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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
Ficha para Catálogo
Artigo Final
Professor PDE/2010
Título A ressignificação do ensino da leitura
Autor Terumi Sônia Nagay
Escola de Atuação Colégio Estadual Tsuru Oguido
Município da Escola Londrina
Núcleo Regional de Educação NRE - LONDRINA
Orientador Maria Beatriz Pacca
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina
Área do Conhecimento/Disciplina Ensino e aprendizagem de leitura/ Língua
portuguesa
Relação Interdisciplinar (indicar,
caso haja, as diferentes
disciplinas compreendidas no
trabalho)
Não houve relação interdisciplinar
Público Alvo (indicar o grupo com
o qual o professor PDE
desenvolveu o trabalho:
professores, alunos,
comunidade...)
O presente trabalho foi desenvolvido com alunos do
sexto ano.
Localização (identificar nome e
endereço da escola de
implementação)
Colégio Estadual Tsuru Oguido
Rua Carlos Menolli, 220
Jardim: Santa Rita IV
Resumo: (no máximo 1300 A escola brasileira precisa ensinar o aluno a ler e a
compreender o sentido do que lê. A leitura não vem
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caracteres, ou 200 palavras, fonte
Arial ou Times New Roman,
tamanho 12 e espaçamento
simples).
sendo trabalhada de maneira satisfatória na escola.
Lê- se pouco no país. É preciso viabilizar a prática
da leitura de forma significativa para que os
discentes adquiram postura de sujeito que pense,
reflita sobre o que lê e realize operações cognitivas
com a leitura. A leitura faz parte do nosso dia a dia.
Lemos a todo o momento sem perceber que isso
está acontecendo. Nesse contexto, o presente
estudo teve como objetivo contribuir para formar
uma nova geração de leitores autônomos e
proficientes. Para tanto, atividades relacionadas à
leitura visual (fotografias) e trabalhos com
diferentes tipos de poemas foram utilizados no
intuito de cativar o leitor, aproximá-lo do texto e
desenvolver habilidades inerentes à leitura,
proporcionando melhor compreensão dos
processos subjacentes à mesma, contribuindo para
a ressignificação do processo de compreensão de
uma nova forma de leitura, tornando esta mais
dinâmica e interessante.
Palavras-chave (3 a 5 palavras) Texto; leitura e cognição.
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A RESSIGNIFICAÇÃO DO ENSINO DA LEITURA
Autora: Terumi Sônia Nagay1
Orientadora: Maria Beatriz Pacca2
Resumo
A escola brasileira precisa ensinar o aluno a ler e a compreender o sentido do que lê. A leitura não vem sendo trabalhada de maneira satisfatória na escola. Lê- se pouco no país. É preciso viabilizar a prática da leitura de forma significativa para que os discentes adquiram postura de sujeito que pense, reflita sobre o que lê e realize operações cognitivas com a leitura. A leitura faz parte do nosso dia a dia. Lemos a todo o momento sem perceber que isso está acontecendo. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo contribuir para formar uma nova geração de leitores autônomos e proficientes. Para tanto, atividades relacionadas à leitura visual (fotografias) e trabalhos com diferentes tipos de poemas foram utilizados no intuito de cativar o leitor, aproximá-lo do texto e desenvolver habilidades inerentes à leitura, proporcionando melhor compreensão dos processos subjacentes à mesma, contribuindo para a ressignificação do processo de compreensão de uma nova forma de leitura, tornando esta mais dinâmica e interessante. Os principais achados desse estudo denotam uma nova perspectiva sobre os parâmetros da leitura, demonstrando ser viável a aplicação de diferentes formas de atividades que contemplem um significado mais próximo de seus leitores tornando a leitura, seja ela de que tipo for mais estimulante e encantadora.
Palavras-chaves: texto; leitura e cognição.
1 Pós-graduada em Língua Portuguesa, Graduada em Letras Vernáculas, Col. Est. Tsuru Oguido
2 Pós-graduada em Letras, Graduada em Letras-língua e literatura, Professora titular da UEL
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1 Introdução
A escola brasileira precisa ensinar o aluno a ler e a compreender o sentido
do que lê. A leitura não vem sendo trabalhada de maneira satisfatória na escola. Lê-
se pouco no país. Conforme dados estatísticos (IBGE – Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, 2000), o índice de leitura é de menos de dois livros anuais
por pessoa. É necessária uma mobilização em torno do fomento à leitura, porque ela
é instrumento escolar e passaporte para a entrada na cultura escrita.
A prática da leitura qualifica o Homem entre os seus, dá prazer e
informação, possibilita seu ajuste pessoal e social, facilitando-lhe a vida profissional.
Ler é entre tantas habilidades desenvolvidas pelo indivíduo, a possibilidade
de mergulhar em outros mundos possíveis, é a janela que se abre para
adentrar numa teia de relações e significados. É a chave para a busca de
novos conhecimentos, novas aprendizagens e a possibilidade de dialogar
com outros sujeitos e principalmente, dialogar consigo mesmo
(KISSILEVITC, 2007)
Se a leitura é um instrumento tão valioso, é preciso ressignificar o ensino
da leitura, compreender o mecanismo e os processos de construção de
conhecimentos envolvidos no ato da leitura na dimensão escolar. Nesse sentido,
cabe à escola o papel de ensinar aos alunos essas habilidades de leitura e escrita e
essa aprendizagem deverá ocorrer em contextos reais, que façam sentido para os
discentes, o que não é uma tarefa fácil.
Para Guedes (1999), ler e escrever são tarefas da escola, questões para
todas as áreas, uma vez que são habilidades indispensáveis para a formação de um
estudante, que é responsabilidade da escola.
Diante do exposto, faz-se necessário situar a leitura no âmbito escolar,
pois a sociedade precisa e exige um sujeito que seja capaz de obter informações,
articular o pensamento de maneira rápida e agir com eficácia na resolução de
problemas, desde os mais simples aos mais complexos.
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Há duas décadas (1989 a 2012) trabalho em escolas públicas como
professora de língua portuguesa e percebo a apatia e o desinteresse de muitos
alunos pelas atividades de leitura e escrita. Estas constatações denotam que este
conteúdo não vem sendo trabalhado de maneira satisfatória em nossos
estabelecimentos de ensino. A escola brasileira precisa ensinar o aluno a ler e a
compreender o sentido do que lê. É preciso ressignificar o ensino da leitura, pois os
nossos alunos passam anos nos bancos escolares e a maioria dos discentes saem
do estabelecimento de ensino, sem saber ler.
Não é surpreendente que tantas pessoas passem (10 anos, 20 anos, mais de 20 anos), e não saibam crasear, pontuar, colocar marcas de parágrafos, diferenciar quando se usa “S” OU “Z”? Falamos sempre disso, de nossos alunos de escola fundamental até o doutorado. Pergunto de novo: o que afinal ensinamos na escola? Lemos os textos dos alunos, ou apenas corrigimos? Que língua a escola ensina? Que língua falamos e escrevemos? (KRAMER, 2000, p.109)
Infelizmente, os métodos tradicionais prevalecem nas práticas docentes.
Muitos professores trabalham a linguagem de forma equivocada, pois não
privilegiam a história, o sujeito e o contexto no processo de aquisição e no
aprimoramento da língua materna, pautando-se no repasse de regras e mera
nomenclatura tradicional (PARANÁ, 2008 p. 48).
Desta forma, procurou-se neste trabalho desenvolver e viabilizar a prática da
leitura de forma significativa para que os discentes, gradativamente se
aproximassem e apreciassem o formato do texto, as palavras selecionadas pelo
autor, percebessem a sonoridade produzida por estes vocábulos e a mágica que
ocorre após a leitura, que faz o indivíduo visualizar aquilo que está escrito e
entendê-lo.
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2 Metodologia e desenvolvimento
Este trabalho foi iniciado através da leitura de diferentes imagens. A opção
por este tipo de atividade pode ser justificada pelo fato de a leitura visual ser a
primeira a ser vivenciada pelas pessoas, seguida da leitura textual. Nesse contexto,
pode-se afirmar que leitura visual acompanha a vida humana desde os primeiros
meses de vida de uma criança, pois é através da contemplação de imagens que a
criança passa a reconhecer o meio que a cerca e a si própria.
A fotografia, um exemplo de imagem, constitui um dos mais democráticos
meios de perpetuação das memórias e das emoções das pessoas, seja retratando
seus familiares, lugares e acontecimentos festivos ou tristes. Uma única imagem
contém em si um inventário de informações acerca de um determinado momento
passado, a mesma revela informações e detona emoções. Tudo isso sem utilizar
nenhuma palavra. Quando se visualiza uma fotografia, é possível descrever todos os
sentimentos que são gerados através daquela imagem. Desse modo, consegue-se
de alguma maneira realizar um tipo de leitura que não a textual, mas a visual,
passível de significado e entendimento.
Neste estudo, o trabalho com fotografia começou em uma das salas de aula,
com os alunos do sexto ano, do Colégio Estadual Tsuru Oguido. Para tanto, a
docente utilizou uma fotografia de sua família (figura 1) e solicitou aos seus alunos
que observassem minuciosamente a foto. Depois pediu-lhes que expusessem as
características da fotografia que mais lhes chamaram a atenção. Os discentes
destacaram as meias e os sapatos usados pelas meninas talvez, porque todos são
do mesmo modelo. Outros argumentaram sobre as duas filhas que estão ao lado do
pai, observando suas roupas, cujos modelos são iguais, com forro e mangas
bufantes e também sobre os cabelos presos das meninas. Após os comentários dos
alunos, a professora fez algumas perguntas sobre a foto e foi anotando as respostas
no quadro de giz. As perguntas feitas aos alunos foram: a) Quando esta fotografia foi
tirada? Sabendo que, as meninas ao lado do pai tinham dez anos, naquela época; b)
O título desta fotografia é “Éramos seis”; por quê?; c) Preste atenção nas seguintes
informações sobre esta família. O casal trabalhou na roça durante seis anos, mas
depois que ele foi baleado por assaltantes o homem não pode mais trabalhar na
terra. Então, mudaram para a cidade e abriram um comércio em Tamarana. As filhas
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mais velhas e a caçula se casaram, a do meio não se casou. Hoje, o pai está
aposentado e vive com as filhas e netas em Londrina. Com estas informações, você
é capaz de identificar quem não está mais presente nesta família? Encerradas as
anotações, observações e as perguntas, os alunos perceberam que naquela
imagem havia um texto implícito e que, ao descreverem a foto, na verdade, estavam
realizando sua interpretação.
Figura 1: Éramos seis Fonte: Álbum de família – José Hideo Nagay
Após a realização destas atividades, foi solicitado aos alunos que
separassem em suas casas fotografias e outros materiais que auxiliariam na próxima
atividade a ser proposta. Os alunos, então, em data oportuna e previamente
combinada, trouxeram os materiais para a aula. Foi solicitado que, com base nas
fotografias selecionadas, realizassem a confecção de um trabalho, relatando um
pouco de sua história de vida.
Neste dia, a aula foi muito tumultuada, pois a grande maioria dos discentes
queria visualizar as fotos dos colegas e outros as escondiam por vergonha. Apesar
de muita agitação durante a aula, pode-se destacar que, ainda sim, ela foi muito
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proveitosa, pois repercutiu em interação constante entre os alunos, que conheceram
um pouco da história de vida dos colegas.
Após essa fase inicial de agitação, os alunos enfim começaram a
desenvolver a atividade, em sala conseguiram discorrer sobre as fotografias mais
recentes, enquanto que as ilustrações mais antigas foram levadas para a casa no
intuito de esclarecer junto aos pais, avós, tios e demais parentes a descrição de
cada ilustração.
Os alunos iam escrevendo e mostrando para a professora o rascunho do
texto para que ela corrigisse. O texto era simples. Descrevia o acontecimento, a data
e quem estava naquela foto. Foram várias aulas para terminar a correção dos textos
produzidos pelos discentes. Alguns trabalhos superaram as expectativas, pois
traziam, além das fotos, imagens de seus pais quando estavam namorando, fotos de
casamento, ultrassonografia, certidão de nascimento, certidão de batismo. O
trabalho ficou muito interessante, porque os alunos tiveram que conversar com seus
pais e ou responsáveis para escrever um pouco de sua vida através das fotografias.
A terceira atividade com imagem foi o estudo das fotografias do teatro Ouro
Verde (figura 2) na década de cinquenta. Esta imagem aguçou a curiosidade dos
discentes, pois é arte visual, produto cultural e histórico, que estimula a sensibilidade
e exerce grande influência no nosso imaginário. A fotografia “A janela” (figura 3)
também fez parte dessa atividade. Os alunos tiveram que analisar as fotos,
observando cada detalhe presente na imagem e depois responderam cinco
perguntas.
a) As fotografias acima foram tiradas em plano geral; nelas, as pessoas e os carros
aparecem menores, mas o objeto que se quer destacar fica em evidência. Qual é a
imagem mais importante que o fotógrafo quis destacar nas fotografias?
b) Olhe atentamente as fotos e escreva por que o estabelecimento recebeu a
denominação “Ouro Verde”?
c) As fotos foram tiradas na década de cinquenta. As ruas de chão foram cobertas.
Que tipo de material era utilizado na época?
d) Observe as roupas dos transeuntes e os carros estacionados. Através destes
elementos é possível determinar a situação econômica do país naquela época?
e) Há sessenta anos os carros ali circulavam. Hoje, qual é a situação desta
rua/avenida?
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Figura 2: Ouro Verde Fonte: Álbum de família – José Hideo Nagay, 1950
Figura 3: A janela Fonte: Eduardo Mandel Íris Fotos, 1987.
Para a figura 3 foram solicitadas respostas para as seguintes questões:
a) A casa onde está o idoso está em construção? Justifique sua resposta.
b) Que elementos sugerem a “restauração” da casa?
c) Como esse ambiente se relaciona com a figura humana?
d) Os três vãos escuros, na casa, trazem-lhe alguma impressão especial? Qual (ou
Quais)?
e) O homem olha alguma coisa. Ele está muito interessado. Em que direção ele está
olhando?
Atividades utilizando textos poéticos também fizeram parte deste estudo.
Nesse caso, o objetivo não foi a dissecação formal dos poemas, nem o estudo e
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classificação tediosos de rimas, métrica, figuras de estilo, etc., mas a aproximação
com a linguagem poética, no sentido de familiarizar os alunos com a poesia, para
que tivessem prazer em ler e ouvir poemas e, sobretudo, para que se sentissem
motivados a expor suas emoções através dos recursos tão expressivos da
linguagem poética. Primeiro, trabalhou-se o recurso visual. Os alunos receberam
uma cópia de cada poema para acompanhar a leitura feita pela professora. Os
alunos acompanhavam, observando a construção da poesia, a escolha das palavras
e a estrutura do texto. Iniciamos com “Convite”, título de um poema escrito por José
Paulo Paes, que de forma lúdica define poesia, utilizando a figura de linguagem
denominada comparação, facilitando assim, a compreensão deste gênero textual.
Depois, gradativamente, foram lidos os demais poemas, para que os alunos
pudessem perceber como os poetas selecionam as palavras, organizam os versos,
a estrutura frasal e utilizam os vocábulos perfeitos para produzir a poesia que faz
despertar o sentimento do belo, encantando e atraindo as pessoas para a leitura.
Através dessas atividades pode-se perceber a reação dos alunos frente a
esta diferente forma de ler. Os mesmos demonstraram grande interesse pelas
atividades e relataram que ainda não haviam vivenciado tal forma de leitura em que
poemas pudessem carregar tantos significados, estes, subjetivos a cada leitor.
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CONVITE
Poesia é brincar com palavras
como se brinca com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio,pião de tanto brincar
se gastam.
As palavras não: quanto mais se brinca
com elas mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia que é sempre um novo dia Vamos brincar de poesia?
Fonte: Paulo José Paes – extraído de http://nahoradachuva.blogspot.com/2006/01/convite-jos-paulo-paes.html
Figura 4: Pássaro na vertical Fonte: Liberio Neves, 1965
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Figura 5: Canção para ninar gato com insônia
Fonte: Come Vento, 1988
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Era um homem bem vestido
Foi beber no botequim
Bebeu muito, bebeu tanto
Que
saiu
de
lá
assim.
As casas passavam em volta
Numa procissão sem fim
As coisas todas rodando
Apertados no balanço
Margarida e Serafim
Se beijam com tanto ardor
Que acabam ficando
O moço entra apressado Para ver a namorada E é da seguinte forma
escada. a sobe
ele Que
Mas lá em cima está o pai Da pequena que ele adora
E por isso pela escada
ele
embora
Figura 6: Poeminhas Cinéticos Fonte: Millôr Fernandes – extraído:http://amorecultura.vilabol.uol.com.br/cinetico.htm
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Trem de Ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria que foi
isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem
de ferro)
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é
muito bom)
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou
mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
Fonte: Manoel Bandeira
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A boneca
Deixando a bola e a peteca Com quem inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca, Duas meninas brigavam.
Dizia a primeira: “É minha!” _ “É minha!” a outra gritava;
E nenhuma se continha, Nem a boneca largava.
Quem mais sofria (coitada!) Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada, E amarrotada a carinha.
Tanto puxaram por ela, Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela Que lhe formava o recheio.
E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e a peteca, Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca...
Fonte: Olavo Bilac - http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/p01/p011131.htm
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As borboletas
Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas
Borboletas brancas
São alegres e francas.
Borboletas azuis
Gostam muito de luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então . . .
Oh, que escuridão!
Fonte: Vinícius de Moraes
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Após a apreciação dos poemas, foram dadas algumas atividades,
utilizando os textos lidos. As atividades estão descritas abaixo:
1. Após a leitura dos poemas construa um poema, utilizando este recurso
riquíssimo e bastante explorado pelos poetas mais recentes, que não
apenas escrevem, mas “desenham” seus poemas.
2. Nesta atividade usaremos o texto TREM DE FERRO. (A professora
perguntará aos alunos se eles já ouviram o barulho de um trem em
movimento. Provavelmente, a resposta será afirmativa. Então a docente
entregará para cada aluno o poema TREM DE FERRO de Manuel
Bandeira. Em seguida a professora lerá em voz alta o texto, fazendo-os
perceber como o autor usou as palavras para dar sonoridade necessária
para que as palavras imitassem o “andar” do trem. Logo após a leitura
feita pela professora, os alunos deverão participar da atividade
ensaiando a leitura significativa do poema TREM DE FERRO para ser
apresentado no final do quarto bimestre).
3. Agora, leia o texto “As Borboletas” (p.16), mas antes imagine este inseto
no jardim, no quintal, na rua... Observe os movimentos que ela executa
para ficar no ar, e só depois leia o texto atentamente. Após a leitura,
responda às questões:
a. Leia novamente, o primeiro, o segundo, o terceiro e o quarto verso do
poema “As Borboletas”. Qual sensação você pode perceber após a
leitura dos versos?
b. Há dezesseis versos no poema. Elas rimam? Escreva as palavras que
rimam.
c. Reescreva a frase da primeira estrofe. Inicie a oração com as palavras:
As borboletas...
d. Escreva um poema sobre a bandeira do Brasil
Outra atividade proposta com o uso de poemas foi a dramatização. Os
alunos que apresentaram interesse de forma voluntária na participação deste
trabalho foram selecionados e divididos em grupos. Cada grupo ficou
responsável pela encenação de um dos poemas trabalhados em sala de aula.
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Os ensaios começaram nas quartas-feiras de manhã. O lugar utilizado foi o
laboratório. O espaço não era o mais adequado, mas viabilizou um bom
trabalho e proporcionou aos alunos chances de organizar a apresentação. Os
discentes traziam diferentes objetos e materiais para dar vida ao texto. Na
primeira semana estavam com vergonha de se expor aos colegas, porém aos
poucos a timidez foi desaparecendo. Houve dias em que alguns alunos
faltaram, entretanto aqueles que estavam presentes faziam o papel dos
ausentes. Foram necessários vários dias para desenvolver a
declamação/dramatização dos poemas. “As borboletas” (p.16) foi o texto mais
fácil de trabalhar, porque participavam apenas quatro alunos fantasiados de
borboletas e um discente que lia o poema. Cada discente representava uma
cor das borboletas e aparecia no local vagarosamente, como faz o inseto
quando está voando. Outro poema, “A boneca” (p.15) de Olavo Bilac, tem cinco
estrofes, com quatro versos cada. É um texto longo que conta através de
versos a história de duas meninas que brigam por causa de uma boneca.
Participavam dessa encenação três alunas: duas para representar e uma para
declamar o poema. Os objetos utilizados foram uma bola, uma peteca e uma
boneca de pano. O poema mais difícil de trabalhar foi “Trem de ferro” (p.14),
porque todos os alunos inscritos participavam da leitura deste poema que imita
o “andar” do trem. Eles tinham que dar ritmo à leitura. Isso é muito complicado,
pois nos três versos iniciais a leitura tem que dar a impressão que a locomotiva
está partindo da estação ferroviária, produzindo aquele barulho feito pelas
rodas do trem em contato com o trilho. Em seguida, os vocábulos devem ser
lidos dando a sensação de que o trem aumenta de velocidade e que as coisas
estão passando por ele rapidamente. Não foi fácil realizar este trabalho, porque
estávamos no final do quarto bimestre. Os alunos estavam eufóricos, pois as
férias se aproximavam, mas ainda assim vinham e participavam dos ensaios.
No final, fizemos uma boa apresentação, que ocorreu na última semana de
aula, contando com a presença dos pais e alunos de outras séries.
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3 Conclusão
A leitura tem papel fundamental na formação do ser humano. Ela é
eficiente no processo educacional, desde que seja trabalhada adequadamente.
O aluno apreende com a leitura: ortografia, pontuação, gramática, coesão e
coerência textual, desenvolvendo assim as habilidades de compreender o
texto. A leitura vai além do texto, seja ele qual for, e começa antes do contato
com ele.
A capacidade de ler, compreender e processar informações de um
texto é adquirida de uma só maneira: lendo. O leitor assume um papel atuante,
deixa de ser mero decodificador ou receptor passivo. A formação do leitor
merece ser considerada como um processo em longo prazo, já que a
linguagem é um fenômeno complexo.
O interesse dos pesquisadores pela leitura como campo de
investigação é recente. Apenas nos últimos anos os especialistas da área da
educação começaram a ter consciência sobre a complexidade da ciência da
linguagem. Neste trabalho comprovou-se que os alunos conseguem escrever
textos a partir de fotos familiares, porque para eles esta atividade está
carregada de significado principalmente por fazer parte de suas vidas. Nessas
circunstâncias, a escrita flui naturalmente e se torna mais prazerosa.
As atividades que contemplaram o uso de poemas resultaram em
respostas muito ricas, e aproximaram os alunos de um tipo de gênero textual
que não é comum no seu dia a dia. Ao mesmo tempo, possibilitou a leitura
desse gênero de forma mais intimista e interpretativa.
Levando em consideração todos esses apontamentos, é possível inferir
que existem formas diferenciadas de trabalhar a leitura em seus mais variados
gêneros. Nesse caso, não apenas a leitura por si só, mas o interpretar, o sentir
e o entendimento de cada palavra, de cada linha, de cada estrofe de modo a
gerar no aluno o prazer pela leitura, possibilitando uma ressignificação do texto.
20
Referências
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Extraído: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/trem.htm. Acesso em 22 de
jul. 2011
BILAC, O. Poema: A boneca.
Extraído de: http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/p01/p011131.htm.
Acesso em 22 de jul. 2011.
CAPARELLI, S. Canção para ninar gato com insônia. Extraído de:
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=10460. Acesso
em 19 jul. 2011.
FERNANDES, M. Poeminhas cinéticos. Extraído de:
http://amorecultura.vilabol.uol.com.br/cinetico.htm. Acesso em 20 jul. 2011.
GUEDES, P. C. e colaboradores. Ler e escrever, compromisso de todas as
áreas. Porto Alegre: Editora da Universidade UFRGS, 1999.
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico:
2000.
KRAMER, Sonia. Escrita, experiência e formação – múltiplas possibilidades
de criação de escrita. In: Candau, Vera, M.(org). Linguagens, espaços e
tempos no ensinar e aprender. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
KISSILEVITC, E. Leitura e contextos significativos de ensino e aprendizagem.
Disponível em: <http://www.alb.com.br>. Acesso em 10 de maio 2011.
21
NEVES, L. Pássaro na vertical.
Extraído de:
http://ericaparasemprerebelde.blogspot.com/2008/10/poesiapassarovertical.htm
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MORAES, V. Poema As borboletas.
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PAES, J. P. Convite
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Acesso em 21de Jul. 2011.
PARANÁ. Secretaria da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação
Básica. Curitiba: Jam3Comunicação, 2008.