sebenta de direito constitucional
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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
DIREITO CONSTITUCIONAL
Texto de apoio correspondente s aulasleccionadas ao 1 Ano da Faculdade de Direitoda Universidade do Porto, no ano lectivo de1999/00
Lusa Neto
Assistente da FDUP
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Nota Prvia
Os elementos de estudo que ora se apresentam visam apenas fornecer mais um apoio para os alunosdo 1 Ano.
Estes alunos, recm-entrados na Faculdade, sentem-se no raras vezes perdidos, depois de umempenhado e longo processo de candidatura.
De facto, so confrontados com um tipo de ensino distinto daquele a que vm habituados do EnsinoSecundrio, em termos de exigncias, de vastido dos programas, de estilo de exposio e modo deleccionao, e da decorrem inevitveis dificuldades.
Que estas dificuldades devem contar, sempre, com o apoio dos docentes, e mormente daqueles que
tm a seu cargo disciplinas do 1 Ano, parece evidente e no merece aqui referncia de maior.Mas umas das dificuldades mais recorrente est porventura relacionada com a triagem que supostofazerem, da bibliografia indicada.
Isto tanto mais verdade no que tange ao Direito Constitucional, disciplina que convoca exigentescompetncias tcnicas mas que apela de modo incondicional a um enquadramento cultural maisprofundo.
O objectivo que aqui se tenta cumprir to s o de fornecer um roteiro consistente das aulas, ondepossam os alunos buscar arrimo seguro para as leituras dos manuais, monografias e outras fontesindicadas, que obviamente estes elementos no substituem ou minimizam, e que antes devem fazerparte de um caminho de busca, investigao e crtica pessoal que deve ser fomentada desde os
primeiros instantes da vida universitria.Assim, estes elementos correspondem a uma verso muito simplificada e a merecer necessrioaperfeioamento das aulas por mim leccionadas, sob orientao do Prof. Doutor Jorge Miranda, ao 1Ano da Faculdade de Direito da Universidade do Porto no ano lectivo 1999/00. Precisamente por issose apresentam em estilo muito prximo do da linguagem coloquial, opo que aqui se assume e quecorresponde no s aos objectivos enunciados como tambm ao tempo de que se disps para a suaapresentao. Apresenta-se igualmente uma bibliografia desenvolvida da disciplina bem comosugestes jurisprudenciais que permitem colorir e integrar os conhecimentos tericos.
Cumpre-me agradecer e fao-o com gosto -, a trs pessoas. hoje j licenciada Anabela Leo, queenquanto monitora da disciplina me auxiliou na organizao da bibliografia e sugestes dejurisprudncia, e que, enquanto docente da disciplina, se encarregou da 1 reviso do texto. Mariana
Tavares de Oliveira, hoje aluna do 3 Ano desta casa, e que fez o favor de me facultar o acesso aosseus apontamentos, para que os cruzasse com os meus.E ao Sr. Miguel Coelho, que teve a pacincia e, mais importante, o cuidado! de dar uma primeiraforma informatizada aos elementos que ora se apresentam.
Que este trabalho conjunto possa servir os seus propsitos, so os meus votos.
Porto e FDUP, Julho de 2001
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DIREITO CONSTITUCIONAL
Programa da disciplina
Parte I O Estado e a experincia constitucional................................................................................ 4Ttulo I O Estado na HistriaCaptulo I Localizao histrica do EstadoCaptulo II O Direito Pblico moderno e o Estado de tipo europeu
Ttulo II Sistemas e famlias constitucionais.................................................................................... 26Captulo I Sistemas e famlias constitucionais em geralCaptulo II As diversas famlias constitucionaisCaptulo III Os sistemas constitucionais do Brasil e dos pases africanos de lngua portuguesa
Ttulo III As constituies portuguesas............................................................................................ 55Captulo I As constituies portuguesas em geral
Captulo II- As constituies liberaisCaptulo III A Constituio de 1933Captulo IV A Constituio de 1976
Parte II Teoria da Constituio........................................................................................................... 76Ttulo I A constituio como fenmeno jurdicoCaptulo I Conceito de ConstituioCaptulo II Formao da ConstituioCaptulo III Modif icaes e subsistncia da Constituio
Ttulo II Normas Constitucionais...................................................................................................... 85Captulo I Estrutura das normas constitucionaisCaptulo II Interpretao, integrao e aplicao
Parte III A Actividade constitucional do Estado .............................................................................. 92Ttulo I Funes, rgos e actos em geralCaptulo I Funes do EstadoCaptulo II rgos do Estado
Ttulo II Actos legislativos................................................................................................................ 106Captulo I A lei em geralCaptulo II As leis da Assembleia da RepblicaCaptulo III- Autorizaes e ratificaes legislativasCaptulo IV Relaes entre actos legislativos
Parte IV Inconstitucionalidade e garantia da Constituio .......................................................... 124
Ttulo I Inconstitucionalidade e garantia em geralCaptulo I Inconstitucionalidade e legalidadeCaptulo II Garantia da constitucionalidade
Ttulo II Sistemas de fiscalizao da constitucionalidade ........................................................... 132Captulo I Relance comparativo e histricoCaptulo II O regime portugus actual
Bibliografia .......................................................................................................................................... 144
Sugestes jurisprudenciais ............................................................................................................... 156
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Parte I O Estado e a experincia constitucional
Ttulo I O Estado na HistriaCaptulo I Localizao histrica do EstadoCaptulo II O Direito Pblico moderno e o Estado de tipo europeu
O fenmeno poltico , genericamente entendido, o objecto de disciplinas como a
Teoria Geral do Estado, a Teoria Geral do Direito Pblico, a Cincia Poltica, o Direito
Constitucional, a Histria do Direito Constitucional, o Direito Constitucional
Comparado, ou a Histria do Direito Constitucional Comparado. um objecto que
pode, no entanto, ser apreciado quer sob uma perspectiva de facto (ou de ser)
v.g. no caso da Cincia Poltica -, quer sob uma perspectiva normativa ( ou de dever
ser) como no caso do Direito Constitucional.O objecto do Direito Constitucional a Constituio, que cria estruturas para que o
Estado realize as suas tarefas.
O Direito Constitucional = Direito Poltico (Polis = Cidade, Estado) ento um
Direito da Organizao, que respeita ao modo de criao do Estado, visto que este
a nica forma de sociedade poltica que tem Constituio.
No entanto, encontramos j alguns fenmenos de paraconstitucionalizao:fenmenos de aproximao ao Estado por parte de organizaes supra-estaduais
(ex.: UE, com marcas de estadualidade como o Parlamento Europeu, Euro, poltica
econmica comum), Carta da ONU que prevalece sobre todos os demais tratados
internacionais.
Por seu turno, os fenmenos constitucionais a nvel interno so ainda embrionrios, e
regem-se por um conjunto de regras estruturantes s quais o grupo humano se
submete.
Ao contrrio dos vrios grupos humanos (ex. associao acadmica), o Estado uma
sociedade de fins gerais (que se dedica a uma pluralidade de fins), e que visa a
realizao temporal das necessidades colectivas. At agora apenas o Estado tem
poder coercitivo. A ONU pode ter esse poder coercitivo atravs do Conselho de
Segurana, mas apenas sobre os Estados em geral (numa deciso dependente da
vontade dos membros efectivos).
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Rege fins gerais da ordem do Estado.
Contm os grandes princpios da ordem jurdicado Estado
ConstituioEstabelece o modo de relacionamento do Estadocom outros Estados
O Direito Constitucional distingue-se de outros ramos do Direito na medida em que
corresponde ao tronco do ordenamento jurdico.
Estado Estado Comunidade exerce poder para a realizao de finscomuns.
Estado Poder regulamentao das relaes.
O Estado:
uma das formas de sociedade poltica;
objecto de estudo da cincia do Direito Constitucional; abalado, condicionado por factores internos e externos.
De facto, quando falamos em fenmeno estadual, referimo-nos a organizaes que
esto em mutao e em transformao. No entanto, apesar dessas mutaes, a
soberania do Estado prevalece e ele ainda a referncia no tempo e no espao.
No so apenas os indivduos, mas tambm o Estado e as demais instituies queexercem autoridade pblica devem obedincia ao Estado. No h ideia de poder sem
ideia de Direito (mudando a concepo de um, muda a concepo do outro). O Direito
Constitucional a parcela da ordem jurdica que rege o prprio Estado enquanto
comunidade e enquanto poder.
Sociedade em geral
Sociedades polticas
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Estado
Estado Moderno
Desde sculos XV e XVI Estado ConstitucionalRepresentativo e de Direito desdesculo XVIII
O Estado tanto objecto de estudo da Cincia Poltica como do Direito Constitucional.
Ora uma
determinada pelo objecto;
Cincia
Mas tambm resulta do mtodo e perspectiva de anlise.
Assim, enquanto o Direito Constitucional estuda o Estado enquanto realidade sujeita a
normas (dever ser), a Cincia Poltica estuda o Estado enquanto facto ou realidade(ser).
Por Estado podemos entender:
comunidade de pessoas relao pessoas
instituio de um poder e poder.
regulamenta as relaes que se estabelecem entre pessoas e poder.
A raiz etimolgica da palavra Estado resulta do verbo latino sto, stas, are, aui,
statum (permanecer). De facto, o Estado dura no tempo. Mudam os governantes, os
titulares, mas o Estado a realidade poltica que permanece.
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Caracterstica da Institucionalizao - Maurice Hauriou
define a instituio = ideia de obra ou
empreendimento que vive e perdura no meio social
(ex.: Estado, propriedade privada...).
Ou seja, o Estado aqui uma instituio que corresponde a uma realidade histrica e
que existe apesar das mutaes histricas.
No Sc. XVI Maquiavel, em O Prncipe, ao dizer que todos os Estados so
Monarquias ou Repblicas, veio generalizar / solidificar o sentido de Estado.
O Estado passa por dois fenmenos:
- Acesso independncia poltica das colnias (ascenso de vrios partidos;
igualdade poltica...);
- Expanso do modelo europeu de Estado (homogeneidade espacial do Estado, ou
seja, exportao de um mesmo modelo poltico).
Como caractersticas bsicas de qualquer Estado encontramos:
1- Complexidade de organizao e actuao A uma centralizao do poder
corresponde a multiplicao de funes.
O Estado uma sociedade de fins gerais. Abanca com a totalidade de fins gerais para
satisfazer as necessidades colectivas. O Estado complexo; os grupos ou
associaes regem-se por fins particulares, mas o Estado tem uma multiplicidade de
fins que tem que prever e abarcar e tem uma grande diferenciao de rgos eservios.
2- Autonomia do poder poltico.
O Estado composto por uma comunidade de pessoas sujeita a um poder que se
destaca. Fala-se em soberania do Estado, se bem que haja uma separao entre a
comunidade civil e o poder poltico institudo.
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Mesmo sem ser absoluto ou totalitrio, o Estado possui a sua mstica de poder e
justifica as suas aces em nome de objectos prprios.
3- Coercibilidade - susceptibilidade ou possibilidade do direito do Estado ser
imposto pela fora.
Ao Estado cabe a administrao da justia entre as pessoas, por isso tem de lhe
caber tambm o monoplio da fora fsica. O Estado promove a integrao, a
direco, a defesa da sociedade, a prpria sobrevivncia como um fim em si, a
segurana quer interna, quer externa.
No o Estado que se impe pela fora, mas sim o Direito do Estado com as suas
leis e normas jurdicas. Importa perceber que prefervel falar em coercibilidade e
no em coaco ou coero para melhor acentuar a ideia de mera susceptibilidade ou
possibilidade de vindicao normativa pela fora
4- Institucionalizao durao, permanncia do poder, para alm da mudana dos
titulares. Corresponde a uma ideia de permanncia, fixao, e enraizamento do
Estado como realidade transtemporal, e imbrinca com permanncia dos fins gerais a
que o Estado se prope,
- na esfera externa O Estado mantm relaes com outros Estadosinternacionais.
- na esfera interna mudana de governo, de poderes, de leis, mas o Estado
permanece.
Esta institucionalizao e permanncia verifica-se tambm ao nvel da
Constituio. Tambm os princpios gerais da constituio permanecem. H, porm,
excepes, pois existem governos que no assumem as normas jurdicas de
governos anteriores.
O objecto de uma Constituio material diz respeito aos princpios gerais do
Estado (regras de ocupao do poder poltico e regras de cidado e de Estado). O
artigo 16 da Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado referia que uma
Constituio para o ser, no poderia prescindir de regular os direitos das pessoas e a
separao de poderes, o que ainda hoje podemos dizer que corresponde ao contedo
mnimo essencial de uma Constituio.
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A Constituio formal (escrita) surge das revolues liberais do sc. XVIII. Com elas
surge um diferente tipo de Estado.
5- Territorialidade ou sedentariedade:
Necessidade de um espao fsico para que o Estado realize o seu poder (Espao
fsico de actuao).
So hoje considerados elementos do Estado o poder poltico, o povo e o territrio. J
no existem hoje sociedades nmadas e a cada Estado corresponde um territrio,
que se revela indispensvel para o Estado como referncia da comunidade.
Em 1900, Jellinek , na sua Teoria Geral do Estado apresenta a categorizao de tipos
fundamentais de Estado formas de organizao do Estado em determinado tempo e
espao para realizar os seus fins.
a seguinte a classificao proposta por Jellinek:
1- Estado Oriental
2- Estado Grego
3- Estado Romano
4- Estado Medieval
5- Estado Moderno scs. XIV e XV
Ao contrrio de Jellinek, Jorge Miranda considera uma classificao de tipos
histricos de Estado e no de tipos fundamentais, j que eles no coexistem.
Seguindo esta classificao, ser mais correcto falar-se de uma organizao de tipo
medieval e no de um Estado medieval, j que a no se verifica uma identificao do
poder estadual como poder supremo nem h coercibilidade, antes existindo uma
fragmentao do poder poltico decorrente da organizao feudal da sociedade.
Se os primeiros tipos de Estado tm localizaes espacio-temporais bem definidas, j
o Estado Moderno:
pode surgir no sc. XIV [Inglaterra e Portugal ];
surge essencialmente nos scs. XV e XVI com o Renascimento e com os
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Descobrimentos;
resulta de uma centralizao do poder por reaco fase anterior.
Podem identificar-se trs caractersticas do Estado Moderno que marcam
a ruptura com as outras formas anteriores de Estado:
1- Poder poltico = ideia de soberania
2- Estado = Nao
3- Estado laico
1 Poder poltico = Soberania
A teorizao actual da soberania foi realizada por Jean Bodin ( Les six livres de la
Rpublique), numa altura em que o aparecimento de fronteiras territoriais
exguas fazem da centralizao do poder uma condio sine qua non para a
existncia e sobrevivncia do prprio Estado. O poder poltico centralizado evita
a desagregao do Estado em pequenas unidades territoriais e o garante da
unidade poltica estadual, surgindo:
como uma necessidade de afirmao para com outros Estados europeus;
como uma necessidade de comunicao com Estados mais longnquos
(Como nota marginal refira-se por exemplo que cessa de ser utilizada a
expresso povo brbaro que passa a ser substituda pela de povo
estrangeiro).
Atendendo ideia de soberania o poder poltico pode ser apreciado:
- esfera interna como poder supremo: na esfera interna no h poderes
acima do poder poltico / h um plano de subordinao de todos os poderes em
relao ao poder poltico.
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- esfera externa como poder independente: na esfera externa o Estado no
recebe directrizes de outros Estados / h uma Coordenao com os restantes
Estados .
2- Estado = Nao
Noutros tipos anteriores de Estados o que uniu determinado nmero de pessoas que
formam o Estado foi por exemplo o factor religioso (Estado Oriental, Grego e
Romano).
No Estado Moderno o factor de coeso a Nao, que corresponde a um vnculo
objectivo / emocional que resulta de vivncias histricas e que promove a coeso de
determinadas comunidades humanas.
Podemos encontrar num Estado uma s Nao ou vrias Naes, assim como
podemos encontrar uma Nao dividida em vrios Estados. Mas no Estado Moderno
a um Estado corresponde tendencialmente uma Nao, e a Nao define-se por
relao com o Estado.
3- Estado laico:
O Estado Moderno de tipo europeu um Estado que deixa de prosseguir fins
religiosos. Mesmo que no tenha sido imediata a separao em termos jurdicos (ex:
em Portugal s ocorre com a Constituio de 1911), havia uma separao no plano
dos princpios entre fins religiosos e fins polticos.
O Estado laico radica no fundo ainda no Cristianismo e no brocardo Dai a Csar oque de Csar, a Deus o que Deus
Estas trs caractersticas do Estado Moderno somam-se s cinco caractersticas
gerais do Estado.
Fases do Estado Moderno de tipo Europeu:
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1fase- Estado Estamental scs.: XIV /XV /XVI
Determinados estados com processo acelerado de evoluo (Inglaterra)
Monarquia de Direito Divino Sc. XVII
2- Estado absoluto
Despotismo esclarecido Sc. XVIII
3- Estado Constitucional, Representativo e de Direito
- Estado liberal XIX
- Estado social de Direito XX (A partir da 1 GG)
Acentue-se que esta correspondncia temporal meramente tendencial e que a
Inglaterra no segue esta evoluo, j que parece passar directamente da fase do
Estado Estamental para a do Estado Constitucional representativo e de Direito.
Caracterizao das fases do Estado Moderno de tipo Europeu:
- Estado Estamental (Stndenstaat):
O poder poltico encontra-se limitado por ordens representativas/ h uma
representao dos estratos da sociedade atravs de assembleias consultivas
ou deliberativas (ex.: Cortes em Portugal; Estados Gerais em Frana;
Parlamento em Inglaterra).
Surge numa fase de transio tem ainda elementos do perodo de
organizao medieval e elementos do Estado Moderno de tipo europeu, como
a centralizao do poder e a correspondncia entre ideias de poder poltico esoberania.
Em Portugal o Estado Estamental entra em declnio no reinado de D. Afonso
V e termina em D. Joo II, com qual se inicia no nosso pas, o Estado
absoluto.
- Estado absoluto:
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H uma progressiva centralizao do poder em realizao do Estado
Estamental, at que deixa de haver limitao das ordens representativas por
haver uma centralizao total do poder na figura do monarca.
Monarquia de Direito Divino Sc. XVII
Justificao divina para a centralizao e exerccio do poder poltico: o Rei
a personificao de um mandato divino para governar (Lus XIV Ltat cest
moi glorificao e deificao do poder poltico).
Se a classificao do exerccio do poder poltico da Antiguidade clssica
distinguia Monarquia, Aristocracia e Democracia, Maquiavel considera apenas
duas classificaes do exerccio do poder poltico:
Monarquia exerccio do poder poltico por um rgo singular por via
hereditria ou electiva;
Repblica o poder executivo cabe ou a um rgo colectivo ou a um rgo
singular desde que este esteja limitado por uma assembleia.
Despotismo esclarecido Sc. XVIII
A justificao do exerccio do poder poltico a razo deificada e mitificada
(Iluminismo).
- Estado Constitucional, Representativo e de Direito Scs. XIX e XX
Melhor do que nos guiarmos pela razo de um guiarmo-nos pela razo geral
atravs da lei esta incorpora a razo geral ou da comunidade.
Cumula as trs caractersticas (alguns autores referem apenas Estado de
Direito, mas parte-se do pressuposto que h as outras duas.)
Por Estado Constitucional se significa a exploso do movimento
constitucionalista qualquer Estado para o ser tem que ter Constituio
(conjunto de princpios fundamentais que constituem a sua estrutura) mas esta
poder ser escrita ou no. No sc. XVIII aumentam exponencialmente as
constituies formais.
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1822- 1 Constituio formal portuguesa (mas j as leis gerais do Reino so
constituies materiais.)
1776 Declarao dos Direitos do Estado da Virgnia.
Declarao da Independncia dos EUA.1787- Constituio Americana - 1 Constituio escrita formal (ainda em vigor).
1789- Declarao dos Direitos do Homem e do cidado Frana determina de
modo essencial o sistema Francs e mantm-se em vigor, por expressa
referncia dos prembulos das Constituies francesas seguintes.
Por Estado Representativo falamos da forma como o poder exercido. por via das revolues liberais a soberania pertence ao povo. Por ser
impossvel o exerccio directo do poder por todo o povo e injusto o exerccio
apenas pelo monarca, encontra-se uma via mdia: todo o povo elege
representantes seus que exercem poder em seu nome.
Kant dizia que a monarquia favorece as guerras porque as decises so
tomadas independentemente de afectarem o povo ou no.
Para Carlos XII (no fim do sc. XVII) a guerra era o desporto preferido dequalquer rei j que no o afectava directamente.
Com a ideia de Estado Representativo surge uma nova forma de encarar a
relao entre poder poltico a sbditos cidados .
Sujeito a um poder participam/ tm poder deinterveno
No tem qualquer tipo de escolha ou participao
Por Estado de Direito entendemos queo nico critrio de actuao possvel o
critrio legal, o critrio do Direito, a Lei. Em termos incipientes esta ideia vem
desde a Antiguidade Clssica (e j Plato referia que melhor que um governo
de homens ser um governo de leis, porque estas estabelecerem normas de
conduta que pautam a sociedade).
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Estado de legalidade Estado de Direito (mais exigente)
- cumpre-se a lei seja ela qual for; - considera a ideia de Direito que estem causa;- mais do que um estado delegalidade;- considera os valores subjacentes adeterminada lei;
Esta ideia de Direito implica:
separao de poderes para Montesquieu; limitao recproca dos poderes fiscalizao de uns poderes em relaoaos outros; respeito pelos Direitos fundamentais; cumprimento da legalidade;
Fases do Estado Constitucional, Representativo e de Direito:
1. Estado Liberal (Estado negativo)- corresponde ao sc.XIX e ao Estado no
intervencionista, e abstencionista do laissez faire, laissez passer.2. Estado Social de Direito surge no fim da 1 Guerra e acentua questes
sociais que reclamam interveno do Estado, o que acontece.
Apesar de tudo, refiram-se hoje algumas correntes neo-liberais.
Estado de polcia Estado polcia Estado policial
- Estado absoluto - Estado liberal (XIX) - A polcia enquanto
instituio utilizada
para manter a ordem em
termos totalitrios
(exerccio ditatorial do
poder).
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Paralelamente ao Estado Social de Direito encontramos ainda hoje:
- Estados Fascistas (Indonsia)
- Estados Socialistas
- Estados Sociais as preocupaes sociais no so inseridas num enquadramento
de Direito.
Como manifestao das caractersticas do Estado Social de Direito podem-se
apontar:
1917 - Constituio Mexicana
1919 - Constituio de Weimar (apesar de no ser a primeira, emblemtica
desta nova fase)
1947 - Constituio Italiana
1949 - Constituio de Bona
1988 - Constituio Brasileira
1976 - Constituio Portuguesa
Teses vrias sobre estrutura do Estado:
Contratualistas (Kant, Rousseau)
- A essncia do Estado corresponde a uma associao de pessoas que se visa
organizar este acordo no quer dizer que tenha havido verificao histrica
do mesmo justificao filosfica e jurdica.
- Nas 1s. Constituies Portuguesas, como na de 1822, l-se por ex. que o
Reino de Portugal consiste na associao de todos os portugueses.
- Marslio de Pdua distingue dois momentos:
1 Pactum unionis os cidados forma o Estado (unio).
2 Pactum subjectionis os cidados atribuem o poder poltico a determinada
entidade.
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Os autores podem-se dividir consoante admitam ou no a soberania como
alienvel.
Para Rousseau e a sua ideia de contrato social h uma associao dos
elementos que transferem o poder para uma entidade, a soberania alienvel,
(transfervel) pode dar origem a regimes totalitrios.
Locke defende que independentemente da associao no h uma
transferncia da titularidade do poder poltico.
Positivistas (Kelsen, Jellinek, Carr de Malberg):
O Estado rege-se pela lei que emanao da sua vontade e tudo visto
mediante uma pirmide normativa.
Jusnaturalistas / Filosofia dos Valores
H princpios, nomeadamente de Direito Natural que devem ser sempre tidos
em ateno.
Historicistas (De Maistre, von Gierke)
O Estado resultado de uma evoluo histrica.
Sociolgicas (La Valle, Smend)
A criao do Estado resulta de uma articulao das foras vivas da sociedade
que levam formao do Estado; tudo defende das vivncias reais da
sociedade (tese que se aproxima da contratualista).
Marxistas
A supraestrutura do Estado determinado pela infraestrutura ecnmica,
decorre dos modos sociais de produo.
Institucionalistas ( M. Hauriou, Georges Burdeau, Constantino Mortati)
O Estado uma ideia de obra ou empreendimento, que vive e perdura no meio
social.
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Decisionista / Ordinalista concreta (Carl Schmitt)
O Estado resulta de uma deciso, ordem concreta que dada.
possvel fazermos de algum modo uma sntese:
- Hoje no podemos prescindir de uma ideia de consenso / no falamos de contrato,
mas antes de base consensual (Contratualistas).
- A ideia de Estado existe em toda a sociedade (Institucionalistas).
- Interessa um Estado que incorpore princpios gerais e imutveis que fazem parte da
filosofia dos valores (Jusnaturalistas).
Na doutrina portuguesa, para Marcello Caetano a Constituio uma forma de
limitao do poder, enquanto para Rogrio Soares a Constituio o garante do bem
comum e o elo, a ponte entre o passado e o futuro.
Os Elementos do Estado que Jellinek identifica so:
elemento humano povo
elemento fsico territrio (Alguns autores entende que o territrio no deve
estar ao mesmo nvel dos outros dois)
elemento institucional poder poltico Soberania
Podem ser entendidos enquanto elementos que se aglutinam ou os elementos
correspondem a condies essenciais da existncia do Estado ou o Estado no
corresponde apenas ao somatrio das condies, que podem ser mais.
Elemento humano povo
Expresses afins:
- Povo No Estado corresponde a uma comunidade de pessoas.
- Populao Atende-se a umponto de vista scio-econmico / estatstico.
- Ptria / Nao Vnculos de natureza histrica e emocional.
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- Repblica Durante muito tempo foi entendido como sinnimo de povo; a partir do
momento em que Maquiavel trabalha este conceito, deixa de haver correspondncia
entre os dois termos .
- Grei- Expresso arcaica em desuso.
O Povo corresponde comunidade de cidados ligada entre si por um vnculo
jurdico, e consiste pois no conjunto de pessoas permanentemente ligadas a um
Estado atravs de um vnculo jurdico e que em democracia podem participar na
gesto da vida pblica.
A cidadania o vnculo jurdico que une uma pessoa ao Estado (a palavra
nacionalidade muitas vezes utilizada como sinnimo, mas no o
verdadeiramente).
O povo titular do poder poltico e destinatrio das normas jurdicas da ordem jurdica
estadual pode ento incluir pessoas que esto fora do territrio portugus assim o
elemento humano , de algum modo, mais condicionante do que o elemento fsico do
territrio.
Concepesde povo
1 Para uma concepo democrtico liberal o que interessa o vnculo jurdico.
2 Para uma concepo Marxista o povo equivale ao povo trabalhador ex.: URSS
3 Para uma concepo prxima do Nacional socialismo / Fascismo, o povo ter a
ver com raa ou com as noes de ptria e Nao.
4 Para uma concepo prxima do fundamentalismo islmico o factor de
identificao de povo de ordem religiosa.
Na CRP de 1976 no houve adopo de uma perspectiva definida e no h
consagrao constitucional da noo de povo.
Lei ordinria Lei 25/94, de 19 de Agosto
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A Declarao Universal dos Direitos do Homem probe uma situao de apatridia (art.
15), o que implica a necessidade de resolver conflitos:
- positivos de cidadania Pluricidadania um mesmo cidado tem vrias cidadanias
(tem proteco de dois ou mais Estados).
- negativos de cidadania Apatridia uma pessoa no cidado de nenhum Estado.
Critrios de aquisio de cidadania:
ius sanguinis(direito que vem do sangue) - aqueles que forem filhos de pai
ou me desse Estado independentemente do stio onde nasceram.
ius soli(direito do solo) aquele que nascer em territrio desse Estado.
Critrios de aquisio de cidadania no direito portugus:
Constituio 1822 ius sanguinis
Constituio 1826 ius soli
Constituio 1838 ius sanguinis
1867 (1 Cdigo Civil Portugus) esta matria regulada pela Lei Civil Lei
ordinria
Hoje a matria regulada pela referida Lei n 25/94 que adopta, como regra
geral, o critrio do ius sanguinis.
A aquisio da cidadania pode ser:
originria - nascimento
ou derivada ou superveniente, por atribuio casamento
ou naturalizao
- Vejam-se os artigos 14 e 15 da CRP, respectivamente em relao s
situaes dos emigrantes e dos aptridas.
- Vejam-se ainda os casos especiais de Macau e Timor.
-
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Elemento institucional - Poder poltico
No Estado Moderno de tipo Europeu corresponde ideia de soberania.
S pela subordinao do poder poltico ao Direito que se encontra organizao
estadual (vejam-se exemplificativamente os artigos 1 e 3 CRP)
Esta soberania implica coordenao na ordem externa e subordinao na ordem
interna.
O que caracteriza o Estado enquanto poder poltico soberano?
na Ordem Externa:
- tradicionalmente e desde 1648 e o Tratado de Westefalia:
- ius tractum(direito de celebrar tratados / convenes).
- ius legationis(direito de ter representaes diplomticas noutros
Estados).
- ius belli(direito de fazer a guerra).
Os ius tractum e ius legationis mantm-se, mas o ius belli desaparece e
substitudo pelo direito de utilizar a fora apenas em legtima defesa.
Hoje ainda se acrescentam:
- o direito de fazer parte de organizaes internacionais.
- o direito de reclamao internacional.
Ser que faz sentido falar-se em soberania na ordem externa?
Desde logo se distinga entre Organizaes internacionais (ONU) que resultam deuma associao e Organizaes supranacionais que tm como objectivo a
integrao dos Estados.
P. ex., no mbito da UE haveria uma maior perda de soberania, se bem
que no ser inteiramente correcto falar-se de perda de soberania visto que h
uma auto-limitao do Estado(a integrao em organizaes supranacionais
implica escolha e vontade prpria de Estado).
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Em termos processuais, tendencialmente :
nas organizaes internacionais as decises so tomadas por unanimidade
(garante mais a posio dos Estados).
nas organizaes supranacionais as decises so tomadas por maioria.
Como sujeitos no Direito Internacional encontramos o Estado, as organizaes
internacionais, e tambm o prprio indivduo (protocolos 9 e 11 da Conveno
Europeia dos Direitos do Homem permite ao indivduo recorrer ao Tribunal Europeu).
Mas como que uma organizao ou Estado pode interferir no funcionamento de
outro Estado sem o consentimento deste? Se h problemas relativamente questo
de soberania interna poder invocar-se hoje um direito de ingerncia por razes
humanitrias, que teve como precursora a teoria Brejnev, considerando admissvel
perda de soberania desde que estivessem em causa determinados ideais e valores
(origem da Primavera de Praga invaso da Checoslovquia.)
As formas de Estado consistem precisamente no modo de articular os trs
elementos do Estado (povo, poder poltico, territrio), mas tm consequncias
importantes ao nvel do exerccio da soberania externa.
Estados soberanos:
Estados unitrios
- integralmente regionais
1. regionais - parcialmente regionais Portugal
(artigo 6 CRP)
2. no regionais
Nos estados unitrios h um nico centro de impulso do poder. Quando falamos em
estados soberanos unitrios regionais e no regionais falamos de regies polticas e
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no administrativas, ou seja, esto em causa regies que contam com rgos do
governo prprio / poder legislativo.
Significa isto que Portugal um Estado soberano unitrio e parcialmente
regional e que mesmo que se tivesse realizado a regionalizao prevista na
CRP e recentemente submetida a referendo, continuariamos a ser um Estado
soberano unitrio e parcialmente regional.
Estados compostos
H vrias unidades com poder dentro do Estado.
Confederao h vrios estados que se associam entre si, formam um
Estado composto h uma partilha horizontal de poderes.
- Estados confederados so estados semi-soberanos que fazem parte da
confederao.
Federao vrios estados que se associam, mas criam uma terceira
entidade qual do poder h uma partilha horizontal e vertical dos poderes
(Unio).
- Estados federados so estados no soberanos que fazem parte da
federao.
Unio Pessoal unio casual na mesma pessoa da titularidade de dois
cargos distintos em dois Estados (ex.: monarca de dois Estados por via de
linhas sucessrias).
Unio Real
H normalmente uma evoluo: da confederao federao, da unio pessoal
unio real.
Estados semi-soberanos:
Confederados compem a confederao.
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- Tm pouca autonomia na esfera internacional.
Confederao
Exguos Estados com territrio reduzido que por si s no tm soberania
externa completa e tm necessidade de associao a um outro Estado numa
ordem externa (ex.: Andorra, Mnaco, Liechtenstein).
Vassalos ex.: sc. XIX, Egipto Turquia; principados medievais; reinos do
Oriente em relao a Portugal na poca dos Descobrimentos).
Protegidos protectora dos coloniais (ex.: Commonwealth, Gronelndia,
Dinamarca)
Estados no soberanos:
Federados fazem parte da federao.
Federao
Partilha vertical dos poderes
Estados federados partilha horizontal dos poderes
A distino entre os Estados semi-soberanos e os Estados no soberanos
tambm uma diferena de grau.
Unio
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Na ordem interna a soberania caracteriza-se por:
1. Originariedade - Estado tem poder originrio que vem de si prprio e no
um poder delegado por uma entidade externa.
2. Supremacia - no h poder superior ao do Estado, o que vem na
sequncia do que dizia Jean Bodin.
Esta uma caracterstica rejeitada por autores como Marcello Caetano
Rebelo de Sousa que a consideram como no fundamental.
Para estes autores: regies autnomas Estado
- poder no originrio e no supremo. - poder originrio e que pode ouno ser supremo.
3. Poder constituinte - Estado faz para si prprio uma constituio (autodota- -
se de uma Constituio). Mesmo os Estados federados (no soberanos na
ordem externa) tm poder constituinte.
4. Estado detm todos os poderes poltico, executivo, jurisdicional e
legislativo.
5. Possibilidade de delegao de poderes por:
- Desconcentrao o Estado atribui poderes a outras entidades, mas elas
existem dentro da pessoa colectiva Estado.
- Descentralizao o Estado atribui poderes, mas cria outras / novas pessoas
colectivas.
Esta descentralizao pode ser
Administrativa :
territorial d origem s autarquias locais : Freguesias,
Municpios, R. Administrativas.
- Institucional d origem a institutos pblicos.
Poltica d origem a regies polticas rgos de governo prprio,
poder legislativo (Aores, Madeira).
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Quanto ao que identifica verdadeiramente os Estados, para alm destas cinco notas,
tm os autores discutido se :
o poder fazer leis Locke / Rousseau
o poder fazer executar coercitivamente essas leis Thomas
o poder tributrio
a possibilidade de exerccio de poderes muito alargados em Estados de
excepo Os estados de stio e de emergncia escapam normalidade
constitucional e permitem a suspenso de Direitos de liberdades e garantias (ver
art. 19 CRP).
Parte I O Estado e a experincia constitucionalTtulo II Sistemas e famlias constitucionaisCaptulo I Sistemas e famlias constitucionais em geralCaptulo II As diversas famlias constitucionaisCaptulo III Os sistemas constitucionais do Brasil e dos pases africanos de lnguaportuguesa
N.B. Consultar Cincia Poltica, de Jorge Miranda, cit. na Bibliografia no que respeita
a sistemas eleitorais e de partidos.
Famlias Constitucionais:
Antes de 1914 o grande modelo de Estado o Estado liberal.
Duas excepes no panorama europeu RssiaTurquia
Entre as duas Grandes Guerras h uma alterao acelerada que leva
fragmentao de modelos de Estado
Tambm entre 85 e 89 h novamente transformaes internacionais.
Maurice Duverger (Les instituitions politiques) refere uma tendencial
aproximao entre o modelo liberal e sovitico. H uma efectiva aproximao
mas por mutao interna do modelo sovitico e no por cedncia mtua dos
dois modelos.
Critrios e razes de identificao de famlias:
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britnica - sistema de governo parlamentar, bipartidarismo, 1 Estado com
reconhecimento de liberdades pblicas.
norte-americana sistema de governo presidencialista, federalismo,
mecanismo de fiscalizao da constitucionalidade.
francesa ruptura com o Estado Absoluto, certido de nascimento do Estado
Constitucional Representativo e de Direito, marca o incio do constitucionalismo
directo, bero do sistema de governo semi-presidencial, grande instabilidade ao
longo do tempo
sovitica (ex. sovitica) diferena fundamental de todos os outros modelos
e famlias.
Encontramos ainda Estados que no se enquadram em nenhuma destas
famlias, por seguirem vias completamente originais (Arglia, Tanznia), ou por
apresentarem caractersticas especficas que meream o seu tratamento
autonomizado, como o caso da Alemanha, Sua, ustria.
Por outro lado, merece ainda referncia especial o caso do Brasil e dos
PALOPs.
Famlia constitucional de matriz britnica:
Gr-Bretanha Inglaterra + Gales (1283-Anexao)
- Reino Unido Esccia (1602 unio pessoal, 1707
unio real)
Irlanda do Norte (estatuto de autonomia 1922 1969)
No existe uma constituio britnica formal, no h texto escrito em que se
incorporem os princpios bsicos. A Gr-Bretanha tem uma Constituio
consuetudinria com base no costume ( consuetudo= costume), apesar de hoje h
um movimento de compilao e codificao de determinadas leis.
E existem ainda assim vrios textos que podem servir de fonte para identificao
desses princpios bsicos:
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- 1215 Magna Carta (constitui sem dvida um embrio da Constituio, onde pela
primeira vez um monarca aceita auto-limitar-se).
- 1628 Petition of Rights pedido ao rei para o reconhecimento de certos direitos.
- 1689 Como resposta Petition of Rights surge a Bill of Rights.
- 1679 Lei sobre o Habeas Corpus forma de garantia contra detenes ilegais.
- 1701 Act of Settlement lei que estabelece a forma de organizao do
Parlamento, completado em 1901.
- 1911 Estatuto de Westminster.
Diviso da Histria Constitucional Britnica:
1. 1215 1689 Bill of Rights
Magna Carta [fase Monrquica (Rei)]
2. 1689 1832 alargamento do sufrgio
Fase Aristocrtica (Cmara dos Lordes)
3. 1832 actualidade
Fase Democrtica (Cmara dos Comuns)
Instituies britnicas:
- Rei C. Comuns constituda por representantes eeleitos pelo povo.
-Parlamento
(bicameral)
C. Lordes constituda por pessoasque ganham o direito por viahereditria (Lordes consagrados emLei prpria) . Em 27 de Outubro de1999 foi aprovada a lei que retira o
direito de voto hereditrio a alguns
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membros desta Cmara.
- Governo
No sistema Britnico dever-se-ia chamar Gabinete (sistema de Gabinete), por razes
histricas, j que resulta de um rgo que existia para aconselhar o rei. No Reino
Unido o 1 Ministro tem normalmente uma pasta a seu cargo e tem quase apenas
funes de coordenao dos restantes membros do Governo.
O Sistema do Governo na Gr-Bretanha Parlamentar, o que se identifica por:
1. O Governo ser emanao do Parlamento / o Governo sai do Parlamento (no
h eleies para os membros do Governo, h eleies legislativas e todos os
membros do governo tm que ter sido candidatos s eleies legislativas).2. O Governo ser responsvel nica e exclusivamente perante o Parlamento /
s o Parlamento pode destituir o Governo).
O sistema britnico assenta num sistema eleitoral maioritrio por crculos uninominais
(por cada crculo eleito um deputado). Por outro lado, no h representao
proporcional, mas sim maioritria, ou seja, o partido que tiver maioria dos votos no
crculo elege o representante para o Parlamento (o que implica que no hrepresentao de pequenas maiorias).
Este sistema maioritrio a uma volta the first past the post leva existncia e
funcionamento de dois partidos (Bipartidrio), de forte ideologia.
Hoje o Rei tem apenas poder simblico de representao do Estado e do poder the
Queen reigns but does not rule.A Cmara dos Lordes tem um poder diminuto: um forum de discusso e funciona
como Tribunal de Recurso de algumas decises jurisdicionais.
A Cmara dos Comuns (Parlamento) constitui o grande centro da vida poltica
britnica.
Famlia constitucional de matriz norte-americana:
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A formao dos EUA identifica-se de modo estreito com o movimento
constitucionalista. Em 1787 a que encontramos a 1 Constituio escrita, que vem
na continuidade da Declarao dos Direitos da Virgnia e da Declarao de
Independncia dos EUA (1776) (e que curiosamente consagra o direito de procurar a
felicidade).
- escrita
Constituio - histrica
- elstica na verso original tem sete artigos e estes
foram sofrendo um trabalho de interpretao e actualizao
por parte dos rgos jurisdicionais.
tambm uma constituio rgida e no flexvel, na medida em que est previsto um
modo de alterar a constituio que difere do procedimento legislativo ordinrio.
No seio da Constituio dos EUA h lugar para a teoria dos poderes implcitos,
importante em termos de interpretao e de relacionamento entre as competncias da
Federao e dos Estados Federados.
A fiscalizao da Constitucionalidade feita por todos os rgos jurisdicionais todo
e qualquer tribunal pode fiscalizar a constitucionalidade - , pelo que se trata de uma
fiscalizao jurisdicional difusa.
A forma de Estado a do Federalismo, garantindo a Constituio formas de
interveno dos estados federados ao nvel de funcionamento das instituies:
Senado dois senadores de cada estado federado /
representao igualitria dos Estados.
Congresso Cmara dos Representantes A representao tem em
conta a dimenso populacional de cada estado.
- Na forma de reviso da Constituio garantida a interveno de vrios
estados federados
- Eleio do Chefe de Estado (Presidente da Unio).
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- Cada um dos Estados federados tem poder Constituinte cidados sujeitos
Constituio do seu Estado e da Unio.
- Estados federados tm competncias prprias (no s delegadas pela Unio).
- Constituio diz quais as matrias reservadas ao Estado federal em termos
legislativos.
- Tudo o que no estiver reservado Unio ou Estado Federal pode ser
objecto de interveno legislativa dos estados federados.
Nos EUA h lugar para a tripartio de poderes de Montesquieu, no esquecendo que
este autor defendia que para alm de uma repartio deveria existir tambm uma
fiscalizao e coordenao recproca dos vrios rgos e poderes.
Esta separao de poderes manifesta-se ao nvel:
- Chefe de Estado (CFA) - executivo
- rgos - Congresso - legislativo
Separao de - Tribunais - jurisdicionalpoderes
- grupos sociais que se articulam com o Estado.
- sistema federalista.
O Sistema de Governo o Presidencialista: no h Governo enquanto rgo
autnomo, mas apenas um conjunto de secretrios que auxiliam o Chefe de Estado
que tambm Chefe do executivo. Fala-se a propsito de um casamento sem
divrcio j que no h possibilidade do Congresso destituir o Presidente e vice-versa.
As comisses de inqurito de responsabilidade criminal so a nica possibilidade de
destituir o Presidente .
As facults de statuer et dempecher de que fala Montesquieu transformam o
sistema dos EUA num sistema de checks and balances(ou de freios e contrapesos),
onde se estabelecem meios de fiscalizao recprocos:
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Chefe de Estado / Congresso
- poder executivo.- pode sugerirdeterminadasiniciativas legislativas(atravs de
mensagens).- pode vetar as leis.
- faz leis- ai que funcionam as comisses de inqurito.- responsabilidade criminal de secretrios de estadoou do prprio Chefe de Estado.- poder legislativo.
- expresso
- Veto
- de bolso / de gaveta (no tomada nenhuma atitude)
Tribunais / Chefe de Estado
- poder jurisdicional - nomeia juzes.- concesso de indultos
.
No que respeita ao sistema judicial funciona a regra do precedente judicial : as
decises jurisdicionais devem obedincia a uma deciso que tenha sido tomada
perante casos anlogos anteriormente.
No que toca ao sistema partidrio, encontramos tendencialmente um bipartidarismo,
apesar da fraca ideologia de partidos que se organizam em volta de pessoas e no
um projecto poltico. A influncia dos partidos verifica-se mais ao nvel dos estados
federados do que ao nvel da Unio.
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Quanto eleio para o Chefe de Estado, a importncia dos partidos reside nas
primrias que tm como objectivo a confrontao de vrias pessoas dentro do partido
para saber quem so os candidatos s presidenciais.
Nos EUA ao lado dos partidos aparecem lobbys e grupos de presso com grande
importncia.
- visam exercer o poder- sistema fulanizado.
- pretendem influenciar o poder.
um sistema fulanizado, o que se verifica essencialmente nos pases da Amrica
Latina que adoptaram o sistema americano.
Expanso do Sistema Norte-Americano:
Modelo Presidencialista Amrica de Sul e Latina (nalguns casos no o
sistema perfeito, mas obedece-se aos contornos gerais).
Fiscalizao jurisdicional difusa da Constitucionalidade
- Sua
- Grcia
- Portugal (na Constituio de 1911 e hoje no mbito de um sistema
misto)
- Japo
- Pases escandinavos
Forma federalista de Estado:
- Continente Americano Brasil
- Europa Alemanha, Sua
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Famlia constitucional de matriz francesa:
PERODOS N CONSTITUIES DATAS DAS
CONSTITUIES
Revoluo 1789 a 1799 3 Constituies 1791
1793
1795
Consulado 1799
1 Imprio 1804
3 Constituies 1799
1802
1804
Restaurao 1814 2 Constituies 1814
1830
2 Repblica 1848
2 Imprio 1851
- Lus Napoleo
3 Constituies 1848
1852
1870
3 Repblica 1870
4 Repblica 1940- 2 Guerra Mundial
5 Repblica 1958- Conflito na Arglia
3 Constituies 1875
1946
1958 (62)
O Sistema Francs tem origem na Revoluo Francesa que marca o incio do
constitucionalismo Moderno. (1789)
no traz imediatamente um sistema estvel que chegue at actualidade
(porque)
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- de tal modo radical o corte com os princpios do Ancien Rgime que,
impossvel uma estabilidade e pacificao imediatas (internamente).
- quando ocorre provoca reaces internacionais de Estados com Monarquias
Absolutas (externamente) que tentam abafar e tumultuar a ordem interna
francesa
Traos constantes no Sistema Francs at 1958:
importncia de uma Constituio formal escrita que se distingue das restantes
normas parlamentares (leis) num nvel superior.
importncia dada Garantia dos Direitos do Homem.
apesar de numerosos sistemas de Governo, at 1958 o mais seguido o
parlamentar (muito diferente do Britnico).
1. No h bipartidarismo.
2. No maioritrio, mas antes proporcional, o que leva ao
pluripartidarismo (maior instabilidade).
papel da lei vista como sinnimo de razo, que instrumento racional que
exprime a vontade geral (doutrinas Iluministas e Jusracionalistas) e que est
ligada ao princpio democrtico o Parlamento que elabora as leis.
Sistema Constitucional
Francs
Sistema Anglo-Saxnico
- Reino Unido - E UA)
- papel fundamental da
lei como fonte do
direito).
- d-se mais importncia
ao costume.
- jurisprudncia como
fonte de direito.
- recusa a fiscalizao jurisdicional da
constitucionalidade; quem faz as leis
fiscaliza-as (o poder legislativo e
- Leis Fiscalizao jurisdicional
- rgo legislativo ou poltico
-
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poltico auto - fiscaliza-se
fiscalizao poltica)
(Montesquieu coordenao
recproca)
- Em 1958 a ltima Constituio francesa buscou uma tentativa de sntese de vrios
sistemas de Governo, esta constituio surge num momento de grande
instabilidade polticoparlamentar.
poderes do Chefe de Estado poderes do Chefe de Estado noSistema Parlamentar
- poderes efectivos (influncia do
sistema napolenico).
- tem apenas funo simblica
A esta ideia se pretendeu aglutinar:
- o apelo participao democrtica dos cidados atravs de referendos (influncia
da democracia jacobina).
- a manuteno da instituio parlamentar, mas acrescentando como rgos de poder
efectivo o Governo e o Chefe de Estado.
Como resultado:
reforo dos poderes do Presidente da Repblica.
apelo participao democrtica.
trs rgos activos
Sistema Semi-Presidencial :
A principal caracterstica que o Governo duplamente responsvel perante
o Parlamento e o Presidente da Repblica ou Chefe de Estado, o que significa
que o Governo pode ser destitudo por estes dois rgos.
vantagens deste sistema:
- ultrapassa-se a instabilidade do sistema parlamentar puro atravs de uma via
mdia que no cai no extremo oposto que o Presidencialismo norte
Americano
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O sistema Semi-Presidencial um Sistema trirquico / trialista, de que
obreiro o General de Gaulle
- resulta da constituio de 1958 - trs rgos activos no sistema de
governo
- Parlamento
- Parlamentarismo 2 rgos activos
-Governo
- Chefe de Estado
- Presidencialismo -Parlamento 2 rgos activos
Quando se fala de reforo de poderes do Presidente da Repblica no Sistema Semi-
Presidencial, deve-se atentar no facto de:
- o Chefe de Estado ser eleito sempre por sufrgio universal directo, retirando
da a sua legitimidade;
- o Presidente da Repblica poder demitir o Governo e dissolver o Parlamento;- ser o Presidente da Repblica quem preside ao Conselho de Ministros.
- Segundo a Constituio francesa, o Presidente da Repblica eleito por 7
anos, mas discute-se a possibilidade de alterao da durao do mandato
para 5 anos ( cfr. Art. 128. da CRP, que prev para o mandato do PR a
durao de 5 anos).
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Este sistema est a um passo do sistema Presidencialista, e na prtica
francesa no se verificou o sistema semi-presidencial antes de 1986, apesar de
este estar previsto na Constituio de 1958. que, por razes de cincia
poltica, desejvel uma no coincidncia entre as maiorias que sustentam o
Chefe de Estado e a Assembleia, para se verificar o verdadeiro semi-
presidencialismo. Aquilo que aconteceu at 1986 foi que houve uma
coincidncia de maiorias.
- Maiorias de Direita Maiorias de esquerda
De Gaulle Franois Miterrand
Pompidou
Giscard d Estaing
(nesta altura tambm a maioria (mudam as duas maioriais)era de direita).
A partir de 1986 verifica-se na prtica o semi-presidencialismo, pois as maiorias nocoincidem
- Chama-se a esta no coincidncia: coabitao.
- O Sistema semi presidencial foitransposto para a Constituioportuguesa de 1982 (1 revisoconstitucional da CRP de 1976).
Em Portugal, entre 1976 e 1982 havia no sistema rgos alheios aos rgos
tradicionais, como por exemplo o Conselho de Revoluo. Em Portugal, houve
sempre uma coabitao apenas interrompida em 1995 com a eleio de Jorge
Sampaio para a Presidncia da Repblica. Alguns autores consideram mesmo que
uma no coabitao pode ser neste sistema um super presidencialismo.
Sistemas similares ao Francs:
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Espanha, Itlia partem da matriz francesa, tm caractersticas similares e
verificam-se os aspectos importantes do sistema francs.
Famlia constitucional de matriz sovitica:
Em 1917 a revoluo traz ao poder o partido bolchevista leninista.
A doutrina do marxismo leninismo:
- visava a igualdade total entre membros de uma sociedade.
- pauta-se por uma atitude negativa, uma atitude de rejeio do sistema
capitalista.
- dialctica marxista ope infra- estrutura e supra estrutura.
- evoluo dos modos de produo - todo o sistema social e jurdico deregulao.
- visa-se fazer florescer o proletariado e o operariado no lugar da burguesia.
- o exerccio do poder cabe ao proletariado, ou melhor, feito em nome dele
ditadura do proletariado.
- a influncia do sistema arrasta-se para pases e Estados pouco desenvolvidos emtermos industriais.
- Soviete conselho, assembleia representativa de determinados cidados e
determinados interesses.
Importncia e influncia de Rousseau para a definio de um Sistema
Convencional / de Conveno, com concentrao de poderes, que esto
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todos atribudos a uma assembleia (no Sistema Francs tal verificou-se
entre 1792 1795)
- sistema de conveno francs entre 1792 e 1795 sistema de conveno sovitico
- concentrao de poderes que no centrada no mesmo partido.
- concentrao de poderes numEstado departido nico.
- Constituies do Sistema Sovitico:
1918 1 Constituio Russa feita apenas, para a Rssia e no para a Unio
Sovitica (pois esta ainda no existia). tambm a 1 Constituio escrita formal que
no se inspira no modelo liberal.
1924 2 Constituio estabelece uma estrutura federalista
O Federalismo da ex URSS no entanto muito distinto do dos EUA, p. ex.:
Repblicas
Repblicas Autnomas
1. Complexo Regies
Circunscries
Estados federados no so todos iguais
2. Fictcio a Federao no parte dos Estados, no h uma vontade
expressa por parte deles para formar a federao, a deciso , pelo contrrio,
tomada unilateralmente pelos rgos centrais para a formao da federao
(deciso tomada de cima para baixo); no h a possibilidade de abandonar a
Federao / no h secesso ou desvinculao em relao Federao.
-
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3. Inigualitrio as entidades que constituem a Federao no esto no
mesmo plano.
- de facto a Rssia no tem rgos diferentes da Federao
- internamente
- de direito so vrios os escales de entidades que compeFederao.
- externamente a representao externa no feita apenas pela a
Federao, mas tambm pela Bielorssia e Rssia, que lado a lado com a
Federao tm poderes de representao externa.
4.Centralizado h um partido nico que controla os poderes.
Estas duas Constituies, de 1918 e 1924 tm entre si caractersticas comuns:
estabelecem uma estrutura do poder em pirmides (verticais).
estabelecem o sufrgio de classe ( sufrgio universal apenas tem direito a
voto o povo trabalhador).
1936 3 Constituio estabelece uma colectivizao rgida no Estado Sovitico,correspondendo ao apogeu da colectivizao enquanto direco para uma sociedade
comunista, cujo mentor Estaline. a constituio que mais se assemelha s que
vigoravam na altura na Europa, apesar de corporizar um outro ideal.
1977 4 Constituio Vem na sequncia directa da Constituio de 1936, dando
importncia em termos formais aos Direitos fundamentais e manifestando alguma
abertura coexistncia pacfica.
1988 1 Reviso da Constituio de 1977
1994 2 Reviso da Constituio de 1977
-
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No incio dos anos 80 h uma tentativa de reforma interna na Unio Sovitica,
aproximando-se o modelo socialista do modelo liberal. Para esta reforma
contriburam:
factores econmicos;
envelhecimento do regime;
acelerao da difuso de ideias / maior rapidez de transmisso de ideias a
nvel internacional.
factor pessoal - Gorbatchev
Em vez de uma ruptura encontramos uma reforma / transio
- corte total com o passado - as mudanas vm numa linha decontinuidade com o passado.
Para o Estado Sovitico:
A ideia de Constituio diferente da do Estado Constitucional
Representativo e de Direito, j que tem um duplo papel:
- balano do caminho que a sociedade empreendeu at ento:
- apresenta um programa para os passos que falta dar.
A ideia de lei e do princpio de legalidade tambm diferente da do Estado
Constitucional Representativo e de Direito. Para este est em causa uma ideia
formal da lei os actos tm que ser legais. Para o Estado Sovitico o princpio
de legalidade vem referido no artigo 4 da Constituio. Considera que o
princpio da legalidade um princpio integrador: os actos so legais quando
contribuem para uma sociedade socialista.
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ideia diferente de Constituio a Constituio antes de maisum meio para atingir o Estado Socialista / funciona mais nosentido de manifesto ou de programa poltico.
Concentrao de ideia diferente de lei e princpio de legalidade.
poderes * federalismo fictcio, complexo, inigualitrio
existncia de um partido nico, que tem um papel previsto naConstituio.
* justificada pelo facto de ser essencial para o desenvolvimento da sociedade e da
comunidade.
- 1977 / 1988 Sovietes + Praesidium sistema directorial / chefia de Estado Colegial
1988 Presidente Chefe de Estado singular, mas eleito por sufrgio indirecto.
- 1994 Chefe de Estado, que singular, eleito por sufrgio universal.
Expanso do sistema:
- Chefe de Estado Colegial sistema directorial da Sua
- China - 1949
- Monglia - 1922
- Vietname difuso do sistema sovitico
Sistemas Austraco e Alemo
Estes sistemas so analisados sistematicamente em termos paralelos,
porque em termos de evoluo cronolgica tm uma evoluo anloga, sofrem
alteraes idnticas evoluindo os sistemas paralelamente.
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So tambm sistemas com a mesma lngua, ou seja, tm uma cultura
organizacional idntica. Quer isto dizer, mais explicitamente, que tm o mesmo
tipo de instituies polticas, sociais, culturais e econmicas.
A ustria e a Alemanha encontram-se unificadas at ao perodo de Napoleo
(diviso territorial e estatal). A Unio entre a ustria e a Alemanha era o
estado da Prssia.
1871 h uma articulao entre a ustria e a Alemanha sob domnio imperial
(Estado Federal)
durante os sculos XVIII e XIX, ao contrrio de outros estados europeus, a
Prssia no sofre revolues.
A Alemanha tem uma construo de tal modo autnoma da francesa, que se
fala de tradio francesa e tradio germnica.
As constituies alems de 1849, 1871 estabelecem formas de monarquia
limitada, no absoluta, mas uma monarquia que se autolimita estabelecem
uma monarquia constitucional
Esta Monarquia Constitucional est limitada pelo Parlamento, e pelas posies degarantias dos Direitos fundamentais.
A Constituio de 1871 institui a Monarquia Imperial.
Com o fim da 1 Guerra Mundial os Imprios centrais da Europa desagregaram-se.
Isto dar origem Constituio Alem de 1919 e a Austraca de 1920. Como
semelhanas entre estas constituies podemos apontar:
1. tm um grande rigor tcnico os conceitos so tratados de uma formaprecisa.
2. ambas prevem formas federativas de Estado.
3. prevem sistemas semi-presidenciais ou sistemas parlamentares
racionalizados, ou seja, h uma base que assenta no Parlamentarismo
puro, mas h adies que nada tm a ver com ele.
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A Constituio de 1919 de Weimar a primeira Constituio alem Republicana e
tambm a primeira a estabelecer formalmente o Estado Social de Direito no mbito
europeu. Garante, assim, os direitos dos particulares, mas aponta ao Estado
obrigatoriedade de interveno para a garantia desses mesmos direitos.
Distinguimos assim duas geraes de Direitos fundamentais:
A 1 Gerao dos Direitos fundamentais refere e estabelece direitos,
liberdades e garantias.
A 2 Gerao dos Direitos fundamentais d j ao Estado modo de interveno
para que haja uma efectiva manuteno dos mesmos direitos e liberdades e
garantias (culturais, econmicas e sociais), direitos econmicos, sociais e
culturais.
A Constituio Austraca de 1920, feita por Hans Kelsen e tendo uma estrutura
positivista e hierarquizada, estabelece uma fiscalizao da constitucionalidade atravs
de um Tribunal Constitucional. (foi suspensa em 1929 e reposta em 1945).
A derrota em Versalhes e as vicissitudes que atingem ambos os sistemas provocam:
na Alemanha, a instituio de uma ditadura nacional socialista.
na ustria, em consequncia tambm da ditadura nazi, h uma anexao
daquela por parte da Alemanha.
O fim da 2 Guerra Mundial divide a Alemanha em:
RDA que se rege pela Constituio de 1968, de ideologia marxista-leninista
RFA que se rege pela Constituio de Bona de 1949
h ainda que referir a diviso de Berlim
A partir da reunificao das duas Alemanhas, a Constituio de Bona de 1949 que
vigora.
Caractersticas da Constituio de Bona de 1949:
ideia de democracia e princpio democrtico
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Direitos Fundamentais
o sistema de governo que ela consagra, parte do sistema parlamentar
britnico, pode definir-se como um sistema parlamentar racionalizado, isto
so introduzidos elementos de racionalizao tendo em vista o fim da
instabilidade poltica:
- moo de censura construtiva: exige a apresentao de um programa
alternativo de governo.
- sada da circulao poltica dos partidos que no, consigam obter mais de 5%
nas eleies, no h bipartidarismo.
O Sistema de Governo tem tambm a particularidade de ser um sistema de
Chanceler: um sistema parlamentar racionalizado em que a figura preponderante
a figura do Chanceler (equivalente ao cargo de 1 Ministro na Repblica Portuguesa).
Sistema Suo:
O seu estudo interessa pela existncia de:
1. Federalismo municipal
2. Mecanismos de democracia directa e semi-directa.
3.Sistema de Governo directorial
1. Federalismo Municipal:
- A Sua teve duas Constituies, a de 1848 e a de 1874, estabelecendoambas formas compostas de Estado.
- A Constituio de 1874 tem no seu texto a base da actual Constituio sua.
- Federalismo Municipal Federalismo dos EUA
- semelhana com a Grcia Antiga: os
estados federados so pequenos
- federao assente em Estados com
larga extenso territorial.
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(correspondem aos municpiosportugueses).- a associao em Federao deCantes.
Curiosamente, a designao oficial da Sua a de Confederao Helvtica, o que
no corresponde verdadeiramente forma de Estado.
2. Mecanismos de democracia directa e semi-directa:
- directa - os cidados tomam por eles prprios as decises
- semi-directa os cidados no intervm directamente, mas
ajudam- Democracia a resolver os problemas (ex.: referendos, iniciativa
legislativa popular).
- representativa
- nos cantes mais pequenos pratica-se uma democracia directa (possibilidade
prevista na nossa Constituio no artigo 245, n. 2).
- nos Cantes maiores h uma democracia semi-directa (na CRP est admitida ainiciativa legislativa popular no artigo 167, assim como est tambm previsto o
referendo).
3. Sistema de Governo directorial
Como j tinha acontecido em Frana em 1795 e na ex- URSS, no h chefe
de Estado singular, mas colectivo / colegial. Na Sua chama-se Conselho
Federal.
Semelhana com o sistema EUA:
casamento sem divrcio no h responsabilidade do Conselho Federal
perante o Parlamento e vice-versa.
Sistema Brasileiro:
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O Brasil tem j uma histria constitucional longa e complexa: foi colnia, Imprio e
Repblica. Na histria constitucional brasileira constam 7 constituies desde a
independncia, sendo a de 5 de Outubro de 1988 a mais recente.
Estas constituies so a expresso de que o Brasil um territrio muito vasto e com
variedade de situaes econmicas heterogeneidade social, econmica e poltica.
Norte do Brasil rural e pobre
Sul do Brasil urbano e rico
Por exemplo, uma das partes finais da Constituio diz respeito aos ndios, so
reconhecidos os seus costumes e tradies e h uma regulamentao que lhes
relativa.
A Constituio portuguesa de 1822 aplica-se ao Brasil durante pouco tempo em
virtude da independncia deste territrio que entretanto acontece.
- 1 Constituio brasileira:
1824 estabelece uma Monarquia Constitucional apesar de haver uma
concentrao do poder executivo no monarca (apesar de se falar na separao
de poderes). No dizer de D. Pedro I toda a fora ao poder executivo.
Alis, a tnica presidencialista mantm-se ainda hoje na Constituio de 1988
apesar de mais atenuada
Estabelece o chamado poder moderador (assim designado por Benjamin
Constant) que depois previsto tambm na Carta Constitucional portuguesa de
1826.
O poder moderador uma forma de introduzir harmonia e equilbrio dentro da
separao tradicional de poderes (Benjamin Constant).
tradicional (Montesquieu) Benjamin Constant
- poder judicial
- poder executivo
- poder legislativo
- + poder moderador
- monarca tem - executivo
dois poderes - moderador
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- nesta Constituio, a separao dos poderes surge-nos ento, da seguinte forma:
poder executivo monarca
poder judicial tribunais (+ poder moderador balana )
poder legislativo duas cmaras
- Representativa de opinio
(assembleia eleita)
- Representativa da durao
(membros com assento hereditrio).
- 2 Constituio Brasileira
1891
Prev um Federalismo por influncia dos EUA.
- federalismo complexo: Unio Governo soberano da federao
- Estados
Governos autnomos
- Municpios
A Unio tem Constituio federal. Os Estados federados tm Constituio. Os
Municpios tm leis orgnicas que so tambm forma de juridificar o exerccio do
poder poltico.
Trata-se no entanto de um federalismo imperfeito:
o federalismo implica uma diviso total de poderes.
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no Brasil h uma forte concentrao do poder executivo.
alguns autores falam de um ultra federalismo: h um receio pelos imprios
centrais, ou seja, Estados que fomentassem a desvinculao da Unio por
parte deles e outros estados.
poltica do caf com leite alternncia de Presidentes entre dois Estados:
So Paulo produtor de caf
Minas Gerais Produtor de leite
Repblica com governo representativo.
Sistema Presidencial, com a particularidade de nem o Presidente, nem os
Governadores poderem ser reeleitos.
Sistema de fiscalizao jurisdicional da Constitucionalidade.
- 3 Constituio:
1934
Tem a mesma estrutura e fontes da (centralizada) Constituio portuguesa de
1933.
- autoritria de direita e resulta das consequncias da crise de 1929, sendo
uma tentativa de cpia do sistema fascista italiano de 1922.- a figura do Presidente Gertlio Vargas muito importante.
- 4 Constituio:
1937 Apesar de ser provocada por um golpe de Estado, os princpios so
os mesmos da anterior.
- 5 Constituio:
1946
tenta ultrapassar a tendncia autoritria de Direita das Constituies de 1934
e 1937 e voltar ao esprito de 1891.
- 6 Constituio:
1967 (concentrao de poder)
segue-se ao golpe de Estado / Revoluo de Maro de 1964.
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- permanentemente alterada por vrias revises- Actos Constitucionais.
- h constitucionalistas que discutem se o 1 Acto Constitucional no ter sido
ele prprio uma outra Constituio (1971).
- 7 Constituio:
5 de Outubro de 1988
- tenta descentralizar o poder.
- d importncia ideia de cidadania e dos direitos fundamentais.
- um dos valores fundamentais o respeito pelo valor do trabalho.
- uma Constituio social, isto defende direitos econmicos e sociais e
reclama interveno do Estado para a sua garantia.
- estabelece um Presidencialismo
- Outro rgo, para alm do Presidente, tambm o Congresso Nacional :
Duas Cmaras
- Cmara dos Deputados
- Estados tm representao de
acordo com o territrio e populao.
- Senado
(cada Estado tem 3 representantes)
Traos comuns na Histria Constitucional brasileira:
proteco dos Direitos fundamentais.
alternncia entre sistemas de ndole mais parlamentar ou mais
presidencialista (quase sempre / mais comum h sempre uma concentrao
do poder executivo maior ou menor).
A Constituio de 1988 (7 Constituio) previa a realizao de um plebiscito em
1993, para que os brasileiros escolhessem entre Monarquia e Repblica a 1 vez
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desde 1891 que se pe em causa a existncia da Repblica. ( A mesma previso
ocorreu para a Austrlia em 1999)
Sistemas fora das Famlias Constitucionais:
- Sistemas fascistas ou fascizantes (ou com tendncia
para) impossveis de caracterizar de forma rigorosa devido
sua heterogeneidade.
- outros modelos nos Continentes Asitico e Africano.
- Sistemas fascistas ou fascizantes:
de ideologia de Direita que se traduz pela negativa, isto , tm dio aoliberalismo puro e ao comunismo (relao de rejeio).
- Outros modelos:
nada tm a ver com a forma de organizao do Estado Moderno de Tipo
Europeu.
Nos Continentes Africano e Asitico h trs situaes ou modelos a destacar:
1. Modelo de Monarquia Tradicional no limitada pela constituio
ex.: Etipia, Marrocos.
2. Poder poltico ligado religio - ex.: estados em que vigora o
fundamentalismo islmico (ex.: Iro)
3. Opo formal por uma via original ou via autnoma, que se manifesta no
s no mbito do poder poltico, mas tambm a nvel econmico e social ex.:
Tanznia, Arglia, Birmnia, So Tom e Prncipe e Cabo verde (nestes dois
ltimos estados observamos a via autnoma na 1 Constituio de cada um).
Estas vias originais esto relacionadas com Estados que consolidam atravs
daquelas o seu nascimento e desenvolvimento faz-se nascer um Estado e
tenta-se constituir uma nao.
h uma tendncia para a concentrao de poderes, que diferente da
concentrao de poder do ex. - modelo sovitico nica via para vincar os
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poderes num Estado que est em fase de criao; na maior parte dos casos
no h uma correspondncia com uma ideologia determinada.
Os Estados que adoptaram vias autnomas acabaram por ser Estados Autoritrios,
mas no totalitrios.
Estados Autoritrios Estados Totalitrios
- limitao dos direitos dos cidados,mas no h uma anulao.- autonomia entre sociedade eexerccio do poder poltico
- h uma supresso dos direitos doscidados .- sociedade civil no tem autonomia
No que respeita aos PALOPS, falamos de Estados que sofreram um processo
dramtico de acesso independncia, ao invs da situao de evoluo que se
verificou pro exemplo com as ex-colnias francesas e britnicas. Podemos identificar
duas fases ou geraes tendo em conta o nmero de Constituies desses Estados,
e o facto de na maior parte deles j estar em vigor a segunda constituio aps os
Acordos de Independncia celebrados entre 1974 e 1975 em Argel, Lusaka e Alvor.
Constituies
1 Gerao
- Angola sistema marxista leninista
- Moambique sistema marxista leninista moderado
- So Tom e Prncipe
- Guin vias autnomas originais- Cabo Verde
eventualmente o sistema que logrou maior desenvolvimento econmico e
social
2 Gerao
-
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So Tom e Prncipe - 1990
Angola, Moambique e Cabo Verde 1992 muito semelhantes
Guin 1993
A 17 de Julho de 1996 foi constituda a Comunidade de Pases de Lngua Portuguesa.
Apesar de no haver referncia directa a uma estrita aproximao de modelos
polticos podemos ainda assim encontrar nveis de comparao entre membros da
CPLP
Sistema de Governo:
- Brasil
- Moambique Sistema Presidencialista
- todos os outros tm ou um sistema semi-presidencialista ou um parlamentarismo
racionalizado (Cabo Verde)
Forma de Estado:
- Estado composto federal Brasil.
- todos os outros so unitrios
Regime econmico:
- tendencialmente de economia de mercado, excepto o caso de Moambique
que de base colectivista.
Em termos formais, as Constituies so hoje muito idnticas:
todas prevem um Estado de Direito democrtico.
todas prevem um Parlamento unitrio.
todas prevem um poder judicial independente.
todas prevem possibilidade de um referendo naci onal.
todas prevem o Parlamento como tendo competncia legislativa.
todos os Estados so unitrios aliados a uma forte previso de poder local
(PALOPS).
todos prevem fiscalizao jurisdicional da constitucionalidade (PALOPS),
excepo de Moambique que tem uma fiscalizao poltica.
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todas prevem os direitos, liberdades e garantias do cidado em 1 lugar
(PALOPS), e depois direitos econmicos e sociais, com excepo de
Moambique onde se verifica a situao inversa.
todas so rgidas tm uma forma especificamente prevista para serem
alteradas.
Parte I O Estado e a experincia constitucionalTtulo III As constituies portuguesasCaptulo I As constituies portuguesas em geralCaptulo II - As constituies liberaisCaptulo III A Constituio de 1993Captulo IV A Constituio de 1976
A histria constitucional, no caso portugus, aproxima-se muito do exemplo francs,
sendo que no caso de Portugal, h uma maior estabilidade do que em Espanha ou
nos pases da Amrica Latina.
A Histria Constitucional portuguesa em sentido moderno comea em 1820 com aRevoluo liberal de 24 de Agosto na cidade do Porto que determina o fim da
monarquia tradicional e o incio do sistema constitucional.
Trs perodos na Histria Constitucional Portuguesa:
1. Constitucionalismo liberal ( incio com a Revoluo liberal de 24 de
Agosto de 1820) 1820 a 1926.
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2. Constitucionalismo autoritrio (incio com o golpe de Estado em
Braga) 1926 a 1974.
3. Constitucionalismo Democrtico (incio a 25 de Abril de 1974 em
Lisboa) 1974.
1. Constitucionalismo liberal
1822
Constituies 1826 Carta Constitucional (*)
1838
1911
(*) tem esta designao por ter sido outorgada pelo monarca
um perodo que corresponde ao Estado liberal em que prevalece (apesar das
contra-revolues e das duas restauraes da Monarquia Absoluta) a ideia de
Direito liberal, como aparece consagrada na Declarao dos Direitos do
Homem e do Cidado de 1789 no artigo 16.
Relevantes so as ideias de:- garantia dos Direitos e liberdades.
- separao de poderes.
- liberalismo poltico e econmico.
H ainda assim quatro constituies no perodo liberal porque:
- h uma dificuldade de instaurao do liberalismo em Portugal, porque ele
aparece como estrangeirado, no se adaptando s necessidades do pas-- as foras reaccionrias eram muito poderosas.
- entre os liberais havia vrias tendncias:
liberais democratas
liberais conservadores
A Constituio de 1911 produto da instaurao da Repblica e no tem grande
significado na alterao do plano da Histria Constitucional, j que as estruturas
-
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constitucionais so as mesmas, e a ideia de Direito tambm. Apenas muda a forma
de governo.
2. Constitucionalismo Autoritrio:
- Constituio: 1933
- Comea pela ditadura militar e prolonga-se com a ditadura pessoal de Oliveira
Salazar e no final Marcello Caetano.
- h uma restrio das liberdades pblicas e uma concentrao de poderes na
figura do Chefe de Governo, apesar de na Constituio tal concentrao vir
consagrada na figura do Presidente da Repblica.
- o regime autoritrio, mas no chega a ser totalitrio, j que no absorve a
sociedade dentro do Estado e no nega as liberdades pblicas e privadas.
- um regime que se afirma como:
- anti-liberal no plano econmico defende interveno e controla estaduais.
- anti-parlamentar
- corporativo traduzia-se na institucionalizao de organizaes corporativas,
onde se inseria toda a sociedade (contra o individualismo do liberalismo).
- era atravs das corporaes (dos corpos sociais) e no do sufrgio que se
tinha acesso ao poder poltico.- um regime muito parecido com regimes que se verificaram na Europa entre
as duas Guerras.
3. Constitucionalismo democrtico:
- Constituio: 1976
- s depois de 1974 se estabelece o sufrgio universal (a Constituio mais
prxima de tal foi a de 1822); no sculo XIX, apesar de as Constituies no odizerem, entendia-se que as mulheres no tinham direito de voto.
- a Constituio procurou realizar a democracia a todos os nveis econmico,
social e cultural.
- a instabilidade constitucional portuguesa advm do facto das inmeras
constituies, mas tambm de todas elas com excepo para as de 1822 e
1838 terem revises constitucionais.
- Revises da constituio de 1976:
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- 1982 extino do Conselho de Revoluo.
- 1989 supresso do artigo que proibia a reprivatizao das
nacionalizaes empresariais do perodo revolucionrio ps 25 de Abril
(artigo 83).
- 1992 consequncia do Tratado de Maastricht
- 1997 reviso do sistema poltico-legislativo
Plano de vigncia das vrias constituies liberais
- 1822 a 1823 vigncia da Constituio de 1822 (liberalizao /
descentralizao do poder poltico).
- 1823 a 1826 Monarquia Absoluta.
- 1826 a 1828 vigncia da Carta Constitucional de 1826 (concentrao do
poder no monarca).
- 1828 a 1834 Monarquia Absoluta.
- 1834 a 1836 vigncia da Carta Constitucional de 1826, com a introduo da
figura do 1 Ministro Duque de Palmela.
- 1836 a 1838 vigncia da Constituio de 1822.
- 1838 a 1842 vigncia da constituio de 1838.- 1842 a 1910 vigncia da Carta Constitucional de 1826.
Constituio de 1822:
1 Constituio portuguesa formal e que decorre da ideologia revolucionria
liberal francesa.
apontada como radical e quimrica, quase ingnua.
a 1 Constituio formal que estabelece uma unio real.
no que diz respeito Forma e Sistema de Governo tem carcter
para Republicano.
Do ponto de vista de poder atribudo aos rgos, o poder monrquico est
muito reduzido.
- est presente o elemento democrtico (previsto aqui talvez com a maior
clareza durante o 1 perodo Constitucional portugus).
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- h uma ideia de patriotismo e nacionalismo liberais.
A Constituio elaborada pelas Cortes assembleia representativa dos
cidados carcter democrtico.
- o 1 documento que delas provm so as bases constituintes da que viria a
ser a Constituio.
esto consagradas as 3 liberdades liberais, liberdade, segurana e
propriedade, no artigo 1 da Constituio (John Locke).
o Artigo 26 diz respeito soberania nacional.
Carta Constitucional de 1826:
tem este nome, porque foi outorgada pelo monarca, D. Pedro (Marcello
Caetano dizia mesmo que esta era a Constituio mais monrquica do seu
tempo).
estabelecimento de compromisso entre liberais e absolutistas.
factores dist