semana sebrae do agronegócio 2010

64

Upload: midia-plano

Post on 28-Mar-2016

239 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

Relatório da Semana Sebrae do Agronegócio 2010, com apresentação de casos de sucesso palestras sobre acesso a serviços financeiros, mercados e inovação

TRANSCRIPT

Page 1: Semana Sebrae do Agronegócio 2010
Page 2: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

2

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Expediente

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)

Presidente do Conselho Deliberativo NacionalRoberto Simões

Diretor-PresidentePaulo Okamotto

Expediente Editorial

Semana Sebrae do Agronegócio 2010

É permitida a reprodução parcial ou totaldesta obra, desde que citada a fonte.Distribuição gratuita.

Coordernação EditorialPlano Mídia Comunicação (planomidia@ gmail.com)(61) 3244 3066/67 e 9216 5879

EditorAbnor Gondim

Produção e TextosAnna Karina de Carvalho, Christiane Telles e Camilla Stivelberg

RevisãoCélia Curto

Projeto GráficoVilson Mateus

DiagramaçãoDaniel Ribeiro/Gueldon Brito

SebraeSEPN Quadra 515, Bloco C, Loja 32Brasília – Distrito FederalCEP: 70.770-900 – Tel.: (61) 3348 7100www.sebrae.com.br

Diretor-TécnicoCarlos Alberto dos Santos

Diretor de Administração e FinançasJosé Claudio dos Santos

Gerente da Unidade de AgronegóciosPaulo Alvim

Responsável TécnicoNewman Costa (coordenadora deOrgânicos, PAIS e Horticultura da Unidadede Agronegócios/Sebrae)

O arquivo deste catálogo está disponível nos portais dos setores da Unidade de Agronegócios do Sebrae:

• Agroenergia (http://www.sebrae.com.br/setor/agroenergia)

• Apicultura (http://www.sebrae.com.br/setor/apicutura)

• Aqüicultura e Pesca (http://www.sebrae.com.br/setor/aquicultua-e-pesca)

• Café (http://www.sebrae.com.br/setor/cafe)

• Carne (http://www.sebrae.com.br/setor/carne)

• Derivados de Cana (http://www.sebrae.com.br/setor/derivados-de-cana)

• Floricultura (http://www.sebrae.com.br/setor/floricultura)

• Fruticultura (http://www.sebrae.com.br/setor/fruticultura)

• Horticultura (http://www.sebrae.com.br/setor/horticultura)

• Leite e Derivados (http://www.sebrae.com.br/setor/leite-e-derivados)

• Mandiocultura (http://www.sebrae.com.br/setor/mandiocultura)

• Ovinocaprinocultura (http://www.sebrae.com.br/setor/mandiocultura)

Page 3: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

3

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Sumário AberturaSemana do Agronegócio difunde conhecimento .......................................................................................................................................................4Sebrae deve melhorar gestão, acesso a mercados e serviços financeiros .................................................................................................................6

Acesso a MercadosQualidade dos alimentos ganha mais atenção ...........................................................................................................................................................9Agricultor deve mostrar diferencial ...........................................................................................................................................14

Experiências Inovadoras de MercadoCastanha de caju na Terra da Garoa ...........................................................................................................................................................................16Embutidos viram caso de sucesso no interior gaúcho ................................................................................................................20Capital brasileira da acerola ......................................................................................................................................................22Farinha de qualidade na fábrica dos Anjos ................................................................................................................................24O que é que a banana tem? .......................................................................................................................................................25Criadores de ovinos inovam e vencem a crise ............................................................................................................................27A vez da manga ubá ..................................................................................................................................................................29Cooperativismo: ganho para todos ...........................................................................................................................................31

Inovação no AgronegócioAs cinco ferramentas de tecnologia do Sebrae ..........................................................................................................................33Inovação para o homem do campo ...........................................................................................................................................36

Experiências Inovadoras no AgronegócioO desafio da horticultura ...........................................................................................................................................................38Vem aí o Shopping da Agricultura Familiar ...............................................................................................................................41Aipim Chips, inovação está na receita que deu certo .................................................................................................................43Pequi: fruta com sabor de empreendedorismo ..........................................................................................................................45Vale das Palmeiras: modelo de agroecologia para o País ...........................................................................................................47Investir na felicidade das pessoas é inovar ................................................................................................................................50

Acesso a Serviços FinanceirosCrédito Rural em condições excepcionais ..................................................................................................................................52Agricultura familiar faz parte do agronegócio ...........................................................................................................................54Crédito Rural aumentou 26% ....................................................................................................................................................56Banco do Brasil fortalece o crescimento do agronegócio ...........................................................................................................58Banco do Nordeste orienta produtores nas comunidades ..........................................................................................................60

EncerramentoMicro e pequenos precisam crescer mais que a média nacional ................................................................................................62

Page 4: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

4

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Trocar experiências, conquis-tar novos mercados, adotar inovação e prever possíveis

cenários para o setor agrícola nos próximos anos. Esses foram os principais objetivos da Semana Se-brae do Agronegócio 2010, realiza-da de 4 a 6 de maio, em Brasília.

“Precisamos de reflexões como essas para que possamos elaborar e disseminar cada vez mais conhe-cimento”, disse o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Mi-cro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, durante a abertu-ra do evento.

Segundo ele, existem hoje no setor gargalos difíceis de serem re-solvidos. “Temos de ficar atentos, por exemplo, aos setores que têm fortes oscilações no mercado, como o leite e o café”, afirmou.

Okamotto anunciou que, em breve, o Sebrae, em parceria com a Confederação Nacional da Agri-cultura e Pecuária (CNA), irá inten-sificar atividades que levem co-nhecimentos sobre gestão para as propriedades rurais, transforman-do-as em empresas.

O presidente ressaltou que a instituição precisa estar atenta a eventuais mudanças a serem en-frentadas pelo agronegócio nos próximos anos, como, por exem-

em pesquisas para podermos sair da agricultura arcaica”, afirmou.

Para o diretor-técnico do Se-brae, Carlos Alberto dos Santos, o evento é a oportunidade de dar

Evento

Semana do Agronegócio difunde conhecimentoPresidente do Sebrae diz que é preciso discutir estratégias e investir em pesquisa para modernizar o setor e torná-lo cada vez mais competitivo

Presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, durante a abertura da Semana Sebrae do Agronegócio 2010, em Brasília

GILMAR FÉLIX

Precisamos discutir os instrumentos de mercado e de conhecimento, desenvolver estratégias, discutir polí-ticas públicas e investir em pesquisas para podermos sair da agricultura arcaica.

Paulo Okamotto, presidente do Sebrae

plo, o êxodo rural. “Precisamos discutir os instru-

mentos de mercado e de conhe-cimento, desenvolver estratégias, discutir políticas públicas e investir

Page 5: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

5

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Semana do Agronegócio contou com cerca de 300 participantes

GILMAR FÉLIX

Publicações para produtores rurais

foram lançadas no evento

cativo e importante para o setor.“A Semana Sebrae do Agro-

negócio soma-se a outras ações que vêm sendo conduzidas para o agronegócio”.

O embaixador do Senegal no Brasil, Fôdi Sick, ressaltou o impor-tante relacionamento que seu país tem com o Brasil na área de agricul-tura em geral. Ele falou também so-bre a importância do Sebrae para o desenvolvimento do País.

“Minha vinda ao Brasil é em busca de aproximação entre o Se-

voz e vez para os produto-res e lideranças e de com-partilhar experiências.

“O evento representa um esforço de trabalho, com compartilhamento de refle-xão e boas práticas”, disse.

O diretor ressaltou ain-da o crescimento que o se-tor teve no País em 2009 e apresentou a programação dos três dias de encontro. “Serão apresentadas, aqui, experiências inovadoras. São experiências concretas do que pode ser feito”. Ele também levantou a possibi-lidade de o evento aconte-cer anualmente.

A diretora de Transferên-cia de Tecnologia da Empre-sa Brasileira de Pesquisa Agrope-cuária (Embrapa), Fátima Deane, falou da necessidade de o Sebrae e a Embrapa se aproximarem ainda mais.

“O futuro das duas instituições deve estar mais entrelaçado”, disse a diretora.

Para o assessor especial do Mi-nistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Milton Ortolan, que esteve na abertura representando o ministro Wagner Gonçalves Rossi, o evento é signifi-

brae e as instituições similares do Senegal”, afirmou.gCartilha de Hortaliças e do PronafAinda durante a solenidade de

abertura do evento foi lançado o Catálogo Brasileiro de Hortaliças, que reúne as 50 espécies mais co-mercializadas no País. A publicação é resultado da parceria técnica en-tre Sebrae e Embrapa Hortaliças.

A seleção das espécies é base-ada em levantamento de vendas das principais centrais de abasteci-mento do País, do Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Companhia Nacional de Abas-tecimento (Conab).

“O catálogo traz alternativas por região e por período. Trata-se de um produto de conhecimento, tecnologia e de forte impacto de mercado”, explicou o gerente da Unidade de Agronegócios do Se-brae, Paulo Alvim.

No evento, também foi lançada a Cartilha de Acesso ao Pronaf. As publicações estão disponíveis para download no portal do Sebrae em http://www.sebrae.com.br/setor/horticultura. (Regina Xeyla/Agência Se-brae de Notícias  e redação)

Page 6: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

6

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Agronegócios

Sebrae deve melhorar gestão, acesso a mercados e serviços financeirosEntrevista, Paulo Alvim, gerente de Agronegócios, explica como a organização chega ao micro e pequeno produtor rural

GILMAR FÉLIX

Paulo Alvim comemorou os resultados da Semana Sebrae do Agronegócio

Page 7: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

7

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

O gerente da Unidade de Atendimento Coletivo – Agronegócios do Sebrae,

Paulo Alvim, comenta os avanços do agronegócio de pequeno porte nos últimos anos e mostra quais os principais desafios da organização nessa área.

Alvim comemora o sucesso da Semana Sebrae do Agronegócio 2010, que, além de levar conheci-mento aos produtores que esta-vam presentes ao evento, trouxe grandes parcerias.

Como se faz a introdução da tecnolo-gia e da inovação na agricultura pequeno porte?

Cada vez mais, é necessário in-tensificar o uso de conhecimento em qualquer atividade econômica e definir mecanismos de difusão para levar às boas práticas, aliando produ-tividade e qualidade, independente-mente do porte da atividade desen-volvida. Ser pequeno produtor não significa ser menos produtivo e ter pouca qualidade, pois assim ele fica fora do mercado.

Nosso objetivo é identificar como incrementar a produtividade e a qua-lidade e incorporar componentes de inovação em pequenos negócios. Isso, inclusive no agronegócio, é um grande desafio. Existem parcerias im-portantes com a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] e universidades para conseguirmos chegar ao pequeno produtor. Caso contrário, ele vai trabalhar com ação assistencialista, com a lógica de sub-sistência. Não dá mais para viver em um ambiente assim.

O que um produtor rural deve fazer hoje para produzir melhor e ter acesso ao mercado?

Ele tem de estar aberto às boas práticas. A atividade agrícola é sempre vista como retrógrada. Os

agricultores tendem a lembrar como os pais e os avós planta-ram, e nós sabemos que isso não funciona mais, seja por questões de ordem climática, por conta das novas pragas ou do próprio meio ambiente que mudou. As deman-das da sociedade hoje são diferen-tes, o que leva à necessidade de incorporarem-se novos conceitos. Cabe ao pequeno produtor estar aberto à chegada desse novo co-nhecimento. Além disso, é preciso ter todo um conjunto de estraté-gias para sempre levar o conheci-mento ao produtor, pois, como ele está no campo, há uma enorme di-ficuldade de acesso à informação, além das dificuldades de aprendi-zado devido ao baixo índice de es-colaridade. Existe um conjunto de barreiras naturais que tornam um grande desafio fazer uma transfor-mação no campo.

Como o Sebrae pode ajudar os peque-nos produtores rurais?

O papel do Sebrae é melhorar a gestão da propriedade rural e o acesso ao mercado. O primeiro passo é ensinar como fazer o cál-culo certo de quanto custa produ-zir efetivamente um determinado produto. Orientamos em qual mer-cado ele deve atuar e como deve apresentar essa mercadoria, além dos cuidados com a higiene e o manuseio correto. O papel do Se-

brae é dar toda a orientação. O pro-dutor precisa, também, ter boas práticas de produção e regras de manejo. Nós nos associamos a um conjunto de parceiros, a quem cha-mamos de difusores de tecnologia, que ensinam a esses produtores as formas corretas de se trabalhar.

Qual é o balanço da atuação do Sebrae no agronegócio brasileiro?

Nós começamos a atuar no agronegócio nos anos 1990, quan-do o Sebrae incorporou a clientela rural. Então, nos organizamos para atender a essa nova demanda, sempre pensando em grupos de produtores. O grande diferencial do Sebrae é o incentivo ao asso-ciativismo produtivo. Percebemos, também, que deveríamos adaptar, e até mesmo desenvolver, solu-ções para esse público. A lingua-gem tem de ser muito mais sim-ples e lúdica, devido à dificuldade de escolaridade desse público. É preciso ensinar fazendo, não basta entregar uma cartilha. Por isso, o trabalho na área rural é totalmen-te diferente do da área urbana. Em contrapartida, os resultados são mais rápidos. No ano de 2010, es-tão sendo atendidos 570 projetos de 18 setores em todo o País. Isso envolve um público de 130 mil produtores rurais. Estamos inves-tindo R$ 290 milhões. Nossa meta é atender a mais produtores rurais.

Nós nos associamos a um conjunto de parceiros, a quem chamamos de difusores de tecnologia, que ensinam a esses pro-

dutores as formas corretas de se trabalhar.

Page 8: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

8

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Nós acreditamos que o dia em que o Sebrae estiver atendendo a 400 mil produtores rurais, faremos a di-ferença.

Quais são os setores do agronegócio que estão em crescimento?

O agronegócio tem um peso muito grande na economia brasi-leira. Estamos falando de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) e qua-se 40% das exportações. Então, o agronegócio é responsável pelo superávit da balança comercial, o que significa uma situação positi-va, pois está produzindo mais do que consome. O agronegócio de pequeno porte é responsável por 70% do consumo de alimentos no mercado interno, enquanto os grandes produtores têm vocação para a exportação. O pequeno produz fruta, flor, mandioca, hor-taliças, entre outros produtos. E, se consideramos que o Brasil tem, hoje, uma economia sustentável, é graças ao mercado interno. En-tão, o pequeno produtor teve um papel fundamental na última crise econômica mundial, pois a eco-nomia do Brasil se voltou para o mercado interno. Com o aumento da renda e a busca de alimentos e produtos de melhor qualidade, os pequenos produtores puderam comemorar. Existem desafios, pois, como é um mercado pulverizado na produção, na estratégia de co-mercialização, ele hoje, ainda, não

é formador de preço, situação que pode fazer com que o produtor acarrete prejuízo. O Sebrae tem papel fundamental nos negócios dos pequenos produtores, tentan-do reverter a situação de o poder estar nas mãos da indústria e dos intermediários. As compras insti-tucionais (de governo) deram uma grande alavancada e têm melho-rado os preços praticados na agri-cultura familiar. Programas como Merenda Escolar e o Programa de Aquisição de Alimento (PAA) são alguns exemplos disso. Assim, o papel do Sebrae é importante em toda a articulação política, em par-ceira com o Ministério do Desen-volvimento Agrário. Hoje, 30% de toda merenda escolar tem de ser, por lei, comprada da agricultura familiar. Cabe ao Sebrae fazer com que os produtores estejam prepa-rados para atender a essa deman-da. Nosso esforço é engajar, cada vez mais, produtores que poste-riormente se beneficiarão dessa lei.

Qual foi a importância da Semana do Agronegócio?

Quando começamos a construir a ideia, tínhamos a preocupação, junto com os colegas dos Sebraes de todas as Unidades Federativas (UFs), de mostrar ao País casos espe-cíficos de sucesso, focados em aces-so a mercado, serviços financeiros e inovação. Esse era o objetivo princi-pal. Depois, pensamos que a sema-na ganhou a forma de uma rede de formação de parcerias. Essa teia de relacionamento é crucial para con-seguirmos atender com qualidade a um maior número de agricultores. A expectativa sinalizada pela dire-toria é tornar esse evento anual e levar para os demais Estados.

Quais as estratégias do Sebrae para levar conhecimento ao campo?

Já usamos rádio nas comuni-dades e TVs com as alianças. Mas, temos percebido que precisamos inovar a fim de atingir nosso público rural. Estamos desenvolvendo um projeto de utilização de envio de SMS por celular, visto que o aparelho chega ao campo e muitos produto-res já utilizam essa tecnologia. Esta-mos pensando em um grande proje-to de inclusão digital no campo. Mas isso é uma política pública que não cabe unicamente ao Sebrae. Tem que chegar via Tecnologia da Infor-mação (TI), conhecimento e oportu-nidades de negócios.

Estamos desenvolvendo um projeto de utilização de envio de SMS por celular, visto que o aparelho chega ao campo e muitos produtores

já utilizam essa tecnologia.

A expectativa sinalizada pela diretoria é tornar esse evento [a Semana Sebrae do Agronegócio] anual e levar para os

demais Estados

Page 9: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

9

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Acesso a Mercados

Qualidade dos alimentosganha mais atençãoDiretor de Relações Institucionais do Grupo Pão de Açúcar destaca programas e projetos da rede de supermercados para atender o consumidor

Márcio Milan: a estabilidade econômica reduziu a preocupação dos consumidores com o preço dos produtos; a gerente Wang Ching, de Acesso a  Mercados, foi moderadora do painel

GILMAR FÉLIX

Page 10: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

10

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Na avaliação do diretor, a se-gurança vai além de responder essas perguntas. O desperdício, por exemplo, é outra preocupação que o supermercado deve ter, pois, além da perda do produto duran-te a operacionalidade, ele perderá sua competitividade, e essa perda recairá sobre o preço final.

Milan contou que o produto campeão de desperdício dos su-permercados é a banana, seguida pelo tomate, e dá números: por ano, quase 2 mil toneladas de ba-nana são jogadas no lixo pelos supermercados. Isso equivale a 77 carretas cheias e que poderiam sustentar cerca de 20 mil famílias – números preocupantes e que co-meçam a ser discutidos.

De acordo com o diretor, o Gru-po Pão de Açúcar trabalha com uma política de preço justo, o que significa ter produtos de quali-dade nas gôndolas com critérios de rastreabilidade rigorosos, que certificam que seus fornecedores não usam mão de obra infantil e escrava, não empregam sem rigor defensivos agrícolas e apresentam preocupações ambientais.

gQualidade e informaçãoEle lembrou o caso do café. É

que o grupo foi a primeira rede de supermercados a vender cafés de qualidade diferenciada, tipo ex-portação. Porém, como pioneiro, aprendeu com os próprios erros.

Ele contou que a empresa com-prou a primeira safra premiada de café e colo-cou-a à venda sem dar o devido valor à informa-ção agregada ao produto. O preço dos caros cafés

Preço é fácil de igualar, mas qualidade é difícil. São os atributos que fazem a

diferenciação do produto.

titividade, isso mudou e a quali-dade dos produtos ganhou mais atenção do consumidor, apontou.

“Hoje, a variação de preços é muito pequena”, lembrou Milan.

Mas não cabe só ao varejo fazer esse trabalho de garantir a segu-rança e a qualidade dos alimen-tos. Ações antifraude, em conjun-to com órgãos do governo, são essenciais para o equilíbrio entre qualidade e quantidade, gerando confiança entre consumidor e em-presa, recomendou.

Milan exemplifica essa mu-dança na cabeça do consumidor. “A Coca-Cola que você encontra no supermercado A é exatamen-te a mesma do supermercado B. A única diferença entre elas é o preço. Hoje, o consumidor que vai ao mercado não quer ver só a Coca-Cola, ele quer saber das fru-tas, dos legumes, dos peixes e das carnes que esse mercado vende, da preocupação que ele tem com produtos de boa qualidade, se está ligado com sustentabilidade e res-ponsabilidade social. Esse, sim, é o grande diferencial entre os super-mercados.”

A preocupação hoje está giran-do em torno de algumas vertentes, segundo o gerente. “Aquele pro-duto que o consumidor está con-sumindo é seguro pra ele? Quem vende e quem produz está preo-cupado com a saúde do consumi-dor?”

Com a estabilidade econômi-ca em que o Brasil está há 16 anos, o consumidor trocou a

preocupação com os preços pela atenção redobrada quanto à qua-lidade dos produtos oferecidos. Atenta a isso, uma das maiores re-des de supermercados do País, o Grupo Pão de Açúcar, reforçou suas ações em relação a esses ítens.

“Segurança com sustentabi-lidade é uma preocupação de quem vende e de quem produz”, enfatizou Márcio Milan, diretor de Relações Institucionais do Grupo Pão de Açúcar, durante a Semana SEBRAE do Agronegócio 2010. Ele ministrou a palestra sobre “Cená-rios e Tendências de Mercado”, no painel sobre Acesso a Mercados, que teve como moderadora a ge-rente de Acesso a Mercados do Se-brae, Wang Ching .

Há mais de 30 anos trabalhan-do no varejo, Milan contou que o consumidor de hoje quer seguran-ça naquilo que está levando para casa. Quer qualidade não só do produto que está comprando, mas em todo o contexto que envolve a produção desse alimento.

O diretor afirmou que já pas-sou a época em que o consumidor era tido como tolo. Enganado, ele comprava 1 quilo de frango, mas levava pra casa apenas 600g, pois os outros 400g eram água. Ofere-cer segurança naquilo que o clien-te compra é o que diferencia os su-permercados, já que o preço não é mais o principal que-sito avaliou. Antigamente, a diferença de preços entre mercados era enorme, mas, com a compe-

Page 11: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

11

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

premiados podia chegar ao quá-druplo do preço dos cafés tradi-cionais, quando colados nas pra-teleiras.

Os consumidores, sem saber o motivo do preço mais alto, não da-vam importância ao novo produto. Percebido isso, o grupo passou a esclarecer aos consumidores que se tratava de um produto diferen-ciado, indisponível em estabeleci-mentos concorrentes. O resultado disso foi o aumento nas vendas e a adoção da mesma estratégia por parte da concorrência.

O mesmo ocorreu com a carne suína. O Pão de Açúcar começou a separar as peças do animal e colocá-las à venda, mos-trando para os clientes das lojas que existe também filé mignon suíno, alcatra suína, costela suína, etc.. Essas opções de carne de porco elevaram as vendas do produto.

“Preço é fácil de igualar, mas qualidade é difícil. São os atributos que fazem a diferenciação do produto”, disse.

gCaras do BrasilUma promoção do Gupo Pão de

Açúcar destacada pelo palestrante foi o programa Caras do Brasil, criado para trazer o pequeno produtor rural para perto das grandes redes varejis-tas usando a rastreabilidade e bus-cando a qualidade desde a origem.

Nesse caso, o diretor explicou que a estrutura do Pão de Açúcar vai muito além das barreiras das lojas. O grupo visita seus fornece-dores e orienta sobre como devem agir e administrar os agrotóxicos. Além disso, é emitido um código de rastreabilidade mapeado por meio da internet.

Dessa forma, o produtor, o dis-

supermercado”, diferenciou. A rastreabilidade permite ao

consumidor saber de onde o pro-duto saiu, por onde ele passou e onde ele chegou, tudo isso por meio da segurança da informação sobre o produto que ele está le-vando para casa. “O consumidor consegue descobrir até quem foi o fornecedor do produto”, disse Mi-lan.

O reconhecimento desse tra-balho de dois anos vai muito além da fidelização dos clientes. Milan conta que até os concorrentes, sa-bendo de todo esse esforço, desca-dastraram todos os seus fornece-

dores e cadastraram todos os produtos que estavam sendo vendidos pelo Pão de Açúcar.

“Eles pensam: já que existe todo esse contro-le, eu estarei garantindo a mesma qualidade deles comprando os produtos do mesmo fornecedor”, rela-tou Milan.

g Rastreabilidade para todos

Com isso, ele disse que a Anvisa (Agência Nacional de Vigi-lância Sanitária), a Abras (Associa-ção Brasileira de Supermercados) e o Pão de Açúcar assinaram um pro-tocolo se comprometendo a, no fi-nal do ano de 2010, disponibilizar esse sistema para todo supermer-cado que quiser operar coligado.

O Grupo Pão de Açúcar possui cerca de 78 mil supermercados es-palhados pelo Brasil e conta com mais de 800 mil funcionários. Esse é outro desafio da empresa. “Não adianta ter produtos de qualidade sem treinar e capacitar as pessoas que trabalham em nossos merca-dos”, concluiu o diretor.

tribuidor e o consumidor conse-guem identificar a procedência dos produtos. Márcio conta que, em 2009, o grupo analisou cerca de 4.500 frutas, legumes e verdu-ras comercializados em suas lojas e investiu cerca de R$ 3 milhões no programa.

“Por meio desses cuidados, o Pão de Açúcar procura saber se o volume de agrotóxico combinado com o produtor está sendo admi-nistrado corretamente”, observou.

Nas palavras dele, qualquer lote que esteja acima do valor permi-tido, os instrutores e orientadores visitam a plantação e concedem

mais uma chance para o agricultor se regularizar.

“Se o problema persistir, o agri-cultor é suspenso e entra em um regime de quarentena até se ade-quar ao procedimento de compra do grupo”, explicou.

No Pão de Açúcar, acrescentou, o consumidor pode optar por com-prar frutas, legumes e verduras em-baladas ou a granel. Os produtos a granel não têm como receber um código específico, diferentemente dos embalados.

“Os embalados têm um código de rastreamento por lote que iden-tifica de onde vem o produto e o caminho percorrido até chegar ao

Não adianta ter produtos de qualidade sem treinar e capacitar as pessoas que trabalham em nossos

mercados.

Page 12: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

12

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Em entrevista, o diretor de Relações Institucionais do Grupo Pão de Açúcar, Már-

cio Millan, identifica a importân-cia da rastreabilidade, da parceria com instituições como o Sebrae e aponta a diferença da rede de su-permercados em relação aos con-correntes.

Qual o é o grande diferencial do Pão de Açúcar com outras redes de supermer-cados?

O grande diferencial está na rastreabilidade dos produtos. No caso das frutas, legumes e ver-duras, nós começamos em 2008 e estamos evoluindo para outros tipos de produtos. Temos, hoje, uma parte da carne bovina que nós comercializamos está rastrea-da, desde a inseminação até che-gar às gôndolas. Esse é um grande diferencial do agronegócio do Pão de Açúcar.

Mesmo produzindo muito, o Brasil não é um grande consumidor de frutas, legumes e verduras. Qual a estratégia do grupo para atrair esse público?

Além da rastreabilidade, o diferencial também é a garantia da qualidade. Hoje, nós somos os maiores vendedores de fru-tas do País. Como conseguimos fazer isso? Foi por meio dos fes-tivais, das campanhas. Muitas vezes, nós não conseguimos vender mais porque não temos estrutura na área de venda para receber, porque a venda é mui-to concentrada naquele dia, na-quela hora. Eu não posso deixar para vender no dia seguinte, quando o produto não terá a

Os grandes diferenciais são a rastreabilidade e a qualidade

mesma qualidade. Então, nosso grande desafio passa a ser tam-bém a logística.

Qual o grande desafio do grupo?

O grande desafio é poder am-pliar essa rastreabilidade para ou-tros tipos de produto, como a carne bovina que estamos gerenciando, o peixe, a carne suína e o frango.

Qual a importância na busca de par-

ceiros como o Sebrae? Essa parceria é de extrema rele-

vância para o Pão de Açúcar. É im-portante ter o aval de uma entida-de como o Sebrae, que pode não apenas estar junto, mas ajudar na melhoria e na fiscalização e mos-trar, por meio de seus técnicos, como deve ser feito.

GILMAR FÉLIX

Milan: a meta é rastrear todos os produtos

Page 13: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

13

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Como as empresas podem e devem se preparar para entrar nesse mercado competitivo?

Mostrar que o produto vem de uma fonte segura por meio do ras-treamento. As informações fazem a diferença no dia a dia dos super-mercados.

O consumidor final consegue notar a diferença dos produtos orgânicos vindos da agricultura familiar, com alto valor agregado, ou os percebe apenas como produtos mais caros?

Hoje, o Pão de Açúcar é o maior revendedor de produtos orgâni-cos do País. E, normalmente, esses produtos têm um custo diferen-ciado. Toda a questão de origem e rastreabilidade está na forma como o supermercado comunica isso ao consumidor. Acredito que, hoje, o consumidor consegue identificar essa diferença dos pro-dutos que têm qualidade e uma diferenciação. Temos ainda que evoluir muito na comunicação com esse consumidor. Nós senti-mos que os clientes querem mais informações além daquelas que estão no rótulo. Nas nossas lojas, percebemos que nossos consumi-dores veem esse preço mais alto como um produto diferenciado na loja. E é isso que o Pão de Açúcar quer buscar. Nossa loja no Shop-ping Iguatemi de São Paulo é uma das mais modernas do Brasil, da América do Sul e da América La-tina. Não perde para nenhuma do País. Lá, você encontra produtos muito diferenciados. A batata que se vende lá é diferente da batata vendida em outras lojas, apesar de você ter a opção das duas. A expo-sição delas é pensada de forma a valorizar mais o produto. E, assim, o consumidor consegue notar essa diferença.

Como o Pão de Açúcar enxerga os pro-dutos orgânicos?

Acreditamos no crescimento expressivo desses produtos e esta-mos atentos às mudanças. Fora do Brasil, existem lojas especializadas que trabalham só com esse tipo de produto. A nossa preocupação está na certificação desses orgâ-nicos, no crescimento desordena-do, pois, se isso ocorrer, nós não daremos a segurança prometida ao consumidor de que o produto que ele está levando não contém nenhum aditivo agrícola. Dentro do Pão de Açúcar, temos pessoas para cuidar especificamente dos produtos orgânicos, ou seja, capa-citadas, que estudam para manter exatamente a segurança e a quali-dade desses produtos.

Como o Pão de Açúcar trabalha com o desperdício? Para onde são levados os produtos considerados inadequados para o consumo?

Nosso antigo presidente falava que desperdício é igual a unha, que tem de ser cortada periodi-camente. Ele queria dizer com isso que, se nós não tivéssemos um programa sustentável, que se não trabalhássemos essas quebras, esses desperdícios, ora teríamos uma perda grande, ora perderíamos a venda. Toda vez que você aperta a questão do desperdício há uma retração nas vendas. O grande desafio é con-seguir encontrar esse equilíbrio.

Existe uma série de progra-mas com esse objetivo. O dia a dia do supermercado é muito puxado porque você tem de fa-zer muitas manipulações. O des-perdício que ocorre hoje é muito inferior ao de três, quatro anos atrás. Nós mexemos no tipo de equipamento em que era feito

o transporte dos alimentos e, a partir daquele momento, identi-ficou-se também uma preocupa-ção constante da indústria e do produtor.

Com relação à destinação dos produtos, nós fazemos dois tipos de trabalho. Um deles é com algumas ONGs, que retiram dos nossos supermercados esses produtos, pois eles podem não estar bons para a venda, mas es-tão bons para o consumo.

Outro programa que nós tra-balhamos é o de compostagem. Todas as frutas, legumes e ver-duras que não forem utilizados por essas ONGs são transporta-dos para um aterro de compos-tagem. Já temos um projeto-piloto em um município de São Paulo que será futuramente im-plantado em todo o País, para garantir que 95% desses pro-dutos vão para a compostagem para virar adubo.

Quais as sugestões que uma rede como o Pão de Açúcar pode dar para que o pequeno produtor mostre o seu produto e a grande rede o perceba como diferenciado?

A primeira colocação é a for-ma como o produtor traz esse produto. Se ele o leva como commoditie, ele vai ser recebido como commoditie. Se ele o leva como um produto diferente, vai ser visto de outra maneira. Ou-tra coisa importante é a forma de embalar o produto. Essa pode ser uma maneira de seduzir o consumidor, exibir que o que ele está levando para casa tem maior qualidade. Revelar seus atributos também é uma forma de conquistar esse mercado. Mostrar que ele é produzido em uma região em que a água é tra-tada, revelar a maneira do culti-vo, isso faz a grande diferença.

Page 14: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

14

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

GILMAR FÉLIX

Wang Ching: troca de informações com par-ceiros para alimentar inteligência de mercado

Acesso a Mercados

Agricultor precisamostrar diferencialGerente do Sebrae assinala que o produtor precisa destacar suas vantagens e anuncia que em 2011 será lançado sistema sobre os produtos mais comprados no País

Em entrevista, a gerente da Unidade de Acesso a Merca-dos do Sebrae, Wang Ching,

recomenda que o produtor tem que procurar fazer a diferença e conta que uma nova ferramenta de informações está sendo desenvol-vida para ajudar os empreendedo-res a visualizarem as tendências de mercado.

O que é fundamental para que o empreendedor entenda a tendência de mercado?

É a quebra de paradigma. O produto agropecuário é ou não uma commodity? Ou seja, até recentemente pensávamos que ‘’todo melão é um melão’’, e a dis-puta acontecia por conta do preço. Essa era a lógica da commodity.

O que vimos durante a Semana Sebrae do Agronegócio, em espe-

O pequeno agricultor tem que mostrar outras vantagens do produto, não somente o preço.

cial na palestra do senhor Márcio Milan , diretor de Relações Institu-cionais do Grupo Pão de Açúcar , foi a experiência bem-sucedida de como identificar as tendências do consumidor.

O grupo consegue essa infor-mação por meio dos formulários de pesquisa. O que se mostra é que nem todo produto é igual, que ‘’nem todo melão é igual ao outro’’. Na verdade, o que os con-sumidores procuram são melões que passem credibilidade, quali-dade, procedência, certificação de orgânico. Nesse momento, o pro-duto, aos olhos do consumidor, não está sendo analisado como commodities, só pelo preço.

O supermercado transfere in-formações sobre o que o consumi-dor busca, e o pequeno produtor fica sabendo posteriormente se

Page 15: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

15

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

mercado.Esses gráficos serão traduzidos

por especialistas, que poderão concluir as tendências de mercado. Gera a inteligência de mercado.

Atualmente, o estudo de mercado tem certa limitação, pois o universo do Sebrae é muito amplo?

Conseguimos fazer até 20 estu-dos por ano, o que acaba não aten-dendo a todos.

Demoramos de 4 a 6 meses para o projeto estar concluído e, assim que finalizamos, ele refle-te um período passado. De forma que, quando o novo ciclo de plan-tação vai começar, a informação já pode estar defasada.

Esquematizando tudo isso nesse sistema que citei anteriormente, te-remos informações mais recentes. Enxergamos duas coisas principais: status quo, o raio-x do mercado, e também um mapeamento de ten-dências futuras. O produtor precisa conhecer o mercado em que ele está concorrendo, onde ele está in-serido e também as tendências.

Qual a previsão para que esse progra-ma esteja em pleno funcionamento?

Já trabalhamos esse programa no âmbito do fluxo e do mapea-mento. Até o final do ano licitare-mos o software e assim, em 2011, vamos ter esse programa funcio-nando para captar, gerir e proces-sar a informação.

Vale lembrar que a Unidade de Acesso a Mercado do Sebrae Na-cional não trabalha diretamente com o produtor. Nós trabalhamos via projetos. Desenvolvemos pro-dutos sabendo que tudo terá que ser simples e claro e que será ma-terial de trabalho para os especia-listas, os gestores.

O conteúdo é simples, mas preci-samos dos gestores que irão ‘’tradu-zir’’ o material, e transferir o conheci-mento para as diversas culturas.

Em 2011, vamos ter esse programa [de inteligência de mercado] funcionando para

captar, gerir e processar a informação.

o produto atendeu as normas de qualidade etc.

O que fazer com a cultura dos produ-tores de negociar pelo preço?

Sim. É importante que o pe-queno produtor possa negociar de uma outra maneira e não somente com base no preço. Por isso, esse debate sobre tendências de mer-cado foi marcado pela seguinte informação: o pequeno agricultor tem que mostrar outras vanta-gens do produto, além do preço, porque, para a percepção do mer-cado, não é igual para todos. Re-sumindo: cabe ao pequeno agri-cultor mostrar qual é o diferencial do produto por ele apresentado. Ele não está apresentando uma ‘’commodity’’.

Qual o primeiro desafio, nessa dire-ção, a ser superado?

O primeiro desafio para esse produtor é ter a consciência que existe algo diferente no mercado. Depois ele tem que saber o que ele mesmo tem como diferencial e começar a incorporar isso no discurso. Depois do feed back do comprador, ele vai saber o que mais ele pode apresentar para fa-zer a diferença.

Obviamente, na hora que esse produtor começa a atender as classes A e B, ele terá mais traba-lho no que tange à seleção, à apre-sentação do produto. Esse público exigente está disposto a pagar muito mais por um produto de

qualidade. Porém, se o produtor optar pela feira ao ar livre, aí sim o preço impera.

A Unidade de Acesso a Mercados do Sebrae está desenvolvendo um programa para sistematizar informação para o pe-queno empreendedor?

Estamos trabalhando com um estudo que prima pela convergên-cia de vários setores que detêm o conhecimento dos mercados e construindo um sistema de infor-mação que não é somente uma plataforma tecnológica. A nossa pesquisa é feita de acordo com a demanda e, por isso, obteremos um resultado de produtos mais comprados, informações úteis a todos empreendedores, como, por exemplo, qual o estado aceita me-lhor tal produto, entre outras.

Para esse resultado, fizemos vá-rios workshops e seminários com o objetivo de mapear várias fontes de informação. No caso da fruticul-tura e orgânicos, mapeamos a Ce-agesp [Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo]. Que tipo de informação cada um desses parceiros tem: fonte, natu-reza e de que forma ela chega.

Também buscamos construir uma rede de parceiros com intuito de promover a troca de informa-ções e alimentar o sistema. Com base nesse banco de dados, o pro-grama consegue gerar tabelas e estatísticas para a nossa análise de

Page 16: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

16

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Experiências Inovadoras de Mercado

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2006, o Piauí é o terceiro maior produtor de castanha de caju do Brasil, ficando atrás apenas do Ceará e do Rio Grande do Norte. Por enquanto. É que a agricultura familiar plantou e está colhendo fru-tos de um trabalho que levou seus produtos artesanais ao concorrido e exigente mercado de São Paulo.

Em 2005, os produtores de caju do Estado do Piauí resolveram se unir e, de forma empreendedora, fundaram na cidade de Picos a Cen-tral de Cooperativas de Cajuculto-res do Estado do Piauí (Cocajupi). O principal objetivo da entidade é fortalecer a união dos agricultores familiares da cajucultura. A trajetó-ria da entidade foi relatada pelo as-sessor comercial da entidade, Mário Lago, durante a Semana Sebrae do Agronegócio 2010, no bloco Experi-ências Inovadoras de Mercado.

Trata-se de um trabalho solidá-rio, em que todos os cooperados participam do processo produtivo

Castanha de caju na Terra da Garoa

Cooperativa de cajucultores conquista o mercado paulista com o Piauí -Sampa e os produtos artesanais que estão dando novo sabor a sorvetes comercializados em São Paulo

Evento anual promovido pelo Sebrae-PI abre oportunidades em São Paulo

DIVULGAÇÃO

Page 17: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

17

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

do caju. Hoje, a cooperativa conta com 500 produtores divididos em nove coope-rativas singulares, formadas por pequenas associações de agricultores.

Em 2007, a Cocajupi re-solveu melhorar a estrutura da sua área comercial. Com a ajuda de parceiros, como o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas), a entidade participou de programas de qualidade, regularizou suas atividades junto ao Ministé-rio da Saúde e ajustou seus produtos aos princípios éti-cos e ecológicos do Comér-cio Justo, um movimento internacional conhecido por FairTrade.

Nesse mesmo ano, a Co-cajupi foi a São Paulo para participar, pela primeira vez, da feira Piauí-Sampa – Terra do Sol na Terra da Garoa, promovida anual-mente em São Paulo pelo Sebrae do Piauí. A ida ao evento fez a cen-tral perceber que a embalagem que utilizava não valorizava o tra-

Estamos conseguindo produzir as amêndoas de caju sem gordura e com menos sal.

Leonardo Chiappetta, da Sorveteria Chiapetta, localizada no Mercado Municipal de São Paulo, abriu grandes possibilidades para a cooperativa.

Cocajupi ganha mercado no exterior com certificação de Comércio Justo

DIVULGAÇÃO

balho da cooperativa. A partir daí, a Cocajupi começou uma pesquisa para saber qual o tipo de embala-gem mais adequada, qual o tipo de invólucro que o mercado queria e, por meio de consultorias do Se-

brae, foram feitos vários estudos. Durante esse período, a coopera-tiva passou por um processo de adaptação para encarar o desafio de São Paulo.

Já no Piauí-Sampa de 2008, a

Page 18: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

18

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

central vendeu seus produtos com sucesso. Ela inovou e diversificou embalagens e produtos, criando, por exemplo, pacotes de 50g de castanha dispostos estrategica-mente ao lado dos caixas de su-permercado e pacotes de 250g colocados à venda em hotéis ou mesmo para dar de presente. gDoce parceriaA história não acaba aí. A Coca-

jupi conseguiu um grande parceiro para entrar no disputado mercado de São Paulo. O empresário Leo-nardo Chiappetta, da Sorveteria Chiapetta, localizada no Mercado Municipal de São Paulo, acreditou e investiu no empreendimento,

abrindo grandes pos-sibilidades para a coo-perativa.

O Empório Chia-ppetta é um dos maiores estabeleci-mentos de comercia-lização de gêneros alimentícios de São Paulo. Com 100 anos de atuação no merca-do paulista, o empório possui lojas no Merca-do Municipal, no Sho-pping Eldorado e um restaurante no bairro de Santa Cecília. Uma das metas da parceria é levar os produtos do Piauí também para a Itália. Nos planos do empresário, há tam-bém a possibilidade de abrir uma sorvete-ria na capital piauien-se.

R e c e n t e m e n t e , Leonardo Chiappetta esteve no Piauí para visitar cooperativas apícolas e de cajucul-

tores. O objetivo foi repassar téc-nicas, de produção da castanha e secagem de frutas típicas da região.  “Com as técnicas, estamos conse-guindo produzir as amêndoas de caju sem gordura e com menos sal”, disse Francisco Holanda, gerente de Agronegócios do Sebrae/PI.

Segundo o gerente, o Empório Chiappetta tem sido um grande parceiro comercial dos produtores piauienses. “Em sete meses de ne-gociação, já foram comercializados mais de R$ 40 mil só em castanhas para o estabelecimento.”

Uma das ideias para começar a despontar no mercado paulistano

e fazer a marca ficar conhecida foi uma degustação da castanha de caju no ponto de venda dos repre-sentantes, com aula para os pau-listanos sobre a diferença entre a castanha industrializada e a casta-nha feita artesanalmente.

As vendas começaram a subir, mas o mercado paulista queria algo diferente. Chiappeta viajou até o Piauí e ensinou à cooperati-va a técnica de fritura sem óleo da castanha – foi aí que a central des-pontou no comércio. Anteriormen-te, as castanhas vendidas eram de-sidratadas ou fritas e depois, com o novo procedimento, passou-se a torrá-las sem óleo. Além de agre-gar valor ao produto, a nova técni-ca foi responsável por um grande aumento nas vendas da Cocajupi.

“O pacote de castanha torrada sem óleo custa mais caro do que o pacote de castanha frita. Mas, em compensação, o consumidor está levando um produto mais saudá-vel”, contou o assessor comercial da Cocajupi, Mário Lago. “Nós fazemos visitas constantes ao comércio, va-mos às feiras, pegamos os contatos e depois vamos atrás”, garante.

O assessor contou ainda que uma das maiores satisfações da sua vida foi ver a Cocajupi ganhar, da Fundação Banco do Brasil, um carrinho de torrar castanhas. “Nós chegamos a uma feira e, com o car-rinho, começamos a torrar as casta-nhas. Vendíamos um conezinho de 60g feito na hora e, quando o chei-ro subia, as pessoas perguntavam de que era e até o comparavam ao de camarão e carne-de-sol. Depois, perguntavam como poderiam conseguir uma franquia do carri-nho de castanha. É um espetáculo, nós ficamos muito orgulhosos”, de-talhou.

Chiappetta criou sorvete em homenagem ao Piauí

DIVULGAÇÃO

Page 19: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

19

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

O conselho é o assessor comercial da Cocajupi , Mário Lago. Em entrevis-

ta, ele contou como a entidade descobriu o caminho do êxito nos negócios e na inclusão pro-dutiva dos agricultores familia-res.

Qual a importância de parceiros como o Sebrae no trabalho da Coca-jupi?

É de fundamental importân-cia. O Sebrae nos ajuda muito nas áreas de gestão e capacita-ção. Além disso, nos auxilia com espaços em feiras, no Comércio Brasil e até nos indica clientes. Sem os grandes parceiros, nós não estaríamos contando essa história de sucesso.

Qual a dica que você daria para as cooperativas que estão começando?

Que façam tudo com amor e que se dediquem àquilo em que realmente acreditam. As coisas não acontecem por acaso, só por meio de muito trabalho e dedica-ção que as coisas dão certo.

Qual o aprendizado que a Cocajupi tira do que era a entidade e do que ela se tornou?

Humildade acima de tudo. Você tem que fazer benchmarke-ting, olhar o que está dando certo e se adequar à realidade. Tem de olhar localmente e agir global-mente.

É importante a adequação para o Comércio Justo (Fair Trade)?

Adequação ao Comércio Jus-to é de extrema importância e é

“Façam com amor”

Mário Lago, assessor comercial da Cocajupi, relata as parcerias concretizadas em São Paulo por meio de evento promovido pelo Sebrae-PI

GILMAR FÉLIX

o foco do futuro. Hoje, as pessoas estão muito preocupadas com o meio ambiente, o que o Comér-cio Justo valoriza também. Além disso, existem pessoas do outro lado do oceano que só vão saber que o nosso produto é de agri-

cultura familiar pela certificação do Comércio Justo. Há um prê-mio por essa certificação, e esse prêmio é todo revertido ao bem-estar social da comunidade de cajucultores do Piauí.

Page 20: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

20

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Experiências Inovadoras de Mercado

Embutidos viram caso desucesso no interior gaúchoA fábrica da família Sprandel atingiu a qualidade exigida pela fiscalização e virou exemplo de bons negócios no município de Não-Me-Toque (RS)

Gércio Sprandel: família e negócios unidos pela inovação

BeRnARDO ReBeLLO/AGêncIA SeBRAe De nOtícIAS

No interior do Rio Grande do Sul, o empresário Gércio Sprandel inovou e fez a diferença. Tornou-se um orgulho de Não-Me-Toque, uma cidadezinha com pouco mais de 15 mil habitantes, a 280 km de Porto Alegre. Em nove anos, ele deixou de ser um produtor infor-mal de embutidos suínos para virar caso de sucesso em agroindústria familiar na região.

Há um ano, a família come-morou a inauguração da Casa de Carnes J. L. Sprandel & Cia. Ltda, o segundo empreendimento que montou após colocar o processo de produção dentro dos padrões do Sistema de Inspeção Munici-pal (SIM).  Ele relatou a história da Casa de Carnes durante a Semana Sebrae do Agronegócio 2010, no bloco Experiências Inovadoras de Mercado.

Tudo começou quando o pro-dutor adquiriu o minimercado de seu sogro. Gércio não conhecia o ramo de carnes e, como muitos produtores rurais de Não-Me-To-que, plantava trigo e soja em sua propriedade. Quando o sogro ado-eceu, ele tomou conta do peque-

Page 21: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

21

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Antes de abrir meu negócio, eu era um pequeno agricultor. Hoje, com a Casa de Carnes JL Sprandel, sou um empresário.

PReFeItURA De nÃO-Me-tOqUe

Produtos coloniais têm atestado municipal de qualidade

no empreendimento da família e resolveu inovar.

“Comprei dois suínos e vendi tudo em dois dias. Gostei do negó-cio”, contou o empresário.

Com um olhar atento para o novo filão de negócios, o ex-agri-cultor percebeu que não havia concorrência à altura do seu em-preendimento, pois os dois únicos açougues da cidade eram antigos e ti-nham parado no tempo. gPadrão superiorInicialmente, o abate

das carnes era feito de modo precário, e a co-mercialização começou nos fundos do merca-dinho, de forma ilegal e sem fiscalização.

Assim, Gércio, com a ajuda de sua esposa e da sogra, deu início à bem sucedida produção de embutidos em Não-me-toque. Daí passou a inves-tir em salame e linguiça mista e de pura carne su-ína, alem de cortes de car-nes para festas e eventos.

No ano de 2005, a Vi-gilância Sanitária apareceu em seu mercado para uma fiscalização de rotina. A equipe de fiscais ficou im-pressionada com as instalações e a maneira de produção. Um padrão de higiene e de operação dos pro-dutos equiparável às empresas já consolidadas no mercado. A partir daí, a JL Sprandel procurou a forma-lização.

Em 2006, Gércio decidiu fazer cursos de capacitação com o auxí-lio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empre-sas) do Rio Grande do Sul. Isso foi necessário para a empresa partici-

par efetivamente do mercado con-sumidor. Já em 2008, devidamente regularizada, a Casa de Carnes JL Sprandel recebeu a visita da Secre-taria de Agricultura do município e ganhou selo de qualidade por pro-duzir dentro dos padrões exigidos.

Os produtos coloniais produ-zidos pela família de Gércio e Jo-raides Sprandel, no bairro de São José do Centro, em Não-Me-Toque, já são bastante conhecidos no mu-nicípio e na região. Com o registro no Sistema de Inspeção Municipal, a fábrica de embuticos suínos pas-

sou a ser mais procurada para for-necer os alimentos que possuem selo de qualidade.

O segredo para o sucesso, de-finiu o produtor, é ter coragem e não desistir, além da preocupação em atender sempre bem os clien-tes.   “Antes de abrir meu negócio, eu era um pequeno agricultor. Hoje, com a Casa de Carnes JL Sprandel, sou um empresário. So-mos a primeira indústria de embu-tidos da região. Nosso salame é um famoso produto colonial”, come-morou, orgulhoso.

Page 22: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

22

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

O município de Junqueirópolis, situado a cerca de 640 km da capi-tal paulista, localiza-se em uma re-gião predominantemente agrícola. Além de produzir milho, algodão, café e frutas, o cultivo da acerola predomina – isso faz com que a ci-dade ganhe destaque como uma das maiores produtoras da fruta no País. Mas quem conhece a Junquei-rópolis de hoje não sabe o quanto foi difícil chegar até esse patamar.

Junqueirópolis sofreu muito com o êxodo rural no final da déca-da de 1980, devido ao declínio da monocultura do café, situação que se agravou em virtude da ausência de organização dos agricultores lo-cais. Além disso, a cidade enfrentou diversos outros desafios no cultivo da terra. O incessante uso da terra para a produção de café fez sur-gir um tipo de parasita, conheci-do como nematóide, que deixa as plantas e a terra doentes e sem utili-dade de consumo.

A “estratégia de sobrevivência no campo” desenvolvida em Jun-queirópolis foi relatada na Sema-na Sebrae do Agronegócio 2010 pelo presidente da associação de produtores do município, Osvaldo Dias. Ele detalhou o caso no bloco Experiência Inovadoras de Merca-do, mostrando que as dificuldades forçaram a diversificação do plan-tio de café.

Experiências Inovadoras de Mercado

Capital brasileira da acerolaApós o trocar o café por variedade resistente da nova fruta, produtores garantem título e selos de qualidade a Junqueirópolis (SP)

Nós temos um bom produto, mas isso não seria nada sem um bom parceiro.

Em 1990, os agricultores que restavam na região resolveram se unir e criaram a Associação de Pro-dutores de Junqueirópolis. O prin-cípio da entidade era a diversifica-ção, ou seja, a introdução de novos tipos de cultura no município. Um ano depois de estruturada a asso-ciação, os produtores começaram a cultivar a acerola, uma fruta até então desconhecida por muitos.

“O começo foi muito difícil, pois

a terra não dava frutos comerciali-záveis. A coloração era bem amare-lada, o teor de vitamina C era baixo e o tamanho das frutas era muito irregular, sem contar a briga cons-tante contra os nematóides, lem-branças que ficaram dos tempos do café”, lembrou Dias. g“Olivier”: a salvação da lavouraMesmo com todos esses desafios,

os produtores não desistiram e pro-curaram conhecer melhor a acerola

Page 23: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

23

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

e o mercado para a fruta. Depois de várias tentativas de plantio, os cultivadores descobriram uma variedade da acerola com todas as características exigidas pelo mercado consumidor. Ela foi ba-tizada de “olivier” – nome dado à acerola plantada na região. A partir daí, começou a expansão da cultura. “Foi um período de adaptação e de tolerância”, con-tou o presidente.

O título de capital brasileira da acerola foi conquistado após cinco anos de trabalho, com a parceria do Sebrae (Serviço Bra-sileiro de Apoio às Micro e Pe-quenas Empresas) em cursos de capacitação dos agricultores, a gestão de qualidade ambiental e comprometimento dos envolvi-dos. Todo esse empenho garantiu aos pequenos produtores rurais e a suas famílias a permanência na ati-vidade, a melhoria da qualidade de vida e, agregada a ela, lucrativida-de. Mas o desafio não para por aí.

A associação queria explorar todo o potencial da região, garan-tiu Dias. Em 2006, em parceria com o Sebrae, começaram as buscas por certificações que tornassem a acerola um produto capaz de atender às exigências do mercado internacional. “Nós temos um bom produto, mas isso não seria nada sem um bom parceiro”, ponderou o presidente da associação.

Essa conquista ocorreu em 2009, quando os produtores de Junquei-rópolis receberam o registro Global-GAp, selo internacional de qualidade que indica que a fruta é produzida de forma segura ao consumidor, com redução de insumos químicos e trabalho realizado de forma respon-sável, garantindo saúde e segurança aos trabalhadores rurais.

A União Europeia exige o re-gistro para o ingresso de alimen-tos nos supermercados europeus. Além disso, o Instituto Brasileiro

Vitamina C turbinadaA acerola tipo olivier praticamente não utiliza agrotóxicos no seu cultivo.O teor médio de vitamina C nessa variedade é de 1.200mg/100ml de suco e

1.400mg/100g de polpa. Tem 100 vezes mais vitamina C que a laranja ou o limão.Recentemente descoberta pelo mercado, a acerola, também conhecida como

cereja das Antilhas, surpreende os consumidores em razão de elevado teor de vitamina C. Para se ter uma ideia, apenas duas frutinhas por dia suprem o organis-mo humano desse nutriente elementar. Espanta a gripe e gera lucro.

Fonte: Revista Brasileira de Fruticultura Vol. 24, ano de 2002. e Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo

Depois da certificação, o preço das vendas subiu de R$ 0,60 para R$ 0,90.

de Frutas (Ibraf ) certificou, para o mercado nacional, a acerola de Junqueirópolis com o selo Fruta Saudável, que tem como funda-mento informar as condições de trabalho, higiene e de meio am-biente ao consumidor. Esse certi-ficado ainda garante a rastreabili-dade e o controle contínuo da área de produção.

As deliciosas acerolas de Jun-queirópolis correm o mundo. São degustadas principalmente no Japão. Da produção total da fruta, cerca de 60% segue exportada, em polpa congelada, para a fabricação

de sorvetes, sucos, cremes e de-mais guloseimas. Boa parte dos 175 hectares cultivados com acerola no município atende ao mercado interno in natura, incluindo alguns programas, ainda incipientes, de merenda escolar. Na colheita da fruta, durante meses, ocupam-se 500 pessoas. Fartura no emprego rural.

Osvaldo Dias contou com muito orgulho que os se-los mudaram a vida dos pro-dutores: “Depois da certifi-cação, o preço das vendas subiu de R$ 0,60 para R$ 0,90”. As certificações abriram opor-tunidade de venda para os mercados europeu, asiático e

norte-americano. Aqui no Brasil, a associação tem fornecimento ex-clusivo para a Kibon. A empresa lançou uma nova linha de sorvetes Fruttare – Sabores do Brasil e um deles é o sabor acerola. Na emba-lagem do sorvete, consta a origem do cultivo da fruta utilizada e um mapa mostrando a localização do município produtor.

Dias lembrou que, mesmo sen-do o terceiro município mais pobre de São Paulo, Junqueirópolis, que tem 20 mil habitantes, agora é co-nhecida internacionalmente.

Osvaldo Dias, presidente da associação agrícola local: estratégia de sobrevivência no campo

GILMAR FÉLIX

Page 24: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

24

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Nos anos 1950, o avô e o pai do empresário Jânio dos Anjos, iniciaram uma pequena produção de farinha de mandioca na cidade de Vera Cruz, interior do Rio Grande do Norte. Em 2006, com o pai doente e  afastado do trabalho, Jânio assumiu a empresa da família. “Quando meu pai começou, ninguém acreditava no trabalho dele. Eu era o único”, lembrou o produtor, ao expor sua experiência na Semana Sebrae do Agronegócio 2010.

Com essa oportunidade nas mãos, Jânio resolveu empreender e mudar o trabalho com a mandiocultura. O empresário buscou as consultorias do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), partici-pando de oficinas de capacitação e de cursos sobre inovação tecnológica. Mas seu grande problema foi enfren-tar a família. “Eles não queriam inovar, mas eu acreditei, insisti e fui atrás”, contou.

Começaram a ser feitos estudos de mercado e investimentos na empresa. A casa de farinha ganhou novos equi-pamentos, comprados por meio de financiamentos do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste. Os funcioná-rios passaram a usar uniformes, e a fabricação da farinha aumentou seu nível de higiene e organização. Até o lavador de mandioca, inventado pelo

Experiências Inovadoras de Mercado

Farinha boa na fábrica dos Anjos Persistência e iniciativa marcaram a história da empresa que começou nos anos 1950 e hoje conquista mercado do Rio Grande do Norte

Antes eu tinha vergonha da minha empresa.Hoje eu sinto orgulho.

Jânio dos Anjos: empresário de sucesso

BeRnARDO ReBeLLO/AGêncIA SeBRAe De nOtícIAS

pai de Jânio, foi modernizado e adequado ao novo padrão da fábrica.

O investimento fez a produ-ção subir e o grande desafio, então, era buscar um diferen-cial competitivo. “No tempo do meu avô, eram fabricados 2 mil quilos de farinha de mandioca por mês. Meu pai fazia 20 mil. Hoje, eu produzo em média de 80 a 100 mil – quilos mensais”, comentou.

gMais consultorias do SebraeA Casa de Farinha dos Anjos esta-

va pronta para inovar e, mais uma vez, o Sebrae entrou em cena. Os consul-tores levaram até Vera Cruz técnicos especializados em mandiocultura e ensinaram a tecnologia de produção de farinha temperada. Hoje, podem-se encontrar seis tipos de farinha por lá: branca fina, branca média, amarela e as temperadas com calabresa, ba-con, alho e cebola. A equipe do Se-brae também ajudou a elaborar uma nova embalagem que seguisse todos os padrões exigidos pela Agência Na-cional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério da Saúde.   

“Antes eu tinha vergonha da mi-nha empresa. Hoje eu sinto orgulho. E tudo isso graças ao Sebrae. Nossa

fábrica está de portas abertas para quem quiser conhecer e aprender com a gente”, contou.A mudança foi essencial para acabar com os atraves-sadores. Agora, a empresa tem uma chance maior de negociar diretamen-te com os supermercados. A indústria, instalada no município de Vera Cruz, também faz parte do roteiro de turis-mo rural da região.  

Jânio dos Anjos, hoje, é um empre-sário de sucesso. A Farinha dos Anjos é a empresa de origem familiar de maior referência do Rio Grande do Norte e a mais vendida nos supermercados da região. “Deixamos de ser Casa de Fari-nha para ser a Indústria de Farinha dos Anjos. Só consegui isso pelo sonho de querer mudar e, assim, transformamos a nossa história”, declarou Jânio, entu-siasmado pelo seu empreendimento.

Page 25: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

25

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Experiências Inovadoras de Mercado

O que é que a banana tem? Produtores de Bom Jesus da Lapa (BA) conquistaram o Brasil por meio de projeto do Sebrae que tem consultores para identificar novos canais de comercialização.

A evolução dos fruticultores foi relatada pelo presidente da Associação de Produtores Banana da Bahia, Ervino Kogler (em pé), e pelo consultor do Sebrae Marsel No-gueira, do projeto Comércio Brasil. Eles foram apresentados pela técnica da área de mercado Márcia Thier, do Sebrae-RS (sentada).

Com o apoio do projeto Co-mércio Brasil – Rede de Agentes de Mercado, de-

senvolvido pelo SEBRAE, a banana produzida na região de Bom Jesus da Lapa, no interior da Bahia, é co-

mercializada hoje nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal.

Trata-se do maior produtor de banana do Nordeste do País. Em 2009, o cultivo alcançou uma pro-dução de 270 toneladas por sema-

na e 14 mil toneladas por ano, o que gerou um faturamento supe-rior a R$ 5 milhões

Esse caso bem-sucedido é re-sultado de um esforço iniciado em 2005 por 15 pequenos fruticulto-

GILMAR FÉLIX

Page 26: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

26

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Nossa banana é referência de qualidade

res que decidiram apostar nessa região que, originalmente, tinha foco na produção de grãos. Nesse mesmo ano, surgiu o projeto Co-mércio Brasil, que conta com uma rede de consultores para identifi-car canais de comercialização para micro e pequenas empresas.

Com apoio do Sebrae, eles compraram 1 milhão de mudas provenientes da Costa Rica e de-ram o ponta pé inicial. Hoje, já são 430 hectares dedicados ao cultivo de bananeiras, o que ren-de cerca de 270 toneladas de fru-tas por semana.

gTrabalho coletivo, benefício para todos Para colaborar com a impulso

da produção em Bom Jesus da Lapa, o Sebrae da Bahia lançou mão do modelo de Gestão Orientada para Re-sultados (GEOR) para orientar a organiza-ção dos produtores para o cooperativis-mo e associativismo.

Além disso, na região, foi desen-volvido também o programa ‘Quali-dade Total Rural – Fruticultura Irriga-da’. Por meio dele, os produtores de banana e também de manga passa-ram a receber apoio para participar de feiras e missões empresariais.

De acordo com o presidente da Associação de Produtores Banana da Bahia, Ervino Kogler, os produtores aprenderam a lição. Hoje, a comer-cialização da fruta é realizada em conjunto e o valor também é reparti-do por igual entre os produtores.

“Temos um preço médio e pra-zo médio para que, de forma de-mocrática, nenhum produtor seja prejudicado”, destacou, durante apresentação na Semana Sebrae do Agronegócio 2010. Do even-to também participou o consultor Marsel Nogueira, do projeto Co-mércio Brasil.

De acordo com Kogler, o gru-

po de comercialização coletiva de bananas reúne produtores que ga-nham escala e atendem melhor o mercado e que estejam dispostos a realizar investimentos em capa-citação e na infra-estrutura de pro-dução e pós-colheita.

‘“As condições naturais para a produção de bananas em Bom Je-sus da Lapa, aliadas à qualificação que temos agora, faz da nosso pro-duto referência de qualidade”, assi-nalou.

“O bom negócio é trabalhar sempre para oferecer o melhor produto. Isso nos dá um grande diferencial. Depois de fazer a ven-da, é importante também ir até o local conhecer de perto o cliente e também saber como a mercadoria chegou ao consumidor”, aconse-

lhou o presidente da Associação Banana da Bahia.

gAplicando mercados Com bons resultados nos úl-

timos anos, o otimismo dos fruti-cultores da Associação de Bananas está a todo vapor. Ainda mais de-pois de conquistar cada vez mais o mercado de São Paulo. Em 2009, eles conseguiram ampliar as ven-das para aquele estado e fecharam negócios da ordem de R$ 864 mil, do total de R$ 1,2 milhão comercia-lizado, para clientes prospectados por meio do Comércio Brasil.

Vale lembrar que Brasília é o maior consumidor das bananas baianas e recebe cerca de 30 cami-nhões carregados com a fruta por semana. Porém, para continuar co-lhendo bons resultados, os produ-tores de Bom Jesus da Lapa devem vencer alguns desafios.

O principal deles, segundo Ervi-no Kogler, é fazer as frutas chega-rem aos grandes centros sem des-perdício e com o sabor desejado.

gDiversidade de frutas, mais marcado

Além do sucesso da banana, a região de Bom Jesus da Lapa pos-sui uma oferta bastante diversifi-cada. Manga, os citrus, o mamão, a uva e uma experiência inovadora de plantio de cacau no semi-árido são exemplos. O investimento mais recente está nas unidades de processamento de frutas, ativida-de que tende a se expandir.

O mais novo projeto da associa-ção é com o limão Tahiti, que tem um rápido crescimento, os frutos têm bom tamanho médio, forma-to arredondado, são de coloração

verde escura e ru-gosos e possuem boa aceitação no mercado externo.

“Estamos ani-mados com o plan-tio do limão e a

expectativa dos produtores são muito boas, já que a região tem vocação para culturas cítricas. Ini-cialmente será plantada uma área de 100 hectares. Dez produtores que fazem parte do grupo Banana da Bahia farão parte dessas pri-meiras experiências. No entanto continuaremos com a produção de banana. Queremos apenas di-versificar e criar novas oportunida-des de negócios”, explicou Kogler.

“O limão Tahiti é adaptável aos solos da região de Bom Jesus da Lapa e pode gerar custos de adu-bação baixos. Entre os benefícios, podemos citar processo de colhei-ta com menor custo; a certificação da cultura requer menos recursos que a certificação da banana; o processo de padronização e quali-dade pode ser mecanizado e, por-tanto, oferece maior confiabilida-de”, acrescentou.

Page 27: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

27

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Inicialmente voltados para a pro-dução de lã, os rebanhos ovinos do Brasil eram criados predomi-

nantemente na Região Sul e não eram atrativos para a produção de carne. Porém a tendência de queda dos preços internacionais da lã, ocasionada pelo aumento da quantidade e da qualidade das fibras sintéticas e outras matérias-primas alternativas ao tecido na-tural, provocou uma mudança no perfil dessa atividade, a partir da década de 1990, e deu novo impul-so aos ovinos.

Criadores foram levados a bus-car novos padrões de animais que se enquadrassem na produção de carne. Assim, quem decidiu que ficar de braços cruzados não era a melhor opção diante da crise inovou e im-pulsionou seu negócio apostando na produção de carne de cordeiro.

Mauro Soriano, de Quaraí, mu-nicípio distante 590 km de Porto Alegre, foi um dos inovadores do segmento, conforme relatou na Semana Sebrae do Agronegócio 2010. ”A cadeia produtiva baseada na produção de lã teve bastante desvalorização e o cordeiro era um subproduto que não tinha valor comercial que justificasse a produ-ção de carne. O desafio era encon-trar uma solução para dar a volta por cima”, conta. “É uma honra ser

Virada de foco

Criadores de ovinos inovam e vencem a criseExperiências bem-sucedidas no Rio Grande do Sul mostram resultados do investimento na qualidade da carne de carneiro

Mauro Soriano, produtor gaúcho: a carne ovina deve ser redescoberta

thAíS ARAújO

um inovador em uma atividade na qual deveríamos ser professores”, lembrou o produtor gaúcho.

gDescobrindo uma carne nobre No entanto, para provocar uma

mudança significativa na produ-ção de carne ovina, era preciso apoio e incentivo. Foi então que, em 2007, o Programa Cordeiro de Qualidade, desenvolvido pelo Se-brae e pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), con-tribuiu de forma significativa para a construção de uma nova etapa para esse tipo de carne.

O Cordeiro de Qualidade teve como seu maior parceiro o Programa Juntos Para Competir, do Sebrae do Rio Grande do Sul, em parceria com a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), o Serviço Na-cional de Aprendizagem Rural (Se-nar/RS) e a Associação Riograndense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS), o que estimulou a organização e o aprimoramento das cadeias produtivas do agrone-gócio no Estado em diversas frentes. Porém uma das mais significativas e inovadoras foi a ovinocultura.

Com objetivo específico de au-mentar a eficiência dos sistemas de produção e a promoção de estraté-gias de comercialização integrada, teve como mote básico grandes

apostas: a diferenciação da carne de cordeiro com um certificado de qualidade e ações de marketing que valorizassem esse produto. 

”A carne do cordeiro é saborosa e nobre. Mas, infelizmente, muitos ainda se recordam da carne com gosto desagradável da ovelha ve-lha que era abatida depois de ser-vir à extração da lã. Nesse sentido, contamos com ações de marketing para divulgar a qualidade e o sabor

Page 28: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

28

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

dessa carne”, contou Soriano. Ele explicou, ainda, que o pro-

grama objetiva acabar com a sa-zonalidade da comercialização da carne e com a oscilação dos preços. “Culturalmente, a carne de cordeiro é consumida mais em dezembro, o que também contribui para a valo-rização do preço apenas nessa épo-ca de festas. Mas nosso interesse é ter uma demanda constante, bem como um preço que também não apresente muita variação”.gSelo de qualidade: investimento e inovação

“Temos a preocupação de que não haja apenas aumento de nú-mero de produtores, mas que, principalmente, eles  primem pela qualidade. Tem produtor oportu-nista, mas esse não fica. A adesão está grande, porém a prioridade é melhorar a qualidade dos nossos rebanhos e não aumentar nosso grupo”, destacou.

 Vale lembrar que os animais inclu-ídos no programa estão obrigatoria-mente identificados por meio de brin-cos, estão cadastrados na Arco e, no momento do abate, devem ter peso mínimo entre 25 quilos e 40 quilos e índice de gordura entre 2,5 e 3,5 (a es-cala vai de 1 a 5). “A idade ideal para o abate do cordeiro é de até 13 meses de nascido. Para a comercialização, a idade é de cinco a seis meses”, explicou Soriano. Se for macho, deverá  ser cas-trado ou, então, abatido com até sete meses de idade. O programa admite animais de todas as raças, indepen-dentemente de cruzamento. 

Atenção especial também ao manejo sanitário. Soriano alertou que só podem ser utilizados pro-dutos regulamentados pelo Mi-nistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, além de garantia de instalações que visem o bem-estar animal. gPassado: perseverantes não desis-

tem na primeira quedaNo primeiro ano, em 2007, os

A carne do cordeiro é saborosa e nobre. Mas, infelizmente, muitos ainda se recordam da carne com gosto desagradável da ovelha velha que era abatida

depois de servir à extração da lã.

produtores e seus funcionários receberam capacitação. Já a co-mercialização, que começou a dar fruto dentro do Programa Cordeiro de Qualidade, ocorreu em 2008, envolvendo 39 criadores de quatro municípios (São Gabriel, São Marti-nho, Dom Pedrito e Quaraí)  e um rebanho de 5 mil cordeiros. 

As dificuldades foram muitas, a falta de experiência teve que ser superada e a motivação, renovada. ”Estávamos engatinhando e tive-mos alguns erros de avaliação. No primeiro contrato de comercializa-ção, buscamos preços baixos para abater. Esse foi um grande erro, pois nosso parceiro tinha o menor preço, mas não tinha condições de atender à demanda. Deixamos de cumprir com nossos acordos e tivemos uma boa parte da produção encalhada. Esse foi o ônus de começar algo novo”, relembrou Soriano.

Ele contou que hoje ainda exis-tem desafios. “Temos muito que avançar na organização dos produ-tores. É preciso trocar mais experi-ências, comprar insumos juntos para conseguir o menor preço e atingir um bom nível de coopera-ção para a comercialização. Afinal, diversas propriedades podem aju-dar a completar um carregamento, por exemplo”, disse o produtor.

Ele ressaltou que a elaboração de um banco de dados de todos os cordeiros e as dificuldades de transporte dos rebanhos também devem ser superadas. “Temos algu-mas perdas na hora de transportar os animais. Quando eles chegam

com hematomas, os frigoríficos os condenam e há uma perda para o produtor”, acrescentou. gFuturo: boas expectativas

De acordo com dados do Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE) de 2005, o Brasil pos-sui 15,5 milhões de cabeças ovinas distribuídas por todo o País, porém, concentradas em  grande  número  no  Estado  do Rio Grande  do  Sul  e  na  Região  Nordeste. Destaca-se também o crescimento da criação ovina nos Estados de São Paulo, Pa-raná e na Região Centro-Oeste, áreas de grande potencial para a produ-ção da carne ovina.

E é bom que os produtores es-tejam cada vez mais atentos. Um estudo publicado em 2007, pela Or-ganização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), estima um  crescimento  anual  de  2,1 %  na  produção  de carne ovina durante o período de 2005  a 2014,  registrando-se  essa  elevação princi-palmente em países em desenvolvi-mento.

Por isso, aqui no Brasil, na peque-na Quaraí, Soriano está otimista e disse que a expectativa é dobrar o número de cordeiros em relação a 2009, ano em que eles chegaram a ter quase 10 mil animais.

O produtor gaúcho destaca que a consultoria técnica oferecida pelo Sebrae e por outros parceiros será fundamental para fortalecer a produção. “Não adianta nos pre-ocuparmos apenas em produzir carne. Precisamos saber tocar a empresa”, apostou.

Page 29: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

29

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Experiências Inovadoras de Mercado

A vez da manga ubá

Boas práticas agrícolas revelaram que o valor da fruta é um grande filão que o mercado desconhecia

Já diz a música: “Da manga rosa quero o gosto e o sumo”. Mas, desta vez, é a manga ubá que

está fazendo sucesso. A espécie, que tem polpa macia e firme, fibras curtas e macias e gosto doce, está ganhando o mercado, levando desenvolvimento e gerando trabalho e renda para produtores do nordeste do Espírito Santo.

Maria Emília Brumatti, presidente da Cooperativa de Agricultores Familiares de Colatina (ES): articulação na cadeia produtiva

thAíS ARAújO

Por ser uma zona natural, que apresenta vastas áreas de terras quentes e secas, 60% da região é adequada ao plantio da fruta e, por isso, a produção chegou, em 2009, a quase mil toneladas no ano, beneficiando 140 famílias.

  A aposta na manga ubá veio com uma importante decisão dos produtores de café daquela

região: dividir a área de cultivo com a plantação de manga. Desde 2000, além da fruta, os produtores colhem resultados surpreendentes e dão exemplo em parcerias firmadas entre associações de agri-cultores, empresas, agroindústrias, instituições públicas e privadas que atuam de forma integrada.

O cenário positivo de hoje é

Page 30: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

30

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

A fruta, que antes servia de ração para os animais, hoje é sinônimo de lucro para os produtores.

consequência da preocupação de organizar melhor a cadeia produtiva. Para isso, foi criado, em 2003, o Pólo da Manga Ubá, por meio do Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Agricultura (Pedeag), da Secretaria de Estado da Agricultura (Seag). O pólo inclui a cidade de Colatina e municípios vizinhos que possuem condições climáticas favoráveis para o cultivo (Água Doce do Norte, Barra de São Francisco, Águia Branca, São Gabriel da Palha, São Domingos do Norte, Mantenópolis, Alto Rio Novo, Pancas, Marilândia, Bai-xo Guandu, Laranja da Terra, São Roque do Canaã, Itarana, Itaguaçu e Santa Teresa).

A presidente da Cooperativa de Agricultores Familiares de Colatina, Maria Emília Brumatti, faz parte des-sa história. Ela conta que a cadeia produtiva era desarticulada e havia pouco preparo dos produtores para a comercialização da fruta, nativa da região. “Não tínhamos todo aquele cuidado com as embalagens, com as técnicas de conservação da fruta e não havia cooperação“, relatou.

“A fruta, que antes servia de ração para os animais, hoje é sinônimo de lucro para os produtores”, contou Maria Emilia. O problema é que, antes, as mangas ubá não eram colhidas no momento certo. Era preciso orientação aos produtores sobre as boas práticas agrícolas necessárias durante o plantio, a colheita e a pós-colheita, para que a fruta chegasse com qualidade à indústria, disse ela.

  Com a criação do Pólo da

Manga Ubá, a cadeia produtiva foi organizada e, hoje, os produtores interessados em integrar o grupo devem seguir uma série de recomendações técnicas, como estar localizados em área que possua condições de plantio, com covas prontas e controle eficiente de formigas; e permitir o acesso de técnicos para avaliações sobre o material genético plantado na sua propriedade. O produtor também deve acompanhar os treinamentos e as capacitações destinadas ao manejo e aos tratos culturais.

Maria Emília lembrou que, em 2005, mesmo com muitas dificuldades, ocorreu a primeira venda de mangas – foram 40 toneladas comercializadas apenas pelos agricultores de Colatina, para a empresa Naturis, do município de Guaçuí, sul do Esta-do. “Entre 2003 e 2007, tínhamos muitas barreiras a superar: desconfiança dos produtores na aposta da manga ubá, falta de articulação e desconhecimento técnico. Além disso, a Naturis ditava o preço”, revelou.

Após esse período, houve um trabalho, junto ao Sebrae, de reestruturação e avaliação do pólo, que culminou com a criação de um grupo gestor no ano passado, formado por várias entidades da área para mobilizar e discutir estratégias de melhorias – entre elas, capacitação de técnicos e produtores e comercialização integrada seguindo o modelo de Gestão Estratégica Orientada para Resultados (GEOR).  Após colocar a gestão nos trilhos, as estratégias

foram postas em prática e, por meio de reuniões mensais, os resultados são avaliados e monitorados. “Agora, estamos mais preparados até mesmo para negociar de forma justa o preço de venda, que aumentou consideravelmente. Em 2008 e 2009, tivemos um aumento de 50% desse valor para o produtor. Toda manga que chega à indústria é articulada por um coordenador, para que tenhamos um controle certo sobre o dia da semana e a hora das entregas”, de-clarou Maria Emília.

    De acordo com o Novo Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura Capixaba, a meta é que, em 2010, a produção de manga no Estado chegue a  4 mil toneladas e a área plantada alcance, aproximadamente, 1,4 mil hectares. O governo tem se mostrado parceiro dos agricultores, incentivando o cultivo da fruta. Uma das iniciativas, por exemplo, é a venda de mudas pelo governo, com valores mais baixos. Hoje, uma muda custa R$ 0,61 para os produtores.

Porém, para atingir essa meta, Maria Emília lembra que é preciso avançar em pesquisas. “A safra da manga ubá é bianual e isso ainda causa prejuízos grandes. Mas, estamos vencendo as dificuldades e, apesar da bianualidade da safra, apresentamos crescimento: em 2007, por exemplo, entregamos para a agroindústria apenas 2% do que  processamos. Já em 2008/2009, entregamos 16% e em 2009/2010, conseguimos 31%“, ressaltou.  

Page 31: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

31

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Experiências inovadoras de mercado

Cooperativismo: ganho para todos  No Vale do Paraíba (SP), retomada da produção de leite vira exemplo de como, por meio de ações coletivas, é possível agregar valor e qualidade ao produto

Por volta de 1960, com o declínio da cultura cafeeira no Vale do Paraíba, em São Paulo, o leite passou a ser o forte da economia local. Na década de 1980, eram produzidos cerca de 55 mil litros diários. Porém, com a ocorrência de outras crises, muitas pessoas foram obrigadas a abandonar suas terras e se mudar para a zona urbana ou mesmo para outras regiões. A pecuária leiteira diminuiu, com os produtores preferindo o gado de corte que exige menos mão de obra.

Em um salto na linha do tempo, no ano de 2007, um grupo de pequenos produtores encontrou motivação para retomar a atividade. Treze deles, da cidade de Paraibuna, foram em busca de informações no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Se-brae) em São Paulo e encontraram

o apoio que precisavam para criar a Cooperativa dos Produtores de Leite de Paraibuna (Cooplap).

“Não tínhamos alternativa de mercado na cidade e o valor do litro de leite era vendido muito baixo”, recordou o presidente da Cooplap, Renato Pazzini, ao abor-dar a luta dos produtores da re-gião no bloco sobre Experiências

Inovadoras no Agronegócio, pro-movido durante a Semana Sebrae do Agronegócio 2010.

Desde então, o grupo passou a integrar o programa Central de Negócios do Sebrae, que incentiva ações coletivas, por meio de cooperativismo e associativismo, além de capacitação de gestão. Assim, foi possível que, em maio

Renato Pazzini, presidente da Cooperativa dos Produtores de Leite de Paraibuna (Cooplap): aumento da produção de 300%

thAíS ARAújO

Page 32: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

32

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

de 2008, a cooperativa iniciasse suas atividades com produção de 37.378 mil litros por mês. Até o final de 2009, esse número saltou para quase 136 mil litros. A meta é chegar ao final de 2010 com mais de 150 mil litros por mês.

 Além do aumento de produção em 300%, nesse período, a valorização do preço do leite foi significativa. “Meu leite, que era vendido por R$ 0,43 o litro, hoje mantém a média de R$ 0,80 o litro”, comparou Pazzini. Recentemente, revelou, a cooperativa fechou contrato com um dos maiores grupos empresariais de alimentos do País, a Perdigão.

gGestão e diminuição de custosNada vem de graça e, por isso,

os cooperados, que hoje já são 60 produtores, investiram em gestão e na produção diferenciada do leite, com processos mais sustentáveis que visam à diminuição do custo e a aposta na cooperação por meio do compartilhamento de tanques comunitários, a negociação conjunta de preços e a compra de insumos coletiva. “Quando fizemos a compra conjunta do saco de milho, tivemos uma economia de 27%. Já na aquisição de medicamentos e vermífugos, o preço saiu 78% mais baixo”, contou Pazzini.

Além da economia no bolso, explicou o presidente da entida-

de, os produtores sabem que o mercado exige qualidade e quem não se adequar a essa exigência não conseguirá se manter nessa cadeia produtiva. Por isso, acon-selhou, é preciso mudar o modo tradicional de produção de leite, buscando a inovação necessária.

O dirigente da cooperativa des-tacou, ainda, que o grupo resolveu seguir uma estratégia diferente das grandes cooperativas locais. “Era preciso investir na infraestrutura e na capacitação dos pequenos produtores. A Cooplap  reverte parte dos lucros nesses dois itens. Dessa forma, não há perda, pois as melhorias  resultam em um ganho

de valor agregado do produto e possibilitam aos associados um crescimento contínuo e sustentável”, ressaltou.

Isso tudo, depois de muito trabalho, como, por exemplo, um levantamento que identificou os pontos fortes e fracos de cada propriedade. Cada produtor recebeu o diagnóstico da sua área de produção, o que possibilitou a elaboração de um plano de ações junto a cada produtor propondo, de acordo com a necessidade in-dividual, medidas para melhorar procedimentos, bem como aumentar o faturamento, a produção e a qualidade do leite.

Com muita disposição e bons resultados, em pouco

mais de um ano de formação, a Cooplap conquistou a confiança e a adesão dos micro e pequenos produtores não só de Paraibuna, mas do município de Jambeiro. O mercado local se aqueceu, houve geração de emprego e renda e a qualidade do leite produzido abriu janelas de oportunidades, o que garante que o caminho está certo. Porém, após aprenderem a fazer uma gestão conjunta e eficiente, é o momento de investir em tecnologia.

gVaca MóvelEm 2009, a cooperativa e

o Sebrae-SP oficializaram a utilização do programa Sebraetec, modalidade de aperfeiçoamento tecnológico para a cadeia leiteira por meio de várias ações, como o laboratório itinerante Vaca Móvel, que possibilita a análise de qualidade e composição nutricional do leite. Os produtores recebem na hora o resultado da análise, com dados como características físico-químicas, temperatura, acidez, densidade e elementos que podem adulterar a qualidade do leite.

O programa, realizado pelo Instituto BioSistêmico (IBS), terá atuação de seis meses e também desenvolverá ações como levantamento e visitas técnicas às propriedades, assessoria na organização da propriedade, assessorias de veterinários, zootecnistas e agrônomos,  entre outros. O custo mensal para cada produtor é de R$ 750, sendo que 95% serão de responsabilidade do Sebrae em São José dos Campos e 5%, do produtor. Enfim, tudo isso para mostrar que, em Paraibuna, a vaca não foi pro brejo e está dan-do lucros para a cadeia leiteira.

As melhorias  resultam em um ganho de valor agregado do produto e possibilitam aos associados um crescimento contínuo e sustentável.

Page 33: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

33

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Inovação no Agronegócio

As cinco ferramentas de tecnologia do SebraeGrupo teatral mostra programas que têm finalidade de melhorar o setor e mantê-lo cada vez mais competitivo

O grupo de teatro Mapati mon-tou uma peça para despertar, de forma lúdica, uma reflexão sobre a evolução do agronegócio no Brasil. Também mostra os programas ofe-recidos pelo Sebrae para melhorar a qualidade da produção e a vida dos pequenos produtores rurais.

A peça foi apresentada no se-gundo dia da Semana Sebrae do Agronegócio 2010 durante o Cir-

cuito da Inovação e Tecnologia no Agronegócio, cujas moderadoras foram a coordenadora de Horticul-tura da Unidade de Agronegócios do Sebrae, Newman Costa, e a ge-rente-adjunta da Unidade de Inova-ção e Tecnologia do Sebrae, Magaly Albuquerque. Destacaram o uso da arte para sensibilizar os produtores.

Na peça, o grupo começa com uma breve explicação histórica so-

bre o surgimento do homem na Ter-ra, sua evolução e o início da agri-cultura. Mostra que o homem, para se alimentar, aperfeiçoou materiais como ossos e pedras e os transfor-mou em ferramentas, aprendeu a produzir e a usar o fogo. Assim, mu-daram-se radicalmente os padrões de vida daquela época.

Com a observação das ações da natureza, as estações do ano,

Grupo de teatro Mapati encena peça que mostra a importância da tecnologia para o agronegócio de menor porte

thAíS ARAújO

Page 34: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

34

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

as mudanças do clima e o desen-volvimento da tecnologia humana, surgiram os primeiros sistemas de agricultura do planeta. Dessa for-ma, o homem se fixou em um terri-tório, deixando de ser nômade.

As estações do ano são muito importantes. Atualmente, vive-se em um período de muitas mudan-ças climáticas e o produtor rural precisa estar preparado para en-tender isso. Na década de 1970, a agricultura era vista como um segmento marginal e tinha pouca importância para a sociedade da época. O que tinha valor naque-le período era o café, a cana-de-açúcar e a soja, provenientes da monocultura, a grande atividade econômica então.

A agricultura familiar era vista como pobreza e subdesenvolvi-mento. O homem do campo tinha como símbolo o personagem Jeca Tatu, doente, subnutrido, pouco in-teligente e incapaz de tomar deci-sões eficazes para o gerenciamen-to de seu negócio. A indústria era o avanço; o campo, o atraso.

O Brasil era visto como um país agrícola, e isso significava perten-cer ao Terceiro Mundo. As socieda-des pareciam esquecer que países como os Estados Unidos surgiram como nações agrícolas. A atividade rural também foi peça-chave no desenvolvimento do Brasil.

Quase 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro provém do agronegócio. A balança comercial ficou positiva graças às exporta-ções de produtos agrícolas. A anti-ga roça virou agronegócio e o Jeca

transformou-se em empresário. Tudo isso devido à tecnologia. To-das essas mudanças e recordes de plantação e exportação ocorreram com a ajuda da inovação. Mudan-ças climáticas e a concorrência de produtos estrangeiros têm eleva-

A antiga roça virou agronegócio, e o Jeca Tatu transformou-se em empresário. Tudo isso

devido à tecnologia.

Newman Costa, coordenadora de Horticultura da Unidade de Agronegócios do Sebrae (à direita), e Magaly Albuquerque, gerente-adunta de Inovação e Tecnologia do Sebrae

thAíS ARAújO

do a competitividade e a adoção de novas tecnologias. O Sebrae se sente um dos responsáveis por esse novo cenário.

gDURANTE A PEçA, FORAM APRE-SENTADOS OS CINCO PROGRAMAS TECNO-lóGICOS DO SEBRAE

1. Programa Design É uma ferramenta de auxílio

de desenvolvimento de produtos e serviços até a comercialização. O Sebrae tem esse programa como

Page 35: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

35

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

procedência do produto. Esse pro-grama traz benefícios ao produtor como ganho de mercado, melhoria do processo produtivo e no geren-ciamento do negócio, resultando em produtividade e qualidade. É a melhor forma de garantir que os alimentos sejam produzidos em uma fonte segura. O programa de certificação de qualidade exis-te desde 2005 e o Sebrae financia 50% dos custos das certificações, tanto no processo inicial quanto na manutenção dos três anos seguin-tes. Além da certificação de quali-dade, o Sebrae apoia a certificação de indicação geográfica, que tem por objetivo garantir a qualidade e a procedência dos produtos. Ela é dividida em dois níveis.

1. Indicação de procedência: o produto é reconhecido como pro-duzido em determinada região.

2. Denominação de origem: as qualidades e características do produto se referem ao local geo-gráfico onde ele foi produzido.

No Brasil, existem seis indica-ções geográficas: café do cerrado mineiro, carne do pampa gaúcho, vinho do Vale dos Vinhedos, ca-chaça de Paraty, couro do Vale do Sinos e a manga e a uva do Vale do São Francisco.

4. laboratório MóvelPrograma que empresta en-

saios e consultorias técnicas rápi-das para as MPEs. O trabalho visa à melhoria da qualidade do produto e também à redução de perdas de

A identidade visual, a embalageme o material promocional conquistam

a preferência do cliente.

uma das áreas prioritárias de ações nas micro e pequenas empresas – MPEs. Além disso, o Sebrae presta apoio em serviços de consultoria em design para as MPEs por meio da consultoria tecnológica do Se-braetec. As áreas em que atua são design gráfico, design de produto e design de embalagem. O objetivo do programa é ajudar a aumentar as vendas e a inserção do produto no mercado, além de auxiliar nos trabalhos de produção e marketing. A identidade visual, a embalagem e o material promocional conquis-tam a preferência do cliente. Para o Sebrae, o importante é fomentar a inovação e, para isso, a instituição conta com o auxílio de parceiros es-pecialistas em designs nos centros e núcleos de inovação presentes em vários Estados do Brasil.

2. Programa Alimentos Seguros – PASÉ um programa criado para se

obter alimentos saudáveis prepa-rados com segurança. Esse curso ensina o empresário e o funcio-nário do ramo da alimentação a cuidar dos produtos com dicas de manuseio, evitando, assim, a con-taminação e os riscos a quem irá consumi-los, além de aulas de pro-cesso de preparação dos alimen-tos. Com essa oficina, o empresário melhorará a qualidade do seu ser-viço e evitará desperdícios.

3. Certificação de qualidade e indica-ção geográfica

É uma certificação que garante a

matéria-prima, além da calibração de equipamentos de produção. Hoje, o trabalho está sendo reali-zado em empresas dos setores de transformação plástica, alimentos e bebidas, couros e calçados, cerâ-mica, madeiras e móveis, fundição, têxteis e confecções e produção leiteira.

Alguns Estados brasileiros con-tam com parceiros como o Serviço Nacional de Aprendizagem Indus-trial (Senai), o que auxilia na análise da qualidade de produtos e alimen-tos e de estado de conservação dos produtos, além do controle de hi-gienização dos equipamentos e de tudo o que entra em contato com o alimento. Outro quesito verificado é a qualidade da água, utilizada tan-to na fabricação quanto na limpeza dos utensílios. Cada atendimento prestado pelo Laboratório Móvel é subsidiado pelo Sebrae. O empresá-rio arca somente com 20% do custo do atendimento.

5. Plano de Melhoria do Desempenho Ambiental – PDMA

Esse programa ensina práticas ambientais adequadas aos empre-sários e, com isso, diminui ou até mesmo elimina o desperdício. A metodologia já está disponível em todas as regiões do Brasil. Existem outras publicações que auxiliam as MPEs a efetuar sua gestão ambien-tal, como, por exemplo, a metodo-logia Sebrae Cinco Menos que São Mais. Esse sistema trata da redução de desperdício de uma maneira simples e rápida, podendo gerar grande ganho para as MPEs. Ela funciona da seguinte maneira: me-nos água, menos energia, menos matéria-prima, menos lixo e menos poluição, resultando em mais lucro, mais competitividade, mais satisfa-ção do consumidor, mais produtivi-dade e mais qualidade ambiental.

Page 36: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

36

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Inovação no Agronegócio

Gerente da Unidade de Acesso a Tecnologia e Inovação do Sebrae, Edson Fermann conta como foi a Se-mana Sebrae do Agronegócio, que uniu questões como inovação, mer-cado e acesso a serviços financeiros. Fermann fala ainda das surpresas e dos casos de sucesso que mais mar-caram o evento de acordo com sua percepção e comenta os avanços que sua unidade tem conseguido nos últimos anos, levando soluções inovadoras para o empreendedor conquistar o mercado.

Como foi a Semana Sebrae do Agrone-gócio no âmbito da inovação?

Nós demos mais um salto qua-litativo com relação à questão do agronegócio nas pequenas pro-priedades e nos pequenos empre-endimentos rurais do agronegó-cio. Cada vez mais, os produtores rurais percebem a importância de agregar valor. Não adianta so-mente o produto ser bom, temos de inovar e olhar o mercado. Por meio do trabalho do Sebrae, esses agricultores não estão sendo olha-dos mais como “coitadinhos” e sim como empreendedores rurais com grande potencial de negócios. No caso de sucesso apresentado no evento, em que os assentados

Inovação para o homem do campoEm entrevista, Edson Fermann, gerente da área de Tecnologia e Inovação do Sebrae, comenta como essas atividades podem impulsionar a produção rural

Teremos de impulsionar o pequeno em-presário do agronegócio a utilizar a in-ternet ou mesmo fazer o e-commerce (comércio eletrônico).

de Mato Grosso falaram sobre o Shopping da Agricultura Familiar, pudemos ver que em nenhum momento eles deixaram de de-senvolver seus produtos. No caso dos produtores que inovaram com a criação do Aipim Chips, Janete Marcelino e João Soares contaram que os filhos já estavam estudan-do na escola técnica rural. Senti-mos um salto qualitativo na vida desses agricultores. Quando essa geração voltar ao campo, ela vai introduzir tecnologia e novos mé-todos de gestão. O Sebrae ajuda a transformar a cara desse setor. Nosso intuito não é apenas gerar emprego no campo, mas renda no campo. A inovação vem para aju-dar na melhoria de renda e fixação do homem no campo.

Como ocorre o trabalho do Sebrae para a melhoria de vida no campo?

A unidade que eu gerencio foca duas áreas: inovação e acesso à tecnologia. Trabalhamos com as questões de embalagens, alimen-to seguro, abordagens de controle e indicação geográfica, soluções que o Sebrae desenvolve nacional-mente. Desenvolvemos, por exem-plo, uma pesquisa para solucionar o problema do bicho barbeiro no açaí. Uma coisa é a solução que já temos e transferimos para o agro-negócio, mas desenvolvemos no-vas pesquisas e trabalhos a partir das demandas que chegam dos produtores do agronegócio. Te-mos de desenvolver a solução. Fazemos um trabalho também de monitoramento do que há de

Page 37: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

37

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

inovação no mundo que possa auxiliar o trabalho no campo. Um bom exemplo é o de como a na-notecnologia pode influenciar no agronegócio e, ao mesmo tempo, ser sustentável, sem agredir o meio ambiente.

Quais são as áreas de maior sucesso em inovação e tecnologia que o Sebrae vem apoiando?

São diversos setores. Um bom exemplo é a área de mel. O impac-to do Sebrae no setor da apicultura é enorme. Hoje, já conseguimos mensurar esse impacto. O Sebrae

Edson Fermann apresentou casos de sucesso na Semana do Agronegócio, como a empreendedora rural Idalice Nunes, presidente da Cooperativa de Produção Agropecuária Canudos Assentamento 14 de Agosto (Coopac) – Campo Verde (MT)

GILMAR FÉLIX

tem ajudado muito no setor da floricultura, auxiliando na comer-cialização e na criação e confecção de embalagens. Outro exemplo de sucesso é a área da cachaça. Traba-lhamos em padronização, normas e inteligência competitiva. Vale lembrar que inovação só tem essa denominação se o mercado a faz vitoriosa. Ele é o termômetro.

O que está sendo feito na sua unidade em relação ao comércio de produtos do agronegócio pela internet?

Estamos trabalhando e pensan-do o tempo todo que teremos de

impulsionar o pequeno empresá-rio do agronegócio a utilizar a inter-net a fim de obter suas respostas. Ou até ele mesmo fazer o e-commerce (comércio eletrônico). Sei que esse trabalho é um desafio muito gran-de. Estamos caminhando a fim de atingir uma meta distante. Temos de mapear o trabalho do agro-negócio da porteira para dentro e, depois, da porteira para fora. O olhar do Sebrae é sempre de que maneira conectaremos o agrone-gócio ao mundo digital. Pelo que percebemos, no agronegócio, não haverá uma solução única de in-clusão digital para todas as áreas desenvolvidas. Teremos de discutir soluções regionais. Nesse trabalho, contaremos com a parceria das co-operativas. Sempre pensamos de maneira coletiva para atingirmos maiores resultados.

Você faria um balanço da atuação da Unidade de Inovação no setor de agrone-gócio nos últimos anos?

Posso dizer que, nos últimos dois anos, tivemos um crescimento significativo. Antes, não ouvíamos falar de avaliação de conformida-de, área técnica, alimento seguro. Há uma crescente preocupação de colocar valor agregado por parte do pequeno agricultor. Isso se deve muito ao nosso trabalho. Hoje, o pequeno agricultor de agronegócio está antenado quan-to aos avanços tecnológicos, que fazem toda diferença.

Qual é o principal parceiro da Unidade de Acesso à Tecnologia e Inovação do Sebrae?

Temos muito contato com a Embrapa, que é o grande celeiro de conhecimento no Brasil. Foi por meio do sistema e da capilaridade desse parceiro que passamos do estágio de agricultura rudimentar para o profissionalismo.

Page 38: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

38

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Experiências Inovadoras no Agronegócio

O desafio da horticulturaEntrevista com Paulo César Tavares de Melo, presidente da Associação Brasileira de Horticultura (ABH) sobre os novos rumos do segmento

A horticultura, que é a explora-ção de hortaliças pela agricultura, é conhecida também por olericul-tura. No Brasil, essa prática está nas mãos dos pequenos agricultores, uma produção que corresponde a 12,4% do PIB do agronegócio bra-sileiro.

Existem mais de cem espécies de hortaliças, mas o Brasil concen-tra sua produção principalmente em cinco delas: tomate, batata, me-lancia, cebola e cenoura.

Paulo César Tavares de Melo, presidente da Associação Brasileira de Horticultura (ABH), doutor em genética e melhoramento de plan-tas e, também, professor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (USP), conta: “Um hectare de plantação, um quadradinho ver-de visto pela imagem de satélite, é responsável pelo sustento de uma família inteira e pelo abastecimen-to de grandes áreas urbanas. É um setor que merece mais respeito”, de-clara o professor.

Em entrevista, após participar da Semana Sebrae do Agronegócio,o presidente da ABH fala sobre inova-

ções na horticultura.

Professor, primeiramente o que são as hortaliças?

Nós temos uma certa dificulda-de em conceituá-las. O que eu pas-so para os meus alunos é que hor-taliças são um conjunto de plantas que têm características que se as-semelham. A principal delas é que são plantas de ciclo curtos e são herbárceas. O consumo não é só de um fruto, são folhas, talos, brotos e flores. A confusão se dá com o me-lão, morango e a melancia, todas elas são hortaliças-frutos.

Qual é a importância desses alimentos para a saúde do ser humano?

Elas são essenciais para repor as vitaminas que o corpo humano não consegue armazenar. De 15 anos para cá, o que se explora são os componentes funcionais que as hortaliças têm. E tudo isso está liga-do à cor. No tomate, por exemplo, a cor vermelha está ligada ao licope-no, que ajuda a prevenir câncer de próstata.

Não existe novidade na impor-

tância desses alimentos. Um dos primeiros livros que tratava do as-sunto, no século I, na Grécia antiga, já mostrava a importância que as hortaliças têm. Hoje, que já temos estudos científicos, sabemos que as hortaliças que nós comemos são muito mais que alimentos, têm uma função terapêutica.

Qual o problema encontrado hoje no Brasil no cultivo das hortaliças?

Existem vários problemas que precisam ser tratados, como, por exemplo, a tecnologia de produção. Devem-se analisar bem as regiões que têm melhor qualidade para o plantio. Não dá para plantar tomate no deserto, até poderia, se tivesse tecnologia para isso. Precisa criar, desenvolver e melhorar as hortali-ças no agroecossistema tropical e equatorial que nós temos aqui.

Essa falta de tecnologia existe também porque o setor é muito grande, o Brasil tem uma dimen-são enorme, é complicado que haja uma uniformidade em técnicas de manejo, técnicas culturais gerais, a tecnologia não chega a todos.

O clima também é outro proble-ma. A temperatura é muito diferen-te de um Estado para outro. O Sul do Brasil, por exemplo, tem época do ano que sofre muito com as gea-das, enquanto no Nordeste se sofre com a seca.

Nós temos que aprender a plan-tar hortaliças de janeiro a janeiro, in-dependentemente do clima. Assim,

A verdade é que o consumo de hortifrútis, na maioria dos países latino-americanos, é irrisória.

Page 39: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

39

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

existirá uma oferta maior e melhor e isso movimentará os preços e a cir-culação dos produtos.

Qual a importância do cultivo de horta-liças no agronegócio brasileiro?

Esse é o setor que mais coloca comida na mesa do brasileiro. Po-rém, ainda é negligenciado. A mí-dia dá pouca atenção à importância das hortaliças, tanto no quesito do agronegócio quanto na indispensá-vel fonte de vitaminas. É o setor que mais emprega e o que mais produz, pelas mãos de milhares de famílias espalhadas por todo o Brasil.

Qual a importância do sistema de ras-treamento?

Paulo César Tavares de Melo, presidente da (ABH): o setor merece mais respeito

GILMAR FÉLIX

É muito importante, pena que ainda os números no Brasil sejam in-significantes. Estamos melhorando, mas ainda é pouco. Os agricultores devem se unir, formar cooperativas, e atender aos protocolos internos. Quando as hortaliças são cultivadas para exportação, os produtores têm que seguir os padrões determina-dos pelos órgãos competentes e obrigatoriamente adotar o modelo de rastreabilidade. Fora do Brasil, como por exemplo na Europa, não se precisa de uma lei para haver a rastreabilidade de produtos. Eles já estão muito evoluídos nessa área, tanto que os consumidores nem se preocupam em saber se o produto é rastreado ou não, pois todos eles são. É um respeito muito grande da

empresa com o consumidor. Os selos de rastreamento

são mundiais. É uma certe-za de segurança que a fruta que você está comendo está livre de agrotóxicos, como e por quem ela foi produzida. O melão e o morango são exemplos de hortaliças que têm rastreamento, porque são exportados para Europa e Japão. Precisamos fazer com que aconteça o mesmo com produtos produzidos para o mercado interno brasileiro, criar oportunidades, tornar a rastreabilidade uma coisa do cotidiano e não só fazê-la por obrigação a uma lei.

O Brasil produz muito, mas a população come pouca hortaliça. O que fazer para mudar a mentalida-de do brasileiro?

A verdade é que o consu-mo de hortifrútis, na maioria dos países latino-americanos, é irrisória, ficando entre 100 a 150 g/habitante/dia, en-quanto o mínimo recomen-dado pela OMS [Organização Mudial de Saúde] é de 400 g/habitante/dia. Tais alimentos são, em geral, muito caros

principalmente para a população de baixa renda. No caso do Brasil, a situação se torna emblemática quando é feita a comparação dos preços dos hortifrútis com os dos gêneros alimentícios básicos, como feijão, arroz, macarrão e carne de frango. Em 2006, o gasto mensal domiciliar do brasileiro era de R$ 1369,00 e, desse total, o gasto mé-dio mensal com alimentação cor-respondia a R$ 280,00, sendo que a compra de hortifrútis representava apenas R$ 36,00.

Para isso, a horticultura vem ino-vando com produtos diferenciados, como os Mix Baby Leafs e  comer-ciais cinematográficos da Hortifruti, além de produtos processados sem conservantes químicos, embalados para pronto consumo. Essa são ma-neiras de encontrar consumidores, inovando e mostrando praticidade e conveniência nesses alimentos.

Outro fato é que o consumo de hortaliças e frutas, quando com-parado aos de alimentos com alta densidade energética e ricos em sal, e de bebidas açucaradas, é muito menor, mas está mostrando vigoro-so crescimento com a mudança da mentalidade.

O que se constata hoje, é que o valor de mercado desses alimentos ultraprocessados, ou seja, aquilo que o consumidor está disposto a pagar por eles, depende muito mais da for-ça de marketing do que de qualquer outro argumento. Além disso, o lan-çamento desses “novos” produtos em novas e atrativas embalagens ocor-re de modo incessante e mediante estratégias de publicidade cada vez mais eficientes e sofisticadas, dire-cionadas a diferentes segmentos do mercado consumidor. No entanto, lamentavelmente, as crianças são o alvo principal. Para cada 500 dóla-res investidos pelos grandes grupos transnacionais da indústria alimen-tícia em propaganda de biscoitos, salgadinhos, fast food, guloseimas e refrigerantes entre outras comi-das processadas, apenas um dólar é

Page 40: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

40

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

gasto para promover alimentos sau-dáveis, como frutas e hortaliças. Pre-cisa-se investir em publicidade e em novos produtos que sejam tão atrati-vos quanto os outros alimentos para ganhar e disputar nesse mercado.

O que se está fazendo para atrair esse público?

Do ponto de vista dos canais de comercialização, ocorrem mu-danças expressivas e a logística de toda a cadeia evoluiu para uma melhoria substancial no manuseio e na exposição dos produtos nos pontos de venda do varejo. O fato é que, nos últimos anos, a feira livre cedeu lugar às lojas das redes de autosserviços espalhadas pelo País que investem cada vez mais em ambientes modernos e limpos, com boa iluminação, decoração atrativa, climatizados e que oferecem outros serviços aos consumidores.

Outra constatação relevante é que, nos últimos anos, os diversos setores da cadeia de hortaliças in-vestiram na busca permanente por inovação tecnológica, que propiciou uma formidável segmentação va-rietal em resposta aos anseios dos consumidores, cada vez mais ávidos por novidades e exigentes em qua-lidade. Com efeito, verifica-se, nos pontos de venda, que o aumento da oferta de hortaliças diferenciadas do padrão convencional é uma estraté-gia para surpreender o cliente cons-tantemente com novidades.

No que diz respeito à necessi-dade de alavancar o consumo de hortaliças, isso jamais será atingido por meio de ações isoladas desse ou daquele setor. Essas iniciativas, em todo o mundo, para lograrem êxito, necessitam da articulação de esforços entre governo, setor priva-do e organizações civis. Tal conver-gência deveria ser entendida como um pacto numa área de interesse comum, a saúde da população.

No que a tecnologia ajuda?No balanço da última década no

Nós temos que aprender a plantar hortaliças de janeiro a janeiro, independentemente do clima.

Brasil, o setor de hortaliças alcançou saldo positivo devido, principal-mente, a investimento em inova-ções tecnológicas nos sistemas de cultivo, que resultaram em aumen-to da competitividade e novos pa-tamares de desenvolvimento.

Nos diversos agroecossistemas do território nacional, as hortaliças são produzidas, predominante-mente, pelo sistema de cultivo con-vencional. Mas, nos últimos anos, tem se verificado um significativo crescimento de cultivos diferencia-dos, com destaque para aqueles em ambiente protegido e sob sistemas orgânicos.

A adoção de tecnologia mais efi-ciente tem proporcionado significa-tivos ganhos de produtividade nos principais cultivos em relação às médias nacionais. O uso da tecnolo-gia tem contribuído também para aumentar a oferta e, consequente-mente, derrubar os preços.

A palavra da vez é sustentabilidade.Existe uma preocupação do setor com rela-ção a isso?

Sim. A preocupação com a sus-tentabilidade ambiental tem incen-tivado os produtores ao uso racio-nal de agrotóxicos e de sistemas de irrigação mais eficientes quanto ao consumo de água, de modo a mi-nimizar os impactos sobre o meio ambiente e garantir a segurança alimentar.

O produtor está consciente de que, para atingir o consumidor fi-nal, fazer com que ele compre o produto, tem que haver uma preo-cupação com a natureza, boas prá-ticas agrícolas que contribuam para agregação de valor à produção.

E os desperdícios? Um dos grandes gargalos da

cadeia produtiva de hortaliças está nas perdas pós-colheita.

Dados da Embrapa revelam que os níveis médios de perdas no Bra-sil atingem 35% a 40%, enquanto, por exemplo, nos Estados Unidos, não passam de 10%. Iniciativas para reduzir essas perdas vêm sen-do adotadas, destacando-se em-balagens alternativas às caixas de madeira e tecnologias de conser-vação pós-colheita.

Outro desafio reside na inexis-tência de espírito associativista entre os produtores rurais, desde os que praticam a produção em escala familiar aos grandes produ-tores das novas fronteiras oleríco-las. Nesse sentido, os produtores precisam ser incentivados a desen-volver maior senso de organização empresarial, ampliando suas com-petências em termos de conhe-cimentos, atitudes, habilidades, valores e na implementação de programas de promoção e marke-ting do agronegócio de hortaliças, bem como na gestão eficiente e eficaz dos recursos da proprieda-de.

Qual a inovação precisa ser feita?Especialistas dizem que, para

inovar, não precisa criar nada novo. Só precisa ter o produto e condi-coná-lo no mercado de outra ma-neira, o que não deixa de ser uma inovação. O consumidor quer ser surpreendido. Assim como todo mês tem um modelo novo de car-ro sendo lançado no mercado, ele também quer ter inovação no se-tor de hortifrúti.

Page 41: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

41

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Vem aí o Shopping da Agricultura Familiar

 Com o apoio da prefeitura e do Sebrae, grupo de agricultores assentados em Campo Verde (MT)impulsiona produção familiar por meio de novo canal de comercilaização

“O nosso diferencial competi-tivo é fazer uma gestão bem fei-ta. O nosso foco é nos negócios”. Essa afirmação poderia ser de uma empresária de um grande empre-endimento, mas é de uma bata-lhadora e pequena produtora da agroecologia. Idalice Rodrigues Nunes, presidente da Cooperativa de Produção Agropecuária (Coo-pac) e produtora rural há 13 anos no assentamento 14 de Agosto, em Campo Verde (MT), oferece a todos um bom exemplo de inova-ção rural.  A entidade vai inaugurar, em breve o Shopping da Agricul-tura Familiar, que promete ser um espaço de destaque no mercado de orgânicos.

Nem sempre foi assim. “Nós comercializávamos de forma de-sorganizada e, por isso não enxer-gávamos as oportunidades que apareciam. Quando começamos uma parceria com a prefeitura, tivemos de pensar sobre para onde íamos e como ampliaríamos nosso negócio”, lembrou Idalice, ao contar, na Semana Sebrae do Agronegócio 2010, os avanços al-cançados pelos produtores.

  Em 2005, o primeiro passo foi

Experiências Inovadoras no Agronegócio

Idalice Nunes, presidente da Cooperativa de Produção Agropecuária (Coopac), em Mato Grosso

thAíS ARAújO

Page 42: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

42

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

entender como a prefeitura pode-ria incentivar o grupo de produto-res e qual o papel de cada um. No anos seguintes, veio a parceria do Serviço Brasileiro de Apoio às Mi-cro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Mato Grosso e, em 2007, foi dado início ao projeto Agroeco – e novos parceiros foram chegando.

“De lá pra cá, tivemos  formação empreendedora e cooperativa e deixamos de ser apenas produto-res para nos tornar empreendedo-res”, relatou Idalice, com entusias-mo.

g“Na Trilha dos Alimentos”Além de cursos e oficinas de ge-

renciamento de competências, os agricultores aprenderam a traba-lhar com novas culturas, como as flores tropicais e o morango. O tu-rismo rural foi outra oportunidade encontrada para aumentar a renda familiar.

“Criamos o projeto ‘Na trilha dos Alimentos’, em que é ofereci-do um café da manhã, com todos os produtos rústicos, e, depois, os turistas fazem uma trilha pela roça, onde os trabalhadores rurais mos-tram toda a produção. O pessoal vem conhecer tudo o que estamos organizando”, explicou Idalice.

Com experiência e muitas ex-pectativas, foi em fevereiro de 2010 que chegou a hora de famí-lias produtoras de sete assenta-mentos unirem força e conheci-mento para criarem a Cooperativa Mista da Agricultura Familiar de Campo Verde (Cooperunião). Os primeiros 76 cooperados estão otimistas com as janelas de opor-tunidade que devem ser abertas futuramente e, por isso, querem estar preparados para os novos desafios.

  Os pequenos produtores já compreendem que a criação da cooperativa é importante não ape-

nas para o fortalecimento da agri-cultura familiar, mas para facilitar a aquisição e a comercialização dos seus produtos. “Com a cooperativa, entramos em uma fase avançada de organização. Vamos contratar consultores para fazer a gestão. Queremos também ter uma asses-soria especializada para criarmos uma marca própria e um excelen-te controle de inspeção”, destacou Idalice Nunes.

  De acordo com a produtora, a prefeitura vai fornecer equipamen-tos e infraestrutura necessária para o funcionamento da cooperativa, até que ela esteja forte o suficiente para caminhar sozinha. Além disso, a criação da cooperativa viabiliza-rá juridicamente que a prefeitura possa comprar, em 2010, produtos da agricultura familiar para a me-renda escolar.

Outra boa notícia que chega junto com a criação da cooperati-va é que, em 2010, alimentos como verduras, frutas e legumes, entre outros, deverão ser adquiridos de agricultores locais, atendendo a uma lei federal que determina a destinação de 30% do repasse à merenda do Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar (FNDE) para aquisição de alimentos dos pequenos produtores.

Vale destacar que o apoio aos pequenos agricultores é fruto de diversas parcerias entre a prefeitu-ra, o Sebrae e o Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento ,

para promover capacitação técnica empreendedora para os agriculto-res familiares do município, dentro do Projeto de Desenvolvimento da Agroecologia da Região Sudoeste de Mato Grosso.

gShopping com produtos e serviços 

Toda essa organização da Co-operunião será fundamental para preparar os produtores para bom funcionamento do Shopping da Agricultura Familiar. Localizado às margens da rodovia BR 364, o shopping terá espaços para co-mercialização dos produtos, salas e salões para serviços e para incen-tivar a produção, além de orientar e disciplinar a distribuição de hor-tifrutigranjeiros e outros produtos alimentícios de forma a atender à demanda do mercado.

Idalice contou que o Shopping da Agricultura Familiar vai ajudar na agregação de valor à produ-ção e impedir que atravessadores prejudiquem a comercialização dos pequenos produtores. Basea-dos no associativismo, os produ-tores familiares terão acesso aos supermercados, por intermédio da Cooperunião. “Hoje, 69% dos hortifrutigranjeiros vêm de fora do Estado do Mato Grosso. Queremos conquistar esse mercado e o sho-pping nos ajudará a alcançar esse objetivo. Nossos produtos estarão bem bonitos, expostos adequada-mente, com higiene e qualidade”, enfatizou a líder dos assentados.  

Nossos produtos estarão bem bonitos, expostos adequadamente, com higiene e

qualidade.

Page 43: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

43

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Experiências Inovadoras no Agronegócio

Separe 1 kg de aipim (mandio-ca, macaxeira, como queira cha-mar), corte em rodelas bem finas. Lave novamente, seque com toa-lha de papel  , deixe por 10 minu-tos ou até ficar bem seca. Leve ao fogo uma frigideira funda com 1 xícara (chá) de óleo até ficar bem quente. Frite, mexendo de vez em quando, cuidado-samente, até ficarem douradas e crocantes. Retire com uma escumadeira e coloque sobre toalha de papel. Polvilhe sal a gosto e distribua nos pratos. Está pronto o seu Aipim Chips.

A receita parece fácil, não? Quem quiser saber mais deve procurar Janete Marcelino e João Soares, produtores rurais que vivem no assentamento Terra Tombada, no município de Morretes, no centro-sul do Paraná. Eles procuraram o ca-minho da inovação para desco-brir uma nova fonte de renda, com a experiência de quem já trabalhou muito e sem retorno financeiro.

Hoje, viraram empreende-dores de sucesso. E o principal produto que gera renda para a fa-

Aipim Chips, inovação está na receita que deu certoUma família de agricultores mostra como a força de vontade e a coragem para inovar transformam a realidade de quem vive no campo

Trabalhávamos muito e não víamos o dinheiro.

Os produtores rurais Janete Marcelino (em pé) e João Soares (sentado à direita), do Paraná, alcançaram o suces-so com a inovação

Page 44: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

44

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Aipim Chips é concorrente da batata chips

GILMAR FÉLIX

mília de cinco pessoas é o Aipim Chips, o mesmo da receita acima, mas que tem que ser preparado com muito mais trabalho para abrir espaços contra o concorren-te tradicional, a batata chips.

gIngredientes: força de vontade e conhecimento

O casal descobriu a inovação depois de ter decidido buscar so-luções para enfrentar as grandes dificuldades dos pequenos negó-cios rurais.

“Quando ganhamos nosso pe-daço de terra no assentamento, em 2001, começamos plantando e vendendo aipim e outras culturas para pessoas que comercializa-vam na Ceasa. Mas era incrível e, no final da venda da roça, não so-brava nem o dinheiro para prepa-rar a terra para o próximo cultivo. Não víamos o dinheiro”, contou Janete Marcelino, durante partici-pação na Semana Sebrae do Agro-negócio 2010.

Foi então que ela se deu conta de que, mesmo que muitos elo-giassem a produção da família, dizendo que a terra dela era a me-lhor da região, alguma coisa esta-va errada e que deveria ter uma outra forma de ganhar dinheiro com seu trabalho.

Depois de algumas tentativas com jambu e gengibre, em ou-tras parcerias, o resultado não foi animador. Mesmo assim, a família não desistiu.

“Em 2005, voltei a plantar man-dioca, peguei umas máquinas emprestadas de um vizinho e co-mecei a produção industrializada. Dentro de casa, sem documenta-ção, tudo errado, mas comecei”, relembrou.

No ano seguinte, acessaram um recurso do programa Paraná 12 meses, do Banco do Brasil, e co-

meçaram a melhorar a fabriqueta. Já naquela época, Janete e João iam de porta em porta para ven-der os pacotes de Aipim Chips.

Daí veio a reviravolta. As coisas começaram a mudar. Vejam só o comparativo entre 2005 e 2009. “Um pacote de 70 gramas, que tinha um custo de produção de R$ 0,45, era vendido por R$ 0,65. Não dava pra nada. Nosso lucro era de R$ 0,20 apenas. Em 2009, com equipamentos adequados, com inovação, conseguimos ter um volume de 12 mil pacotes, vendendo cada a R$ 1,20, com o custo de produção menor), com-parou.  

gDe olho no futuroCom um lucro mensal em mé-

dia de R$ 10 mil, Janete e João estão satisfeitos, mas não acomodados. Os próximos passos incluem a parceria com o Sebrae do Paraná.

“Vamos melhorar nossas emba-lagens e rótulo, compraremos mais um processador, uma fritadeira e uma seladora. Sabemos que é pre-ciso fazer investimentos, tanto em equipamentos, quanto em inova-ção. Por isso, já temos diversificação dos nossos produtos”.

Quem inova uma vez quer inovar sempre, ressaltou. Além do Aipim Chips, a família começou  produzir a Banana Chips, assim como os pacoti-nhos com as opções salgada e doce.

Page 45: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

45

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Agregação de valor

Pequi: fruta com sabor de empreendedorismo Com inovação e investimento tecnológico, produtores do norte de Minas Gerais valorizaram a comercialização do fruto que é considerado símbolo do cerrado brasileiro

José Antônio dos Santos, presidente da Cooperjap: foco na variedade de frutas típicas do cerrado

thAíS ARAújO

Experiências Inovadoras no Agronegócio

Quem se delicia com uma refei-ção típica e regional feita com pequi geralmente não faz

ideia de como aquele fruto amareli-nho e saboroso foi parar ali no prato.

  Esse pequi pode ter vindo das mãos cansadas de produtores rurais que vencem muitos obstáculos para extrair a sua polpa. Muitos, por falta de um modelo produtivo organizado e de inovação tecnológica, podem ficar sem o lucro justo e necessário para o sustento das suas famílias. Porém, no melhor estilo “antes e de-pois”, há um bom exemplo de quem deu a volta por cima.

“Antes, vendíamos uma caixa com 30 quilos de pequi  por R$ 2,00. Hoje, a mesma caixa sai por R$ 25. Era aquela venda de estrada, beira de BR”, con-tou com orgulho José Antônio Alves dos Santos, presidente da Cooperati-va dos Produtores Rurais e Catadores de Pequi de Japonvar (Cooperjap), localizada no norte de Minas Gerais.

Contudo, para conquistar uma mudança tão significativa, foi preciso aprender a trabalhar de forma cola-borativa e com inovação. Os primei-ros cooperados, que hoje já são 210, deram um passo importante ao pro-curar orientação e começar a proces-sar o fruto em núcleos comunitários de despolpa. Com isso, o extrativismo se transformou na principal fonte de

Page 46: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

46

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

renda dos produtores locais. g Incômodo necessário O início da organização em coo-

perativa foi em 1989, mas o grande impulso veio mesmo em 2005, com o apoio do Sebrae de Minas Gerais, por meio do projeto de Frutos do Cerrado na Região Norte de Minas Gerais.

Os produtores rurais de Japonvar participaram de atividades para aber-tura de mercado, desenvolvimento de tecnologia de produção e de con-sultoria administrativa e financeira.

No decorrer desse período, José Antônio conta que Cooperjap ga-nhou sua primeira usina de benefi-ciamento de pequi. “A nossa usina foi a primeira do mundo. É a Pequibrás”, brincou, ao expor o caso na Sema-na Sebrae do Agronegócio 2010. Ele contou que essa usina também foi viabilizada com o apoio do Sebraetec [Programa Sebrae de Consultoria Tec-nológica], que orien-tou o tipo de equipa-mento mais adequado para aquela realidade.

Dando continuida-de ao trabalho de orga-nização e capacitação, a Cooperjap também participou de projetos como oficinas de planejamento e Sebraetec.  “Com o Geor [ Gestão Es-tratégica Orientada para Resultados, do Sebrae], nós conseguimos ampliar nossa visão de produção e alcança-mos resultados muito positivos”, res-saltou José Antônio.

Nas palavras dele, o Sebrae, con-siderado o braço direito da coope-rativa, também era visto como um “incomodador”, no bom sentido. “A gente fazia o planejamento e tinha as ações e prazos que eram marca-dos com uma bolinha vermelha. Essa bolinha vermelha quase me matou”, rememorou.

José Antônio lembrou também que foi nesse período que os rótulos e logomarcas presentes nas embala-gens foram reformulados. “Antes, nos-sas embalagens eram bem simples, sem informação nutricional, data de

validade e nem químico responsável. Agora temos tudo”, destacou.

Nos próximos passos, os produ-tores serão capacitados no Programa de Alimentos Seguros e se preparam para a certificação em Comércio Jus-to. Atualmente, eles já mostram pre-ocupação com o uso de boas práticas de produção, e com a preservação do cerrado, o que inclui o repovoamento de pequizeiro. g Mudança cultural e inovação “No meu ponto de vista, o maior

desafio de inovar é a mudança cul-tural, pois antes, quando não havia orientação, a produção de pequi não era rentável e muitas pessoas se sub-metiam a trabalhar em carvoarias”, comparou o líder da categoria.

“A força da produção de pequi fez com que as carvoarias praticamen-te desaparecessem da região, pois cresceu o trabalho social, econômico

e ambiental, que prevê que os traba-lhadores tenham boas condições e ganhos suficientes, além do cuidado com o meio ambiente “, explicou.

José Antônio destacou que foi preciso ganhar a confiança dos pro-dutores e mostrar que é possível di-versificar a oferta de produtos. “Antes, vendíamos o óleo de pequi em uma garrafa pet, com 2 litros, por R$ 10. Quando trabalhamos a marca, subs-tituímos pela garrafinha de vidro,  agregamos valor e comercializamos meio litro pelos mesmos R$ 10”, rela-tou.

Além disso, a cooperativa não se contentou com pequenas mudanças e inovou criando uma linha completa e variada com mais de oito produtos que inclui creme, paçoca de pequi com carne de sol, farinha, maionese e óleo. Isso é possível, devido ao in-

Ampliamos nossa visão de produção e alcançamos resultados positivos.

vestimento em tecnologia, como a criação do desidratador e compra de uma câmara fria, por exemplo.

Contudo, apesar de o pequi ser o principal fruto, a inovação da coo-perativa é também a descoberta do trabalho com outros frutos da região. “O cerrado tem uma riqueza infinita. Já estamos nesse caminho há 11 anos e sei que ainda temos muito a apren-der sobre o que ele tem a nos ofere-cer. Estamos trabalhando com o co-quinho e com o fruto da faveira, que chamamos popularmente de favela ou fafa d’anta. É um antibiótico com grande potencial. Só no ano de 2008, nós produzimos 110 toneladas de fa-vela e mandamos para a América”.

De acordo com o produtor, a fru-ta também está sendo enviada para a Alemanha, onde há agregação de valor e volta para o Brasil como remé-dio.

g Unindo forçasJosé Antônio lem-

brou que está sendo criada a Central do Cer-rado, em Brasília, reu-nindo todas as coope-rativas extrativistas dos Estados que formam o bioma cerrado, para,

a partir de Brasília, ganhar mercados em todo o País. Com mais de uma década de funcionamento, a Coope-rativa de Japonvar é modelo nacional na agregação de ganhos. Hoje, cerca de cinco toneladas de polpa de pequi estão armazenadas na usina de bene-ficiamento da cooperativa, em bom-bas com água e sal, onde o produto pode ficar por até quatro anos.

Ao lembrar do início, José Antônio sorri singelamente e fala que é re-compensador ver a cara de satisfação das pessoas que hoje ganham seu sustento da produção do pequi e que podem viver uma vida justa e digna.

Fazendo jus ao ditado “uma ima-gem vale por mil palavras”, ele mostra uma foto e diz: “Olha a cara de satis-fação dessa mulher com a mão cheia de dinheiro. É bom demais ver isso, né?”, concluiu o produtor.

Page 47: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

47

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Experiências Inovadoras no Agronegócio

Vale das Palmeiras: modelo de agroecologia para o PaísEm sua fazenda, em Teresópolis (RJ), o ator Marcos Palmeira passou a interpretar com êxito o papel de produtor de alimentos sem o uso de agrotóxicos

Há 15 anos, Marcos Palmeira resolveu dividir sua vida em dois papéis: a de ator e a de

produtor orgânico. Proprietário da fazenda Vale das Palmeiras, locali-

Marcos Palmeira: sucesso na arte de praticar e difundir experiências de produção agroecológica

thAíS ARAújO

zada no Estado do Rio de Janeiro, no município de Teresópolis, ele somou à carreira artística consa-grada a sua veia ambientalista com a dedicação a produtos orgânicos.

“Comprei a fazenda e pensei que fosse fácil produzir alimentos orgâ-nicos”, lembrou ele, ao participar da Semana Sebrae do Agronegócio 2010. “Imaginava que era só não co-

Page 48: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

48

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

locar defensivos agrícolas e colher as hortaliças”, iludia-se.

Foram alguns anos de aprendiza-do e de persistência. “Achei que em seis meses iria conseguir fazer tudo”, contou Palmeira. Ele ainda recordou que o aconselhavam a desistir. Mas, com muita perseverança, ele seguiu em frente com seu sonho.

Antes de começar a “mexer” na terra, Palmeira percebeu que precisava organizar a fazenda e melhorar o relacionamento com seus funcionários. “O pessoal da fazenda estava acostumado com o uso de veneno nas plantações. Fazê-los mudar esse conceito, que dava para produzir de uma forma orgânica, com qualidade, foi muito difícil”, contou.

Com a ideia de ganhar a confian-ça dos trabalhadores e introduzi-los no universo orgânico, o ator decidiu aproximar-se oferecendo a eles uma melhor qualidade de vida.

“Levei um amigo meu, dentista, para cuidar da saúde bocal de to-dos os meus empregados. Os fun-cionários quando me viam, saíam correndo de medo, pensando que era a vez de um deles sentar na ca-deira do dentista”, lembrou.

O empreendedor agroecológico passou a cobrar dos empregados o valor simbólico de R$ 2, fazendo com que eles se sentissem parte do processo. “Melhorei a autoestima deles. Hoje, o pessoal que antes não se aproximava nem para conversar, ou mesmo tirar dúvidas, quer parti-

O mundo está voltado para ecologia. O orgânico é um caminho para o futuro.

cipar e dar sua opinião”, relatou. Na parte física da fazenda, foi

feito todo um trabalho de sanea-mento básico, melhoramento da estrutura hidráulica e construção de novos espaços. Após a organização da estrutura e a integração dos fun-cionários com a nova proposta de trabalho, o ator e empresário pas-sou a procurar pessoas com experi-ência no plantio orgânico.

g Viabilidade econômicaPalmeira conseguiu apoio e par-

ceiros na nova empreitada, mas fal-tava a viabilidade econômica. “Eu não podia ter um negócio que de-pendesse apenas do meu trabalho como ator”, revelou.

Depois do assassinato, em 2000, do administrador da fazenda, Rildo Gomes, em um assalto, Palmeira pensou que não fosse ser capaz de encontrar alguém que substituísse o amigo e que acreditasse em suas ideias colocando-as em prática. Foi então que, em 2005, conheceu o se-negalês Aly Ndiaye, hoje gerente de seu empreendimento.

Ndiaye já tinha experiência em trabalho com pequenos produto-res e com trabalhos sustentáveis. “Eu já conhecia o trabalho do Aly e sabia de sua vontade de colocar em prática algumas ideias. Ao mes-mo tempo, precisava de alguém que compartilhasse desse ideal. Certo dia, encontrei com ele no hall de um hotel e perguntei: Aly, quer trabalhar comigo?”, lembrou o ator,

que acrescentou: “Aly foi para o Vale das Palmeiras e tornou a fazenda um empreendimento viável”.

Apresentado à fazenda e intro-duzido em seu novo ambiente, Aly levou consigo seu grande projeto: a Produção Agroecológica Integra-da Sustentável, o PAIS, uma tecno-logia social que orienta o produtor a ter produção saudável de alimen-tos sem o uso de agrotóxicos. Jun-tamente com o apoio do Sebrae, da Fundação Banco do Brasil e do próprio Marcos Palmeira, o ideali-zador aplicou o programa e con-seguiu difundir a ideia em vários pontos do País.

Atualmente, o PAIS é um dos programas mais importantes para pequenas propriedades rurais. As principais vantagens são a dispensa no uso de agrotóxicos, a redução na aquisição de insumos e a alimenta-ção saudável e barata para os agri-cultores familiares. É um método que utiliza um sistema de irrigação por gotejamento em hortas e po-mares orgânicos. “O PAIS é uma ma-neira de conter o êxodo rural”, afir-mou Palmeira.

Hoje, o Vale das Palmeiras é um empreendimento que deu certo. Mas em desenvolvimento constan-te. “Não é eu gasto A, recebo B, e pronto, está acabado. A gente não para, o dinheiro que eu ganho vol-ta para a fazenda na tentativa de se produzir mais”, lembrou o proprie-tário.

Palmeira conseguiu unir seu so-

Page 49: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

49

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

nho com a realidade. Tudo na fazen-da funciona de forma harmônica, brinca o ator. Hoje em dia, ele con-tou que é um motivador do sistema orgânico e acredita na viabilidade da agricultura familiar. “Precisa-se usar a terra de um modo conscien-te. A terra é feita para plantar comi-da e não só soja. Quando você vai à casa de alguém, não te oferecem um prato de soja para comer”, disse Palmeira.

g Cara à tapaSobre seus produtos, revelou

avanços até no marketing visual. “Melhorei a minha logomarca. A antiga não tinha visibilidade al-guma”, comparou. O ator ainda disse que deu literalmente a “cara à tapa” colocando sua foto nos ró-tulos dos produtos.

Palmeira concluiu que ser pro-dutor é o lado da sua vida mais in-teressante e o que mais o motiva. E completa: “Nós estamos ajudando a fomentar a produção orgânica. O mundo está voltado para ecologia. O orgânico é um caminho para o fu-turo” finalizou.

Como em 2014 o Brasil sediará a Copa do Mundo, produtores orgânicos estão criando, em parceria com o Sebrae, a Copa Orgâ-nica. A ideia é levar aos comitês, jogadores e ao público em geral produtos de procedência orgânica, ampliando o mercado dos for-necedores de alimentos saudáveis.

“Esses produtos poderão integrar o gathering (fornecimento de alimentação) da Copa 2014”, afirmou Maria Beatriz Martins Costa, diretora do Planeta Orgânico – o primeiro portal sobre produção orgânica do Brasil (www.planetaorganico.org.br ). “O Sebrae é um grande parceiro desse sonho, que está se tornando realidade”, com-plementou.

 O ator e produtor agroecológico Marcos Palmeira está contente com a proposta. “Imagine a evolução que causaremos no mundo in-teiro. Todos estarão se beneficiando. Vai ser a grande tacada do orgâ-nico no território brasileiro”, avaliou. Para ele, será necessário superar a barreira política que pode surgir contra os produtos orgânicos.“ O problema não será reunir todos os produtores, para isso teremos tem-po. O bloqueio político será o mais complicado”, analisou Palmeira.

Copa Orgânica em 2014

Aly é idealizador do projeto PAIS (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável)

Precisava garantir a sustentabilidade dos

produtos orgânicos. Eu não podia ter um negócio que

dependesse apenas do meu trabalho como ator.

thAíS ARAújO

Page 50: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

50

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Experiências Inovadoras no Agronegócio

Inovar também é correr atrás da felicidade das pessoas. Pelo menos é assim que pensa Joe Valle, presi-dente da Associação de Orgânicos  do Distrito Federal e proprietário da conhecida Fazenda Malunga, um polo de agroecologia e produ-tos sustentáveis encravado no Dis-trito Federal, a 70 km de Brasília.

“Acredito que inovar é criar mo-delos de gestão com foco nas pes-soas. Afinal, o que é importante? É sermos felizes. Por isso queremos investir na Felicidade Interna Bruta (FIB) de quem faz parte da Fazenda Maluga”, explicou Valle, durante pa-lestra na Semana Sebrae do Agro-negócio 2010.

O produtor faz uma referência ao conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), criado em 1972, em um pequeno país do Himalaia, o Butão. Parece uma fábula, mas não é. Con-tam os divulgadores da FIB que ela surgiu um certo dia, quando o rei questionou se o Produto Interno Bruto (PIB), que soma as riquezas de um país, seria o melhor índice para determinar o desenvolvimen-to de uma nação.

Desde então, a FIB foi desen-volvida por pesquisadores interna-cionais, com o apoio de Programa das Nações Unidas para o Desen-

Investir na felicidade das pessoas é inovarEmpreendedor bem-sucedido em Joe Valle, da Fazenda Malunga (DF), diz que  tecnologia tem grande valor, mas investir em recursos humanos é fundamental

A Malunga divide 30% do lucro líquido entre os conselheiros, que são nossos trabalhadores.

Produtos da Fazenda Malunga são vendidos em supermercados de Brasília

MáRcIA GOUthIeR/AGêncIA SeBRAe De nOtícIAS

volvimento (Pnud). Trata-se de um conjunto de índices para medir nove dimensões de desenvolvi-mento integral: bom padrão de vida econômica, boa governança, educação de qualidade, boa saúde, vitalidade comunitária, proteção

ambiental, acesso à cultura, gestão equilibrada do tempo e bem-estar psicológico. gProdutor felizQue a Fazenda Malunga é um

caso de sucesso não é novidade, mas vale relembrar alguns núme-

Page 51: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

51

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

ros importantes: são 129 hectares de área total, 30 hectares onde se cultiva 46 espécies de hortaliças e uma produção de 20 toneladas de alimentos orgânicos por mês, o que inclui hortaliças, ovos, aves e lacticínios, gerando um bom fatu-ramento.

Resultado que não seria possí-vel sem os mais de 150 trabalhado-res contratados, com carteira assi-nada, que têm a oportunidade de integrar o conselho deliberativo e o conselho técnico da fazenda.

“A Malunga divide 30% do lucro líquido entre os conselheiros, que são nossos trabalhadores. É uma aplicação prática do conceito de produtor feliz, remunerado de for-ma adequada pelo seu trabalho e uso de recursos defendidos pelos agricultores orgânicos”, contou Joe Valle.

Além disso, existe toda a preo-cupação com  o conforto para os trabalhadores nas diversas áreas de produção. “Nós desenvolve-mos umas bancadas ergonômi-cas para as mulheres trabalharem com um conforto maior. Levamos fisioterapeuta até a fazenda e fi-zemos todo um trabalho para que a gente leve conforto e qua-lidade. O pessoal tem acesso a aulas de ioga e ginástica laboral”, disse o proprietário da Malunga.

Segundo Joe Valle, pelo menos 10% do tempo dos funcionários é gasto com qualificação. “A cada 30 dias eu tenho três dias de cursos de qualificação. Alem disso, temos reuniões de planejamento estraté-gico todo mês, onde todos contri-buem de alguma forma.”

g link direto com o consumidor Para o investimento na felici-

dade e satisfação do cliente, Valle apostou na tecnologia para fazer uma verdadeira “conexão com a roça” e aproximar  o mercado con-sumidor do campo.

Para Joe Valle, da Fazenda Malunga, não basta inovação tecnológica. Deve haver comprometimento com as pessoas que trabalham no campo

thAíS ARAújO

 “Na hora em que o consumidor comprar o produto no supermer-cado, ele vai conseguir falar com o técnico que estará aqui na lavoura. Isso é transparência. É a tecnologia como aliada de um bom serviço prestado ao consumidor”, contou com otimismo.

Valle acrescentou que o clien-te poderá entender melhor como funciona a produção e lembra ca-racterísticas importantes: a fazen-da é toda dividida usando uma tecnologia com plantas que pro-duzem flores e plantas que produ-zem fruto e, sendo também adubo

verde, montando os corredores biológicos.

“Usamos no terceiro andar a leucena e no andar intermediário a bananeira, reconstruindo uma condição de mata para que a gen-te tenha uma condição de cultivar e aumentar a produtividade.”

Esses são apenas alguns exemplos de uma série de inicia-tivas de inovação da Malunga. Valle já contou várias vezes sua história, mas não se cansa de mostrar que é fundamental ten-tar fazer a diferença e produzir, fazer o bem para quem produz, para quem compra e para o meio ambiente.

Page 52: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

52

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

O momento é propício para a tomada de crédito por pe-quenos produtores rurais e

agricultores familiares. Quem reco-menda é o gerente da Unidade de Acesso a Serviços Financeiros (Uasf) do Sebrae, Alexandre Guerra. Se-gundo ele, há oferta de crédito e re-gras favoráveis para os empreende-dores do campo.

Com a estabilidade econômica, a disponibilização de R$ 116 bilhões para a agricultura familiar e comer-cial e as baixas taxas de juros para o setor, prazos e carências, “o governo federal criou estímulos para que o produtor acesse o crédito em condi-ções excepcionais”, afirmou.

Na avaliação dele, uma das me-lhores linhas para o segmento é o Programa Nacional de Fortalecimen-to da Agricultura Familiar (Pronaf), cujas taxas vão de 0,5% a 4% por ano, muito abaixo das praticadas no mercado financeiro.

Como o senhor avalia a participação da Unidade de Acesso a Serviços Financeiros na Semana do Agronegócio?

A parceria entre a Uasf e Uagro tem gerado bons frutos para o Se-brae e para os pequenos empreendi-mentos rurais. A participação da Uasf

Acesso a Serviços Financeiros

Crédito Rural em condições excepcionaisEm entrevista, Alexandre Guerra, gerente da unidade do Sebrae que orienta os empreendedores sobre finanças, afirma que o governo estimulou o acesso dos produtores rurais ao financiamento

Alexandre Guerra: informações sobre acesso a serviços financeiros em 12 sites de agronegócio e em publicações

GILMAR FÉLIX

Page 53: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

53

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

na Semana do Agronegócio vem crescendo e mostrando a importân-cia do tema no setor. Acredito que as palestras do doutor Adoniram Peraci, secretário da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrá-rio, e do doutor Marcelo Guimarães, coordenador de Análise Econômica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do gerente execu-tivo Márcio Montella, da Diretoria de Agronegócio do Banco do Brasil, e do superintendente da Área de Agricul-tura Familiar e Microfinança Rural do Banco do Nordeste, senhor Luís Sér-gio Farias Machado, sobre acesso a serviços financeiros no agronegócio, abrilhantaram o evento e levaram conhecimento para as lideranças do setor público em geral.

Quais contribuições que o Sebrae pode oferecer ao produtor rural e ao agricul-tor familiar para ter acesso ao crédito?

Com a parceria ci-tada, o Sebrae dispo-nibiliza informações de acesso a serviços financeiros em diversos meios de comunicação. São 12 sites de agronegócio com orienta-ções e informações de acesso a ser-viços financeiros, linhas de crédito e informações sobre cooperativismo de crédito e microcrédito empreen-dedor [acesso pelo portal do Sebrae – www.sebrae.com.br]. Lançamos uma revista com o tema Agrone-gócio e duas cartilhas de acesso ao Pronaf, mostrando o que pode ser financiado, os grupos, as condições de enquadramento, o programa Ga-rantia de Preços, os seguros, como acessar os créditos do Pronaf e ou-tros. Além desses, buscamos a capa-citação de disseminadores para que as informações possam chegar aos pequenos empreendimentos rurais de forma qualificada. Várias outras ações estão sendo planejadas, alme-jando-se a ampliação do acesso aos

Com as condições disponibilizadas pelo governo federal, devemos ter inúmeros casos de sucesso espalhados pelo País.

serviços financeiros pelos pequenos empreendimentos agropecuários.

Como o senhor avalia a atual conjuntura econômica para a tomada de financiamen-tos pelos produtores rurais?

Com a estabilidade econômica e a disponibilização de R$ 116 bilhões para a agricultura familiar e comer-cial, as baixas taxas de juros para o setor, prazos e carências, o governo federal criou estímulos para que o produtor acesse o crédito em condi-ções excepcionais.

Como o senhor avalia as alternativas de crédito disponíveis no mercado e, especial-mente, com relação ao Pronaf?

Os vários planos agrícolas e pecu-ários lançados pelo presidente Lula

permitiram que atingíssemos um nível satisfatório no que diz respeito às alternativas de crédito. Contem-plam as diversas classes de produ-tores, disponibilizando crédito para investimento, custeio e comerciali-zação, com as taxas mais baixas do mercado. O Pronaf, em especial, atua com taxas que vão de 0,5% a 4% a.a, com diversificadas linhas e grupos. Não trabalho diretamente com os pequenos empreendimentos rurais e não tenho condições de destacar casos de sucesso. Mas, com certeza, com as condições disponibilizadas pelo governo federal, devemos ter inúmeros casos de sucesso espalha-dos pelo País.

A Uasf mantém convênios com outras instituições para facilitar o acesso ao crédito pelos pequenos produtores ou agricultores familiares?

O Sebrae, por meio da Uasf, ce-

lebrou diversos convênios com ins-tituições financeiras objetivando a melhoria do acesso aos produtos e serviços financeiros e a diminui-ção de custos. As micro e pequenas empresas que estão na cadeia do agronegócio podem acessar os be-nefícios resultantes dessas parcerias.

De que forma organizações coletivas como cooperativas de crédito e sociedades de garantia de crédito podem facilitar o acesso ao crédito para os produtores rurais e agricultores?

As cooperativas de crédito têm seu alcance no atendimento estrate-gicamente limitado a pequenas re-giões e por isso conhecem melhor a realidade das pessoas físicas e jurídi-cas que nelas vivem. São instituições

vocacionadas a um pú-blico específico e têm na sua grande maioria baixo custo de fun-cionamento, quando comparadas aos gran-des conglomerados financeiros. Esses são fatores que contribuem

significativamente para o acesso ao crédito a custos mais atrativos a pro-dutores rurais, agricultores familia-res, micro e pequenos empresários e empreendedores. As sociedades de garantia de crédito (SGCs), em pleno processo de constituição no País, visam a complementação das garantias de crédito junto às institui-ções financeiras parceiras, às quais os pequenos empreendimentos po-derão se associar e receber as devi-das orientações e garantias. Embora sejam concebidas para empreendi-mentos tipicamente urbanos, existe a possibilidade de empresas situa-das ao longo da cadeia produtiva se associarem a essas entidades. Cabe-ria ao empresário buscar informação junto ao Sebrae de seu Estado, para saber se existe alguma SGC em pro-cesso de constituição.

Page 54: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

54

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Acesso a Mercados

Agricultura familiar faz parte do agronegócioSecretário da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário afirma que 5 milhões de produtores rurais deixaram a linha da pobreza nos últimos anos

O secretário nacional da Agricultura Familiar, Adoniram Peraci, mostrou dados que mostram a importância do segmento na produção rural

GILMAR FÉLIX

A agricultura familiar, como toda produção rural brasi-leira, também faz parte do

agronegócio. É dessa forma que o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) enquadra a produ-ção das pequenas propriedades rurais. A explicação foi ressaltada pelo secretário nacional da Agri-cultura Familiar do ministério, Adoniram Peraci, durante a aber-tura da palestra ‘Inclusão Finan-ceira na Agricultura Familiar – De-safios e Perspectivas 2010/2011’, realizada durante a Semana Se-brae do Agronegócio 2010.

Para o secretário, a agricultu-ra é uma mola propulsora para a redução da pobreza no País es-pecialmente no meio rural. Com base em dados do último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Peraci afirmou que, dos 33 mi-lhões de brasileiros saíram da li-nha da pobreza, 5,3 milhões são do meio rural. Entre os desafios para a agricultura brasileira nos próximos anos, ele destacou a re-dução dos custos de produção e

Page 55: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

55

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

“Nos últimos sete anos e meio, tempo do governo Lula, foram feitos grandes investimentos, principalmente em energias renováveis, como

os biocombustíveis, na Região Nordeste”

a conciliação entre agricultura e meio ambiente.

“Nos últimos sete anos e meio, tempo do governo Lula, foram feitos grandes investimentos, principalmente em energias re-nováveis, como os biocombustí-veis, na região Nordeste”, afirmou.

Durante sua exposição, o secretário mostrou dados do Censo que reforçam o peso da agricultura familiar no agrone-gócio – o segmento é respon-sável por 38% do valor bruto de produção e 74,4% do pes-soal ocupado no campo. Outro dado mostra o impacto social da atividade, que atende 15,3 pessoas em cada 100 hectares, enquanto que a agricultura não familiar atende apenas 1,7 pes-soa na mesma área.

Ele apresentou várias linhas de créditos disponíveis hoje nos pro-gramas coordenados pelo MDA, com destaque para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ), que financia projetos individuais ou coletivos de geração de renda para agricultores familiares e as-sentados da reforma agrária.

Segundo o secretário, durante os últimos sete anos, o Pronaf rea-lizou 2,5 milhões de contratos de crédito, com juros de 1% a 2% ao ano. Entre os anos 2000 e 2005, o volume de recursos concedido foi de R$ 2,3 bilhões. Já entre os anos de 2009 e 2010, o valor sal-tou para R$ 15 bilhões.

Peraci também destacou o Pronaf Custeio, linha destinada aos agricultores e suas coope-rativas ou associações para que financiem as necessidades de custeio do beneficiamento e in-dustrialização da produção pró-pria e/ou de terceiros. O valor do crédito é de até R$ 5 milhões, com taxa de juros a 4% ao ano.

Outra linha apontada pelo se-cretário foi o Pronaf Cota-Parte, que disponibiliza recursos para investimentos para a integraliza-ção de cotas-partes dos agricul-tores familiares filiados às coo-perativas de produção ou para a aplicação em capital de giro, cus-teio ou investimento.

Durante a Semana Sebrae do Agronegócio, as Unidades de Acesso a Serviços Financeiros e de Agronegócios do Sebrae lançaram uma cartilha sobre as linhas de crédito do Pronaf. A publicação destaca que o progra-ma possui as mais baixas taxas de juros dos financiamentos ru-rais, além das menores taxas de inadimplência entre os sistemas de crédito do país.

Sustentação e mercadoNas palavras do secretário, o

desenvolvimento do interior bra-sileiro passa por um conjunto de medidas que se articulam simul-taneamente, na qual questões como preservação ambiental, agricultura familiar e segurança alimentar com política monetá-

ria ajustada ao abastecimento formam um pilar de sustentação importante.

Outra medida necessária, afir-mou ele, refere-se à reorientação dos bancos públicos, universi-dades, instituições de pesquisa, abastecimento, entre outros, que devem estar em sintonia com a agricultura familiar, estimulando a produção, controlando a infla-ção e gerando oportunidades de emprego e renda.

Para complementar, uma ter-ceira idéia defendida por Ado-niran se refere ao conjunto de políticas públicas que podem alavancar a economia rural e valorizar iniciativas e que vão além da produção agropecuária, como, por exemplo, seguro da produção, serviços de assistência técnica rural, política de alimen-tação escolar, nova relação com mercados, turismo rural e agroin-dustrialização.

Peraci afirmou que o meio rural deve ir além das atividades rurais e estimular outras iniciati-vas de produção e agregação de valor que transcendem as ativi-dades agropecuárias.

Para ele, o crédito rural e o serviço de assistência técnica e extensão rural não tem mais o mesmo peso político no direcio-namento do desenvolvimento rural, apontando que o mercado será o grande responsável por di-recionar o modelo de agricultura do futuro.

Page 56: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

56

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Acesso a Serviços Financeiros

Crédito Rural aumentou 26%Ministério da Agricultura comemora avanços, mas também estuda reformulações em programas de financiamento previstos no Plano Agrícola e Pecuário 2010/11

Marcelo Guimarães: maior aumento de crédito ocorreu nas operações de custeio e de comercialização

GILMAR FÉLIX

Page 57: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

57

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

O crédito para o agronegócio no Brasil está cada vez mais acessível ao produtor. Mes-

mo em tempos de crise econômi-ca mundial, no período de 2008 a 2009, o País conseguiu a proeza de aumentar em 26% a liberação de financiamentos rurais.

“A liberação de recursos foi su-perior a R$ 7,2 bilhões em março, atingindo os melhores níveis des-de a crise financeira mundial que também atingiu a agricultura co-mercial”, destacou o coordenador-geral de Análises Econômicas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Marcelo Guimarães, um dos palestrantes na Semana Sebrae do Agronegó-cio 2010.

Pelas contas do BB, no período acumulado entre julho de 2009 e março de 2010, os recursos apli-cados em investimento, custeio e comercialização pela agricultura empresarial chegaram a R$ 44,8 bilhões, beneficiando também produtores que lançaram mão de linhas de crédito para estocagem.

Guimarães ressaltou que, do total de R$ 14,7 bilhões para a co-mercialização, R$ 6,6 bilhões foram concedidos por meio de Emprés-timo do Governo Federal (EGF). Já a Linha Especial de Crédito (LEC) responde por R$ R$ 628,5 milhões do total destinado ao reforço da comercialização de café, milho, lã, mel, carne suína e frutas. A linha de crédito para fruticultura, que in-centiva a agroindústria de sucos de frutas e outros derivados, recebeu R$ 29 milhões para maçã, pêssego e goiaba.

Outro dado relevante apontado pelo coordenador: entre julho de 2009 e março de 2010, o crédito

Não é raro que o governo use recursos do setor agrícola para compensar as deficiências em logística para o escoamento da produção.

concedido pelo Programa de In-centivo à Produção Sustentável do Agronegócio (Produsa) foi de R$ 330 milhões, cinco vezes mais do que o volume empregado no mesmo período do ciclo agrícola.

De acordo com Guimarães, a utilização de recursos do Programa de Geração de Emprego e Renda Rural (Proger Rural) superou R$ 2,2 bilhões, incluindo custeio e investi-mento, entre julho de 2009 e março de 2010. O programa é destinado ao produtor de médio porte, que foi beneficiado com quase cinco ve-zes mais recursos do que no mesmo período da safra 2008/2009.

gAinda há trabalho pela frente

Apesar dos números positivos, ainda existem muitos desafios. Guimarães apontou que o Plano Agrícola e Pecuário precisa melho-rar em aspectos relacionados ao aumento do volume de recursos, aumento ao apoio a comercializa-ção, ampliação do seguro rural e fortalecimento das cooperativas, alem de incentivar práticas am-bientais corretas, como a intergra-ção lavoura-pecuária-floresta e o plantio direto.

“Também é preciso solucionar os gargalos em infraestrutura e lo-gística, principalmente no Centro-

Oeste. Não é raro que o governo use recursos do setor agrícola para compensar as deficiências em lo-gística para o escoamento da pro-dução”, pontuou Guimarães.

O Plano Agrícola e Pecuário 2010/2011, lançado em junho, pre-vê recursos para apoiar os agricul-tores brasileiros da ordem de R$ 116 bilhões, incluídos aí R$ 16 bi-lhões para a agricultura familiar.

Na avaliação do coordena-dor, vale lembrar que, na safra 2009/2010, o governo disponibili-zou R$ 108 bilhões aos produtores rurais, sendo R$ 93 bilhões para a agricultura empresarial e R$ 15 bilhões para a familiar. Do total, cerca de R$ 65 bilhões foram libe-rados entre julho de 2009 e março de 2010.

Um ponto que merece maior atenção do governo, disse o cor-denador, é o programa destinado à estocagem de etanol, que teve pouca procura. Segundo ele, o programa será reformulado com a redução dos juros cobrados.

O governo também deve lançar, revelou Guimarães, um programa denominado “Agricultura de Bai-xo Carbono” para ampliar o apoio a práticas agrícolas sustentáveis, fortalecendo assim o conjunto de políticas públicas do setor aliadas à questão ambiental.

Page 58: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

58

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Acesso a Serviços Financeiros

Quando o assunto é investi-mento e inovação, logo se pensa em como conseguir

o recurso. Nesse caso, a instituição bancária mais presente na vida do produto rural brasileiro é o Banco do Brasil, que representa um elo entre o governo e o segmento, atu-ando como o maior financiador do agronegócio brasileiro em todos os segmentos e etapas da cadeia produtiva, do agricultor familiar às grandes empresas agroindus-triais. Na safra 2009/2010, o banco foi responsável por 56,5% de Cré-dito Rural concedido pelo Sistema Financeiro Nacional.

“Nós estamos investindo na di-fusão de tecnologia e treinamento para minimizar cada vez mais as dificuldades de acesso ao crédito por parte dos produtores”, afirmou Márcio Augusto Montella, gerente-executivo da Diretoria de Agrone-gócio do Banco do Brasil, durante sua exposição na Semana Sebrae do Agronegócio 2010.

Segundo ele, o banco possui 3.364 agências que operam o Cré-dito Rural, sendo que quase 90%

Banco do Brasil fortalece o

crescimento do agronegócioNa safra 2009/2010, a instituição foi responsável por 56,5% do Crédito Rural concedido pelo Sistema Financeiro Nacional

O agronegócio brasileiro representa quase 27% do Produto Interno

Bruto (PIB) brasileiro.

delas – 2.975 – operam com o Pro-grama Nacional de Fortalecimen-to da Agricultura Familiar (Pronaf ).

“O saldo da carteira de crédito do agronegócio fechou o primei-ro trimestre de 2010 em R$ 64,9 bilhões. Do total desembolsado para a safra 2009/2010 (R$ 26,4 bi-lhões), R$ 12,8 bilhões foram des-tinados para o custeio agrícola”, ressaltou Montella.

“O agronegócio brasileiro re-presenta quase 27% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, ge-rando 33% dos empregos e, ainda, é responsável pelo superávit da balança comercial brasileira”, acres-centou.

De acordo com o executivo, o crédito com Pronaf/Proger Rural

cresceu 21,4% em relação ao mes-mo período do ano anterior, com saldo final de R$ 18,9 bilhões, os quais correspondem a 29,1% da carteira.

gRiscos calculados

A mitigação de riscos dos pro-dutores e dos agentes financeiros é uma grande preocupação do Banco do Brasil e, de acordo com Montella, é fundamental que o governo aumente o prêmio do seguro rural. “Na safra passada, o valor previsto para o prêmio era de R$ 260 milhões e foi necessário solicitar verba complementar”, ex-plicou.

O Programa de Garantia da Ati-vidade  Agropecuária (Proagro) e a

Page 59: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

59

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Márcio Montella: mais integração entre instituições governamentais e privadas vai aumentar o acesso ao crédito rural

GILMAR FÉLIX

proteção de preços em bolsas de mercadorias e futuros são especial-mente estimulados. “A utilização desses mecanismos de mitigação de risco possibilita aos produtores proteção contra os efeitos do clima em sua  atividade  e das oscilações de preços das commodities agro-pecuárias”, ponderou o gerente.

O Banco do Brasil possui como seguradora a Aliança do Brasil, que assume 10% do risco, repassando 90% ao mercado.

Para fazer uma apurada análi-

se de crédito, a instituição conta com 200 engenheiros agrônomos espalhados por todo o Brasil. Eles podem observar a condição de condução das lavouras em cada microrregião.

gPreparando o terreno

Montella observou que, para a nova safra, 2010/2011, o banco também continuará investindo em automação, para conseguir ser mais eficiente na liberação do crédito. Também será fortale-cido o Fundo Private Equity para

o agronegócio, que é um tipo de atividade financeira realizada por instituições que investem es-sencialmente em empresas que ainda não são listadas na bolsa de valores, com o objetivo de alavancar seu desenvolvimento.

“Temos que continuar a fazer uma boa orquestração envolvendo todos os elos: empresas que com-pram, órgãos de assistência técni-ca e o próprio Sebrae, entre outros, para facilitar o acesso ao crédito”, acrescentou.

Page 60: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

60

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Acesso a Serviços Financeiros

É como se fosse um amigo que chega para aconselhar, alertar e, principalmente, para ajudar a en-tender as complicadas regras de um microcrédito. Assim atuam e vão atuar ainda mais os atuais e os novos assessores de crédito do programa AgroAmigo, do Ban-co do Nordeste (BNB), o segundo maior banco rural do Brasil, res-ponsável por 80% dos créditos ru-rais da Região Nordeste.

O AgroAmigo foi criado em 2005, em parceria com o Ministé-rio do Desenvolvimento Agrário (MDA), para dar orientação a agri-cultores familiares classificados pelo Programa Nacional de Forta-lecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), pertencentes ao Grupo B, ou seja, produtores que possuem renda bruta de até R$ 6 mil por ano.

“Estamos falando de uma boa parte de produtores que estão abaixo da linha de pobreza e, por isso, um dos principais objetivos do programa é melhorar o perfil socioeconômico deles por meio do incentivo à atividade rural susten-tável”, destacou o coordenador do Programa de Microcrédito Rural do BNB, Luís Sérgio Farias Macha-do, um dos expositores da Semana Sebrae do Agronegócio 2010.

gEducação financeiraMachado explicou que o pro-

grama leva educação financeira para esses agricultores por meio de uma metodologia desenvolvi-da dentro da instituição que visa o crédito orientado e acompanhado. Esse trabalho é feito junto às co-munidades por meio de assesso-res de crédito, que são treinados e contratados pelo Instituto Nordes-te Cidadania.

“Hoje, temos 600 assessores de crédito e deveremos expandir para 800 até o final de 2010. São téc-nicos agrícolas que vão até as co-munidades para fazer um trabalho

explicativo sobre como funciona o microcrédito. Eles têm que atender os produtores nas comunidades. A cada dois meses, temos monitores em campo avaliando os resultados.

É preciso não só identificar a ne-cessidade de crédito, mas também a necessidade financeira, incenti-var a criação de poupança, entre outros”, acrescentou.

O coordenador detalhou que o trabalho de orientação financeira do assessor de microcrédito não termina com a conquista do crédi-to. O produtor terá auxílio desde o período de avaliação de proposta até o tempo de financiamento ad-quirido. Ou seja, o agricultor rece-be assistência técnica e acompa-nhamento a um custo compatível com a sua receita.

De acordo com Machado, o as-

sessor elabora a proposta de cré-dito, mapeia as potencialidades da comunidade, orienta com rela-ção a obrigações e direitos dentro do programa. Após a proposta de

Banco do Nordeste orientaprodutores nas comunidadesPrograma AgroAmigo conta com assessores de crédito que vão aos locais onde vivem agricultores que estão abaixo da linha de pobreza

Um dos principais objetivos do programa é melhorar o perfil socioeconômico desses produtores por meio do incentivo à atividade rural.

Page 61: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

61

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

crédito aprovada, ele passa para a fase de orientação de recebimen-to do recurso. O produtor recebe um cartão e toda a documenta-ção necessária. O uso desse crédi-to também é orientado, para que haja uma administração eficiente.

Outro objetivo é fazer com que os agricultores trabalhem com a diversificação de plantações, pois a agricultura nordestina ainda tem baixo valor agregado e é baseada em grãos de cerqueiro ou em pe-cuária de pequenos animais de baixa produtividade.

“A credibilidade conquistada pelo programa se dá pela identifi-cação das necessidades financeiras dos agricultores e a concessão de

GILMAR FÉLIX

As inovações do AgroAmigo foram apresentadas pelo coordenador do Programa de Microcrédito Rural do Banco do Nordeste, Luís Sérgio Farias Machado

créditos em condições compatí-veis com a atividade financiada, além de uma relação de confiança e proximidade dos assessores e da presença local do BNB. Todas essas propostas fazem do AgroAmigo um grande sucesso com metas de ampliação”, afirmou Machado.

O programa foi iniciado, em fase de teste, em 2004, em duas agên-cias no interior do Piauí. Atualmen-te, o AgroAmigo já está presente em 158 unidades do banco e aten-de a mais de 1.736 municípios nor-destinos, além do norte do Estado de Minas Gerais (dados de março de 2010).

“Em 2009, tivemos 443 mil produtores atendidos e devemos

atingir 600 mil até o final de 2010. No acumulado de cinco anos do programa, devemos chegar em julho com 1 milhão de atendi-mentos. Também comemorare-mos nosso índice de adimplência, que é de 97%, com meta de che-garmos a 98%”, complementou o coordenador.

Machado destacou que toda essa inovação proporcionou ao BNB o prêmio “Boas Práticas nas Instituições Financeiras 2009”, con-cedido pela Associação Latino Americana de Instituições Finan-ceiras para o Desenvolvimento. Uma espécie de atestado ao que está dando certo.

Page 62: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

62

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

Conjuntura

Micro e pequenos precisam crescer mais que a média nacional

Há circulação de riqueza na base da pirâmide. Os valores, individualmen-

te, são pequenos, mas muito expressivos no total. Com a es-tabilidade econômica, aumen-to do emprego e da massa sa-larial, além dos programas de transferência de renda, grandes varejistas e instituições finan-ceiras traçam estratégias para conquistar, em definitivo, gran-des nacos desse interessante mercado potencial”. Essas con-siderações foram feitas pelo di-retor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, no encer-ramento da Semana Sebrae do Agronegócio 2010, em Brasília.

“Não tenham dúvidas, não se trata de estratégias de ma-rketing social. São estratégias fortes de ampliação de negó-cios”, afirmou, ressaltando que Sebrae e parceiros pretendem, por meio de ações abrangen-tes e integradas, que os peque-nos negócios urbanos e rurais, naturalmente mais próximos desse chamado contingente de

Diretor do Sebrae afirma que só assim o segmento aumentará a participação no Produto Intermo Bruto e contribuirá para melhorar a distribuição de renda

Consultorias privadas de renome indicamque o Brasil duplicará o PIB até 2020. A

expectativa é que ultrapasse economicamente países como Itália e França.

menor renda per capita, organi-zem-se para alavancar vendas não só no próprio território, mas também para atenderem nichos de maior renda, inclusive inter-nacionais.

Só essa maior abrangência mercadológica garantirá maior faturamento aos pequenos ne-gócios, fundamental para que amparem o processo de distri-buição da renda nacional, via maior faturamento, absorção de mão de obra e pagamento de melhores salários. Avaliações de consultorias privadas de re-nome indicam que o Brasil du-plicará, até 2020, o seu Produto

Interno Bruto (soma de todos os bens e serviços produzidos em um país durante determina-do período), hoje em R$ 3,1 tri-lhões. A expectativa é que ultra-passe economicamente países como Itália e França.

A participação de micro e pequenas empresas no PIB é de 20%, apesar do segmento abri-gar 98% dos 5,8 milhões dos negócios formais de todo o país e ser responsável por 60% dos postos de trabalho. “O impor-tante é que os pequenos negó-cios faturem mais, por meio da inovação, para que o segmento cresça mais que a média dos de-

Page 63: Semana Sebrae do Agronegócio 2010

63

SEMANA SEBRAE DO AGRONEGÓCIO 2010Para quem quer plantar conhecimento e colher bons negócios

mais porque só assim ampliará a participação no PIB”, explicou Carlos Alberto.

O diretor fez questão de citar uma propaganda da PriceWa-terhouse estampada na poltrona de um avião durante vôo do Rio de Janeiro para Brasília: “O Brasil será a quinta potência mundial na próxima década. Qual o be-nefício para sua empresa?” Ob-viamente, observou, a consulto-ria está falando para médias e grandes empresas. “Nós, do Se-brae, falamos para as micro e pe-quenas e trabalhamos para que também aproveitem este novo ciclo de crescimento que já é re-alidade hoje e se desenha para

GILMAR FÉLIX

Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae

os próximos anos.” Carlos Alberto fez questão

de citar casos de sucesso como o da plantação de melão em estados do Nordeste que, por meio da certificação, consegue melhores preços no mercado interno e também ser exporta-do. O mesmo está acontecendo com o mel e a cachaça. “Temos

condição de produzir alimen-tos saudáveis e com atenção ao meio ambiente. São produ-tos com grande valor agregado que podem fazer a diferença em termos de faturamento para produtores e empresas indivi-dualmente e para o território, no geral”, concluiu. (Clara Favilla/Agência Sebrae de Notícias)

Temos condição de produzir de alimentos saudáveis e com atenção ao

meio ambiente.

Page 64: Semana Sebrae do Agronegócio 2010