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Segurança Pública Capítulo 4

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271Capítulo 4 - sEGuRaNÇa pÚBlICa

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

Segurança Pública

Capítulo 4

272 ANÁLISE CRIMINAL: UMA FERRAMENTA DE COMBATE À CRIMINALIDADE NO MUNICÍPIO DE LONDRINA

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

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GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

ANÁLISE CRIMINAL: UMA FERRAMENTA DE COMBATE À CRIMINALIDADE NO MUNICÍPIO DE LONDRINA

Kleber Mardegan - SESPMaria de Fátima Sales de Souza Campos - UEL

Introdução

o Estado democrático de direito em que se vive e que deveria garantir o respeito às liberdades civis, ou seja, o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais, através do estabelecimento de uma proteção jurídica, está longe de ser um Estado de bem-estar social. atualmente, o Brasil encontra-se em dificuldades para cumprir com suas atribuições constitucionais, não oferece amparo ao cidadão, tanto sob a forma de serviços gratuitos quanto em termos de segurança, saúde e educação. tenta, apenas, oferecer ajuda financeira aos segmentos mais vulneráveis da população.

Mais do que ação policial, o Brasil precisa de bons indicadores sociais como: elevado nível educacional e uma melhor distribuição de renda. tais indicadores ajudariam, sobremaneira, na redução dos índices de criminalidade no país.

Vale ressaltar que a nação brasileira apresenta baixo grau de coesão social, o que dificulta decisões por consenso; facilita o surgimento de grupos ou classes excluídas, bem como, favorece manifestações das mais diversas: como os sem-terra, que se organizam e lutam por propriedade, e os sem-teto, que lutam por moradia nas áreas urbanas.

diante deste quadro, a segurança pública tornou-se a depositária fiel de todos os anseios de uma nação e de um Estado. de acordo com estatísticas oficiais do Governo, ou seja, dados do Ministério da Justiça, secretaria Nacional de segurança pública (sENasp, 2006), foram registrados no ano de 2005 pelas polícias civis 5,2 milhões de ocorrências em todo o Brasil, com destaque para o furto (2.022.896, ou 39,39% do total); os crimes violentos contra o patrimônio, com 903.773 casos (17,60%) e o roubo, com 903.773 ocorrências, representando 17,59% do total.

No Estado do paraná o aumento da criminalidade tem-se constituído em tema de destaque no debate político entre Governo e oposição, bem como, objeto de estudo nos meios acadêmico e civil.

pode-se dizer que os crimes sempre vão existir e que a função da polícia é reduzir e controlar o crime em uma determinada coletividade. desta forma, o combate à criminalidade deve se apoiar em métodos mais eficazes de diagnóstico e planejamento das ações policiais, com a formação de uma cooperação inteligente entre a polícia Militar e a polícia Civil, além da participação de outras agências públicas e comunitárias.

o Governo, então, através de sua polícia precisa apresentar uma nova estratégia, utilizando-se de diversos meios para enfrentar os problemas causados pela criminalidade. dentre eles, destacam-se a tecnologia da informação e a análise criminal.

Nessa modernização, trabalha-se com dois conceitos básicos: i) o conceito ampliado de inteligência, ou seja, verificam-se quais os crimes típicos de uma área, onde eles se concentram e qual a lógica subjacente (ruas, tipos de vítimas ou alvos preferidos, dias e horários de maior frequência, características dos locais de maior incidência, delinquentes mais atuantes, suspeitos mais visados, modus operandi mais característico); e ii) o conceito de integração, ou

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seja, integração dos dados e das atividades das polícias Militar e Civil, desde o planejamento até a realização de ações mais eficazes.

No geral, a região central das cidades, por conter um fluxo mais intenso de pessoas e de comércio, age como concentrador da violência urbana. Esta situação não é diferente da vivenciada no Município de londrina. No período de janeiro a junho de 2007 os crimes de roubo e furto representaram 58,67% do total de ocorrências registradas pela polícia Militar em londrina. a participação do bairro Centro de londrina neste total foi de 10,76%, seguido respectivamente pelos bairros sangrilá, leonor, Bandeirantes e Casoni. É interessante observar que em todos os delitos e períodos aqui estudados o bairro Centro apresenta os maiores índices, o que justifica a sua escolha como foco desta pesquisa.

Já no período de janeiro a junho de 2008 os crimes de roubo e furto representaram 40% do total das ocorrências criminais registradas pelo Boletim de ocorrência unificado, e a participação do bairro Centro foi de 7,9%.

Neste ponto, é necessário esclarecer ao leitor o que se entende como delitos de roubo e furto. Conforme o Código penal, em seu artigo 157, roubo é “subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência”. por outro lado, de acordo com o artigo 155, o furto pode ser entendido e classificado como “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. (BRasIl, CÓdIGo pENal BRasIlEIRo, on-line)

diante desse contexto, esta pesquisa utiliza o sistema de Informações Geográficas (sIG) como ferramenta para a confecção de mapas de risco de crime no bairro Centro de londrina, configurando-se em um instrumento importante de informações sobre locais potenciais de ilícitos.

o problema central é: de que forma a análise criminal, pode ser usada como uma ferramenta a serviço das polícias no combate à criminalidade no Município de londrina? Como exemplo, investiga-se como os furtos e roubos do bairro Centro de londrina estão distribuídos no período janeiro a junho dos anos 2007 e 2008, segundo a interpretação da análise criminal.

Mapeamento do crime são termos que vêm sendo usados ao longo dos últimos anos para se referir à análise de pesquisa nas corporações usando o sIG. Nesse trabalho, a expressão mapeamento da análise criminal é usada para descrever esse processo, porque usar o sIG para analisar crimes não é apenas o ato de localizar incidentes em um mapa, mas também, de analisá-los.

segundo Canter, (1997) o “[...] mapeamento da análise criminal [...] pode ser definido como “[...] o processo de usar um sistema de informações geográficas combinado com técnicas de análise criminal para analisar o contexto espacial de atividades criminais e de outras corporações”. (CaNtER, 1997, p. 32. Grifo nosso)

diante dessas considerações, buscou-se nesta pesquisa tabular e analisar os crimes de roubo e furto no bairro Centro de londrina ao longo do período de análise, comparando os dados de 2008 aos levantados para o mesmo período em 2007; e mapear os crimes de roubo e furto no Bairro Centro de londrina no período de análise, por faixa de horário e dia da semana, evidenciando em que horário e em qual dia da semana são cometidos os delitos.

Esta pesquisa se justifica, pois, uma vez distribuída num mapa a incidência dos diferentes tipos de delitos, no caso em estudo, furto e roubo, pode-se constatar as diferentes missões que cada instituição poderá realizar, sejam elas companhias de polícia Militar ou distritos policiais.

ademais, a comparação dos períodos poderá mostrar persistências ou repetição dos problemas, contribuindo para geração de reações pontuais por parte dos órgãos estatais,

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bem como a redefinição ou demarcação de áreas de responsabilidade das unidades policiais; distribuição racional da carga de trabalho e definição de efetivos policiais e outros recursos operacionais e administrativos. tais elementos poderão definir uma especialização de atuação, conforme o perfil criminal do bairro em estudo.

Esta pesquisa pode ser classificada como bibliográfica e documental. primeiramente procedeu-se a uma revisão da literatura teórica, tendo como foco a análise criminal e o sistema de Informações Geográficas. Cabe ressaltar a escassez de material bibliográfico no Brasil relacionado à temática, motivo pelo qual parte significativa da literatura citada refere-se a estudos internacionais. desta forma, na seção 1 define-se a análise criminal, seus objetivos, os tipos de análise criminal. Na sequência, conceitua-se mapeamento criminal e o sistema de Informações Geográficas, quais são seus objetivos, seus componentes, como interpretá-los e de que forma poderão ser utilizados como instrumentos de prevenção e combate à criminalidade, através da análise criminal.

a pesquisa documental teve como alicerce os dados coletados pelos autores através do siscopWeb. as ocorrências de roubo e furto foram coletadas pelos autores deste trabalho mês a mês, para o período janeiro a junho dos anos 2007 e 2008. posteriormente, os dados foram tabulados e transportados para planilhas em Excel. Na sequência, os autores do trabalho procuraram a secretaria pública do Estado do paraná (sEsp) para projetar os dados em mapas, por setor censitário (bairro Centro de londrina), dias da semana e faixas de horário. Na oportunidade, através de um técnico da sEsp, os dados foram migrados para o arcview, um software sIG que possui “[...] funcionalidades para visualização, gerenciamento, elaboração e análises de dados geográficos”, (2009, on-line)1, processados e projetados em mapas, que serão apresentados na seção 3. paralelamente, através das informações levantadas foram construídos gráficos no Excel, dando corpo à pesquisa documental e procedendo a análises.

É importante destacar que os mapas apresentados foram elaborados a partir do projeto Mapa do Crime, desenvolvido na secretaria pública do Estado do paraná, que tem por objetivo, entre outros, geoprocessar as informações de boletins de ocorrências registrados pela polícia Militar e Civil.

Ressalta-se que este estudo encontra-se focado nas ocorrências de roubo e furto do bairro Centro de londrina, o mais representativo para os delitos elencados. ao final do estudo são apresentadas as considerações, nas quais, aprioristicamente, fica claro que este estudo tem caráter introdutório à análise criminal como instrumento na prevenção criminal, não pretendendo ir além.

1 Introdução à AnálIse CrImInAl e Ao sIstemA de InformAções GeoGráfICAs (sIG)

a análise criminal, em grande medida, tem suas raízes na atividade de inteligência e remonta às estratégias chinesas de guerra e às épicas batalhas narradas na Bíblia. (pEtERsoN, 1994) livros sobre estratégia e estrategistas importantes, como sun tzu, Musashi e Napoleão, são revistos e estudados a cada dia, e suas aplicações são muito amplas, das empresas aos quartéis. sempre nos casos onde se usa a estratégia, a presença da inteligência é necessária. ambas estão associadas a um processo de obtenção de dados e informações, análise destes dados e sua utilização para a tomada de decisão.

1 disponível em: http://www.img.com.br/produtos_home.aspx?idprod=54

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segundo peterson, (1994, p. 2) a análise criminal “[...] é a aplicação de métodos analíticos específicos em dados coletados, visando a pesquisa ou investigação criminal e é utilizada em vários segmentos policiais em todo o mundo”.

tal conceito pode ser entendido, de forma mais particularizada, através de cinco tipos de definições, as quais serão descritas na sequência. o objetivo é sintetizar conceitos e ideias atuais, criando uma terminologia mais compreensível. as definições apresentam um modelo hierárquico, em que todos os cinco tipos de análise criminal são relacionados uns com os outros. (saMpsoN, sCott, 2000)

a palavra análise é definida como a separação de um todo nas partes que o constituem, para que a investigação e interpretação de seu conteúdo possam ser realizadas. Igualmente importante é a síntese de dados, que vem a ser a junção reestruturada daquelas partes constituintes de um todo, fornecendo, assim, novas informações. (aNdREWs, pEtERsoN, 1990)

peterson (1994) ressalta que a análise criminal é a aplicação de métodos e seus resultados no campo da justiça criminal, onde suas conclusões são geralmente utilizadas para sustentar decisões tomadas por oficiais de polícia diariamente. Estudos qualitativos e quantitativos de crimes, bem como informações de corporações policiais, combinados com fatores sociodemográficos e espaciais são usados pelos oficiais de polícia na captura de criminosos, prevenção de crimes, redução da desordem e avaliação de procedimentos organizacionais.

segundo Harries (1999), a análise criminal aborda os dados de duas maneiras: quantitativa e qualitativa. Informações como data, hora, local e tipo de crime, são quantitativas. por outro lado, relatórios sobre narrativas de crimes e relatórios de investigações, são informações qualitativas, sendo examinadas e identificadas quanto aos seus padrões e suas relações com os dados criminais.

Harries (1999) ressalta, ainda, que os dados quantitativos são primeiramente colocados em formato numérico ou de categorias. a análise quantitativa é, primeiramente, estatística, consistindo em manipulações e observações com o objetivo de descrever e explicar o fenômeno.

para peterson (1994), as questões sociodemográficas devem ser estudadas quanto às características de indivíduos e grupos, envolvendo: sexo, raça, renda, idade e educação. Em nível individual, a informação sociodemográfica é usada na corporação para procurar e identificar suspeitos de crimes. Em um nível mais avançado, as informações sociodemográficas são usadas para determinar as características de grupos e suas relações com o crime.

sampson e scott (2000, p. 21) exemplificam como as informações podem ser usadas para responder a questões como: “onde nós podemos encontrar o suspeito que é um homem branco, que tem de 30 a 35 anos de idade, com cabelos e olhos castanhos? “[...] as características demográficas podem explicar por que uma vizinhança tem um índice de criminalidade maior que a outra?”

o local onde crimes ou atividades ocorrem e a relação desses lugares com outro local e com outras informações são fatores importantes na análise criminal. Harries (1999) comenta que tão importante quanto saber o local exato do crime é conhecer as características do local e o ambiente em que o crime foi cometido. portanto, a análise de dados espaciais como: redes de ruas; informações sobre lotes; ortofotografias; localização de zonas escolares; de comércio e de áreas residenciais, inter alia, são cruciais para uma análise criminal efetiva.

um dos objetivos da análise criminal é auxiliar o esforço realizado pela corporação na captura de criminosos. por exemplo, um policial pode se deparar com um incidente envolvendo roubo, no qual o suspeito tem uma tatuagem de uma cobra no braço esquerdo. o analista criminal pode auxiliar, procurando dados para identificar indivíduos com tal tatuagem. além

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disso, um analista criminal poderia conduzir um estudo analítico para definir um determinado horário do dia, bem como o dia da semana em que incidentes com roubo aconteçem mais frequentemente, auxiliando os policiais a estabelecer uma rotina de vigilância na área para prender os criminosos. (saMpsoN, sCott, 2000)

outro objetivo da corporação é prevenir crimes através de métodos específicos, ao invés da abordagem direta. Esse objetivo depende muito da análise criminal. Exemplificando, admita-se que membros de um determinado batalhão estejam conduzindo uma campanha de prevenção ao crime, envolvendo roubos em domicílios e desejem centralizar seus recursos nas áreas mais críticas. a análise criminal pode ajudar no planejamento de educação comunitária e na patrulha a ser feita. uma vez conduzida a análise do local envolvido, análises de como, quando e onde os roubos aconteceram, e de quais itens foram roubados seriam providenciadas, e essas informações poderiam ser usadas para desenvolver sugestões de prevenção ao crime, tais como o simples fechamento ou trancamento de uma porta de garagem.

Muitos criminologistas alegam que a desordem pode levar ao crime. desta forma, a baderna e outros indicadores de desorganização social, quando não averiguados, podem provocar crimes e acelerar um processo de maior desorganização. Então, reduzir a desordem deve ser um objetivo da corporação e, consequentemente, dos analistas.

a análise criminal pode auxiliar fornecendo pesquisas e análises sobre os indicadores de desordem como acidentes de trânsito, reclamações por barulho e invasões de propriedades que podem ajudar os oficiais a identificarem tais ocorrências antes que se tornem problemas mais sérios. ainda quanto à desordem, programas de sucesso implantados em Nova York na década de 90 se utilizaram do combate aos pequenos delitos e às quebras das regras de trato social com o objetivo de coibir homicídios e outros crimes violentos, a chamada “teoria da janela quebrada”.2

outro objetivo da análise criminal é auxiliar na avaliação dos processos organizacionais. alguns exemplos incluem a distribuição de recursos, programas de prevenção ao crime, redefinição de fronteiras geográficas, necessidades da equipe de trabalho e o desenvolvimento de medidas de desempenho para o departamento de polícia. (sCott, 2000)

segundo scott, (2000) há cinco tipos de análise criminal: i) a investigativa, que utiliza os dados menos agregados e mais qualitativos; ii) a análise de inteligência, que auxilia pessoas comprometidas na identificação de redes criminosas e na captura de indivíduos para, consequentemente, evitar a atividade criminal; iii) a análise criminal tática, a qual utiliza apenas crimes e atividades relatadas à polícia. logo, os dados são mais agregados e, de certa forma, menos abundantes que aqueles, usados na análise de inteligência ou na análise investigativa criminal; iv) análise criminal estratégica, que consiste primeiramente na análise quantitativa de dados agregados, com objetivos principais de auxiliar na identificação e análise de problemas de longo termo, como tráfico de drogas ou roubo e conduzir estudos para investigar ou avaliar respostas e procedimentos relevantes, e análise criminal administrativa, que consiste na apresentação de descobertas interessantes à população sobre conceitos práticos, políticos e legais referentes à administração da corporação, ao conselho municipal e aos cidadãos. (BaIR, BoBa, FRItZ, HElMs, HICKs, 2002)

Foram abordadas como eixo do presente trabalho metodologias e técnicas sobre análise criminal oriundas de vários países, principalmente dos Eua, pois no Brasil a produção, além

2 Essa teoria defende que pequenos problemas não solucionados acabam por se tornar problemas grandes, ou seja: se alguém quebra uma janela e vê que a mesma não é logo consertada, a mensagem é que as demais janelas também podem ser quebradas e quem sabe mesmo o prédio todo, incendiado. (lEVItt, duBNER, 2005, p.130)

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de ser escassa, está restrita a instituições acadêmicas e profissionais bastante especializados na gestão policial que, atualmente, no caso do paraná, encontram-se lotados na secretaria de segurança pública.

No Brasil merecem destaque no âmbito acadêmico os sociólogos Claudio Beato e túlio Khan3, que têm produzido trabalhos alinhados com as melhores práticas internacionais. Na área de produção e integração do conhecimento destacam-se os trabalhos de souza (2003) e Ferro Junior. (2007)

afirmam dantas e souza (2004) que no Brasil a produção de informação, metodologia e técnicas sobre análise criminal é escassa e não confiável, basicamente por dois motivos: ausência de uma cultura técnica de análise criminal e o não surgimento dessa cultura que favoreça análise criminal, devido à ausência da existência de dados agregados para sua sustentação.

desta forma, são louváveis e indispensáveis as iniciativas que o Estado do paraná conduz através do projeto Mapa do Crime4, realizado pela secretaria de segurança publica, e no Estado de são paulo, por exemplo, os projetos omega e Infocrim, que pretendem integrar e disponibilizar informações de segurança pública naquele Estado.

um sistema de Informações Geográficas (sIG) é um conjunto de ferramentas encontradas no computador que permitem que uma pessoa modifique, visualize, procure e analise dados geográficos em tabelas. (ClaRKE, 1998) o sIG é uma ferramenta poderosa, pois permite ao usuário liberdade para criar, desde um simples ponto em um mapa até uma visualização tridimensional de dados espaciais ou temporais, permitindo que o analista tenha acesso a dados que vão além das características geográficas, combinado várias características, manipulando dados e informações e utilizando funções estatísticas. Há vários tipos de programas sIG, (por exemplo: arcView, MapInfo, GeoMedia, atlasGIs, Maptitude) bem como software profissional (por exemplo, arcInfo e Intergraph) (BaIR et al., 2002).

Mapeamento do crime são termos que vêm sendo usados ao longo dos últimos anos para se referir à análise de pesquisa nas corporações usando o sIG. Neste trabalho, a expressão mapeamento da análise criminal é usada para descrever esse processo, porque usar o sIG para analisar crimes não é apenas o ato de localizar incidentes em um mapa, mas também, o de analisá-los.

segundo Canter (1997, p. 32), o “[...] mapeamento da análise criminal [...]” pode ser definido como “[...] o processo de usar um sistema de informações geográficas combinado com técnicas de análise criminal para analisar o contexto espacial de atividades criminais e de outras corporações”.

a eficácia de qualquer análise criminal ou mapeamento depende muito da apresentação dos resultados dessa análise. se o documento resultante da análise não for legível ou compreensível para o leitor, então o resultado esperado não foi alcançado.

3 Veja-se, por exemplo, os artigos de Beato (Informação e desenvolvimento policial. Mimeo. documento elaborado para o IV seminário Brasileiro do projeto polícia e sociedade) e Khan (Ferramentas e técnicas de análise criminal. (apostila) são paulo, 2008 e Khan Indicadores em prevenção municipal da criminalidade. sento-sé, J. t. (Eds). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002)

4 Em janeiro de 2003, são iniciados os estudos para o uso do mapeamento criminal na área de segurança pública do Estado; em outubro é incrementado e aprovado o projeto Mapa do Crime - planejamento e segurança. ainda no paraná de 2003 - 2005 - foram realizados trabalhos para: a criação e implantação do Boletim de ocorrências unificado (polícia Civil e Militar); aperfeiçoando-se a metodologia desenvolvida no processo de mapeamento e análise criminal, estabeleceu-se uma estruturação de uma unidade de gestão na secretaria de Estado da segurança pública, dando início, assim, à atividade de gestão de segurança pública com o uso de mapas criminais.

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após a apresentação e discussão dos principais pontos referentes à análise criminal e ao sIG, a próxima seção apresentará os mapas dos roubos e furtos ocorridos no período janeiro a junho de 2007 e 2008 no bairro Centro de londrina e a análise dos roubos e furtos segundo o perfil da vítima.

2 AnálIse dos rouBos e furtos no BAIrro Centro de londrInA A PArtIr de um sIstemA de InformAções GeoGráfICAs

2.1 AsPeCtos metodolÓGICos

de acordo com o IBGE, (2009) a base territorial de londrina abrange uma área de 1.651 km2, com uma população residente estimada em 2008 em 505.184 habitantes e um pIB per capita igual a R$ 13.339,00 em 2006. londrina ocupa o 4.º lugar no ranking de Municípios paranaenses, de acordo com o produto Interno Bruto Municipal, precedida por Curitiba, araucária e são José dos pinhais (o 1.º, 2.º e 3.º Municípios paranaenses com base no pIB municipal, respectivamente). (IpaRdEs, 2009, on-line)

a delimitação da área estudada neste trabalho, o bairro Centro de londrina, foi baseada também no espaço delimitado conhecido como setor censitário. No caso em análise, o setor censitário considerado foi obtido na sEsp. (2008) Como reportado na introdução, a pesquisa teve como alicerce os dados coletados pelos autores através do siscopWeb. as ocorrências de roubo e furto foram coletadas mês a mês, para o período janeiro a junho dos anos 2007 e 2008. posteriormente, os dados foram tabulados e transportados para planilhas em Excel. Na sequência, os autores procuraram a sEsp para projetar os dados em mapas, por setor censitário (bairro Centro de londrina), dias da semana e faixas de horário.

destaca-se que os mapas apresentados foram elaborados com apoio do projeto Mapa do Crime, implementado pela secretaria pública do Estado do paraná (sEsp), que tem por objetivo, dentre outros, geoprocessar as informações de boletins de ocorrências registrados pela polícia Militar e Civil. tal sistema produz estatísticas para a elaboração de mapas, demonstrando as ocorrências criminais na malha urbana dos Municípios e permitindo a visualização de pontos de concentração de ocorrências registradas por hora, dia e natureza, bem como a incidência dos crimes por setor censitário.

os dados sobre criminalidade da sEsp têm como origem o Boletim de ocorrência unificado (Bou). a alimentação dos dados no sistema pode ser on-line, quando do atendimento da vítima nas delegacias ou “[...] através da transcrição das informações contidas nos boletins de ocorrências lavrados em formulários, para o sistema, através do atendimento ou registro de ocorrências policiais.” (sEsp, 2008, on-line).

o Bou é composto por 75 tabelas; cada uma delas é responsável pelo armazenamento de dados específicos. Estes podem ser inter-relacionados com o objetivo de se obter informações determinadas para a constituição de indicadores criminais e administrativos da segurança pública. (sEsp/CapE, 2009) dentre as 75 tabelas encontradas no Bou é possível extrair vários tipos de informações para relatórios e análises criminais, conforme pode ser observado na figura 1.

a partir do relacionamento destas tabelas, constitui-se a base de dados de exportação, que pode ser compreendida como uma tabela com um grande número de linhas, fracionada em diversos campos, os quais descrevem: as naturezas criminais; a hora da ocorrência; o dia da ocorrência; a instituição policial responsável pelo preenchimento (pM ou pC), entre outras informações. (sEsp/CapE, 2009)

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FIgURA 1 – Esquema do BOU da SESP

FoNtE: apostila de análise Geocriminal – sEsp/CapE, 2009.

Como comentado na introdução, a presente pesquisa restringe-se aos delitos de roubo e furto no bairro Centro de londrina. Esclarece-se, ainda, que o volume de informações e ferramentas utilizadas na sEsp é mais completo e elaborado que o utilizado pelo autor do estudo ora apresentado.

os delitos roubo e furto foram escolhidos por atingirem todas as camadas da sociedade, indistintamente, de modo que sua análise e seu estudo de frequência são de suma importância para propiciar elementos indicativos para ações mais abrangentes, no que concerne a ações de políticas de segurança pública.

o uso científico das informações de segurança pública para a gestão de políticas envolve, não apenas informações específicas da segurança pública, mas também informações socioeconômicas e urbanas necessárias para contextualização da situação. Esta contextualização permite, por exemplo, identificar as causas sociais dos fenômenos de segurança pública e, também, aperfeiçoar a visão sobre o resultado alcançado. desta forma, pode-se verificar se as mudanças que ocorrem na segurança pública têm também outros condicionantes, além da atuação dos órgãos desta área.

o sIG utiliza dados censitários combinados com a existência de mapas ao nível de setores, quarteirões etc. Com o conhecimento da localização de estabelecimentos de saúde e educação, e suas capacidades de atendimento, é capaz de executar tarefas de alocação de novas unidades, de acordo com as demandas locais destes serviços.

o grande significado da combinação de dados geográficos e de população está baseado em que ambos podem ser chamados de “denominadores comuns” para qualquer projeto socioeconômico, estabelecendo uma sólida fundação para a incorporação de outras fontes de informação.

ainda nesta linha, levitt e dubner (2005, p. 122), citando o banco de dados lexisNexis, enumeram causas de queda de criminalidade, sendo eles: estratégias policiais inovadoras, crescente confiança nas prisões, mudança nos mercados de crack e outras drogas, envelhecimento da população, leis mais rígidas de controle de armas, melhora da situação econômica e número maior de policiais.

Considerando a natureza territorial do crime, aplica-se, nesta pesquisa, o conceito de setor censitário como forma de compreender a ocorrência do delito. apresentar-se-á, a

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seguir, a análise de dados referentes a duas naturezas de delito ocorridas no bairro Centro, no período de janeiro de 2007 a junho de 2007 e janeiro a junho de 2008.

Cabe destacar que os resultados serão discutidos e analisados de acordo com os setores censitários do bairro Centro de londrina. os nomes das ruas do bairro Centro de londrina podem ser visualizados na figura 2. É importante ter em mente esta estrutura quando da discussão dos resultados, no que tange aos mapas por setor censitário, uma vez que os mapas elaborados por dia da semana com faixa de horário, apresentam os nomes da ruas.

FIgURA 2 - Mapa do bairro Centro de Londrina com a denominação das ruas

FoNtE: Google Maps (2009).

2.2 AnálIse dos rouBos no BAIrro Centro de londrInA

o Centro da cidade de londrina apresenta uma grande concentração de atividades comerciais de varejo,serviços, atividades imobiliárias e outros. suas ruas e avenidas possuem aglomerações específicas de serviços como, por exemplo, a rua sergipe com alta concentração de lojas de confecções e calçados e a avenida paraná, com alta concentração de lojas de confecções, calçados, lojas de departamentos e bancos.

desta forma, constitui-se a necessidade do entendimento da natureza territorial do crime, assim como é elemento basilar de aplicação de efetivo o conhecimento do local a ser policiado.

pode-se observar, através da figura 3, uma forte concentração de roubos nos trechos das ruas pio XII e rua santa Catarina, bem como piauí e paraná nas proximidades da catedral de londrina.

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FIgURA 3 – Registros de ocorrências de roubos no bairro Centro de Londrina no período de janeiro a junho de 2007, por setor censitário

FoNtE: Elaborada pela sEsp com base em informações coletadas pelos autores no siscopWeb (2008).

tradicionalmente a rua pio XII apresenta 148 pontos comerciais divididos, na sua maioria, entre comércio varejistas dos mais variados tipos (armarinho, joalheria, papelaria, viagem, vestuário, acessórios, calçados, esportivos, médicos ortopédicos e religiosos, entre outros) e atividades do setor de serviços. Já a rua santa Catarina, apesar de forte também no comércio, apresenta uma concentração maior de empresas de prestação de serviços. os destaques da avenida paraná, por sua vez, são o grande número de agências bancárias e de escritórios de advocacia.

o que se observa para o mesmo período do ano seguinte é que os delitos de roubo no bairro Centro diminuíram a incidência na rua piauí; mantiveram-se na avenida paraná, rua santa Catarina e migraram para as ruas sergipe, Rio de Janeiro e prof. João Candido (figura 4).

desta forma, a análise basilar que se faz é que o roubo tem se restringido por dois anos consecutivos praticamente a uma mesma região da cidade, com uma pequena migração para a rua pará, entre as ruas prof. João Candido e prefeito Hugo Cabral, o que sinaliza uma necessidade premente de um maior emprego de meios da segurança pública na referida região.

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FIgURA 4 – Registros de ocorrências de roubos no bairro Centro de Londrina no período de janeiro a junho de 2008, por setor censitário

FoNtE: Elaborada pela sEsp com base em informações coletadas pelos autores no siscopWeb (2008).

No que diz respeito ao mapeamento dos roubos no bairro Centro de londrina de acordo com o critério de tempo, a ferramenta utilizada pode apresentar quantos delitos ocorreram a cada hora do dia, de acordo com o dia da semana. Entretanto, dada a dimensão do mapa, optou-se por trabalhar com dias da semana e 4 faixas de horário: de 0:00h às 05:59h; das 06:00h às 11:59h; das 12:00h às 17:59h e das 18:00 às 23:59h.

ao tabular os dados, observou-se que na faixa hora das 00:00h as 05:59h os delitos ocorrem nas proximidades de bares, boates e similares, não precisamente defronte dos referidos estabelecimentos. Várias vítimas são proprietários dos chamados “carrinhos de lanches”. por exemplo, no dia 23 de fevereiro de 2008, na rua Benjamim Constant, uma vítima, às 04:56:24, teve seus pertences subtraídos e, na sequência, esfaquearam seu braço. ainda é possível observar que o horário mais suscetível à ocorrência de roubos é o intervalo das 12:00h às 17:59h.

sob o enfoque de um dos tipos da análise criminal, a administrativa, seria interessante, divulgar que ruas como: santos, a alagoas e a Espírito santo, são consideradas ruas seguras, levando em conta ao reduzido número de ocorrências registradas nestes logradouros.

ao comparar o total de ocorrências de roubos no Centro de londrina no período janeiro a junho de 2007 contra o mesmo período de 2008 (gráfico 1), percebe-se que houve uma redução nos roubos no Centro em 2008 comparativamente ao ano de 2007, independentemente do dia da semana considerado. ademais, ao que parece, os dias mais propensos a roubos no Centro de londrina são a segunda e a quarta-feira.

284 ANÁLISE CRIMINAL: UMA FERRAMENTA DE COMBATE À CRIMINALIDADE NO MUNICÍPIO DE LONDRINA

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

gRÁFICO 1 – Crimes de roubo no bairro Centro de Londrina no período janeiro a junho dos anos 2007 e 2008, segundo o dia da semana em que foram cometidos

FoNtE: sicopWeb (2008) – dados brutos. Elaboração dos autores.

Com relação às faixas de horário do cometimento de roubos no Centro de londrina (Gráfico 2), nota-se que as maiores reduções ocorreram nos intervalos das 06:00h às 11:59h e das 12:00 às 17:59h (-53,4% e -48,3%, respectivamente).

gRÁFICO 2 – Crimes de roubo no bairro Centro de Londrina no período janeiro a junho dos anos 2007 e 2008, segundo as faixas de horários em que foram cometidos

FoNtE: sicopWeb (2008) – dados brutos. Elaboração dos autores.

No que diz respeito à vítima de roubo no centro de londrina, percebeu-se que entre janeiro e junho de 2007, 78,4% das vítimas são homens e que 21,6% são mulheres. Esses

285Capítulo 4 - sEGuRaNÇa pÚBlICa

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

percentuais tiveram uma pequena alteração no mesmo período de 2008, porém os homens continuam sendo a principal vítima de roubo no bairro Centro de londrina.

2.3 AnálIse dos furtos no BAIrro Centro de londrInA

assim como o roubo, o furto tem endereço certo no bairro Centro de londrina. Como pode ser observado na figura 5, os arredores da Catedral, assim como a região dos cruzamentos das ruas santa Catarina, sergipe, Benjamim Constant com as ruas Mato Grosso, duque de Caxias e senador souza Naves, são considerados “pontos quentes”, locais onde ocorreram delitos e apresentam grande probabilidade de ocorrerem novamente.

tal situação se deve ao fato de que alguns marginais apresentam um comportamento padrão e tendem a se especializar em determinadas modalidades de crimes, pois tal prática repetida produz lucros, com riscos aceitáveis. diante deste quadro, é bem provável que parte dos furtos ocorridos na região em análise seja cometida por um certo grupo de marginais.

Quanto ao ano de 2008, na figura 5, observa-se uma redução acentuada no número de ocorrências. Entretanto, o local de cometimento é basicamente o mesmo; novamente constata-se uma repetição na ação dos criminosos no bairro Centro de londrina no crime de furto. os criminosos tendem a cometer o mesmo tipo de crime do mesmo jeito, e nos mesmos lugares, pois se familiarizam com a área; passam a conhecer as melhores rotas de fuga; atacam e fogem da mesma maneira e tornam-se escravos de seus hábitos.

Na figura 6 observa-se uma forte concentração de furtos nas proximidades do Cemitério municipal, na avenida Higienópolis, na rua Hugo Cabral e na Rio de Janeiro. ocorre uma intensa manifestação do furto na faixa de horário das 00:00h às 05:59h, mesmo porque, devido à característica do delito em estudo, se não houver significativas mudanças nas condições físicas do ambiente5 ou a introdução de ofendículos6 ou riscos ameaçadores a ação dos criminosos, a tendência é que os delitos aumentem a intensidade.

Em relação aos horários de maior incidência de furtos, notadamente no trecho da Rua sergipe entre as ruas Mato Grosso e prof. João Cândido, observou-se uma aglomeração de delitos nas faixas de horário das 06:00h às 11:59h e das 12:00h às 17:59h, ou seja, no horário comercial com predominância de segunda a sexta-feira. a avenida paraná apresenta dois trechos de repetição de furtos entre as ruas da av. são paulo e av Higienópolis e entre as ruas Mato Grosso e Brasil. as ruas Goiás e Espírito santo, aparentemente livres de uma incidência maior de furto, apresentam, respectivamente, uma aglomeração de serviços de cabeleireiro e dentistas maior que outras ruas.

5 Existem diversas obras literárias sobre como evitar crimes, dentre elas ressalta-se a: arquitetura Contra o Crime, do Cel. pMpR Roberson luiz Bondaruk.

6 ofendículos são os aparatos dos quais se valem as pessoas para terem mais segurança no âmbito social, assim como o são a cerca elétrica, os cacos de vidro postos no muro, entre outros.

286 ANÁLISE CRIMINAL: UMA FERRAMENTA DE COMBATE À CRIMINALIDADE NO MUNICÍPIO DE LONDRINA

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

FIgURA 5 – Registros de ocorrências de furtos no bairro Centro de Londrina no período de janeiro a junho de 2007, por setor censitário

FoNtE: Elaborada pela sEsp com base em informações coletadas pelos autores no siscopWeb (2008).

uma rua em particular do bairro Centro de londrina se destacou de forma positiva: a rua santos apresentou baixo número de ocorrências, tanto de roubo quanto de furto nos dois períodos em estudo. a rua santos possui aproximadamente 104 pontos comerciais, sem predominância de um determinado setor, com comércio bem variado e com muitos prédios residenciais. No estudo revelou-se como a rua mais segura da área central, pelo menos nos períodos analisados.

os crimes de furto, diferentemente dos roubos, distribuem-se de maneira uniforme ao longo da semana nos dois períodos analisados. Comparando o período janeiro a junho de 2007 com o de 2008, observou-se uma redução dos crimes de furto no bairro Centro de londrina, similarmente ao crime de roubo. (Ver gráficos 3 e 4).

287Capítulo 4 - sEGuRaNÇa pÚBlICa

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

FIgURA 6 – Registros de ocorrências de furtos no bairro Centro de Londrina no período de janeiro a junho de 2008, por setor censitário

FoNtE: Elaborada pela sEsp com base em informações coletadas pelos autores no siscopWeb (2008).

gRÁFICO 3 – Crimes de furtos no bairro Centro de Londrina no período janeiro a junho dos anos 2007 e 2008, segundo o dia da semana em que foram cometidos

FoNtE: siscopWeb (2008) – dados brutos. Elaboração dos autores.

288 ANÁLISE CRIMINAL: UMA FERRAMENTA DE COMBATE À CRIMINALIDADE NO MUNICÍPIO DE LONDRINA

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

No que diz respeito ao horário de maior incidência de furtos (gráfico 4), percebeu-se a predominância do horário das 12:00h às 17:59h, seguido do horário das 06:00h às 11:59h, nos dois anos analisados, o que coincide com o horário comercial, como comentado.

gRÁFICO 4 – Crimes de furtos no bairro Centro de Londrina no período janeiro a junho dos anos 2007 e 2008, segundo as faixas de horários em que foram cometidos

FoNtE: sicopWeb (2008) – dados brutos. Elaboração dos autores.

ConsIderAções fInAIs

a ação das polícias Militar e Civil será mais eficaz na medida em que sua atuação basear-se em dados reais. a polícia precisa saber onde os crimes acontecem, se concentram e o porquê, para tornar cada vez mais difícil a atuação dos marginais. atuar de forma inteligente, com um policiamento bem elaborado, baseado em dados concretos reduzirá as oportunidades dos delinquentes e, consequentemente, reduzirá a sensação de impunidade que estimula os oportunistas e sedimenta a ação dos contumazes.

a ferramenta da análise criminal aqui apresentada constitui uma metodologia de compreensão do crime de furto e roubo no bairro Centro de londrina, de forma a carrear esforços racionais para sua redução e controle. É formada por um conjunto de atividades, tais como: coleta organização e interpretação de dados relevantes (dados de interesse policial e criminais) para formatar o planejamento de ações policiais eficazes.

Como forma de carrear esforços fica claro o auxílio de autoridades não policiais, como, por exemplo, a prefeitura Municipal de londrina, ela pode participar no combate à criminalidade no Centro de através de programas de melhoria de iluminação pública, lei restringindo o horário de funcionamento de bares, retirada de comerciantes que vendem produtos piratas, fiscalização de bares irregulares que atraem e irradiam desordem, de pequenos hotéis sem condições sanitárias que dão suporte à prostituição de rua, que, em alguns casos estão intimamente ligados aos delitos de furto e roubo, estão são exemplos de irregularidades; são casos em que a prefeitura pode agir e reprimir através do poder de polícia administrativa que possui e a imposição de multas.

dados de interesse policial também são fundamentais. Eles são obtidos através das comunidades. Nos casos dos crimes em estudo acredita-se que parte deles não é informada

289Capítulo 4 - sEGuRaNÇa pÚBlICa

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

à polícia. por vários motivos a vítima deixa de registrar a ocorrência. alguns fatos só a comunidade local conhece, além de boas informações sobre suspeitos e criminosos.

Vale ressaltar que a comunidade tem opinião acerca das medidas a serem tomadas pelas polícias. assim, só ouvindo a comunidade, as autoridades terão seu respeito e sua colaboração; é o chamado policiamento comunitário. a experiência policial tem mostrado que onde o policiamento comunitário é forte e presente diuturnamente, o crime se afasta. ao mesmo tempo, as pessoas ficam livres para denunciar crimes, colaboram como informantes e, principalmente, quando confiam em suas polícias, testemunham contra criminosos nos tribunais, o que hoje em dia está cada vez mais difícil.

Necessário se faz esclarecer ainda nesse trabalho que toda base de dados obtida se deu através do preenchimento dos boletins de ocorrências realizados pelas polícias do Estado. Quanto mais fidedigna for a transcrição do fato, mais rica será tabela, e mais confiável, a base de dados. desta forma, é imprescindível a capacitação dos policiais que coletam as informações do público, através de cursos de capacitação e instrução de reciclagem.

todas as ferramentas tecnológicas, todo o poder da análise criminal necessita de material humano, efetivo treinado, capacitado e suficiente para fazer frente às necessidades de uma comunidade que anseia por segurança e qualidade de vida.

as ações de polícia, mais do que encarcerar seres humanos, servem e devem acontecer para a manutenção de uma sociedade equilibrada. o criminoso sempre existiu e sempre vai existir, sendo fruto de uma sociedade excludente ou até mesmo de uma ação por impulso ou oportunidade. uma atuação eficaz e equilibrada da polícia, uma forte sensação de que não haverá impunidade coíbe a ação do delinquente e do possível delinquente.

Neste sentido, em entrevista realizada com o setor de planejamento e Instrução do 5º. Batalhão, foi observado que, no período em análise (ano de 2008), houve uma mudança no quadro dos oficiais, assumindo um novo Comandante que adotou uma nova estratégia operacional, readequou o Estado Maior da unidade, tendo como primeira meta, dentre outras, reduzir o índice de criminalidade no Município de londrina, resgatando a sensação de segurança dos cidadãos londrinenses.

para isto, a partir da análise dos dados sobre criminalidade, fornecidos pela sEsp ao 5º. Batalhão passou-se a utilizar as seguintes ações estratégicas: mapeamento das áreas com maiores índices de criminalidade, denominados pontos negros ou pontos quentes; reuniões com as comunidades afetadas; utilização de 176 policiais da Escola de Formação de soldados em ações preventivas nos pontos negros identificados na área central e nos locais com maior fluxo de pessoas através do policiamento a pé e elencou-se pontos de prioridade para visualização do policiamento ostensivo, com duplas de policiais postados ao lado da viatura na área central de londrina.

Conclui-se, a partir desta pesquisa, que um aparato policial bem estruturado (relacionamento eficiente com a comunidade, interesse e competência do chefe de polícia local); bem equipado (recursos materiais suficientes, adequados e em bom estado de funcionamento); com seus quadros de efetivos completos (quantidade, capacitação e moral); possuidor de tecnologia e instrumentos de análise criminal (estratégias adequadas para enfrentar o problema) pode, sim, solucionar e reduzir as ocorrências delituosas no bairro Centro de londrina.

Ressalta-se que o objetivo principal deste estudo foi apresentar a ferramenta e suas possibilidades. Futuras pesquisas podem aprofundar a análise dos dados mapeados, descrevendo, por exemplo, o perfil das vítimas (sexo, idade, escolaridade etc.) e dos fatos (dia do crime, horário, se houve violência física com lesões corporais, tipo de arma utilizada etc.), tempo de atendimento da polícia, em que estado encontra-se o ocorrido e, por fim, se o agressor/delinquente foi preso, sua ficha criminal, ampliando o escopo do trabalho.

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GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

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