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90 SEGURANÇA DO PACIENTE: origem e desenvolvimento no Brasil e no mundo Giselly Soares Egidio 1 RESUMO: São necessárias e crescentes as iniciativas para a promoção da qualidade e segurança na assistência à saúde no mundo, com envolvimento das direções institucionais e seus colaboradores. Com isso, a qualidade dos diversos serviços oferecidos pelas instituições de saúde implica o aperfeiçoamento dos resultados. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar os programas desenvolvidos para conscientizar e implantar nas instituições a cultura de segurança do paciente, realizou-se a revisão bibliográfica em literaturas publicadas em bibliotecas virtuais e convencionais no período de 2004 à 2016. Conclui-se que para a diminuição da ocorrência de incidentes relacionados à assistência à saúde torna-se necessário a conscientização da equipe multidisciplinar em desenvolver condutas visando a qualidade e eliminação de riscos. Palavras-chave: Segurança do paciente. Qualidade de assistência à saúde. Serviços de saúde. PATIENT SAFETY: origin and development in Brazil and the world SUMMARY The initiatives for the promotion of quality and safety in health care in the world are necessary and growing, with the involvement of institutional leaders and their collaborators. With this, the quality of the various services offered by health institutions implies the improvement of the results. The present study aims to demonstrate the programs developed to raise awareness and implant in the institutions the patient safety culture, a literature review was carried out on published literature in virtual and conventional libraries from 2004 to 2016. It is concluded that for the Reducing the occurrence of incidents related to health care, it is necessary to raise the awareness of the multidisciplinary team in developing conduits aiming at quality and elimination of risks. Keywords: Patient safety. Quality of health care. Health services. 1 INTRODUÇÃO A segurança do paciente pode ser descrita como o ato de prevenir, evitar ou aperfeiçoar os resultados adversos ou lesões geradas no processo de atendimento hospitalar, o foco dessa segurança baseia-se na preocupação com a ocorrência de eventos adversos (EA) que comprometerão a qualidade do tratamento e reabilitação, podendo implicar em danos 1 Bacharela em Enfermagem pela Faculdade do Norte Goiano (FNG); Porangatu/GO; E-mail: [email protected].

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SEGURANÇA DO PACIENTE: origem e desenvolvimento no Brasil e no

mundo

Giselly Soares Egidio1

RESUMO: São necessárias e crescentes as iniciativas para a promoção da qualidade e

segurança na assistência à saúde no mundo, com envolvimento das direções institucionais e

seus colaboradores. Com isso, a qualidade dos diversos serviços oferecidos pelas instituições

de saúde implica o aperfeiçoamento dos resultados. O presente trabalho tem como objetivo

demonstrar os programas desenvolvidos para conscientizar e implantar nas instituições a cultura

de segurança do paciente, realizou-se a revisão bibliográfica em literaturas publicadas em

bibliotecas virtuais e convencionais no período de 2004 à 2016. Conclui-se que para a

diminuição da ocorrência de incidentes relacionados à assistência à saúde torna-se necessário a

conscientização da equipe multidisciplinar em desenvolver condutas visando a qualidade e

eliminação de riscos.

Palavras-chave: Segurança do paciente. Qualidade de assistência à saúde. Serviços de saúde.

PATIENT SAFETY: origin and development in Brazil and the world

SUMMARY

The initiatives for the promotion of quality and safety in health care in the world are necessary

and growing, with the involvement of institutional leaders and their collaborators. With this,

the quality of the various services offered by health institutions implies the improvement of the

results. The present study aims to demonstrate the programs developed to raise awareness and

implant in the institutions the patient safety culture, a literature review was carried out on

published literature in virtual and conventional libraries from 2004 to 2016. It is concluded that

for the Reducing the occurrence of incidents related to health care, it is necessary to raise the

awareness of the multidisciplinary team in developing conduits aiming at quality and

elimination of risks.

Keywords: Patient safety. Quality of health care. Health services.

1 INTRODUÇÃO

A segurança do paciente pode ser descrita como o ato de prevenir, evitar ou aperfeiçoar

os resultados adversos ou lesões geradas no processo de atendimento hospitalar, o foco dessa

segurança baseia-se na preocupação com a ocorrência de eventos adversos (EA) que

comprometerão a qualidade do tratamento e reabilitação, podendo implicar em danos

1 Bacharela em Enfermagem pela Faculdade do Norte Goiano (FNG); Porangatu/GO; E-mail:

[email protected].

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irreversíveis aos pacientes e seus familiares. De acordo com OLIVEIRA, et. al., (2014), em

torno de 10 anos atrás foi divulgado o relatório: (Errar é humano: construindo um sistema de

saúde mais seguro) pelo Instituto de Medicina dos Estados Unidos, onde foi descrito através de

pesquisas realizadas por meio de análises de prontuários a ocorrência de 180.000 óbitos por ano

naquele país.

Após a publicação deste relatório, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou a

Aliança Mundial para a Segurança do Paciente em 2004, em prol do compromisso no

desenvolvimento de políticas públicas e práticas direcionadas para a segurança do paciente, o

Brasil firmou esse compromisso, embora o sistema de saúde brasileiro aponte aspectos

relevantes e positivos como o sistema nacional de transplantes e a cobertura universal de

vacinação, é motivo de apreensão o alto índice de eventos adversos relativos a infecções

hospitalares e medicações, sendo relacionados com a falta de políticas que incentivem as

instituições a aderir programas de acreditação e qualidade (CAPUCHO; CASSIANI, 2013).

2 METODOLOGIA

A pesquisa foi fundamentada nas publicações do Ministério da Saúde (2013), Watcher

(2013), além de pesquisas em artigos científicos de revistas e/ou por via eletrônica, respeitando

as citações dos autores, direitos autorais e divulgacionais. Refere-se a um estudo exploratório

embasado em estudos bibliográficos. Foram realizadas pesquisas com base no desenvolvimento

da segurança do paciente no mundo e no Brasil, norteado em literaturas, obtidas em livros e

artigos científicos de bibliotecas convencionais e virtuais.

Para a localização dos artigos para a elaboração deste artigo os descritores utilizados

foram: segurança do paciente, qualidade de assistência à saúde, serviços de saúde, tendo como

período de publicação 2004 a 2016. A delimitação das palavras chaves foi realizada através da

plataforma oferecida pela Biblioteca Virtual em Saúde - BVS através dos Descritores em

Ciências da Saúde - DeCS. O critério utilizado para inclusão e exclusão das referências

bibliográficas baseou-se em estudos que demonstraram os profissionais envolvidos na busca

pela segurança assistencial e os programas desenvolvidos no decorrer dos anos.

3 A ORIGEM DE SEGURANÇA DO PACIENTE

Em tempos primórdios, no quarto século a.C., respeitado como o pai da medicina,

Hipócrates, mesmo em um contexto assistencial rudimentar admitiu que as práticas em saúde

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são passíveis de erros e a segurança do paciente já era considerada prioritária quando escreveu,

“Primum non nocere” ou “primeiro não causar dano” (WACHTER, 2013). É considerável que

a assistência ancestral em saúde não disponibilizava tecnologias e técnicas desenvolvidas que

são utilizadas nos dias atuais, com os avanços do conhecimento em saúde houve a progressão

da tecnologia e a complexibilidade da assistência, ocasionando a chance de sobrevir erros.

Posteriormente, nos cuidados da segurança em saúde o médico Ignaz Phillip

Semmelweis (1818-1865) contribui para avanços na assistência obstétrica, em 1846 tornou-se

médico assistente da maternidade do Hospital de Viena, local este que apresentava altos índices

de mortes de parturientes e neonatos recorrentes de infecções puerperais, através de suas

pesquisas identificou que as práticas realizadas por estudantes de medicina que circulavam entre

a enfermaria e a sala de autópsia era o motivo de tal agravo, evidenciando a febre puerperal

pela contaminação cruzada, através dos resultados de seus estudos impôs a higienização das

mãos antes da realização de qualquer procedimento (SILVA; MATTOS, 2015).

Além dos médicos citados, a pioneira em enfermagem, Florence Nightingale (1082-

1910) declara na conclusão de uma de suas obras em 1859, “pode parecer talvez um estranho

princípio enunciar como primeiro dever de um hospital não causar mal ao paciente”

(PEDREIRA, p.1). Florence transfigurou a enfermagem criando maneiras de prestar assistência

visando a segurança, utilizando processos sistematizados para monitorar a incidência de

infecções e a recuperação dos pacientes, suas ideias inovadoras se fazem presente após tantas

gerações nos cuidados em saúde, suas pesquisas e teorias fundamentam a prática da

enfermagem (PEDREIRA, 2009).

Nesta mesma linha histórica, em 1911 o professor doutor Ernest Amory Codman (1869-

1940) fundou seu próprio hospital e desenvolveu um sistema de classificação de eventos

adversos e falhas assistenciais, publicou os resultados de suas pesquisas em um relatório,

apontando claramente erros e mortes (JUNIOR, 2015). REIS, et. al., (1990, p. 51) demonstra

resultados expressivos:

Sob a influência do trabalho de Codman, o Colégio Americano de Cirurgiões2 assumiu

a responsabilidade pela avaliação da qualidade das práticas cirúrgicas e dos hospitais.

Realizou, então, um famoso estudo, no qual registra que, entre os aproximadamente

800 hospitais examinados com mais de 100 leitos, menos de 135 tinham algum grau

razoável de qualidade (REIS, et. al., 1990, p.51).

2 Codman foi um dos fundadores do Colégio Americano de Cirurgiões, instituição participativa na criação da

primeira agência acreditadora de qualidade em saúde no mundo (JUNIOR, 2015).

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A atuação de Nightingale e Codman foi essencial para apontar as dificuldades em saúde

enfrentadas por seus pacientes, demonstrando para os atuais profissionais a importância e

necessidade em desenvolver sistemas e padrões para qualidade e segurança.

No seguimento de profissionais atuantes na avaliação da qualidade de serviços em saúde

destaca-se Avedis Donabedian (1919-2000), responsável pelo desenvolvimento de um sistema

conceitual para a avaliação da qualidade em saúde a partir de três conceitos3: estrutura, processo

e resultado (SAÚDE & CIDADANIA, [s.d.]). Em um de seus artigos publicados em 1978,

segundo REIS, et. al., (1990), Donabedian diz:

A avaliação dos serviços comporta sempre duas dimensões: 1) desempenho técnico,

ou seja, a aplicação do conhecimento e da tecnologia médica de modo a maximizar os

benefícios e minimizar os riscos, de acordo com as preferências de cada paciente; 2)

o relacionamento pessoal com o paciente, de modo a satisfazer os preceitos éticos, as

normas sociais e as legítimas expectativas e necessidades dos pacientes. Segundo

Donabedian, “o objetivo da avaliação da qualidade é determinar o grau de sucesso das

profissões relacionadas com a saúde, em se autogovernarem, de modo a impedir a

exploração ou a incompetência, e o objetivo da monitorização da qualidade é exercer

vigilância contínua, de tal forma que desvios dos padrões possam ser precocemente

detectados e corrigidos” (REIS, et. al., 1990, p. 53).

A tríade Donabediana fundamenta um modelo conceitual que disponibiliza critérios

para avaliação dos serviços de saúde e qualidade assistencial, podendo ser utilizada em diversos

contextos de saúde e nos distintos níveis existentes dentro de um sistema.

Na análise da trajetória de segurança em saúde é perceptível a preocupação de

profissionais com envolvimento assistencial na abordagem de novos sistemas de

dimensionamento da qualidade, desde Hipócrates até os dias atuais essa busca é incessante por

profissionais e instituições governamentais, a construção de sistemas que evitem a ocorrência

de erros tem se tornado um dos pilares na construção da qualidade em saúde e neste contexto,

desde os primórdios, a contribuição de inúmeros profissionais tem consolidado essa busca.

3.1 Desenvolvimento da qualidade e segurança em saúde no mundo e no Brasil

Através dos estudos e pesquisas desenvolvidos por Hipócrates, Semmelweis,

Nightingale, Codman, Donabedian e outros inúmeros colaboradores para a qualidade em saúde,

vários programas e sistemas têm sido introduzidos no mundo para dimensionar os erros e

3 Estrutura: recursos humanos, físicos e financeiros necessários para a assistência. Processo: atividades com

envolvimento de profissionais e pacientes considerando os padrões aceitos. Resultado: produto final da assistência,

considerando padrões, saúde e satisfação (http://portalses.saude.sc.gov.br).

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qualidade e implantar padrões para o desenvolvimento e evolução das características

necessárias em saúde.

Em 1991 foi fundado oficialmente o Institute for Healthcare Improvement (IHI),

composto por um grupo de profissionais empenhados em reestruturar os cuidados de saúde em

um sistema sem desperdícios, atrasos, custos insustentáveis e erros. Hoje, o IHI tem total

influência na saúde e na melhoria dos cuidados (IHI, 2017). De acordo com HENRIQUE et.

al., (2013, p.2) o IHI publicou dados importantes a cerca de infecções relacionadas a cateter

venoso central, fator que demonstra seu compromisso com a segurança:

Segundo dados recentes da Institute for Healthcare Improvement (IHI), 48% dos

pacientes internados em UTI estão com cateteres venosos centrais, o que representa

cerca de 15 milhões de cateteres centrais/dia por ano. Estima-se que ocorrem 28.000

mortes anualmente em UTI associadas às infecções de corrente sanguínea

relacionadas a cateter venoso central, podendo prolongar em até 7 dias a internação,

com estimativas de custo entre US$3.700 a US$29.000 atribuídos a infecção

(HENRIQUE, et. al., 2013, p.2).

As atribuições do IHI apontam a importância da busca por informações que quantificam

os erros evitáveis, mostrando a necessidade da modificação dos sistemas executados que não

resultam em uma assistência satisfatória.

Posteriormente, em 1994, foi fundada a Joint Comission International (JCI) responsável

pela acreditação e certificação de qualidade em saúde em mais de 90 países, desfrutando de um

crescimento anual de 20% no número de organizações credenciadas, a missão da JCI é

fundamentada na melhoria da qualidade e segurança dos cuidados (JCI, [s.d.]). GENRO (2012)

aponta dados quantitativos e definição de acreditação:

Atualmente, mais de 300 instituições de saúde estão acreditadas ou certificadas pela

metodologia da Joint Comission International (JCI) no mundo, incluindo o Brasil,

constituindo uma rede de instituições reconhecidas pela excelência do cuidado

prestado ao paciente. De acordo com o Manual “Padrões de Acreditação da Joint

Commission International para Hospitais”, acreditação é um processo no qual uma

entidade, separada e independente da instituição de saúde, avalia a instituição de saúde

para determinar se ela atende a uma série de requisitos (padrões) criados para melhorar

a segurança e a qualidade do cuidado. No caso dos hospitais brasileiros, a acreditação

é voluntária, ou seja, ocorre por intermédio de uma demanda da própria instituição de

saúde (GENRO; GOLDIM, 2012, p.497).

O Brasil passou a ser contemplado com a certificação da JCI a partir da formação do

Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), sendo ambos associados no Brasil desde 1998, o

CBA não é vinculado ao governo brasileiro e é uma organização sem fins lucrativos,

assessorada no desenvolvimento de acreditação no país pela JCI. Tal parceria consolida o

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objetivo de promover a melhoria contínua nas instituições de saúde através de metas

internacionais de segurança do paciente, consenso internacional (MAIA, 2014).

Ainda no período entre 1998 e 1999, foi divulgado o projeto “Acreditação no Brasil”

através do Ministério da Saúde, tendo como objetivo a melhor compreensão sobre o Sistema

Brasileiro de Acreditação, o que proporcionou em 1999 a criação da segunda organização

acreditadora, a Organização Nacional de Acreditação (ONA) (MAIA, 2014). A ONA teve seu

reconhecimento formalizado pelo Ministro José Serra descrita na Portaria GM/MS nº 538, de

17 de abril de 2001.

Art 1º Reconhecer a Organização Nacional de Acreditação – ONA como instituição

competente e autorizada a operacionalizar o desenvolvimento do processo de

Acreditação Hospitalar no Brasil. Parágrafo único. O reconhecimento de que se trata

esse Artigo está vinculado ao Convênio firmado entre o Ministério da Saúde e a

Organização Nacional de Acreditação - ONA, que estabelece os critérios,

compromissos, deveres e obrigações a serem cumpridos pelas partes envolvidas, de

maneira a garantir que o desenvolvimento do Programa Brasileiro de Acreditação

Hospitalar ocorra sob a ótica de política pública (FORTES, 2013, p.124).

Anteriormente a esse período, precisamente em 1995, o Ministério da Saúde criou o

Programa de Garantia e Aprimoramento da Qualidade em Saúde (PGAQS), o assunto

acreditação passou a ser mais discutido a partir deste período no país, o objetivo do programa

era trazer discussões para a melhoria dos serviços. Baseado em alguns manuais do Canadá e

Estados Unidos, o grupo técnico do PGAQS encaminhou um projeto ao Programa Brasileiro de

Qualidade e Produtividade que define metas e estratégias para a implantação de um serviço de

acreditação, sendo posteriormente desenvolvido o Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar

pelo poder público (SEGURANÇA EM SAÚDE, 2012). Na terminologia do Ministério da

Saúde, acreditação hospitalar é:

O método de consenso, racionalização e ordenação das instituições hospitalares e,

principalmente, de educação permanente dos seus profissionais, expressando-se pela

realização de um procedimento de avaliação dos recursos institucionais, voluntário,

periódico e reservado, que tende a garantir a qualidade de assistência por meio de

padrões previamente estabelecidos (RODRIGUES, 2004, p. 26).

No âmbito da enfermagem, as práticas prestadas necessitam se apoiar na busca da

qualidade nas organizações de saúde, para auxílio dessa necessidade foi criada a Rede Brasileira

de Enfermagem e Segurança do Paciente (REBRAENSP) em 2008, sua atuação é estruturada

em polos e núcleos com o propósito de disseminar a importância das modificações culturais e

da implantação da cultura de segurança nas instituições de saúde. CALDANA, et. al., 2015

discorre sobre ações desenvolvidas:

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A REBRAENSP estimula e apoia a formação de novos Polos e Núcleos por meio de

realização de palestras, ampla divulgação por meio das redes sociais e e-mails e

também pelo site recém-construído. Isso permite a disseminação de informações e

conhecimentos relacionados à área de enfermagem e segurança do paciente, visando

à divulgação das atividades desenvolvidas pelos Polos/Núcleos e das políticas

nacionais e mundiais relacionadas à temática (CALDANA, et al 2015, p. 909).

A enfermagem desenvolve um papel importante na composição da equipe de

profissionais envolvidos na gestão de risco, além de executar suas atribuições também atua na

gerência, tendo uma relação com a segurança dos pacientes e com a tomada de decisão.

Na contínua cronologia em segurança do paciente, um importante instituto foi fundado

no Brasil para promoção de práticas seguras e uso de medicamentos e produtos para a saúde

em 2009, o Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos (ISMP), é uma organização

não governamental, independente e sem fins lucrativos, pioneira nas iniciativas para a

promoção da segurança no uso de medicamentos no país, não é uma organização regulatória,

de fiscalização ou de acreditação, seus objetivos são fundamentados na prevenção de erros de

medicação (ISMP, 2013).

Na disseminação de informações na busca da melhoria da qualidade e segurança em

saúde, evidencia-se o Centro Colaborador para a Qualidade do Cuidado e a Segurança do

Paciente (PROQUALIS), criado em 2009. O centro é vinculado com a Fundação Oswaldo Cruz

e Ministério da Saúde em prol da dissipação de informação atualizada, selecionada e de

qualidade a todos os envolvidos na prestação de serviços de saúde (REIS, et. al., 2012).

O PROQUALIS possibilita que médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde,

pacientes e o público em geral acessem informações selecionadas e atualizadas sobre

qualidade do cuidado de saúde e segurança do paciente, a partir de qualquer ponto do

Brasil (REIS, et. al., 2012, p. 2034).

Um dos programas mais atuais no Brasil em vigor é o Programa Nacional de Segurança

do Paciente (PNSP), instituído em 2013 através do Ministério da Saúde para o monitoramento

e prevenção de danos na assistência à saúde através da promoção e apoio na implementação de

condutas voltadas para a Segurança do Paciente (ANVISA, [s.d.]).

Todas as iniciativas tomadas por governos e instituições no Brasil e no mundo em prol

de segurança e qualidade nos serviços de saúde tem tomado proporções consideráveis para a

obtenção da disseminação da informação e conscientização da necessidade de uma assistência

satisfatória e da diminuição de eventos adversos, toda essa evolução tem se mostrado

consolidada com o compromisso da busca incessante pela saúde e reabilitação dos pacientes.

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3.2 Bases Legais de Segurança do Paciente no Brasil

Em continuidade ao desenvolvimento em segurança do paciente, no Brasil várias

portarias e resoluções foram introduzidas para melhoria da assistência em saúde, em 2011 a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) dispõe a RDC Nº63/2011 que pontua os

requisitos de boas práticas de funcionamento para os serviços de saúde. A Seção II do capítulo

II da Resolução dispõe sobre as estratégias voltadas para a segurança do paciente nos serviços

assistenciais.

Art. 8º O serviço de saúde deve estabelecer estratégias e ações voltadas para

Segurança do Paciente, tais como: I. Mecanismos de identificação do paciente; II.

Orientações para a higienização das mãos; III. Ações de prevenção e controle de

eventos adversos relacionada à assistência à saúde; IV. Mecanismos para garantir

segurança cirúrgica; V. Orientações para administração segura de medicamentos,

sangue e hemocomponentes; VI. Mecanismos para prevenção de quedas dos

pacientes; VII. Mecanismos para a prevenção de úlceras por pressão; VIII.

Orientações para estimular a participação do paciente na assistência prestada (RDC

63, 2011).

Todas as ações que compõem o artigo 8º introduzem nos serviços de saúde condutas

que aprimoram a assistência e evitam eventos adversos que poderiam retardar a

recuperação/reabilitação dos pacientes que necessitam dos atendimentos hospitalares, sendo

eles ambulatoriais ou internações.

Posteriormente, em 2013 o Ministério da Saúde institui o Programa Nacional de

Segurança do Paciente (PNSP) que declara as iniciativas voltadas à qualidade e delimita

algumas definições em segurança do paciente. Os artigos 3º e 4º da Portaria nº 529/2013 expõe

tais características:

Art. 3º Constituem-se objetivos específicos do PNSP:

I - promover e apoiar a implementação de iniciativas voltadas à segurança do paciente

em diferentes áreas da atenção, organização e gestão de serviços de saúde, por meio

da implantação da gestão de risco e de Núcleos de Segurança do Paciente nos

estabelecimentos de saúde;

II - envolver os pacientes e familiares nas ações de segurança do paciente;

III - ampliar o acesso da sociedade às informações relativas à segurança do paciente;

IV - produzir, sistematizar e difundir conhecimentos sobre segurança do paciente; e

V - fomentar a inclusão do tema segurança do paciente no ensino técnico e de

graduação e pós-graduação na área da saúde.

Art. 4º Para fins desta Portaria são adotadas as seguintes definições:

I - Segurança do Paciente: redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano

desnecessário associado ao cuidado de saúde;

II - dano: comprometimento da estrutura ou função do corpo e/ou qualquer efeito dele

oriundo, incluindo-se doenças, lesão, sofrimento, morte, incapacidade ou disfunção,

podendo, assim, ser físico, social ou psicológico;

III - incidente: evento ou circunstância que poderia ter resultado, ou resultou, em dano

desnecessário ao paciente;

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IV - Evento adverso: incidente que resulta em dano ao paciente;

V - Cultura de Segurança: configura-se a partir de cinco características

operacionalizadas pela gestão de segurança da organização:

a) cultura na qual todos os trabalhadores, incluindo profissionais envolvidos no

cuidado e gestores, assumem responsabilidade pela sua própria segurança, pela

segurança de seus colegas, pacientes e familiares;

b) cultura que prioriza a segurança acima de metas financeiras e operacionais;

c) cultura que encoraja e recompensa a identificação, a notificação e a resolução dos

problemas relacionados à segurança;

d) cultura que, a partir da ocorrência de incidentes, promove o aprendizado

organizacional; e

e) cultura que proporciona recursos, estrutura e responsabilização para a manutenção

efetiva da segurança; e

VI - gestão de risco: aplicação sistêmica e contínua de iniciativas, procedimentos,

condutas e recursos na avaliação e controle de riscos e eventos adversos que afetam a

segurança, a saúde humana, a integridade profissional, o meio ambiente e a imagem

institucional (PORTARIA Nº529, 2013).

As definições que conceituam os termos utilizados em segurança do paciente descritas

no artigo 4º são norteadoras para o bom desenvolvimento das práticas assistenciais, apesar de

terem sido introduzidas na saúde brasileira recentemente através da portaria que determina as

especificidades de cada termo, torna-se cada vez mais necessário a disseminação e

aplicabilidade nos serviços de saúde.

Para a inserção de protocolos em segurança do paciente no Brasil, o Ministério da Saúde

instituiu as Portarias 1377/2013 e 2095/2013 que aprovam os protocolos de prática de higiene

das mãos, lesão por pressão, cirurgia segura, prevenção de quedas, identificação do paciente e

segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos, todos com objetivo de instituir

ações para segurança do paciente nos serviços de saúde e a melhoria da qualidade em todas as

unidades de saúde do Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).

No mesmo ano, a RDC nº36 de 25 de Julho entra em vigor para instituir ações em

segurança do paciente em serviços de saúde e dar outras providências. Na seção I do capítulo

II artigo 4º descreve sobre as condições organizacionais e sobre a criação do Núcleo de

Segurança do Paciente (NSP).

Art. 4º A direção do serviço de saúde deve constituir o Núcleo de Segurança do

Paciente (NSP) e nomear a sua composição, conferindo aos membros autoridade,

responsabilidade e poder para executar as ações do Plano de Segurança do Paciente

em Serviços de Saúde.

§ 1º A direção do serviço de saúde pode utilizar a estrutura de comitês, comissões,

gerências, coordenações ou núcleos já existentes para o desempenho das atribuições

do NSP.

§ 2º No caso de serviços públicos ambulatoriais pode ser constituído um NSP para

cada serviço de saúde ou um NSP para o conjunto desses, conforme decisão do gestor

local do SUS (RDC 36, 2013).

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Todas as pontuações descritas são fundamentais para a elaboração e implantação de

Núcleo de Segurança do Paciente nas instituições de saúde, dando suporte para os profissionais

na execução de suas atribuições frente à segurança do paciente, posteriormente à implantação,

espera-se o desenvolvimento de um Plano de Segurança do Paciente (PSP), estruturado pelos

profissionais atuantes no NSP.

Em 2014 foi criada a RDC nº51 e o IN nº 8/2014, ambos instituindo revisões no processo

de trabalho de vigilância e gestão de riscos da Rede Sentinela, passando a ser disciplinada pelos

dois instrumentos normativos, a Rede deve desenvolver as seguintes estratégias e ações:

I. contribuir para a melhoria contínua do gerenciamento de risco sanitário,

fortalecendo as políticas de gestão de risco nos serviços de saúde; II. atuar como observatório do desempenho de produtos e serviços sob vigilância

sanitária por meio das ações de gerenciamento de risco; III. produzir conhecimento em vigilância de eventos adversos e queixas técnicas de

produtos sob vigilância sanitária na fase pós-uso ou pós-comercialização; IV. fornecer informações de qualidade para subsidiar a tomada de decisão por parte

do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária - (SNVS); V. notificar eventos adversos e queixas técnicas no sistema informatizado de

notificação e investigação em vigilância sanitária; VI. notificar no Sistema de Informações de Acidentes de Consumo - SIAC acidentes

graves ou fatais suspeitos de terem sido provocados pelo consumo de produtos

conforme disposto na Portaria Interministerial Nº 3.082 de 24 de setembro de 2013; VII. utilizar, promover e divulgar o sistema informatizado de notificação e

investigação em vigilância sanitária; VIII. desenvolver e apoiar estudos de interesse do Sistema Único de Saúde – (SUS); IX. cooperar com atividades de formação de pessoal e educação continuada no âmbito

do VIGIPÓS; X. coordenar e supervisionar sub-redes com foco em temas ou tecnologias específicas

e atuar como referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente,

instituído pela Portaria Nº 529, de 1º de abril de 2013, do Ministério da Saúde (RDC

51, 2014).

A Rede Sentinela foi desenvolvida para responder as necessidades da ANVISA em prol

da obtenção de informações qualificadas para adquirir um meio intra-hospitalar desejável ao

desenvolvimento de ações de vigilância em hospitais, resultando em ganhos significativos de

qualidade para pacientes e serviços.

A aplicabilidade das normativas e regulamentações é necessária para uma atuação mais

consolidada e respaldada em segurança do paciente e na busca pela qualidade assistencial,

apontando o avanço na saúde brasileira na prevenção de eventos adversos e a procura pela

diminuição dos níveis estatísticos de erros.

100

4 PROGRAMA NACIONAL DE SEGURANÇA DO PACIENTE

O PNSP foi instituído no Brasil por meio da Portaria MS/GM nº 529, de 1º de Abril de

2013, com o intuito de cooperar com a qualificação da assistência em saúde em todas as

organizações do território nacional, sendo público ou privado. À proporção que o cuidado em

saúde atingiu não deixa brechas para uma prática não qualificada, é necessário o

reconhecimento dos problemas enfrentados em qualidade da saúde no Brasil (MINISTÉRIO

DA SAÚDE, 2014).

O Programa deve abranger o Ministério da Saúde, a Agência Nacional de Saúde

Suplementar (ANS), a ANVISA e o Ministério da Educação, sendo o último um fundamental

associado com a formação de profissionais de saúde, tendo no Brasil um número pequeno de

hospitais que se dedicam ao ensino e à pesquisa, não influenciando na melhoria das práticas

assistenciais em razão da desarticulação em assistência, ensino e pesquisa (CAPUCHO;

CASSIANI, 2013).

Os estabelecimentos de Saúde necessitam incorporar as novas tecnologias em um

programa de educação permanente dos profissionais da Saúde. Portanto, faz parte dos

planos (locais) de segurança do paciente dos estabelecimentos de Saúde influir no

programa de educação permanente. Gestores do SUS, diretores e gerentes dos

estabelecimentos de Saúde precisam fornecer oportunidades de capacitações aos

participantes dos núcleos, nas modalidades de aperfeiçoamento, de atualização e de

especialização, presenciais, semipresenciais e a distância (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2014, p. 27-28).

Para o bom funcionamento da segurança do paciente a adesão ao cumprimento dos eixos

estabelecidos pelo PNSP é fundamental para a plena segurança, pela abrangência completa nos

cuidados dos serviços de saúde, estimula a equipe a uma prática segura, envolve o paciente e

seus familiares no contexto da segurança e busca a evitabilidade de novos erros através da

educação continuada.

O programa de segurança do paciente deve ser difundido nas diferentes instituições

que compõem o sistema de saúde em todos os estados da federação a fim de que

conheçam e compartilhem o conhecimento a cerca dos resultados obtidos na

assistência, incluindo os resultados negativos (CAPUCHO; CASSIANI, 2013, p.

793).

O PNSP não deve ser visto como a exclusiva maneira de reverter o quadro no país em

segurança do paciente, mas servir como complemento para fortalecer a parceria entre as

políticas das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, além do comprometimento com os

101

gestores e dirigentes do Sistema Único de Saúde (SUS), quantificando os erros e planejando

estratégias para evitar novos erros.

4.1 A cultura de segurança nos serviços de saúde

A cultura de segurança de uma instituição é a essência dos valores do grupo e individual,

percepções, competências, atitudes e comportamentos que determinam o compromisso com a

segurança e gestão da saúde, se tornando um componente crítico da qualidade nos serviços de

saúde. Existe uma configuração em cultura de segurança do paciente disposta por cinco

características operacionalizadas pela gestão de segurança de acordo com SILVA-BATALHA;

MELHEIRO (2015, p.433).

a) cultura na qual todos os trabalhadores, incluindo profissionais envolvidos no

cuidado e gestores, assumem responsabilidade pela sua própria segurança, pela

segurança de seus colegas, pacientes e familiares; b) cultura que prioriza a segurança

acima de metas financeiras e operacionais; c) cultura que encoraja e recompensa a

identificação, a notificação e a resolução dos problemas relacionados à segurança; d)

cultura que, a partir da ocorrência de incidentes, promove o aprendizado

organizacional; e e) cultura que proporciona recursos, estrutura e responsabilização

para a manutenção efetiva da segurança.

Diante dessas considerações, torna-se evidente a necessidade de estudar a cultura de

segurança, por trazer a viabilidade de determinar os fatores que impactam a segurança dos

pacientes nos processos de trabalho, a discussão dessa cultura e a preocupação em obter esse

conhecimento fortalece a comunicação e experiências para a garantia da segurança dos

pacientes, visando a modificação de pontos negativos em uma cultura impregnada nos sistemas

brasileiros.

Nos serviços privados os profissionais precisam produzir mais em menos tempo para

reduzir custos, nos serviços públicos as superlotações nos serviços de emergência demonstram

o intenso sofrimento dos profissionais, causa que pode ser responsável pelo acontecimento de

eventos adversos (ANDRADE, 2016).

As estratégias que impedem a ocorrência dos eventos adversos, como barreiras

bloqueando para que o risco não atinja o paciente podem ser estruturadas em profissionais

qualificados; uso de checklist cirúrgico; uso de protocolos clínicos; protocolos de higienização

das mãos; entre outros critérios que diminuem a possibilidade da ocorrência de erros.

102

4.2 Implantação do núcleo de segurança do paciente

De acordo com a RDC 36/2013, o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) é uma

conjunção em saúde criada para apoiar e promover a estruturação de ações voltadas à segurança

do paciente, estabelecendo um importante componente nos serviços de saúde devendo ser

implantados nas instituições públicas, privadas, filantrópicas, militares, civis, serviços

especializados de diagnóstico, de diálise, endoscopia, radiodiagnóstico, medicina nuclear,

radioterapia e as que exerçam ações de ensino e pesquisa (ANVISA, 2014).

O NSP deve ser implantado com o objetivo de apoiar a direção dos serviços de saúde

nas condutas de melhoria da qualidade e segurança do paciente, adotando os seguintes

princípios e diretrizes:

A melhoria contínua dos processos de cuidado e do uso de tecnologias da

saúde, por meio de fomento às ações de gestão de risco, amparados por

processos investigatórios delineados de acordo com cada objeto.

A disseminação sistemática da cultura de segurança.

A articulação e a integração dos processos de gestão de risco.

A garantia das boas práticas de funcionamento do serviço de saúde dentro de

seu âmbito de atuação (ANVISA, 2014, p. 14).

O NSP deve ser constituído por uma equipe multiprofissional, capacitada na busca da

qualidade, segurança e gerenciamento de riscos, composto por membros da instituição que

tenham conhecimento nos processos de trabalho e perfil de liderança, podendo funcionar em

conjunto com comissões existentes, desde que as atribuições sejam executadas (ANVISA,

2014).

Para a criação do NSP o Artigo 4º § 1º da RDC 36/2013, diz: “A direção do serviço de

saúde pode utilizar a estrutura de comitês, comissões, gerências, coordenações ou núcleos já

existentes para o desempenho das atribuições do NSP” (RDC 36, 2013).

4.3 Notificação de incidentes e eventos adversos

“Todos os incidentes com danos e eventos adversos ocorridos nos estabelecimentos de

saúde devem ser notificados ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), de acordo

com a RDC 36/2013” (ANVISA, 2014, p.33), são analisados pelo SNVS de maneira detalhada

somente os casos de óbitos ou eventos graves. As notificações podem ser realizadas através do

módulo de notificação de incidentes/ eventos adversos do Notivisa.

103

As notificações realizadas através da plataforma poderão ser avaliadas pelo SNVS e

pelo próprio serviço de saúde, dando prioridade á aprendizagem contínua e para identificar

padrões e tendências sobre segurança do paciente. O formulário exclusivo para cuidados em

saúde possui dois objetivos e não tem caráter punitivo, pretende-se promover a cultura de

melhoria contínua e investigação através dos dados coletados e captar as informações sobre os

EAs que ocasionaram eventos graves e óbitos, as instituições de saúde têm o prazo de 72 horas

para notificar óbitos, assim como os eventos adversos, tendo como prazo de atualização da

notificação investigada 60 dias corridos (ANVISA, 2014).

O sistema NOTIVISA não deve ser confundido somente com um sistema de

informação, pois este envolve o processamento de dados e a análise quali-quantitativa

e o envolvimento de interessados, que são os responsáveis pela sua interpretação,

aliado aos demais mecanismos de comunicação. A proposta desta fase de implantação

do PNSP é aumentar a eficácia da ação dos gestores distrital, estaduais e municipais

de saúde quanto às melhores maneiras de aproveitar ao máximo possível os recursos

que efetivamente estão ao seu alcance, por mais limitados que possam parecer. O dado

é importante para produzir informação e conhecimento, gerando uma ação. O dado

não se encerra em si e ferramentas e ações adicionais serão sempre úteis, pois a

notificação é apenas o início do processo de vigilância e monitoramento dos eventos

adversos por parte do SNVS (ANVISA, 2015, p.4).

No cadastramento do responsável pela notificação o termo “técnico com envio” sugere

que o usuário tem permissão de envio da notificação ao NOTIVISA, e o termo “técnico sem

envio” que o usuário tem a permissão apenas de preenchimento do formulário, que depende da

autorização do perfil GESTOR NSP para o envio da notificação, sendo necessário ressaltar que

para a participação na elaboração da notificação os envolvidos devem pertencer ao NSP.

Alguns fatores contribuem para o surgimento de um incidente, devendo ser detectados

pela organização para a elaboração de ações preventivas com intuito de minimizar o

desenvolvimento e o aumento de sua ocorrência. A figura abaixo, elaborada pela ANVISA,

exemplifica alguns tipos de fatores com a descrição de fatores contribuintes e exemplos de

problemas que contribuem para os erros.

104

Figura 1 ─ Sistema de categorização das raízes dos erros

Fonte: ANVISA, 2014, p. 37.

O Núcleo de Segurança do Paciente nos serviços de saúde é o responsável pela

notificação dos incidentes no SNVS e gestão dos riscos, tornando os cuidados em saúde mais

seguro e induzindo o fortalecimento do sistema, através dessa instância pode-se quantificar e

qualificar os incidentes, tornando as práticas em saúde mais direcionadas para a resolução dos

problemas evidenciados através das notificações.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados encontrados a partir desta pesquisa se resumem na demonstração da

necessidade de introduzir nas instituições de saúde a cultura de segurança do paciente e

conscientizar a equipe multidisciplinar quanto à importância da oferta de um atendimento

seguro e qualificado, sendo essa uma preocupação primitiva, advinda de Hipócrates e

disseminada pelo mundo através das políticas de saúde elaboradas após publicações

importantes que demonstraram altos índices de mortes ocorridas por fatores que poderiam ser

evitados se houvesse nas organizações de saúde a preocupação em determinar critérios que

impedissem erros.

A busca pela segurança dos pacientes teve a participação de vários profissionais e

organizações que se dedicaram e se destacaram, como Semmelweis, Florence Nightingale,

Codman e Donabedian que ambos em suas áreas de atuações descobriram possíveis causas da

ocorrência de incidentes e a resolução para esses problemas sendo personagens principais na

origem de segurança do paciente, além de organizações que visam a segurança e outras que

105

fornecem acreditação de qualidade de serviços prestados como, IHI, Proqualis, ONA, ISMP,

Joint Comission International, Rebraensp, CBA entre outros acontecimentos que marcaram a

trajetória como a Aliança Mundial para Segurança do Paciente, sendo organizações

fundamentais para o desenvolvimento progressivo da busca pela segurança e qualidade na

saúde, concluindo que no Brasil as ferramentas disponíveis por essa busca se mostram

eficientes, dependendo apenas de gestores que visualizem a necessidade de sua implantação nas

instituições.

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