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Seminario IndigenaTRANSCRIPT
Conforme a lei n° 8.080, regulamentada na constituição federal, saúde é um direito de todos e
dever do Estado prover as condições necessárias para seu pleno exercício. Os níveis de saúde
se expressam na organização social e econômica do país, tendo como fatores determinantes e
condicionantes a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a
renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços
essenciais.
A Lei 9.836 de 23 de setembro de 1999 acrescenta dispositivos a lei 8.080, que dispõe sobre
as condições para a promoção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências, instituindo o Subsistema de Atenção à
Saúde Indígena. Caberá a União com seus recursos próprios financiar o Subsistema de
Atenção à Saúde Indígena. Levando em consideração que os indígenas são povos de culturas
diferentes, conforme especifica no artigo 19-F da lei do Subsistema: “ Dever-se-á
obrigatoriamente levar em consideração a realidade local e as especificidades da cultura dos
povos indígenas e o modelo a ser adotado para a obtenção da saúde indígena, que se deve
pautar por uma abordagem diferenciada e global , contemplando os aspectos de assistência à
saúde, saneamento básico, nutrição, habitação, meio ambiente, demarcação de terras,
educação sanitária e integração institucional.”
Para uma reflexão da saúde indígena é necessário um entendimento da questão social
contemporânea, que engloba desde o contexto da globalização e o cenário capitalista que
vivemos, até a efetividade das políticas públicas criadas para responder às exigências da
sociedade. A falha se inicia quando os órgãos públicos avançam apenas em termos teóricos,
essas políticas especialmente na saúde no plano jurídico ou executivo não traz ao indígena a
condição de cidadão de direito. Decorrente disso vamos analisar a interferência na qualidade
de vida desse povo. As expressões da questão indígena no Brasil tem um processo histórico
sempre relacionado com as relações capitalistas, destacando-se as questões de expansão e
desapropriação de terras para dar lugar a projetos públicos ou privados que gerem lucros. Na
história há a preocupação com a saúde do indígena desde o início do século XX, quando surgiu
o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), com bases iluministas e evolucionistas, como um meio de
pacificação. O SPI atuava com orçamento reduzido e foi alvo de denúncias por corrupção,
genocídio. Após esse escândalo acabou sendo extinto e substituído pela FUNAI (instituída pela
Lei nº 5.321, de dezembro de 1967), como a finalidade de garantir o cumprimento da política
indigenista, sendo responsável pela saúde do índio. Em 1999 é criado o Subsistema de
Atenção à Saúde Indígena no SUS.
Ao longo dos anos nota-se que as políticas de saúde indígena sofreram várias mudanças de
gestão e foi construída de forma conturbada, esse aspecto de forma indireta afeta os índios.
Essa política é uma estratégia vertical e com foco local, mas o problema é produto de uma
realidade estrutural, global e interativa. Historicamente o índio sofre as consequências de uma
babárie social (ALVES,2013), envolve sua cultura, seu estilo de vida, suas relações de trabalho,
hábitos entre outros aspectos do seu povo, essa intervenção gera novas formas de interagir
com a sociedade. Os conflitos envolvendo as terras indígenas devido a capitalização, atinge
não apenas no ambiente em que esse povo mora, pois para o índio a terra é sua identidade, é
onde ele cultua seus ancestrais, onde ele está em harmonia com o universo, é a expressão de
sua cultura. Perder as terras o atinge de forma psicológica e emocional, pois esta intrínseco em
sua tradição que é naquele ambiente que ele vive e se expressa sem preconceitos e
descriminações, é onde ele vive suas relações pessoais e espirituais. Com o avanço do
capitalismo essas terras começam a ser vistas como reservas de valor e de mercado
(OLIVIERA,2014). Com a mudança desse cenário econômico, as terras indígenas começam a
serem desocupadas, causando assim aldeias em territórios descontínuos em meio a grandes
plantações, como no caso do Maranhão, onde há fazendas de eucaliptos entre as reservas
indígenas, acarretando dificuldades para a caça, os rios ficam contaminados, impossibilitando a
prática da canoagem e a pesca. Assim o índio começa a se render pelo diferente, o dominante
e buscar novas formas de relações e de sobrevivência.
Dentro do contexto histórico social o índio é atingido pelo desenvolvimento do pais, obras como
ferrovias e hidroelétricas, além das plantações de grandes latifundiários são o motivo da
disputa de terras. Com a perca de parte do seu território o índio começa migrar para a cidade
ou superpovoar as aldeias que restavam, gerando assim um problema social. O índio que vai
para cidade, não tem escolaridade e nem preparo para o mercado de trabalho, tornando-se
assim alvo de mão de obra barata.
Com essa tentativa frustrada de adaptação ao mundo capitalista e globalizado o índio acaba
perdendo a perspectiva de encaixe social, se torna dependente das assistências que o governo
oferece.
A política de saúde indígena mascara um problema social, tenta de uma forma particular atingir
o indivíduo e expõe ser eficiente, mostrando uma humanização. Analisando as práticas são
meramente curativas, remediadoras e não tratam o problema em si, na sua verdadeira origem,
que é muito mais ampla que o processo de saúde-doença do indígena. Seu perfil
epidemiológico é falho, esse fator contribui para a pouca efetividade das políticas públicas,
essas que na sua prática não dão a real importância para os valores e a cultura do povo
indígena. É necessário uma infraestrutura e pessoas capacitadas, intensificar as práticas de
saúde e relacionar com as práticas culturais das diferentes etnias indígenas. É preciso
compreender, respeitar e adequar as políticas de saúde para poder alcançar uma qualidade de
vida que abranja o social, o psicológico e o biológico.