seminÁrio tÉcnicas de assepsia na equipe cirÚrgica

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS CURSO DE MEDICINA TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA ARIELY TEOTONIO BORGES DANILO RODRIGUES CASSIANO GABRIELLA BASTOS DE CASTRO PAULO SILVA REIS PEDRO HENRIQUE MAGGI CARLESSO RENATA ANDRADE MELLO SILVIA THAIS SÁ PIMENTA VALESSA VERZELONI DE OLIVEIRA FERREIRA VICTOR HUGO DA VEIGA JARDIM CUIABÁ 2010

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Page 1: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

CURSO DE MEDICINA

TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE

CIRÚRGICA

ARIELY TEOTONIO BORGES

DANILO RODRIGUES CASSIANO

GABRIELLA BASTOS DE CASTRO

PAULO SILVA REIS

PEDRO HENRIQUE MAGGI CARLESSO

RENATA ANDRADE MELLO

SILVIA THAIS SÁ PIMENTA

VALESSA VERZELONI DE OLIVEIRA FERREIRA

VICTOR HUGO DA VEIGA JARDIM

CUIABÁ 2010

Page 2: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

2

ARIELY TEOTONIO BORGES

DANILO RODRIGUES CASSIANO

GABRIELLA BASTOS DE CASTRO

PAULO SILVA REIS

PEDRO HENRIQUE MAGGI CARLESSO

RENATA ANDRADE MELLO

SILVIA THAIS SÁ PIMENTA

VALESSA VERZELONI DE OLIVEIRA FERREIRA

VICTOR HUGO DA VEIGA JARDIM

TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE

CIRÚRGICA

Trabalho apresentado para

avaliação da disciplina de

Saúde do Adulto, do curso

de Medicina integral, da

UNIVERSIDADE

FEDERAL DE MATO

GROSSO.

ORIENTADORA:

Hildenete Monteiro Fortes.

CUIABÁ

2010

Page 3: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

3

RESUMO:

Tendo em vista a importância do tema de infecções cirúrgicas, o grupo D decidiu apresentar

trabalho para esclarecer melhor as técnicas de assepsia e antissepsia feita pela equipe cirúrgica

ao adentrar o centro cirúrgico. Para tal, aborda uma história da microbiologia onde não se

identificavam os porquês das infecções dos pacientes após procedimentos médicos e

cirúrgicos. Após definem-se os principais pontos encontrados em assepsia e antissepsia

definindo a importância. Tendo em vista esses conceitos e os crescentes dados de infecções

hospitalares, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a partir de estudos do

CDC (Centers of Diseases Control and Prevention) determinou a criação das Comissões de

Controle de Infecções Hospitalares (CCIH) para a coleta de dados e implantação de políticas

para o controle de infecções hospitalares. Uma das determinações da CCIH e da ANVISA foi

a técnicas de lavagem de mãos e paramentação cirúrgica. Com isso, o grupo decidiu

sedimentar o ensinamento das técnicas e mostrar a real técnica de lavagem de mãos e

paramentação cirúrgica.

Palavras chave:

Assepsia, Antissepsia, Infecções Hospitalares, CCIH.

Page 4: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

4

ABSTRACT:

Seeing the importance of the surgical infections, the D group decided to present a work to

better clarify the asepsis and antisepsis techniques made by the surgical team entering the

operation room. For such, approach a history of microbiology where were not identify the

whys of patient infections after medic and surgical procedures. After that sets the key points

encounters in asepsis and antisepsis defining the real importance. In view of this concepts and

the rising of hospital infections, the ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)

determined the creation of the Comissões de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH) to

collect data and implantation of policy to control the hospital infections. One of the

determinations from CCIH and ANVISA was the washing hands techniques and surgical

scrub. With that, the group decided to sedimentary the teaching of the techniques and to show

the real washing hands and scrub techniques.

Keywords:

Asepsis, Antisepsis, Hospital Infections, CCIH.

Page 5: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

5

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: reconstituição da primeira aplicação de anestesia pré-cirúrgica, Massachusetts General

Hospital, Boston - em 16 de outubro de 1846. .................................................................................... 9

Figura 2: Paramentação cirúrgica Hospital universitário Gama Filho .................................................. 9

Figura 3: Álcool utilizado como desinfetante .....................................................................................13

Figura 4 Sala de esterilização. ......................................................................................................14

Figura 5: Clorexidina utilizada na antissepsia. ..................................................................................14

Figura 6: paciente com lesões cicatriciais na perna direita, de consistência fibrótica e com múltiplos

orifícios fistulosos e com supuração local. Botriomicose é uma infecção bacteriana que afeta a pele e

os tecidos subcutâneos, o principal agente etiológico é o Staphylococcus aureus, e outros menos

frequentes são Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli, Proteus vulgaris, Bacillus spp, isolados ou

associados. ........................................................................................................................................17

Figura 7: Histopatológico (100x, Grocot) – Grãos eosinofílicos e amorfos, com fino pontilhado

basofílico em seu interior, nas colorações hematoxilina- eosina e Grocott, associados à intensa

substância eosinofílica radiada ao redor. Grãos com nítidas estruturas cocóides em seu interior .........17

Figura 8: A dez maiores despesas por leito ocupado ($/OB) com antimicrobianos em 1997. Foram

calculadas despesas medianas para cada antimicrobiano usando dados enviados por hospitais em 1997

(n = 69), uma análise do banco de dados do Programa de benchmarking, conjunto de dados dos

hospitais norte-americanos participantes do projeto. Ceftriaxona teve o valor mais alto (acima de

US$400 por leito ocupado), seguido pela ampicilina-sulbactam com o valor US$259. .......................18

Figura 9: Staphylococcus aureu. ........................................................................................................20

Figura 10: O estafilococo (as esferas azuis atacando a pele de uma pessoa) ......................................20

Figura 11: Colônia de Escherichia coli no intestino delgado. .............................................................21

Figura 12: CCIH ..............................................................................................................................30

Figura 13: Mapa conceitual da PCIH .................................................................................................30

Page 6: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

6

LISTA DE SIGLAS

AIDS – Acquired Immunodeficiency Syndrome (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida)

CCIH – Centro de Controle de Infecções Hospitalares

CDC – Centers for Disease Control and Prevention of Atlanta (Centro de Controle e

Prevenção de Doenças de Atlanta)

IH – Infecção Hospitalar

ISC – Infecção do Sítio Cirúrgico

MS – Ministério da Saúde

PCIH – Programa de Controle de Infecções Hospitalares

NCIH – Núcleos de Controle de Infecções Hospitalares

SCIH – Serviço de Controle de Infecções Hospitalares

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFPE - Universidade Federal de Pernambuco

SUS – Sistema Único de Saúde

Page 7: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

7

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8

2. UMA BREVE HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DAS TÉCNICAS DE ASSEPSIA ................... 10

3. DEFINIÇÕES ..................................................................................................................... 12

3.1 LIMPEZA: ......................................................................................................................... 12

3.2 DESCONTAMINAÇÃO: ...................................................................................................... 12

3.3 ASSEPSIA OU DESINFECÇÃO: ........................................................................................... 13

3.4 ESTERILIZAÇÃO ................................................................................................................ 13

3.5 ANTISSEPSIA:................................................................................................................... 14

4. IMPORTÂNCIA DA ASSEPSIA E ANTISSEPSIA – PREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÕES

HOSPITALARES. ....................................................................................................................... 16

4.1) CLASSIFICAÇÃO DAS INFECÇÕES: ..................................................................................... 19

4.1.1) De acordo com o agente etiológico: ......................................................................... 19

4.1.2) De acordo com a manifestação ................................................................................ 19

4.2 CADEIA EPIDEMIOLÓGICA DA INFECÇÃO HOSPITALAR ..................................................... 21

4.2.1) Reservatórios........................................................................................................... 22

4.2.2) Fontes ..................................................................................................................... 22

4.2.3) Vias de eliminação ................................................................................................... 23

4.2.4) Formas de transmissão de infecção ......................................................................... 23

4.2.5) Características do agente infectante ........................................................................ 24

4.2.6) Vias de penetração .................................................................................................. 24

4.2.7) Características do hospedeiro .................................................................................. 24

4.2.8) Contaminação, aderência, colonização e infecção .................................................... 25

5. DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DE INFECÇÕES HOSPITALARES.............................. 27

6. CENTRO DE CONTROLE DE INFECÇÕES HOSPITALARES .................................................... 29

7. TÉCNICAS DE ASSEPSIA – PARAMENTAÇÃO LIMPA, LAVAGEM DE MÃOS E PARAMENTAÇÃO

ESTÉRIL ................................................................................................................................... 32

8. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 36

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 37

Page 8: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

8

1. INTRODUÇÃO

Até meados do século XIX, os cirurgiões operavam com as mesmas roupas que

vinham da rua, sem luvas e frequentemente sem sequer lavar as mãos. Naquela época, cerca

de 50% de todos os pacientes operados, que sobreviviam à cirurgia, morriam de infecções que

se desenvolviam no pós-operatório (MONTEIRO, 2006). Atualmente, tem-se um vasto

conhecimento de técnicas e produtos para assepsia e antissepsia, que foram desenvolvidos ao

longo do último século a partir dos achados em microbiologia, com a finalidade de criar um

ambiente cirúrgico o mais limpo possível em torno do paciente que está sendo operado.

Nesse sentido, a equipe cirúrgica, composta em sentido restrito pelo cirurgião,

auxiliares da cirurgia, enfermeiras, instrumentador e anestesiologista, devem estar hígidos,

livres de infecções localizadas e sistêmicas e devidamente paramentados com vestuário

cirúrgicos rigorosamente assépticos (MONTEIRO, 2006). No entanto, ainda que esse ritual

minucioso de assepsia seja uma prática frequente na maioria dos hospitais, a infecção pós-

operatória ainda representa uma complicação importante, cobrando um elevado tributo em

mortalidade, morbidade e custo direto, indireto e intangível ao tratamento médico do paciente.

A infecção cirúrgica apresenta interface com outras doenças do ambiente hospitalar,

justificando a grande preocupação das instituições com o seu aparecimento e controle,

fazendo surgir deste modo, as comissões de controle de infecção e toda uma tecnologia de

interferência e controle desta complicação (FERRAZ, 2000).

As técnicas de assepsia e antissepsia são um conhecimento indispensável para

qualquer profissional da saúde. Nesse sentido, torna-se de fundamental importância que o

acadêmico de Medicina entre em contato com o ambiente cirúrgico e seus desígnios

assépticos precocemente. Entretanto, muitas vezes o acadêmico é orientado somente com

princípios teóricos, postergando a prática para os anos finais do curso, o que é prejudicial.

Nesse contexto, o grupo de acadêmicos autores desse seminário decidiu aprofundar os

conhecimentos adquiridos, dando ênfase à prática das principais técnicas de assepsia e

antissepsia recomendadas a uma equipe cirúrgica.

Page 9: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

9

O presente trabalho se inicia com uma breve explanação sobre o histórico do

desenvolvimento das técnicas de assepsia, salientando as contribuições de Robert Koch e

Joseph Lister nesse sentido. Depois, conceitua os principais procedimentos envolvidos nessas

técnicas e expõe sua importância. Segue expondo dados epidemiológicos relevantes sobre

infecções hospitalares e discute a função e importância das Comissões de Controle de

Infecções Hospitalares (CCIH). Por fim, trás de forma resumida as principais técnicas de

assepsia e antissepsia conhecidas.

Figura 1: reconstituição da primeira aplicação de anestesia pré-cirúrgica, Massachusetts

General Hospital, Boston - em 16 de outubro de 18461.

Figura 2: Paramentação cirúrgica Hospital universitário Gama Filho2

1 Disponível em: http://sofadasala-noticias.blogspot.com/2009/01/seculo-xix-o-terror-da-medicina.html acesso

em: 25 de setembro de 2010. 2 Disponível em: http://www.ugf.br/index.php?q=centro acesso: 25 de setembro de 2010

Page 10: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

10

2. UMA BREVE HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DAS

TÉCNICAS DE ASSEPSIA

Por muito tempo não se sabia que muitos tipos de doenças estavam relacionados aos

microrganismos patogênicos. Porém, no século XIX, Pasteur descobriu que as leveduras

fermentadoras podiam fazer modificações físicas e químicas em materiais orgânicos. Esse

conceito alertou os cientistas para a possibilidade de que microrganismos poderiam causar

doenças. Essa ideia foi conhecida como Teoria do Germe da Doença. Sendo que em 1876,

Robert Koch provou pela primeira vez que um grupo de microrganismos, no caso estudado as

bactérias, realmente causa doenças. Desde então, Koch realizou uma série de procedimentos

experimentais para relacionar diretamente um micróbio específico a uma doença específica.

Mas antes mesmo de Koch comprovar a relação dos microrganismos como causas de doenças,

em 1860, Joseph Lister, aplicou a Teoria do Germe da Doença para procedimentos médicos. E

ainda, Lister sabia que em 1840, o médico Ignaz Semmelweis exigia que os doutores e

estudantes de medicina sob seus cuidados lavassem as mãos com óxido clorado antes de

examinarem os pacientes. Desta forma, conseguiu reduzir o índice de mortalidade. Além

disso, Lister sabia que o ácido carbólico (fenol) matava bactérias. Tendo estes conhecimentos,

Lister começou a tratar ferimentos cirúrgicos com solução de fenol, que reduziu um pouco o

índice de mortalidade. Posteriormente, ampliou a técnica do uso de desinfetante para as salas

de operações, mãos do pessoal da equipe operatória e objetos e utensílios que entrassem em

contato com o doente. O resultado dessa medida foi uma diminuição notável na incidência de

infecções e mortes, provando; assim, que microrganismos sãos as causas das infecções

cirúrgicas. Essa técnica de Lister, de utilizar fenol, foi um dos primeiros procedimentos

médicos para controle de infecções causadas por microrganismos patogênicos. Pasteur

também contribuiu para as técnicas de assepsia. Ele demonstrou que a vida microbiana pode

ser destruída pelo calor e que podem ser elaborados métodos para impedir o acesso dos

microrganismos presentes no ar aos ambientes nutritivos. Essas técnicas de assepsia são

atualmente práticas rotineiras nos laboratórios e em muitos procedimentos médicos. Vale

ressaltar, que muito antes de Lister, Pasteur e Koch, já tinham sido realizadas várias tentativas

de técnicas de assepsia, entre elas, o uso de água e vinho fervidos para irrigar as feridas. Essa

técnica foi defendida por Hipócrates, mas, sabe-se que muitos séculos foram necessários para

Page 11: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

11

que os profissionais da saúde entendessem a importância de se realizar corretamente essas

técnicas assépticas. (TORTORA, 2005)

A seguir abordaremos os conceitos básicos em assepsia e antissepsia.

Page 12: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

12

3. DEFINIÇÕES

Os microrganismos contaminam artigos hospitalares, colonizam pacientes graves e

podem provocar infecções mais difíceis de serem tratadas. Assim, faz-se importante conhecer

algumas definições sobre os métodos de prevenção de infecções para permitir uma resistência

local do ambiente hospitalar, inclusive do ambiente cirúrgico. Atualmente os procedimentos

anti-infecciosos são agrupados nos seguintes níveis: limpeza, descontaminação, assepsia ou

desinfecção, esterilização e antissepsia.

3.1 LIMPEZA:

Procedimento básico que antecede todos os métodos anti-infecciosos. É a remoção da

sujeira e dos detritos. Baseado em métodos manuais, mecânicos e enzimáticos. Sua finalidade

é reduzir a população bacteriana dos diversos materiais, além de facilitar a ação dos agentes

antimicrobianos (MORENA 2008).

3.2 DESCONTAMINAÇÃO:

Realizado por métodos físicos e/ou enzimáticos, pode em alguns casos anteceder a

limpeza. Sua finalidade é tornar materiais e objetos contaminados por sangue, pus e secreções

livres de agentes contaminantes ao destruir os microrganismos patogênicos na forma

vegetativa. Como resultado traz maior segurança para os técnicos envolvidos no manuseio

desses materiais (PEREIRA, 2008).

Page 13: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

13

3.3 ASSEPSIA OU DESINFECÇÃO:

Assepsia equivale à ausência total de todo e qualquer tipo de agente infeccioso. Assim,

o objetivo da assepsia ou desinfecção consiste na limpeza e eliminação de todos os agentes

infecciosos presentes em equipamentos e objetos inanimados. Para isso, utilizam-se agentes

desinfetantes, os quais geralmente são tóxicos para os diferentes tipos de células. Alguns

agentes desinfetantes são os aldeídos, como glutaraldeído, os compostos fenólicos

(germicidas), o iodo e o próprio álcool. A efetividade dos desinfetantes na assepsia depende

de fatores como sua concentração, pH, tempo de exposição e natureza do microrganismo

(PEREIRA, 2008).

Figura 3: Álcool utilizado como desinfetante3

3.4 ESTERILIZAÇÃO:

Processo de destruição de todas as formas de vida microbiana, Assim, as formas

vegetativa e esporulada de bactérias, fungos e vírus são destruídos pela aplicação de agentes

físicos (calor, radiação ionizante e filtração) e químicos (nas formas líquidas e gasosas)

(MONTEIRO, 2006).

3 Disponível em: http://sofadasala-noticias.blogspot.com/2009/01/seculo-xix-o-terror-da-medicina.html acesso

em: 25 de setembro de 2010.

Page 14: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

14

Figura 4 Sala de esterilização4.

3.5 ANTISSEPSIA:

Método que permite que no momento da cirurgia os microrganismos presentes na pele

sejam eliminados ou mortos e os vírus seja inativados. Assim, é de resultado transitório,

permitido para tecidos vivos devido à baixa toxicidade dos antissépticos. Os principais ativos

utilizados como antissépticos são: soluções alcoólicas, iodóforos e clorexedina.

Figura 5: Clorexidina utilizada na antissepsia. 5

4 Disponível em: http://clinicapedrovalente.com/fotosclinica.html. Acesso em 25 de setembro de 2010. 5 Disponível em: http://www.ogna.it/catalogo/linea_chirurgia/parodonto_e_mucose.html. acesso em 25 de

setembro de 2010.

Page 15: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

15

Na rotina, os termos antissépticos, desinfetantes e germicidas são empregados como

sinônimos, fazendo que não haja diferenças absolutas entre desinfetantes e antissépticos.

Entretanto, caracterizamos como antisséptico quando a empregamos em tecidos vivo e

desinfetante quando a utilizamos em objetos inanimados (MÓDENA, 2008).

Após essa abordagem dos conceitos, identificaremos a importância da assepsia e da

antissepsia para prevenção e controle das doenças hospitalares.

Page 16: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

16

4. IMPORTÂNCIA DA ASSEPSIA E ANTISSEPSIA – PREVENÇÃO E

CONTROLE DE INFECÇÕES HOSPITALARES.

As medidas de assepsia e antissepsia que podem ser tomadas no ambiente hospitalar,

tanto pelo médico quanto no paciente, são de grande importância para a prevenção e controle

de infecções hospitalares (IH) que, há muito, se mostram um grave problema de saúde

pública.

A grande preocupação com as infecções vem, historicamente, incitando os

profissionais a elaborarem formas de cuidado e técnicas que minimizem este risco dentro do

ambiente hospitalar (onde se concentram reservatórios, fontes e hospedeiros suscetíveis para

agentes infectantes). Essa apreensão tem como causa os danos decorrentes dos processos

infecciosos, sabidamente graves e frequentes.

Danos à saúde dos pacientes, as consequências sociais da infecção, são a primeira e

mais importante preocupação dos serviços de saúde. Dentre eles pode ser citado o choque

séptico que, segundo Ferraz (2002), resulta da invasão de bactérias ou de suas toxinas a partir

de um foco infeccioso que acarreta uma resposta local e sistêmica envolvendo a liberação de

mediadores pró e antiinflamatótios. Esse processo pode evoluir para um quadro incontrolável

com insuficiência respiratória aguda e falência de múltiplos órgãos e sistemas, sendo muito

frequente evoluir para a morte do paciente.

Pode decorrer também de infecção a febre pós-traumática, a deiscência completa ou

incompleta da ferida cirúrgica. Enfim, são muitos os transtornos ao paciente e sua família,

geralmente evitáveis com boas técnicas cirúrgicas e de assepsia e antissepsia. (FERRAZ,

2020). A Botriomicose é ilustrada pelas figuras 6 e 7.

Page 17: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

17

Figura 6: paciente com lesões cicatriciais na perna direita, de consistência fibrótica e com múltiplos

orifícios fistulosos e com supuração local. Botriomicose é uma infecção bacteriana que afeta a pele e os

tecidos subcutâneos, o principal agente etiológico é o Staphylococcus aureus, e outros menos frequentes

são Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli, Proteus vulgaris, Bacillus spp, isolados ou

associados.6

Figura 7: Histopatológico (100x, Grocot) – Grãos eosinofílicos e amorfos, com fino pontilhado

basofílico em seu interior, nas colorações hematoxilina- eosina e Grocott, associados à intensa

substância eosinofílica radiada ao redor. Grãos com nítidas estruturas cocóides em seu interior7

6 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0365-05962009000400011 acesso em 24 de setembro de 2010. 7 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0365-05962009000400011 acesso em

24 de setembro de 2010.

Page 18: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

18

Ainda, das consequências dos processos infecciosos, advém os custos econômicos. As

despesas hospitalares diretas, que estão relacionadas à pessoal que faz assistência, materiais,

medicamentos, etc., são sempre alteradas em função da redução ou aumento do número de

casos de IH, que prolongam o tempo e o custo de internação dos pacientes. Assim, as medidas

de prevenção e controle das IH em relação às medidas de recuperação (os antimicrobianos

representam uma importante despesa hospitalar), em todos os tipos de análise (estimativa de

custo, custo-benefício, contenção de custos e custo-eficácia), têm se mostrado mais vantajosas

também economicamente. (MARTINS, 2001) Fato é ilustrado na figura 8.

Figura 8: A dez maiores despesas por leito ocupado ($/OB) com antimicrobianos em 1997.

Foram calculadas despesas medianas para cada antimicrobiano usando dados enviados por hospitais em

1997 (n = 69), uma análise do banco de dados do Programa de benchmarking, conjunto de dados dos

hospitais norte-americanos participantes do projeto. Ceftriaxona teve o valor mais alto (acima de

US$400 por leito ocupado), seguido pela ampicilina-sulbactam com o valor US$259.8

Sendo a prevenção de infecções hospitalares o principal objetivo da assepsia e

antissepsia, é valida a classificação e caracterização dessa enfermidade.

8 Disponível em: http://www.ccih.med.br/benchmarking5.html acesso em 24 de setembro de 2010.

Page 19: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

19

4.1) CLASSIFICAÇÃO DAS INFECÇÕES:

Como citou Lacerda, 2003, “As diferenças de conceitos acarretam consequências

práticas nas medidas de controle e prevenção da infecção hospitalar, principalmente no centro

cirúrgico”.

4.1.1) De acordo com o agente etiológico:

Podem ser endógenas ou exógenas. Não há consenso sobre flora endógena, pode ser

considerada aquela oriunda exclusivamente do paciente, ou, que é composta por

microrganismos normalmente pertencentes à flora humana (podem estar no paciente, no

profissional ou disseminada em superfícies, equipamentos ou ar). Podendo ainda, ser

composta por microrganismos da flora humana normal do paciente e/ou profissionais (por

essa lógica microrganismos oriundo do paciente são classificados como flora autógena). A

maioria das infecções de sítio cirúrgico é causada por microrganismos da flora endógena.

(LACERDA, 2003)

A flora exógena pode ser considerada como aquela externa ao paciente, ou, composta

por microrganismos que não habitam normalmente a microbiota humana normal (podendo

estar em pacientes, profissionais ou disseminada em outros locais).

4.1.2) De acordo com a manifestação

Podem ser classificadas como doenças infecciosas e síndromes infecciosas. Nas

doenças infecciosas, o agente etiológico geralmente não pertence à flora humana normal

(origem predominantemente exógena, incluindo vírus, bactérias e fungos). São específicas,

pois apresentam sinais e sintomas relacionados ao agente e a gravidade também está

relacionada a ele. (LACERDA,2003)

Page 20: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

20

Nas síndromes infecciosas, o agente geralmente pertence a microbiota humana normal,

predominantemente bactérias, como S.aureus (figura 9 e 10), E. coli (figura 11) e Proteus,

atingem diversos sítios (cirúrgico, respiratório, corrente sanguínea, urinário) comumente por

realização de procedimentos invasivos. São inespecíficas, pois seus sinais e sintomas não

estão relacionados com um agente, sendo assim, síndromes mistas (a mesma síndrome pode

ser causada por diferentes tipos de bactérias levando à febre, deiscência, pus, etc.). Ainda um

mesmo microrganismo pode causar infecção em vários sítios, transmitidas por contato direto

ou indireto e por migração em procedimentos invasivos. Ocorrência e gravidade dependem da

suscetibilidade do hospedeiro, da resistência e quantidade de microrganismos. São essas a

maioria das IH. (LACERDA,2003)

Figura 9: Staphylococcus aureu.9

Figura 10: O estafilococo (as esferas azuis atacando a pele de uma pessoa) 10

9 Disponível em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/68/Staphylococcus_aureus,.jpg acesso em

24 de setembro de 2010. 10

Disponível em: http://jarb3mjc.sites.uol.com.br/ds2026ago_07.htm acesso em 24 de setembro de 2010.

Page 21: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

21

Figura 11: Colônia de Escherichia coli no intestino delgado.11

4.2 CADEIA EPIDEMIOLÓGICA DA INFECÇÃO HOSPITALAR

É uma série de condições envolvidas na transmissão de um agente infeccioso de um

reservatório para um hospedeiro suscetível.

Diferentes microrganismos como bactérias, fungos, e vírus causam infecções

hospitalares. O grupo de patógenos, no entanto, que se destaca é o das bactérias que

constituem a flora humana e que normalmente não trazem risco a indivíduos saudáveis,

devido sua baixa virulência, mas que podem causar infecção em indivíduos com estado

clínico comprometido – denominadas assim de bactérias oportunistas. (LEVY, 2004)

O segundo grupo de importância médica nas infecções hospitalares são os fungos,

sendo o Cândida albicans e o Aspergillus os patógenos mais frequentes. Os fungos são

responsáveis por aproximadamente 8% das infecções hospitalares. Dentre as viroses, o vírus

da hepatite B e C, enteroviroses e viroses associadas com pneumonia hospitalar são

comumente registrados. As viroses representam por volta de 5% das infecções. (LEVY, 2004)

11 Disponível em: http://2.bp.blogspot.com/_aEWquLrtp0A/SQeAYPiYKDI/AAAAAAAAExU/wf4R5oOd8Wo/s1600-h/Colonia+de+Escherichia+coli+en+el+intestino+humano..jpg acesso em 24 de setembro de 2010.

Page 22: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

22

4.2.1) Reservatórios

Os reservatórios são locais onde os agentes infectantes habitam, se metabolizam e

reproduzem. Num ambiente hospitalar se traduzem por pacientes, trabalhadores, insetos e

roedores, água e seu sistema de distribuição, medicamentos injetáveis, soluções parenterais,

objetos e equipamentos utilizados na assistência (o ar pode ser reservatório para apenas alguns

microrganismos de vida livre não relacionados com a maioria das IH). (LACERDA, 2003)

4.2.2) Fontes

Segundo Lacerda (2003) as fontes são objetos animados ou inanimados que conduzem

o agente infeccioso de seu reservatório até o hospedeiro suscetível, tais como: pessoas,

animais, locais, dispositivos instrumentais, artigos e equipamentos médico-hospitalares e

substâncias.

Podem ser reservatórios: água contaminada por microrganismos que vivem nas

tubulações ou o ar com microrganismos liberados por pessoas. Mas nem todo reservatório é

fonte. (LACERDA, 2003)

As fontes não necessariamente determinam a ocorrência da infecção, as técnicas de

assepsia e antissepsia vêm, justamente, para impedir que fontes estejam contaminadas ou que

entrem em contato com o hospedeiro suscetível.

Page 23: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

23

4.2.3) Vias de eliminação

As vias de eliminação são maneiras pelas quais os reservatórios e fontes eliminam

seus agentes infectantes. Na transmissão inter-humana têm importância: secreções genitais,

nasais, orais e faríngeas, fezes, urina, sangue, escarro, descamação epitelial, leite, etc.

(LACERDA, 2003).

4.2.4) Formas de transmissão de infecção

Cada microrganismo tem sua forma própria de transmissão (ou via de eliminação).

São cinco principais:

a) Transmissão por contato: modo mais frequente de transmissão das IH, pode ser

direta ou indireta. O contato direto implica sítio-anatômico com sítio anatômico.

Pode ocorrer entre profissional e paciente ou entre pacientes (LACERDA, 2003);

b) Transmissão por gotículas: não exige o “toque”, gotículas de espirro, tosse ou

conversa (ou procedimentos como sucção ou broncoscopia) contendo

microrganismos da pessoa-fonte são propelidas pelo ar e depositadas na

conjuntiva, mucosas bucal ou nasal do hospedeiro (LACERDA, 2003);

c) Transmissão por via aérea: se dá por disseminação de núcleos de gotículas

veiculadas pelo ar contendo microrganismos (mesmo após evaporação da gotícula

permanecem em suspensão pó um longo período de tempo). Os microrganismos

podem também ser transmitidos por partículas de poeira (LACERDA, 2003);

d) Transmissão por veículo comum: ocorre por meio de alimentos, água,

medicamentos, dispositivos e equipamentos podendo assim provocar surtos.

Portanto essa é a forma de transmissão mais preocupante no que se refere a

infecções hospitalares (LACERDA, 2003);

e) Transmissão por vetor: ocorre quando mosquitos, moscas, ratos, transmitem

agentes infectantes pelo contato direto com pessoas ou substâncias.

(LACERDA,2003)

Page 24: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

24

4.2.5) Características do agente infectante

A qualidade das IH é predominantemente endógena inespecífica multirresistente, ou

seja, são principalmente bactérias da microbiota humana normal, que ficaram resistentes pelo

abuso de antibióticos. A patogenicidade dos microrganismos pode variar com a presença ou

não de cápsula, capacidade de produzir determinadas enzimas, fatores de aderência ao tecido

e carga microbiana (quantidade de agentes que penetram no hospedeiro) (LACERDA, 2003).

4.2.6) Vias de penetração

São as formas do agente infectante penetrar no hospedeiro após a transmissão. Pode

ser cutânea, mucosa (principalmente olhos, tratos respiratório, gastrointestinal, geniturinário)

e percutânea (no tecido subeptelial). A penetração percutânea pode ocorrer por contato direto

ou indireto de material contaminado com o tecido subepitelial, por veiculação injetável de

substâncias, migração da flora do paciente, (através de procedimentos invasivos e uso de

medicamentos) e por translocação (agentes se movimentam espontaneamente de uma região

onde constituem flora normal para outra região isenta). Exemplo é a translocação de

microrganismos intestinais para o sangue (LACERDA, 2003).

4.2.7) Características do hospedeiro

O último elo da cadeia epidemiológica da IH é o hospedeiro. Pode ser paciente ou

profissional que recebe uma carga de microrganismos, em condições de assistência à saúde. A

suscetibilidade necessária à infecção está relacionada com o comprometimento imunitário

individual e com os procedimentos diagnósticos e terapêuticos que interferem na sua

resistência ou que viabilizam a penetração de agentes epidemiologicamente importantes

(LACERDA, 2003).

Page 25: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

25

Consta no Manual de Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção em Serviços

de Saúde que os principais fatores que influenciam a aquisição de uma infecção são: status

imunológico, idade (recém-nascidos e idosos são mais vulneráveis), uso abusivo de

antibióticos, imunossupressão, procedimentos médicos (em particular os invasivos como o ato

cirúrgico) e as falhas nos procedimentos de controle de infecção.

Nesse ponto se torna clara a importância das técnicas de assepsia e antissepsia nos

procedimentos e ambientes hospitalares, nos profissionais, como também nos pacientes.

4.2.8) Contaminação, aderência, colonização e infecção

São conceitos muitas vezes considerados sinônimos ou muito semelhantes, porém sua

distinção é de suma importância na compreensão dos fenômenos infecciosos e para a tomada

de medidas adequadas de controle e prevenção das IH.

Segundo Lacerda (2003) a contaminação é a presença transitória de microrganismos

em superfícies, sem ocorrer invasão tecidual ou relação de parasitismo, e pode estar presente

em objetos animados ou inanimados. Exemplos disso são a flora das mãos ou os

microrganismos de matéria orgânica presentes em instrumentais usados em cirurgias.

A aderência dos microrganismos às células eucarióticas se dá por meio de uma ligação

entre as Adesinas do agente (mucopolissacarídeo complexo ou glicoproteína superficial que

se fixa em receptores específicos) e os Receptores dessas células. Os receptores podem ser

resíduos de polissacarídeos conjugados a moléculas complexas ou Fibronectina (glicoproteína

de líquidos orgânicos, principalmente plasma, ou de revestimento da superfície de células

epiteliais). A fibronectina é receptora de cocos Gram positivos, mas não de bastonetes Gram

negativos, sendo assim um exemplo de agente seletivo, no caso, da microbiota oral

(LACERDA,2003).

De acordo com Lacerda (2003), a célula hospedeira pode, em contato com um

microrganismo, não fixá-lo por falta de receptores e este ser facilmente removido (flora

transitória), fixá-lo e ser colonizada sem que haja infecção, ou fixá-lo, ser colonizada e

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26

destruída iniciando a infecção. Cada célula epitelial tem uma quantidade restrita de receptores

para uma mesma espécie de agentes, assim, tendo sido ocupados todos esses receptores, a

colonização só será possível com a liberação devido ao uso de antimicrobianos, com a

alteração desses receptores em condições clínicas, ou com a união de adesinas dos glicocálix

de microrganismos formando colônias mistas.

A colonização trata do crescimento e multiplicação de microrganismos em superfícies

epiteliais, sem expressão clínica ou imunológica. Pode ser considerada também a presença

permanente ou transitória de qualquer microrganismo aderido à pele, dissociado sempre de

sinais e sintomas infecciosos. É normal para a microbiota humana e impede a colonização de

outros microrganismos mais virulentos. No entanto a colonização da pele e mucosas dos

tratos respiratório superior, digestivo e geniturinário, constitui o principal reservatório de

agentes responsáveis pelas infecções hospitalares em pacientes debilitados, desnutridos,

imunodeprimidos, ou quando os agentes são veiculados diretamente ao tecido subepitelial por

procedimentos invasivos (LACERDA, 2003).

Por fim a infecção é a consequência de danos decorrentes da invasão, multiplicação ou

ação de toxinas dos agentes no hospedeiro, que desencadeia uma reação imunológica, sinais e

sintomas que vão caracterizar a doença infecciosa ou a síndrome infecciosa (LACERDA,

2003).

Conclui-se por todo o exposto que nos procedimentos médicos, e principalmente nas

intervenções cirúrgicas, além da consciência da possibilidade de contaminação (de que existe

um risco de transmissão de infecções), além do conhecimento a respeito do processo

infeccioso e de seus altos custos sociais e econômicos, é extremamente necessário adotar

medidas de assepsia e antissepsia e, ainda, conhecer as limitações técnicas dessas medidas

(MONTEIRO, 2009).

Tendo em vista o exposto anteriormente, abordaremos alguns dados epidemiológicos

de Infecções Hospitalares.

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5. DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DE INFECÇÕES

HOSPITALARES

Como já foi conceituada, infecção hospitalar (IH) é toda infecção adquirida durante a

internação hospitalar sendo, geralmente, provocada pela própria flora bacteriana humana, que

se desequilibra com os mecanismos de defesa anti-infecciosa em decorrência da doença, dos

procedimentos invasivos (soros, cateteres e cirurgias) e do contato com a flora hospitalar.

(OPAS, 2000)

Segundo Wenzel, as infecções hospitalares mais frequentes são as urinárias,

aproximadamente 40%, as sepses 10%, as cirúrgicas 25% e as pneumonias 10%. Apesar desse

estudo, em diversas instituições a infecção do sítio cirúrgico (ISC) é a mais frequente. A

incidência de IH afeta não só a sobrevida dos pacientes, mas também os custos hospitalares.

Segundo estudo realizado nos EUA pelo Centro de Controle de Doenças de Atlanta (CDC), a

existência de IH prolonga a permanência do paciente no hospital por no mínimo mais quatro

dias, gerando um custo adicional de U$ 1.800,00. (WENZEL, 1995; OLIVEIRA, 2004;

OPAS, 2000)

Diante da relevância das ISC é muito importante a execução de medidas de prevenção

dessas infecções. Dentre as medidas estabelecidas pelo CDC, vale ressaltar as pré-operatórias

que incluem assepsia de mãos e antebraços da equipe cirúrgica e adequada paramentação dos

mesmos. Já foi comprovado historicamente e citado neste trabalho, que essas medidas

exercem grande influência sobre a sobrevida dos pacientes submetidos a cirurgias e, por isso,

devem ser seguidas criteriosamente pela classe médica. Segundo estudo, a segunda maior

causa de transmissão da ISC é a equipe cirúrgica que veiculam a infecção principalmente

pelas mãos e pelas vias aéreas. (MACHADO, 2001; CATANEO, 2004)

Os estudos mundiais sobre prevalência de IH começaram a surgir a partir da década de

70, quando o tema começou a receber destaque pela comunidade científica e pela

Organização Mundial da Saúde. Dentre esses estudos podemos citar alguns no território

europeu: estudo realizado na Espanha em 1990 cuja prevalência de IH foi de 9,9%, na França

em 1986 cuja prevalência foi de 6,3% e na Suécia em 1975 cuja prevalência foi 15,5%. Na

América, as pesquisas revelaram, por exemplo, no Chile prevalência de 4,5% em 1988 e no

México taxa média de IH de 15%. (OPAS, 2000)

Page 28: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

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No Brasil, as pesquisas relacionadas com IH começaram a surgir após a promulgação

da portaria 196/83. Mesmo com esse incentivo, existe até hoje, somente um estudo de

relevância nacional sobre o assunto. O "Estudo Brasileiro da Magnitude das Infecções

Hospitalares e Avaliação da Qualidade das Ações de Controle de Infecção Hospitalar" foi

realizado entre maio e agosto de 1994 e avaliou 8624 pacientes em 99 hospitais nacionais. O

número de pacientes com infecção hospitalar encontrado foi 1.129, com taxa de pacientes

com infecção hospitalar de 13,0% e a taxa de infecção hospitalar de 15,5%. Por região do

país, os índices de pacientes com infecção mostraram a região sudeste com 16,4%, seguida do

nordeste com 13,1%, norte 11,5%, sul 9,0% e centro oeste 7,2%. Neste estudo, as infecções

respiratórias inferiores correspondiam a 28,9%, as cirúrgicas 15,6%, de pele 15,5%, as

urinárias 11% e sepses 10%. Outras infecções apareceram em 18% das ocorrências. (OPAS,

2000)

Nos últimos anos, têm sido realizadas no país pesquisas mais localizadas que apesar de

não revelarem um perfil nacional, contribuem compondo dados epidemiológicos. Dentre elas,

convém citar os estudos relacionados à ISC que são de interesse para esse trabalho. Em 2000,

foi realizado um estudo em um hospital universitário de Belo Horizonte com 504 pacientes

operados de cirurgias do aparelho digestivo cuja incidência de ISC foi de 27.7%. Entre

setembro de 1999 e fevereiro de 2000, foi realizada uma pesquisa em um hospital

universitário de Botucatu com 332 idosos que revelou taxa de infecção hospitalar nos

pacientes de 18,6% e prevalência de ISC igual a 23,6%. No Hospital Universitário da UFRN,

entre janeiro de 1999 e outubro de 2002, um estudo com 3120 pacientes operados revelou

taxa de infecção cirúrgica de 5,99%. Já no Hospital das Clínicas da UFPE, foi realizada uma

pesquisa no intervalo de 23 anos (1977- 1999) com total de 42.274 cirurgias que revelou uma

taxa de infecção de ferida que passou de índices em torno de 15-20% para 7,7%. Em 1999,

em um hospital público de Ribeirão Preto, foi realizado um estudo de 134 gastrocirurgias que

revelou a incidência de 13,4% de ISC. (OLIVEIRA, 2002; VILLAS BOAS, 2004;

MEDEIROS, 2003; FERRAZ, 2000; POVEDA, 2003).

Tendo em vista esses dados e crescente número de IH, os hospitais foram obrigados a

criarem os Centros de Controle de Infecção Hospitalar que será melhor explicado no próximo

tópico.

Page 29: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

29

6. CENTRO DE CONTROLE DE INFECÇÕES HOSPITALARES

Historicamente, as infecções hospitalares representam um risco de grande magnitude

aos usuários dos hospitais. Assim sendo, nos últimos tempos, as grandes instituições

responsáveis pela gestão da saúde em nosso país têm tomado algumas medidas que visam o

controle das infecções hospitalares.

O marco referencial destas ações se deu no dia 24 de junho de 1993, com a Portaria

MS nº 196, que instituiu a implantação de Comissões de Controle de Infecções Hospitalares

(CCIH) em todos os hospitais do país. Aqui, o Ministério da Saúde começou a realizar

treinamentos de profissionais de saúde, que foram credenciados para ministrar o Curso de

Introdução ao Controle de Infecção Hospitalar.

Compete à CCIH:

1) Participar da elaboração, implementação, manutenção e avaliação do Programa de

Controle de Infecção Hospitalar, baseado em metas de melhorias e suas

estratégias, definidas anualmente buscando a qualidade com atuação de Educação

Permanente;

2) Cooperar com a ação do órgão de gestão do SUS, bem como fornecer,

prontamente, as informações epidemiológicas solicitadas pelas autoridades

competentes;

3) Avaliar, periódica e sistematicamente, as informações providas pelo sistema de

Vigilância Epidemiológica de infecções Hospitalares e analisar criticamente as

medidas de controle propostas pelos membros executores da CCIH;

Em 1998, o Ministério da Saúde divulgou uma portaria que diz respeito ao Programa

de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH). Basicamente é o estabelecimento de um pacto

informal ou formal (por meio da designação de uma comissão) entre as chefias e as lideranças

técnicas das unidades e dos Núcleos de controle de infecções hospitalares (NCIH),

constituindo uma equipe operativa de gestores e desenvolvendo um modelo de controle de IH

centrado na gestão participativa, na educação permanente e no planejamento ascendente.

Page 30: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

30

Figura 12: CCIH 12

O programa definiu como infecções comunitárias aquelas adquiridas fora do ambiente

do hospital e infecções hospitalares aquelas adquiridas dentro do hospital. É de fundamental

importância o conhecimento da origem das infecções por parte dos profissionais de saúde,

uma vez que, desta forma, se torna viável a elaboração de medidas que visam o controle delas.

Atualmente, o Serviço de Controle de Infecções Hospitalares (SCIH) são as entidades

responsáveis pela execução das ações definidas pelo PCIH. Além disso, aquele órgão tem

como competência a implantação de normas e rotinas técnico-operacionais, o uso racional de

antimicrobianos, a capacitação dos demais profissionais de saúde, bem como a avaliação

sistemática dos indicadores. O mapa conceitual abaixo, encontrado no site da secretaria de

saúde do Distrito Federal, explicita bem o que foi definido.

Figura 13: Mapa conceitual da PCIH13

12

Disponível em: http://www.ccih.med.br/portaria2616.html acessado em 22 de setembro de 2010. 13

Disponível em: www.saude.df.gov.br acessado em 22 de setembro de 2010.

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31

A Vigilância de Infecção Hospitalar é a observação sistemática e ativa da ocorrência e

distribuição da infecção na população de pacientes internados e dos eventos ou condições que

aumentam ou diminuem o risco de sua ocorrência.

Cabe ainda ao SCIH, algumas questões relativas aos indicadores epidemiológicos, que

serão abordados com mais profundidade na próxima seção. Dentre elas, incluem a taxa de IH

e de paciente com IH no hospital, a distribuição de percentual de IH no hospital, a frequência

dos agentes etiológicos das IH, alem das taxas de mortalidade das IHs.

Segundo o PCIH, o SCIH deve ser composto por membros consultores e executores

com formação universitária. Dentre os consultores, devem estar presentes membros de

serviços médicos, de enfermagem, de farmácia, de microbiologia e de administração. Os

membros executores devem ser no mínimo dois técnicos da área da saúde para cada 200

leitos, sendo de preferência um médico infectologista e um enfermeiro com dedicação

exclusiva ao SCIH.

Em meio a tudo isso, existe ainda perspectivas de novos desenvolvimentos. As

políticas de humanização e de educação permanente na forma como estão sendo propostas e

inseridas na realidade do SUS estão constituindo um forte estímulo para o desenvolvimento

de uma nova cultura institucional que coloca as pessoas (profissionais de saúde e usuários)

como protagonistas dos processos de planejamento estratégico, da educação permanente e da

gestão participativa. Nesse contexto, a própria informação gerada pelos sistemas de vigilância

ou pelos indicadores de processos pode ser direcionada para incentivar a co-resposabilização

e a participação de todos em função da qualificação da assistência e do ensino.

Feito esse estudo anterior, passaremos agora para as técnicas de lavagem de mãos e

paramentação cirúrgica.

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7. TÉCNICAS DE ASSEPSIA – PARAMENTAÇÃO LIMPA, LAVAGEM DE

MÃOS E PARAMENTAÇÃO ESTÉRIL

Visto os conceitos de assepsia e antissepsia, fica mais simples entender a importância

de lavar e escovar as mãos, vestir avental e calçar as luvas, ou seja, colocar um vestuário

cirúrgico para proteger o paciente.

Antes de ser iniciada a discussão sobre a paramentação, é necessário definir quem faz

parte da Equipe Cirúrgica, já que todos os profissionais envolvidos devem estar hígidos e

livres de infecções localizadas ou sistêmicas. Ela é composta por cirurgião, anestesiologista,

enfermeiras, instrumentador, auxiliares e circulante de sala. Alem disso, pode também haver a

presença de acadêmicos na sala de cirurgia.

O vestuário cirúrgico é constituído por paramentos simplesmente limpos e paramentos

rigorosamente assépticos. Estes são de uso restrito do cirurgião, seus auxiliares diretos e pelo

instrumentador. Os paramentos limpos, usados por toda a equipe de cirurgia, são aqueles

submetidos apenas a processos de lavagem e desinfecção, não sendo obrigatória a sua

esterilização. Já os paramentos assépticos são aqueles que necessitam passar por um processo

prévio de esterilização para o seu uso, pois estarão em contato direto com a ferida cirúrgica do

paciente.

Antes de adentrar o centro cirúrgico todos os profissionais retiram seus paramentos

limpos área onde se encontram. Eles são constituídos por roupas do centro cirúrgico (calça e

jaleco), gorros, máscaras, óculos protetores e botas. Feito isso os profissionais trocam suas

roupas de uso diário pelos paramentos limpos no vestiário que liga a ala externa ao centro

cirúrgico. É importante que esses paramentos jamais saiam do seu local proposto, já que

podem ser contaminadas por diversas formas de germes. A calça e o jaleco são importantes

para evitar a disseminação de infecções e é importante que não possuam aberturas (buracos).

O gorro deve cobrir todo o cabelo para evitar que os microrganismos aderidos ao couro

cabeludo e cabelo caiam sobre os aventais (que são estéreis). As máscaras funcionam como

um filtro, permitindo a passagem do ar inspirado e impedindo a disseminação de bactérias

nasobucofaríngeas contidas nos perdigotos e no ar expirado. É importante manter a máscara

cirúrgica sempre seca, pois o acumulo de umidade pode prejudicar sua função de filtração. Os

Page 33: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

33

óculos começaram a ser utilizados nos centro cirúrgicos depois do advento da

imunodeficiência adquirida (AIDS). Ele impede a contaminação da conjuntiva por

microrganismos em aspersão e por aqueles veiculados pelo sangue e por secreções do corpo,

principalmente quando espirrados depois do corte de uma arteríola. As botas têm como

objetivo impedir que microrganismos aderidos aos calçados da equipe cirúrgica entrem no

centro cirúrgico. Podem ser dispensadas sempre que os profissionais possuírem sapatos ou

tamancos de uso exclusivo no centro cirúrgico.

Realizada essa etapa deve-se passar aos cuidados com as mãos e antebraços. Elas são

consideradas um dos maiores veiculadores de infecções nosocomiais. Por isso a redução da

sua flora bacteriana, tanto a residente como a transitória, é de vital importância para evitar

infecções pós-operatórias. As antissepsias das mãos e dos antebraços são feitas através da

escovação, usando-se escova ou esponja, preferencialmente descartáveis. As substâncias mais

utilizadas na antissepsia são a solução de polivinil-pirrolidona-iodo a 10%, a solução de

clorexedina a 4%, a solução de triclosana a 2% e o hexaclorofeno. Feitas essas considerações,

inicia-se a técnica de lavagem das mãos e dos antebraços. Deve-se lembrar sempre que as

unhas dos membros da equipe devem estar limpas, bem cortadas e, principalmente, sem

esmalte (evitar a adesão bacteriana). A técnica deve ser metódica e padronizada, quer seja

pelo número de movimentos ou pelo tempo de duração. Este deve ser de ser no mínimo de

cinco minutos e aquele deve ser de no mínimo vinte e cinco movimentos em cada uma das

faces escovadas. Pode-se seguir os 16 passos seguintes para a boa escovação das mãos e

antebraços: (1) unhas e polpas digitais da mão esquerda; (2) unhas e polpas digitais da mão

direita; (3) dedos da mão direita, inclusive os espaços interdigitais; (4) dedos e espaços

interdigitais da mão esquerda; (5) região palmar esquerda; (6) região palmar direita; (7) região

dorsal da mão direita; (8) região dorsal da mão esquerda; (9) terço distal do antebraço

esquerdo; (10) terço distal do antebraço direito; (11) terço médio do antebraço direito; (12)

terço médio do antebraço esquerdo; (13) terço proximal do antebraço esquerdo; (14) terço

proximal do antebraço direito; (15) cotovelo direito e (16) cotovelo esquerdo. Esses passos

devem ser feitos através de uma escovação simétrica, centrípeta e com movimentos vigorosos.

Feito isso, passa-se para o enxugamento das mãos e antebraços. Ele é feito com compressa

estéril, acondicionada em pacote individual ou juntamente com o capote cirúrgico.

Recomenda-se seguir os sete passos da seguinte técnica: (1) manter as mãos, após escovação,

em um plano superior ao do cotovelo; (2) Abertura do pacote, por algum membro da equipe,

Page 34: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

34

do pacote contendo a compressa; (3) realizar os movimentos compressivos, sem fricção, entre

as palmas e regiões dorsais de ambas as mãos e dedos; (4) enxugamento dos punhos e do

cotovelo; (5) desdobramento da compressa ao meio e de dobragem ao contrário, expondo as

outras duas faces estéreis; (6) enxugamento do outro punho e antebraço e (7) desprezo da

compressa em recipiente próprio.

Acabado o cuidado com as mãos e com os antebraços, inicia-se a paramentação

cirúrgica estéril, sempre realiza pelos profissionais que irão ter contato com a ferida

operatória do paciente. Deve-se vestir o avental cirúrgico (ou capote), calçar as luvas e em

seguida a opa. Para vestir o avental é necessário a ajuda de pessoal treinado, já que os

princípios de assepsia devem, necessariamente, serem respeitados. A técnica para vesti-lo

segue os seguintes sete passos: (1) Abertura do pacote contendo o avental sobre uma mesa de

tamanho ideal; (2) apanhar o avental, de preferência com as pontas dos dedos, à altura de sua

gola e retirada para fora da mesa; (3) pegar o avental pela parte interna dos ombros seguido da

colocação dos membros superiores das mangas do avental; (4) tração do avental pelo

ajudante, para que ocorra seu perfeito ajuste no corpo do cirurgião; (5) localizar e segurar o

cordão para amarração do avental; (6) fechamento do avental, feitos com dois nós e (7)

Soltura da aba posterior para a proteção do dorso, caso exista no avental.

Em seguida a equipe de cirurgia deve calçar as luvas. Pode ser realizada com o auxilio

de um dos integrantes da equipe, que fornecerá a luva aberta e bem disposta para que o

cirurgião apenas encaixe sua mão dentro da luva, que depois ajustará ela conforme sua

necessidade, ou pode ser realizada conforme a seguinte técnica: (1) pegar as luvas pelo punho

que está evertido; (2) introdução da mão direita na luva direita; (3) introdução dos dedos da

mão direita por dentro do punho evertido da luva esquerda; (4) introdução da mão esquerda na

luva esquerda; (5) desdobramento da parte evertida da luva esquerda; (6) Ajuste da luva

direita e desdobramento da parte evertida da luva direita e (7) ajustamento da luva esquerda.

Feito todos esses procedimentos pela equipe cirúrgica, as possibilidades de infecções

pós-operatórias caem drasticamente. Além disso, toda a equipe estará devidamente

paramentada e protegida contra eventuais acidentes na sala de cirurgia.

Quando o procedimento cirúrgico terminar, deve-se também ser seguida uma técnica

para a retirada de toda a paramentação cirúrgica. Isso deve ser feito para que as superfícies

expostas do cirurgião não entrem em contato com superfícies externas contaminadas. A

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técnica consiste em: (1) Soltar os nós que prendem o avental ao corpo do cirurgião; (2) pegar

o avental na altura do ombro, uma por vez, puxando-o para fora do corpo; (3) pegar com uma

das mãos a luva oposta, retirando-a completamente e segurando-a no final do procedimento;

(4) colocar o polegar da mão sem luva entre a pele do punho e a face interna da luva,

retirando-a; (5) desprezar todo esse conjunto em recipiente próprio. Em seguida o cirurgião

trocará seu paramento limpo no vestiário onde deixou suas roupas do dia-a-dia, desprezando-

as em um recipiente próprio.

Page 36: SEMINÁRIO TÉCNICAS DE ASSEPSIA NA EQUIPE CIRÚRGICA

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8. CONCLUSÃO

De modo geral, pode-se afirmar que desde a época de Robert Koch e Joseph Lister até

a atualidade, sempre existiu uma preocupação com as complicações pós- cirúrgicas,

principalmente com o risco de infecção. Como foi exposto anteriormente, a comunidade

científica sempre concentrou esforços para descobrir o que estava por trás de tantas mortes

após o ato cirúrgico, e demonstrou sua inquietação desenvolvendo várias técnicas de assepsia.

Nos tempos atuais, percebe-se que a questão das infecções hospitalares decorrentes de

uma assepsia deficiente também tem sido preocupação dos gestores da saúde em nosso país.

Nesse sentido, a implantação das Comissões de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH) é

um marco importante no controle das infecções hospitalares que se disseminam, em primeiro

lugar através do contato da equipe com o paciente, e depois da interação entre os pacientes.

O que realmente se pode reter, após desenvolver o presente estudo, é que conhecer e

obedecer rigorosamente os ditames assépticos de um sítio cirúrgico é fundamental para evitar

infecções, mortes e diminuir custos. Nesse sentido, além de ter o conhecimento teórico dessas

técnicas, cabe ao acadêmico o interesse de praticá-las sempre que poder. Além disso, dedicar

tempo ao estudo de tópicos em microbiologia relacionados com infecções hospitalares deve

ser um objetivo fixo do aluno que entende a importância das técnicas de assepsia e

antissepsia.

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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. CATANEO, Caroline. et al. O preparo da equipe cirúrgica: aspecto relevante no

controle da contaminação ambiental. Revista Latino-Americana de Enfermagem.

v.12, n.2, mar/abr. 2004. Disponível em: <

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0104-11692004000200021&script=sci_arttext>.

Acesso em: 24 de setembro 2010.

2. Epidemiologia das Infecções Hospitalares. Disponível em:<

http://www.cih.com.br/epidemiologia.htm#l4> Acesso em: 24 de setembro 2010.

3. FERRAZ, Edmundo Machado et al. Controle de infecção em cirurgia geral - resultado

de um estudo prospectivo de 23 anos e 42.274 cirurgias. Revista do Colégio

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