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.SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL – PDE

PROJETO DE PESQUISA – PROFESSORA PDE – TURMA 2010

A PROCURA DA POESIA: NA ESCOLA E NA VIDA

Professora PDE: PEREIRA, Maria Lúcia Kleinhans1

Professora Orientadora IES: OLIVEIRA, Valdeci Batista de Melo2

RESUMO:

O presente trabalho teve por objetivo estimular a apreciação da poesia lírica no

contexto da escola e da vida cotidiana, porque sabemos que a lírica é fiel

companheira das pessoas no enfrentamento e resolução de problemas e de mazelas

que a vida comum impõe a todos os humanos pela própria condição humana. Essa

proposição implica em cultivar a prática de leitura e de escrita de poemas no

ambiente escolar e familiar. As atividades tiveram por interlocutores/as alunos/as do

ensino médio e seus familiares. Trabalhamos com eles/elas um rol de poemas

selecionados de maneira a garantir a experiência estética decorrentes dos

fenômenos aisthesis, poiesis e katharsis (CAVALCANTE S/D), ou seja: fazer com

que o/a aluno/a apreciador/a da poesia possa sentir prazer de se sentir co-autor/a

da obra; possa renovar e ampliar a sua percepção do mundo e de si e descarregar

suas tensões, medos e frustrações em obras poéticas.

1 Professor PDE: Maria Lúcia Kleinhans Pereira, professora especialista em ensino de língua portuguesa – SEED/ Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone de Cascavel; Poeta. 2 Professora Orientadora IES-UNIOESTE: Valdeci Batista de Melo Oliveira, professora doutora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.

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PALAVRAS-CHAVE:

Poesia lírica; leitura; escritura; experiência estética

ABSTRACT

The present work aimed to stimulate an appreciation of poetry in the context of

school and everyday life, because we know that the lyric is the faithful companion of

people in tackling and solving problems and ills that the common life imposes to all

humans by their own human condition. This proposition implies to cultivate the

practice of reading and writing poems in the school and habitual environment. The

activities were by speakers / the students / the school and their relatives. We work

with them a list of selected poems in order to guarantee the esthetic experience of

the phenomena deriving aisthesis poiesis e katharsis (CAVALCANTE S/D), it means:

to get that the student lover of poetry, might feel pleasure to understand himself like

co-author of the work, may renew and broaden their perception of the world and

himself and vent their tension, fears and frustrations in poetry poems..

Key words: Liric Poetry, reading, writing, esthetic experience

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I. INTRODUÇÃO

Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma

tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta,

pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?

(Carlos Drummond de Andrade)

Este artigo é resultante do trabalho e da vivência de uma professora de Língua

Portuguesa que é ao mesmo tempo poeta. Assim ele implica em uma reflexão

mesclada por esta dupla experiência, a começar pela percepção de que a poesia

lírica é capaz de desenvolver pensamentos e emoções sui generis, dificilmente

vividas e pensadas de outro modo. Acrescente-se que, além de vivê-las e pensá-

las, a poeta professora acredita poder transmiti-las as outras pessoas organizando-

as em poemas. A respeito da poesia lírica podemos dizer que desde Aristóteles,

passando por Hegel, Benedetto Croce, Theodor Adorno e tantos outros pensadores,

que se debruçaram sobre o ser da poesia lírica, o mais humilde poema, quando

imbuído de humanidade é poesia.

Segundo D’Onofrio (1995), a poesia é vista como a excelência da recordação,

que em sentido lato significa relembrar com o coração. A potência da poesia neste

aspecto é o recordar do que não fomos e poderíamos ter sido ou ainda poderíamos

ser, recordar os nossos momentos de maior felicidade, angústia e os travamentos,

numa auto compreensão dos entraves que nos impediram de desenvolver as mais

líricas de nossas potencialidades. O ser e o fazer da poesia lírica se organiza num

tempo de estrutura circular em incessantes voltas de indagação e questionamentos

nos refolhos dos nossos afetos e da nossa imaginação. Contrária aos nexos causais

e lineares a poesia lírica nunca se organiza por estes caminhos, tais quais outros

gêneros literários se organizam. Nesse sentido a poesia lírica é em tudo contrária ao

―agir-racional-com respeito-a-fins” que são próprios da dominação legitimada pela

hegemonia capitalista em sua crescente administração das vidas pública e privadas

de todos nós.

É próprio da lírica evocar uma teleologia perdida da emancipação humana e do

desenvolvimento pessoal, evocar os resquícios, os fantasmas das felicidades

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perdidas e almejadas; das tão almejadas autonomia e liberdade, das metas, sonhos

e caminhos que deixamos para trás ou fomos forçados a fazê-lo. Longe das

pressões do cotidiano a poesia lírica se instala em outras coordenadas, nas

palavras de Salvatore D’Onofrio,

Na emaranhada teia na qual se constroem e consomem os afetos, o início se instala num passado permanentemente reencenado no presente. O sentimento que atravessa a lírica, dilacerado, espraia-se por cada palavra disseminando a emoção poética que, posicionando o texto para além da rotina emaranhada dos dias e noites, instala-a numa temporalidade outra, apartada do cotidiano macerante.(1995, p. 48)

Afirmamos também que urge fazer da poesia um instrumento de reflexão nas

atividades pedagógicas em sala de aula, as quais em sua grande maioria

apresentam o poema como ponto de partida para desenvolver outra atividade que

não o desenvolvimento de competências voltadas para o exercício de transformar

emoções em palavras, mais precisamente em poemas líricos, o recorte deste

trabalho trata justamente de enfatizar que o humano entregue-se ao lírico

emaranhando-se entre palavras e emoções orientado muito mais por seu

conhecimento de mundo do que por organizações científicas de qualquer natureza.

Octavio Paz, em O Arco e a Lira (1982) afirma que

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia, e pelo desespero. (1982, p.15)

A belíssima proposição de Octavio Paz, assim como a de tantos outros

poetas, filósofos e teóricos demonstra o quanto a poesia pode contribuir para que as

nossas condições de intérpretes ou compositores de obras poéticas ampliem nossas

condições s de possibilidades e nos permitem conviver com as emoções advindas

das palavras e também corroborem para o desenvolvimento das potencialidades

líricas e/ou poéticas que de outra forma poderiam permanecer embotadas. A citação

também é um atestado cabal de que a poesia pode oferecer outro olhar sobre um

mesmo mundo aos alunos/alunas da Educação Básica. Este outro olhar deve conter

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uma ―estranheza3" para um mundo, em que tudo se tornou natural. Esta árdua

tarefa não deve ser delegada apenas à poesia, à Língua Portuguesa, Literatura ou

às aulas de Leitura quando elas existam, essa atividade é tarefa de toda a

educação, portanto de toda escola que mereça este nome.

Entretanto é necessário que a leitura de obras poéticas seja uma atividade

instigante, orientada para tirar o leitor de sua condição passiva e fazê-lo estranhar o

―mundo administrado‖4 e, em seguida refletir sobre a realidade até então

pacificamente aceita como normal ou natural. No mundo administrado a

naturalização da barbárie acontece com a conivência das próprias pessoas

mutiladas em sua possibilidade de construir uma significação, diferente dos sentidos

impostos, permitidos e estimulados por este mundo. Nele aceitamos a condição de

expectadores e consumidores até pelo fato de a lógica utilitária nos acenar com

aparentes vantagens, ainda que momentâneas. Adorno ( 1994) afirma que

as condutas e hábitos em que são prescritas – assim como as pessoas que nelas se espelham – são produtos de um sistema de vida mais amplo, que não é aceito sem resistência interior, exigindo o emprego mais ou menos consciente da vontade para se transformarem em comportamento. (1994, p.96)

Quanto ao proposto em relação a escrever poemas, foi considerado que

deveria se tratar de um exercício dinâmico que envolvesse apropriar-se da condição

de usar a diversificação e os princípios básicos de domínio da língua materna, suas

variantes linguísticas, suas articulações que oportunizam o desenvolvimento da

3 Em arte e em literatura o termo estranhamento significa distanciamento com a finalidade de

propiciar novas percepções que possam promover mudanças através da reflexão artística. Por meio do estranhamento o leitor desconstrói e confronta sua pseudo concreticidade movimentando e chacoalhando sua zona de conforto e promovendo a fruição estética no sentido de pertencimento à obra. Segundo o formalista russo Chklovsky ( 1971) ―a finalidade da arte é dar uma sensação do objeto como visão e não como reconhecimento; o processo da arte é o processo de singularizarão [ostranenie] dos objetos e o processo que consiste em obscurecer a forma, em aumentar a dificuldade e a duração da percepção. O ato de percepção nem arte é um fim em si e deve ser prolongado; a arte é um meio de sentir o devir do objeto, aquilo que já se ―tornou‖ não interessa mais a arte. p.82.

4 Na obra Dialética do Esclarecimento, Adorno utiliza a expressão "mundo administrado" para dar

conta da realidade do mundo burocrático, mercantil, competitivo que nos rodeia. Adorno fala da sociedade capitalista que amplia cada vez mais o processo de mercantilização e burocratização das relações sociais, bem como da competição em todas as esferas sociais, produzindo uma sociabilidade e mentalidade adequadas e reprodutoras deste processo. Segundo Adorno a sociedade repressiva produz uma mais-repressão, que tende a desencadear energias destrutivas.

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criatividade e da confiança para escrever. Respeitando de cada possível escritor/a,

seu relacionamento e capacidade de interpretação do mundo e das sutilezas

possíveis com o uso das palavras, para com elas comporem textos poéticos, em que

o lirismo fosse a ponte entre o dizer e o sentir. Antonio Cândido (1986) em seu artigo

Direitos Humanos e Literatura afirma:

Mas as palavras organizadas são mais do que a presença de um código: elas comunicam sempre alguma coisa, que nos toca porque obedecem a certa ordem. Quando recebemos o impacto de uma obra literária, oral ou escrita, ele é devido à fusão inextricável da mensagem com a sua organização. Quando digo que um texto me impressiona, quero dizer que ele impressiona porque a sua possibilidade de impressionar foi determinada pela ordenação recebida de quem o produziu. Em palavras usuais, o conteúdo só atua por causa da forma, e a forma traz em si, virtualmente, uma capacidade de humanizar devido à coerência mental que pressupõe e que sugere. O caos originário, isto é, o material bruto a partir do qual o produtor escolheu uma forma, se torna ordem; por isso o meu caos interior também se ordena e a mensagem pode atuar. Toda obra literária pressupõe esta superação do caos, determinada por um arranjo especial das palavras e fazendo uma proposta de sentido.(CANDIDO, 1986, p.54)

Organizar o nosso caos interior é a tarefa maior da Literatura e entre os

gêneros literários a poesia lírica é a forma estética que melhor cumpre essa função

visada, mesmo porque a poesia é plasmada pela organização formal de versos,

sons, ritmos, rimas, imagens e afetos, elementos que reunidos formam o poema que

é a forma estética de onde brota a poesia.Sabemos que depois da publicação da

obra As Flores do Mal (1857) de Charles Baudelaire, o poeta se tornou o proscrito, o

maldito que vive a arrosta, a sensaboria burguesa e que fazer poesia dentro deste

enquadramento está cada vez mais difícil e raro, mesmo assim a empreitada vale a

pena para aqueles que ousam percorrer uma terceira margem.

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II. JUSTIFICATIVA E PROBLEMATIZAÇÃO

Realmente, vivemos tempos sombrios! A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas denota insensibilidade. Aquele que ri ainda não recebeu a terrível notícia que está para chegar. Que tempos são estes, em que é quase um delito falar de coisas inocentes, pois implica em silenciar sobre tantos horrores. (Bertolt Brecht)

Na sociedade reificada, administrada pela mercadoria, e banalizada pela

indústria cultural, a poesia perde cada vez mais espaço, como se nós humanos

perdêssemos a capacidade de interagir, compartilhar e transmitir ideias, desejos,

opiniões e emoções.

Nesta sociedade urge que os educadores e educadoras se dediquem a

enriquecer o efetivo grau de inteligibilidade de seus/suas alunos/as a respeito do

mundo sociocultural que os rodeia ou, pelo menos, para reorientar a maneira de o

interrogar. Podendo haver intensificação dessa ação por parte dos/as professores/as

de Língua Materna e Literatura, sem, no entanto, que seja retido/a neles/as essa

responsabilidade tão instigante no quesito da valorização do humano.

A ideia de construção do sentido é nuclear às disciplinas em questão, todavia

é preciso mencionar que poema é obra de amplitude imensurável e pode tratar de

todas as temáticas, sendo, portanto, possível que ocupe espaços importantes em

todas e com todas as disciplinas, mudando os procedimentos didáticos que

correspondem a essa sociedade que atribui desvalia à obra poética por não

contextualizar emoção com capital.

O sentido existe somente como resultado de uma construção efetuada pelos

sujeitos "em situação". Todo o sentido é efeito duma aplicação contextual. No caso

em tela estamos a falar do sentido que emana da leitura e escrita criativa do poema

lírico

A escola é uma instituição não apenas social, mas claramente a serviço de uma sociedade. A sociedade capitalista voltada para a tecnologia e o acúmulo de bens avalia resultados quantificando a produção. Nesse cenário, a linguagem valorizada é a conceitual, que aponta com clareza para a informação. As comunicações interpessoais ficam restritas a trocas de um capital técnico e científico acumulado, bem como à transmissão de valores morais que a sociedade deseja perpetuar, para manter não só a sua organização, mas para garantir certas hegemonias. Assim, a linguagem da escola volta-se, equivocadamente, apenas para a praticidade, por isso

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encara a literatura como algo suspeito, frívolo. (BRANDÃO; MICHELETTI apud CHIAPPINI, 1997, p.25)

As autoras afirmam também que há muitos trabalhos no processo de ensino

que podem ser comparados com adestramentos, reduzindo o/a leitor/a a

decodificadores/as de textos e que no mesmo nível,

ler poesia significa preparar-se para a recitação mecânica em algum evento, ou um simples divertimento. Serve para relaxar ou para preencher algum vazio. Qualquer vazio, menos o que existe em qualquer ser, espécie de ânsia, de desejo que é ao mesmo tempo emoção e razão, que é sentir e pensar. É claro que a poesia, como o romance, propiciam prazer e podem ser tomados como lazer, mas não só. A escola deveria, desde as séries iniciais, encarar a literatura como atividade produtiva no sentido mais amplo. (BRANDÃO; MICHELETTI apud CHIAPPINI, 1997, p.26)

Para haver a inserção da obra poética nos processos educacionais, é preciso

antes de tudo, estabelecer um diálogo entre obra poética e leitores/as, fazendo uma

ponte com o interesse e as necessidades humanas que vão além desse contexto da

sociedade de consumo. Brandão e Michelleti ao mencionarem a presença do poema

em sala de aula, afirmam ser essa obra um texto marginalizado, e o fazem mediante

as seguintes questões:

O texto poético está presente na sala de aula; mas como circula entre os alunos? Quais são as leituras que se tem dele? Ele é considerado em si? Ou é pretexto para uma análise de aspectos metalingüísticos? (BRANDÃO; MICHELETTI apud CHIAPPINI, 1997, p.29)

Para que esse paradigma seja quebrado, é necessário que haja

distanciamento de atividades mecanicistas frequentes em sala de aula. Que a poesia

seja o centro das atenções, com estratégias de trabalho em que o lirismo dê lugar ao

automatismo de leituras sem emoção. Primando por obra escritas em verso,

apresentamos atividades que podem tornar-se eficientes atrativos para a imersão

dos/as leitores/as até mesmo na condição de autores. Num texto literário, além da

significação, as palavras são selecionadas de forma a evidenciar a sonoridade, a

tensão, a ambiguidade, a possível formação de imagens, cores, descrição de

odores, sons, sentimentos, permitindo múltiplas sensações, leituras, interpretações.

O poema é o gênero literário que melhor se presta a essas circunstâncias. Pois com

a linguagem literária

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[...] estabelece-se como uma cortina que deve ser aberta para que o referente ao qual alude seja apreendido, Assim, interpretação do texto literário obriga o leitor a desvendar o alcance e a significação dos diferentes recursos usados (símbolos, metáforas, comparações, valor das imagens, etc.) e sua incidência na funcionalidade estética do texto (KAUFMAN; RODRIGUES, 1995, p. 14).

Essa linguagem literária, conforme já afirmado, pode ser o elemento principal

para envolver alunos/as em atividades em que a poesia seja o roteiro, o enredo e o

objeto de estudo. Nesse contexto, responder se exercícios de produção escrita de

textos poéticos que empreguem a liberdade estética e a originalidade podem

despertar maior aproximação dos/as alunos/as com a poesia foi o maior objetivo

deste trabalho.

A presença da poesia na vida humana é constante, especialmente nas letras

de músicas, nas mais diversas manifestações, tais como: protestos sociais,

cotidianidades, interação entre emoções e natureza, devaneios românticos com

discursos de conquistas ou perdas de um grande amor, entre outros. Há aqueles/as

que, ao despertarem para as relações afetivas, passam a exercitar composições

poéticas, e há ainda aqueles/as que em seus processos de formação educacionais

motivam para o prazer da leitura e escrita de textos poéticos, incorporando em suas

vidas essa prática de escrita, como um exercício de sensibilidade, de manifestação

de sentimentos.

No sistema educacional paranaense, a valorização da obra poética e sua

possibilidade de criação é uma das sugestões de formação apontadas nas Diretrizes

Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná, que dedicam estudos

significativos com relação à prática da leitura, capacidade interpretativa,

contextualização e competência produtiva referente a obras literárias, dentre elas o

poema. A exploração de diferentes gêneros provoca a ampliação das noções

técnicas do ato de escrever.

Temos ainda na literatura em geral, uma vasta possibilidade de seduzir o/a

leitor/a e/ou escritor/a para atividades que visem desenvolver acima de tudo a

sensibilidade. Um trabalho com poesia que valorize em especial a emoção por ela

despertada encontra embasamento no capítulo das Diretrizes Curriculares Estaduais

- DCEs (2008) dedicado à Literatura, onde se sugerem ações aplicáveis em sala de

aula que levem o/a aluno/a ao entendimento do que é arte, de como essa arte

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insere-se ao seu meio social. Também são sugeridas possíveis rupturas e ampliação

dos horizontes de expectativas, além de se pontuar a possibilidade de ser

despertada a sensibilidade poética, por meio do trabalho com o texto lírico.

No caso da leitura de textos poéticos, o professor deve estimular, nos alunos, a sensibilidade estética, fazendo uso, para isso, de um instrumento imprescindível e sem, dúvida, eficaz: a leitura expressiva. O modo como o docente proceder à leitura do texto poético poderá tanto despertar o gosto pelo poema como a falta de interesse pelo mesmo. […] Cabe ao professor, portanto, observar quais recursos de construção do poema devem ser considerados para a leitura e, como mediador do processo, contribuir para que os discentes sejam capazes de identificá-los e, sobretudo, permitir a eles que efetivem, de fato, a experiência de ler o texto poético em toda a sua gama de possibilidades (PARANÁ, 2008, p. 76).

Levando em conta o valor do poema, como obra literária, este projeto previu

atividades que visassem a habilitar os/as envolvidos/as, ainda que com ressalvas, a

lerem, analisarem e emitirem opiniões sobre textos poéticos reconhecidos

canonicamente ou de escritores ainda não inclusos nas academias. Pretendendo

também, possibilitar ao/à leitor/a tornar-se autor/a, sendo sugerido técnicas de

produção poética dirigida, oportunizando a socialização voluntária do resultado

desse exercício de habilidade.O trabalho teve características motivadoras para que

ocorresse o reconhecimento tão necessário da importância das obras poéticas, do

poema, da poesia, enfim, do lirismo que advém dessa categoria literária.

As proposições de atividades que foram previstas e executadas no decorrer

do Projeto de PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional que deu origem a

este artigo, para falar de poema/poesia, ouvindo, lendo, declamando e escrevendo

obras poéticas, como quem dialoga com as próprias emoções, demonstraram que é

possível estimular e orientar pessoas, não dadas à prática de leitura e da escrita,

para produzirem poemas livres, ricos em lirismo e capazes de respeitar manifestação

das próprias emoções, dialogando consigo mesmos/as e com seus/suas possíveis

leitores/as.

Os recursos que compuseram as metodologias utilizadas para desenvolver as

oficinas, embasados na teoria da recepção, foram suficientes para demonstrar que

também é possível aproximar-se da poesia entremeando-se entre emoções e

competência poética, ainda que com menor intensidade daquela verve que possuem

os poetas oblatos do ofício de poetar e academicamente reconhecidos, aqueles que

já possuem o hábito de escrever no exercício de ser poeta. Os/as envolvidos/as nas

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atividades deste PDE puderam escrever bons poemas, ao serem devidamente

motivados/as a dialogar com suas emoções.Com esse contexto, é importante pensar

qual o é papel da escola ao trabalhar com poesia. Sobre esta questão JOLIBERT

(1994) afirma:

Quando a escola não exerce seu papel de mediadora, o campo da poesia pode permanecer totalmente estranho para muitas crianças, em particular às que pertencem a um meio familiar onde pouco ou nada se lê e onde as urgências funcionais mascaram a necessidade do imaginário (...), onde não se vê nem se ouve poemas na televisão (...) o imaginário segue outros caminhos que não a linguagem escrita. (JOLIBERT 1994, p. 195)

As ações que foram propostas e desenvolvidas a partir do projeto deste PDE,

primaram por estabelecer uma amostragem dos vínculos que o ser humano possui

com o poema, com a lírica e consequentemente, como são manifestadas as

emoções Eliot (1975), por outro lado, defende que:

"(...) A poesia tem um significado social deliberado e consciente. (...) Podemos observar que a poesia difere de qualquer outra arte por ter para o povo da mesma raça e língua do poeta um valor que não tem para os outros. (...) nenhuma arte é mais obstinadamente nacional do que a poesia (...) a poesia que é o veículo do sentimento". (ELIOT, 1975, p.86)

Eliot (1975) arremata: "A poesia é uma constante lembrança de todas as coisas que

só podem ser ditas em uma língua, e que são intraduzíveis". E como tarefa de poeta,

Eliot (1975), defende que primordialmente e sempre se leve a efeito uma revolução

na linguagem, articulada com musicalidade de imagens e de sons. Pound,

entretanto, acrescenta: "Cada homem é o seu próprio poeta", defendendo que

ninguém será um poeta escrevendo hoje com um jeito de anos atrás e que a

linguagem deve ser usada com eficiência. Não é pretensão deste artigo abordar

todas as questões suscitadas pela lírica, aqui tão somente cabe destacar uma

prática e uma vivência a partir de algumas reflexões teóricas.

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III FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA / REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Escrever, talvez, não tenha outra justificativa senão tratar de responder a essa pergunta que um dia nos fizemos e que, por não ter recebido resposta, não cessa de nos aguilhoar. (Octávio Paz)

Em O Arco e a Lira, Octávio Paz (1982) fala da inquietude de quem escreve e

de qual a razão desse escrever. O poema ao nascer pode ser uma manifestação de

emoções de vivências do autor, todavia, ao existir e para valorizar sua existência, ele

precisa encontrar novas vozes, dialogar com o leitor. Paz (1982) afirma que

o poema não é uma forma literária, mas o lugar de encontro entre a poesia e o homem. O poema é um organismo verbal que contém, suscita ou emite poesia. Forma e substância são a mesma coisa. (PAZ, 1982, p.17)

Falando mais sobre poesia, Moisés (1978) afirma que esta se trata de uma

das temáticas mais controvertidas. Isso porque, apesar de a poesia ter estado

presente na literatura desde o início das produções literárias conhecidas pela

humanidade compondo os escritos de teoria e filosofia da literatura, nos contextos

educacionais, em muitas circunstâncias, continua sendo relegada a um segundo

plano, servindo de objeto para estudo da língua ao invés de arte a ser estudada

como tal. A Bíblia, com seus diversos livros, e sua Antiguidade, por diversas vezes

recorre à dimensão lírica para expor idéias e afetos. Em Cântico dos Cânticos,

destacam-se toda a beleza das relações humanas e a sensibilidade que pode existir

nas mais diferentes manifestações de amor. Vejamos um exemplo:

Louvores do esposo - Como és bela e graciosa, ó meu amor, ó minhas delícias! Teu porte assemelha-se ao da palmeira, de que teus dois seios são os cachos. ―vou subir à palmeira, disse eu comigo mesmo, e colherei os seus frutos‖. Sejam-me os teus seios como cachos de vinha. E o perfume de tua boca como o odor das maçãs; teus beijos são com um vinho delicioso que corre para o bem amado, umedecendo-lhe os lábios na hora do sono. (CATÓLICO, 1996, p. 833).

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Neste caso estamos diante da lírica amorosa o que reforça a ideia de uma grande

sintonia entre a emoção e os valores humanos. Podemos encontrar grandes

perceptos líricos no livro dos Salmos e orações em forma de poesia em Eclesiástico.

Também na Literatura Clássica, o teatro em verso teve seu lugar de destaque. Gil

Vicente, reconhecido como o maior dramaturgo da época e da história literária

portuguesa, compunha suas obras, conhecidas como autos, em formato de versos.

Os temas de suas obras eram o cotidiano e as importâncias de então, igreja, alma,

anjo, diabo, os quais se apresentavam nas obras como personagens, transmitindo

os conceitos e críticas possíveis. Lima (s/d) reproduz a obra Anjo, de Gil Vicente, na

qual podemos constatar a presença do poema:

Alma humana formada De nenhũa cousa, feita Mui preciosa, De corrupção separada, E esmaltada Naquela frágoa perfeita Gloriosa Planta neste valle posta Pera dar celestes flores Olorosas, E pera serdes treposta Em alta costa Ode se criam primores Mais que rosas; Planta sois e caminheira, Que, ainda estais, vos is Donde viestes. (LIMA, s/d, p. 44)

Desde então até a contemporaneidade, muitas foram as situações de

incorporação da poesia como principal meio para comunicar emoções humanas.

Incentivar a produção poética significa reconhecer, dentre outras coisas, a

importância do cultivo da sensibilidade e da produção poética como arte que pode

ser resultado de manifestações intimistas ou de técnicas a serem desenvolvidas

visando a criar textos que tratem das emoções humanas universalizadas,

especialmente do bem, e a encantar e transmitir conhecimentos. Para Chalhub,

Diante do novo que transforma a arte […] a poesia posta-se face à necessidade de resguardar sua identidade, procurar caminhos que assegurem o que é próprio dela, o que é específico. […] tanto o fato de criar como o de criar-inventando novas formas de poesia, explorando essa função poética da mensagem – e, ao leitor é dado ver, ouvir, ler o modo como construiu o texto […] (CHALHUB, 1997, p.45/46).

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Sendo assim, desenvolver atividades que aproximem alunos/as da poesia,

em sala de aula, exige quebrar os paradigmas que em geral estão atrelados a essas

atividades, como os exercícios oferecidos pelos livros didáticos que tratam desse

gênero discursivo como pretexto para levar alunos/as a discutirem aspectos da

língua, relegando o valor literário a um segundo plano.

Em outra direção, este projeto tem uma proposta que vai ao encontro da

emoção. Para Lajolo (1997), é fundamental que os exercícios e atividades a serem

desenvolvidos focalizando poemas contribuam para o relacionamento mais intenso

dos estudantes com aquele texto em particular. Naturalmente, o bom uso da língua

determina maior valor à obra literária; porém, esse não deve ser o principal enfoque,

considerando, em especial, as funções sociais do texto (CARVALHO, 2006).

Em se tratando dos atos de ler e escrever, ambos são comunicativos verbais,

um poema, portanto, ao ser escrito, terá em si a perspectiva do autor, a partir de

então, será espaço impregnado dos significados de cada leitor. E a leitura de

poemas, na perspectiva deste trabalho, será sempre com o intuito de valorizar a

obra poética, suas características, as marcas que constituem a coerência entre o

fato, as emoções do autor e o que despertam no leitor. Ao pensarmos na

organização de atividades formativas que enriqueçam os processos de

aprendizagem voltados ao contato com o poema/poesia, devemos incluir em nosso

projeto a perspectiva de uma interação com os sujeitos envolvidos.

Considerando a criação poética de cada aluno/a como uma possível

manifestação de particularidades, interesses, sutilezas, sentidos, habilidades ou

valores eleitos nas mais diversas perspectivas de produção de um indivíduo, o

trabalho proposto procurará incentivar os processos de descoberta com relação à

competência para a leitura, análise e escrita de poemas em verso. As atividades

foram desenvolvidas na perspectiva de quem acredita na importância do

reconhecimento das obras poéticas, poemas, como obras que contribuem para a

valorização e o respeito às emoções humanas, sensibilização a partir da arte de

leitura e escrita de poemas em verso, em especial os/as alunos/as envolvidos no

projeto, que foram levados/as a refletir e desenvolver aspectos da sensibilidade que

humanizam.

No livro O prazer do texto: perspectivas para o ensino de literatura, Vieira

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(1989) afirma:

Causa-nos pesar, de um lado, a falta de contato dos jovens com o texto poético que, por sua própria natureza, deve ser essencialmente fruído, por meio da subjetividade, da emotividade e da afetividade. Tal fato talvez seja consequência dos cansativos exercícios de análise feitos em classe, que prejudicam o prazer da leitura do texto poético. De outro lado, o estudo de poemas, nas escolas, muitas vezes é relegado ao plano secundário. […] Esquece-se que a poesia envolve o homem desde o seu nascimento: são cantigas de ninar, de roda, brincadeiras, quadrinhas, ritmo, sons capazes de despertar o instinto poético (VIEIRA, 1989, p. 97).

Assim como Vieira, outros tantos autores que tratam da temática defendem o

desenvolvimento de atividades que coloquem a obra poética no centro das

atenções. Entende-se que é possível instigar a capacidade criativa, desenvolvendo-

se habilidades que envolvam o ler, o interpretar e fazer poesia. Marisa Lajolo, no

livro Palavras de Encantamento, nos fala de poetas, poemas e poesia:

[…] poeta brinca com as palavras […] parece que o poeta diz o que a gente nunca tinha pensado em dizer […] […] um poema é um jogo com a linguagem. Compõe-se de palavras: palavras soltas, palavras empilhadas, palavras em fila, palavras desenhadas, palavras em ritmo diferente da fala do dia a dia. Além de diferentes pela sonoridade e pela disposição na página, os poemas representam uma maneira original de ver o mundo, de dizer coisas […] […] poeta é, assim, quem descobre e faz poesia a respeito de tudo: de gente, de bicho, de planta, de coisas do dia a dia da vida da gente, de um brinquedo, de pessoas que parecem com pessoas que conhecemos, de episódios que nunca imaginamos que poderiam acontecer e até a própria poesia! […] (LAJOLO, 2001, p. 6).

Todavia, como já sinalizamos anteriormente, a poesia vem sendo relegada a

planos secundários nos processos de formação oficiais, ou seja, na escola. Autores

como Olavo Bilac, ainda em 1904, Alceu Amoroso Lima, na década de 1980,

revelava preocupações em relação ao trato relacionado à poesia nas escolas,

preocupação essa citada por Marisa Lajolo (1997) em sua obra Do Mundo da Leitura

para a Leitura de Mundo. A autora afirma haver, na escola, uma unanimidade de

julgamento de três instâncias da instituição literária:

[...] o escritor, o editor e o crítico. Contemplando o panorama da literatura infantil brasileira, nos arredores de seu início, dispensam-lhe todos, o mesmo veredito implacável. Ao longo do tempo que nos separa da publicação dos versos bilaquianos, o panorama da poesia infantil brasileira parece ter sofrido consideráveis alterações. Tais alterações, no entanto,

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parecem não ter sido suficientes para invalidar os desencontros e entreveros que marcam o relacionamento literatura e escola e em particular o relacionamento poesia e escola (LAJOLO, 1997, p. 42).

No âmbito das deliberações oficiais que regem as ações escolares, os

Parâmetros Curriculares Nacionais, 1º e 2º ciclos, (BRASIL, 1996, p. 37-38) criticam

o uso da obra literária como simples instrumento para valorizar o estudo da língua,

evidenciando a importância das obras poéticas nos contextos de ensino:

A questão do ensino da literatura ou leitura literária envolve, portanto, esse exercício de reconhecimento das singularidades e das propriedades compositivas que matizam um tipo particular de escrita,. Com isto, é possível afastar uma série de equívocos que costumam estar presentes na escola em relação aos textos literários, ou seja, tratá-los como expedientes para servir ao ensino das boas maneiras, dos hábitos de higiene, dos deveres do cidadão, dos tópicos gramaticais, das receitas desgastadas do ―prazer do texto‖ etc. Postos de forma descontextualizada, tais procedimentos pouco ou nada contribuem para a formação de leitores capazes de reconhecer as sutilezas, as particularidades, os sentidos, a extensão e a profundidade das construções literárias (BRASIL, 1997, p. 37-38).

Um leitor de poemas deverá perceber as sutilezas que essa obra apresenta

quando se trata do uso da língua, afora os aspectos estruturais; um poema pode

utilizar palavras cotidianas e, no entanto, a forma como essas palavras são usadas

no texto poético podem determinar novos significados, distanciando a palavra de sua

definição em dicionário, passando a valer a intenção do autor e a criatividade do

leitor. Num poema, as representações, as figuras, o significado associado, a

linguagem figurada são elementos que estabelecem a intensificação do efeito que o

poema causará ao leitor. Candido (1996), ao falar da linguagem dos poemas afirma

que:

[...] a linguagem figurada é como um manto que recobre e vivifica o sentido banal das palavras, [...]. Na linguagem literária, ocorrem igualmente as duas modalidade de expressão. O poeta usa as palavras em sentido próprio e em sentido figurado. Mas, tanto num caso quanto noutro, de maneira diferente do que ocorre na linguagem quotidiana. As palavras em sentido próprio são geralmente dirigidas pelo poeta conforme um intuito que desloca o seu sentido geral; as palavras com sentido figurado são usadas com um senso de pesquisa expressional, de criação, de beleza, explorados sistematicamente, o que lhes confere uma dignidade e um alcance diversos dos que ocorrem na fala diária (CANDIDO, 1996, p. 70).

As ideias aqui elencadas sinalizam para a necessidade de novas alternativas

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de apresentação dos poemas para alunos/as nos meios escolares. A proposição de

levar poemas até os alunos/as com o pressuposto básico de que a formação de

leitores/as escritores/as competentes em poesia lírica está vinculada à constância

dos trabalhos realizados em sala de aula. Toma-se,como ponto de partida, em

especial neste projeto, poemas em verso, tendo ainda como referência o que está

previsto no Plano Curricular Nacional e nas Diretrizes Curriculares da Educação

Básica do Estado do Paraná. As atividades desenvolvidas estão voltadas à

exploração do uso das palavras em sentido figurado, considerando-se a

expressividade, a capacidade de criação, a interatividade e, por que não, a beleza

de tudo que compõe emoções poéticas, o lirismo.

IV APLICANDO O MÉTODO DA ESTÉTICA DA RECEPÇÃO

O escritor e critico literário alemão Hans Robert Jauss (2004), um dos maiores

expoentes da Estética da Recepção afirma em sua teoria formalista, que ―o caráter

estético dos textos reside nos procedimentos desautomatizados que o texto pode

trazer em oposição aos procedimentos já automatizados.‖ (JAUSS apud ZAPPONE;

2004, p. 139) e explica:

O ―nexo‖ ou a relação histórica de uma obra com outra é feito através da sucessão de obras canônicas que deixam de sê-lo quando surgem obras novas com formas que desautomatizam a perceptibilidade das formas antigas, substituindo-as. A ―evolução‖ literária situa-se no pêndulo entre automatismo e inovação e constrói-se através e por meio da oscilação entre convencionalismo e tradição e ruptura e afirmação de novos modelos.(JAUSS, apud ZAPPONE; 2004, p. 139)

Nossa referência para desenvolver e amparar na ciência o trabalho previsto

neste artigo encontrou eco nesta teoria, por justamente o projeto propor um trabalho

que levasse em conta o que já existe, numa seleção simbólica de obras poéticas.

Somadas à proposição de criação de novas obras, quebrando paradigmas literários

ou convencionalismos, permitindo aos/as autores/as fazerem uso de suas

competências livremente, e que essa ação fosse decorrente muito mais da

motivação do que da competência científica. Jauss (1994) também afirma que

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―[...] A abordagem objetiva ou formal da literatura se interessa pela obra; a abordagem expressiva, pelo artista; a abordagem mimética, pelo mundo; e a abordagem pragmática, enfim, pelo público, pela audiência, pelos leitores.‖(JAUSS, 1994, p. 76).

Sendo assim, o trabalho com poemas, aqui proposto, objetivou favorecer a

aproximação de alunos/as com os processos de leitura e escrita tendo o poema em

verso no foco das atividades e a possibilidade de serem eles/elas os/as poetas,

os/as escritores/as. Para o desenvolvimento do projeto/oficina, houve contato prévio

com os professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio do Colégio Estadual

Padre Carmelo Perrone, da cidade de Cascavel/PR, cabendo a eles estabelecerem

as datas de possível execução, cumprindo o calendário deste projeto.

O convite aos/as alunos/as para que participassem do projeto foi a primeira

atividade realizada. E esse momento foi primorosamente preparado com um cenário

lírico e poeticamente envolvente, executado no auditório do colégio. Resultando num

interesse unânime para participarem do projeto, em especial decorrente da forma

inovadora como a proposição foi realizada. Foram cativados pelo belo, pela emoção,

pelo lírico.

A atividade de execução do projeto foi dividida em três etapas, com tempo de

duas aulas para cada uma. Aos/às alunos/as foram ofertadas atividades de leitura,

debate e prática de escrita poética, com indicação de leituras complementares e

apontamentos de estratégias para superação das dificuldades relativas ao ato de

escrever textos poéticos. Os processos de produção envolveram motivação,

organização temática, leitura, produção de textos poéticos, exposição das obras em

atividades como declamações, varal de poemas e mural de poemas, entre outras. O

trabalho desenvolvido não esteve atrelado a compromissos estéticos, de estilo ou

período literário. As obras que foram utilizadas como objeto de estudo e motivação

serviram para ilustrar, cada uma com suas características, a expressão do eu

poético do autor, indicando diferenças e possibilidades que cada poeta encontrava-

se para produzir e fazer suas manifestações.

Os/as estudantes foram recebidos/as no auditório do Colégio Padre Carmelo

local designado e devidamente preparado para a primeira oficina. A decoração foi

organizada de maneira a estabelecer um ambiente romântico, místico, culto, belo. O

lirismo latente do ambiente proporcionou um impacto visual, devidamente

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complementado pelo possível contato com os textos poéticos. Obras da Academia

Cascavelense de Letras e dos poetas selecionados para o trabalho destacavam-se,

pairando sobre o ambiente, em dois magníficos varais. De frente para as cadeiras

em que seriam acomodados/as os/as estudantes, foi disposto estrategicamente uma

mesa, tendo sobre ela um abajur de cobre com imagens de anjos e uma canopla em

forma de tulipa, lembrando um candelabro, com livros poéticos e poemas impressos

que foram devidamente apresentados no decorrer da oficina. Esse cenário

objetivava causar impacto, despertar a curiosidade, envolver os/as alunos/as com as

atividades que se seguiram. Considerando a atenção que dispensaram a essa

apresentação do Projeto, concluímos que o objetivo foi alcançado. Para destacar a

obra poema, o varal de poesias sobre o ambiente da sala apresentava obras

decoradas e impressas em folhas coloridas. As palavras iniciais da oficinista foram a

leitura declamada do poema Psicografia, de Fernando Pessoa, seguido do Poema A

estrela, de Manuel Bandeira. Só então foi relatado de que se tratava o trabalho, e

feito a proposição para que aceitassem participar da sequência do projeto ao que

responderam afirmativamente.

O rol de poemas selecionados teve como critério apresentar autores

diferentes, com temáticas também diversas. Além disso, foi privilegiado obras que

possibilitassem analisar a riqueza de recursos empregados, desde a imagem do

poema até os elementos retóricos, com um trabalho voltado à desmistificação das

obras e aproximação do/a leitor/a à essência da obra, da emoção. Após ter

informado aos/às alunos/as como seria desenvolvida a oficina, o poema Convite de

José Paulo Paes, foi a obra que deu início aos contatos com os demais poemas, por

tratar-se de uma obra que brinca com a ideia de fazer poesia, como quem brinca de

bola, entre outras situações; ou seja, é um poema que naturaliza o nascimento de

uma obra poética. A linguagem do poema, impregnada de sensibilidade, é acessível

a qualquer leitor; trata-se de um verdadeiro convite, tendo portanto sido apropriado

para o processo de sensibilização dos participantes. Ao ser apresentada cada obra,

fizemos uma breve apresentação de seus autores, situando-os no tempo e no

espaço para melhor aproximar o/a ouvinte leitor/a de cada uma dessas obras.

O segundo poema apresentado e analisado oralmente após sua leitura

declamada, foi Soneto do Amor Total, de Vinícius de Moraes, que permitiu colocar

os/as participantes diante de uma estrutura poética elaborada, o soneto. Mesmo que

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o trabalho não objetivasse formar criadores de sonetos, mencionamos o conceito de

soneto apresentado por Massaud Moisés em seu Dicionário de Termos Literários,

(1978, p. 480): ―Composição poética de catorze versos, dispostos em dois quartetos

e dois tercetos‖, sendo a obra de Vinícius o referencial para o entendimento dessa

modalidade poética. Os processos para análises dos poemas tiveram como

referência a obra Carossel de Antonio Candido, em que o autor analisa o poema O

rondó dos cavalinhos de Manuel Bandeira, obra que também compôs os poemas

expostos na oficina.

Na sequência dos trabalhos, num varal de poemas, estiveram expostas as

seguintes obras:

1) Mudanças, de Domingos Pellegrini Jr., escritor paranaense,

contemporâneo, c om um texto provocativo sobre as dificuldades que se tem com

relação a mudar coisas, atitudes, hábitos.

2) No meio do caminho, de Carlos Drummond de Andrade, poeta renomado,

academicamente reconhecido, com uma obra instigante, complexa.

3) Ouvido, de Paulo Leminski, poeta paranaense, com um poema concreto,

uma nova modalidade a importante para que o grupo conhecesse.

4) O Girassol, de Toquinho e Vinícius, uma obra que está eternizada em

música, sendo apresentada em sua versão gráfica, objetivando um análise do nível

de sensibilidade apresentado por seus autores. O poema também oferta a condição

de análise do recurso da repetição na obra poética, a ênfase decorrente dessa

repetição, ao contrário do que ocorre, em geral, nos demais tipos de texto, enriquece

a ênfase que se dá à ideia manifesta.

5) Cemitério, de autor anônimo, também compôs o varal, por ser um poema

com quebra de sequência, um recurso diferente dos apresentados até então.

6) Gato da China, também de autor anônimo, foi exposto para uma leitura

com quebra de paradigmas, considerando ser obra um poema com características

muito próprias, aproximando-se de um trava línguas.

7) De Gramática e de Linguagem, poema de Mário Quintana, compôs o

grupo por ser um poema que apresenta rima, estrofes e metalinguagem. Outra

característica que o diferencia dos textos até então apresentados é sua extensão;

um poema longo, que traz em si definições de algumas das classes gramaticais de

palavras.

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8) Hão de chorar por ela os cinamomos, de Afonso Henriques da Costa

Guimarães, poeta simbolista foi incluída no trabalho e apresentada por trata-se de

uma obra mesclada de romantismo envolvendo a natureza humana e ambiental.

9) De repente, de Júlio César Cardoso, um poeta anônimo, não participante

das análises acadêmicas; porém, com uma obra rica em cotidiano, em medo

humano, natureza compôs o conjunto de obras a serem apresentadas para

exemplificar a existência de poetas não reconhecidos academicamente com obras

respeitáveis, ou seja, anônimos que produzem cultura poética.

10) O assinalado, de João Cruz e Souza, um poema simbolista, amargo e ao

mesmo tempo cativante, retornando aos poetas academicamente reconhecidos.

11) A estrela, de Manuel Bandeira, por trazer em si um tom de suavidade, de

beleza, de humano, mais um dos poemas componentes do varal que traz em si a

sensibilidade, a ideia de solidão, de busca, de necessidade de companhia.

12) Psicografia, de Fernando Pessoa, por tratar-se de um poema que expõe a

ousadia do poeta, que é capaz de convencer o outro e a si mesmo de emoções que

não tem, expondo assim o jogo da criação, a força da arte. Tanto Psicografia como A

Estrela já haviam sido mencionados nas atividades iniciais, quando feito aos/às

estudantes a apresentação e proposição do projeto, mesmo assim, por atenderem

aos objetivos do projeto complementaram o rol de poemas inclusos no varal.

Os poemas acima elencados, obrigatoriamente, compuseram os trabalhos

desenvolvidos durante as oficinas. Entretanto, objetivando aproximar o número de

poemas ao número de estudantes, foram incluídas novas obras, as quais também

atenderam a necessidade de diversificação. Para essas não relatadas aqui, não

houve a previsão de serem destacadas com análises diferenciadas, como ocorreu

com as doze obras listadas acima. Todavia foram mencionadas nas proposições de

atividades que trataram de todos os procedimentos para a intervenção pedagógica.

Quarenta poemas compuseram o varal e desses, alguns foram ocasionalmente lidos

durante as atividades desenvolvidas no encerramento do projeto. Atividade que

recebeu a presença e participação da comunidade em geral, que atuou fazendo

leitura declamada de poemas.

Após a introdução, os/as participantes da primeira oficina foram

convidados/as a escolher uma das obras poéticas expostas no varal para fazerem

leitura silenciosa; na sequência, foram motivados/as a trocarem os textos entre si,

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podendo ter acesso a uma série de obras, o que foi prazerosamente realizado por

todos/as os/as participantes durante um tempo de mais ou menos vinte minutos.

Ainda nessa fase, foi solicitado aos/às estudantes que alguns/mas voluntários/as

realizassem leitura oral, declamada ou não, dependendo da habilidade já

componente dos conhecimentos de cada um/uma. Após cada leitura, houve

aplausos para a obra lida e para o/a leitor/a. entre cada uma das leituras realizou-se

análises orais, estabelecendo o nível de diálogo da obra com os/as ouvintes, em que

aspectos mais significativos cada um/uma se encontrava com a obra. Essas

atividades compuseram o processo motivacional para conduzir os/as participantes

ao próximo passo, o ato de escrita, quando passaram a ser os/as autores de

poemas.

Na segunda etapa, trabalhamos a revisão das figuras de linguagem, tendo

como referencial Branca Granatic (1997), os/as alunos/as receberam um conjunto de

informações impresso sobre a temática, para garantir o bom uso do tempo. E, em

seguida, os/as alunos/as foram convidados/as a indicar, cada um/uma, um

substantivo, fazendo-se o registro das palavras indicadas no quadro, de maneira que

todos/todas tivessem acesso visual às palavras. Em seguida, foi proposto que todos

indicassem três adjetivos para cada substantivo, considerando que todos já

detinham conhecimento sobre tais classes gramaticais de palavras.

Essa etapa foi vencida tendo participação coletiva, como era esperado o que

contribuiu para melhorar os processos de motivação. A próxima atividade foi um

exercício de composição coletiva, em que foram utilizados, para cada composição,

um substantivo e seus respectivos adjetivos, tendo como referência Belline (1994),

que traz em seu livro Trabalhando com a Descrição uma série de atividades que

foram devidamente adaptadas para as composições poéticas a partir da associação

de um substantivo a adjetivos. A adaptação consistiu em direcionar para que

compusessem poemas em verso, com ou sem rima, despertando a curiosidade para

criar e utilizar o conhecimento de mundo em suas criações. Em seguida foi solicitado

que cada realizasse sua produção individual, orientando para que escolhessem um

substantivo da lista exposta com seus respectivos adjetivos, sendo o substantivo

selecionado o tema da obra a ser produzida.

É importante ressaltar que os textos deveriam ser escritos em verso. Durante

esse trabalho fui passando de carteira em carteira, acompanhando as possíveis

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produções, ouvindo suas falas, ora exclamativas do tipo ―Poema eu nunca escrevi‖

ora de deslumbramento, como em especial um dos alunos que diante de seu poema

já escrito, exclamou e expressou com o olhar, o sorriso e as palavras o

deslumbramento diante de sua obra ―Minha nossa, nunca pensei que eu fosse capaz

de fazer um poema‖. Esse relato expressa o quanto pode ser grandioso um trabalho

como esse, em que o desafio era fazer com que os/as participantes chegassem ao

ato de escrever numa sequência pacífica, resultante da apropriação de habilidades

despertadas no processo do projeto. As obras foram recolhidas e anexadas a elas o

formulário de autorização devidamente preenchido para que fossem incluídas na

sequência dos trabalhos que envolveram esse projeto.

A terceira e última fase da aplicação do projeto consistiu na divulgação dos

poemas produzidos em ambiente próprio, nesse caso no auditório do colégio, com

extensão à comunidade escolar não participante do projeto e à comunidade em

geral, especialmente aos pais dos então poetas. Foi muito bem recebido o convite e

a comunidade lotou o auditório. Os recursos de exposição foram o varal de poemas,

em se tratando da materialização das obras, e leituras declamadas para socialização

de seus conteúdos. Essa atividade consolidou-se num sarau poético, em que tanto

os/as alunos/as escritores/as quanto a comunidade convidada foram estrelas de

suas próprias obras podendo fazer leituras declamadas de poemas, fazendo com

que a obra poética fosse o centro das atenções e dialogassem com as emoções de

todos os participantes. A cada leitura declamada houve aplausos de incentivo e

reconhecimento ou agradecimento pelas participações. Enfim, esse foi um momento

grandioso, em que poetas e poemas estiveram no topo, como estrelas que

iluminavam o ambiente e ao mesmo tempo contavam de suas emoções para as

emoções de outrem. Quem participou desse sarau levará em si mais humanidade,

mais amor, mais beleza, mais sintonia com o olhar do outro, com as emoções que

nos fazem melhores e mais, lembrará dos aplausos e de como é bom emocionar ao

outro de maneira a ser carinhosamente aplaudido e abraçado.

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V CONCLUSÃO

A experiência estética decorrente dos fenômenos aisthesis, poiesis e

katharsis (CAVALCANTE, S/D) ou seja: de fazer com que o/a aluno/a apreciador da

poesia possa sentir prazer de se sentir co-autor da obra, falar de poetas, poesias e

provocar novos escritores/as tornou este trabalho muito agradável, pois o lirismo

transforma o corriqueiro em deslumbramento, o trivial em profético, o decadente em

aceitável, a dor em sentimento uníssono com a humanidade, num infinito catálogo

de devaneios etéreos, capazes de encantar.

A verdadeira motivação recebeu eco nos corações e nas emoções dos/as

convidados/as a participarem das oficinas, comprovando que projetos com essa

característica podem ser desenvolvidos em prol do poema, mas de verdade

melhoram os seres humanos. Paz (1982, p. 21) afirma: ―Os estilos nascem, crescem

e morrem. Os poemas permanecem, e cada um deles, dos estilos, constitui uma

unidade auto-suficiente, um exemplar isolado, que não se repetirá jamais.‖

Esse trabalho concretizou-se na valorização da obra poética inserida à vida de

estudantes que a partir dos exercícios desenvolvidos terão uma relação mais afinada

com o lirismo que compõe seus mundos, ressignificando fatos e emoções

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