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IX SIMPÓSIO DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB SEGURANÇA E SAÚDE NA PRODUÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS Nuria Fernandez Castro 1 , Leonardo Cattabriga Freire 2 , 1 Enga. de Minas, MSc., Tecnologista Pleno, Centro de Tecnologia Mineral CETEM/MCTI 2 Eng. Petróleo e Gás, Técnico em Tratamento de Minérios, Centro de Tecnologia Mineral CETEM/MCTI [email protected] RESUMO A falta de preocupação com a segurança dos trabalhadores em alguns ambientes de trabalho no Brasil gera um custo muito alto para o país. Cerca de 700 mil casos de acidentes de trabalho são registrados em média no Brasil todos os anos, sem contar os casos não notificados oficialmente e, de acordo com o Ministério da Previdência, o país gasta cerca de R$ 70 bilhões com esse tipo de acidentes anualmente. De todos os setores industriais, a mineração é um dos mais perigosos; a indústria extrativa mineral é ainda responsável pelas maiores taxas de mortalidade dentre toda a indústria brasileira. No setor de rochas ornamentais também são frequentes os acidentes, sendo os mais graves, muitas vezes fatais, os acontecidos na movimentação de cargas e, infelizmente, o forte ritmo de desenvolvimento tecnológico do setor nos últimos anos não tem sido acompanhado pelo desenvolvimento da conscientização da necessidade da proteção à saúde e segurança entre seus trabalhadores. São muitos os locais de trabalho perigosos ou insalubres na produção das rochas ornamentais e muitos os incidentes e acidentes, normalmente não comunicados, que poderiam ser evitados com um trabalho intensivo de educação. Da mesma forma, a proteção da saúde dos trabalhadores frente à exposição contínua a agentes nocivos, continua sendo relegada a um segundo plano, observando-se, frequentemente a utilização de equipamentos e dispositivos de proteção inadequados e, salvo raras exceções, a falta de sistemas de proteção coletiva e capacitação continuada. Este trabalho aborda essas questões de forma específica para as diversas atividades laborais da extração e beneficiamento de rochas ornamentais, detalhando tanto os riscos, quanto as normas do Ministério do Trabalho e os equipamentos e dispositivos que visam diminuir aqueles riscos para uma maior proteção da saúde dos trabalhadores. PALAVRAS-CHAVE: rochas ornamentais, segurança, saúde, acidentes, prevenção. 57

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IX SIMPÓSIO DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO NORDESTE

10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB

SEGURANÇA E SAÚDE NA PRODUÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS

Nuria Fernandez Castro1, Leonardo Cattabriga Freire 2,

1 Enga. de Minas, MSc., Tecnologista Pleno, Centro de Tecnologia Mineral – CETEM/MCTI

2 Eng. Petróleo e Gás, Técnico em Tratamento de Minérios, Centro de Tecnologia Mineral – CETEM/MCTI

[email protected]

RESUMO

A falta de preocupação com a segurança dos trabalhadores em alguns ambientes de trabalho no

Brasil gera um custo muito alto para o país. Cerca de 700 mil casos de acidentes de trabalho são

registrados em média no Brasil todos os anos, sem contar os casos não notificados oficialmente e,

de acordo com o Ministério da Previdência, o país gasta cerca de R$ 70 bilhões com esse tipo de

acidentes anualmente. De todos os setores industriais, a mineração é um dos mais perigosos; a

indústria extrativa mineral é ainda responsável pelas maiores taxas de mortalidade dentre toda a

indústria brasileira. No setor de rochas ornamentais também são frequentes os acidentes, sendo

os mais graves, muitas vezes fatais, os acontecidos na movimentação de cargas e, infelizmente, o

forte ritmo de desenvolvimento tecnológico do setor nos últimos anos não tem sido acompanhado

pelo desenvolvimento da conscientização da necessidade da proteção à saúde e segurança entre

seus trabalhadores. São muitos os locais de trabalho perigosos ou insalubres na produção das

rochas ornamentais e muitos os incidentes e acidentes, normalmente não comunicados, que

poderiam ser evitados com um trabalho intensivo de educação. Da mesma forma, a proteção da

saúde dos trabalhadores frente à exposição contínua a agentes nocivos, continua sendo relegada a

um segundo plano, observando-se, frequentemente a utilização de equipamentos e dispositivos

de proteção inadequados e, salvo raras exceções, a falta de sistemas de proteção coletiva e

capacitação continuada. Este trabalho aborda essas questões de forma específica para as diversas

atividades laborais da extração e beneficiamento de rochas ornamentais, detalhando tanto os

riscos, quanto as normas do Ministério do Trabalho e os equipamentos e dispositivos que visam

diminuir aqueles riscos para uma maior proteção da saúde dos trabalhadores.

PALAVRAS-CHAVE: rochas ornamentais, segurança, saúde, acidentes, prevenção.

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10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB

ABSTRACT

The lack of concern for the safety of workers in some working environments in Brazil generates a

very high cost for the country. About 700,000 cases of work accidents are recorded on average in

Brazil every year, not including unreported cases officially, and according to the Ministry of

Welfare, the country spends about US $ 70 billion with this type of accident each year. Mining is,

among all of the industrial activities, one of the most dangerous, still responsible for the highest

mortality rates. Within the natural stones sector, accidents are also frequent, being the most

dangerous, fatal in many occasions, those occurred during the stones handling. Unhappily, a

raising on workers awareness on health and safety issues, the last years, has not followed the

great pace of this sector’s technological development. Many workplaces and activities are

dangerous or unhealthy amongst natural stones mining and processing and many accidents and

incidents, usually not informed to the authorities, could be avoided with educational health and

safety programs. Similarly, the workers’ health protection against continuous exposure to harmful

agents, has been relegated to a background, as it can be frequently observed, within this sector,

the use of inadequate protective equipment and, with rare exceptions, the lack of collective

protection systems and continuous training. This paper addresses these issues specifically for the

various work activities of extraction and processing of natural stones, detailing the risks involved,

the rules of the Ministry of Labor and the equipment and devices aimed at reducing those risks for

a greater health protection of the stone workers.

KEYWORDS: natural stones, health and safety, accidents, prevention.

1. INTRODUÇÃO

A Organização Internacional do Trabalho – OIT, instituiu a data de 28 de abril de 1969, como

o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, como triste lembrança de um terrível acidente

acontecido em uma mina norte-americana no estado da Virginia, onde houve uma explosão e 78

mineiros faleceram, e de forma extensiva como lembrança de todas as vítimas de acidentes e

doenças relacionadas ao trabalho. Segundo dados da OIT de 2013, a cada 15 segundos morre um

trabalhador por razões de doença ou acidente de trabalho e 151 trabalhadores sofrem algum tipo

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de acidente relacionado ao trabalho. A OIT aponta ainda 5.500 mortes por dia, ou seja, mais de

dois milhões de mortes por ano devido a enfermidades relacionadas com o trabalho, mais de

trezentas mil pessoas morrem a cada ano como consequência de acidentes no trabalho, mais de

cem milhões de pessoas sofrem de doenças não letais relacionadas com o trabalho e mais de

trezentos milhões de acidentes laborais não mortais ocorrem a cada ano. Mesmo que as

condições de saúde e segurança no trabalho sejam diferentes entre os países o que se sabe é que

em todo o mundo os mais pobres e os menos desprotegidos (mulheres, crianças e os migrantes)

são os mais afetados.

No Brasil, de todos os setores industriais, a mineração é um dos mais perigosos. A indústria

extrativa mineral é ainda responsável pelas maiores taxas de mortalidade dentre toda a indústria

brasileira, na ordem de 30% seguida pelo setor da construção civil 17%. (PELLEGRINELLI, 2013).

Dentro da mineração, o setor de rochas ornamentais, que se estima tenha gerado, pelo menos,

50.000 empregos diretos nos últimos 12 anos (ABIROCHAS, 2013), apresenta altos índices de

acidentes de trabalho, e os acidentes mais graves, quase sempre fatais, que acontecem na

produção de rochas ornamentais, ocorrem durante a movimentação de cargas, tanto de chapas

nas empresas quanto de blocos nas estradas. Por esse motivo, existem normas específicas para

essas atividades (a NR11 – movimentação de chapas e a Resol. Contran 354 para o transporte de

blocos).

No Espírito Santo, principal polo produtor e exportador de rochas ornamentais do país, 10

pessoas perderam a vida em acidentes considerados de trabalho em 2012, sendo quatro mortes

em pedreiras, três no trajeto, dois no beneficiamento e uma durante o transporte do material em

que o motorista foi a vítima. Infelizmente, de janeiro a junho de 2013 foi alcançado esse mesmo

número de 2012, de 10 acidentes fatais no setor de rochas ornamentais, com cinco mortes no

Estado do Espírito Santo, duas no Estado da Bahia, duas no Estado de Manaus e uma em Recife.

Em 2014 mais 10 pessoas também acabaram perdendo a vida sendo vítimas fatais do setor de

rochas ornamentais e em 2016 já foram contabilizadas três mortes até o momento

(SINDIMARMORE, 2016).

De acordo com as informações do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho de 2013 do

Ministério da Previdência Social, foram registrados, no Brasil, 717.911 acidentes do trabalho,

sendo 13.271 no estado do Espírito Santo. Esses acidentes são decorrentes das atividades típicas

da função dos trabalhadores, sofridos no trajeto e doenças do trabalho (ANUARIO BRASILEIRO DE

PROTEÇÃO, 2015). Provavelmente esses números são maiores já que em muitas empresas a

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ocorrência de acidentes de trabalho é omitida ou diminuída, às vezes pelos próprios trabalhadores

com medo de serem responsabilizados. No entanto, por menor que possa ser o grau do acidente

ocorrido e por mais que o trabalhador tente esconder sua ocorrência, a empresa é obrigada por lei

a zelar pela saúde e segurança de seus trabalhadores, assim como a fiscalizar as condições do

ambiente de trabalho para reduzir o risco dos acidentes acontecerem ou diminuir suas

consequências quando acontecem. Ainda deve se destacar que as estatísticas de acidentes não

incluem os trabalhadores autônomos (contribuintes individuais). Isto é importante no caso do

setor de rochas ornamentais, que é constituído, em sua maioria, por pequenas e micro empresas e

que conta com grande quantidade de trabalhadores autônomos (consultores, fornecedores de

insumos e serviços, clientes) que circulam habitualmente pelas pedreiras e unidades de

beneficiamento.

Os tipos de acidentes de trabalho e doenças mais frequentes na cadeia produtiva das rochas

ornamentais, assim como as medidas para sua prevenção, são tratados neste artigo.

2. ACIDENTES DE TRABALHO

Acidente de trabalho é todo dano sofrido por alguém, devido ao trabalho, que tenha requerido

tratamento médico ou resulte em perda de consciência ou morte. Pode causar lesões corporais ou

perturbações funcionais, pode resultar em morte, perda e redução, permanente ou temporária,

das capacidades físicas ou mentais do trabalhador, etc. Além dos acidentes que acontecem nos

locais do trabalho também são tratados como tais:

Doenças provocadas pelo trabalho. Ex: problemas de audição, visão, etc.;

Acidentes que ocorrem fora do local de trabalho, mas durante o trabalho;

Doenças causadas pelas condições de trabalho. Ex.: inalação de poeira;

Acidentes que ocorrem no trajeto do trabalho para casa;

Acidentes que ocorrem em viagens a serviço da empresa.

Um acidente é algo que acontece quando convergem diversas condições fora do comum em

um determinado ambiente. Raramente um acidente terá uma única causa, sendo o mais

frequente que se deva à combinação de diversos fatores. Os fatores que podem contribuir com a

ocorrência de acidentes podem estar relacionados com as pessoas (empregadores, empregados,

terceirizados, visitantes) ou com o ambiente de trabalho.

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3. PRINCIPAIS RISCOS SOFRIDOS PELOS TRABALHADORES DO SETOR

PRODUTIVO DE ROCHAS ORNAMENTAIS

3.1 Exposição a Poeira de Sílica

A sílica livre cristalina, encontrada na poeira mineral, é a principal causadora da doença

denominada silicose, causada por inalação dessa poeira e fixação das partículas de sílica nos

pulmões (pneucomoniose).

Pode aparecer em diversas operações de mineração como, por exemplo, nas operações de

lavra por explosivos e na mineração continua, nas operações de perfuração, corte e retirada de

rochas da frente de lavra e nas operações de transporte, britagem, moagem, peneiramento,

dentre outros.

3.2 Exposição ao Ruído

O Ruído é um dos principais agentes físicos que afetam à saúde dos trabalhadores,

principalmente por ocorrer em quase todos os ambientes de trabalho e ter um caráter, muitas

vezes, continuo. Profissionais de segurança e saúde do trabalho consideram o ruído como um dos

maiores problemas relacionados à saúde do trabalhador.

A exposição de um trabalhador a ruído contínuo ou intermitente leva a alterações

estruturais no ouvido interno, que determinam a ocorrência da Perda Auditiva Induzida por Ruído

(Pair). A Pair é a reclamação mais frequente quanto à saúde dos trabalhadores de todos os

setores (GABAS, 2004).

O trabalhador portador de Pair pode desenvolver intolerância a sons intensos, queixar-se

de zumbido e de diminuição de inteligibilidade da fala, com prejuízo da comunicação oral. O ruído

pode ocasionar também outros problemas de saúde como: zumbido no ouvido, alterações

digestivas e cardíacas, fadiga, dor de cabeça e redução na concentração (BRASIL, 2014).

Considerando que a perda auditiva é irreversível e progressiva, é fundamental que os

efeitos do ruído sejam evitados com a eliminação ou redução da exposição, utilizando-se do

equipamento de proteção individual para proteção auditiva.

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3.3 Exposição a outros fatores de risco

3.3.1 Vibrações em mãos e braços

Os trabalhadores do setor da rochas ornamentais estão muitas vezes expostos a vibrações

localizadas e vibrações de corpo inteiro, durante o desempenho das suas atividades. Além de

reduzir seu desempenho, essas vibrações também prejudicam sua saúde. Conforme o modo de

contato entre o objeto vibrante e o corpo, a exposição às vibrações se divide em dois grandes

grupos: vibrações de mãos-braços e vibrações de corpo inteiro (VENDRAME, 2011). As Vibrações

de mãos-braços resultam do contato dos dedos ou das mãos com algum elemento vibrante

(principalmente do uso de ferramentas manuais, portáteis ou não). Já as Vibrações de Corpo

Inteiro são características em plataformas industriais (veículos pesados, tratores, retro

escavadeiras, embarcações marítimas e trens, entre outras), e as transmissões das vibrações ao

corpo são dependentes da postura e do indivíduo, pois nem todos apresentam a mesma

sensibilidade. Não há cura para a síndrome da vibração, mas na maioria dos casos, a exposição à

vibração pode ser evitada ou muito reduzida (FUNDACIÓN PARA LA PREVENCIÓN DE RESGOS

LABORALES, 2009), logo prevenção é a palavra chave e o empregador deve mapear os locais onde

os trabalhadores podem estar expostos à vibração, programar o uso de ferramentas com design

ergonômico ou com controle da vibração e tomar medidas para reduzir as vibrações. É indicada a

realização anual de exames médicos específicos para se conhecer o estado de saúde dos

trabalhadores expostos às vibrações. Assim mesmo, deve-se informar aos trabalhadores sobre os

níveis de vibrações aos quais estão expostos, bem como as medidas de proteção disponíveis.

Também é interessante mostrar aos trabalhadores como se pode aperfeiçoar seu esforço

muscular e postura para realizar seu trabalho (REGAZZI, 2013).

3.3.2 Riscos Ergonômicos (LER / DORT)

A Lesão por Esforço Repetitivo – LER - e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao

Trabalho – DORT - têm sua origem ocupacional, sendo doenças caracterizadas pelo desgaste de

estruturas do sistema musculoesquelético que atingem várias categorias profissionais. Decorrem

do uso repetido ou forçado de grupos musculares e da manutenção de postura inadequada,

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atingindo principalmente os membros superiores como a região escapular e a região cervical. Esta

patologia é reconhecida pela legislação brasileira, e já é considerada uma epidemia (SUS, 2013).

3.3.3 Riscos de Acidentes em Geral

Os principais tipos de acidentes no setor de rochas ornamentais são:

Quedas e choques por movimentação de máquinas, elementos móveis (correias), uso de

ferramentas, pisos escorregadios ou irregulares, áreas de trabalho obstruídas;

choques elétricos na operação e manutenção de equipamentos e por instalações elétricas

inadequadas;

queimaduras pelo manuseio de materiais inflamáveis e o contato com produtos químicos;

cortes e mutilações pela utilização de máquinas e equipamentos;

cortes, mutilações e esmagamentos na movimentação, armazenagem, e transporte de

blocos e chapas de rochas;

lesões por desabamento de taludes e por projeção de fragmentos de rocha durante as

explosões nas pedreiras; e

lesões pela projeção de pequenos fragmentos durante operações de perfuração e corte de

rochas ou movimentação de carga no pátio de beneficiamento das rochas.

4. UTILIZAÇÃO DE EPI

Equipamento de Proteção Individual – EPI - é: “todo dispositivo ou produto, de uso

individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a

segurança e a saúde no trabalho” (BRASIL, 2014, p. 79). Sua utilização se restringe a condições em

que a proteção completa do trabalhador está comprometida contra um ou mais riscos que possam

ocorrer no trabalho e a escolha do EPI adequado deve atender à legislação. Porém, o correto uso

do EPI não se limita apenas a proteger o trabalhador. Sua importância vai muito além, haja vista

que a utilização irregular do EPI poderá comprometer a segurança, o conforto, a comunicação e o

desempenho dos trabalhadores. Vale ressaltar que a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

- Cipa, junto com os integrantes do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina

do Trabalho –SESMT - são responsáveis pela escolha dos EPIs e sua frequente revisão, em virtude

de mudanças internas ou externas que possam ocorrer (BRASIL, 2014).

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5. PRINCIPAIS FUNÇÕES DOS TRABALHADORES NA EXTRAÇÃO

A primeira etapa do processo produtivo de rochas ornamentais é a extração de mármores e

granitos das jazidas. As rochas ornamentais são lavradas a céu aberto, no Brasil, em pedreiras.

Estas são constituídas de frentes de lavra, rampas de acesso e áreas de servidão e apoio. Nas

frentes são desmembrados do maciço grandes volumes de rocha que são divididos, a seguir, em

blocos comerciais em praças de trabalho. As pedreiras dispõem também de praças secundárias

que tem a função de dar apoio ao desmonte, assim como pistas e rampas que realizam as ligações

entre praças, áreas de depósito e carregamento dos blocos. Muitos trabalhadores estão

envolvidos nesta etapa de extração como, operador de perfuratriz manual (marteleteiro), cabo de

fogo (blaster), operador de fio diamantado (fiolista), manobrista, encarregados e supervisores.

6. PRINCIPAIS FUNÇÕES DOS TRABALHADORES NO BENEFICIAMENTO

A segunda etapa do ciclo produtivo das rochas ornamentais é o beneficiamento, fase na qual

os blocos extraídos nas pedreiras passam pelo processo de desdobramento em chapas

denominado serragem, em teares multilâmina ou multifio. As chapas são submetidas a polimento

ou outros acabamentos superficiais, mediante diversos processos abrasivos e utilização de resinas

e outros produtos químicos. As funções mais importantes desempenhadas pelos trabalhadores

nesses processos são de serrador, polidor, resinador, operador de ponte, cortador e acabador. Os

acidentes mais graves acontecem na movimentação das chapas, pois devido ao seu peso, a queda

de uma chapa sobre um trabalhador, quase sempre resulta em morte. Esses acidentes acontecem

na área de serragem, na hora de se retirar as chapas do tear, na área de polimento onde há maior

movimentação das chapas e, com maior frequência, no carregamento nos caminhões ou

containers. No entanto, todas as funções do trabalhador das rochas ornamentais envolvem riscos

que devem ser mapeados para se tomarem as medidas de proteção adequadas.

7. EPI PARA INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS

As Normas de Segurança e Saúde do Trabalhador (BRASIL, 2014), devem ser seguidas

fazendo parte da política geral das empresas. Um dos requisitos fundamentais dessa legislação é o

uso de EPIs - Equipamentos de Proteção Individual (NR6). As empresas, há muito tempo, tem

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ciência de que a utilização do EPI é de fundamental importância para a segurança dos

funcionários. As grandes empresas compreendem que sua utilização ou não, influencia a

produtividade, e por isso, são rígidas quanto a essa utilização. Porém pequenas empresas

costumam ter menor preocupação com a questão que envolve o funcionário e os acidentes de

trabalho e permitem que se crie uma cultura viciada, na qual os trabalhadores, por considerarem

desconfortável o uso do EPI, não os utilizam. Nas tabelas 1 e 2, apresentam-se, a modo de resumo,

os riscos à saúde e segurança dos trabalhadores do setor de rochas ornamentais de acordo à

função por eles desempenhada, bem como os EPIs recomendados para sua proteção. Foram

incluídas apenas funções específicas da produção de rochas ornamentais, mas todos

trabalhadores estão expostos a riscos no ambiente de trabalho, como pode ser o risco de

ferimentos pelo uso de ferramentas entre o pessoal de manutenção de equipamentos e

maquinário ou riscos ergonômicos entre o pessoal administrativo, por exemplo.

Tabela 1. Resumo de riscos e EPIs na extração de rochas ornamentais, por função

Processo produtivo de

Rochas Ornamentais

Principais Funções

Principais Riscos EPIs Utilizados

Extração

Operador de martelete

Exposição a poeira, ruído, trepidação emitida pelo equipamento de trabalho e

umidade

Capacete tipo aba frontal, óculos de lente com tonalidade escura, protetor auditivo tipo concha, EPI para proteção do tronco,

luva anti-vibração, calçado e filtro solar

Cabo de fogo

(blaster)

Riscos de acidentes graves e fatais não só pelo fato de lidar diariamente com explosivos, mas também pelo fato de ficar exposto ao desmoronamento e

arremessamento de pedras. Exposição a poeira e ruídos.

Capacete tipo aba frontal, óculos de lente com tonalidade escura, protetor auditivo

tipo concha, calçado e filtro solar

Operador de fio

diamantado

Profissionais muito próximos à máquina e por isso correm o risco de serem

atingidos pelo fio quando esse se rompe. Além disso, ficam expostos à poeira, ao

ruído intenso e a umidade.

Capacete tipo aba frontal, óculos de lente com tonalidade escura, protetor auditivo tipo concha, EPI para proteção do tronco,

calçado e filtro solar

Manobreiro (manobrista)

Rompimento dos cabos de aço que içam o bloco para transporte. Podem atingir

tanto o manobrista como os outros. Expostos também a poeira e ruídos.

Capacete tipo aba frontal, óculos de lente com tonalidade escura, protetor auditivo

tipo plug, calçado e filtro solar

Encarregado Exposição a poeira, ruídos,

desmoronamento, arremessamento. Capacete tipo aba frontal, óculos de lente com tonalidade escura, protetor auditivo

tipo concha, calçado e filtro solar

Supervisor Exposição a poeira, ruídos,

desmoronamento, arremessamento. Capacete tipo aba frontal, óculos de lente com tonalidade escura, protetor auditivo

tipo plug, calçado e filtro solar

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Tabela 2. Resumo de riscos e EPIs no beneficiamento de rochas ornamentais, por função

Processo Função Principais Riscos EPIs Utilizados

Beneficia-mento

Serrador e seu ajudante

Expostos a ruído intenso e umidade. Contato com a lama

abrasiva gerada no desdobramento dos blocos

em chapas pelos teares convencionais. Riscos de

cortes pela quebra de fios de teares diamantados. Risco de queda de chapas na retirada

no final da serrada.

Capacete tipo aba frontal, óculos de lente incolor, protetor auditivo

concha, EPI para tronco, luva contra umidade e calçado

Polidor e assistente

Além da exposição contínua a produtos químicos, esses

profissionais estão expostos ao risco de acidentes com a queda de chapas, que são transportadas por eles no

momento de entrada e saída da máquina e no

carregamento dos caminhões. Expostos a ruídos e umidade.

Capacete tipo aba frontal, óculos de lente incolor, protetor auditivo tipo

concha, EPI para proteção do tronco, luva contra umidade e calçado.

Resinador

Exposição a poeira, ruídos, umidade, calor, além da exposição continuada a

agentes químicos provenientes das resinas e

produtos de estucado.

Capacete tipo aba frontal, óculos de lente incolor, protetor auditivo tipo plug, EPI para proteção do tronco,

luva contra químicos, calçado, máscara facial de proteção das vias respiratórias contra gases e

vapores

Operador de Ponte e

Ventosas

Exposição a poeira, ruídos, quedas de chapas, arremessamento

Capacete tipo aba frontal, óculos de lente com tonalidade escura, protetor

auditivo tipo plug, calçado.

Cortador

Expõe o profissional ao risco de acidentes mutilantes e

também a um grande contato com a poeira, ruído e

umidade. Exige muito esforço físico para operar

equipamentos

Capacete tipo aba frontal, óculos de lente incolor, protetor auditivo tipo

concha, EPI para proteção do tronco, luva contra agentes abrasivos e escoriantes, calçado, máscara

semifacial filtrante

Acabador

O trabalhador além de ficar exposto a problemas como

poeira, vibração, ruído, ergonômicos e riscos de acidentes ele ainda pode estar exposto a agentes

químicos presentes nas colas, massas plásticas, ceras,

dentre outros.

Capacete tipo aba frontal, óculos de lente incolor, protetor auditivo tipo

plug, EPI para proteção do tronco, luva contra químicos, calçado, máscara

facial de proteção das vias respiratórias contra gases e

vapores

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8. SINALIZAÇÃO DE SEGURANÇA

Uma questão importante para garantir a segurança tanto de funcionários e terceirizados

quanto de visitantes em pedreiras, serrarias e marmorarias é a sinalização de segurança que deve

seguir tanto a NR 26 – Sinalização de Segurança, do MTE, quanto a NRM 12 do DNPM - Sinalização

de Áreas de Trabalho e de Circulação. A sinalização de segurança deve as indicações do Plano de

Prevenção de Riscos e Acidentes – PPRA e deve ser realizado o devido treinamento dos

funcionários.

9. CONCLUSÃO

Apesar da grande evolução tecnológica do setor de rochas ornamentais no país que tem

permitido melhorias pela diminuição dos riscos aos quais os trabalhadores estão expostos, bem

pelo uso de equipamentos em substituição de ferramentas manuais, bem pela automatização de

atividades reduzindo o número de trabalhadores expostos, observa-se que falta conscientização

entre trabalhadores e empresários da importância da utilização de sistemas, equipamentos

individuais e coletivos e, sobretudo, capacitação, para reduzir os riscos à saúde dos trabalhadores

e diminuir os acidentes e suas consequências.

Nos trabalhos de campo realizados pela equipe do Núcleo Regional do Espírito Santo – NRES,

unidade do Centro de Tecnologia Mineral – CETEM/MCTI localizada em Cachoeiro de Itapemirim,

tem se observado, com frequência, a falta ou inadequação dos sistemas de proteção à saúde e

segurança dos trabalhadores. Mesmo quando esses são disponibilizados pelas empresas, são

negligenciados pelos próprios trabalhadores, devido à falta de capacitação continuada. Em um

estado como o Espírito Santo, principal polo da produção e exportação de rochas do país e no qual

quase todos, se não todos, de seus 78 municípios contam com algum tipo de atividade relacionada

à produção e comércio de rochas ornamentais, a importância de se investir em ações de

capacitação adquire maiores proporções.

Com o objetivo de contribuir com o setor nesse sentido, o NRES/CETEM está elaborando

uma Cartilha de Segurança do Trabalho para o Setor de Rochas Ornamentais, nos moldes da já

publicada para pequenas pedreiras, mas visando orientar trabalhadores de médias e grandes

pedreiras e do setor de beneficiamento.

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Page 12: SEGURANÇA E SAÚDE NA PRODUÇÃO DE ROCHAS … · rochas da frente de lavra e nas operações de transporte, britagem, moagem, peneiramento, dentre outros. 3.2 Exposição ao Ruído

IX SIMPÓSIO DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO NORDESTE

10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS. O setor de rochas ornamentais frente ao novo marco regulatório da mineração brasileira. São Paulo: ABIROCHAS. Disponível em http://www.abirochas.com.br/noticia.php?eve_id=1234. 2013. Acessado em: 01/03/2016. ANUARIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO. Novo Hamburgo: Revista Proteção, Edição especial. V.20. 2015. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. 2014a.Portaria n° 3214 de 8 de junho de 1978: Normas Regulamentadoras relativas à segurança e medicina do trabalho. Norma Regulamentadora Nº 11. In: Manual de Legislação Atlas de Segurança e Medicina do Trabalho, 67a edição, São Paulo: Atlas, 2014. 1042 p. FUNDACIÓN PARA LA PREVENCIÓN DE RESGOS LABORALES - Identificación de riesgos laborales y guía de buenas prácticas en la elaboración de piedra natural. Santiago de Compostela, Espanha: CIG Gabinete Técnico de Saúde Laboral – Confederación Intersindical Gallega, 2009. 354 pp. Il. GABAS, Gláucia C. Programa de Conservação Auditiva: 3M Soluções para Saúde Ocupacional e Segurança Ambiental; Brasil, 2004.

PELLEGRINELLI, Cláudia Mara B.F. Programa Especial de Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração. Palestra proferida no Centro de Tecnologia Mineral, Rio de Janeiro, 16 abril. 2013. REGAZZI, Rogério Dias. Análise da vibração e referências normativas. (on line). Disponível em: http://isegnet.porta80.com.br/siteedit/arquivos/3R%20CURSO%20Vibracao%20no%20Corpo%20Humano%20Analise.pdf. Acesso em 26 de junho de 2013.

SINDIMÁRMORE - Sindicato dos Trabalhadores do Mármore e Granito do Espírito Santo. Tragédias no setor de rochas: já são três os acidentes fatais este ano. 02/02/2016. Disponível em: http://www.sindimarmore.com.br/noticias. Acesso em 07 de junho de 2013. SUS - Sistema Único de Saúde. LER/DORT. (on line). Disponível: http://www.saude-rioclaro.org.br/crst/cartilhas/Cartilha%20LER%20DORT%20Cerest%20-%20RC%202008.pdf. Rio Claro: São Paulo, 2008. Acesso em 17 de fevereiro de 2016.

VENDRAME, Antônio Carlos. Vibrações ocupacionais. (on line). Disponível em: http://www.vendrame.com.br/novo/artigos/vibracoes_ocupacionais.pdf. Acesso em 26 de junho de 2013.

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