segurança do paciente

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Manual de Segurança do paciente com câncer.

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  • 13Maio2011 re

    dePublicao triMestral do instituto nacional de cncer

    OMS quer que hOSpitaiS adOteM rigOrOSOS prOtOcOlOS para reduzir errOS anteS, durante e apS cirurgiaS

    SeGUrANA dO PACIeNTe

  • www.cancer.org.br

    Desde 1991 estamos ao lado do INCA. E neste tempo

    todo, temos participado ativamente da evoluo do

    tratamento do cncer. Hoje, o diagnstico precoce traz

    a cura em muitos casos, os investimentos em pesquisa

    aumentaram, o nmero de fumantes diminuiu e o de

    doadores de medula cresceu de milhares para milhes.

    Foram muitos avanos. Seguiremos trabalhando para nos

    prximos 20 anos continuar trazendo mais boas notcias.

    No FCIl lutAr DurANtE 20 ANoS CoNtrA o CNCEr. Mas a cada dia teMos Melhores notcias.

    5223 006 an FCancer 20anos 21x28_2.indd 1 2/24/11 12:21:08 PM

  • Rede cnceR 3

    sumrio

    rede cncer

    2011 instituto nacional de cncer

    A revista rede cncer uma publicao trimestral do Instituto nacional de cncer. Por se tratar de um veculo jornalsticocujo objetivo principal promover a discusso de assuntos relacionados sade e gesto da Rede de AtenoOncolgica, artigos e reportagens contam com a participao de profissionais de vrias instituies. As declaraes eopinies dessas fontes no refletem a viso do IncA, expressa exclusivamente por meio de seus porta-vozes. A reproduototal ou parcial das informaes contidas nesta publicao permitida sempre e quando for citada a fonte.

    Realizao: equipe da diviso de comunicao social do inca | chefia da diviso de comunicao Social: Walter Zoss (interino)| coordenao-geral do Projeto e edio: claudia lima e daniella daher| Apoio: nemzio Filho|comisso editorial: cassilda dos santos soares, letcia casado, luiz Felipe ribeiro Pinto, Marceli de oliveira santos e Maria de Ftima batalha Menezes | Produo: sb comunicao |Jornalista responsvel: simone beja rP 27416/rJ | Reportagem: bel levy e daniele Marinho | Projeto Grfico: chicaMagalhes | diagramao: eduardo samaruga, Jairo alt e sumaya cavalcanti | Reviso ortogrfica: Gerdal J. Paula |Tiragem: 12.000 exemplaresInstituto nacional de cncer - IncA - Praa cruz Vermelha, 23 - centro - 20230-130 - Rio de Janeiro - [email protected] www.inca.gov.br

    12PreVeno

    O gosto amargo do

    tabaco

    16educao

    Todos por um

    18cincia

    Inovao para a

    oncologia

    20Poltica

    Solidariedade

    organizada

    22caPa

    Racionalizar para

    salvar vidas

    30assistncia

    Um cncer chamado

    linfoma

    33rede

    Conhecer para

    enfrentar

    Ministrio daSade

  • 4 Rede cnceR

    editorial

    Prezado leitor,

    A segurana do paciente uma das preocu-paes bsicas de um servio de sade. e as seis metas preconizadas pela Organizao Mundial da Sade so o norte da rea assistencial do IncA. So diversos os aspectos que devem ser levados em conta desde a entrada do doente na unidade de sade. O principal deles a identificao cor-reta do paciente. Outros dizem respeito admi-nistrao de medicamentos e cirurgia segura. A reportagem de capa aborda o desenvolvimento de solues para a segurana do paciente.

    O trabalho dos Registros de cncer de Base Populacional o tema da seo Rede. Os RcBPs so responsveis pelo mapeamento da incidncia do cncer no Brasil. e esse levantamento que subsidia as aes de vigilncia, preveno e con-trole da doena no pas. no final do ano passado, foi lanado o quarto volume da publicao Cncer no Brasil Dados dos Registros de Base Popula-cional, que apresenta informaes atualizadas de incidncia de cncer para o perodo entre 2000 e 2005 em 17 municpios brasileiros.

    Meta zero: paciente seguro

    O novo foco das campanhas de doao de medula ssea, que, aps a conquista de 2 milhes de voluntrios no pas, precisam diversificar o per-fil, abordado na seo Poltica. Os esforos ago-ra esto sendo concentrados no cadastramento de voluntrios das regies norte e nordeste, que atualmente somam 5% e 8%, respectivamente, do total de doadores do Registro nacional.

    Temos ainda uma entrevista com o pediatra Jos Augusto Taddei, pesquisador da Universidade Federal de So Paulo, que faz um importante alerta sobre a obesidade infantil, que, no Brasil, atinge 8% das crianas e mais de 15% dos adolescentes. Para ele, o grande vilo da obesidade infantil, mais do que o consumo de produtos ricos em acar, gordura e sal e o sedentarismo, o marketing da indstria alimentcia.

    no deixe de ler tambm o artigo do histo-riador Luiz Antonio Teixeira, que traa a evoluo das campanhas educativas de preveno do cn-cer desde a dcada de 40 do sculo passado at os dias atuais.

    Boa leitura!

    Luiz Antonio Santini Rodrigues da Silva

  • Rede cnceR 5Rede cnceR 5

    cartasFaa voc tambm parte dessa Rede. contribua conosco enviando dvidas, crticas, sugestes e elogios para a revista rede cncer.contato: [email protected] ou (21) 2506-6108.

    suGestes

    Parabns a todos da revista rede cncer! Sou fisioterapeuta, atuo em PSF e tenho um paciente que se recupera de uma hemiplegia decorrente de um tumor no crebro. Sugiro matria sobre diagnstico precoce de cncer em jovens. Mesmo antes da experincia, j tinha interesse em fazer ps-graduao em oncologia. Gostaria muito de receber em meu endereo a assinatura da revista.Juliana sousa, Fazenda nova, Go

    eloGios

    Sou enfermeiro recm-formado e trabalho em um hospital no interior de Minas Gerais. Fui classificado em um processo seletivo para trabalhar como enfermeiro em um PSF, tambm no interior, e as matrias sobre cncer de colo e mama, entre outras, sero de grande valia para mim, atuando no PSF, uma vez que damos nfase preveno e ao diagnstico precoce. Gostei muito das matrias constantes na revista, pois so de excelente qualidade, at mesmo para leigos.

    alan rodrigues de souza, cristiano otoni - MG

    Ol!. Sou estudante universitrio, curso Farmcia na Universidade Federal do Maranho. estou no 6 perodo e, desde que participei de uma jornada sobre oncologia, passei a me interessar mais sobre o assunto. Faz pouco tempo que conheo a revista rede cncer, que, por sinal, de excelente qualidade. Toda a equipe da revista est de parabns, pois, alm da parte visual, a parte principal, que a informao e a divulgao de pesquisas, artigos, aes sobre o assunto e outros relacionados sade, mais uma vez, repito, de qualidade. A atuao do profissional farmacutico nessa rea ainda pouco discutida e visualizada, pelo menos aqui no meu estado. Por isso, gostaria de receber a revista rede cncer, para que eu possa estar sempre por dentro dos assuntos, utilizando-me tambm desse meio precioso de discusso e fortalecendo minha vontade cada vez maior de atuar nessa rea. Muito em breve, espero poder contribuir com a publicao, enviando artigos ou outros meios.

    diogo nascimento, so lus, Ma

    solicitaes

    Gostaria de saber como fao para adquirir as publicaes da revista rede cncer.Sou estudante de radiologia e tive a oportunidade de conhecer a revista em um seminrio. Acho o contedo muito rico para ns, estudantes. Tenho o exemplar de agosto 2010.Fernanda shipper, Porto alegre, rs

    deixei de receber a revista rede cncer desde a 10 edio. Gostaria de receber novamente e, se possvel, as edies restantes. Grato.Paulo alberto de cssio ribeiro, rio de Janeiro, rJ

    Ol ! Sou Aline Vida, estudo psicologia na UeM, ltimo ano, e tenho grande interesse pela rea de psico-oncologia. Vi um exemplar da revista rede cncer e achei as reportagens muito interessantes - como a matria sobre o programa Amigo Fiel. esta revista por assinatura? eu, como estudante, posso adquiri-la? Alguma restrio? Aguardo resposta.aline Vida, Maring, Pr

    A Revista Rede Cncer uma publicao do INCA distribuda gratuitamente para todas as secretarias estaduais e municipais de sade do pas, universidades, Rede BiblioSUS e organizaes no governamentais ligadas ao tema cncer. Demais pedidos sero atendidos de acordo com a disponibilidade de exemplares, mas importante lembrar que a coleo completa pode ser acessada no site www.inca.gov.br/revistaredecancer. As solicitaes para recebimento devem ser enviadas para o e-mail [email protected] ou serem feitas por meio do telefone (21) 2506-6108.

  • 6 Rede cnceR

    notasFrUM deBATe ATeNO PBLICA de eXCeLNCIA AO CNCer JUVeNIL

    Ateno Integral da Criana e do Adolescente com Cncer: do Diagnstico Precoce ao Tratamento o tema do I Frum de Oncologia Peditrica do Rio de Janeiro, evento do Unidos pela Cura uma poltica pblica de diagnstico precoce do cncer no municpio do Rio de Janeiro. O evento vai discutir os desafios para a consolidao de uma rede pblica de excelncia na ateno ao cncer juvenil. O frum, desejo antigo de profissionais de sade de todo o estado, ter solenidade de abertura no Teatro Carlos Gomes, no dia 13 de junho, e vai ser realizado no dia seguinte, no auditrio do BNDES. Aberto a todos os profissionais de sade que atuam na linha de cuidado criana e ao jovem com cncer infanto-juvenil, o evento tem inscries gratuitas.

    Mais informaes: http://www.foprio.org.br/home

    GOVerNO e INdSTrIA FAZeM ACOrdO PArA redUZIr SdIO eM ALIMeNTOS

    O Ministrio da Sade e representantes de associaes dos produtores de alimentos processados assinaram, no dia 7 de abril, Dia Mundial da Sade, termo de compromisso para a reduo gradual da quantidade de sdio em 16 categorias de alimentos, comeando por massas instantneas, pes e bisnaguinhas. O objetivo reduzir o consumo excessivo de sal (cerca de 40% do sal composto de sdio), associado a vrias doenas crnicas no transmissveis, como hipertenso, doenas cardiovasculares e renais e cncer.

    MAIS reCUrSOS PArA O CONTrOLe dO CNCer FeMININO

    A presidente Dilma Rousseff lanou, em Manaus, plano de ao para fortalecer o Programa Nacional de Controle do Cncer do Colo do tero e de Mama. Para implementar as aes, que sero desenvolvidas at 2014, o Governo Federal vai investir R$ 1,25 bilho. O plano est inserido num projeto maior, de fortalecimento da rede de preveno, diagnstico e tratamento do cncer, que ter um aporte total de R$ 4,5 bilhes. Os planos com as aes para fortalecimento da preveno, deteco precoce e tratamento do cncer do colo do tero e de mama foram elaborados por profissionais do INCA, em conjunto com tcnicos da Secretaria de Ateno Sade (SAS), do Ministrio da Sade, e representantes das sociedades cientficas do setor. Entre as principais aes estipuladas esto a garantia de acesso ao exame preventivo e com qualidade s brasileiras entre 25 e 59 anos.

  • Rede cnceR 7Rede cnceR 7

    AMerICANOS SeqUeNCIAM GeNOMA dO CNCer de MAMA

    Em uma das maiores pesquisas genmicas j feitas sobre o cncer, um grupo nos Estados Unidos sequenciou os genomas completos de tumores de 50 pacientes com cncer de mama e comparou os resultados com o DNA de pessoas sem a doena. A comparao permitiu identificar mutaes que ocorrem apenas nas clulas cancergenas. A pesquisa revela uma grande complexidade nos genomas dos tumores e poder auxiliar no desenvolvimento de novas alternativas de tratamento. No total, os tumores analisados apresentaram mais de 1,7 mil mutaes, das quais a maior parte era nica para cada mulher. Os cientistas sequenciaram mais de 10 trilhes de pares de base de DNA, repetindo as operaes para cada tumor e para cada amostra dos voluntrios sadios, por em mdia, 30 vezes para garantir a validade dos resultados. O trabalho foi apresentado no incio de abril na 102 Reunio Anual da Associao Norte-Americana de Pesquisa do Cncer, em Orlando, na Flrida.Todas as pacientes tinham o chamado cncer de mama positivo para receptor de estrgeno, no qual as clulas tumorais tm receptores que se ligam ao hormnio e ajudam os tumores a crescer. A pesquisa confirmou que duas mutaes so relativamente comuns em mulheres com cncer de mama. A PIK3CA est presente em cerca de 40% dos tumores do tipo que expressam receptores para estrgeno. A TP53, por sua vez, foi encontrada em cerca de 20% das pacientes.

    CAI PArA 15,1% NMerO de FUMANTeS NO BrASIL

    O nmero de fumantes no Brasil caiu para 15,1%. A informao consta da Pesquisa Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doenas Crnicas por Inqurito Telefnico (Vigitel), do Ministrio da Sade, divulgada em abril. O avano mais expressivo ocorreu entre os homens: passou de 20,2% para 17,9% entre 2006 e 2010. Entre as mulheres, o ndice continua estvel em 12,7% no perodo. Pessoas com menor escolaridade (de zero a oito anos de estudo) fumam mais (18,6%), em relao s pessoas mais escolarizadas (12 anos ou mais de estudo), que fumam 10,2%. O Vigitel realizado anualmente pelo Ministrio da Sade

    em parceria com o Ncleo de Pesquisa em Nutrio e Sade da Universidade de So Paulo (NUPENS/USP). Desta vez, foram entrevistados 54.339

    adultos residentes nas 27 capitais. O tabagismo e o consumo exagerado de bebidas alcolicas so indicadores importantes no

    monitoramento dos fatores de risco para doenas crnicas no transmissveis como hipertenso arterial,

    diabetes e cncer. Em 2010, a Organizao das Naes Unidas recomendou que seus pases-membros incluam essas doenas entre os temas que sero discutidos em sua Assembleia

    Geral, prevista para setembro de 2011, em Nova York.

  • 8 Rede cnceR

    entrevistaJOS AUGUSTO TADDEI,pesquisador da Universidade Federal de So Paulo.

    risco futuro

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    8 Rede cnceR

  • Rede cnceR 9

    O marketing da indstria de alimentos o prin-cipal vilo da obesidade infantil no planeta, problema de sade pblica que desencadeia doenas como diabetes, hipertenso arterial e dislipidemia (aumento da taxa de lipdios no sangue). essas doenas so responsveis por cerca de 45% das mortes em todo o mundo, de acordo com dados da Organizao Mundial da Sade (OMS). O alerta do pediatra Jos Augusto Taddei, pesquisador da Universidade Fede-ral de So Paulo (Unifesp) e integrante do conselho criana e consumo, do Instituto Alana.

    Taddei informa que o quadro da doena mr-bido no mundo: cerca de 80% das pessoas obesas na infncia sero adultos obesos, com menor expec-tativa e qualidade de vida. A obesidade na vida adulta fator de risco para alguns tipos de cncer, como o de intestino e o de mama este especialmente em mulheres na menopausa. Os hbitos de consumo es-to diretamente relacionados a essa dinmica. Fast food, alimentos congelados, refrigerantes e biscoitos recheados, alimentos ricos em acar, gordura e sal e pobres em fibras esto na base de uma alimentao geradora de doenas crnicas.

    O pesquisador defende uma urgente regula-o da propaganda de alimentos, de forma anloga s bem-sucedidas estratgias implementadas para o controle do tabagismo sobretudo quando esses produtos so direcionados a crianas. As discusses sobre uma nova regulamentao chegaram a ocorrer, por iniciativa da Agncia nacional de Vigilncia Sani-tria (Anvisa) a partir de 2006, mas foram interrompi-das na Justia pelas indstrias de alimentos e pelo conselho nacional de Autorregulamentao Publici-tria (conar), no ano passado.

    Taddei considera que a propaganda de produtos nocivos sade trar consequncias econmicas em longo prazo. A populao economicamente ativa bra-sileira, dos 15 aos 65 anos, est em crescimento e, se essas pessoas no tiverem sade at os 65 anos, vo gerar gastos para a sociedade, em vez de produzir e consumir, na avaliao do estudioso, que tem 60 anos e 40 de profisso. nesta entrevista, o pediatra adver-

    Rede cnceR 9

    te que os grandes viles so o lucro e o marketing. Pelos seus clculos, a indstria de alimentos investe cerca de 4% do seu faturamento em propaganda. O ndice seria 500 vezes superior aos investimentos dos governos em educao alimentar. REDE CNCER - A obesidade infantil um problema de sade pblica no Brasil?

    Jos auGusto taddei - A obesidade infantil um problema crescente no Brasil e no mundo intei-ro. Aqui, ns estamos em uma etapa intermediria da epidemia de obesidade. Por um lado, isso pode ser bom, porque, ao contrrio dos estados Unidos, onde o problema j atingiu o pice, ainda podemos reverter a situao. Mas, por outro, desanimador, porque a expectativa para as prximas dcadas de aumento da incidncia da doena. em meados da dcada de 1970, a incidncia de obesidade nos dois pases os-cilava entre 4% e 8% entre crianas dos 2 aos 5 anos e adolescentes. Atualmente, a prevalncia da obesi-dade entre as crianas brasileiras de 8%, e entre os adolescentes, de mais de 15%. nos estados Unidos, a situao ainda pior: as taxas so superiores a 10% e 18%, respectivamente. O aumento da incidncia exponencial porque influenciado tambm pelo cres-cimento das populaes.

    REDE CNCER - Quais as principais causas?Jos auGusto taddei - A sociedade de

    consumo, a busca desenfreada pelo lucro, a cultura fast food, que est hoje em todo o planeta. esse tipo de alimentao surgiu na Segunda Guerra Mundial para atender s tropas americanas, como um alimen-to de boa qualidade microbiolgica, muita caloria, fcil transporte e rpido preparo no havia sentido fazer isso em casa. Porm, aps a guerra, a inds-tria cresceu em busca de mercados, gerando lucro, como aconteceu com todos os produtos de gneros suprfluos. O alimento que foi oferecido para aque-la sociedade tinha que ser saboroso, de fcil masti-gao e consumo, produzido em escala lucrativa. O processo industrial se fundamentou na premissa de

    O vilo da obesidade infantil o sedentarismo, associado ao consumo de produtos ricos em acar, gorduras e sal, mas o grande vilo o marketing da indstria alimentcia.

  • 10 Rede cnceR

    que ns, humanos, gostamos de acar e gordura. Quando ramos catadores e coletores, os que no tinham averso ao azedo e ao amargo sucumbiram, pois, nas frutas e razes, azedo e amargo representa-vam veneno. Sobrevivemos ns. Mas o que era uma vantagem evolutiva, hoje nos faz suscetveis a essa arapuca usada pela tecnologia dos alimentos.

    REDE CNCER - Quais os maiores viles na obesidade infantil?

    Jos auGusto taddei - o sedentarismo associado ao consumo de produtos ricos em a-car, gorduras e sal, mas o grande vilo o marketing da indstria alimentcia. ele define um novo padro alimentar e torna as crianas consumidoras. At os 3 ou 4 anos de idade, a criana no separa a propa-ganda do desenho animado. At os 7, a criana no tem discernimento para reconhecer e rejeitar engo-do. no percebe o convencimento pela mentira. A indstria aproveita-se dessas caractersticas fisiol-gicas para incutir na cabea das crianas a fanta-sia que as imagens promovem sobre refrigerantes, hambrgueres, salgadinhos, biscoitos recheados sem que elas tenham conscincia de que isso no faz parte do conto de fadas.

    REDE CNCER - Quais as principais consequncias da obesidade para a sade?

    Jos auGusto taddei - A alimentao ina-dequada, que leva obesidade, reduz a expectativa e a qualidade de vida por uma srie de razes. Por con-terem pouca fibra, impedem o bom funcionamento do intestino, ocasionando a constipao. A reduo do trnsito intestinal aumenta o contato da mucosa local com agentes potencialmente cancergenos. A obesi-dade tambm est associada ao cncer de mama. Mulheres que entram no processo da menopausa e se tornam obesas desenvolvem a doena com mais frequncia que mulheres da mesma faixa etria, mas sem sobrepeso.

    REDE CNCER - Ento, ser o gordinho simptico da turma ruim?

    Jos auGusto taddei - A qualidade de vida do obeso pior: ele tem mais dificuldade de se so-cializar na infncia, de conseguir amigos, namorada, emprego. e, quando consegue, o salrio menor, tem mais dificuldade para casar e, quando casa, tem uma vida sexual menos satisfatria do que teria se no fos-se obeso. H os complexos, a dificuldade para tirar a camisa na frente dos outros, usar roupa de banho.

    10 Rede cnceR

  • Rede cnceR 11

    REDE CNCER - A aculturao em relao s prticas alimentares explica em parte alteraes no cardpio do brasileiro? Estamos comendo menos arroz e feijo?

    Jos auGusto taddei - Pela primeira vez na histria da humanidade a no ser em situaes de crise de falta de alimentos, como imigrantes que precisam se adaptar culinria local , mudou-se um hbito alimentar estabelecido h sculos. O h-bito alimentar o que est enraizado de forma mais profunda na sociedade. essa mudana foi possvel a partir de estratgias muito fortes de marketing, propa-gandeando o consumo de alimentos obesognicos redutores de expectativa e qualidade de vida. Hoje, todo mundo come hambrguer, mas a verdade que no faz sentido largarmos o arroz com feijo.

    REDE CNCER - Existe no senso comum a ideia de que a obesidade um problema de famlias com melhores condies econmicas e sociais. Essa premissa procede?

    Jos auGusto taddei - na histria da hu-manidade, a obesidade foi associada s classes mais abastadas em funo do consumo excessivo de alimentos e do sedentarismo. Mas, com o passar do tempo, os alimentos foram barateados e as faci-lidades da vida moderna trouxeram o sedentarismo para outras classes sociais. Hoje, a obesidade um problema de sade pblica mais intenso nas classes menos favorecidas, pois os mais abastados se defen-dem do mercado consumidor regulando alimentos e fazendo atividades fsicas. crianas e adolescentes, porm, independentemente de classe social, no tm essa oportunidade de defesa.

    REDE CNCER - A legislao brasileira bem restritiva em relao ao tabaco. Como essa regulao pode ser comparada s restries impostas indstria alimentcia?

    Jos auGusto taddei - A sociedade brasi-leira est cuidando melhor dos potenciais futuros de-pendentes de tabaco que dos potenciais futuros obe-sos. J compreendemos os males do cigarro, mas ainda no os da obesidade. A legislao brasileira avanadssima em relao a normas tcnicas na ro-tulagem. Peca, entretanto, por expressar o consumo mdio s para adultos, o percentual de adequao no discrimina a necessidade para crianas. H di-ficuldades tambm de compreenso para a pessoa comum. exige muitas contas. esse processo precisa ser acelerado para chegarmos perto do que hoje se faz em relao ao tabagismo.

    REDE CNCER - Como essa regulao ocorre em outros pases?

    Jos auGusto taddei - A europa me-nos suscetvel alimentao de risco, pois tem mais tradio alimentar. na escandinvia, por exemplo, a sociedade j superou a fase do en-godo e no aceita mais consumir fast food. Os ingleses utilizam a lgica do semforo para clas-sificar os alimentos: etiquetas vermelhas indicam o risco de obesidade e doenas crnicas, amare-las representam um alerta e nas verdes o sinal livre. A rotulagem tambm prope a associao de alimentos vermelhos a alimentos verdes, objetivando um melhor equilbrio nutricional e a reduo de risco para a sade.

    REDE CNCER - Como possvel mudar o quadro em relao propaganda de alimentos?

    Jos auGusto taddei - Houve um movi-mento liderado pela Anvisa que, a partir de reunies e debates com todos os agentes envolvidos no pro-cesso, concluiu pela necessidade de restringir a pro-paganda de alimentos em horrios especficos, em programas com pblico formado por at 40% abaixo dos 12 anos. Formatou-se o decreto-lei em 2006. As indstrias e o conar [conselho nacional de Autorre-gulamentao Publicitria], atravs de associaes de classe, inviabilizaram em 2010 a regulamentao na Justia, argumentando que no era atribuio da Anvisa, e sim do congresso nacional. em relao propaganda, no Brasil, a raposa toma conta das ga-linhas.

    REDE CNCER - Que conselhos o senhor daria para pais que enfrentam a mquina da propaganda da indstria alimentcia?

    Jos auGusto taddei - nenhum alimento deve ser proibido. Alimento no veneno, mas pre-cisamos resgatar a nossa cultura alimentar. Quer sa-ber o que dar para seu filho para evitar obesidade e doenas crnicas? Pergunte sua av. ela sabe. A sociedade de consumo est to confusa que esque-ceu o que consumia quando criana. d para o seu filho o que voc comia quando criana. Quando per-demos a cultura, perdemos a humanidade, a troca de afeto. O convvio de sentar em torno da mesa, estar prximo. Hoje, no se sabe de onde vem o alimento, no se sabe quem o preparou. de repente, voc abre um pacote e come aquilo. i

    Rede cnceR 11

  • 12 Rede cnceR

    prevenotratadO internaciOnal para cOntrOle dO tabagiSMO recOMenda prOibiO dO uSO de flavOrizanteS e arOMatizanteS eM prOdutOS fuMgenOS

    Revelar o gosto desagradvel do tabaco na pri-meira tragada, sem o disfarce de sabores adocicados ou mentolados. essa a estratgia da conveno-Qua-dro para o controle do Tabaco visando reduzir o ndice de adeso ao tabagismo aps a experimentao, prin-cipalmente entre adolescentes. A conveno o primei-ro tratado internacional de sade pblica, assinado por 172 pases, sob a coordenao da Organizao Mundial da Sade (OMS). A diretriz foi aprovada com outras re-comendaes em abril de 2010, durante a 4 sesso da conferncia das Partes (cOP 4) instncia com poder decisrio que se rene regularmente para acompanhar a implementao da conveno. Somente no Brasil, o tabagismo causa a morte de 200 mil pessoas, segundo levantamento da Organizao Pan-Americana da Sa-de (OPAS).

    Realizada no Uruguai, a cOP 4 reuniu os pases que ratificaram o tratado para discutir as aes em desenvolvimento e definir as diretrizes a serem imple-mentadas pelos pases signatrios nos prximos anos. Alm da proibio de aditivos nos produtos do tabaco, a cOP 4 aprovou a adoo de outras medidas, que visam ao aumento dos ndices de cessao do taba-gismo, ampliao do acesso ao tratamento de de-pendentes, conscientizao da populao sobre os riscos associados ao tabaco e ao fomento de alterna-tivas fumicultura.

    O GOSTO AMArGO dO TABACO

  • Rede cnceR 13

    Tnia cavalcante, secretria executiva da co-misso nacional para Implementao da conveno -Quadro (conicq), coordenada pelo Instituto nacional de cncer (IncA), explica que a regulao dos conte-dos dos produtos do tabaco, incluindo aditivos como aromatizantes e flavorizantes, uma questo complexa. no h diretrizes totalmente estabelecidas para esse tipo de controle. Mas j existem orientaes bastante claras, formuladas por um grupo de especialistas da OMS que estuda o tema desde 2001. e a recomenda-o a proibio de aditivos nos produtos do tabaco, apresenta a pesquisadora.

    entre as evidncias que pautam a deciso, Tnia destaca a influncia dos flavorizantes e aromatizantes na facilitao da experimentao do tabaco e na expanso do consumo do produto. estudos apontam que 90% dos fumantes se tornam dependentes do tabaco na ado-lescncia. A indstria tabagista produz pesquisas consis-tentes sobre o hbito de fumar e reconhece a importn-cia de desenvolver estratgias para agradar ao pblico jovem que atrado por sabores adocicados. Por isso, a proibio dos aditivos to importante, revela.

    O diretor da Agncia nacional de Vigilncia Sani-tria (Anvisa) e ex-ministro da Sade, Jos Agenor lva-res, informa que, alm do cigarro tradicional, a proibi-o deve estender-se a outros produtos que vm sendo introduzidos no Brasil com forte apelo entre os jovens, como cigarros de bali ( base de cravo), tabaco para uso em narguil e cigarrilhas aromatizadas. O pas no pode permanecer alheio s inovaes tecnolgicas e mercadolgicas promovidas pela indstria do tabaco. A atualizao das normas vigentes essencial para pro-mover a cessao do tabagismo e reduzir a sua inicia-o, sobretudo entre crianas e adolescentes, que so o principal alvo da indstria, considera lvares.

    Responsvel pela regulamentao do setor no pas, a Anvisa disponibilizou, entre novembro de 2010 e maro de 2011, consulta pblica sobre a proibio da adio de sabores e aromatizantes aos produtos deriva-dos do tabaco. lvares explica que a consulta pblica importante para que toda a sociedade, incluindo os cidados que so contra a medida, participe do deba-te. encerrada essa etapa, uma audincia pblica dar sociedade civil a oportunidade de defender seus pontos de vista presencialmente. Independentemente dos re-sultados da consulta e da audincia pblicas, ser es-tabelecido um perodo para a adequao do setor s normas aprovadas, informa lvares.

    diante desse cenrio, a indstria do tabaco inves-te em justificativas para desarticular a iniciativa global que defende a proibio do uso de aromatizantes e fla-vorizantes em seus produtos. Uma delas sustenta a hi-

    ptese de que um determinado tipo de fumo o burley no poderia ser usado na fabricao de cigarros sem aditivos e isso prejudicaria os fumicultores. Trata-se de uma falcia. existem cigarros fabricados com o tabaco burley sem aditivos no Brasil e nos estados Unidos, dispara Tnia.

    Outra justificativa versa a respeito do suposto im-pacto da medida sobre a exportao do fumo nacional. A engenheira agrnoma christianne Belinzoni, consulto-ra do Ministrio de desenvolvimento Agrrio, esclarece que o argumento no procede. Hoje, 85% da produo nacional de fumo exportada. A proibio da adio de aromatizantes e flavorizantes ao tabaco no impac-tar o comrcio internacional, porque o Brasil exporta somente as folhas desidratadas do fumo em estado in natura e sem a adio de qualquer aditivo. O tratamento qumico modificaria a classificao do fumo natural para produto manufaturado e alteraria toda a dinmica da co-mercializao, informa a especialista.

    A partir de evidncias como essas, a conicq tem conseguido avanar nos processos que transformam em leis brasileiras as diretrizes da conveno-Quadro. A implementao de tais recomendaes obrigat-ria para os pases signatrios do tratado, que se com-prometeram a aplicar as suas diretrizes com fora de lei em seus territrios. O Brasil tornou-se estado-Parte da iniciativa em 2005, com a ratificao da adeso do Poder executivo conveno-Quadro pelo congresso nacional, informa Tnia.

    O Brasil um dos lderes na regulao e no controle do tabaco no mundo. A conveno-Quadro para o con-trole do Tabaco o primeiro tratado global de sade pbli-ca. constitui um marco histrico na rea, do qual o Brasil faz parte e no qual tem papel de destaque. O pas foi eleito em consenso pelos 192 membros da OMS para presidir o rgo de negociao do tratado, contextualiza Tnia.

    Rede cnceR 15

    Estudos apontam que 90% dos fumantes se tornam dependentes do tabaco na adolescncia o pblico jovem atrado por sabores adocicados. Por isso, a proibio dos aditivos to importante. TnIA cAVALcAnTe, secretria executiva da conicq.

  • 14 Rede cnceR

    Ministrio da Sade (SVS/MS) detectou, pela pri-meira vez no Brasil, a ocorrncia de intoxicao aguda pela nicotina em fumicultores. A chamada doena da folha verde do tabaco pode gerar ar-ritmias cardacas e incapacitaes fsicas. nesse contexto, importante ressaltar que a fumicultura uma atividade da agricultura familiar que envolve homens, mulheres, muitas vezes grvidas, crianas e idosos e expe todos eles a graves problemas de sade, avalia Tnia.

    A mdica ressalta que esse um setor eco-nmico extremamente danoso para as sociedades e informa que o conselho Social e econmico das naes Unidas reconhece, em seu relatrio de 2006, que tabaco e pobreza formam um ciclo vicioso, sob as perspectivas do consumo e da pro-duo. essa relao expe claramente a incom-patibilidade entre produo de fumo, tabagismo e desenvolvimento sustentvel, declara a secre-tria executiva da conicq.

    SAde PBLICA X LIVre COMrCIO

    A cOP 4 tambm aprovou outros artigos da con-veno-Quadro, que abordam a questo mercadol-gica e a linha de produo do tabaco. A conferncia reagiu de forma bastante contundente s estratgias das companhias transacionais de fumo de confrontar as diretrizes do tratado global com acordos de livre co-mrcio, observa Tnia. Isso porque, no ano passado, uma multinacional pressionou o governo uruguaio a re-troceder em relao a medidas adotadas pelo pas. de acordo com Tnia, a postura da cOP 4 foi fundamental para coibir futuras aes desse tipo no continente por parte da indstria do tabaco.

    Para responder a essa nova empreitada da inds-tria do tabaco, a secretaria executiva da conveno-Quadro abriu negociao com a Organizao Mundial do comrcio (OMc), a fim de definir o tabaco como um produto que deve receber tratamento diferenciado dos demais bens de consumo nos acordos internacio-nais de livre comrcio como j ocorre com agrotxi-cos e armas.

    A linha de produo do tabaco tambm con-templada pelas novas diretrizes da conveno-Qua-dro, que reforam a importncia do investimento em alternativas ao cultivo do fumo. com a reduo dos ndices de tabagismo no Brasil, a demanda nacional pelo produto vem-se tornando cada vez menor e o mesmo deve acontecer com o consumo internacio-nal, afirma christianne Belinzoni. essa mudana im-pactar as lavouras brasileiras e, consequentemente, o pequeno agricultor familiar envolvido nessa cadeia produtiva, que muitas vezes assume dvidas impag-veis junto s empresas investidoras do setor, expe.

    Para lidar com esse problema, o Ministrio de de-senvolvimento Agrrio lanou, em 2005, o Programa de diversificao de Lavouras, que j financiou mais de 60 iniciativas para substituio do cultivo do fumo no pas, sobretudo nas reas de fruticultura e horticul-tura. no Rio Grande do Sul, j encontramos extensa produo de uvas em substituio ao fumo. em Santa catarina, est crescendo a produo do leite de pasto o leite orgnico, exemplifica christianne.

    Outro aspecto abordado pelos artigos da conveno-Quadro aprovados pela cOP 4 diz respeito sade dos tra-balhadores envolvidos na cadeia pro-dutiva do tabaco. Recentemente, a Secretaria de Vigilncia em Sade do

    O pas no pode permanecer alheio s inovaes tecnolgicas e mercadolgicas promovidas pela indstria do tabaco. A atualizao das normas vigentes essencial para promover a cessao do tabagismo. JOS AGenOR LVAReS, diretor da Anvisa.

  • A Conveno-Quadro para o Controle do Tabaco um tratado internacional criado em resposta epidemia do tabaco, que mata cerca de 6 milhes de pessoas a cada ano. J adotada por mais de 170 pases, a nossa ferramenta mais poderosa para proteger a populao.

    Trs maneiras de salvar vidas

    Informe-se! www.inca.gov.br31 de maio: Dia Mundial Sem Tabaco

    g-d

    s

  • 16 Rede cnceR16 Rede cnceR

    educaoTodos por umArticular o conhecimento de vrias especiali-dades para cuidar melhor do paciente. essa a pr-tica da Residncia Multiprofissional em Oncologia do Instituto nacional de cncer (IncA) curso de especializao lato sensu criado em 2009 por por-taria interministerial, que recebe sua segunda tur-ma este ano. enfermagem, odontologia, farmcia, fisioterapia, nutrio, psicologia e servio social so as reas do conhecimento que integram o curso. A Residncia Multiprofissional em Oncologia articula diversas especialidades em um nico curso com a inteno de oferecer ao profissional de sade um olhar multidisciplinar e integral sobre o paciente, superando a viso fragmentada por abordagens

    reSidncia MultiprOfiSSiOnal eM OncOlOgia apriMOra cuidadO cOM O paciente

    especficas e isoladas, resume o coordenador de educao do IncA, Luiz claudio Santos Thuler.

    Thuler avalia que a ateno integral ao pacien-te uma tendncia da medicina moderna e que re-presenta uma importante mudana de paradigma na ateno sade e no cuidado ao paciente. O compartilhamento de experincias e saberes abre novas perspectivas para o olhar do profissional de sade e o ajuda a entender melhor a complexidade do cncer. nesse sentido, a formalizao de residn-cias multiprofissionais em oncologia um grande passo em direo ao aprimoramento do cuidado ao

    paciente, defende o coordenador de edu-cao do IncA.

  • Rede cnceR 17Rede cnceR 17

    Pioneiro no pas na oferta de cursos multipro-fissionais em sade, o Gru-po Hospitalar conceio, em Porto Alegre, dispe de quatro reas de nfase em sua Residncia Integrada em Sade: Sade da Fam-lia e comunidade, Sade Mental, Ateno ao Paciente crtico e, mais recentemen-te, Oncologia/Hematologia. Participam dos cursos pro-fissionais de educao F-sica, enfermagem, Farmcia, Fisioterapia, Fonoau-diologia, Odontologia, nutrio, Psicologia, Servio Social e Terapia Ocupacional.

    Para a assistente social Maria cristina nunes de Barros, coordenadora da nfase Oncologia/Hemato-logia da Residncia Integrada em Sade do Grupo Hospitalar conceio, a articulao de diferentes especialidades traz benefcios para todos os envol-vidos no sistema de sade. A interdisciplinaridade e a humanizao do cuidado so importantes para os usurios, que passam a ser compreendidos em sua integralidade; para os profissionais de sade em for-mao, que desenvolvem a capacidade de dilogo para alcanar o entendimento ampliado da realidade; e para os preceptores e orientadores das residncias multiprofissionais, que podem ampliar as possibilida-des educativo-participativas do trabalho em sade, considera Maria cristina.

    A abordagem integral da Residncia Multiprofis-sional em Oncologia do IncA contempla toda a linha de cuidado do cncer da ateno bsica assis-tncia de mdia e alta complexidades. A chefe da diviso de ensino do IncA, Anke Bergmann, explica que a estratgia fundamental para preparar os pro-fissionais para acompanhar o paciente desde a sua entrada no servio de sade, na ateno bsica, at o atendimento nos hospitais especializados em cncer.

    A ateno oncolgica est inserida na assistn-cia de alta complexidade, que engloba procedimen-tos como quimioterapia e radioterapia, mas tambm inclui aes de preveno e educao em sade, realizadas nas unidades bsicas. O profissional de sade deve estar preparado para atuar em todas es-sas etapas, defende Anke. Para garantir a trajetria do profissional em formao pelos diversos nveis da ateno sade, o IncA trabalha em parceria com outras instituies. em vias de formalizao, o

    A interao com profissionais de outras especialidades torna o curso uma constante

    descoberta e valoriza o trabalho em equipe.

    Suelen ValadareS, enfermeira residente e representante do corpo discente da Comisso de residncia Multiprofis-

    sional do InCa (Coremu)

    convnio com a Secretaria Municipal de Sade e de-fesa civil do Rio de Janeiro (SMSdc-RJ) viabilizar a atuao de residentes na rede de ateno bsica em sade.

    A Residncia Mul-tiprofissional em Onco-logia do IncA tem carga horria de 60 horas se-manais. As disciplinas so organizadas em dois eixos: o transversal que

    inclui mdulos prticos e tericos de disciplinas comuns a todos os alunos e o especializado, composto por atividades especficas. nas ativi-dades conjuntas, alunos de diferentes formaes tm a oportunidade de trocar experincias e co-nhecimentos. A tendncia que as disciplinas es-pecializadas tambm sejam compartilhadas, pois o curso propicia um constante ambiente de troca, descreve Anke. O processo seletivo ocorre entre agosto e novembro.

    O curso forma o profissional diferenciado de que o SUS precisa: especializado, qualificado, mas com uma viso holstica da sade. Por isso, os mi-nistrios da Sade e da educao vm investindo em residncias multiprofissionais, justifica Thuler. O coordenador de educao do IncA refora que uma das preocupaes da instituio formar profissio-nais especializados em oncologia para todo o pas. Por isso, oferece bolsas e acomodao estudantil para alunos de outros estados.

    Os resultados da iniciativa j comeam a apa-recer. diretores de hospitais constataram mudanas no comportamento dos profissionais de sade que cursam a Residncia Multiprofissional em Oncologia durante as discusses das sesses clnicas. Agora, todos participam dos debates e trazem contribuies especficas de sua rea de atuao, com o vis da integralidade, conta Thuler.

    A enfermeira residente Suelen Valadares, repre-sentante do corpo discente da comisso de Residn-cia Multiprofissional do IncA (coremu), concorda. A interao com profissionais de outras especialidades torna o curso uma constante descoberta e valoriza o trabalho em equipe. com acesso a conhecimentos de outras reas, me sinto mais preparada e segura para realizar um atendimento integral e humanizado ao paciente, observa a aluna. I

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    Expandir o acesso promoo, preveno, ao diagnstico e ao tratamento do cncer; definir protocolos para a ateno oncolgica; identificar, avaliar e desenvolver produtos e servios estratgi-cos em oncologia; viabilizar a produo nacional de bens e servios na rea; mobilizar setores pblicos e privados para o enfrentamento do cncer. Obje-tivos ambiciosos e essenciais ao aprimoramento da ateno oncolgica no Sistema nico de Sade (SUS) do a tnica do Programa Interinstitucional de Produo e Inovao em Oncolgicos, estabele-cido entre o Instituto nacional de cncer (IncA) e a Fundao Oswaldo cruz (Fiocruz), que entra em vigor este ano.

    O programa um convnio que abrange as-pectos tcnicos, tecnolgicos e institucionais para o fortalecimento das aes de controle do cncer no pas. Para isso, engloba o desenvolvimento de novas drogas para o tratamento e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes; a produo nacional de frmacos e de kits de diagnstico; a avaliao de programas de sade pblica; e aes de preveno e de educao em sade, define o diretor-geral do IncA, Luiz Antonio Santini.

    Inovao para a oncologia

    A parceria entre o IncA e a Fiocruz de longo prazo e inclui projetos de pesquisa bsica e aplicada, alm de iniciativas como o Instituto nacional de ci-ncia e Tecnologia para o controle do cncer (IncT-cncer). A criao do Programa Interinstitucional de Produo e Inovao em Oncolgicos formaliza essa colaborao e abre caminho para o desenvolvimento

    fiOcruz e inca fOrMalizaM parceria para prOduO naciOnal de OncOlgicOS

  • O Programa Interinstitucional de Produo e Inovao em Oncolgicos um convnio que abrange aspectos tcnicos, tecnolgicos e institucionais para o fortalecimento das aes de controle do cncer no pasLuiz Antonio SAntini, diretor-geral do inCA

    de novas iniciativas, envolvendo toda a linha de cui-dado do cncer. Firmado em agosto de 2010, o pro-grama est em fase de estruturao e suas atividades tero incio no primeiro semestre deste ano. O plano de ao est sendo elaborado por um comit Ges-tor, formado por dois representantes e dois suplentes de cada instituio, e por comits tcnicos temticos, que trataro de reas especficas.

    O IncA e a Fiocruz so duas instituies do Ministrio da Sade com reconhecimento nacional e internacional em suas respectivas reas de atuao. O IncA integra pesquisa, ensino e assistncia na rea da oncologia. A Fiocruz tem tradio em produo de insumos biotecnolgicos, considera o assessor

    da vice-presidncia de Produo e Inovao em Sade da Fiocruz, Jorge costa. So experti-ses complementares que, juntas, certamente aprimoraro o controle do cncer no pas,

    afirma.Para o coordenador de Pesquisa clnica do

    IncA, carlos Gil Moreira Ferreira, a mobilizao de toda a cadeia produtiva do setor da sade funda-mental para atingir os objetivos esperados. A inicia-tiva envolve todo o complexo econmico Industrial da Sade e prev a articulao de centros nacionais e internacionais de pesquisa e desenvolvimento tec-nolgico, hospitais de referncia em cncer, agncias reguladoras e de fomento, indstria farmacutica, or-ganizaes no governamentais e atores de poltica setorial, relaciona carlos Gil.

    O pesquisador explica que o grande objetivo da iniciativa atender ao SUS, s demandas da po-pulao brasileira. na rea de medicamentos, por exemplo, isso pode acontecer de duas maneiras: pela produo nacional de frmacos com patente internacional, que representam elevado custo para o Ministrio da Sade, e, em longo prazo, pelo desen-volvimento de uma molcula brasileira, a ser produzi-da e comercializada por preo muito mais acessvel para o mercado nacional, expe.

    Jorge costa ressalta a importncia da articula-o entre o IncA, a Fiocruz e o Ministrio da Sade para garantir a sustentabilidade das aes para o con-trole do cncer no pas. Hoje, o Ministrio da Sade repassa para os hospitais especializados um determi-nado valor para a execuo dos procedimentos que compem o tratamento oncolgico. cada hospital administra seu oramento e executa suas compras. esse processo pode ser racionalizado pela produo nacional dos medicamentos e pela centralizao de sua distribuio pelo Ministrio da Sade, compara.

    O Programa Interinstitucional de Produo e Inovao em Oncolgicos j estuda a viabilidade da produo nacional de medicamentos relevantes para o tratamento do cncer, que hoje precisam ser impor-tados. Introduzir a produo desses medicamentos no Brasil, mantendo a qualidade e reduzindo o custo para o Ministrio da Sade, ser um grande avano para o controle da doena no pas, pois garantir a ampliao do acesso ao tratamento.

    So medicamentos importados utilizados pelo SUS. Trs deles esto protegidos por patentes, no Brasil e no exterior. estamos em negociao com o laboratrio estrangeiro, detentor das patentes, que, aps tomar conhecimento da formalizao do pro-grama, se candidatou espontaneamente para essa parceria, expressando interesse na cooperao para transferncia de tecnologia para o Brasil, adianta Jorge costa, acrescentando que, no momento, a ini-ciativa est em fase de estabelecimento do acordo de sigilo.

    A previso que ainda este ano tenha incio a fase de transferncia de tecnologia para a produo nacional dos medicamentos. Assim, provvel que em 2012 seja possvel substituir algumas drogas por frmacos de produo nacional. A expectativa que essa ao signifique uma economia de cerca de 30% para o Ministrio da Sade, prev Jorge costa. I

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    polticacOntrOle daS caMpanhaS para captaO de dOadOreS vOluntriOS de Medula SSea garante MaiOr efetividade S iniciativaS

    A doao voluntria de medula ssea um ato de solidariedade. Para garantir a efetividade de iniciativas que promovem a mobilizao social em torno da causa, o Ministrio da Sade conferiu ao Instituto nacional de cncer (IncA) por meio da portaria 2.600, de 2009 a responsabilidade de de-terminar tecnicamente a realizao de campanhas para recrutamento de doadores voluntrios de me-dula ssea. O objetivo evitar o desperdcio de recursos e canalizar esforos para a realizao de campanhas em regies do pas ainda pouco repre-sentadas no banco de doadores.

    Regulamentar as campanhas de captao de doadores uma atividade estratgica para otimi-zar o atendimento a pacientes com indicao para transplante de medula ssea, afirma Luis Fernando Bouzas, diretor do centro de Transplante de Medula ssea (ceMO) do IncA. Para o mdico, essa cen-tralizao essencial para garantir a qualificao do Registro nacional de doadores de Medula ssea (Redome).O controle das campanhas colabora para a qualificao do registro ao determinar em que ce-nrios e circunstncias necessrio promover essas iniciativas. O objetivo principal garantir que os no-vos perfis cadastrados contribuam para ampliar a di-versidade gentica do Redome, aumentando as pos-sibilidades de doao, justifica Bouzas, que tambm coordena o registro.

    nesse sen-tido, o IncA respon-svel por determinar as regies onde as campanhas devem ser realizadas e as estratgias para a captao de doadores.So Paulo, Paran, Minas Gerais e Rio de Janeiro, por exemplo, j esto muito bem representados no Redo-me. Para ampliar a diversidade gentica do Registro e contemplar a miscigenao da populao brasileira, preciso investir em outras reas, explica Bouzas. O trabalho inclui encontros anuais com hemocentros e laboratrios de todo o pas, capacitao de profis-sionais, elaborao e distribuio de materiais infor-mativos, definio da infraestrutura necessria para realizao de uma campanha e acompanhamento das atividades.

    Os resultados dessa organizao estratgica comeam a aparecer: o Hemocentro de Gois j atin-giu a marca de 80 mil doadores cadastrados no Re-dome. estabelecer um protocolo para realizao de campanhas fundamental para otimizar as iniciativas. Somos procurados por empresas, faculdades, igrejas e associaes e encaminhamos suas propostas ao

    SOLIdArIedAde OrGANIZAdA

  • IncA, que, aps aprovar o projeto, acompanha todo o seu desenvolvimento, desde o planejamento at a operacionalizao da campanha, passando pela di-vulgao, explica a diretora tcnica do Hemocentro de Gois, Lorena Bernardes Arroyo.

    O Rio Grande do norte outro exemplo. As di-retrizes e orientaes do IncA conduzem melhor organizao das campanhas, priorizando locais e perfis genticos ainda no contemplados pelo Redo-me, avalia o biomdico Glauco Willcox, diretor tcni-co do Laboratrio de Histocompatibilidade do Grupo Hemovida, de natal (Rn).

    novas campanhas tm sido solicitadas para o Rio Grande do norte, o que fundamental para a sen-sibilizao da populao sobre o tema e o incremento do cadastro de doadores voluntrios dessa regio, informa.

    CONFIABILIdAde e FIdeLIZAO

    de acordo com o IncA, 70% dos pacientes com indicao para transplante de medula ssea no en-contram doador na famlia e dependem de voluntrios. A estimativa brasileira para 2011 de 10 mil novos casos de leucemia, dos quais de 50% a 60% recebe-ro indicao para o procedimento. nesse cenrio, ter uma ferramenta capaz de armazenar, identificar e localizar doadores voluntrios imprescindvel.

    O Redome o terceiro maior registro de do-adores de medula ssea do mundo. em janeiro de 2011, somava 2 milhes de cadastros. Administrar esse enorme banco de dados no tarefa trivial. O fracasso no contato com o voluntrio cadastrado gera desperdcio de recursos, retrabalho e um si-nal de que o registro no funciona corretamente, alerta Bouzas. Para evitar esse tipo de desfecho, o Redome investe na comunicao com hemocen-tros, laboratrios e voluntrios cadastrados. Bou-zas destaca o carto do doador, o envio regular de correspondncia e o boletim eletrnico MedulaneT, destinado aos hemocentros. este ano, foi criado um formulrio virtual (www.inca.gov.br/doador) dentro do portal do IncA, atravs do qual os doadores po-dem atualizar seus dados cadastrais. At ento, a atualizao era feita apenas por telefone.

    O Programa de Fidelizao de doadores, da Associao da Medula ssea (Ameo), foi a soluo para a Santa casa de So Paulo aprimorar o contato com os voluntrios cadastrados. Mensalmente, 10 mil cartes do doador so enviados, para lembrar os participantes de sua responsabilidade. preci-so manter as pessoas constantemente informadas, para que elas estejam atentas ao compromisso que assumiram e possam cumpri-lo, sugere a hemato-logista carmen Vergueiro, presidente da Ameo.

    A interao pblico-privada tambm tem sido crucial para garantir a confiabilidade do Redome. A promoo de campanhas de comunicao para o pblico interno de grandes empresas - com pales-tras de profissionais, produo e distribuio de ma-terial informativo - estimula o cadastro de profissio-nais bem informados e comprometidos. entre 2005 e 2008, as campanhas promovidas pela mineradora ArcelorMittal estimularam o cadastro de 45 mil vo-luntrios em Minas Gerais. Tambm em 2005, a Te-lemar, atual Oi, promoveu atividades em Teresina, Fortaleza, So Lus e Manaus, conquistando 9 mil novos cadastrados.

    no Rio, tambm promoveram campanhas institui-es como Petrobras, Universidade do estado do Rio de Janeiro (Uerj), embratel e TV Globo, entre muitas outras. O esforo conjunto e permanente para aumen-tar o nmero de doadores voluntrios bem informados no Redome faz com que o ndice de indisponibilidade do Redome seja pequeno. em 2010, 12% dos volunt-rios contatados no foram encontrados. nos estados Unidos, onde se concentra o maior registro de doado-res de medula ssea do mundo, com 7,5 milhes de cadastros, este ndice chega a 70%. I

    Regulamentar as campanhas de captao de doadores uma atividade estratgica para otimizar o atendimento a pacientes com indicao para transplante de medula ssea. Luis Fernando Bouzas, coordenador do redome.

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    adOO daS MetaS de Segurana dOS pacienteS da OMS d qualidade na aSSiStncia hOSpitalar

    racionalizar para salvar vidas

    C riar mecanismos e aes que melhorem a se-gurana do paciente. com essa proposta, a Organizao Mundial da Sade (OMS) criou, em 2005, a Aliana Internacional para Segurana do Paciente e identificou seis reas de atuao, entre elas o desenvolvimento de solues para a segurana do paciente. O objetivo que hospitais de todo o mun-do adotem uma srie de protocolos a serem aplica-dos antes, durante e aps as cirurgias, reduzindo a margem de erros em medicina, tanto em relao administrao de medicamentos como no que diz respeito aos procedimentos realizados nos centros cirrgicos.

    essas seis Metas Internacionais de Segurana do Paciente so solues cuja finalidade promover melhorias especficas em reas problemticas na as-sistncia: identificar os pacientes corretamente (Meta 1); melhorar a efetividade da comunicao entre os profissionais da assistncia (Meta 2); melhorar a se-gurana de medicaes de alta vigilncia (Meta 3); assegurar cirurgias com local de interveno correto,

    procedimento cor-reto e paciente correto (Meta 4); reduzir o risco de infec-es associadas aos cuidados de sade (Meta 5); e reduzir o risco de leses ao paciente, decorrentes de quedas (Meta 6).

    estima-se que 234 milhes de cirurgias impor-tantes sejam realizados em todo o mundo a cada ano, o que corresponde a uma operao para cada 25 pessoas. Anualmente, cerca de 60 milhes de pessoas passam por tratamento cirrgico devido a leses traumticas, e 31 milhes por tratamento

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    de neoplasias. Os dados esto no relatrio de 2008 da OMS sobre segurana do paciente.

    A falta de acesso aos cuidados de elevada qua-lidade cirrgica ainda continua a ser um problema significativo em muitas partes do mundo. especialis-tas internacionais revelaram que ocorrem cerca de 195 mil mortes por ano nos estados Unidos devido a erros que poderiam ser prevenidos, principalmente aqueles referentes a erros de medicao e a eventos sentinela (ocorrncia inesperada ou risco envolvendo bitos, leses fsicas ou psicolgicas srias) ocasio-nados por falhas nas distintas fases do gerenciamen-to e uso de medicamentos.

    de acordo com edmundo Ferraz, um dos coor-denadores do programa cirurgia Segura junto Or-ganizao Pan-americana da Sade (OPAS), desde 2007 existe todo um esforo para a reduo da inci-dncia de infeco no centro cirrgico, que automa-ticamente se associa reduo da mortalidade. no Brasil, segundo ele, que tambm professor da Uni-versidade Federal de Pernambuco, tem-se observado grande adeso das instituies de sade. O Minist-rio da Sade e a OPAS tm comandado isso de perto. O Instituto nacional de cncer (IncA), por exemplo, um lugar muito bom e eficiente para mensurarmos e compararmos com os hospitais que esto fazendo isso, avalia.

    Quanto a essas metas chegarem a ser realidade nos hospitais brasileiros, o coordenador acredita que esse futuro no est muito longe. Acredito que no haja nenhum empecilho para estabelecer um progra-ma e come-lo. Imagino que isso v ser feito num grande nmero de hospitais, particularmente nos pblicos, opina, acrescentando que o processo de acreditao ser extremamente importante para que esse processo ocorra. Precisamos estar preparados para essa mudana de mentalidade. realmente ne-cessria uma mudana de comportamento, de atitu-de, de qualificao e treinamento para as metas se tornarem realidade, completa.

    Para Heleno costa Jr., coordenador de educa-o do consrcio Brasileiro de Acreditao (cBA), representante exclusivo da Joint commission Inter-national (JcI) no Brasil, a acreditao tem total im-portncia na implementao dessas diretrizes, uma vez que todo o seu escopo, no caso da metodologia da JcI, vem ao encontro das principais campanhas e iniciativas desenvolvidas com a OMS. A JcI o prin-cipal parceiro do centro colaborador de Segurana do Paciente, implantado pela OMS, para elaborar e desenvolver essas diretrizes de segurana em todos

    Existe todo um esforo para a reduo da incidncia de infeco no centro cirrgico, que automaticamente se associa reduo da mortalidade. edMUndO FeRRAz, coordenador do programa cirurgia Segura, da OPAS

    os pases-membros da organizao. Portanto, todos os padres utilizados pela JcI em seus manuais in-ternacionais tm alinhamento com essas diretrizes e so aplicveis em todos os pases onde a JcI atua, incluindo o Brasil, explica.

    no que se refere aos hospitais acreditados pelo cBA/JcI, explica costa, atravs de indicadores de monitoramento dos programas de cirurgia segura e de dados divulgados em eventos especficos da rea, a melhoria inicial observada gira em torno de 50% a 60%. esse percentual se explica pelo fato de que os hospitais no tm, antes de iniciar o proces-so de acreditao, quaisquer protocolos ou aes relacionados cirurgia segura. Quando os padres da acreditao passam a definir os requerimentos especficos, os hospitais implementam programas estruturados para garantir a cirurgia segura e, dessa forma, os ndices de conformidade tendem a crescer progressivamente, alcanando, em mdia, os percen-tuais citados acima, diz.

    Todos os anos, a Aliana Internacional para a Se-gurana do Paciente organiza programas que abran-gem sistmica e tecnicamente aspectos para melhorar a segurana dos doentes em todo o mundo. Um ele-mento central do trabalho da aliana a formulao do Global Patient Safety, cujo desafio , a cada dois anos, formular e estimular o compromisso global e aes que abranjam uma das metas de segurana do paciente. O primeiro desafio, em 2006, foi focado na infeco associada aos cuidados de sade, enquanto a cirurgia segura foi o tema escolhido para a segunda Global Patient Safety challenge, em 2008.

  • 24 Rede cnceR24 Rede cnceR

    MeTAS SeGUrANA dO PACIeNTe:

    Quando a Organizao Mundial da Sade (OMS) lanou a Aliana Internacional para a Segurana do Paciente, em 2005, identificou seis reas de atuao, entre elas o desenvolvimento de solues para a segurana do paciente. Essas seis Metas Internacionais de Segurana do Paciente so solues cuja finalidade promover melhorias especficas em reas problemticas na assistncia.

    Meta 1 - Identificar os pacientes corretamente. O objetivo evitar falhas no processo de identificao dos pacientes, que podem causar erros graves, como a administrao de medicamentos e cirurgias em pacientes errados. Recomenda-se utilizar pelo menos, duas formas de identificao do paciente, por exemplo, nome completo e conferncia da pulseira de identificao.

    Meta 2 - Melhorar a efetividade da comunicao entre profissionais da assistncia, certificando-se de que o profissional que recebeu uma ordem verbal ou telefnica tenha compreendido todas as orientaes. A finalidade diminuir erros de comunicao entre os profissionais da assistncia que possam causar danos aos pacientes.

    Meta 3 - Melhorar a segurana de medicaes de alta vigilncia (high-alert medications). A ideia que sejam adotadas prticas que garantam a utilizao correta de medicaes classificadas como de alto risco, como as solues de eletrlitos em altas concentraes para uso endovenoso.

    Meta 4 - Assegurar cirurgias com local de interveno correto, procedimento correto e paciente correto. A aplicao de um checklist antes e aps a cirurgia corrige falhas e erros previsveis, que ocorrem decorrentes de falhas na comunicao e na informao.

    Meta 5 - Reduzir o risco de infeces associadas aos cuidados de sade. A OMS estima que entre 5% e 10% dos pacientes admitidos em hospitais adquirem uma ou mais infeces. Uma estratgia simples, de baixo custo e alto impacto, o correto e permanente ato de higienizar as mos, que deve ser executado por todos os profissionais de sade.

    Meta 6 - Reduzir o risco de leses ao paciente, decorrentes de quedas. Alterao do estado mental, distrbio neurolgico, prejuzo do equilbrio, dficit sensitivo, queda anterior, urgncia urinria ou intestinal, medicamentos que alteram o sistema nervoso central, e pacientes infantis ou com idade superior a 60 anos so fatores que podem contribuir para o risco de quedas. A equipe multidisciplinar deve reconhecer as situaes de risco, colaborar na orientao dos pacientes e acompanhantes e adotar medidas para prevenir a ocorrncia de quedas. Avaliar o paciente quanto ao risco de queda e registrar no pronturio diariamente, alm de intensificar a ateno aos pacientes que esto em uso de sedativos, so algumas das medidas de preveno.

    CIrUrGIA SeGUrA SALVA VIdAS

    dados da OMS estimam que 7 milhes de pro-cedimentos - entre 234 milhes de cirurgias realiza-das por ano em todo o mundo - resultam em compli-caes 50% destas evitveis. Ou seja, em torno de 3,5 milhes de pessoas passam desnecessariamente por dificuldades ps-operatrias. Uma das propostas do programa Segurana do Paciente o cirurgia Se-gura Salva Vidas, cujo objetivo melhorar os ndices de segurana das cirurgias por meio da adoo de um checklist, realizado em trs etapas: antes da in-

    duo anestsica, antes do momento da inciso e antes de o paciente deixar a sala de cirurgia. A ideia que sejam corrigidas falhas e erros considerados previsveis, decorrentes de falhas na comunicao e na informao.

    O programa tem sido implementado em hospi-tais no mundo inteiro e, no Brasil, desde 2008, no Ins-tituto nacional de cncer (IncA). A primeira unidade a implementar o programa, h trs anos, foi o Hospital do cncer II, especializado no tratamento do cncer

  • em dois anos, o Hospital do cncer II conta-biliza um saldo positivo. de acordo com Mario Luiz, desde a implementao do checklist, nenhum caso de erro mdico em cirurgias foi registrado. Algumas prticas e rotinas que no se faziam antes, hoje esto sendo feitas. Adotar o checklist fundamental, por-que obriga a equipe a verificar todos os pontos que podem gerar problemas em um ato cirrgico, alerta o especialista.

    ginecolgico. dois anos depois, foi a vez do Hospital do cncer I, a mais complexa unidade do instituto, responsvel pelo tratamento de todos os tipos de cncer, exceo dos ginecolgicos e os de mama. estamos desenvolvendo o mesmo trabalho no Hos-pital do cncer III, voltado para o cncer de mama. embora a unidade ainda no tenha a certificao do processo de cirurgia segura, j aplica o mtodo em funo do tipo de operao realizado, explica Mario Luiz Ferreira, assistente da Assessoria de Gesto da Qualidade do IncA.

    Quando os padres da acreditao passam a definir os requerimentos especficos, os hospitais implementam programas estruturados para garantir a cirurgia segura. HeLenO cOSTA JR., coordenador de educao do consrcio Brasileiro de Acreditao (cBA)

    O roteiro que a OMS e cada unidade do IncA adotam atenta para pontos importantes, como identi-ficao do paciente, assinatura do consentimento de cirurgia, necessidade de administrao de antibitico antes da cirurgia, exames e pronturio disponveis na sala de cirurgia, indicao de alergia e identificao do local correto onde ser realizada a interveno.

    no Hospital do cncer I, onde o programa foi implementado em 2010, alm dos diversos meca-nismos de segurana, em razo da caracterstica do hospital, existe um diferencial na abordagem dos pa-cientes e dos nveis de prioridade. Trata-se da uni-dade mais complexa do IncA, pois integra diversas clnicas e especialidades, esclarece Jos Adalberto Oliveira, chefe da diviso cirrgica e vice-diretor do Hc I. Por conta disso, a unidade criou processos nor-matizados, que tornam acessvel para todo o hospital todas as normas e procedimentos operacionais, de-terminando como cada atividade deve ser realizada. na rea de segurana do paciente, h vrias etapas: identificao, administrao de medicamentos, con-trole de cirurgias seguras, etapa de comunicao, pesquisa e controle dos eventos adversos e eventuais

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    falhas, detalha. existem vrias comisses de con-trole - comisso de pronturio, de bito, de tica, de pesquisa. ento, o acervo de controle de qualidade e segurana muito grande, informa Jos Adalberto.

    Alm do programa cirurgia Segura Salva Vidas, as unidades do IncA utilizam outras aes preconiza-das pela OMS para garantir a segurana do paciente. Um exemplo o controle dos medicamentos, que co-mea na prescrio, passa pela diviso de Farmcia, at chegar enfermaria, que verifica se o que est sendo dispensado corresponde ao que foi prescrito. Outro cuidado diz respeito administrao da me-dicao, para garantir a aplicao do medicamento adequado, no paciente correto e na hora certa.

    Quanto mais atentos estivermos para essa rea-lidade de controle e cuidado, menor ser a chance de erros e de complicaes, observa Jos Adalberto. desde que o programa foi implementado, a gerncia de risco da instituio vem observando aumento no ndice de segurana do paciente. estamos infinita-mente abaixo dos ndices externos de complicao e dentro do que a literatura mundial estabelece como plausvel, completa o vice-diretor do Hc I.

    no Hospital Israelita Albert einstein, em So Paulo, a adoo do checklist em 2010 vem resultan-do numa importante reduo do uso indiscriminado de antibiticos. eu diria que diminuiu mais do que 50% o uso de antibiticos por mais de 24 horas. no checklist, existe um compromisso de suspender o an-

    tibitico com 24 horas, quando uma cirurgia limpa, evitando que se crie resistncia, afirma Antonio Luiz de Vasconcelos Macedo, presidente do conselho de Oncologia do hospital.

    nas cirurgias oncolgicas realizadas no hospital paulista, um dos protocolos adotados com a implan-tao do programa cirurgia Segura Salva Vidas o de deixar disponveis todos os exames de imagem dos pacientes durante o procedimento, para serem utilizados como guia pelos mdicos. essas informa-es so preciosas: funcionam como um GPS, que pode garantir a remoo completa do tumor sem a remoo desnecessria de tecidos sadios, descre-ve Macedo. Muitas vezes, um radiologista integra a equipe cirrgica, para realizar uma ultrassonografia durante a cirurgia e estudar a relao do tumor com os vasos sanguneos, bem como a sua extenso e se h alguma invaso no detectada, exemplifica.

    com esses cuidados, as cirurgias se tornaram mais rpidas, reduzindo o tempo anestsico e, con-sequentemente, o perodo de internao na UTI. A rea oncolgica crtica, por se tratar de uma cirurgia muito delicada e perigosa, aponta Macedo. com a reduao do tempo cirrgico e do sangramento intrao-peratrio, que j mapeado por exames antes da ci-rurgia, o resultado uma cirurgia mais bem dirigida e mais segura. O resultado tem sido to satisfatrio que o Hospital Israelita Albert einstein tem como meta co-locar na sala cirrgica aparelhos para a realizao de

    Na rea de segurana do paciente, h vrias etapas: identificao, administrao de medicamentos, controle de cirurgias seguras, etapa de comunicao, pesquisa e controle dos eventos adversos e eventuais falhas. MARIO LUIz FeRReIRA, assistente da Assessoria de Gesto da Qualidade do IncA.

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    exames de ressonncia magntica, tomografia e ul-trassonografia. A ideia que, logo aps a retirada do tumor, seja feito um ultrassom para verificar se sobrou algum resduo do tecido canceroso ou se, durante o procedimento, houve dano que precise ser corrigido.

    Wilson Pollara, do Instituto do cncer do estado de So Paulo, onde o programa de cirurgia segura foi implementado h um ano, conta que, alm de adotar as recomendaes paciente certo, cirurgia certa e equipe certa, foram criadas pequenas particularida-des, como o quadro de avisos dentro da sala de cirur-gia, enumerando o nome do paciente e do cirurgio, o procedimento a ser realizado e as alergias do pa-ciente, como mais uma forma de auxiliar a realizao do checklist. de maneira geral, o programa muito semelhante ao que a OMS preconiza. essas medidas so essenciais, sobretudo em hospitais de cncer, onde h retirada de rgos, e em hospitais pblicos, onde o movimento intenso de pacientes propicia o erro, considera Pollara.

    desde 2008, o IncA j realizou quatro fruns sobre segurana do paciente, promovidos pelo n-cleo de desenvolvimento Tecnolgico e Teraputi-co do Hospital do cncer I. Os resultados dessas discusses vm produzindo aes positivas, como a reflexo sobre a questo do erro mdico, assim como na identificao e comunicao dos eventos. esses fruns se desdobram para dentro do IncA, por meio de comisses de controle. e quando os

    eventos so identificados e comunicados, desenvol-vemos uma trajetria para apurar o evento, explica Jos Adalberto.

    Os fruns abordam tambm outros aspectos, como a segurana do paciente, e acabam sendo espaos de reflexo e levantamento literrio e de ex-perincias compartilhadas com outras instituies, j que ali so apresentadas nossa realidade e as obser-vaes das realidades de outras instituies, diz o mdico.

    como tudo o que novo, a maior barreira nas instituies ainda tem sido sensibilizar as equipes a adotarem os protocolos. Ainda mais quando as pes-soas acham que burocracia, exagero, avalia Mario Luiz. Para garantir o sucesso do programa no IncA, foi distribudo folheto educativo e informativo sobre as metas internacionais, seguido de um trabalho dirio dentro dos centros cirrgicos.

    MINISTrIO dA SAde CrIA CeNTrO de COMUNICAO e INFOrMAO

    com o objetivo de aprimorar as prticas de sa-de e aperfeioar o cuidado ao paciente, o centro co-laborador do Ministrio da Sade para a Qualidade do cuidado e a Segurana do Paciente (Pr-Qualis) investiu em informao e comunicao. com essa es-tratgia, liderada pelo Instituto de comunicao e In-formao cientfica e Tecnolgica (Icict), da Fiocruz, a iniciativa visa facilitar o acesso de gestores, profis-sionais, pacientes e de todos os cidados brasileiros ao conhecimento cientfico e s novas tecnologias na rea da sade.

    desenvolvido em parceria com a Biblioteca Re-gional de Medicina da Organizao Pan-americana de Sade (Bireme/Opas), o portal est disponvel desde julho de 2009 e, a partir deste ano, dever conduzir o aperfeioamento tecnolgico, a manuteno e a ges-to da ferramenta.

    Segundo a coordenadora geral do Pr-Qualis, a pesquisadora cludia Travassos, disponibilizar infor-mao qualificada e atualizada para todos os envolvi-dos na dinmica de cuidado ao paciente fundamen-tal para a melhoria da qualidade da ateno sade. Para ela, alm de subsidiar a atuao dos profissio-nais por meio de informao cientfica relevante, a iniciativa contribui para a formulao de polticas p-blicas mais bem estruturadas e para o aprimoramento da gerncia de risco em unidades de sade.

  • A seleo de experincias que deram certo e a possibilidade de divulg-las para gestores e profissio-nais de sade outra ao estratgica que contribui para aperfeioar o cuidado. preciso disponibilizar o conhecimento cientfico para que ele seja adotado na prtica pelos servios de sade, garantindo qua-lidade e segurana ao manejo do paciente, avalia o coordenador executivo do portal Pr-Qualis, o mdi-co Victor Grabois.

    Para o coordenador adjunto do Pr-Qualis, o mdico Jos noronha, a iniciativa est alinhada misso institucional do IcIcT. O programa trata essencialmente da identificao, organizao e dis-seminao de informaes em sade, por meio de modernas tecnologias da informao e da comunica-o, ressalta.

    O portal Pr-Qualis est organizado em duas grandes reas: os subportais Informao clnica e Se-gurana do Paciente. O primeiro, gerido em parceria com o centro de cincias da Sade da UFRJ, aborda diretrizes clnicas pautadas por evidncias cientficas

    que orientam profissionais de sade sobre como promover o cuidado ao paciente. O subportal Segu-rana do Paciente coordenado pela escola nacio-nal de Sade Pblica Sergio Arouca (ensp/Fiocruz) e rene informaes sobre prticas seguras e m-todos para a capacitao de equipes, direcionadas para profissionais de sade e gestores de hospitais. As informaes esto organizadas em trs eixos te-mticos: Iniciativas Globais, experincias Brasileiras e Medicamentos, que versa sobre a segurana no manejo de drogas.

    Para viabilizar a divulgao de informaes re-levantes nas diferentes reas do conhecimento que compem o campo da Sade coletiva, o portal Pr-Qualis investe em um sistema de produo colabora-tiva de contedo. cada seo temtica coordenada por um especialista, que recebe, avalia e seleciona o material a ser publicado. Participam da iniciativa a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Ins-tituto do corao (Incor), o Hospital Israelita Albert einstein, o Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade de So Paulo (USP), o Hospital Sama-ritano, o Hospital da Fora Area do Galeo (HFAG) e o Hospital Municipal dr. Moyss deutsch.

    O Pr-Qualis tambm disponibiliza artigos, dire-trizes clnicas, protocolos, manuais, aulas, vdeos, no-tcias e outros materiais informativos relevantes para o pblico atravs do endereo www.proqualis.net. essa seria uma forma de apoio do Brasil Iniciativa Global para a Segurana do Paciente, protagonizada pela OMS, favorecendo a avaliao da qualidade do cuidado no Sistema nico de Sade (SUS). I

    Quanto mais atentos estivermos para essa realidade de controle e cuidado, menor ser a chance de erros e de complicaes. JOS AdALBeRTO OLIVeIRA, vice-diretor do Hc I

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    14th World Congress of Cervical Pathology and Colposcopy - IFCPC

    quarta-feira, 2 de mar o de 2011 09:08:17

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    Um cncer chamado linfoma

    assistnciapOucO cOnhecida nO braSil, dOena teM elevadaS chanceS de cura, cOM diagnSticO precOce e trataMentO adequadO

    Os linfomas so um grupo de doenas pouco conhecidas, com causas e fatores de risco ainda indefinidos. em 2009, atingiram quase 12 mil brasi-leiros e so responsveis pela morte de 3 mil pes-soas por ano no pas, segundo o Instituto nacional de cncer (IncA). esse um tipo de tumor maligno e tem origem em gnglios do sistema linftico, um importante componente do sistema imunolgico envolvido na produo de clulas de defesa, cha-madas linfcitos. determinadas alteraes genti-cas provocadas por motivos ainda desconhecidos podem gerar a reproduo desordenada desses linfcitos, levando ocorrncia de linfomas. Apesar do tratamento eficaz, a doena a quinta causa de morte por cncer no mundo.

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    O crescimento da incidncia de linfomas na populao mundial alerta para a importncia do diagnstico precoce que aumenta as chances de cura e confere maior sobrevida e melhor qualida-de de vida aos pacientes. Os linfomas so classi-ficados em dois grupos principais: de Hodgkin e no-Hodgkin. O primeiro, mais comum em pessoas entre 15 e 40 anos, afeta clulas do sistema imu-nolgico responsveis por defender o organismo de infeces por bactrias, vrus, fungos e outros agentes patognicos.

    O linfoma de Hodgkin surge quando um linf-cito sofre uma alterao em seu dnA, transforman-do-se em uma clula maligna, capaz de crescer descontroladamente e disseminar-se para tecidos

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    prximos, podendo atingir outras partes do corpo. Os linfomas no-Hodgkin incluem mais de 40 for-mas da doena e vm-se tornando cada vez mais comuns em pessoas com mais de 60 anos, por mo-tivos ainda no esclarecidos. Podem ser indolentes (de baixo grau de agressividade) ou agressivos e de crescimento rpido.

    O hematologista Guilherme Perine, do Hospi-tal Israelita Albert einstein, explica que os sintomas so basicamente os mesmos para todos os tipos da doena: aumento dos gnglios, que podem estar lo-calizados no pescoo, virilha, axilas, pelve, abdome e trax; perda de peso; febre e sudorese noturnas. A diferenciao dos tipos de linfoma, fundamental para a prescrio adequada do tratamento, feita por bipsia e por anlise de amostras de tecido.

    O hematologista alerta que no h medidas para prevenir a ocorrncia de linfomas, alm da ma-nuteno de hbitos de vida saudveis, pois ainda no foram estabelecidos fatores de risco associa-dos ao desenvolvimento da doena. O diagnsti-co precoce essencial para garantir o sucesso do tratamento. Por isso, ao apresentar contnuo cres-cimento de gnglios, por um perodo superior a 20 dias, recomendvel procurar orientao mdica, sinaliza Perine.

    nos ltimos anos, os linfomas tornaram-se mais conhecidos pela populao, devido a perso-nalidades que tornaram pblico o enfrentamento

    da doena, como a presidente dilma Rousseff e a autora de novelas Glria Perez. no entanto, pes-quisa do Instituto dataFolha divulgada em 2009 re-vela que metade dos brasileiros nunca teve aces-so a informaes sobre a doena e que 71% das pessoas que j ouviram falar sobre linfomas no conhecem os seus sintomas. A conscientizao da populao sobre o tema um dos objetivos da Associao Brasileira de Leucemia e Linfoma (Abrale), que promove a campanha Se Toca, no dia Mundial de conscientizao sobre Linfomas, 15 de setembro. A edio de 2010 foi protagoni-zada pela atriz drica Moraes, vtima de leucemia, com o slogan Se toca. Quanto antes voc desco-brir, melhor. A iniciativa informa os sintomas da doena e esclarece a importncia do diagnstico precoce e as formas de tratamento.

    Perine informa que trs tipos de terapia po-dem ser administrados no tratamento de linfomas. A quimioterapia a primeira linha de tratamento, indicada a quase todos os pacientes. dependen-do do estadiamento da doena, os linfomas de Hodgkin tratados com quimioterapia podem atin-gir at 90% de chances de cura, esclarece o es-pecialista. Perine ressalta que outros tipos da do-ena, com caracterstica celular especfica, podem ser tratados com uma nova droga - um anticorpo monoclonal que, associado quimioterapia, mul-tiplica as chances de cura. A terceira modalida-de teraputica, indicada a pacientes que voltam a apresentar a doena aps um longo perodo, o transplante autlogo de medula ssea, feito com clulas do prprio paciente.

    O promissor tratamento com o novo medi-camento tem gerado polmica na sade pblica brasileira. At o ano passado, a droga no estava disponvel no Sistema nico de Sade (SUS) e o acesso ao medicamento era restrito aos pacien-tes da rede suplementar de sade. em agosto de 2010, o Ministrio da Sade aprovou a incluso de nove novos procedimentos e medicamentos para a ateno oncolgica no SUS, incluindo o rituximab. Atuante no controle social de polticas pblicas que envolvem o controle e o tratamento dos linfo-mas, a Abrale participou da reivindicao por essa medida e desenvolve um trabalho de advocacy, promovendo a defesa da causa nas instncias go-vernamentais competentes.

    A advogada Sylvie Boechat, gerente de apoio ao paciente e defesa de polticas pblicas da Abra-le, conta que a entidade protagoniza a elaborao de documentos e abaixo-assinados da sociedade

    O diagnstico precoce essencial para garantir o sucesso do tratamento. Por isso, ao apresentar crescimento contnuo de gnglios, por um perodo superior a 20 dias, recomendvel procurar orientao mdica Guilherme Perine, hematologista.

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    civil para a disponibilizao de medicamentos e pro-cedimentos de alta complexidade no SUS. O acesso ao tratamento dos linfomas prejudicado pelo alto custo dos medicamentos, muitas vezes disponveis somente na rede privada de sade. Orientamos os pacientes a buscarem na Justia o direito vida e sade, garantidos pela constituio Federal. As aes judiciais geralmente so favorveis ao paciente e possibilitam o tratamento, defende Sylvie.

    A advogada reconhece que a recente inclu-so de novos procedimentos e medicamentos no SUS significa um avano importante na rea, mas destaca que muito ainda precisa ser feito. Agora, o medicamento liberado na rede pblica somente para pessoas com um determinado tipo de linfoma. Outros pacientes ainda precisam recorrer Justia ou rede privada de sade para receber o melhor tratamento, expe Sylvie.i

    O SISTeMA LINFTICOO sistema linftico faz parte da defesa natural do organismo contra infeces. composto por in-meros gnglios linfticos, conectados entre si pe-los vasos linfticos.

    GNGLIOS LINFTICOSSo glndulas do tamanho de um gro de feijo, que podem ser encontradas em todo o corpo. Os gnglios linfticos funcionam como filtros, retirando da circulao restos de clulas que passam por eles. localizao: os gnglios linfticos acumulam-se em reas como pescoo, axilas, peito, ab-dome e virilha. Internamente, so encontrados, sobretudo, no trax e abdome. As amgdalas, o fgado e o bao tambm fazem parte do sistema linftico.

    LINFCITOS So tipos de glbulo branco. Acumulam-se nos gnglios linfticos.

    VASOS LINFTICOS conectam os gnglios. contm linfa, um fluido claro que circula pelo corpo e transporta as clu-las chamadas linfcitos.Se, por exemplo, voc tem dor de garganta, pode-r notar que os gnglios do seu pescoo podero estar aumentados. Isso um sinal de que seu or-ganismo est combatendo a infeco.

    LINFOMAS Por motivos ainda desconhecidos, em algum mo-mento os linfcitos comeam a multiplicar-se e a crescer de forma desordenada, dando origem a um tipo de cncer denominado linfo-ma. Podem espalhar-se por meio do sistema linftico para muitas reas do organismo e circular no sangue.

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    rede

    CONHeCer PArA eNFreNTAr

    Ocncer uma doena multifatorial, com cen-tenas de formas de apresentao clnica e muitas pe-culiaridades. entender como diferentes tipos de cn-cer se comportam em cenrios distintos crucial para o planejamento de polticas e aes para o enfrenta-mento da doena. em um pas to grande e diver-so como o Brasil, esse desafio se torna ainda maior. Para super-lo, preciso conhecer o perfil do cncer na populao, em cada regio geogrfica. esse o trabalho dos Registros de cncer de Base Populacio-nal (RcBPs), coordenados pelo Instituto nacional de cncer (IncA), que h 20 anos investigam a ocorrn-cia de novos casos da doena para compor um mapa da incidncia de cncer no Brasil.

    diferentemente das doenas de notificao compulsria, como a dengue, cuja ocorrncia in-formada obrigatoriamente para as secretarias esta-duais ou municipais, as informaes sobre novos casos de cncer esto dispersas. O paciente pode ser atendido no consultrio de um dermatologista, fazer uma biopsia que identifique um cncer de pele em estgio inicial e ser tratado ali mesmo. Um outro

    MapeaMentO da incidncia de cncer nO braSil SubSidia aeS de vigilncia, prevenO e cOntrOle da dOena nO paS

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    tipo de tumor em estgio avanado poder ser regis-trado numa clnica ou atravs de um exame labora-torial, como o citopatolgico do colo do tero (papa-nicolaou) ou de sangue oculto nas fezes (sintoma de um possvel cncer de intestino).

    como h muitos tipos de tumor, com formas de identificao diversas, os profissionais dos Re-gistros de cncer precisam buscar as notificaes dos casos e verificar cada informao para no ha-ver duplicidade de registro. A partir do cadastro de estabelecimentos de sade de cada municpio, so investigados hospitais especializados, clnicas, labo-ratrios, casas de apoio e asilos. Tambm so fontes de dados outros Sistemas de Informao do Minist-rio da Sade, como o Registro Hospitalar de cncer (RHc) e os Sistemas de Informao de Mortalidade (SIM), do cncer do colo do tero (Siscolo) e do cncer de Mama (Sismama).

    Os Registros de cncer de Base Populacional (RcBPs) operam como uma rede e esto localiza-dos nas principais capitais do pas. So centros sis-tematizados de coleta, armazenamento e anlise da ocorrncia e das caractersticas de novos casos de cncer em uma determinada rea de cobertura. A consolidao dessas informaes produz um retrato bastante fiel do perfil epidemiolgico da doena no pas, como mostra o quarto volume da srie cncer no Brasil: dados dos Registros de Base Populacional, publicado em novembro de 2010. A publicao apre-senta informaes de 17 registros, referentes ao per-odo de 2000 a 2005, que permitem avaliar o impacto de aes desenvolvidas na ltima dcada e propor novas estratgias de enfrentamento do cncer.

    A supervisora de programas de controle de cncer da diviso de Informao da coordenao

    de Preveno e Vigilncia (conprev), do IncA, a es-tatstica Marceli Santos, explica que a presena dos RcBPs, pelo menos nas principais capitais, estra-tgica para mapear e compreender as disparidades da doena no pas. O perfil do cncer totalmente diferente em cada regio do Brasil. A atitude de um gestor de sade do norte no pode ser a mesma de um gestor de sade do Sul, explica. no norte, os principais desafios so os tumores do colo do tero e do estmago; no Sul, as prioridades so os cnceres de mama e de pulmo, observa.

    Alm de subsidiar a elaborao de novas pol-ticas pblicas de sade, as informaes dos RcBPs so importantes para a avaliao de aes desenvol-vidas no passado. entre as informaes da ltima pu-blicao, Marceli destaca o resultado das aes para preveno do cncer do colo do tero. nas locali-dades onde as aes para preveno do cncer de colo do tero foram implementadas h mais tempo, j possvel perceber o aumento de casos de cn-cer do colo do tero in situ, isto , diagnosticados em fase inicial, e uma tendncia reduo do ndice de tumores invasivos, destaca. essa conquista resul-tado do Programa nacional de controle de cncer do colo do tero, afirma Marceli. O programa comeou como projeto piloto em 1997 e foi intensificado em campanhas realizadas nos anos de 1998 e 2002.

    em Fortaleza, a srie histrica compilada desde a dcada de 1990 tambm aponta correlao entre a incidncia de cncer do colo do tero e o desen-volvimento de aes de preveno. Para a mdica Miren Uribe, coordenadora do RcBP de Fortaleza, as informaes de fato sugerem o impacto positivo do Programa Viva Mulher. At 2001, foi verificado o aumento dos carcinomas in situ e a reduo de tumo-res invasivos o que pode estar associado ao maior nmero de diagnsticos precoces, analisa. A partir de 2002, os dois tipos apresentam tendncia redu-o. A pesquisadora teme que a queda no registro de casos em estdio inicial resulte na identificao tardia de tumores avanados nos prximos anos.

    As informaes apontadas pelos RcBPs refor-am as recomendaes do Plano de Ao para Redu-o da Incidncia e Mortalidade por cncer do colo do tero, lanado em novembro de 2010. As informa-es apontam a necessidade de intensificar aes de preveno na Regio norte, onde o cncer do colo do tero a principal causa de morte por cncer entre as mulheres, afirma cludio noronha, coordenador ge-ral de Aes estratgicas do IncA. O plano tem como meta reduzir em 70% a incidncia de cncer do colo do tero naquela regio nos prximos dez anos.

    As informaes reforam a necessidade de intensificar aes de preveno na Regio Norte, onde o cncer do colo do tero a principal causa de morte por cncer entre as mulheres. cLAUdIO nOROnHA, coordenador-geral de Aes estratgicas.

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    Os registros brasileiros seguem padro interna-cional, definido pela Agncia Internacional para Pes-quisa em cncer (IARc, na sigla em ingls), ligada Organizao Mundial da Sade (OMS). A publicao mais recente da IARc, intitulada A Incidncia de Cn-cer nos Cinco Continentes - cI5, vol. IX, referente ao perodo 1998-2002, informa Marceli dos Santos. essa defasagem de tempo na divulgao das informaes dos Registros no compromete o olhar so-bre a epidemiologia do cncer no Brasil. O cncer uma doena crnica e sem perfil de epidemia. muito provvel que as taxas registradas h cinco anos sejam bem prximas do quadro atual. O mais importante observar as sries tempo-rais de novos casos, para desenvolver estudos de tendncias, esclarece a supervisora.

    Os Registros de cncer de Base Populacional tambm so peas-chave para o clculo da es-timativa da Incidncia de cncer - previso do nmero de novos casos da doena na populao, em um determinado perodo de tempo. A estimativa oferece uma informao pontual para planeja-mento de gesto em um perodo especfico. com os RcBPs, tem-se acesso ao histrico e s tendncias da incidncia de cncer no pas. So informaes complementares, essenciais para o enfrentamento estratgico do cncer, contextualiza Marceli.

    POr deNTrO dOS rCBPs

    Os Registros Hospitalares de cncer - que atu-am nas unidades hospitalares e coletam informaes detalhadas dos pacientes com diagnstico confirmado de cncer - so o pilar para os Registros de cncer de Base Populacional. como os sistemas dos dois regis-tros so desenvolvidos pelo IncA, h compatibilidade entre as tecnologias utilizadas, para que seja possvel exportar informaes dos registros hospitalares para os de base populacional. essa dinmica otimiza o tra-balho dos registradores e acelera a compilao das informaes, conferindo mais atualidade a elas, afir-ma Marceli. A especialista informa que o sistema est em fase de migrao para uma plataforma web, que aprimorar a interface entre os diversos sistemas de informao do Ministrio da Sade.

    Alm de desenvolver e disponibilizar os sistemas de informao, o IncA responsvel por elaborar e distribuir manuais tcnicos, traduzir material didtico da IARc, promover o treinamento anual de registra-dores e capacitaes descentralizadas, a partir da de-manda das secretarias de sade. O principal desafio ao funcionamento dos RcBPs no Brasil e na Amri-ca Latina a continuidade do trabalho, interrompido muitas vezes por falta de recursos e de profissionais

    especializados. Hoje, o Brasil tem 31 RcBPs em diferentes condi-es de funcionamento, sendo

    dois inativos e outros dois em fase de implantao.

    Reconhecendo a impor-tncia da iniciativa, desde 2005 o

    Ministrio da Sade garante o re-passe de recursos para os RcBPs, por meio de portarias renovadas

    anualmente. no fim de 2010, a pu-blicao da portaria n 3.662 desti-

    nou