13. organização 6.14. volume 6.15. rapidez 6.16. valentia 6.17. brutalidade 6.18. ladroagem

7. 7.1. perambular – as pessoas usam as pernas para perambular (andar). 7.2. eletrocardiograma – o aparelho que faz esse registro funciona com eletricidade.

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31 7.3. precipício – o segmento sonoro de princi(pício) é mais comum que preci-. 7.4. despenhadeiro – lugar muito alto, de onde alguém pode despencar. 7.5. basculante – o segmento vascu(lhante) é mais comum que bascu (...). 7.6. esparadrapo – as tiras sugerem trapos de roupa. 7.7. self service – as pessoas se servem de vários tipos de alimentos, além de não saberem inglês. 7.8. fígado – associação ao formato ou a cor. 7.9. celular – o segmento sonoro cel- não é tão comum quanto cer-. 7.10. vice-versa – são palavras muito parecidas. 7.11. choque térmico – associação com fi o (elétrico) terra. 7.12. cabeçalho – o sufi xo -alho é menos comum que -ário, com o qual se confunde.

Unidade II

1.1.1. Silepse de gênero.1.2. Elipse (eu).1.3. Eplise (eu); elipse (foi).1.4. Silepse de pessoa (desejo de inclusão).1.5. Pleonasmo (a eles mesmos). Desejo de recair a ação sobre eles – ênfase nas consequências.1.6. Silepse de número (concorda com a ideia de pluralidade).1.7. Anacoluto – desgraçado – no início – apresenta o sujeito sugerindo que vai praticar alguma ação. Apesar

do esforço, nada faz, mas tudo sofre.1.8. Silepse de número – ressalta-se a imagem coletiva: a população, a gente.

2.2.1. A antecipação da preposição desloca o foco para o elemento que a procede, destacando-o.2.2. Com. O uso do travessão retoma uma expectativa já iniciada com a descrição de Tomé.2.3.2.3.1. Posição superior.2.3.2. Na direção de.2.3.3. Além de.

3.3.1.Antítese.3.2.Hipérbole.3.3.Perífrase.3.4.Ironia.3.5.Eufemismo.

4.4.1. Diante do (meu) nariz.4.2 Desmiolado. A ausência do d só reforça a falta/perda de miolo, juízo.4.3. Cabisbaixo e meditativo.4.4. Verbo criado a partir do substantivo enigma.4.5. Formado com very (ing.) no sentido de próprio mais a palavra verbo, no sentido de palavra, ou seja, o

sentido exato, a própria palavra.4.6. A repetição da sílaba enfatiza o mutismo e identifi ca os três acompanhantes.

5.5.1. A expressão usual é “certa feita”. Com “incerta”, o autor sugere situação imprevista, inesperada.5.2. Por uma coisa mínima.5.3. Forma reduzida de ”por amor de”. Com a intenção de. Expressão comum no interior do país. 6.6.1. Equivale a “tiro na cabeça”, uma ação, algo que o valentão faria sem o menor esforço.6.2. Tornava-o um gato, um animal pequeno e frágil.6.3. O uso de redigir numa situação de língua falada valoriza o sentido de “construir o próprio discurso”. Algo

feito com o cuidado que a língua escrita exige.

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326.4. Papo prolongado, demorado.6.5. Dicionário. O autor sugere o pouco conhecimento do personagem, que confunde aprender com ensinar,

além de jogar com uma ambiguidade: o livro que aprende (guarda, aprisiona, contém) com o livro que aprende (“ensina”) as palavras.

6.6. Fiquei no início, queria ganhar tempo, não tinha coragem de prosseguir.

7.7.1. O sujeito inserido no meio das orações indica a determinação contida em sua atitude: ele está mergulha-

do/decidido a agir, tanto em relação ao que informa as orações anteriores, quanto a oração posterior.7.2. Supressão de alguma expressão equivalente a “como se...”.7.3. Supressão/interrupção antes da conclusão: algo do tipo “...como era comum na região...”. Essa interrup-

ção brusca é própria da língua falada, que tem uma sintaxe característica: cortes, alterações, mudanças de rumo e/ou assuntos, pausas, que não seguem a regularidade e linearidade da língua escrita.

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33Referências Bibliográficas Unidade I Semântica

ALVES, Maria Ieda. Neologismos: criação lexical. São Paulo: Ática, 1990.DUBOIS, J. et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1978.BASÍLIO, Margarida. Formação e classe de palavras no português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.______. Teoria lexical. São Paulo: Ática, 1987.GERALDI, J. W. & ILARI, Rodolfo. Semântica. São Paulo: Ática, 1995.GUIRAUD, Pierre. A semântica. São Paulo: Difel, 1980.ILARI, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico. São Paulo: Contexto, 2003.______. Introdução à semântica: brincando com as palavras. São Paulo: Contexto, 2003.MARQUES, Maria Helena D. Estudos semânticos. Rio de Janeiro: Grifo, 1976.MULLER, Ana L., NEGRÃO, E., FOLTRAN, M. (orgs.) Semântica formal. São Paulo: Contexto, 2003.MUSSALIN, F. & BENTES, A. C. Introdução à linguística 2: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2006.TODOROV, Tzvetan et al. Linguagem e motivação: uma perspectiva semiológica. Porto Alegre: Globo, 1977.ULLMAN, Stephen. Semântica: uma introdução à ciência do signifi cado. Lisboa: Fundação Calouste Gul-benkian, 1977.

Referências Bibliográficas Unidade II Estilística

DUBOIS, J. et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1978.LAPA, M. Rodrigues. Manual de estilística. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1957.MARTINS, Nilce S. O léxico de Guimarães Rosa. São Paulo: Edusp, 2001.MATTOSO CÂMARA JR., J. Contribuição à estilística portuguesa. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1978.______. Dicionário de fi lologia e gramática. Rio de Janeiro: J. Ozon, 1973.MONTEIRO, J. Lemos. A estilística. São Paulo: Ática, 1991.RIBEIRO, M. Pinto. Nova gramática aplicada da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Metáfora, 2007.ROSA, J. Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1962.TODOROV, Tzvetan & DUCROT, Oswald. Dicionário enciclopédico das ciências da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1977.

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