saiba+ - novembro de 2013

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Desde 2006 15 de novembro de 2013 Faculdade de Jornalismo - PUC Campinas Mídia Ninja discute manifestações no Encontro de Editores da PUC-Campinas Foto: Armando Sagula Artista campineira produz obras inovadoras Pág 08 Da esquerda pra direita: André Camarão (TVB), Glauco Cortez (PUC-Campinas), Fábio Gallacci (Correio Popular), Felipe Garcia, (Mídia Ninja) e Anderson Terso (PUC-Campinas) Repórter do Saiba+ viaja à Amazônia com o Exército Brasileiro e narra como é a vida na floresta A “queridinha” da Macaca , crônica de Fabiana Rosa OITO quilos de lixo eletrônico serão produzidos por brasileiros até 2015 Pág. 7 Aplicativo registra número de crimes em Campinas O aplicativo “Onde Fui Roubado”, criado por estudantes da Universidade Federal da Bahia, auxília no registro de crimes pelo Brasil. O distrito de Barão Geraldo registra 93 das 280 denúncias feitas em Campinas. O rio está vivo ONG Elo Ambiental preserva e bus- ca melhorar a captação e água da Bacia do Capivari; Paulo Manzani, biólogo pesquisador da Unicamp acredita que a recuperação do rio é possível Pág. 3 Pág. 5 Pág. 2 Pág. 6

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Page 1: Saiba+ - Novembro de 2013

Desde 2006 15 de novembro de 2013 Faculdade de Jornalismo - PUC Campinas

Mídia Ninja discute manifestações noEncontro de Editores da PUC-Campinas

Foto: Armando Sagula

Artista campineiraproduz obrasinovadorasPág 08

Da esquerda pra direita: André Camarão (TVB), Glauco Cortez (PUC-Campinas), Fábio Gallacci (Correio Popular), Felipe Garcia, (Mídia Ninja) e Anderson Terso (PUC-Campinas)

Repórter do Saiba+ viaja à Amazônia com o Exército Brasileiro e narra como é a vida na floresta

A “queridinha” da Macaca,

crônica de Fabiana Rosa

OITO quilos de lixo eletrônico serão produzidos por brasileiros até 2015 Pág. 7

Aplicativo registra número de crimes em CampinasO aplicativo “Onde Fui Roubado”, criado por estudantes da Universidade Federal da Bahia, auxília no registro de crimes pelo Brasil. O distrito de Barão Geraldo registra 93 das 280 denúncias feitas em Campinas.

O rio está vivoONG Elo Ambiental preserva e bus-ca melhorar a captação e água da Bacia do Capivari; Paulo Manzani, biólogo pesquisador da Unicamp acredita que a recuperação do rio é possível Pág. 3 Pág. 5Pág. 2

Pág. 6

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ARTIGO

A vida dele vale tanto quanto a sua?Renata VilaREstudantE dE Jornalismo

Diante da nova vio-lência que opõe os defensores de

testes científicos com animais àqueles que querem proteger os bichos a todo custo, o Bra-sil sofre certa imparcialidade. Diante das mídias sociais, em que grupos de ativistas reivin-dicam e arrastam consigo gru-pos de pessoas, as mesmas, subalternas a questão, fica di-fícil saber quem defende mes-mo a causa.

Grupos radicais que afir-mam defender os direitos dos animais são comuns na Euro-pa e nos Estados Unidos há pelo menos duas décadas. O britânico Frente pela Liberta-ção dos Animais (ALF) é um dos mais famosos. Tal grupo, que possa ser uma das gran-des inspirações para o grupo de ativistas que invadiu o Ins-tituto Royal, em São Paulo.

O Instituto que é consi-derado um dos cinco centros de referência brasileiros para pesquisa de medicamentos em animais, mantinha em

cárcere cerca de 180 cães, da raça beagle, que eram usados em testes de remédios e pro-dutos farmacêuticos. Os cães, que segundos os ativistas, foram encontrados após uma denúncia anônima, estavam sofrendo maus-tratos com métodos cruéis e que os cor-pos estariam sendo ocultados em um porão. Porém, o Insti-tuto nega essa versão.

Insistindo na hipótese em que os maiores testes feitos em animais estão por trás de avanços médicos que salvam vidas humanas e proporcio-nam bem-estar, eles frisam que sem eles, não haveria nós.

Mas, dizer que as pesqui-sas feitas em animais estão dentro das leis e protoco-los científicos estabelecidos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, sacrifica-nos a uma incógnita: investigação contra o instituto em 2012 e denúncia anônima em 2013? Há de se pensar.

RÁPIDASJoaquim Egídio é palco de exposições fotográficas

O distrito de Joaquim Egídio recebe até dia 9 de no-vembro exposições em restaurantes locais e ativi-dades ao ar livre no 7º Festival Hercule Florence de Fotografia que traz o tema “Impressões do Olhar”. Uma das exposições, realizada no Bar do Marce-lino, reúne imagens dos fotógrafos Nelson China-lia e Kamá Ribeiro. A mostra “Joaquim Rural - 25 anos do Bar do Marcelino”exibedetalhes peculiares do distrito registrados por ambos profissionais. No Restaurante Estação Marupiara, Lucas Amaral apresentaa exposição “Ilhados”, com imagens cap-turadas em suas viagens às ilhas North Ronaldsay (Escócia), Little Island (Noruega) e Islândia.

MIS apresenta filme da banda Genesis in Concert

Dirigido por Tony Stratton Smith, o filme “Ge-nesis: In Concert” será exibido no dia 11 de novembro, às 19h, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em Campinas. A obra é um raro registro ao vivo do Genesis, grupo expoente do rock progressivo, ao lado de King Crimson, Yes e Emerson e Lake & Palmer. O filme exibe a banda em sua fase áurea, com Peter Gabriel no vocal e toda a teatralização e fantasias te-máticas típicas dos músicos. A entrada é gratuita.

Grupo português realiza show em CampinasA banda portuguesa Fado ao Centro se apre-senta no dia 6 de novembro, às 21h, no Alma-naque Café, em Campinas. O grupo faz parte do Centro Cultural Casa de Fados, localizado em Coimbra, onde os músicos João Farinha, Luís Barroso e João Martins interpretam na voz, na guitarra e na viola clássicos do ima-ginário musical de tradição portuguesa, além de melodias autorais. Os ingressos estão sen-do vendidos no Almanaque e custam R$ 80 antecipado e R$ 90no dia da apresentação.

Expediente

Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério E. R. Bazi; Diretora-Adjunta: Professora Maura Padula; Diretor da Faculda-de: Professor Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2 mil.

Professor responsável: Prof. Luiz R. Saviani Rey (Mtb 13.254)

Editor: Guilherme BonetoDiagramador: Renan Lopes

CRÔNICApor Fabiana Rosa

Nos 113 anos de história da Ponte Preta, nunca foi disputada pelo clube uma competição oficial internacional. Porém, este ano isso mudou, com a participação inédita na Copa Sul-Americana. Talvez, o momento mais marcante na competição até o momento, não só para os jogadores, mas também para a torcida, foi a disputa de volta das oitavas de final, contra o Deportivo Pasto. Isso porque o confronto aconteceu fora do Brasil, em San Juan de Pasto, na Colômbia. A primeira via-gem internacional da Macaca.

Uma viagem marcada, por uma série de percalços. O avião que não pôde descer em San Juan de Pasto por conta do mal tempo, a impossibilidade de reconhecer o campo no qual seria disputa-da a partida, fora a altitude de 2.500 metros acima do nível do mar, foram alguns dos obstáculos impostos à equipe alvinegra. Durante o jogo, o time não conseguiu esconder a exaustão da viagem conturbada, que refletiu em sua atuação dentro de campo, e o Deportivo Pasto acabou vencendo a partida por 1 a 0. Porém, o resultado não foi suficiente para acabar com o sonho da equipe alvinegra de continuar na disputa pelo título. Isso porque a Ponte Preta saiu na frente na partida de ida, com 2 a 0 sobre o time colombiano.

Passado para as quartas de final, o novo desafio da Ponte Preta tem um nome: Véllez Sarsfield. O time argentino, já foi uma vez campeão da Libertadores e carrega em sua história muita experi-ência e tradição. Tanto, que não teve como deixar de notar o receio ao qual a Ponte Preta entrou em campo na partida de ida, na última quinta-feira, 31/10. Cauteloso o tempo todo, o time não se arris-cou, mesmo jogando em casa com o apoio de mais de dez mil torcedores. O Véllez, por sua vez, foi quem deteve o ritmo do jogo, mas não conseguiu furar a defesa alvinegra. Com isso, o resultado fi-cou no 0 a 0 e, apesar de a Macaca não ter vencido em casa, o que daria tranquilidade para a partida de volta, o fato de não ter tomado gol é favorável. Agora, a Ponte Preta tem pela frente a partida de volta, que será realizada em Buenos Aires no dia 7 de novembro e precisa de qualquer empate com gol para se classificar. Caso a partida fique no 0 a 0 novamente, a disputa será decidida nos pênaltis.

É evidente que a Sul-Americana é a mais nova “queridinha” da Ponte Preta. A disputa é inédita, as viagens internacionais são inéditas e o fato de a Macaca estar avançando rumo ao título só ali-menta a esperança de que a Ponte Preta pode ir longe. Porém, não podemos esquecer que a equipe alvinegra compete também pelo Campeonato Brasileiro, e que sua atual campanha não é boa. Com a 17ª colocação, a Macaca segue na degola e precisa se manter focada nas próximas rodadas, que são decisivas na luta contra o rebaixamento.

Desta forma, é fundamental que a Ponte Preta trace suas prioridades. Na última partida pelo Campeonato Brasileiro, a Macaca venceu de virada o Vasco, por 2 a 1. A vitória, aliada aos resulta-dos dos outros times em zona de perigo, mudou toda a tabela e colocou a equipe alvinegra, que até então estava na vice-lanterna, duas posições à frente. Um resultado que dá ao time, chances reais de se livrar do rebaixamento. Portanto, enquanto a Sul-Americana estiver impulsionando o time a buscar melhores resultados, inclusive no Brasileirão, a competição se torna um elemento favorável. Porém, esta não pode assumir importância maior do que o Campeonato Brasileiro, já que a Macaca não está com a bola toda e pode, sim, cair para a série B.

Foto

: Gui

lher

me

Bor

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SESC apresenta moda e regiolisidade em registros corporais

O SESC Campinas exibe de 7 a 17 de novem-bro, a performance “Moda e Regiolisidade em Registros Corporais”. O evento consiste em registros de práticas performativas dos artis-tas da Companhia Excessos, Tales Frey e Pau-lo Aureliano da Mata, que se articulam com a moda e a religiosidade.A exposição será integrada a uma apresentação ao vivo e um workshop. A entrada é franca.

Página 2 15 de setembro de 2013 Editorial

Sul-Americana: a “queridinha” da Macaca

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15 de setembro de 2013 Página 3

Carolina Tornich

“Moro aqui há vinte anos e nunca pesquei nada nesse rio, nem chego perto”, afir-ma Helena Tannert, que mora às margens do Capivari, no Distrito Industrial de Vinhe-do. O marido de Helena, Luís Claudio Tannert, sempre mo-rou nesse sítio e conta que sua família costumava pescar e comer os peixes do rio. Em 1974, até 1980, conta ele, ain-da nadava, brincava com os irmãos. Colocava barreiras no rio por onde a água passava, para formar pequenas pisci-nas. Chegava até a construir “barquinhos”.

Hoje, a bacia do Capiva-ri vive o drama da poluição. A Organização da Socieda-de Civil de Interesse Público (Osisp) Elo Ambiental se sen-sibilizou com o fato quando, em visita a uma escola, ouviu das crianças que o nome do Capivari era “rio fedido”, o que mostrou como a relação delas com o rio hoje é dife-rente de quando Tannert era criança. “Isso denota uma falta de cultura ambiental, de conhecimento e uma falta de respeito ao cidadão e ao rio”, afirma Vittorio Zottino, presi-dente da Elo Ambiental.

A preocupação se transfor-mou em um projeto que pre-tende ajudar na recuperação da Bacia do Capivari, na melho-ria da captação e da qualidade da água para consumo. “Nós temos um problema muito sério aqui na região. Para me-lhorar a captação, precisamos recuperar os mananciais e o seu entorno. E isso vai de en-contro aos interesses da espe-culação imobiliária”, explica o presidente da Os-cip, que ainda ressal-va que o Código Flo-restal é, muitas vezes, condizente com essa especulação. O pro-jeto tem três etapas. A primeira é fazer um diagnóstico profundo da situação.

Avaliações feitas ao longo de 2012 pela CETESB (Com-panhia de Tecnologia de Sa-neamento Ambiental) indicam que quatro de sete pontos ana-lisados ao longo do rio tiveram a qualidade da água classifi-cada como ruim ou péssima. Uma avaliação solicitada pela Oscip Elo Ambiental ao La-boratório de Análises Bioágua usou duas amostras: uma di-reto da torneira, água pronta

Foto

: Gui

lher

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Além de preservar, o projeto da Oscip visa melhorar a captação da água para o consumo

para uso público em Louveira, e outra proveniente do Córre-go Sapezal.

Na primeira amostra, a água já tratada apresentou co-loração marrom e nível de tur-bidez (falta de transparência da água) inadequados para o uso humano. “A análise rea-lizada indica que a água está com uma quantidade de man-ganês, um metal pesado, ele-vada. Se ingerido em excesso, o manganês pode gerar do-enças como o mal de Parkin-son”, explica Denis Costa, da Elo Ambiental .

Na amostra de água tratada de Louveira, a concentração de manganês estava cinco ve-zes e meia maior (0,56ml/L) do que o máximo permitido (0,1ml/L), sem falar em óleos e outros ingredientes.

A amostra de água do Córrego Sapezal apresentou também problemas sérios. Denis explica que a avaliação mostrou que a água está tão poluída, a ponto de ter uma demanda de oxigênio maior para a remoção (oxidação) de compostos, sobretudo orgâni-cos. A análise indicou uma de-manda de 140 ml de oxigênio por litro, 28 vezes maior que o que se espera.

A segunda etapa do pro-jeto são as ações que visam mitigar os problemas diagnos-ticados. A ideia é colocar em prática o que Zottino chama de “ação Lego”. A ação con-siste em trabalhar no rio por regiões. Avaliar, por exem-plo: se ele nasce em Jundiaí, como ele chega a Louveira? De Louveira, como chega em Vinhedo? E assim por diante. Atualmente, o município pos-terior a Louveira no curso do rio Capivari, Vinhedo, faz um esforço muito grande para tra-tar a água que capta, dadas as deficiências no tratamento do esgoto da cidade que o antece-de. Em Vinhedo, a água usada para consumo não apresenta problemas, senão por vezes o excesso de cloro, usado com fim bactericida.

Outro problema ambien-tal, apesar de todo o esforço da cidade em tratar o esgoto, são os condomínios que ainda não têm rede. “Há muitos que ainda utilizam o sistema de fossa”, afirma Cilene Alves, técnica da ETE Capivari, no Distrito Industrial de Vinhedo.

A terceira etapa propos-ta pela Elo Ambiental é a educação da sociedade civil. “Talvez as ações educacionais sejam as mais importantes, junto às escolas, à população ribeirinha e geral, para que a população assuma sua respon-sabilidade em relação à pre-servação dos recursos natu-rais”, afirma Vittorio Zottino. “A gente começa a notar que

ONG promove preservação do Rio Capivari Cidades

“O rio ainda está vivo, há salvação”

Paulo Manzani

não há uma ação integrada. A Elo tem refletido bastante sobre isso, que é cultivar a ve-getação típica da região, e se preocupar com a população de aves, peixes e outros animais, pois tudo é parte de um siste-ma”, completa.

Paulo Manzani, biológo e pesquisador da Unicamp, conta que, quando foi a tra-balho de campo em 2011, na região do rio Capivari, próxi-mo a Monte Mor, encontrou trechos de mata muito curtos (com uma espessura média de 10 metros a partir da margem do rio), escassa em muitas áreas, e águas de coloração avermelhada. “Os peixes bus-cavam ar fora da água, e conti-nuavam nadando”, diz.

O biólogo lançou no ano passado um livro junto à Te-traPak e outros pesquisadores. “Monte Mor: a vida às mar-gens do Capivari” faz um le-vantamento detalhado da fau-na encontrada na mata ciliar.

O livro traz fotos de 1913, da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, quando a pesca era prá-tica frequente. Conta também que Monte Mor era o lugar de confecção de canoas para as monções dos sertanistas en-tre os séculos XVIII e XIX. A mata, no início do século, era bastante opulenta.

Hoje, felizmente, ainda há biodiversidade nos trechos estudados pelos pesquisado-res. Ainda se vê jequitibás e jatobás, árvores típicas desta

mata, a presença de jaguati-ricas e suçuaranas, raposas e outros mamíferos menores, uma infinidade de espécies de aves e anfíbios, e até um sapo que a literatura, até então, só havia localizado na Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, o Leptoda-cylusthomei. Para Paulo Man-zani, essa é uma indicação de que “o rio ainda está vivo, há salvação”.

Denis Costa explica que um rio muito poluído as bacté-rias se proliferam, que remo-vem o oxigênio da água do rio para processar toda a matéria orgânica que está na água, até o momento em que não hou-ver mais oxigênio.

Os peixes morrem, e assim também se tornam matéria or-gânica para ser decomposta. Os microrganismos aeróbi-cos, com a falta de oxigênio também morrem, restando somente os anaeróbicos, que produzem ácidos em ciclos, diminuindo o pH da água e piorando os odores. “Esse é um círculo vicioso. Em algu-mas situações, a poluição é ir-reversível”, explica ele. Para a Elo Ambiental, é esse tipo de informação que deve ser pas-sado às pessoas, para que pen-sem nas consequências para a bacia nos próximos trinta anos.

O maior problema para a Oscip ainda é a demora na execução do projeto. Enquan-to ele é discutido, mais e mais áreas são expropriadas para atender a outros interesses.

Pra ia próx ima a ponte do R io Cap ivar i ; mata es t re ia e c i l i a r do loca l es tá degradada

Foto: Paulo Manzani

Page 4: Saiba+ - Novembro de 2013

Página 4 15 de setembro de 2013

Representantes do Mídia Ninja, CBN e EPTV abordam revoltas de junho na PUC-CampinasInayara PoianiPaulo Cartaxo

No dia 29 de outu-bro, terça-feira, a PUC-Campi-

nas realizou o seu tradicio-nal Encontro de Editores de Jornalismo, que ocorreu tanto no período matutino, quanto noturno. O objetivo desse ano foi discutir e refle-tir com os alunos e docentes da Faculdade de Jornalismo a cobertura da imprensa de Campinas nas manifesta-ções que tomaram as ruas das principais cidades do Brasil em junho deste ano.

Previsto para iniciar às 19h20, o Encontro começou com cerca de 40 minutos de atraso e com muitas cadei-ras desocupadas na plateia. O interessante desse ano foi o contraste promovido devido às diferentes linhas editorais e forma de traba-lho dos nossos convidados. Carolina Rodrigues, âncora da Rádio CBN há três anos; Daniela Lemos, chefe de re-dação da EPTV, afiliada a Rede Globo, e, inclusive, “fi-lha da PUC”; Felipe Garcia e Gabriel Ruiz, integrantes do Coletivo Fora do Eixo e Mí-dia Ninja, formaram o qua-dro de editores presentes no período noturno do evento. A mediação do Encon-tro ficou por conta da docente do curso de Jornalismo, Cecília To-ledo.

O evento foi dividi-do em duas partes. Na primeira, cada um dos quatro convidados ti-veram 15 minutos para se apresentar e contar a sua vivência no período das manifestações, cada um de acordo com sua mídia. Claro que os 15 minutos não foram respeitados, apenas pelo último a falar, Garcia.

Carolina foi a primeira a tomar posse do microfone e trouxe para os alunos a pri-meira visão de como uma grande empresa midiática age em grandes manifesta-ções populares. Comparti-lhou suas experiências em ficar presa no prédio da rá-dio até mais 01h da manhã devido as bombas e ao tu-multo generalizado do lado de fora, bem como o cansa-

ço e as dificuldades de per-manecer seis horas seguidas no ar cobrindo as manifes-tações que ocorriam na ci-dade. “Foi confuso, a gente não sabia quem era quem, quem era polícia, quem era manifestante na causa, quem era vândalo. Não sabí-amos como se referir, eu não queria ser injusta, é compli-cado”, conta. E acrescenta: “Eu achava que a cobertura política em época de eleição fosse o mais difícil de se fa-zer no jornalismo, mas as manifestações superaram”.

Já Daniela ressaltou a necessidade de prezar os profissionais envolvidos em uma cobertura desse gênero. Por ser um veículo audiovi-sual a EPTV deixou as suas figuras mais conhecidas es-condidas para não ter riscos de acidentes, pois como a tv se trata de uma filial da Rede Globo de Telecomunicações e os manifestantes não sim-patizam com a empresa, essa foi a melhor decisão a ser tomada para garantir a se-gurança dos repórteres. 

Contou aos estudantes que o foco de preocupação era “narrar os fatos e preser-

var os nossos profissionais”. Fato este que foi questiona-do por Ruiz, que em diversos momentos deu “alfinetadas” nas jornalistas criticando a grande mídia convencional.

A apresentação de Ruiz começou explicando o sur-gimento da Mídia Ninja que foi possível a partir do circuito de coletivos espa-lhados pelo Brasil, o Fora do Eixo, que existe desde 2005. Enquanto a Mídia Ninja (sigla para Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) é formado em me-

ados de 2011, ga-nhando destaque em 2012 com a cobertura da situação das al-deias dos índios Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul e sendo reconhecida na-cionalmente e in-ternacionalmen-

te ao cobrir as manifestações de junho em todo o Brasil. 

Segundo Ruiz, os “Nin-jas” possibilitaram que a população discuta política e recebam informações por outro viés que não seja a mí-dia tradicional, pois a partir do momento que é posto ao vivo na internet gera a inte-ratividade entre os telespec-tadores nas redes sociais. Foi debatido também a veraci-dade da cobertura jornalísti-ca, já que com a internet e a transmissão ao vivo desde o começo da manifestação até o término com alguns ma-

nifestantes na delegacia é in-tegral, sem cortes, enquanto as outras coberturas têm cortes, já que dependem de uma grade pré-determinada em seus veículos de comu-nicação. 

A questão da crise na co-municação brasileira é um dos motivos para o surgi-mento do jornalismo não convencional, feito com uma câmera de celular. Re-centemente grandes publi-cações foram fechadas ge-rando demissões em massa de jornalistas experientes e de qualidade. “O celular, mesmo com baixa definição de vídeo, acaba dando o furo no grande repórter que vai aparecer no horário nobre da tv aberta”, explica Ruiz. “A partir de novas tecnologias a informação é instantânea, sem depender de grandes aparatos para a produção. Você filma da rua mesmo e já posta no facebook ou twitter, dando uma rapidez muita maior para a notí-cia”, completa. Ainda neste assunto o tema da “crise no intermediário” também sur-giu. A crise trata-se da apu-ração dos fatos e a reprodu-ção dele para seu público. A edição sempre acontece. Com o ao vivo, estando no meio do confronto, fazendo parte dele, não tem como ter ruído entre o fato como ele é e como ele vai ser passado. É o jornalismo sobre o olhar do manifestante, sem me-diadores. 

A conversa gerou uma discussão entre os repre-

sentantes da Mídia Ninja e as da EPTV e CBN quan-do os “Ninjas” expuseram as diferenças entre o 1º e o 2º ato na capital, São Pau-lo, e a posição da grande imprensa. No primeiro ato todos os veículos tratavam os manifestantes como vân-dalos e diziam que não ha-via violência da polícia. Só a partir do momento em que jornalistas desses veículos foram feridos que a situação se inverteu e a truculência da polícia entrou em pau-ta. Garcia usa a expressão “apropriação de pauta” ao se referir as mudanças repen-tinas entre os termo vânda-los/manifestantes, pois só quando os grandes jornais perceberam que a Mídia Ninja estava ganhando es-paço com uma cobertura diferente que começaram a fazer o mesmo, inclusive o uso de celulares para cobrir as manifestações. Daniela ainda acrescenta que em 16 anos de EPTV foi a primeira vez que viu o celular tomar o lugar da câmera profissional em alta resolução.

Vale destacar também que a OAB (Organização de Advogados do Brasil) se juntou com a mídia Ninja para defender os repórteres presos indevidamente du-rante os protestos. 

Para finalizar o Encontro de Editores todos fizeram suas considerações e res-saltam que nenhuma mídia tomará o lugar de outra, que apenas coexistirão em con-junto. 

Encontro de Editores discute cobertura damídia durante manifestações de junho

Especial

Da esquerda para a direita: Carolina Rodrigues (CBN), Danielo Lemos (EPTV), Cecília Toledo (PUC-Campinas), Gabriel Ruiz e Felipe Garcia (Midia Ninja)

Foto: Paulo Cartaxo

“A partir de novas tecnologias, a informação é instantânea” Gabriel Ruiz

Page 5: Saiba+ - Novembro de 2013

15 de setembro de 2013 Página 5

A faculdade de Jornalis-mo da PUC-Campi-

nas promoveu o 9° Encontro de Editores no dia 29 de outu-bro de 2013. O evento foi uma oportunidade para debater a cobertura da mídia de Cam-pinas durante as manifesta-ções de rua, entre os meses de junho e julho deste ano. “É importante que o aluno de Jornalismo tenha uma ar-ticulação entre os conteúdos teóricos daquilo que se estuda na universidade e, ao mesmo tempo, a capacidade de fazer uma leitura de aspectos prá-ticos de situações cotidianas que acontecem na vida, nos contextos políticos, econômi-co, cultural e social”, comenta o diretor da faculdade de jor-nalismo da PUC-Campinas, Lindolfo Alexandre de Souza. Cerca de seiscentas pessoas estiveram presentes no Audi-tório Dom Gilberto para as-

sistirem ao evento, que ocor-reu no período da manhã e noite. O encontro reuniu sete jornalistas da imprensa de Campinas, seja a livre, repre-sentada pelos integrantes da Mídia Ninja, e a tradicional. Entre eles, está o repórter es-pecial e editor da RAC, Fábio Gallacci, que analisa a impor-tância do debate. “Mostra o papel da mídia local, em um evento que foi marcante no ano, no país como um todo.”

Para Felipe Garcia, repre-sentante da mídia ninja pre-sente no debate, esse evento é importante pra mostrar para o aluno de Jornalismo, que o jornal “não pode ser totalmente influenciado pelo anunciante e fazendo com que o produto principal do jornal, a notícia, fique em segundo plano. Não dá pra aceitar que em uma época de grandes mobilizações pelo Brasil e por aqui, em Campi-

nas, um jornal de grande cir-culação coloque um anúncio de um shopping estampando toda a capa do caderno de Cultura”, disse ele. O principal ponto discutido entre os pa-lestrantes foram as diferentes formas das quais cada veículo e cada mídia se utilizou para se mostrar as manifestações.

O Encontro de Editores é muito esperado pelos alu-nos. Discutir sobre a profis-

são e aprender ainda mais, é fundamental para os futuros profissionais. “Eu acho mui-to bom, porque a gente está entrando no mercado de tra-balho e é bom que possamos dialogar com essas pessoas que já estão nele,” afirma a estudante Gabriele de Castro. “Muito interessante porque traz uma visão de cada meio de comunicação, tanto da TV, quanto do jornal impresso”,

comentou a estudante Natalia Mariotto. Já para o estudante de jornalismo Guilherme Za-netti, “A discussão é relevante, porém não podemos esque-cer de alguns pontos cruciais, hoje o jornal veículo precisa do anunciante pra se manter, e isso talvez nunca mude. O que é legal, é perceber que a mídia convencional completa a mídia ninja, e vice e versa”, falou ele.

Armando SagulaEvelyn Candia

Discussão aborda interesses comerciais na mídia

Aplicativos ajudam no combate ao crime

Conhecido por concentrar re-públicas, o distrito de Barão

Geraldo, em Campinas, registrou um aumento de 10,8% no número de casos de furtos no primeiro semestre deste ano, em comparação ao mes-mo período de 2012. De janeiro a junho de 2013, o 7º Distrito Policial (DP), que cobre a região, registrou 939 ocorrências contra 837, segundo a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-SP).

Segundo o delegado responsável por Barão Geraldo, Cassio Biazolli, o número de ocorrências já diminuiu em comparação ao primeiro semestre devido, principalmente, à reposição de policiais no distrito. “Estávamos desfalcados em matéria de pessoal e houve uma reposição de policiais que garantiu a prisão de alguns cri-minosos. Em relação às republicas estudantis, faz mais de 40 dias que não há roubos e, em residências, as ocorrências voltaram a entrar em de-clínio”.

É com base no aumento do núme-ro de assaltos no Brasil que Márcio Vicente e Fillipe Norton, estudantes de Ciência da Computação na Uni-versidade Federal da Bahia (UFBA), criaram o aplicativo de celular Onde Fui Roubado. O Saiba + fez um rá-pido bate-papo com os meninos pra conhecermos um pouco mais sobre esse aplicativo que desde junho do ano passado já teve 420 mil visitas e 1 milhão e 300 mil visualizações.

Só em Campinas, houve 280 denún-cias, das quais a maior parte (93) na re-gião de Barão Geraldo.

Quando e como surgiu a ideia de desenvolver o aplicativo?Márcio Vicente: A ideia surgiu em uma das conversas que tínhamos na faculdade em querer sempre criar al-gum produto inovador e que não tives-se distinção de público. Aliado com o problema de violência, o Fillipe suge-riu de criarmos um mapa colaborativo afim das vítimas poderem ajudar todo cidadão que estivesse na linha de pe-rigo onde aconteceu com ele. A partir daí, fizemos algumas pesquisas bo-ca-a-boca e conseguimos ter um fee-dback positivo.

Qual é o objetivo do aplicativo? M.V: Nosso objetivo é mapear todo

ponto crítico da maioria das cidades brasileiras. Acreditamos que com a colaboração de cada vítima de peque-nos crimes, podemos ter uma enorme quantidade de dados e manter o cida-dão mais informado de um assunto que hoje fica restrito aos órgãos poli-cias, informações essas, que deveriam ser públicas para o cidadão.

Qualquer pessoa pode denunciar um roubo no “Onde Fui Roubado”?M.V: Qualquer pessoa pode denun-ciar. Basta preencher um formulário rápido, que é dividido em quatro par-tes: local, dados relativos ao assalto (horário, dia do crime, objetos subtraí-dos e informações complementares).

E quanto à expansão do projeto? M.V: Hoje temos cerca de 98% de feedback positivo e o projeto já em

expansão. Começamos a desenvol-ver uma segunda versão do site, que permite uma interação maior do cida-dão e deixa as informações cada vez mais claras. Além disso, o aplicativo Android em breve será lançado e logo após para iOS.

Aplicativos de RastreamentoAlém dos aplicativos que fazem o

mapeamento de crimes, cada vez há mais usuários de aplicativos que con-seguem rastrear, a partir do GPS ou Wi-Fi, o aparelho após perda ou roubo. Juliana Medina, estudante de Educação Física da PUCC, recomenda o uso. No último dia 26, ela recuperou o celular da irmã, roubado em uma farmácia em Itu, após recorrer ao aplicativo “Buscar iPhone”. Do seu celular, Juliana locali-zou o aparelho roubado no mapa e, após configurar uma mensagem, recebeu a ligação da pessoa que tinha encontra-do o celular embaixo do banco de um ônibus e que disse que o deixaria na de-legacia. “Após cinco minutos, a polícia me ligou. Nunca tinha usado o aplica-tivo, o importante é que conseguimos recuperar o aparelho”, afirma Juliana. “Buscar iPhone” é o aplicativo oficial da Apple. Caso o usuário perca o celu-lar, basta acessar o aplicativo em outro dispositivo com iOS ou pelo site. Além de poder fazer com que ele mostre uma mensagem ou emita um som, outras ações possíveis são o bloqueio remoto do aparelho e a eliminação de dados de forma permanente. “GadgetTrack”, “iHound” e “Prey” são exemplos de outros aplicativos de rastreamento.

Márcio Vicente e Fillipe Norton, criadores do aplicativo Onde Fui Roubado

Foto: Divulgação

Site de mapeamento de crimes registra Barão Geraldo como uma das regiões mais críticas de CampinasCamila CorreiaTais Campos

Fábio Gallacci do Correio Popular discute o papel da mídia local na cobertura de eventos marcantes

Especial

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Page 6: Saiba+ - Novembro de 2013

Página 6 11 de novembro de 2013

Aluna da PUC-Campinas registra impressões da vida na floresta amazônica

Em uma manhã ensolarada, o

que não é raro em Ma-naus, chegamos à Base Aérea da cidade e em-barcamos em um avião AC 105 Amazonas, rumo à São Gabriel da Cachoeira, há 852 km a oeste da capital.

Depois de cerca de duas horas de voo, pou-samos em São Gabriel. Contudo, este não era o nosso destino final. O que nos esperava era muito mais peculiar do que esta cidade de mais de 109 mil km² (a cidade de São Pau-lo tem pouco mais de 1.500 km² de área) e apenas 39 mil habitan-tes, situada na Cabe-ça do Cachorro, com quatro línguas oficiais (português, nheenga-tu, tucano e baniwa) e com mais de 70% da população formada por índios. Nosso destino final era Yauaretê, um povoado de São Ga-briel localizado na fron-teira com a Colômbia.

Após o avião estar abastecido, fomos para o nosso desafio. Uma hora depois, chegamos. A temperatura era de 33ºC, mas a sensação térmica era de um infer-no na terra, bem como diziam os militares. “Ao chegar a Yauaretê, cada um vai ganhar um sol e ele vai te acom-panhar para onde for”.

Ao descer do avião, olho ao redor e vejo apenas a pista de pou-so e meus companhei-ros de viagem. A terra aos meus pés é de um vermelho leve, em volta de mim e duran-te toda minha rotação vejo apenas verde ao horizonte. O sol cria sua atmosfera própria, parece inebriar minha visão. Como viajei com o Exército, não posso deixar as per-nas à mostra e aque-la calça jeans parece acrescentar uns cinco quilos ao meu peso.

Como estávamos com o General Duar-te, quem comanda os batalhões da região - e também para ‘fazer uma graça’ -, fomos

Claudia MullerFoto: Claudia Muller

Povoado de Yauaretê abriga o primeiro pelotão especial de fronteira do exército

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casas dos indígenas, uma escolinha dentro do Pelotão e uma ten-tativa de hospital – sem médicos e enfermeiros, apenas auxiliares. Uma vez por mês, os milita-res e suas famílias são presenteados com uma visita da Força Aérea Brasileira (FAB), que leva alimentos e de-mais suprimentos que se façam necessários

para a sobrevivência. Caso essa visita não possa ser realizada, por cheias do rio ou qual-quer outro transtorno, os moradores de Yaua-retê são obrigados a dar um jeito de sobreviver: pescando, em geral.

Isso nos deu uma prévia da importância da FAB para o Exérci-to. São vários os pelo-tões de fronteira como são vários os lugares de

difícil acesso na região Amazônica – por bar-co, leva-se mais de um mês para sair de Ma-naus e chegar a Yaua-retê. “A gente contribui com medicamento, co-mida, equipe para fazer ações sociais, vacina, até a troca desse pes-soal é a gente que faz e, depois que você co-nhece essa realidade, é muito bonito ver todas

aquelas pessoas lá e a gente poder ajudar”, comenta o 1º Tenen-te Rodrigues, da FAB.

A Amazônia é a re-gião mais rica do país e também a mais aban-donada. O Estado não se faz presente, os ha-bitantes são deixados à própria sorte, ao que são capazes de fazer por si mesmos. Entre-tanto, eles não estão sozinhos. As forças ar-

madas realizam diver-sas ações cívico-sociais nessa região. Eles vão de cortar cabelo à par-tos, à alimentação. Re-alidade que faz admirar esses militares que dei-xam de lado uma vida de menos suor e mais facilidades em uma “cidade grande” para viver em áreas remotas, ganhando pouco, con-vivendo com inúmeras

dificuldades, mas cui-dando de muita gen-te que deposita todas as esperanças neles.

“Isso é vocação e ponto!”, responde ime-diatamente o general José Luiz Jaborandy Junior, chefe do Esta-do-Maior do Comando Militar da Amazônia, ao ser perguntado do porquê desses militares escolherem servir nos pelotões. “É questão de vocação, de fazer o que gosta, coisa de coração, de espírito, é a necessidade de saber que nosso povo preci-sa da nossa ajuda, en-tão não podemos virar as costas”, completa.

“A dificuldade aqui é que nada é imediato, tudo é muito demora-do e custoso, são essas facilidades de uma ci-dade grande que você sente falta”, explica o 2º Sargento Silvio dos Anjos Freitas, que ser-ve ao PEF de Yauaretê. Contudo, o que moti-va o oficial é a cultura que se adquire. “Você escolhe servir aqui por uma mudança de ar, de lugar. Uma coisa é visitar, outra é viver por um ano, ver tudo que acontece com a comunidade, partici-par de festas, ter um enriquecimento de vi-vência”, complementa.

O Sargento Anjos vive aqui com a mu-

lher e a filha de 8 anos, todos nascidos no Rio de Janeiro (RJ). “A adaptação aqui não foi difícil, no começo eu apenas fiquei um pou-co temerosa em relação a trabalho, mas eu pre-firo aqui ao Rio porque eu gosto da cultura e da calmaria”, comen-ta Silvana Lima Silva Freitas, enfermeira e esposa do Sargento.

A filha deles estuda na escola do Pelotão, que é mista, ensinando filhos de militar e crian-ças da comunidade. “Ela não sente diferen-ça nenhuma em relação ao Rio, ela até prefere aqui porque lá ela era mais presa e aqui ela fica livre o dia todo, tem mais liberdade”, revela a mãe Silvana.

Para o comandante do PEF de Yauaretê, Carlos Magno Siqueira Carvalho, a alimenta-ção é uma dificuldade nesse estilo de vida. “Você acaba fican-do muito limitado na questão comida, tem de comer sempre as mesmas coisas, além de não ter muitas op-ções de lazer”, relata.

O comandante vi-via no Pelotão com a mulher, mas como ela engravidou eles deci-diram que ela deveria ir para um lugar com mais recursos para ter a criança. Por isso, ela foi para o interior do Paraná morar com a fa-mília durante essa fase. “Eu nunca fui de ter dificuldade para ficar longe, mas agora que eu vi minha filha nas-cer, ficar longe aperta mesmo”, lamenta o co-mandante. “Para mim não foi difícil me adap-tar aqui, pois sou do in-terior de Minas Gerais, então a diferença daqui é que tudo está mui-to longe”, completa.

Contudo, Magno tem o porquê bem cla-ro de estar servindo em um pelotão de frontei-ra. “O que me motiva é o idealismo e o que me deixa feliz no Exército é estar nas fronteiras, eu tenho orgulho de servir ao país e prote-ger os cidadãos”, conta.

Dura é a vida doguerreiro de selvarecebidos com hon-ras militares. Bastan-te formalidade, toque de trombeta, armas à mostra. E meu sol comigo, me derreten-do, me fazendo ver o horizonte tremeluzir.

Antes de irmos, fo-mos “preparados” para o que seria essa expe-riência. Nesse povo-ado de menos de mil pessoas existe apenas a vila dos militares, as

Cotidiano

Foto: Claudia Muller

Page 7: Saiba+ - Novembro de 2013

Página 7

O aumento da oferta de equipamentos

eletrônicos por preços cada vez mais sedutores e possibilidades facili-tadas de pagamento, a competição frenética da indústria por dispositi-vos mais modernos e o fácil acesso ao crédito estão colocando o Brasil no topo dos rankings de consumo de aparelhos eletrônicos do mundo. Atualmente, o País é o segundo maior consu-midor de equipamentos eletrônicos do planeta e permanece nessa posição quando o assunto é a in-tenção de compra de no-vos aparelhos, de acordo com um levantamento divulgado pela Accentu-re, multinacional de con-sultoria de gestão.

Em 2013, as vendas no comércio eletrônico brasileiro devem atingir R$ 28 bilhões e superar 50 milhões de consumi-dores, segundo proje-ções da e-bit, empresa especializada em e-com-merce. Novas tecnolo-gias, entretanto, causam velhos problemas como

15 de setembro de 2013

Letícia Boaretto

Pesquisa do Banco Mundial estima aumento de 23% sob os atuais seis quilos e meio produzidos por habitante

o acúmulo de lixo. Pro-porcionalmente, quanto mais se compra, mais se descarta. O estudo “Was-ting no Opportunity – The Case for Managing Brazil’s Electronic Was-te” (“Não joguemos a oportunidade fora – Evi-dências para um geren-ciamento correto do lixo eletrônico brasileiro”), publicado pelo Banco

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Brasileiros devem produzir oito quilos de lixo eletrônico por ano em 2015

Com base na Política Nacional de Resíduos Só-lidos (PNRS), aprovada em agosto de 2010, a Secretaria de Serviços Públicos come-çou a implantar, em 2013, o Plano de Resíduos Sólidos, que, segundo o assessor de imprensa da seção de in-fraestrutura e serviços pú-blicos Doni Vieira, tem o prazo de quatro anos para ser aplicado plenamen-te. A medida que trata do descarte de lixo eletrônico determina que os produtos devem ser recolhidos pe-los fabricantes e que estes são os responsáveis pelo fim correto dos aparelhos. Para centralizar a coleta, o Departamento de Limpe-za Urbana (DLU) recebe o lixo da população por meio de um Ecoponto.

Substância Origem Tipo de Contaminação

Efeito

ArsênioCelulares Inalação e toque Agente cancerígeno, afeta o sistema

nervoso e cutâneo

Cádmio

Computador, monitor de tubo e baterias de laptops

Inalação e toque Agente cancerígeno, afeta o sistema nervoso, causa dores nas articulações, distúrbios no metabolismo e danos pulmonares

Chumbo Computador, celular e televisão

Inalação e toque Irritabilidade, tremores nos músculos, lentidão de raciocínio, alucinação, insônia e hiperatividade

Cloreto de Amônia

Baterias de celulares e laptops

Inalação Asfixia por acúmulo no organismo

Manganês Computador e celular

Inalação Anemia, dores abdominais, vômito, problemas no couro cabeludo, impotência, tremor nas mãos e perturbações mentais

MercúrioComputador,

monitor e TV de tela pla-na

Inalação e toque Danos estomacais, distúrbios renais e neurológicos, alterações genéticas e metabólicas

PVCUsado em fios para

isolar correntes elétricasInalação Problemas respiratórios

ZincoBaterias de

celulares e laptopsInalação Problemas pulmoranes, vômitos e

diarreias

Mundial, demonstra que a produção de lixo ele-trônico, o “e-waste”, no Brasil deve aumentar 23% em dois anos. Mas, no caso desse tipo de lixo, guardar, acumular ou descartar os produ-tos indevidamente pode ser altamente maléfico à saúde, como expõe a pesquisa científica “Lixo eletrônico: consequên-

cias e possíveis solu-ções”. Isso porque o tipo de aparelho é produzido com vários componen-tes tóxicos que, quando entram em contato com o organismo, causam da-nos em sistemas como o respiratório, nervoso e digestivo, entre outros distúrbios.

É justamente por cau-sa dos elementos tóxicos

A produção de lixo eletrônico deve atingir os oito quilos por brasileiro até 2015; o aumento é equivalente a mais 23% do que é produzido hoje

Plano de Resíduos Sólidos é implantado em Campinas

que o desafio de se livrar corretamente do e-waste fica ainda mais comple-xo: a incineração libera metais pesados, a reci-clagem afeta quem tra-balha no processo e so-terrar o lixo faz com que as toxinas sejam absor-vidas pelo solo, aumen-tando a possibilidade de elas chegarem à cadeia alimentar humana.

Tecnologia

Page 8: Saiba+ - Novembro de 2013

Página 8 15 de novembro de 2013

Artista inova com obras ricas em detalhesFormada em Publicidade pela PUC-Campinas, Luciana Nogueira pretende lançar sua própria linha de produtos

Natália Oliveira

Cultura

O trabalho da ilus-tradora, Luciana Pupo Nogueira,

publicitária formada pela PUC-Campinas, vem ga-nhando grande destaque dentro do contexto artísti-co. Em menos de um ano já fechou parcerias com empresas, ar-quitetos e clientes particulares e sua arte, por exemplo, é publicada em capinhas de celu-lares da marca Ca-sekit. Para 2014 a artista já tem três exposições para participar.

O estilo adotado por Lu-ciana surgiu há três anos, ela pinta desde criança, porém sem pretensão alguma. Aos dezoito anos, quando entrou para a faculdade de Publici-dade e Propaganda na PUC-Campinas, deixou a pintura de lado e se interessou pelo design gráfico. Hoje não quer largar mais a pintura. Luciana pretende, em 2014, abrir sua própria linha de produtos, criando produtos com arte e ambientes, e quer estampar tudo com a sua arte.

Sua arte ganhou destaque quando ela começou a pu-blicá-las nas redes sociais. Hoje, recebe encomendas vindas do Brasil inteiro e

começou a desenvolver suas ilustrações e comercializá--las há menos de um ano. Abandonou sua carreira de publicitária e decidiu inves-tir na sua carreira de artista. No mês de outubro, suas pinturas saíram na revista Vogue e tem sido procurada

por blogs, revistas e jornais. Seu trabalho alavancou ou-tras parcerias que ainda “não podem ser divulgadas, mas os resultados serão lin-dos” , exalta Luciana.

A inspiração de Luciana vem da natureza, dos ani-mais, das flores, além de gostar de desenhar a figura feminina. “As ideias che-gam às vezes em momentos inesperados, no dia-a-dia os estímulos são constantes, por isso sempre ando com um caderninho para fazer as anotações”, explica Lucia-na. A artista conta ainda que tem pretensões para abrir a sua própria empresa no pró-ximo ano “Estou trabalhan-do para abrir minha empre-

sa. Agora eu não largo mais a arte. Quero criar produtos com arte, ambientes com arte, tudo que eu puder es-tampar com a minha arte eu vou estampar. Além das par-cerias com outras empresas, arquitetos e clientes particu-lares, pretendo lançar minha

própria linha de pro-dutos. Ainda estou em fase de planejamento, eu amo o que eu faço, nunca me senti tão fe-liz e realizada”.

Suas obras são mui-to detalhistas, e Lucia-na conta que não tem muitas explicações de como surgiu essa tex-

tura inovadora. “Eu adoro qualquer coisa bem detalha-da e impactante. Gostava de fazer algo para chamar aten-ção. Quando me fazem essa pergunta eu fico sem saber como responder. Acredito que seja por eu dar tanto va-lor a detalhes. Eu paro para olhar uma linda flor, suas cores, seus traços, um ani-mal, uma árvore. Nossa vida é composta de mil detalhes, foi assim que encontrei a forma de expressar o que sinto.”

O material usado é o papel do tipo Canson Grosso, que ajuda no acabamento dos detalhes e nas telas. Para co-lorir, a artista utiliza canetas pretas, Sharpie e Posca.

A tinta preferida para os

A artista ex aluna da PUC-Campinas atualmente se dedica a suas pinturas e pretende ter a própria linha de produtos baseados na arte que produz

pontos de cor é a aquarela, mas são utilizados também a tinta acrílica e PVA. Com todos esses componentes em mão, Luciana dá forma a seus desenhos ricos em detalhes, que dependendo do tamanho, pode demorar algumas semanas para ser concluído, como no caso de papéis e telas com tamanho de A2 para cima.

Os tamanhos A4 e A3, Luciana conta que pode le-var até pouco mais de dez horas. Dentro do acervo de ilustrações da artista encon-tra-se a Carmem Miranda, Elvis Presley, Jesus Cristo, Nossa Senhora, Bon Jovi, Bob Marley, ilustração de natureza, meninas, meninos, paisagem, o Cristo Reden-tor, pássaros, borboletas e muitas outras.

“Uma das minhas caracte-

rísticas hoje é fazer uma arte que tenha um pedacinho da vida, de um sentimento, de um ídolo do dono.

Quando alguém vem me pedir um trabalho em faço questão de conversar com a pessoa, saber o que ela gosta, quais cores prefere, quais texturas gosta mais, já fiz alguns mudarem de ideia quanto ao tema.”

Ela reconhece que a pro-fissão é difícil e o caminho a percorrer é longo. “É uma profissão difícil. Muitos óti-mos artistas, com anos de estrada, não recebem o reco-nhecimento merecido. Uma pena.” Sem nunca fazer um curso de pintura, por incen-tivos de amigos na área de ilustração incentivaram Lu-ciana a continuar com seus desenhos e daí em diante ela tem tido grande reconheci-mento do seu trabalho.

“Ótimos artistas, com anos de estrada, não recebem o reconhecimento merecido. Uma pena.” Luciana Pupo Nogueira

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Luciana estampa ajuzelos, capas de celulares e telas com a sua arte

Foto: Arm

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