seminário de segurança da amazônia

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Esta publicação é um compilado de artigos que resultaram de uma série de apresentações realizadas durante o Seminário de Segurança da Amazônia, organizado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos em parceria com o Comando do Exército, por meio do Estado-Maior do Exército e do Comando Militar da Amazônia, no período de 11 a 15 de agosto de 2010, na cidade de Manaus (AM).

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Page 4: Seminário de Segurança da Amazônia

Secretaria de Assuntos Estratégicos

Bloco O – 7º, 8º e 9º andares

CEP: 70052-900 Brasília, DF

http://www.sae.gov.br

Presidência da República

Presidenta Dilma Rousseff

Secretaria de Assuntos Estratégicos

Ministro Wellington Moreira Franco

Page 5: Seminário de Segurança da Amazônia

Brasília, 2012

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICASECRETARIA DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS

Page 6: Seminário de Segurança da Amazônia

CoordenaçãoMaj Brig R1 Whitney Lacerda de Freitas

OrganizadoresCel Cav Otávio Santana do Rêgo BarrosTC Inf Ulisses de Mesquita Gomes

Projeto gráfico e diagramaçãoRafael W. Braga

RevisãoSarah Pontes

Imagem de Capa© Centro de Comunicação Social do Exército

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S471 Seminário de Segurança da Amazônia (2011 : Manaus) Seminário de Segurança da Amazônia - Brasília: Presidência da República, Secretaria de Assuntos Estratégicos, 2012.

372p.

1. Política de Defesa Nacional - Brasil. 2. Defesa Nacional - Seminário. 3. Forças Armadas - Brasil 4. Integridade territorial – Brasil 5. Amazônia I.Título.

CDU 502.31 (811) CDD 355.081811

As opiniões, os argumentos e as conclusões apresentados nos documentos que compõem esta publicação são de inteira respon-sabilidade dos autores e não expressam a opinião da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Page 7: Seminário de Segurança da Amazônia

Agradecimentos

Os organizadores desta publicação gostariam de agradecer a fundamental colaboração das seguintes

pessoas no processo que deu origem a este livro.

José Elito Carvalho Siqueira, Luis Carlos Gomes Mattos, José Geraldo Fernandes Nunes, Rodrigo Otávio

Fernandes de Hônkis, Nilson Soilet Carminati, Odil Martuchelli Ferreira, Luiz Alberto Martins Bringel,

Carlos Roberto de Souza Peixoto, Luiz Eduardo Rocha Paiva, Sérgio Lúcio Mar dos Santos Fontes, Carlos

Mário Guedes de Guedes, Derli Dossa, Elane Conceição de Oliveira, Jacques Salomon Crispim. Soares

Pinto, Otaliba Libânio de Morais Neto, Getúlio Marques Ferreira, Clemente de Lima Baena Soares.

Page 8: Seminário de Segurança da Amazônia
Page 9: Seminário de Segurança da Amazônia

7

sumário

Palavra inicial 11

introdução 13

conferência de abertura 17O Exército Brasileiro na defesa da soberania na Amazônia 19Luis Carlos Gomes Mattos

PaleStra 29Perspectivas de conflitos na Amazônia e reflexos para a Defesa Nacional 31Luiz Eduardo Rocha Paiva

Painel 1defeSa e PreSença militar na amazônia: articulação daS forçaS e eStratégiaS de Segurança 53O Ministério da Defesa e a Segurança da Amazônia 55José Elito Carvalho Siqueira

Logística na Amazônia Ocidental: o suprimento e o transporte 71 Luiz Alberto Martins Bringel

O poder naval na Amazônia ocidental: situação atual, perspectivas e reflexos para a defesa nacional 95José Geraldo Fernandes Nunes

O poder aeroespacial na Amazônia ocidental: situação atual e perspectivas futuras para a defesa nacional 127Nilson Soilet Carminati

Page 10: Seminário de Segurança da Amazônia

8

Logística na Amazônia oriental: situação atual e perspectivas futuras para a defesa nacional 143Carlos Roberto de Souza Peixoto

Poder naval na Amazônia oriental: situação atual, perspectivas e consequências para a defesa nacional 159Rodrigo Otávio Fernandes de Hônkis

O poder aeroespacial na Amazônia: enfoque na COMARA 181Odil Martuchelli Ferreira

A segurança pública na Amazônia: situação atual e reflexo para defesa nacional 201Sérgio Lúcio Mar

Painel 2o deSenvolvimento da amazônia:ProjetoS eStratégicoS de integração e de deSenvolvimento SuStentável na amazônia 213Terra legal amazônia – terra para viver, produzir e preservar 215Carlos Mário Guedes de Guedes

Desafios da agricultura brasileira na região Norte 219Derli Dossa

Projetos de Desenvolvimento Sustentável na Amazônia, com foco nos campos Econômico e Social 237Adagenor Lobato Ribeiro

A integração da amazônia por meio de incentivos fiscais administrados pela suframa: reflexos para o desenvolvimento nacional 253Elane Conceição de Oliveira

Page 11: Seminário de Segurança da Amazônia

99

Painel 2o deSenvolvimento da amazônia:fortalecimento da PreSença do eStado braSileiro na amazônia 277Desafios e perspectivas para a saúde na Amazônia 279Otaliba Libânio de Morais Neto

Programas e projetos de educação profis sionalizante e erradicação do analfabetismo: situação atual, perspectivas futuras e reflexos para o desenvolvimento nacional 309Getúlio Marques Ferreira

Programas e projetos do ministério das relações exteriores para a amazônia: possibilidades, limitações e perspectivas. Reflexos para o desenvolvimento nacional 335Clemente de Lima Baena Soares

Planejamento público, desenvolvimento regional e integração da amazônia brasileira: impactos no desenvolvimento nacional 347Jacques Salomon Crispim. Soares Pinto

Page 12: Seminário de Segurança da Amazônia
Page 13: Seminário de Segurança da Amazônia

11

Palavra inicial

Este livro recolhe os artigos emanados das apresentações realizadas durante o Seminário de Segurança

da Amazônia, realizado no período de 11 a 15 de agosto de 2010 na cidade de Manaus (AM), organi-

zado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos em parceria com o Comando do Exército, por meio do

Estado-Maior do Exército e do Comando Militar da Amazônia.

O objetivo do seminário foi o de proporcionar aos servidores do governo federal conhecimentos sobre

as atividades de defesa na Amazônia, identificando o papel desenvolvido pelas Forças Armadas, como

instituições do Estado brasileiro na área, bem como outros órgãos públicos e privados relacionados com

o tema, a fim de capacitá-los a propor políticas públicas que considerem a indissolubilidade do binômio

desenvolvimento–defesa em qualquer ação estruturante levada a efeito naquela região.

O evento contou com convidados oriundos de ministérios, autarquias, Forças Armadas e órgãos com

interesse no tema e competência na formulação de políticas públicas para a região amazônica.

Page 14: Seminário de Segurança da Amazônia
Page 15: Seminário de Segurança da Amazônia

13

inTroDuÇÃo

Introdução

A Política de Defesa Nacional (PDN) define segurança como a condição que permite ao País a pre-

servação da soberania e da integridade territorial, a realização dos seus interesses nacionais, livre de

pressões e ameaças de qualquer natureza, e a garantia aos cidadãos do exercício dos direitos e deveres

constitucionais. Destaca que a segurança de um país é afetada pelo grau de estabilidade da região

onde ele está inserido e que é desejável que ocorram: o consenso; a harmonia política; e a conver-

gência de ações entre os países vizinhos, visando lograr a redução da criminalidade transnacional, na

busca de melhores condições para o desenvolvimento econômico e social que tornarão a região mais

coesa e mais forte. Como uconsequência de sua situação geopolítica, é importante para o Brasil que

se aprofunde o processo de desenvolvimento integrado e harmônico da América do Sul, o que se es-

tende, naturalmente, à área de defesa e segurança regionais. Defesa e Desenvolvimento são aspectos

indissociáveis do Planejamento e da Ação Estratégicos.

A questão ambiental, segundo ainda a Política de Defesa Nacional, é o tema que permanece como

uma das principais preocupações da humanidade e que países detentores de grande biodiversidade,

enormes reservas de recursos naturais e imensas áreas para serem incorporadas ao sistema produtivo,

categoria em que o Brasil se enquadra, podem tornar-se objeto de interesse internacional.

A Amazônia brasileira é, atualmente, prioridade nacional, de acordo com a Estratégia Nacional de

Defesa. Abrange uma área de 5,2 milhões de Km2, com densidade populacional de 3,2 hab/km2, 1/3

das florestas tropicais da Terra, maior diversidade biológica do planeta e maior bacia de água doce do

mundo. Essa região é detentora de exuberante fauna e flora. Suas riquezas estão praticamente intoca-

das e minuciosos levantamentos indicam que abriga uma das mais extraordinárias províncias minerais

Page 16: Seminário de Segurança da Amazônia

14

do planeta. Tudo isso deixa evidenciado que a Amazônia é já há muito tempo, área estratégica de

alto interesse para os brasileiros. Impõe-se a urgente necessidade de integrá-la ao ambiente nacional

e articulá-la com os nossos vizinhos, também depositários desse patrimônio. Este é o motivo principal

da prioridade nacional hoje emprestada à nossa Amazônia. Para ela orienta-se o destino manifesto do

Brasil.

No Painel 1 – “A Defesa da Amazônia” foi abordado o tema: “Presença militar na Amazônia: articulação

das Forças e estratégias de segurança“.

As Forças Armadas vêm ampliando seu dispositivo pela instalação de diversas unidades na região ama-

zônica, que representam polopolos de desenvolvimento. Essa ação pioneira e desbravadora é parte

intrínseca de suas missões constitucionais. Colaborando com o povoamento em áreas longínquas,

proporcionando um mínimo de infraestrutura até que chegue o desenvolvimento, fornecendo serviços

básicos, este trabalho silencioso é a parcela concreta de colaboração ao desenvolvimento da Nação.

As questões sobre a Amazônia exigem urgência e prioridade na solução, visto que sobre esse tema

recaem pressões de toda ordem, algumas até questionando a soberania do País sobre a região.

A Estratégia Nacional de Defesa (END) prevê o reposicionamento dos efetivos das três Forças. As princi-

pais unidades do Exército estacionam no Sudeste e no Sul do Brasil. A esquadra da Marinha concentra-

-se na cidade do Rio de Janeiro. As instalações tecnológicas da Força Aérea estão quase todas localiza-

das em São José dos Campos, em São Paulo. As preocupações mais agudas de defesa estão, porém, no

Norte, no Oeste e no Atlântico Sul. Deve-se ter claro que, dadas as dimensões continentais do território

nacional, presença não pode significar onipresença e sim presença seletiva. A presença ganha efetivi-

dade graças à sua relação com monitoramento/controle e com mobilidade.

A END enfatiza que o Brasil será vigilante na reafirmação incondicional de sua soberania sobre a Ama-

zônia brasileira. Repudiará, pela prática de atos de desenvolvimento e de defesa, qualquer tentativa de

tutela sobre as suas decisões a respeito de preservação, de desenvolvimento e de defesa da Amazônia.

Não permitirá que organizações ou indivíduos sirvam de instrumentos para interesses estrangeiros –

políticos ou econômicos – que queiram enfraquecer a soberania brasileira. “Quem cuida da Amazônia

brasileira, a serviço da humanidade e de si mesmo, é o Brasil” (END).

Page 17: Seminário de Segurança da Amazônia

1515

O painel indicou, em linhas gerais, os principais programas e ações para a Defesa da Amazônia. Pelo

Ministério da Defesa foram apresentadas as principais ações estratégicas para a segurança na região.

A Marinha apresentou detalhes da criação da 2ª Esquadra, incluindo todas as suas organizações mi-

litares, e do incremento de suas organizações na Amazônia. Por parte do Exército, foram discutidos

temas importantes, tais como: criação, transferência e transformação de Brigadas (estrutura básica de

emprego da Força Terrestre); a instalação de um sistema integrado de monitoramento da fronteira; o

posicionamento de novos pelotões de fronteira na Amazônia.

Da mesma forma, foi apresentado o planejamento da Aeronáutica, no que tange as medidas que pos-

sam redundar em ações que reforcem a capacidade de pronta resposta do poder aéreo brasileiro, na

região amazônica, seja como força principal na execução da própria ação, como no caso da aviação de

interceptação, seja como força de apoio ao combate utilizada no desdobramento imediato das unida-

des de emprego estratégico da Marinha ou do Exército.

A Superintendência da Polícia Federal do Amazonas mostrou detalhes das áreas de segurança pública,

especialmente no que diz respeito aos recursos existentes e previstos para o monitoramento de frontei-

ras, à situação dos estrangeiros existentes, à atuação de ONGs e do crime organizado na área.

O Painel 2: “O Desenvolvimento da Amazônia”, foi dividido em dois temas e foram apresentados no

Tema 1: “Projetos estratégicos de integração e de desenvolvimento sustentável na Amazônia”. O painel

indicou, em linhas gerais, os principais programas e ações voltados para o desenvolvimento sustentável

da Amazônia.

É importante definir ações no campo político-econômico, a fim de que as riquezas da região Amazônica

possam ser exploradas de forma sustentável e que os ecossistemas sejam preservados.

Destaca-se a importância de considerar uma visão ambiental para a Amazônia diferenciada e funda-

mentada em uma legislação rigorosa e com sanções adequadas à realidade da região. A degradação da

floresta deve ser evitada, tendo em vista o seu impacto na imagem do Brasil internacionalmente, além

dos danos causados à biosfera.

A Política Nacional de Defesa (PND) destaca que o desenvolvimento e a autonomia nacionais são al-

cançados pelo domínio de tecnologias sensíveis e pela capacitação tecnológica autônoma, e que os

Page 18: Seminário de Segurança da Amazônia

16

avanços da tecnologia da informação, a utilização de satélites, o sensoriamento eletrônico e outros

aperfeiçoamentos tecnológicos trouxeram maior eficiência aos sistemas administrativos e militares, so-

bretudo nos países que dedicam maiores recursos financeiros à Defesa. Em uconsequência, criaram-se

vulnerabilidades que poderão ser exploradas, com o objetivo de inviabilizar o uso dos nossos sistemas

ou facilitar a interferência a distância.

A Estratégia Nacional de Defesa (END) afirma que a Amazônia representa um dos focos de maior

interesse para a defesa e que a defesa da Amazônia exige avanço de projeto de desenvolvimento sus-

tentável. O desenvolvimento sustentável da região amazônica passará a ser visto, também, como ins-

trumento da defesa nacional: só ele pode consolidar as condições para assegurar a soberania nacional

sobre aquela região.

No Tema 2 “Fortalecimento da presença do Estado brasileiro na Amazônia” foram discutidos, em linhas

gerais, os principais programas e ações voltados para assegurar a presença do Estado na Amazônia

brasileira, contribuindo para o desenvolvimento sustentável daquela região.

A Amazônia representa um grande desafio para sucessivos governos, tendo em vista as dificuldades

para implementar programas naquela imensa área. A ausência do Estado, o isolamento de comunida-

des, a dificuldade para encontrar projetos econômicos que estimulem o progresso com a preservação

do meio ambiente, as questões indígenas, a presença de ONGs (nacionais e estrangeiras), garimpos

ilegais e doenças endêmicas são algumas questões que devem ser discutidas, a fim de evitar que pro-

blemas sejam potencializados pela vastidão do território.

Segundo a Política de Defesa Nacional (PDN), a Amazônia é foco da atenção internacional. A garantia

da presença do Estado e a vivificação da faixa de fronteira são dificultadas pela baixa densidade de-

mográfica e pelas longas distâncias, associadas à precariedade do sistema de transportes terrestre, o

que condiciona o uso das hidrovias e do transporte aéreo como principais alternativas de acesso. Essas

características facilitam a prática de ilícitos transnacionais e crimes conexos, além de possibilitar a pre-

sença de grupos com objetivos contrários aos interesses nacionais.

Page 19: Seminário de Segurança da Amazônia

1717

conferência de abertura

Page 20: Seminário de Segurança da Amazônia
Page 21: Seminário de Segurança da Amazônia

19

o ExérciTo brasilEiro na DEfEsa Da sobErania na amazônia

Luis Carlos Gomes Mattos

Introdução

A Amazônia é um dos poucos subsistemas mundiais

ainda quase inexplorado pelo homem e que, se bem

utilizado pelo Brasil, pode se transformar em indutor

do desenvolvimento sustentável do País, baseado no

aproveitamento das riquezas existentes na Região e

na preservação ambiental.

Alguns projetos já foram implantados com sucesso,

como a Zona Franca de Manaus, a hidrelétrica de Tu-

curuí, o projeto de extração mineral de Carajás e o

escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste,

pelos rios Madeira e Amazonas. Outros projetos es-

tão sendo implantados, como as hidrelétricas de Jirau

e Santo Antônio, no rio Madeira, e de Belo Monte no

rio Xingu. Todos ainda muito aquém do potencial da

Amazônia que possui 1/5 da água potável, 2/3 das

reservas de energia elétrica, a maior floresta tropical

e o maior banco genético e 30% de todas as espé-

cies vivas do mundo, além de ser a maior província

mineral do planeta.

BRASIL

OCEANO PACÍFICO

OCEANO ATLÂNTICO

AMAZÔNIABRASIL

SURINAME

CENTRO DA AMÉRICADO SUL

ARGENTINA

BOLÍVIA

PERU

COLÔMBIA

VENEZUELA

EQUADOR

GUIANA

GUIANAFRANCESA

PARAGUAI

CHILE

URUGUAI

BRASIL

OCEANO PACÍFICO

OCEANO ATLÂNTICO

AMAZÔNIABRASIL

SURINAME

CENTRO DA AMÉRICADO SUL

ARGENTINA

BOLÍVIA

PERU

COLÔMBIA

VENEZUELA

EQUADOR

GUIANA

GUIANAFRANCESA

PARAGUAI

CHILE

URUGUAI

Quadro Nr 1 – Posição Geopolítica

Page 22: Seminário de Segurança da Amazônia

20

Por essas características, pelo seu isolamento do centro de poder econômico e político do País e pela

presença insípida das instituições e órgãos do Estado brasileiro na região e principalmente na fronteira,

os problemas crescem de importância, como o tráfico de armas e drogas, a questão das reservas indí-

genas, a biopirataria e a manipulação de dados sobre a preservação da floresta, entre outros.

Sua posição (quadro Nr 1) geopolítica, no centro da América do Sul, lhe confere importância estratégi-

ca, mas também lhe traz a convivência com parte dos problemas dos países com os quais o Brasil tem

fronteira (Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia). Nessa situação, por

meio das fronteiras terrestres, sofre influência da conjuntura existente nesses países, caracterizada prin-

cipalmente pela narcoguerrilha, pelo neopopulismo, pelo aumento de poder militar e por movimentos

autonomistas.

Tais condicinantes, aliadas às dimensões amazônicas de 5.029.322 km² de área, às distâncias a percor-

rer (mais de 2.000 Km de norte a sul e de 3.000 Km de leste a oeste), à carência de infraestrutura de

transportes e à rarefeita população dos seis estados da Federação que conformam a região, demandam

uma grande preocupação com a defesa da Amazônia brasileira.

As “preocupações” existentes por parte Exército na Amazônia, segundo sua missão constitucional,

podem ser traduzidas em quatro grandes questões: assegurar a soberania nas fronteiras terrestres,

dissuadir e combater atividades ilícitas, proteger as riquezas do subsolo e dar credibilidade às ações de

defesa da área.

Há que se destacar que na Amazônia nada se faz sozinho. A atuação conjunta e o entendimento da

perfeita necessidade de integração do Exército com as demais Forças (Marinha e Aeronáutica), com as

Instituições e Órgãos do Poder Público (Polícia Federal, Receita Federal, Polícia Militar Estadual, Funasa,

Funai, Ibama, Dnit, Ministério das Cidades, entre outros) e, também, com a população da área é que

permitem que essas ações tenham alto índice de sucesso.

Page 23: Seminário de Segurança da Amazônia

2121

Desenvolvimento

A articulação logística e operacional do Comando Militar da Amazônia permite cumprir sua missão

constitucional, que é definida pela Constituição.

A articulação logística está estruturada em duas Regiões Militares, a 8ª Região Militar na Amazônia

Oriental e a 12ª Região Militar na Amazônia Ocidental, que planejam e executam as funções logísticas

de suprimento, transporte, manutenção, saúde e recursos humanos (quadro Nr 2).

Recursos Humanos

FUNÇÕES LOGÍSTICAS

Suprimento Transporte Manutenção Saúde Engenharia

ARTICULAÇÃO LOGÍSTICA

12º B Sup

8º D Sup

CECMA

8º D Sup

12º B Sup

4º BAvEx

Pq RMnt/8

Pq RMnt/12 HMAN

P Med

28ª CSM

29ª CSMP H Gu

P MedP MedP MedP Med

2º Gpt E

Btl EngBtl EngBtl EngBtl Eng

Cia Eng

EXECUÇÃO DAS FUNÇÕES LOGÍSTICAS

31ª CSM

Quadro Nr 2 – Articulação Logística

Page 24: Seminário de Segurança da Amazônia

22

A função logística de Engenharia é executada pelo

Grupamento de Engenharia com quatro Batalhões

e uma Companhia de Engenharia de Construção

(quadro Nr 3).

A articulação operacional está conformada por

cinco Brigadas de Infantaria de Selva e a 8ª Divi-

são de Exército, com sede em Belém(PA) (quadro

Nr 4). A 1ª Brigada de Infantaria de Selva, com

sede em Boa Vista (AM); a 2ª Brigada de Infantaria

de Selva, com sede em São Gabriel da Cachoeira

(AM); a 16ª Brigada de Infantaria de Selva, com

sede em Tefé (AM); a 17ª Brigada de Infantaria de

Selva, com sede em Porto Velho (RO) e a 23º Bri-

gada de Infantaria de Selva, com sede em Marabá

(PA) (quadro Nr 5).

O efetivo do Exército na Amazônia em 1950 era

de apenas mil militares em toda a região. A partir

da década de 1990, Brigadas foram transferidas

do centro-sul do País para reforçar as ações de

defesa na Amazônia. Consoante com a prioridade

estabelecida pelo Exército Brasileiro, a 1ª Brigada

de Infantaria de Selva veio de Petrópolis (RJ), a 2ª

Brigada de Infantaria de Selva de Niteroi (RJ) e a

16ª Brigada de Infantaria de Selva de Santo Ân-

gelo (RS) perfazendo, hoje, em todo o Comando

Militar da Amazônia um efetivo de aproximada-

mente 26.500 militares.

Esse esforço do Exército foi para responder em

melhores condições a defesa dos interesses nacio-

nais na região, sendo importante destacar, nesse

Quadro Nr 3 – Gpt Engenharia

Quadro Nr 4 – 8ª Divisão Exército

ENGENHARIA

2º Gpt E

l

12a Região Militar 8a Região

MilitarCnst

l l

5 2

PORTO VELHO

X

2

21 2

Cnst

l l

6 2

Cnst

l l

8 2

Cnst

l l

7 2

Cnst

RIO BRANCO

S. G. CACHOEIRA

SANTARÉM

BOA VISTA

l l

5 2

MANAUS

OIAPOQUE

MACAPÁTIRIÓS

MARABÁ

TUCURUÍIMPERATRIZ

SANTARÉM

ALTAMIRA

ITAITUBA

BELÉMCMDODA DIVISÃO

8ª DIVISÃO DE EXÉRCITO

BELÉM

Page 25: Seminário de Segurança da Amazônia

2323

contexto, a “estratégia da presença seletiva” que permitiu ao Exército Brasileiro sediar suas Organiza-

ções Militares (OM) em localidades consideradas estratégicas. Especial destaque deve ser feito para

os 27 (vinte e sete) elementos de fronteira: as Companhias Especiais de Fronteira (CEF), os Pelotões

Especiais de Fronteira (PEF) e os Destacamentos Especiais de Fronteira (DEF) que cumprem a dupla mis-

são de defesa da pátria e colaboram com o desenvolvimento nacional com o lema: “Vida, Combate e

Trabalho” nos 11.000 Km de fronteira terrestre.

As ações de defesa do Estado brasileiro na região

Amazônica, porém, necessitam ser ampliadas. As-

sim, de acordo com a Estratégia Nacional de De-

fesa (END), foi elaborado o Plano Amazônia Prote-

gida, por parte do Exército Brasileiro, que envolve

o aumento da presença militar na área e o uso de

tecnologia de monitoramento das fronteiras para

salvaguardar os interesses nacionais. O Programa

Amazônia Protegida é apenas a vertente do Exér-

cito para ações muito mais amplas de defesa da

soberania brasileira na Amazônia que se integra,

ainda, com os planos da Marinha do Brasil e da

Força Aérea Brasileira.

Quadro Nr 5 – Comandos de Brigadas

MANAUSMANAUS

BOA BOA VISTAVISTA

TEFTEFÉÉ

PORTO PORTO VELHOVELHO

BELBELÉÉMM

MARABMARABÁÁ

11♣X

1717 ♣

X

X

2323

CMAXXXX

X1616 ♣

X22 ♣

S. G. CACHOEIRAS. G. CACHOEIRA

Comandos Operacionais - 2010

Page 26: Seminário de Segurança da Amazônia

24

Perspectivas futuras

As perspectivas futuras para a Amazônia estão assentadas em um realístico planejamento de defesa,

coerente com a estatura política, econômica e geoestratégica projetada para o País até o ano de 2030.

O Programa Amazônia protegida contempla várias ações de curto, médio e longo prazo, ao longo de

vinte anos, com aporte de recursos do governo federal para a sua implantação. Prevê a modernização

das instalações militares existentes, a construção de novas estruturas militares e a aquisição de moder-

nos equipamentos de defesa e de monitoramento da fronteira. O efetivo do Exército Brasileiro na re-

gião sofrerá um significativo aumento perfazendo uma presença, de aproximadamente 48 mil homens,

projetada para 2030.

CompanhiaPelotãoDestacamento

Cmdo FronCmdo Bda

ExistenteTransformaçãoCriação

Cmdo Mil Amz

BRASÍLIA

Quadro Nr 06 – Programa Amazônia Protegida

CompanhiaPelotãoDestacamento

Cmdo FronCmdo Bda

ExistenteTransformaçãoCriação

Cmdo Mil Amz

BRASÍLIA

Page 27: Seminário de Segurança da Amazônia

2525

O Programa Amazônia Protegida (quadro Nr 06) está inserido no Plano de Articulação do Exército Bra-

sileiro na Amazônia e na Estratégia Nacional de Defesa. Contempla ações que visam fortalecer a pre-

sença militar na região por meio de um estratégico posicionamento de tropas articuladas na fronteira e

em profundidade. Prevê ainda a dotação de equipamentos de avançada tecnologia para a interligação

e aumento da mobilidade da tropa compatível com a dimensão da Amazônia e da sua importância

estratégica para as gerações futuras.

Para que esse objetivo seja possível, se faz necessário um eficiente e eficaz sistema de monitoramento

que integre a atuação das Forças Armadas e das instituições e órgãos do poder público.

Quadro Nr 07 – SISFRON5

SENSORES

SENSORES

PATRULHAS

PEF

BRIGADAS

BATALHÕES

COMPANHIAS

Centros Regionais(Cmdo Mil Área)

Centro Geral de C2 (COTER)

NOSSA MISSÃO: SISFRON

Sistema de monitoramento contínuo do território nacional, de interessedo ESTADO BRASILEIRO, particularmente na faixa de fronteira.

Page 28: Seminário de Segurança da Amazônia

26

O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON – quadro Nr 07) é a proposta do Exér-

cito Brasileiro para a vigilância das fronteiras que norteará a “Atuação Conjunta e Multi-setorial” de

defesa da Amazônia.

O SISFRON ampliará a capacidade de controle das fronteiras terrestres, atualizando e integrando todos

os subsistemas de monitoramento existentes: sensores (sensoriamento; comunicações; segurança das

informações e comunicações; apoio à decisão; capacitação; simulação; logístico e gestão), agregando

outros meios modernos de sensoriamento (equipamentos de comando e controle; sistema de apoio

à decisão; sensores de HF, VHF, satelitais, meteorológicos, óticos e térmicos; radares de rastreamento

aéreo, hidroviários e terrestres; centros de operações; centros de simulação; veículos aéreos não-tri-

pulados; satélites de comunicações e satélites de observações) que estarão em contato direto com os

atuadores (tropa, Instituições e Órgãos do poder público) mais próximos ao ilícito que, após a tomada

de decisão, responderão com o emprego de pessoal e meios adequados à situação.

Os meios de monitoramento estão previstos para serem instalados nas diversas Organizações Militares

do Exército Brasileiro existentes na Amazônia e naquelas previstas para serem implantadas no Programa

Amazônia Protegida. O prazo de execução do SISFRON é de 10 anos, mediante a implantação de cinco

módulos e aporte de recursos na ordem de R$ 4 bilhões.

Page 29: Seminário de Segurança da Amazônia

2727

Conclusão

O Exército Brasileiro e as Forças Armadas possuem capacidade de planejar e pensar o Brasil das próxi-

mas gerações de forma coerente com a estatura geopolítica do País.

Para que os planejamentos possam ser uexequíveis, há necessidade de alocação dos recursos propostos

e o entendimento da sociedade, por meio de seus representantes nos Poderes Executivo e Legislativo,

de que o investimento na defesa da Amazônia, ao longo dos próximos vinte anos, permitirá maior

controle desse patrimônio e o uso seguro de suas riquezas pelo País, sem as quais corremos o risco de

manter a região isolada e atrair interesses de outras nações.

A Amazônia é um patrimônio que nos foi legado pelos portugueses e por gerações de brasileiros que

nos antecederam. Temos o dever patriótico de entregá-lo aos nossos sucessores.

A defesa dessa área e o uso sustentável de suas riquezas pelas próximas gerações, certamente será a

base para o desenvolvimento do Brasil do futuro.

As Forças Armadas e em particular o Exército Brasileiro, presentes na região quando da formação da

Nação, têm mantido o seu compromisso secular de protegê-lae defendê-la, ampliando sua atuação na

área. Entretanto, as potencialidades da Amazônia têm despertado cobiça em todos os cantos do pla-

neta, de onde se depreende que as “Ações de Defesa” da região devem ser uma prioridade do Estado

brasileiro e não simplesmente das Forças Armadas.

A defesa da Amazônia deve corresponder aos anseios dessa grande Nação para que esse patrimônio

seja utilizado como instrumento de desenvolvimento pelas gerações futuras.

Selva!

Page 30: Seminário de Segurança da Amazônia
Page 31: Seminário de Segurança da Amazônia

29

PaLeStra

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PErsPEcTivas DE confliTos na amazônia E rEflExos Para a DEfEsa nacional

Luiz Eduardo Rocha Paiva

Considerações iniciais

As ideias apresentadas neste artigo são a minha visão sobre o tema, não tendo relação com o pensa-

mento de nenhuma instituição, órgão público ou entidade particular, ainda que possa haver coincidên-

cia de opiniões.

Considero que, hoje, a Nação está plenamente ciente dos riscos de não ocupar, não povoar, não de-

senvolver, não integrar, não defender e não preservar a Amazônia. O que tem havido é omissão em

encarar o desafio de frente e exigir das lideranças uma nova postura patriótica, nacionalista, corajosa e

soberana para enfrentar os óbices internos e as pressões externas à conquista efetiva daquele espaço

pelo Brasil. A sociedade ainda não percebeu que a Amazônia não é problema, mas sim solução para

tornar o País uma potência de primeira ordem, status que não interessa aos dirigentes dos destinos do

mundo, pois eles não desejam o advento de um rival do porte do Brasil.

Conflito e crise, problema e ameaça, diplomacia e defesa

Conflito, resumidamente, é uma disputa intencional entre atores, com um grau variável de violência ou

apenas ameaça de seu uso, ambas podendo ser exercidas de forma indireta ou direta. A causa do litígio

pode ser um objetivo ou um direito (de fato ou presumido) ou ambos. A crise é o resultado da escalada

do conflito, com o aumento do grau de violência ou das ameaças existentes, quando as perdas resul-

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tantes da opção pelo recuo na disputa forem inaceitáveis para um ator envolvido. O epílogo da crise ou

do conflito pode ocorrer por meio de trégua, vide Guerra da Coreia em 1953; compromisso, como na

Crise dos Mísseis em Cuba em 1962; e derrota, como nas guerras contra o Iraque em 1991 e 2003. Os

oponentes serão Estados entre si, Estados contra atores não estatais (ANE) ou ANE entre si.

É importante, também, fazer distinção entre problema e ameaça. Um problema afeta a defesa e a segu-

rança nacional, mas o País tem recursos próprios para neutralizá-lo ou mantê-lo em níveis sustentáveis.

Uma ameaça afeta a defesa e a segurança nacional, mas o país não tem ou tem dúvidas a respeito de

sua capacidade para enfrentá-la com êxito. No entanto, um problema pode se transformar em ameaça

se não for enfrentado oportunamente e com vontade política. A História nos mostra, como exemplos,

a escalada das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e a do crime organizado nas favelas

do Rio de Janeiro, por não terem sido neutralizados em suas origens pelo Estado por meio de preven-

ção, repressão e medidas em setores outros que não o policial.

Para entender bem o que seria uma ameaça, considere-se uma situação hipotética entre dois países.

País “A”, uma potência, e país “b”, com menor poder nacional e com vulnerabilidades, particularmente

na expressão militar, comprometendo sua capacidade de dissuasão. Os dois países entram em conflito

por um determinado objetivo (ou direito) importante ou vital para “A”, que tem liberdade de ação para

agir, pela inexistência de uma potência aliada a “b” ou que se oponha à consecução daquele interesse

pelo país “A”. Eis então bem caracterizada uma ameaça ao país “b”, particularmente, se “A” tiver um

histórico intervencionista como soe acontecer quando uma grande potência disputa interesses impor-

tantes ou vitais e tem liberdade de ação.

Outra ideia a ter-se em mente, para entender a linha de raciocínio seguida no trabalho, é que política

exterior combina diplomacia e defesa, pois esta última começa fora das fronteiras nacionais onde o

poder militar deve respaldar decisões do Estado. Esperar uma ameaça bater às portas da nação é correr

um risco indesculpável. Portanto, se são válidas as palavras de Clemenceau, primeiro ministro francês

ao início da Grande Guerra de 1914-1918: “a guerra é um assunto muito importante para ser deixado

a cargo dos generais”; também é verdade que política exterior é um assunto muito importante e de

amplo espectro para ser deixado apenas a cargo dos diplomatas.

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Conflitos na Amazônia

A Amazônia brasileira se caracteriza por um vazio de poder em uma região rica em recursos estraté-

gicos, alguns futuramente escassos, e de grande importância geopolítica por sua posição geográfica.

As vulnerabilidades nacionais na região, indutoras de conflitos de ordem interna e internacional, são:

ausência do Estado em extensas áreas; vazio populacional na maior parte da Amazônia; região não

desenvolvida e ainda não integrada ao núcleo do Estado; existência de centenas de ONGs cavalos de

tróia financiadas por potências, organismos e empresas internacionais, defendendo interesses contrá-

rios aos nacionais e sem o devido controle pelo Estado brasileiro; uma duradoura indigência militar e

incapacidade de dissuadir eventuais ações bélicas de potências extra-regionais; e a repetida submissão

do Estado a pressões políticas, econômicas e psicossociais internacionais, que usam os temas da agen-

da global como o meio ambiente, a questão indígena e os ilícitos transnacionais, entre outros, como

pretextos para justificar a ingerência em decisões de governo na região.

Os conflitos na Amazônia podem ser de âmbito interno ou externo. Os internos envolvem questões rela-

cionadas com posse de terras; exploração de recursos florestais, minerais e outros; minorias locais, inclu-

sive indígenas; ações de movimentos sociais ou ditos sociais, na realidade ideológicos; e ilícitos diversos,

inclusive os transnacionais com ligações no País. São conflitos que se situam no nível de problemas e

não de ameaças, com reflexos nos campos da segurança pública, justiça e assistência social. As Forças

Armadas (FA) podem até ser empregadas dentro de um quadro de garantia da lei e da ordem ou da se-

gurança pública, conforme previsto em lei. Da mesma forma, a diplomacia poderá ser acionada quando

os conflitos tenham conexão internacional, exigindo ligações entre governos como nos casos de ilícitos

ou de movimentos de cunho revolucionário transnacionais. No entanto, os reflexos desses conflitos não

afetam a defesa nacional, uma vez que o Estado tem poder para neutralizá-los e, se tiver vontade política

para enfrentá-los com oportunidade, como é sua obrigação, eles não chegarão ao nível de ameaça.

Os atores envolvidos nos conflitos internos podem ser grupos de interesses como empresas, ONGs, mo-

vimentos religiosos, laboratórios e outros; movimentos sociais ou ditos sociais, que podem ter cunho

ideológico e evoluir para guerrilhas; e bandos fora da lei como os do crime organizado. Todos podem

ter ligações internacionais.

Os conflitos internacionais na região poderão envolver a disputa com atores estrangeiros: pela defesa

e exploração soberana de recursos; pela migração de populações nacionais e estrangeiras na faixa de

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fronteiras; como reação à ingerência de potências extra-regionais, que usem temas da agenda global

como pretexto; pelo controle de posições estratégicas importantes a exemplo da foz do rio Amazonas

e da própria Amazônia brasileira; e pela liderança na América do Sul com países da região ou com

potências alienígenas. Poderão, ainda, ocorrer conflitos por pendências históricas ainda não resolvidas

entre países sul-americanos, nas quais o Brasil possa ser envolvido, bem como por disputas político-ide-

ológicas. Serão problemas ou ameaças em função do valor dos interesses em disputa, do poder relativo

entre os oponentes e da liberdade de ação desfrutada. Terão reflexos indiretos na defesa nacional, se

forem priorizadas ações estratégicas nas expressões política, diplomática, econômica e psicossocial e

não na militar, e diretos se a expressão militar tiver alta prioridade nas ações empregadas. O nível de

perigo da ameaça independe da expressão do poder enfatizada pelo oponente. Estes conflitos têm

reflexos para a defesa nacional e a diplomacia. Os atores envolvidos seriam países vizinhos e regionais,

potências alienígenas e atores não estatais como multinacionais, organismos internacionais, ONGs e

outros, podendo ter apoios internos.

A supervalorização do conceito de novas ameaças pode levar ao desvio do adestramento e do de-

senvolvimento da capacidade de dissuasão militar, que devem estar orientados com prioridade para a

missão principal – defesa da Pátria. Tal conceito atende ao propósito de mudar a destinação das FA dos

países da América Latina, surgido nos anos 1990, e tão ao agrado de potências dominantes.

Os documentos relativos à defesa nacional, da área governamental, consideram difusas as ameaças

ao Brasil, numa repetição de ideias estrangeiras, presentes em documentos que tratam de interesses

de defesa de outros países. Difusos, na realidade, são os nossos problemas, pois o País tem sim uma

grave ameaça concreta e um conflito em andamento, considerando que a Amazônia é uma região

ainda não integrada, a soberania brasileira é contestada internacionalmente e são claras a cobiça e a

ingerência de potências estrangeiras contra as quais o Brasil não tem a menor capacidade de dissuasão.

Se fosse caracterizada com coragem e franqueza essa ameaça para a Nação, desde 1990, o País não

estaria tão defasado no que tange ao poder militar e ainda poderia fazer frente aos demais problemas

e ameaças, pois quem pode mais pode menos. Perdeu-se o que deveria ser o foco das estratégias de

defesa e, há vinte anos, anda-se erraticamente sem um projeto conjunto de força que norteie a evo-

lução das FA.

Do exposto, pode-se concluir que os conflitos com reflexos significativos sobre a Defesa Nacional são os

internacionais e, dentre estes, será abordado o que já existe e põe em risco a soberania, o patrimônio

nacional e a integridade territorial brasileira.

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O “Eixo do Poder”

Quem são as potências do Eixo do Poder?

Existe um Eixo do Poder (a partir de agora chamado Eixo) caracterizado pelos países que conduzem

os destinos do mundo, quais sejam: EUA; União Europeia (UE), particularmente França, Grã-Bretanha

e Alemanha; Rússia; China (que já foi potência, decaiu e voltou a subir); e Japão. A Índia é uma forte

candidata a ascender ao Eixo em alguns anos. São nações envolvidas em constantes conflitos, crises e

guerras; por isso seus povos sabem da necessidade de forças armadas fortes, capazes de defender o

patrimônio e respaldar as decisões do Estado quando este projeta poder político-militar para satisfazer

interesses em qualquer parte do mundo. Aprenderam que “entre outros males, estar desarmado

significa ser desprezível”1.

Os países do Eixo não se dobram a pressões de outras potências e organismos internacionais, que

possam pôr em risco suas aspirações e interesses vitais, ao contrário do Brasil. Alguns membros do

Eixo que perderam a capacidade de se projetar individualmente procuram fazê-lo no âmbito de uma

coligação ou de organismos internacionais de defesa. França e Grã-Bretanha, membros da OTAN, têm

forte influência e ligações com a região guianense, fronteira norte do Brasil, e com ONGs que atuam

em terras indígenas (TI) brasileiras com o apoio de seus governos.

Como atua o Eixo na disputa por seus interesses?

Para entender o comportamento das potências do Eixo, como de resto, de qualquer país, deve ser

estudada sua história desde as origens, mas principalmente nas décadas mais recentes. Assim, podem

ser identificadas suas aspirações e interesses, que por estarem normalmente situados no campo abs-

trato (liberdade, democracia, soberania, integração etc.) precisam ser interpretados e traduzidos em

objetivos concretos pelo nível político, de modo que sejam de entendimento comum. Tais objetivos

serão conquistados ou mantidos por meio de estratégias, cuja implantação poderá exigir a alteração do

direito, se o governo tiver poder para tanto, a fim de respaldá-las quando forem consideradas decisivas

1 O Príncipe de nicolau Maquiavel.

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para a concretização dos objetivos. O nível político desenvolve o poder nacional e o nível estratégico

encarrega-se de prepará-lo e aplicá-lo na execução das estratégias elaboradas para vencer óbices, que

podem se tornar ameaças, gerando conflitos e crises. As estratégias devem enquadrar-se no rumo

(diretrizes com orientação ideológica, econômica e outras) estabelecido pelo nível político (Figura 1).

No Brasil, aspirações, interesses e objetivos fundamentais encontram-se no Preâmbulo e no Título I da

Constituição Federal, portanto independem do governo do momento, enquanto o rumo, outros obje-

tivos e estratégias constam de seus programas.

Figura 1. A cadeia História – Política/Rumo – Estratégia/Óbices – Direito

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Em um choque de interesses com potencial para gerar conflito, crise ou guerra, ao fazer a análise do

evento, deve-se, com relação aos atores principais:

1. identificar aspirações, interesses, objetivos e estratégias afetados e se são importantes ou vitais;

2. analisar o poder nacional (político, econômico, científico-tecnológico e militar):

• identificando fortalezas e vulnerabilidades;

• avaliando a vontade nacional (a relação Estado – sociedade e o histórico nacional);

• identificando as alianças em vigor e as possíveis; e

• concluindo sobre a liberdade de ação de cada ator.

A partir dessa análise, é possível deduzir as prováveis estratégias de cada ator e se prevalecerão ações

estratégicas indiretas ou diretas.

Os países democráticos do Eixo (EUA, UE e Japão) têm poder global incontestável, suas sociedades

influenciam o Estado e desfrutam de um extraordinário nível de vida. Nos países de regime, no mínimo,

autoritário (Rússia e China) as sociedades não têm o mesmo grau de influência, nem de nível de vida,

mas os países são potências globais incontestáveis. Em ambos os grupos, é uma aspiração manter o

status alcançado e, assim, necessitam intensamente de recursos, principalmente energéticos, que não

conseguem prover com produção própria ou precisam manter como reserva estratégica.

É um interesse vital, para os países do Eixo, satisfazer aquela aspiração (status), o que implica assegurar

o acesso às áreas globais ricas em matérias-primas, nelas projetando poder político-econômico e mili-

tar, se necessário. Mas os recursos estratégicos não são o único motivo, pois as áreas de importância

geopolítica também são alvo do Eixo, sendo o Oriente Médio, historicamente, uma dessas regiões

ambivalentes de disputas, como elo de três continentes e do Mediterrâneo com o Oceano Índico. Ao

se fazer presente, uma potência busca, ainda, impedir ou limitar o surgimento de um poder regional

dominante e a projeção de países do Eixo rivais nessas regiões. Portanto, o Eixo não pode deixar de

agir globalmente, daí seus componentes estarem em permanentes conflitos, ainda que muitas vezes

indiretos. Com o apequenamento do mundo, o jogo do poder, permanente no Oriente Médio e em

outras regiões distantes, aproxima-se do entorno estratégico do Brasil.

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c. Exemplo histórico da ação internacional do Eixo (Guerra do Golfo 1991)

No Brasil, não há uma tradição de discutir temas estratégicos com profundidade, e o que a mídia pu-

blica fica na superficialidade, e assim é aceito sem maiores indagações.

Qual o motivo real da Guerra do Golfo em 1991? Libertar o Kuait, como era anunciado? Na verdade,

o objetivo foi neutralizar o Iraque, potência regional emergente e antagônica aos EUA. O Iraque, ao

conquistar o Kuait, controlou um dos maiores produtores de petróleo do mundo e ameaçava a Arábia

Saudita, aliada e um dos maiores fornecedores de petróleo dos EUA. Estes temiam repetir-se com a

monarquia saudita, ditatorial e impopular, o mesmo ocorrido em 1979 com a monarquia iraniana, en-

tão aliada. Era um risco inaceitável perder o único aliado árabe de peso que lhes restava na região, uma

vez que o próprio Iraque já o fora anteriormente. Por conseguinte, os EUA poderiam ficar praticamente

alijados do Oriente Médio, rico em petróleo e de grande importância geopolítica.

No conflito, os EUA tiveram liberdade de ação, pois a URSS estava em franca decadência (desmantelou-

-se meses depois), a China ainda não era o gigante atual e havia ampla convergência de interesses

econômicos e geopolíticos com seus aliados europeus, bem como com a maioria dos países árabes,

temerosos da agressiva emergência iraquiana. Tal quadro facilitou a formação de uma ampla coalizão.

O alinhamento da cadeia aspiração – interesses – objetivos é mostrado a seguir:

3. aspiração nacional – manter o padrão de vida da sociedade norte-americana;

4. interesse vital – assegurar acesso às fontes de matérias-primas vitais onde existirem;

5. dois objetivos nacionais no Oriente Médio – nenhuma potência regional hegemônica e projetar

poder na região para assegurar o abastecimento de petróleo;

6. objetivo de guerra – neutralizar o Iraque, potência regional antagônica aos EUA;

7. objetivo operacional (do Teatro de Operações) – destruir o poder militar do Iraque; e

8. manobra estratégica – desbordar, cercar e destruir as forças iraquianas no Teatro de Operações,

particularmente, a Guarda Republicana.

As operações foram plenamente exitosas e a neutralização do Iraque foi completada pelo bloqueio

econômico, que impediu o país de se reerguer. Em 2003, o poder militar iraquiano não era nem uma

sombra do existente em 1991.

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d. Áreas de conflito atuais e futuras (Figura 2, a seguir)

ÁREAS DE

FRICÇÃO

ÁSIACENTRAL

ÁFRICA

ORIENTE MÉDIO

EUROPA ORIENTAL

ÍNDIAPACÍFICO

22

ÍNDICO

Figura 2 – Mapa básico fonte: <http://www.maps.com> – Ásia.

Já se comentou sobre o Oriente Médio. Quanto à Europa Oriental, a Rússia busca limitar a expansão

da OTAN e da UE para o leste, ocorrida após a queda da URSS e a adesão de vários países da antiga

Cortina de Ferro à aliança ocidental. O apoio da OTAN e da UE ao desmembramento da Iugoslávia,

reconhecendo a soberania das nações que compunham aquele país, não foi por idealismo ou humani-

tarismo e sim por razões geopolíticas. O núcleo de poder iugoslavo era a Sérvia, antiga aliada da Rússia,

e a decomposição do país reduziria em muito a presença russa nos Bálcãs, praticamente, levando-a de

volta às fronteiras originais. Ao enfraquecer a Rússia, a aliança ocidental poderá torná-la uma aliada

para manter a Sibéria, cuja economia está sob forte influência chinesa, havendo áreas onde o manda-

rim já é um segundo idioma e a imigração amarela uma preocupação. Na fronteira com a Mandchúria,

com uma população de 100 milhões de chineses, vivem cerca de 7 milhões de russos. Além disso, o

aquecimento global poderá fazer da Sibéria uma região agricultável, sendo a escassez de alimentos

uma ameaça para bilhões de chineses.

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A Ásia Central é palco de uma das principais disputas do Eixo, pois a Rússia tenta voltar a ter presença

onde foi poder absoluto com a antiga URSS. A aliança ocidental vem se projetando na região, não só

com a expressão militar – Afeganistão e Paquistão, como também com suas multinacionais de petróleo

e gás. A China tem obtido grande êxito e aceitação ao investir pesado na região sem se desgastar por

envolvimento em conflitos armados. A Ásia Central é uma região de grande importância geopolítica,

pois permite proteção ou projeção sobre a Rússia, o Oriente Médio e a China, além de possuir grandes

riquezas minerais. Uma eventual aliança com a Rússia permitiria aos EUA e à UE completar o cerco

estratégico à China pelo norte e noroeste, onde ela é mais fraca e tem problemas de coesão (separa-

tismo), considerando que a oeste e ao sul ela já está cercada por aliados ocidentais como Coreia do

Sul, Japão, Taiwan, Filipinas e Austrália. Além disso, tem rivais históricos nessa direção, como o Vietnã

e a Índia.

O Oceano Índico e o Mar da China são áreas importantes para o gigante amarelo, pois passa por ali

grande parte de seu comércio e do petróleo importado da África e do Oriente Médio, do qual a China

é dependente. Daí seu esforço por desenvolver uma poderosa marinha de guerra e ocupar espaços

naquelas duas áreas marítimas, inclusive com o estabelecimento de portos e bases mediante acordos

econômicos ou pressões político-militares. O aumento da pressão para romper o cerco no Pacífico e no

Mar da China será feito em médio prazo, pois agora iria colocá-la em choque direto com interesses dos

EUA e do Japão, envolvendo ilhas nipônicas contestadas e a volta de Taiwan. No momento, ela não tem

poder para um conflito dessa natureza, nem é de seu interesse, haja vista a prioridade atual ser uma

expansão comercial pacífica e benigna.

A China cresce em ritmo acelerado. O gigante não cabe em si mesmo e a Ásia é pouco para seu ape-

tite. A África, rica em recursos e há muito relegada pela aliança ocidental, é uma oportunidade para

sua expansão numa direção não bloqueada ou limitada pelos rivais. Países da OTAN têm estimulado o

Brasil a envolver-se mais na África, onde é bem acolhido, a fim de equilibrar a crescente e preocupante

influência chinesa, pois o legado ali deixado pelas nações ocidentais, antigas metrópoles, não é de boa

memória para os africanos. Assim, o conflito alcançou o Atlântico Sul, rota comercial muito valorizada

pelo crescimento do comércio na direção sul-sul, pelas perspectivas de bacias de petróleo e gás nos

litorais africano e sul-americano e pela proximidade da Antártida. A China explora um porto em Angola,

de onde importa quase tanto petróleo quanto da Arábia Saudita. Tudo isso levou os EUA a criarem o

Africom, comando militar-civil para a África, que tem como uma das finalidades limitar a penetração

chinesa no continente; e a reativarem a IV Frota com responsabilidade sobre o Atlântico Sul.

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e. Os conflitos do Eixo chegam ao nosso entorno estratégico

Estão na América do Sul as maiores reservas mundiais de recursos naturais, terras agricultáveis e água

doce, bem como mercados promissores e áreas estratégicas que crescem de importância no mundo

globalizado e apequenado. Como a China vê a América do Sul? A resposta está no extrato da reporta-

gem de Eliane Oliveira e Gustavo Paul,2 que se vê no quadro a seguir.

TSUNAMI CHINESA DE INVESTIMENTOS E EXPORTAÇÕES VARRE A AMÉRICA DO SUL (AS).

“braSÍLia - depois de invadir a África --- (com) investimentos vultosos --- (e) pelo menos um milhão de operários,

a china --- avança sobre a aS.

o dragão chinês mais que dobrou --- participação --- (nas) importações de países da aS desde 2003. --- 5,38% para

12,07% em 2008 --- total importado subiu mais de 700% --- de uS$ 6,5 bi para uS$ 54,6 bi.

--- preocupação do governo e empresários brasileiros --- competição pelo mercado regional.

--- últimos seis anos, exportações brasileiras para a aS cresceram apenas 282,8%. a participação desses mercados

no total exportado pelo brasil --- 13,8% para 19,6%.

--- presença da china também percebida nos investimentos: a américa Latina é o segundo maior receptor de recur-

sos chineses ---18% do total, perdendo apenas para a própria Ásia” (dados de 2007).

Tanto na África, quanto na AS, estão presentes os demais atores do Eixo, sendo a Índia séria candidata

a ser um novo jogador nesse tabuleiro de xadrez.

Pode-se concluir que a liderança regional do Brasil, até certo ponto tolerada por ser interesse dos EUA,

está ameaçada por esse novo competidor, ao qual se agregarão a Rússia e a Índia. Por certo, os EUA e

aliados intensificarão a presença na região, para não ceder espaços aos novos rivais. A China agora é

interessada direta nos recursos da Amazônia e será mais vantajoso a ela, Rússia e Índia unirem-se aos

EUA e à UE, para imporem limites à soberania brasileira na Amazônia, do que entrarem em conflito

entre si para lograrem condições privilegiadas de acesso aos recursos. À projeção político-econômica

segue-se a militar, que pode ser de cooperação, dissuasão ou emprego direto da força, em função da

comunhão ou do conflito de interesses e de sua importância. O Brasil e os vizinhos são os atores mais

fracos, e é desse lado que a corda arrebenta.

2 Jornal O Globo, edição de 1º de agosto de 2009.

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A História alerta a quem estuda estratégia

A China, no século XIX, foi fatiada em sua soberania e patrimônio e humilhada pelas potências da

época quando era, então, a nova fronteira, sendo-lhe imposta a soberania limitada (compartilhada) em

18 de suas 23 províncias. Entre os impérios de ontem, que não se conflitaram na partilha daquele país,

estão as potências do Eixo. A soberania compartilhada não resulta necessariamente de invasão militar e

conquista total de território, pois a administração pode até permanecer com o detentor, mas a explora-

ção obedece a normas internacionais impostas pela comunidade mundial, leia-se Eixo do Poder, para

assegurar o acesso privilegiado aos recursos e exercer significativo controle político da região. Ou seja,

o detentor arca com o ônus da administração, controlada externamente, e as potências ficam com a

maior parte do bônus produzido. Hoje, a AS é a nova fronteira, como foi a China 150 anos.

Mas a História tem um exemplo bem mais próximo ao Brasil, como se vê a seguir.

GOVERNOS SUBMISSOS, NAÇÃO CONIVENTE

a perda do acre pela bolívia, em 1903, é um alerta ao brasil, pois as semelhanças entre o evento passado e o

presente amazônico são evidentes, em particular no tocante às tis. a bolívia no acre, por dificuldade, e o brasil na

amazônia, por omissão, exemplificam vazios de poder pela fraca presença do estado e de população nacional em

regiões ricas e cobiçadas. o acre, vazio de bolivianos, era povoado por seringalistas e seringueiros brasileiros, res-

pectivamente líderes e liderados, sem nenhuma ligação afetiva com a bolívia. no brasil, onGs internacionais lideram

os indígenas e procuram conscientizá-los de serem povos e nações não brasileiros, com o apoio da comunidade

mundial. assim, no século XiX uma crescente população brasileira estava segregada na bolívia e hoje o mesmo

ocorre com a crescente população indígena do brasil nas tis, ambas sob lideranças sem compromisso algum com os

países hospedeiros e sim com atores externos.

ao delegarem autoridade e responsabilidades a onGs ligadas a atores alienígenas, nossos governos autolimitaram

a soberania, como fez a bolívia ao arrendar o acre ao Bolivian Syndicate, binacional anglo-americana com amplos

poderes e autonomia para administrá-lo. décadas de erros estratégicos enfraqueceram a soberania boliviana no

acre, direito não consumado, pois aqueles brasileiros se revoltaram e o separaram da bolívia, que o vendeu ao

brasil. não é que a História se repita, mas situações semelhantes em momentos distintos costumam ter desfechos

parecidos, para o bem ou para o mal, se as decisões adotadas forem similares. um cenário de perda, semelhante à

sofrida pela bolívia, desenha-se na calha norte do rio amazonas, na faixa de fronteira, com destaque para roraima.

(artigo deste autor publicado em O Estado de São Paulo e no Globo On-line, em 26/08/2010).

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A questão da ex-província sérvia do Kosovo, cuja população era 90% albanesa, é outro exemplo com

que nos brinda a História. A autonomia concedida à então província em 1974 foi cassada em 1999,

revoltando sua população. A Sérvia reagiu violentamente e não permitiu a entrada de “forças de paz”

na região até que a OTAN, para evitar a campanha terrestre arriscada e com alta previsão de baixas,

moveu uma campanha aérea arrasadora, sem o aval da ONU, e conseguiu dobrar o país. O direito de

soberania e integridade territorial da Sérvia, reconhecido no mandato das Nações Unidas (Resolução

1.244 de 10/06/1999) que autorizou a intervenção de uma força de paz, após a campanha aérea, não

impediu a independência do Kosovo em 2008.

Portanto, a História ensina que num país onde uma região rica é um vazio de poder, sem população

nacional, ocupada por população segregada, considerada estrangeira e sob liderança alienígena ligada

a outros países, projeta-se um cenário de perda de soberania e integridade territorial, a despeito do di-

reito internacional. Ao contrário de Bolívia, Brasil e Sérvia, a China povoou a província de Xinjiang com

etnia han, neutralizando o separatismo dos uigures. Sua liderança aprendeu com a História a resistir a

pressões estrangeiras.3

Direito que não se respalda em poder será amoldado a interesses e estratégias do mais poderoso, a

exemplo do pretexto para a invasão do Iraque pelos EUA em 2003.

Reconhecendo nossas vulnerabilidades

A figura a seguir mostra a situação das TIs na faixa de fronteiras e as vulnerabilidades já comentadas no

início do item 3, Conflitosna Amazônia, deste artigo.

3 “Governos submissos, nação conivente”. artigo deste autor publicado em O Estado de São Paulo e no Globo On-line,

em 26/08/2010.

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Figura 4 - Mapa Básico fonte: blog Paz no campo – Postado por GPS do agronegócio em 11/03/2008 – embate entre duas civilizações –

Mapas que impressionam.

Existem centenas de ONGs ligadas a potências alienígenas, empresas e organismos internacionais que

exercem forte influência nas TIs e, certamente, defendem interesses conflitantes com os do nosso país.

Com quem têm compromissos e que influências exercem estas ONGs junto às populações indígenas

nacionais? Deve-se ter em conta que algumas potências financiadoras de ONGs pertencem à OTAN,

com as quais a região guianense tem fortes laços históricos, constituindo-se em potencial cabeça de

ponte para eventuais intervenções militares internacionais. Essas ONGs e outras organizações não con-

sideram os indígenas cidadãos brasileiros e defendem que eles se reúnam em “nações” autônomas. De

fato, a ONU aprovou em 2007 a Declaração de Direitos dos Povos Indígenas, com o voto favorável

do Brasil, conferindo aos indígenas nas TIs, dentre outros, os direitos de:

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1. autogoverno e livre determinação da condição política;

2. instituições políticas e sistemas jurídicos próprios;

3. pertencer a uma “nação indígena”;

4. vetar atividades militares; e

5. aceitar ou não medidas legislativas ou administrativas do governo nacional.

Algumas pessoas citam o artigo 46 dessa declaração como uma garantia à soberania dos países que

a ela aderiram (ver quadro a seguir). Mas o artigo refere-se à unidade política e integridade territorial

e não à soberania sobre as TIs. Por outro lado, parece não terem lido o artigo 42 (ver no quadro), que

prevê, implicitamente, a intervenção das Nações Unidas para fazer valer a declaração, uma vez que

um dos seus órgãos (ver o grifo no quadro) é o Conselho de Segurança, a quem cabe decidir sobre

intervenções.

Artigo 46nada do disposto na presente declaração será interpretado no sentido de conferir a um estado, povo, grupo ou

pessoa qualquer direito de participar de uma atividade ou de realizar um ato contrário à carta das nações unidas ou

será entendido no sentido de autorizar ou de fomentar qualquer ação direcionada a desmembrar ou a reduzir, total

ou parcialmente, a integridade territorial ou a unidade política de estados soberanos e independentes.

Artigo 42as nações unidas, seus órgãos, incluindo o fórum Permanente sobre Questões indígenas, e organismos especiali-

zados, particularmente em nível local, bem como os estados, promoverão o respeito e a plena aplicação das dispo-

sições da presente declaração e zelarão pela eficácia da presente declaração (grifos nossos).

Ora, que soberania restou ao governo nas TIs, após dar aval à declaração, aceitando os direitos nela

conferidos? Que unidade política e integridade territorial de fato lhe restaram, considerando o status

conferido às TIs? Como fica a governabilidade no Brasil com a quantidade de TIs com autonomia su-

perior à dos estados da Federação? Por outro lado, o governo se submete às imposições que poderão

decorrer do artigo 42 e já existe, desde 2005, uma Resolução da ONU que autoriza intervenções com

base na Responsabilidade de Proteger (antigo Dever de Ingerência), cuja regulamentação imprecisa

não impede o seu uso como pretexto para outros fins que não humanitários. A Rússia usou o argu-

mento da Responsabilidade de Proteger para invadir a Geórgia em 2008. E, o que é mais grave, no

Page 48: Seminário de Segurança da Amazônia

46

Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) está previsto, textualmente: “Propor e articular o

reconhecimento do status constitucional de instrumentos internacionais de Direitos Humanos novos ou

já existentes ainda não ratificados”. Com essa medida, uma vez aprovada a declaração no Congresso

Nacional, caem por terra todas as ressalvas do STF para as TIs, estabelecidas quando da triste deci-

são que manteve a demarcação da TI Raposa Serra do Sol em terras contínuas. Convém lembrar que

povo, território, nação e instituições políticas definem um Estado-Nação e são condições para pleitear

a independência. Perguntem à Sérvia como ela vê as garantias estabelecidas pela ONU em conflitos

internacionais.

Amazônia e a geopolítica da integração sul-americana

A Amazônia brasileira é uma região de extrema importância geopolítica, pois a bacia de seu “Rio Mar”

une as do Prata e do Orenoco, já estando ligada a esta última pelo Canal de Cassiquiare e podendo

conectar-se à primeira mediante uma obra de engenharia perfeitamente viável com a tecnologia atu-

al. Dessa forma, poderá haver uma ligação fluvial interior de norte a sul, na AS, segura e de grande

significado estratégico. Além disso, a Amazônia brasileira é o amálgama da integração regional, pois

une sete países com os quais o Brasil se limita e enlaça, praticamente, os oceanos Atlântico e Pacífico.

A integração sul-americana, degrau da integração latino-americana – objetivo constitucional – só será

liderada pelo Brasil se ele detiver soberania plena em nossa Amazônia. Não sendo assim, ela não haverá

ou será liderada por outro ator extra-regional de acordo com seus desígnios.

Caracterizando a ameaça

“A arte da guerra nos ensina a confiar não na probabilidade de o inimigo não vir, mas em nossa pron-

tidão para enfrentá-lo; não na eventualidade de ele não atacar, mas antes, no fato de tornarmos nossa

posição inexpugnável.”4

4 A Arte da Guerra, de Sun tzu.

Page 49: Seminário de Segurança da Amazônia

4747

Eis alguns questionamentos, que são por si só esclarecedores: a Amazônia tem atrativos estratégicos?

Eles têm importância que desperte o interesse e a cobiça das potências do Eixo? O Brasil tem vulnera-

bilidades para enfrentar um conflito bélico com potências do Eixo pela soberania na Amazônia? O Eixo

exerce pressões políticas, econômicas, psicossociais e militares para concretizar seus interesses em to-

das as regiões do mundo? Ele já se encontra projetando poder no entorno estratégico e no patrimônio

brasileiro?

A resposta a esses questionamentos permite caracterizar a existência de uma perigosa ameaça, levan-

do-se em conta, quanto à Amazônia brasileira, que:

1. é uma região rica e de elevado valor como posição geoestratégica;

2. há uma comprovada cobiça do Eixo sobre a região e o Brasil apresenta perigosas vulnerabilidades

em seu poder nacional, particularmente na expressão militar;

3. a liderança nacional dobra-se a pressões estrangeiras políticas, econômicas, científico-tecnoló-

gicas e psicossociais, comprometendo a soberania e o patrimônio nacional, por falta de visão

estratégica e compromisso com o futuro do Brasil;

4. em duas décadas, as TIs já representam 13% do território nacional, numa área comparável à da

Alemanha e França reunidas, e são ocupadas apenas por indígenas sob o controle de ONGs in-

ternacionais, que consideram-nos “povos e nações” dissociados do povo e nação brasileiros com

o apoio da comunidade global;

5. a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, a Responsabilidade de Proteger, e o PNDH – 3

conforme já comentados; e

6. o emprego de uma estratégia indireta, implementada por meio de ações sucessivas há duas dé-

cadas, por atores internacionais, com o objetivo comum de impor a soberania compartilhada na

Amazônia, nos vai impondo uma derrota política por submissão voluntária de seguidos governos

sem que sofram nenhuma ameaça militar direta.

O observador que comparar o mapa da faixa de fronteiras de 1990 com o atual e observar a evolução

da legislação nacional e internacional sobre a questão indígena não poderá deixar de reconhecer a

ameaça, embora quem assim visse naquela época fosse chamado de alarmista. O tempo estratégico

não se conta por anos, mas por décadas, e um erro cometido hoje terá consequências muitos anos

depois. A Bolívia e a Sérvia sabem disso.

Page 50: Seminário de Segurança da Amazônia

48

Reflexos para a Defesa Nacional

Existe, portanto, uma grande ameaça, concreta e não difusa, para a qual o País deveria estar se prepa-

rando há décadas, pois se capacitaria automaticamente para enfrentar as demais ameaças ou proble-

mas, bastando atender aos princípios de flexibilidade e adaptabilidade.

A Nação sabe dos riscos na Amazônia, mas não percebeu a existência de um conflito em pleno anda-

mento contra potências da aliança ocidental, que poderão ser reforçadas pelas outras do Eixo, todas

se projetando hoje na AS. As ações estratégicas são indiretas, não militares, daí ficarem sob um véu,

camuflando a ameaça que a liderança nacional inexplicavelmente não expõe à sociedade em sua ple-

nitude e possíveis uconsequências.

As chamadas novas ameaças: questões ambientais; direitos humanos e das minorias; questão indíge-

na; ilícitos transnacionais; crime organizado; e terrorismo não passam de pretextos para o Eixo justificar

uma eventual escalada do conflito, se for necessário passar às ações estratégicas militares diretas.

Para o Brasil, o conflito atual impacta a defesa do patrimônio, da soberania e da integridade territorial;

e o controle nacional de áreas geoestratégicas do País, em ambos os casos, por enquanto, contra

potências da aliança ocidental. Em breve, virão novos conflitos para enfrentar reações à projeção inter-

nacional pacífica do país em áreas de seu interesse. Neste caso, os oponentes, além do Eixo, poderão

ser outros atores.

Enquanto os EUA forem o poder hegemônico na América, só por sua iniciativa, isolada ou em coliga-

ção, ou com seu consentimento, haveria uma ameaça militar direta ao Brasil, pois a China e a Rússia

não têm poder para confrontá-los na atualidade, particularmente nessa área de tradicional influência

norte-americana. Mas esse quadro tende a evoluir em médio ou longo prazo.

A perda de soberania, como primeiro passo para uma possível perda, também, de parte do patrimô-

nio territorial e de seus recursos, vem sendo exitosamente imposta por meio de pressões nos campos

político, econômico, psicossocial e científico-tecnológico, neste caso, cerceando o desenvolvimento de

tecnologias sensíveis de emprego militar. O propósito é a imposição da soberania compartilhada, sem

os custos do emprego direto do poder militar. Se eventualmente um futuro governo tentar reverter o

processo, revendo a política indigenista, controlando e limitando a atuação das ONGs internaciona-

Page 51: Seminário de Segurança da Amazônia

4949

listas e implantando um efetivo e soberano projeto de desenvolvimento e integração da Amazônia,

será confrontado pela comunidade internacional, capitaneada por potências do Eixo e por organismos

internacionais, como a ONU e a OEA, e com o apoio de ONGs, empresas transnacionais e as chamadas

companhias de segurança contratadas (os modernos mercenários). A estratégia iniciará pela satani-

zação internacional do país e de sua liderança, com base nos temas da agenda global, para justificar

pressões agora também diretas, pois engajarão o campo militar. Embora o interesse seja na Amazônia,

a sua imposição seria obtida pela ameaça à nossa infraestrutura crítica, da qual são exemplos a bacia

petrolífera do litoral sudeste, a hidrelétrica de Itaipu, o triângulo Rio-SP-MG, e outras, cujo bloqueio,

ocupação ou danos severos provocariam um colapso difícil de ser suportado pelo país. Dessa forma,

evitar-se-iam operações militares numa região difícil, contra combatentes de selva muito bem adestra-

dos, com os riscos, custos e baixas decorrentes, e aproveitar-se-ia nossa indigência militar ainda longe

de ser sanada, haja vista os sonolentos, sempre postergados e contingenciados programas de reapare-

lhamento das FA. Uma escalada menos provável, e como última opção, seria a operação militar através

da região guianense para isolar inicialmente a foz do rio Amazonas e em seguida Manaus, seguindo

duas direções: foz do rio Amazonas-Manaus; e Georgetown-Boa Vista-Manaus, evitando o custoso

combate nos centros urbanos maiores. É muito pouco provável a ação principal vir pelo território de

vizinhos de origem ibérica, pelas dificuldades no campo diplomático, bem como no militar, neste caso

considerando que: a distância do litoral do Oceano Pacífico e o obstáculo dos Andes são grandes óbices

ao apoio logístico; os objetivos existentes na Amazônia Ocidental são menos significativos; o ambiente

operacional quase exclusivamente de selva reduz o hiato tecnológico entre as forças oponentes, favo-

recendo nosso combatente; e que a IV Frota e o Comando Sul estão na Flórida, bem como os aliados

seriam, em princípio, potências europeias. A devolução da parte do território brasileiro ocupado na

Amazônia serviria de trunfo para o País aceitar a imposição de interesses alienígenas naquela região.

A capacidade de dissuasão de um país pode ser desenvolvida com propósito defensivo, que é a aptidão

de dano como resposta a uma ameaça ou agressão; ofensivo, capacidade de dano por iniciativa; e

defensivo-ofensiva, uma combinação das duas anteriores.

O Brasil deve buscar em curto prazo, em face de poder mais fraco, equilibrado ou ligeiramente supe-

rior, uma capacidade de dissuasão defensivo-ofensiva, com parte das FA dispondo de poder militar

condizente com a estatura internacional do país e em nível de prontidão superior ou equilibrado ao de

eventuais oponentes, para a defesa do território; e com uma força de pronto emprego com capacida-

de de revide para causar danos significativos a uma força incursora e realizar ações ofensivas rápidas,

Page 52: Seminário de Segurança da Amazônia

50

vigorosas, de pequena profundidade e curta duração, sem manter ocupação prolongada de território.

Hoje, as FA têm poder de dissuasão para a defesa do território contra oponentes mais fracos ou equi-

librados, mas não contra adversários superiores, e não têm capacidade de revide significativa contra

nenhum deles.

Em face de potência muito superior, deve desenvolver, em curto prazo, a capacidade de dissuasão

defensiva para uma guerra inicialmente convencional, com flexibilidade para passar à de resistência

imediatamente. Deve, ainda, ampliar progressivamente essa capacidade para a de dissuasão defensivo-

-ofensiva, o que depende de uma liderança nacional com visão estratégica e vontade política. Existem

estas condições? Contra um poder muito superior, as FA têm apenas capacidade de apoiar a expressão

política, numa tentativa de evitar ações diretas que nos seriam desastrosas. Eis por que o Brasil deve ser

considerado um indigente militar.

6. Considerações finais

Escapa à compreensão do comum dos mortais a vitória obtida antes que a situação se

cristalize. Antes mesmo que se ensanguente a lama, o país inimigo se rende.5

Ao militar e ao diplomata cabe perceber ameaças enquanto elas estiverem no nível possível, pois se

elas se tornarem prováveis poderá não haver tempo de neutralizá-las. Defesa não se improvisa e co-

meça além-fronteiras, daí o porquê de a política exterior ser uma resultante sinérgica de diplomacia e

defesa, verdade há muito negligenciada pelo Brasil, mas não pelo Eixo. O que se propala ser interação

entre diplomacia e defesa é, na realidade, a tomada de decisões de governo com base na assessoria do

Ministério das Relações Exteriores, mas com pouca participação do Ministério da Defesa, setor de peso

político irrelevante após os militares serem alijados do núcleo decisório do Estado. Não fosse assim,

as decisões sobre a Amazônia seriam completamente diferentes. Não haveria imensas TIs na faixa de

fronteiras, a política indígena seria integracionista e não segregacionista e o Brasil não teria votado a

favor da Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas.

5 tu Mu, comentarista de Sun tzu.

Page 53: Seminário de Segurança da Amazônia

5151

Para reverter este quadro adverso, há que se trilhar o Caminho de Volta, também com ações suces-

sivas, por meio de um Projeto de Ocupação, Desenvolvimento, Integração, Preservação e Defesa da

Amazônia, de longo prazo, que deveria:

• ser um Projeto de Estado e não de governo;

• incluir um programa de fortalecimento das FA, visando aumentar-lhes a capacidade de dissuasão

em médio prazo, equilibrando-as com as da França e da Grã-Bretanha;

• estabelecer o controle de ONGs e outros atores, inclusive estrangeiros, na região;

• ampliar e acelerar o Programa Calha Norte, com a retomada de sua vertente civil;

• prever estratégias e metas paulatinas, para minimizar as reações internacionais;

• adotar políticas soberanas na questão indígena, de TIs e de preservação ambiental;

• definir os polopolos de desenvolvimento, sua vocação, delimitação e infraestrutura de apoio, com

os incentivos correspondentes, a exemplo da Zona Franca de Manaus; e

• ter como foco beneficiar a toda população brasileira sem distinção.

O mais importante é conscientizar a Nação do significado da Amazônia para o futuro do Brasil e de

nossos descendentes, da nossa responsabilidade para com o legado de patriotismo e heroísmo das

gerações passadas e, também, despertar a vontade nacional para enfrentar com altivez, coesão e cora-

gem as reações internacionais, que serão fortes e violentas se o Eixo julgar necessário, pois age assim

na defesa de seus interesses.

Ama a terra em que nasceste e à qual reverterás na morte. O que por ela fizeres por ti

mesmo farás, que és terra, e a tua memória viverá na gratidão dos que te sucederem.

(Coelho Neto – Mandamentos Cívicos)

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PaineL 1Defesa e presença militar na Amazônia:

articulação das Forças e estratégias de segurança

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55

o minisTério Da DEfEsa E a sEGuranÇa Da amazônia

José Elito Carvalho Siqueira

Introdução

Conjuntura Internacional

O início do século XX marcou o fim dos grandes impérios e a ruptura nas formas de conflitos que até

então se caracterizavam por serem localizados e de longa duração. As chamadas Grandes Guerras

Mundiais redesenharam a estrutura de poder mundial, em especial a europeia, e a forma dos conflitos,

que passaram a ser globais e com o emprego crescente de tecnologia.

Ao fim da I Grande Guerra, quatro grandes poderosos impérios – alemão, russo, austro-húngaro e oto-

mano – tinham sido militar e politicamente derrotados, e os dois últimos, deixado de existir. A União So-

viética emergiu do Império Russo, enquanto o mapa da Europa central foi completamente redesenhado

em numerosos Estados menores. A Liga das Nações foi formada na esperança de evitar outro conflito

desse tipo. O nacionalismo europeu gerado pela guerra, as repercussões da derrota da Alemanha e do

Tratado de Versalhes, acabariam por levar ao início da II Guerra Mundial, em 1939.

A II Guerra Mundial consolidou-se como um conflito global, tendo o seu fim gerado a expectativa de

que uma terceira guerra seria total e devastadora; contudo, a bipolaridade ideológica que emanou do

conflito e o balanço de poder entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas So-

cialistas Soviéticas (URSS) sepultou esse tipo de conflito surgido há apenas meio século.

Page 58: Seminário de Segurança da Amazônia

56

Terminada a guerra, as crescentes tensões entre os Estados Unidos e a União Soviética logo evoluíram

para a formação da OTAN, liderada pelos americanos, e do Pacto de Varsóvia, liderado pelos soviéticos,

dando início à guerra-fria, nova forma de conflito que se estendeu até a queda do muro de Berlim, no

fim do século XX.

Essa nova forma de guerra entre potências passou a ser travada com capilaridade sob a forma de

conflitos regionais ou de guerras civis em várias partes do mundo. Na China, as forças nacionalistas

e comunistas rapidamente retomaram a guerra civil. Na Grécia, a guerra civil eclodiu entre os anglo-

-norte-americanos apoiando as forças monarquistas e forças comunistas. Na América Latina e na Áfri-

ca, guerras civis de intensidades distintas foram travadas sob a influência e patrocínio das potências

dicotômicas. A Coreia foi dividida e ocupada pelas duas potências.

A queda do muro de Berlim marcou o fim da guerra-fria, ensejando uma perspectiva de paz mundial,

porém, observou-se que, embora a guerra total nos pareça improvável, a paz mundial se configura

como uma quimera, posto que os Estados continuaram a dedicar somas consideráveis para a defesa,

mesmo que seja para confrontar as ameaças não-militares que se lhes apresentam.

No mundo pós-Guerra Fria observa-se um aumento no número de confrontos intra-estatais, inter-

-étnicos e inter-religiosos, os quais representam o modelo por excelência do conflito, no alvorecer do

século XXI. Tais conflitos frequentemente ocorrem num contexto de colapso do Estado de Direito e

da impotência das instituições nacionais. Em tais circunstâncias, deve-se temer o crescimento do fenô-

meno de “Estados falidos” e um número crescente de conflitos que acontecem sem nenhum respeito

por normas jurídicas internacionais, tornando qualquer tentativa de mediação por parte de instituições

internacionais extremamente difíceis.

Os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 e as suas uconsequências parecem ter criado um novo

padrão de segurança internacional, de guerra e paz, em que uma aliança de “civilizados”, fariam face

a países que apóiam o terrorismo internacional. Contudo, essa imagem poderia ser qualificada apenas

para evitar a propagação do perigoso (e amplamente refutado) mito de um “choque de civilizações.”

Apesar dos riscos genuínos do terrorismo internacional e as tensões e desequilíbrios que cria, devemos

lembrar que nessa nova situação não são abolidos os riscos que havia antes: ela simplesmente se so-

brepõe a eles.

Page 59: Seminário de Segurança da Amazônia

5757

A intolerância, a xenofobia, o racismo e a discriminação estão ressurgindo, algumas vezes com violên-

cia e até mesmo segundo certa moda genocida; seus praticantes as justificam com base na afiliação

religiosa, nacional, cultural e linguística. Observa-se uma tendência para a globalização do terrorismo e

do crime organizado, massacres e enormes violações dos direitos humanos, o crescimento das guerras

ilegais e o aumento da violência na sociedade.

Em vista da crescente interdependência política, econômica, financeira, os fenômenos sociais e am-

bientais, as Nações Unidas sentem-se compelidas a incluir de forma mais sistemática, entre os seus

domínios de competência, essas ameaças que põem em risco a segurança humana: a degradação do

ambiente e das condições de vida; os problemas da população; as rivalidades étnicas e culturais; e to-

das as formas de violações dos direitos humanos.

Observa-se, assim, que as ameaças à paz e à segurança já não são de natureza exclusivamente militar.

Nas últimas décadas tem crescido a conscientização, tanto em nível nacional quanto internacional, das

incertezas e complexidade e das diferentes dimensões de paz e segurança

Os Estados e instituições internacionais devem ser dinâmicos – portanto, devem estar com suas Forças

prontas e capazes de realizar ações múltiplas e operações assimétricas.

Conjuntura Sul-americana

O ambiente sul-americano sofreu todas as influências dos conflitos do século XX. Embora tenha parti-

cipado de forma modesta das Grandes Guerras, a América do Sul esteve sob consideráveis influências

durante todo o período da guerra-fria, através de conflitos internos de viés ideológico. Esses conflitos

foram incentivados, promovidos, patrocinados por potências antagônicas que buscavam preservar ou

ampliar suas influências ideológicas legando à região focos de instabilidade política.

O fim da Guerra Fria entre os principais protagonistas e o aparecimento de novos atores causado-

res de insegurança mundial não representou, para a América do Sul, o fim dos conflitos ideológicos.

A continuidade desses conflitos, aliados aos novos atores, vem causando insegurança e instabilidade

para a região.

Page 60: Seminário de Segurança da Amazônia

58

Observa-se que a América do Sul, a despeito da instabilidade política recrudescente, não vem sofrendo,

de forma considerável, influência dos principais atores da insegurança mundial. Apesar de o narcotrá-

fico e o crime organizado permearem alguns países da região, o terrorismo e os conflitos étnicos e

religiosos ainda são incipientes.

A América do Sul abriga 6% da população mundial, tem cerca de 380 milhões de habitantes é autossu-

ficiente na produção de energia, possui 25% de terras agricultáveis e detém 25% das reservas de água

doce. Possui, ainda, abundantes recursos naturais e minerais raros e preciosos. O potencial agropecuá-

rio pode, no futuro, alimentar e fornecer energia de forma sustentável para outros continentes. Apesar

desses recursos, tornou-se uma região de contrastes com instabilidade social e vazios demográficos que

comprometem a segurança interna e aguçam a cobiça extracontinental.

Além dos abundantes recursos naturais, a América do Sul vem se tornando atrativa por seu mercado

consumidor, avanços tecnólogos crescentes e economia em ebulição, em contrapartida à estagnação

ocorrida em regiões mais desenvolvidas.

Conjuntura Nacional

O Brasil ocupa quase a metade da superfície da América do Sul (47%), possui metade da população do

continente, é dotado de considerável reserva de água doce e vastidão de terras agricultáveis. Dispõe,

ainda, de matriz energética variada com participação significativa em fontes renováveis, a despeito das

enormes reservas de combustíveis fosseis que o tornam autossuficiente em energia.

Sendo o quinto maior país em superfície, ocupa posição central da América do Sul e tem fronteira

com quase todos os países do continente, o que representa 16.880 km de fronteira terrestre, com dez

países, e 7.500 km de litoral. Abriga consideráveis riquezas minerais, no continente e na plataforma, e

possui condições energéticas, água doce e alimentação, no Atlântico e no continente, que escasseiam

em quase a totalidade dos outros países do planeta. Apesar de essas riquezas naturais garantirem a au-

tossuficiência do Brasil para os anos vindouros, não garantem a utranquilidade e a paz, haja vista que,

por estarem se tornando escassos em regiões mais desenvolvidas, estão atraindo interesses escusos, o

que indica a necessidade de prontidão permanente para a defesa do País e de suas riquezas.

Page 61: Seminário de Segurança da Amazônia

5959

O Brasil, que participou do período das grandes guerras consolidando sua posição democrática e de-

monstrando o valor de seus soldados, também sofreu influências da Guerra Fria através conflitos ideoló-

gicos internos. Porém, emergiu ao seu fim, com estabilidade política e sem focos significativos de tensão

ideológica.

Apesar dessa tranquilidade, alguns países da região passam por instabilidade social e tensões ideoló-

gicas, o que pode repercutir na segurança e integridade de nossas fronteiras. Essa instabilidade, asso-

ciada aos novos atores da insegurança mundial (crime organizado, narcotráfico, terrorismo e conflitos

étnicos religiosos), podem produzir ameaças localizadas à nossa segurança.

Além dessa insegurança, conforme já comentado, as riquezas do mar territorial, da plataforma con-

tinental e do continente brasileiro, aliadas aos vazios demográficos, têm ensejado investidas à nossa

soberania por outras potências, por meio de atores não governamentais.

Amazônia – Potencial e Ameaças

A Amazônia brasileira, maior parcela de nosso território, caracteriza-se pela abundância de seus recur-

sos naturais e pelo estado de preservação desses recursos. Área imensa, com mais de 4 milhões de km²,

possui baixa densidade demográfica com aproximadamente 2 h/km².

Embora não seja o objetivo deste artigo enumerar as riquezas da Amazônia, tampouco referenciar a

sua importância ecológica e seu potencial energético, hídrico, agrícola e turístico, que são sobejamente

conhecidos, convém alertar para a cobiça internacional ensejada por essa abundância.

Dotada de valor imensurável, a Amazônia brasileira sofre, há séculos, investidas cobiçosas, ora manifes-

tadas através de declarações de líderes de potências mundiais, ora por ações de, não menos poderosos,

organismos não governamentais, os quais, não raro, representam interesses daquelas potências. Essas

ameaças são, também, de conhecimento universal.

A defesa da Amazônia brasileira é dificultada por sua posição geográfica, pelo vazio demográfico e por

sua precária infraestrutura. Assim, as ações para sua segurança vão muito além do emprego do poder

Page 62: Seminário de Segurança da Amazônia

60

militar, haja vista que as ameaças à nossa soberania naquela região vem sendo perpetrada de diversas

maneiras e por distintos atores, com emprego de meios que extrapolam o emprego de tropa.

Dessa forma, o Brasil precisará estar preparado para defender-se, não somente das agressões, mas tam-

bém das ameaças. Vive-se em um mundo em que a intimidação tripudia sobre a boa-fé. Nada substitui

o envolvimento do povo brasileiro no debate e na construção da sua própria defesa.

Estratégia Nacional de Defesa (END)

O presidente da República, atento para a crescente participação brasileira no contexto mundial e a

uconsequente necessidade de o Brasil tornar-se participante ativo, criou um Comitê Interministerial

para desenvolver uma Estratégia de Defesa para a Nação. Considerou-se,ainda, a necessidade de prote-

germos os valores da sociedade e os incalculáveis recursos naturais, e de preservarmos e incentivarmos

nossa capacitação tecnológica.

O referido comitê produziu a Estratégia Nacional de Defesa (END), documento de Estado que visa a

promover o debate sobre o tema e o envolvimento de toda a sociedade brasileira. Desta forma, definiti-

vamente, o tema defesa deixou de restringir-se ao meio militar brasileiro e passou a percorrer os campi

universitários, os escritórios dos empresários, as sedes das federações e os gabinetes dos demais órgãos

governamentais. Defesa passou a ser responsabilidade de todos os brasileiros.

Eixos Estruturantes

A END objetiva modernizar a estrutura nacional de defesa atuando em três eixos estruturantes: reorga-

nização das Forças Armadas, reestruturação da indústria brasileira de material de defesa e política de

composição dos efetivos das Forças Armadas.

O primeiro eixo estruturante orienta as ações visando ao equipamento e à articulação das Forças Ar-

madas e determina a priorização para a defesa da Amazônia e à capacitação operacional das Forças.

Page 63: Seminário de Segurança da Amazônia

6161

As ações já desenvolvidas pelas Forças no sentido de equipar e articular seus meios de acordo com as

orientações da END serão tratadas em capítulo específico.

O segundo eixo estruturante, que se refere à reorganização da indústria nacional de material de defe-

sa, estabelece as premissas para atendimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas

apoiado em tecnologias sob domínio nacional. Desta premissa destacam-se os aspectos a seguir dis-

corridos.

Não há defesa sem desenvolvimento, tampouco desenvolvimento sem defesa. Ciente dessa certeza,

o Estado brasileiro, baseado na END, envidará esforços no sentido de reestruturar a base industrial de

material de defesa como propósito assegurar que o atendimento das necessidades de equipamento

das Forças Armadas apoie-se em tecnologias sob domínio nacional, priorizando o desenvolvimento

de capacitações tecnológicas independentes. Esse será um fator condicionante para as parcerias com

países e empresas estrangeiras, sob a orientação de que não haja aquisição de produtos estrangeiros

sem uma parceria que garanta a transferência de tecnologia.

Visando à necessidade estratégica de independência tecnológica, a END determina a reorganização

do regime legal, regulatório e tributário da indústria nacional de material de defesa para que reflita tal

necessidade. Assim está sendo proposto regime legal, regulatório e tributário especial para a indústria

nacional de material de defesa.

Nesse sentido foi determinada aos Ministérios da Defesa; Fazenda; Desenvolvimento, Indústria e Co-

mércio Exterior; Planejamento, Orçamento e Gestão; Ciência e Tecnologia e à Secretaria de Assuntos

Estratégicos a atualização Política Nacional da Indústria de Defesa; e aos ministérios da Defesa e Ciência

e Tecnologia a atualização da Política de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa Nacional, cor-

roborando a intenção de envolver toda a sociedade com a Defesa Nacional e com o desenvolvimento

de produtos de defesa.

O terceiro eixo estruturante versa sobre a composição dos efetivos das Forças Armadas, que repercute

no futuro do Serviço Militar Obrigatório com a finalidade de zelar para que as Forças Armadas reprodu-

zam, em sua composição, a própria Nação. O Serviço Militar Obrigatório é condição para que se possa

mobilizar o povo brasileiro em defesa da soberania nacional. É, também, instrumento para afirmar a

unidade da Nação acima das divisões das classes sociais.

Page 64: Seminário de Segurança da Amazônia

62

Diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa

A seguir são transcritas algumas diretrizes da END que orientam a articulação, o equipamento e o pre-

paro das Forças voltadas às capacitações operacionais de cada uma delas:

1. Dissuadir a concentração de forças hostis nas fronteiras terrestres, nos limites das águas jurisdi-

cionais brasileiras, e impedir-lhes o uso do espaço aéreo nacional. Para dissuadir, é preciso estar

preparado para combater. A tecnologia, por mais avançada que seja jamais será alternativa ao

combate. Será sempre instrumento do combate.

2. Organizar as Forças Armadas sob a égide do trinômio monitoramento/controle, mobilidade e

presença. Esse triplo imperativo vale, com as adaptações cabíveis, para cada Força. Do trinômio

resulta a definição das capacitações operacionais de cada uma das Forças.

3. Desenvolver as capacidades de monitorar e controlar o espaço aéreo, o território e as águas

jurisdicionais brasileiras. Tal desenvolvimento dar-se-á a partir da utilização de tecnologias de mo-

nitoramento terrestre, marítimo, aéreo e espacial que estejam sob inteiro e incondicional domínio

nacional.

4. Desenvolver, lastreado na capacidade de monitorar/controlar, a capacidade de responder pronta-

mente a qualquer ameaça ou agressão: a mobilidade estratégica.

A mobilidade estratégica – entendida como a aptidão para se chegar rapidamente ao teatro de opera-

ções – reforçada pela mobilidade tática – entendida como a aptidão para se mover dentro daquele te-

atro – é o complemento prioritário do monitoramento/controle e uma das bases do poder de combate,

exigindo das Forças Armadas ação que, mais do que conjunta, seja unificada.

Setores Estratégicos

Foram selecionados três setores considerados estratégicos para a defesa e o desenvolvimento nacional,

conforme se observa no seguinte texto da END.

Três setores estratégicos – o espacial, o cibernético e o nuclear – são essenciais para a defesa nacional.

Page 65: Seminário de Segurança da Amazônia

6363

Nos três setores, as parcerias com outros países e as compras de produtos e serviços no exterior devem

ser compatibilizadas com o objetivo de assegurar espectro abrangente de capacitações e de tecnolo-

gias sob domínio nacional.

A primeira prioridade do Estado na política dos três setores estratégicos será a formação de recursos

humanos nas ciências relevantes.

Visando à priorização de recursos e à maximização dos meios, o Ministério da Defesa elegeu uma Força

responsável para cada setor estratégico. A essa Força caberá, conjuntamente com as demais e sob a

supervisão do MD, a coordenação de todas as ações que visem ao desenvolvimento do setor estraté-

gico que lhe coube. Assim, o setor nuclear coube à Marinha do Brasil; o setor cibernético, ao Exército

Brasileiro; e à Força Aérea Brasileira coube o setor espacial.

Reestruturação do Ministério da Defesa (MD)

Após dez anos de sua criação, o Ministério da Defesa está sofrendo uma reestruturação em virtude

da necessidade de modernização face aos novos desafios para defesa nacional e para se adequar às

imposições da END. Dentre as modificações propostas, destacam-se as que seguem.

A criação do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), órgão de direção geral do Ministério

da Defesa, terá como encargo principal conduzir as ações que dizem respeito à atividade fim do Minis-

tério da Defesa. Para tanto, integrará e coordenará as ações do Estado-Maior de Defesa; da Secretaria

de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais; e da Secretaria de Ensino, Logística, Mobilização,

Ciência e Tecnologia. Esses três órgãos, que estarão sob a coordenação do EMCFA, manterão suas

atribuições atuais com algumas alterações e serão chamados respectivamente de Chefia de Preparo e

Emprego; Chefia de Assuntos Estratégicos e Chefia de Logística. Seus chefes serão oficiais-generais da

ativa do último posto.

O EMCFA será o órgão de direção geral do MD, e seu chefe será o servidor de maior precedência no

Ministério da Defesa. Será chefiado por um oficial-general do último posto, da reserva remunerada,

Page 66: Seminário de Segurança da Amazônia

64

que será nomeado da mesma forma e terá mesmo nível dos Comandantes das Forças, contudo, com

menor precedência que esses e com maior precedência que todos os oficiais-generais das três Forças.

Será criada a Secretaria de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto, que conduzirá as atividades nominadas

que até então estavam dispersas por outras secretarias do Ministério da Defesa.

Será também criada a Secretaria de Produtos de Defesa, que conduzirá Política de Compras de Produtos

de Defesa e a Política Nacional da Indústria de Defesa; supervisionará as ações inerentes ao controle

das importações e exportações de produtos de defesa e as atividades de tecnologia industrial básica.

Acompanhará as atividades de ciência, tecnologia e inovação visando à industrialização de novos pro-

dutos de defesa e supervisionará as atividades do Sistema Militar de Catalogação.

A Escola Superior de Guerra permanecerá diretamente subordinada ao Ministro de Estado da Defesa,

exercendo as competências estabelecidas no decreto que aprova o seu regulamento; contudo, será

desmembrada em dois campi:O campus Rio de Janeiro e o campus Brasília.

Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED)

O Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED), atendendo a imposições da END de reposi-

cionar os efetivos das três Forças e adensar a presença de unidades do Exército, da Marinha e da Força

Aérea nas fronteiras apresenta planejamentos de curto, médio e longo prazos de articulação e equipa-

mento da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, levando em consideração a possibilidade de emprego

em cumprimento à destinação constitucional.

O PAED considerou a necessidade de racionalidade administrativa, de coordenação de projetos comuns

de cooperação entre as Forças e prioriza a região amazônica, que representa um dos focos de maior

interesse para a Defesa. Com essa visão de futuro, o presidente da República, como parte das políticas

governamentais, estabeleceu, para a área de defesa, por meio da END, a região amazônica como área

prioritária. A defesa da Amazônia passa pelo trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença,

contemplados no Plano.

Page 67: Seminário de Segurança da Amazônia

6565

O adensamento de meios em nossas fronteiras, particularmente na região amazônica, área prioritária,

apoiado por uma estrutura logística compatível, foi definido e considerado no planejamento da arti-

culação das Forças, conforme determinado, sem que se descurasse da proteção dos centros políticos

e econômicos do País e das demais áreas.

Na região amazônica, as Forças Armadas, ao longo de nossa história, têm estado presentes e desem-

penhado papel relevante na sua proteção, unidade, integração e desenvolvimento, contribuindo com

a construção de estradas, postos de saúde, ensino presencial e a distância de qualidade, assistência

médica às populações locais, vivificação de fronteiras e apoio a outros órgãos governamentais, entre

outra ações, paralelamente ao cumprimento de sua destinação constitucional.

Hoje, as pressões decorrentes das demandas internacionais, particularmente as referentes a alimentos,

água, energia, matérias-primas e proteção ao meio ambiente têm moldado os cenários político-estra-

tégicos, e seguirão influenciando-os, certamente, com mais intensidade.

Marinha do Brasil

A prioridade para a Marinha é assegurar os meios para negar o uso do mar a qualquer concentração

de forças inimigas que se aproxime do Brasil por via marítima. A negação do uso do mar ao inimigo é

sua prioridade e tem implicações para a reconfiguração das forças navais.

Faz parte ainda de sua reconfiguração capacitar-se para defesa proativa das plataformas petrolíferas,

das instalações navais e portuárias, dos arquipélagos e das ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais

brasileiras.

Com esses objetivos, a Marinha, em linhas gerais, direcionou seus esforços de articulação e equipamen-

tos para a criação da 2ª Esquadra e a modernização da 1ª Esquadra, para o incremento das Forças na

Amazônia e na Região Centro-Oeste e para a criação do Sistema de Monitoramento da Amazônia Azul.

Especificamente para a Amazônia, há a previsão da implantação de Batalhões de Operações Ribeirinhas

e Organizações Militares de Apoio.

Page 68: Seminário de Segurança da Amazônia

66

Exército brasileiro

O Exército brasileiro deverá cumprir sua destinação sob a orientação dos conceitos estratégicos de

flexibilidade e de elasticidade.

A flexibilidade inclui os requisitos estratégicos de monitoramento/controle e de mobilidade que se tra-

duz pela capacidade de se fazer presente (mobilidade) à luz da informação (monitoramento/controle).

O Exército, em síntese, centrou seu plano na criação, no reposicionamento e na transformação de

Brigadas, na criação de unidades de helicópteros, na instalação de um sistema integrado de monito-

ramento da fronteira e no posicionamento de novos pelotões de fronteira na Amazônia e em outras

regiões de fronteira.

Especificamente para a Amazônia, pretende a Modernização e a Implantação de Brigadas; Implantação

de Unidades da Aviação do Exército, Implantação de Sistema de Monitoramento de Fronteiras, Moder-

nização do Comando Militar de Área e Implantação e Modernização de Pelotões Especiais de Fronteira.

Força Aérea brasileira

A missão da Força Aérea brasileira orienta-se por quatro objetivos estratégicos, que estão encadeados

em determinada ordem, e cada um condiciona a definição e a execução dos objetivos subsequuentes.

São eles: a prioridade da vigilância aérea, o poder para assegurar superioridade aérea local, a capaci-

dade para levar o combate a pontos específicos do território nacional e o pleno domínio do potencial

aeroestratégico.

Na busca dessas capacidades, seu plano contempla a modernização dos meios aéreos, a criação e o

reposicionamento de bases e unidades aéreas, modernização do sistema de controle do espaço aéreo

e incremento de sua capacidade em apoiar o desdobramento imediato das unidades de emprego es-

tratégico da Marinha e do Exército.

Especificamente para a Amazônia pretende a Implantação e Relocação de Unidades Aéreas; Criação de

Pistas Alternativas e de Desdobramento e Ampliação da Cobertura Radar.

Page 69: Seminário de Segurança da Amazônia

6767

Papel do Ministério da Defesa

Missão

O Ministério da Defesa tem por missão principal o planejamento e o emprego conjunto das Forças

Armadas, sob a autoridade suprema do presidente da República, em operações destinadas à defesa da

Pátria e à garantia dos poderes constituídos, da lei e da ordem. Cabe-lhe também conduzir o processo

de aperfeiçoamento da Estrutura de Defesa brasileira.

Principais ações

Conforme sua missão, ao Ministério da Defesa cabe coordenar ações no sentido do preparo e emprego

conjunto das Forças Armadas que devem ser orientadas para atuar no cumprimento de variadas mis-

sões, em diferentes áreas e cenários, face a ameaças incertas, pois não se vislumbram ações militares

concretas e definidas, representadas por forças antagônicas de países potencialmente inimigos ou de

outros agentes não-estatais.

Dessa forma, as Forças Armadas deverão ser equipadas, articuladas e adestradas, desde os tempos de

paz, segundo as diretrizes do Ministério da Defesa, realizando exercícios singulares e conjuntos.

O agente institucional para esse trabalho unificado será a colaboração entre os Estados-Maiores das

Forças com o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, no estabelecimento e definição das linhas

de frente de atuação conjunta.

Assim, o Ministério da Defesa será o responsável pela condução de operações conjuntas visando ao

cumprimento da destinação constitucional das Forças Armadas; portanto, é primordial que os plane-

jamentos estratégicos, operacionais e táticos sejam conduzidos para contemplar todas as hipóteses de

emprego, sejam as destinadas à defesa da integridade e da soberania nacional, sejam as destinadas á

garantia da lei e da ordem. É necessário também o planejamento para condução conjunta de ações

humanitária de apoio à população em calamidades e em missões de paz.

Page 70: Seminário de Segurança da Amazônia

68

Sobre hipóteses de emprego a Estratégia Nacional de Defesa traz:

As Hipóteses de Emprego são provenientes da associação das principais tendências de evolução das

conjunturas nacional e internacional com as orientações político-estratégicas do País.

Entende-se por “Hipótese de Emprego” a antevisão de possível emprego das Forças Armadas em deter-

minada situação ou área de interesse estratégico para a defesa nacional. É formulada considerando-se

o alto grau de indeterminação e imprevisibilidade de ameaças ao País.

Com base nas hipóteses de emprego, serão elaborados e mantidos atualizados os planos estratégicos e

operacionais pertinentes, visando possibilitar o contínuo aprestamento da Nação como um todo, e em

particular das Forças Armadas, para emprego na defesa do País.

Conclusão

Concluindo o presente artigo, convém destacar a constatação de que o Ministério da Defesa se tornou

órgão básico de preparo das capacitações das Forças Armadas e para o planejamento e execução das

operações conjuntas baseadas nas Hipóteses de Emprego.

A Amazônia brasileira, que historicamente despertou a cobiça internacional, vem sofrendo com um

crescimento nas manifestações e ações, inclusive nacionais, que podem comprometer nossa soberania

na região. Desta forma, para preservarmos seus incalculáveis recursos naturais e para que o Brasil man-

tenha de forma incontestável sua soberania na região, a defesa da Amazônia será, sempre, prioridade

em qualquer análise de defesa do Brasil.

A Estratégia Nacional de Defesa, primeiro documento de Estado da Nação, veio colocar a Defesa na

agenda nacional e, a partir dela, as ações empresariais, governamentais e das Forças Armadas, pas-

saram a ter uma direção comum e bem definida para a defesa do Brasil e, em especial, a defesa da

Amazônia brasileira.

Page 71: Seminário de Segurança da Amazônia

6969

O Brasil é hoje uma potência estratégica que possui recursos naturais fundamentais para a humanidade

no século XXI e que passou a ocupar uma posição de destaque no contexto internacional. Desta forma,

é essencial que disponha de Forças Armadas preparadas e equipadas, à altura de sua estatura mundial.

Referências

ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA (END)

(Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008)

PLANO DE ARTICULAÇÃO E EQUIPAMENTO DE DEFESA (PAED)

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71

loGísTica na amazônia ociDEnTal: o suPrimEnTo E o TransPorTE

Luiz Alberto Martins Bringel

Introdução

O tema logística ganhou grande destaque nos últimos vinte anos com a elevação da concorrência

comercial e a necessidade de redução dos custos operacionais das empresas. Para isso, procurou-se

otimizar a previsão, a obtenção e o provimento das necessidades dos consumidores e clientes, gerando

redução do capital imobilizado, aprimorando a utilização do tempo e atendendo-os no momento e no

local adequados e com o produto ou serviço correto.

As características do local onde a logística é desenvolvida interferem diretamente no seu planejamento.

O planejamento logístico é ditado, principalmente, pelos meios de transporte, pelas condições das vias de

transporte, pela disponibilidade de fornecedores e pela existência de mercado consumidor.

A Amazônia Ocidental é uma região na qual as características supracitadas adquirem aspectos peculia-

res. Essa região compreende os Estados de Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima e caracteriza-se pelos

grandes vazios demográficos, pelo afastamento dos grandes centros produtores nacionais, por possuir

a maior bacia fluvial e a maior floresta tropical do mundo, pelo clima equatorial, quente e úmido, pela

constância de chuvas abundantes ao longo do ano, pelas grandes distâncias entre os centros urbanos,

pela parca malha rodoviária e pelo número reduzido de fornecedores (BRASIL, 2010).

A 12ª Região Militar, “Região Mendonça Furtado” é o Grande Comando Logístico responsável pelo

apoio logístico às unidades e subunidades existentes na Amazônia Ocidental, tendo por missão:

Page 74: Seminário de Segurança da Amazônia

72

apoiar, administrativa e logisticamente, as Organizações Militares do Comando Militar da Amazônia,

nos Estados do Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre, estando em condições de propiciar a evolução

de um Comando Logístico de Teatro de Operações / Área de Operações, quando ativada a Estrutura

Militar de Defesa. Ainda, coordenar e executar, em tempo de paz, as atividades de preparação para

mobilização. (BRASIL, 2009)

A 12ª RM tem encontrado uma série de óbices na busca de aprimorar o apoio logístico às Organizações

Militares (OM) existentes em sua área de responsabilidade (Figura 1). A existência desses óbices vem

motivando o desenvolvimento de diversos estudos para aprimorar as funções logísticas de manuten-

ção, saúde, pessoal, salvamento, transporte e suprimento. As duas últimas funções citadas, pela com-

plexidade e importância, tornaram-se o foco deste estudo, levando a formulação do seguinte proble-

ma: Quais são os principais óbices existentes no desenvolvimento das funções logísticas de suprimento

e transporte em apoio às OM localizadas na área da 12ª RM?

Figura 1: Área de responsabilidade da 12ª RMfonte: elaboração própria.

Page 75: Seminário de Segurança da Amazônia

7373

A determinação dos óbices existentes no apoio logístico nas áreas de transporte e suprimento permitirá

o estabelecimento de ações concretas para atenuá-los. Isto redundará no aprimoramento da logística

e no melhor apoio às OMs localizadas na Amazônia Ocidental.

Metodologia

O presente artigo tem por objetivo geral identificar os principais óbices para o apoio logístico às OM da

Amazônia Ocidental nas funções de suprimento e transporte. Para atingir este objetivo, foram estabe-

lecidos os seguintes objetivos intermediários:

1. analisar as características da Amazônia Ocidental que interferem no suprimento e transporte;

2. analisar as necessidades e características das OM da Amazônia Ocidental no tocante ao transpor-

te e ao suprimento;

3. estudar a função logística suprimento; e

4. estudar a função logística transporte.

Como respostas ao problema de pesquisa, foram estabelecidas as seguintes situações:

1. a reduzida disponibilidade de fornecedores capacitados na região e a incorreta descentralização

de créditos ao longo do ano para aquisição dos suprimentos são os principais óbices ao apoio na

função logística de suprimento; e

2. a dependência da Força Aérea Brasileira (FAB) com reduzida disponibilidade de horas de voo (HV)

e de aeronave, a pequena disponibilidade de meios de transporte no 12º Batalhão de Suprimento

(12º BSup) e no Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia (CECMA) e a falta

de meios adequados nas OM apoiadas são os principais óbices ao apoio na função logística de

transporte.

Da análise da primeira situação, surgem como variáveis os fornecedores capacitados e a descentrali-

zação de créditos. Com relação à segunda situação, verifica-se a existência das seguintes variáveis: a

dependência da Força Aérea Brasileira, a disponibilidade e a falta de meios de transporte.

Page 76: Seminário de Segurança da Amazônia

74

Entende-se por:

1. Fornecedores capacitados – todas as empresas cadastradas no Sistema de Cadastro de Fornece-

dores (SICAF) que possam produzir e entregar algum tipo de suprimento de interesse da 12ª RM,

cumprindo as exigências do edital de licitações.

2. Descentralização de crédito – a transferência de crédito de alguma Diretoria para o Comando da

12ª RM por meio de uma Nota de Crédito (NC) para aquisição de suprimentos.

3. Dependência da FAB – a única opção para o transporte militar de suprimentos para algumas loca-

lidades.

4. Disponibilidade de meios de transporte – a existência de meios de transporte nos órgão apoiadores

(CECMA e 12º BSup) na quantidade necessária para atender as necessidades das OM apoiadas.

5. Falta de meios de transporte – a ausência de tipos de embarcação ou viaturas adequadas ao trans-

porte de pessoal e/ou material na Amazônia Ocidental.

A pesquisa realizada é aplicada, pois se destina a produzir conhecimentos que serão aplicados no apri-

moramento da logística na Amazônia Ocidental; é descritiva, buscando descrever o relacionamento

das variáveis e é bibliográfica e documental, visto que foi realizada uma revisão de literatura a respeito

das variáveis, bem como a análise documental de relatórios da Seção de aquisições e contratos da

12ª RM.

Para coleta de dados foram buscados artigos, dissertações e teses nas bases de dados da Biblio te ca

Digital da Universidade de São Paulo, da Biblioteca Digital da Universidade de Campinas, da Biblio-

teca Digital de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

(IBICT), do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(Capes), bem como documentos diversos encontrados no site de pesquisa Google.

Função Logística Suprimento

A 12ª RM tem por incumbência planejar, adquirir, receber, armazenar, controlar, lotear, distribuir e fis-

calizar os suprimentos organizados em classes, para as OM da Amazônia Ocidental.

Page 77: Seminário de Segurança da Amazônia

7575

Organização

Para que essa complexa missão de suprir as tropas da Amazônia Ocidental seja cumprida, o Comando

da 12ª RM, dispõe do Centro de Coordenação e Controle Logístico (CCCL/12), do Escalão Logístico (Esc

Log/12) e do Escalão Administrativo.

Cabe ao CCCL/12 a coordenação e o planejamento da função logística suprimento, bem como a for-

mulação de doutrinas voltadas para essa atividade. O desenvolvimento de sistemas que permitam uma

maior agilidade no trâmite das informações e do controle dos diversos processos que envolvem a cadeia

de suprimento são atividades constantes no CCCL/12, fazendo surgir o Sistema Integrado de Informa-

ções Logísticas (SILOG) como ferramenta de tecnologia, assegurando a promoção da melhoria da gestão

logística.

O Esc Log/12 é o órgão central da logística de suprimento da 12ª RM. Ele é responsável pela execução,

controle e fiscalização da logística de suprimento. Nenhum material é distribuído, consumido, descar-

regado, recebido, doado ou transferido sem o conhecimento ou aval do Esc Log/12. Está estruturado

em seções, conforme as classes de suprimento existentes (Seção de Suprimento Classe I, Seção de

Suprimento Classe II, e assim sucessivamente). Para facilitar a coordenação, o controle e a distribuição,

o suprimento é organizado em classes, sendo que cada classe corresponde a itens da mesma natureza,

mesmo emprego ou que tenham afinidades, conforme descrição abaixo:

• Classe I – Artigos de subsistência (alimentação);

• Classe II – Material de Intendência (fardamento, material de campanha, material de alojamento,

mobiliário etc.)

• Classe III – Combustíveis e lubrificantes;

• Classe IV – Material de construção;

• Classe V – Armamento e munição;

• Classe VI – Material de engenharia (embarcações, geradores, motores de popa etc.);

• Classe VII – Material de comunicações e eletrônica;

• Classe VIII – Material de saúde;

• Classe IX – Material de moto-mecanização;

Page 78: Seminário de Segurança da Amazônia

76

• Classe X – Material não enquadrado nas classes anteriores (cartas, fotografias aéreas etc.).

O Esc Log/12 também tem como incumbência o levantamento das necessidades de suprimentos a ser

adquiridos pelo Escalão Administrativo mediante abertura de processos licitatórios.

Os outros verbos que compõem a missão da 12ª RM no que diz respeito à função logística suprimento

(receber, armazenar, lotear e distribuir) são executados principalmente pelo 12º BSup, Órgão Provedor

(OP) situado em Manaus (AM) e organização militar diretamente subordinada (OMDS) ao Comando da

12ª RM.

Há outros OP na área da Amazônia Ocidental que também participam da cadeia de suprimento, dentro

dos seus respectivos escalões, embora não sejam OMDS da Região Militar. Estes OP recebem a denomi-

nação de bases logísticas (Ba Log) e exercem, com limitações e em menor escala, as mesmas funções

do Batalhão de Suprimento. As Ba Log são subordinadas aos Comandos de Brigada de Selva e estão

assim distribuídas no território amazônico:

• 1ª Ba Log, pertencente à 1ª Brigada de Infantaria de Selva (1ª Bda Inf Sl) localizada em Boa Vista-

-RR;

• 16ª Ba Log Sl, orgânica da 16ª Brigada de Infantaria de Selva (16ª Bda Inf Sl) de Tefé-AM; e

• 17ª Ba Log Sl, subordinada à 17ª Brigada de Infantaria de Selva (17ª Bda Inf Sl) localizada na ca-

pital de Rondônia, Porto Velho-RO.

Embora haja quatro brigadas na área abrangida pela 12ª RM, existem apenas três bases logísticas, uma

vez que a 2ª Brigada de Infantaria de Selva, sediada em São Gabriel da Cachoeira (AM), não possui,

ainda, uma estrutura especializada no apoio logístico.

A figura 2 ilustra de forma resumida a organização da 12ª RM para o apoio de suprimento às OM da

Amazônia Ocidental:

Page 79: Seminário de Segurança da Amazônia

7777

Figura 2: Organização da 12ª RM fonte: elaboração própria.

Obtenção e fluxo do suprimento

O suprimento, em tempo de paz, pode ser obtido por aquisição centralizada ou descentralizada.

A aquisição centralizada é aquela realizada principalmente pelos Órgãos de Direção Setorial (ODS) do

Exército, sediados em Brasília, de acordo com a figura 3:

ODs Diretoria Tipo de suprimento Observação

Comando Logístico (COLOG)

Diretoria de Suprimento

(D Abst)

Classes I, II, III (combustível) e

V (munição)-

Diretoria de Material

(D Mat)

Classes III (lubrificantes), V

(armamento) e IX

Nas classes V e IX apenas

material de emprego militar

(MEM)

Departamento de Ciência e

Tecnologia (DCT)

Centro de Comunicações

e Eletrônica do Exército

(CComGEx)

Classe VII Somente MEM

Departamento de Engenharia

e Construção

Diretoria de Material de

Engenharia

(DME)

Classes IV e VIDME – Órgão em

implantação

Departamento Geral de

PessoalDiretoria de Saúde Classe VIII -

Figura 3: Órgãos de direção setorial fonte: elaboração própria.

Page 80: Seminário de Segurança da Amazônia

78

A aquisição centralizada de MEM, embora executada pelos ODS, juntamente com suas respectivas Di-

retorias subordinadas, é planejada e coordenada pelo Estado-Maior do Exército. Cabe também a esse

Órgão de Direção Geral definir a distribuição dos MEM para as OM do Exército Brasileiro, conforme

seus Quadros de Dotação de Material (QDM).

As aquisições descentralizadas são aquelas feitas pela própria Região Militar ou pelas suas OMDS. Atual-

mente, a 12ª RM adquire suprimento das classes I, II, III (lubrificantes), VI, VII e IX.

O suprimento adquirido de forma centralizada geralmente é estocado nos OP da Base de Apoio Logísti-

co do Exército (Ba Ap Log) – o 1º Depósito de Suprimento (1º D Sup) e o Depósito Central de Munição

do Exército (DCMun), por exemplo – e transportado até Manaus- AM pelo Estabelecimento Central

de Transportes (ECT), OMDS da B Ap Log, ou pelos navios da Marinha do Brasil. O ECT realiza esse

transporte três vezes ao ano, podendo também realizá-lo eventualmente quando solicitado. O apoio

da Marinha é realizado semestralmente.

O material adquirido pela 12ª RM é depositado no 12º BSup, que, por sua vez, confere, recebe, loteia

e distribui o suprimento para as OM, a exemplo do que é feito com o material oriundo de aquisições

centralizadas.

A esquematização (figura 4) ilustra o fluxo de suprimento descrito anteriormente:

Figura 4: Fluxo de suprimentofonte: elaboração própria.

Fornecedores

Aquisição descentralizada

Depósito – 12º Batalhão de Suprimento

Aquisição centralizada Órgão de Direção

Organização

Transporte – Estabelecimento Central de Transporte/Marinha

Depósito – Base de Apoio Logístico

Page 81: Seminário de Segurança da Amazônia

7979

LIMITAÇÕES

As dificuldades encontradas na atividade logística de suprimento são típicas da área geográfica em que

atua a 12ª RM. A imensidão amazônica, com suas peculiaridades, constitui um desafio constante para

todos os profissionais que labutam na logística. Alguns fatores relacionados às características da região

Amazônica condicionam de forma determinante a atividade logística de suprimento na 12ª RM, dos

quais destacam-se os seguintes:

a. Grandes distâncias, acarretando a necessidade de manutenção da regularidade na aquisição dos

suprimentos, bem como na respectiva distribuição. Esse aspecto é agravado devido à dispersão e

isolamento das unidades militares, tornando complexo o apoio logístico.

b. Aliado ao fator anteriormente citado, tem-se a dependência do apoio da FAB e dos meios fluviais

para a distribuição do suprimento.

c. Escassez de recursos locais (menos grave em Manaus e Porto Velho). O suprimento, em quase sua

totalidade, é fornecido pelas empresas do centro-sul do País, haja vista que a economia regional

ainda é incipiente em muitos aspectos. Como a Amazônia está totalmente deslocada dos centros

industriais, o suprimento, até chegar à “ponta da linha”, sofre retardos e interrupções, causando

transtornos em toda cadeia logística.

d. Ausência de estruturas e processos logísticos que facilitem a manipulação, o acondicionamento, o

transporte e o controle do suprimento nas unidades militares localizadas no interior da Amazônia.

Métodos modernos, com emprego de ferramentas tecnológicas que permitam maior dinamismo,

agilidade e confiabilidade na execução dos trabalhos logísticos de suprimento, ainda é uma reali-

dade muito distante das atuais práticas empregadas no ambiente amazônico.

Esses problemas ficam bem patentes quando se foca a logística do suprimento classe I.

Os alimentos que compõem a “cesta básica” (arroz, feijão, carne, leite etc.) constituem os gêneros do

QS (Quantitativo de Subsistência). A aquisição do QS é feita pela 12ª RM e o seu armazenamento, pelo

12º BSup. Os outros artigos que complementam o QS, e que constituem os alimentos comprados pelas

próprias OM (temperos, iguarias, hortifrutigranjeiros etc.), são conhecidos como QR (Quantitativo de

Rancho).

Page 82: Seminário de Segurança da Amazônia

80

Como foi dito anteriormente, o QS é comprado pela Região Militar e entregue pelos fornecedores no

12º BSup. Acontece que todos os itens do QS são produzidos fora da Amazônia e levam, em média,

mais de 30 dias, após a finalização do processo licitatório e do empenho da despesa, para chegar ao OP

e ficar em condições de serem distribuídos às diversas OM espalhadas na Amazônia Ocidental.

Acrescente-se a isso tudo o fato de que os alimentos, ao darem entrada no 12º BSup, são submetidos

a uma criteriosa inspeção e análise para averiguar se o produto recebido está próprio para o consumo

e em consonância com as especificações contidas no edital de licitação. Caso o produto seja reprovado

pela análise laboratorial, toda carga é devolvida e, então, aguarda-se nova remessa que poderá demo-

rar trinta dias, ou mais. Caso o OP não tenha um nível de segurança adequado, o fluxo do suprimento

poderá ser prejudicado, faltando alimento nas OM, inclusive naquelas situadas na faixa de fronteira, e

desarticulando o planejamento e a execução otimizada do transporte.

Perspectivas futuras

A modernização da logística na região Amazônica já foi iniciada com a implantação do SILOG, ferra-

menta gerencial que irá permitir um avanço significativo na gestão dos suprimentos. Atualmente, o

sistema está funcionando em toda área de atuação da 12ª RM com o suprimento classe I. Estão em

fase de implantação os suprimentos das classes II, III e V (munição).

A conclusão de todas as etapas previstas para a implantação do SILOG, abrangendo todas as classes

de suprimento, é uma meta que, quando alcançada, resolverá muitos dos problemas existentes na

logística da região.

Outro aspecto relevante é a melhoria de toda a estrutura logística da 12ª RM, desde a sua origem, o OP,

até o destinatário final, as OM da “ponta da linha”. A construção, modernização e/ou adequação dos

depósitos, das câmaras frigoríficas, dos mecanismos de manipulação de cargas, das embarcações para

transporte de cargas secas e frigorificadas, dos portos, entre outras iniciativas, são projetos em que a

12ª RM tem interesse em participar, visando alcançar a excelência logística.

Page 83: Seminário de Segurança da Amazônia

8181

Função logística transporte

Em BRASIL (2002) considera-se que “a Função Logística Transporte refere-se ao conjunto de atividades

que são executadas, visando ao deslocamento de recursos humanos, materiais e animais por diversos

meios, em tempo e para os locais predeterminados, a fim de atender às necessidades”.

As características fisiográficas da Amazônia Ocidental desafiam a execução do transporte. As grandes

distâncias a serem percorridas aliam-se às deficiências existentes nos diversos modais, onerando, sobre-

maneira, essa função logística.

Alinhado com o conceito acima, o transporte de suprimento no ambiente amazônico enfrenta vários

obstáculos para a sua execução, tais como:

a. precariedade das vias de transporte, que têm nos rios o seu principal meio;

b. dificuldade de navegação (as cartas fluviais não são confiáveis e os rios mudam a sua profundida-

de e os seus canais durante a estiagem);

c. grandes distâncias a ser percorridas;

d. escassa e precária rede rodoviária, com a utilização condicionada às condições meteorológicas,

tornando-se intransitáveis após chuvas prolongadas;

e. limitado número de aeródromos com pistas de pouso e decolagem adequadas para aeronaves de

médio e grande porte; e

f. a área é um grande vazio demográfico, estando a população concentrada em poucas cidades e

vilas ao longo dos rios.

De acordo com as condicionantes que a Amazônia impõe ao transporte, conclui-se que a possibili-

dade de ocorrer o isolamento de tropas em operações de combate é real, graças, principalmente, à

deficiente estrutura viária e às grandes distâncias entre as localidades. Desta forma, o planejamento

logístico deve, além de meios econômicos, buscar alternativas que proporcionem um apoio em grandes

distâncias e em curto intervalo de tempo, ficando, portanto, caracterizada a necessidade do emprego

judicioso dos modais rodoviário, aéreo e hidroviário.

Page 84: Seminário de Segurança da Amazônia

82

Modal rodoviário

Em sua concepção, o papel do modal rodoviário é complementar o sistema hidroviário, e objetiva as-

segurar a construção de vias estaduais e municipais.

O subsistema rodoviário da Amazônia foi concebido de acordo com quatro critérios básicos a serem

considerados na definição da rede básica de transportes da Amazônia (IPEA, 1998). O primeiro deles é

o que diz respeito às conexões entre polos (urbanos e fronteiriços) e entre si e a rede básica de trans-

portes dos países que integram a Bacia Amazônica.

O segundo critério diz respeito à geografia da área intensamente irrigada por grandes rios e por cursos

d’água de variado tamanho e volume de vazão. Essas condições naturais, especialmente a grande ex-

tensão de vias navegáveis, fazem que o transporte hidroviário seja tomado como ponto de referência

para a rede de transporte da Amazônia. Assim, as demais modalidades de transportes são chamadas a

integrar-se com o sistema hidroviário e a complementá-lo.

O terceiro critério é o de integração nacional e de exercício da soberania brasileira. É crucial para o País

ocupar suas fronteiras políticas através de um processo de ocupação econômica e de integração desSes

territórios ao restante da Nação. A rede de transportes da Amazônia deve levar em conta, também,

este objetivo.

O quarto critério refere-se à política de cooperação e de integração continental. Respeitando a sobera-

nia de cada nação, busca-se um esforço na cooperação para desenvolver a Bacia Amazônica e, através

dela, chegar a uma maior integração econômica dos países nela situados.

A política de integração comercial e econômica com os países da América Latina supõe uma estrutura

viária desenvolvida no continente, capaz de assegurar o fluxo contínuo e seguro de bens, serviços e

fatores de produção, proporcionando segurança à nossa soberania.

A política que o Governo desenvolve, com vistas a integrar o território brasileiro,e a política externa bra-

sileira, complementam-se mutuamente, porquanto visam interligar os diversos polopolos econômicos

brasileiros com as áreas produtivas e os pontos de escoamento situados nos países vizinhos.

Page 85: Seminário de Segurança da Amazônia

8383

Esses critérios não são excludentes, mas, ao contrário, complementares e interdependentes, reforçan-

do-se mutuamente na maioria dos casos.

O Ministério da Defesa, dentro de suas prioridades, busca a integração da Amazônia ao restante do

País e aos países fronteiriços, mobiliando a fronteira com tropas e buscando sua interligação através da

melhoria das redes de estradas. Seu maior objetivo é facilitar a distribuição de suprimentos e diminui-

ção do frete por ocasião desse transporte, cada vez mais dependente da Força Aérea e do transporte

hidroviário.

O Exército brasileiro, através do Comando da 12ª Região Militar, conta com o 12º BSup para realizar o

transporte no modal rodoviário. O 12º BSup realiza o apoio das diversas classes de suprimento, utilizan-

do o processo de distribuição na instalação de suprimento para as OM sediadas em Boa Vista (RR) e o

processo de distribuição na Unidade para as Unidades localizadas na guarnição de Manaus.

Para a distribuição dos artigos de suprimento para outras localidades, é empregado o meio rodoviário,

utilizando-se as viaturas orgânicas da OM (figura 5), apenas para o transporte até o embarque no porto

do CECMA e na Base Aérea de Manaus.

Nomenclatura Qnt Tipo de EmpregoCapacidade

(Ton)

ano

Fab

VTE, VW-14.220, 6X2 02 Trnp de gêneros frigorificados 14 Ton 1996

VTE,MBB L1418E/51, 6X2 01 Trnp de gêneros frigorificados 14 Ton 1995

VTE, Cargo Ford 2422E 6X2 01 Trnp de gêneros frigorificados 14 Ton 2006

VTE, Emp GE, IVECO, 4X2 01 Trnp de gêneros frigorificados 2 Ton 2008

VTE, Cargo Ford 2422E 6X2 01 Transporte de gêneros secos 22 Ton 2007

VTE, Cargo Ford 1317E 4X2 01 Transporte de gêneros secos 8 Ton 2006

Figura 5: Viaturas do 12º BSup.fonte: elaboração própria.

Page 86: Seminário de Segurança da Amazônia

84

Basicamente, esse modal é utilizado no suprimento de todas as classes à Guarnição de Boa Vista, atra-

vés da BR-174, bem como nas ramificações existentes entre São Gabriel da Cachoeira e Cucuí (AM);

Porto Velho e Guajará-Mirim (RO), Porto Velho e Humaitá (RO) e Porto Velho-Rio Branco (AC) e nas liga-

ções rodoviárias existentes entre Rio Branco e Plácido de Castro, Assis Brasil e Epitaciolândia, no Acre.

No entanto, as péssimas condições das estradas dificultam o transporte, onerando a manutenção, pois

a cada viagem contabiliza-se uma viatura quebrada. Na BR 174, no trecho a partir do quilômetro 200,

dentro a reserva indígena Waimiri-Atroari, não é possível trafegar a uma velocidade superior aos 40

km/h em razão da sucessão de buracos na pista. Uma viagem que deveria levar em torno de oito horas

chega a quinze horas ou mais.

Outra BR importante para a integração é a BR 319. Esta é a única ligação rodoviária entre a Amazônia

e o Centro-Sul do País, com 885 km de extensão, com a maior parte em obras de recuperação. Para

viabilizar o licenciamento ambiental das obras, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Trans-

portes (DNIT), o Estado do Amazonas e o Exército assinaram convênios de demarcação de unidades de

conservação ao longo da rodovia. Com a recuperação da estrada, será possível realizar o transporte da

carga entre Manaus e Porto Velho, que hoje conta apenas com os modais hidroviário e aéreo, oneran-

do, sobremaneira, o transporte.

Modal hidroviário

A Amazônia brasileira possui uma rede hidroviária da ordem de 24 mil km, banhando uma extensão

territorial com mais de 3,6 milhões de km2.

Os principais rios que integram esse subsistema são navegáveis em grande parte de seu percurso e

formam a espinha dorsal que estrutura a rede viária da Amazônia.

Objetivando a distribuição do suprimento, o CMA conta com os seguintes meios: com o CECMA, Uni-

dade possuidora de diversos tipos de embarcações táticas e logísticas, destacando-se, para a execução

do transporte de suprimentos, as balsas de 40, 100, 150, 200 e 250t e seus empurradores.

Page 87: Seminário de Segurança da Amazônia

8585

O planejamento dos transportes aquaviários é atribuição da 12ª RM, por meio do CCCL/12. Na exe-

cução dessa atividade, o Centro coordena as ações do 12º BSup, do CECMA e de outros usuários do

Sistema de Transporte Regional.

Trimestralmente, partem de Manaus com destino a Porto Velho, São Gabriel da Cachoeira, Tefé, Ta-

batinga e Cruzeiro do Sul embarcações conduzindo suprimentos de todas as classes, principalmente

equipamentos pesados, viaturas militares, embarcações, material de construção, gêneros de paiol em

geral, óleos, combustíveis e outros.

Cabe ao CECMA, com seus meios orgânicos, realizar o transporte fluvial para unidades militares da

Amazônia Ocidental e capacitar recursos humanos para operação e manutenção de embarcações. Para

o cumprimento da missão está organizada a seguinte forma (figura 6):

Figura 6: Quadro organizacional do CECMAfonte: estado-Maior do exército.

Seç Cmdo Seç Cmdo Seç Cmdo Seç Cmdo

Pel Cmdo Pel Avç Mnt Emb Pel Emb Tat Seç Tec Ens

Pel Adm Pel Mnt Embc Pel Emb Log Seç Instr Psq

Pel Sv Ge Pel Mnt Vtr

Cia Adm Ap Cia Mnt Emb Cia Emb Div Instr Emb

Estado Maior Geral Estado Maior Especial

COMANDO

Page 88: Seminário de Segurança da Amazônia

86

O regime dos rios e as grandes distâncias são os maiores problemas enfrentados pelo transporte fluvial.

A seguir, apresentam-se as distâncias percorridas pelas embarcações do CECMA a partir de Manaus

(figura 7):

localidade Distância Tempo (ida e volta)

São Gabriel da Cachoeira – AM 1.067 km 16 dias

Barcelos – AM 485 km 08 dias

Porto Velho – RO 1.239 km 21 dias

Tefé – AM 631 km 10 dias

Tabatinga – AM 1.756 km 14 dias

Cruzeiro do Sul – AC 3.324 km 35 dias

Figura 7: Quadro de distâncias. fonte: elaboração própria.

Embarcações existentes e suas possibilidades

Embarcações de transporte de carga

O CECMA conta com duas Embarcações “Ferry Boat” para transporte de 40 ton de carga ou passageiro;

seis Embarcações do tipo Empurrador (Empd) e de balsas, conforme mostra o quadro (figura 8). Usando

todos os meios de embarcações de transporte de cargas (ETC) do CECMA é possível transportar 1.280

Ton de carga de uma só vez.

Page 89: Seminário de Segurança da Amazônia

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EmbarcaçãoBalsa aberta Balsa fechada

TonelagemNome Ton Nome Ton

Empd Surucucu Itacoatiara 150 Juruá 200 350

Empd Carajás Manicoré 150 Madeira 100 250

Empd Querari Rondônia 250 Solimões 100 350

Empd Maturacá Borba 250 - - 250

Empd Auaris - - - - -

Empd Ericó - - - - -

ETC Uirá - - - - 40

ETC Uajará - - - - 40

Capacidade Total em Tonelagem 1.280

Figura 8: Tipos de embarcações do CECMAfonte: cecMa.

Nome Trip autonomia Vel Psg Carga

Cap Pedro Teixeira

(Regional)06 150h 18 Km/h 120 80 Ton

Sgt Brito

(Regional)06 100h 18 Km/h 80 50 Ton

Princesa 02 04h 45 Km/h 06 -

Mendonça Furtado

(lancha rápida)04 20h 40 Km/h 44 5 Ton

Rodrigo Otávio

(lancha rápida)04 30h 40 Km/h 32 5 Ton

Capacidade Total de passageiros ou de carga 278 140 Ton

Figura 9: Tipos de embarcações de transporte de pessoal do CECMAfonte: cecMa.

Page 90: Seminário de Segurança da Amazônia

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Nome Qnt Tripulação autonomia Velocidade Passageiros

Embarcação Leve de Comando (ELC) 01 02 11h 35 Km/h 08

Embarcação Base de Grupo (EBG) 02 02 11h 35 Km/h 08

Embarcação Patrulha de Grupo (EPG) 04 01 02h 40 Km/h 09

Embarcação Patrulha de Esquadra (EPE) 13 01 02h 30 Km/h 05

Capacidade total de passageiros ou de carga 278

Figura 10: Tipos de embarcações de emprego táticofonte: cecMa.

Limitações ao transporte hidroviárioO modal hidroviário exige, para o transporte e a distribuição, um moderno sistema de portos e de

carregamento de cargas.

O porto do CECMA, por ser obsoleto, não atende à demanda da 12ª RM, dificultando e atrasando o

carregamento das balsas. Necessária se faz a construção de um moderno porto no CECMA e, também,

nas localidades abastecedoras. Não parece adequado, diante desta realidade, que não se pense no

transporte fluvial como um dos principais focos de investimento socioeconômicos, uma vez que este

faz parte do cotidiano da região amazônica.

Além desse problema, temos o abastecimento de combustível nas fronteiras, que não é atendido plena-

mente pela Petrobras. O CECMA, por sua vez, ainda não possui uma embarcação capaz de transportar

combustível, obedecendo às normas de segurança ambientais. Portanto, esse abastecimento só é pos-

sível com o apoio da Força Aérea Brasileira.

Page 91: Seminário de Segurança da Amazônia

8989

Modal aéreo

O suprimento por via aérea é caracterizado pelo processo em que se utiliza o transporte aéreo para

a realização da distribuição de suprimento, sendo indicado, principalmente, nas seguintes situações:

1. transposição de obstáculos de vulto;

2. operações profundas, que exijam deslocamentos longos e rápidos;

3. inexistência de uma rede de estradas adequadas para suportar a tonelagem necessária;

4. interdição do tráfego das estradas ou redução de sua capacidade;

5. isolamento de tropas amigas, principalmente por ação do inimigo;

6. urgência na entrega do suprimento; e

7. transporte de gêneros frigorificados, armamento e munição.

Com efeito, na vastidão da Amazônia, desde os primórdios do Correio Aéreo Nacional, de tão rica

memória, as aeronaves de transporte logístico da FAB cumprem missão bivalente: levar suporte às guar-

nições das Forças Armadas, responsáveis pela proteção diuturna das nossas fronteiras setentrionais,

e prover auxílio a populações carentes, instaladas em áreas inóspitas e distanciadas dos centros mais

desenvolvidos do País.

O apoio se torna imprescindível quando se trata de uma evacuação de emergência nos pelotões de

fronteira ou nas sedes das brigadas, bem como no transporte mensal de suprimentos, principalmente

da classe I (frigorificados).

Empregam-se os meios aéreos disponíveis da FAB, representada na Amazônia pelo 7º Comando Aéreo

Regional (7º COMAR) e, excepcionalmente, os do 4º Batalhão de Aviação do Exército (4º BAvEx), am-

bos com sede em Manaus.

Por intermédio do Plano de Apoio à Amazônia (PAA), o CMA, a 12ª RM e o 7º COMAR) desencadeiam,

bimestralmente, um planejamento para o transporte de suprimento, com prioridade para gêneros fri-

gorificados, com a finalidade de suprir as sedes das brigadas e seus respectivos pelotões de fronteira.

Page 92: Seminário de Segurança da Amazônia

90

Partindo de Manaus, aeronaves C-105 A (Amazonas) carregam alimentos para Boa Vista-RR, São Ga-

briel da Cachoeira (AM), Tefé (AM), Tabatinga (AM) e Cruzeiro do Sul (AC).

A partir dessas localidades, de acordo com o tipo de pista de pouso e disponibilidade de aeronaves, os

pelotões especiais de fronteira são supridos pelas aeronaves C-105 A ou C-98 (Caravan).

Na área abrangida pela 17ª Brigada de Infantaria de Selva (Rondônia, parte do Amazonas e do Acre), os

gêneros alimentícios são adquiridos em Porto Velho (RO) e transportados, principalmente, pelo modal

rodoviário.

Limitações ao transporte aéreoNa Amazônia as condições climáticas dificultam as operações aéreas, principalmente nas áreas frontei-

riças. As condições da pista, na maioria das vezes precárias, impossibilitam em determinadas épocas do

ano o pouso e a decolagem de aeronaves, como por exemplo: na área do 4º PEF/4º BIS Santa Rosa do

Purus, onde a pista de grama impossibilita o apoio da FAB durante inverno amazônico; na área no 4º

e 5º PEF/7º BIS, Surucucu e Auaris, respectivamente, onde a pista praticamente se desfaz na época das

chuvas, impossibilitando o pouso e a decolagem de aeronaves de grande porte, o que traz um grande

prejuízo ao abastecimento, uma vez que tem que ser realizado com a aeronave C 98 com capacidade

de carga sete vezes menor que a habitual. A sensibilidade dos meios aéreos às condições climáticas e a

reduzida disponibilidade de horas de voo são grandes óbices à utilização do transporte aéreo nas ope-

rações logísticas na região.

Além do Exército, a FAB presta o apoio ao Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego

Aéreo (CINDACTA), Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), Comissão de aeroportos da

região amazônica (COMARA), Marinha do Brasil (MB), Governo Federal, Governo do Estado do Amazo-

nas e a outros órgãos da administração pública.

Além das horas de voo em apoio ao Exército, há necessidade de aumentar a disponibilidade de aero-

naves, considerando a alta demanda do transporte aéreo na Amazônia e a paralisação mais frequente

das aeronaves para manutenção, decorrência direta das condições climáticas e da qualidade das pistas

de pouso.

Page 93: Seminário de Segurança da Amazônia

9191

Perspectivas

Transporte

Em se tratando de tentar visualizar a evolução dos transportes na Amazônia, no decorrer dos próximos

anos, até por volta de 2020, é conveniente focalizar os principais corredores de transporte que ressal-

tam da configuração no sistema, numa abordagem multimodal.

Corredor de transportes é a ligação entre dois ou mais polos, especialmente entre seus centroides, a ser

assegurada por uma, duas ou mais modalidades de transporte, tomadas isoladamente ou conjugadas

entre si. Além disso, na concepção de corredor inclui-se não apenas a infraestrutura viária, mas tam-

bém todos os demais elementos do sistema: veículos, terminais (portos, aeroportos, silos), operação,

gerência, financiamento, quadro institucional e organizativo, recursos humanos, informática, teleco-

municações etc.

Embora a sua bacia hidrográfica seja a espinha dorsal para a estrutura do sistema de transportes na

Amazônia, ressaltando a importância do modal hidroviário, as demais modalidades, a aeroviária e a

rodoviária, continuarão a desempenhar papel complementar de grande relevância, o que ressaltará

ainda mais a característica multimodal que deverá marcar a movimentação de bens e passageiros nessa

região.

Modal Rodoviário

Para cumprir sua destinação constitucional na Amazônia Ocidental, há a necessidade de incrementos

nas principais vias de transporte rodoviário, quais sejam:

• BR 174, melhoria da trafegabilidade em toda sua extensão, com ênfase na área da reserva indíge-

na Waimiri-Atroari, bem como a manutenção/reparação das pontes até a localidade de Pacaraima

(RR);

• BR 319, concluir a recuperação dos 885 km que separam Manaus de Porto Velho; incluindo a

construção de pontes;

Page 94: Seminário de Segurança da Amazônia

92

• BR 364, concluir a pavimentação do trecho entre Rio Branco (AC) e Cruzeiro do Sul (AC); e

• BR 307, de São Gabriel da Cachoeira (AM) ao pelotão especial de fronteira de Cucuí, reconstruir

as pontes destruídas.

Modal hidroviário

Para incrementar esse modal, uma série de medidas precisa ser tomada, desde já:

• Construção de portos. O porto do CECMA é o mais urgente, seguido da reestruturação e cons-

trução de portos nas localidades que possuem sedes de brigadas.

• Aquisição de lanchas rápidas para transporte de pessoal com autonomia para deslocamento até

as cidades de Tefé e Barcelos, desonerando a FAB e liberando as horas de voo para o transporte

de carga.

• Estudo de viabilização da paletização de cargas a serem transportadas pelas Balsas.

• Estudo de viabilização de transporte de carga utilizando-se contêineres modulares inclusive para

o transporte de cargas frigorificadas.

Modal aéreo

Para a FAB fazer frente ao crescimento do efetivo do Exército na Amazônia e a consecução do Plano de

Apoio à Amazônia (PAA), garantindo a operacionalidade e a segurança das tropas apoiadas, é necessá-

rio aumentar o número de aeronaves e de horas de voo .

Outro fator a ser considerado é a possibilidade de o Exército criar a sua aviação de asa fixa, visando

diminuir a dependência da FAB nas atividades rotineiras de ligações de comando e de transporte.

Page 95: Seminário de Segurança da Amazônia

9393

Conclusão

O estudo e a apreciação sobre a logística na região Amazônica devem ter enfoque estratégico e ope-

racional e, como tal, deve-se buscar meios que proporcionem apoio logístico sobre grandes áreas e,

também, em curto espaço de tempo.

No decorrer deste artigo, verificou-se que a atividade de suprir os militares no vasto ambiente de

selva constitui o maior desafio a ser superado pela 12ª Região Militar. Assim sendo, a sua elaboração

apresentou os principais óbices enfrentados e que devem ser superados para o êxito das operações

logísticas.

Constatou-se, também, que os processos de distribuição de suprimento via terrestre e fluvial não en-

contram condições propícias para seu eficaz emprego na Amazônia, graças às grandes distâncias a

serem vencidas, o que valoriza sobremaneira o transporte aéreo.

Quando consideradas as dificuldades na aquisição de suprimento, a fraca infraestrutura aeroportuária

e a deficiência dos meios de transporte, deduz-se a necessidade de processos diferenciados para a

aquisição de suprimentos na região e a aquisição de meios de transporte mais adequados (rodoviários,

hidroviários e aéreos) que potencializará a operacionalidade das tropas apoiadas, garantindo a chegada

dos suprimentos com oportunidade. Ademais, possibilitará ao Exército, em situação de defesa civil,

apoiar as populações ribeirinhas em caso de calamidade nessa região – como ocorre anualmente nos

períodos de seca e de cheia.

Este artigo científico chama atenção para a deficiente estrutura logística da Amazônia e seus reflexos

para a defesa nacional. Desta forma, a melhoria na aquisição e no transporte de suprimentos poderá

tornar o apoio logístico na região Amazônica mais dinâmico e eficaz, encurtando as distâncias e man-

tendo a continuidade do fluxo de suprimentos para os elementos apoiados, garantindo o fortalecimen-

to da atuação do Exército na Amazônia brasileira, que graças a sua imensurável riqueza e à dissimulada

cobiça estrangeira, já justificam os necessários investimentos.

Page 96: Seminário de Segurança da Amazônia

94

Referências

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023. Informação e documentação –

Referências – Elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

BRASIL. Exército. 12ª Região Militar. Palestra da 12ª Região Militar sobre logística. Centro de Comunica-

ção Social do Exército Brasileiro. A Logística na Amazônia - 12ª RM. Disponível em: http://www.guialog.

com.br/ARTIGO325.htm. Acesso em: 21 jun. 2010.

_______. Exército. Estado-Maior. C 100-10 – Logística Militar Terrestre. 2.ed., Brasília, DF, 2003.

______. Exército. COTER. Níveis de operacionalidade e de adestramento. Disponível em: http://www.coter.eb.mil.br/1sch/simeb.pdf. Acesso em: 15 abr. 2008a.

______. Exército. COTER. Portaria Nr 016, de 09 de março de 1999: caderno de instrução CI 20-

1012 - liderança, conselhos aos oficiais e sargentos que servem na tropa - edição experimental Brasília,

DF, 1999a.

______. Exército. COTER. Princípios do sisTaVOP. Disponível em: http://www.coter.eb.mil.br/

html/1sch/sistavop/paginas/sistavop060608.htm. Acesso em: 15 abr. 2008b.

Page 97: Seminário de Segurança da Amazônia

95

o PoDEr naval na amazônia ociDEnTal:siTuaÇÃo aTual, PErsPEcTivas E rEflExos

Para a DEfEsa nacionalJosé Geraldo Fernandes Nunes

Enquanto navegar, assistir e combater eu possa a Amazônia será nossa.

A Amazônia Verde

A Amazônia, a maior floresta equatorial, detentora de inúmeros recursos naturais e de uma significativa

biodiversidade, compreende parcela dos territórios do Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezue-

la, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Ela apresenta uma das menores densidades demográficas do

planeta e a maioria dos seus habitantes fixou-se, às margens dos rios, dedicando-se à cultura extrativista

de subsistência. O vazio demográfico, as enormes distâncias envolvidas e a quase completa ausência do

Estado tornam o habitante local “presa fácil” às ações, inclusive psicológicas, praticadas por missioná-

rios, ONG, garimpeiros e narcotraficantes. Nela existem quatro zonas de fronteiras tríplices:

• Cucuí-Carmen-San Felipe (Brasil-Venezuela-Colômbia);

• Tabatinga-Letícia-Ramon Castilla (Brasil-Colômbia-Peru);

• São Francisco-Iñapari-Bolpebra (Brasil-Peru-Bolívia); e

• Cueppi-Monclar-Putumayo (Peru-Equador-Colômbia).

Page 98: Seminário de Segurança da Amazônia

96

A Bacia Amazônica e as Vias de Penetração

A Bacia Amazônica tem cerca de 23.000 Km de rios navegáveis. O Amazonas-Solimões-Marañon per-

mite a navegação durante todo o ano de Belém a Pucallpa no Peru:

• de Belém a Manaus a navios com calado de até 12m e deslocando até 50.000 toneladas;

• de Manaus a Tabatinga a navios com calado de até 5m e deslocando até 12.000 toneladas; e

• no período das cheias é possível alcançar Pucallpa, no Peru, com navios com 1,5m de calado e

1.000 toneladas de deslocamento bruto.

Sob o enfoque militar-naval a rica hidrografia confere à Amazônia o aspecto de um arquipélago que

somado: às dificuldades de trânsito de tropas a pé ou motorizada; ao ambiente hostil e às grandes

distâncias, ressalta a importância do controle das vias navegáveis executado pelos meios navais que em

tempo de paz levam, também, a presença do Estado a regiões só alcançadas por eles.

As vias de penetração, por meio fluvial, ao território brasileiro na Amazônia Ocidental são:

Rio Guainia-Negro: na cheia é navegável da foz até São Gabriel da Cachoeira com embarcações de

calado até 2,5m. Vencida a cachoeira o rio Negro volta a ser navegável até Cucuí, fronteira com a

Venezuela.

Rio Caquetá-Japurá: a navegação rio acima do Pelotão de Fronteira (PEF) de Vila Bittencourt (BR) al-

cança a cidade de La Pedrera e a partir deste ponto o rio é não navegável em face das quedas d’água.

Rio Putumayo-Içá: navegável somente nas épocas de cheias, para embarcações de até 50 ton.

Rio Marañon/Ucayali-Solimões: é a via natural de penetração, navegável em qualquer época do ano de

Tabatinga a Pucallpa. No Marañon estão baseados os meios da Marinha de Guerra do Peru na região

em condições de penetrar o território brasileiro. O apoio logístico seria prestado em Iquitos. Em se

tratando de rio internacional, o trânsito de Força Naval, em cenário de conflito ou de crise político-

-estratégica, estará sujeito à concordância dos países limítrofes (Peru, Colômbia e Brasil).

Page 99: Seminário de Segurança da Amazônia

9797

Rio Javari: limite natural entre o Brasil e o Peru apresenta restrições à navegação no período de seca e

a inexistência de apoio logístico na região.

Rio Juruá e Purus: rios penetrantes ao Brasil pelo Estado do Acre estes apresentam restrições à nave-

gação no período de seca tanto no Alto-Juruá como no Alto-Purus. São rios em formação e, por isso,

sinuosos e com mudanças frequuentes nos seus leitos. Não existe apoio logístico nessa região.

Rios Guaporé e Mamoré: limite natural entre o Brasil (Estado de Rondônia) e a Bolívia é navegável du-

rante o ano todo para pequenas embarcações com calado até 1,5m.

Poderes Navais Presentes

Os Poderes Navais da Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa não são aptos

e significativos a serem empregados na Amazônia.

O Poder Fluvial colombiano tem capacidade de efetuar na região, em pequena escala, operações de

ataque com meios navais e aeronavais; operações de minagem ofensiva; e incursões ribeirinhas de pe-

queno porte. Ressalta-se a existência de acordos internacionais celebrados com o Brasil que regulam o

tráfego fluvial, inclusive para embarcações da Marinha colombiana.

A parcela do Poder Naval do Peru presente na região Amazônica está sediada em Porto Maldonado e

Iquitos:

• a Força Naval sediada em Maldonado, às margens do Rio Madre de Dios, ao sul do Peru, próxima

à fronteira com a Bolívia, tem importância secundária em relação ao Brasil, uma vez que os rios ali

existentes não possibilitam a penetração em território brasileiro, em face da existência de várias

quedas d’água; e

• os sediados em Iquitos, principal cidade amazônica peruana, sede do Comando da Força Naval da

Amazônia e onde se localiza a Base Naval de Nanay, possui capacidade para efetuar, em pequena

escala, operações de ataque com meios navais e aeronavais.

Page 100: Seminário de Segurança da Amazônia

98

Principais situações de confronto

Os países vizinhos ao Brasil no arco amazônico não representam grave ameaça militar ao País, raros e

extemporâneos são os confrontos que têm como raiz a perda de territórios para o Brasil, como no caso

da Bolívia em relação ao Acre.

Os contenciosos existentes entre países da região, e que não envolvem diretamente o Brasil, são entre:

a Venezuela e a Guiana pela região de Esequibo; Venezuela e Colômbia; Suriname e Guiana; e Peru e

Equador.

Existem ainda as seguintes situações de confronto: a Guerrilha; o Narcotráfico; os Crimes Ambientais

– desmatamento, extração irregular de madeira, tráfico de animais, biopirataria, garimpo ilegal, pesca

predatória, e as questões Indígenas – - terras, policiamento, alcoolismo etc.

Histórico

A Conquista da Amazônia

Em 9 de agosto de 1616, os então Alferes Pedro Teixeira e Gaspar de Freitas, com duas canoas armadas

em guerra, bateram uma nau holandesa na foz do Xingu, enfrentando fogo cerrado de artilharia, que

não poderiam superar, não fosse a criatividade de Pedro Teixeira. A artilharia da nau holandesa afunda-

da foi mais tarde usada para armar o Forte do Presépio.

Muitos foram os embates com holandeses, ingleses, piratas e selvagens, mas a partir de informações

sobre a existência de terras desconhecidas, Pedro Teixeira suspende de Belém a 28 de outubro de 1637,

por ordem do Governador Jácome de Noronha, com 45 canoas tripuladas e armadas. Visava o gover-

nador conhecer totalmente os seus domínios e fazer alianças com as tribos selvagens, impedindo assim

a navegação dos holandeses em seu tráfego para o Peru, tido então como o mais rico país do mundo.

Page 101: Seminário de Segurança da Amazônia

9999

Pedro Teixeira, em 16 de março de 1639, toma posse para a Coroa de Portugal, na barra do Aguarico,

das terras que para o ocidente se estendiam até a beira-mar e com esse feito histórico, não só expan-

diu, as fronteiras da Pátria, como estabeleceu o limite hidrográfico da Amazônia.

Os conhecimentos geográficos adquiridos e a sábia política indigenista de Pedro Teixeira, projetando ao

longo do rio uma imagem favorável para os indígenas, criaram condições para que os luso-brasileiros

prosseguissem na penetração do Amazonas e dessa forma, no século XVIII, assegurassem pelo “Uti

Possidetis”, a incorporação da Amazônia ao território nacional.

A Marinha na Amazônia

O registro, da presença da Marinha na Amazônia, remonta a meados de 1728, quando o então gover-

nador das Províncias do Maranhão e Grão-Pará Alexandre de Souza Freire, temeroso com as incursões

de piratas e colonizadores, vindos do mar, decidiu criar a Divisão Naval do Norte, com sede na cidade de

Santa Maria de Belém do Grão Pará, de onde poderia controlar a entrada de navios no rio Amazonas.

Posteriormente, a decisão de criar a Flotilha, em Manaus, em 1868, foi fruto de uma visão estratégica.

O País estava em guerra, desde 1865, com o Paraguai e era preciso manter a neutralidade dos países do

entorno amazônico diante da Guerra da Tríplice Aliança, em especial a Bolívia, visto que, era simpática

à causa do governante paraguaio Solano López.

Para manter a neutralidade, foi decretada, em 1867, a livre navegação no rio Amazonas e principais

afluentes para os navios mercantes de bandeira amiga. Isto impôs a necessidade de resguardar a região

e garantir a soberania e os interesses nacionais na Amazônia Ocidental, por meio de uma presença na-

val efetiva. D. Pedro II então cria, pelo Aviso de 2 de junho de 1868, a Flotilha do Amazonas, com sede

na Capital da recém-elevada província do Amazonas, com a missão de “policiar as fronteiras fluviais

com as repúblicas vizinhas, e fazer executar pelas embarcações estrangeiras os regulamentos fiscais

vigentes, a fim de garantir os interesses do Império na região”, sendo-lhe adjudicadas 12 lanchas a

vapor, tripuladas por 192 Praças do Corpo de Imperiais Marinheiros, que chegaram a Manaus na noite

de 26 de dezembro de 1868.

Page 102: Seminário de Segurança da Amazônia

100

Em 1874, criou-se a Capitânia dos Portos de Manaus atual Capitânia Fluvial da Amazônia Ocidental

(CFAOC). As atividades das Capitânias têm sua origem com a abertura dos Portos promovida por Dom

João VI, em 28 de janeiro de 1808.

Mais tarde, em 1910, por conveniência sanitária aliada a facilidades de reparo, a Flotilha do Amazonas

foi deslocada para Belém, tendo sua sede retornada a Manaus em 1912. De 1912 a 1933 a sede e ou

subordinação foram alteradas diversas vezes.

Em 1933, para garantir a neutralidade do Brasil, quando da eclosão do Conflito de Letícia, entre Peru

e Colômbia, é criada a Divisão Naval em Operações no Rio Amazonas que, suspendendo do Rio de

Janeiro em 5 de janeiro de 1933, atinge Manaus, incorporando os navios da Flotilha do Amazonas.

No período de 1933 a 1945, o Comando Naval do Amazonas teve várias denominações, até que, em

1945, foi alterada para Comando do 4º Distrito Naval (Com4ºDN), passando o Comando da Flotilha do

Amazonas à subordinação desse Distrito.

Em 23 de abril de 1974 a Flotilha do Amazonas foi desdobrada em duas unidades, sendo criado o

Grupamento Naval do Norte, este sediado em Belém e aquela sediada em Manaus, ambos com subor-

dinação ao Com4ºDN.

Em 1994 foi ativado o Comando Naval da Amazônia Ocidental (CNAO), subordinado ao Comando do

4º Distrito Naval, Comandado por um Contra-Almirante tendo como organizações subordinadas – o

Comando da Flotilha do Amazonas, a Capitânia da Amazônia Ocidental, o Grupamento de Fuzileiros

Navais de Manaus, o Destacamento Aéreo Embarcado (3 aeronaves Esquilo) o Depósito Naval de Ma-

naus e a Capitânia Fluvial de Tabatinga.

Em 20 de janeiro de 2005 foi criado o Comando do 9º Distrito Naval (Com9ºDN), em substituição ao

CNAO, subordinado ao Comando de Operações Navais, Comandado por um Vice-Almirante e contan-

do com oito Organizações Militares diretamente subordinadas.

Page 103: Seminário de Segurança da Amazônia

101101

O Poder Naval na Amazônia Ocidental – Situação Atual

O Poder Naval na Amazônia Ocidental será apresentado quanto a sua situação nos dias de hoje nos

quesitos: articulação, equipamentos, emprego e limitações.

Articulação

A área de responsabilidade do Comando do 9º Distrito Naval compreende a área terrestre lacustre e

fluvial dos Estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima.

Page 104: Seminário de Segurança da Amazônia

102

As oito Organizações Militares, de Comando, Controle, Segurança do Tráfego Aquaviário e Apoio Lo-

gístico, diretamente subordinadas ao Com9ºDN estão distribuídas na área de jurisdição como indicado:

• Comando do 9º Distrito Naval – Manaus (AM);

• Comando da Flotilha do Amazonas com seus oito navios – Manaus (AM);

• Comando do 3º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral – Manaus (AM);

• Comando do Batalhão de Operações Ribeirinhas – Manaus (AM);

• Capitânia Fluvial da Amazônia Ocidental (CFAOC) – Manaus (AM) com sua Delegacia e seis Agên-

cias subordinadas assim distribuídas:

• Delegacia de Porto Velho – Porto Velho (RO);

• Agência de Parintins – Parintins (AM);

• Agência de Itacoatiara – Itacoatiara (AM);

• Agência de Tefé – Tefé (AM);

• Agência de Boca do Acre – Boca do Acre (AM);

• Agência de Eirunepé – Eirunepé (AM);

• Agência de Guajará-Mirim – Guajará-Mirim (RO).

• Capitânia Fluvial de Tabatinga – Tabatinga (AM);

• Estação Naval do Rio Negro – Manaus (AM);

• Depósito Naval de Manaus – Manaus (AM); e

• Policlínica Naval de Manaus – Manaus (AM).

Page 105: Seminário de Segurança da Amazônia

103103

Equipamentos

Os meios navais, aeronavais, de fuzileiros navais, do Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário (SSTA)

e de apoio logístico subordinados ao Com9oDN são apresentados em termos de quantidade, caracte-

rísticas e capacidades.

Meios navais (navios)

Navios-Patrulha Fluvial Classe “Roraima”

Três navios:

• P 30 - NPaFlu Roraima - 1975;

• P 31 - NPaFlu Rondônia - 1975; e

• P 32 - NPaFlu Amapá - 1975.

Pessoal

•Oficiais – 5;

•Sub-Oficiais e Sargentos – 13;

•Cabos e Marinheiros – 38.

armamentos

•Canhão 40mm – 300 tiros por segundo;

•Metralhadoras 20mm (02UN) – 450 t/s;

•Metralhadoras 12,7mm (04UN) – 600 t/s;

•Morteiro 81mm (02UN); e

•Lancha de Ação Rápida (02UN) – Metralhadora M-60 ou

Lançador Automático de Granadas.

Capacidade de Transporte de Tropa

•10 Fuzileiros Navais.

sensores

•Radar de Superfície – Alcance de 30MN; e

•Radar de Navegação – Alcance de 15MN.

Comunicações

•Eletromagnéticas – HF, VHF e UHF.

Page 106: Seminário de Segurança da Amazônia

104

Pessoal

•Oficiais – 14;

•Sub-Oficiais e Sargentos – 19;

•Cabos e Marinheiros – 27.

armamentos

•Somente para segurança orgânica.

sensores

•Radar de Superfície – Alcance de 30MN; e

•Radar de Navegação – Alcance de 15MN.

Comunicações

•Eletromagnéticas – HF, VHF e UHF; e

•Satélite – Banda Ku.

Navios de Assistência Hospitalar Classe “Osvaldo Cruz”

Dois navios

• U 18 – NAsH Osvaldo Cruz - 1984; e

• U 19 – Nash Carlos Chagas - 1984.

Pessoal

Oficiais – 14;

Sub-Oficiais e Sargentos – 19; e

Cabos e Marinheiros – 27.

sensores

•Radar de Superfície – Alcance de 30MN; e

•Radar de Navegação – Alcance de 15MN.

Comunicações

•Eletromagnéticas – HF, VHF e UHF; e

•Satélite – Banda Ku.Navio de Assistência Hospitalar Classe “Dr. Montenegro”

Um navio:

• U 19 – Nash Dr Montenegro– 2000.

Page 107: Seminário de Segurança da Amazônia

105105

Meios Aeronavais (Helicópteros)

Pessoal

•Oficiais - 17;

•Sub-Oficiais e Sargentos – 35;

•Cabos e Marinheiros – 34.

armamentos

•Metralhadora 12,7mm e Foguetes SBAT 70.

Comunicações

•Eletromagnéticas – VHF e UHF; e

•Satélite – Banda Ku.

3º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral

Seis helicópteros

• Esquilo Monoturbina.

Meios de Fuzileiros Navais

Pessoal

•Oficiais – 35;

•Sub-Oficiais e Sargentos – 239;

•Cabos e Marinheiros – 647.

Tropa

•Cerca de 1000 Fuzileiros Navais em 5 Companhias.

armamentos

•FAL, PARA-FAL e M-16.

•Viaturas Operativas:

•Cerca de 30 viaturas.

Comunicações

•Eletromagnéticas – HF, VHF e UHF; e

•Satélite.

Batalhão de Operações Ribeirinhas

*elevado em julho de 2002.

Page 108: Seminário de Segurança da Amazônia

106

Organizações Militares do Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário (SSTA)

Organizações Militares

•Capitânia Fluvial da Amazônia Ocidental - Manaus

(AM) – 1874

Pessoal

•Oficiais – 12;

•Sub-Oficiais e Sargentos – 60;

•Cabos e Marinheiros – 24.

OM subordinadas

•Agência de Itacoatiara (AM) – 1919;

•Delegacia de Porto Velho (RO) – 1940;

•Agência de Boca do Acre (AM) – 1940;

•Agência de Eirunepé (AM) – 1940;

•Agência de Guajará-Mirim (RO) – 1950; Agência de

Tefé (AM) – 1978; e

•Agência de Parintins (AM) – 1979.

•Capitânia Fluvial de Tabatinga – Tabatinga (AM) – 1969.

Embarcações

•73 embarcações de variados tipos.

•Comunicações Eletromagnéticas – VHF e UHF

•Armamento Portátil

Capitanias, Delegacias e Agências Fluviais

Page 109: Seminário de Segurança da Amazônia

107107

Organizações Militares de Apoio Logístico

Pessoal

•Oficiais – 15;

•Sub-Oficiais e Sargentos – 93;

•Cabos e Marinheiros – 41.

apoio à atracação dos Navios

•Combustível;

•Água;

•Gêneros;

•Energia Elétrica;

•Manutenções Planejadas; e

•Manutenções Corretivas.

apoio à Embarcações

•Reparos diversos em estruturas de alumínio, madeira

e fibra.

•Apoio Logístico Móvel

•Dique Flutuante – Para reparos em obras vivas de

Navios com deslocamento até 900 ton (NPaFlu Classe

“Pedro Teixeira”);

•Barca Oficina;

•Balsas; e

•Empurradores.

Estação Naval do Rio Negro (criada em 1978)

Page 110: Seminário de Segurança da Amazônia

108

Pessoal

•Oficiais – 6;

•Sub-Oficiais e Sargentos – 29;

•Cabos e Marinheiros – 19.

apoio à logística de Material:

•Sobressalentes;

•Tráfego de Cargas; e

•Administração de Licitações.

Depósito Naval de Manaus (criado em 1995)

Pessoal

•Oficiais – 15;

•Sub-Oficiais e Sargentos – 12;

•Cabos e Marinheiros – 5.

apoio à saúde

•Ortopedia;

•Odontologia;

•Cirurgia;

•Clínica Geral; e

•Outras.

Policlínica Naval de Manaus (criada em março de 2009)

Page 111: Seminário de Segurança da Amazônia

109109

Emprego

Os meios da Marinha na Amazônia Ocidental, cujas tarefas e atividades subsidiárias previstas em leis,

tratados internacionais, convênios e termos de cooperação, podem ser empregados nas ações a seguir

elencadas.

Operações

O ambiente ribeirinho com suas características específicas (eixos de comunicação unicamente hidrovi-

ários; áreas inóspitas; e baixa densidade demográfica) faz do Poder Naval um importante elemento de

monitoração e controle desta região onde os meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais são capazes

de operar por longos períodos de tempo, assegurando um eficaz controle dos rios e de suas margens.

No contexto da dissuasão, Estratégia empregada pela Marinha na Amazônia, destaco como de grande

valor as operações de estreitamento de laços de amizade e de construção de medidas de confiança

realizadas com os países vizinhos e que ampliam as oportunidades de adestramento e conhecimento

operacional. A título de exemplo, podemos citar a realização anual da Operação BRACOLPER, que

congrega meios das Marinhas do Brasil, Colômbia e Peru em exercícios simulados na fronteira oeste do

País nos rios Solimões e Marañon.

Patrulha Naval

A Patrulha Naval (PatNav– Decreto n. 5.129, de 6 de julho de 2004) tem como propósito fiscalizar e

implementar a legislação nas Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), na Plataforma Continental e no alto

mar, respeitados os tratados, convenções e atos internacionais ratificados pelo Brasil, tarefa esta similar

à determinada por D. Pedro II, quando criou a Flotilha do Amazonas, em 1868. A PatNav executada nos

rios da Bacia Amazônica contribui para a consecução dos seguintes propósitos:

• salvaguarda da vida humana;

Page 112: Seminário de Segurança da Amazônia

110

• segurança da navegação aquaviária;

• assistência cívica e social;

• assistência hospitalar às populações ribeirinhas;

• fiscalização do direito de passagem inocente de embarcações estrangeiras, inclusive de navios de

guerra e de Estado;

• fiscalização das atividades de pesquisa científica, de levantamento hidrográfico, de aquisição de

dados relacionados à atividade de exploração e exploração de recursos naturais, do patrimônio

genético nas AJB; e

• apoio aos órgãos federais ou estaduais, que atuarão dentro de suas competências.

Inspeção Naval

Atividade de cunho administrativo, que consiste na fiscalização do cumprimento da Lei n.. 9537, de

11/12/97 (LESTA), das normas e regulamentos dela decorrentes, e dos atos e resoluções internacionais

ratificados pelo Brasil, no que se refere exclusivamente:

• à salvaguarda da vida humana e à segurança da navegação, no mar aberto e em hidrovias inte-

riores; e

• prevenção da poluição ambiental por parte de embarcações, plataformas fixas ou suas instalações

de apoio.

As Inspeções Navais (IN), na área de responsabilidade do Com9oDN, é atribuição imputada a todos os

meios navais, aeronavais, de fuzileiros navais e do Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário (SSTA)

dentro de suas qualificações e competências.

Page 113: Seminário de Segurança da Amazônia

111111

Busca e Salvamento

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, estabelece que todo o Estado cos-

teiro, deve promover o estabelecimento, o funcionamento e a manutenção de um adequado e eficaz

Serviço de Busca e Salvamento (SAR) para garantir a segurança marítima e aérea, e quando as circuns-

tâncias o exigirem, cooperar para esse fim com os Estados vizinhos por meio de ajustes regionais de

cooperação mútua.

A área de responsabilidade do Brasil é bastante abrangente. Foi dividida em cinco sub-regiões maríti-

mas e duas fluviais, apresentadas na figura a seguir.

Page 114: Seminário de Segurança da Amazônia

112

Na Amazônia Ocidental são 21.000Km de vias navegáveis, sob a responsabilidade do Salvamar Noro-

este – Com9oDN.

Para agilizar as ações de busca e salvamento, que dependem do conhecimento de fato raramente

presenciado por unidade da MB, são disponibilizadas para a população duas linhas telefônicas: uma do

Com9ºDN – 185; e uma da CFAOC – 0800-3807200.

Os eventos SAR, normalmente, são informados às Capitanias ou OM subordinadas, em razão de sua

maior “visibilidade” pela população ribeirinha.

Garantia da Lei e da Ordem

O emprego das Forcas Armadas na GLO (Decreto n. 3.897, de 24 de agosto de 2001), em situação

de normalidade, deverá ser episódica, em área previamente definida, ter a menor duração possível e o

documento oficial com a decisão presidencial de emprego das Forcas Armadas deverá indicar a missão

e os demais órgãos envolvidos.

O Poder Naval nestas situações poderá atuar de forma isolada ou em cooperação com as demais Forças

e realizar as seguintes ações: controle de áreas marítimas litorâneas; manutenção da integridade de

instalações marítimas, costeiras e fluviais, bem como de Pontos Sensíveis de interesse; controle de áreas

ribeirinhas; transporte e desembarque administrativo de contingente e suprimentos militares; controle

de áreas de dimensões limitadas em terra; segurança de autoridades em eventos específicos; e, em

situações excepcionais, operações especiais de retomada e resgate.

Anualmente são realizados exercícios específicos em diferentes pontos da região para a manutenção

da prontidão.

Page 115: Seminário de Segurança da Amazônia

113113

Apoio Cívico-Social e Assistência Hospitalar

São as atividades realizadas em complemento às ações dos órgãos federais, estaduais e municipais de

apoio cívico-social e assistência hospitalar aos ribeirinhos e na ocorrência de desastres ambientais e

calamidades públicas.

As ações concernentes a essa atividade, além de sua finalidade específica, contribuem para levar a

Bandeira Nacional a áreas remotas do território nacional e servem para o aumento do conhecimento

operacional sobre essas áreas, necessário ao planejamento militar e para se contrapor às ações psico-

lógicas praticadas por missionários, ONG, garimpeiros e narcotraficantes.

Apoio Logístico

Função Logística SaúdeA área da saúde de Manaus, tanto no que concerne à Policlínica da MB quanto aos demais hospitais,

nestes incluídos os das outras Forças, que muito nos apóiam, ainda não têm plena capacidade para

atender a todas as necessidades da Família Naval, sendo em alguns casos adotada a solução de enviar

pacientes para os hospitais no Rio de Janeiro, seja ela por falta de recursos humanos, instalações ou

equipamentos para atendimento e às vezes por conta dos altos custos.

Função Logística Manutenção – meios de SuperfícieOs sistemas de armas, propulsão, geração de energia, de governo etc. dos navios da Flotilha do Amazo-

nas não são complexos e compete às suas tripulações a realização das manutenções de 1º e 2º Escalão.

As manutenções gerais (3º Escalão), até cinco anos atrás, eram realizadas na Base Naval de Val de Cães,

em Belém.

Hoje, a Estação Naval do Rio Negro realiza as manutenções de 3º escalão dos navios e embarcações

com o apoio da infraestrutura disponível em Manaus e sobressalentes adquiridos pelo Sistema de Abas-

tecimento da Marinha.

Page 116: Seminário de Segurança da Amazônia

114

Função Logística Manutenção – meios aeronavaisO Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral faz a manutenção de 1º Escalão das aeronaves; o 2º e

3º Escalão são realizados, pela Marinha, na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia; e as manutenções

de 4º Escalão, tais como revisões de turbinas e das células das aeronaves, são realizadas na HELIBRAS

– representante, no Brasil, do fabricante da aeronave.

Limitações

As limitações do Poder Naval na Amazônia Ocidental são classificados quanto à articulação, aos equi-

pamentos e ao emprego.

Articulação

Ao analisarmos o pré-posicionamento das OM da Marinha, com o auxílio de um mapa da AOC, e os

dados estatísticos da região que apresentam o crescimento:

• das cidades, com reflexos no tráfego aquaviário de passageiros, combustíveis, gêneros etc.;

• do PoloPolo Industrial de Manaus, com as suas demandas por matéria prima e a exportação da

produção também, com reflexos no tráfego aquaviário;

• da extração de petróleo nas bacias de Urucu e da prospecção no baixo Juruá; e

• do escoamento da safra de soja pela hidrovia do Madeira de Porto Velho para Itacoatiara.

Constatamos que a evolução da Marinha em termos de meios para a Patrulha Naval e para o SSTA não

acompanhou o ritmo de desenvolvimento da AOC e, portanto, das demandas pelos serviços prestados

pela Marinha.

Page 117: Seminário de Segurança da Amazônia

115115

Equipamentos

Os meios navais, aeronavais, de fuzileiros navais e de segurança do tráfego aquaviário são dependentes

de apoio logístico externo à área de jurisdição do Com9oDN.

Na AOC nem a MB nem o parque industrial de Manaus possuem recursos humanos e infraestrutura

com as capacidades necessárias para a manutenção dos meios, que são da década de 1970. Estes es-

tão passando por modernizações, nos sistemas de propulsão, geração de energia, detecção (radares),

comunicações, ar-condicionado etc., o que lhes prorrogará a vida útil por mais dez a quinze anos.

Os meios de fuzileiros navais não apresentam dificuldades por serem, de maneira geral, de simples

manutenção.

As dotações de embarcações para emprego na Segurança do Tráfego Aquaviário atendem à tarefa,

mas o problema aparece quando da necessidade de manutenção dos meios por conta da falta de in-

fraestrutura de manutenção – pessoal qualificado e sobressalentes – na maioria das cidades onde estão

situadas as delegacias e agências.

Para que o Poder Naval se mantenha apto a cumprir o amplo espectro de tarefas que lhe são atribuídas

no cenário amazônico, sua base material necessita estar aprestada, ou seja, com tripulações adestradas

e meios operacionais.

Os meios, ao longo dos anos, com os adestramentos, exercícios e operações navais, sofrem um proces-

so natural de desgaste que, aliado a falta de infraestrutura de manutenção, limitam as suas vidas “útil”,

tornando sua operação perigosa e a manutenção onerosa e difícil.

Para se contrapor a esse processo os meios necessitam ser mantidos, modernizados e/ou substituídos.

Page 118: Seminário de Segurança da Amazônia

116

Emprego

São amplas as possibilidades de atuação do Poder Naval na região Amazônica, tendo em vista as suas

quatro características básicas: Mobilidade, Versatilidade, Flexibilidade e Permanência.

Primeiramente, antes de discriminar limitações quanto ao cumprimento das tarefas, é importante res-

saltar a dificuldade de os meios navais adequarem-se simultaneamente às operações no mar e no

ambiente ribeirinho. Os requisitos que orientam o projeto e a construção de navios são baseados na

Tarefa, na Ameaça e no Cenário, que são bem distintos para mares e rios.

No aspecto mobilidade, requer especial atenção a velocidade, máxima de 10 nós, desenvolvida pelos

navios da Força de Emprego Rápido (FER) sabendo:

• das distâncias envolvidas para posicionar as unidades na fronteira para a execução da PatNav, IN

ou SAR, ou para ASSHOP. A distância de Manaus ao PEF de Ipiranga, no Rio Iça é de 870 milhas,

sendo gastos 6 dias para lá chegar; e

• que a nova geração de embarcações de transporte de passageiros, denominadas a jato, que estão

revolucionando o transporte na região, navegam em média a 30 nós. Estas estão fazendo o traje-

to Manaus Tabatinga em 56 horas, enquanto as embarcações regionais, transportando o pessoal

em rede, levam aproximadamente seis dias (144 horas).

Nos aspectos flexibilidade e permanência a atenção recai sobre a capacidade de transporte de tropa:

• por falta de Navios Transporte Fluvial e Navios de Apoio Logístico Fluvial, essenciais às Operações

Ribeirinhas, tendo em vista que o controle de hidrovias interiores impõe o controle das áreas ter-

restres que lhe são adjacentes e vice-versa; e

• pela capacidade limitada das aeronaves Esquilo, que só transportam três combatentes.

Page 119: Seminário de Segurança da Amazônia

117117

Perspectivas

A posição da Marinha do Brasil em relação ao cenário amazônico é de que desde o tempo de paz deve

ser priorizada a Estratégia da Dissuasão, por todas as expressões do Poder Militar, visando desesti-

mular atitudes hostis. Para tanto, é importante que se possua um Poder Naval aprestado, balanceado e

com credibilidade, o que vem sendo buscado na Amazônia.

Articulação

A Articulação da Marinha tem como propósito preservar e ampliar a capacidade operativa da Força,

tanto em operações em tempo de paz como em situação de conflito armado. Quanto mais uniforme e

ponderada for essa distribuição, mormente a das bases de apoio, menor será a tensão para acionar e

sustentar o apoio logístico necessário para o período da campanha, pois nenhuma operação militar po-

derá ser levada a cabo sem apoio logístico adequado, a partir de bases estrategicamente posicionadas

e estruturadas. Nesse contexto, devem ser planejadas as Organizações Militares (OM) a serem criadas,

ampliadas ou modernizadas, necessárias à adequação da Força ao prescrito na Estratégia Nacional de

Defesa (END).

Além das instalações voltadas para as atividades operativas, administrativas, técnicas e de ensino da

MB, é necessário contemplar, também, aquelas ligadas ao atendimento e apoio aos militares e seus

dependentes, tais como moradia, assistência social, serviço médico-odontológico, entre outros.

As seguintes ações, com uconsequências diretas sobre o aumento da capacidade dissuasória estão

sendo desenvolvidas na AOC.

Criação do Comando do 9º Distrito Naval (Com9ºDN)

O Com9ºDN foi criado com subordinação direta ao Comandante de Operações Navais e com: estrutura

militar semelhante aos demais distritos; independência administrativa e logística; e vocação exclusiva-

Page 120: Seminário de Segurança da Amazônia

118

mente fluvial. O novo DN busca orientar o adestramento, a manutenção dos meios e agregar conheci-

mentos e procedimentos ao preparo e emprego dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais na

Amazônia Ocidental.

Elevação do Grupamento a Batalhão de Operações Ribeirinhas (BatOpeRib)

O incremento da presença militar por intermédio da elevação do Grupamento de Fuzileiros Navais de

Manaus a Batalhão, com maior efetivo e especialização, tem permitido dispor de mais destacamentos

de Fuzileiros Navais (FN) embarcados ou destacados em posições estratégicas, como Tabatinga e São

Gabriel da Cachoeira, em apoio às atividades de Patrulha e Inspeção Naval e Segurança de Instalações.

Criação e Reposicionamento de OM

A cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, além de grande metrópole, tem localização es-

tratégia na foz dos rios Solimões e Negro.

Atualmente se encontram sediadas em Manaus as principais Organizações Militares de Comando, Con-

trole e Apoio Logístico da Força Naval bem como o órgão centralizador das atividades de monitoração

e controle da Segurança do Tráfego Aquaviário.

Os estudos de aumento da presença da Marinha na Amazônia indicam a necessidade de em Manaus

posicionar ou reposicionar as seguintes OM:

• o Serviço de Sinalização Náutica da Amazônia Ocidental com seus dois Avisos Hidrográficos;

• o Esquadrão de Helicópteros de Médio Porte;

• a expansão do Esquadrão de Helicópteros de Pequeno Porte;

• o aumento das capacidades da Estação Naval do Rio Negro; e

• a expansão do Depósito Naval de Manaus.

Page 121: Seminário de Segurança da Amazônia

119119

Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário (SSTA)

A quantidade e a capacidade das Organizações Militares (OM) do SSTA têm sido paulatinamente aumen-

tadas, a fim de fornecer suporte adequado ao desenvolvimento do transporte fluvial na região, garan-

tindo: o ordenamento e a segurança do tráfego aquaviário; a salvaguarda da vida humana nos rios; e a

prevenção da poluição de nossas águas.

O sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário (SSTA) está sendo reestruturado para permitir maior

amplitude de monitoração e controle do tráfego fluvial, que está crescendo a taxas superiores a 10%

ao ano. Vêm sendo observados:

• o aumento do tráfego de navios mercante na rota Belém–Manaus desenvolvendo maior velocida-

de, e com maior calado e tonelagem causando banzeiros, desbarrancamentos;

• o aumento do tráfego nos afluentes do Amazonas Solimões, em particular de balsas de combus-

tíveis, e gêneros; e

• o aumento da velocidade das embarcações de transporte de passageiros.

O programa de reestruturação em execução prevê no curto prazo:

• a elevação de categoria da Delegacia Fluvial de Porto Velho (RO) para Capitania de 3ª Classe o que

significa quase dobrar o número de militares na cidade, na tarefa de STA;

• a criação de Agência Fluvial em Humaitá (AM), em processo licitatório; e

• a criação de Agência em Cruzeiro do Sul (AC), em negociações com o Estado do Acre a cessão de

área e a construção da Agência e PNR.

Também, na pauta da reestruturação, vem sendo estudado pelo Com9ºDN, a criação de uma Agência

Fluvial em São Gabriel da Cachoeira (AM), onde está atuando, desde setembro de 2009, um desta-

camento com oito militares, com a tarefa de ministrar cursos do Ensino Profissional Marítimo (EPM) e

orientar os ribeirinhos sobre segurança da navegação.

Page 122: Seminário de Segurança da Amazônia

120

No contexto da Segurança da Navegação as seguintes ações estão planejadas para mitigar os proble-

mas relacionados com o crescimento do tráfego, a saber:

• levantamento hidrográfico dos rios navegáveis (Programa Cartografia da Amazônia);

• sinalização náutica nos pontos críticos; e

• estabelecimento de regras de navegação.

No Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil estão definidas as OM do SSTA previstas

para serem criadas para ampliar o monitoramento e controle das diversas bacias fluviais amazônicas.

Assistência Hospitalar

Os Navios de Assistência Hospitalar, conhecidos pelos ribeirinhos como os “Navios da Esperança”, têm

levado assistência médica-odontológica às populações que vivem às margens das hidrovias amazôni-

cas, em localidades distantes de qualquer posto de atendimento.

A Marinha, com os seus três navios, persegue a meta de visitar duas vezes por ano os polos de saúde

(divisões das bacias hidrográficas, que facilitam o planejamento operacional e logístico das Comissões

de Assistência Hospitalar – as ASSHOP). A meta nem sempre tem sido alcançada por conta das neces-

sidades de atendimentos de cada localidade e da baixa velocidade desenvolvida pelos navios, entre

outras razões.

Page 123: Seminário de Segurança da Amazônia

121121

Equipamento

O Plano de Articulação e Equipamentos da Marinha do Brasil (PAEMB) foi elaborado com base nas

necessidades de aumentar a presença e prevê para a região da Amazônia Ocidental os seguintes meios

navais, aeronavais, de fuzileiros navais, de apoio logístico e para o SSTA.

Meios Navais

MEiOs NaVais Existentes PaEMB

Diques Flutuantes 1 2

Navios Patrulha Fluvial 5 10

Navios Transporte Fluvial 0 4

Navios de Apoio Logístico Fluvial 0 2

Rebocadores Fluviais 1 2

Navios de Assistência Hospitalar 3 5

Avisos Hidrográficos Fluviais 0 2

Meios Aeronavais

MEiOs aErONaVais Existentes PaEMB

Helicópteros de Emprego Geral – médio porte 0 6

Helicópteros de Emprego Geral – pequeno porte 6 12

Meios de Fuzileiros Navais• Equipamentos de Comunicações; e

• Lanchas de Combate.

Page 124: Seminário de Segurança da Amazônia

122

Munição• Recompletamento das Dotações de Munição.

Embarcações de Apoio ao SSTA• Obtenção de 430 embarcações para o SSTA e 496 embarcações de apoio – necessidade total da

MB.

Emprego

Desenvolvimento das Operações Ribeirinhas

Os exercícios realizados pela Marinha (Com9ºDN e Com4ºDN), anualmente, de forma isolada ou em

conjunto com as outras Forças, servirão para aprimorar a doutrina de Operações Ribeirinhas e permitirá

aperfeiçoamentos operacionais importantes, principalmente nos aspectos de:

• atuação conjugada dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais;

• controle efetivo das vias fluviais;

• reconhecimento e ocupação de áreas de margens;

• defesa antiaérea; e

• comunicações por satélite integradas.

As Operações Conjuntas, com o emprego simultâneo dos efetivos da Marinha, Exército e Força Aérea,

são as melhores aplicações do Poder Militar na Amazônia Ocidental por conta das capacidades com-

plementares. Neste contexto, a busca pela interoperabilidade plena é fator fundamental na estratégia

de dissuasão.

Page 125: Seminário de Segurança da Amazônia

123123

Estímulo à Integração com Instituições Públicas e Privadas

A Marinha está empenhada na busca de realização de convênios e termos de cooperação com diferen-

tes órgãos do governo e instituições privadas para desenvolver as atividades constitucionais e subsidiá-

rias em que existam propósitos comuns.

A perspectiva é a intensificação de parcerias para o aproveitamento das diferentes capacidades com

instituições e entidades como: Ministério da Saúde (MS), INSS, Petrobras, Polícia Federal, Receita Fede-

ral, Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), Superintendência do Patrimônio da União

(SPU).

Prevenção da Poluição Hídrica por embarcações

A perspectiva futura da Amazônia Ocidental é o seu crescimento autossustentável.

O Poder Naval tem responsabilidades na prevenção e no desenvolvimento da consciência ambiental,

notadamente a prevenção à poluição hídrica, a qual já é objeto de ações educativas e das Patrulhas e

Inspeções Navais em toda a região.

Reflexos para a Defesa Nacional

A região amazônica, vasta em dimensões geográficas, exuberante em belezas, rica em possibilidades

e de notória e destacada importância nos cenários nacional e internacional, em virtude do grande po-

tencial de recursos minerais, hídricos e biodiversidade, ainda não explorados, atrai a atenção de uma

miríade de atores governamentais, não-governamentais, nações estrangeiras e da própria sociedade

brasileira.

Page 126: Seminário de Segurança da Amazônia

124

Os reflexos das ações da MB na Amazônia Ocidental são mensurados pelo recente interesse da socie-

dade brasileira quanto à importância da região. A relevância do tema “Defesa” acompanha as ações da

Marinha, em especial, as voltadas para:

• a assistência hospitalar aos ribeirinhos, realizada pelos Navios da Esperança;

• segurança da navegação nos rios; e

• as de apoio à população quando da ocorrência de desastres ambientais e calamidades públicas,

tais como cheias e secas dos rios.

No que tange a reflexos na defesa, a atuação da Marinha na AOC, em 2009, engloba a execução das

tarefas de:

• fiscalização do direito de passagem inocente de embarcações estrangeiras, inclusive de navios de

guerra e de Estado;

• controle da movimentação de meios navais, nacionais e estrangeiros, em trânsito nas Águas Ju-

risdicionais Brasileiras (AJB);

• segurança do tráfego aquaviário no que se refere à salvaguarda da vida humana, à segurança nas

hidrovias interiores e a prevenção da poluição hídrica;

• fiscalização do cumprimento de leis e regulamentos nas águas interiores, atuando quando ne-

cessário em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo federal, estadual ou municipal;

• cooperação com outros órgãos na repressão a delitos e crimes transnacionais; e

• fiscalização das atividades de pesquisa científica, de levantamento hidrográfico, de aquisição de

dados relacionados à atividade de exploração e explotação de recursos naturais e do patrimônio

genético nas AJB, são:

Page 127: Seminário de Segurança da Amazônia

125125

Em 2009

Dias de navegação nos rios – 8 navios no ano. 1.051

Horas voadas – 6 aeronaves no ano. 1.288

ASSHOP Comunidades atendidas – O Estado do Amazonas tem 68 municípios. 595

ASSHOP Procedimentos médico-odontológicos aos ribeirinhos. 147.000

SSTA – Inspeções Navais – Abordagens. 24.845

SSTA – Inspeções Navais – Autos de infração. 2.529

SSTA – Inspeções Navais – Apreensões. 954

SSTA – Ensino Profissional Marítimo – Palestras. 416

SSTA – Ensino Profissional Marítimo – Ouvintes. 14.118

Page 128: Seminário de Segurança da Amazônia

126

Referências

BRASIL. Constituição. Constituição Federal de 1988: República Federativa do Brasil. Brasília, 1999.

BRASIL. Decreto n. 5.129, de 6 de julho de 2004. Dispõe sobre a Patrulha Naval e dá outras providên-

cias. Brasília, 2004.

BRASIL. Decreto n. 5.484, de 30 de junho de 2005. Aprova a Política de Defesa Nacional e dá outras

providências. Brasília, 2005.

BRASIL. Decreto n. 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia Nacional de Defesa e dá

outras providências. Brasília, 2008.

BRASIL. Lei Complementar n. 97, de 9 de junho de 1999. Dispões sobre as normas gerais para a orga-

nização, o preparo e o emprego das Forças Armadas. Brasília, 1999.

BRASIL. Lei Complementar n. 117, de 2 de setembro de 2004. Altera a Lei Complementar n. 97, de 9

de junho de 1999, que dispões sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das

Forças Armadas. Brasília, 2004.

______. Estado-Maior da Armada. EMA 304. Diretrizes Básicas da Marinha. Brasília, 2003.

______. Estado-Maior da Armada. EMA 305. Doutrina Básica da Marinha. Brasília, 2004.

______. Estado-Maior da Armada. EMA 322. A posição da Marinha nas principais questões políticas e

doutrinárias de interesse naval. Brasília, 2006.

______. Estado-Maior da Armada. Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil (PAEMB).

Brasília, 2009.

SILVA, Roberto Gama e. Estratégia de Defesa da Amazônia Brasileira. revista Marítima Brasileira, Rio

de Janeiro, v. 129, n. 4/6, p.69-75, abr./jun. 2009.

Page 129: Seminário de Segurança da Amazônia

127

o PoDEr aEroEsPacial na amazônia ociDEnTal: siTuaÇÃo aTual E PErsPEcTivas

fuTuras Para a DEfEsa nacionalNilson Soilet Carminati

Introdução

A Política de Defesa Nacional (PDN) exprime Segurança como sendo uma condição que permite ao País

a preservação da sua soberania e da sua integridade territorial, a realização dos seus interesses nacio-

nais, estando a Nação livre de pressões e ameaças de qualquer natureza, garantindo aos cidadãos o

exercício dos seus direitos e deveres constitucionais. Essa segurança é afetada pelo grau de estabilidade

da região onde ele está inserido, sendo desejável que ocorram o consenso, a harmonia política e a con-

vergência de ações entre os países vizinhos, visando lograr a redução da criminalidade transnacional,

na busca de melhores condições para o desenvolvimento econômico e social que tornarão a região

mais coesa e mais forte.

Como consequência de sua situação geopolítica, é importante para o Brasil que se aprofunde o processo

de desenvolvimento integrado e harmônico da América do Sul, o que se estende, naturalmente, à área

de defesa e segurança regionais. Defesa e Desenvolvimento são aspectos indissociáveis do Planejamento

e da Ação Estratégicos. A área de defesa e o desenvolvimento da segurança regional a que fizemos cita-

ção são aqui abordados em referência a uma macrorregião de interesse internacional, a Amazônia Legal

Brasileira, por abrigar em sua essência uma área de grande biodiversidade, enormes reservas de recursos

naturais e imensas áreas para serem incorporadas ao sistema produtivo de outras nações.

Nesse cenário, esta apresentação tem o propósito de expor as estratégias e o Poder Aeroespacial da

Força Aérea Brasileira (FAB) para a manutenção da segurança da Amazônia, vinculadas às ações de

desenvolvimento e integração regional, proteção ao meio ambiente, controle, monitoração e policia-

mento do espaço aéreo contíguo às nossas fronteiras, com vistas a auxiliar no planejamento de longo

prazo governamental e contribuir para a implementação da Estratégia Nacional de Defesa, como parte

dos trabalhos desenvolvidos pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Page 130: Seminário de Segurança da Amazônia

128

Cenários

Análise histórica

A preocupação do governo federal com a Amazônia Ocidental nasceu em 10 de outubro de 1941,

quando Getúlio Vargas leu, em Manaus, o famoso “discurso do Rio Amazonas” anunciando mudanças

no pensamento do governo para a Amazônia.

Como consequência, em 21 de agosto de 1944 é criada, mas não ativada, a Base Aérea de Manaus.

Quase dez anos mais tarde, em janeiro de 1954, é criado o Destacamento de Base Aérea de Manaus,

“(...) com a missão principal de assegurar a operação das linhas de transporte aéreo na região do Alto

Amazonas”, o que demonstrava o viés logístico que a nova base teria.

Finalmente, em 31 de março de 1970, é ativada, definitivamente, a Base Aérea de Manaus, mas a Força

Aérea Brasileira apenas começava o seu voo em direção à região Amazônica.

Na sequência, visando ampliar a sua presença na região, o então Ministério da Aeronáutica atribui uma

nova divisão territorial à Força Aérea Brasileira e cria, em 1º de março de 1983, o Sétimo Comando

Aéreo Regional, que teria sob sua responsabilidade os Estados do Amazonas, Acre e Rondônia, além

do território Federal de Roraima. No ano seguinte, mais duas Bases Aéreas são criadas na região: a Base

Aérea de Boa Vista, em Roraima; e a Base Aérea de Porto Velho, em Rondônia.

Continuando o seu investimento na área, o Comando da Aeronáutica criou ainda três Destacamentos

de Aeronáutica, em São Gabriel da Cachoeira (AM), na região conhecida como “Cabeça do Cachorro”;

em Eirunepé (AM) e em Vilhena (RO), fechando, dessa forma, todo o arco fronteiriço oeste.

Dos 116 homens de 1954, chegamos hoje a aproximadamente 6 mil homens e mulheres, pois ao longo

desses 66 anos outras organizações da FAB foram se unindo ao complexo aeronáutico na região, so-

mando hoje 18 organizações sediadas na Amazônia Ocidental, sem contar os diversos Destacamentos

do Cindacta IV, distribuídos ao longo de toda a Amazônia Legal.

Page 131: Seminário de Segurança da Amazônia

129129

Conjuntura do Poder Aéreo

O Brasil vive uma prolongada época de paz externa, caracterizada pela solução pacífica de todas as

suas pendências, procurando, sempre, a negociação e evitando qualquer forma de confronto por meio

das armas.

As ameaças atuais são difusas, imprevisíveis e abrangem um espectro que varia desde a possibilidade

de uma crise externa, uma agressão realizada por um Estado, até a ocorrência de atos de terrorismo.

As hipóteses de emprego das Forças Armadas, constantes da Estratégia Militar, são baseadas na ge-

ografia brasileira, nos tipos de ameaça e nos tipos de missão. “Nem mesmo os extraordinários bens

estratégicos brasileiros, representados pela abundância de recursos naturais, tais como minérios, bio-

diversidade, mananciais de água doce, bem como grandes extensões de terras agricultáveis, sujeitos à

cobiça internacional, têm motivado o incremento da capacitação de Defesa para garantir a sua prote-

ção. Embora a economia brasileira rivalize com as das nações centrais e apresente amplas possibilidades

de crescimento, esta não consegue despertar o País para a necessidade de deter um elevado poder

de dissuasão, traduzido pelo adequado aparelhamento da expressão militar do Poder Nacional, cuja

capacidade atual não está compatível com a estrutura político-estratégica do país” (PMA, 2008, p. 20).

A Força Aérea, portando, tem que se basear em capacidade de ampla ação, sem um tipo específico de

inimigo, como ocorria até o fim dos anos 80 do século passado.

Dentro desse enfoque, os conceitos operacionais e as tecnologias são fatores que determinam a ca-

pacidade do poder aéreo, pois eles estão presentes, em maior ou menor quantidade e qualidade, em

qualquer cenário e causam assimetria positiva em favor do beligerante que possuir processos, estru-

turas e recursos para esse fim. Acompanhando esse pensamento, a Força Aérea Brasileira (FAB) con-

solidou seu processo de planejamento para uma efetiva atuação na defesa aeroespacial da Amazônia

com a aquisição e desenvolvimento de várias tecnologias e vetores, além da expansão de suas bases de

apoio e aumento significativo do seu efetivo.

O aprofundamento das Forças Armadas na Amazônia Ocidental, hoje com mais de 30 mil homens, tem

exigido da FAB crescente responsabilidade quanto ao apoio logístico, haja vista que a malha rodoviária

permanece precária e a fluvial está sempre sensível à sazonalidade das cheias ou das secas. Assim, a

Page 132: Seminário de Segurança da Amazônia

130

pronta-resposta da FAB, por meio do VII COMAR, resulta essencial para as ações militares de presença

na região, e traduz o empenho e a dedicação das Organizações Militares (OM) sediadas e de seus res-

pectivos comandos.

Persistir na realização de atividades que consolidem a Estratégia da Resistência, buscando aumentar

a presença do Estado nos rincões de difícil acesso, é critério crítico para a concepção das ações de

comando.

É importante manter o atendimento prestado pela Força Aérea às comunidades da região, através das

linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN) e Ações Cívico-Sociais (ACISO). Essas missões têm proporcio-

nado um alcance social de altíssima relevância, culminando no reconhecimento em nível nacional e

internacional, e na gratidão ímpar por parte das comunidades assistidas.

É preciso ainda mencionar o elevado esforço conjunto das organizações militares do Comando da Ae-

ronáutica na Amazônia Ocidental a fim de concentrar esforços com o objetivo único de contribuir para

a manutenção da operacionalidade do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB), cuja

eficácia é diretamente proporcional a sua capacidade de prover o controle do tráfego aéreo e a defesa

aeroespacial do nosso território.

Meios operacionais e de apoio

O Sétimo Comando Aéreo Regional é

a Organização do Comando da Aeronáutica na Amazônia Ocidental e que tem por

finalidade coordenar, controlar e executar, no que couber, as atividades administrativas

e logísticas necessárias ao funcionamento das Organizações subordinadas, ou eventu-

almente desdobradas, bem como de outras Organizações Militares sediadas em sua

área de jurisdição, desde que previsto em ato específico; realizar as ações de Segurança

Interna de sua competência; exercer a Representação do Comando da Aeronáutica e o

Comando Territorial da área sob sua jurisdição.

Page 133: Seminário de Segurança da Amazônia

131131

Sua área de responsabilidade compreende cerca de 25% de todo o território nacional (2.190.182 km2),

abrangendo os Estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima, numa faixa de 11.000km de fronteira

com cinco nações amigas: Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia.

Dentre as várias atividades desenvolvidas e apoiadas pelo VII COMAR, destacam-se aquelas de apoio

aéreo às instituições federais, estaduais e municipais; administração dos aeródromos da região; atendi-

mento às comunidades ribeirinhas e outras onde o modal aéreo é única forma de acesso, como: Mis-

sões de Misericórdia (MMI), Missões de Assistência Cívico-social (ACISO) e do Correio Aéreo Nacional

(CAN); apoio logístico e operacional às missões das Forças Armadas na Amazônia Ocidental; gerência

sobre o Plano de Apoio à Amazônia; apoio à vigilância e controle do espaço aéreo, dentre outras.

O cumprimento das operações de defesa aeroespacial em toda a extensão desse vasto território é

uma tarefa de difícil execução, pois exige uma capacidade em meios aéreos, de detecção e telecomu-

nicações, bem como de pessoal, desdobrados na região e em constante estado de pronta-resposta,

possuindo uma capacidade de comando e controle compatível.

Para prover todo esse apoio e aumentar a capacidade de pronta-resposta da Força Aérea, existem na

região três Bases Aéreas situadas nas cidades de Manaus, Boa Vista e Porto Velho, cada uma delas com

seus meios aéreos próprios, além de três Destacamentos de Aeronáutica, estrategicamente localizados

nas cidades de São Gabriel da Cachoeira (AM), Eirunepé (AM) e Vilhena (RO), sendo utilizados para

desdobramentos de Unidades Aéreas e de Aeronáutica no cumprimento de suas missões ou ainda para

desenvolvimento de exercícios militares.

Base Aérea de Manaus

A criação da Base Aérea de Manaus (BAMN) deu-se em março de 1970 por decreto do então presi-

dente da República, General Emílio Garrastazú Medici, sendo extinto o Grupamento de Aeronáutica de

Manaus e adicionado todo seu acervo em pessoal, material, equipamentos e instalações à recém-criada

BAMN. O 1º/9º Grupo de Aviação, primeira Unidade Aérea incorporada às instalações da BAMN e equi-

pado com aeronaves de fabricação canadense denominadas C-115 Búfalo, cumpria os mais variados

tipos de missão, levando desenvolvimento e esperança aos mais longínquos recantos da região Norte.

Em janeiro de 1981 houve a incorporação de mais uma Unidade Aérea, o 1º/8º Grupo de Aviação, ten-

Page 134: Seminário de Segurança da Amazônia

132

do sido transferido em 1986 para a Base Aérea de Belém, criando-se assim o 7º/8º Grupo de Aviação,

operando com helicópteros UH-1H, que posteriormente foram substituídos pelos modernos H-60L

Black Hawk.

Atualmente, a Base Aérea de Manaus comporta três Unidades da Força Aérea Brasileira (1º/9º GAv,

7º/8º GAv e 7º Esquadrão de Transporte Aéreo), um Batalhão de Infantaria de Aeronáutica Especial, um

Destacamento de Suprimento e Manutenção e um Hospital de Aeronáutica.

A BAMN é a principal organização logística da Força Aérea Brasileira na Amazônia Ocidental, com equi-

pamentos modernos e instalações otimizadas, cumprindo com excelência sua missão.

Unidades aéreas

Sétimo Esquadrão de Transporte Aéreo (7º ETA).Criado em 4 de julho de 1983, o Sétimo Esquadrão de transporte Aéreo (Esquadrão Cobra), tem por

finalidade realizar missões de transporte aéreo logístico e outras missões de caráter regional, de inte-

resse do comando da aeronáutica.

Operando com aeronaves C-98A Grand Caravan

e C-97 Brasília, o Esquadrão Cobra, nos seus 27

anos de existência, contabiliza inúmeras mis-

sões de misericórdia, de apoio às comunidades

carentes da Amazônia, apoio ao Exército Brasi-

leiro, à Marinha do Brasil e aos demais órgãos

governamentais, onde o transporte por outros

meios, se não o aéreo, é difícil de ser executado,

consolidando-se como uma unidade operacional

competente e profissional.

Tudo isto gerou o reconhecimento daqueles que habitam a região, batizando o esquadrão como

“Anjos da Amazônia”.

MISSÃO PRESIDENCIAL

Page 135: Seminário de Segurança da Amazônia

133133

Sétimo Esquadrão do Oitavo Grupo de Aviação (7º/8º GAv). O Sétimo Esquadrão do Oitavo Grupo de Avia-

ção, Esquadrão Harpia, operando na Amazônia

desde 1986, possui como vetor o moderno he-

licóptero de fabricação Norte-americana H-60

Black Hawk. Na Força Aérea Brasileira, a aerona-

ve é empregada em missões de Combate SAR,

isso quer dizer que, se um combatente da FAB

necessitar de apoio em território inimigo ou não,

a equipe de busca será transportada nesse heli-

cóptero, que além de efetuar o resgate, também

pode atacar o inimigo por meio do armamento

que possui.

Em tempos de paz, o H-60 tem apoiado o transporte de medicamentos e Agentes de Saúde às deze-

nas de tribos indígenas aonde apenas o helicóptero é capaz de chegar. Por ocasião da Operação Gota

realiza o transporte de vacinas e técnicos. O Esquadrão Harpia também participa no socorro a vítimas

de tragédias, em operações de ajuda humanitária, bem como no apoio a missões de busca e resgate

em acidentes aeronáuticos, como no caso do Air France 447 no Oceano Atlântico, além de evacuação

aeromédica e outras tantas missões. É a unidade da FAB na Amazônia Ocidental responsável pelo cum-

primento de Operações Especiais com um efetivo de homens altamente especializado e treinado para

missões desse tipo.

Primeiro Esquadrão do Nono Grupo de Aviação (1º/9º GAv)O Primeiro Esquadrão do Nono Grupo de Aviação-Esquadrão Arara é atualmente equipado com ae-

ronaves C-105 Amazonas, fabricados pela Indústria aeronáutica espanhola EADS-CASA, sendo a mais

moderna aeronave de transporte de tropa da Força Aérea Brasileira. Adquirido para substituir o C-115

Búfalo, que em 2008 completou 40 anos de operação, atua na Amazônia ocidental desde março de

2007, quando as primeiras aeronaves chegaram à Base Aérea de Manaus. Dentre as principais missões

desempenhadas pelo Esquadrão Arara, destacam-se as de suprimento logístico, distribuição tática de

tropas terrestres, suporte às forças de paz, transporte de emergência para áreas remotas e participa-

Page 136: Seminário de Segurança da Amazônia

134

ção nas missões humanitárias do Correio Aéreo Nacional. O C-105 Amazonas já é a espinha dorsal da

logística do Plano de Apoio à Amazônia, que emprega aeronaves para prover os destacamentos de

Radar do IV Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA IV) em toda

Amazônia legal, para suprir as obras da Comissão de Aeroportos da região Amazônica (COMARA), para

realizar o apoio logístico às unidades navais da Marinha do Brasil e Pelotões Especiais de Fronteira do

Exército Brasileiro, além de ajudar a Polícia Federal e órgãos governamentais.

Mesmo que em tempos de paz concentre seus esforços no trabalho humanitário e logístico, o avião é

uma plataforma militar e está preparado para uma eventual situação de conflito, possuindo um sistema

de autodefesa e blindagem da cabine. A Incorporação do C-105 Amazonas representou uma transição

do sistema de aviônicos analógico para o digital. O avião tem ainda a capacidade de operar à noite,

com tecnologia de Visão Noturna, auferindo-lhe a surpresa no combate.

Constituindo-se como um importante avanço tecnológico para a aviação de transporte militar brasi-

leira, o C-105 Amazonas é de fundamental importância nessa região do País, onde quase não existem

estradas e em que, durante os meses de seca, a navegação em grande parte dos rios fica impraticável,

fazendo do transporte aéreo a única alternativa viável de suprimento para diferentes pontos da maior

floresta tropical do planeta.

Page 137: Seminário de Segurança da Amazônia

135135

Base Aérea de Boa Vista e Base Aérea de Porto Velho

O cumprimento das operações de defesa aeroespacial em toda a extensão da Amazônia brasileira, que

compreende uma área de 1.200 X 1.300 milhas náuticas, é uma tarefa de difícil execução, pois exige

uma capacidade em meios aéreos, de detecção e telecomunicações, bem como de pessoal, desdobra-

dos na região e em constante estado de pronta-resposta, possuindo uma capacidade de comando e

controle compatível. Instalado na BABV, o 1º/3º GAv, equipados com aeronaves A-29 Super-Tucano de

fabricação nacional, é, juntamente com o 2º/3º GAv, instalado na BAPV, o braço armado da Força Aérea

no cumprimento das missões efetivas de Defesa Aérea na Amazônia Ocidental.

A partir de então, com as atividades desenvolvidas por essas Unidades Aéreas, sediadas estrategi-

camente nas cidades de Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO), as agressões perpetradas ao ecossistema

amazônico ao longo de décadas, bem como o tráfego ilícito de aeronaves cruzando a vastidão da

Amazônia, não mais ficaram sem a devida deteção, fazendo parte de investimentos do governo federal

em um ambicioso projeto: o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM).

O passo inicial para a implementação do grandioso projeto foi dado em 1990, quando o Ministério da

Aeronáutica, a Secretaria de Assuntos Estratégicos e o Ministério da Justiça apresentaram à Presidência

da República uma Exposição de Motivos objetivando criar um complexo sistema que garantisse maior

segurança à navegação aérea e, concomitantemente, realizasse uma efetiva vigilância e proteção da

Amazônia brasileira. Nascia, assim, o Projeto SIVAM, com a iniciativa do governo federal ao declarar sua

firme intenção de assumir o papel de protetor da grande floresta.

O contrabando e o tráfico de drogas utilizavam a porosidade de nossas fronteiras trazendo armas, subs-

tâncias estupefacientes e produtos industriais que escapavam das taxas governamentais, normalmente

aplicadas nos pontos legais de entrada do País. Carregamentos dos mais diversos tamanhos entravam

pelo ar e pelos rios da região, desaparecendo rapidamente na imensidão territorial até reaparecerem

novamente nas cidades grandes ou buscando portos de saída para os promissores mercados norte-

-americano e europeu. Em contrapartida, produtos amazônicos dos mais diversos, desde pássaros ra-

ros, peixes exóticos e animais tropicais, até a madeira de lei e os milhares de produtos da biodiversidade

da floresta, eram retirados do País sem benefício algum para os seus habitantes. Depreende-se que,

diante dessa problemática, o governo brasileiro necessitava dispor de uma capacidade de coordenação

de vigilância integrada, reunindo todos os seus meios capazes de coibir ações ilícitas, tanto na região

Page 138: Seminário de Segurança da Amazônia

136

amazônica, quanto dela provenientes. O desconhecimento de boa parte da floresta amazônica tam-

bém era uma preocupação para os integrantes da coalizão que lutava para implementar o projeto junto

à Presidência da República. Durante séculos, a população brasileira, à margem das pesquisas realizadas

por renomados cientistas das mais diversas especialidades, dispunha de pouca informação das imensas

riquezas existentes no meio da selva. Fazia-se necessário o conhecimento da região para que a coleta

de informações científicas, que diversas empresas e nações vinham patrocinando, revertesse em bene-

fício dos habitantes locais.

Para tal, era preciso que o Brasil conhecesse a Amazônia como nunca o fizera antes.

Finalmente, o programa deveria trazer progresso, desenvolvimento e conforto para a crescente popula-

ção da região, os amazônidas. A Nação, que tanto esforço fizera, durante tantos anos, para chegar até

aos seus mais distantes habitantes, nas asas da Força Aérea Brasileira, não os havia esquecido. Agora,

com a tecnologia ao seu lado e com a disposição de abraçar a grande região verde, chegava para inte-

grar ainda mais o cidadão da Amazônia ao restante País.

A Aeronáutica, velha conhecedora da região, tornou-se a responsável pela implantação e pelo geren-

ciamento dos vetores do projeto. Garantiria também o seu funcionamento. Já o Ministério da Justiça

proporcionaria o respaldo legal ao projeto, possibilitando a totalidade de ação aos meios capazes de

coibir os atos ilegais perpetrados na região. Até alguns anos atrás, os pilotos militares costumavam

observar pequenos aviões voando livres sobre a selva, na maioria das vezes transportando contrabando

e drogas, sem muito poder fazer. Também era comum nossos cientistas constatarem que diversos pro-

dutos estrangeiros possuíam fórmulas com componentes somente obtidos através de recursos naturais

da selva amazônica. Ademais, os nossos diplomatas estavam cansados de escutar que seu País era o

causador dos maiores infortúnios ecológicos do planeta, por causa da ação predatória de garimpeiros

e criminosas queimadas extensivas da selva tropical.

No que concerne à navegação aérea, carecia a Amazônia de melhor monitoramento das aeronaves

que cruzavam seu espaço aéreo. Em razão das longas distâncias a serem percorridas, muitas vezes os

pilotos ficavam à mercê da própria sorte, por não disporem de informações meteorológicas precisas. Os

auxílios à navegação sofriam um grande espaçamento, o que exigia, principalmente para as aeronaves

de menor porte e escassos recursos de comunicação/navegação, um permanente contacto com o solo,

a fim de efetuar as devidas correções de rumo, carreando sérios transtornos aos tripulantes e compro-

metendo seriamente a segurança de voo.

Page 139: Seminário de Segurança da Amazônia

137137

Em que pesem essas enormes dificuldades, a Força Aérea Brasileira sempre marcou presença em todos

os rincões da imensidão amazônica, através das linhas do Correio Aéreo Nacional e do espírito desbra-

vador e patriótico de seus tripulantes.

O fortalecimento da defesa aeroespacial com o SIVAM

Ao longo do território amazônico foram instala-

dos 25 sítios dotados de equipamentos de tele-

comunicações, estações meteorológicas de su-

perfície e de altitude, radares móveis e fixos de

vigilância e estações providas de transmissores

VHF. Chamadas de Unidades de Vigilância, estão

localizadas nas cidades de Boa Vista, Estado de

Roraima; São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga,

Manaus, Manicoré, Tefé e Einurepê, no Estado

do Amazonas; Jacareacanga, Cachimbo, Belém,

Santarém, Marabá, São Félix do Xingu e Concei-

ção do Araguaia, no Estado do Pará; Santa Isabel

do Morro, Sinop e Porto Esperidião, no Estado do Mato Grosso; Porto Velho, Vilhena e Guajará-Mirim,

no Estado de Rondônia; Rio Branco e Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre; Tiriós e Macapá, no Estado

do Amapá; e São Luís, no Estado do Maranhão. Além das Unidades de Vigilância, foram montadas

também diversas Unidades de Telecomunicações, equipadas com aparelhos capazes de transmitir da-

dos de voz, texto e imagem.

Ao invés de solicitar ajuda externa para enfrentar a ameaça do narcotráfico e do contrabando, o Brasil

resolveu agir. A Força Aérea Brasileira, há muito tempo atuante na Amazônia, passou a operar uma

impressionante gama de aeronaves, visando ao efetivo controle do espaço aéreo sob sua responsabi-

lidade, o que certamente afeta a excessiva liberdade dos contrabandistas aéreos que até bem pouco

tempo se beneficiavam da porosidade da enorme fronteira.

Page 140: Seminário de Segurança da Amazônia

138

AERONAVE A-29 SUPER-TUCANO

Aeronaves de vigilância aérea, do tipo EMBRAER ERJ-145SA AEW&C, designados R-99 pela Força Aérea

Brasileira, fazem o trabalho complementar dos 25 radares de solo, que estão trazendo uma efetiva

cobertura dos céus da Amazônia, pois antes da implantação do SIPAM estima-se que ocorriam, ao

longo dos cerca de 16 mil quilômetros de fronteira brasileira, mais de 3 mil movimentos aéreos não

autorizados por dia.

Quando uma aeronave R-99A detecta um avião sem plano de voo em sua área de atuação, imediata-

mente interpelará sua tripulação, a fim de determinar a sua intenção. Se estes atuarem de forma suspei-

ta ou se tentarem fugir da ação das autoridades, o Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA)

acionará os aviões Embraer EMB-314 ALX, designados A-29 Super-Tucano pela FAB. Estas robustas

aeronaves, desenvolvidas a partir do famoso treinador EMB-312 Tucano, estão equipados com duas

metralhadoras de 12.7 mm nas asas, canhões GIAT NC621 de 20 mm em casulos subalares, mísseis ar-ar

infravermelhos CTA/Mectron MAA-1 Piranha, bombas convencionais, guiadas e lança-granadas, além de

possuir aviônica digital de última geração compatíveis com aparelhos de visão noturna, equipamento de

visão infravermelha FLIR Star Safire, o que lhes permite operar à noite, coibindo, dessa forma, a atuação

dos tráfegos ilícitos, possibilitando que a Força Aérea opere com total eficiência na região.

MISSÃO do 1º/3º e 2º/3º GAv

- Alcançar a excelência operacional nocumprimento de missões de Ataque,Cobertura, Reconhecimento Armado eInterceptação, a fim de agir em pronta-resposta para a manutenção da soberaniado espaço aéreo nacional.

Page 141: Seminário de Segurança da Amazônia

139139

DESENVOLVIMENTO PARA A REGIÃO

Sobrevoar a selva amazônica equivale a sobrevoar um oceano verde. Existem poucos locais onde efe-

tuar um pouso de emergência. As pistas construídas na selva aparecem tal qual ilhas no meio do mar,

e são uma visão abençoada para pilotos com problemas em suas aeronaves. Nos últimos cinquenta

anos, a Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMARA) conseguiu espalhar mais de uma

centena de pistas por toda a Amazônia, reduzindo imensamente as distâncias entre uma aterrissagem

e outra. Esse árduo trabalho aperfeiçoou a segurança de voo na região, oferecendo um maior número

de opções para os pilotos, em caso de emergência, e ampliando a possibilidade de apoio logístico às

populações atendidas por tais pistas.

Missões de caráter cívico-social

Desde os heróicos voos dos pioneiros do Correio Aéreo Militar, como o Marechal Casimiro Montenegro

e o Ten Nélson Lavanére Wanderley, em 1931, que já visualizavam a necessidade de buscar o interior

do Brasil, a Força Aérea Brasileira sempre esteve presente na Amazônia. Mesmo durante a Segunda

Guerra Mundial, o Correio Aéreo Nacional continuou voando para levar alento às populações mais

distantes dos centros urbanos. Nos anos u50 e 60 do século passado, a Força Aérea incrementou o

Correio Aéreo Nacional, chegando às fronteiras e construindo pistas incansavelmente. No fim do século

XX, aumentou sua presença na região amazônica, consolidando a atuação do País junto aos brasileiros

Page 142: Seminário de Segurança da Amazônia

140

mais necessitados. Nomes de cidades antes exóticos passaram a fazer parte do dia a dia de milhões

de brasileiros, para quem a Amazônia era quase tão distante quanto os países dos outros continentes.

Existem hoje várias linhas ativadas do Correio Aéreo Nacional para assistir as populações ribeirinhas e

tribos indígenas espalhadas pela vastidão da selva amazônica. Atendimentos médicos em clínicas como

pediatria, ginecologia, oftalmologia, além de pequenos procedimentos cirúrgicos e partos, acompa-

nhados ainda de simples atendimentos odontológicos a implantes dentários complexos, fazem parte

do cotidiano das dezenas de profissionais da saúde da Força Aérea Brasileira, instalados em hospitais

de campanha, montados onde quer que seja necessário. As principais ocorrências encontradas são

parasitoses intestinais, doenças do trato respiratório e as tropicais, como leishmaniose, malária e fila-

riose. Foram mais de 145 mil atendimentos somente entre os anos de 2004 a 2010, compreendendo

Missões de Evacuação Aeromédica e Missões de Misericórdia realizadas com o atendimento e remoção

de pacientes de pequenas comunidades para os grandes centros urbanos, Missões do Correio Aéreo

Nacional e Missões de Assistência Cívico-Social.

PAUINÍ

CANUTAMA

GUAJARÁTAPAUÁ

LÁBREA JURUÁ

Page 143: Seminário de Segurança da Amazônia

141141

Perspectivas futuras para a região

Acompanhando o desenvolvimento e a necessidade cada vez maior de defesa aeroespacial da região

amazônica, a Força Aérea Brasileira vem se preparando para enfrentar os desafios dos novos tempos,

a fim de prover ao País uma defesa aérea cada vez mais moderna. Recentemente ficou decidida uma

enorme mudança estrutural da Força, que verá Unidades Aéreas sendo transferidas para áreas nas quais

serão muito mais úteis. E para dar início a essa série de mudanças de cenário operacional das Unida-

des da FAB, o 2º/8º GAv, Esquadrão Poti, foi recentemente transferido da Base Aérea de Recife para a

Base Aérea de Porto Velho, onde passaram a operar, desde abril de 2010, os modernos helicópteros

de fabricação russa Mi-35, denominados pela Força Aérea como AH-2 Sabre. Como principal missão, o

Esquadrão Poti deve manter o preparo técnico-profissional necessário, a fim de permitir o cumprimento

das Missões de Interceptação, Ataque, Escolta e Patrulha Aérea de Combate da Tarefa de Superioridade

Aérea e, ainda, missões de Evacuação Aeromédica da Tarefa de Sustentação ao Combate.

Ainda como parte do processo de reestruturação organizacional, com vistas a adequar as demandas da

atual conjuntura, está sendo criada uma Unidade de Artilharia Anti-Aérea e de Defesa e uma Unidade

de Defesa Aérea em Manaus, com a utilização de aeronaves F5-M, para, de lá, incrementar a defesa do

espaço aéreo brasileiro na região Norte do País. Para isso está sendo concluído o processo de transfe-

rência do 1º Esquadrão do/4º Grupo de Aviação, Esquadrão Pacau, da Base Aérea de Natal para a Base

Aérea de Manaus, com todo o seu suporte logístico.

HELICÓPTERO AH-2 SABRE AERONAVE F-5M2º/8º Gav – eSQuadrÃo Poti 1º/4º Gav – eSQuadrÃo Pacau

baSe aÉrea de Porto VeLHo (ro) baSe aÉrea de ManauS (aM)

Page 144: Seminário de Segurança da Amazônia

142

2ª coMPanHia de artiLHaria 5º/1º GruPo de coordenaÇÃo e

ANTI-AÉREA DE DEFESA CONTROLEbaSe aÉrea de ManauS (aM) baSe aÉrea de Porto VeLHo-(ro)

Conclusão

A Amazônia brasileira tende a integrar-se harmoniosamente, de modo participativo, com a nossa cir-

cunvizinhança – composta pelos países amigos lindeiros com as fronteiras Norte, Noroeste e Oeste

brasileira e que conformam o arco amazônico. Ademais, aquela imensidão verde, de dimensões con-

tinentais, finalmente está integrada ao restante do País, de forma indelével, sem o receio de invasões

indesejadas, com plena capacidade de detecção das ameaças e de pronta-resposta militar àqueles que

se atreverem a penetrar indevidamente no território amazônico e/ou violar o espaço aéreo sobrejacente

àquela região, desafiando a soberania brasileira.

Page 145: Seminário de Segurança da Amazônia

143

loGísTica na amazônia oriEnTal: siTuaÇÃo aTual E PErsPEcTivas

fuTuras Para a DEfEsa nacionalCarlos Roberto de Sousa Peixoto

Introdução

A Amazônia é uma região estratégica para o Estado brasileiro e, por isso, deve ocupar lugar de desta-

que nas políticas públicas do País. A história nos mostra que ela tem sido alvo de atenção nacional e

internacional, fato que exige planejamento conjunto de todos os segmentos da sociedade brasileira.

Dentro desse espectro de interesses, a soberania sobre o patrimônio natural condicionará o futuro da

Amazônia, de modo que será fundamental a consolidação de estratégias de controle do território. Isso

quer dizer que a geopolítica ocupará um espaço cada vez maior, ainda que prevaleçam interesses eco-

nômicos sobre a região, ao tempo em que as decisões direcionadas para o setor da logística se tornarão

cada vez mais importantes para a consolidação da soberania nesta região.

As áreas geográficas com características de selva situam-se, em sua quase totalidade, na zona tropical,

limitada pelos paralelos de Câncer e de Capricórnio. Assim é que, no continente americano, encontra-

-se a selva amazônica, a mais vasta do mundo, abrangendo porções territoriais do Brasil, Guiana Fran-

cesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru, Equador e Bolívia. São cenários onde as condições

de vida podem ser extremamente adversas e, nesse sentido, as poucas e esparsas localidades existen-

tes, normalmente posicionadas ao longo dos rios mais expressivos, assumem importante papel para as

atividades logísticas, constituindo-se nas principais regiões a serem controladas pelo Estado.

As adversidades do ambiente influem diretamente no desempenho do homem e do material, tornan-

do-se fator preponderante para que sejam selecionados todos os itens necessários para um adequado

suporte logístico na região.

Page 146: Seminário de Segurança da Amazônia

144

Em território brasileiro, a selva amazônica, em geral, é caracterizada por extensa e densa floresta, grande

malha hidrográfica, elevados índices de umidade, de temperatura e de precipitação pluviométrica, e pelo

risco constante de enfermidades tropicais. Esses fatores representam potenciais óbices às operações

logísticas, pois exercem influência marcante no apoio logístico e lhe imputam características especiais.

O Exército Brasileiro enquadra, por meio do Comando Militar da Amazônia (CMA), a totalidade das

Organizações Militares (OM) existentes nos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Ro-

raima, e parte do Maranhão e do Tocantins. Esta vasta área, que totaliza mais da metade do território

nacional, pode ser subdividida em Amazônia Ocidental e Amazônia Oriental, ficando na sua porção

mais Leste os Estados do Amapá, Pará e pequena porção do Estado do Maranhão (macrorregião da

cidade de Imperatriz) e do Tocantins.

Figura 1 – Visão geral da área da Amazônia Oriental

Page 147: Seminário de Segurança da Amazônia

145145

A Amazônia Oriental é a área de atuação da 8ª RM - 8ª DE. Por meio de três unidades logísticas – 8º D

Sup e o Pq R Mnt/8 (em Belém) e o 23º B Log Sl (em Marabá) –, este Grande Comando Administrativo

coordena a execução das atividades logísticas na sua faixa de responsabilidade.

Em termos numéricos aproximados, a área de responsabilidade da 8ª RM - 8ª DE tem extensão de cerca

de 1 milhão e 500 mil quilômetros quadrados (20% do território nacional), 8 mil e 500 militares, dis-

tribuídos em trinta OM, 3 mil inativos e pensionistas e 25 mil pessoas vinculadas ao sistema de saúde.

A 8ª RM - 8ª DE, ao conjugar todas essas OM, numa analogia à estrutura militar de guerra, é a Divisão

de Exército da Amazônia, escalão imediatamente subordinado ao Exército de Campanha, no caso re-

presentado pelo CMA, maior escalão da Força Terrestre no Teatro de Operações (TO) aqui considerado.

A evolução constante dos cenários impõe novos parâmetros de planejamento das operações de com-

bate. Não obstante assegurar o fornecimento ininterrupto, o apoio logístico continua sendo de particu-

lar importância para o sucesso de toda e qualquer operação militar. Para que melhor se possa aquilatar

a relevância do apoio logístico, é preciso ter em mente que as possibilidades de apoio influenciam os

planos operacionais, limitando a própria extensão das operações e o efetivo das forças a empregar.

A missão do Exército, voltada à dissuasão de ameaças externas, reveste-se, portanto, de importância

estratégica e exige a presença permanente e o adestramento contínuo da tropa. Por isso, a maior

ameaça que pesa sobre a soberania na Amazônia é o risco de que o Estado brasileiro não seja capaz de

administrá-la adequadamente e de que essa soberania seja questionada pela comunidade internacio-

nal. E o pioneirismo do EB na região lhe confere a condição de experiente ator para a implementação

de políticas locais de desenvolvimento e de melhorias na infraestrutura logística.

Portanto, a presença do Exército na Amazônia, além de lhe proporcionar o conhecimento mais detalha-

do desse ambiente operacional, contribui com o desenvolvimento regional e atenua parte dos proble-

mas que podem ser usados como pretexto para uma intervenção internacional na região. Dessa forma,

pode-se inferir que, embora a prioridade do Exército seja a defesa da Amazônia, a maior urgência é

a montagem de um suporte logístico adequado ao emprego eficiente de suas forças na região. Esse

conjunto de iniciativas para o vetor amazônico representa promissor espectro de atuação do Exército,

na medida em que pode contribuir com a histórica experiência logística na condução e execução de

parte do portfólio das atividades previstas.

Page 148: Seminário de Segurança da Amazônia

146

Nesse sentido, a busca pelos investimentos na área da Logística Militar tem como escopo maximizar a

capacidade operativa do EB na Amazônia, a qual exige consideráveis recursos financeiros. Ante o ex-

posto, ao se propor questionamentos sobre como aproveitar a experiência e o conhecimento regional

que detém o EB, em termos logísticos, em prol das políticas de desenvolvimento na Amazônia, pre-

tende-se colaborar com a integração da região, bem como valorizar a Logística do Exército Brasileiro.

O principal modal de transporte empregado na região é o hidroviário, sendo que o transporte rodovi-

ário representa também boa parcela da matriz logística. Em algumas oportunidades, de acordo com

a disponibilidade da Força Aérea Brasileira (FAB), o transporte de diversos itens, desde frigorificados

até material de construção, é realizado para as unidades de fronteira de Tiriós e Oiapoque pelo modal

aeroviário.

Evidencia-se, assim, não só a complexidade do tema, mas, e principalmente, o quão oportuna é a re-

flexão sobre as especificidades da logística em apoio às operações militares em área de selva o que, por

certo, constitui-se em diferencial estratégico significativo para o sucesso de tais operações.

Todavia, que peculiaridades e especificidades envolvem a implementação de uma logística eficiente na

porção oriental da Amazônia?

Algumas questões de estudo podem ser formuladas em torno deste tema:

a. quais elementos fisiográficos, psicossociais, políticos e econômicos definem o ambiente operacio-

nal da selva amazônica para fins logísticos?

b. como está estruturada a Força Terrestre na Amazônia?

c. qual o impacto do apoio logístico nas Operações de Selva?

d. quais os limites e possibilidades do emprego dos meios logísticos existentes e potenciais do Exér-

cito brasileiro na Amazônia Oriental?

O presente estudo não tem a pretensão de esgotar tema de tamanha complexidade, mas se propõe

a destacar as peculiaridades e especificidades do teatro de operações militares em área de selva, mais

particularmente na Amazônia Oriental, a fim de subsidiar a reflexão sobre o tema, considerando-se, em

contraponto, o contexto global de interesse e cobiça internacional pela região amazônica.

Page 149: Seminário de Segurança da Amazônia

147147

Desenvolvimento

A mobilidade é pedra angular em qualquer estratégia de apoio logístico. Particularmente na região

amazônica, esse aspecto se reveste de nuances muito peculiares e específicas, exigindo que sejam es-

tudadas alternativas capazes de contemplar tais características.

A floresta amazônica constitui-se, indubitavelmente, em elemento de grande interesse militar no cenário

mundial. Nesse teatro de operações, o apoio logístico está condicionado a um amplo espectro de fatores

fundamentais, onde se destacam, por sua relevância específica, a dificuldade de deslocamento, o empre-

go de pequenos efetivos até valor batalhão, as operações altamente descentralizadas, a indefinição de

áreas de responsabilidade, a dificuldade de proteção do fluxo logístico, o regime dos rios (dificuldades no

período da seca), as condições climáticas, a inexistência de localidades de porte para o desdobramento

logístico e a dificuldade de ligação com os centros de irradiação do desenvolvimento nacional.

As adversidades do ambiente influem diretamente no desempenho do homem e do material. A dete-

riorização dos itens de suprimento é uma ameaça constante e real que demanda a tomada de medidas

especiais de preservação, tais como a realização de expurgos periódicos nos gêneros alimentícios, a

climatização de depósitos e armazéns, a manutenção preventiva de todos os itens e os reflexos das

intempéries sobre o fator humano.

Portanto, a capilaridade da estrutura logística da 8ª RM - 8ª DE sinaliza que esse setor pode receber

estímulos institucionais, como contrapartida do apoio à acessibilidade e mobilidade das ações logísticas

nas vastas e distantes microrregiões da Amazônia.

A logística na Amazônia Oriental

A gestão do apoio logístico na área da Amazônia Oriental é de competência da 8ª Região Militar e 8ª

Divisão de Exército. Entre as Organizações Militares subordinadas a esse Grande Comando Logístico,

algumas se destacam em nível operacional no cumprimento da missão de apoio: em Belém, com o 8º

D Sup, o Pq R Mnt/8 e o Hospital Geral de Belém (HGeBe); em Marabá, com o 23º B Log Sl e o Hospital

de Guarnição de Marabá (HGuMba).

Page 150: Seminário de Segurança da Amazônia

148

O apoio logístico, árdua tarefa por excelência, é dificultado na região amazônica por algumas carac-

terísticas que lhe são pecularires. O clima, marcadamente quente e úmido, dificulta a estocagem ade-

quada de todas as classses de suprimento. Os meios de transporte são bastante precários e sujeitos às

influências da sazonalidade dos rios. Os espaços a serem percorridos e as condições de relevo, bastante

adversas, aliadas à precariedade dos eixos de suprimento, determinam números específicos, por vezes

ampliados em relação à normalidade de outras regiões, para vencer as grandes distâncias amazônicas.

Figura 2 – Visualização do Apoio Logístico

Page 151: Seminário de Segurança da Amazônia

149149

Grosso modo, para melhor definição do cenário, é possível afirmar que o apoio logístico envolve seis

fases distintas, ainda que interdependentes, quais sejam: aquisição, recebimento, armazenamento,

controle, loteamento e transporte dos suprimentos necessários. Esta é, essencialmente, a missão do

8º D Sup.

Como já foi visto, a 8ª RM - 8ª DE possui uma área de responsabilidade logística que representa, aproxi-

madamente, 20% do território nacional. Nesse verdadeiro desafio de suprir suas Organizações Militares

subordinadas, são empregados meios da FAB, além de balsas e viaturas orgânicas do 8º D Sup.

O Pq R Mnt/8 e o 23º B Log Sl são as únicas Organizações Militares de manutenção da Amazônia

Oriental, e o 8º D Sup executa, ainda, as atividades de suprimento e transporte dos seus diversos itens,

inclusive dos gêneros alimentícios.

Pode-se inferir que, na cidade de Belém, o 8º D Sup possui capacidade total de armazenagem de 1.515

toneladas e capacidade média ociosa de 32%, o que lhe confere disponibilidade mensal de 485 to-

neladas. Quanto ao transporte, esta OM logística possui capacidade de 612 toneladas, apresentando

capacidade média ociosa de 62%, o que lhe permite disponibilidade mensal de 382 toneladas.

Órgão

Provedor

Cpcd armz

(Ton)

Demanda

Média armz

Mensal (Ton)

Cpcd armz

Média Ociosa

(%)

Cpcd Trnp

(Ton)

Demanda Média

Trnp Mensal (Ton)

Cpcd Trnp Mé-

dia Ociosa (%)

8º D Sup 1.515 1.030 32 612 230 62

Quadro 01 – Comparativo entre a demanda e a capacidade de estocagem do 8º D Supfonte: adaptado de feijó, 2008.

A Guarnição de Belém é o centro irradiador e polo de todas as atividades logísticas possíveis de serem

desenvolvidas na área, as quais são realizadas em cinco grandes direções de atuação: Belém – Marabá;

Belém – Macapá – Oiapoque; Belém – Santarém – Altamira – Itaituba e Belém – Tiriós. Além disso,

Marabá também representa, em menor escala, polo origem de emprego logístico, tendo em vista a

existência do 23º B Log Sl, subordinado ao comando da 23ª Brigada de Infantaria de Selva (23ª Bda Inf

Sl). Esta OM é a responsável pelo apoio logístico, principalmente na função logística manutenção, às

unidades localizadas em Marabá, Imperatriz, Tucuruí, Altamira e Itaituba.

Page 152: Seminário de Segurança da Amazônia

150

Os modais de transporte

O modal aeroviário emprega prioritariamente os meios disponíveis da FAB. Excepcionalmente, as aero-

naves do 4º Batalhão de Aviação do Exército (4º BAvEx), com sede em Manaus, são utilizadas, princi-

palmente durante a realização de operações militares na região.

Por meio do Plano de Apoio à Amazônia (PAA), o CMA, a 8ª RM - 8ª DE e o VII Comando Aéreo Regio-

nal (VII COMAR) desencadeiam um planejamento para o transporte de suprimentos, com a finalidade

de apoiar as unidades localizadas na faixa de fronteira.

Figura 3 – Esquema dos Modais de Transporte na Amazônia Oriental

O modal rodoviário emprega os meios orgânicos das OM subordinadas à 8ª RM - 8ª DE, principalmente

os do 8º D Sup, Órgão Provedor (OP) deste Grande Comando Logístico (G Cmdo Log). O Pq R Mnt/8

e o 23º B Log Sl dispõem de meios terrestres para realizar a manutenção dos suprimentos das diversas

classes, tendo apoiado as OM, em 2010, de acordo com o quadro a seguir.

Page 153: Seminário de Segurança da Amazônia

151151

8ª região Militar – 8ª Divisão de Exército

Pq r Mnt / 8 23º B log sl

OM apoiadas localização OM apoiadas localização

Cmdo 8ª RM - 8ª DE Belém (PA) Cmdo 23ª Bda Inf Sl Marabá (PA)

Cia C 8ª RM - 8ª DE Belém (PA) Cia C 23ª Bda Inf Sl Marabá (PA)

2º BIS Belém (PA) 52º BIS Marabá (PA)

34º BIS/Cmdo Fron Amapá Macapá (AP) 1º GAC Sl Marabá (PA)

51º BIS (*) Altamira (PA) 23º Esqd C Sl Tucurui (PA)

53º BIS (*) Itaituba (PA) 23ª Cia Com Sl Marabá (PA)

8º BEC Santarém (PA) 33º Pel PE Sl Marabá (PA)

5ª Cia Gda Belém (PA) H Gu Marabá Marabá (PA)

8º D Sup Belém (PA) 50° BIS Imperatriz (MA)

HGu Belém Belém (PA)

(*) Em 2011 serão apoiadas em manutenção pelo

23º B Log Sl

8ª ICFEx Belém (PA)

28ª CSM Belém (PA)

CRO/8 Belém (PA)

41º CT Belém (PA)

TG 001 Cametá (PA)

TG 002 Bragança (PA)

TG 003 Abaetetuba (PA)

TG 004 Breves (PA)

TG 005 Castanhal (PA)

Quadro 02 – Quadro de apoio logístico da 8ª RM – 8ª DE referente à Função Logística de Manutenção

Page 154: Seminário de Segurança da Amazônia

152

Basicamente, esse modal é utilizado no suprimento de todas as classes, inclusive dos perecíveis, às Guar-

nições de Marabá, Tucuruí e Imperatriz. Para isso, o OP dispõe de diversos meios como carretas para

carga seca e caminhões frigorificados para que possa realizar adequadamente o transporte dos itens

de suprimento com a máxima flexibilidade, a fim de atender a todas as OM na área da 8ª RM - 8ª DE.

Por sua vez, o modal hidroviário da Amazônia Oriental concentra grande parte dos meios de transporte

voltados para o apoio logístico. Isto ocorre principalmente por existir na região grande abundância de

rios navegáveis que conduzem às diversas OM subordinadas. Como é sobejamente conhecido, as vias

líquidas, também na Amazônia Oriental, constituem-se nas melhores estradas, verdadeiras vias naturais

de escoamento e circulação de pessoas e materiais. Em Belém, o 8º D Sup é a unidade possuidora de

embarcações logísticas, onde destacam-se, para a execução do transporte de suprimentos, as balsas de

200 toneladas e seus empurradores.

Grandes distâncias

A infraestrutura viária existente na região privilegia, tradicionalmente, os meios fluviais, os quais se

apresentam como os mais viáveis para o apoio logístico às tropas de Macapá, Santarém, Itaituba e

Altamira, aproveitando-se das rotas da rede hidroviária da Bacia Amazônica.

Suprir a tropa aquartelada no Oiapoque e em Tiriós é um desafio especial. Normalmente, os meios

aéreos da FAB realizam o apoio logístico mensal das frações existentes nessas ermas localidades.

Para o Oiapoque, no entanto, a atividade pode ser realizada por via marítima, subindo-se depois o rio

de mesmo nome, ou pela combinação da via fluvial até Macapá, com a via terrestre de 607 km, através

da BR-156, que liga aquela capital à cidade do Oiapoque.

A partir desta cidade, por meio de embarcações regionais, as denominadas ubás, subindo o Rio Oiapo-

que, é possível atingir o Destacamento de Fronteira de Vila Brasil. A navegação é extremamente difícil

e o percurso de 100 quilômetros, pontilhado de pedras, é realizado no tempo de seis horas no período

das chuvas e em doze horas na estiagem.

Page 155: Seminário de Segurança da Amazônia

153153

Esta complexidade logística de transporte será fator preponderante na escolha e no lançamento efetivo

de novas frações no terreno. Os Pelotões Especiais de Fronteira (PEF), previstos para mobiliar os Estados

do Pará e Amapá, deverão ser posicionados conjugando o interesse estratégico com a possibilidade de

apoio logístico.

O surgimento de novas unidades de fronteira refletirá sobremaneira na atual estrutura logística, impli-

cando, no mínimo, o aumento da capacidade dos depósitos e oficinas existentes e a implementação de

novos meios de suprimento e transporte de gêneros.

Figura 4 – Previsão de criação de novos PEF

Page 156: Seminário de Segurança da Amazônia

154

O enquadramento desses novos PEF irá requerer o aumento das estruturas militares existentes. Uma

solução seria a transformação do 8º D Sup em Batalhão, já prevista no Plano de Reestruturação do

Exército, e a conclusão das instalações do Pq R Mnt/8.

Dentro dessa linha de raciocínio, se considerarmos a criação de uma nova estrutura valor brigada na 8ª

RM - 8ª DE, conforme também prevista e decorrente da Estratégia Nacional de Defesa, será necessária

a instalação de um outro Batalhão Logístico de Selva, provavelmente na cidade de Belém.

O quadro a seguir sintetiza as distâncias a serem vencidas pelo 8º D Sup para apoiar as tropas sob res-

ponsabilidade logística da 8ª RM - 8ª DE, partindo da cidade de Belém.

MODal

lOCaliZaÇÃO

Terrestre (km) aéreo (h/m) (aproximado) Fluvial (dias) (aproximado)

Oiapoque 607 (a partir de Macapá) 1:45 3,5 dias (1) (2)

Macapá - 1:15 1,5 dias

Santarém 1450 1:45 3 dias

Tiriós - 2:00 -

Itaituba 1350 1:45 4,5 dias

Altamira 920 1:30 2,5 dias

Marabá 660 1:30 2 dias (1) (3)

Tucuruí 530 1:15 1 dia (1)

Imperatriz 610 1:30 3 dias (1) (3)

Quadro 03 – Tabela de distâncias e tempos a serem percorridos por modal(1) com limitações em função do regime dos rios e capacidade de navegação.

(2) normalmente é navegado por embarcações para mar aberto.

(3) normalmente é navegado por pequenas embarcações regionais.

As estradas do sul do Pará, em teoria, viabilizariam qualquer apoio às tropas posicionadas ao longo

da rodovia Transamazônica, ou seja, Marabá, Altamira e Itaituba. No entanto, a sua precariedade de

tráfego nos períodos de chuvas em muito dificulta o apoio logístico para essas duas últimas cidades,

sendo necessário o emprego de meios fluviais do 8º D Sup.

Page 157: Seminário de Segurança da Amazônia

155155

As limitações dos meios de comunicações e de transportes

As comunicações em ambiente de selva sofrem efeitos das condições meteorológicas, tais como chuvas

torrenciais, umidade, calor e limitações proporcionadas pela escassez de estradas, pouca visibilidade

pelo terreno ondulado em algumas áreas e pela vegetação densa.

A questão dos meios de transporte a serem utilizados nos deslocamentos de grande envergadura está

intimamente ligada ao isolamento da unidade a ser apoiada, ao volume do material a transportar e à

rapidez que se deseja. Pode-se afirmar que a malha fluvial da Amazônia Oriental atende às necessidades

de vias de acesso de grande porte para a realização do apoio logístico. No entanto, apesar de signifi-

cativa, a malha rodoviária é de baixa qualidade, particularmente as BR-230 e 156, durante os meses

chuvosos.

Com isso, cresce de importância a manutenção das viaturas, o emprego das balsas e da FAB, para que

o apoio logístico possa sempre chegar à ponta da linha com oportunidade.

Considerações finais

Poucas são as publicações que se ocupam em retratar o cotidiano existente nas atividades logísticas

ocorrentes na região amazônica e mais precisamente na sua porção oriental. Transcorridos mais de três

séculos desde os primeiros esforços para sua ocupação, é interessante observar que ainda predomina

uma visão mítica, segundo a qual a floresta é um inferno verde, que esconde grandes segredos e obs-

táculos.

Da análise da conjuntura regional, pode-se inferir que os atuais modelos de ocupação da Amazônia

demandam medidas de emergência, notadamente no tocante à infraestrutura logística. Isso leva a

entender que o repertório desenvolvimentista só terá efetividade a partir do empenho e do comprome-

timento de todos os atores sociais, incluindo, com destaque, as Forças Armadas.

As dificuldades impostas pelas enormes dimensões da região norte tornam ainda mais onerosos os

empreendimentos logísticos. Considerando, também, as limitações econômicas da região, é lícito supor

Page 158: Seminário de Segurança da Amazônia

156

que o estabelecimento de uma infraestrutura logística é de fundamental importância para a integração

nacional. Nesse contexto, o emprego dos meios de armazenagem e transporte do Exército pode ser um

modelo de estrutura de apoio logístico a ser seguido.

Quanto à capacidade de apoio logístico oferecido pelos meios orgânicos da 8ª RM - 8ª DE, pode-se

inferir que ela não está ociosa. Ao contrário, nos moldes atuais, esta estrutura se encontra no limite de

sua capacidade, sendo fundamental a sua expansão em concomitância com o que se pretende atingir

em termos de evolução da Força Terrestre na Amazônia.

O reconhecimento da importância dos meios fluviais na região Amazônica e, particularmente na Ama-

zônia Oriental, data dos primórdios de sua colonização. Com o investimento estatal na implementação

e manutenção das hidrovias, um novo leque de opções se descortina a médio prazo, motivado, princi-

palmente, pelo interesse comercial na redução dos custos. Trata-se, evidentemente, de investimentos

de custo elevado, mas cuja disponibilidade pode e deve ser adequadamente assimilada no planejamen-

to estratégico do Exército Brasileiro para a região.

Simultaneamente, as melhorias nas condições de estradas e aeroportos trarão benefícios notáveis ao

transporte regional, considerado o principal gargalo na cadeia logística. Na esteira dessa evolução, o

Exército, assim como as Forças Armadas, certamente irá ampliar e desenvolver sua estrutura logística,

a fim de atender mais adequadamente as demandas necessárias para que se mantenha a soberania na

Amazônia Oriental brasileira.

Nas últimas décadas, a Amazônia tem sido um desafio presente. Campanhas no exterior buscam cons-

truir teses sobre sua internacionalização. O Brasil tem consciência do valor da Amazônia como ecossis-

tema especial do interesse da humanidade, como outros localizados em diferentes países, mas não abre

mão da soberania sobre o território dentro das fronteiras que lhe cabe guardar.

É dos brasileiros a responsabilidade de desenvolver a Amazônia, preservando-a. E, uma vez mais, a

atuação das Forças Armadas – e do Exército em particular – é a garantia de que a Amazônia brasileira,

completamente integrada à comunidade nacional, cumprirá seu papel no equilíbrio natural do globo

terrestre, possibilitando a quem nela habita uma vida digna e de oportunidades.

Page 159: Seminário de Segurança da Amazônia

157157

Pelo exposto, é fundamental que haja uma mentalidade voltada para a montagem da necessária infra-

estrutura na região, de modo que se permita que o Exército se mantenha como modelo de eficiência

no apoio logístico às suas Unidades Militares presentes na Amazônia Oriental. Por fim, pode-se concluir

que a oferta existente na rede logística nesta parte da Amazônia sinaliza um espectro de atuação do

Exército em prol do relevante interesse coletivo dessa região, qual seja, a busca pelo desenvolvimento

econômico e social. Desse modo, firma seu propósito de defender a soberania da Amazônia brasileira,

cumprindo fielmente sua missão.

Referências

EXÉRCITO BRASILEIRO. Estado-Maior do Exército. C100-10: logística Militar Terrestre. 2. ed. Brasí-

lia, DF, 2003.

___________________. Exército. Portaria nº 657, de 4 de novembro de 2003. Visão de Futuro

do Exército. Boletim do Exército, Brasília, DF, n. 45. 4 de novembro de 2003.

FEIJÓ, Edmilson Gomes. análise da Oferta da rede logística do Exército Brasileiro para as ações

subsidiárias na amazônia. Rio de Janeiro: ECEME, 2008.

Page 160: Seminário de Segurança da Amazônia
Page 161: Seminário de Segurança da Amazônia

159

PoDEr naval na amazônia oriEnTal: siTuaÇÃo aTual, PErsPEcTivas E consEQuÊncias

Para a DEfEsa nacionalRodrigo Otávio Fernandes de Hônkis

Introdução

A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos do Mar (CNUDM) estabelece que todos os bens

existentes no seio da massa líquida, no leito marinho e no subsolo marinho do Mar Territorial e da Zona

Econômica Exclusiva (ZEE) são propriedades exclusivas do país ribeirinho (ONU, 1982). Para o Brasil,

essa imensa área de exclusividade, conhecida por Amazônia Azul, possui um total de 4,5 milhões de

quilômetros quadrados, acrescentando ao País uma área de cerca de 50% de sua extensão territorial.

Possui grande valor estratégico e econômico, pois nela circulam 95% de nosso comércio exterior e

estão presentes as maiores reservas do País em petróleo e gás, além de ser importante para a pesca e

para a navegação de cabotagem (CARVALHO, 2007).

Ainda mais próximo do nosso dia a dia, no que diz respeito às nossas águas interiores, da foz do rio

Amazonas e de sua extensa bacia hidrográfica e terrenos adjacentes, encontramos, entre outros: reser-

vas minerais consideráveis, um potencial de solo que sabemos estar longe de ser desprezível; mais de

4% do potencial hidrelétrico mundial; a maior diversidade e o maior potencial biológico do mundo; e

um considerável potencial nos domínios alimentares, da água potável, da medicina e da energia.

Toda riqueza acaba por se tornar objeto de cobiça, impondo ao detentor o ônus da

proteção. Tratando-se de recursos naturais, a questão adquire conotações de soberania

nacional, envolvendo políticas adequadas, que não se limitam a, mas incluem, neces-

sariamente, a defesa daqueles recursos (CARVALHO, 2007).

Page 162: Seminário de Segurança da Amazônia

160

As Figuras 1 e 2 apresentam as áreas denominada Amazônia Azul e as Águas Jurisdicionais do Com4DN,

respectivamente.

Figura 1 – A Amazônia Azulfonte: braSiL, [2004]

Desde o fim da Guerra Fria, em 1989, a possibilidade de ocorrência de um conflito mundial em grandes

proporções tornou-se remota. Porém, isso não significa que a paz absoluta esteja próxima. Continua-

mos a conviver com conflitos regionais de baixa intensidade, principalmente de caráter étnicos e reli-

giosos, capazes de promover crises entre países e entre regiões geográficas.

Page 163: Seminário de Segurança da Amazônia

161161

As preocupações que os países tinham quan-

to à defesa, à expansão territorial e a garan-

tia de mercados, face ás novas ameaças,

como terrorismo, guerra assimétrica, crime

organizado e narcotráfico, as organizações e

redes transnacionais, o crescimento popula-

cional, a fome e a proliferação de doenças

tiveram que se adequar às novas realidades.

A região Amazônica apresenta uma das me-

nores densidades demográficas do planeta,

cerca de 1 hab/km². Estsa pequena concen-

tração ocorre nas margens dos rios, dedi-

cada à cultura extrativista de subsistência.

O grande vazio demográfico e a dificuldade

decorrente do Estado fazer-se presente de forma mais intensa facilitam as ações, até mesmo psicológi-

cas, de missionários, de Organizações Não-Governamentais (ONGs), de garimpeiros e de narcotrafican-

tes, comprometendo os interesses econômicos e a soberania nacional na região.

A defesa do meio ambiente amazônico é, por vezes, utilizada por outros atores como forma de ocultar

seus verdadeiros interesses econômicos e estratégicos na região. Essas ações de defesa, contrárias aos

interesses nacionais, moldam, em parcela das comunidades internacionais e em certas ONGs, a ideia

de internacionalização da Amazônia.

Para fazer frente à ameaça internacional, o Estado deverá se fazer presente na região, tanto com políti-

cas de desenvolvimento socioeconômico, quanto com o aumento de seu poder militar.

No fim do ano de 2008 foi aprovada a Estratégia Nacional de Defesa (END), focada em ações estraté-

gicas, com o propósito de modernizar a estrutura nacional de defesa, por meio, dentre outros, da reor-

ganização das Forças Armadas e da reestruturação da indústria nacional de material de defesa (BRASIL,

2008). Como diretrizes, a END estabelece: organizar as Forças Armadas sob a égide do trinômio moni-

toramento/controle, mobilidade e presença; e desenvolver as capacidades de monitorar e controlar o

espaço aéreo, o território e as águas jurisdicionais brasileiras (AJB).

Figura 2 – Área de Jurisdição do Com4DNfonte: braSiL, [2004]

Page 164: Seminário de Segurança da Amazônia

162

Como consequência, o Ministério da Defesa (MD) determinou às Forças Armadas (FA) que elaborassem

seus Planos de Articulação e de Equipamento, contemplando uma proposta de distribuição espacial das

instalações militares e de quantificação dos meios necessários ao atendimento eficaz das Hipóteses de

Emprego e de rever a composição dos efetivos, a fim de dimensioná-los para atender adequadamente

ao disposto na END.

A Marinha do Brasil (MB) que, entre outras tarefas, possui a de preparar e empregar o Poder Naval, com

o propósito de contribuir para a defesa dos interesses nacionais,

elaborou o “Plano de Articulação e de Equipamento da Marinha do Brasil” (PAEMB),

estabelecendo projetos e metas para o reaparelhamento, expansão e redistribuição de

suas Organizações Militares (OM) e para o incremento e capacitação de seu efetivo,

consoante sua missão. (BRASIL, 2009)

Com a implementação do PAEMB,

A Marinha do Brasil será uma Força moderna, equilibrada e balanceada, e deverá

dispor de meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais compatíveis com a inserção

político-estratégica do nosso País no cenário internacional e, em sintonia com os an-

seios da sociedade brasileira, estará permanentemente pronta para atuar no mar e em

águas interiores, de forma singular ou combinada, de modo a atender aos propósitos

estatuídos na sua missão. (Brasil, 2007)

Na região Norte do País, na Região Amazônica, a presença da MB se faz por meio dos Comandos do

4º e do 9º Distritos Navais (Com4DN e Com9DN, respectivamente). O Com4DN, em consonância com

a Política Militar de Defesa (PMD), para atingir os Objetivos Navais para a região, busca, entre outras:

a manutenção do aprestamento dos meios subordinados; a capacidade de projetar poder sobre ter-

ra; ampliar a presença da MB na Região Amazônica, proteger as Linhas de Comunicações Marítimas

(LCM) de Interesse, aperfeiçoar a estrutura de Comando e Controle (C²); supervisionar as atividades de

Patrulha Naval e de Socorro e Salvamento; e supervisionar as atividades de Assistência Cívico-Social às

populações ribeirinhas. O propósito dessas atividades é contribuir para o cumprimento das tarefas de

responsabilidade da Marinha, dentro de sua área de jurisdição.

Page 165: Seminário de Segurança da Amazônia

163163

O Com4DN, enquanto aguarda a implementação das medidas constantes no PAEMB, que serão apre-

sentadas a seguir, vem buscando parcerias com órgãos da administração pública municipal, estadual

e federal para aumentar suas ações de presença no apoio às populações ribeirinhas e na garantia da

soberania nacional.

Avaliação estratégica

Desde a época do Brasil colônia, os portugueses já mostravam preocupação com a importância da

defesa da região Amazônica, tanto para garantir sua anexação definitiva ao território brasileiro, quanto

para monopolizar sua exploração.

Na impossibilidade de ocupar toda a região, Marquês de Pombal delineou, como estratégia para a

defesa de tão importante área, o “tamponamento” das vias de acesso do exterior para o interior e

a ocupação dos pontos fronteiriços confrontantes com pontos ocupados do outro lado da fronteira.

Essa estratégia vem sendo adotada até os dias de hoje com o Com4DN na defesa da Foz do Amazonas,

com o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), promovendo o tamponamento fluvial e aéreo da re-

gião, respectivamente; e o projeto Calha Norte, que consiste no aumento dos efetivos das unidades do

Exército Brasileiro (EB) dispostas ao longo da fronteira ao norte do rio Amazonas, promovendo maior

presença nacional na fronteira.

Como já apresentado, a região é um vazio demográfico, onde a população se concentra às margens

dos rios e, pela ausência do Estado, está sujeita a ações de agentes internacionais com interesses con-

trários aos nacionais.

É uma região de grande biodiversidade que possui um aspecto geográfico de arquipélago, enfatizando

a existência de hidrovias e a presença do Poder Naval na contribuição para a preservação das fronteiras

nacionais, em ambientes de difícil acesso.

Page 166: Seminário de Segurança da Amazônia

164

No que diz respeito às hidrovias, aqui incluindo também a área de jurisdição do Com9DN, a Bacia

Amazônica possui cerca de 23 mil Km de rios navegáveis, que possibilitam a implementação de um

significativo sistema de transporte fluvial na região.

A geografia da região apresenta ao Poder Naval as seguintes características:

• dificuldade do trânsito de tropas a pé ou motorizadas, tornando-as dependentes do transporte

fluvial e com isso de um eficaz controle das vias fluviais;

• o ambiente de selva, hostil, exigindo técnicas e táticas especiais de combate; e

• as grandes distâncias, impondo, ao planejamento de operações militares, grande ênfase no apoio

logístico.

Os países vizinhos ao Brasil, na Amazônia Oriental, não apresentam grave ameaça militar ao País.

Os contenciosos existentes entre os países da região são representados por disputas entre o Suriname

e a Guiana, mas não envolvem diretamente o Brasil.

Dos Poderes Navais presentes na região, os da Guiana e de Suriname não são aptos e significativos

de serem empregados na Amazônia. O poder naval da França (apoiando a Guiana francesa) e o dos

Estados Unidos, representados pelos meios navais do Comando Unificado do Sul - US South Command

(USSOUTHCOM), cuja missão é:

garantir a segurança dos países amigos e aliados, dissuadir os adversários, deter qual-

quer agressão ou coerção e, se necessário, derrotar decisivamente qualquer adversário,

por meio da condução de operações militares e atividades de cooperação de seguran-

ça, em apoio à guerra contra o terrorismo, a fim de proteger e promover os interesses

nacionais e os objetivos do país.(BRASIL, 2008)

São capazes de atuar na Foz do Rio Amazonas, apoiando ou se opondo aos interesses nacionais.

Face à inexistência de demandas de fronteiras e de outras naturezas com os países vizinhos e até mes-

mo com os EUA, os interesses nacionais na região estão ligados às atividades fluviais, que poderão

concorrer para o desenvolvimento sustentável e para o fortalecimento da soberania nacional. Neste

Page 167: Seminário de Segurança da Amazônia

165165

contexto, chama a atenção do Brasil o problema de tráfico de drogas, de armas e contrabando em ge-

ral que ocorre na fronteira com a Bolívia e se valem das partes ocidental e oriental da Bacia Amazônica

para atingirem seus mercados consumidores internos e externos ao Brasil.

O delta do amazonas assume um papel de portal da Amazônia para o mar do Caribe, e consequente-

mente para os EUA e Europa, e para o Atlântico Sul, permitindo a manutenção das Linhas de Comércio

Marítimo (LCM) e a interiorização de produtos oriundos das demais regiões do Brasil. Por este motivo,

a presença do poder naval contribuirá significativamente para a integração e para a proteção dos inte-

resses nacionais na região.

Embora tenham sido apresentadas alguns fatores antagônicos aos interesses e à soberania nacional na

região, não estão presentes, atualmente, quaisquer ameaças de caráter militar provenientes de Estado

Soberano.

Situação atual do poder naval na amazônia oriental

Com tantas riquezas existentes e em potencial, principalmente na área energética e alimentar (pesca e

água potável), a Amazônia desperta a cobiça e o interesse de agentes internacionais e por isso deve ser

defendida.

Atualmente, para a condução de ações de defesa da soberania nacional, com a preservação da integri-

dade territorial na Amazônia, a MB está representada pelas OM subordinadas ao Com4DN, podendo

estas ser apoiadas, quando necessário, por meios do Comando-em-Chefe da Esquadra e de outros

Distritos Navais. A atuação deste Distrito ocorrerá na área da Foz do Rio Amazonas, onde os meios

navais serão empregados para impedir que as forças navais oponentes atinjam esta foz e interfiram com

o fluxo logístico na região; e por serem as hidrovias o principal meio de transporte na Amazônia, no

controle das hidrovias, no controle de áreas ribeirinhas, na projeção de poder sobre terra, na proteção

de instalações ribeirinhas e no transporte de pessoal e material, contribuindo para o cumprimento das

tarefas das demais Forças Armadas (FA) brasileiras que estiverem atuando no mesmo Teatro de Opera-

ções (TO).

Page 168: Seminário de Segurança da Amazônia

166

No que diz respeito à salvaguarda de pessoas, bens e recursos fora do território nacional, nos países

fronteiriços à área de responsabilidade do Com4DN, os meios realizarão a projeção de poder sobre

terra para garantir os interesses nacionais.

Os meios do Com4DN deverão estar prontos para cumprir as Tarefas Básicas do Poder Naval da seguin-

te forma:

• Controle de Área Marítima (CAM) – será empregado quando o oponente apresentar um poder

militar equivalente ou inferior ao nosso. Seu propósito será de garantir a explotação dos recur-

sos do mar e a manutenção das LCM de interesse. Para essa tarefa será apoiado por meios do

Comemch.

• Projetar Poder sobre Terra – para a garantia da proteção ou evacuação de pessoas e para a pro-

teção de bens nacionais.

• Contribuir para a Dissuasão estratégica – através da manutenção de seus meios aprestados e

pronto para o emprego real.

Até agora, o Poder Naval do Com4DN foi apresentado como uma componente do Poder Naval para a

Defesa Nacional. Porém, também cabe à MB, como atribuições subsidiárias, cooperar com os demais

órgãos da administração pública.

Os meios do Com4DN são empregados da seguinte forma para atender tanto à Defesa Nacional quan-

to às atribuições subsidiárias:

Os meios navais do Grupamento de Patrulha Naval do Norte (GptPatNavN) são responsáveis por realizar:

• Adestramento de operações ribeirinhas, exercitando a defesa nacional, a manutenção da inte-

gridade territorial e ações para contribuir com o resgate e/ou evacuação de pessoas e defesa de

pontos de interesse.

• Patrulha Naval, que pode ser entendida como uma atividade conduzida por meios navais e aé-

reos, com o propósito de fiscalizar e implementar a legislação nacional nas águas sob jurisdição

Page 169: Seminário de Segurança da Amazônia

167167

nacional, aí abrangidas as ilhas oceânicas e fluviais e os rios navegáveis das bacias potamográficas

do País. Visa o cumprimento da legislação vigente em assuntos concernentes à pesca, prospecção

e aproveitamento dos recursos naturais, pesquisa científica, segurança da navegação aquaviária,

prevenção da poluição hídrica provocada por navios, plataformas ou suas instalações de apoio e,

eventualmente (quando a MB for solicitada a colaborar), à prevenção e repressão ao contraban-

do, ao narcotráfico e ao roubo praticado em embarcações e à repressão das infrações às leis e

regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração e sanitários.

• Inspeções Navais,que são atividades de cunho administrativo, que consiste na fiscalização do

cumprimento da Lei nº

9537 de 11/12/97 (Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário – LESTA), das

normas e regulamentos dela decorrentes, e dos atos e resoluções internacionais ratificados pelo

Brasil, no que se refere exclusivamente à salvaguarda da vida humana e à segurança da navega-

ção, no mar aberto e em hidrovias interiores, e prevenção da poluição ambiental por parte de

embarcações, plataformas fixas ou suas instalações de apoio.

• Socorro e Salvamento (Search and Rescue – SAR), prestando socorro ao pessoal de embarcações

sinistradas, nacionais ou não, dentro de nossa área de responsabilidade SAR, que em muito ultra-

passa a nossa Zona Econômica Exclusiva (ZEE).

• Ações Cívico Sociais (ACiSo), que são definidas como ações de apoio às comunidades ribeirinhas

carentes, onde o Corpo de Saúde da MB se faz presente, para prestar apoio médico a esta popu-

lação carente, que pouco conta com o apoio dos poderes públicos.

• Ações de apoio aos órgãos estaduais, como ocorrem nas comissões Apoio ao Estado do Pará e

Chance para Todos, onde além do apoio médico e odontológico, também são levados à popu-

lação ribeirinha carente, diversos tipos de serviço ao cidadão, como direitos do INSS, cartório e

outros.

O apoio ao governo do estado, de acordo com o convênio firmado entre a MB e o Governo do Estado

do Pará, é uma comissão na qual o Navio Auxiliar Pará (U15) é empregado, em metade do seu ciclo

operativo anual (50 dias), em favor de operações de ACISO, planejadas em parceria com o governo do

Estado do Pará, em localidades informadas por aquele governo.

Page 170: Seminário de Segurança da Amazônia

168

As comissões Chance Para Todos visam incrementar os níveis de fiscalização e de supervisão do controle

do tráfego aquaviário, com o propósito de aumentar a segurança dos aquaviários que se utilizam das

vias navegáveis da região. Paralelamente, observou-se a possibilidade de embarque de representantes

de órgãos públicos, principalmente do poder judiciário, para prestarem auxílio às populações carentes

da região, além de atendimentos médicos-odontológicos prestados por equipes da MB.

O GptPatNavN conta atualmente com seis navios-patrulha, um rebocador de alto mar e um navio auxi-

liar para realizar as tarefas apresentadas em todo a área de jurisdição do Com4DN.

O Grupamento de Fuzileiros navais de Belém (GptFuzNavBe), além de apoiar a manutenção da segu-

rança orgânica das OM subordinadas ao Com4DN, também apóia o GptPatNavN e as Capitanias (CP) e

Delegacias (DL) Fluviais na execução das IN.

As Capitanias e Delegacias Fluviais, além de várias tarefas administrativas ligadas a regulamentação do

tráfego aquaviário, são importantes agentes na realização das IN. Existem 3 CP e 1 DL subordinadas ao

Com4DN, a saber: Capitania dos Portos da Amazônia Oriental, Capitania dos Portos do Amapá, Capita-

nia dos Portos do Piauí, Capitania dos Portos do Maranhão e Delegacia Fluvial de Santarém.

O Serviço de Sinalização Náutica do Norte (SSN-4) é o responsável pelo balizamento de alguns trechos

da Bacia Amazônica, na parte Oriental, montando um total de 177 sinais, entre bóias luminosas e

cegas, faróis e faroletes; bem como fiscalizar o balizamento particular de outros trechos dessa Bacia,

totalizando 235 sinais.

O Hospital Naval de Belém (HNBe), além de apoiar a família naval e seus dependentes com serviços

médicos e odontológicos, também apóia os meios do ComGptPatNavN na realização das comissões de

ACiSo e de apoio aos órgãos da administração pública.

O Depósito Naval de Belém e a Base Naval de Val de Cães são os responsáveis pelo apoio logístico às

OMs do Com4DN. Proveem apoio de rancho, uniforme, sobressalente e reparos de segundo escalão.

Page 171: Seminário de Segurança da Amazônia

169169

Dados estatísticos da atuação do poder naval do COM4DN na amazônia oriental no ano de 2010

A tabela a seguir apresenta as comissões realizadas e programadas e as localidades atendidas e a serem

atendidas durante o ano de 2010.

Comissão realizadas / Pre-

vistas (2010)

Áreas/localidades atendidas Áreas/localidades a serem

atendidas

PATNAV 10/22 Litoral dos estados do Pará, Mara-

nhão, Amapá, Piauí, Ceará e Rio

Grande do Norte.

Rios Amazonas, Pará, Tocantins e

Oiapoque

Região dos Estreitos

Proximidades de Cametá (PA),

Santana (AP) e Breves (PA).

Litoral dos estados do Pará, Maranhão,

Amapá, Piauí, Ceará e Rio Grande do

Norte.

Rios Amazonas, Pará, Tocantins e

Oiapoque

Região dos Estreitos

Proximidades de Cametá (PA), Santana

(AP) e Breves (PA).

Apoio ao Estado

do Pará

2/2 Rios Pará e Amazonas,

Região dos Estreitos,

Gurupá, Portel, Melgaço, Prai-

nha, Monte Alegre, Terra Santa,

Faro, Santarém, Gurupá, Breves,

Bagre, Oeiras do Pará, Curralinho e

Santana-AP.

ACiSo Bailique 1/1 Arquipélago do Bailique (AP)

Chance pata Todos 1/3 Rios Pará e Tocantins

Região dos estreitos

Rios Pará e Tocantins

Região dos estreitos

Breves

Tabela 1 – Comissões realizadas no ano de 2010fonte: Programa Geral de adestramento 2010.

As tabelas a seguir apresentam as IN realizadas, no período de janeiro a maio de 2010, pelas Capitanias

dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR), responsável pelos portos de Belém, Vila do Conde, Miramar,

dentre outros; Delegacia de Santarém (DELSANTAREM), responsável pelo porto de Santarém; e pela

Capitania dos Portos do Amapá (CPAP), responsável pelos portos de Santana e Macapá.

Page 172: Seminário de Segurança da Amazônia

170

TOTal lOCaliDaDEs

Nº de Comissões 426

Orla de Belém, Barcarena (PA), Muaná (PA), Cametá (PA), Ilha de Com-

bú (PA), Augusto Corrêa (PA), Viseu (PA), Bragança (PA), Tracuateua

(PA), Breves(PA), Orla de Santarém (PA), Alter-do-Chão (PA), Oriximi-

ná (PA), Alenquer (PA), Melgaço (PA), Igarapé-Mirim (PA), Ponta de

Pedras (PA), Bujarú(PA), Oeiras do Pará (PA), Curuça (PA), Tucuruí (PA) e

Marabá (PA).

Infrações Emitidas 296

Apreensões Realizadas 72

Numero de Palestras 181

Numero de Ouvintes 5837

Abordagens Efetuadas 7478

Tabela 2 - IN realizadas pelas Organizações Militares CPAOR/DELSANTAREMfonte: relatórios estatísticos do Sistema de Segurança do tráfego aquaviário.

TOTal lOCaliDaDEs

Nº de Comissões 121

Santana (AP), Macapá (AP), Orla do Distrito de Fazendinha (AP),

Laranjal do Jari (AP), Distrito de Igarapé de Fortaleza (AP), Delta do Rio

Matapi (AP), Município de Oiapoque (AP), Itaubal (AP), Distrito de Vila

Santo Antônio, Afuá (PA), Vitória do Jari (AP), Rio Camaipi (AP), Vitória

do Xingu (PA)

Infrações Emitidas 3

Apreensões Realizadas 4

Numero de Palestras 109

Numero de Ouvintes 1302

Abordagens Efetuadas 1038

Tabela 3 - IN realizadas pela Organização Militar CPAPfonte: relatórios estatísticos do Sistema de Segurança do tráfego aquaviário.

Os resultados apresentados para essas comissões, além de contribuírem para o combate a ilícitos como

contrabando e descaminho, para a segurança do tráfego marítimo e aquaviário, para a salvaguarda da

vida humana no mar, para a inclusão social e ajuda humanitária nas comunidades carentes e afastadas

dos centros urbanos, faz com que o Estado esteja presente, contribuindo para a garantia de sua sobe-

rania e de seus interesses, nesta importante área.

Page 173: Seminário de Segurança da Amazônia

171171

PERSPECTIVAS FUTURAS PARA A DEFESA DA AMAZÔNIA

O PAEMB, que surgiu como resultado das determinações constantes na END, além das considerações

estratégias e da vertente militar, também apresenta vertentes econômica e social uma vez que sua

consecução:

(...) impulsionará de forma ímpar a indústria nacional. A indústria naval é considerada uma indústria

de base e seu incremento implica no crescimento de outros segmentos, com intenso reflexo na cadeia

produtiva de vários outros campos de atividade econômica, tais como o eletro-eletrônico, metalúrgico,

mecânica pesada, motores de propulsão marítimos, armamentos e informática, entre outros, tamanha

a diversidade de equipamentos existentes a bordo dos navios de guerra. A alta tecnologia utilizada na

construção e na manutenção dos navios e a necessidade de autossuficiência para manter os meios

militares operativos fazem com que o País procure sua independência tecnológica nas mais diversas áre-

as. Na vertente social, estima-se a criação de 30.000 novos empregos diretos e de 100.000 indiretos,

adicionalmente às oportunidades geradas em decorrência do aumento do efetivo pleiteado, de cerca

de 70.000 novos cargos de civis e militares. Tal acréscimo se traduzirá na geração anual de expressivas

oportunidades de trabalho direto, promovendo a inclusão e o aprimoramento na formação de milhares

de cidadãos oriundos das mais diversas classes sociais, contribuindo substancialmente para o engrande-

cimento do País. Tudo isso representará, ainda, um incremento na arrecadação de impostos da ordem

de R$ 7,5 bilhões/ano (BRASIL, 2009).

O prazo para execução do PAEMB é até 2030, subdividido em ações de curto prazo (2010-2014), de

médio prazo (2015-2022) e de longo prazo (2023-2030).Atualmente, o PAEMB encontra-se em análise

no Ministério da Defesa (MD), a fim de constituir, juntamente com os Planos das outras Forças, o Plano

de Articulação e Equipamento das Forças Armadas.

Para que a MB possua a mobilidade necessária para realizar ações de presença e de monitoramento e

controle na Amazônia Azul, na bacia hidrográfica e na foz do rio Amazonas, serão necessárias a am-

pliação do inventário dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais, bem como a implementação

de um sistema que permita acompanhar e gerenciar os meios que trafeguem nessa área.

A ampliação do número de meios, como previsto no PAEMB, ocorrerá pela implantação de uma 2ª

Esquadra e de uma 2ª Divisão Anfíbia na região Norte do país e pela criação de novas OM operativas e

do Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário (SSTA).

Page 174: Seminário de Segurança da Amazônia

172

Na área do Com4DN, o PAEMB contempla a ampliação dos meios distritais e a criação da 2ª Esquadra,

para um total de meios conforme a tabela a seguir:

MEiOsTotais

2ª Esq 4º DN

Navio Aeródromo (NAe) 1 -

Navio de Propósitos Múltiplos (NPM) 1 -

Navio Escolta (NEsc) 12 -

Navio de Apoio Logístico (NApLog) 2 -

Navio de Socorro Submarino (NSS) 1 -

Rebocador de Alto Mar (RbAM) 1 2

Dique Flutuante (DFl) - 1

Veículo de Desembarque por Colchão de Ar (VDCA) 2 (2ª DivAnf) -

Embarcação de Desembarque de Carga Geral (EDCG) 4 -

Embarcação de Desembarque de Viatura e Material (EDVM) 8 -

Navio-Transporte de Apoio (NTrA) 1 -

Navio-Transporte Fluvial (NTrFlu) - 2

Navio-Patrulha (NPa) 1800 t - 4

Navio-Patrulha (NPa) 500 t - 4

Navio-Patrulha (NPa) 200 t - 4

Navio Hidroceanográfico Balizador (NHoB) - 1

Aviso Hidroceanográfico Fluvial (AvHoFlu) 100 t - 1

Aviso Hidroceanográfico Fluvial (AvHoFlu) - 2

Tabela 4 – Tabela de meios navais a serem contemplados pela PAEMBfonte: PaeMb.

Page 175: Seminário de Segurança da Amazônia

173173

Atualmente, o Com4DN não possui meios aéreos subordinados. Quando necessário, é apoiado por

aeronaves do Terceiro Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-3), sediado em Manaus

e subordinado ao Com9DN.

Com o PAEMB, a quantidade final de meios aéreos na área do Com4Dn será:

aeronaves 2ª Esq 4º DN

Aeronave de Interceptação e Ataque (AF) 24

Aeronave de Alarme Aéreo Antecipado (AEW) 4 -

Aeronave de Transporte Administrativo e Reabastecimento em Voo (COD/REVO) 4 -

Aeronave de Vigilância Marítima (AnvVigMar) 4 -

Helicóptero de Emprego Geral de médio porte (UHM) 15 4

Helicóptero de Emprego Geral de pequeno porte (UHP) 2 7

Helicóptero de Instrução (IH) - -

Sistema de Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT) 4 -

Tabela 5 - Tabela de meios aeronavais a serem contemplados pela PAEMBfonte: PaeMb.

O PAEMB ainda contempla a transformação do GptFuzNavBe em um Batalhão de Operações Ribeiri-

nhas de Belém (BtlOpeRibBe); a implementação de um Sistema de Controle de Tráfego (VTS – Vessel

Trafic Sistem), cujas características serão apresentadas mais adiante, na Barra Norte do Rio Amazonas

(Canal Grande do Curuá); a construção de um Hospital Naval para atender à 2ª Esquadra; a elevação

da Delegacia de Santarém (PA) à categoria de Capitania de 2ª Classe; a criação da Agência Fluvial de

Almeirim (PA); a criação da Agência Fluvial de Breves (PA); a criação da Agência Fluvial do Oiapoque

(AP); e a criação da Agência Fluvial de Óbidos (PA).

No tocante ao monitoramento e controle, o PAEMB contempla a implementação do Sistema de Ge-

renciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), composto por aeronaves, radares fixos, veículos aéreos não-

-tripulados (VANT) e modernas comunicações por satélites, que deverá ser capaz de realizar o monito-

ramento das águas jurisdicionais brasileiras, a fim de garantir a exclusividade dos recursos e impedir a

Page 176: Seminário de Segurança da Amazônia

174

sua utilização por entidades não autorizadas; garantir o comércio marítimo pelo acompanhamento do

tráfego mercante; orientar as embarcações que necessitem de apoio, por meio da troca de informações

e pela presença naval em pontos focais; prover segurança das plataformas de petróleo; reduzir ou elimi-

nar os efeitos de incidentes que venham a poluir o ambiente marinho, bem como aqueles consequen-

tes de acidentes naturais; garantir a segurança da navegação; garantir a salvaguarda da vida humana;

combater aos ilícitos transnacionais; e prevenir o acontecimento de fenômenos naturais extremos.

Para isso, será implementado por um sistema de sistemas que será baseado no Sistema Naval de Co-

mando e Controle (SisNC²) e incorporará sistemas já existentes, que se prestam ao acompanhamento e

o controle de meios navegando em áreas marítimas e fluviais, e outros que serão criados para este fim.

Os sistemas idealizados a comporem o SisGAAz são os seguintes:

sisTEMa DE iNFOrMaÇÕEs sOBrE O TrÁFEGO MaríTiMO (sisTraM): acompanhamento das

posições e intenções de movimento dos navios mercantes na área SAR do Brasil, possibilitando o

acionamento do navio que estiver em melhor condição de prestar apoio ao incidente SAR. Índice de

prontificação de 100%.

PrOGraMa NaCiONal DE rasTrEaMENTO DE EMBarCaÇÕEs PEsQUEiras POr saTÉliTE

(PrEPs): sistema que acompanha remotamente as posições das embarcações de pesca nas Águas Juris-

dicionais Brasileiras (AJB), empregando equipamento “GPS” (Global Positioning System), permitindo o

monitoramento, gestão pesqueira e controle das operações da frota permissionária, além do aumento

da segurança dos pescadores embarcados. Índice de prontificação de 100%.

sisTEMa DE MONiTOraMENTO MaríTiMO DE aPOiO Às aTiViDaDEs DO PETrÓlEO (siMMaP):

resultado de um convênio entre a Diretoria de Portos e Costas (DPC) e a Agência Nacional do Petróleo

(ANP), o SIMMAP dedica-se ao monitoramento de navios e plataformas envolvidas em atividades rela-

cionadas ao petróleo. Os dados coletados são transmitidos por diferentes canais, inclusive via satélite,

e consolidados pela Petrobras, que, em seguida, fornece a compilação à DPC, à ANP e ao Comando do

Controle Naval do Tráfego Marítimo (COMCONTRAM). Índice de prontificação de 100%.

aUTOMaTED iDENTiFiCaTiON sYsTEM – sisTEMa DE iDENTiFiCaÇÃO aUTOMÁTiCa (ais): siste-

ma que, usando transmissão em VHF (curto alcance - 30 MN), permite identificação e monitoramento

de navios sem a necessidade de comunicação por voz, recebendo dados emitidos automaticamente

Page 177: Seminário de Segurança da Amazônia

175175

pelos próprios navios. Criado inicialmente para segurança da navegação, ganhou ênfase após o aten-

tado terrorista ocorrido em 11 de setembro de 2001. Índice de prontificação de 87%, faltando ampliar

o número de estações instaladas pelo país.

sisTEMa iNTEGraDO DE raDiOGONiOMETria (sir): quatro Estações Radiogoniométricas de Alta

Frequência (ERGAF), situadas em Rio Grande (RS), Campos (RJ), Natal (RN) e Belém (PA), operando inte-

gradas entre si em rede, modernizadas para integração com o SisNC2 e ao Centro Gestor Operacional

do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM), permitindo a vigilância do espectro de HF, incluindo

a interceptação dos sinais, sua monitoração e localização dos emissores na área de cobertura do Siste-

ma de Comunicações da Marinha (SISCOM). Índice de prontificação de 80%, faltando a modernização

da ERGAF de Belém, com previsão de prontificação para setembro de 2010.

NaViOs-PaTrUlHa (NPa): frota de 48 navios-patrulha para o incremento do número de patrulhas e

inspeções navais e da área de abrangência das mesmas. Índice de prontificação de 25% em virtude de

a MB possuir, até o momento, doze NPa adequados àquelas tarefas. No Com4DN dotará um total de

doze unidades. Atualmente existem seis.

LONG RANGE IDENTIFICATION AND TRACKING – sisTEMa DE iDENTiFiCaÇÃO E aCOMPaNHa-

MENTO DE NaViOs a lONGa DisTÂNCia (lriT): sistema que permite identificação e monitoramen-

to de navios a longa distância, sem a necessidade de comunicação por voz, recebendo dados emitidos

automaticamente pelos próprios navios, trazendo benefícios, não só para o controle naval do tráfego

marítimo, como também para as atividades de Busca e Salvamento Marítimo (SAR) e prevenção da

poluição nas AJB. Índice de prontificação de 90%.

PrOTEÇÃO DE PlaTaFOrMas: sistema capaz de efetuar o monitoramento e acompanhamento de

tráfego marítimo e aéreo de interesse para a bacia de Campos, viabilizando tempo de reação suficiente

para a proteção das plataformas de petróleo lá existentes contra eventuais riscos à segurança das mes-

mas. Sistema em implementação.

VEssEl TraFFiC sYsTEM – sisTEMa DE CONTrOlE DE TrÁFEGO DE NaViOs (VTs): subsistemas

de TV, radar, AIS e comunicações, integrados por um subsistema de dados, formando um sistema capaz

de realizar o controle de tráfego marítimo, prestando serviço de assistência à navegação e monitorando

seus efeitos, tornando-se ideal para incrementar a segurança e a eficiência do tráfego marítimo, a salva-

Page 178: Seminário de Segurança da Amazônia

176

guarda da vida humana e a prevenção contra poluição marinha, particularmente em áreas restritas com

grande densidade de movimento de embarcações ou que envolvam complexos padrões de navegação

ou riscos à navegação. Sistema em implementação.

SYNTHETIC APERTURE RADAR – sENsOrEaMENTO rEMOTO POr saTÉliTE raDar (sar): sensor

radar instalado em satélite, que permite, independentemente das condições meteorológicas, efetuar

detecção e acompanhamento do tráfego marítimo, bem como detectar derramamentos de óleo no

mar. Sistema em implementação.

aViÕEs da MB: aviões de patrulha baseados em terra e pertencentes à MB. Aeronaves a serem adqui-

ridas constam do PAEMB.

raDarEs de ViGilÂNCia: radares baseados em terra, capazes de prover vigilância de curto, médio e

longo alcances das AJB, detectando e acompanhando alvos de superfície e aeronaves a baixa altitude,

podendo ser operados remotamente. Sistema em implementação.

sisTEMa NaVal DE COMaNDO E CONTrOlE (sisNC2): o SisNC2 efetua a integração dos diversos

sistemas acima mencionados, considerados fontes de dados, bem como a fusão das informações co-

letadas, buscando solucionar redundâncias e conflitos e associar dados complementares, de modo a

oferecer uma compilação única para auxílio à decisão, sendo apresentada no Centro de Comando do

teatro de Operações Marítimas do Comando de Operações Navais (CCTOM do ComOpNav). Índice de

prontificação de 70%. Os 30% restantes representam as adequações pelas quais o Sistema irá passar

para integrar os novos sistemas.

EMPrEENDiMENTO MODUlar: a magnitude do sistema como um todo indica que se trata de um

projeto de alta complexidade e longo prazo de implantação, devendo, por isso, ser aplicado o conceito

de empreendimento modular, com um planejamento para implementação em módulos, que obede-

çam a requisitos de compatibilidade para integração e fusão de dados. A arquitetura modular deve ser

entendida em nível de sistemas e de áreas geográficas, devendo-se estabelecer a prioridade entre os

sistemas e entre as áreas. A Figura 3 exibe a representação gráfica do SisGAAz.

Page 179: Seminário de Segurança da Amazônia

177177

SIRSist. Integrado de

Radiogoniom.

AISSist. de Ident. Automática

VTSServiço de Tráfego de

Navios

SARSatéliteRadar PREPS

Prot. Plataformas

SIMMAPSis Mon Marít Ap Ativ Petróleo

LRITSist. de Ident.

de Naviosa Longa Dist.

SISTRAMPREPS

100%SIMMAP100%

AIS87%

Radares Vigil.0%

LRIT90%

SisNC2

70%

VTS0%

SIR70%

Anv Vig Mar0%

VANT0%NPa

25%

Articulação – Sistema de Gerenciamento da Amazônia AzulArticulação – Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul

Mon. Ambiental30 %

Figura 3 – Sistema de Sistemas do SisGAAzfonte: braSiL, 2009.

Page 180: Seminário de Segurança da Amazônia

178

Conclusão

A região Amazônica apresenta uma grande importância econômica e estratégica, já vislumbrada desde

a época do colonialismo, e por isso deve ser defendida. A sua defesa requer ações sociais, políticas e

militares. As militares, consonante com as ideias do Marquês de Pombal, no que diz respeito ao Poder

Naval, requerem a defesa do rio Amazonas, tanto na sua foz e área marítima adjacente, quanto no

controle de suas hidrovias.

Enquanto a 2ª Esquadra contribuirá para a garantia estratégica das LCM na Foz do Rio Amazonas (parte

marítima) e no Mar do Caribe, os novos meios navais, aeronavais, de fuzileiros navais e as novas OM do

SSTA permitirão que o Com4DN se faça mais presente no controle das hidrovias, nas ações de presença

nas regiões focais e de difícil acesso, no transporte de pessoal e material dentro de um TO na região,

nas ações SAR, no apoio às comunidades ribeirinhas e no cumprimento da LESTA.

O segundo Rebocador de Alto Mar aumentará a sua capacidade SAR, os dois novos Navios de Trans-

porte Fluvial aumentarão a capacidade de projeção de poder sobre terra. Os doze navios-patrulha, o

dobro da quantidade atual, possibilitarão a realização de um maior número de PATNAV, IN e aumentará

o poder dissuasório frente a oponentes regulares e irregulares. O aumento da quantidade de meios

destinados aos levantamentos hidrográficos e com calados apropriados para cobrir uma maior parte

das hidrovias ampliará os conhecimentos operacionais e a segurança da navegação nas hidrovias. As

novas OMs do SSTA permitirão maior controle e maior possibilidade de cumprimento da LESTA. Final-

mente, a existência de aeronaves aumentará a capacidade de realizar a projeção de poder sobre terra,

uma vez que contribuirão para a conquista e a manutenção da superioridade aérea (em conjunto com

as aeronaves da 2ª esquadra) e com a defesa aérea e apoio de fogo aéreo por ocasião do movimento

navio-terra nas operações ribeirinhas.

O incremento e modernização dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais e a implementação

do SisGAAz aumentarão a capacidade de monitoramento e controle por parte do Com4DN sobre suas

águas jurisdicionais e, consequentemente, contribuirão para a defesa dos interesses e da soberania

nacional na região.

Os investimentos necessários para a implementação do PAEMB são grandes, mas bem justificados se

comparados com a vantagem estratégica e econômica que essa região tem a oferecer aos interesses

nacionais.

Page 181: Seminário de Segurança da Amazônia

179179

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Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 19 dez. 2008. Disponível em:

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após a Conclusão dos Cursos de Altos Estudos Militares. Aula inaugural para o CEMOS-09. Rio de

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ZENTGRAF, Maria Christina. Introdução ao estudo da metodologia científica. Rio de Janeiro: COPPE-

AD/UFRJ, 2006. Módulo de ensino.

Page 183: Seminário de Segurança da Amazônia

181

o PoDEr aEroEsPacial na amazônia:EnfoQuE na comara

Odil Martuchelli Ferreira

Introdução

No início da década de 1950 existiam na Amazônia apenas dezessete aeródromos, dos quais somente

Manaus (AM), Belém (PA) e Santarém (PA) eram asfaltados.

Em 1955, o Ministério da Aeronáutica, por meio do Comando da 1ª Zona Aérea, sediado em Belém, em

conjunto com a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), criada

em 1953 e que daria origem à SUDAM, instituiu a Comissão Mista FAB/SPVEA com a atribuição de im-

plantar aeródromos na região.

Essa Comissão Mista evoluiu de tal forma que em dezembro de 1956, o presidente Juscelino Kubits-

chek assinou o Decreto 40.551, que criou a Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMA-

RA), destinada a estudar, projetar, construir e equipar os aeroportos da região. Embora não estivesse

explicitamente contido no texto legal assinado pelo presidente da República, estava claro que essa

nova organização estaria também incumbida de realizar o treinamento contínuo da Força Aérea na

construção, recuperação e manutenção de campos de pouso – algo tão necessário em tempos de paz

quanto em tempo de guerra.

Inicialmente, foram elaborados dois planos quinquenais que definiam as diretrizes de atuação da CO-

MARA. O primeiro previa a construção de 20 pistas de terra. O segundo elegia a construção de 31 pis-

tas de 1.500 metros, além dos pátios, acostamentos, sistemas de drenagem, estações de passageiros

e sistemas de iluminação.

Page 184: Seminário de Segurança da Amazônia

182

Assim, ao longo dos 54 anos de atividade, a COMARA foi responsável pela implantação e recuperação

de mais de 150 pistas na região Amazônica, além de executar mais de 70 obras de construção e refor-

ma de instalações aeroportuárias.

Dentro do acervo da COMARA destacam-se, dentre outros, a construção dos aeródromos de São

Gabriel da Cachoeira (AM), Eirunepé (AM), Rio Branco (AC), Cruzeiro do Sul (AC), Caracaraí (RR), Sinop

(MT), Imperatriz (MA) e Oiapoque (AP).

A figura a seguir mostra as localidades em que a COMARA esteve presente nesses quase 54 anos de

atividades.

Figura 1 – Atuação em 54 anos

Page 185: Seminário de Segurança da Amazônia

183183

Construção de pistas na Amazônia

A construção de pistas na Amazônia requer um estudo aprofundado dos desafios impostos pela mete-

orologia, pela floresta e pelos rios. Os mais conhecidos são: doenças tropicais, estação de chuvas com

curto período seco, regime e navegabilidade dos rios, falta de estradas, comunicação precária, péssima

qualidade do solo, inexistência de agregados adequados à construção, solo de baixa capacidade de su-

porte, grandes distâncias, isolamento e, considerando um panorama mais atual, as questões ambientais.

Figura 2 – Dificuldades Amazônicas

A Figura 2 mostra como pode ser difícil executar obras na região Amazônica. Desde o início, quando

estão sendo feitos levantamentos topográficos na área – necessários para a elaboração do projeto –

pode-se encontrar obstáculos, como no caso desse levantamento que foi feito em Tabatinga (AM).

Durante a mobilização de insumos, nem sempre é possível encontrar portos adequados para o descar-

regamento das balsas, obrigando o uso de “formiguinhas”, como no caso ilustrado do descarregamen-

to de cimento em Eirunepé (AM). Na execução da obra, em locais de baixo índice de suporte, mesmo

equipamentos de grande porte e extremamente resistentes são levados a extremos, como nesse caso

em Estirão do Equador (AM).

Tais desafios precisam ser entendidos e considerados quando da elaboração dos projetos de engenha-

ria. Um dos elementos mais importantes e que deve ser respeitado, durante a elaboração do projeto e

na construção propriamente dita, é a logística envolvida para a mobilização de pessoal, equipamentos

e insumos.

Page 186: Seminário de Segurança da Amazônia

184

Uma vez definido o local para a construção de uma pista, uma série de etapas deve ser cumprida, a

fim de atingir o objetivo de entregar a obra de acordo com as especificações e no tempo planejado.

De posse dos dados necessários para elaboração do projeto a ser implantado, vários estudos são rea-

lizados buscando:

• Aproveitar os materiais presentes na região. Toda a estrutura do pavimento precisa ser calculada e

depende do tipo de material que será utilizado. O solo laterítico, quando presente, é um material

de excelente qualidade e pode ser usado para as camadas de base do pavimento. Caso exista

afloramento rochoso, pode-se instalar centrais de britagem, evitando o transporte deste insumo

desde Monte Alegre (PA) ou Moura (AM), minimizando custos e tempo de execução.

• Encontrar a melhor posição para a implantação da obra. Considerando o relevo, a menor quan-

tidade de movimento de terra implica diretamente em custo e tempo de execução. A presença

de cursos d’água pode obrigar a implantação de grandes bueiros e exigir a execução de grandes

aterros, aumentando custos. A facilidade de locomoção de maquinário e proximidade de estradas

ou de rios com capacidade de navegação das balsas vai permitir que os equipamentos e insumos

sejam transportados sem maiores problemas.

• Avaliar a capacidade de contratação de mão-de-obra no local, facilitando a implantação do Can-

teiro de Obras, diminuindo a necessidade de construção de alojamentos e injetando recursos na

economia local.

• Fazer a avaliação do impacto ambiental que a obra irá provocar e estudar as maneiras de mitigar

este impacto. Nos dias atuais, o meio ambiente tem sido tratado com a maior prioridade.

A primeira etapa envolve a mobilização do canteiro de obras, dos víveres, dos equipamentos e dos

materiais de apoio e de construção.

Em seguida, de posse das licenças emitidas pelos órgãos ambientais competentes, inicia-se a obra com

a supressão vegetal, que inclui a limpeza da vegetação, o destocamento de árvores e a retirada da

camada vegetal do terreno.

Page 187: Seminário de Segurança da Amazônia

185185

Figura 3 – Ocorrência de Baixa Capacidade de Suporte

A etapa seguinte consiste da terraplanagem e drenagem da área, movimentando o solo, com cortes e

aterros, para a conformação do terreno de acordo com o perfil projetado da pista e para aumentar a

capacidade de resistência do piso. A Figura 3 mostra os locais de ocorrência de solos de baixa capacida-

de de suporte que, para utilização na construção de estradas e pistas de pouso, exigem algum tipo de

estabilização para sua correção. Por fim, realiza-se o revestimento das pistas e a pintura de sinalização

horizontal.

O clima amazônico, caracterizado pelas estações de chuva, somado ao tipo de solo, argiloso e expan-

sível em sua maioria, desfavorecem a execução de obras que envolvam movimento de terra. Tais obras

devem ser executadas aproveitando o período seco que, em geral, dura cerca de três a quatro meses

no ano. A Figura 4 mostra a distribuição dos períodos secos por zonas de ocorrência e auxilia o plane-

jamento das obras para que ocorram com o menor transtorno possível.

Page 188: Seminário de Segurança da Amazônia

186

Figura 4 – Zoneamento do Trimestre Seco

O projeto da obra deve considerar a sazonalidade e prever a logística, com o objetivo de combinar os

elementos da obra com sua mobilização. Desta forma, aproveita-se o período chuvoso para transpor-

tar, pelos rios, os equipamentos pesados e os insumos e executa-se a obra nos períodos secos. Deve-se

lembrar que os serviços de terraplenagem somente podem ser executados sem a ocorrência de chuvas.

A Figura 5 mostra os períodos de navegabilidades dos rios mais utilizados pela COMARA em suas mo-

bilizações.

Page 189: Seminário de Segurança da Amazônia

187187

Figura 5 – Período de Navegabilidade dos Rios nas áreas de atuação da COMARA

O grande desafio, portanto, é elaborar uma logística eficiente para vencer as condições especiais que

a Amazônia apresenta. Para isso, a COMARA dispõe, basicamente, de dois meios de transporte de

insumos: o transporte fluvial, feito com balsas e empurradores, e o transporte aéreo, em que são uti-

lizadas principalmente as aeronaves C-105 Casa e C-130 Hércules. Vale destacar que mais de 95% do

transporte é realizado por meio fluvial. O uso de transporte rodoviário é quase inexistente, graças às

particularidades da região, mas sempre é usado quando a situação permite.

Na Figura 6 é possível verificar o quão grande é a área de abrangência de atuação da COMARA e como

é necessário que a parte logística deste trabalho seja prevista e articulada com os demais setores da

Comissão, para que insumos, equipamento e recursos humanos estejam disponíveis nos períodos ideais

para a execução das obras.

Page 190: Seminário de Segurança da Amazônia

188

Figura 6 – Atuação da COMARA em 2010

Apoio logístico

Para permitir que a COMARA cumpra sua missão institucional, ela se equipou com uma frota de qua-

torze balsas e nove empurradores que permitem transportar grandes volumes de insumos e equipa-

mentos de grande porte para as obras. Todo o movimento dos empurradores da COMARA é registrado

e controlado via satélite.

Page 191: Seminário de Segurança da Amazônia

189189

A mobilização fluvial é o principal meio de transporte utilizado pela COMARA para executar suas obras.

A Figura 7 mostra imagens de uma mobilização de equipamentos e de transporte de insumos para os

Canteiros de Obras da COMARA na região. Deve-se notar que, tanto para os habitantes quanto para

as empresas, o meio fluvial também é o principal modal de transporte utilizado, seja para carga, seja

para passageiros.

Figura 7 – Mobilização de Equipamentos e Insumos

Em determinadas áreas, onde não é possível se chegar pelo modal fluvial, em razão da existência de rios

encachoeirados ou pela inexistência de cursos d’água, o transporte aéreo logístico se torna essencial.

Exemplo disso são as pistas de Tiriós (PA), Auaris (RR) e Surucucu (RR), onde todos os equipamentos e

insumos para a construção foram transportados por aeronaves da Força Aérea Brasileira.

Page 192: Seminário de Segurança da Amazônia

190

Figura 8 – Mobilização Aérea - Aeronaves C-105 e C-130

Para a manutenção, reforma e ampliação de sua frota, a COMARA estruturou, no Porto Brucutu, lo-

calizado em Belém, um estaleiro capaz de realizar diversos serviços de engenharia naval, incluindo a

construção e o reparo de balsas e empurradores.

Figura 9 – Empurrador e Balsa construídos pela COMARA

Page 193: Seminário de Segurança da Amazônia

191191

Dada a falta de rocha em grande parte da Amazônia, insumo essencial para a construção e pavimen-

tação das pistas, a COMARA mantém como fonte estratégica duas pedreiras para extração e produção

de brita com capacidade estimada de mais de 30.000 ton/ano. Uma situada no município de Monte

Alegre (PA), nas margens do rio Amazonas, dotada de rocha calcária, e outra em Moura, distrito de

Barcelos (AM), nas margens do rio Negro, dotada de rocha granítica.

Figura 10 – Central de Britagem em Moura-AM

Além dos recursos de transporte e de produção de brita, a COMARA está preparada para se mobilizar,

em termos de equipamentos, para obras que envolvam os serviços de terraplenagem, drenagem e

pavimentação de pistas, seja ela em concreto asfáltico ou em concreto cimento. Atualmente, a COMA-

RA possui mais de 320 equipamentos de grande porte. Dentre eles, destacam-se as usinas de asfalto,

vibro-acabadoras, rolos compactadores, carregadeiras, centrais de concreto, caminhões betoneiras,

caminhões basculantes, escavo-carregadeiras e tratores de esteira.

Nos dias atuais, com o advento de aeronaves mais modernas, aumentou o nível de exigência relaciona-

do às pistas, conforme se vê a seguir: comprimentos mais extensos, maior resistência dos pavimentos

e revestimentos com materiais de qualidade superior. Assim, os requisitos de qualidade na construção

estão em constante evolução e para que isto ocorra foram adquiridos novos e modernos equipamentos

de pavimentação. A pavimentadora de concreto e a recicladora de pavimentos são um exemplo desses

Page 194: Seminário de Segurança da Amazônia

192

novos equipamentos. A pavimentadora permitirá revestir uma pista de pouso e decolagem, em con-

creto cimento, com uma perfeita qualidade geométrica e em um curto espaço de tempo. A recicladora

permitirá fazer recuperação dos pavimentos asfálticos de maneira rápida, diminuindo custos e tempo

de execução.

Figura 11 – Recicladora de Pavimentos e Pavimentadora de Concreto

Todos os recursos utilizados no apoio logístico pela COMARA, bem como os seus equipamentos, po-

dem ser facilmente desdobrados para o apoio às unidades de Aeronáutica ou aos esquadrões aéreos

deslocados.

Estudo de Caso – Obra de Tiriós

Uma das obras que melhor ilustra o trabalho desenvolvido pela COMARA é a da pista de pouso e de-

colagem de Tiriós, localidade situada na Serra do Tumucumaque, município de Óbidos, Estado do Pará,

próximo à fronteira com o Suriname.

Page 195: Seminário de Segurança da Amazônia

193193

A comunidade de Tiriós está totalmente isolada de centros urbanos e vivem lá apenas índios da etnia

Tyrió. O Rio Parú do Oeste, que atravessa Tiriós, não é navegável, em função de possuir diversas ca-

choeiras e, com isso, não permite a chegada de balsas ou embarcações de maior porte. Assim, a única

forma de se chegar a Tiriós é pelo meio aéreo, e isso, graças ao trabalho da Força Aérea Brasileira e da

COMARA.

Na década de 1970, a Comissão de Aeroportos construiu a pista pioneira de Tiriós. Já nos anos 1980,

a equipe da COMARA retornou ao local para realizar a sua pavimentação, e, no ano de 2002, iniciou

os serviços para a terceira intervenção naquela localidade. A obra consistiu na ampliação da pista de

1.600 para 2.000 metros, além do reforço estrutural dos pavimentos para que permitisse a operação

de aeronaves de grande porte, como o C-130 Hércules.

Para a viabilização dessa empreitada, todos os insumos, pessoal e equipamentos tiveram que ser trans-

portados por aeronaves da Força Aérea Brasileira, gerando um grandioso esforço aéreo que envolveu as

aeronaves C-115 Búfalo, C-130 Hércules e C-105 Amazonas, que, juntas, voaram mais de 2000 horas,

partindo de Belém ou de Manaus, carregando mais de 3500 ton. de carga.

O insumo asfáltico utilizado na pavimentação da pista, o CAP 50/70, foi transportado pelo meio aéreo

de Manaus para Tiriós em embalagens plásticas de 50kg a 60kg cada, num total de 750ton. A técnica

de utilizar o CAP 50/70 ensacado é muito pouco difundida no Brasil, diferentemente da COMARA que,

dada sua característica de emprego, possui o conhecimento e os equipamentos para sua aplicação.

Page 196: Seminário de Segurança da Amazônia

194

Figura 12 – Insumos utilizados na construção da pista de Tiriós sendo transportados por via aérea

Os agregados minerais areia e brita puderam ser explorados na região próxima à pista. Mais de 40.000

ton. de brita foram produzidas e, para tanto, foi preciso mobilizar um britador que teve de ser desmon-

tado em Belém e levado em partes para Tiriós. Além do britador, foram mobilizados equipamentos para

a execução do asfalto da pista, tais como: tanques, usina, vibroacabadora, rolos de pneus e de chapa

lisa, e muitos outros.

Após oito anos de muito esforço, a pista de Tiriós foi concluída e possui hoje uma infraestrutura de

aeroportos de médio porte, com 2.000 metros de extensão e 30 de largura, possui pavimentação em

Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ), e é dotada de sinalização noturna e farol de aeró-

dromo. Dessa forma, a pista de Tiriós pode receber aeronaves do porte do C -130 e aeronaves a jato,

tanto no período diurno quanto noturno. Essas características permitem tirar Tiriós do seu isolamento

territorial e garantir ao Brasil a ocupação e a segurança de suas fronteiras.

Page 197: Seminário de Segurança da Amazônia

195195

Figura 13 – Pista de pouso e decolagem de Tiriós (PA), em fase de conclusão

A figura 13 mostra a pista de pouso e decolagem de Tiriós, no Estado do Pará. O esforço envolvido na

construção da pista de Tiriós é um marco histórico para o COMAER, a COMARA e para a Força Aérea

Brasileira, onde a Engenharia e a Logística da FAB coordenaram e planejaram os meios aéreos no trans-

porte de pessoal e cargas em um grande exercício de Mobilização Nacional.

Page 198: Seminário de Segurança da Amazônia

196

Reflexos na Defesa Nacional e contribuição ao poder aeroespacial

A estrutura da COMARA está pronta e preparada para a construção de pistas de pouso e decolagem

em qualquer local da Região Amazônica. A sua capacidade pode ser utilizada, por exemplo, para a

construção de pistas para apoio aos Pelotões Especiais de Fronteira (PEF) do Exército Brasileiro.

Os recursos disponíveis para o apoio logístico das obras em execução pela COMARA, em especial as

balsas e os empurradores, podem ser utilizados para a mobilização de unidades de Aeronáutica ou

esquadrões aéreos deslocados, bem como as Unidades Celulares de Engenharia (UCE) ou Unidades de

Reparo Rápido (URRA), e, ainda, no transporte fluvial de insumos e suprimentos.

O número de pistas implantadas pela COMARA, na região Amazônica, permitiu integrar as comunida-

des mais isoladas ao País. Regiões inacessíveis passaram a usufruir da presença do Estado, permitindo

o apoio de equipes de saúde, de segurança, de educação, de meios de comunicação, entre outras

necessidades básicas.

A viabilização do suporte aéreo também acelerou o desenvolvimento econômico e social das regiões

atendidas, permitindo a sofisticação dos métodos de exploração dos recursos naturais para subsistên-

cia e garantindo a inclusão aos novos meios de comunicação, que possibilitou a essas populações o

ingresso no século XXI.

Com essas pistas é possível, também, aumentar o alcance e a mobilidade da Força Aérea. A malha de

aeródromos criada viabilizou o aumento dos pontos de apoio e de reabastecimento e garantiu um re-

forço para as Forças Armadas nas missões de transporte e patrulha das fronteiras secas do País.

Atualmente, para desenvolver suas atividades na Região Amazônica, a COMARA conta com o valioso

suporte oferecido pelos seus Destacamentos de Apoio localizados em Manaus (AM), São Gabriel da

Cachoeira (AM), Tabatinga (AM), Moura (AM) e Monte Alegre (PA).

Nestes locais, tanto a COMARA quanto as demais unidades de Aeronáutica que atuem naquelas locali-

dades, dispõem de alojamentos para as suas tripulações; espaço para alimentação e acondicionamento

de víveres; salas de reunião e ambientes equipados com meios de comunicação para que as atividades

destas organizações possam acontecer em consonância com a missão atribuída.

Page 199: Seminário de Segurança da Amazônia

197197

A implantação dos Destacamentos de Aeronáutica nas localidades de São Gabriel da Cachoeira (AM),

Eirunepé (AM) e Vilhena (RO) irão permitir uma maior mobilidade da Força Aérea, podendo também

dar apoio a unidades do Exército e da Marinha quando se fizer necessário.

A completa infraestrutura construída nos Destacamentos de Aeronáutica ou nos Destacamentos de

Apoio da COMARA permite, ainda, a atuação dos esquadrões de voo em localidades mais inóspitas e

isoladas, seja em manobras de treinamento ou em situações reais, possibilitando o seu uso pela Força

Aérea para a realização de uma gama variada de missões.

Conclusão

A Comissão de Aeroportos da Região Amazônica, organização única dentro da Força Aérea no ramo

de atividade que executa, possui uma experiência rara de construção de aeródromo e pistas de pouso

e decolagem na Amazônia, acumulados em 54 anos de trabalhos e história, desbravando os mais lon-

gínquos rincões dessa região tão distinta do restante do País.

O conhecimento adquirido e o acervo de obras executadas colocam a COMARA em uma posição de

destaque no contexto da Engenharia Brasileira, sendo a maior referência neste tipo de obras.

Dentre as especificidades das ações desenvolvidas pela COMARA e apresentados neste trabalho, des-

taca-se, ainda, a possibilidade de todos os seus recursos, sejam eles materiais, logísticos ou humanos,

poderem, a qualquer momento, ser utilizados para uma mobilização ou um desdobramento das Forças

Armadas ou de uma de suas unidades aéreas deslocadas nas áreas que possuem um destacamento de

apoio. Nesse contexto, a Divisão de Engenharia da COMARA está treinada e apta para agir em situa-

ções adversas, como no caso de um conflito.

Ao longo de sua história, a COMARA vem contribuindo continuamente para o desenvolvimento e a

melhoria da malha aeroportuária da região Amazônica o que incrementa, de forma direta, o Poder Ae-

roespacial Brasileiro sobre nosso território. Com este trabalho, a COMARA ajuda a construir um arco de

defesa em áreas fronteiriças, a fim de garantir apoio para os Pelotões Especiais de Fronteira localizados

Page 200: Seminário de Segurança da Amazônia

198

nesses limites territoriais, bem como um poder de mobilidade maior para as unidades aéreas que atuam

na proteção da região Amazônica.

No ponto de vista social, a Comissão de Aeroportos consegue, ainda, com suas obras, levar o poder do

Estado para as comunidades mais destacadas do resto do País, permitindo a essas populações o acesso

aos serviços básicos.

Com o presente trabalho, foi possível ratificar ainda, que construir na Amazônia requer um estudo

aprofundado dos desafios impostos pela meteorologia, pela floresta, pelo solo, pelas enormes distân-

cias geográficas, pela dificuldade de transporte de insumos e pelas barreiras impostas pelos rios.

Porém, independentemente das dificuldades apresentadas, é perceptível que de forma criativa e efi-

ciente, a COMARA está, de forma inabalável, vencendo o desafio Amazônico, atuando como um ba-

luarte no processo de desenvolvimento dessa região, ao achar alternativas operacionais para que as

suas obras sejam viabilizadas, e para que, dessa forma, a Amazônia continue se desenvolvendo para ser

agregada, de fato, ao restante do País. A atuação da COMARA é, portanto, um marco no progresso da

região Amazônica, uma ferramenta eficaz de manutenção da soberania nacional, e um capítulo à parte

na história da Força Aérea Brasileira.

Page 201: Seminário de Segurança da Amazônia

199199

Referências

ABNT. NBr 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódica científica impressa:

apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 5 p.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia cientifica. 3. ed.

rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1991. 270 p.

FILHO, Antônio Marques Mello. Minimização de impactos ambientais na exploração de recursos natu-

rais em obras de pavimentação da COMARA na Região Amazônica. 2009. 54f. Instituto Tecnológico de

Aeronáutica, São José dos Campos.

COMARA 50 anos / Araquém Alcântara, concepção editorial e fotografias; Otávio Rodrigues, textos.

São Paulo: TERRABRASIL, 2007.

RICA 21-209 Regimento Interno da Comissão de Aeroportos da Região Amazônica de 15 de agosto

de 2009.

COMARA 53 anos desbravando fronteiras, projetando a Amazônia e integrando o Brasil, Belém, 2009.

Page 202: Seminário de Segurança da Amazônia
Page 203: Seminário de Segurança da Amazônia

201

a sEGUraNÇa PÚBliCa Na aMaZÔNia: siTUaÇÃO aTUal E rEFlEXO Para DEFEsa NaCiONal

Sérgio Lúcio Mar dos Santos Fontes

O Estado surge como manto protetor do homem em sociedade e não pode, por razões

óbvias, ultrapassar as fronteiras que lhe são impostas pelos súditos, em assembléia

constituinte ou através da livre expressão de sua vontade. Não se admite o Estado

tirano nem tampouco o Estado inerte, impassível e posto a mercê dos que se despiram

do mínimo ético e da própria alma, sobrepondo-se a ele.

Leon Frejda Szklarowsky, 2003.

A partir de comentários sobre a origem e importância do Estado-Nação como ente responsável pela

segurança de seus cidadãos, desenvolve-se uma avaliação do atual estado de nossas próprias fronteiras

nacionais e se demonstra a importância e a urgência em se estabelecer maiores controles que visem

obstar a crescente expansão do crime organizado transnacional sem, no entanto, oferecer entraves

aos aspectos positivos de uma economia globalizada. Prossegue-se o trabalho mostrando como se dá

a atuação do Departamento de Polícia Federal no controle de fronteiras já que é o órgão constitucio-

nalmente responsável por essa missão. Por fim apresentamos o nosso trabalho nas fronteiras, sempre

com foco no aumento de nossa eficiência, eficácia e efetividade na repressão do crime organizado

transnacional.

Assombrada pelas constantes demonstrações de insegurança, cujos atentados atribuídos ao Primeiro

Comando da Capital (PCC) no Estado de São Paulo são apenas os eventos mais expressivos, a sociedade

brasileira elege a segurança pública como um dos mais prioritários e urgentes temas de nossos dias.

É natural que o brasileiro esteja amedrontado, perplexo e descrente de que as instituições possam re-

verter o quadro quase caótico que se instalou na segurança pública deste país nos últimos anos, já que

Page 204: Seminário de Segurança da Amazônia

202

os alarmantes índices de criminalidade nos principais centros urbanos do País repercutem diretamente

na qualidade de vida de milhares de pessoas todos os dias.

Em um país como o Brasil, que apresenta enormes problemas sociais, o aumento da criminalidade

obviamente não pode ser encarado somente do ponto de vista policial. No entanto, algumas questões

pontuais e urgentes podem e devem ser avaliadas e tratadas imediatamente pelo poder público a fim

de que o atual quadro de aparente descontrole não se perpetue. Uma dessas questões é a crescente

atuação do crime organizado em território nacional, muitas vezes potencializando o crime comum,

como é o caso do tráfico de drogas e de armas. O próprio conceito de crime organizado ainda é relati-

vamente novo e não está completamente sedimentado em nosso ordenamento jurídico.

Neste quadro sobreleva-se a urgente necessidade de se aplicar uma política criminal com a missão de

dar respostas eficientes às ameaças e inquietações sociais e econômicas fomentadas pelo crescimento

do crime organizado transnacional.

A sociedade brasileira convive hoje com o constante medo de que os episódios criminosos protago-

nizados pelo PCC em São Paulo, ou seja, os ataques indiscriminados e simultâneos a sociedade e suas

instituições, possam se repetir cada vez com mais frequência. Deve então o poder público se preocupar

com essa crescente tendência ao incontrolável, face à ascensão tanto do poder paralelo das organi-

zações criminosas como do poder transversal, representado pelo cruzamento de interesses ilícitos de

agentes do próprio Estado com as atividades delinquentes inseridas no poder paralelo do banditismo.

As dimensões continentais do Brasil e a ausência do poder estatal na maior parte de nossas fronteiras,

obviamente implicam numa revisão das nossas prioridades quanto ao efetivo controle dessas áreas.

Um dos grandes desafios dos Estados Nacionais democráticos, em face do fenômeno da globalização

é justamente o de controlar fronteiras e ao mesmo tempo não oferecer entraves aos aspectos positivos

de uma economia globalizada.

O Estado-Nação é fruto da necessidade do poder político em unir as pessoas em torno de algo meta-

físico, superior ao indivíduo. Depois da família e da comunidade, é ao Estado-Nação que dizemos per-

tencer e que estamos dispostos a defender. Reside, portanto, no sentimento de identidade nacional, a

gênese do Estado-Nação, de tal forma que hoje encontramos dificuldades em analisar separadamente

as instituições “Estado” e “Nação”, de tanto que parecem se complementar.

Page 205: Seminário de Segurança da Amazônia

203203

Verifica-se atualmente que o Estado-Nação tem enfrentado dificuldades no atual mundo globaliza-

do, ainda que, apesar de todos os impasses, inclusive uma indiscutível perda (relativa) de seu poder,

permaneça como a unidade política, que se encontra no grau mais alto do espaço geográfico hodierno.

A complexidade das relações internacionais, principalmente após o fim do cenário da Guerra Fria,

tem obrigado a uma profunda reflexão sobre o papel dessa instituição, notadamente no que se refe-

re a suas limitações no enfrentamento de um dos aspectos mais negativos da globalização, ou seja,

a crescente proliferação de organizações criminosas com atuação transnacional.

As fronteiras do Brasil

O Brasil é um país de dimensões continentais,

com área superior a 8.500.000 quilômetros

quadrados.

Com uma fronteira marítima de 7.408 quilô-

metros, o Brasil tem limites terrestres com nove

países da América do Sul: Uruguai, Argentina,

Paraguai, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela,

Guiana e Suriname; e com o Departamento Ul-

tramarino Francês da Guiana, numa extensão

da ordem de 16.886 quilômetros.

O que ainda se observa é uma fronteira prati-

camente abandonada, principalmente nas re-

giões Norte e Centro-Oeste. Em muitos rincões

nas fronteiras deste país apenas pequenos

pelotões de fronteira do Exército representam

não só a única expressão do Estado como tam-

bém a única população não indígena da região.

fonte: coordenação de operações de fronteiras (coeSf).

Page 206: Seminário de Segurança da Amazônia

204

Resta óbvia, portanto, a constatação de que o imenso vazio demográfico de nossas fronteiras e a quase

completa ausência do poder estatal na região, são fatores que facilitam consideravelmente as ativida-

des de organizações criminosas internacionais, com consequências que são paradoxalmente percebi-

das com mais intensidades nos grandes centros urbanos.

São inúmeros os exemplos de como o aperfeiçoamento de nossos controles de fronteira poderão influir

na redução das taxas de criminalidade em nível nacional, no entanto, um desses exemplos é considera-

do emblemático, ou seja, trata-se da repressão ao tráfico da cocaína produzido na Colômbia, no Peru e

na Bolívia. Primeiramente, é necessário esclarecer que o Departamento de Polícia Federal há muito vem

mudando antigos paradigmas nessa esfera de atuação policial, deixando de priorizar as apreensões

de droga já preparada para o consumo e as prisões de traficantes de “bocas de fumo” e “mulas” para

investir nos controles de fronteiras e no combate às organizações criminosas e na lavagem de dinheiro

decorrente do tráfico.

Todos os anos centenas de toneladas de cocaína são produzidas nos três países antes mencionados,

restando evidente que mais eficaz do que apreender esse tipo de droga seria evitar que tais carrega-

mentos cruzem as fronteiras nacionais mediante vigilância ostensiva. Insta ressaltar, ainda, que qual-

quer quantidade de cocaína quando é transportada das áreas de produção para as áreas de consumo

normalmente se apresenta com grau de pureza próximo de 100%, já que somente lhe são acrescidas

outras substâncias quando a droga é preparada (“batizada”) para a venda ao usuário, momento em

que normalmente ela é vendida a 30 % de pureza. A conclusão óbvia é que para cada 1 Kg de droga

pura apreendida se retira do mercado aproximadamente 3 Kg de droga “batizada”. Ademais, a cocaína

para venda ao usuário normalmente é acondicionada em saquinhos (“trouxinhas”) de 1 grama, sendo

esta a dose para consumo, logo, para cada 1 kg apreendido no transporte (diga-se em áreas de fron-

teira) se retira do mercado ilícito cerca de 3.000 mil “trouxinhas” que seriam vendidos em “bocas de

fumo” das grandes cidades.

Também a prisão de “mulas” e “pequenos traficantes” nas cidades gera bem menos resultados práticos

do que desarticular organizações criminosas com atuação internacional. Vale destacar que atingir a

“economia do tráfico” é, sem sombra de dúvida, a melhor estratégia na repressão a esta modalidade

de crime organizado. É evidente que o chamado tráfico doméstico (mulas, boqueiros, aviões, vapores,

soldados etc.) deve continuar sendo combatido pelas forças policiais. No entanto, esses criminosos pre-

sos são facilmente repostos, sem maiores prejuízos para as organizações criminosas que eles integram.

Page 207: Seminário de Segurança da Amazônia

205205

Ademais, considerando os graves problemas do nosso sistema penitenciário, esses meliantes de hie-

rarquia inferior, a maioria jovens, após o cumprimento da pena retornam a sociedade potencialmente

mais perigosos do que quando foram presos.

Eliminar a improvisação e o empirismo na atividade policial, inquestionavelmente é o único caminho

para se obterem resultados mais eficientes, eficazes e efetivos em Segurança Pública. Atuar de forma

estratégica, mediante implemento de projetos, utilizar a tecnologia, estatística, planejamento opera-

cional, banco de dados e investir em capacitação, são práticas altamente positivas e capazes de reduzir

rapidamente as taxas de criminalidade no País.

O conceito tradicional de segurança nacional vigente por mais de meio século, influenciado ideologica-

mente pelo poderio da força militar das nações integrantes dos blocos ocidentais e orientais, é alterado

face ao surgimento de novas ameaças mais difusas e insidiosas, não voltadas especificamente às fron-

teiras nacionais, e sim à autonomia dos Estados dentro do sistema mundial de relações internacionais

para sobrevivência dos regimes democráticos e bem-estar dos cidadãos.

O fenômeno da globalização, que se intensificou com o fim da “Guerra Fria”, tem despertado a atenção

internacional para um de seus efeitos mais negativos, ou seja, a assustadora expansão das atividades de

organizações criminosas de caráter transnacional.

A questão, portanto, não mais se resume ao poder destrutivo de armas atômicas, e sim à manutenção

das determinantes políticas sociais do Estado de Direito, definindo a responsabilidade internacional

do Estado-Nação, consagrada nas obrigações de manter os compromissos assumidos e de reparar os

males injustamente causados a outrem. Insta ressaltar, por oportuno, que a Segurança Pública é um

bem democrático, legitimamente desejado por todos os setores sociais e um direito fundamental da

cidadania.

Na atual ordem geopolítica internacional o maior risco à governabilidade democrática é o crime or-

ganizado transnacional, cujas ações afrontam a soberania estatal, a cidadania, valores sociais e os

direitos humanos.

Page 208: Seminário de Segurança da Amazônia

206

Tal situação configura um novo cenário da segurança internacional, em que os efeitos trans-fronteiriços

de ações patrocinadas por organizações criminosas são passíveis de causar instabilidade nas relações

entre Estados.

A dinâmica da globalização, particularmente a redução dos entraves ao movimento de pessoas, bens e

transações financeiras transfronteiriças, têm permitido aos grupos internacionais de crime organizado

expandir quer a sua penetração quer a diversificação dos negócios. São agora capazes de operar fora

dos parâmetros tradicionais, tirando partido de novas oportunidades e da capacidade de movimen-

tação rápida para novas áreas geográficas. Os maiores grupos têm-se tornado mais globais nas suas

operações enquanto muitos dos menores se têm expandido para além das suas fronteiras nacionais,

transformando-se em potências criminosas regionais.

Atualmente classificamos as ações criminosas como de massa e organizada, concebendo a primeira

como infrações penais geradas por circunstâncias momentâneas e de oportunidade, na maioria das

vezes, e a segunda, como programadas, de natureza difusa, sem vítimas individuais, com danos não

restritos a uma ou mais pessoas, e sim à sociedade.

Doutrinariamente, o caráter transnacional do delito fica evidenciado quando:

• cometido em mais de um Estado;

• cometido em um só Estado, mas uma parte substancial de sua preparação, planejamento, direção

ou controle é feita em outro Estado;

• cometido em um só Estado, mas implica a participação de um grupo delitivo organizado que

realiza atividades delitivas em mais de um Estado; e

• cometido em um só Estado, mas com efeitos substanciais em outro Estado.

Page 209: Seminário de Segurança da Amazônia

207207

Também se podem identificar a principais características do crime organizado. São elas:

• criminalidade difusa;

• ações compartimentadas;

• atividades especializadas;

• atos de violência;

• atuação supranacional;

• caráter permanente;

• conexões estratégicas;

• pouca visibilidade dos danos;

• disciplina interna;

• disseminação da corrupção;

• efetivos selecionados;

• estrutura hierárquica;

• infiltração na administração pública;

• lucratividade das atividades;

• manutenção de dependência;

• alto grau de operacionalidade;

• mutação constante;

• objetivos ilícitos;

• pluralidade de agentes;

• poder centralizado;

• posicionamentos geográficos; e

• participação de agentes estatais.

Page 210: Seminário de Segurança da Amazônia

208

Atualmente é pacífico o entendimento acerca dos principais métodos para se combater o crime organi-

zado transnacional, são eles: dinamização do intercâmbio de informações, otimização dos mecanismos

de prevenção, aprimoramento do sistema legal, especialização das entidades envolvidas no combate

à macrocriminalidade, aperfeiçoamento das técnicas operacionais e a ampliação da cooperação inter-

nacional. O desafio está na capacidade dos governos em implementar tais métodos, principalmente

quanto à integração internacional de esforços. No Brasil, nossas dificuldades neste campo são enormes,

bastando lembrar que nem sequer conseguimos ainda integrar nossas forças de segurança, quanto

mais buscar essa política com outros países.

A busca pela construção da paz também depende da adoção de uma transformação estrutural nas

ações de segurança pública, com enfoque privilegiado na lógica da prevenção e da gestão. A interven-

ção efetivamente capaz de reduzir a violência e a criminalidade é aquela que envolve ações em duas

frentes: a primeira, que busca alterar as condições propiciatórias imediatas, isto é, as condições direta-

mente ligadas às práticas que se deseja eliminar; e a segunda, voltada para mudanças estruturais, cujos

efeitos somente exercerão impacto futuro na desaceleração das dinâmicas criminais. Nesse contexto

a melhoria dos controles de fronteira no Brasil é tema urgente e fundamental no combate ao crime

organizado e na busca da redução dos atuais níveis de criminalidade no País.

A segurança pública constitui interesse coletivo tutelado constitucionalmente. O texto da Constituição

consagrou o capítulo III à Segurança Pública, estabelecendo que esta é dever do Estado, direito e res-

ponsabilidade de todos e é exercida para preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas

e do patrimônio, indicando em seguida os órgãos encarregados de exercê-la.

Page 211: Seminário de Segurança da Amazônia

209209

Exemplos da atuação da tuação da PF na fronteira com a Colômbia e Peru (estado do Amazonas)

Operação Sentinela:

• Interditar o tráfico internacional de entorpecentes.

• Reprimir o contrabando de armas e munições.

• Reprimir o roubo de cargas e valores nos rios da região.

• Controlar o tráfego de produtos químicos e de combustíveis.

• Coibir o transporte clandestino de produtos químicos utilizados no processamento de entorpe-

centes.

• Controlar a exploração de produtos regionais de origem vegetal e animal.

• Apreender produtos de origem animal e vegetal explorados clandestinamente.

• Controlar o fluxo de estrangeiros em território nacional.

• Controlar o ingresso e a saída de mercadorias estrangeiras.

• Controlar o ingresso e a saída de mercadorias nacionais na Amazônia Ocidental.

• Fiscalizar os meios de transporte de cargas e pessoas que transitam pelos rios da Amazônia e seus

afluentes

• Coletar dados para identificar Organizações Criminosas, identificar suas bases e capturar seus

membros.

• Fornecer as autoridades fronteiriças dados do trânsito de mercadorias suspeitas destinadas àque-

las Nações.

• Coletar dados relacionados à economia regional que possibilitem estudos para o desenvolvimento

social.

• Combater a sonegação de impostos.

• Reprimir a exploração clandestina de minérios.

Page 212: Seminário de Segurança da Amazônia

210

• Reprimir o aliciamento de trabalhadores e o trabalho escravo.

• Apoiar os organismos policiais dos países fronteiriços.

• Coibir o ingresso clandestino em áreas indígenas.

• Coletar informações acerca de pistas de aterrissagem clandestina.

• Reprimir a prostituição infanto-juvenil.

• Encaminhar às autoridades competentes vítimas, testemunhas ou acusados de atos ilícitos.

A presença ostensiva de policiais federais nos Confrons (Controles de Fronteiras), fiscalizando, isolada-

mente ou em conjunto com os militares, os rios que saem da Colômbia e ingressam no Brasil, aliada

aos patrulhamentos fluviais e aéreos na região, inibe grande parte da criminalidade que antes não

encontrava quaisquer obstáculos a sua nefasta atuação.

Operação Nitro:

Projeto desenvolvido pela Polícia Federal (PF) que busca identificar, destruir e monitorar pistas de pouso

clandestinas (PACs) na região amazônica. A partir de estimativas de autonomia de voo de aeronaves

que podem operar nas precárias PACs existentes em laboratórios de refino de cocaína, podemos traçar

uma área de incidência de PACs em território nacional utilizadas para reabastecimento desses voos clan-

destinos que transportam drogas até as regiões Centro-oeste e Sudeste. É importante destacar que o

conceito de pista clandestina para a Polícia Federal e diferente daquele adotada pelo Departamento de

Aviação Civil – DAC (hoje Agência Nacional de Aviação Civil – Anac), ou seja, para o projeto NITRO uma

PAC é aquela que não tem um responsável legal e que pode, portando, ser destruída imediatamente.

As PACs são identificadas por vários meios, inclusive sensoriamento remoto (projeto O.G.), e depois de

destruídas são regularmente monitoradas por patrulhamento aéreo. Desde o início do projeto foram

destruídas 53 PACs na região amazônica.

Page 213: Seminário de Segurança da Amazônia

211211

Operação Ribeirinho

Projeto desenvolvido pela PF que busca conhecer a população que ocupa a faixa de fronteira do Brasil e

apoiar a permanência destas pessoas na região. A OPERAÇÃO RIBEIRINHO procura, na medida do pos-

sível, conjugar a presença da Polícia Federal em regiões remotas do nosso território com ações sociais

como transporte de doentes, atendimento médico, etc.

Considerações finais

Em que pese que o interesse em aumentar os controles de nossas fronteiras faça parte de todos os

discursos quando o assunto tratado é a segurança pública, o que se vê, na realidade, é um investimen-

to pífio por parte do Estado brasileiro, tanto no que diz respeito ao desenvolvimento social da região

quanto nos investimentos em controles visando à diminuição da influência do crime organizado trans-

nacional.

Nas regiões Norte e Centro-Oeste, justamente nas proximidades de onde se concentram, v.g., os labo-

ratórios de refino de cocaína na Colômbia, no Peru e na Bolívia, deparamos com uma fronteira pratica-

mente deserta e sem a presença efetiva do Estado brasileiro. Não é por outro motivo que projetos como

a Operação Sentinela partem da premissa de que é necessário ocupar pontos estratégicos de nossas

fronteiras como primeiro passo para aumentar os controles na região.

Com base na experiência daqueles que se dedicam aos controles de nossas fronteiras há muitos anos,

separamos algumas sugestões que poderiam ajudar nesse esforço quase solitário da Polícia Federal no

controle de nossas fronteiras:

• a implementação urgente de projetos sociais que ajudem a fixar o homem nas regiões de fronteira,

bem como incentivos aos nacionais que resolvam fixar residência nessas áreas do País;

• incentivos aos servidores públicos que exerçam as suas atividades nas fronteiras, ainda que tem-

porariamente;

Page 214: Seminário de Segurança da Amazônia

212

• capacitação dos policiais que atuarão em ações de fronteiras;

• investimento em tecnologia e equipamentos que possam compensar a baixíssima taxa demográ-

fica na região de fronteiras;

• ampliação e aprimoramento dos tratados internacionais de cooperação internacional na repres-

são ao crime organizado transnacional;

• suporte legal compatível com as necessidades dos órgãos de segurança e capazes de fazer frente

às novas ameaças que se apresentam; e

• esforços no sentido de integrar ainda mais as ações da Polícia Federal com as Forças Armadas e

as Polícias Estaduais, principalmente na faixa de fronteira.

Page 215: Seminário de Segurança da Amazônia

213

PaineL 2O Desenvolvimento da Amazônia: projetos estratégicos de integração e de desenvolvimento sustentável na Amazônia

Page 216: Seminário de Segurança da Amazônia
Page 217: Seminário de Segurança da Amazônia

215

TErra lEGal amazônia – TErra Para vivEr, ProDuzir E PrEsErvarCarlos Mário Guedes de Guedes

O MDA assumiu a missão de enfrentar a questão fundiária na Amazônia Legal. Em um ano de trabalho,

as equipes do Terra Legal Amazônia entraram em campo e deram vida à Lei 11.952/2009.6 Até o fim de

julho, identificamos 8,5 milhões de hectares, ocupados por 74,9 mil famílias em áreas rurais. Mais de

90% são agricultores familiares (ocupam áreas de até 400 hectares).7 Nesse mesmo período, atuamos

em quase 100 núcleos urbanos: essas áreas foram doadas aos municípios e beneficiar mais de 800 mil

habitantes.

Percorrer 58 milhões de hectares e retirar da ilegalidade 300 mil famílias que ocupam terras federais

e estaduais não é tarefa simples. Significa identificar 16% da população rural e delimitar mais de 10%

do território da Amazônia brasileira. O dia a dia em campo, porém, aponta que é viável uma nova

abordagem sobre a Amazônia. Tal abordagem persegue um objetivo estratégico, para além de metas

de titulação de terras: garantir que esses imóveis cumpram a função social da propriedade, prevista

pela Constituição Brasileira, de forma articulada com a estratégia organizada pelo Plano Amazônia

Sustentável (PAS).

6 Ver lei que institui o programa terra Legal amazônia (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/

l11952.htm).

7 Ver lista de requerentes de regularização na página do terra Legal amazônia (http://www.mda.gov.br/terralegal).

Page 218: Seminário de Segurança da Amazônia

216

Pequenos e médios como protagonistas

A Lei nos autoriza a regularizar diretamente produtores familiares e médios, conforme o Estatuto da

Terra, que há anos aguardam a oportunidade de ter direitos reconhecidos. Titular essas ocupações

não significa suprimir direitos das populações tradicionais que habitam o território amazônico, como

ribeirinhos, quilombolas, extrativistas e populações indígenas. Para tanto, há um trabalho em campo

para delimitar “zonas de não-atuação” do programa, quando se verificar a presença de tais popula-

ções, cabendo aos órgãos responsáveis pelo reconhecimento de seus respectivos territórios realizarem

o trabalho.

Em campo, estamos aprendendo que pequenos e médios agricultores são parceiros de uma agenda

de desenvolvimento comum, nos diferentes territórios da Amazônia: compartilham carências, como

do próprio título da terra, de estradas e serviços públicos, independentemente do tamanho do imóvel.

Entregam sua produção (leite, cacau, açaí, pimenta) muitas vezes para os mesmos compradores. São

famílias que ocupam e exploram diretamente a terra e vivem as mesmas dificuldades e oportunidades.

Realidade bem diferente da exploração indireta e especulativa da terra pública, que também existe na

Amazônia, cuja posse se deu pela força e por meio de instrumentos e documentos forjados: a famosa

grilagem de terras. Entendemos que o impacto da articulação de pequenos e médios produtores no

desenvolvimento local reflete o que já fora analisado pelo mestre da Geografia Social Milton Santos.

Eles podem compor os chamados circuitos locais (“inferiores”, como relatava Santos) de renda e produ-

ção, contribuindo para o dinamismo dessas regiões em que estão inseridos, em uma perspectiva mais

justa e includente que os grandes enclaves exportadores (caracterizados por Santos como os “circuitos

superiores”).8

Nessa primeira etapa do programa, estamos percorrendo os 30 milhões de hectares que correspondem

a 50% das terras públicas federais, concentram 70% das ocupações e, por isso mesmo, possuem his-

tórico passivo ambiental. Paradoxo? Não, propósito. Vamos dar nome e CPF para milhões de hectares

e convocar os novos proprietários a colaborar e a tornarem-se responsáveis pelo controle do desma-

tamento. Iniciamos nossa atuação nos municípios da Operação Arco Verde, que apareciam com os

maiores índices de desmatamento na Amazônia, construindo uma agenda articulada de regularização

fundiária e gestão ambiental.

8 SANTOS, Milton. Economia espacial: críticas e alternativas. SP: Hucitec, 1979, p.170-171.

Page 219: Seminário de Segurança da Amazônia

217217

A Função Social da Propriedade com a Visão Amazônica

Para fazer vingar o objetivo estratégico do cumprimento da função social da propriedade, perseguimos

objetivos específicos em quatro dimensões. A dimensão fundiária é o primeiro passo para dar susten-

tação a esse plano. As equipes de georreferenciamento iniciaram a medição de 100 mil imóveis rurais.

Até 2011, teremos a base cartográfica exata de cerca de 30 milhões de hectares da Amazônia.

Queremos garantir estabilidade e segurança fundiária e, dessa maneira, encerrar conflitos que tem

origem no reconhecimento da posse da terra. A instalação da Rede de Inteligência Fundiária protege

a regularização fundiária de possíveis equívocos: Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), Ouvidoria

Agrária Nacional e Terra Legal analisam denúncias de todos os tipos, como tentativas de fracionamento

de imóveis e ocupação posterior ao prazo estabelecido em Lei como limite para a regularização.

Deve-se ressaltar que, com o foco em pequenos e médios, estamos atentos para que o programa não

contribuía para o aprofundamento da concentração fundiária. A regularização fundiária não redistribui

terras, mas reconhece a ocupação existente. Dessa forma, o Terra Legal se caracteriza como uma ação

complementar à política de reforma agrária, que tem avançado significativamente na solução de con-

flitos históricos e na distribuição de terras no Brasil.

A dimensão ambiental do programa está pautada no artigo 15 da Lei nº 11.952/2009, que define as

cláusulas ambientais a que está sujeito um novo proprietário de terra na Amazônia. Em resumo, se ele

desmatar irregularmente perde o título da terra. A tecnologia ajuda a verificar o cumprimento da legis-

lação ambiental. A cada três meses, o Sipam nos fornece um relatório de monitoramento via satélite

dos lotes titulados, utilizando a análise dos alertas de desmatamento levantados pelo INPE (DETER).

O primeiro já foi produzido na Gleba Curuá, no estado do Pará, local dos primeiros títulos entregues

pelo Terra Legal, em 2009. A conclusão aponta que, nos lotes titulados, o número de alertas de desma-

tamento foi quatro vezes menor do que no restante da Gleba.9

Criar alternativas ao desmatamento significa utilizar a terra de maneira racional, tanto a floresta como

as áreas “brancas”. Para isso, é fundamental articular políticas de fomento, acesso a crédito, assistên-

cia técnica e políticas de comercialização. Esta é a dimensão produtiva do Terra Legal. O economista

9 relatório de Monitoramento do Sipam de setembro de 2009.

Page 220: Seminário de Segurança da Amazônia

218

Ignacy Sachs destaca que a fronteira agrícola na Amazônia já está fechada e que não se deve tolerar

de maneira alguma a sua expansão. Ele defende a concentração das atividades econômicas nas áreas

antropizadas, como é o caso do Arco do Desmatamento. Sachs sugere que esta região se torne “uma

reserva de desenvolvimento socialmente includente e ambientalmente sustentável e, ao mesmo tempo,

valorizando no plano econômico, a floresta em pé pelo manejo racional e remuneração dos serviços

ambientais.”10

Nesse sentido, o Terra Legal aproximou órgãos federais, estaduais e municípios. Esta parceria pretende

ingressar os imóveis regularizados em uma “Rota Verde”, na qual a produção sustentável se torna viá-

vel economicamente por meio da integração de políticas de fomento e melhoria na qualidade de vida,

com acesso a energia, estradas e moradia. A viabilidade econômica é fundamental para a permanência

dessas famílias no imóvel e para que o título da terra não se torne uma mercadoria.

Na dimensão institucional, implementamos o controle social e a transparência. O programa tem uma

instância de gestão com participação dos governos estaduais, órgãos do governo federal e sociedade

civil. Além disso, foram implantados mecanismos de transparência, como a divulgação da lista dos

posseiros cadastrados e um canal de denúncias anônimas, via Portal Terra Legal, na rede mundial de

computadores (internet). O controle externo também é estimulado. O Ministério Público Federal acom-

panha e tem acesso integral à nossa base de dados. Dessa forma, exige e contribui com o rigor técnico

necessário para garantir que o título vá para quem tem direito.

Nossa missão é garantir a regularização fundiária na Amazônia Legal. Garanti-la a ocupante com tra-

jetória de luta e perseverança. Esses novos proprietários se somam ao esforço do governo para trans-

formar a Amazônia em um espaço de reconhecimento de direitos, em harmonia com a biodiversidade,

para definir a Amazônia como um lugar para viver, produzir e preservar.

10 Sachs, I. Texto para discussão - Amazônia – laboratório das biocivilizações do futuro, outubro de 2008.

Page 221: Seminário de Segurança da Amazônia

219

DEsafios Da aGriculTura brasilEira na rEGiÃo norTE

Derli Dossa11

Introdução

Nos últimos vinte anos, a agropecuária e a exploração de florestas plantadas têm sido um dos setores

econômicos mais robustos do país. Esses setores produtivos, sobretudo o primeiro, tem proporcionado

consistente suporte à estabilização da economia nacional, contribuindo significativamente com suces-

sivos saldos positivos da balança comercial – atingindo anualmente, em média, 50 bilhões de dólares

nos últimos cinco anos (Mapa, 2010). A produção do setor agropecuário e a sinergia multiplicadora

decorrente das diferentes cadeias produtivas são responsáveis por 27,0 milhões de empregos no país,

além de participar com 25,4% do PIB nacional em 2009 (Mapa, 2010). O setor tem atendido com su-

cesso à demanda nacional por alimentos, fibras e agroenergia exportando para mais de 180 países seus

excedentes (Mapa, 2009). Segundo os registros da Conab, na safra de grãos 2009/10 o país produziu

147,0 milhões de toneladas, atingindo o recorde de todos os tempos.

Os dados do estudo Projeções do Agronegócio 2009/10 a 2019/20 (Mapa, 2010) mostram que soja,

carne de frango, etanol, algodão, óleo de soja e celulose são os produtos que indicam maior potencial

de crescimento de produção e das exportações nos próximos dez anos. Nesta mesma linha foi publi-

cado o Relatório de perspectivas agrícolas publicado pela FAO em parceria com a OCDE, informa que

“o Brasil terá de longe o mais rápido crescimento da produção agrícola no mundo na década 2010-20,

com expansão superior a 40%, o dobro da média mundial, comparado ao período 2007/09” (FAO,

2010). As tendências relativas aos principais grãos, soja, milho, trigo, arroz e feijão, apontam para uma

produção superior as 233,0 milhões de toneladas em 2020, indicando um crescimento de 87 milhões

11 engenheiro agrônomo, doutor ciências econômica e chefe da assessoria de Gestão estratégica do Mapa.

Page 222: Seminário de Segurança da Amazônia

220

de toneladas. A produção de carne bovina, por sua vez, deverá observar um acréscimo de 26,76% em

relação à produção de 2009. Isso significa um aumento bruto de 2,09 milhões de toneladas, passando

de 7,83 milhões para 9,92 milhões de toneladas na safra 2019/20 (Mapa, 2010).

Ainda de acordo com as projeções do Mapa, o crescimento da produção agrícola brasileira dar-se-á,

sobretudo, em função do aumento da produtividade, devendo ser incorporados ao processo produ-

tivo os sistemas de produção de grãos, carnes, agroenergia, fibras, aproximadamente 10 milhões de

hectares à atual área em produção que está estimada em 47,0 milhões de hectares pela Conab e pelo

IBGE. O País se firmará nos próximos vinte anos, assim, como um dos principais celeiros do mundo e,

sem dúvida, o mais importante exportador de produtos da agricultura tropical. Contribuem igualmente

para essa avaliação otimista o aumento da demanda global e da renda per capita, além da urbaniza-

ção, reforçada pelo crescimento populacional que ainda ocorre em muitas regiões, não obstante uma

tendência demográfica declinante. O quadro favorável ao Brasil se explica pelo quase exclusivismo do

País no tocante à disponibilidade de terras para as atividades agropecuárias e florestais, associado às

condições climáticas apropriadas, abundância de água, avanço tecnológico no setor agrícola e um cres-

cente empreendedorismo dos produtores brasileiros que formam cadeias produtivas bem estruturadas.

A região amazônica responde por 8% do PIB nacional. Nela vivem 25,0 milhões de pessoas e repre-

sentam 13% do total da população brasileira. Entretanto, neste estudo, foram considerados os sete

estados da região Norte. Foi excluído o Estado de Mato Grosso. Na região Norte existem, segundo o

Censo do IBGE de 2006, 475 mil estabelecimentos registrados onde vivem os 3,63 milhões de pessoas

residentes em suas regiões rurais. Estes últimos perfazem 9,2% dos 5.175 milhões de estabelecimentos

apurados no Censo de 2006 (IBGE) por Alves (2010).

Sob tais estatísticas e, em particular, a imensa relevância da região para o restante da Nação do ponto

de vista de reservas florestais e da biodiversidade, várias questões se impõem como cruciais no futuro

do Brasil. Um das principais e preliminares que precisaria ser respondida é saber se os moradores desta

vasta região, que representa 42% do Brasil, estariam dispostos a ficar marginalizados do crescimento

econômico observado para o País como um todo como será demonstrado em tabelas mais a frente,

neste trabalho. Além disso, é igualmente relevante saber se existem alternativas reais de gerar níveis

de renda compatíveis com algumas propostas que, em seu olhar para a região, sugerem como alter-

nativa os sistemas extrativistas ou os serviços ambientais, neste caso, caracterizado como mercado de

carbono. Da mesma forma, caberia indagar a noção de muitos em reproduzir o padrão primitivo de

Page 223: Seminário de Segurança da Amazônia

221221

crescimento da região no século XXI. Por fim, questionar, também, a atual política pública em imple-

mentação pelo Ministério da agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), se possui uma estrutura

com condições de garantir ações necessárias e suficientes para apoiar o desenvolvimento da região

Norte. Esses são considerados alguns dos desafios analisados neste trabalho.

Desenvolvimento

Objetivos

O objetivo geral deste sucinto estudo é analisar alguns dos aspectos principais que enfrentam as ati-

vidades produtivas da agropecuária na região Norte. Também visa analisar os instrumentos de política

acionados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), avaliando se eles seriam

potencialmente apropriados para garantir a sustentabilidade técnica, econômica, social e ambiental

da região Norte nas próximas décadas. Por fim, procura-se analisar as condições dos estabelecimentos

levantados pelo Censo do IBGE em 2006, em relação ao potencial da renda média das propriedades e

sua sustentabilidade nos sistemas de produção em implementação.

Especificamente, pretende-se: i) analisar a renda dos estabelecimentos (Censo 2006 – IBGE) e sua rela-

ção com a fixação do homem na região; ii) refletir sobre as propostas preservacionistas em manter, ou

não, uma população rural à margem dos serviços de educação, saúde e de políticas de infraestrutura

social, além de dependente da ajuda governamental direta, que tem ou não, como u consequência, o

êxodo rural; iii) argumentar se há compatibilidade ou não entre a produção de alimentos e agroenergia

e a preservação ambiental; iv) demonstrar que o governo brasileiro já possui três novos programas na

região Norte para dar sustentabilidade à agricultura. O principal deles “Programa ABC”, o qual visa

diminuir a emissão de Gás Carbônico (CO2) na atmosfera, o segundo a implementação de 1,0 milhão

de hectares com produção de dendê, e por fim o programa do “Boi Guardião”, que visa reduzir o des-

matamento ilegal. O primeiro deles faz parte da proposta voluntária do governo brasileiro em COP -15

e com isso ajudar nos esforços para minimizar o aquecimento global pela mitigação dos gases de efeito

estufa. Este se transformou numa agenda positiva envolvendo ações interministeriais e associação com

instituições privadas e grande apoio da mídia brasileira.

Page 224: Seminário de Segurança da Amazônia

222

Metodologia

O trabalho se sustenta nos resultados de estudos do Censo agropecuário de 2006 (IBGE), da Embrapa,

e em artigos científicos recentes sobre o tema. É apropriado ressaltar, contudo, que o Mapa tem par-

cela significativa de responsabilidade no desenvolvimento da região Norte, mas suas ações requerem o

compartilhamento institucional com os Ministérios de Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Ministério

do Meio Ambiente (MMA). Entretanto, uma análise da possível ação sistêmica e compartilhada escapa

aos objetivos analíticos deste trabalho.

As bases teóricas da análise

A discussão que sustenta as reflexões deste artigo é baseada em um conjunto de arcabouços teóricos,

incluindo a chamada “Teoria do Comportamento Adaptativo dos Produtores” de Michel Petit,12 citado

por DOSSA (1997); na Teoria da Firma, especialmente a proposta por Ronald Coase,13 na Teoria de Ino-

vação Induzida, originalmente proposta por Hayami e Ruttan,14 e, por fim, considerar na nossa reflexão

o debate feito em algumas versões da Teoria da Dependência, difundidas por vários autores.15

12 o economista francês Michel Petit propôs, na década de 1970, um quadro teórico denominado Modelo do compor-

tamento adaptativo dos Produtores, assim como as abordagens sobre estratégias mais aplicadas no meio rural. o autor

utilizou como metodologia o estudo exploratório em fontes de informações secundárias e análise de conteúdo. Verifica-se,

a partir deste arcabouço analítico, que é possível estabelecer uma convergência entre as necessidades da agricultura familiar

e as estratégias empresariais, a partir das especificidades e da lógica própria de agir e pensar destes agentes (doSSa, 1997).

13 a teoria da firma foi um modelo criado pelo economista britânico ronald coase. Segundo essa teoria, as firmas trabalham

com o lado da oferta de mercado, ou seja, com os produtos que vão oferecer aos consumidores, como bens e serviços produ-

zidos. as firmas são de extrema importância para os mercados, pois reúnem o capital e o trabalho para realizar a produção,

e são as responsáveis por agregar valor às matérias-primas utilizadas nesse processo, com o uso de tecnologia e inovações.

14 Yujiro Hayami e Vernon Wesley ruttan propuseram um modelo que não privilegia as técnicas endógenas como a forma

crucial de desenvolvimento da agricultura. Para esses autores, a mudança técnica é qualquer mudança nos coeficientes de

produção resultante das atividades dirigidas para o desenvolvimento de novas técnicas incorporadas em projetos, materiais

ou organizações. defendem o modelo de inovações induzidas, que se fundamenta na programação da educação em inter-

ligação com investigação e extensão agrárias, cuja base é inovação.

15 “teoria da dependência” é expressão abrangente para diversas interpretações que analisam o relacionamento das eco-

nomias dos países chamados “periféricos” com as economias dos países chamados centrais ou hegemônicos. Segundo tais

análises, essas relações econômicas dependentes por parte dos países periféricos em relação às economias centrais criavam

teias de relações políticas e relações de interesse, as quais moldavam formas determinadas de desenvolvimento político e

social nos países dependentes ou periféricos.

Page 225: Seminário de Segurança da Amazônia

223223

Discussão

As primeiras análises e argumentos desta seção se fundamentam no estudo dos dados do Censo 2006

do IBGE feito por Alves (2010) na Embrapa e Homma (2010, Embrapa, CPATU, Belém). Fundado nes-

ses estudos, se propõe que o desenvolvimento da região amazônica resulta da tecnologia sustentável

de produção que tenha como meta a lucratividade, mas que não exclui a preservação ambiental.

No contexto de disponibilidade de ciência para a região Norte, de tecnologia apropriada, introduz as

linhas gerais de alguns programas recentes lançados pelos Ministérios, denominados Programa do

Dendê, Programa do Boi Guardião, Programa de “Agricultura de Baixa Emissão de Carbono” (Programa

ABC).

Analisando a literatura que mostra as ações de governo estadual na região, observam-se destaques nos

cinco estados da região Norte. Eles têm realizado esforços consideráveis para coibir a ocupação ilegal

das terras públicas. Buscam promover atividades procurando assegurar que as madeiras produzidas

tenham origem legal. Esbarram, no entanto, em inúmeras dificuldades, e exemplo disso é o licencia-

mento ambiental exigido para a regularização das áreas privadas da região. Mas, também, os governos

das sete unidades federativas buscam facilitar a legalização das terras, de forma que possam cumprir

as disposições legais para evitar que dezenas de milhares desses produtores fiquem na ilegalidade.

Não querem que parte da população estejam vinculados como criminosos ambientais. Por seu turno,

iniciativas governamentais, nos estados, buscam fortalecer as cadeias produtivas vinculadas ao extrati-

vismo vegetal, como, por exemplo, as cadeias produtivas de frutíferas16 que fazem partes dos sistemas

agroflorestais. Porém, como se sabe, essas ações não têm apresentado bons resultados em termos de

geração de renda e emprego nas zonas interioranas dos estados. Acabam, muitas propriedades, afe-

tando negativamente o objetivo de preservação da floresta.

Segundo relatório regional,

No setor agropecuário, o apoio público, também, tem contribuído para melhorar a

qualidade de vida no interior”. Destaca ainda que “os setores agropecuário e florestal,

bem como os instrumentos de política aplicados têm sido, em geral, apropriados para

a consecução dos objetivos propostos no contexto econômico, social e ambiental dos

estados.

16 açaí, cupuaçu, castanha-do-Pará, entre outras espécies amplamente cultivadas na região.

Page 226: Seminário de Segurança da Amazônia

224

Todavia, não é essa a visão que predomina na imprensa brasileira e entre algumas Organizações Não-

-Governamentais (ONGs).

Nessa discussão uma análise mais consistente sugere duas hipóteses. A primeira afirma que o setor pro-

dutivo recebe mais atenção do que a derrubada de florestas e as queimadas pelos setores governamen-

tais responsáveis pela produção de alimentos ou agroenergia nos estados. Isto se corrobora quando

analisamos os resultados de crescimento significativo da produção na região, seja de pecuária, seja de

grãos, de dendê, de cacau, entre outros. Esse fato sugere que as ações do Mapa, da Embrapa, da Co-

nab e do Ceplac têm obtido uma produção satisfatória na agricultura regional, mas sua participação na

produção de grãos nacional não ultrapassa a 2,6%. Outra hipótese sugere que a derrubada de árvores

e as queimadas estão, acentuadamente, associadas às ações ilegais. As ilegalidades no setor florestal

ou mesmo de pastagens mostram que o governo tem baixa capacidade operacional, o que torna difícil

controlar atores irregulares que agem na região. Os agentes públicos que trabalham no Ministério do

Meio Ambiente (MMA), e seu órgão operacional, o Ibama, e as Secretarias de Meio Ambiente nos

estados, que deveriam implementar a repressão, são insuficientes para efetivar um trabalho que tenha

eficácia, em uma região que corresponde à metade do País. Provavelmente faltam meios humanos e

materiais para isso. Não há dúvidas, contudo, de que a falta de regularização fundiária atua na facilita-

ção da ilegalidade. A polícia ambiental não localiza os infratores, até porque estão em terras públicas.

Conclui-se, portanto, que as dificuldades e a ilegalidade decorrem pela ação de governo: tanto da

falta de regularização fundiária quanto pelo insuficiente número de permissões para exploração legal

da floresta. Logo, a solução encontra-se em ações do governo que estão em desenvolvimento, mas

ainda embrionária. A tese que defendemos indica que a repressão pura e simples não tem alcance para

combater o vasto processo de queimadas e de desmatamentos ilegais na região Norte. Essa ilegalidade

traz insegurança jurídica e é uma ameaça para o desenvolvimento da região que acabou trazendo caos

para muitos de seus municípios. Logo, a saída de muitas famílias tem sido a migração rural-urbana.

A Tabela 1 demonstra a urbanização acelerada da região Norte e demais regiões do Brasil.

Page 227: Seminário de Segurança da Amazônia

225225

anos Norte % Nordeste % sudeste % Centro oeste % sul % Brasil %

1940 22,5 21,0 38,2 16,9 20,6 29,01

1950 29,1 27,2 49,6 26,2 29,0 37,59

1960 36,7 34,5 61,0 38,3 39,0 47,02

1970 44,9 42,6 71,3 52,0 50,0 56,67

1980 53,5 51,5 79,8 65,5 61,1 65,83

1990 62,6 60,4 86,8 77,8 72,0 74,69

2000 69,6 67,5 90,9 85,3 79,5 80,71

2007 74,4 72,5 93,3 89,5 84,1 84,59

Tabela 1 – Índice de urbanização das regiões e do Brasil: população urbana/população rural (em %)fonte: dados originais do ibGe.

Aqui estão associados o crescimento populacional e o êxodo rural. Segundo Alves (2010), migraram

771 mil pessoas, 18,8% do total da população da região Norte, durante o período 1991-2000, en-

quanto entre os anos de 2000 a 2007 foram 673 mil (17,2%). Logo, estima-se que entre 2000 e 2010

a população de migrantes da região, ceteris paribus, ficará perto de 960 mil migrantes. A região Norte,

da mesma proporção do Brasil, teve um contingente de migrantes triplicado no período 1940-2006.

Analisando o número de estabelecimentos registrados em 2006 e o valor da produção por cada região,

podemos destacar três pontos principais. Primeiramente, a renda bruta anual dos estabelecimentos

da região Norte, 9,2% do total brasileiro, apresenta o segundo lugar de pior desempenho da renda

regional da agricultura brasileira. Ela é, apenas, ligeiramente superior à renda bruta anual auferida pelos

estabelecimentos rurais da região Nordeste do País. No Nordeste, localizam-se 2,45 milhões de estabe-

lecimentos, ou seja, 47,4% do total do país. A renda no Norte é quatro vezes menor do que a renda

apurada na região Sudeste e 3,15 vezes menor que na região Sul (Tabela 2).

Page 228: Seminário de Segurança da Amazônia

226

regiões Nº Estabelecimentos % Estabel. r$/Estabel/ano

Norte 475.775 9,2 12.923,88

Nordeste 2.454.006 47,4 11.578,44

Centro-Oeste 317.478 6,1 62.495,55

Sudeste 922.049 17,8 52.009,71

Sul 1.006.181 19,5 41.210.64

Brasil 5.175.489 100,0 27.789,50

Tabela 2 – Número de estabelecimentos e valor da produção em 2006fonte: alves (2010)

Nacionalmente surgem números bastante preocupantes. A pesquisa de Alves (2010) discute a concen-

tração da produção, a partir dos dados de autoconsumo e a produção vendida por cada estabelecimen-

to no País, em 2006. Os dados mostraram que 424 mil estabelecimentos (8,2%) reportados pelo Censo

de 2006 foram responsáveis por 85% da produção declarada. Destes, apenas 22.188 estabelecimentos

produziram 51,34% do valor da produção anual em 2006. Os dados indicam tanto concentração de

renda quanto da produção e podem ser considerados com um problema agudo na estrutura de desen-

volvimento do Brasil, ou podem ser até uma ameaça de que ocorra uma migração intensiva nos próxi-

mos anos. Certamente a região Norte será uma das mais atingidas, como veremos a seguir. O grupo de

estabelecimentos com valor da produção mensal variando de zero até dois salários mínimos apresenta

360 mil propriedades, perfazendo 75,7% dos estabelecimentos do Norte. Esses produtores poderiam

se beneficiar do Pronaf, mas podem, também, estar associados aos programas assistencialistas, como

o Bolsa Família e a aposentadoria antecipada, sendo, no entanto “fortes candidatos a optarem pelo

endereço urbano, visto terem plena consciência do custo de oportunidade da opção de vida rural

vis-à-vis a urbana” (Alves, 2010).

Nos microdados do censo de 2006 também trabalhou o Prof. Mauro Lopes da FGV Rio. Ele analisa os

dados censitários de 2006 do ponto de vista de utilização do Pronaf. O estudo foi denominado “Quem

Produz o Que, Quanto e Onde na Agricultura Brasileira” (Lopes, 2010). Através de diferentes simulações

Lopes identificou quais seriam os estabelecimentos rurais enquadráveis no Pronaf e concluiu que a fun-

ção social da propriedade poderia estar sendo cumprida por cerca de 3,3 milhões de estabelecimentos.

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227227

Isto significa 64,4% do número total de estabelecimentos rurais do País. Eles estariam produzindo

22,9% do valor total da produção brasileira. Lopes destacou que desse conjunto há 325 mil assentados

da reforma agrária. Estes, conforme estimou produzem 1,4% do valor da produção do Brasil. Para o

autor, “o grupo do Nordeste – e para outros grupos de estabelecimentos em outras regiões do país – é

difícil a agricultura ser uma solução para a renda e bem estar”. Chama atenção o fato de que Lopes

relaciona os estabelecimentos não cobertos pelo Pronaf. Estes desempenham papel muito importante,

sendo responsáveis por significativos percentuais do valor da produção do Brasil. Na dimensão pro-

dutos exportados, a soja aparece com 91,3%; o milho com 68,2%; a cana-de-açúcar com 95,4%; o

algodão com 99,5%; o café com 77,5%; a laranja com 92,1%; os bovinos com 61,3%; as aves com

73,4%; e os suínos com 90%. Na dimensão dos produtos da cesta básica, destacam-se: o feijão preto

com 44%; o feijão de cores com 63,4%; o arroz com 75%; a mandioca com 50%; a horticultura com

62%; e a fruticultura 84,4%. Na alimentação animal, além da soja e milho, esse grupo de produtores

participa com 92,7% no total da produção. Na dimensão da substituição das importações de trigo, por

exemplo, esse conjunto de produtores participa com 87,7%. No total dos dados analisados, o segmen-

to de estabelecimentos não enquadráveis no Pronaf responde por 79,2% do valor total da produção

de todos os grãos. Pelos percentuais de participação citados, esse conjunto de produtores cumpriria

plenamente a “função econômica” da propriedade (Lopes, 2010).

Em outro trabalho de boa envergadura analítica foi realizado por Afredo Homma (2010), Embrapa

Oriental (CPATU), em Belém. O pesquisador em um curto, porém denso, artigo publicado na Revista de

Política Agrícola (2010), destaca que há três formas de conduzir ações na Amazônia. A primeira seria a

opção pela manutenção da floresta original. A segunda alternativa seria a exploração das áreas já des-

matadas e, por fim, a produção de atividades produtivas sustentáveis envolvendo sistemas agroflores-

tais, áreas empobrecidas com restos de florestas de baixo valor econômico. Os números que apresenta

são interessantes para quem analisa as possibilidades de desenvolvimento daquela região. Homma

destaca que no Estado do Amazonas, por exemplo, o PIB da agricultura é 5%; no Amapá, 3,7%; em

Roraima, 7,7%; no Pará é de 9,2%; no Acre, 16,8%; em Tocantins atinge a 18,5% e, em Rondônia,

alcança o máximo regional de 19,4%. Acrescenta ainda que no Estado do Mato Grosso o PIB agrícola

é de 24,9%, enquanto no Maranhão é de 16,6%, mas estes dois últimos não estão incluídos na dis-

cussão deste trabalho. Estes dados não permitem fazer análises consistentes pela falta de informações

sobre o efeito multiplicador da agricultura em cada uma das cadeias produtivas, o que permitiria co-

nhecer o efeito real da agropecuária na região Norte. Mesmo assim observamos que o Prof. Homma

salienta que a região tem mais de 75% da população vivendo em áreas urbanas. A população rural,

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228

como já demonstrado na Tabela 1, vem decrescendo, o que fortalece a hipótese de que a atração da

renda urbana é fator importante na migração rural-urbana do Norte do País. A saída, segundo o Prof.

Homma, “é aumentar a produtividade tanto da terra como da mão-de-obra. Neste caso, segundo ele,

esta hipótese não se correlaciona positivamente com o extrativismo”. Note-se que o autor, com larga

e quase inigualável experiência de pesquisa na região Norte, tem consciência da realidade dos ganhos

dos produtores “extrativistas”. Mas, sem ser radical, ele destaca que no extrativismo há “viabilidade”

econômica enquanto o mercado for pequeno. O ciclo, segundo Homma, é conhecido no mundo: a

expansão inicial segue pela estabilização e por fim vem o declínio”. Essa sequência sugere a adequa-

ção de promover ações em nichos de mercados na maioria em grandes centros urbanos, onde seriam

encontradas condições financeiras mais favoráveis para aceitar os preços mais altos desses produtos.

A noção de sistemas agroflorestais, segundo o mesmo autor, que deve embasar a ocupação de áreas

degradadas depende, da mesma maneira, das alternativas das plantas componentes que vão formar

os sistemas.

Essas questões indicam que no Norte ter-se-ia que implementar arranjos compostos, por exemplo, ca-

cau com seringueira e ou cupuaçu ou, ainda, açaí; pecuária com seringueira e grãos etc. Em trabalhos

de pesquisa na região Norte, Estado do Pará, este autor, Derli Dossa, teve dificuldades de encontrar

uma propriedade que tivesse esses dados acompanhados e pudesse realmente ter uma renda competi-

tiva contra alternativas de produção de forma intensificadas e solteiras com no trabalho de DOSSA et al

(2000), na região Sul. Contudo, tais observações não desqualificam essas possibilidades. Por exemplo: o

Programa ABC, já citado, segue esse enfoque e será mais bem detalhado ainda neste trabalho.

O Professor e Pesquisador Homma critica o modelo de políticas ambientais que vem bloqueando as ati-

vidades produtivas e, como uconsequência, inviabilizando o desenvolvimento da região Norte. Note-se

que, como ele cita, na Amazônia se encontram 35% dos bovinos brasileiros, 70% dos bubalinos, 83%

da produção de dendê, 85% da pimenta do reino, 30% do arroz, 36% da mandioca e 33% da soja,

entre outras. Esclareça-se, por oportuno, que sob tais proporções neste caso está inclusa a produção

de grãos de Mato Grosso, que é o principal estado produtor de grãos do País. Por fim, Homma (2010),

também destaca a importância de que a região Norte possa ter mais cientistas buscando produzir co-

nhecimentos que assegurem maior sustentabilidade por meio de conhecimento tecnológico e científico

e, neste caso, ele não descarta a possibilidade de arranjos produtivos com sistemas multifacetados.

Dessa discussão pode-se concluir que a sustentabilidade da região Norte está na dependência do de-

senvolvimento de atividades agrícolas sustentáveis nas áreas já desmatadas, muito mais do que a coleta

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229229

extrativista e a venda de serviços ambientais. Questiona-se, contudo, a tese que a região Norte, para

seu desenvolvimento, depende de tecnologia agropecuária sustentável para expandir o seu crescimen-

to, e não somente na proposta de preservação ambiental a qualquer custo, inclusive com propostas

de transformar a região num “zoológico improdutivo” a serviço de atividades turísticas largamente

incipientes, conforme analisado por muitos autores, alguns citados a seguir.

Em esclarecedor artigo publicado na revista Pesquisa, da Fapesp, Fioravante (2010) destacou uma

entrevista realizada com os pesquisadores José A. de Costa Machado (UFAM/IPAM), Francisco de Assis

Costa (NEA/UFAM) e a Prof. Bertha Becker (UFRJ). Estes foram incitados pelo Ministro da Secretaria de

Assuntos Estratégicos da Presidência da República a comentar o livro Amazônia no Século XXI. No

artigo, Becker considera duas situações distintas na região amazônica: a primeira, com a Amazônia

sem mata, ou fortemente afetada pelo desmatamento, e a segunda, com a Amazônia mantendo pra-

ticamente intacto a maior parte do seu maciço florestal, também incluindo o aspecto social, ou seja,

considerando que a região possui milhões de pessoas que têm legítimos interesses e direitos em rela-

ção ao desenvolvimento social e econômico daquela região. O primeiro desafio, portanto, é encontrar

uma resposta para sistemas produtivos de produção que utilizem os recursos naturais sem promover

a depredação ambiental, contrapondo-se aos ambientalistas que consideram a região um “santuário

inviolável”, expressão usada por Costa na mesma entrevista. O primeiro tema do livro destaca a impor-

tância do pagamento dos serviços ambientais, sob o qual a floresta preservada é vista como uma fonte

de riquezas. Neste enfoque, Becker destaca o capital natural da Amazônia como um componente de

imenso poder potencial, já que a Amazônia forma o maior estoque de serviços, sem equivalente no res-

tante do planeta. Segunda ela, “a defesa do coração da floresta decorrerá de sua utilização inovadora

e não de seu isolamento produtivo” (apud Fioravante, 2010).

Os três autores destacados consideram a necessidade de ir além da conservação da floresta intacta,

tout court, gerando estoques de crédito de carbono que compensariam a poluição de outros países.

Mais adiante, destacaremos nesse enfoque o programa de governo de redução dos gases de efeito

estufa pela mitigação via atividades agropecuárias. Este recebeu o nome de Programa ABC. Os autores

citados, de toda forma, enfatizam que a região deve ultrapassar, sem descartar, a produção de pecuária

e a extração de madeira. Contudo, sugerem o uso de sistemas agroflorestais, os quais, como sugerido

anteriormente, encontram muitos obstáculos para se transformarem em commodites e alcançarem

preços competitivos em nichos de mercado. Acreditam também na via extrativista, avaliada com ce-

ticismo por um experiente pesquisador como Homma, antes citado, o mesmo que os pesquisadores

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230

DOSSA e MONTOYA (2002), em trabalhos de pesquisa, encontraram no Sul. Contudo, aqueles autores

apresentam como alternativa de exploração sustentável os alimentos, os cosméticos e os fitoterápicos.

No campo dos cosméticos, o apelo vem da possibilidade de produção industrial de perfumes, sabone-

tes, xampus e hidratantes. Segundo os autores, os cosméticos não sofrem a restrição dos processos de

legislação que regulam o acesso à biodiversidade. Tal posicionamento parece não ter correspondência

com a realidade jurídica do País. O Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (MMA), por determi-

nação do Ministério Público Federal, está tendo pressões para regulamentar a legislação de acesso.

Atualmente, existem em torno de 90 projetos pendentes de regularização.

Empresas como a Natura e a Embrapa, que se anteciparam em usar recursos da biodiversidade em suas

pesquisas, são sujeitas a multas por pedirem a regularização dos projetos de pesquisa já em andamen-

to, podendo ser penalizadas sob a acusação de biopirataria. Lamenta-se, com muita evidência, se uma

situação como esta for efetivada. Há várias empresas que se instalaram para extração de óleos vegetais

de copaíba, o murumuru, o próprio buriti e ou a andiroba, que são comercializados como hidratantes

e protetores solares. Estas empresas, por sua vez, encontram problemas de comercialização de sua

produção, enquanto isso os produtores reclamam da falta de seus pagamentos.

Os questionamentos têm reciprocidade. As empresas, por seu lado, apontam a falta de qualidade dos

óleos ofertados, assim como a ausência de parâmetros sanitários regulatórios por falta de padrões que

deveriam ser fixados. Por outro lado, as associações organizadas para a exploração dessa produção

reclamam da falta de políticas públicas que proporcionem crédito, conhecimento, tecnologia e contro-

le de qualidade. A capacitação dos produtores é, sem dúvida, outro gargalo para concretizarem essa

expansão. Na prática, o que se pede é a organização das cadeias produtivas desses produtos nos mes-

mos moldes que funcionam as cadeias produtivas bem-sucedidas. Entre muitas podem ser destacadas:

cadeia avícola, a cadeia de pecuária de corte e leite, a cadeia da soja em diferentes regiões brasileiras.

Em síntese, observou-se no artigo de Fioravante (2010) que há indicação de ciência e tecnologia para as

culturas de guaraná, de dendê, de açaí, da pupunha e do cupuaçu que são produtos de consumo am-

plo e com preços valorizados. Mas faltam ações que mostrem sua sustentabilidade concreta, segundo

ele, “pé no chão”, na Amazônia. Para Costa, referido no artigo, isto somente será possível se três forças

atuarem conjuntamente: a) organização das comunidades extrativistas em associações ou cooperati-

vas; b) empresários (de todos os portes) instalados próximos aos grandes centros; e c) a comunidade

científica contribuir mais eficazmente para articular o conhecimento, a produção e a industrialização.

Não há qualquer dúvida de que os pontos mencionados anterioremnte são problemas para o desen-

volvimento da região Norte.

Page 233: Seminário de Segurança da Amazônia

231231

Outra discussão relevante é o questionamento feito amiúde por aqueles que não conhecem os núme-

ros da agricultura brasileira, sugerindo a hipótese de uma competição entre alternativas que ocupam

a mesma área. Neste caso a produção de alimentos estaria sendo pressionada pela produção de ati-

vidades que viabilizam a matriz energética brasileira. Esta questão põe em confronto dois modelos e

grupos seus interesses. A FAO, por exemplo, estaria fortalecendo a necessidade de se ampliar às áreas

de produção de alimentos enquanto a ÚNICA apoiaria a luta para ampliar as áreas de produção de

agroenergia. Os ambientalistas, por seu lado, estariam na defesa de reduzir a produção tanto de uma

como de outra corrente ressaltada. Logo a ação correta na opinião deles é de reduzir a produção de

alimentos e de agroenergia que competiria com a qualidade do meio ambiente. No caso brasileiro, é

possível, com muita facilidade, refutar essas hipóteses destacadas. É possível produzir tanto alimentos

quanto agroenergia sem que haja redução de áreas de qualquer uma delas ou prejuízos significativos

ao ambiente. Até porque o Brasil, para crescer a área agrícola ou silvo-pastoril, utilizar-se-ia, anualmen-

te, ampliação de áreas pouco superior a um milhão de hectares. Essas áreas poderiam ter origem na

região Norte, que possui milhões de hectares de áreas degradadas e seriam utilizadas diferentes alter-

nativas de produção. Assim, nos próximos dez anos serão necessários no máximo de 10 a 12 milhões

de hectares para implementar a produção nacional de alimentos. Ressalto, novamente, que a produção

brasileira, pelo que foi apontado na introdução deste texto, cresce sobre ganhos de produtividade aci-

ma de 4,5% ao ano. Enquanto isso a incorporação de novas áreas ao processo produtivo fica em torno

de 1,7% ao ano. Logo, parcela desse crescimento de produção previsto pelo Mapa, 2010-2020, não

demanda desmatamento para sua implementação, principalmente na região Norte. O Programa ABC,

por exemplo, prevê a recuperação de 15 milhões de áreas de pastagens degradadas nesse período.

Logo, é suficiente a agregação dessas áreas para que se evite a necessidade de novas derrubadas de

matas para garantir o crescimento almejado. Este aumento, evidentemente, não será feito somente

sobre áreas degradadas. Mas, com certeza, não será feito num só espaço regional.

O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento-Mapa e ações de apoio no desenvolvimento na região Norte

O Mapa, em sua estrutura, conta com instrumentos de ação de curto e longo prazo para formulação da

Política Agrícola no País. No curto prazo, encontram-se o “Plano Agrícola e Pecuário”, que tem como

objetivo viabilizar e orientar recursos para o Sistema Nacional de Crédito Rural, sobretudo no tocante às

Page 234: Seminário de Segurança da Amazônia

232

taxas controladas de investimento, custeio e comercialização que dão suporte à política de produção,

preços mínimos e de seguro rural. Ou, ainda, estimular novos programas, como o de Agricultura de

Baixa Emissão de Carbono, lançado na safra de 2010/11 e composto de cinco subprogramas. Exemplos

da ação do Mapa em andamento no bioma amazônico são: (i) o fomento das atividades sustentáveis,

em parceria com as Secretarias Estaduais de Agricultura, tais como “desmatamento zero” e a recupe-

ração de áreas degradadas; (ii) implementar o sistema integrado de produção nas cadeias da pecuária;

(iii) implementar os instrumentos de financiamento já destacados, que visam promover a produção, a

conservação ambiental e a recuperação de florestas. Ressalte-se que as ações de médio e longo prazo

envolvem as empresas vinculadas ao Mapa. Na área de pesquisa, há a Embrapa, com sete Centros Na-

cionais na região Norte, e a CEPLAC, que atua tanto na área de pesquisa quanto de assistência técnica

e no abastecimento, com armazenagem e compra de produção à Companhia Nacional de Abasteci-

mento (CONAB). Mas, também, o Instituto Nacional de Metereologia (INMET) está vinculado às infor-

mações de clima, e é instrumento de apoio aos produtores sobre o acompanhamento das questões

climáticas. No âmbito interno do Mapa existem cinco Secretarias Nacionais. A maior delas é a Secretaria

de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (SDA). Essa Secretaria tem uma ação mais ampla na região Norte,

atuando tanto no controle da movimentação animal, que se efetua entre propriedades ou mesmo das

propriedades para os frigoríficos, na vacinação contra doenças, principalmente aftosa e brucelose.

A SDA também atua no controle de fronteiras, portos e aeroportos para evitar a entrada de novas

pragas, doenças ou insumos clandestinos, ou não autorizados no Brasil, com maior destaque para

sementes, mudas, fertilizantes, agrotóxicos.

Para melhor caracterizar ações do Mapa e suas empresas vinculadas, citam-se dois programas recentes

lançados pelo Ministério em parcerias. O primeiro foi denominado “Boi guardião”, no Pará. O segundo

denominado de “Programa ABC”, é para todo o Brasil com maior ênfase para região Norte. O primei-

ro é resultado de ações governamentais provocadas pela legislação de crimes ambientais, por meio

do IBAMA ou diretamente pelas Secretarias Estaduais de Meio Ambiente, além do Ministério Público

Federal (MPF), de alguns frigoríficos e da Associação Brasileira dos Supermercados (ABRAS). O Mapa,

associando a competência de sua Secretaria de Defesa Animal, mas também contando com a partici-

pação da Secretaria de Agricultura do Pará por meio da Agencia de Defesa Sanitária do Pará (ADPARA),

do INMET e da Federação Estadual da Agricultura (FAEPA) daquele estado implantou um projeto piloto

em seis municípios no Sul do daquele Estado. Nestes municípios encontra-se um rebanho em torno

de 4,0 milhões de cabeças bovinas e uma área geográfica correspondente a 2/3 de um Estado como

o Paraná. O programa utiliza imagens de satélite que acompanham as propriedades pecuárias. Estas

Page 235: Seminário de Segurança da Amazônia

233233

foram georreferenciadas em um ponto da propriedade, totalizando quase 16 mil estabelecimentos, nos

seis municípios. Se for constatado pelos técnicos do INMET, através de imagens de satélite, que a pro-

priedade efetuou desmatamento a partir de julho de 2009, haverá um trâmite burocrático, após aquela

constatação de desmatamento, envolvendo INMET, ADPARA, Secretaria Estadual de Meio Ambiente e

o frigorífico destinatário do produto. Isto leva o Frigorífico a não comprar os animais da propriedade

ilegal, pois esta não recebe guia de trânsito. Com esse procedimento, inibe-se a comercialização de ani-

mais provenientes de áreas desmatadas, e também se reduz a possibilidade de que o corte de árvores

seja proveniente de estabelecimento pecuário.

O segundo programa, denominado “Programa ABC”, tem como justificativa para a sua implantação

a necessidade de combater o aquecimento global e a necessidade de redução da emissão dos gases

causadores de efeito estufa (GEEs). Ele está sendo implementado com abrangência nacional, mas com

prioridade para a Amazônia. Isto se justifica pela rápida expansão do setor agropecuário naquela re-

gião, que é acusado como o principal responsável pelos GEEs, por meio da mudança no uso da terra,

os desmatamentos, as queimadas e do processo digestivo da pecuária de corte. Este fato tem colocado

a agricultura brasileira como uma das responsáveis pela emissão de gás carbônico (CO2), gás metano

(CH4) e óxido nitroso (N

2O), tanto na produção de alimentos, por meio do manejo das áreas agricultá-

veis, nas pastagens degradadas, em áreas desmatadas e pelos próprios animais. Estima-se que o setor

rural brasileiro associado ao desmatamento emita 1,7 bilhões de toneladas de carbono equivalente ao

ano, considerando o desmatamento e o uso da terra. A pecuária seria responsável por 480 milhões

de toneladas CO2 Eq. Segundo alguns analistas, a região Norte, com um rebanho de 39 milhões de

cabeças, se transforma, graças ao desmatamento e às queimadas e, além disso, pelo efeito da pecuária

bovina na região, numa vasta extensão responsável pelos GEEs. Para evitar que no futuro esse fator se

transforme em mais uma barreira comercial para a produção agropecuária, o Brasil decidiu, volunta-

riamente, na COP-15 estabelecer metas de mitigação, adaptação, redução de queimadas e combater

o corte ilegal de florestas. No setor agropecuário, tanto o MAPA como MDA desenvolveram o “Plano

Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas Visando à Consolidação de uma Econo-

mia de Baixo Carbono na Agricultura”. Esse Plano começa a vigorar em 2010 e se estenderá até 2020.

Entre os cinco eixos do Programa Nacional de mudanças climáticas o relativo ao setor agropecuário

é composto por quatro programas obrigatórios que foram acordados na COP-15, e um programa vo-

luntário que o Mapa e o MDA julgaram necessário agregar aos demais, que é a produção de plantio

de florestas. Este plano terá abrangência em todo o território nacional, devendo os estados aderirem

Page 236: Seminário de Segurança da Amazônia

234

formalmente às suas diretrizes gerais. Ele foi abreviado na sigla “Programa ABC”. A proposta para o

período 2010-2020 é constituída pelas seguintes ações em todo o território nacional.

1. Recuperar uma área de 15 milhões de hectares de pastos degradados com manejo adequado e

adubação, assim poupando a emissão de 104 milhões de toneladas de CO2.

2. Adotar o sistema lavoura-pecuária-floresta em 4,0 milhões de hectares, evitando a emissão 20

milhões de toneladas equivalente de CO2.

3. Ampliar a utilização do sistema de plantio direto na palha em 8,0 milhões de hectares, de 25,0

para 33,0 milhões de hectares, o que evitará a emissão de 20 milhões de toneladas equivalente

de CO2.

4. Estimular o incremento da fixação biológica na produção de soja em grãos de 11,0 para 16,5

milhões de hectares, recuperando 10 milhões de toneladas equivalente de CO2.

5. Promover ações de reflorestamento no País de 6,0 para 9,0 milhões de hectares na produção

de fibras, madeira e celulose, reduzindo as emissões, neste caso, em 2,0 milhões de toneladas

equivalente de CO2.

Esse desafio não descarta estudos práticos e de pesquisa de adaptação de plantas na região Norte, que

devem estar atrelados aos cenários de aquecimento com sustentabilidade na produção de alimentos

nesses próximos anos. Pode-se sintetizar a proposta setorial do Ministério para a região Norte como

aquela que envolve uma ação conjunta entre o governo federal, os estados e instituições privadas em

várias frentes na região. As metas seriam:

a. reduzir emissões de gases de efeitos estufa em relação às suas diferentes fontes;

b. incentivar os reflorestamentos e à recomposição da cobertura vegetal em áreas de pastagens

degradadas;

c. recuperar 10 milhões de hectares de pastos degradados em dez anos com manejo adequado e

adubação nos nove estados da Amazônia Legal.

d. adoção do sistema lavoura-pecuária-floresta em 2 milhões de hectares.

e. ampliação do uso do sistema de plantio direto na palha em 2 milhões de hectares.

f. incremento do plantio de florestas econômicas em 1 milhão de hectares.

Page 237: Seminário de Segurança da Amazônia

235235

Conclusões

Após essas análises sobre as possibilidades e restrições, consideradas as possibilidades de manutenção

do desenvolvimento da região Norte, destacam-se nas conclusões cinco aspectos que são os principais

e mais urgentes para direcionar a produção da região Norte com sustentabilidade exigida pela socieda-

de. Conclui-se, pois, e sugere-se:

• Regularização fundiária. Destina-se a garantir a segurança jurídica, tanto para os produtores

quanto para o Governo, em suas ações contra queimadas e desmatamento. Este problema e

sua solução associam-se à expansão desordenada da fronteira agropecuária, por um lado, e às

dificuldades para a exploração legal da floresta, por outro.

• Agropecuária sustentável. O texto analisado neste trabalho indica que o fortalecimento da agro-

pecuária sustentável passa pela pecuária de corte e leite, produção de dendê, de cacau, de grãos

como soja, arroz, feijão, milho, feijão caupi, mandioca, guaraná e frutíferas entre outros. Mas o

uso de técnicas eficientes é condição necessária. Essas práticas devem estar associadas à implan-

tação de algumas alternativas de sistemas agroflorestais, desde que consideradas restrições de

mercado. No caso de pequenos produtores que não possuem recursos financeiros e de gestão

para se viabilizarem sugerem-se políticas assistencialistas, tais como Bolsa Família, aposentadorias

antecipadas, programas de saúde e de educação, entre outras políticas públicas. Essas ações

representariam a melhor combinação que poderiam ajudar tanto no provimento da oferta de

alimentos quanto na redução do êxodo rural que se mantém consistente na região Norte.

• O trabalho indica que produtos que ocupam nichos de mercados, como certas frutíferas ou pro-

dutos extrativistas, não devem ter muita abrangência. Neste caso, propostas específicas para

grupos culturalmente vinculados e acessíveis devem ter prioridade que programas de grande

abrangência.

• Por fim, toda ação que visa reduzir a possibilidade de crescimento na região priorizando alterna-

tivas com fundo ideológico de preservação ambiental tem baixo poder de gerar desenvolvimento

e alto poder de impulsionar o êxodo rural.

Page 238: Seminário de Segurança da Amazônia

236

Referências

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Revista de Política Agrícola. Ano XIX – Nº 1, Jan/mar. 2010. MAPA.

Page 239: Seminário de Segurança da Amazônia

237

. ProjETos DE DEsEnvolvimEnTo susTEnTávEl na amazônia, com foco

nos camPos Econômico E socialAdagenor Lobato Ribeiro17

Introdução

O artigo trata da questão do desenvolvimento e a segurança da Amazônia. Enfatiza-se, nesse contexto,

a atuação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) nos campos econômico e

social. Assim, discute-se o papel da SUDAM no desenvolvimento regional caracterizando a sua função

de articuladora da ação governamental na região nos setores público e privado. A SUDAM tem a mis-

são institucional de elaborar, executar e monitorar o Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia

(PRDA), que se constitui no grande instrumento norteador das políticas públicas para a Amazônia.

Deve-se considerar que a finalidade da SUDAM, definida na Lei Complementar 124, de sua criação, é

estabelecida como:“promover o desenvolvimento includente e sustentável de sua área de atuação e a

integração competitiva da base produtiva regional na economia nacional e internacional”

Portanto, isso significa a necessidade de na prática a SUDAM orientar-se por esse paradigma de de-

senvolvimento para a realização das ações na região sob sua égide. Dessa forma, no presente texto

discutem-se projetos de desenvolvimento na área pública, destacando o programa de Ciência e Tec-

nologia, que atualmente tem o maior volume de recursos, e na área privada projetos que receberam

financiamento do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA).

17 doutor em ciências: desenvolvimento Socioambiental, Mestre em ciências: computação, Professor da universidade

federal do Pará.

Page 240: Seminário de Segurança da Amazônia

238

A importância de compreender a indissociabilidade do binômio representado pelo desenvolvimento

da Amazônia e a segurança, pauta-se no fato de que modernamente o conceito de segurança é uma

das mais importantes categorias do desenvolvimento. Isso porque segurança associa-se a: defesa civil,

alimentos, meio ambiente, economia, questão fundiária, informação, fronteiras, sociedade e dentro

desse espectro categórico direta ou indiretamente atuam os agentes ou institutos de desenvolvimento

regional como a SUDAM.

A atuação da SUDAM potencializa a matriz produtiva dos setores econômicos da Amazônia Legal. Para

tal, considera os fatores de produção, a geração de renda, a demanda do mercado e a oferta de bens

e serviços. A área de abrangência da Amazônia Legal corresponde em sua totalidade os Estados do

Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e, parcialmente, o Estado

do Maranhão (a oeste do meridiano de 44º W Gr.), e perfazendo uma superfície de aproximadamente

5.217.423 Km² correspondendo a aproximadamente 61% do território brasileiro.

A atual Constituição Federal da República Federativa do Brasil destaca em alguns de seus artigos a

necessidade de uma instituição como a SUDAM, bem como de seu papel no desenvolvimento regional

da Amazônia:

• a Amazônia tem direito à redução das desigualdades regionais e sociais, à erradicação da pobreza

e da marginalização (Art. 3º III e 170, VII da Constituição);

• a Amazônia tem direito a uma ação articulada do governo federal, expressa em um plano de

desenvolvimento regional que promova a sua inserção na economia brasileira e internacional em

condições vantajosas para seus habitantes (Art. 21, IX e 48, IV da Constituição);

• Amazônia tem direito a organismos regionais fortes e eficientes, que executem os Planos Regio-

nais de Desenvolvimento (Art.43 da Constituição);

• a Amazônia tem direito a incentivos sob a forma de isenções, reduções ou diferimento temporário

de tributos federais devidos e de outros incentivos, que reduzam as suas desvantagens econômi-

cas e ajudem a promover o seu desenvolvimento (Art. 43, § 2º, III e 151 da Constituição;

• a Amazônia tem direito ao financiamento diferenciado de suas atividades produtivas prioritárias,

com recursos estáveis e de fluxo permanente (Art.43 § 2º, II e Art. 159, I, C da Constituição); e

Page 241: Seminário de Segurança da Amazônia

239239

• a Amazônia tem direito à participação regionalizada na promoção e incentivo à pesquisa tecnoló-

gica voltada para o desenvolvimento do seu sistema produtivo bem como na produção cultural,

artística e jornalística (Art.218 § e 221, III da Constituição).

Para a SUDAM perfazer seu verdadeiro papel como órgão de importância estratégica na estrutura do

Governo Federal, responsável pela articulação das ações de governos na região, atua como indutora no

processo de desenvolvimento da Amazônia visando à Redução das Desigualdades Regionais previstas

na Constituição Federal.

Programas de Desenvolvimento Administrados pela SUDAM

Programas de desenvolvimento atualmente geridos pela SUDAM são convergentes com as diretrizes

estabelecidas pelo Ministério da Integração Nacional, contemplando os Programas do Plano Plurianual

de Ações da União (PPA).

As linhas gerais dos programas de desenvolvimento estão definidas no Plano Operativo de Anual/2010

da SUDAM, que contém programas e ações orçamentárias e não-orçamentárias. O Plano Operativo

Anual será um dos instrumentos de execução do Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia

(PRDA) ora em construção.

O leque de programas de desenvolvimento geridos pela SUDAM tem como público-alvo os Estados

pertencentes à Amazônia Legal. Esses programas são direcionados aos setores público e privado.

Programas de Desenvolvimento da Orientados ao Setor Público

No setor público as atividades finalísticas apoiadas a partir dos recursos do Orçamento Geral da União

(OGU) administrados pela SUDAM incluem os programas a seguir.

Page 242: Seminário de Segurança da Amazônia

240

Programa Finalidade Público alvo Orçamento

Zoneamento ecológico e

econômico

Promover o zoneamento ecológico-

-econômico para planejar e organizar, de

forma sustentável, o processo de uso e

ocupação, subsidiando o planejamento

territorial do País.

Agentes de planejamento

e gestão ambiental (lo-

cais, regionais, nacionais)

e agentes econômicos

e sociais (segmentos

produtivos, agências de

controle e de fomento,

investidores, trabalha-

dores

R$ 300.000,00

Promoção da Sustenta-

bilidade de Espaços Sub-

-Regionais – PROMESO

Aumentar a autonomia e a sustentabili-

dade de espaços subrregionais, por meio

da organização social, do desenvolvi-

mento do seu potencial endógeno e do

fortalecimento da sua base produtiva, com

vistas à redução das desigualdades inter e

intrarregionais.

Gestores públicos,

lideranças sociais,

comunidades locais e

produtores, com ênfase

nos pequenos e médios

empreendedores.

R$ 1.100.000,00

Capacitação para o De-

senvolvimento Regional

Sustentável

Promover a qualificação e a requalificação

de pessoal com vistas à melhoria continu-

ada dos processos de trabalho, dos índices

de satisfação pelos serviços prestados à

sociedade e do crescimento profissional.

Prefeituras e Secretarias

Estaduais.

R$ 350.000, 00

Colaboração em eventos

de caráter técnico-cien-

tíficos de

abrangência regional e

nacional

Constituir um centro de custos administra-

tivos dos programas, agregando as despe-

sas que não são passíveis de apropriação

em ações finalísticas do próprio programa.

Assim o apoio inclui sistemas de informa-

ções gerenciais internos; estudos que têm

por objetivo elaborar, aprimorar ou dar

subsídios à formulação de políticas públi-

cas; promoção de eventos para discussão,

formulação e divulgação de políticas etc.;

e produção e edição de publicações para

divulgação e disseminação de informações

sobre políticas públicas.

Entidades de classe, insti-

tuições governamentais,

cooperativas.

R$ 400.000,00

Page 243: Seminário de Segurança da Amazônia

241241

Ciência, Tecnologia e

Inovação para a Política

Industrial, Tecnológica

e de Comércio Exterior

(PITCE)

Promover o desenvolvimento científico

e tecnológico e inovações voltadas à

melhoria da competitividade dos produtos

e processos das

empresas nacionais, à criação e consolida-

ção de nichos de mercado baseados em

novas tecnologias e à ampliação da inser-

ção da economia brasileira no mercado

internacional.

Secretarias Estaduais de

Ciência e Tecnologia,

Universidades, Institutos

de Pesquisa e Empresas

em geral localizadas na

Amazônia Legal.

R$ 8.571.428; 00

Prevenção e Preparação

para Desastres

Prevenir danos e prejuízos provocados

por desastres naturais e antropogênicos e

implantar projetos para previsão e minimi-

zação de desastres.

Instituições de Defesa

Civil, Estados, Municípios

e Organizações da Socie-

dade Civil.

R$ 350.000,00

Desenvolvimento Ma-

crorregional Sustentável

Promover a redução das desigualdades

regionais a partir das potencialidades

locais do Território Nacional; promover

o desenvolvimento e a integração dos

instrumentos de crédito e de financia-

mento público para o desenvolvimento

regional e fornecer instrumentos relevantes

para o planejamento e o desenvolvimento

sustentável.

População da área

de abrangência do

programa, entidades

representativas de classe

e os diferentes níveis de

governo e seus órgãos

representativos.

R$ 700.000,00

T O T a l r$ 11.871.428,00

Programas de Desenvolvimento da Orientados ao Setor Privado

Para o setor privado, a SUDAM executa os programas de que funcionam como atração para investi-

mentos no desenvolvimento da Amazônia. Neste cenário, alinham-se os programas de Promoção de

Investimentos – representados pelo Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA) o de Redução do

Imposto de Renda Pessoa Jurídica (RIRPJ) e o de Reinvestimento.

Page 244: Seminário de Segurança da Amazônia

242

Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA)O Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA) tem por finalidade assegurar recursos para a realiza-

ção de investimentos privados na Amazônia, impulsionando o desenvolvimento da Região. Os recursos

do Fundo poderão ser aplicados para Implantação, ampliação, modernização e diversificação de em-

preendimentos privados localizados na Amazônia Legal, de acordo com as diretrizes e prioridades apro-

vadas pelo Conselho Deliberativo da SUDAM (CONDEL), com observância das orientações estabelecidas

pela Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), pelas opções do Plano Amazônia Susten-

tável PAS e as focadas na proposta do Plano Regional de Desenvolvimento Amazônia (PRDA, em elabo-

ração). Presentemente, limitada a 60% do investimento total e a 80% do investimento fixo do projeto.

São considerados prioritários os setores da Infraestrutura; Setores Tradicionais; Setores com ênfase na

Inovação Tecnológica; e o de Serviços. Concedendo-se tratamento diferenciado e favorecido aos em-

preendimentos de infraestrutura e dos demais setores, quando localizados nas mesorregiões prioritárias

da PNDR; na faixa de fronteira; e nos municípios caracterizados como: de baixa renda; dinâmicos ou

estagnados, de acordo com a tipologia da PNDR. A dotação orçamentária do FDA para o ano de 2010

para financiar projetos ligados ao setor produtivo na Amazônia Legal totaliza R$ 1.032.598.739.

Redução do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (RIRPJ)A Redução do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (RIRPJ) é um incentivo à produção voltada às pessoas

jurídicas com projetos de implantação, diversificação, modernização total ou parcial, enquadrados em

setores da economia considerados prioritários ao desenvolvimento regional, de acordo com o Decreto

4.212/2002, alterado pelo Decreto 6.810/2009. O benefício consiste na redução de até 75% no impos-

to de renda devido, calculado com base no lucro da exploração.

ReinvestimentoAs pessoas jurídicas instaladas na área de atuação da SUDAM (Amazônia Legal), poderão depositar

para reinvestimentos, no Banco da Amazônia S/A (BASA), desde que acrescida em 50% de recursos

próprios, 30% do imposto de renda devido, que devam pagar, calculados com base no lucro de explo-

ração, ficando, porém, a liberação dos citados recursos condicionada à aprovação, pela SUDAM, dos

respectivos projetos técnico-econômicos de modernização, ampliação ou diversificação.

Acordos de Cooperação Técnica InternacionalAcordos de Cooperação Técnica Internacional são ações internas à SUDAM que funcionam como me-

canismo auxiliar ao fortalecimento do planejamento regional. Nesse sentido, a SUDAM desenvolve dois

Page 245: Seminário de Segurança da Amazônia

243243

projetos de cooperação técnica internacional, quais sejam: a) O Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento – (PNUD); e b) O Projeto de Ações Integradas para o Planejamento do Desenvolvi-

mento Sustentável da Amazônia (PRODESAM).

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)No âmbito do Acordo de Cooperação Técnica com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-

mento (PNUD), a SUDAM está desenvolvendo o projeto BRA/06/029, objetivando ao seu fortalecimen-

to institucional. Nessa cooperação os grandes objetivos são:

• aprimorar a capacidade institucional instalada da SUDAM, mediante a capacitação profissional, a

modernização administrativa, o desenvolvimento e/ou aperfeiçoamento ou obtenção de sistemas

de informação, monitoramento e de avaliação, bem como a integração dos bancos de dados

existentes;

• desenvolver nos instrumentos e os mecanismos para subsidiar o planejamento do desenvolvimen-

to sustentável regional; e

• promover a divulgação institucional.

Projeto de Ações Integradas para o Planejamento do Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (PRODESAM)

O Projeto de Ações Integradas para o Planejamento do Desenvolvimento Sustentável da Amazônia

(PRODESAM), objeto do Acordo de Cooperação Técnica firmado em dezembro de 2004 com a Orga-

nização dos Estados Americanos (OEA), vem contribuindo para a implementação de ações na região

voltadas a fortalecer e a realimentar o papel precípuo da SUDAM, que é o de planejar e coordenar

o desenvolvimento includente e sustentável da Amazônia, mediante ampla articulação com o setor

público e privado e com a sociedade civil organizada, no concernente a promoção e a realização de

debates, pesquisas e estudos para subsidiar a definição de políticas públicas. Nesse sentido, o plano

de trabalho do PRODESAM reflete seu objetivo proposto em contribuir para a formulação de políticas

públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, contemplando dois objetivos es-

pecíficos: elaborar o macroplanejamento e definir ações de meio ambiente e de ciência e tecnologia

para o desenvolvimento sustentável.

Page 246: Seminário de Segurança da Amazônia

244

Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia (PRDA)

O Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia (PRDA) é um plano no nível tático-operacional,

elaborado em consonância com a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), adotando

as Diretrizes para o desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira definidas no Plano Amazônia

sustentável (PAS).

O processo de elaboração do PRDA é uma ação conjunta da Superintendência do Desenvolvimento

da Amazônia (SUDAM) com o Ministério da Integração Nacional ( MI), ministérios setoriais, órgãos e

entidades federais presentes na Amazônia Legal e em articulação com os governos estaduais. Portanto,

o PRDA corporifica-se como um plano da Região onde densificam-se as relações inter e intrarregionais

com o Governo Federal. Dessa forma, o papel da SUDAM na região é fundamental como indutora do

processo de desenvolvimento regional, articulando as ações de governos no território no sentido de

cumprir um dos objetivos da Constituição Federal do Brasil, que é o de Redução das Desigualdades

Regionais.

A estratégia adotada para a elaboração do PRDA considera cinco aspectos fundamentais. Primeiro, o

PAS, após o seu lançamento em 2008 e a mudança de sua coordenação para a Secretaria de Assuntos

Estratégicos da Presidência da República, teve importantes desdobramentos, destacando: i) o Plano

Amazônia sustentável Aquicultura e Pesca; ii) a Lei 11.952 que dispõe sobre a regularização fundiária

das ocupações incidentes em terras situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia Legal. Es-

sas iniciativas refletem diretamente no conjunto de programas e ações do PRDA no âmbito regional.

Segundo, a PNDR está em franco processo de revisão e adaptações, aprimorando seus princípios de

regionalização e de redução de desigualdades regionais, fatos que rebatem diretamente na estrutura-

ção e operacionalização do PRDA. Terceiro, o Plano Plurianual de Ações do Governo Federal (PPA) da

União, além dos PPAs dos estados pertencentes à Amazônia Legal como matrizes do planejamento e

ordenamento, configuram-se como base para a convergência de programas e ações para e na Ama-

zônia. Assim sendo, o PRDA no âmbito regional delineia seus programas e ações dialogando com essa

base, no sentido de promover a sua execução, como também de oferecer insumos para a atualização/

revisão, tanto do PPA Federal, como o dos Estados. Quarto, o Fórum de Governadores da Amazônia

Legal, estabelecido no dia da instalação do Conselho Deliberativo da SUDAM (CONDEL) em Belém

(PA) é o lócus onde anseios, desejos e proposições dos governadores para a região são expressos na

forma de uma Carta dos Governadores aprovada em cada fórum. Essas cartas fornecem elementos

Page 247: Seminário de Segurança da Amazônia

245245

fundamentais para a realização concreta da política pública para a região. Portanto, são poderosas

fonte de informações a considerar no processo de elaboração do PRDA, já que cristalizam interesses

discutidos pelos secretários de planejamento da região aprovada pelos governadores. Finalmente, o

conjunto de políticas operadas pelos diversos ministérios com ações na Amazônia produz os grandes

elementos estruturais para a elaboração do PRDA, alinhado de forma integrada à Política Pública para

o desenvolvimento da região.

O processo de elaboração do Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia até o presente momen-

to obedeceu a seguinte cronologia.

1. A discussão inicial do processo de elaboração e conteúdo básico do plano, em função da recém-

-criada SUDAM, ocorreu em reuniões de trabalho realizadas em Belém do Pará na sede da SU-

DAM, com a presença de Secretários de Planejamento ou seus representantes num primeiro

momento, e posteriormente Secretários de Ciência e Tecnologia dos Estados da Amazônia Legal.

2. Posteriormente, aconteceram reuniões de trabalho em Brasília com técnicos tanto do Ministério

da Integração Nacional e do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, bem como com a

Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR).

3. Realizou-se também um conjunto de reuniões de trabalho com o corpo técnico da SUDAM, obje-

tivando valorizar o capital intelectual e de experiência de nossos servidores no trato de questões

de desenvolvimento regional.

4. Produziram-se os documentos de referência para organizar o conjunto de informações sobre o

plano, denominados Súmula Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia (PRDA) e Ma-

peamento do PRDA para o PPA da União. O documento súmula foi objeto de apresentação ao

Conselho Deliberativo da SUDAM (CONDEL) e atualmente encontra-se disponível no sítio http://

planoSUDAM.blogspot.com.

5. Realizou-se uma Oficina de trabalho na Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), inicia-

tiva completamente apoiada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Ocorreu em

Brasília, nos dias 22 e 23 de junho/2009, visando ao nivelamento das equipes da SUDAM/MI/

MPOG/SAE, e foi convidada também a Casa Civil da Presidência da República. Os produtos dessa

oficina foram: i) elaboração das Estratégias e Diretrizes do Plano; ii) Modelo de Gestão do Plano;

e iii) Processo de construção e ações a serem empreendidas. O documento encontra-se disponível

no sítio http://oficinaprda.blogspot.com.

Page 248: Seminário de Segurança da Amazônia

246

6. Como resultante dessa articulação institucional, a SUDAM, por intermédio de sua Diretoria de

Planejamento e articulação Política, recebeu contribuições na forma de Notas Técnicas para a

elaboração do Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia dos seguintes ministérios: Minis-

tério da Integração Nacional; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; e Secretaria de

Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

7. Trabalha-se atualmente uma ação conjunta com o Ministério do Meio Ambiente, no sentido de

avaliar a possibilidade de compatibilizar as atividades econômicas identificadas no Macrozonea-

mento Ecológico e Econômico da Amazônia Legal aos programas do Plano Regional de Desen-

volvimento da Amazônia (PRDA).

O Estado precisa estar presente na Amazônia como forma de desenvolvê-la e valorizar seu imenso capi-

tal natural em prol de seus habitantes. Essa presença concretiza-se com a recente recriação da Superin-

tendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), assim como no seu fortalecimento institucional,

que constitui um dos pilares do processo de construção de um novo modelo de desenvolvimento para

a Amazônia brasileira.

No Plano Amazônia sustentável, documento lançado com a presença de todos os governadores da

Amazônia, Legal encontra-se uma citação que sintetiza o papel e a importância da SUDAM no contexto

do desenvolvimento da Amazônia:

O papel da SUDAM será de, em sintonia com as diretrizes gerais expressas no PAS e com

a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), elaborar o Plano Regional de

Desenvolvimento da Amazônia, em parceria com os governos estaduais e em consonân-

cia com as expectativas dos diversos segmentos sociais amazônidas.

Diante do quadro supracitado, o Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia reconhece que

na região há um número muito grande de problemas relacionados ao desenvolvimento regional. Por

outro lado, enquanto os problemas são praticamente infinitos, os recursos são finitos. Diante dessa

constatação, é preciso fazer escolhas, seleções, o que se traduz em priorização de ações para o de-

senvolvimento. Dessa forma, os programas selecionados devem reunir a qualidade de promotores de

ações altamente estruturantes. Assim, o PRDA dialoga com o Plano Amazônia Sustentável (PAS), com

a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) e com o Plano Plurianual de Ações da União

( PPA), que também rebate na maioria dos programas previstos nos PPAs dos estados pertencentes à

Amazônia Legal. O conjunto de programas selecionados para a primeira edição do plano é o seguinte:

Page 249: Seminário de Segurança da Amazônia

247247

Programas do Plano regional de Desenvolvimento da amazônia

Nome do Programa Objetivo

Ciência, Tecnologia e

Inovação

Modernizar e consolidar o Sistema Regional de Ciência, Tecnologia e Inovação para gerar, difun-

dir e utilizar o conhecimento e a tecnologia para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Econegécios e Servi-

ços Ambientais

Apoiar o desenvolvimento das cadeias produtivas de econegócios e serviços ambientais (tecnolo-

gias, produtos e serviços), visando alcançar novas oportunidades no mercado, com a integração

de atividades produtivas e melhoraria do desempenho ambiental na região Amazônica.

Educação Formar recursos humanos na Amazônia Legal para atendimento às demandas do desenvolvimen-

to social, econômico e ambiental na Região, tratando especificamente das questões relacionadas

a: acesso ao ensino, analfabetismo, qualidade, matrículas, educação indígena, cursos a distância,

novas universidades e novos institutos federais de educação, ciência e tecnologia.

Energia Assegurar que o imenso potencial energético da Amazônia seja explorado de forma sustentável,

possibilitando a geração de energia necessária para: i) impulsionar o desenvolvimento industrial

da Região; ii) ampliação da cobertura de domicílios atendidos com eletricidade, tanto na área

rural como na urbana; iii) promover a diversificação da matriz energética regional priorizando a

bioenergia (etanol e biodiesel), energia eólica e energia solar; e iv) garantir a participação social

no planejamento e implementação de políticas de energia para a Amazônia Legal.

Exportação Promover ações voltadas à integração competitiva da base produtiva regional na economia nacio-

nal e internacional, de um elenco diversificado dos produtos de exportação com baixo impacto

ambiental, internalizando, efetivamente, o emprego e a renda na região.

Logística e Transportes Integração dos sistemas de transporte rodoviário, ferroviário, hidroviário e aeroviário na Ama-

zônia Legal para sustentação da dinâmica econômica e social da região, bem como promover o

adensamento dos vínculos econômicos inter e intrarregionais.

Pecuária e Agricultura Promover a cooperação e a gestão compartilhada de políticas públicas na agricultura e na

pecuária, tendo como resultado a transformação do potencial do bioma regional em benefício

aos diversos segmentos da população, consubstanciado em produção sustentável com inovação

tecnológica e inclusão social.

Pesca e Aquicultura Promover o desenvolvimento sustentável do setor pesqueiro e aquícola na Amazônia Legal arti-

culando todos atores e instituições envolvidos com a pesca e a aquicultura, consolidando o setor

na Região pela implementação das ações de: Infraestrutura e logística, linhas de crédito, frota

pesqueira, assistência técnica e extensão pesqueira e aquícola, formação profissional, incentivo

ao associativismo e cooperativismo, subvenção ao óleo diesel marítimo, incentivo ao consumo de

pescados, ordenamento, monitoramento e controle da atividade, desenvolvimento sustentável da

aquicultura e Gestão estratégica da informação aquícola e pesqueira.

Page 250: Seminário de Segurança da Amazônia

248

Recursos Florestais Garantir o uso sustentável dos recursos florestais madeireiros e não-madeireiros da Amazônia

Legal, pela efetivação das atividades de: Reflorestamento, Manejo Florestal, Assistência Técnica e

Extensão Rural, Educação Ambiental e Verticalização da Indústria de Base Florestal.

Saneamento Garantir a universalização do acesso aos serviços de Saneamento Básico nas modalidades de:

abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e manejo de águas

pluviais nas áreas urbanas e rurais da Região Amazônica.

Saúde Garantir a universalização do acesso aos serviços de saúde na Amazônia, através da promoção de

um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços de assistência médica de forma equitativa

com a participação da comunidade regional.

Turismo Contemplar as diversidades da região, através da geração de produtos e serviços baseados na

riqueza da biodiversidade dos ecossistemas regionais além das cidades amazônicas, proporcio-

nando a expansão do mercado interno e a inserção efetiva da Região nos cenários turísticos:

inter e intrarregional, nacional e mundial. A criação de emprego e renda é a orientação central do

programa, bem como o respeito ao meio ambiente, a proteção do patrimônio histórico e cultural

e as atividades de logística, financiamento e gestão.

A maioria dos estados da Amazônia Legal foi visitada, quando se realizaram consultas públicas ao PRDA

com segmentos representativos da sociedade. Dessa forma, obteve-se um lote de informações para a

atualização do documento. Feito isso, a fase atual de elaboração passa pela identificação e registro das

fontes de financiamento do plano. A estratégia adotada considera que o conjunto de programas do

PRDA tem programas relacionados no PPA da União. Para cada meta de ação estruturante do plano,

associam-se ações do PPA tanto da União como dos Estados. Dessa forma, procede-se um mapeamen-

to de ações, observando a rubrica financeira e física definida. Portanto, ao ser concluída esta fase de

trabalhos internos à SUDAM, o plano deverá estar apto a ser aprovado pelo Conselho Deliberativo da

SUDAM e encaminhado ao Congresso Nacional para ser aprovado na forma de lei.

Page 251: Seminário de Segurança da Amazônia

249249

Considerações Finais

A SUDAM, em sua trajetória, trouxe algumas conquistas relevantes para a Amazônia. Houve grande es-

forço do órgão para dotar a região de melhor infraestrutura, estímulo à produção agropecuária, apoio

na formação do Polo Industrial de Manaus via incentivos fiscais, realizações em ciência e tecnologia,

e atração de investimentos em geral para a região. Consequência direta de tudo isso foi o surgimento

de algumas cidades e a geração de empregos na região. As desigualdades intrarregionais na Amazônia

ainda são um grande desafio, mas ações têm sido realizadas pela SUDAM visando reverter esse quadro.

O grande desafio da SUDAM de hoje é incluir a base produtiva da região de forma competitiva na

economia nacional e internacional. No mundo globalizado, em que Amazônia é uma das palavras mais

conhecidas do planeta, o papel da instituição, como braço do governo federal na região, articuladora

de ações e indutora de investimentos, é fundamental. A nova economia globalizada abre novas possi-

bilidades. A SUDAM de hoje tem um perfil de atuação bem diferenciado se for comparado à SUDAM

do passado. É preciso planejar o desenvolvimento regional dentro do novo cenário, com novos atores

aproveitando novas oportunidades. A SUDAM planeja o desenvolvimento regional, compreendendo as

especificidades da Amazônia sem esquecer que o novo cenário da globalização deve ser considerado.

A Amazônia é hoje o lócus para novos modelos de desenvolvimento na ótica da sustentabilidade com

rebatimentos para o próprio desenvolvimento nacional. As políticas locais dialogam com a política pú-

blica do País, reconhecem o entorno, e isso materializa-se em um plano de desenvolvimento regional

coerente e preciso.

Modernamente, segurança é entendida com múltiplos significados. Na perspectiva de um instituto de

desenvolvimento regional, significa a promoção de ações que elevam a qualidade de vida dos habitan-

tes de uma região. A SUDAM cumpre o seu papel, com as dificuldade inerentes a qualquer órgão públi-

co. Mas, fundamentalmente, o papel da SUDAM nos últimos quarenta anos reduziu a distância entre a

área rural e a urbana na Amazônia, atraiu novos investimentos, contribuiu para a geração de empregos

e, ainda, no novo cenário da globalização, suas ações também significam um grande contributo para

a segurança na Amazônia, isso porque de uma forma ou de outra a SUDAM representa a presença de

Estado brasileiro na região, acentuando a circulação monetária e enraizando desenvolvimento. Isso

também é segurança.

Page 252: Seminário de Segurança da Amazônia

250

Referências

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ção Federal, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM; estabelece sua compo-

sição, natureza jurídica, objetivos, área de competência e instrumentos de ação; dispõe sobre o Fundo

de Desenvolvimento da Amazônia – FDA; altera a Medida Provisória no 2.157-5, de 24 de agosto de

2001; revoga a Lei Complementar no 67, de 13 de junho de 1991; e dá outras providências. Diário

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zônia, Universidade Federal do Pará, Organização dos Estados Americanos. Belém, Pará 2006. 9v. Con-

teúdo: v.1 Produção mineral: industrial e metalurgia. V.2 Produção rural: empresarial e familiar. V.3

Produção pesqueira: industrial e artesanal. V.4 Transformação: industrial e manufatureira. V.5 Turismo

Page 253: Seminário de Segurança da Amazônia

251251

e artesanato. V.6 Comércio formal e informal. V.7 Serviço de transporte: fluvial, terrestre e aéreo. V.8

Serviço financeiro: bancos e microcrédito. V.9 Infraestrutura física: energia, comunicação e transportes.

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Page 255: Seminário de Segurança da Amazônia

253

a inTEGraÇÃo Da amazônia Por mEio DE incEnTivos fiscais aDminisTraDos PEla suframa:

rEflExos Para o DEsEnvolvimEnTo nacionalElane Conceição de Oliveira18

Introdução

A história da integração da Amazônia extrapola as tendências de mundialização da região, inicialmente

com o extrativismo do látex e posteriormente o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a fi-

xação do homem a terra, sem no entanto dar-lhe condições de trabalho permanente para a geração de

renda; condições para a realização de práticas sociais adequadas à convivência no mundo capitalista.

Um dos objetivos deste texto é ampliar conhecimentos sobre o papel da política de incentivos fiscais no

processo de integração da Amazônia, cujo escopo ultrapassa a ideia de “integrar para não entregar” e

assume a contextualização mundializada de integração socioeconômica regional para melhor relacio-

nar-se com os mercados nacional e internacional, enquanto desenvolve a sustentabilidade da qualidade

de vida dos amazônidas sem a limitação dos resultados antes gerados pelas práticas extrativistas.

18 economista. doutoranda em desenvolvimento Sustentável (dinter cdS/unb – uea). bolsista da fundação de amparo

à Pesquisa do estado do amazonas (faPeaM). analista de nível Superior na coordenação de estudos econômicos e em-

presariais da Superintendência da Zona franca de Manaus.

Page 256: Seminário de Segurança da Amazônia

254

Processos políticos de desenvolvimento socioeconômico da Amazônia

O processo político de desenvolvimento socioeconômico da Amazônia é subdividido, neste paper, em

três períodos distintos: um período baseado na economia do monoextrativismo do látex (1870/1964);

um período capitalista baseado no desenvolvimento extensivo do extrativismo, da agricultura e da pe-

cuária (1965/1978) na região, com reflexos até os anos 2000; e, por último, um período mais recente,

a partir do início do século XXI, marcado por uma forte e dinâmica região produtiva.

O extrativismo na Amazônia (1870/1964): “o látex é a nossa riqueza”

Do fim do século XIX até o início do século XX, a Amazônia presenciou o surto e o fim de um ciclo

econômico altamente efêmero, mas extremamente proeminente para o País de uma forma geral, e, em

especial, para o desenvolvimento regional – o ciclo da borracha. E não menos relevante, os grandes

esforços para recuperar a economia do látex perduraram até um pouco mais da primeira metade do

século passado, demonstrando a insistência pela manutenção do status quo do extrativismo na região.

O látex, extraído da seringueira, planta nativa da Amazônia, já era utilizado pelos índios,19 mas com o

aperfeiçoamento do processo de vulcanização, em 1839, que tornava a borracha mais resistente ao ca-

lor e ao frio, cresceu a demanda mundial (BRUM, 2000, p. 139). Um fator importante, nesse contexto,

foi o surgimento e a difusão do automóvel a partir da última década do século XIX, pois ocasionou o

crescimento do consumo de pneus e de outros artefatos à base de borracha e, por conseguinte, tanto

a demanda quanto os preços da borracha explodiram no mercado mundial.

Com relação à Amazônia, Salati et al. (1983, p. 219) relata que, depois de 1845, quando a vulcanização

propiciou a maior comercialização da borracha, o volume de exportação e a produção do látex aumen-

taram na Amazônia. Com a procura crescente da borracha no mercado mundial, iniciou-se uma nova

19 Índios cambebas ou omaguas, do vale do Solimões-Marañon, na amazônia.

Page 257: Seminário de Segurança da Amazônia

255255

fase de ocupação na região, expandindo assim a população dita civilizada (imigrantes de outras regiões

do País, especialmente nordestinos20) e diminuindo a população indígena.21

De acordo com Salati et al. (1983, p. 227), foi o influxo de mão-de-obra nordestina que aumentou

a produção da borracha na região: de uma produção de mil toneladas nos meados do século XIX,

passou-se a 6 ou 8 mil toneladas em 1870, chegando a uma média anual de 21 mil toneladas no de-

cênio 1891-1900, aumentando para 34.500 toneladas em 1910 e alcançando o seu volume máximo

em 1912, quando atingiu 42 mil toneladas. Os autores ainda afirmam que, da Amazônia, cujo látex

era considerado, até o início do declínio, o de melhor qualidade no mundo, a borracha era exportada

principalmente para Nova York (EUA) e Liverpool (Inglaterra), que eram as grandes praças importado-

ras, e também para o Havre, Hamburgo, Antuérpia e Lisboa. Belém e Manaus eram os centros onde a

exportação se fazia; Belém funcionava como a porta de saída do produto.

Para o Brasil, a economia gumífera Amazônica representou, de acordo com Furtado (1991, p. 130),

uma forte participação na renda nacional do País em face da extraordinária importância relativa das

exportações da região. Ou seja, a participação da borracha no valor total das exportações elevou-se

de 0,4%, em 1840, para 15,0%, em 1870. E no último decênio, o valor das exportações per capita da

região amazônica duplicou o da região cafeeira, afirma Furtado (1991).

O boom da borracha chega ao fim depois da produção nacional atingir seu ponto máximo entre 1910-

1912. O transplante de mudas pelos ingleses e as plantações ordenadas em suas colônias do Oriente

(Malásia e Indonésia), em condições climáticas idênticas ao hábitat amazônico, logo desbancaram a

produção extrativa brasileira no mercado mundial (BRUM, 2000, p. 139). Em termos mundiais, a pro-

dução da borracha nacional, que em 1910 constituía mais de 50%, caiu para pouco de mais de 5%

em 1926.

20 a imigração induzida nordestina – influenciada também pela terrível seca de 1877 – forçou a saída de milhares de

sertanejos para a amazônia nessa época. eles chegaram a terras nos vales do Xingu, tapajós, Madeira, Javari, Purus e, por

meio desses dois últimos rios, eles atingiram o atual estado do acre, conquistando-o da bolívia. além disso, no Pará, eles

ocuparam, na lavoura, os lugares dos paraenses que se deslocaram para o oeste, à procura do látex.

21 com a pressão da demanda, o aliciamento dos indígenas foi acelerando não só para a procura de seringais, mas tam-

bém de cauchais. a técnica usada para esse aliciamento consistia em sequestrar as mulheres e as crianças, assegurando

dessa forma a cooperação dos homens na busca de novas árvores, principalmente do caucho, que era abatido para dele

se obter o látex. onde encontrassem índios, suas aldeias eram assaltadas e sua população arregimentada para o trabalho

de busca.

Page 258: Seminário de Segurança da Amazônia

256

Entretanto, de 1912 até o fim da II Guerra Mundial, em 1945, houve duas tentativas de planejamento

regional (MAHAR, 1978, p. 9): a primeira, denominada Plano de Defesa da Borracha e, a segunda,

chamada de “Batalha da Borracha”, que começou em 1942 com a assinatura dos “Acordos de Wa-

shington”. Assim, o planejamento para a Amazônia nesse período foi quase exclusivamente dedicado

a esforços para recuperar a economia regional da borracha, afirma Mahar.

Mahar (1978, p. 10-11) relata que o Plano de Defesa da Borracha, embora almejasse manter a posição

do Brasil no mercado internacional da borracha, procurou também melhorar as condições econômicas

e sociais da região, mas o seu defeito fatal foi vincular a prosperidade e o futuro desenvolvimento da

Amazônia a um só produto, que era vendido num mercado sobre o qual o Brasil tinha pouco ou ne-

nhum controle.22 Quanto à “Batalha da Borracha”, a entrada dos EUA na guerra trouxe desafogo tem-

porário, pois o Brasil concordou em cooperar com as Forças Aliadas no suprimento de matérias-primas

estratégicas, inclusive a borracha, e teve início um grande esforço para elevar a produção a partir de

1942, mas os resultados foram bastante modestos, afirma Mahar.

Os grandes esforços políticos direcionados para a recuperação da economia do látex demonstraram

a insistência pela manutenção do status quo do extrativismo na região. E isto não foi diferente com

a criação da SPVEA – Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, em 1953.

SOUZA (2009, p. 321) explica que seu objetivo era aplicar três por cento do total dos impostos reco-

lhidos em todo o Brasil em projetos de desenvolvimento na região, mas falhou completamente em sua

tarefa de desenvolver a região. Além do mais, a SPVEA insistia no extrativismo, bem como em linhas de

crédito bancário, direcionando esses créditos quase apenas para a borracha, excluindo outras ativida-

des, como a juta e a pimenta-do-reino.

22 também foram insignificantes os resultados das tentativas da poderosa empresa ford, norte-americana, no rio tapajós,

para o cultivo racional de seringueiras em fordlândia e, mais tarde, em belterra.

Page 259: Seminário de Segurança da Amazônia

257257

A economia capitalista na Amazônia: 1965/1978 (com desdobramento até os anos 2000)

Com o novo governo estabelecido em 1964, o planejamento do desenvolvimento da Amazônia come-

çou a tomar novo rumo por meio de uma maior eficiência no mecanismo de planejamento regional e

um papel mais importante da iniciativa privada (MAHAR, 1978, p. 21).

Logo, foram nas décadas de 1960 e 1970 que o Governo Federal apoiou intensamente o desenvolvi-

mento capitalista na Amazônia, acentuando assim as transformações econômicas e sociais na região

(IANNI, 1986, p. 55). Principalmente nos anos de 1964 a 1978, o que ocorreu na Amazônia foi um

desenvolvimento extensivo do capitalismo. Isto é, no extrativismo, na agricultura e na pecuária, desen-

volveram-se as relações capitalistas de produção, juntamente com as forças produtivas, esclarece Ianni

(1986).

O mesmo autor relata ainda que além do desenvolvimento extensivo e intensivo do capitalismo na

Amazônia ter sido dinamizado nos moldes do modelo de “economia aberta” adotado pela ditadura

militar, a economia Amazônica ingressou na etapa da grande empresa privada, nacional e estrangeira.

Isso não significa que antes de 1964 as atividades econômicas da região não estivessem articuladas,

em maior ou menor grau, com o mercado nacional e estrangeiro. O fato é que tanto a SPVEA, criada

em 1953, quanto o Banco de Crédito da Amazônia, que vinha do Banco da Borracha, não exerceram

influências notáveis nas atividades econômicas da região. Em geral, até 1964, o máximo que se fez foi

preservar as atividades produtivas predominantes, como o extrativismo da borracha.

Surge então a “Operação Amazônia”, cuja pedra angular foi a Lei n. 5.173/1966. A futura política

regional traçada pela Lei seria orientada para estabelecer “polos de desenvolvimento” e grupos de po-

pulações estáveis e autossuficientes; estimular a migração; proporcionar incentivos ao capital privado;

desenvolver a infraestrutura; e pesquisar o potencial de recursos naturais, esclarece Mahar (1978).

Conforme Ianni (1986, p. 60-61), essas transformações se intensificaram na região com a criação (a)

da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), em 1966, cujo objetivo era atrair

investidores privados, nacionais e estrangeiros e dinamizar os setores agrícolas, pecuários, minerais e

a indústria na região; (b) do Banco da Amazônia (BASA), no mesmo ano de 1966; e (c) da Superinten-

Page 260: Seminário de Segurança da Amazônia

258

dência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), em 1967, responsável pelos incentivos fiscais da Zona

Franca de Manaus (ZFM).

Além disso, a década de 1970, chamada com ufanismo de “milagre brasileiro”, constituiu um período

marcado pela agressiva política econômica do I PND (Plano Nacional de Desenvolvimento – 1970/1974)

direcionada, em geral, para o crescimento econômico do País e o controle da inflação (BRUM, 2000,

p. 322). E na esfera regional, a política foi voltada para o processo de integração da Amazônia. O

objetivo da atuação do Governo Federal na região era realizar a “integração nacional” através do am-

bicioso programa de construção rodoviária, em conjunto com assentamentos rurais ao longo das vias

principais.

De acordo com Mahar (1978, p. 31), esse processo de integração e ocupação da região foi ancorado

no PIN23 (Programa Nacional de Desenvolvimento – 1970), no PROTERRA24 (Programa de Redistribuição

de Terras – 1971), no POLAMAZÔNIA25 (Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazô-

nia – 1974). Essas políticas federais para a região reconheceram que a Amazônia não era uma região

deprimida como o Nordeste, mas uma potencial fronteira de recursos.

Além disso, com o II PND, formulado para 1975/1979, reafirmou-se a estratégia de desenvolvimento

extensivo e intensivo da agricultura e da pecuária, para o Brasil, em geral, e para a Amazônia, em es-

pecial, baseada no pretexto de se efetivar a “vocação do Brasil” para produzir alimentos para outros

países, de acordo com Mahar (1978, p. 69).

Desta forma, as políticas federais baseadas em um modelo de economia dependente e coadunadas

com as estratégias geopolíticas do modelo capitalista de produção representaram aspectos que contri-

buíram para o processo de expansão do capitalismo na região.

23 o objetivo do Pin foi construir uma rodovia leste-oeste ligando a amazônia ao nordeste (transamazônica), uma rodovia

norte-sul (cuiabá-Santarém) e um plano de irrigação para o nordeste.

24 o objetivo do Proterra foi facilitar a aquisição de terras, melhorar as condições do trabalho rural e promover a

agroindústria na amazônia e nordeste.

25 o objetivo do PoLaMaZÔnia foi a criação de 15 “polos de crescimento” selecionados com base em suas vantagens

comparativas, contribuindo com o desenvolvimento da infraestrutura básica em torno das reservas de minério de ferro da

Serra do carajás (Pa).

Page 261: Seminário de Segurança da Amazônia

259259

Souza (2009, p. 327), ao fazer um recorte histórico, tomando um período redondo de 1965 a 2000,

defende que nesses trinta e cinco anos a Amazônia foi aberta à expansão do capitalismo, de acordo

com as diretrizes de uma economia política elaborada por uma série de governos militares, seguida

fielmente pelos governos civis da Nova República e posteriores, que pretendiam promover na região

um modelo de desenvolvimento modernizante.

Amazônia: uma região produtiva

A região Amazônica, invariavelmente, é uma antiga fronteira do capitalismo. Desde o intenso, mas

transitório extrativismo da borracha, passando pela ditadura capitalista de produção, ocupação e in-

tegração do período militar, a região continua sendo uma das mais antigas periferias do sistema de

mercado mundial.

Isso caracterizou fortemente o modelo de desenvolvimento socioeconômico da região. Ele foi fundado

aos moldes do paradigma da relação sociedade-natureza, que Kenneth Boulding denomina de “econo-

mia de fronteira”, significando com isso que o crescimento econômico é visto como linear e infinito, e

baseado na contínua incorporação de terra e de recursos naturais, que são também percebidos como

infinitos (BECKER, 2006).

Becker (2000 apud Sachs, 2000) relata que, em termos regionais, atualmente a demanda na região é

por desenvolvimento, por crescimento econômico e inserção social. Não se trata mais do domínio das

instituições governamentais, nem tanto da expansão territorial da economia e da população nacional,

mas sim de forças econômicas que, embora anteriormente presentes, têm hoje uma forte e diferente

atuação nas escalas global, nacional e regional, afirma a autora.

Para tanto, o imperativo é modificar o padrão de desenvolvimento que foi sustentado numa “economia

de fronteira” por um modelo cujo uso dos recursos naturais da região seja não predatório e que agre-

gue valor no capital empregado na região.

Page 262: Seminário de Segurança da Amazônia

260

O Quadro 1 mostra um retrato geral das características da economia amazônica atual.

UF

PiBpm em

2007

População

residente

em 2007

PiBpm per

capita em

2007

iDH em

2000

FNO

aplicações

para 2010

FDa

2006-2010

recursos

liberados

Part. atividades

Econômicas

no VaB (%)

r$ 1 Milhão (hab.) (r$) (índice) r$ 1 Milhão r$ 1 Milhão agrop. ind. ser.

AC 5.761 655.385 8.789 0,697 204,07 - 17,2 14,7 68,0

AP 6.022 587.311 10.254 0,753 145,77 - 4,3 10,0 85,9

AM 42.023 3.221.940 13.043 0,713 553,91 213,03 4,8 42,5 52,9

MA 31.606 6.118.995 5.165 0,636 - - 18,6 17,9 63,5

MT 42.687 2.854.642 14.954 0,773 - 151,81 28,1 16,4 55,5

PA 49.507 7.065.573 7.007 0,723 874,59 13,51 8,5 31,0 60,3

RO 15.003 1.453.756 10.320 0,735 495,60 207,37 20,3 14,6 65,1

RR 4.169 395.725 10.534 0,746 145,77 - 6,7 11,5 81,8

TO 11.094 1.243.627 8.921 0,710 495,60 76,49 17,8 24,2 58,0

AMAZ. 207.872 23.596.954 8.809 - 2.915,31 662,22 - - -

BRASIL 2.661.345 183.988.500 14.465 0,766 - - - - -

Quadro 1: Aspectos gerais da economia amazônica atualfonte: contras regionais/ibGe; Pnud; baSa; SudaM, adaptado pela coGec/SufraMa.

Com uma população de 23,5 milhões de habitantes, os valores da renda per capita são maiores nos

Estados do Amazonas, de Rondônia e do Mato Grosso; e mesmo nessas localidades, os valores estão

baixos em relação à média nacional. Os valores dos investimentos do FNO indicam que a maior parte

desses recursos foi aplicada nos estados do Pará e do Amazonas. Em termos de PIBs a preço de mer-

cado, a riqueza da região está concentrada no Pará, Mato Grosso e Amazonas. Quanto ao FDA, cujo

objetivo é financiar investimentos privados na Amazônia, a maior parte dos recursos destinou-se ao

Amazonas e à Rondônia. Em relação às atividades produtivas, pode-se notar a grande importância do

setor agropecuário para o Mato Grosso e Rondônia. No caso da indústria, o Amazonas e Pará possuem

Page 263: Seminário de Segurança da Amazônia

261261

maiores destaques, sendo que neste é a indústria extrativa mineral e naquele é a indústria de trans-

formação. A atividade de serviços, porém, é extremamente relevante na região, com destaque para o

Amapá e Roraima.

O desafio é: como conciliar essa pujança socioeconômica com as riquezas da região? Becker (2005)

levanta três hipóteses:

• o novo significado geopolítico da Amazônia em âmbito global como a grande fronteira do capital

natural;

• o novo lugar da Amazônia no Brasil; e

• a urgência de uma nova política de desenvolvimento e de estratégias básicas para implementá-la.

Neste último ponto, ressalta-se que para uma nova perspectiva de desenvolvimento econômico para

a região, há necessidade de forte integração sustentada nas dinâmicas atuais por meio de políticas de

incentivos fiscais regionais.

A INTEGRAÇÃO DA AMAZÔNIA POR MEIO DE INCENTIVOS FISCAIS ADMINISTRADOS PELA SUFRAMA

A integração da Amazônia é um processo em construção desde o ciclo da borracha, no fim do século

XIX. Enquanto os aspectos relativos à segurança da Amazônia e à fixação de capital produtivo na região

não foram privilegiados pelas políticas de desenvolvimento regional, a integração da Amazônia apre-

sentava-se lenta e sem perspectivas. É somente a partir da década de 60 do século XX que o processo

de integração da Amazônia se inicia de forma estruturada, após a criação da SPVEA, posteriormente

SUDAM, e a criação da SUFRAMA para administrar a política de incentivos fiscais na Zona Franca de

Manaus, Amazônia Ocidental e Áreas de Livre Comércio.

Page 264: Seminário de Segurança da Amazônia

262

A integração da Amazônia via incentivos fiscais

A história da economia Amazônica revela a incapacidade de integrar a região por meio de práticas

extrativistas. As dificuldades sociais e econômicas da região no período pós-ciclo da borracha somente

foram amenizadas a partir do final da década de 60 do séc. XX, quando o Governo Federal instituiu a

política de incentivos fiscais, o que gerou interesse do setor privado em instalar indústrias na região.

Enquanto as decisões anteriores como a criação da Superintendência do Plano de Valorização da

Amazônia, a Operação Amazônia e todos os outros programas e projetos concentraram esforços

na recuperação do status econômico da borracha no mercado internacional, a região Amazônica

permaneceu sem expressão produtiva na economia nacional. Somente com a criação da Superinten-

dência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), responsável pela coordenação da política fiscal de

incentivos na Amazônia Oriental e posteriormente a criação da Superintendência da Zona Franca de

Manaus (SUFRAMA), administradora dos incentivos fiscais da Amazônia Ocidental, da Zona Franca de

Manaus e das Áreas de Livre Comércio, a região amazônica iniciou o seu caminho de crescimento por

meio da produtividade das indústrias instaladas na região, em virtude dos incentivos fiscais.

Neste último particular, Aguiar (2008, p. 137) afirma que, ao mesmo tempo em que a SUFRAMA co-

memora sua longevidade, ela se constitui em modelo concreto e bem-sucedido de desenvolvimento

socioeconômico como u consequência de uma política governamental de incentivos fiscais. Em outras

palavras, serve como exemplo para demonstrar como os tributos podem ser administrados a fim de

fomentar o desenvolvimento, sendo verdadeiros mecanismos realizadores de políticas de desenvolvi-

mento, afirma o autor.

O que se percebe é que o desenvolvimento social e econômico da ZFM é decorrência direta da política

tributária extrafiscal instituída pelo Decreto-Lei n. 288, de 1967. Os resultados sociais e econômicos das

atividades industriais, comerciais e agropecuárias têm revelado que a vocação da região é pela manuten-

ção de incentivos fiscais capazes de atrair atividades industriais que geram emprego e renda; esse parque

industrial impulsiona o comércio local, nacional e internacional, além de racionalizar os usos dos recursos

naturais regionais, na medida em que não é intensivo de insumos originados de práticas extrativistas.

Os tributos da política de exceção fiscal do Decreto-Lei n. 288/1987 têm natureza extrafiscal. Conforme

Aguiar (2008, p. 144), “o tributo terá natureza extrafiscal quando ficar caracterizado uma finalidade

Page 265: Seminário de Segurança da Amazônia

263263

política, econômica e social alheia ao objetivo meramente arrecadatório de dinheiro para os cofres

públicos, como é o caso do tributo de caráter fiscal e parafiscal”.

Desta forma, pelo simples fato de onerar ou desonerar determinadas relações econômicas, o tributo

assume a condição de instrumento de intervenção estatal, afirma o autor. E, nesses casos, quando a

tributação é utilizada como ferramenta de realização dos objetivos estatais, diz-se que ela está desem-

penhando uma função extrafiscal. Logo, pode-se afirmar que a ZFM e toda a região da Amazônia Oci-

dental constituem-se em exemplo concreto de realização dos objetivos fundamentais suprarreferidos,

em especial quanto ao desenvolvimento e à redução das desigualdades.

O estudo das Contas Nacionais publicado periodicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Es-

tatística (IBGE) apresenta valores relativos ao Estado do Amazonas e do Pará, cujas análises e inter-

pretações a seguir podem apontar cenários para o horizonte de 2022. A Tabela 1 - Valor Adicionado

Bruto a preço básico – Amazonas – apresenta os valores individuais da agropecuária, da indústria e dos

serviços, bem como o Valor Adicionado Bruto total para cada ano do período 2002-2007.

aMaZONasValOr aDiCiONaDO BrUTO a preços básicos (1.000.000 r$)

2002* 2003 2004 2005 2006 2007

AGROPECUÁRIA 1.311 1.268 1.169 1.459 1.647 1.679

INDÚSTRIA 8.034 9.450 11.629 12.323 15.067 14.850

SERVIÇOS 8.826 10.263 12.120 14.062 16.263 18.445

Total 18.171 20.981 24.918 27.844 32.977 34.974

Tabela 1 – Valor Adicionado Bruto a preço básico – Amazonasfonte: contas regionais do brasil: 2003-2007, nº 28, ibGe, 2009 (p. 17).

nota: * os valores relativos ao ano de 2002 constam do cd-rom que acompanha o documento fonte.

Os resultados da Tabela 1 ratificam a força do setor industrial no Amazonas, cujos incentivos fiscais

mantêm o ritmo crescente e impulsionador dos serviços que chegam a superar os números da indústria.

Observa-se também que a participação do setor Agropecuário no Valor Adicionado do Amazonas é

Page 266: Seminário de Segurança da Amazônia

264

muito pouco representativa, uma indicação da necessidade da realização de investimentos em pesqui-

sas e desenvolvimento de projetos no setor, a fim de diminuir a dependência da importação desses

produtos, o que eleva o custo de vida na região.

A integração da região amazônica por meio dos incentivos fiscais é uma necessidade; para que isso

aconteça, a economia amazonense não deve permanecer concentrada apenas nas atividades indus-

triais da Zona Franca de Manaus, combinada ao crescimento da administração pública e do comércio

concentrados em Manaus. A Amazônia Ocidental e as Áreas de Livre Comércio sob a jurisdição da

SUFRAMA também devem ser alvos de estudos que identifiquem suas vocações produtivas, as quais

utilizarão os incentivos fiscais como alavanca de desenvolvimento.

Nesse contexto, a segurança da Amazônia se revela como variável determinante da consecução do

processo de desenvolvimento regional; a segurança que não se fez presente na região para evitar que a

seringueira amazônica fosse levada pelos ingleses e cultivada na Ásia, o que determinou o fim do ciclo

da borracha brasileira precocemente. Convém ainda ressaltar a necessidade de uma integração econô-

mica planejada e dinamizada por ações e políticas público-privadas que privilegiem o desenvolvimento

humano na região amazônica.

A Tabela 2 contém o Valor Adicional Bruto do Amazonas (VAB) (IBGE, 2009), no período de 2002 a

2007. Os valores correspondentes ao período de 2008 a 2002 foram calculados por meio de regressão

linear simples para cada VAB, utilizando-se o método dos mínimos quadrados; sendo o ano a variável

independente(X) e o valor do VAB correspondente a variável dependente (Y).

Page 267: Seminário de Segurança da Amazônia

265265

aNO VaB

(aGrOP)

VaB

(iND)

VaB

(sErV)

VaB

TOTal

VariaÇÃO

VaB. TOTal

2002* 1.311,00 8.034,00 8.826,00 18.171,00 -

2003 1.268,00 9.450,00 10.263,00 20.981,00 15%

2004 1.169,00 11.629,00 12.120,00 24.918,00 19%

2005 1.459,00 12.323,00 14.062,00 27.844,00 12%

2006 1.647,00 15.067,00 16.263,00 32.977,00 18%

2007 1.679,00 14.850,00 18.445,00 34.974,00 6%

2008** 1.748,85 17.054,67 20.133,50 38.937,02 11%

2009** 1.842,19 18.529,67 22.077,41 42.449,27 9%

2010** 1.935,53 20.004,67 24.021,32 45.961,52 8%

2011** 2.028,87 21.479,67 25.965,23 49.473,77 8%

2012** 2.122,21 22.954,67 27.909,14 52.986,02 7%

2013** 2.215,55 24.429,67 29.853,05 56.498,27 7%

2014** 2.308,89 25.904,67 31.796,96 60.010,52 6%

2015** 2.402,23 27.379,67 33.740,87 63.522,77 6%

2016** 2.495,57 28.854,67 35.684,78 67.035,02 6%

2017** 2.588,91 30.329,67 37.628,69 70.547,27 5%

2018** 2.682,25 31.804,67 39.572,60 74.059,52 5%

2019** 2.775,59 33.279,67 41.516,51 77.571,77 5%

2020** 2.868,93 34.754,67 43.460,42 81.084,02 5%

2021** 2.962,27 36.229,67 45.404,33 84.596,27 4%

2022** 3.055,61 37.704,67 47.348,24 88.108,52 4%

Tabela 2 – Valor Adicionado Bruto a preço básico – Amazonasfonte: contas regionais do brasil: 2003-2007, n. 28, ibGe, 2009 (p. 17) – adaptado pela coGec-SufraMa.

nota: * os valores relativos ao ano de 2002 constam do cd-rom que acompanha o documento fonte.

Page 268: Seminário de Segurança da Amazônia

266

As equações de estimação encontradas após os cálculos na planilha Excel 2007, para cada VAB(setor),

foram as seguintes: a) VAB(agropec) = 1095,47 + 93,34X; b) VAB(indústria) = 6729,67 + 1475X; c)

VAB(serviços) = 6526,13 + 1943,91X. A partir dessas equações, considerando o ano como a variável

X, calcularam-se os valores estimados dos respectivos VABs para o período de 2008 a 2022, com

o objetivo de visualizar a comportamento dos resultados econômicos do Amazonas rumo a 2022.

Assim, ao utilizar a equação de estimação da indústria para o ano de 2015, faz-se VAB(indústria) =

6729,67+1475(14), encontra-se o valor de R$ 27.379,67 como o VAB(indústria) estimado para 2015.

Portanto, a tabela 02 mostra a estimação do VAB de cada setor de atividade no Estado do Amazonas,

considerando-se que não haja alteração nas variáveis que concorrem para a formação do VAB estadual,

condição essa apenas útil para discussões teóricas no processo de criação de cenários, fundamentada,

porém, em dados históricos (2002 a 2007) pesquisados pelo IBGE (2009). Observa-se ainda na tabela

02 que a taxa de variação do VAB total do Amazonas, ano a ano, no período de 2002 a 2007, apresen-

tou os valores 15%, 19%, 12%, 18 e 6%, respectivamente; correspondendo a uma média de 14% ao

ano. A variação percentual do VAB do Amazonas pode ser considerada elevada, se comparada àquela

do Brasil que ficou em 12% (IBGE, 2009), no mesmo período.

Ao analisar o comportamento do VAB total estimado no período de 2008 a 2022, o crescimento do

indicador se mantém, mas as taxas são decrescentes ao longo do período; de uma taxa de crescimento

de 11% no ano de 2008 em relação a 2007, atinge-se a taxa de 4% no ano de 2021 em relação a

2020 e em 2022 a taxa de variação do VAB total do Amazonas permanece em 4% em relação ao ano

anterior. Esses resultados indicam a necessidade da tomada de decisões em relação ao incremento dos

incentivos fiscais na região e, particularmente no Amazonas, o Modelo Zona Franca de Manaus basea-

do na política de incentivos fiscais na Zona Franca de Manaus precisa ampliar os seus efeitos além das

atividades industriais. A Amazônia Ocidental e as Áreas de Livre Comércio sob a jurisdição da SUFRAMA

devem ser orientadas em relação ao desenvolvimento de atividades produtivas locais, bem como à

utilização dos mecanismos fiscais disponíveis que resultam em incentivos para os diferentes ramos de

negócios regionais. Por outro lado, o Governo Federal deveria rever a política econômica em vigor no

País, pois os valores legalmente arrecadados pela SUFRAMA precisam ser reinvestidos na própria região

amazônica, ao invés de serem destinados a outras regiões do Brasil, como aconteceu no passado quan-

do os recursos financeiros destinados a áreas específicas da Amazônia eram partilhados sem o devido

critério, causando ineficiência de processos e ineficácia de políticas de desenvolvimento regional.

Page 269: Seminário de Segurança da Amazônia

267267

Ciente da limitação das análises realizadas a partir de dados agregados, como é o caso do Valor Adi-

cionado Bruto dos setores da economia do Amazonas, apresentado neste texto, convém desagregar as

atividades de cada um dos setores para avaliar mais amiúde o comportamento de cada uma das diver-

sas atividades operacionais incluídas no processo produtivo de cada um desses setores (Agropecuária,

Indústria e Serviços).

A construção de equação de estimação, a partir de dados históricos de anos anteriores, constitui-se

em exercício aceito para expressar cenários subordinados a não alteração das variáveis presentes na

atualidade, e também face ao desconhecimento de variáveis exógenas que possam concorrer para

alterar a correlação entre as variáveis envolvidas no problema estudado. De qualquer maneira, estimar

o comportamento de um indicador por meio da utilização de ferramentas estatísticas ainda é uma

forma precisa de quantificar resultados do que basear-se em experiências vivenciadas, não registradas

ou ancoradas apenas na intuição. A estimação é a semente de qualquer planejamento. Definindo-se

estatisticamente o que poderá acontecer no Amazonas, na Amazônia, no percurso temporal rumo a

2022, criam-se as condições iniciais para instigar os atores sociais e econômicos, públicos e privados

a tomarem decisões desde o presente; definindo objetivos, criando planos, programas e projetos que

requerem estratégias estruturadas de acordo com as necessidades da região.

O planejamento, nesse caso, tem início com a premissa de que o extrativismo não pode ser o foco da

atenção dos planejadores da Amazônia, porque somente a política de incentivos fiscais gerou resulta-

dos positivos na região desde o fim da década de 1960. E embora esses incentivos tenham se revelado

responsáveis pela concentração da economia do Amazonas no setor industrial e na Zona Franca de

Manaus, o planejamento atual requer a ampliação desse modelo para outras áreas da Amazônia. O

objetivo será a integração da sociedade amazônica, por meio da criação das condições de geração de

emprego e renda nas próprias localidades onde vivem os amazônidas; cada localidade deve identificar

e ter identificadas as suas vocações econômicas, para desenvolvê-las de acordo com os parâmetros de

incentivos fiscais criados legalmente para administrar o desenvolvimento regional da Amazônia.

No processo de integração da Amazônia insere-se também a diminuição da taxa de desocupação da

mão-de-obra na região. Como mostra o Gráfico 1, o comportamento da curva que mostra a desocu-

pação em Manaus encontra-se na média das grandes regiões metropolitanas.

Page 270: Seminário de Segurança da Amazônia

268

fonte: elaborado pela coGec a partir dos dados da Pnad 2001-2008: ibGe.

No Gráfico 1, observa-se que a taxa de desocupação da região metropolitana de Manaus, representada

pela linha mais espessa do gráfico, encontra-se em consonância com o que ocorre nas regiões metro-

politanas das maiores capitais do País; no caso da RMM, os resultados desse indicador são reflexos da

política de incentivos fiscais que mantém a indústria de transformação como principal demandante de

mão de obra na região.

Pode-se entender, portanto, que ao incluir a extrafiscalidade no planejamento de um modelo de de-

senvolvimento, como ocorre no Modelo Zona Franca de Manaus, os resultados extrapolam os aspectos

econômicos e alastram-se também para a área social.

Page 271: Seminário de Segurança da Amazônia

269269

Enfatiza-se também que no planejamento, para o desenvolvimento da Amazônia, é conveniente ana-

lisar as propostas de construção de estradas, instalação de projetos agropecuários e de extrativismo

mineral e vegetal. Construir estradas com o fito de integrar; anunciar instalação de projetos agropecu-

ários como fator de integração e apoiar práticas extrativistas minerais ou vegetais com a expectativa

de integração regional não atingiram seus objetivos no passado. Portanto, representam propostas a

serem cautelosa e criteriosamente analisadas para garantir a segurança da Amazônia; as análises não

se restringem às questões ambientais apenas, mas principalmente à segurança territorial da região, na

qual se insere a preocupação com a instalação de bases de atividades ilegais e, a prospecção dos re-

cursos regionais sem o devido monitoramento de órgãos competentes com a Polícia Federal do Brasil,

o Sistema de Proteção da Amazônia e as Forças Armadas do Brasil. Logo, a integração por meio da

ampliação dos incentivos fiscais na Amazônia significa produzir e gerar renda capaz de ultrapassar a

satisfação das necessidades básicas do ser humano; essa integração significa ultrapassar o padrão de

renda de subsistência pelos amazônidas das mais diferentes localidades da região.

Então, trata-se de integração social e econômica na Amazônia, a qual se constitui em fator determinan-

te do sucesso de qualquer projeto, programa ou plano de segurança para a região. Porque integrada

social e economicamente, a região amazônica deixará de ser alvo de projetos provisórios e a população

participante de um planejamento voltado para o desenvolvimento regional não aceitará correr o risco

de realizar práticas extrativistas sem a racionalidade estruturada após pesquisas e estudos de institui-

ções competentes.

Dessa forma, para ampliar os conhecimentos sobre as atividades produtivas da Amazônia, utilizaram-se

os valores do Valor Adicionado Bruto do Amazonas, publicados pelo IBGE (2009), do período de 2002

a 2007, de forma desagregada no interior dos setores (Agropecuária, Indústria e Serviços), para melhor

visualizar quais atividades apresentam maior peso na composição do valor final de cada um dos setores

estudados.

A observação dos valores das atividades desagregadas do Estado do Amazonas consolidam as análises

registradas neste texto. Os resultados dessa desagregação encontram-se no interior da Tabela 3, a

seguir:

Page 272: Seminário de Segurança da Amazônia

270

aMaZONasValOr aDiCiONaDO BrUTO a preços básicos (1.000.000 r$)

2002* 2003 2004 2005 2006 2007

AGROPECUÁRIA 1.311 1.268 1.169 1.459 1.647 1.679

Agricultura, silv.e expl.florestal 1.055 948 823 1.072 1.173 1.244

Pecuária e pesca 257 320 346 387 474 435

INDÚSTRIA 8.034 9.450 11.629 12.323 15.067 14.850

Indústria extrativa 349 411 536 715 917 762

Indústria de transformação 6.650 7.904 9.270 9.944 12.133 11.487

Construção civil 927 992 1.461 1.387 1.634 1.908

Prod.dis.Eletr.gás, água, esgoto 108 142 362 276 383 693

SERVIÇOS 8.826 10.263 12.120 14.062 16.263 18.445

Com.e ser.de man.e reparação 1.753 2.191 2.382 2.923 3.103 4.286

Serviços de alojamento e alimentação 310 286 389 547 630 647

Transportes, armazenagem e correio 718 1.022 1.305 1.360 1.620 1.807

Serviços de informação 281 412 414 576 587 755

Interm.fin., seg.e prev.com.ser.rel. 399 390 405 544 672 832

Serv. Prest.às famílias e associativas 280 278 303 341 410 463

Serviços prestados às empresas 342 403 936 725 1.015 945

Atividades imobiliárias e aluguéis 1.196 1.270 1.488 1.787 1.842 1.958

Administração, saúde e educ.púb. 3.130 3.535 3.937 4.656 5.594 5.886

Saúde e educação mercantis 277 317 379 398 564 625

Serviços domésticos 141 160 182 205 227 243

Tabela 3 – Valor Adicionado Bruto desagregado em atividades, a preços básicos fonte: contas regionais do brasil: 2003-2007, nº 28, ibGe, 2009 (p. 17) – adaptado pela coGec-SufraMa.

nota: * os valores relativos ao ano de 2002 constam do cd-rom que acompanha o documento fonte.

Page 273: Seminário de Segurança da Amazônia

271271

Os valores constantes da Tabela 3 mostram que as atividades da Agricultura, silvicultura e exploração

florestal são as mais importantes na formação do Valor Adicionado do setor Agropecuária, enquanto a

participação da pecuária e da pesca é pouco representativa na formação do indicador. Por outro lado,

ao se observar o setor Indústria, os valores da Indústria de Transformação concentram aproximadamen-

te 80% do total do Valor Adicionado Bruto da Indústria; as atividades da construção civil assumem o

segundo lugar entre os valores que concorrem para a formação do VAB da Indústria no Amazonas; e a

Indústria Extrativista mostra-se com participação de aproximadamente 5% na composição do VAB da

Indústria, daí o desmatamento não ser uma das características do Estado do Amazonas. As atividades

de Administração, Saúde e Educação Pública apresentaram valores correspondentes a aproximadamen-

te 35% do total do VAB Serviços; em segundo lugar, encontram-se as atividades de Comércio e Serviços

de Manutenção e Reparação representando aproximadamente 20% do total do VAB Serviços; as ati-

vidades Imobiliárias e Aluguéis são responsáveis por aproximadamente 15% do total do VAB Serviços.

Esses dados desagregados da Tabela 3 revelam o Setor Serviços como o mais importante na determi-

nação dos resultados da economia amazonense, cuja concentração no interior do setor encontra-se

nas atividades de Administração, Saúde e Educação Pública; esta participação indica o quanto o poder

público participa da economia do estado. Há necessidade, portanto, de incentivar o setor privado que

atua fora do Polo Industrial de Manaus, porque ao observar o Setor Indústria verifica-se que a Indús-

tria de Transformação é a principal fonte de concentração do VAB Indústria, resultado dos incentivos

fiscais que, desde o início atraíram empresários do ramo industrial para a região amazônica. Os dados

também confirmam a insignificância da produção resultante das atividades da Indústria Extrativista, o

que deve ser compreendido como ponto positivo para o Estado do Amazonas, porque os índices de

desmatamento da Amazônia no período de 2002 a 2007 não contam com a participação do Amazonas

como um dos principais atores responsáveis pela ampliação dos problemas climáticos tão debatidos na

última década.

No setor Agropecuário, a incipiente participação das atividades da Pecuária e da Pesca mostra a neces-

sidade de incentivar o crescimento econômico dessas atividades no Estado do Amazonas.

Ainda na perspectiva de realizar um processo de integração sustentável, a administração eficiente da

política de incentivos fiscais na Amazônia, como tem acontecido em todo o período de existência da

Superintendência da Zona Franca de Manaus, pode ser compreendido por diversas óticas, uma delas é

a visualização dos resultados do VAB total do Estado do Amazonas com a participação da Indústria de

Page 274: Seminário de Segurança da Amazônia

272

Transformação (concentrada no Polo Industrial de Manaus) e sem a participação dessa Atividade; por

que assim é possível compreender a importância dos incentivos fiscais na Amazônia.

A Tabela 4 mostra o comportamento do VAB total do Amazonas com e sem a participação das ativida-

des da Indústria de Transformação.

aMaZONasValOr aDiCiONaDO BrUTO a preços básicos (1.000.000 r$)

2002* 2003 2004 2005 2006 2007

aGrOPECUÁria 1.311 1.268 1.169 1.459 1.647 1.679

iNDÚsTria 8.034 9.450 11.629 12.323 15.067 14.850

Indústria extrativa 349 411 536 715 917 762

Indústria de transformação 6.650 7.904 9.270 9.944 12.133 11.487

Construção civil 927 992 1.461 1.387 1.634 1.908

Prod.dis.Eletr.gás, água, esgoto 108 142 362 276 383 693

sErViÇOs 8.826 10.263 12.120 14.062 16.263 18.445

TOTal DO VaB

Com indúst. Transf.18.171,00 20.981,00 24.918,00 27.844,00 32.977,00 34.974,00

Tabela 4 – Parte A – Valor Adicionado Bruto com a Indústria de Transformação

aMaZONasValOr aDiCiONaDO BrUTO a preços básicos (1.000.000 r$)

2002* 2003 2004 2005 2006 2007

iNDÚsTria 8.034 9.450 11.629 12.323 15.067 14.850

Indústria extrativa 349 411 536 715 917 762

Construção civil 927 992 1.461 1.387 1.634 1.908

Prod.dis.Eletr.gás, água, esgoto 108 142 362 276 383 693

sErViÇOs 8.826 10.263 12.120 14.062 16.263 18.445

TOTal DO VaB

sem indúst. Transf.11.521,00 13.077,00 15.647,99 17.900,00 20.843,00 23.487,00

Tabela 4 – Parte B – Valor Adicionado Bruto sem a Indústria de Transformaçãofonte: contas regionais do brasil: 2003-2007, nº 28, ibGe, 2009 (p. 17) – adaptado pela coGec-SufraMa.

nota: * os valores relativos ao ano de 2002 constam do cd-rom que acompanha o documento fonte.

Page 275: Seminário de Segurança da Amazônia

273273

Os valores do total do VAB sem a Indústria de Transformação revelam a importância dessas atividades

no desenvolvimento social e econômico da Amazônia. Os incentivos fiscais na Zona Franca de Ma-

naus, na Amazônia Ocidental e nas Áreas de Livre Comércio foram legalmente instituídos para todos

os setores da Economia, no entanto, a indústria de transformação tem sido a principal responsável

pelo desempenho econômico da região. O que a Parte B da Tabela 4 indica é que sem a indústria de

transformação na região Amazônica, a economia diminuirá o ritmo e os resultados refletirão no nível

de desenvolvimento regional. Além disso, serão criadas as possibilidades para o aumento das práticas

extrativistas descontroladas e sem o rendimento suficiente para ultrapassar a satisfação das necessida-

des de subsistência, como aconteceu no passado.

O conhecimento das particularidades que envolvem o processo de integração da Amazônia via in-

centivos fiscais tornou-se uma necessidade à formação profissional daqueles que elaboram políticas

públicas no Brasil, especialmente à formação de todos os políticos, assessores e auxiliares técnicos

que participam da elaboração de planos, programas, projetos e estratégias para o desenvolvimento da

região amazônica.

Entre essas particularidades, como a formação do Valor Adicionado Bruto, agregaria valor à formação

de especialistas responsáveis pela elaboração de políticas públicas para a Amazônia, uma viagem pelo

interior da Amazônia, não a passeio, mas a trabalho, quando teriam condições de conviver com as

especificidades amazônicas das grandes distâncias, a identificação das causas do alto custo logístico da

região e, principalmente, da diferença entre os resultados gerados por um mesmo valor em dinheiro

quando aplicado na realidade amazônica e quando aplicado na realidade de outras regiões do Brasil;

são aprendizagens necessárias. Essas aprendizagens não se processam em viagens rápidas para par-

ticipação em eventos de uma ou duas horas, muito menos em viagens para inauguração de obras.

É preciso tempo para construir uma aprendizagem sustentável sobre a Amazônia, por isso as viagens

para aprender sobre e com a Amazônia não devem ser raras; é preciso ir à Amazônia constantemente,

porque a biodiversidade e a sociodiversidade da região não podem ser apreendidas com visitas rápidas,

raras e descompromissadas.

Portanto, a tributação sob o viés da extrafiscalidade é a moldura que vem se desenhando na contem-

poraneidade (GUSMÃO, 2008, p. 161). O tributo não mais tem somente a função de financiar o Estado

Page 276: Seminário de Segurança da Amazônia

274

em seu finalismo clássico ou tradicional, mas a de um instrumento de intervenção estatal no meio social

e na economia privada, afirma o autor. O Estado do Amazonas, com efeito, é um exemplo sui generis26

dessa ferramenta: antes de 1970, a atividade econômica era agropecuária e extrativa (especialmente

juta e borracha), mas com o advento da ZFM o foco da economia passou para a industria de transfor-

mação, que tem possibilitado responder positivamente ao bem-estar social e do ecossistema da região.

Considerações finais

A integração da Amazônia Ocidental brasileira ao restante do Brasil, por meio de incentivos fiscais inse-

ridos no Modelo Zona Franca de Manaus, tem se constituído na maior política pública de Estado para

a Amazônia durante toda sua história.

Embora a concepção original do Modelo tenha sido alicerçada em pilares econômicos e geopolíticos,

não há dúvida de que hoje o Modelo Zona Franca de Manaus amplia seus efeitos além dos campos

socioeconômico, tributário, ambiental e demográfico. Essa realidade está revelada nos resultados dos

auspiciosos indicadores demonstrados ao longo do artigo em tela; no entanto, tão importante quanto

sua criação estratégica é a manutenção desta política como condição sine qua non no atual cenário da

Amazônia frente aos “olhares do mundo” enquanto processa a integração amazônica.

Não há como compreender a Amazônia brasileira, sem irisá-la com a relevância da política de incentivos

fiscais, que se configura na presença constante do Estado Nacional tanto no interior da floresta como

nas áreas de fronteira.

Em face ao exposto, torna-se evidente que ao longo da história, a única política capaz de promover

o desenvolvimento regional, quebrando o paradigma dos ciclos econômicos, foi a criação do polo de

desenvolvimento industrial denominado Zona Franca de Manaus, organizado de forma a revelar-se um

Modelo concretamente sólido na construção do processo de integração da Amazônia.

26 Único, peculiar, característico.

Page 277: Seminário de Segurança da Amazônia

275275

Referências

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da Zona Franca de Manaus. In: MARTINS, Ives Gandra et. al. São Paulo: MP editora, 2008 (pp. 137-

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2000.

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1978. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986.

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mentais. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1978

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2000.

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volvimento, integração e ecologia. São Paulo: Brasiliense; Brasília: Conselho de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico, 1983.

SOUZA, Márcio. História da amazônia. Manaus: Editora Valer, 2009.

Page 278: Seminário de Segurança da Amazônia

276

Page 279: Seminário de Segurança da Amazônia

277277

PaineL 2O Desenvolvimento da Amazônia:

fortalecimento da presença do Estado brasileiro na Amazônia

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Page 281: Seminário de Segurança da Amazônia

279

DEsafios E PErsPEcTivas Para a saÚDE na amazônia

Otaliba Libânio de Morais Neto27, Juan Cortez-Escalante28, Guilherme Franco Netto29, Daniela Buosi Rohlfs30, Luiz Belino Ferreira Sales31, Henrique

De Barros Moreira Beltrão32 e Regina Maria Mello33

Introdução

A Amazônia Legal (figura 1), do ponto de vista institucional, foi criada por meio do Decreto Lei n. 1.806,

de 06/1/1953, por critérios políticos, visando aperfeiçoar o planejamento e promover o desenvolvimen-

to econômico da região. Hoje, abrange uma área que corresponde em sua totalidade aos Estados do

Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e, parcialmente, o Estado

do Maranhão (a oeste do meridiano de 44º WGr.), perfazendo uma superfície de aproximadamente

5.217.423 km², correspondente a cerca de 61% do território brasileiro, com uma expressão demográ-

fica aproximada de 24 milhões de habitantes (BRASIL, 2010).

27 diretor departamento de análise de Situação de Saúde (daSiS/SVS/MS)

28 coordenador da área de análise. cGiae/daSiS/SVS/MS.

29 diretor do departamento de Saúde ambiental e Saúde do trabalhador. (deSaSt/SVS/MS).

30 diretora Substituta (deSaSt/SVS/MS).

31 técnico (deSaSt/SVS/MS).

32 técnico (deSaSt/SVS/MS).

33 técnico (deSaSt/SVS/MS).

Page 282: Seminário de Segurança da Amazônia

280

Figura 1 – Amazônia Legalfonte: imazon, 2010.

Ampliando essa visão, temos compreendido nessa poligonal, um conjunto de paisagens naturais e cul-

turais complexas que exigem do interlocutor uma visão dialética da relação sociedade versus natureza

e suas relações com a saúde das populações desse território.

Page 283: Seminário de Segurança da Amazônia

281281

Sua dimensão natural, com o predomínio do bioma Amazônia, apresenta domínios de cerrado, encla-

ves de campos cerrados, faixas de transição floresta/cerrado, igarapés e manguezais, formando uma

biodiversidade singular, somada a características únicas de relevo e geologia. Historicamente posicio-

nado no centro dos conflitos sociais e ambientais da região (AB’SABER, 2003).

Tal substrato natural abriga um conjunto de processos de uso e ocupação, com diferentes tempora-

lidades, abrangência e capacidade de transformação dos sistemas naturais, que se inter-relacionam

produzindo uma geografia humana regional caracterizada pela ocupação indígena, espaços de comu-

nidades tradicionais, áreas de expansão agropastoris e centros urbanos consolidados (KOHLHEPP, 2002

e BECKER, 2009).

O presente artigo tem como objetivo apresentar os principais desafios e as perspectivas para a região a

partir de três eixos: os determinantes sócio-ambientais dos processos saúde-doença, a atenção a saúde

e a vigilância epidemiológica e ambiental.

Os determinantes sacioambientais na Amazônia Legal

Os modelos de desenvolvimento, para a região, na segunda metade do século XX, produziram um or-

denamento territorial marcado pela alteração significativa da paisagem natural, com forte comprome-

timento da qualidade ambiental desses espaços (KOHLHEPP, 2002; AB’SABER, 2003; BERCKER, 2009),

uma expressão territorial com importante impacto de uso e ocupação, denominada “arco do desma-

tamento” (figura 2), predominando a atividade agropecuária e de exploração da madeira. Associado

a isso, ocorre também um processo de urbanização e expansão demográfica (figura 3) configurada

pela formação de aglomerados urbanos carentes de serviços básicos (BERCKER, 2009), com expressivo

impacto na saúde da população.

Page 284: Seminário de Segurança da Amazônia

282

Figura 2 – Arco do Desmatamentofonte: adaptado de iMaZon, 2010.

Page 285: Seminário de Segurança da Amazônia

283283

Figura 3 – Densidade populacional

O perfil epidemiológico da região é caracterizado por um grande peso da mortalidade por doenças

infecciosas e parasitárias, nutricionais e maternas, responsáveis por aproximadamente 19,5% do total

de mortes enquanto que na região Sul do país esse percentual é de 9,8% (Quadro 1). Além disso, as

causas violentas apresentam grande peso e com tendência de crescimento na região.

Page 286: Seminário de Segurança da Amazônia

284

Causas CO NE N SE S Total

Grupo I 8.700 35.200 10.479 61.730 15.891 132.000

13,7 13,7 19,5 12,7 9,8 12,9

Grupo II 44.091 190.558 35.060 367.133 127.760 764.602

69,5 74,4 65,3 75,2 78,5 74,7

Grupo III 10.658 30.338 8.144 59.178 19.152 127.470

16,8 11,9 15,2 12,1 11,8 12,5

Total 63.449 256.096 53.683 488.041 162.803 1.024.072

Quadro 1 – Óbitos por grupos de causas, (1) Infecciosas, maternas, perinatais e nutricio-nais; (2) Não transmissíveis; e (3) Causas externas. Regiões, 2004fonte: daSiS/SVS/MS.

A taxa de mortalidade infantil da região é a segunda maior, inferior apenas à da região Nordeste, no

entanto apresenta uma velocidade de redução inferior à das demais regiões (Figura 4).

Page 287: Seminário de Segurança da Amazônia

285285

47,144,6

42,3 40,2 38,235,7 33,7 31,9 30,4 28,4 26,8 25,6 24,3 23,6 22,6 21,2 20,2 19,3

75,871,4

67,163,0

59,156,4

53,350,4

47,144,3

41,4 39,2 37,2 35,5 33,9 31,6 29,727,2

28,3 26,9 25,7 24,5 23,520,5 19,2 17,5 18,7 17,2 17,0 16,4 16,0 15,8 15,0 13,8 13,3 12,9

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Taxa por 1000 NV

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Meta para o Brasil em 2015: 15,7 óbitos por 1000 NV

Figura 4 – Evolução das Taxas de Mortalidade Infantil no Brasil e grandes regiões. 1990 – 2007

A região apresenta uma grande concentração de incidência de casos de doenças infecciosas e

parasitárias com destaque para a malária, dengue, hepatites virais e vários casos de síndromes

febris por diversos agentes etiológicos.

No caso da malária, em 2008 ocorreram 314.830 casos na região (Figura 5). Os determinantes da

permanência em altos níveis está associada à grande extensão geográfica, à dificuldade de acesso aos

serviços de saúde, ao intenso processo migratório, e a fatores ambientais propícios para a proliferação

do vetor. Nos últimos anos foi observada redução do número de casos graças a ações de diagnóstico

precoce e tratamento realizado pelos profissionais da estratégia saúde da família e a introdução de

novas drogas no esquema terapêutico da doença.

Page 288: Seminário de Segurança da Amazônia

286

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

ano

nº d

e ca

sos

Figura 5. Número de casos de malária na Amazônia, 1990 a 2008

No campo da saúde ambiental vários desafios podem ser identificados, a partir dos indicadores uti-

lizados pelo Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental, que utiliza informações

oriundas das diversas bases de dados em saúde, meio ambiente e infraestrutura.

Com relação às Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), estão

frequentemente associadas ao abastecimento de água deficiente, esgotamento sanitário ina-

dequado, contaminação por resíduos sólidos ou condições precárias de moradia. São consi-

derados para o cálculo das DRASI principalmente os seguintes agravos: cólera, febre tifóide,

infecções por Escherichia coli, infecções intestinais, amebíase, diarreia e gastroenterite, leptos-

pirose, dengue, febre amarela, hepatite A, malária, leishmaniose, doença de Chagas, esquistos-

somose, cisticercose, filariose, ancilostomose, ascaridíase.

Page 289: Seminário de Segurança da Amazônia

287287

A análise das internações por agravos relacionados ao saneamento ambiental inadequado na

região da Amazônia Legal revelou um aumento progressivo das internações por DRSAI, entre

2007 e 2009, com a concentração de casos nas faixas etárias de menores de quatro anos.

Entre as condicionantes socioambientais, a cobertura da rede de esgoto domiciliar se apresenta

com baixa capacidade de cobertura, segundo as informações disponíveis no SIAB, em 2009.

O Acre, que foi o estado com maior cobertura, não chegou a 20%, alcançando apenas 17%

do total dos domicílios. Já os estados do PA, AP, TO e MA não atingiram 10% dos domicílios,

predominando a utilização de fossas sépticas, variando entre 50% a 90% dos domicílios na re-

gião. A distribuição da oferta do serviço se concentra em poucos municípios que, na média de

atendimento, apresentam cobertura abaixo de 30% dos seus domicílios (MELLO, 2010).

Os cadastros do SISAGUA das formas de abastecimento de água, em 2009, conta com informa-

ções de 54% dos municípios da Amazônia legal, predominando informações sobre os sistemas

de abastecimento de água (SAA), seguindo com as soluções alternativas coletivas (SAC) e insi-

piente informação sobre as soluções alternativas individuais (SAI).

No Quadro 2, são apresentados os cadastros dos municípios por estados. Tal situação não per-

mite o mapeamento das áreas onde predomina a utilização de formas de abastecimento sem

qualquer tratamento, que representa uma vulnerabilidade à saúde da população, dificultando a

ação de mitigação do impacto do consumo de água sem qualidade, nos índices de internação

por DRSAI.

Page 290: Seminário de Segurança da Amazônia

288

UFTotal de

Municípios

saa saC sai

2007 2008 2009 2007 2008 2009 2007 2008 2009

AC 22 5 7 11 1 1 1 0 2 5

AM 62 44 40 28 17 21 17 15 10 4

AP 16 7 2 2 0 0 1 0 0 2

MA* 217 4 43 29 4 14 16 3 5 8

MT 141 31 115 128 4 17 22 2 9 14

PA 143 9 29 45 16 33 39 13 27 33

RO 52 7 18 9 0 3 3 1 6 5

RR 15 9 8 7 6 6 5 2 4 2

TO 139 3 18 37 2 17 27 1 9 21

Brasil 5.564 2.793 3.740 3.824 1.079 1.718 1.813 927 1.498 1.621

Quadro 2 – Total de municípios com cadastros por formas de abastecimentoFonte: Sisagua – novembro de 2009, * o estado do Maranhão foi incorporado na sua totalidade para a realização desse estudo.

SAA - Sistema de Abastecimento de Água; SAC - Solução Alternativa Coletiva; SAI - Solução Alternativa Individual, de acordo com

o art. 4º, incisos II e III da Portaria MS nº 518/2004.

Das informações que constam no SISAGUA, os percentuais do cumprimento de amostras pela

vigilância, determinadas pela Portaria MS 518/2005, nos anos de 2007 a 2009 (Quadro 3), para

os parâmetros turbidez, cloro residual, flúor e coliformes totais, não atingiu mais de 34% das

metas para os estados da região, mostrando a fragilidade das ações de controle da qualidade

da água consumida na região.

Page 291: Seminário de Segurança da Amazônia

289289

UFTurbidez Cloro residual Fluoreto Coliformes totais

2007 2008 2009 2007 2008 2009 2007 2008 2009 2007 2008 2009

AC 8,06 16,95 32,36 0,54 2,63 2,73 3,58 1,95 1,43 12,56 19,33 30,47

AM 5,26 10,80 9,56 5,60 6,30 6,59 0,02 0,00 0,00 8,28 12,71 10,72

AP 9,20 14,60 5,92 9,22 12,98 3,12 0,00 0,00 0,26 10,64 16,16 6,86

MA* 1,60 1,83 2,08 1,30 1,26 1,50 2,09 0,29 2,34 1,72 1,99 2,24

MT 3,13 7,47 17,20 1,98 6,12 19,63 0,01 1,55 0,53 1,29 9,03 14,26

PA 0,33 6,87 4,83 0,01 1,32 0,44 0,00 0,00 0,01 0,37 7,27 5,13

RO 0,18 0,70 6,67 0,14 0,54 6,73 0,00 0,00 0,00 0,10 1,13 1,54

RR 1,42 1,37 1,70 1,60 28,81 32,02 0,00 0,00 0,00 1,69 1,77 2,52

TO 6,17 21,39 28,95 5,10 6,35 6,85 0,00 0,01 0,01 7,01 23,52 32,37

Brasil 11,44 20,20 22,05 8,06 12,83 15,90 6,60 11,18 10,72 11,65 21,04 23,27

Quadro 3 – Percentuais de cumprimento pela Vigilância, de amostras dos parâmetros de acordo com a Diretriz Nacional (Portaria 518/2004)

* o estado do Maranhão foi incorporado na sua totalidade para a realização desse estudo.

fonte: SiSaGua, 2010.

Como resultante, as internações por DRSAI na região da Amazônia Legal totalizaram 154.297,

no período de 2007 a 2009. Observou-se que as internações concentraram-se em duas faixas

etárias: < 1 ano e 1-4 anos, com 3.972 e 2.134 internações/100.000 hab., respectivamente.

Não foi observada diferença na incidência das internações por sexo.

A mortalidade por DRSAI foi de 6 óbitos/1.000 hab. no período analisado (Quadro4).

Page 292: Seminário de Segurança da Amazônia

290

Caracterís-

tica

No Casos1População residente da

amazônia legal2

incidência (x100.000

hab.)

Drsai

(n=154.297)

Dra

(n=29.184)

iE

(n=2.503)Drsai Dra iE

Sexo

Masculino 75.741 15.204 1.258 11.777.283 643 129 11

Feminino 78.556 13.980 1.246 11.577.492 679 121 11

Faixa etária em anos

< 1 18.990 2.665 82 478.035 3.973 557 17

1 – 4 42.261 8.091 452 1.980.796 2.134 408 23

5 – 14 24.081 8.413 332 5.026.074 479 167 7

15 – 49 46.333 7.458 1.441 12.772.054 363 58 11

> 50 22.632 2.557 196 3.097.816 731 83 6

CaracterísticaNo Óbitos3 Óbitos população residente

da Amazônia Legal

Mortalidade (x1.000 hab.)

DRSAI DRA IE DRSAI DRA IE

Óbitos

Sim 557 51 68 95.328 6 1 1

Quadro 4 – Descrição dos casos de Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), Doenças Respiratórias Associadas à Poluição Atmosférica (DRA) e Intoxicações Exógenas (IE) na região da Amazônia Legal, 2007 a 20091apenas informações válidas foram contabilizadas; 2ano-base: 2008.

fonte: Sistema de informação Hospitalar (SiH/dataSuS); Sistema de informação de agravos de notificação (Sinan/data-

SuS); Sistema de informação sobre Mortalidade (SiM/dataSuS).

A análise da distribuição mensal das internações por DRSAI revelou um aumento nas interna-

ções no primeiro e quarto trimestres para os três anos analisados, com valor máximo em janeiro

de 2008, quando foram notificadas 5.400 internações (Figura 6).

Page 293: Seminário de Segurança da Amazônia

291291

Figura 6 – Internações por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) na região da Amazônia Legal, 2007 a 2009fonte: Sistema de informação Hospitalar (SiH/dataSuS).

A espacialização das internações por DRSAI nos município da Amazônia Legal indica que as internações

estão distribuídas em todos os estados da região, mas concentram-se em municípios do Pará e Mara-

nhão, que possuem as maiores populações absolutas da região (Figura 7).

Page 294: Seminário de Segurança da Amazônia

292

Figura 7 – Distribuição das internações por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) nos municípios de abrangência da Amazônia Legal, 2007 a 2009fonte: Sistema de informação Hospitalar (SiH/dataSuS).

Ressalta-se que, na Amazônia, a salubridade, refletida na mortalidade infantil e na esperança de vida,

em geral, é maior nas áreas rurais ou nas áreas mais remotas, onde há maior acesso aos alimentos e à

água e menor nível de contaminação, embora os serviços de saúde sejam menos acessíveis. Em gran-

de parte da macrorregião amazônica do Arco do Povoamento Adensado, como também em alguns

pontos específicos da Amazônia Central e da Amazônia Ocidental, observa-se amplo leque de danos

ambientais, tais como perda de biodiversidade, assoreamento de rios e igarapés, poluição das águas,

sedimentos e biota por mercúrio, alteração do ciclo das chuvas, empobrecimento dos solos, poluição

por pesticidas, poluição atmosférica por fumaça, esgotamento de estoques pesqueiros e extinção co-

mercial de espécies madeireiras valiosas.

Page 295: Seminário de Segurança da Amazônia

293293

Intoxicações Exógenas

Com relação às Intoxicações Exógenas (IE), os casos confirmados no período totalizaram 2.503

na região da Amazônia Legal. Observou-se que as internações concentraram-se em duas faixas

etárias: < 1 ano e 1-4 anos, com 17 e 23 casos/100.000 hab., respectivamente. A mortalidade

por IE foi de 1 óbito/1.000hab. no período analisado (Figura 8).

Figura 8 – Casos confirmados de Intoxicação Exógena na região da Amazônia Legal, 2007 a 2009fonte: Sistema de informação de agravos de notificação (Sinan/dataSuS).

Page 296: Seminário de Segurança da Amazônia

294

A análise da distribuição dos casos indica um aumento progressivo das notificações no período analisa-

do, com valor máximo em maio de 2009, quando foram notificados 119 casos.

A espacialização dos casos de IE nos município da Amazônia Legal (Figura 9) indica que estão distribu-

ídos em todos os estados da região, mas concentram-se em municípios do Mato Grosso e Tocantins,

duas das principais frentes agroindustriais da região, predominando a cultura da soja e a pecuária bo-

vina, evidenciando o peso da contaminação por agrotóxico no total de IE.

Figura 9 – Distribuição dos casos confirmados de Intoxicação Exógena acumulados na região da Amazônia Legal, 2007 a 2009fonte: Sistema de informação de agravos de notificação (Sinan/dataSuS).

Page 297: Seminário de Segurança da Amazônia

295295

Figura 10 – Área com solos contaminados ou potencialmente contaminados na Amazônia legalfonte: Sissolo.

Em relação às Doenças Respiratórias Associadas à Poluição Atmosférica (DRA) às internações hospitala-

res, na região da Amazônia Legal, totalizaram 29.184 internações no período, de 2007 a 2009 (figura

11). A mortalidade por DRA foi de 1 óbito/1.000 hab. no período analisado.

Page 298: Seminário de Segurança da Amazônia

296

Figura 11 – Internações por Doença Respiratória Associada à Poluição Atmosférica (DRA) na região da Amazônia Legal, 2007 a 2009fonte: Sistema de informação Hospitalar (SiH/dataSuS).

A análise da distribuição das internações indica um aumento das notificações nos meses de

março, abril e maio para os três anos analisados, com valor máximo em março de 2009, quando

foram notificadas 2.062 internações. A espacialização dos casos de DRA nos município da Ama-

zônia Legal indica que estão distribuídos em todos os estados da região, mas concentram-se em

municípios do Pará e Rondônia (Figura 12).

Page 299: Seminário de Segurança da Amazônia

297297

Figura 12 – Distribuição das Internações por Doença Respiratória Associada à Poluição Atmosférica (DRA) na região da Amazônia Legal, 2007 a 2009fonte: Sistema de informação Hospitalar (SiH/dataSuS).

A espacialização da concentração máxima de PM 2,5 e de focos de queimadas, para o mesmo período,

com a utilização do Sistema de Informação Ambiental Integrado a Saúde Ambiental (SISAM), evidencia

que o principal fator de poluição atmosférica da região são as queimadas, relacionando novamente às

atividades agrícolas e exploração madeireira (figuras 13 e 14).

Page 300: Seminário de Segurança da Amazônia

298

Figura 13 – Concentração de Poluentes PM 2,5 máximo, dos anos de 2007, 2008 e 2009fonte: SiSaM, 2010.

Figura 14 – Focos de queimada nos anos de 2007, 2008 e 2009fonte: SiSaM, 2010.

Os desastres de origem natural na região apresentam a predominância de eventos relacionados a fe-

nômenos climáticos extremos, em sua maioria, relacionados a enchentes. No período analisado (2007

a 2009), mais de 400 municípios notificaram a ocorrência de desastres (SNDC, 2010). Os Estados do

Maranhão, Pará e Amazônia são os que apresentam o maior número de municípios atingidos nesse

período.

Page 301: Seminário de Segurança da Amazônia

299299

Além desse perfil de morbimortalidade e dos indicadores de saúde ambiental da região, vários desafios

se agregam dada a complexidade sócio-espacial. Dentre esses se destacam:

• alto crescimento demográfico, urbanização e adensamento populacionais em alguns polos nos

estados;

• falta de integração entre as políticas de desenvolvimento econômico e ambiental;

• a grande iniquidade da saúde da população indígena;

• existência de vazios assistenciais e persistente dificuldade de fixação de recursos humanos;

• falta ou inadequação de infraestrutura em saneamento;

• fragilidade da ação do controle social na região e políticas públicas sociais desarticuladas;

• a lógica do financiamento não produz equidade por não considerar as características regionais e

sub-regionais;

• processo normativo inadequado para acolher as especificidades regionais; e

• fragilidade na institucionalização e capacidade de gestão governamental;

Os cenários que se delineiam para a Amazônia num futuro próximo com a construção de grandes em-

preendimentos e formas de ocupação e exploração da riqueza da região, exigem do Estado brasileiro

medidas que diminuam o impacto ambiental e na saúde e qualidade de vida da população. Entre essas

medidas destacam-se:

• integração e articulação entre as políticas de desenvolvimento econômico e as políticas de saúde

a fim de minimizar o impacto na saúde humana;

• articulação e integração entre as políticas sociais para identificar e reduzir as desigualdadesentre

grupos populacionais em situação de vulnerabilidade (indígenas, grupos excluídos nas grandes

cidades, populações dos campos e florestas em situação de exclusão e exploração);

• criação da Secretaria de Atenção a Saúde do Índio e revisão do modelo assistencial;

• fortalecimento da capacidade institucional dos estados para a implantação e gestão das políticas

públicas;

• criação e qualificação dos órgãos de gestão e fiscalização do meio ambiente nos estados;

• aumento do financiamento federal para as políticas sociais e ambientais na região; e

• fortalecimento do controle social e promover estratégias de empoderamento da população.

Page 302: Seminário de Segurança da Amazônia

300

A Atenção a Saúde na Amazônia

As características da região descritas na seção anterior, com a grande extensão do território amazônico,

a concentração da população em alguns polos metropolitanos, a grande dificuldade de deslocamen-

tos e a diversidade étnico-cultural da população são desafios para a expansão dos serviços de saúde.

A região é marcada pelo baixo número de unidades assistenciais, pelo baixo acesso da população e pela

grande dependência de centros de outras regiões do País.

Com relação à atenção básica na região, houve uma expansão importante entre 2006 e 2010, mas os

Estados do Amazonas, Pará e Rondônia ainda apresentam baixas coberturas de equipes da estratégia

saúde da família (Figura 15).

Figura 15 – Cobertura das Equipes de Saúde da Família, Brasil, junho de 2010fonte: Siab, dab/SaS/MS.

Page 303: Seminário de Segurança da Amazônia

301301

Os principais desafios à expansão e qualificação da saúde da família na região são:

• dificuldade em aumentar a cobertura em municípios de grande porte;

• fixação dos profissionais nos municípios;

• deficiências na qualidade da atenção;

• financiamento insuficiente; e

• modelos de equipes/unidades básicas inadequados para a Amazônia.

Entre as perspectivas e estratégias para expandir o acesso e a atenção básica destacam-se:

• estratégias para lotar profissionais nos vazios assistenciais: serviço civil obrigatório; criação de

carreiras nos estados e/ou federal, desprecarização do trabalho;

• formação de profissionais: ampliação de vagas nos cursos de medicina e de residências médicas

e multiprofissionais em atenção primária;

• formação através de ensino a distância (EAD) via UNASUS – Garantia de conectividade e equipa-

mentos;

• Aprimoramento da telemedicina: discussão de casos, apoio diagnóstico, formação;

• novos arranjos de equipes da saúde da família, Unidades de saúde móveis – viabilização de des-

locamentos na região por via aérea e barco;

• ampliar os Núcleos de Apoio a Saúde da Família (NASFs); e

• Aumentar os incentivos financeiros diferenciados para a Amazônia.

Com relação à atenção de média/alta complexidade, a situação é mais complexa e as dificuldades de

acesso são maiores que a atenção primária.

Uma avaliação da disponibilidade de leitos hospitalares de cuidados intensivos mostra que os estados

da região apresentam um número de leitos de UTI por 10 mil habitantes inferiores à média nacional.

Estados como Paraná (1,78 leitos por 10 mil Hab.), Distrito Federal (2,65), São Paulo (1,91) apresentam

relação leitos/habitantes muito superiores aos Estados do Acre, maranhão e Roraima, por exemplo

(Quadro 5).

Page 304: Seminário de Segurança da Amazônia

302

UF Núm. leitos UTi leitos por hab.

AC 36 0.52

AM 253 0.75

AP 51 0.81

MA 376 0.59

MT 393 1.31

PA 624 0.84

RO 162 1.08

RR 23 0.55

TO 112 0.87

Quadro 5 – Leitos de UTI existentes e leitos por 10 mil Habitantes, Estados da Amazônia Legal – Junho de 2010.fonte: dae/SaS/MS.

Entre os desafios para o aumento da atenção de média e alta complexidade na região podem ser res-

saltados:

• os serviços são insuficientes na maioria dos estados: déficit de leitos, procedimentos e profissio-

nais especializados;

• dificuldade de fixação dos profissionais nos municípios;

• deficiências na qualidade da atenção;

• financiamento insuficiente;

• a organização dos serviços em redes regionalizadas é insuficiente; e

• mecanismos de regulação são incipientes e não funcionam bem.

Page 305: Seminário de Segurança da Amazônia

303303

As principais propostas para melhorar essa atenção são:

• estratégias para lotar profissionais nos vazios assistenciais: criação de carreiras nos estados e/ou

federal;

• formação de profissionais: ampliação de vagas nos cursos de medicina e de residências de espe-

cialidades;

• formação através de ensino a distância (EAD) via UNASUS – Garantia de conectividade e equipa-

mentos;

• relacionamento com centros de excelência e uso intensivo da telemedicina: discussão de casos,

apoio diagnóstico, educação continuada;

• construção e equipamento de novos serviços de média e alta complexidade;

• organização de redes regionalizadas assistenciais sob coordenação da atenção primária obede-

cendo critérios de escala;

• criação de unidades móveis;

• aumentar o financiamento para leitos e apoio diagnóstico e procedimentos; e

• estruturar os complexos reguladores estaduais e interestaduais.

Fortalecimento da Vigilância em Saúde na Amazônia

A análise das ações de vigilância em saúde no Brasil nos últimos anos mostra avanços importantes após

a criação da Secretaria de Vigilância em Saúde na estrutura do Ministério da Saúde.

Entre esses avanços podemos destacar: a criação do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância

em Saúde e Unidade de Resposta às Emergência em Saúde Pública (CIEVS) e a rede Cievs nos estados

e municípios de capitais; o aprimoramento do Sistema de Vigilância de Agravos de Notificação (SINAN)

e dos sistemas de informações de mortalidade e nascidos vivos; a estruturação da vigilância em saúde

ambiental e a implantação dos sistemas de vigilância da água, do ar e do solo; a estruturação de pro-

gramas de controle de doenças, com ênfase nas transmitidas por vetores, como é o caso do programa

nacional de controle da dengue e da malária, que tem impactos importantes na região amazônica; e a

expansão da coberturas vacinais e dos imunobiológicos disponíveis para a população.

Page 306: Seminário de Segurança da Amazônia

304

No entanto, na região da Amazônia os avanços foram menores em relação às demais regiões. Com

relação aos sistemas de informações, os estados da região apresentam coberturas mais baixas e veloci-

dade de melhora mais reduzida (Figura 16). Os estaduais Cievs estão estruturados (Figura 17), mas nem

todos ainda implantados; a Vigilância em Saúde Ambiental necessita de melhor estruturação.

Figura 16 – Qualidade do SIM – Proporção (%) de óbitos com causa mal definida, por região de residência, 2002 a 2008

Em relação ao modelo de vigilância das doenças endêmicas na região, cada vez mais é necessário

modificar o modelo de vigilância e intervenção, dando menos ênfase ao controle do vetor e ao agente

etiológico e cada vez mais intervindo nos determinantes e condicionantes ambientais e sociais.

Um exemplo típico é a malária, caso em que as intervenções devem se concentrar cada vez mais nos

seus determinantes, tais como projetos de extrativismo mineral e vegetal, de assentamentos de reforma

agrária, de ocupação intensa e desordenada das áreas periféricas das cidades, de alterações ambientais

que potencializam a formação de criadouros, utilizando mais as estratégias e ações voltadas para a

mobilização política, articulação intersetorial, educação e campanhas de massa, do que para o controle

dos vetores e tratamento das vítimas.

Page 307: Seminário de Segurança da Amazônia

305305

Figura 17 – Mapa dos CIEVS Estaduais por classificação. Brasil, período de julho de 2007 a maio de 2010

Os principais desafios da vigilância em saúde na região são:

• fragilidade dos Serviços de vigilância em saúde nos estados da região, exceto o Estado do Ama-

zonas;

• insuficiência e alta rotatividade dos profissionais de VS;

• deficiências nos sistemas de informações em saúde;

• financiamento insuficiente por parte do Governo Federal e estaduais para as ações de VS;

• pouca integração entre as ações de vigilância e de atenção primária;

• falta de apoio laboratorial par a VS; e

• falta de articulação entre as ações de VS e de Saneamento básico e intervenções ambientais.

Page 308: Seminário de Segurança da Amazônia

306

As principais propostas para o aprimoramento do sistema de vigilância na Amazônia são:

• fortalecimento das estruturas de VS nos estados e municípios: implantação dos CIEVS em todos

os estados da região;

• fortalecimento da Vigilância ambiental através da inserção nos processo de planejamento, licen-

ciamento e implementação dos empreendimentos que apresentam impacto ambiental e na saúde

da população (Figura 17);

• articulação e integração das ações de vigilância com as ações ambientais;

• qualificação dos profissionais de VS;

• qualificação dos sistemas de informações epidemiológicas e de saúde ambiental com ênfase no

aumento qualitativo e quantitativo das informações de base local;

• integração das ações de VS com a atenção primária – Estratégia Saúde da Família;

• inserção das ações de vigilância como um dos componentes de atenção nas redes assistenciais

regionalizadas;

• incrementar o valor diferenciado do Piso de Vigilância e promoção da saúde para os estados da

Amazônia.

• implementar de forma articulada com a defesa civil um sistema de vigilância e previsibilidade de

desastres naturais na região; e

• articulação e integração das ações de vigilância em Saúde com as ações de segurança da Ama-

zônia;

Conclusão

A avaliação das condições socioambientais, da rede instalada de serviços de saúde e da estrutura das

ações de vigilância e resposta às urgências de saúde pública na região, apontam para a necessidade

de planejamento, investimento diferenciado em busca da equidade e desencadeamento de ações

construídas de forma participativa com os entes federados da região para reduzir as desigualdades

e superar situações de vulnerabilidades hoje existentes.

Page 309: Seminário de Segurança da Amazônia

307307

Tal condição possibilita o planejamento de longo prazo focado na melhoria da resposta técnica dos

atores envolvidos na atividade de vigilância, no fomento da análise de situação com base territorial

dos principais agravos à saúde humana na região e no apoio aos estados e municípios, aumentando

sua capacidade de resposta às vulnerabilidades e fatores de riscos presentes no seu território.

Finalmente, há pela frente dois cenários:

• O primeiro é a opção por um modelo de uso e ocupação do território que prioriza o crescimento

econômico estrito, em detrimento da sustentabilidade socioambiental. As u consequências futu-

ras são a ampliação dos riscos à saúde humana, vinculados à degradação dos ecossistemas, à ca-

rência ou ausência de infraestrutura nos aglomerados urbanos e rurais, pressão demográfica e ao

passivo ambiental de grandes empreendimentos com geração de impactos. Esse cenário aponta

claramente para o aumento das doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado, das

doenças respiratórias, assim como da ocorrência de desastres de origem natural.

• O segundo cenário se apresenta com a estruturação de políticas de ordenamento territorial e

desenvolvimento econômico, em consonância com a capacidade de suporte dos ecossistemas

presentes na região, buscando agregar ganho social às populações, impactando de forma positi-

va nas condicionantes sociais de saúde dessas populações. Tais ações potencializam a capacidade

de resposta da Vigilância em saúde, reduzindo riscos, e diminuem os custos de atenção à saúde.

Para que esse cenário possa ser configurado, faz-se necessário investimento em planejamento

urbano, saneamento básico, saúde pública e educação, desenvolvimento sustentável e promoção

da saúde da população que vive e constrói a região amazônica.

O segundo cenário possibilita não só a sustentabilidade e melhoria da qualidade de vida da região

amazônica, mas também de todas as regiões do País, uma vez que promove o desenvolvimento com

garantia da preservação da biodiversidade, dos mananciais, das florestas e da vida dos homens e

mulheres.

Page 310: Seminário de Segurança da Amazônia

308

Referências

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ABRASCO, 2009.

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Ateliê Editorial, 2003.

BECKER, B. K. Articulando o complexo urbano e o complexo verde na Amazônia in CGEE, Um

projeto para a Amazônia no século 21: desafios e contribuições - Brasília, DF: Centro de Gestão

e Estudos Estratégicos, 2009.

BRASIL, Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM, 2010. www.sudam.

gov.br

COSTA, AM; PONTES, CAA; MELO, CH; LUCENA, RCB; GONÇALVES; GALINDO, EF. Classificação

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informações em saúde no Brasil: possibilidades e limitações de análise.XXVIII Congresso Intera-

mericano de Engenharia Sanitária e Alimentar, México, 2002.

FREITAS, CM; GIATTI, LL. Indicadores de sustentabilidade ambiental e de saúde na Amazônia

Legal, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(6):1251:1266, 2009.

KOHLHEPP. G. Conflitos de interesse no ordenamento territorial da Amazônia brasileira, Estudos

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MELLO, Regina Maria, Análise de vulnerabilidade de municípios quanto ao tratamento de água e ou-

tros indicadores demográficos e socioecônomicos referentes aos sistemas de abastecimento de água.

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Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia – IMAZON. www.imazon.org.br/

novo2008/sobreamazonia.php?idsubcat=52&cat=GaleriadeMapas.

PORTARIA Nº 3.252 DE 22 DE DEZEMBRO DE 2009. DOU-245 PG-65-69 SEÇÃO 1 DE 23.12.09

SNDC – Secretaria Nacional de Defesa Civil

SISAM – Sistema de Informação Ambiental Integrado a Saúde Ambiental, http://sisam.cptec.inpe.br/

msaude/index.html

Page 311: Seminário de Segurança da Amazônia

309

ProGramas E ProjETos DE EDucaÇÃo Profis­sionalizanTE E ErraDicaÇÃo Do analfabETismo:

siTuaÇÃo aTual, PErsPEcTivas fuTuras E rEflExos Para o DEsEnvolvimEnTo nacional

GETÚLIO MARQUES FERREIRA

Introdução

A apresentação de um trabalho que discorre sobre os problemas e soluções para o desenvolvimento da

Amazônia no âmbito da educação profissionalizante e da erradicação do analfabetismo, requer uma

contextualização mais abrangente a respeito de políticas públicas voltadas para a educação de modo

geral. No escopo deste trabalho cabe um brevíssimo resumo histórico, pinçado de fatos e do ordena-

mento legal, que mesmo fragmentados permitem acompanhar a visão governamental do processo

educacional ao longo do século passado e início do corrente.

A Constituição Federal promulgada em 5 de outubro de 1988, a Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996,

que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a lei 10.172 de 9 de janeiro de 2001, que

aprova o Plano Nacional de Educação e mais recentemente o Plano de Desenvolvimento da Educação

do Ministério da Educação– (MEC), lançado em abril de 2007, juntamente com os projetos e formula-

ções produzidos nas secretarias do MEC responsáveis pela alfabetização e educação de jovens e adultos

e pela educação profissional e tecnológica, serão o ponto de apoio para as reflexões que se seguem.

Por último, a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE), realizada em 2007, apresenta pela primeira vez um suplemento especial – Aspectos

Complementares da Educação de Jovens e Adultos e da Educação Profissional, rico em informações

que subsidiarão parte da análise e das considerações apresentadas neste documento.

Page 312: Seminário de Segurança da Amazônia

310

Uma breve contextualização do marco legal

O desafio para a instalação de um plano educacional que atendesse às necessidades e à diversidade do

nosso País remonta ao tempo da instalação da República do Brasil. As várias reformas educacionais que

aconteceram no decorrer do século passado demonstraram a preocupação governamental com a ins-

trução da população e tiveram abrangência em todos os níveis e modalidades de ensino. A sociedade

contemporânea, sintonizada com as mudanças ocorridas no Brasil, nos aspectos econômicos, sociais e

políticos e com a participação em maior ou menor grau de todos os seus atores, assumiu a educação

como elemento fundamental, pilar das transformações necessárias para que se alcance o esperado

desenvolvimento do País.

A presença da sociedade pode ser sentida no manifesto ao povo e ao governo brasileiro, lançado em

1932 por um grupo de educadores, que ficou conhecido como “Manifesto dos Pioneiros da Educação

Nova”, com o título A Reconstrução Educacional no Brasil – ao povo e ao governo, que principiou

a ideia de fixar em Lei um Plano Nacional de Educação. Esta ideia esteve presente em todas as consti-

tuições brasileiras, de 1934 até a de 1998, com exceção da Carta de 1937. Na atual Constituição, seu

art. 214, aponta para o estabelecimento deste plano nacional com força de lei e de longo prazo, que

assegura estabilidade às ações do governo na área educacional. Pouco antes, a Lei 9.394 de 22 de

dezembro de 2006 que estabelece as Diretrizes e bases da Educação Nacional, determina que a União

elabore o Plano Nacional de Educação, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para

Todos, em colaboração com os entes federados: estados, Distrito Federal e municípios.

O Plano estabelecido para o decênio 2001-2010 é um marco histórico no processo educacional bra-

sileiro à medida que estabelece diretrizes, objetivos e metas que desafiam os órgãos governamentais,

em todas as esferas de poder, a estabelecerem um novo olhar sobre a diversidade étnica, geográfica,

econômica, social e educacional do País. Entre os objetivos do Plano Nacional de Educação, como itens

importantes para o desenvolvimento deste trabalho, podem-se citar: a elevação do nível de escolarida-

de da população; a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis; e a redução das desigualdades

sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública.

Especificamente no que se refere à alfabetização de jovens e adultos a Constituição Federal determina,

em seu art. 214, I, como um dos objetivos do Plano Nacional de Educação, a integração de ações do

Poder Público que conduzam à erradicação do analfabetismo. Essa integração exige que governos e

Page 313: Seminário de Segurança da Amazônia

311311

sociedade mobilizem recursos humanos e financeiros por meio de estratégias que resultem na redução

do déficit do atendimento no ensino fundamental, para que em futuro breve o País apresente cada

vez menos jovens e adultos que não tiveram acesso ou não lograram completar os ciclos do ensino

fundamental obrigatório.

Entre os objetivos e metas do PNE, no que se trata da educação de jovens e adultos pode-se enumerar

as metas contidas nos itens 1, 2 e 3, imprescindíveis à construção da cidadania no País, que, resistentes

ao esforço nacional da União, estados, Distrito Federal, municípios e sociedade organizada, não foram

alcançados:

1. Estabelecer, a partir da aprovação do PNE, programas visando a alfabetizar 10 milhões de jovens

e adultos, em cinco anos e, até o final da década, erradicar o analfabetismo

2. Assegurar, em cinco anos, a oferta de educação de jovens e adultos equivalente às quatro séries

iniciais do ensino fundamental para 50% da população de 15 anos e mais que não tenha atingido

este nível de escolaridade

3. Assegurar, até o final da década, a oferta de cursos equivalentes às quatro séries finais do ensino

fundamental para toda a população de 15 anos e mais que concluiu as quatro séries iniciais.

(BRASIL, 2001)

Apesar disso, todos os indicadores apontam ligeiro progresso no que concerne à redução nas taxas

de analfabetismo, no entanto, o número de analfabetos no Brasil ainda é excessivo, para um país que

busca o desenvolvimento com soberania e que tem como maior desafio educacional a erradicação do

analfabetismo, condição essencial para a erradicação de outra grande praga nacional: a miséria. Não

por acaso os indicadores da última pesquisa PNAD - 2007, apontam para a profunda desigualdade

regional na oferta de oportunidades educacionais, o que consolida a concentração da população anal-

fabeta ou insuficientemente escolarizada nos bolsões de pobreza, especialmente nas regiões Nordeste

e Norte do País.

Quando se refere à educação profissional e tecnológica do País a Lei de Diretrizes e Bases da Educa-

ção Nacional apresenta pela primeira vez um capítulo específico para essa modalidade de educação,

art. 39 a 42. Reconhece-se a importância da educação profissional e tecnológica, “(...) no cumprimento

dos objetivos da educação nacional integrada aos diferentes níveis e modalidades de educação e às

dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia” (BRASIL, 2006)

Page 314: Seminário de Segurança da Amazônia

312

Sintonizada com as necessidades de desenvolvimento brasileiro a educação profissional e tecnológica é

anunciada na LDB de forma flexível e abrangente, consideradas as especificidades e características das

demandas educacionais da população, como apresenta os dois artigos da Lei, a seguir:

Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional e tecnológica, inclusive no

trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosse-

guimento ou conclusão de estudos.

Art. 42. As instituições de educação profissional e tecnológica, além dos seus cursos

regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionados a matrí-

cula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade.

(BRASIL, 2006)

Por sua vez, o Plano Nacional de Educação reconhece a heterogeneidade e diversidade da oferta dessa

modalidade de educação. A educação profissional e tecnológica é ofertada nas redes federais e estadu-

ais, pelos programas do Ministério do Trabalho, das secretarias estaduais e municipais do trabalho e dos

sistemas nacionais de aprendizagem e por instituições empresariais, sindicais comunitárias, filantrópicas

e privadas. Essa heterogeneidade e diversidade são consideradas elementos positivos por permitir o

atendimento a uma demanda muito variada. Ao mesmo tempo são apontados fatores preocupantes

como a pequena oferta nos estabelecimentos públicos, especialmente na Rede Federal, a qual está as-

sociada os altos custos para sua instalação e manutenção, o que lhes permite manter a alta qualidade

do ensino nessa modalidade. A nova visão governamental trabalha com a concepção de investimento

em educação, em contraposição ao custo, como se pode observar no Plano de Desenvolvimento da

Educação do MEC.

Outro viés positivo presente no PNE é aquele que define diretrizes que buscam superar no País o proces-

so perverso que, segundo a Lei 10.172 de 2001, “(...) selou a educação profissional de qualquer nível,

mas, sobretudo o médio, como forma de separar aqueles que não se destinariam às melhores posições

na sociedade.” (Brasil, 2001, item 7.1). Nesta Lei, as diretrizes avançam nessa superação:

(...) ao prever que o cidadão brasileiro deve galgar - com o apoio do poder público

– níveis altos de escolarização, até porque estudos têm demonstrado que o aumento

de um ano na média educacional da população economicamente ativa determina um

incremento de 5.5% do PIB (Produto Interno Bruto). Nesse contexto, a elevação da

escolaridade do trabalhador do trabalhador coloca-se como essencial para a inserção

competitiva do Brasil no mundo globalizado. (BRASIL, 2001)

Page 315: Seminário de Segurança da Amazônia

313313

As metas do Plano Nacional de Educação apontam para a implantação de uma educação profissional

que busca generalizar as oportunidades de formação para o trabalho e de treinamentos, com enfoque

especial no trabalhador rural.

Percebe-se que o Plano Nacional de Educação apresenta um bom diagnóstico dos problemas educacio-

nais, estabelece diretrizes, aponta objetivos e metas quantitativas, porém, por sua concepção aberta e

aparentemente neutra não se aprofunda em programas e ações voltadas para a melhoria da qualidade

da educação. Nesse contexto o Ministério da Educação, no ano de 2007, lançou o Plano de Desenvol-

vimento da Educação: razões, princípios e programas, com vistas a preencher as lacunas perceptíveis

na concepção e execução da gestão educacional do País, resgatando políticas de ordenação territorial

e o respeito à diversidade.

O plano de desenvolvimento da educação

O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), articula todos os níveis e modalidades de educação,

da creche à pós-graduação, tendo como centro a referência estabelecida em sua concepção

... e que perpassa a execução de todos os seus programas, reconhece na educação uma

face do processo dialético que se estabelece entre socialização e individualização da

pessoa, que tem como objetivo a construção da autonomia, isto é, a formação de indi-

víduos capazes de assumir uma postura crítica e criativa frente ao mundo. (BRASIL, 2007)

O Plano de Desenvolvimento da Educação aproxima o Estado, responsável formal pela educação públi-

ca, dos atores sociais que interagem além do espaço escolar, quais sejam: a família, a comunidade e as

formas de interação nas quais os indivíduos participam especialmente no trabalho. O PDE harmoniza a

política nacional de educação com os objetivos da República do Brasil fixados pela Constituição Federal

de 1998, em que se pode destacar: a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; a garantia do

desenvolvimento nacional; a erradicação da pobreza e da marginalização; e a redução das desigualda-

des sociais e regionais, entre outros aspectos.

No contexto deste trabalho, faz-se importante assinalar no PDE a visão de educação alçada à condição

de eixo estruturante da ação do Estado, sem a qual não é possível garantir o desenvolvimento nacional.

Para isso, a redução das desigualdades sociais e regionais, traduzida em equalização das oportunidades

Page 316: Seminário de Segurança da Amazônia

314

de acesso à educação de qualidade, está presente em todo o seu texto, alinhado aos objetivos constitu-

cionalmente determinados a República Federativa do Brasil. Na construção desse alinhamento propõe

pensar a educação a partir dos necessários enlaces com a ordenação do território e com o desenvolvi-

mento econômico e social:

O enlace entre educação e ordenação territorial é essencial na medida em que é no

território que as clivagens culturais e sociais, dadas pela geografia e pela história, se

estabelecem e se reproduzem. Toda discrepância de oportunidades educacionais pode

ser territorialmente demarcada: centro e periferia, cidade e campo, capital e interior.

Clivagens essas reproduzidas entre bairros de um mesmo município, entre municípios,

entre estados e entre regiões do País. A razão de ser do PDE está precisamente na ne-

cessidade de enfrentar estruturalmente a desigualdade de oportunidades educacionais.

Reduzir desigualdades sociais e regionais, na educação, exige pensá-la no plano do

País. (BRASIL, 2007)

Em sua concepção, o PDE também se apresenta como um plano executivo com programas e ações

que dão u consequência às metas quantitativas associadas à qualidade e “(...) está ancorado em uma

concepção substantiva de educação que perpassa todos os níveis e modalidades educacionais (...)”

(BRASIL, 2007). Diferente da visão fragmentada de educação de programas e planos anteriores que

partia de princípios de gerência fiscal, ao considerar os investimentos como gastos, e de falsas oposi-

ções na priorização de níveis e modalidades de ensino, o PDE é concebido com visão sistêmica da edu-

cação e prioriza, em todo o seu corpo, a sua relação com a ordenação territorial e o desenvolvimento

econômico e social. No âmbito deste trabalho pode-se destacar, entre as falsas oposições: a oposição

entre o ensino médio e a educação profissional ao se proibir no ano de 1997 a oferta de curso técnico

integrado ao ensino médio e em 1998 a expansão da rede federal; a alfabetização dissociada da edu-

cação de jovens e adultos em que as ações de alfabetização se faziam fora da alçada do Ministério da

Educação desarticuladas da EJA.

Em resumo, essa nova concepção de plano educacional é assumida e estabelecida nas características

presentes nesse novo plano, como segue:

(...) o PDE sustenta-se em seis pilares: i) visão sistêmica da educação; i) territorialidade;

iii) desenvolvimento; iv) regime de colaboração; v) responsabilização; vi) mobilização

social. O PDE busca, de uma perspectiva sistêmica, dar uconsequência, em regime de

colaboração, às normas gerais da educação na articulação com o desenvolvimento

Page 317: Seminário de Segurança da Amazônia

315315

socioeconômico que se realiza no território, ordenado segundo a lógica do arranjo

educativo – local, regional ou nacional. (BRASIL, 2007)

Na sequência deste trabalho, especificamente nas considerações apresentadas sobre as políticas de

alfabetização e de educação profissional executadas nos programas e ações do Ministério da Educação,

tem-se a percepção da articulação pretendida, tuteladas pela concepção presente no PDE, que passa

do conceito à ação.

A educação de jovens e adultos no PDE

O Ministério da Educação, respeitando a visão sistêmica da educação imprescindível na concepção do

PDE, conseguiu, entre as questões previstas neste plano, incluir a educação de jovens e adultos (EJA)

no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de valorização dos Profissionais da

Educação (FUNDEB), e integrar a EJA dos anos finais do ensino fundamental ao Programa Nacional de

Inclusão de Jovens (PRO-JOVEM), e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) do ensino médio ao Programa

Nacional de Integração da Educação Profissional (PROEJA) com a Educação Básica na Modalidade de

Educação de Jovens e Adultos. Além dessas ações, está em curso um grande e complexo desafio, a

integração do Programa Brasil Alfabetizado (PBA), com a educação de jovens e adultos nas séries ini-

ciais do ensino fundamental. Para isso deve-se reconhecer que a grande oportunidade de aumentar as

taxas de efetividade dos programas de alfabetização precisa considerar a obrigatória compreensão das

dificuldades e desigualdades regionais, em que se percebe a ausência de oportunidades educacionais e

a concentração de população analfabeta nos bolsões de pobreza existentes no País. É imperativo que

se estabeleça uma forte articulação nacional apoiada pelas instâncias governamentais como condição

fundamental para a superação desse, por enquanto, permanente desafio.

A educação profissional e tecnológica no PDE

No que diz respeito à educação profissional e tecnológica, os vínculos entre educação, território e

desenvolvimento são muito mais visíveis, assim como os efeitos de sua articulação. Na busca da am-

pliação da oferta de vagas em cursos de educação profissional e tecnológica, a expansão da rede

Page 318: Seminário de Segurança da Amazônia

316

federal de educação profissional e tecnológica, que passa de 140 unidades existentes em 2002 para

354 unidades ao fim de 2010, amplia a oportunidade de oferta para jovens e adultos em todas as

regiões do País. Essa rede federal, reordenada pela transformação dos centros federais de educação

profissional e tecnológica e escolas técnicas e agrotécnicas em institutos federais de educação ciência e

tecnologia, instituídos pela Lei n. 11.892 de 29 de dezembro de 2008, presentes em todas as unidades

da federação, é o maior exemplo de política executada com visa sistêmica da educação, território e

desenvolvimento. A oferta verticalizada de cursos, desde a qualificação profissional, cursos técnicos de

nível médio, cursos de graduação em nível de licenciaturas, de tecnologias e bacharelados, entre eles

as engenharias, até a pós-graduação, apresenta um modelo singular de educação para esses institutos

federais. O Programa Brasil Profissionalizado, em parceria com os estados e com o Distrito Federal,

amplia a oferta na rede estadual por meio da construção de novas escolas, reformas e apoio educa-

cional aos educadores e gestores dessa rede. O acordo com o chamado “Sistema S”, estabelece como

política pública a oferta pelo SENAI e SENAC de vagas gratuitas correspondentes a dois terços de suas

receitas líquidas das contribuições compulsórias.

São essas diretrizes, dentre outras, que norteiam as ações e programas da Secretaria de Alfabetização

e Diversidade e da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, hoje em implementação

no País, em especial na região Norte e na Amazônia, cujos resultados serão apresentados na sequência

deste trabalho.

A alfabetização e as ações da SECAD

Os últimos dados da PNAD/2007 indicam a taxa média nacional de analfabetismo de jovens acima

de 15 anos na ordem de 9,9%. Quando se analisa a região Nordeste e a Amazônia Legal essas taxas

se alteram e se elevam, sendo que no Nordeste esses índices variam, de 16,8% em Sergipe a 25,1%

em Alagoas. Quando se faz o recorte por faixa etária também se sobressai a região Nordeste e a

Amazônia legal com os maiores índices de analfabetismo do País. A PNAD também apresenta dados

sobre a participação de jovens e adultos que frequentavam ou frequentaram cursos de alfabetização,

destacando-se que o maior objetivo que os fizeram frequentar o curso foi o de aprender a ler e escrever,

o que correspondeu a 66%. Considerando as pessoas que apontaram aprender a ler e escrever como

principal motivo para frequentar o curso, o Norte (75,1%) e o Nordeste (75%) apresentaram os maiores

percentuais observados.

Page 319: Seminário de Segurança da Amazônia

317317

Quando se trata da educação de jovens e adultos no primeiro ou segundo segmento da educação fun-

damental, o levantamento da PNAD/2007 indicava que do total de 2,9 milhões de pessoas de 15 anos

ou mais de idade que frequentavam um curso de EJA, a maioria estava cursando o segundo segmento

do ensino fundamental (5ª a 8ª séries), o que correspondia 40,0% (1,1 milhão); o ensino médio rece-

bia 36,1% (cerca de 1 milhão) dos estudantes e o primeiro segmento do ensino fundamental (1ª a 4ª

séries) 23,9% (699 mil). A região Nordeste foi a que apresentou o maior percentual de frequência ao

primeiro segmento do ensino fundamental (37,6%), o Norte registrou o maior percentual de frequência

no segundo segmento (43,7%,) e as regiões Sul (46,3%) e Centro-Oeste (46,1%) tiveram as maiores

proporções no ensino médio.

Esse grupo diferenciado de estados que apresentam os piores indicadores educacionais na alfabetiza-

ção e na EJA, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, recebem um tratamento preferencial nas

ações e programas do Ministério da Educação. Os 1.928 municípios com altas taxas de analfabetismo

(maiores de 25%) são atendidos pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

que apoia e prioriza esses municípios na construção dos planos de alfabetização e na definição de es-

tratégias de mobilização para a matrícula de jovens e adultos.

No momento, participam da assessoria aos 1.928 municípios prioritários, 63 consultores (sendo 56

em campo). As ações destes consultores estão voltadas ao acompanhamento, atendimento e apoio

técnico nestes municípios, além da consolidação de dados e informações, visando a melhoria da quali-

dade do Programa Brasil Alfabetizado, a oferta de educação de jovens e adultos e a articulação para a

continuidade dos sujeitos na EJA no âmbito do sistema público de ensino.

Com o olhar e a responsabilidade governamental de ampliar suas políticas em sintonia com as de-

mandas da Amazônia, a SECAD está implementando um conjunto de programas e ações que visam o

atendimento dessas demandas.

O Programa Brasil Alfabetizado (PBA) foi criado no ano de 2003, sendo reformulado no contexto do

PDE. O PBA prevê que os alfabetizadores sejam constituídos de pelo menos 70% de professores da rede

pública, trabalhando em turno distinto daquele em que exercem sua atividade como docente da rede.

Na sequência, apresentam-se de forma resumida as informações sobre as atividades atuais e as previs-

tas para 2011nos estados que compõem a Amazônia Legal, quadros 1,2 e 3:

Page 320: Seminário de Segurança da Amazônia

318

alFaBETiZaNDOs (Turma ativa) 2009

UF sEDUC1 PrEF2 sUBTOTal

AC 9.556 1.001 10.557

AM 39.132 1.448 40.580

AP 2.779 1.079 3.858

MT 11.841 1.696 13.537

PA 57.342 35.058 92.400

RO 7.132 3.156 10.288

RR 204 0 204

TO 9.398 1.939 11.337

TOTAL 137.384 45.377 182.761

Quadro 1 – Alfabetizandos em turmas ativasfonte: Secad/Mec.1 Secretarias estaduais de educação.2 Prefeituras municipais.

TUrMas aTiVas 2009

UF sEDUC1 PrEF2 sUBTOTal

AC 757 82 839

AM 2.772 92 2.864

AP 120 66 186

MT 843 145 988

PA 3.542 2.649 6.191

RO 643 224 867

RR 11 0 11

TO 668 158 826

TOTAL 9.456 3.416 12.872

Quadro 2 – Turmas ativas de alfabetizandosfonte: Secad/Mec.1 Secretarias estaduais de educação.2 Prefeituras municipais.

Page 321: Seminário de Segurança da Amazônia

319319

Meta de atendimento para 2011

UF sEDUC PrEF sUBTOTal

AC 9.490 1.296 10.786

AM 39.483 2.043 41.526

AP 2.475 1.606 4.081

MT 11.310 2.440 13.750

PA 81.620 49.270 130.890

RO 6.178 2.679 8.857

RR 4.290 530 4.820

TO 11.000 2.178 13.178

TOTAL 165.846 62.042 227.888

Quadro 3 – Metas de atendimento a alfabetizandos para 2011fonte: Secad/Mec.1 Secretarias estaduais de educação.2 Prefeituras municipais.

No âmbito do Programa Brasil Alfabetizado algumas ações de apoio à execução do programa merecem

ser destacadas, considerando a relevância dessas atividades:

• formação de coordenadores de turmas e alfabetizadores – parceria entre instituições formadoras

e gestores;

• distribuição de material didático – PNLA/ PNLDEJA;

• implementação do Projeto Olhar Brasil;

• distribuição de material literário – obras do Concurso Literatura para Todos;

• orientação para obtenção do Registro Civil – entrega de cartilhas;

• consultores nos municípios prioritários;

• pagamento de bolsas; e

• alimentação e transporte.

Page 322: Seminário de Segurança da Amazônia

320

No contexto das ações articuladas, previstas no PDE, a SECAD atua nos estados da Amazônia Legal

com uma agenda positiva atendendo as demandas de alfabetização, de educação de jovens e adultos,

do Projeto Olhar Brasil e do Plano de Ações Articuladas (PAR), no caso específico, em apoio à educação

prisional.

A agenda territorial de alfabetização e EJA organiza e monitora a atuação de comissões estaduais com

representantes de diversos segmentos da Educação de Jovens e adultos para consolidação de estra-

tégias de articulação territorial das ações de alfabetização e de EJA e incorpora as dimensões técnica/

operacional e de planejamento e controle social. Tem foco na garantia de acesso e continuidade dos

jovens e adultos nos processos educativos.

O Projeto Olhar Brasil consiste de parceria entre o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde

para realização de exames de acuidade visual e distribuição de recursos financeiros para a aquisição de

óculos.

O PAR em educação nas prisões busca construir e implementar o Plano Estadual de Educação prisional

em consonância com a política do Plano Estadual de Educação, em articulação com outros atores esta-

duais que desenvolvem ações afins, qualificar as equipes vinculadas à política de educação prisional do

Estado e Fortalecer os acervos bibliográficos das unidades prisionais.

No espaço territorial da Amazônia Legal o quadro a seguir, apresenta o investimento realizado nas

referidas ações.

Page 323: Seminário de Segurança da Amazônia

321321

UF

agenda Territorial de alfabetização e

Educação de Jovens e adultos

Projeto Olhar

Brasil Par Educação nas

Prisões Material

Didático

TOTalComissões

Formadas

recursos

transferidos

recursos

transferidos

AC SIM 35.314,50 58.857,50 304.222,49 398.394,49

AM SIM 77.021,25 128.368,75 193.635,56 399.025,56

AP SIM 9.363,00 15.605,00 84.695,08 109.663,08

MT SIM 25.554,38 42.590,63 175.929,47 244.074,48

PA SIM 869316,15 436.046,25 337.171,35 1.642.533,75

RO SIM 20.523,00 34.205,00 206.175,07 260.903,07

RR SIM 9.426,00 160.265,31 160.265,31

TO SIM 27.344,25 45.573,75 116.632,00 189.550

TOTal 1.073.862,53 761.246,88 1.578.726,33 3.413.835,74

Quadro 4 – Investimento realizado em ações de apoio à alfabetizaçãofonte: Secad/Mec.

Outras ações em apoio ao fortalecimento dos programas de EJA na região estão apresentadas nos

quadros seguintes:

Page 324: Seminário de Segurança da Amazônia

322

iNsTiTUiÇÃO siGla UF VaGas sEGMENTO

aTENDiDO

aBraNGENCia BENEFiCiaDOs

UNIVERSIDADE FEDERAL

DO AMAPÁ

UFAP AP 160 Ed. em prisões

e indígenas

Municípios de

Macapá, Laranjal

do Jarí e Oiapo-

que

Profissionais que atuam

na EJA; profissionais do

sistema penitenciários do

Estado do Amapá

FUNDAÇÁO UNIVERSIDADE

FEDERAL DO AMAPÁ

UNIFAP AP 120 Campo - Sabe-

res da Terra

3 territórios da

cidadania; 1 rural

e 11 municípios

Educadores da educação

básica, professores e

coordenadores Projovem

INSTITUTO FEDERAL DE

EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DO PARÁ

IF-PA PA 200 EJA Urbano Porto Alegre Professores e gestores da

zona rural e urbana

INSTITUTO FEDERAL DE

EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DO MARA-

NHÃO (CAMPUS SÃO LUIS

- MARACANÃ)

IF-MA MA 300 Campo - Sabe-

res da Terra

Educadores de EJA e Edu-

cadores de Qualificação

profissional

UNIVERSIDADE FEDERAL

DO PARÁ

UFPA PA 335 EJA Urbano Estadual (Pará) Educadores de EJA

FUNDACAO UNIVERSIDADE

FEDERAL DO TOCANTINS

UFT TO 80 EJA Campo -

Saberes da Terra

Araguarina e

Palmas

Professores, gestores e

diretores

Quadro 5 – Cursos presenciais de especialização em educação de jovens e adultos – 1.195 vagas previstas para 2010 fonte: Secad/Mec.

Page 325: Seminário de Segurança da Amazônia

323323

iNsTiTUiÇÃO siGla UF VaGas sEGMENTO

aTENDiDO

aBraNGENCia BENEFiCiaDOs

Universidade

Federal do Mara-

nhão

UFMA MA 360 EJA na Diversi-

dade

Pólos UAB Profissionais que atuam

na EJA;

Universidade

Federal de Mato

Grosso do Sul

UFMS MS 210 EJA na Diversi-

dade

Pólos UAB Educadores da educação

básica, professores e

coordenadores Projovem

Universidade Fe-

deral de Roraima

UFRR RR 180 EJA na Diversi-

dade

Pólos UAB Professores e gestores da

zona rural e urbana

Quadro 6 – Cursos de aperfeiçoamento em educação de jovens e adultos ofertados em parceria SECAD/UAB no ano de 2010fonte: Secad/Mec.

Reconhecendo as demandas existentes na região a SECAD apoia no âmbito das políticas de incentivo à

leitura para o público jovem e adulto as seguintes instituições e ações:

1) Universidade Federal do Acre (UFAC)Projeto: “Formação continuada: a Extensão Universitária trilhando nos caminhos da Educação de Jo-

vens e Adultos no Acre.”

Objetivo: Promover o acesso à leitura por meio da capacitação de mediadores, beneficiando alunos

jovens e adultos neoleitores do 1º segmento de EJA da rede estadual.

Público beneficiado:

• Neoleitores zona rural: 120 Neoleitores zona urbana: 1.360 Total: 1.480

• Mediadores zona rural: 12 Mediadores zona urbana: 170 Total: 182

• Recurso repassado - R$ 504.266,77

Page 326: Seminário de Segurança da Amazônia

324

2) Associação Vaga-LumeProjeto: “Espaços Públicos como Ambiente de Leitura”

abrangência: 127 comunidades de 20 municípios dos estados da Amazônia Legal.

Municípios: Barcelos (AM); Barrerinhas (MA); Belém (PA); Campinápolis (MT); Cacaraí (RR); Carauari

(AM); Castanhal (PA); Chapada dos Guimarães (MT); Cruzeiro do Sul (AC); Macapá (AP); Mirtinzal (MA);

Oriximiná (PA); Ouro Preto do Oeste (RO); Pacaraima (RR); Ponte Alta do Tocantins (TO); Portel (PA);

Santarém (PA); São Gabriel da Cachoeira (AM); Soure (PA); Tefé (AM).

ações:

• Promoção de acesso à leitura - Distribuição de 12 mil livros novos para neoleitores em 20 municí-

pios (novas comunidades ou fortalecimento das bibliotecas já existentes);

• Formação de leitores e mediadores de leitura- Oferta de 10 cursos de Mediação de Leitura e reali-

zação de Congresso de formação dos Agentes Multiplicadores e trocas de experiências na região

da Amazônia para cerca de 80 pessoas;

• Debate “A Literatura em Comunidades Indígenas”- Encontro para discutir os impactos da inserção

da literatura no cotidiano das comunidades indígenas. Serão convidadas 40 pessoas entre repre-

sentantes das Bibliotecas Vaga Lume de áreas indígenas (São Gabriel da Cachoeira, Cruzeiro do

Sul, Campinápolis e Pacaraima) e representantes de outras comunidades indígenas e especialistas

na área.

RecursorepassadoR$689.835,96

Page 327: Seminário de Segurança da Amazônia

325325

A educação profissional e tecnológica e as ações da SETEC

O suplemento da última pesquisa PNAD/2007 denominado “Aspectos Complementares da Educação

de Jovens e Adultos e Educação Profissional”, apresenta dados desafiadores para os formuladores e

gestores de políticas públicas. A investigação teve o seguinte objetivo: Determinar quem frequenta a

educação profissional e em que nível se encontra, com o intuito de compreender o efeito dessa oferta

na consecução de emprego. Assim será possível localizar geograficamente os desafios e tendências de

laboralidade objetivando definir as políticas públicas de educação profissional.

No contexto desse estudo é possível diferenciar o retorno positivo na condição de vida das pessoas que

frequentam ou frequentaram, em algum momento curso de educação profissional. Em certos aspectos

alguns dados comprovam, especialmente, o acerto dos planos de governo que priorizam estimular a

elevação de escolaridade da população como fator de inclusão no mundo do trabalho, especialmente

quando articulada com a educação profissional. Os resultados dessa pesquisa estimulam a continuida-

de das ações governamentais na área da educação profissional por consolidar-se a percepção de que

nessa modalidade de ensino abrem-se as principais oportunidades de inclusão da população de jovens

e adultos. A PNAD indica que 35,6 milhões de pessoas frequentavam ou frequentaram curso de edu-

cação profissional. As regiões Nordeste e Norte, respectivamente com 17,0% e 17,3% foram as que

apresentaram o menor número de pessoas que frequentavam ou frequentaram anteriormente curso

na educação profissional.

Cerca de 6 milhões de pessoas de 10 anos ou mais frequentavam em 2007 algum curso de educação

profissional. Desses 80,9% estavam no segmento da qualificação profissional e 17,6% em cursos técni-

cos de nível médio. Dentre os 29,6 milhões que haviam frequentado algum curso anteriormente, 81,1%

cursaram qualificação profissional, enquanto 18,4% frequentaram cursos técnicos de nível médio. Um

dado significativo apresentado indica que 56,3% das pessoas que frequentaram curso de educação

profissional trabalharam ou trabalhavam na área de formação do curso que fez. E mais surpreendente

ainda é que dos que frequentavam ou frequentaram curso técnico de nível médio, consequentemente

com maior nível de escolarização, 65,2% trabalhavam ou trabalharam na área de formação do curso

e outros 17,7% não trabalhavam ou trabalharam por conta de outra oportunidade melhor ou conti-

nuação de estudos. Ou seja, cerca 83% são inseridos no mundo do trabalho ou se encaminham para

buscar a melhoria e elevação de seus níveis educacionais.

Page 328: Seminário de Segurança da Amazônia

326

Esses dados, por si só, são fundamentais na orientação das políticas estabelecidas pela Secretaria de

Educação Profissional e Tecnológica do MEC, que prioriza a expansão das redes federais e estaduais

de educação, com foco na educação profissional articulada com todos os níveis da educação básica

visando elevar o nível de escolaridade dos jovens e adultos brasileiros. Essa intenção pode ser obser-

vada na concepção das políticas e nos programas em execução apresentados a seguir, alicerçados na

concepção e visão sistêmica do PDE.

a) Ampliação da oferta pública e gratuita da Educação Profissional de Educação Científica e

Tecnológica (EPT)Expansão da Rede Federal de EPT: esse programa de expansão objetiva ampliar a rede existente até

2002, com 140 unidades, pela criação de 214 novas unidades educativas, até o fim do ano de 2010.

A Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica – vinculada e mantida pelo Governo

Federal – até o fim do atual governo somará 354 campi em todos os Estados da Federação. A meta

proposta é duplicar a atual oferta da formação profissional (pública e gratuita em todos os níveis) de

250.000 para 500.000 matrículas até o ano de 2014. Atualmente já estão em funcionamento 310

campi dos institutos federais.

No contexto desse programa de expansão, nos estados que constituem a Amazônia legal, inclusive o

Maranhão, existiam 21 unidades. Com a expansão teremos 66 escolas, 64 delas campi dos institutos

federais de educação ciência e tecnologia. Na região Norte, por exemplo, nos Estados do Acre, Amapá,

Rondônia e Roraima, existiam apenas duas unidades da rede federal de educação profissional e tec-

nológica no ano de 2003. Hoje são 12 municípios atendidos por 12 campi dos institutos federais de

educação ciência e tecnologia nesses estados.

Os quadros seguintes demonstram a situação atual dos investimentos, número de docentes, técnico-

-administrativos, cursos e matrículas nas 41 novas unidades dos institutos federais em implantação nos

estados que fazem parte da Amazônia Legal (ver Quadro 7); e a situação da expansão por estado e seus

respectivos investimentos ( quadro 8).

Page 329: Seminário de Segurança da Amazônia

327327

EXPaNsÃO Da rEDE FEDEral DE EDUCaÇÃO PrOFissiONal E TECNOlÓGiCa

iNsTiTUTOs FEDErais NOs EsTaDOs Da aMaZÔNia lEGal

42 novas unidades

Previsto Executado/implantado

Investimento inicial implantação 245.000.000,00 146.846.628,73

Investimento permanente – Anual 291.400.000,00 200.218.229,36

Docentes 2.820 1.510

Técnicos Administrativos 2.420 1.322

Cursos 470 135

Matrículas 55.200 11.301

Quadro 7 – Resumo dos investimentos previstos e realizados nos novos campi dos insti-tutos federaisfonte: Setec/Mec.

UF CaMPi

investimento

infraestrutura

investimento

Permanente/

ano

DocentesTécnicos

adminis.Cursos Matrículas

P E P EP C P C P i P Ef.

(em milhões)

MT

Bela Vista 5,00 1,41 6,20 5,77 60 53 55 55 10 4 1.200 739

Barra do

Garça5,00 2,93 6,20 3,84 60 28 55 22 10 1.200

Confresa 5,00 5,71 6,20 4,36 60 38 55 33 10 5 1.200 440

Juína 5,00 1,93 6,20 4,63 60 38 55 32 10 3 1.200 245

Campo Novo

dos Parecis5,00 1,97 6,20 5,37 60 48 55 40 10 5 1.200 523

Pontes e

Lacerda5,00 2,24 6,20 5,20 60 48 55 34 10 5 1.200 750

Rondonópolis 5,00 3,18 6,20 3,40 60 20 55 21 10 1.200

Page 330: Seminário de Segurança da Amazônia

328

UF CaMPi

investimento

infraestrutura

investimento

Permanente/

ano

DocentesTécnicos

adminis.Cursos Matrículas

P E P EP C P C P i P Ef.

(em milhões)

MA

Buriticupu 5,00 2,44 6,20 5,82 60 54 50 45 10 10 1.200 962

Zé Doca 5,00 2,45 6,20 5,34 60 48 50 39 10 8 1.200 779

São Luís 5,00 0,70 6,20 4,49 60 31 30 39 10 7 1.200 360

Açailândia 5,00 1,45 6,20 5,24 60 43 50 58 10 6 1.200 711

Alcântara 5,00 0,50 6,20 4,88 60 37 50 42 10 3 1.200 133

Bacabal 5,00 2,50 6,20 3,22 60 20 50 15 10 1.200

Barra do

Corda5,00 3,22 6,20 3,22 60 20 50 15 10 1.200

Barreirinhas 5,00 1,18 6,20 3,22 60 20 50 15 10 1.200

Caxias 5,00 1,43 6,20 3,22 60 20 50 9 10 1.200

Pinheiro 5,00 5,44 6,20 3,22 60 20 50 15 10 1.200

São Rai-

mundo das

Mangabeiras

5,00 5,08 6,20 3,22 60 20 50 15 10 1.200

Santa Inês 5,00 0,50 6,20 4,55 60 38 50 29 10 9 1.200 587

São João dos

Patos5,00 3,23 6,20 3,22 60 20 50 15 10 1.200

Timon 5,00 2,63 6,20 3,22 60 20 50 15 10 1.200

AM

Coari 5,00 4,37 6,20 5,64 60 51 55 44 10 5 1.200 581

Lábrea 5,00 1,34 6,20 3,82 60 29 55 20 10 4 1.200 280

Presidente

Figueiredo5,00 2,86 6,20 3,37 60 20 55 20 10 4 1.200 320

Maués 5,00 2,91 6,20 3,37 60 20 55 20 10 7 1.200 280

Parintins 5,00 3,57 6,20 3,37 60 20 55 20 10 5 1.200 280

Tabatinga 5,00 4,20 6,20 3,37 60 20 55 20 10 5 1.200 280

AP

Laranjal do

Jari5,00 4,26 6,20 3,37 60 20 55 20 10 1.200

Macapá 5,00 4,13 6,20 5,79 60 38 50 43 10 1.200

Page 331: Seminário de Segurança da Amazônia

329329

UF CaMPi

investimento

infraestrutura

investimento

Permanente/

ano

DocentesTécnicos

adminis.Cursos Matrículas

P E P EP C P C P i P Ef.

(em milhões)

PA

Abaetetuba 5,00 2,82 6,20 5,59 60 53 50 39 10 6 1.200 466

Bragança 5,00 3,03 6,20 5,43 60 48 50 42 10 6 1.200 310

Conceição do

Araguaia5,00 1,76 6,20 4,47 60 39 50 35 10 4 1.200 232

Santarém 5,00 3,00 6,20 4,08 60 30 50 26 10 1.200

Itaituba 5,00 4,35 6,20 3,37 60 20 50 20 10

Marabá Rural 10,00 6,63 6,20 3,80 60 28 50 21 10 3 1.200 177

AC

Rio Branco 10,00 9,90 6,20 7,17 60 21 50 31 10 1.200

Cruzeiro do

Sul5,00 0,50 6,20 3,82 60 29 50 20 10 1.200

Sena

Madureira5,00 0,50 6,20 3,82 60 29 50 20 10 1.200

RO

Ji-Paraná 5,00 1,55 6,20 5,20 60 48 50 34 10 5 1.200 600

Porto Velho 5,00 6,80 6,20 5,79 60 38 50 43 10 1.200

Vilhena 5,00 5,70 6,20 3,74 60 20 50 20 10 1.200

RRNovo Paraíso 5,00 5,64 6,20 5,74 60 49 50 51 10 3 1.200 287

Amajari 5,00 5,28 6,20 3,79 60 28 50 21 10 1.200

TO

Paraíso do

Tocantins5,00 0,91 6,20 5,93 60 58 55 34 10 9 1.200 749

Araguaína 5,00 3,96 6,20 3,96 60 30 55 23 10 4 1.200 230

Gurupi 5,00 1,56 6,20 3,37 60 20 55 12 10 1.200

Porto

Nacional5,00 3,20 6,20 0,33 60 20 55 20 10 1.200

TOTAIS 245,00 146,85 291,40 200,22 2.820 1.510 2.420 1.322 470 135 55.200 11.301

Quadro 8 – Situação da expansão por estado e seus respectivos investimentosfonte: Setec/Mec.

Legenda: P – Previsto / e – executado / c - contratado / i - implantado / ef - efetivado.

Page 332: Seminário de Segurança da Amazônia

330

Programa Brasil Profissionalizado: tem por objetivo fortalecer o ensino médio e ampliar a oferta de

Cursos Técnicos de Nível Médio via Redes Públicas Estaduais, a partir de aporte técnico e financeiro

do Governo Federal aos governos estaduais. Com essa medida pretende-se incrementar, até o ano de

2014, 800 mil novas matrículas em Cursos Técnicos de Nível Médio nas Redes Estaduais. Nos estados

da Amazônia Legal tem-se a seguinte distribuição de ações e recursos financeiros (Quadro 9):

EsTaDOs Da aMaZÔNia lEGal

UFConstrução

ampliação/

reforma

recursos

Pedagógicos

Total de

recursosEscolas

Beneficiadas

Cursos

Previstos

Total de Vagas

Previstas(em milhões)

TO 23,53 8,85 2,86 35,25 97 58 7.710

PA 63,79 16,50 1,84 82,13 108 107 17.490

AC 34,58 16,87 5,03 56,49 66 124 16.140

AP 0,00 3,93 1,18 5,12 32 100 4.290

RR 5,85 1,52 0,43 7,81 8 11 1500

MA 37,13 2,01 0,00 39,14 45 429 5.790

MT 61,88 15,04 8,62 85,54 131 243 24.210

Total 226,79 64,74 19,98 311,52 487 1072 77.130

Quadro 9 – Investimentos do Programa Brasil Profissionalizado na Amazônia Legalfonte: Setec/Mec.

Programa Escola Técnica Aberta do Brasil (e-Tec Brasil) – destina-se à oferta de Cursos Técnicos de Nível

Médio, através da Educação a Distância, de populações de regiões distantes e da periferia das grandes

cidades brasileiras. Este programa desenvolvido pelo Governo Federal em parceria com estados e muni-

cípios pretende alcançar 200 mil jovens, adultos e trabalhadores até o final do ano de 2010.

Acordo com o Sistema S: mediante acordo, firmado em julho de 2008, entre o Governo Federal (re-

presentados pelo Ministério da Educação, pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pelo Ministério da

Fazenda), a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI), o Serviço Social da Indústria (SESI), a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o Serviço de

Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e o Serviço Social do Comércio (SESC), ficou estabelecida

a destinação anual de 2/3 (dois terços) da receita líquida da contribuição compulsória geral do SENAI

e SENAC para vagas gratuitas em cursos e programas de formação inicial e continuada e de formação

Page 333: Seminário de Segurança da Amazônia

331331

técnica de nível médio. O compromisso do SESI e do SESC é com a aplicação anual de 1/3 (um terço) da

receita líquida da contribuição compulsória recebida em educação básica e continuada e ações educa-

tivas relacionadas a saúde, esporte, cultura e lazer para os estudantes da rede pública.

Integração e/ou articulação da EPT com Educação Básica e Reconhecimento de Saberes.

As políticas e ações direcionadas pelo Ministério da Educação para a educação profissional e tecnológi-

ca têm como referência uma preparação para o trabalho pautada na formação de profissionais capazes

de desenvolver um trabalho reflexivo, criativo e qualificado para a promoção da transposição dos co-

nhecimentos científicos e tecnológicos na perspectiva das exigências da produção, do trabalho, da vida

e da formação permanente. Neste sentido, reside a defesa de uma formação profissional associada à

escolarização, o que explica, do ponto de vista do atual governo, o necessário destaque à integração

da educação profissional e tecnológica à educação básica tanto na formação como no reconhecimento

dos saberes não formais. Com essa concepção são desenvolvidas as ações seguintes:

Ensino Médio Integrado (EMI): A formação em Nível Técnico integrada ao Ensino Médio constitui uma

necessidade para um país com as características do Brasil. Assim, a articulação com a profissionalização,

que hoje se apresenta como necessidade – o que define sua forma integrada à educação profissional –

precisa ser entendida como uma travessia às condições utópicas em que a inserção dos jovens na vida

econômico-produtiva seja um projeto e uma ação para o seu devido tempo e não uma antecipação

imposta pelas relações desiguais dessa sociedade.

Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de

Educação de Jovens e Adultos (PROEJA): Convencido da importância estratégica da Educação Profis-

sional e Tecnológica para o desenvolvimento socioeconômico sustentável do País, o Ministério da Edu-

cação atua arduamente também em sua reconfiguração. A articulação entre a Educação Profissional

e Tecnológica à Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) constitui medida inovadora, neste sentido.

A partir desse programa, vem se alcançando expressivo número de brasileiros que não concluíram o

nível básico de ensino, segundo a relação idade-série adequada. Assim à população com idade igual

ou superior a 18 anos é oferecida a oportunidade de conclusão dos estudos em nível básico e a qua-

lificação profissional básica ou técnica. Para o desenvolvimento do PROEJA a Secretaria de Educação

Profissional e Tecnológica qualificou até o momento aproximadamente 17 mil educadores, e as esta-

Page 334: Seminário de Segurança da Amazônia

332

tísticas registram em torno de 50 mil vagas ofertadas a trabalhadores e trabalhadoras em sua maioria

de baixa renda.

Rede Nacional de Certificação e Formação Inicial e Continuada (Rede CERTIFIC). Essa rede se institui

por meio da articulação do Ministério da Educação (MEC) e Ministério do Trabalho e Emprego (tem)

em cooperação com as Instituições de Educação Profissional e Tecnológica e organizações direta ou

indiretamente vinculadas aos processos regulatórios de Certificação Profissional. Portanto, a Rede CER-

TIFIC afirma-se como uma Política Pública de Educação Profissional e Tecnológica voltada para o aten-

dimento de trabalhadores, jovens e adultos que buscam a formação profissional e/ou reconhecimento

e certificação de saberes adquiridos em processos formais e não formais de aprendizagem. Neste sen-

tido, tanto a formação quanto o reconhecimento de saberes se darão por meio de Programas CERTIFIC

definidos como um conjunto articulado de ações de caráter interinstitucional de natureza educativa,

científica e tecnológica para a avaliação, reconhecimento, certificação de saberes, habilidades e apti-

dões profissionais com o objetivo de promover o acesso, permanência e progressão no mundo do tra-

balho e prosseguimento de estudos. O processo de avaliação e reconhecimento de saberes ocorre em

pelo menos quatro etapas: o acolhimento ao trabalhador, o reconhecimento de saberes, a formação e

certificação. Após cada etapa de avaliação, será construído o memorial descritivo dos domínios cientí-

ficos e tecnológicos com o intuito de dar ciência ao candidato a respeito de seu itinerário formativo e

encaminhamento para a formação e/ou certificação.

Considerações finais

A problemática da erradicação do analfabetismo e da educação profissional no Brasil, em que pese

todo o esforço nacional ocorrido ao longo dos anos para sua solução, ainda carece de ações sistema-

tizadas e permanentes para a superação de suas deficiências. As diferentes demandas regionais e a

diversidade existente em um país com as dimensões do Brasil implicam em soluções mais complexas,

especialmente pela necessidade de cooperação e articulação dos entes federados e da sociedade. Esse

esforço da sociedade organizada está presente na proposta encaminhada pela Conferência Nacional de

Educação (CONAE), realizada com a participação de diversos segmentos da sociedade, em Brasília, com

o objetivo de debater e encaminhar propostas para subsidiar o novo Plano Nacional de Educação para

o decênio 2011 – 2020. A partir das contribuições da CONAE, o novo PNE deve estabelecer como prin-

Page 335: Seminário de Segurança da Amazônia

333333

cipais diretrizes: a erradicação do analfabetismo; a universalização do atendimento escolar; a melhoria

da qualidade do ensino; a formação para o trabalho; a promoção humanística, científica e tecnológica

do País; e o estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção

do produto interno bruto. Para que se alcance o atendimento efetivo dessas diretrizes algumas metas

fundamentais no âmbito da alfabetização e da educação profissional precisam ser perseguidas, em

regime de colaboração entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, no âmbito de suas

respectivas competências definidas pelo art. 211 da Constituição.

No que diz respeito à alfabetização e educação de jovens e adultos e à educação profissional e tecno-

lógica, pode-se destacar as metas e estratégias a seguir: elevar a taxa de alfabetização da população

com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar o analfabetismo até o fim da década buscando

assegurar a oferta gratuita da educação de jovens e adultos a todos os que não tiveram acesso à edu-

cação básica na idade própria; manter exame nacional de certificação da conclusão do ensino médio

ou de declaração de proficiência para os maiores de 18 anos de idade que tenham concluído o ensino

fundamental e fomentar a integração da educação profissional com a educação de jovens e adultos.

Triplicar a matrícula em cursos técnicos de nível médio por meio da oferta de 1 milhão de matrículas de

educação profissional técnica de nível médio nos institutos federais de educação, ciência e tecnologia,

levando em consideração o papel dos institutos federais na ordenação territorial, sua vinculação com

os sistemas e os arranjos educacionais sociais, culturais e produtivos locais e regionais, e a interiorização

da educação profissional. Expandir para mil unidades a rede federal de educação profissional e tecno-

lógica. Os Institutos Federais deverão assegurar do total de matriculas dos cursos técnicos presenciais

de nível médio 75% na forma integrada ao ensino médio. Fomentar a expansão da oferta de educação

profissional nível médio nas redes públicas estaduais de ensino, a fim de atingir a meta de 1 milhão de

matrículas até 2020.

Por fim, as políticas dirigidas à alfabetização, educação de jovens e adultos e à educação profissional e

tecnológica pelo Governo Federal devem visar, acima de tudo à promoção da equidade, da igualdade

entre os sexos, do combate à violência contra os jovens e a mulher, do acesso à educação e ao trabalho

e da preservação da vida humana e do planeta. No caso singular da Amazônia faz-se, necessário uma

articulação estratégica das políticas, programas e ações de cada órgão governamental e da sociedade,

para que no bojo dessa articulação a força dessa região seja maximizada e contribua de maneira cada

vez mais forte para o desenvolvimento nacional.

Page 336: Seminário de Segurança da Amazônia

334

Referências

BRASIL. Constituição Federal da república Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1988.

BRASIL. lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional No 9.394, Brasília, DF, 1996.

BRASIL, Ministério da Educação. Decreto No 5.154. regulamenta a Ensino Educação Profissional

na lDB, Brasília, DF, 2004.

BRASIL, Ministério da Educação. Decreto No 5.840. institui o Programa Nacional de integração da

Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e adultos

- PrOEJa, Brasília, DF, 2006.

BRASIL, Ministério da Educação. Decreto No 6.301 institui o Programa Escola Técnica aberta do

Brasil E-Tec Brasil, Brasília, DF, 2007.

BRASIL. Plano Nacional de Educação 2001 – 2010. lei No 10.172. Brasília, DF, 2001.

FERREIRA, G.M.;PEREIRA, L.A.C. Seminário Internacional: Análise das políticas e programas de arti-

culação na América Latina e Europa: Concepção e Diretrizes da Política de Educação Profissional

e Tecnológica no Brasil – 2003/2010 . Buenos Aires, 2009.

MANIFESTO dos Pioneiros da Educação Nova – 1932. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Bra-

sília, DF, 1984.

Id . http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb07a.htm, visitado em 22/8/2010.

Page 337: Seminário de Segurança da Amazônia

335

ProGramas E ProjETos Do minisTério Das rElaÇÕEs ExTEriorEs Para a amazônia:

PossibiliDaDEs, limiTaÇÕEs E PErsPEcTivas. rEflExos Para o DEsEnvolvimEnTo nacional

CLEMENTE BAENA SOARES

Introdução

Com a crescente importância da temática ambiental na agenda política internacional, em razão das

consequências da mudança climática, a região amazônica ganha cada vez mais relevância para a polí-

tica externa brasileira. Suas impressionantes dimensões e o enorme estoque de recursos naturais fazem

da região grande ativo estratégico para os países amazônicos e desperta a cobiça do mundo desen-

volvido.

A Amazônia compreende cerca de 6,5 milhões de km2 – área equivalente a uma vez e meia o território

da União Europeia – e é habitada por cerca de 38 milhões de pessoas. A Bacia Amazônica é a maior

bacia fluvial do mundo, correspondendo a cerca de 20% da água doce de superfície do planeta. O rio

Amazonas é o maior do mundo, com cerca de 7.000 km de extensão, tendo também o maior volume

de descarga de água (220.000 m3 por segundo), de modo que transporta mais água doce do que os

rios Missouri-Mississipi, Nilo e Yantgtzé juntos.

Estimativas dão conta de que um terço do estoque genético planetário se encontraria na região.

De acordo com Albagli (2001, p.6), 60 mil espécies de plantas (10% do total mundial), 2,5 milhões de

artrópodes, 2 mil de peixes (quantidade superior à encontrada em todo o Oceano Atlântico) e 300

de mamíferos habitam a Amazônia.

Page 338: Seminário de Segurança da Amazônia

336

Quarenta por cento do território amazônico datam do período pré-cambriano, fazendo da região de-

pósito de variados minérios: ferro, alumínio, cobre, manganês, zinco, níquel, cromo, titânio, fosfato,

ouro, prata, platina, paládio, ródio, estanho, tungstênio, nióbio, tântalo, zircônio, terras-raras, urânio

e diamantes, segundo Veiga (1999).

Note-se que 63% da bacia hidrográfica amazônica se encontram no Brasil, bem como 60% da floresta

amazônica. O bioma amazônico cobre 49,3% do território brasileiro, sendo o de maior extensão no

País. Depreende-se, assim, a fundamental relevância da Amazônia para o desenvolvimento do Brasil e

dos países amazônicos para sua inserção regional e mundial.

Todo esse potencial natural desperta grande interesse internacional, sobretudo por parte dos países

desenvolvidos, que adotam a estratégia retórica de desqualificar a capacidade dos países amazônicos

em gerir tão importante reserva de recursos, a fim de defender a intervenção cada vez maior de atores

externos à região, desafiando o basilar princípio da soberania territorial nas relações internacionais.

Frente a essa realidade, podemos identificar na atuação do Ministério das Relações Exteriores (MRE),

no contexto sul-americano, duas frentes distintas e complementares de atuação: i) os projetos bilate-

rais com os países limítrofes; e ii) as iniciativas multilaterais concertadas no âmbito da Organização do

Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), com vistas a fomentar o desenvolvimento sustentável e

soberano da região amazônica.

O presente artigo buscará abordar, de maneira sucinta, a cobiça internacional à Amazônia e a resposta

da diplomacia brasileira no sentido de defender sua soberania e autonomia na escolha do modelo de

desenvolvimento mais adequado para seus territórios, por meio da cooperação bilateral e multilateral

com os demais países da região, ressaltando a importância da OTCA no referido processo.

Page 339: Seminário de Segurança da Amazônia

337337

As pressões internacionais sobre a Amazônia e as diretrizes da política externa brasileira

Os países desenvolvidos vêm demonstrando seu interesse em exercer maior influência na gestão dos

recursos amazônicos. Emblemáticas dessa mentalidade são as declarações de políticos importantes de

nações ricas, tais como François Mitterrand, que afirmou que “O Brasil precisa aceitar uma soberania

relativa sobre a Amazônia”; Al Gore, que declarou que “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a

Amazônia não é deles, mas de todos nós”; ou George W. Bush, que propôs que “os países que têm

dívida com os EUA troquem essas dívidas por suas florestas tropicais.”

Se, por um lado, a importância da floresta como reguladora do clima mundial, os recursos minerais

abundantes que lá se encontram e o potencial hídrico da Bacia Amazônica representam valiosos re-

cursos de poder que interessam aos Estados – principais atores do sistema internacional; por outro, a

enorme biodiversidade da Amazônia somada aos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas des-

pertam a cobiça da indústria internacional de farmacêuticos e cosméticos, que aí identificam potencial

para o desenvolvimento de novos produtos para maximização seus lucros.

Face às pressões dos países ricos, autoridades do Governo Federal têm reiterado que cabe soberana-

mente aos países amazônicos desenvolver seus territórios da maneira que lhes aprouver. Se o mundo

desenvolvido já teve oportunidade de (não) cuidar de suas riquezas naturais, é prerrogativa dos países

amazônicos determinar o modelo de ocupação e de uso de seu território mais adequados. Vale notar

que tal paradigma se encontra na base da assinatura do Tratado de Cooperação Amazônica, em 1978,

quando os Governos sul-americanos já refutavam o discurso intervencionista emanado do Clube de

Roma e da Conferência de Estocolmo.

Nesse sentido, convém evocar as palavras do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador

Celso Amorim, e dos então Ministros de Ciência e Tecnologia, e do Meio Ambiente, Sergio Machado

Rezende e Marina Silva, em artigo publicado na Folha de S. Paulo: “Da Amazônia nós estamos cuidan-

do de acordo com modelos de desenvolvimento baseados em princípios de sustentabilidade definidos

pela sociedade brasileira. A Amazônia é um patrimônio do povo brasileiro, e não está à venda”.

Page 340: Seminário de Segurança da Amazônia

338

A integração como forma de defesa da soberania

Iniciativas bilaterais

A região amazônica perpassa as fronteiras de nove países, são eles: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador,

Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e o Departamento francês da Guiana Francesa. Desses, o Brasil não

compartilha fronteira apenas com o Equador.

A assimetria entre o Brasil e seus vizinhos amazônicos é fator importante no estabelecimento do perfil

das iniciativas conduzidas junto a esses países. Via de regra, os países da região são demandantes de

cooperação, técnica e financeira. Desse modo, o Brasil, em parceria com os demais países amazônicos,

tem papel importante a desempenhar na busca do desenvolvimento sustentável da região.

Cooperação Técnica

Nesse contexto, a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) desempenha função de importante na con-

dução de diversos projetos de fortalecimento institucional, capacitação e cooperação técnica. Há, hoje,

em execução ou fase de implementação, mais de 125 projetos da ABC em colaboração com países

amazônicos, alguns desses voltados para a Amazônia:

• com a Bolívia: Projeto de Fortalecimento da Gestão Pública Ambiental, Sistema de Alerta e Moni-

toramento de Incêndios Florestais;

• com a Colômbia: Intercâmbio de Experiências e Conhecimentos sobre Gestão dos Incêndios

Florestais, Intercâmbio de Experiências sobre Gestão Florestal Urbana, Intercâmbio de Conheci-

mentos sobre Processamento da Madeira, realização de diagnóstico turístico no eixo Apaporis-

-Tabatinga;

• com o Equador: Fortalecimento dos Modelos Nacionais de Promoção e Proteção à Saúde dos

Povos Indígenas do Brasil e do Equador;

• com a Guiana: Fortalecimento da Capacidade de Monitoramento da Comissão Florestal da Guia-

na, Mapeamento Geológico e da Geodiversidade na Fronteira Brasil-Guiana;

Page 341: Seminário de Segurança da Amazônia

339339

• com o Peru: Mapeamento Geológico e de Recursos Minerais em Área de Fronteira, Fortalecimento

do Ordenamento Territorial para a Integração Fronteiriça Peru-Brasil, Fortalecimento Institucional

para a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos Peru-Brasil, Fortalecimento das Capacidades Locais

para a Instalação de Sistemas Agroflorestais em Comunidades Fronteiriças Amazônicas do Peru;

• com o Suriname: Mapeamento Geológico e da Geodiversidade na fronteira Brasil-Suriname,

Capacitação Técnica para Repressão ao Crime Organizado;

• com a Venezuela: Controle de Pragas na Área de Fronteira e Vigilância Ambiental.

O apoio do Brasil prestador de cooperação técnica para o fortalecimento institucional dos países limí-

trofes é fundamental para enfraquecer o argumento do mundo desenvolvido, segundo o qual os países

amazônicos seriam incapazes de cuidar de seu patrimônio e de que, portanto, a Amazônia deveria

ser entregue à tutela internacional. Permite, ademais, que cada país tenha seus próprios meios de co-

nhecer, mapear seus recursos e territórios. Ao Brasil, como país de maior desenvolvimento relativo da

região, cabe a missão de transferir tecnologia, recursos e capacidade de gestão, de forma a fortalecer

institucionalmente cada Estado amazônico.

Ainda com o apoio da Agencia Brasileira de Cooperação, estão sendo examinadas novas iniciativas

voltadas para um melhor conhecimento e coordenação entre os países amazônicos, como a realização,

ainda neste ano, da I Reunião de Diretores de Agências de Água dos Estados membros da OTCA e um

possível Encontro de Presidentes de Institutos de Assuntos Indígenas.

A concretização dessas reuniões fortaleceria o papel da Organização do Tratado de Cooperação Ama-

zônica na integração da região, como forma de diminuir as preocupações internacionais, com a prote-

ção do rico patrimônio amazônico.

Iniciativas bilaterais fronteiriças

O Brasil tem interesse em expandir, em parceria com os demais países amazônicos, o conceito ambien-

tal para incorporar aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais relacionados com o dia a dia das

comunidades amazônicas.

Page 342: Seminário de Segurança da Amazônia

340

Ao investir na capacitação das entidades governamentais dos países limítrofes por meio de seus proje-

tos bilaterais de cooperação, o Brasil trabalha no sentido de ampliar a presença de cada Estado sobre a

porção amazônica de seu território, reduzindo o espaço de ação de interesses estrangeiros.

Nesse sentido, o Brasil tem procurado estabelecer iniciativas, no âmbito bilateral, complementares às

da Agência Brasileira de Cooperação – ABC. Dentre as quais destacamos:

• com a Colômbia: o Grupo de Trabalho de Meio Ambiente Brasil-Colômbia;

• com o Peru: i) Acordo de Localidades Fronteiriças Vinculadas; ii) Acordo de Controle Integrado de

Fronteiras; e iii) Acordo para a Criação de uma Zona de Integração Fronteiriça Brasil-Peru (ZIF), que

estabelece a Comissão Vice-Ministerial de Integração Fronteiriça (CVIF);

• com a Guiana: a Comissão Binacional Assessora de Saúde na Fronteira;

• com a Venezuela: o Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento Fronteiriço. (GTDF) e a Implanta-

ção de Escolas Bilíngues de Fronteira.

Vale notar, no entanto, que nessa matéria há ainda muito a avançar, haja vista que, com alguns dos

países vizinhos, sequer há mecanismos de cooperação bilateral para a gestão das fronteiras.

Assim, a cooperação bilateral voltada para temas amazônicos, sobretudo nas regiões de fronteira, afi-

gura-se como grande janela de oportunidade para avançar no fortalecimento das iniciativas regionais.

A importância da OTCA como foro de concertação regional

A assinatura do TCA e a criação da OTCA – 1978-2002

O foro de regional dos países amazônicos é a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica

(OTCA), cujas origens remontam ao o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), assinado em 1978

– iniciativa da diplomacia brasileira no sentido de envolver os demais países amazônicos em um meca-

nismo de cooperação e coordenação de políticas comuns para a região. O Tratado entrou em vigor em

1980, após o depósito do último instrumento de ratificação, feito pelo Governo da Venezuela.

Page 343: Seminário de Segurança da Amazônia

341341

A preocupação em defender a soberania do território e o manejo dos recursos naturais das ameaças de

internacionalização da Amazônia perpassa o texto do Tratado e se explicita no Art. IV, que estabelece:

“as partes contratantes proclamam que o uso e o aproveitamento exclusivo dos recursos naturais em

seus respectivos territórios são direitos inerentes à soberania do Estado, e seu exercício não sofrerá

restrições exceto as que resultam do Direito Internacional”.

Com o passar dos anos, a evolução da temática ambiental, somada à intensificação dos desafios en-

frentados na região amazônica e à percepção do insatisfatório funcionamento institucional do TCA

propiciou as bases para que a cooperação amazônica pudesse ser fortalecida por meio de uma Orga-

nização Internacional, dotada de Secretaria Permanente e orçamento próprio. Assim, em dezembro de

1998, os países membros firmaram Protocolo de Emenda ao Tratado de Cooperação Amazônica, que

criou a OTCA e, em dezembro de 2002, assinaram, no Palácio do Planalto, o Acordo de Sede entre o

Governo brasileiro e a OTCA, que estabeleceu a Secretaria Permanente em Brasília. Vale notar que, até

hoje, a OTCA é a única Organização Internacional sediada no Brasil.

Em interessante artigo intitulado “Organização do Tratado de Cooperação Amazônica: Integrar é pre-

ciso!” de Ângelo Okamura, Reinaldo Lima e Fabiano Araújo, os autores fazem referência à publicação

“Lineamientos estratégicos para La Organización Del Tratado de Cooperación Amazónica” que aponta

três fases distintas da evolução da OTCA:

• de 1978 a 1989: fase defensivo-protecionista, marcada principalmente pela ausência de ativi-

dades significativas, pois os países membros encontravam-se mais preocupados com questões

internas, como a transição democrática e reformas políticas;

• de 1989 a 1994: fase de incentivo e fortalecimento político, marcada pela renovação do compro-

misso político assumido pelos países membros, quando da assinatura do TCA. Nesse período, foi

realizada, em Manaus, a I Reunião de Presidentes dos países da OTCA;

• de 1994 a 2002: fase de amadurecimento institucional, que coincide com a iniciativa de criação

da Secretaria Permanente do TCA e sua transição para a OTCA, instrumento de maior representa-

ção institucional, para melhor cumprir os objetivos do TCA.

Acrescentaríamos mais duas fases.

Page 344: Seminário de Segurança da Amazônia

342

Uma de 2002-2009, que representou a intensificação dos contatos entre os países amazônicos espe-

cialmente em áreas como saúde, educação, infraestrutura, meio ambiente e assuntos indígenas, o que

tem facilitado a convergência de esforços para desenvolver uma “identidade amazônica”.

Em setembro de 2004, foi aprovado o Plano Estratégico 2004-2012, que orientou o trabalho da Se-

cretaria Permanente da OTCA nos últimos anos e estruturado a partir de quatro eixos estratégicos:

conservação e uso sustentável dos recursos naturais renováveis; gestão do conhecimento e intercambio

tecnológico; integração e competitividade regional e fortalecimento institucional.

Como u consequência da implementação do Plano Estratégico foram alcançados os seguintes resul-

tados: participação efetiva dos países amazônicos no Fórum das Nações Unidas sobre Florestas, que

possibilitou posição consolidada e consensual dos países amazônicos naquela instância: foi retomado

o exame de um futuro Regulamento de Navegação Fluvial em rios amazônicos, importante instrumen-

to para o processo de desenvolvimento econômico e social da região; aumento de recursos para o

desenvolvimento sustentável; possibilidade de estender aos demais países amazônicos benefícios para

a segurança e defesa de seus territórios, por intermédio de cooperação com o Sistema de Proteção

Amazônica e o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) – que evolui para o atual CENSIPAM (Centro

Gestor do Sistema de Proteção da Amazônia) –; promoção dos direitos das comunidades indígenas;

cooperação em relação à gestão dos recursos hídricos; e realização de reuniões ministeriais temáticas,

como de propriedade industrial e intelectual e de ciência e tecnologia.

A outra fase de 2009-2014, que chamaríamos de “revitalização da OTCA”, inicia-se com o lançamento

da Agenda Estratégica 2010-2020, na última reunião de Presidentes da OTCA, em Manaus, em 2009.

A Cúpula de Manaus e a Agenda Estratégica 2010-2020

Passados oito anos da constituição da Secretaria da OTCA, atualmente a Organização experimenta pro-

cesso de relançamento e de fortalecimento que foi impulsionado em novembro de 2009, por ocasião

da Cúpula dos Presidentes Amazônicos, da qual emanou a Declaração de Manaus. Na oportunidade,

os Chefes de Estados decidiram “dar à OTCA um papel renovado e moderno como fórum de coope-

ração”, “reconhecendo ser o desenvolvimento sustentável da Amazônia uma prioridade, por meio de

Page 345: Seminário de Segurança da Amazônia

343343

uma administração integral, participativa, compartilhada e equitativa, como forma de dar uma resposta

autônoma e soberana aos desafios ambientais atuais”.

Com vistas a fortalecer o processo de cooperação e a unidade sulamericana, os Presidentes encarrega-

ram os Ministros das Relações Exteriores de preparar nova Agenda Estratégica da OTCA, fortalecendo-a

institucionalmente. A Agenda Estratégica 2010-2020 deve refletir as prioridades dos países amazôni-

cos, de acordo com a nova realidade política e social da região. Nesse sentido, vale notar que a Agenda

Estratégica da Organização engloba linhas de ação para um horizonte temporal similar ao do Plano

Brasil 2022, conduzido pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, de forma a ensejar certa complemen-

taridade entre ambas incitativas.

Estão sendo construídas, por meio de reuniões entre representantes dos países-membros, Agendas Re-

gionais para cada área temática de que trata a OTCA: i) assuntos indígenas; ii) meio ambiente; iii) infra-

estrutura, turismo, transportes e comunicações; iv) saúde; v) educação, ciência e tecnologia. Pretende-

-se elevar o resultado desse processo à consideração dos Ministros por ocasião da sua próxima Reunião

– instância máxima da Organização – que deverá ocorrer em novembro do corrente, em Lima, Peru.

O relançamento da OTCA ganhou força com a eleição, no ano passado, de novos Secretário-Geral e

Diretor-Executivo, os Embaixadores Manuel Picasso e Mauricio Dorfler, que têm se empenhado no sen-

tido de conferir agilidade aos trabalhos da Secretaria Permanente da Organização.

Em maio de 2010, realizaram-se no Rio de Janeiro, no Palácio do Itamaraty, três reuniões da OTCA:

oficina de capacitação de diplomatas encarregados do tema OTCA; reunião sobre regulamento de nave-

gação em rios amazônicos; e encontro do Conselho de Cooperação Amazônica. Os três eventos transmi-

tiram o interesse político do Brasil no sentido de prestigiar a Organização e tiveram resultados positivos.

Hoje, estão em execução relevantes programas como o Sistema de Vigilância Ambiental da Amazônia

e o Programa OTCA Biodiversidade, ambos com apoio do BID; e o Programa Regional Amazônia, com

financiamento das Agências de Fomento de Alemanha e Holanda. Outros projetos prioritários estão

sendo elaborados, como o de Gestão de Recursos Hídricos, com financiamento do Fundo Mundial para

o Meio Ambiente (GEF – Global Environmental Facility), e o de Monitoramento da Cobertura Florestal,

que conta com apoio da Organização Internacional de Madeiras Tropicais (OIMT), e consiste na capaci-

tação de técnicos de todos os países para a implementação dos sistemas do Instituto Nacional de Pes-

Page 346: Seminário de Segurança da Amazônia

344

quisas Espaciais (INPE) de monitoramento de desmatamento, incluindo a transferência da tecnologia

brasileira, como o sistema de informática denominado TerraAmazon.

O engajamento no aperfeiçoamento dos processos de tomada de decisões no âmbito da OTCA é de

grande importância para que se possa transformar a cooperação multilateral em instrumento de con-

cretização e de otimização das estratégias estatais para o território amazônico brasileiro, segundo a

lógica de afirmação dos interesses nacionais e da busca pelo desenvolvimento sustentado.

Por meio de uma OTCA atuante e moderna, será possível que os Estados amazônicos logrem, de ma-

neira soberana e integrada, promover o desenvolvimento da região em benefício das sociedades locais.

Assim, em conjunto com os programas nacionais, o Brasil deve trabalhar no sentido de harmonizar

políticas com seus vizinhos amazônicos, para superar os desafios da região que são, em grande medida,

comuns e não se limitam por fronteiras.

Conclusão

Com o fortalecimento das iniciativas regionais, o Brasil logrará ocupar, em concertação com os demais

países amazônicos, o vácuo da presença estatal que historicamente pairou sobre a Amazônia, em gran-

de medida decorrente das dificuldades geográficas que a região impõe.

Após trinta anos do início da vigência do Tratado de Cooperação Amazônica, o fortalecimento da OTCA

como foro regional apresenta-se como estratégia para conferir maior organicidade e alcance às iniciati-

vas brasileiras para a Amazônia, a fim de afirmar a soberania dos países sul-americanos na gestão desse

grande ativo que a região representa.

Paralelamente, o trabalho do Brasil na esfera bilateral, sempre no sentido de fortalecer os vínculos

bilaterais com os países amazônicos, abre caminho para o efetivo exercício da soberania dos Estados

amazônicos sobre seus territórios.

Tendo em vista o exposto, depreende-se que a política externa do Brasil para a Amazônia é coerente

com suas diretrizes históricas, de transformar desafios externos em oportunidades internas com vistas

a contribuir para com o desenvolvimento do País.

Page 347: Seminário de Segurança da Amazônia

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PlanEjamEnTo PÚblico, DEsEnvolvimEnTo rEGional E inTEGraÇÃo Da amazônia brasilEira:

imPacTos no DEsEnvolvimEnTo nacionalJACQUES SALOMON CRISPIM SOARES PINTO34.

Introdução

A Amazônia brasileira é um espaço rico e privilegiado do território brasileiro, palco de contradições e

cobiça que abriga a maior bacia hidrográfica e a maior biodiversidade do planeta. Por esta razão, sua

história se caracteriza por conflitos de toda sorte e de posicionamentos controversos, decorrentes de

interesses variados. A história da evolução dos processos de desenvolvimento da região se inicia nos

tempos das ‘Drogas do Sertão’, atravessa o Brasil Império, a Velha República e a Primeira Era Vargas

(1930 a 1945), período no qual a exploração da seringa passa a ser a mola propulsora do progresso

na região.

As reformas desenvolvidas a partir da Revolução de 1930 trazem consigo um projeto de desenvolvi-

mento nacional, que se identifica com os modelos de industrialização a partir dos quais o Estado passa

a ter o pesado papel de planificar e também de produzir, que perdura até a década de 1970.

Conscientes da necessidade de alterar aquele panorama regional, os Constituintes de 1946, institu-

cionalizaram um fluxo constante de recursos por vinte anos. Em janeiro de 1953, foi criada a Supe-

rintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) e ampliado o espaço legal da

Amazônia, que era restrito à macrorregião Norte, para a Amazônia Legal, institucionalizando o que veio

a ser a atual Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM).

34 o autor é doutor em ciências Sociais e Mestre em administração pela universidade de brasília, Mestre e Graduado

em ciências navais pela escola de Guerra naval da Marinha de Guerra brasileira. E-mails: [email protected].

br; [email protected]

Page 350: Seminário de Segurança da Amazônia

348

De 1940 a 1975, período chamado de desenvolvimentista, podem ser destacadas algumas iniciativas

voltadas para a dinamização da economia local: a industrialização pioneira de Getúlio Vargas, a criação

da SUDAM, da SUFRAMA, o Plano de Metas do governo JK, a influência do pensamento da Comissão

Econômica para a América Latina (CEPAL) e de Celso Furtado, a criação da SUDENE. Aliás, a criação da

SUDENE se confunde com o surgimento da chamada “questão regional” no Brasil. A denominação sur-

giu na década de 1950, no âmbito do combate aos impactos sociais das secas no Nordeste. Ampliada

à questão nacional, na gênese do processo, três grandes macrorregiões Brasileiras foram destacadas

como ‘regiões-problema’ e tornaram-se foco das políticas de desenvolvimento regional no Brasil: o

Nordeste, o Centro-Oeste e o Norte.

Outras iniciativas e seus resultados também se destacaram no período dos Governos Militares (1964-

1984) com a implementação dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) e, em um período mais

recente, com a aplicação, à nova gestão do desenvolvimento, de alguns preceitos do Consenso de

Washington como a liberalização comercial e a diminuição do papel do Estado na economia. A partir

da década de 1970 aumentam sobremaneira os investimentos públicos, e também se volta a atenção

para políticas de fomento e atração de capitais privados nacionais e internacionais.

A primeira década do século XXI inaugura a retomada da questão regional no Brasil e produz um novo

olhar à temática. O uso de novos conceitos e modelos de políticas públicas inseridos na agenda dos

governos, mais especificamente a ação de base territorial/regional dando ênfase, por exemplo, à ge-

ração de emprego e renda por meio de Arranjos Produtivos Locais (APLs), e à organização social nos

territórios, por meio de investimentos no capital social e em governança interinstitucional. Tudo isto a

partir de uma visão sistêmica com foco em diversas escalas de observação no território.

Page 351: Seminário de Segurança da Amazônia

349349

A Contribuição do MI para o desenvolvimento da Amazônia e o papel da PNDR35

Pode-se considerar que a gênese da atividade que hoje o Ministério da Integração Nacional se debruça

está associada ao Alvará de 28 de julho de 1736, assinado por D. João V que criou a Secretaria de Estado

dos Negócios Interiores do Reino. Mais recentemente, o Estado Brasileiro, de uma maneira ou de outra,

com maior ou menor prioridade, vem cuidando dos assuntos afetos à Coordenação dos Organismos

Regionais (fim da década de 1950/início da década de 1960) e, da aplicação dos conceitos de desen-

volvimento regional. Nesta linha foi criado, em 1992, o Ministério da Integração Regional e, em 1999,

mediante transferência das competências da Secretaria Especial de Políticas Regionais, o Ministério da

Integração Nacional (MI).

A atual estrutura institucional do MI é composta por cinco (5) Secretarias finalísticas (de Políticas Regio-

nais – SDR, de Programas Regionais – SPR, de Desenvolvimento do Centro-Oeste – SCO, da Defesa Civil

– Sedec e de Infraestrutura Hídrica – SIH), além de quatro (4) vinculadas (SUDENE, Sudam, Codevasf e

Dnocs).

A Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) orienta os programas e ações do Ministério

e constitui-se no seu principal instrumento. A PNDR foi institucionalizada em 2007, como Política de

Governo, com o objetivo de reduzir as desigualdades de nível de vida entre as regiões brasileiras, pro-

mover da equidade no acesso a oportunidades de desenvolvimento, e orientar os programas e ações

federais no Território Nacional.

A PNDR representa um avanço substancial na forma de olhar o território a partir de um critério analí-

tico situacional. A experiência acumulada nestes anos de gestão da Política Regional Brasileira confere

respaldo institucional para que se proponha um novo olhar pós 2010, a PNDR Fase II. Trata-se de uma

proposta baseada na premissa de que a Política de Governo deve ser elevada à Política de Estado.

E que, para tal, são necessários, por exemplo, um novo modelo de gestão e de financiamento à PNDR,

advindo da criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR), bem como outras ini-

ciativas que tornarão a Política um instrumento mais robusto à redução das históricas desigualdades

regionais brasileiras.

35 a elaboração desta seção se valeu basicamente de informações constantes do site do Ministério da integração nacional.

Page 352: Seminário de Segurança da Amazônia

350

A PNDR e o Planejamento do Desenvolvimento Regional36

O modelo recente de desenvolvimento para a Amazônia brasileira foi desenhado nos primeiros meses

de 2003, no âmbito do novo Governo Federal, quando ocorreu em Rio Branco, Acre, reunião do presi-

dente da República com os governadores da Amazônia. A partir de então, Governo Federal promoveu

discussão com a sociedade amazônica, com os governos estaduais e municipais, e com a sociedade

em geral, sobre a implementação de um novo modelo, pautado na valorização do seu enorme patri-

mônio natural amazônico e no aporte de investimentos em tecnologia e infraestrutura; voltado para a

viabilização de atividades econômicas dinâmicas e inovadoras, que gerassem emprego e renda e que

fossem compatíveis com o uso sustentável dos recursos naturais e a preservação dos biomas, visando,

em última instância, à elevação da qualidade de vida da população regional. A abordagem territorial foi

explicitada por meio do o Plano Amazônia Sustentável (PAS), ancorado à PNDR como peça da estraté-

gia macrorregional de retomada do planejamento regional no País.

A proposta original da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) foi elaborada no fim

de 2003 pela equipe da SDR/MI como passo inicial para se institucionalizar esforço de retomada dos

conceitos de desenvolvimento regional com o propósito de reduzir as desigualdades entre as diversas

regiões do País. Em 2007, a PNDR foi institucionalizada por meio do Decreto Presidencial n. 6.047, de

22 de fevereiro. A estratégia para a macrorregião Amazônica se traduz na proposta contemplada pelo

Plano Amazônia Sustentável (PAS), lançado pelo presidente da República em solenidade no Palácio do

Planalto em maio de 2008.

36 a elaboração desta seção se valeu basicamente de informações constantes do site do Ministério da integração nacional.

Page 353: Seminário de Segurança da Amazônia

351351

O Plano Amazônia Sustentável: antecedentes e desdobramentos37

O Constituinte de 1946 inseriu o Plano de Valorização Econômica da Amazônia, no corpo daquela

carta, como

um sistema de medidas, serviços, empreendimentos e obras, destinados a incrementar o

desenvolvimento da produção extrativa e agrícola pecuária, mineral, industrial e o das

relações de troca, no sentido de melhores padrões sociais de vida e bem-estar econô-

mico das populações da região e da expansão da riqueza do país.

Este dispositivo constituiu a base do planejamento regional nas décadas seguintes, a cargo, inicialmen-

te, da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), criada em 1953, e,

mais tarde, da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), criada em 1966.

Ao fim da primeira metade do século XX, a região amazônica acumulava transformações econômicas,

sociais, culturais e ambientais produzidas por três séculos e meio de colonização. Mas as políticas

de desenvolvimento regional implementadas desde então, ao estimularem a expansão da fronteira

interna, impuseram a essas transformações um ritmo inédito, alterando decisivamente os padrões de

ocupação da região. Hoje a Amazônia que se apresenta para o planejador público é muito diferente

daquela dos idos de 1946.

Os eixos rodoviários abertos a partir dos anos 1950, no bojo da nova concepção de desenvolvimento:

a Belém–Brasília, a Transamazônica, a Cuiabá–Santarém e a Brasília–Porto Velho, foram as vias pelas

quais fluíram migrantes, em busca das mais diversas oportunidades, além das grandes empresas agro-

pecuárias e mineradoras que se instalaram na região a partir dos mesmos. O povoamento, antes quase

restrito à calha do rio Amazonas e de seus principais afluentes, fundamentado na circulação fluvial e

polarizado por Belém, passou a ocorrer em maior escala nas terras altas do planalto brasileiro – no

Tocantins, no sul e sudeste do Pará, no norte e noroeste de Mato Grosso e Rondônia – e do planalto

das Guianas, em Roraima.

O Plano Amazônia Sustentável surge com o objetivo de elevar a questão Amazônica à questão nacional

no âmbito da retomada da função do planejamento regional na condução do Governo Federal, a partir

37 a elaboração desta seção se valeu basicamente de informações constantes do site do Ministério da integração nacional.

Page 354: Seminário de Segurança da Amazônia

352

das contribuições não só dos governos estaduais e municipais, mas por meio de inúmeras consultas

públicas realizadas em 2006, além das diretrizes gerais para as ações estruturantes de desenvolvimento,

constantes no PPA 2008-2011.

O PAS foi elaborado a partir de uma visão cooperativa, interfederativa e participativa, envolvendo em

nível de Governo Federal, os Ministérios da Integração Nacional e do Meio Ambiente. No nível estadual

participaram os governadores, secretários de planejamento e meio ambiente dos estados da região

Norte. Além destes, técnicos representantes dos ministérios organizados em Grupos de Trabalho Te-

máticos (GTTs.) tiveram como missão básica a sistematização dos programas e as ações encaminhadas

pelos Ministérios e Governos Estaduais ao MPOG, para comporem o PPA, e consolidá-las sob a pers-

pectiva do desenvolvimento ambientalmente sustentável.

Nasceu assim um documento de nível estratégico contendo um elenco de diretrizes gerais e as estraté-

gias recomendadas para a sua implementação. As ações concretas oriundas das orientações estratégi-

cas estão se materializarão a partir de planos operacionais sub-regionais, alguns inclusive já elaborados

e com comitês gestores em pleno funcionamento, como por exemplo, o Plano de Desenvolvimento

Regional Sustentável para a Área de Influência da Rodovia BR-163 (Cuiabá–Santarém), o Plano de

Desenvolvimento Territorial Sustentável para o Arquipélago do Marajó e o Plano de Desenvolvimento

Regional Sustentável do Xingu (em fase de finalização).

A rodovia Cuiabá–Santarém (BR-163) atravessa uma das regiões mais importantes da Amazônia Brasi-

leira do ponto de vista do potencial econômico, diversidade biológica, riquezas naturais e diversidade

étnica e cultural. Nessa sub-região predomina uma paisagem complexa, formada pelos biomas da Flo-

resta Amazônica e do Cerrado e por áreas de transição, além de três imensas bacias hidrográficas (Teles

Pires/Tapajós, Xingu e Amazonas) e dezenas de tributários. Dessa complexidade espacial dependem

aproximadamente 2 milhões de habitantes, envolvendo diversos grupos sociais e econômicos. A região

Centro-Norte do Mato Grosso também abriga um dos polos agrícolas mais produtivos do País, com

destaque para a produção de soja.

A BR-163 foi aberta nos anos 1970 com o propósito de tentar integrar a Amazônia à economia

nacional, mas ainda não teve seu asfaltamento concluído, restando ser pavimentados cerca de 900

km entre Nova Mutum (MT) e Santarém (PA). Esta carência tem motivado constantes reivindicações

de vários setores econômicos regionais, que alegam que a obra poderia facilitar e baratear o esco-

Page 355: Seminário de Segurança da Amazônia

353353

amento da produção agropecuária do norte do Mato Grosso. Estima-se uma expressiva redução nos

custos de transporte da safra agrícola por essa via, em comparação com as principais rotas utilizadas,

que se destinam aos portos de Paranaguá e Santos. A obra servirá, também, para escoar produtos

eletro-eletrônicos da Zona Franca de Manaus, carne, madeira e produtos agro-florestais destinados ao

mercado do Centro-Sul do País.

O Plano da BR-163 é o instrumento centralizador de um conjunto de vontades dos diversos planos da

administração pública. Ele surgiu não só para materializar as necessidades físicas em torno do asfal-

tamento da rodovia, mas também para, a partir de processos de coordenação e governança, minorar

os impactos sociais e ambientais indesejáveis na área de influência da mesma relacionados com ten-

dências de aumento de migrações desordenadas, grilagem e ocupação irregular de terras públicas,

concentração fundiária, desmatamento e exploração não-sustentável dos recursos naturais, aumento

da criminalidade e agravamento das condições de saúde pública.

De forma similar, mas em contexto diferenciado, o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do

Arquipélago do Marajó foi elaborado para atender a demandas da sociedade local do Arquipélago de

Marajó, no sentido de articular uma agenda de ações imediatas voltadas especialmente à regularização

fundiária, à implementação de obras de infraestrutura e ao combate à malária, dentro de um espaço

de discussão que incluiu a sociedade civil local, o governo estadual e as prefeituras municipais da sub-

-região e o Governo Federal.

A elaboração deste Plano esteve inicialmente a cargo do Grupo Executivo Interministerial (GEI), criado

por Decreto Presidencial de julho de 2006, coordenado pela Casa Civil da Presidência da República,

com a posterior adesão do Grupo Executivo do Estado do Pará, especificamente para o Plano Marajó

(GEPLAM), criado por Decreto Estadual em julho de 2007.

Os exercícios iniciais de governança durante a elaboração do Plano imediatamente geraram ações

emergenciais no Arquipélago, especificamente nas áreas de saúde, regularização fundiária e de ener-

gia, as mais críticas e, paralelamente, no período de agosto a dezembro de 2006, foi elaborada uma

versão preliminar para discussão do Plano que foi levado para debate na região na forma de um resumo

executivo.

Page 356: Seminário de Segurança da Amazônia

354

No primeiro trimestre de 2007 foram realizadas consultas públicas para a apresentação inicial da pro-

posta do plano em cinco municípios do Arquipélago, envolvendo todas as suas sub-regiões: Salvaterra

(municípios do nordeste); São Sebastião da Boa Vista (sudeste); Breves (sudoeste); Afuá (noroeste) e

Anajás (centro). As consultas contaram com a participação de mais de três mil pessoas, além das seções

preparatórias em todos os municípios do Arquipélago, com a participação de centenas de pessoas,

contando também com as dezesseis administrações municipais, diretamente e por meio da Associação

dos Municípios do Arquipélago do Marajó (AMAM).

Durante o processo foi verificada a necessidade de ampliar a participação e o papel gestor do Estado no

território. Neste contexto foi criado o GEPLAM que passou a integrar as duas esferas governamentais

de forma a viabilizar a conclusão e a implementação do Plano. O Plano foi assim construído a partir de

cinco eixos temáticos: fomento às atividades produtivas sustentáveis; inclusão social e cidadania; infra-

estrutura para o desenvolvimento; ordenamento territorial, regularização fundiária e gestão ambiental;

e relações institucionais e modelo de gestão.

O Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRS do Xingu), mais conhecido como

Plano Xingu, decorrente dos conceitos do Plano Amazônia Sustentável (PAS), tem por propósito or-

ganizar, em conjunto com o Governo do Estado do Pará, o planejamento da ação governamental e

facilitar a articulação institucional e territorial. Para isto, o Estado do Pará adotou uma subdivisão do seu

território em 12 sub-regiões de Integração, dentre as quais se inclui a sub-região chamada de região de

Integração do Xingu, objeto do Plano Xingu.

A questão logística também deve ter menção dadas as grandes distâncias e as dificuldades geográficas

de acesso às diversas sub-regiões estaduais que limitam o estabelecimento de fluxos econômicos mais

consistentes entre elas, caracterizando uma deficiência de articulação inter-regional no estado. Esse

contexto levou o governo a considerar como uma das diretrizes prioritárias, a articulação das diversas

regiões de integração do estado, quer do ponto de vista da conectividade ou acessibilidade física, ou

ainda do ponto de vista econômico, político e social.

A integração regional induzirá a diminuição das desigualdades regionais e promoverá o crescimento

econômico do estado. A integração das ações dos entes federados expressa uma nova realidade que

se materializa nos municípios do PDRS do Xingu com a construção de uma agenda de políticas sociais

públicas intermunicipais nessa região.

Page 357: Seminário de Segurança da Amazônia

355355

Como todos os instrumentos elaborados para a região amazônica, este também contou com intensa

participação da sociedade a partir de diversas consultas públicas onde foram discutidos assuntos relati-

vos aos cinco eixos temáticos previamente escolhidos também pelo processo participativo: Fomento às

Atividades Produtivas Sustentáveis; Inclusão Social e Cidadania; Infraestrutura para o Desenvolvimento;

Modelo de Gestão - Desenvolvimento Político Institucional; e Ordenamento Territorial, Regularização

Fundiária e Gestão Ambiental. O Plano Xingu encontra-se em fase final de construção.

A PNDR e os Programas Regionais em andamento38

O Programa de Promoção do Desenvolvimento da Faixa de Fronteira (PDFF)

O desenvolvimento da Faixa de Fronteira configura-se como importante diretriz da política regional bra-

sileira, até porque o referido espaço territorial é uma área estratégica para a integração sul-americana.

A região ainda se caracteriza por baixos padrões de desenvolvimento, marcada pela dificuldade de

acesso aos bens e serviços públicos. A Faixa de Fronteira do Brasil com países da América do Sul abran-

ge 11 unidades da Federação, com 588 municípios e cerca de 10 milhões de habitantes. O Brasil faz

fronteira com 10 Países da América do Sul entre os 12 existentes, o que reforça o caráter estratégico

desta região para a competitividade do País e para a integração do continente.

O Programa de Promoção do Desenvolvimento da Faixa de Fronteira (PDFF) tem como orientação a

mudança no padrão de intervenção pública federal na região das últimas décadas, cujos principais de-

safios são: i) definição de estratégias de desenvolvimento regional respeitando a diversidade da região;

ii) fortalecimento das condições de cidadania para a população local e organização da sociedade civil;

iii) articulação do programa com os demais instrumentos e mecanismos da PNDR; e iv) associação da

soberania com uma perspectiva de desenvolvimento e integração com a América do Sul. Desse modo,

o PDFF propõe um novo paradigma nas relações do Brasil com seus vizinhos no continente americano.

Tais relações não devem mais ser consideradas em um contexto de áreas longínquas e isoladas e sim

como uma região com a singularidade de estimular processos de desenvolvimento e integração regio-

38 a elaboração desta seção se valeu basicamente de informações constantes do site do Ministério da integração nacional.

Page 358: Seminário de Segurança da Amazônia

356

nal, uma vez que as faixas contíguas dos Países fronteiriços apresentam vantagens comparativas para

provocar o fortalecimento regional, a partir de características políticas e propósitos comuns.

O Programa tem como objetivo principal promover o desenvolvimento da Faixa de Fronteira por meio

de sua estruturação física, social e econômica, com ênfase na ativação das potencialidades locais e na

articulação com outros Países da América do Sul. Busca a promoção da convergência das políticas pú-

blicas setoriais na Faixa de Fronteira, para o enfrentamento das desigualdades intra e inter-regionais, a

partir da diversidade socioeconômica e cultural da região, da articulação da soberania nacional com o

desenvolvimento regional, em sua dimensão econômica, social, institucional e cultural.

O PDFF objetiva, ainda, estimular a implementação das potencialidades endógenas, em diversas escalas

espaciais, visando à inserção social e econômica das populações locais, articulando investimentos em

infraestrutura econômica para apoiar o processo de integração nacional por meio de um estímulo para

investimentos em arranjos e cadeias produtivas, buscando a integração continental.

Objetivando imprimir eficiência ao alcance das metas prioritárias do governo referentes ao desenvol-

vimento e integração regional, aperfeiçoar e catalisar o aproveitamento de peculiaridades da organi-

zação social e das características produtivas locais, a Faixa de Fronteira foi dividida em três grandes

Arcos: Norte, Central e Sul, composta por 17 sub-regiões, definidas em função de afinidades sociais;

culturais; históricas; étnicas e de potencialidade e dinamismo econômico, que sejam fortes o suficiente

para otimizar iniciativas conjuntas.

Nesse sentido, a estratégia de implementação do PDFF segue três linhas de ação: o desenvolvimento

Integrado das Cidades Gêmeas; a articulação das prioridades do PDFF com as Mesorregiões priori-

tárias dos programas de desenvolvimento regional; e a melhoria das condições econômicas, sociais

e de cidadania das sub-regiões que compõem a Faixa de Fronteira. O desenvolvimento Integrado

das Cidades Gêmeas segue a orientação emanada do Comitê Executivo da Câmara de Políticas de

Integração Nacional e Desenvolvimento Regional, espaço político-administrativo em que se prioriza o

desenvolvimento integrado das mesmas, a partir das potencialidades e especificidades locais.

As cidades fronteiriças de espaço contíguo (Cidades Gêmeas) constituem uma oportunidade para forta-

lecer e catalisar os processos de integração, social e institucional em bases supranacionais, fundamen-

tais para a competitividade nacional e regional.

Page 359: Seminário de Segurança da Amazônia

357357

A articulação das prioridades do PDFF com as Mesorregiões prioritárias dos programas de desenvol-

vimento regional enfoca em especial, 4 (quatro) Mesorregiões Diferenciadas39 que o Governo Federal

já vem atuando: Alto Solimões (AM), Vale do Rio Acre (AM e AC), Grande Fronteira do MERCOSUL (PR,

SC e RS) e Metade Sul do Rio Grande do Sul (RS), que alcançam ou se encontram em áreas coincidentes

com a Faixa de Fronteira.

Essas Mesorregiões são beneficiadas pelas ações dos Programas PDFF e também do Programa de Pro-

moção da Sustentabilidade de Espaços Sub-regionais (PROMESO), o que permite que os programas ali

implementados possam garantir o desenvolvimento sustentável dessas áreas que já estão em processo

de consolidação de uma base local de desenvolvimento, envolvendo articulação de estratégias e ações

do Governo Federal com os estados, municípios e as sociedades locais organizadas, constituindo uma

oportunidade para aproveitar sinergias de ações públicas e privadas.

A melhoria das condições econômicas, sociais e de cidadania das sub-regiões que compõem a Faixa

de Fronteira tem como centro as ações que objetivam articular os atores da Faixa de Fronteira em

torno de projetos de desenvolvimento comuns e de construção de percepções da realidade local e

sub-regional, além de gerar a elaboração de uma agenda para a superação dos obstáculos e utilização

das potencialidades, englobando em sua estratégia de atuação: o fortalecimento da sociedade civil, o

incentivo a Arranjos Produtivos Locais, a promoção da articulação dos atores e o estímulo à infraestru-

tura econômica e social.

39 a ‘Mesorregião diferenciada’ é um espaço de ação prioritária da Pndr, criado pelo Ministério da integração nacional,

com dimensão territorial intermediária entre a macrorregião e a microrregião, abrangendo porções territoriais de mais de

um estado federado, com identidade sócio-econômica, cultural e ambiental comum, espaço precursor do novo modelo de

desenvolvimento regional brasileiro. Para os efeitos do Decreto nº 6.047, de 22 de fevereiro de 2007 os seguintes espaços

territoriais são considerados mesorregiões diferenciadas: alto Solimões; Vale do rio acre; bico do Papagaio; chapada das

Mangabeiras; Xingó; bacia do itabapoana; Vales do ribeira e Guaraqueçaba; Grande fronteira do Mercosul; Metade Sul do

rio Grande do Sul; SeridÓ; Águas emendadas; chapada do araripe; Vales do Jequitinhonha e do Mucuri.

Page 360: Seminário de Segurança da Amazônia

358

O Programa de Promoção da Sustentabilidade de Espaços Sub-regionais (PROMESO)

O PROMESO incentiva a interface entre as diversas ações do governo em espaços geográficos espe-

cíficos, as Mesorregiões Diferenciadas, que envolvem regiões de um ou mais Estados. Estas regiões

compartilham características comuns em aspectos culturais, socioeconômicos, políticos e ambientais.

A partir de linhas mestras e objetivos estabelecidos pelo Ministério da Integração Nacional, cabe aos

parceiros do setor público, do setor produtivo e da sociedade civil, estruturar o novo modelo de gestão

segundo as necessidades regionais próprias e suas características culturais e sociais, visando ao fortale-

cimento da mesorregião. O programa busca a redução das desigualdades sociais e regionais a partir da

potencialização dos ativos endógenos tangíveis e intangíveis de Mesorregiões Diferenciadas.

O PROMESO tem como objetivo induzir a atuação integrada do Governo Federal em novas escalas

espaciais, preferencialmente em sub-regiões selecionadas pela PNDR; promover a identificação de de-

mandas e soluções à chamada problemática regional com a participação efetiva da sociedade civil, que,

para tanto, deve estar organizada e legitimamente representada; e buscar a superação dos desequilí-

brios com base no fomento a todas as regiões que apresentem potencialidades e ativos de capital hu-

mano e social, parcerias, capacidade de construir planos e pactos, redes de cooperação entre agentes

econômicos e entre instituições públicas e privadas.

O Programa constitui-se em um dos braços operacionais da PNDR, tendo como foco a gestão do

desenvolvimento alicerçado no estímulo ao potencial e características econômicas, sociais e culturais

próprias de cada mesorregião. Por meio do empoderamento e do fortalecimento do capital social

das regiões priorizadas, o Programa tem como objetivo complementar inverter o modus operandi

tradicional do desenvolvimento regional no Brasil, criando canais de interlocução com os territórios e

oferecendo protagonismo real aos atores regionais.

Para tanto, o Programa incentiva a capacitação de pessoas e a organização por meio da criação de

bases do associativismo e cooperativismo, visando criar um ambiente propício ao desenvolvimento

sustentável das mesorregiões. Neste cenário também tem destaque o esforço para a implantação de

infraestrutura mínima necessária ao crescimento econômico das regiões, como obras que não fazem

parte de iniciativas de grande porte dos governos e, ainda, facilidades de acesso a financiamentos de

baixo custo como, por exemplo, os Fundos Constitucionais e as agências de desenvolvimento em escala

sub-regional.

Page 361: Seminário de Segurança da Amazônia

359359

Dadas as suas características, forma de atuação e natureza dos espaços a que se destina, o PRO-

MESO abriga ainda a atuação direta do Ministério da Integração Nacional nas Regiões Integradas

de Desenvolvimento (RIDEs), em certa medida, justificada pela inexistência de Programa específico

para essas sub-regiões.

As Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDEs)

Resultantes da regionalização preconizada pelo artigo 43 da Constituição de 1988, as RIDEs são espa-

ços que também envolvem mais de uma Unidade da Federação, com escopo, portanto, mais amplo

que o previsto para as regiões metropolitanas. Ali a União deve exercer sua articulação, com vistas ao

desenvolvimento regional e à redução das desigualdades, de forma coerente e alinhada com os objeti-

vos do Programa. As RIDEs são institucionalidades respaldadas pela Constituição de 1988, autorizadas

por Lei Complementar e regulamentadas por Decreto Presidencial, que atendem ao preceito consti-

tucional que atribui à União a prerrogativa de articular ações administrativas em um mesmo espaço

geoeconômico e social.

Sendo tais espaços destinados à convergência de ações de toda administração pública federal e dos en-

tes federados pertinentes, coube ao Ministério da Integração Nacional a coordenação, o secretariado e

a consolidação das informações afetas às já criadas RIDEs, quais sejam: Região Integrada de Desenvolvi-

mento do Distrito Federal e Entorno (RIDE-DF)40, autorizada pela; Região Integrada de Desenvolvimento

da Grande Teresina41; e Região Integrada de Desenvolvimento de Petrolina-Juazeiro42.

As RIDEs têm por objetivo articular e harmonizar as ações administrativas da União, dos estados e dos

municípios para a promoção de projetos que visem à sua dinamização econômica integrada, sendo

expressas em seu aparato legal e normativo, as seguintes áreas de interesse, com prioridade na aloca-

ção dos respectivos recursos públicos: sistema viário, transporte; serviços públicos comuns; geração de

empregos e capacitação profissional; saneamento básico. Visam também priorizar o uso, parcelamento

e ocupação do solo; a proteção ao meio ambiente; o aproveitamento de recursos hídricos e minerais;

40 autorizada pela Lei complementar nº 94, de 19 de fevereiro de 1998, regulamentada pelo decreto nº 2.710/1998.

41autorizada, em setembro de 2001, pela Lei complementar nº 112, regulamentada pelo decreto nº 4.367/2002.

42 autorizada também em setembro de 2001, pela Lei complementar nº 113, regulamentada pelo decreto nº 4.366/2002.

Page 362: Seminário de Segurança da Amazônia

360

a saúde e assistência social; a educação e cultura; a produção agropecuária e abastecimento alimentar;

a habitação popular; o combate a causas de pobreza e fatores de marginalização; os serviços de tele-

comunicações; o turismo; e a segurança pública. Cada RIDE conta com seu Conselho Administrativo,

denominado COARIDE, composto por representantes da União e dos Estados e Municípios que a inte-

gram, que tem a função de coordenar e decidir sobre a execução de programas e projetos de interesse

da região administrativa.

As leis de criação de RIDES preveem a elaboração de Programas Especiais de Desenvolvimento para as

regiões integradas, contemplando as iniciativas de desenvolvimento, os instrumentos para tratar dos

serviços e tarifas comuns, o envolvimento institucional e as parcerias entre o setor público e a sociedade

civil. As dificuldades para o financiamento destas ações têm feito com que pouco se avance na ação

concreta em tais territórios, com exceção de alguns aportes isolados oriundos de emendas parlamen-

tares e alguma contribuição dos recursos do OGU do próprio PROMESO

A PNDR e o financiamento do desenvolvimento regional

A PNDR requer suporte financeiro adequado e dirigido para fomentar o desenvolvimento regional no

Brasil e mais especificamente na Amazônia. Para isto conta, atualmente, com fontes de recursos e

instrumentos diversificadas, como as do Orçamento Geral da União (OGU); do Fundo Constitucional

de Financiamento do Norte (FNO); do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA) e dos incentivos

fiscais para a região.

O Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO) é atualmente o principal instrumento de

fomento para das atividades produtivas ali desenvolvidas, emprestando recursos aos diversos setores da

economia e a todos os portes de tomadores, desde o agricultor familiar e a microempresa até o grande

produtor e os grandes projetos estruturantes.

O Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA) financia por meio da aquisição de debêntures, par-

cialmente conversíveis em ações, as empresas constituídas na forma de sociedades por ações. Também

possui condições de taxas de juros e prazos favorecidos, sendo que a ênfase é para o financiamento de

projetos de infraestrutura ou considerados estruturadores da economia.

Page 363: Seminário de Segurança da Amazônia

361361

Como sucessor do Fundo de Investimentos da Amazônia (FINAM), o FDA tem orçamentação prevista

até o ano de 2013, sendo fonte de financiamento para a aquisição de debêntures conversíveis em

ações na Amazônia. O FINAM cessou a aprovação de novos projetos em agosto de 2001 e apoia

apenas projetos que já tinham sido aprovados até aquela data. Os administradores dos fundos são o

Ministério da Integração Nacional, a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, diretamente

ou por meio de seu Conselho Deliberativo, e o Banco da Amazônia. Ao Ministério da Integração Na-

cional cabe estabelecer diretrizes, orientações gerais e normas para operacionalização de programas

de financiamento, supervisionar, acompanhar e controlar a aplicação dos recursos, bem como avaliar

o desempenho dos fundos.

Ao Conselho Deliberativo da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), cabe esta-

belecer as prioridades e aprovar a programação anual de recursos do fundo.

No caso específico dos fundos de desenvolvimento (FDA) as diretorias colegiadas das Superintendên-

cias são as responsáveis pela aprovação de cartas-consulta e projetos. Os bancos regionais de desen-

volvimento e o Banco do Brasil administram os recursos financeiros dos fundos constitucionais e são

operadores dos fundos de desenvolvimento, sendo também responsáveis pela contratação e adminis-

tração das operações de crédito. O Banco da Amazônia opera o FNO e o FDA.

O FNO, o FDA e os Incentivos na Amazônia

O Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO)

A região Norte, composta pelos Estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e o

Tocantins, possui 449 municípios, sendo que, deste total, 25 municípios, ou seja, 5,6% estão em mi-

crorregiões classificadas como de ‘Alta Renda’ pela tipologia da PNDR43. Os municípios integrantes de

43 a tipologia da Política nacional de desenvolvimento regional – Pndr foi construída com o propósito de estabelecer um

quadro referencial das desigualdades regionais, destacando a necessidade de promoção de programas e ações articuladas

com a superação do desafio que se coloca para a sociedade brasileira. a metodologia está baseada em duas (2) variáveis:

i) rendimento Médio Mensal por Habitante, englobando todas as fontes declaradas (salários, benefícios, pensões, etc)

convertidos à paridade do poder de compra pelos valores das cestas básicas do dieeSe; e ii) taxa Geométrica de Variação

dos Produtos internos brutos Municipais por habitante, ajustados pelos deflatores do ibGe.

Page 364: Seminário de Segurança da Amazônia

362

microrregiões classificadas como ‘Dinâmicas’ são 149 (33,2% do total) e os municípios integrantes

de microrregiões de tipologia classificadas como ‘Estagnada’ são 157 (35% do total). Os municípios inte-

grantes de microrregiões classificadas como de ‘Baixa Renda’ são 118 (26,3% do total). Ao fim de 2006,

as aplicações com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento (FCO, FNE, FNO) atingiram R$

7.018 milhões. O FNO foi responsável por 14,05% (R$ 986 milhões) dessas aplicações.

A partir de 2007 as aplicações contratadas com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamen-

to apresentaram enorme incremento, encerrando o exercício de 2009 com aplicações da ordem de

R$ 14.758 milhões nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, equivalendo a um crescimento de

110,26% em relação ao exercício de 2006. Desse total, 16,54% (R$ 2.440 milhões) foram contratados

com recursos do FNE. A Tabela 1 apresenta a distribuição das operações realizadas no âmbito do FNO

na Amazônia de 2006 a 2009.

Tipologia

da PNDr

2006 2007 2008 2009 TOTal

nº.op. r$ mil nº. op. r$ mil nº. op. r$ mil nº. op. r$ mil nº. op. r$ mil

Alta Renda 2.556 255.971 2.162 311.139 2.990 760.582 2.743 1.226.803 10.451 2.554.495

Baixa Renda 7.666 98.589 11.110 122.584 16.454 322.094 14.579 170.810 49.809 714.077

Dinâmica 11.360 232.905 16.218 218.069 14.903 297.413 17.499 284.446 59.980 1.032.833

Estagnada 7.496 398.793 10.505 458.159 11.915 673.477 14.427 758.430 44.343 2.288.859

Total 29.078 986.258 39.995 1.109.951 46.262 2.053.566 49.248 2.440.489 164.583 6.590.264

Tabela 1 – Distribuição das operações realizadas no âmbito do FNO na Amazônia (2006 a 2009)

fonte: Ministério da integração nacional. coordenação Geral dos fundos constitucionais de financiamento. relatórios de

atividades desenvolvidas e resultados obtidos com a aplicação dos recursos do fco, fne e fno – exercícios 2006 a 2009.

No FNO, nos anos de 2006 e 2007, as contratações foram realizadas, na sua maior parte, nas microrre-

giões consideradas como “Estagnadas”. Em 2008 e 2009, as aplicações nas microrregiões consideradas

como de “Alta Renda” são predominantes. Nos quatro anos analisados, as aplicações nos espaços

preferenciais (microrregiões de baixa renda, dinâmicas e estagnadas) superam o volume aplicado nas

Page 365: Seminário de Segurança da Amazônia

363363

microrregiões de alta renda, exceto no último, onde as microrregiões consideradas como ‘Alta Renda’

são responsáveis por 50,27% dos financiamentos. A Tabela 2 apresenta o conjunto de contratações

Estaduais no FNO de acordo com a Tipologia da PNDR (2006-2009).

UF TiPOlOGia2006 2007 2008 2009

Qtde r$ Mil Qtde r$ Mil Qtde r$ Mil Qtde r$ Mil

AC

Alta Renda 406 21.647 219 31.318 180 45.047 357 37.299

Baixa Renda - - - - - - - -

Dinâmica 488 12.897 725 28.962 870 37.156 1.802 45.470

Estagnada 357 8.940 236 12.456 149 13.366 506 17.876

AC Total 1.251 43.484 1.180 72.736 1.199 95.569 2.665 100.645

AM

Alta Renda 85 146.718 78 181.134 86 328.396 125 323.404

Baixa Renda 1.891 13.548 2.379 20.257 2.204 29.397 4.987 34.389

Dinâmica 2.414 28.825 2.027 12.424 1.629 11.131 3.003 22.696

Estagnada 333 5.215 1.000 12.383 773 13.531 1.914 25.076

AM Total 4.723 194.307 5.484 226.198 4.692 382.455 10.029 405.565

AP

Alta Renda 17 2.081 14 2.319 39 11.559 240 24.950

Baixa Renda 16 241 30 542 44 351 271 4.462

Dinâmica 100 2.537 114 1.814 219 13.604 389 11.331

Estagnada 55 1.009 5 94 62 2.635 274 5.263

AP Total 188 5.868 163 4.769 364 28.149 1.174 46.006

PA

Alta Renda 97 36.863 611 46.570 792 206.347 271 68.171

Baixa Renda 4.126 47.218 6.778 41.182 12.976 198.086 7.667 56.101

Dinâmica 7.071 128.401 10.282 141.829 7.892 176.547 9.939 136.178

Estagnada 3.761 152.905 4.725 182.677 6.587 185.013 4.950 242.148

PA Total 15.055 365.387 22.396 412.258 28.247 765.993 22.827 502.598

RO

Alta Renda 1.275 21.841 162 12.223 1.028 43.179 1.270 578.866

Baixa Renda - - - - - - - -

Dinâmica 45 4.402 167 4.030 269 12.564 596 22.482

Estagnada 481 132.132 1.261 101.518 1.540 222.633 3.677 206.951

RO Total 1.801 158.376 1.590 117.771 2.837 278.376 5.543 808.299

Page 366: Seminário de Segurança da Amazônia

364

RR

Alta Renda 235 10.032 93 4.806 93 19.133 111 6.794

Baixa Renda 111 3.121 59 2.330 22 1.824 18 1.801

Dinâmica 720 18.542 2.400 11.535 3.024 11.955 1.207 5.339

Estagnada - - - - - - - -

RR Total 1.066 31.694 2.552 18.671 3.139 32.912 1.336 13.934

TO

Alta Renda 441 16.789 985 32.769 772 106.921 500 190.616

Baixa Renda 1.522 34.462 1.864 58.273 1.208 92.436 1.636 74.057

Dinâmica 522 37.300 503 17.475 1.000 34.456 563 40.950

Estagnada 2.509 98.591 3.278 149.032 2.804 236.299 2.975 257.819

TO Total 4.994 187.143 6.630 257.549 5.784 470.112 5.674 563.442

Total

Alta Renda 2.556 255.971 2.162 311.139 2.990 760.582 2.874 1.230.100

Baixa Renda 7.666 98.590 11.110 122.584 16.454 322.094 14.579 170.810

Dinâmica 11.360 232.904 16.218 218.069 14.903 297.413 17.499 284.446

Estagnada 7.496 398.792 10.505 458.160 11.915 673.477 14.296 755.133

Total Geral 29.078 986.257 39.995 1.109.952 46.262 2.053.566 49.248 2.440.489

Tabela 2 – Contratações Estaduais no FNO de acordo com a Tipologia da PNDR (2006-2009)fonte: Ministério da integração nacional. coordenação Geral dos fundos constitucionais de financiamento. relatórios de

atividades desenvolvidas e resultados obtidos com a aplicação dos recursos do fno – exercícios 2006 a 2009.

A partir dos dados apresentados na Tabela 2 pode-se observar que houve uma evolução significativa

da participação de todas as Unidades da Federação no número de operações e no volume de recursos

contratados, com exceção de Roraima. O Estado do Pará manteve-se como o maior beneficiário do

FNO, mas deve-se registrar o crescimento dos valores contratados em 2009 por Tocantins e Roraima.

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As aplicações nas Mesorregiões e Faixa de Fronteira

Na escala sub-regional, o Ministério da Integração Nacional vem desenvolvendo ações para implemen-

tação da PNDR nas Mesorregiões Diferenciadas, em microrregiões selecionadas do Semiárido Nordes-

tino, em toda a extensão da Faixa de Fronteira e nas RIDEs.

Na área de atuação do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), o Ministério da Integra-

ção Nacional vem atuando em três Mesorregiões Diferenciadas: ‘Alto Solimões’, ‘Bico do Papagaio’ e

‘Vale do Rio Acre’. A mesorregião do ‘Alto Solimões’ é compreendida por 9 municípios que equivalem

a 2% do total de municípios da Região Norte, todos localizados no Estado do Amazonas. Apesar da

mesorregião do ‘Bico do Papagaio’ ser formada por 66 municípios, somente 50 municípios pertencem

à área de atuação do FNO, sendo 25 municípios localizados no Estado do Pará e 25 municípios locali-

zados no Estado de Tocantins (os demais 16 municípios pertencem ao Estado do Maranhão44). Esses 50

municípios representam 11,1% do total de municípios da região. A Mesorregião do Vale do Rio Acre

é constituída por 13 municípios, sendo 2 municípios situados no Estado do Amazonas e 11 municípios

no Estado do Acre, representando 2,9% do total de municípios da Região Norte.

No que diz respeito à Faixa de Fronteira na Região Norte, 98 municípios dos estados da região Norte

que possuem territórios fronteiriços com países da América do Sul fazem parte desta área especial de

planejamento do Ministério da Integração Nacional, e correspondem a 21,8% do total de municípios

da região. A Tabela 3 mostra a evolução do valor contratado nas Mesorregiões Diferenciadas e na Faixa

de Fronteira, no período de 2006 a 2009 pelo FNO.

44 os municípios localizados no estado do Maranhão não são beneficiários do fundo constitucional de financiamento do

norte (fno). dessa maneira, quando, aqui tratado da mesorregião diferenciada do “bico do Papagaio”, farão parte das

considerações apresentadas somente os municípios localizados nos estados do tocantins e do Pará, beneficiários do fno.

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2006 2007 2008 2009

Alto Solimões 0 320.000 1.255.000 330.000

Bico do Papagaio 110.078.000 148.855.618 161.624.000 162.873.000

Chapada das Mangabeiras 3.193.063 6.686.000 11.182.000 17.705.000

Vale do Rio Acre 41.400.000 51.221.000 64.355.000 65.726.000

Total Mesorregiões 154.671.063 207.082.618 238.416.000 246.634.000

Faixa de Fronteira 242.910.370 188.282.000 419.684.000 834.465.000

TOTal FNO 397.581.433 395.364.618 658.100.000 1.081.099.000

Tabela 3 – Evolução do valor contratado nas Mesorregiões Diferenciadas e na Faixa de Fronteira (2006 a 2009)

fonte: Ministério da integração nacional. coordenação Geral dos fundos constitucionais de financiamento. relatórios de

atividades desenvolvidas e resultados obtidos com a aplicação dos recursos do fno – exercícios 2006 a 2009.

Nos municípios pertencentes à Faixa de Fronteira da Região Norte, o FNO financiou empreendimentos

no valor R$ 242 milhões em 2006 e R$ 834 milhões em 2009, acréscimo de 245% no período; nos mu-

nicípios integrantes das Mesorregiões ‘Alto Solimões’, ‘Bico do Papagaio’, ‘Chapada das Mangabeiras’

e ‘Vale do Rio Acre’, o FNO contratou R$ 154 milhões em 2006 e R$ 246 milhões em 2009, resultado

que aponta acréscimo de quase 60%.

Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA)

No período de 2006 a 2010, os recursos do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia oriundos das

cartas-consulta e projetos aprovados, totalizaram R$ 3,6 bilhões.

Diferentemente dos Fundos Constitucionais de Financiamento, que atendem de forma ampla a todos

os setores da economia e a todos os portes de tomadores, os Fundos de Desenvolvimento da Amazônia

(FDA) e do Nordeste (FDNE) direcionam seus recursos para a infraestrutura econômica e para projetos

estruturadores da economia dessas regiões. O Quadro 1 apresenta a evolução do valor total de recur-

sos do FDA liberados no período (2006-2010) segundo a classificação dos municípios atendidos por

tipologia da PNDR.

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Município UF PNDr setor Valor liberado

Manaus AM AR Energia (PCH) 96.837.421,20

Manaus AM AR Energia (PCH) 116.194.954,88

Barcarena PA DMR Ind. de Transf. 13.514.958,00

Dianopolis TO DMR Energia (UTE) 76.486.713,42

Guarantã do Norte MT DMR Energia (UTE) 56.015.000,00

Juscimeira MT EMR Energia (PCH) 78.382.800,00

Rolim de Moura RO EMR Energia (UHE) 53.792.702,92

Pimenta Bueno RO EMR Ind. de Transf. 164.608.922,79

Pedra Preta MT EMR Agroindústria 17.416.046,00

Miranda do Norte MA BR Energia (UTE) 171.031.408,00

Total 844.280.927,21

Quadro 1 – Evolução do valor total de recursos do FDA liberados no período (2006-2009) segundo a classificação dos municípios atendidos por tipologia da PNDR

fonte: coordenação Geral dos fundos de desenvolvimento regional - cGfd/Mi.

No período de 2007 a 2010 foram liberados, pelo FDA, R$ 844 milhões ao setor produtivo da Ama-

zônia. O maior volume de liberações ocorreu no exercício de 2007, quando foram liberados R$ 323

milhões pelo FDA a projetos localizados na Amazônia Legal. O Quadro 2 apresenta a evolução do

montante total de recursos liberados anualmente pelo Fundo e de acordo com a tipologia da PNDR.

ano Valor liberado PNDr Valor liberado

2007 322.927.395,46 AR 213.032.376,08

2008 216.225.405,25 DMR 146.016.671,42

2009 111.500.114,42 EMR 303.171.125,63

2010 193.638.011,70 BR 171.031.408,00

Quadro 2 – Evolução do montante total de recursos liberados anualmente pelo Fundo e de acordo com a tipologia da PNDRfonte: SudaM.

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A proposta do novo modelo de financiamento da PNDR e a criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR)

Visando dotar o sistema nacional de desenvolvimento regional com recursos voltados para ações não

contemplados no atual modelo de financiamento do desenvolvimento regional brasileiro, como por

exemplo, o financiamento de infraestrutura de base econômica e social, o Governo Federal inseriu na

proposta de Reforma Tributária enviada ao Congresso Nacional em fevereiro de 2008, como proposta

de Emenda à Constituição de número 31A, a criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional

(FNDR), instrumento considerado indispensável para a efetividade e eficácia da Política.

Dentre os principais objetivos do novo Fundo, destaca-se a ampliação do montante de recursos desti-

nados à Política Nacional de Desenvolvimento Regional e a introdução de mudanças significativas nos

instrumentos de execução da Política. O FNDR será um instrumento mais aderente à PNDR tendo uma

abrangência que irá além do perfil atual de apoio dos fundos regionais vigentes, voltados exclusivamen-

te para o setor produtivo das macrorregiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Os recursos do novo instrumento terão abrangência ampliada para programas de desenvolvimento

econômico e social das áreas menos desenvolvidas de todo o País, alargando o escopo de financiamen-

to da política regional brasileira.

Prevê também o aporte de parte significativa dos recursos para Fundos Estaduais de Desenvolvimento

Regional, o que vai ao encontro da estratégia de descentralização da PNDR, possibilitando o envolvi-

mento, de forma definitiva, das Unidades da Federação na estratégia de desenvolvimento regional do

País. Propicia, portanto, ampliação de investimentos em infraestrutura voltados para a manutenção e

atração de empreendimentos do setor produtivo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e para

aplicação em investimentos voltados ao desenvolvimento econômico das áreas menos desenvolvidas

das regiões Sul e Sudeste.

A existência do FNDR, entretanto, não dispensará os investimentos dos diversos ministérios setoriais e

suas respectivas vinculadas que deverão ser harmonizados e orientados por planos regionais de desen-

volvimento devidamente debatidos com a sociedade.

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As diretrizes para aplicação do FNDR nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste serão estabelecidas

pelas Superintendências de Desenvolvimento das respectivas regiões, no que diz respeito aos progra-

mas de financiamento e aos programas de desenvolvimento econômico e social e deverão abranger

tanto os tradicionais mecanismos regionais de financiamento ao setor produtivo das macrorregiões

menos desenvolvidas, como o direcionamento de recursos públicos para a promoção das chamadas

externalidades positivas nas áreas menos desenvolvidas do País.

Conclusão

A Amazônia carrega algumas contradições que estão no centro das discussões sobre opções ou ca-

minhos do desenvolvimento regional. Se por um lado faz parte indissociável da agenda mundial que

envolve a preocupação com a preservação e utilização racional e econômica dos recursos naturais, por

outro, é cenário de experiências equivocadas e de modelos de desenvolvimento predatórios ao longo

da história. Reconhecer tal fato é condição sine qua non para o estabelecimento de um modelo de

desenvolvimento da Amazônia, uma forma única e própria, para não dizer sustentável, de incorporação

de tão pujante território ao esforço nacional de desenvolvimento.

O compromisso do Ministério da Integração Nacional com os amazônidas tem como pilares básicos a

mudança do modelo histórico de ocupação e exploração da região, com ampliação da infraestrutura

em bases tecnológicas sustentáveis e a promoção da modernização da base produtiva por meio do

uso racional da floresta, com o aumento da produtividade em áreas já “antropizadas” e consequente

ampliação dos níveis de emprego e renda conforme previsto no Plano Amazônia Sustentável.

O aumento expressivo das dotações de recursos do Fundo Constitucional do Norte, por exemplo, deve

vir acompanhado de uma multiplicação das operações para porções do território menos favorecidas

por investimentos e oportunidades de acesso ao crédito. Não basta a duplicação do montante de recur-

sos disponibilizados à região, mas também o aumento do número de operações, isto é, a ‘socialização

do crédito’ é fundamental.

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Mais ainda, é mister que o crédito ao empreendedor possa estar disponível em toda macrorregião, em

especial nos locais menos acessíveis. De forma equivalente, se o novo padrão de financiamento que

se procura para a região tem como corolário o que pensa Thiago de Mello, que interpreta o território

como a oportunidade final de, no planeta, abrigar uma civilização harmônica e sustentável, o microcré-

dito deve ter papel preponderante no contexto do desenvolvimento regional, tão estratégico quanto o

FNDR e a proposta de descentralização da Política Nacional de Desenvolvimento Regional que acompa-

nha a proposta de criação do novo fundo.

Quanto à contribuição da Política Regional para a meta de crescimento da participação do PIB regional

de cerca de 5% a ao menos 8% do total nacional em 2022, considera-se primordial não só um novo

padrão de financiamento, mais uma significativa evolução das instituições regionais e locais. Assim,

não se pode abrir mão, por exemplo, de uma SUDAM modernizada a partir de novos modelos de ad-

ministração de recursos humanos e materiais. Referimo-nos a uma Superintendência fortalecida, com

instrumentos e mecanismos suficientes para o cumprimento da nobre missão institucional que lhe cabe

– tal realidade não está a serviço da sociedade amazônida ao fim do ano de 2010.

Também é primordial o fortalecimento das estruturas regionais e sub-regionais de desenvolvimento

regional, à semelhança das Secretarias Estaduais de Integração Regional ou os Fóruns e Agências Re-

gionais de Desenvolvimento. O reforço à base técnico-científica também deve ser entendido como

estratégico ao desenvolvimento da Amazônia. Novas unidades são muito bem-vindas, a exemplo da

Universidade Federal do Oeste Paraense (UFOPA), primeira Universidade Federal criada fora do eixo das

capitais da Amazônia. O reforço e apoio à base estrutural de ensino, pesquisa e inovação existente é

fundamental para que não se perpetuem as desigualdades históricas da distribuição de recursos à re-

gião, em comparação às demais do País.

Da mesma forma, a retomada da prática do planejamento, mais especificamente do planejamento

regional, a partir da elaboração de planos regionais e/ou sub-regionais em diversas escalas, conforme

preconizado pelo PAS, é parte indivisível da retomada do desenvolvimento regional como ação de

Estado na Amazônia. Muito já se realizou nos últimos anos a este respeito, mas muito ainda há que

se realizar, sobretudo no que diz respeito à coordenação das iniciativas em andamento e a garantia de

recursos para a implementação das ações propostas pela nova estratégia regional.

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Neste contexto, se o Ministério da Integração Nacional tem como missão “atuar na promoção do

desenvolvimento das regiões do país, reduzindo as desigualdades regionais, estimulando a inclusão

social e a cidadania, e criar meios para a utilização sustentável e em bases competitivas da nossa rica

diversidade cultural, ambiental, social e econômica”, cabe aí um grande esforço de entendimento da

complexa ‘questão amazônica’. O déficit de compreensão sobre o papel estratégico da região para o

desenvolvimento nacional, creditado a boa parte da sociedade brasileira, deve ser estímulo ao instituto

que se debruça sobre a integração nacional.

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