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Informativo Especial 58º Conad Santa Maria (RS) Julho de 2013 A 58ª edição do Conselho do ANDES-SN (Conad), que se inicia nesta quinta-feira (18), tem um grande desafio: discur e analisar o Plano de Lutas do Sindicato Nacional, aprovado no 32º Congresso do ANDES-SN, a parr de um novo contexto: as crescentes manifestações que tomaram conta do país nos meses de junho e julho, e demostram o alto grau de insasfação do povo brasileiro com as polícas do governo. Para o secretário-geral do ANDES- SN, Márcio de Oliveira, o 58º Conad proporcionará a discussão da atual conjuntura e uma avaliação sobre a forma que o Sindicato Nacional se organizará para trabalhar no próximo período, a parr dos úlmos acontecimentos. “O momento que vivemos é muito importante para a nossa avaliação da conjuntura e como é que nós atualizaremos o nosso plano de lutas para enfrentar o segundo semestre que temos pela Bem-vindos ao 58º Conad Coração do Rio Grande do Sul, Santa Maria abre as portas e recebe docentes de todo o país para o Conselho do ANDES-SN frente. Há um dado novo nesse país, há uma mobilização nacional”, afirma. O Conad também possui a função de Conselho Fiscal do sindicato, momento em que são examinados e aprovados relatórios financeiros, prestações de contas e previsões orçamentárias. O cronograma prévio foi divulgado e está disponível no Caderno de Textos. Fique atento às possíveis alterações, que serão discudas e definidas na plenária de abertura, realizada nesta manhã, das 10h às 12h. Na ocasião, também será sugerida pela comissão de organização uma programação cultural, que prevê shows, exposições e jantar de confraternização. Para a presidente do ANDES- SN, Marinalva Oliveira, atualizar o plano de lutas dará mais força às Seções Sindicais na atuação em defesa da educação pública. “O que temos hoje na conjuntura, já para o próximo semestre, é a aprovação do PNE, em que toda a educação será privatizada, através de parcerias público-privadas. Ligado a isso, está a questão das condições de trabalho dos professores, porque quando você começa a privazar a educação, começa a precarizar as condições de trabalho. Essa é uma pauta que já vem de alguns anos, que foi pauta da nossa greve no ano passado”, afirma. Docentes recebem as boas vindas já na rodoviária da cidade

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Page 1: Santa Maria (RS) Julho de 2013 Bem-vindos ao 58º …portal.andes.org.br/imprensa/noticias/imp-ult-664907896.pdfBem-vindos ao 58º Conad Coração do Rio Grande do Sul, Santa Maria

Informativo Especial58º Conad

Santa Maria (RS) Julho de 2013

A 58ª edição do Conselho do ANDES-SN (Conad), que se inicia nesta quinta-feira (18), tem um grande desafio:

discutir e analisar o Plano de Lutas do Sindicato Nacional, aprovado no 32º Congresso do ANDES-SN, a partir de um novo contexto: as crescentes manifestações que tomaram conta do país nos meses de junho e julho, e demostram o alto grau de insatisfação do povo brasileiro com as políticas do governo.

Para o secretário-geral do ANDES-SN, Márcio de Oliveira, o 58º Conad proporcionará a discussão da atual conjuntura e uma avaliação sobre a forma que o Sindicato Nacional se organizará para trabalhar no próximo período, a partir dos últimos acontecimentos. “O momento que vivemos é muito importante para a nossa avaliação da conjuntura e como é que nós atualizaremos o nosso plano de lutas para enfrentar o segundo semestre que temos pela

Bem-vindos ao 58º Conad

Coração do Rio Grande do Sul, Santa Maria abre as portas e recebe docentes de todo o país para o Conselho do ANDES-SN

frente. Há um dado novo nesse país, há uma mobilização nacional”, afirma. O Conad também possui a função de Conselho Fiscal do sindicato, momento em que são examinados e aprovados relatórios financeiros, prestações de contas e previsões orçamentárias.

O cronograma prévio foi divulgado e está disponível no Caderno de Textos. Fique atento às possíveis alterações, que serão discutidas e definidas na plenária de abertura, realizada nesta manhã, das 10h às 12h. Na ocasião, também será sugerida pela comissão de organização uma programação cultural, que prevê shows, exposições e jantar de confraternização.

Para a presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira, atualizar o plano de lutas dará mais força às Seções Sindicais na atuação em defesa da educação pública. “O que temos hoje na conjuntura, já para o próximo semestre, é a aprovação do PNE, em que toda a educação será privatizada, através de parcerias público-privadas. Ligado a isso, está a questão das condições de trabalho dos professores, porque quando você começa a privatizar a educação, começa a precarizar as condições de trabalho. Essa é uma pauta que já vem de alguns anos, que foi pauta da nossa greve no ano passado”, afirma.

Docentes recebem as boas vindas já na rodoviária da cidade

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EXPEDIENTEO Informandes é uma publicação do ANDES-SN // site: www.andes.org.br // e-mail: [email protected] // Diretor responsável: Luiz Henrique Schuch Redação: Nayane Taniguchi e Renata Maffezoli // Revisão: Nayane Taniguchi MTb 8228 // Edição, diagramação e fotos: Renata Maffezoli MTb 37322

No sopé do morro nasce uma cidade que guarda uma his-tória, como tantas outras, de alegrias, de tristezas. Mas,

sobretudo, Santa Maria é um lugar no qual a luta e resistência sempre estiverem presentes. Se hoje a cidade é identificada até mesmo pela propa-ganda turística, como de religiosidade, em que a Romaria da Medianeira, realizada anualmente, se destaca. Se temos aqui um contingente expres-sivo de militares, também é fato que temos uma universidade federal - a UFSM - que com suas centenas de milhares de estudantes, professores e servidores técnico-administrativos, deixa a sua marca, junto com outras instituições de ensino, no avanço tecnológico e intelectual da região e do país, também é vital destacar que Santa Maria tem em seu mapa genético o DNA das lutas, sejam elas dos trabalhadores ou, nas décadas mais recentes, dos estudantes.

A cidade, que durante o início do século XX até meados da década de 60, foi um importante entroncamento ferroviário, interligando o Rio Grande do Sul ao resto do Brasil, não chegou a ter uma Revolução Bolchevique. Contudo, sob a batuta dos “ferri-nhos”, entre julho e outubro de 1917,

ocorreram na cidade várias greves dos ferroviários. Em um destes mo-mentos, em 20 de outubro, durante um comício realizado pelos grevistas na Avenida Rio Branco, entre Silva Jardim e Vale Machado, um pelotão do Exército reprimiu os manifestantes à bala. Três grevistas foram mortos e outros 30 ficaram feridos. A greve foi encerrada em 1º de novembro com as reivindicações atendidas.

Os gritos, as palavras de ordem, os movimentos paredistas. Todos estes atos e fatos reverberam na história da Boca do Monte. A força do movi-mento ferroviário era extremamente

grande e, em vários momentos, greves aconteceram e deixaram marcas de impacto, como a de 1936, e que já foi inclusive fonte de estudo em trabalhos acadêmicos na UFSM.

Com o passar das décadas, a trans-formação do modelo de transportes do país que passou a priorizar as estradas, abandonando as ferrovias, entregues ao projeto neoliberal, enfra-queceu os operários do setor de trens até sua quase extinção. No entanto, a gênese da luta e da resistência, que ficou incrustada na história de Santa Maria, parece ter continuado, sendo repassada de geração em geração,

Santa Maria: uma história de luta e resistência

“Meu monumento estradas e trilhosMinha saudade este tempo que vaiEste cerritoEstes montes me guardamE ainda guardam se um dia eu voltar pra ti.Santa Maria me guarde estes montesQue em suas fontes há som de oraçãoSanta Maria da boca do montePra ti meu canto, acalanto e canção...”(Trecho de “Santa Maria”de Beto Pires)

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como se fosse uma espécie de fenô-meno osmótico.

Lutar, um processo pedagógico Mesmo que hoje a luta e a resistên-

cia tenham outros contornos em Santa Maria, o processo não se perdeu. Ele apenas se transferiu, em parte, para a universidade. Foi esta jovem senhora de mais de 50 anos que concentrou, ao longo de décadas, especialmente durante a ditadura civil-militar brasi-leira, os focos de resistência e de luta contra o autoritarismo.

Todos aqueles que, durante algum tempo, adentraram o arco de entrada do campus, na Avenida Roraima, não têm como negar que lutar é um ato

extremamente educativo. Foram nas classes da UFSM e nas casas de estu-dantes (CEUs) que se discutiram e se organizaram atos memoráveis contra o aumento da passagem de ônibus na década de 80. Foi graças ao impulso da militância estudantil e das forças progressistas que a universidade de Santa Maria conseguiu ser a primeira instituição do país a eleger um reitor pelo voto direto, em 1985, logo em seguida ao fim do regime militar.

A ideia de que lutar é preciso per-manece nos dias atuais. Em um 2013 marcado pela tragédia da boate Kiss, criou-se o estigma de uma cidade “estressada”, enlutada, corroída pela dor. Mas se é verdade que o incêndio, de causas criminosas, trouxe forte

Santa Maria: uma história de luta e resistência

impacto nacional e mundial, também neste caso, sobreveio a luta como uma forma de, se não superar, ao menos minimizar a dor. Diante de um poder político apático e, em alguns casos, imoral, ressurge a Santa Maria de luta. Em um processo de interação inédito, entidades estudantis, sindicatos, mo-vimento social e familiares de vítimas e de sobreviventes da tragédia, se uniram e foram para a rua.

Tomados de indignação a partir de denúncias de uma armação em uma comissão de vereadores que investigava as causas do incêndio um grupo foi até a sede do Legislativo e, mês passado ocupou o local por quase seis dias. O resultado foi a demissão do procurador jurídico da Câmara, que ocupava também a Presidência do partido do prefeito da cidade. A ocupação coincidiu com os momentos de efervescência em todo o Brasil, em que a maioria das pessoas expressou o cansaço, a decepção com a velha forma de fazer política. A marcha com 30 mil pessoas em Santa Maria, mais a ocupação na Câmara de Vereado-res sob a lógica da busca por justiça, ambas em junho, mostraram que, por aqui, as diversas formas de luta e de resistência ainda pulsam.

Texto: Fritz Nunes/Sedufsm

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Foto: Fritz Nunes/Sedufsm

Em 22 de junho, marcha reuniu mais de 30 mil manifestantes nas ruas de Santa Maria

Indignada com o descaso da CPI que investigava o incêndio na Boate Kiss, população ocupou a Câmara de Vereadores

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Santa Maria sedia pela segunda vez um evento nacional do ANDES-SN. Em 1996, a cidade recebeu o XV Congresso do

Sindicato Nacional. Para quem tiver interesse em conhecer um pouco mais a cidade, seus costumes e tradições, a comissão organizadora sugere uma vasta programação.

A luta dos movimentos sociais e sindicais é destaque no repertório do show “Praça de Lutas, praça de cantos”, previsto na praça Saldanha Marinho, próxima ao local do Conad, com canções de artistas como Clara Nunes, Elis Regina, Dante Ramon Ledesma, Mercedes Sossa, Violeta Parra e Joan Baez. Aberto ao público, a apresentação é também uma forma de integrar os moradores de Santa Maria e os participantes do Conselho do ANDES-SN.

A mostra “Mini Cidade”, que esta-rá em exposição no hotel durante o Conad, é composta por maquetes de prédios históricos de Santa Maria na década de 60. Ao todo, são 14 réplicas produzidas pelo artista José Fuma-galli, natural da cidade. “Quando as pessoas vêem as maquetes, elas têm a possibilidade de retornar aos anos 60. Procuro retratar o passado nas cores e nos detalhes”, conta o artista.

Há 11 anos, Fumagalli desenvolve

os trabalhos como hobby. “Comecei a fazer as maquetes para ocupar o tem-po. No fim, o trabalho foi evoluindo e começaram a surgir oportunidades para exposições. Esse resultado é gratificante”, afirma. Para retratar os prédios da maneira mais fiel possível, o artista utiliza a escala 1/25. Os ma-teriais usados para fazer as maquetes são madeira, papel próprio para ma-quetes, papelão, plástico, massa e até sucata, quando necessário.

Entre os prédios históricos de San-ta Maria retratados na exposição, Fumagalli destaca as maquetes da Vila Belga; do centro ferroviário, da catedral de Santa Maria; do prédio da

58º Conad também é culturaA cultura indígena, a história da cidade e a luta dos movimentos sociais e sindicais estão presentes nas atividades propostas

antiga Escola Industrial Hugo Taylor, referência em ensino especializado e profissionalizante para os filhos dos ferroviários, que hoje abriga um supermercado. Para quem tiver curio-sidade em conhecer melhor o trabalho do artista, Fumagalli possui um blog: http://santamarianapalmadamao.blogspot.com.br

Cultura indígenaPor meio de um trabalho inédito

idealizado pela Sedufsm, os partici-pantes do 58º Conad poderão saber um pouco mais sobre a vida dos povos indígenas kaigang, que mo-ram em Santa Maria, na aldeia Três Soitas – Kentyjugtegtu. O livro em quadrinhos As aventuras do indiozinho Bretã traz histórias verídicas, contadas pelas próprias crianças indígenas da aldeia, que não foram alfabetizadas em português. A publicação narra experiências de um curumim que, após se aventurar por Santa Maria, vive situações de injustiças sociais e, ao mesmo tempo, ensina lições de respeito e natureza.

O livro, inédito e bilíngue - em por-tuguês e kaigang - é iniciativa da Seção Sindical e continuidade de atividades já realizadas com os indígenas kaigang desde 2012. Há 11 anos, Fumagalli tem como hobby reproduzir prédios históricos de Santa Maria

O prédio da Ferroviária, uma das obras expostas, ainda

está em funcionamento e é aberto à visitação