sapir, edward - a forma na linguagem - os processos gramaticais, a forma na linguagem - os conceitos...

43
".' _'," ", ," ',;, ' .. ', ' FI MINISTtRIO DA EDUCAÇãO E CULTURA INSTITUTO NACIONAL 00 LIVRO BIBLIOTECA CIENT1FlCA BRASILEIRA SfJRIE n- IV A LINGUAGEM INTRODUÇÃO AO ESTUDO O'A FALA POR nnWARD SAPIR TRADUZ.lOO POR J. MATTOSO CAMARA JR. ·fi RIO DE JANEIRO - 1954

Upload: george-luiz

Post on 12-Nov-2015

101 views

Category:

Documents


31 download

DESCRIPTION

A forma na linguagemEdward Sapir

TRANSCRIPT

  • ".' _'," ", ," ',;, ' .. ', ' FI

    MINISTtRIO DA EDUCAO E CULTURA

    INSTITUTO NACIONAL 00 LIVRO

    BIBLIOTECA CIENT1FlCA BRASILEIRASfJRIE n - IV

    A LINGUAGEMINTRODUO AO ESTUDO

    O'A FALA

    POR

    nnWARD SAPIR

    TRADUZ.lOO POR

    J. MATTOSO CAMARA JR.

    fiRIO DE JANEIRO - 1954

  • 64 .A LINGUAGEM

    Tda.lingua,por conseguinte, caracterizadatantopeloseusis-telDA idealde sonse peloseupadrofonticode subsolo(sistema,di-ramosns,de tomossimblicos)quantopor umadefinidaestruturagramatical..Ambasessasestruturas,a fonticae a conceptual,mos-tramo sentimentoinstintivoda formaqueh na linguagem.

    IV

    A FORMA NA LINGUAGEM: OS PROCESSOSGR.AMATJCAlS

    .A.questoda formaemlinguagemapresenta-sesobdoisaspecto~Podemosconsideraros mtodosformaisempregadospor uma lin-

    gua, os flseus processosgramaticais",ou verificara distribuiodosconceitosemreferncia expressoformal.Quaissoos padresfor-maisdessa.lingua1E quetiposde conceitoslhesservemde eontedo9

    Osdoispontosde vistasoplenamentedistintos.

    A palavrainglsaunthinkingl'JI Icorrespondente,pelo sentido,aqualquercoisaemportuguscomo"sempensar"], de maneirageral,cotejvel,quanto forma, palavrareformers [porto"reformado:res");

    ambasconstamde um radical,quepodefigurar comoverboindepen-t'dente(think, form)iemamba.s.sseradical precedidopor umelemen-to (un-, re-), quetrazsignificaodefinidae nItidamenteconcreta,mllSno podeser usadocomotrmoindependente;e ambll.Sterminampordoiselementos(-ing, -ly, -e.r, -s), quelimitama aplicaodoconceitodoradicalnumsentidorelacional.

    Estepadroformal,- (b) + A + (c) + (d) 1 - um traocaractersticoda lngua.Exprime-sepor meiodleum !lIDeroincal-culveldefunes;emoutrostrmos,tdasas idiasquepodemserco-municadaspor meiode elementosde prefixaoe sufixao,se tendempor um ladoa encaixar-seemgruposmenores,noconstituempor ou-tro lado sistemasfuncionaisnaturais.No h nenhummotivode or-deml6gica,por exemplo,paraquea funonumeraldo -s sejaexpressa

    1. Quanto!l.Osimbolismo,ver ca.pitulolI.

  • (36

    das de outros vocblllosque lhes esto'inteiramenterelacionadosnaforma e no sentido (goose,.sing, sung).

    Cada lngua dispe de um ou mais mtodosformais para indicara relaode um conceitosecundriocom o conceitobsieodo radical.Alguns dssesprocessosgramaticais,comoa sufixao,acham-semuitoespalhados;outros,comoa mutaovoelica,somenoScomuns,mases-to longede ser raros; outrosainda,comoa acentuaoe a mutaocon-sonantal,constituemat certo ponto anomalias.

    Nem tdas as lnguas so to irregulares quantoa inglsana ma-neira de atribuir funesaosprocessosgramaticaisde que dispem.Em

    regra,os conceitosde naturezamais fundamental,comoo de pluralidadee o detempo,soexclusivamenteapresentadospor um mtodonicoqual-

    quer; mas regra com tantas excees.que no podemospromov-Iaaum princpio. Para onde quer que nos voltemos,ressaltaa verdadede

    que o padroformal uma coisa,e outra coisaa sua utilizao.Maisalguns exemplosda expressomltipla de funesidnticas,em outrasl:\nguasalmdo ingls, concorreropara tornar ainda mais vvida essa~oncepoda liberdaderelativa que h entre ~o e forma.

    Em hebraico,comoemoutraslnguassemticas,a idia verbal,consideradaem si mesma, expressapor trs, ou menosa mido por duasou quatroconsoantescaractersticas.Assim o grupo x-m-r d a idia de"guardar", o grupo g-n-b a de "furtar", n-t-n a de "dar". Natural.menteque tais seqnciasconsonnticasso apenasabstradasdas for-mas realmenteexistentes.As consoantesligam-seentre si de diversasmaneiras,por meiode voga.iscaractersticasquevariam segundoa idia

    que 1hescabeexprimir. So tambmmuito usadosprefixos e sufixos.Omtodo da mutao voclica interna est exemplificadoem xamar,

    "guardou",xomer"guardando",xamur, "sendoguardado",xmor, "guar-dar", Anlogamenteganab,"furtou", goneb,"furtando", ganub,"sendofurtado", gnob "furtar". Mas nem todos os infinitivos se formampelo

    tipo de xmor e gnob, ou por outros tipos de mutaovoeUcainterna.Certosverbossufixamumelementot para o infinitivo, e. g.,ten-eth"dar",heyo-th, "ser". Por outro lado, as idias pronominaispodemser expres-sas por vocbulosindependentes(e. g., ano lei, "eu"), por prefixos (e.g. e-xmor,"eu guardarei"), por sufixos (e. g. xamar-ti, "eu guardei").

    Em nass, lngua ndia da ColmbiaBritnica, formam-seos plu-

    rais por quatromtodosdistintos.A maior parte dos nomes(e dos ver

    A LINGUAGEM

    pelo mesmoprocessoformal que a idia contidaem -ly [sufixo adverbialcomoo porto"-ment.e"]. perfeitamenteconcebvelque, noutra lngua,se trate o conceitomodal (-ly) em moldesinteiramentediversosdos dapluralidade. O primeiro pode ser transmitido por um vocbuloinde-

    pendente(digamos,thus 1lnthinking); o ltimo por um prefixo (diga-mos, "plural"2 -reforme?'). E h naturalmenteum nmeroilimitado depossibilidadesoutras. '

    Sem sair do pr6prio mbitoda lngua inglsa, fcil tornar bviaessarelativa independnciaentre a forma e a funo. assim que aidia 'negativacontida em un~pode ser expressacom a mesmajus- itezll,por um elementosufixado (-Zess) numapalavra comothoughtlessly ;[porto "desatentamente"].Tal dualidade de expressoformal para afuno negativa seria inconcebfvelem certas lnguas, o esquimporexemplo,onde s6 seria admissvelum elementode sufixao.

    Por outro 18.do,a no.ode plu~aldadapelo -s de reformers expres-sa coma mesmaprecisopela palavra geese {plural de goose, "ganso"],como emprgode mtodocompletarnentedistinto. No tudo. O princ-pio da mutaovoclica (goose - geese) no est em absolutorestrito expressoda idia da pluralidade; podetambmfuncionar comondi-ce da diferenade tempo (e. g. sing - sang, throw - threw)3. Porseu lado, a expressodo tempopretritoem ingls no dependeexclusi-vamentede uma mudanade vogal. Na maioria dos casos,manifesta-sepor meiodeum sufixo distinto (die-d, work-ed) [pretode to die, "morrer",to work, "trabalhar"].

    Quanto funo, died e sang so anlogos;da mesmasorte que'i'eformerse geese.Quanto forma, temosde agrupar ssesvocbulosdemaneira diversa. Tanto die-d quanto reform-er-s empregamo mtododa sufixao dos elementosgramaticais;tanto sang quanto geese deri-vam o seuvalor gramaticalda circunstnciade diferirem as suasvogais

    2. Plural aqui U!ll simbolopara qualquerprefixo queilldique. pluralidade.

    3. [No Cll!lOde goosegel!Se,como de outros plurais (tooth.teeth,man-men,mouse'771iec,ete.) a mudan(}ll.da vogal no plural foi devida u. a.onsaimilat6riadc um'i final, mais tnrdedesaparecido.j:: o fenmenoem alem.oumlaut,ou seja,"metafonia".Em smgsang,thTOW.thTllW, ato::.ll!l diferenasde vogalprov@mdll!lpri-mitivasformll.9mdo-europilLS,constituindoo chamadoablaut, i. e., "gradaovoc.lica!' ou "o.pofonio."em queumn.dadaraiz temoro.a vogalo ora c, ora urna.vogalreduzida.]

    OS PROCESSOS GRAMATICAIS67

    --_.=--- .- ... - __o -- - ----I

  • 68

    5. (Fen6mcnoan.logoverificaseemportuguscomo '$ do plural emconmctocomuma.consoanteseguintesurdaou sonora:"os cies" ("os" comfina.l surda), "osbois" ("os" comfinlll sonora.]

    te compreendidodo quepareceser.S umexamegeraldediversssimasespciesde lnguasnosd a perspectivaadequadaa tal respeito.

    Vimosno captuloanteriorquetdalnguatemum sistemafontico intimode padrodefinido.Vemosagoraquetambmtem o sen-timentodefinidode constituirpadrespara a formaogramatical.Ambosssesimpulsos,subterrneose de grandefradiretriz,emproldas formasdefinidas,operamp~ prazerde operar,sema preocupa-oinicialdepreencherumalacunana expressodecertosconceitosoude dar formaexternaconsistentea certosgruposde concP,itos.Intil dizerquetaisimpulsos.s6encontramrealizaona expressode funesconcretas. precisohavera intenode dizcralgumacoisapara diz-Ia.sobumadadaforma. .

    Seja-noslcito agoraexaminarum poucomais sistemticamente,conquantosempreresumidamente,os vriosp.Jocessosgram~ quea pesquisalingsticaconseguiudepreender.

    Agrupam-seemseistiposprincipais;ordemvocab--1lliJ,r;c.9..!!!J?~.!S-?)aJixao,queabrangeo usode prefixos,sufixose infixos;~odificaQio.internl\.do e1emen.toradical.QU ..gramaticalemrefernciasquera umavogal,quera umaconsoante;l'~..dJlp]jcaQ;e diferenasdc a~entu_~sejamelasdinmicas(intensidade).sejamtnicas(altura,tambmcha-mada"tom"eentoao).H aindaprocessosquantitativosespeciaisquaiso alongamentoou a abreviaode vogaise a geminagode consoantesmasque podemser consideradascomosubtiposespeciaisdo processodemodificaointcrna. possvelqueaindarestemoutrostiposformais,masnoteropro"vc1mentemaiorimportncianumexameperfunctrio.

    Importanoesquecerqueumfenmenolingsticonopodesertidocomoilustraode um "processo"definido,senoquandolhe ineren-teumdeterminadovalorfuncional.A mudanaconsonnticaemingls,porexemplo,de boolc-se bagos (s noprimeirocaso,li) no segundo]notemsignificao. umamudanapuramenteexternae mecnicaprovocada.pelapresenadeumaconsoanteanteriorcontgua,que sUl'dano pri-meirocasoe sonorano segund05 objetivamentea mesmaalternnciamecnicaqueseverificaentreo nomehousc ["casa"]e o verboto house.

    A LINGUAGEM

    bos)soreduplicadosno plural,isto, umapartedo radicalserepete,e. g. gyat, "pessoa",gyigyat, "gente",J um segundomtodoestnoUSodecertosprefixoscaractersticos,e.g.,an'on,"mo",ka-an'on,"mos";wa "umremo",lu-wa, "vriosremos".Outrosplurais,ainda,seformampor meiodeumamutaointernadevogal,e.g.,gwula "manto",gwila,"mantos".Enfim,umaquartaclassedeplurais constitudapor nomesquesufixamum elementogramatiea~e. g., waky, ''irmo'',wakykw,"irmos".

    De gruposde exemplos'comosses- e podemosmultiplic-Iasadnauseam- s6 nosrestaconcluirquea formalingsticapodee deveser estudadaemseusmuitosaspectos.,independentementedas funes~ ~

    tantomaisjUBtificvelassimprocedermosquantotdasas lfn-guasmanifestamumcuriosoin;;;.tintoparadesenvolverumou maispro-cessosgramaticaisespeciais custadeoutros,tendendoa perderdevistao valorfuncionalexplcitoqueo processopossatertidoa princpio,comoquecomprazendo-seno merojgodosseUBmeiosde expresso.

    Noimportaquenumcasocomoo do inglsgoose_ geese,foul _defile ["sujo"- "sujar"],sing - sang - sung possamosprovarquese tratade processoshistoricamentedistintos;quea altcrninciayc-lica de sing e sang tenhaprecedidode sculos,comotipo especficodeprocessogramatical,o processoaparentementeparalelodegoose e geese.No menosverdadequeh (ou houve)emingls,na pocaemqueseconstituramgeeseeformasanlogas,umatendnciainerentea utilizara mudanadevogalcomomtodolingsticasignificativo.Semo grupodetiposj existentesdealternnciavoclicacomosing _ sang _ sung, muitoduvidosoqueas condiesespeciaisqueacarretarama evoluodasformasgeese,teeth,[pluraldetooth,"dente"]sadasdegoose,tooth,tivessemtidoa fradeinduziro sentimentolingsticonativoa chegara admitircomopsicologicamenteaceitveisssesnovostiposde forma-odo plural'J.

    ::mstesentimentode formaconsideradaemsi mesma,expandindo-selivrementesegundolinhasdeterminadas,e grandementeinibidoemcertasdireesporfaltademoldespr-estabelecidos,deveriasermaisclaramen--.

    4. [Ver a nota.3, pg. 66.]

    (;,!"I

    I1

    .~

    OS PROCESSOS GRA1rIATICAIS 69

  • 70

    Digaeuemlatimhominemteminavidet, ou femina hominemvidet,(lU hominemvidet femina, ou aindavidet femina hominem,o alcanceda frasenoapresentarmaiorou nenhumadiferena,salvotalveznoquerespeitaaoefeitoretricoouestilistieo.liA mulhervo homem"ser.asignificaoinvariveldeeadaumadessass.entenas.

    Em chinult,lnguadosndiosdo Rio Colmbia,h igualliberdade,

    poisa relaoentreo verboe os doisnomesacha-seinerentementefi-xadanosvocbulos,comoemlatim.A diferenaentreas duaslnguasestemqueo latimfaz comqueosprpriosnomesestabeleamassuasrelaesde um paraoutroe de cadaum parao verbo,ao passoqueo chinuksobreearregao verbocom tda a responsabilidadeformal,.dando-lheumcontedoquepodemosmaisoumenosindicarpor"ela-lev".

    Eliminaios sufixos.casuaislatinos (-a e -em)e os prefixosprono-minaisdo chinuk ("ela-le"), e j cessaa indiferenana ordemdosvocbulos;teremosde cultivarosreCursosde quedispomos.Em outrostrmos,a ordemdas'Palavraspassara ter umvalorfuncionalreal.

    O latim e o chinukestonum plo. Em plo oposto,estoln-

    guascomoo chins,o siams,o anamita,emquetdae qualquerpalavra,para funcionaradequadamente,temde encaixar-senum lugar prede-terminado.A maioriadaslnguasficamentressesdoisplos.Entrens,por exemplo,nohaverdiferenagramaticalaprecivel,seeudis-ser_ "ontemo homemviu o co",ou - "o homemviu o coontem",masj6.nomeserindiferentedizer- "ontemo homemviu o co",ou_ "ontemo coviu o homem",ou ainda- "leestaqui",ou- "est',leaqui1"Num doscasoSdo ltimogrupode exemplos,a distinovi-tal entresujeitoe objetodependeunicamenteda colocaodecertaspa.lavrasna senten~.a,e, noutro,umalevediferenade seqnciaimportanumadiferenacabalentreafirmaoe pergunta. claroque,nesses.doiscosos,o nossoprincpioda ordem.voeabular ummeiotoefieien"te de expressoquantoemlatim o usode sufixoscastlai!i'ou de umapartculainterrogativa.No se trata de pobrezafuncional,c, sim,deeconomiaformal.

    J vimosalgumacoisado processode composio:unionumasipalavrade doisou maiselementosradicais.Psicolgicaf9.ente,sseprocessoalia-seintimamentecomo querepousana ordemdaspalavrasumavezquea relaoentreoselementostambmfica pressupostae nO,e do s nominal,no segundo,COnCOr1'0para obumbraro valor inerenteda alternnciadeacentos.11:ssevalor ressaltanitidamenteem formasduplas inglsascomoto 1'efund(verbo, oxtono) e (t refund (nome,paroxtono), to extracte an extract,to comedown e a comedown, to lack luste1'e lack-lustereyes;emque a diferenaentreo verbo e o nomes dependeda mudana de acentuao[ o que anlogamentese verifica em portugusentrea 1.'pessoasingular do indicativopresentee o nomedeverbal correlato,

    . de, por exemplo,"(eu) reverbero",paroxtono,e "(o)' revrbero",propa-roxtono,"(le) fabrica",paroxtono,e "(a) fbrica",proparoxtono,etc.].Nas lnguas athabskan,h no raro significativasalternnciasde aoen-

    'f

    Ir

    '1

    to comoemnlvahota--dtgis,"vs vos lavais" (acentuadona segundas-la.ba) e t~di-gis"le se lava" (acentuadona primeira)32.

    O acentode altura pode desempenharfuno to importante quan-to o de intensidadee talveza desempenhemais a mido. O simplesfato,entretanto,de seremas variaesde altura essenciaisna fontica deuma lngua, comoemchins (e. g. fng, "vento"comtom nivelado,ftng,"servir" comtom decrescente)ou em gregoclssico (e. g. lab-~, "ten-do tomado",comtomsimplesou alto 110 sufixo de particpio -011,; gunaik-'n, "de mulheres",com um tom circunflexo ou decrescenteno sufixocasual -01~)no constitui por si s, necessriamente,uma aplicaoda'altura para fins funcionais, ou, digamosmelhor, gramaticais.Em tais casosa altura estmeramenteintegradano radical ou no afixo, comoestoas consoantese as vogais.

    J coisadiferenteuma aIternnciachinesado tipo de chng (ni-velado), "meio", e ch~ng (decrescente),"acertar no meio"; m.fi (cres-cente), "comprar"e m'ai (decrescente),"vender";pai (decrescente),"cos-tas", e pei (nivelado) "levar s costas".Exemplosdestaordemno'so,a rigor, comunsemchins,nemse podedizer que a lngua possuaatual-menteo sentimentontido de simbolizarnas diferenastnicas a dis-

    tino entre o nomee o verbo.

    H idiomas,entretanto,em quetais diferenastmimportnciagra-matical das mais.frmdamentais.So elas particularmentecomuns no-Sudo.Em ewe,por ex.emplo,existem,provvelmentede subo, "servir",dua.s:formasreduplicadas,uma infinitiva sub'osb,"servir", com tombaixon~ duasprimeirassUabase alto nas duas ltimas e uma adjetivllsbsb,"(aqule) queserve",em quetdasas slabas.soemtom alto.

    Ainda maisnotveissocasosministradospelo shilluk, uma das ln-

    guas das cabeceirasdo Nilo. .Assim,o plural de um nomemuitas vzesdifere do singular pela entoao;e. g., yft (alto), "ouvido", mas yit(baixo) "ouvidos",Nos pronomes,pode-sedistinguir trs formas apenas.pelo tom: ~,"le", tem tom alto e subjetivo,-e, "o" (e. g., a chwol-e,"le o chamou") tem tom baixo e objetivo, -e "dle" (a. g., wod-e,"casa dle") tem tom mdio e possessivo,Do elementoverbal gwad-,

    "escrever",formam-segw~d-~ l/(le) escreve",comtom baixo a passiva

    32. N'o 6 improv.vel,entretlluto,que estas alternllnciassejam primordial-mentede naturezatnica (altura).

  • 86 A LINGUAGEM:

    uw~t,"(estava)escrito",comtomdecrescente,o imperativogw{U "es-creve!",comtomcrescente,e o-nomeverbalgwt, "escrita",comtomnivelado.

    Sabesequena.A~ricaaborginetambmocorreo acentode altu-ra comoprocessogramatical.Bom exemplode umadessaslnguasdeentoao o tlinguit,faladopelosndiosda costameridionaldoAlasca.A, muitosverbosvariamo tomdoradicalconformeo tempo;hun,"ven-der",sin, "ocultar",tin, "ver",e muitosoutrosradicais,pronunciadosemtombai:l~oreferem-seao pretrito,e emtom alto, ao futuro.Ilus-tramoutrotipo de funoas formastakelmaheZ, "canto",comalturadecrescente,masheZ, "cante!"comumainflexode voz ascendente;hparalelamenteseZ, (decrescente)('pintadode prto", seZ (crescente),"pinta-ot".

    Bempesadotudoisso,torna-seevidentequeo acentodealtura,comoa intensidadee asmodificaesvoclicasoucOD$onantais, utilizadocommuitomenosparcimnia,comoprocessogramatical,do quepoderamos.suporprovveldentrodosnossoshbitoslingsticos.

    .i

    v

    A FORMA NA LINGUAGEM: OS CONCEITOS GRAMATICAIS

    Vimosqueo vocbuloisoladoexprimeumconceitosimplesou umacombinaode conceitosto intrincadosqueconstituemumaunidadepsicolgica.Examinamosrpidamente,almdisso,sobum aspectoestritamenteformal,osprincipaisprocessosquesousadosemtdasas lnguasconhecidascomo fim de submeteros conceitosfundamentaiR,.-aqulesqueestocorporificadosnosvocbulosinanalisveisou nosradicaisde um voebulo-, influnciamodificadoraou formativado~conceitossubsidirios.

    Nestecaptulo,olharemosmaisdepertoparaa naturezadomundedosconceitos,na medidaemquessemundoserefletee sistematizanaestrutura lingstica.

    Comecemoscomumasentenasimplesinglsaqueinclui vriostiposdeconceitos- the farmer kills the duckling.

    Umaanliseperfunctriarevelaaquia presenade trsconceito~distintose fundamentaisrelacionadosentresi por umaporode maneiras.Soles:farmer ["lavrador"],sujeitododiscurso;kill ["matar".na 3.~pSSoado presente"mata"],quedefinea naturezada atividad~a quea sentenase refere;e dulcling (duck, "pato",e o sufixodimi;nutivo.ling,paraindicarum "filhotede pato"]J outrosujeitodo dis

  • 88 A LINGUAGEM

    r

    I! os CONCEITOS GRAMATICAIS

    89

    Anlise lingstica mais cuidadosa,porm, mostra-noslogo que osdois sujeitosdo discurso,por maissingelaque seja a nossaviso mentalfi respeito,noestoexpressosda maneiradireta e imediatapor que nosimpressionam.Farmer em certo sentido um conceitoperfeitamenteunificado, emoutro sentido "aquleque lavra [farm, verbo "lavrar"].O conceitotransmitidopelo radical (farm-) no absolutamenteum con-ceitode personalidade,masde atividadeindustrial (to farm), que partepor sua vezdo conceitode um tipo particular do objeto (a farm) [isto, emingls,o substantivode coisafarm, "herdade,fazenda",determinoua formaode um verbo to farrn, de que saiu por sua vez o substantivode pessoafarmer expressono exemplo].Da mesmasorte,o conceitode{j,1!cklingestem:QosicolJlteriol' do conceitoexpressopeloradical duck.:t:ste,que pode figtirar como vocbuloindependente,refere-sea tdauma classede animais,grandesc pequenos,ao passoque duckling estlimitado na sua aplicaoaos filhotes dessaclasse.O vocbulofarmertem um sufixo lIagentivo"-er, ao qual cabea funo de indicar a pes-soaquerealizaumadadaatividade[comoemporto"-dor" de "lavrador",por exemplo,que "a,quleque lavra"]. Tal sufixo transforma o ver-bo to farrn num nomeagentivo,precisamentecomotransformaos verbos'to sing, to paint, to teach ["cantar", "pintar", lIensino.r",ou seja, "pro-fessar"}.nos nomesagentivoscorrespondentessinger, painter, teacher(port. "cantor", "pintor", IIprofessor")2,O elemento-ling no apresen-&0. um uso igualmenteamplo,masa sua signicao bvia,Acrescenta~oconceitobsicoa noode pequenez(comoainda em gosling e fled-7eling) ou a noo co1'relato.de "mesquinhezdesprezvel" (como em.'lJeakling,princeling, hireZing),Tanto o agentivo-er quanto o diminu-;ivo -ling transmitemidiasnitidamenteconcretas(de uma maneirage-~alas de "pessoaque faz" e "Pequeno"); mas ssecarter concretono,:ica bem acentuado.O papel dos dois sufixos no tanto definir con-~eitosdistintos quanto servir de elementointermedirio entre certos

    :onceitos.O -e1'dc farmer no diz pl'priamente"aquleque (fanns)";ndica apenasque a espciede pessoaa que chamamos.fanner esto associadas atividadesda lavoura que pode ser conventili!J;lJL1mente

    2. [Nos exemplosportuguses,h entreo verboe o nomeum sentimento,deerivaoatual, queno corrcsponde realidadehist6rico.,pois tanto o nomecomoverboestilono mesmopInnode derivaii~emreferncia.aosradicaisprimitivosdOB,

    ~rbOBlatinosronc-re,pingcre, profitC1'i.]

    !

    (:

    :.i

    eoncebidacomo sempreocupadanessasatividades.Evidentemente,H'a cidade e tratar de atividadesmuito outrll:~~as_~!l~p-i.~__com-a pape-leta.lingstica de farm~ .,--...-...-.'--.-..

    A linguagemrevela nisto certa incapacidade,ou se quiserem,certatendnciargida a olhar muito alm da funo imediatamentesugeri-da, confiando em que a imaginaoe a fra do hbito bastam parapreencheras transiesde pensamentoe os detalhesde aplica

  • cbulosradicais comoman ["homem"]e chick ("pinto"), obtendonovocontedomaterial, certo,maslfo absolutamentenovomoldeestrutural.

    Podemosir alme substituiroutra atividade de matar,a de "segu-rar" digamos[inglsto ta.kc].A nova sentenathe man ta.kesthe chick~ totalmentediversada primeira quanto ao assuntomas no Q\1antomaneirade trat-lo.Sentimosinstintivamente,sema mais leve tentativade anlise consciente,que as duas sentenasadotam precisamenteo

    ~!?-.~mopadrQ,que so na realidadeuma mesmasentenafunda~~~_diferindo_apenaspeJo.....mrestimentomaterillL Em outros trmos,expri-memde maneira idntica idnticosconceitosde relao.A maneira ,por assimdizer, trplice - o uso de um vocbuloinerentementerela-

    eional.(the) [artigo definido] em posiesanlogas;a seqnciaan.Ioga' (sujeito,predicadoconstitudode verbo e objeto) dos trmoscon-cretosda sentena;e o uso no verbo do elementosufixado -s [desinn-cia do indicativopresenteda 3.~pessoasingular].

    Mude-se um dssesearacteresda sentenae ela fica modificada,leve ou profundamente,sob o seu aspectopuramenterelacional, no-material. Se omitir-se the (tarmer h?ls duckling, man takes chick)ela torna-seimpossvel;no entra num padro formal reconhecidoe osdois sujeitosdo discursoparecemincompletos,suspensosno vcuo.Sen-

    timos que no h relaoestabelecidaentre les, relao ess~que jestprevista na mentede quemfala e quemouve.Assim que o the.antepostoaos dois nomes,sentimosum alvio. Ficamos sabendoque olavrador e a ave de que nos fala a sentena,so o mesmolavrador e amesmaave,a quenos referamos,ou de que ouvamosreferncia,ou emque pensvamos,momentosantes.Se eu encontrarum homemque noestcogitandoe nadasabedo citadolavrador,defrontareiprovvelmentecom tlm olhar de pasmopor tda resposta,ao lhe comlmicarque "thefarmer ("quem le1")kills the duckling ("no sabiaque le tinha um,seja le l quemfr"). Se, no obstante,o fato me parecerdigno de sercomunicado,serei forado a falar de "a !arme7'up my way" ["um la-vrador l das minhas bandas"] e de a dWJkling of his ["um patinhoseu"]. :f':ssesvocabulozinhos,the e a, [artigos"o" e "um"] tm a impor-tante funo de estabelecerama refernciadefinida ou indefinida.

    Omitindo o primeiro the e abandonandoconcomitantementeo -8

    sufixado, obtenho um- tipo inteiramente novo de relaes. F'armer,kz"llthe duckling implica que me estou dirigindo a um lavrador, no

    3. :fJ claro que por "ncidente"que o .$ denotapluralidadeno nomoe sinogularidadeno verbo.

    apenasfalandodle; e, almdisso,,quele no estmatandoa ave,masrecebendouma ordemminhaneste.sentido.A rE,!!-osubjetjy.aque ha-via na primeira sentena,tornou-seuma relaovocativai e a ativi-dadepassaa ser concebidaem trmos imperativose no indicativos.

    Conclumos,portanto, que se o lavrador deveser apenasuma pes-soade quemse fala, o artigo tem de voltar ao sel'llugar e o -8 no deveser supresso.11Jsteltimo elementoclaramentedefine, ou antes, auxiliaa definir uma sentenaenunciativaemcontrastecomuma ordem.

    Verifico, alm disso,que,se quiser falar de vrios lavradores,nopodereidizer - the fa.rrtterskills the dtu;kling,massim - the farmers

    ~azthe duckling, Evidentemente,pois, o -8 pressupea singularidadedo sujeito.Se o nome singular,o verbotem umaforma que lhe corres-ponde, e tem outra, se o nome pluraIS. A comparaocom formas

    .comoI kill [1.~pessoado singular] e Voukill [2.' pessoado plural] mos-

    tra, a.mais,queo -8 tem exclusivarefern,cia,a uma pessoaoutra.queno aquelaque fala ou aquelacom que se fala. Concluimos,pois, queconotaa uma relaopessoal,ao mesmotempoque uma noode sin-

    gularidade.E a comparaocomuma frase'como- The farmer killed[pretrito;port, "matou"] the duokling indica haver ainda nestesobre-

    carr~adssimo-s a designaontida do tempopresente. --'-'---

    O carterindicativoda sentenae a refernciade pessoapodemser, consideradosconceitosinerentesde relao.O nmero..t.~Yidentemel+le_.. sentid~l~~~_ ingls.QQI!19...lJ.I11!l-l'elao.nec~ljil:d~,9jsJ...d:.c)11~_._..Jrrio no haveria.razopara exprimi!,:~.t:....~as...!:.~~.~.s._..~..~o.l}.c,e!t~.-::-:um~..

    :vezno nome,outra vez no v~rQC).!O tempotambm claramentesenti-do comoconceitode relao;se o no fsse,poder-se-iadizer the fannerkilled-spara cOl'respondera - the fa7'mer Mlls.

    Dos quatro conceitosinextricvelmenteentrelaadosno sufixo Os,

    todossosentidos,pois, comoconceitosde rel~o, sendoque dois tmo carter de relaonecessri~.A distino entre um verdadeirocon-ceitode relaoe um que apenassentidoe tratadocomotal, semqueseja parte intrnseca da natureza das coisas,merecermaior atenonossadaqui a um momento.

    90 A LINGUAGEM

    III,

    [

    1

    1,

    \;I'I;

    I~.

    OS CONCEITOS GRAUATICAIS 91

  • 92 A LINGUAGEM os c oN C'E I TOS G nA !rI A T I C A I S 93

    Finalmente,-mepossvelmodificarradicalmenteo contrnorela.cionalda sentenacomalterara ordemdosseuselementos.Sc foremtrocadasasposiesdefarmer ekills, a sentenaficar- kills thefarmerthe duckling,o que muitonaturalmenteinterpretadocomoumama-neirainslita,masnoininteligvel,defazera pergunta- doesthefaromer kiU the duc7cling'l~.Nestanovasentena,nose concebeo atoco-monecessriamenteemrealizao.Pode,ou no,estar-sepassandosseato,ficandoapenaspressupostoquea pessoaquefala quersabera ver-dadee achaquepodeter informaoda pessoacomquemfala.A sen-tenaintenogativapossuiuma "modalidade"inteiramentediversadadeclarativa,e pressupeumaatitudenitidamentediversada partedequemfala para quemouve.

    Havermudanaaindamaisnotvelnas relaespessoais,se tro-carmosa posiodefarmer e duckling.The dueklingkills the fa1'meren-volveprecisamenteosmesmossujeitosdodiscursoe o mesmotipodeati.vidadequea nossaprimeirasentena,masos papisestoinvertidos.A avevingou-sedohomem,comoo vermedoprovrbio,ou,parausarmosa terminologiagramatical,o queera "sujeito" agora"objeto",e oqueeraobjeto agorasujeito.

    O quadroinfl'a analisaa sentenado pontode vistados concei-tos nela expressose dosprocessosgramaticaisutilizadospara tal ex-presso:

    r. OonceitosConcretos:1. Primeirosujeitodo discurso:{armer.2. Segundosujeitodo discurso:duckling.3. Atividade:kill.

    --- analisveisem:

    A. OonceitosRadicais:

    1. Verbo: (to) {armo2, Nome;duck.3. Verbo: leill.

    4. [Em illgl~so verbointel'Togativo normalmenteconstituldocomo auxiliardo (presente,3."pesosing. does), did (passado),a.quese pospoo sujeito,11 mellO~quesetmte deum verbocomohave, e, will, shall, must, may ou de um tempooom.postocomumdstesna funii.ode auxiliar.Em alta, poesia,porm,esporMieo.monte,poderiaaparecera formaadmitidapeloautor.]

    B. Conceitos'Derivados:

    1. Agentivo:expressopelosufixo-er.2. Diminutivo:expressopelosufixo-ling.

    n. Conceitosde RelaoReferncia:

    1. ReferncJ;l.definidaquantoao primeirosujeitodo dioour-so:expressopeloprimeirothe,quetemposioprepositva.

    2. Refernciadefinidaquantoao segundosujeitodo discur-so: expressopelosegundothe,quetemposioprepositiva.

    Modalidade;

    3. Declarativa:expressapelaseqnciadesujeitomais verbo;e pressupostapelo-$ sufixl1do.

    Relaespessoais:

    4. Subjetividadede farmer: expressapelaanteposiode far-mer a kills e pelo-s sufixado.

    5. Objetividadede duckling: expressapelaposposigode duc-k'Unga kills.

    Nmero;

    6. Singularidadedoprimeirosujeitododiscurso;expressopelaausnciadesufixodepluralemfarmerj e pelosufixos noverboseguinte.

    7. Singularidadedosegundosujeitododiscurso:expressopelaausnciado sufixodo plural emduckling.

    Tempo:

    8. Presente:expressopelaausn-ciade sufixodepretritonoverbo;e pelo-s sufixado.

    Nestacurtasentenade cincovocbulos,estoexpressos,portanto,trezeconceitosdistintos,trsdosquaisradicaise concretos,dois.deriva-dose oitode relao.

  • 94 A LINGUAGEM OS CONCEITOS GRA1.iATICAIS 95

    Talvezo maisnotvelresultadoda anlisesejaa prova,maisumavezobtida,da curiosafalta de correspondnciaemnossalnguaentrea funoe a forma.O mtodode sufixao usadotantonoselemen-too'derivadoscomonosde relao;vocbulosindependentesou radicaisexprimemtantoidiasconcretas(objetos,atividades,qualidades)comoidiasderelao(artigosthee a, voebulosquedefinemrelaesdelu-garcomoin, on, at) [cf. emportugusosartigos"o" e ''um'',e aspre-posies"em","sbre","a"]j um mesmoconceitode relaopodeser

    ~expressomaisdeumavez (assim,a singularidadede fa:rmer expres-

    sa negativamenteno nomee positivamenteno verbo)i e um elementopodeconterumgrupodeconceitosintrincadosemvezde ums6concei-to definido(assim,o -s dekills encarnanadamenosquequatrorelaesue logicamentesoindependentesentresi).

    A nossaanlisepoderparecerumtantoelaborada;apenas,.porm,porqueestamostohabituadosaosnossosconhecidssimoscanaisde ex-pressoqueleschegama senosapresentarcomoinevitveis.

    Ora,a anlisedestrutivado que familiar,vema sero nicom-todopara chegarmosa compreendermodosfundamentalmentediferen-tesde expresso.Percebero queh defortuito,de ilgico,de desequili-bradona estruturada lnguanativa, meiocaminhoandadoparasen-tir e apreendera expressodasvriasclassesde coneeitosemtiposdefala estranha.Nemtudoque "extranacional" intrlnsecamentedena-turezailgicae complexamenteforada.Noraro, precisamenteaquiloquenos familiar,queperspectivamaisamplarevelasercuriosamenteespordico.

    De um pontode vistapuramentelgico, bvioquenoh umarazoinerenteparaexplicarpor queosconceitosexpressos:1anossasen-ten~.adeh poucoestoconsiderados,tratadose agrupadosda maneiraquevimos.Tal sentena anteso produtode fraspsicolgicas,hist-ricase irrefletidas,do queumasnteselgicade elementosnitidamenteapreendidosna suaindividualidade.

    o queseverifica,emmaiorou menorgrau,emtdasas lnguas,'sebemquenasformasdemuitasdelassenosdepare,melhordoquenasnossasformasinglsas,um reflexomaiscoerentee consistentedaquelaanlise,orientadaparaos conceitosindividualizados,quenuncaestin-teiramenteausenteda linguagem,embor~complicadae sobrecarregadaCOm fatresmaisirracionais.

    ExameperfunctriodeoutrasHnguas,prximase remotas,mostrar-nos.iabemdepressaquealgunsou todosos trezeconceitosquesucedefiguraremna nossasentenade h pouco,podemnos ser expressossobformadiferentecomoficar diferentementeagrupadosentresi; quealgunsdlespodemserpostosde lado;e queoutrosconceitos,quenoforamlevadosemconsideraona construoinglsa,podempassarasertratadoscomoabsolutamenteindispensveis inteligibilidadedapro-posio.

    Consideremosprimeiramentea possibilidadede wn tratamentodi-versoparaosconceitosincludosna sentenainglsa.

    Senosvoltarmosparao alemo,verificaremosque,nasentcn.aequi-valente(Der Bauer totet das Entelein), o definidoda refernciaex-pressadopelapartculainglsatheestinevitvelmentecombinadocomtrsoutrosconceitos-, nmero(tantoder comodas soexpllcitamentesingulares),caso(der subjetivo;da.s subjetivoou objetivo,logoporeliminao, aquiobjetivo),e gnero,novoconceitodeordemrelaciona!quenestecasonoestexplleitamentepressupostoemingls(der mas-culino,das neutro).Alis,a tarefaprincipaldeexprimiro caso,o n-meroe o gnerocabeemalemo'maispropriamentespartculnsdere-fernciadoquespalavrasquetraduzemosconceitosconcretos(Bauer,Entelein) e dasquaisssesconceitosde relaodevemlgicamentede-pender.Tambmna esferadosconceitosconcretos dignodenotaqueo alemocindea idiade "matar"no conceitobsicode "morto"(tot),e no conceitoderivadode "fazerquesejaistoou aquilo"(pelomtododamutaovoclica,tot-) [o tremadoindicaa vogaleu, dofrancsteu,por exemplo,resultanteemalern.5.odeumaevoluodo o de tot]; o ale-mitototet (analiticamente,tot +mutaovoclica+ st), trfazquesejamorto", aproximadamente,o equivalenteformaldonossodead-en-s,emboraa aplicaoidiom.ticadestaltimapalavrasejaoutra.[ derivadodedead "morto",comoo porto"amortecer",e, comoste,s deaplicaosecundria5J .

    Podemosfazermaiordigressoe lanarosolhosparao mtododeexpressoemyana.Em traduoliteral o equivalenteyanada nossa

    5. ''Fllzer ser morto", ou "fa.zermorrer",no sentidode "mQ.tar" de usomuitleimoespalhado.Encontra-se,por exemplo,emnutlta.e emsi.

  • 96 A.. z:.rNGU AGEMOS CONCEITOS GRA1IATICAIS 97

    sentenade hl poucoser qualquercoisa como- "mata le lavrador"

    le a patinho", em que "le" e "a" so grosseirasaproximaes- deum pronomegeral da terceira pessoapara qualquer,gnerQe nmero,e de umapartcula objetiva que indiea que o nomeseguintese prendeao verbo em funo outra que no a de sujeito. O elementosufixadoem "mat-a" [ou, em ingls, kill-s] eorrespondeao nosso sufixo, salvoem dois pontosimportantes:no acarretarefernciaao nmerodo su-

    jeito e eselareceque setrata de um fato verdico,soba garantiada pes-soa que fala. O nmeros fiea, indiretamente,expressoem virtude daausnciado sufixo verbal especfico,que indicaria a pluralidade do su-jeito, e doselementosespecficosdo plural para os dois nomes.Se a afir-maotivessesido feita sob a garantiade uma terceira pessoa,teria deser usadoum sufixo temporal-modalcompletamentediverso. Os prono-mesde referncia ("le") nada dizemquanto ao nmero,gneroe caso.Alis, o gnerofalta completamenteao yana comocategoriade relao.

    A sentena~"anaj mostra,por conseguinte,quese pode fazer abs-trao de alguns dos nossosconceitossupostamenteessenciais;e tantoa sentenayana quantoa alemmostram,a mais, que se pode sentir anecessidadede expressarcertosconceitos,que os homensde lngua,in-glSfi,ou antesoshbitosda lngua inglsa,no tmna minima eonta.

    . possvelprosseguire ir dando novose inumerveisexemplosdedivergnciacoma forma inglsa,mas temosde nos contentarcommai:>algumasilustraesapenas.

    Na sentenachinesa- 1J.!anMll duck, quepodeser consideradaequi-.alente prtico de The man kills the duck, no h, para a conscinciachinesa,a sensaode infantilidade, hesitaoe deficinciaque experi.mentamosdiante da correspondentetraduo literal. Cada um dos trsconceitos.concretos,- dois srese uma ao-, diretamenteexpressopor um vocbulomonossilbico,que ao mesmotempoum meroradical;os dois conceitosde relao,- sujeito e objeto -, so unicamenteex-pressospela posiodas palavrasque designamos sresants e depoisda palavra que designaa ao.E tudo. Noode definido ou indefi-nido, nmero,personalidadecomoaspectoinerentedo verboe tempo,sem

    6. A agriculturano era exercidapelos yana..A idia verbal de "lavrar"cxpressar'se-iaprovisoriamentede maneirasinttica por "cavar-terra"ou "fazer-brotar".H bastantesolementoscorrespondontesa er 6 -ling.

    falar em gnero,- tudo isto no reeebeexpressona sentenachinesa,que, no obstante, uma comunicaoverbal perfeitamenteadequada,desdeque haja, bem entendido,aqulecontexto,aqulefundo de qua-dro de compreensomtua, essencial completainteligibilida~eda lin-guagem.Nem estaressalvaprejudica o argumento,pois tambmna sen-tenainglsadeixamoss,emexpressograndenmerode idias,das quaisumasestoimpllcitamente,aceitas,e outras foram desenvolvidas,ou vos.lo,no curso da conversao.Nada se disse,por exemplo,nas senten-as inglsa,alem,yana e chinesa,a respeitodas relaesde lugar en-tre o lavrador, o pato e das dos interlocutorescomlesou entresi. Ser

    que o lavrador e O pato estoambos,ou estum ou'outro,.fora da vistada pessoaquefa!!l,ou dentrode mbitovisual dela ou de quemouve,auainda sovistosde um terceiroponto de referncia"acol"?Em outrostrmos.,parafra.seando-segrosseiramentecertas idias "demonstrativas"latentes,&se lavrador (invisvel para ns, 111M psto atrs de uma

    porta no longede mim, estando.tu sentadoacol fora de alcance)mataaqulepato (que te pertence)?ou aqule lavrador (que vive na tua~ ----'d,zinhancae que estamosvendoacol) mata aqule pato (que lhe per-tence)1 lllsse'tipo de frase elaboradamentedemonstrativo estranhonossamaneirade pensar,mas pareeerianaturalssimo,'qui.inevitvel,a um ndio kwakiutl.

    Quais so, ento,os conceitosabsolutamenteessenciaisna fala, osconceitpsque tm de ser forosamenteexpressospara que a linguagemseja um meiosatisfatriode comunicao?

    11: claro quetemosde ter, antesde tudo, um blocode c2.~ceitosbsicos ou radicais!o assuntoconeretoda fala. Temosde ter objetos,aes,~qualidadespara conversara respeito,e tudo isso tem de-ter smbolos

    correspondentesquesejam~ocbu1osindependentesou r~ Nenhumaproposio,por mais abstrato que seja o seu intuito, humanamentepossvelsemum ou mais pontosde contactocomo mundoconcretodossentidos.E'm tdaproposiointeligvel,tm de ser expressasduas, pelomenos,dessasidias radicais, emboraem casosexcepcionaisuma, ou atuma e outra, fique pressupostano contexto. '

    E, emsegundolugar, tm de'ser expressosconceitosde ~lao taisque os conceitosconeretos.:t1qu'menlaadosentre si, construindo umaforma definida e fundamentalde proposio,ondeno devehaver qual.quer dvida a respeitoda naturezadas relaesexistentesentre os con-

  • 98 A. L I N G U A G E M

    Iri:'

    OS CONCEITOS GRAMATICAIS 99

    ceitosconcretos.Temosde saberqualdlesestdiretaou indiretamen-te relacionadoaooutro,e comoo est.Sequeremosfalar deuma coisae deumaao,temosdesaberseestocoordenadosentresi (e. g. "legostado vinho e do jgo"); ou sea coisaestconcebidacomoo pontodepartida,o "agente"daao,ousejaemlinguagemusualcomo"sujeito",a quea ilo.estpredicadajouse,aocontrrio, o pontofinal,o "obje-to" da ao.

    Se querocomunicarumaidia inteligvelacrcade um lavrador,umpatoe a aode matar,no suficienteapresentaros respectivossmboloslingsticos toa,emqualquerordem,confiadoemquea pes-soaquemeouve,tire umaespciede normade relaodentreas pos_sibilidadesgeraisdo caso.

    .AE, relaessinttjcasfundamentaisprecisamde ser expressassemambigida.de.

    Possopermitir-meguardarsilncioa propsitodo tempo,do lugar,do nmeroe de muitosoutrostiposde conceitos,mas.noposso fugirdepositivarquemestpraticandoo ato.Noh nenhumalnguacon~e-cidaquepossaoutentefugir a isto,damesmasortequenenhumalogra.ria enunciarqualquercoisasemo emprgQde smbolospara os con-ceitosconcretos.

    Temos,assim,maisumavezdiantedensa distinoentreosJ@!:.ceitosessenci-lsou inevitveis,e os quesodispensveis.,Os.primeiro~souniversalmenteexpressos;os ltimossoparcimoniosamentedesen-volvidosemalgumaslnguas,e, emoutras,elaboradoscomexubernciapasmosa.

    Masquenosimpededelanarssesconceitosde relao,"secund-rios" "dispensveis",no grupoamploe flutuantedosconceitosderivadosou qualificativos,de quej, hpouco,tratamos?(f. 'I.~-~~)

    Haver,afinaldecontas,umadiferenafundamentalentreumcon-ceitoqualificativocomoa negaoemunhealthy [prefixouno,comoIln"do portugus/linsalubre"]e umarelaocomoa de nmerode books[ouemporto"livros"]1 Se unhealthypodeser aproximadamentepara-fraseadopor not healthy [portollnosalubre"],noserigualmentele-gtimo,comcertaviolnciaemboraaognioda lngua,parafrasearbookspor severalbook [ou,emportugus,"muitolivro)7 Comefeito,h ln-guasemqueo plural,quandochegaa serexpresso, concebidono mes-

    mo espritomoderado,restrito,quasepoderamosdizer acidental,comquesentimosa negaoemunheo,Uhy.Para tais lnguas,o conceitodenmeronotema menorsignificaosinttica,no essencialmentetra-tadocomoexpressodeumarelao,masentrano grupodosconceitosderivados,ou atno dosconceitosbsicos.Entretanto,emingls,comoemfrancs,emalemo,emlatim,emgrego,- emtdasas lnguasen-fim comqueestamosfamiliarizados,- a idiadenmeronofica ape-nasapensaa um dadoconceitode coisa.Podeter de certomodossevalormeramentequalificativo,masa suafraestende-semuitoalm.Propaga-sea muitosoutrospontosda sentena,modelandooutroscon-ceitos,ataqulesquenotmrelaointeligvelcomo nmero,paradar-Ihesformasquesedizememcorrespondnciaou."concordncia"como c0neeitobsicoquea elaseadaptouemprimeirolugar.

    Seeminglsa man {aUs [como -s da 3.~pessoado singular1 mas_ IImen fall", no porquetenhahavidoumamodificaoessencialnanaturezada ao,ouporquea idiadeplural inerenteemIlmen" [plu-ral de man, ullOmem"]deva,pelaprprianaturezadas idias,referir-setambm aopor lesrealizada.

    O queestamosfazendoemtaissentenas o quea maioriadaslin-guas,emmaioroumenorgrau,e decemmaneirasdiversas,estnoh-bitodefazer,- l~n

  • 100 A LINGUAGEM

    t

    OS CONCEITOS GRAMATICAIS 101

    Entretanto,tudoisso,e maisainda,aconteceemlatim.lUa alba te-minaquaevenite illi albi hominesqui veniunt,traduzidosconceptual~mente,correspondemaoseguinte:a.qule- um- feminino_ agente7- um- feminino- branco- agentefeminino- fazer- um- mu-lher que- um - feminino- agenteoutroS - um - agora- virfi. e. cade.palavralatinadesdobra-senumnomeradicalsomado.a con-ceitosdeunidade,feminino,agente,atualidade,3.~pessoa,etc.];e aqule- muito- mascuDno- agentemuito- masculino- branco- agen-temasculino- fazer- muito- homemque - muito- masculino-agenteoutro- muito- agora- vir [i.e. cadapalavralatinadesdo-bra-senumnomeradicalsomadoaosconceitosdemasculino,deplurali-dade,agente,atualidade,3.'" pessoa].Cadavocbuloimplicanadamenosdo quequatroconceitos:umconceitoradical(querconcretopropriamen-te dito - branco,homem,mulher,vir, querdemonstrativo- aqule,que)e trsconceitosrelacionaistiradosdascategoriasdo caso,nmero,~nero,pessoae tempo.Lgicamente,apenaso caso9 (relaodemulherouhomemcomo verboseguinte,dequecomo seuanteeedente,dea.qulee brancocommulher e homeMe deque comvir) exigeimperativamen~teexpresso,e issoapenasemconexocomosconceitosdiretamenteatin-gidos.(noh,por exemplo,necessidadede informarquea brancuraumabrancuradeagente)1.Dosoutrosconceitosrelacionaisalgunsso

    7. lt um recursogrosseiropara.representaro Itnominativo"(subjetivo) emcontrastecomo "acusativo"(objetivo).

    8. I. e., no eu ou tu.9. /leMO" significa aqui no s6 a relaosubjetivaobjetiva,mas tambma

    de atribuio.lO. 80.11'0na medidaem que o latim usa saemtodocomoum circunl6quio

    grosseiropara estabelecera ntribuiii.oda cr a determinada.pessoaou coisa.Comefeito,no se podedizer diretll.IDenteem latim queuma pessoa branca,mnsapeuM queo que brunco idnticocoma pesso:J.queexiste,pratica uma aoou a

    \ sofre. Originriamentesentias8em latim que.ma alho,femw'asignificn.vo.na realidade - "aquela-pessoa,brancapessoo.,(11 saber), mulhel''',- trll idias subs-tantivadasrelacionad!UIentresi pela justaposiioquese propea assinalara iden-tidade.O ingls e o chinsexprimemdiretamentea atribuii10por meio da ordemvocabular.Em latim, illa c o,lba podemprticnmenteocuparumaposioqualquernu.sentena.J:l importantcobaervo.rqueas formas subjetivasde ma e alba no definem,pois, propriamenteIl ~el9.odssesconceitosqualifica.tivoscom fcmina. Tal:relaopode exprimir'seformalmentepor intermdiode um caso o.t~ibutivo,ogenitil'o,digamos("mulherde bra.ncura").Em tibetano,empregll-sequer a. ordem,quer a verdadeirarelaoeaaual: "mlilhel'branca",ou ''branco-demulher''.

    )

    .~1

    llleramenteparasitos(o gneroemtdasascircunstncias;o nmeronodemonstrativo,no adjetivo,no relativoe no verbo),outrossosemimoportnciaparaa formasintticaessencialdasentena(nmerono nome;pessoa;tempo).

    Um chinsinteligentee sutil,habituadocomoesta ir diretamenteao magoda formalingstica,exclamardianteda sentenalatina:"Quantacriaopedantesca!"- Ser-lhe-difcil, defrontandopelapri-meiravezascomplexidadesilgicasdasnossaslnguaseuropias,sentir.se vontadenumaatitudequedetal modoconfundeo assuntoda lin-guagemcomo seupadroformal,ou, para exprimirmo-noscommaisexatido,queaplieacertosconceitosfundamentalmenteconcretosa usosdetoatenuadarelao.

    Exagereialgumtantoo queh de concretono aspectosubsidirio,ou melhor,no-sinttico,dosnossosconceitosde relao,para quesedepreendessemos fatosessenciaiscomaprecivelrelvo.

    Intil dizerqueumfrancsnotemno crebroumantidanoodesexoquandofala de1m,arbre (eminglsa - masculinotree) ou deune' pomme (a - femininoapple). Nemtemosnsoutrosinglses,di-gamo quedisseremosgramticos,u~aimpressomuitovivado tempopresenteiemcontrastecomtodoo passadoe todoO futuro,quandodizemosHe comes[cf. emportugus,"lechega"]11. o quesev clara-mentecomo usodo presentepara.indicarnos o futuro (He comesto-mol'row) [em.portugus,"le.chegaamanh"]mastambma ativi-dadegeraldissoeiadada especificaodo tempo(Wheneverhe comes,I am glad to seehim) [ou,emportugus- "Sempreq.uelechega,

    .alegro-mede v-Ia"]ondeo verbosereferemaisa ocorrnciaspassadase possivelmentefuturas,do que atividadepresente.

    Tanto emfrancscomoemingls,nos exemplosdados,as idiasprimordiaisdesexoe tempodiluram-se,portanto,cmvirtudeda analo-gia formale dasextensesdesuaaplicaoaombitodasrelaesgra-maticais,ficandoto vagamentedefinidos'osconceitos.ostensivamenteindicadosque maispelatiraniado usodo quepelasnecessidadesdaexpressoconcretaquesenosimpea s!;!lcodestaou daquelaforma.~esseprocessode esgaramentoconceptualcontinuara fazerse,pode-

    .U. A parte,naturalmente,da vida e das emergnciasqueum contextoparti'eular cria.pa.ratal sentenca.

  • 102 A LINGUAGEM OS CONCEITOS GRAMATICAIS 103

    remosacabarpor ter nasmosum sistemade foqnas,dondese tresvadotdaa crdevida:e queapenaspersistirpor inrcia,duplican-do-se-Ihesas funessintticassecundriascomprodigalidadesemfim.

    Da, emparte,os complexossistemasde conjugaode tantasln-guas,nosquaisdiferenasdeformanosefazemacompanhardeconsig-nveisdiferenasde funo.

    Deve,ter'havidoumapoca,por exemplo,emboraanterior maisantigaevidnci~,documental,emqueo ,tipode formaotemporalre-presentadopor d1'oveou sank [pretritoscomapofoniade to drive,"guia,r",e to sink,"mergulhar"]diferiapelosentido,numgraulevemen-te,cambiantequefsse,do tipo (kaled, worked) [como sufixo- ed],quesefirmoueminglscomoa maneirapredominantede formaodo'pretrito;da mesmasortequehoje aindareconhecemosumadistino'aprecivelentressesdoispretritos,de um lado,e, de outrolado,o"perfeito"(has driven, has killed) [formascompostascomo auxiliarhave,"ter"],distinoque,por suavez"poderter cessadonumadeter-minadafasevindourada lngua12.

    A formasobreviveao seucontedoconceptual..Umae outroalte-ram~sesemcessar;mas,demaneirageral,a formatendea subsistirde-poisdeo espritoseter esvadoou mudadodecorpo.Formai;TItcional,formapor amor forma- sejaqualfr o nomequeseda estaten-dncialingsticade insistiremdistinesformais.pela simplesrazode quej estoconstitudas- to naturalna vida da linguagem,como, na vida social,a persistnciade modosde condutaqueperde-ramh muitoa suarazodeser.

    R outratendnciapoderosaparafavorecerumaelaboraoformalquej no correspondeestritamentea ntidasdiferenasconceptuais. a tendnciaa construir~as de classificaoqueenquadrem.fratodosos conceitoslingsticos.

    Umavezconvencidosdequetdasascoisassodemaneiradefinidaou boas,ou ms,ou brancas,ou pret.as, difcil aceitarmosa atitudementalquereconhecequecadacoisa,de per si, podeser a um tempoboae m (ou,emoutrostrmos,indiferente),ou a um tempopretae

    12. Foi o quo om grnndeparte sucedeuem alem.oe francspopular,ondea diferenn. mais estillsticado que funcional.Os pretritoss.omais Iiter.riosouformll.1!sticosdo queos perfeitos.

    I,!

    branca'(ou,emoutrostrmos,parda); e aindamaisdifcil eonformarmo-nosa admitirqueas categoriasdo bome do mau,ou do prtoe dobranco,possamemcertoscasosserinaplicveis.

    A linguagem,a muitosrespeitos, tambmcaprichosae renitenteemrefernciaa suasclassificaes.Faz questode ter lugaresmarca-dosparatudo,e notoleraquenadafiquedefora. Qualquerconceitoemdemandade expressotemde submetersesregrasclassificatriasdo jgo, maneiradssesinquritosestatsticosemqueo maisconvi

  • 104 A LINGUAGEM

    ~p-

    OS CONCEITOS GRAMATICAIS 105

    15. Assim o -e1'de farmer [ou "do'r"de ''lavrador'] poded'efinirsecomoiu-dicandosseconceitosubstantivoparticular (objeto ou coislL)queservede sujeitohllbituo.lao verboa queest.dilea.do.A relaftode "sujeito" (um lavrador lavra)i inerentee espeeific.a.no vocabulrio,masno existepara o conjuntodo.sentenll..Da mesma.sorte,o ling de uo1cli.ng[ou "-inho" de "patinho"] define uma relao

  • 106 A. LXNGUAGEM os CONCEITOS GRA1rIATXCAXS107

    menteo quesi verificar-secomlnguas exticas,ondepodemoster, em-bora, tda a seguranana nossaanlisedas palavrasde uma sentenae,contudo,no lograr adquirir &se "sentimento"ntimo da estruturaquenos permitedizer infalivelmentel\quilo que "contedomateri~l"e que "relao".

    Os conceitosda classer soessenciais!1 qualquerlingua, e bemassimos da classeIV. Os conceitosII e III socomunsmas.no essenciais;es-pecialmenteo grupo lII, querepresenta,comefeito,umaconfusopsico-lgicae formal dos tipos H e IV ou dos tipos r e IV, uma classedis-pensvelde conceitos.Lg;.camente,h um abismointransponvelentreos

    n.09 r e IV, mas o gnio ilgico, metafricoda linguagemj tem semesfrocobertosseabismoe estabelecidouma gamacontnuade concei-tos e formas,quenosconduzimperceptivelmentedasmaterialidadeHmaiscruas ("casa"ou "Joo Smith") s relaesmaissutis.

    particularmentedignode nota quea palavraindependenteinanali-svelpertencena maioriados casosao grupo I ou ao grupo IV, e muitomenosa mido aos grupos II e rH.

    possvel a um conceitoconcreto,representadopor um vocbulosimples,perder inteiramentea sua significaomaterial e passar dire-tamenteao mbitorelacionalsemperder concomitantementea sua inde-pendnciavocabular. o que sucede,por exemplo,em chinse cambod-jiano quandoo verbo "dar" usado em sentidoabstratocomosimplessmboloda relao"objetiva indireta" (e. g., cambodjiano"Ns fizemoshistria estadar tda aquelapessoaque tem filho", i. e., "FizemosestahiStriapara todosos quetm filhos").

    H tambm, claro, no poucoscasosde transioentre os gruposr e IX e III, bemcomo,j um tanto fora do mbitodos radicais, entreos grupos H e rH.

    Ao primeiro dssestipos de transiopertencetda a classe deexemplosem ql1eo vocbuloindependente,depois de passar pela fasepreliminar em que funciona comoelement'osecundrioou qualificativode um composto,acabapor tornar-seum afixo de derivaopuro e sim-ples, semcontudoperder a memriade sua antiga independncia.Tal'elementoe conceito full de teaspoonfuli [i. e., tea, "ch", spoon,"co-lher", [ull, "cheia"; "colherada"ou, "colhercheiade ch"], quepsicolO-gicamenteflutua entre o estadode c~nceitoradical independente(com,.

    "I

    parar fuli,- adjetivo) ou de elementosubsidiriode lUU composto(cf.brim-full) [brim, "borda") e o de simplessufixo (cf. dutift) em quej n.osesenteo seuantigocarterconcreto.[No'ltimo exemplo- ful apenasumsufixo quederivaum adjetivodo substantivoduty, "dever".]

    Em: geral, quanto mais altamentesinttico fr o tipo lingsticaconsiderado,maisdifcil, e atarbitrrio, serdistinguir os gruposI e lI.

    No apenasse perde gradualmentea noodo concreto medida.qp.ese vai do grupo I ao IV; mas tambmesbate-se,em reduocons-tante,o sentimentoda realidadesensveldentrodosprprios gruposdosconeitoslingsticos.Em muitas lnguas, por isso,torna-sequaseinevi-tvel fazer vrias subclassificaespara segregar,por exemplo,os con-ceitosmaisconcretosdos mais abstratosno grupo 11. Devemos,contudo,

    ter semprea preocupaode no incluir em ~aisgruposmais abstratos'ssesentimentode relao,puramenteformal, que mal podemosdebcarde associarcom alguns dos conceitosmais abstratosque, entre ns, fi-

    .cam no grupo ru, a menosque haja indiscutvel evidnciaa garantirtal incluso.

    Um ou dois exemplosesclareceroessasimportantssimasressalvas1G

    Em nutka, temosuma poro desusadamentegrande de afixas d~

    derivao(que exprimemconceitosdo grupo II). Alguns so de conte-do quasematerial (e. g., "na casa","sonhara respeitode"), outros,comoo elementoque indica a'pluralidadeou um afixo diminutivo,somuitomais abstratosno contedo.Aqulessoldam-semais intimamenteao radical do questes,que s6 se podemsufixar a formaesque j tenhamo valor de vocbuloscompletos.

    Se, portanto,apraz-medizer - "os lumezinhosda casa" - o que

    possofazer numa s palavra -, tenho de formar a palavra "lume-em--casa",e aosseuselementos que seroapensosos outroscorresponden-tes ao nosso- "zinho",ao plural e ao artigo. O elementoque estabeleceo sentidodefinido da referncia,pressupostono nossoartigo, vem nofim de tudo.

    16. f,; preeis~menteporquedeixamde sentiro "valor"ou "tonalidade",distintada.signific.o.oexterna,em refernciali- um conceitoexpressopor determinadoolementogrn.m~tical,que muitos estudlLntesde lnguas estrangeirasso levadosa.umaidiafnlsa sbrelngu!U!de n(Lturezacompletamentediversada.lngua.p.tria.

    Nem,tudoquese inttula "tempo",ou "modo",ou "nmero",ou "gnero",ou l/pesBoa" genulna.mentecompnr.velIl-O quesignifica.mssestrmoseml(Ltimou fra'llc:l.

  • 108 A LINGUAGEMOS CONCEITOS GRAMATICAIS 109

    At a, vai-sebem. "Fogo-em-casa-o"correspondede maneirainte~

    ligvel ao ingls the house-fire [com a anteposiode house, "casa",afire, "lume",para constituir um compostoem que "house" tem funoadjuntiva]11.

    Mas coma noodiminutiva ser o nutka correspondenteao ingls- the house-firelets?18 Absolutamenteno.

    Antes de tudo, o elementoplural precedeo diminutivo em nutka:"lume-em-casa-plural-pequeno-o",ou, em outros trmos, "casa-Iumes-zi-nho", o que logo revelao importantefto que o conceitodo plural no sentidoto abstratae relacionalmentecomoem ingls. Interpretaiomais adequadaseria the house-fire-severaJ,..let[cf. em porto "casa-Iume-muito-zinho"]em que, entretanto,severaZainda palavra muito forte,-let um elementomuito requintado (small, [porto"pequeno"]por outrolado, seria muito forte)lD.

    Na realidade,no conseguimostrazer para nossalngua o valor ine-rcnte do vocbulonutka, quepareceflutuar entre "the house-fireZets"e"the house-fire-several-srnall".

    O que,porm,maisquetudo, impedequalquerpossibilidadede com-paraioentreo -s ingls de house-firelets[ou do porto lumezinhos]e oseveral-smalldo vocbulonutlm, o seguinte:em nutka, nem o pluralnemo afixo diminutivo correspondemou se referema outras partesdasentena.Em ingls, the house-fireletsuburn", e no "burns" [comoemporto"ardem"e no, "arde"]; emnutka, verbo,adjetivo,ou qualqueroutro elementoda sentenanada tem que ver com o carter plural oudiminutivo do lume. Por isso, emborao nutka reconheauma demarca-o entre conceitosconcretose menosconcretosno grupo Ir, os menosconcretosno transcendemdo grupo conduzindo-nos atmosferamaisabstl'ataa quenos transportao nosso-s do plural.

    17. Artigos sufb:adostambmocorremem dinamarquse sueco,e muitnsoutraslnguas.O elementonutka para."em cll8a" difere do nossouca.sa.",porque sufh.adoe no aparececomovocbuloindependentejnemtem qualquerafinida-de como vocbulonutka.quequerdizer"casa".

    18. Admitindosea existncia,em ingls, de firelet.19. [J., em portugus,"-zinho" seria mais natural, pOl'quanto,no contr.rio

    do ingls,usamosnormalmentesufixosdiminutivos.]

    Mas comtudo isso,objetaro leitor, j algumncoisa que o afixode plural nutlta se coloque parte dos afixos mais concretos;e acres-cendoque talvezo diminutivonutka tenhaum contedomnis esgaradoe fugidio do queo ingls-let ou -ling ou O alemo-chenou _lein20

    Ps.toisto, ser que um conceitocomoo da pluralidade poder ja-mais ser classificadoentre os conceitosmnismateriaisdo grupo II?

    Sem dvida quepode.

    Em yana, a terceirapessoado verbono faz distinoentre o sin-gular e o plural. No obatante,o eonceitodo plural pode ser expresso,e quasesempreo , pela sufixaode um elemento(-ba) a:oradical doverbo.lt burns in the east [east,"leste"] traduz-sepeloverboya-hau-$'21."burn-east-s"[i. e.,o radical verbal+leste+a desinnciada 3.' pessoa}."They burn in the east".[sujopl. they, "les"] ya-ba-hau-si.Note-sequeo afixo do plural imediatamentese segueao radical (ya-), disjungindo-odo elementolocativo (-hau-).

    No necessriograndegastode argumentaopara se.provar queo conceitode pluralidade aqui poucomenosconcretoque o de lugaronde, Ua leste", e que a forma yana sentidano tanto maneiradonosso"They burn in the east" (ardunt oriente) como de "Burn-several--efl$t-s, "uma coisapluralmentearde a leste", frase que no conseguimossatisfatriamenteassimilarpor falta de canaisde expressoapropriadosondeela em nossalngua possainsinuar-se.

    Ser possveldarmosum passoadiantee tratar a categoriade plu-ralidade como idia estritamentematerial, tal que fizessede ''tinos''um uplural livro", comoo ubranco"de "livro branco" que calha fran-eamenteno grupo I?

    No evidentementeo casodasnossaslocues"muitoslivros", "v-rios livros". Ainda que dissssemosrnanybook ["muito livro"], e "vriolivro" (comodizemos"rnany ti: book"e "cadalivro"), o conceitodo pluralnoemergiriatoclaramentecomononovocasoqueimaginamos;"muito" e

    20. O diminutivonutka tem,semdvida,um alcancesentimentalmuito mllorqueo ingls -ling_ Evidencia"oo seuuso comverbostanto qua.ntocomnomes.Fa-lando a uma.criana,adicionamosquasesempreo diminutivoa tda.palavra.da.,senteu!

  • :,",r.

    .~~,~

    22. S.oformas clssica.s,n.oda. linguagemcoloquialmoderna.

    23. Da mesma.sortequeentren6s- "le temescritolivros" nadaadiante.emreferncia. quantidade("poucos,vrios,muitos").

    24. Tais como classepessoal,classe animal, cla.ssllde instrumentos,classoaumentativa.

    "vrio"estocontaminadospor certasnoesde quantidadegradativaquenosoessenciais simplesidiada pluralidade.

    Temosde.voltar-nospara a sia Centrale Orientalembuscadotipode expressoqueprocuramos.

    Em tibetano,por exemplo,nga-smi mthong22, ou "porhomemvejo,pormimumhomem visto,vejoumhomem"podeigualmentesigniIicar"vejohomens",desdequenohajamotivoespecialparafrisar melhoraphIl'alidade23Se esta,porm,mereceml2noespecial,-melcito dizernga-smi rnamsmthong,"por mimhomem-plural visto",ondernams a correspondnciaconceptualperfeitado -s de "lh'l'os",despojadodequaisquerelosde relao.Rnams segue-seao nome,comooutroqual-quervocbuloatributivo- "homemplural" (doisou ummilho) ma-neirade "homembranco".No precisopreocuparmo-noscoma plura-lidadeou a brancuradoserexpresso,desdequenonosinteressainsis-tir emtal atributo.

    O que verdadeda idiadepluralidade, igualmenteverdadedeum grandenmerodeoutrosconceitos.No pertencemnecessriamenteaospontosemquensoutrosquefalamosingls,estamoshabituadosaescalon-Ios.Podemserjogadosparao grupor ou parao grupoIV, os:doisplosda expressolingstica.

    E nonosaventuremosa fazerpoucodo ndionutkae do tibetanopor causada suaatitudematerialemrefernciaa conceitosquenosparecemde relaoabstrata,porqueestaremoschamandosbrensa cen-sUradosfranceses,os quaissentemumasutilezade relaoem femmebkmehee hommeblanc quenoencontramDasgrosseirasfrasesingls8sUJhite worrLane white mano O negrobntu,porsuavez,sefssefilsofo,iria alm,e estranhariaver-nos,a todos,pr 110grupoII umacategoria,a dosdiminutivos,queleiniludivelmentesentepertenceraogrupoTIIe de quese serve,juntamentecomoutrosconceitos.classificatrios~4,para relacionarsujeitoe objeto,atributoe predicado,tal qual lidamumrussoou um alemoeomos seustrsgneros,ou,'qui,commaisaltafinura do questesat.

    25. Trmo tirado da gram.ticaesln.V8..Indica o lapso da alo, a 8Uo. no.turcza no que respeiw.a continuidade.O nossoory ["gritar" ou "chamr"] (, deaspectoindofinido,bc cTyirr.(J ["estar gritando"ou "chorando"] durativo,cry (l1I,t["dar um grito"] (, moment.neo,bwrst into tears ["d08fazer-seem lgrimns"] inceptivo,1cceporyirr.g ["ficar gritando,ou chorando"] continuado,start 'rr. crymg["pr-5lla gritar,ouchora.r"] duro.tivoinceptivo,cry 1tOlV an again. ["gritar o.cadainstante",ou Hchorar"] iterativo,cry out (J1Jery nolV and tllerr. ["da.rum grito neadainstante"]ou ory irr. fits andstarts ["ter acessosdo chro") momentnoo-ite-l'ativo.To put 071 a ooat ("vestirum easaco") momentneo,to WBar a coat ["estarde casaco"] resultativo.Comomostram05 nossosexemplos,o aspectoli expres-so emingls[e portugus]por tda.sortede COllStrullSidiomticnsemvozde slopor um conjuntocoesode formasgramaticais.Em muitaslngullS, do muitomaioralcanceformaldo queo tempo,comqueo estudanteingnuotende.8oconfundi-Ia.

    justamenteporqueo nossOesquemadosconceitos umaescalainclinada,maisdo quepropriamenteumaanlisefilosfica.da.a..-.:perin-cia.,quenopodemosdizerumavezpor tdasa posiode um dadoconceito.

    Em outrostrmos,temosdedesistirdeumae1assificaobemorde-nadadascategorias.

    Queinteressacolocaro tempoe o modoaqui,ou o nmeroali, seoutralnguaquelogose nosdeparalevao tempoparaum escanInhoabaixo(grupoI) e o modoe o nmeroparaumescaninhoacima(grupoIV)?

    Nemh maiorvantagemnumsumriodssesno quetangeao in-ventriogeraldosgruposde conceitospertencentesaosgruposII, lUe IV. As possibilidadessoinmeras.

    Seriainteressantemostrarquaisos elementosmaistpicosde for-maonominale verbaldo grupoII; comovariaa classificaodosnomes(pelognero- pessoaise impessoais,animadose inanimados;pela:forma_ comunse prprios);comoseelaborao conceitodonme-ro (singulare plural;singular,duale plural;singular,dual,trial e plu-ral; singular,distributivoe coletivo);quedistinesde tempose podefazernoverboenonome(o "passado",por exemplo,podeserindefinido,),

    imediato,remoto,mtico,perfeito,anterior)i comquedelicadezacertas\'

    lnguasdesenvolverama idiade aspecto~5(momentneo,durativo,continuado,inceptivo,cessativo,durativo-ineeptivo,iterativo,momentneo-iterativo;durativo-iterativo,resultativoe outrosainda); que modali-dadesse podemadmitir (indicativo,imperativo,potencial,dbitativo,

    111OS CONCEITOS GRAMATICAIS

    ';i:

    I~::

    A LINGUAGEM110

  • 112 A LINGUAGEM OS CONCEITOS GRAMATICAIS 113

    optativo,negativoe umalegiodeoutrasmais)26;quedistinesdepes-soasopossveis("ns",por exemplo,concebidocomoo pluralde "eu",ou todistintode "eu"comode HVS" e de "le"1- ambaaas atitudestransparccemnas lnguas,- almdisso,quando que "ns" incluia pessoacomqueeufalo ou a exclui?- formas"inclusiva"e "exclusi-va"); qual o planogeralde orientao,naschamadascategoriasde-monstrativas("ste"e "aqule"numainfindvelprocissode varian-,tes)Z7)quoli. midoa formalingsticaexprimea fonteea naturezadeinformaoemquese fundamentaa pessoaquefala (por experinciapr6p:ria,por ouvir dizer 2S, por interferncia)i comose exprimemnonomeas relaessintticas(subjetivoe objetivo;agentivo,instrumen.tal 'edepessoainteressada29;vriostiposde genitivoe relaesindire-tas); e correspondentementeno verbo(ativoe passivo;ativoe esttico;transitivoe intransitivojimpessoal,reflexivo,recproco,indefinidoquan-to aoobjeto,almdemuitasoutraslimitaesespeciaisnopontodepar-tida e dechegadada cadeiageralde atividades),

    Tais detalhes,por maisimportantesquesejammuitosdlesparaacompreelliloda formainternada linguagem,cedemo passo,emseu

    26. Por "modalidades"nito entendoa caracterizaoverbal conaideradaemsi mesmo.comoa negaoou a dvida,seuoa suamanifestaoemtrmosformais.H ll.ngu!!8,por exemplo,que tm um sistemc.elaboradode formas verbaisnega-tivllS, maneirado queh emgregopara o opta.tivoou modalidadedo desejo,

    27, Compararcompg.97. -

    28. t por causadessaclassificaoda.experincia.que em muitas llnguas118fonnn.averbaisquesio pr6prill8,digamos,para a narra.omltica,diferemdll.9queseusamhabitualmentono intercmbiodirio. Ns outrosdeb:llmosque isso ressaltedo prprio contextoou apelamospara um.modode expressomais explicitoe cn-bal, e. g.: "Morreu, ao queme consta",- "Dizem que morreu",- "Deve estarmorto,ao queparece",

    29. Dizemos- "Durmo", como- "Vou" ou "Mato-o" (1,' pessoa)mas'-"lHeIII1l.ta-me",Entretanto,meno ltimoexemplo,estpelomenosto psicOlogicamen-te prximode euem"eudurmo",quantosteltimodo eu.em"eu o mato",~ s6pelaforma quepodemosclassificara noode L' pessoaem "durmo",comode sujeitoativo,A rigor, estoudominadopor frasfora de minhaaladatanto quandodur-mo comoquandoalgumme mata. Muitas lnguas diierencia.mclaramenteo su'jeito ativo e o sujeito esttico("vou" e "matoo"datintode "durmo","sou bom",'ISOU morto") ou, ainda,o sujeito trall!litivoe o intrall!litivo("mato-o"distintode"durmo","soubom","soumorto","vou"). O sujeito intranaitivoou o estticopodemou nlio ter forma idntica do objetodo verbotransitivo.

    valor geral,s distinesmaisradicaisdosgruposqueestabelecemos.Ao leitor comumbastasentirquea lnguaoscilaentredois.plosdeexpressolingstica- contedomateriale relao- e que sseap610stendema ligar-sepor meiode umalongasriede conceitosdetransio.

    Tratandodos vocbulose das suasvriasforrna8,muito tivemosqueantecipara respeitodasenten~emconjunto.

    Tda lnguatemseumtodoou mtodosespeciaispara reunir v!'lvocnbulosnumaunidademaior.A importnciadsBesmtodos sus-cetveldevariardeacrdocomao complexidadedo vocbuloisolado.

    No latim,agit "(le) procede"noprooisade auxlioexternopara'tir.ltlara suaposiona frase.QuereUdigaagitdominus"o amopre'cede",ouem'sicfeminaagit "assimprocedea mulher"prticarnente omesmoo resultadoliquidoquantoao valorsintticode agito S6 podeserWJl verbO, predicadodeumaproposio,es6podeserconcebidoCOlli

  • Derrubando,pois, a parededivisria entre vocbuloe senteniL,ca-benosinquirir: Quais s,em ltima anlise,os mtodosfundamentaispara ligar um vocbuloa outro, um elementovocabulara outro, ou, emresumo,para passardas noesisoladas,simbolizadasnum vocbuloounum elementovocabular, proposiounificada que correspondea umpensamento1

    A resposta simplese j est pressupostanas consideraespre-cedentes.

    "o mtodode relaomais fundamentale poderoso o da ordemvo-cbular.Pensemosnuma idia mais'ou menosconcreta,a cr digamos,estabelecendoo seu smbolo- "vermelho";noutra idia concreta,pes-soaou objeto,estabelecendopor suavezo seusmbolo- "co";finalmen-te, numa terceira idia concreta,uma aodigamos,estabelecendopelaltima vez o seu smbolo- "crr(er) ". Mal possvelestabelecersuocessivamentessestrs smbolos.sem relacion-Iosde qualquer modo,por exemplo- "(o) covermelhocorr(e)". Longe de mim quererdizercom isso que a proposiosurgiu sempredessamaneira analtica, masto somenteque Q prprio processode justaposiode um conceitoaoutro, de um smboloa outro, imp~noscerto "sentimento"de relao;'-

    ~is no seja. --"--"_" ..m. __ H __ _ '.'A algumasadesessintticassomosespecialmentesensveis,comose

    jam por exemplo,a relaoatributiva de qualidade (co vermelho),oua relaosubjetiva (cocorre), ou a relaoobjetiva (mata co); a ou-tras somosmais indiferentes,comoseja, por exemplo,a relaoa.tributi-va de circunstncia (''hoje co vermelhocorre" ou "co vermelhohojeorre",ou "co vermelhocorre hoje", tdasas quais so equivalentesdeproposioou proposiesem embrio).

    Os vocbulose os elementosvocabulares,portanto, tendemno 136a es~er uma espciede relaoentre si, mas tambmso at --uns para os outros com maior ou menQ)','intensidade. estamif"'oumenorintensidad,e,presumivelmente,qued em resultadoafinal os gru-pos de elementosfirmementesoldados(radical ou radicais mais um ouvrios elementosgramaticais),por n6s estudadossob a designao'o.evocbuloscomplexos.Segundotda a probabilidade,pada mais s~.vocbulosdo que seqnciasque se juntaram e se destacaramde outras

    B~nci8.'l ollelementosiSlados, no desdobr'iWt~d~~-.E~quant~-tm vida plena, em outros trmos,enquantotm todoo seu valor fun

    31. Paru.with no sentidode "contra",compara.ro a.1em5.o~vicIer,contra.

    32. Compnrn.rem latim i7'e,"ir" j e tll.mb~ma locu.oinglsu.I ha1Jc to go,i. e., m~~tgo ["sou obrigadoa ir"]. [Em portugush igualmenteexpressesdefuturo obrigll.t6rioe volitivoquelembnm Il. constru.ooriginriade ira;', em fran-cas,ou "iroi", emportugus;aoos compostosdo tipo "tenhode ir", "hei de ir".]

    donal, conseguemmanter-sea certa distnciapsicolgicados elementoscontguos. medida que perdemgrande parte da sua vitalidade, recaemnas garrasda sentena.em conjunto, e a seqnciados vocbulosindependentesreadquire a importnciaque em parte transferira p?-rllos 'gruposcristalizadosde elementos.

    A linguagemest assim constantementeenlaandoe desenlaandoas suasseqncias.Nas formas altamenteintegradas(latim, esquim)a"energia"da seqnciafica emgrandeparte encerradanas formaesvo-cabularescomplexas,transformando-senumaespciede energiapotencial

    que, durantemilniosat, no se libertar. Nas formasmais analticas(chins,ingls), essa.energia mvel,pronta para qualquerservioquelhe solicitarmos.

    No podehaver grandedvida que a ~ temfreqentemen.te assumidouma influncia diretriz na formaode grupoSde elemen-tos ou vocbuloscomplexossados de certas seqnciasna sentena.Uma palavra inglsa comowithstand (ou comoem portugus"contra-por"} apenasa velha seqnciawith stand, i. e., against [porto"con-tra"} ,tand31, em que o advrbio no acentuadofoi contInuamenteamarrando-seao verboseguintee perdeu a sua independnciacomoele-mentosignificativo.Do mesmomodo, os futuros francesesdo tipo deirai somerosresultantesda coalescnciade vocbulosa principio inde-pendentes:ir ai, "ir hei"3~,sob a influncia do acentounificador.

    Mas a acentuaotem feito mais do que articular ou unificar se-

    qnciasque j por si pressupemuma relaosinttica. tambmomeiomaisnatural de que dispomos,para salientarum contrastelings-tico, para indicar o elementomximode uma s.eqncia.

    Por isso, no noS deve surpreenderverificar que o acento,tnnto

    quantoa seqncia,podes.ervir,por si s, de smbolode certasrelaes.

    Um contrastecomogo between(one who goesbetween)e to gobl,ltweenpode ser de origem completamentesecundriaem ingls, ma.

  • 115 A LINGUAGEM

    if~.

    OS CONCEITOS GRAMATICAIS 117

    em todosos temposna.hist6ria lingstica.Uma seqnciacomosee'man["ver" e "homem"] pode implicar algum.tipo de relao em que seequalifica a palavra seguinte,dondea seeingman ou a 8een(ou visible)1IUln, ou a sua predicao,dondethe man seesou the man is seen,aopassoqueumaseqnciacomoseeman' podeindicar quea palavraacen-tua.daatcertoponto limita a aplicaoda primeira, comoobjetodireto- dif.!'amos,dondeto 8eea ntanou (he) seesthe manoTais alternnciasde relao,simbolizadaspor acentuaesvaritiveis,so importantese fre-qentesem certo nmerode lnguas33

    especulaoalgum tanto arriscada,e contudoadmissvel,ver naordem vocabular e na acentuaoos mtodosprimordiais para a ex-press:ode tooas as :relaessintticase encararo atual valor relacional dos elementose vocbulosespecficoscomouma situaosecundriadevida a uma transfernciade valores.

    Assim,podemosaventarqueo -m latino de vocbuloscomofeminam,dominume civemno denotavamoriginriamente34que "mulher", "amo"

    e "cidado" estavamobjetivamenterelacionadosao verbo da proposi-o,mas indicavamqualquercoisade muito mais conc.ret036,estandoarelao objetiva meramenteimplicada pela posio ou acentuaodovocbulo (elementoradical) irp.ediatamenteanterior ao -m, e que essaconsoantegradualmente,. medida que se esvaiao seu valor mais con-creto,chamoua si uma funo sinttica que no lhe pertencia.

    Essa espciede evoluopor transferncia perceptvelem muitos casos.Assim o of de umafrase inglsacomolhe law of lhe land [Iralei do pas") temhoje um contedoincolor, ndice que, to puramenterelacionalcomoo sufixo de genitivo-is do latim lex urbis, "a lei da ci-dade". Sabemos,no obstante,que era a princpio um advrbiode va-lor concretoconsiderveP6,indicativo de separao,afastamento,e quea relaosinttica era a princpio expressapela forma casual do se-

    33. Em chinstanto quo.ntoem ingls.

    34. Por "originriBmente"entendo, claro, uma pocaanterior no mais aI!-tigo perododas lnguas indo-europiasa que nos leva a evidnciacomparativa.

    35. Tlll'l'ez fsse um classificadorqualquernominal.

    36. Compararcomo seuparalelohistrico,lI1uitochegado,off [advrbioequivalenteno port. "fora", "para tom"].

    gundo nomear.Perdendo esta ltima a sua vitalidade, o advrbio chamau-lhea funo a si.

    Se temosreal motivopara admitir que a expressode tdas'as re-

    laessintticasascendeinevitvelmentea ssesdois aspectosdinmico~da evoluo- a ordem e a acentua~8- resulta uma tese interessante: - Todo o contedoda linguagem,com seus grupos voclicoseconsonnticos,limitava-sena origem interpretaodo concreto;as re-laesno eram expressasa princpio na forma externa,mas apenaspressupostase articuladascom o auxlio da ordeme do ritmo. Em ou-tros trmos,as relaeseram sentidaspor intuio e apenas "extrava-savam-se"atrav~sde fatres dinmicos,que por sua vez se moviamno

    plano da intuio.

    H um mtodoespecialde exprimir relaes,to freqentena hist6-

    ria das lnguas que exigea nossaatenopor um momento. o mto-do da "concordncia"ou de assinalaorepetida.

    Assenta no princpio da palavra de passe ou do rtulo. Tdas aspessoasou objetosque respondem mesmasenhaou trazem a mesmamarCll, ficam conseqentementeregistradascomo relacionadasentre si.Uma vez issofeito, poucointeressaondese achame comose apresentam,Sabe-sede antemoqueumaspertencems outras.

    Estamos familiarizados com o princpio da concordnciaem gre-

    go e latim. A muitos dentre ns j tm causadoespcieessasrimas in-defectveis,comovidi illum bon,umdominum, ''vi ssebom amo", ouquarumdearumsaevarum"cujas deusascruis". No que o eco sonoro,quer emformade rima, querde aliterao39,seja indispensvel concor-dncia,embora,sob o seu aspectomais tpico e original, a concordnciaseja quasesempreacompanhdade uma repeti~de sons.

    A essnciado princpio simplesmenteisto; vocbulos(elementos)

    que pertencemuns aos outros, es.pecialmentese so equivalentessint-ticos ou estorelacionadosda mesmamaneiraa outro vocbuloou ele-

    mento,levama marca externade um mesmosufbcoou de sufixos fun-cionalmenteequivalentes.

    37. Abla.tivo,para.uma.anliserelativamentereccllte.38. Pro'l'Avelmenteno. acentuaodevesemcluir o acontode altura.

    39. Cornoemb!lntuou chinuk.

  • 40. Ta.lvezseja prefervel dizerse"gera.l".O neutro chinuk refere-setantoa pessoascomoa coisas,(l podeusar-secomoplural. uMasculino"e "feminino",poroutro lo.do,em francsc alemo,incluemgrandenmerode srcsina.nimados.

    41. Faladas no. maior parte da. metadeaustral da Africa. Fala-se chinuk,~oba forma de mltiplosdialetos,no vale da pa.rtoinferior do rio Colmbia.f~improssivoobservarepmoo esp!ritohumanochegouao mesmotipo de expressoomduas regiesto hist/)rica.mentedeaconexn.e.

    A aplicaodo princpiovaria considervelmentede acrdocomo gniodecadalngua.

    Em latime grego,por exemplo,h concordnciaentreo nomeeo vocbuloqualificativo(adjetivoou demonstrativo)no querespeitaaognero,ao'nmeroe aocaso,entreo verboe o sujeitoapenasnoquerespeitaaonunero,'enoh concordnciaentreo verboe o objeto.

    Em chinuk,h umaconcordnciade maioralcanceentreo.nome.sujeitoou objeto,e o verbo.Todonomeclassifica-sede acrdocomcin.co categorias- masculino,feminino,neutro40,dual e plural. /'Mulher" fcrn,inino,'/areia" neutro,/(mesa" masculino.Se, por con.seguinte,euquerodizeruA mulherpsreiana mesa",tenhodecolocarno verbodadosprefixosde classeou gneroqueconcordemcomos prefixosno-minaiscorrespondentes.A sentenafica ento"A (fem.)-mulherela(fem.)-le(neutro)-le(masc.)-sbre-psa (neutl:o)-areiaa (mase.)-mesa".

    Se "areia"tema qualificaode "muita"e a mesade "grande",ex-primem-seessasnovasidiascomonomesabstratos,cadaqual comoseuprefixodeclasseinerente(I'muito" neutroou feminino,"grande" masculino)e comumprefixopossessivoreferenteaonomequalificado.Assim,o adjetivoreporta-seaonome,o nomeaoverbo."A mulherpsmuitaareiana mesagrande"assume,portanto,a formade: "A (fem.).-mulherela (fem.)-le(neutro)-le(masc.)-sbre-psa (fem.)-damesmaporo(neutro)-areiaa (masc.)-damesmagrandezaa (masc.)-mesa".

    Insiste-seassimtrsvzesna classificaode mesacomof~~o: ?nonome,no adjetivoenoverbo.

    Nas lnguasbntu4l, o princpioda concordnciaoperaquasecomoem chinuk.Tambmnelas,os nomesse classificamem certonmerodecategoriase sopostosemrelaocomadjetivos,demonstrativos,pro-nomesrelativose verbospor meiode elementosprefixadosquelembrama classee constituemum sistemacomplexode concordncia.Numasen-

    119118 A LINGUAGEM OS CONCEITOS GRAMA',rrCAIS

    tenacomo"Aquleleoferozqueveioc, estmorto",a classede"leo",quepodemoschamarli. classeanimal,serassinaladapor meiodeprefLxosdeconcordncianadamenosdeseisvzes,- como demons-trativo(aqule),como adjetivoqualificativo,como prprionome,como pronomerelativo,como prefixosubjetivono verboda clusularela-tivae como prefixosubjetivonoverboda oraoprincipal("estmor-to"). Reconhecemosnestai~a paraa clarezaexternada refern::..da o mes!lli1espritoqueanimaa frasemais:familiariHum bonumdo-miwm.

    Psicologicamente,osmtodosde ordeme acentuaoficamno ploopostoaoda concordncia.Ao passoqueapelamlesparao implcito,para.a sutilezado sentimentolingistico,a concordncianosuportaamenorambigidadee impea cadamomentoa suamarcaregistrada.

    A concordnciatendea dispensara ordemvocabular.Em latim e chinuk,as palavrasindependentestmliberdadede

    posio,um poucomenosembntu.Tantoemchinukcomoembntu,contudo,osmtodosde concordnciae o de ordemsoigualmenteim-portantesparaa diferenciaodesujeitoe objeto,da mesmasortequeosprefixosclassificadoresdoverbosereportamaosnjeito.aoobjetoouao objetoindiretoconsoantea posiorelativaqueocupam.Temosas-simnovamentediantedenSo fatomuitosignificativode queemdadaemergnciaa ordemvocapularsereafirma,emqualquerlngua,comoomaisfundamentaldosprincpiosde relao.

    O leitoratentodeveestarsurprsode queatagorapoucotenha-mostido quedizera respeitodastradicionais"partesdo discurso".

    A razono difcil de descobrir.A nossaclassificaoconvencionaldosvocbulosempartesdo dis-

    curso apenasumaaproximaovagae incertado inventriocabalda

    experincia.Imginamos,de incio, quetodosos "verbos"se refereminerentementea umaao,consideradaemsi mesma,queum Clnome" a denominaodeumacoisaou pessoadefinida,cuja imagemsepodereproduziremnossamente,quetdasasqualidadessonecessriamenteexpressaspor um grupodefinidode palavras,quepodemosadequada-menteintitularC/adjetivos".

    Assimquepomoso nosSOvocabulrio prova,descobrimosqueaspartesdodiscursoestolongedecorrespondera umaanlisetosimplesdn realidade. \

  • 120 A LINGUAGEM o s C O N C E r TOS GR A M A T I C AIS 121

    Dizemosit is red [" vermelho"}e definimosred [/'vermelho"]comovocbuloqualificativoou adjetivo.Acharamosestranhopensarnumequivalentede " vermelho",em quetodoo predicado(adjetivo.o verbodeestado)fsseconcebidocomoverbo,precisamenteda mesmamaneirapor queo fazemoscom"estende",ou "faz",ou "dorme".Ora,.to depressadamos noodura:tivade ser vermelhoumafeioin.ceptivaou transicional,podemosevitaras formasparalelasit becomesred, it turns red ["ficavermelho,torna-severmelho"]comdizerit red-dens ("avermelha-ae").Ningumnegarque"avermelha-se" um verbotolegtimoquanto"dorme",ou at "passeia".No obstante,it is redrelaciona-secomit reddensquasecomohe standscomhe standsup ouhe rises2

    apenasumaquestoidiomticainglsaou indo-europianopo-dermosdizerit redsnosentidoit is red. Podem-nofazercentenasdeou-traslmguas.H atmuitasquespodemexprimiro quenschamamos"adjetivo"por meiodeumparticpioverbal.Red emtaislnguas ape-nasum derivadoverbalbeingred, comoo soos nossossleeping,wal-king [particpiospresentesdeto sleep,"dormir",to walk, "passear"].

    Da mesmasorteque lcitoverbificara idiade qualidadeno casode reddens, lcito representarmo-nosumaqualidadeou aocomocoi.sa.Falamosde "a alturadeumprdio"ou de "a quedadeumama~',comoseessasidiasfssemparalelasa "(J telhadodeumprdio",ou "acascade umama",esquecendo-nosqueosnomes("altura","queda")no deixariamde indicaruma qualidadee umaao,s porquelhedemosa aparnciadc merosobjetos.E assimcomoh l.(,~guasqueredu.zema verbosa grandemassadosadjetivos,outrash queosreduzemanomes.Em chinuk,comovimos,"a grandemesa" "a-mesa-sua-gran-deza"iemtibetano,podeexprimir-sea mesma.idiaFlor "a mesadegrandeza",aproximadamentecomodizemos"umhomemde fortuna"emvezde"umhomemrico".

    Nohaver,porm,certasidiasqueno possveltransmitirse-nopor meiode umadeterminadapartedo discurso?

    42. [Em portugus,dizemos,ao contrrio,"est.de p" (he stand8) com overbo"est",comodizemos" vermelho",como verbo""j e "e:ogueee"(hc riIlea)como"avennclhase"(it Teddllll.S).J .

    Comodispensar,por exemplo,o "para" da frase "le veio para:casa"~Muitosimplesmente:podemosdizer"lealcanoua casa",supri-mindoa preposioe dandoaoverboummatizdesentidoqueabsorvea ..i~iade relaolocal transmitidapela partl:cula"para". Mas insisti-mosemdar independnciaa essaidiade relaolocal.No serfor-osoficar coma preposio~No;pode-setransformlaem um nome.Pode-sedizerqualquercoisacomo- "lealcanoua proximidadedacasa",ou "o localda casa".Em vezde- "olhouparao espelho",po-'demosdizer- Hperscrutouo interiordo espelho".Tais expresseSde-'sagradamemnossalngua,porquenoseadaptamfcilmenteaosnosso.

  • 122 A LINGUAGEM

    I coneeitosde atividade.Nenhumalnguaprescirdetotalmenteda dist.in-oentrenomee verbo,emboraemcasosparticularesa naturezadessadistinoseja ilusria.

    O mesmonosucedecomas outraspartesdo discurso.Nenhumadelas impe~ativamenteimpostapelavidada linguagem43

    43. Em ye.na,O nomee o verboso bem,distintos,embora.comcertostraoscomunsqueosa.proximamumdo outronumamedidaquenospa.receriaimposeivel.Mas,li. rigor,no hfl outraspartesdo discurso.O adjetivo6 um verbo.Sonoigual.meilt6osnumerais,o pronomeinterrogativo[e. g. "ser o qu1"]e certasconjunese advrbios (e. g. "ser e" e "no ser"; diz-se "e-passado-vou",i. e" - "e fui". 06advrbiose as proposiesso quernomes,quermerosa.ii:tosde deriva.cno verbo.

    ~

    VI

    OS TIPOS DE ESTRUTITRA LINGISTICA

    At aqui, tratandoda :formalingstica,preocupa.mo-nosapenascomosvocbulosisladoSe comas relaesdosvocbulosna sentena.Noeonsideramosaslinguas,comoum todo,conformesa steou que-le tipogeral.Vimosincidentementehaverumasquebuscamsntesesdeestreitacoesoaopassoqueoutrassecontentamcoma disposiomaisanalticae fracionadade seuselementos,ou numaaparecerempurascertasrelaessintticasquej emoutrasecombinamcomcertasnoesquetmemsi qualquercoisadeconcreto,por maisabstratasquesenosapresentemelasna prtica. possvelquetenhamosassimobtidoutnavagaidiado queseentendeporformageraldeumalngua.

    Paratodoaqulequej cogitounoassuntoousentiuatcertoponto

    o espritodeumalnguaestrangeira, bvio,emverdade,queh parae.adalngua,um comoqueplanofundamental,umquadrodeterminado.l!:ssetipo,ou plano,ou,ndole"estrutural" muitomaisbsico,muitomaisprofundodo quequalquercarterlingsticaisoladoquesepossamencionar,e no possveladquirirumaidiaadequadada suanatu-rezacoma meraenumeraodosvriosfatosqueconstituema gramticadalngua.Quandopassamosdolatimparao russo,sentimosque apro-ximadamenteo mesmohorizontequelimitaa nossavista,emboratenhamsidosubstitudosos marcosmaisprximose familiares.Quandochega-mosao ingls,julgamosnotarqueas montanhassoum poucomaisbaixas,masreconhecemosaindaassimo aspectogeraldo pas.J quan-do atingimoso chins, um cucompletamenteoutroquese nosde-para.Podemostraduziressasmetforasdi.zendoquetdasaslnguasdi-

  • 124 A LINGUAGEM

    :>:1ll";'"

    OS Tll'OS DE ESTR.UTUnA LINGSTICA 125

    ferementresi, masquealgumasmuitomaisdo queoutras.Tantovaleafirmarqueli possvelagrup-Iasemtiposmorfolgicos.

    , A rigor,sabemosde antemoser impossvelestabelecerum gruP9restritode tiposquefaamjustiaplenas peculiaridadesdosmilha-resdeidiomase dialetosfaladosna superfcieda terra.Comotdasasinstituieshumanas,a fala tovariadae cambiantequenosepres-ta a r6tulosexatos.At operandocomumaescalade tipos minucio-samentesubdivididos,poderamosficar certosdequemuitaslnguasexi-giriamum'desbastepreliminarpara ali se encaixaremsatisfatriamen-te. Para inclu-Iasumaa uma,serianecessrioexagerara importnciadsseou daqueletraocaractersticoou fazerabstrao,no momento,decertascontradiesdo seumecanismo.

    Por acasoa dificuldadeda classificaoprovaa inutilidadeda em-prsa7Noo creio.Seriasumamentecmodolivrarmo-nosde topesa-do encargo,partindoda consideraode quecadalnguatemumahis-tria prpria,e portanto,umaestruturaprpria.Mas comissos seexprimemeiaverdade.Assimcomoinstituiessociais,econmicase re-ligiosas'semelhantesse tmdesenvolvidonas diversaspartesdo globocomoresultadodeantecedenteshistricosdiferentes,tambmas lnguas,percorrendoestradasdiferentes,tmtendidoa convergirparaformasse-melhantes.Acrescequeo estudohistricoda linguagemnos provou,fora de qualquerdvida,queumalngua mudano s gradual,masconsistentemente,quesemoveinconscientementedeumtipo paraoutro,e quese observamlinhasdiretrizesanlogasnas maisremotaspartesdo globo,Da se segueteremchegadoindependentee freqentementea morfologiasdesem.elhanaamplalnguassemqualquerrelaodepa-rentescoentresi.

    Admitindo~ existnciade tipos lingsticoscomparveis,no es-tamosnegando,pois, a individualidadedos processoshistricos;esta-mosafirmandoque,por trs da fachadada histria,h derivaspo-derosasqueimpelema linguagem,comoa outrosprodutossociais,nosentidode certospadresponderados,ou, emoutrostrmos,de certostipos. Comolingistas,contentemo-nosem compreenderque existemtaistipose quedeterminadosprocessosna vidada linguagemtendemamodificlos.A razopor quese constituemtiposs.emelhantes,bemco-moa naturezadasfrasqueoscriame dissolvem,soproblemasmaisfceisdearmarqueresolver.Talvezos psiclogosdo futurosejamum

    dia capazesde dar-nosas razesfinais,queexplicama fOl'~aodootipos lingsticas.

    Quandoseenfrentaa tarefac1assificatria,verifica-selogoqueno!:le temestradafcil depalmilhar.J tmsidopropostasvriasclassHi-,caese tdascontmelementosdevalor.Nen1lUma,porm,seapresentacomosatisfatria.Parecemno tanto abarcaras lnguasconhecidas'quantopous-Iasemassentosestreitose dehirtoespaldar.

    .Asdificuldadestmsidodevriasespcies.

    Inicialmentee primordialmente,temsido difcil adotarum pontode partida.Qualh desera basedaclassifcag01

    Cadalnguasenosapresenta.comtantasfactasquea nossaper-plexidade explicvel.E umspontodepartidaseriabas.ta?te?

    Em segundolugar, arriscadogeneralizaras conclusesquese ti-ram de um pequenonmerode lnguasselecionadas.Tomarcomoasomatotaldematerialdequedispomos,o latim,o rabe,o turco,o chi-ns,ou acrescentar-lhestalvez,commaisdetidareflexo,o esquimou

  • 126 A LINGUAGEM ,.~;os TIPOS DE ESTRUTURA LINGSTICA 127

    a mais,no se excluemun~aos outros.Uma lngua pode ser ao mesmo-tempo aglutinativa e ~lexional,ou at polissintticae isolante, como-daqui a poucoveremos.

    H ainda uma quarta razo para explicar por que tm provado.infrutferas as tentativasde classificaodas lnguas. o preconcei-.to evolucionistaque se insinuou nas cinciassociais pelos meadosdosculopassadoe que s agora comeaa perder o seu imprio tirnico.em nosso esprito.

    .De envoltacomssepreconceitocientfico e antecipando-oem gran-de parte, havia outro, mais humanamentecompreensveL

    A vasta maioria dos teoristas lingsticos falava por sua vez ln-guasde certotipo, cujas variedadesmaisplenamentedesenvolvidaseramo latim e o grego,que lestinham aprendidona meninice.No lhes fotdifcil persuadirem-seque tais lnguas, que lhes eram familiares, re-presentavamo desenvolvimento"mais alto", ao qual a linguagempodechegar, e que todos os outros tipos eram simples degrausna marchapara sse"mimado"tipo flexionaL Tudo o que se conformavacom osmoldesdo snscrito,do latim, do gregoe do alemoera aceitocomon-dice de qualquercoisade "superior"; tudo que dlesdivergia,era olha-do de m vontadecomoqualquercoisade falho, ou, quandomuito, comouma aberraocuriosa2

    Ora, qualquer classificaoque parte de valores preconcebidosouque buscasatisfaesde ordem sentimentallavra a sua prpria conde-naocomoanticientfica.Um lingista que nos fala do tipo latino demorfologia comodo mais alto grau de desenvolvimentolingstico, didia de um zologoque vissetodo o mundoorgnicoconvergirpara aproduodo cavalode corrida ou da vaca Jersey. Uma lngua em suas'formas fundamentais a expressosimblicade instituieshumanas.

    2. Um clebreautor Il:mericano,tratandoda cultura e da linguagem,cxpendcu a afirmo.oque,por mais rcspeitveisque possamser os homensde linguanglutinativll,em um vordadeirocrime de.:mruma mulher flexional escolherummaridoaglutinativo.Era pr emperigo formidveisvaloresespirituais.Os oampecltdns linguM "flexionnis" chegamat a exaltarns pr6prias irrncionalidadesdo la-tim e do grego,salvo quandolhes convmgabllr o carterprofundamente"lgico"das dullS lngun,sclJlsicn.s.Entretanto,n sobriedade16gica.do turco e do chinS'deixaos frios. .As gloriosllSinacionalidadese complexidadesformais de muitasln-gUll.S "solvageIl!l"llM {l3ra 01118Wauportveis.Os sentimentaiss.osempredifceisde eontentnr.

    Tais formas amoldam-sede cemmaneiras,sematenoao progressoouretrocessomaterial do povo que delas se servec que em grande parteno tem conscinciado que elas so. Se, por conseguinte,quisermo~compreendera linguagemna sua verdadeira intimidade,cumprir de:;;abusarmo-nosde "valores"preferidoss,e acostumarmo-nosa olhar para

    o ingls e para o hotentotecom O mesmodesprendimentoglido mascheiode intersse;

    Voltemos primeira dificuldadea que aludimos.Queponto de par-tida adotaremospara a nossaclassificao1

    Depois de tudo que dissemossbre forma gramaticalno capituloprecedente, claro que no podemosfazer a distino entre lfnguasmdicas e amrficas,que costumavaatrair alguns tratadistasdo pas-sado. Tda lngua tem capacidadee necessidadede expressaras rela

    es sintticas fundamentais,ainda quando no se encontra um sijafixo entre os seus elementoslxicos.

    Conclumos,pois, que tda lngua tem uma forma.Fora da expressoda relao pura, uma lngua pode, evidente-

    mente,ser "amrfica" - isto , ser am6rfica no sentido mecnicoeum tanto superficial de no se sobrecarregarde elementosno-radicais.

    s vzes,tem-setentadoformular a distinona base da tlformainterna". O chins,por exemplo,no dispede elementosformaispuros

    e simples,ou seja uma "forma externa",masevidenciaum sentidoagu-do das relaes,da diferenade sujeito e objeto,de atributo e prediaa-do, etc.Em outrostrmos,temuma "forma interna" no mesmosentidoem quea possuio latim, emboraseja externamentesemrorma,ao passoque o latim externamente"formal