sagarana (1946)

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SAGARANA (1946) JOÃO GUIMARÃES ROSA (1908 - 1967)

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Page 1: Sagarana (1946)

SAGARANA (1946)JOÃO GUIMARÃES ROSA

(1908 - 1967)

Page 2: Sagarana (1946)

Guimarães Rosa situa-se na 3ª fase do Modernismobrasileiro, chamada Neomodernismo ou geração de45. Ao lado de Clarice Lispector (Perto do coraçãoselvagem, 1944), ele rompeu com os esquemasnarrativos dos anos 30 e instaurou um novoprocesso ficcional, baseado na estilização inventivade dados regionais e na constante pesquisa doinstrumento que lhe serve de base, a linguagem.Por essas razões, Guimarães Rosa pode serconsiderado um instrumentalista. Da mesmageração, o seu correspondente formal e temáticona poesia é João Cabral de Melo Neto (Pedra doSono, 1942).

Page 3: Sagarana (1946)

Sagarana – João Guimarães

Rosa (1946)

SAGA + RANA=cidade mineira;

à moda de,

à maneira de lenda:

espaço mítico ou real?

Page 4: Sagarana (1946)

Edições diversas

Page 5: Sagarana (1946)

Edições diversas (cont.)

Page 6: Sagarana (1946)

Ilustrações de Poty para

Sagarana

Page 7: Sagarana (1946)

As nove novelas (ou contos ou

“causos”) são:

1- O Burrinho Pedrês

2- A Volta do Marido Pródigo

3- Sarapalha

4- Duelo

5- Minha Gente

6- São Marcos

7- Corpo Fechado

8- Conversa de Bois

9- A Hora e a Vez de Augusto Matraga

Page 8: Sagarana (1946)

Galeria: datilomanuscritos

Page 9: Sagarana (1946)

Galeria: ilustrações / fotografias

Page 10: Sagarana (1946)

Galeria: ilustrações / fotografias

Page 11: Sagarana (1946)

Quanto aos narradores

Contos narradosem terceirapessoa(narrador-observador eonisciente):OBurrinho Pedrês,AVolta do MaridoPródigo,Sarapalha,

Duelo,Conversa deBois, A Hora e aVez de AugustoMatraga

Contos narrados

em primeira

pessoa(narrador-

personagem):Minh

a Gente, São

Marcos,Corpo

Fechado

Page 12: Sagarana (1946)

Marca do processo narrativo dos

contos de Sagarana

Uso do discurso indireto livre: consiste na misturada fala do narrador com o pensamento do

personagem.O narrador tem completa adesão pelopersonagem.

Exemplo:

“Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, oburrinho tinha de se enquadrar para o alto, a salvartambém de fora o focinho. Uma peitada. Outrotacar de patas. Chu-aá!Chu-aá...ruge o rio, comochuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outraremada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio,com os cochos, muito milho, na Fazenda;e depoiso pasto:sombra,capim e sossego...Nenhumapressa(...)”

Page 13: Sagarana (1946)

Tema constante:

A travessia, a viagem, a busca, a

descoberta, o desejo de mudança interior,

encontros e desencontros revestidos de

uma certa “aura mágica”, sendo que o

sertão é o centro irradiador de todas as

narrativas.Temos reflexões de natureza

filosófica, o que nos leva a comprovar o

caráter universalista dos textos.

Page 14: Sagarana (1946)

Personagens

São, de modo geral, seres em

travessia: bichos, crianças, homens

rudes e simples, vaqueiros, peões,

valentões.

São “ seres em disponibilidade”,

propensos ao sonho, ao devaneio e à

aventura e ao aprendizado da vida.

Page 15: Sagarana (1946)

Espaço

Sertão mineiro: o sertão das

“Gerais”(Minas Gerais), arraiais,

povoados, vilas distantes, esquecidas

de tudo e de todos

Page 16: Sagarana (1946)

Tempo

Tempos não medidos pelo relógio,

mistura de passado/presente,

tornando-se narrativas encantadas(

fábulas)

Page 17: Sagarana (1946)

Linguagem

A linguagem de Guimarães Rosa tem

um grande intuito: retratar a oralidade

do sertanejo mineiro. Para cumprir seu

propósito, ele reinventa a linguagem,

criando neologismos, trabalhando

recursos poéticos(aliteração,

onomatopéias, etc), utiliza provérbios,

enfim, cria um novo mundo de

linguagem.

Page 18: Sagarana (1946)

Exemplos de inovações

lingüísticas

Inovações

fonológicas(som)

Ex:“Boi bem bravo,

bate baixo, bota

baba, boi

berrando...”

(Temos aliteração

e onomatopéia)

Inovações

morfológicas

(construção de

palavras)

Ex:

amormeuzinho,no

mopadrofilhospritos

santaméin,

desfeliz, etc

Page 19: Sagarana (1946)

Temos ainda:

Inovações

sintáticas, que

dizem respeito ao

arranjo das

palavras nas frases

e períodos

Inovações

semânticas, que

se referem ao

significado das

palavras

Page 20: Sagarana (1946)

Presença de

arcaísmos(palavras que caíram

em desuso)

Exemplos: em riba(em cima), de

banda (de lado), a lembrar, arresolver,

alumiar

Page 21: Sagarana (1946)

1- O Burrinho Pedrês

Personagens: Sete de Ouros(o burrinho),Major Saulo(dono do burrinho), JoãoManico, Francolim e Badu(peões)

Síntese: os peões e o Sete de Ouros têm amissão de levar mais de 400 bois para umarraial vizinho.Na volta, na cheia do rio,Sete de Ouros salva Badu e Francolim

Interpretação:a sabedoria do burrinho fazcom que ele consiga atravessar o rio e fazero bem, salvando 2 peões

Page 22: Sagarana (1946)

2-A Volta do Marido Pródigo

Personagens:Lalino Salãthiel(mulato

esperto que quer conhecer novos

lugares e novas pessoas), Seu

Ramiro(patrão de Lalino) empresta-lhe

dinheiro para conhecer o Rio de

Janeiro),Maria Rita(esposa de Lalino),

Oscar(simpatiza com Lalino, é uma

espécie de amigo)

Page 23: Sagarana (1946)

(continuação de A Volta do

Marido Pródigo)

Síntese: Lalino é um mulatinho

esperto que tem sede de aventura.

Empresta dinheiro do patrão, seu

Ramiro, para ir se aventurar no Rio,

abandonando a esposa Maria

Rita.Entra numa grande farra no Rio,

cansa-se e resolve voltar.Encontra a

esposa vivendo com seu Ramiro e

decide que irá reconquistá-la,

cumprindo a promessa.

Page 24: Sagarana (1946)

(continuação de A Volta do

Marido Pródigo)

Interpretação: Lalino é um

personagem que dialoga com

Leonardinho e Macunaíma. Todos são

anti-heróis. Através de suas

estratégias e com ajuda do destino

reconquista Maria Rita. É um exemplo

de heroísmo às avessas.

(Intertextualidade com Memórias de

um Sargento de Milícias e

Macunaíma)

Page 25: Sagarana (1946)

3.Sarapalha

Personagens: primo Ribeiro e primo

Argemiro, ambos estão doentes.

Sofrem de maleita, Luísa (moça da

estória)

Page 26: Sagarana (1946)

(continuação de Sarapalha)

Síntese: Primo Ribeiro e primo Argemirosofrem com as febres da doença. Nos seusdelírios, começam a recordar uma estóriatriste: Luísa, esposa de Ribeiro, abandona-o, fugindo com um boiadeiro.Argemiro seemociona e confessa a Ribeiro que tambémera apaixonado por Luísa , mas sempre arespeitou. Ribeiro não se conforma com aconfissão e expulsa Argemiro dafazenda.Ribeiro morre e Argemiro vai

embora, ardendo em febre, acompanhadode um cachorro e com as lembranças deLuisinha

Page 27: Sagarana (1946)

Sarapalha

Interpretação: o ritmo da narrativa é

extremamente lento, temos a nítida

sensação de isolamento. No confronto

passado/presente, Ribeiro acha que

Argemiro é o demo e o manda

embora.Argemiro, que fora sincero,

acha que seria compreendido por

Ribeiro e acaba sendo punido por falar

a verdade.

Page 28: Sagarana (1946)

4. Duelo

Personagens: Turíbio Todo(vaqueiro

de profissão, é considerado um

“homem mau”), Cassiano Gomes (ex-

oficial da Força Pública e amante da

esposa de Turíbio), esposa de Turíbio

Page 29: Sagarana (1946)

(continuação de Duelo)

Síntese: Turíbio Todo é conhecido

como um homem violento e vingativo.

Descobre que a esposa, dona

Silivana, o estava traindo com

Cassiano Gomes, mas finge não saber

de nada e elabora um plano de

vingança. Numa emboscada, Turíbio

mata o irmão de Cassiano que nada

tinha a ver com a vingança. Agora,

quem quer se vingar é Cassiano.

Page 30: Sagarana (1946)

(continuação de Duelo)

(continuação da síntese)

Turíbio e Cassiano duelam durante meses eacabam desistindo. Cassiano resolve visitaro lugar onde nascera e pressentia suaprópria morte para logo. Não conseguechegar e recebe, na viagem, a ajuda deTimpim Vinte-e-Um, para quem conta toda aestória. Cassiano morre.

Turíbio acha que tudo estava resolvidoquando, para seu espanto, Timpim vemhonrar a vingança de Cassiano e mataTuríbio.

Page 31: Sagarana (1946)

(continuação de Duelo)

Interpretação: A mensagem é a

inversão de papéis, ou seja,Cassiano,

de perseguido, passa a perseguidor e

Timpim, que era um simples

capiau(caboclo), tranforma-se em

agente do bem, punindo Turíbio, que,

ao que parece, só tinha razão no início

da estória.

Page 32: Sagarana (1946)

5. Minha Gente

Personagens: narrador-personagem

(cujo nome não sabemos), Tio Emílio(

tio da narrador-personagem), Maria

Irma (filha de tio Emílio), Santana

(empregado do tio Emílio)

Page 33: Sagarana (1946)

(continuação de Minha Gente)

Síntese: O narrador-personagem vaivisitar o tio Emílio e se entrega a umasérie de recordações. Apaixona-se porMaria Irma que fica dizendo que oraestá apaixonada e ora não está mais.

O narrador-personagem conheceArmanda, filha de um fazendeirovizinho, apaixona-se por ela e com elase casa, descobrindo, assim, seuverdadeiro amor.

Page 34: Sagarana (1946)

(continuação de Minha Gente)

Interpretação: toda a estória e a trama

são desenvolvidas como uma partida

de xadrez(jogo predileto do narrador-

personagem e do capiau

Santana).Depois de vários “xeque-

mates”, o narrador-personagem

encontra a felicidade e o verdadeiro

amor.

Page 35: Sagarana (1946)

6. São Marcos

Personagens: José (ou Izé, narrador

de várias estórias, que não acredita

em feitiços e acaba sendo vítima de

um feitiço de João Mangolô),Sá Nhá

Rita Preta e Aurísio Manquitola

(amigos de José) e João Mangolô

(negro feiticeiro)

Page 36: Sagarana (1946)

(continuação de São Marcos)

Síntese: José é um homem de muitashistórias e sempre disse que nãoacreditava em feitiços.Seus amigoslhe diziam para que não brincassecom o feiticeiro João Mangolô e nãoinvocasse a Oração de São Marcos.Nos seus passeios de domingo, Joséprovoca o feiticeiro e acaba ficandocego.Desesperado, José acabausando a reza brava de São Marcos.

Page 37: Sagarana (1946)

(continuação de São Marcos)

José acaba indo parar na casa de

Mangolô, a quem queria matar com

fúria.

O feiticeiro, no entanto, pede-lhe que

não faça mal a ele,desfaz o feitiço e

od dois “fazem as pazes”

Page 38: Sagarana (1946)

São Marcos

Interpretação: trata-se de um contometalingüístico, uma vez que Joséresponde às quadrinhas escritas comcanivete no bambual. José e Mangolô,nos seus versos, discutem osprincípios da criação poética.

José fazia pouco caso dos feiticeiros edas crendices e precisou de ambospara voltar a enxergar.

Page 39: Sagarana (1946)

7. Corpo Fechado

Personagens: o narrador-personagem

é um médico que está morando no

arraial da Laginha, Manuel

Fulô(protagonista), Targino (um

valentão do arraial) e Maria-das-

Dores(jovem por quem Fulô se

apaixona).

Page 40: Sagarana (1946)

(Continuação de Corpo Fechado)

Síntese: Manuel Fulô contou muitas

histórias para o narrador-personagem que

vai recontando para nós, leitores, tais

histórias. Manuel Fulô se apaixona por Das-

Dores e fica noivo dela, mas é afrontado por

Targino, valentão do lugar, que diz que vai

dormir com ela e depois a devolveria. Fulô

conta com a ajuda do curandeiro Antonico

das Pedras ou Antonico das Águas que faz

Fulô ter corpo fechado, enfrentando

Targino.

Page 41: Sagarana (1946)

(continuação de Corpo Fechado)

Interpretação: a cumplicidade com a

feitiçaria, adquirindo “corpo fechado”

leva Manuel Fulô a ficar corajoso e

enfrentar Targino. É como se Fulô

conseguisse vencer o Demo.

Page 42: Sagarana (1946)

8. Conversa de Bois

Personagens: Manuel

Timborna(narrador-observador que

conta sobre os bois), seu interlocutor (

alguém que escuta Timborna), mais

um narrador ( uma irara chamada

Risoleta, que é uma ave), Agenor

Soronho (condutor do carro de bois) e

Tiãozinho (ajudante de Agenor)

Page 43: Sagarana (1946)

(continuação de Conversa de

Bois)

Síntese: um carro de bois com 4 parelhas éconduzido por Agenor e seu guia, omoleque Tiãozinho. O carro leva umdefunto que é o pai de Tiãozinho.

Os bois conversam e contam estóriastristes. Tiãozinho é também um meninomuito triste e maltratado por Agenor.

Os bois se cansam de Agenor echacoalham o carro até ele cair e“desencarnar”. Tiãozinho continua acondução do carro de bois, carregando,agora, dois defuntos.

Page 44: Sagarana (1946)

(Continuação de Conversa de

Bois)

Interpretação: de novo, o fraco vence

o forte, o bem vence o mal, num caso

em que a irara conta a história a

Manuel Timborna, que a reconta ao

escritor, que a repassa a nós. O carro

de bois, assim, como Tiãozinho,

também cumpre uma travessia.

Page 45: Sagarana (1946)

Conversa de Bois- estrutura dos

narradores

Conto Conversa de Bois

Irara

(conta para Manuel Timborna)Manuel Timborna

(conta para o escritor)

Escritor(narrador observadorque conta para um interlocutor-leitor

Page 46: Sagarana (1946)

9.A Hora e a Vez de Augusto

Matraga

Personagens: Nhô Augusto( homem

perverso), Dona Dionóra( sua esposa),

Mimita( filha de dona Dionóra),

Joãozinho Bem-Bem (líder de um

bando de capangas)

Page 47: Sagarana (1946)

(Continuação de A Hora e a Vez

de Augusto Matraga)

Síntese: Nhô Augusto Matraga é

abandonado pela esposa e pela filhaporque ninguém suporta viver com ele.

Além disso, seus empregados oabandonam também provocados peloMajor Consilva. Augusto vai tirarsatisfações e é atacado pelos antigoscapangas que chegam a marcá-lo como ferro do gado.

Page 48: Sagarana (1946)

(Continuação A Hora e a

Vez...)

Matraga é encontrado por um casal negro

que cuida dele e o adota.

Matraga resolve se redimir e virar uma boa

pessoa. O chefe de um bando de jagunços,

Joãozinho Bem-Bem, tenta convencer

Matraga a se reunir ao seu grupo, mas ele

se lembra das sábias palavras de um padre

que lhe disse que ele precisava ser bom:

“Cada um tem a sua hora e a sua vez: você

há de ter a sua”

Page 49: Sagarana (1946)

(Continuação de A Hora e a

Vez...)

Depois de algum tempo, Augusto

Matraga reencontra Joãozinho Bem-

Bem e seu bando lutando. Joãozinho

morre e a hora e a vez de Augusto

Matraga também chegam.

Page 50: Sagarana (1946)

(Continuação A Hora e a

Vez...)

Interpretação: equívoco, destino,

acaso ou fatalidade – as travessias se

encerram com a de Nhô Augusto que,

de homem mal foi à redenção, e só

encontra refúgio do bem e do mal na

morte.

Page 51: Sagarana (1946)

Temas abordados

- Tropeirismo

- Epidemia, febre da Malária

- Traição

- Vingança

Índice

Page 52: Sagarana (1946)

O livro:

O livro é constituído por nove contos, são eles:

O BURRINHO PEDRÊS

A VOLTA DO MARIDO PRÓDIGO

SARAPALHA

DUELO

MINHA GENTE

SÃO MARCOS

CORPO FECHADO

CONVERSA DE BOIS

A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

Índice

Page 53: Sagarana (1946)

Personagens:

Burrinho Pedrês: Sete de Ouros

Major Saulo

João Manico

Francolim

Raymundão

Zé Grande

Silvino

Duelo: Turíbio Todo

Dona Silivana

Cassiano Gomes

Vinte-e-Um

Corpo Fechado: Narrador

Manuel Fulô

Beija-Flor

Das Dor

Targino

Antônio das Pedras-Águas

Conversa de bois: Tiãozinho

Agenor Soronho

Januário

Page 54: Sagarana (1946)

Índice

A volta do marido pródigo: Seu Waldemar Sarapalha: Primo Argemiro

Seu Marra Primo Ribeiro

Lalino Laio Prima Luísa

Maria Rita Ceição

Major Anacleto Jiló

Oscar

Minha gente: Doutor São Marcos: Sá Nhá Rita

Santana José

José Malvino João Mangolô

Tio Emílio

Maria Irma

Bento Porfírio

A hora e a vez de Augusto Matraga: Nhô Augusto, Matraga e Augusto Esteves

Joãzinho Bem-Bem

Page 55: Sagarana (1946)
Page 56: Sagarana (1946)
Page 57: Sagarana (1946)

CARACTERÍSTICAS DA OBRA

Page 58: Sagarana (1946)

Regionalismo universalizante: substitui o pitoresco

e o realismo pela fusão entre o real e o mágico.

Uso do sertão como tema, mas sem limitá-lo

geograficamente (O sertão é o mundo).

Temas universais, embora com colorido local:

bem X mal; Deus X diabo; ódio X amor.

Destaque na linguagem elaborada mediante coleta de

dados, exploração sonora, sintática e semântica.

Recursos estilísticos: onomatopeias, aliterações, metáforas,

metonímias, ritmos, rimas.

Criação de linguagem dentro da linguagem.

Page 59: Sagarana (1946)

Linguagem: precisão dos termos, regionalismos, arcaísmos, neologismos, o

nomatopeias e aliterações.

Traços regionalistas: cantos, ditos populares,

superstições e crendices.

Descrições detalhadas da natureza: plantas,

répteis, pássaros.

Linguagem: uso do discurso indireto-livre e fluxo da consciência.

Page 60: Sagarana (1946)

O autor está preocupado em fazer

uma obra de arte, em estilo pessoal, próprio.

Respeita a linguagem, mas não quer ser limitado por ela.

Tem aversão ao lugar-comum, por isso a inovação constante.

Usa o espaço regional de Minas, mas em concepção universal.

A obra é artesanal, pensada, criada e elaborada.

O conto atinge a transcendência,

tem valor de parábola.

Page 61: Sagarana (1946)

1. Assinale a(s) afirmação(ões) correta(s) sobre o livro Sagarana e seseu autor.

01) O autor, embora apresente características regionalistas em suaobra, coloca em segundo plano o lado pitoresco do sertão,

substituindo-o por valores mais universais, como o misticismo e as relações humanas.

02) A linguagem de Guimarães Rosa adquire conotações sui generis, resultado de pesquisa e criatividade.

04) No conto Sarapalha, dois primos vivem sós numa tapera,

acometidos de maleita à espera da morte, tendo junto deles um cachorro miserável e uma negra surda que para eles cozinha.

Page 62: Sagarana (1946)

08) O autor descreve em detalhes a natureza do seu Estado natal,

Minas Gerais, fazendo verdadeiras listas de nomes de plantas e animais da região.

16) Sagarana é uma obra de saudade da terra natal, por isso mesmo de intenso lirismo, não havendo espaço para o humor ou a tragédia.

32) O Burrinho Pedrês é uma história dentro da qual se desenvolvem várias histórias paralelas, sempre sobre a relação entre o homem do sertão e os animais.

01+02+04+08+32

Page 63: Sagarana (1946)

2. A leitura do livro Sagarana, de Guimarães Rosa, permite afirmar que:

01) o autor é um modelo de linguagem de sintaxe correta, bem ao gosto dos clássicos, razão do seu prestígio nacional e universal.

02) o regionalismo sempre presente nos contos do autor, segundo a crítica consagrada, não transcende o interior mineiro,o que restringe o valor literário de sua obra.

04) para o autor, os limites entre a prosa e a poesia devem ser sempre respeitados, razão por que não usa recursos poéticos em seus trabalhos em prosa.

Page 64: Sagarana (1946)

08) contos como Conversa de Bois mostram a preocupação emabordar temas ligados à psicologia e mesmo à parapsicologia, que transcendem o universo regional mineiro.

16) em Corpo Fechado, há insinuações autobiográficas, pois um dos protagonistas e suposto narrador é um doutor, profissão exercida no interior mineiro pelo

autor.

32) em razão da simplicidade dos fatos narrados e da limitaçãoexpressiva dos protagonistas, o padrão de linguagem dos contos é simples e de fácil compreensão.

08+16

Page 65: Sagarana (1946)

3. Assinale apenas a(s) afirmação(ões) verdadeira(s) sobre o livro Sagarana e seu autor.

01) No conto O Burrinho Pedrês, o autor destaca a inteligênciado animal que, ao contrário do que se pensa, é

mais esperto do que os cavalos ou bois.

02) Na introdução do livro, em carta pessoal a seu editor, o autor demonstra acreditar apenas na inspiração, negando a necessidade de trabalhar, posteriormente, um texto escrito.

04) A fusão prosa / poesia é tão intensa em Guimarães Rosa que, em vários contos, surgem letras de canções ou trechos de poemas do cancioneiro popular.

Page 66: Sagarana (1946)

08) No conto Duelo, o autor narra a história de um valentão que, mesmoarmado de revólver, morre esfaqueado por um caipira humilde, que tentasalvar a honra de sua noiva.

16) Acreditando no necessário distanciamento autor / obra, em nenhummomento Guimarães Rosa deixa transparecer situações autobiográficas nesses contos.

32) Através de suas histórias, o autor sempre parece estar passando umamensagem, como se cada qual fos-

se uma fábula.

64) Apesar da frequente presença de animais nos contos, o autor sabe diferenciar o racional do irracional; por

isso não se encontram termos ou descrições que poderiam atribuir

qualidades humanas aos bichos. 01+04+32

Page 67: Sagarana (1946)

4. Tomando como referência o conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, do livro Sagarana, assinale apenas a(s) afirmação(ões) verdadeira(s).

01) O protagonista é Joãozinho Bem-Bem, um jagunço malvado que atemoriza as populações pobres do interior deMinas Gerais.

02) O protagonista é Nhô Augusto Esteves, que era bom, mas, revoltado, transforma-se em bandido para vingar sua família, morta por jagunços.

04) Nhô Augusto é cruel e desrespeitador; após ser quase

morto, muda de vida e decide dedicar-se ao bem.

Page 68: Sagarana (1946)

08) A conversão de Nhô Augusto faz com que assuma o nome de Joãozinho Bem-Bem e passe a defender os pobres e oprimidos do interior de Minas.

16) A conversão de Augusto Matraga se deu na aparência, e nãona essência, pois seu gênio não havia mudado: continuava um

valentão, só que então

ao lado do bem.

32) Ao morrer lutando em favor de humildes, Nhô Augusto não

revela sua verdadeira identidade.

64) O final do conto apresenta uma situação paradoxal, pois os

dois contendores, feridos de morte um pelo outro, fazem as pazes antes de morrer.

04+16+64

Page 69: Sagarana (1946)

5. Em um dos contos de Sagarana, o autor narra as aventuras deum herói picaresco que abandona a mulher para viver grandes aventuras no Rio de Janeiro. Retorna desiludido e tenta reconquistar a mulher, negociada com um espanhol antes de partir. Conto e protagonista são:

a) O Burrinho Pedrês — Major Saulo.

b) Corpo Fechado — Manuel Fulô.

c) Conversa de Bois — Soronho.

d) A Volta do Marido Pródigo — Lalinho Salãthiel.

e) Minha Gente — tio Emílio.

Page 70: Sagarana (1946)

6. Na obra Sagarana não encontramos:

a) submissão do autor a uma sintaxe

convencional.

b) regionalismo universalizante.

c) descrições da natureza.

d) recursos poéticos aplicados à prosa.

e) análise do comportamento humano.

Page 71: Sagarana (1946)

7. Sobre o livro Sagarana e seu autor, assinale a única afirmação procedente.

a) Trata-se de um romance regionalista, em que a convivência homem-animal é intensamente explorada.

b) O autor explora a linguagem convencional, preocupado em torná-la acessível ao leitor de todas as camadas sociais.

c) A obra fica restrita ao ambiente do interior mineiro, não tendo qualquerconotação universalizante.

d) Guimarães Rosa, apesar de estabelecer suas histórias no sertão mineiro,dá à sua obra dimensão universalizante, a partir da temática,

principalmente.

e) O autor preocupa-se apenas com a linguagem, para ele um exercício de liberdade, mas não se preocupa

com a fábula ou com a mensagem do conto.

Page 72: Sagarana (1946)

5. (U. E. Pará/2004) Observe o trecho extraído de “Burrinho Pedrês”, de Guimarães Rosa:

— Você é meu camarada de confiança, Francolim. Tem mais responsabilidade de ajudar, também...

— Isto, sim, dou meu pescoço! Em serviço do senhor, carrego pedras, seu Major. Só peço é ordem para o João Manico me dar de novo meu cavalinho, na entrada do arraial, para não ficar feio eu, como ajudante do senhor, o povo me ver amontado neste burro esmoralizado... sem querer com isso ofender, por ser criação de que o senhor gosta...

Considerando o seu conteúdo e o conjunto da narrativa da qual foi retirada, é correto dizer que:

a) no momento em que se trava esse diálogo, o episódio do afogamento de alguns vaqueiros no córrego já havia acontecido.

Page 73: Sagarana (1946)

b) a solicitação de Francolim para destrocar a montaria não será acatada pelo Major Saulo.

c) o diálogo evidencia o comportamento de independência dos vaqueiros em relação ao dono da

fazenda.

d) o comentário de Francolim sobre Sete de Ouros, que se assemelha ao dos outros vaqueiros, irá revelar-se injusto, ao final, quando o burrico, além de salvar Badu, irá salvá-lo, também.

e) o personagem João Manico, referido por Francolim, é o único vaqueiro a salvar-se na travessia do córrego, por ter isso e vindo montado em Sete de Ouros.

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(FUVEST/2005) Texto para as questões 6 e 7

Sim, que, à parte o sentido prisco, valia o ileso gume do vocábulo pouco visto e menos ainda ouvido, rara-mente usado, melhor fora se jamais usado. Porque, diante de um gravatá, selva moldada em jarro jônico, dizer-se apenas drimirim ou amormeuzinho é justo; e, ao descobrir, no meio da mata, um angelim quetira para cima cinquenta metros de tronco e fronde, quem não terá ímpeto de criar um vocativo absurdo e bradá-lo — Ó colossalidade! — na direção da altura?

(João Guimarães Rosa, “São Marcos”, in Sagarana)

prisco = antigo, relativo a tempos remotos.

gravatá = planta da família das bromeliáceas.

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6. Neste excerto, o narrador do conto “São Marcos” expõe

alguns traços de estilo que correspondem a características

mais gerais dos textos do próprio autor, Guimarães Rosa. Entre tais características só NÃO se encontra

a) o gosto pela palavra rara.

b) o emprego de neologismos.

c) a conjugação de referências eruditas e populares.

d) a liberdade na exploração das potencialidades da

língua portuguesa.

e) a busca da concisão e da previsibilidade da linguagem.

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Dentre os contos de "Sagarana" existe um em que o narrador sustenta um duelo literário com outro poeta, chamado Quem Será, e no qual se fazem várias considerações sobre a natureza da poesia. Numa metáfora do condicionamento do homem, resistente à aceitação do novo e diferente, o autor leva a personagem a passar por um período de cegueira. A partir daí a personagem descobre a mutilação dos sentidos, que agora se abrem a outras vertentes da realidade.

Em qual dos contos a seguir se discute essa questão?

a) "A hora e a vez de Augusto Matraga"

b) "Duelo"

c) "Conversa de Bois"

d) "São Marcos"

e) "Corpo fechado"

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Reflita sobre as seguintes afirmações:

I. Tal como ocorre nos demais contos de SAGARANA, João Guimarães Rosa centraliza neste a prática popular da fé cristã, encarnada aqui num Augusto Matraga renascido, que viverá o resto de sua vida no trabalho humilde e penitente, para além do heroísmo e da violência.II. Neste conto, como em todos de SAGARANA, a linguagem do autor promove uma autêntica fusão entre o que é abstrato e o que é concreto, tal como aqui ocorre na fala do padre, em que os valores religiosos se enraízam no cotidiano sertanejo.III. A "hora e vez" de que fala o padre vai-se concretizar, neste conto, num ato de fé e de bravura do protagonista contra um inimigo poderoso, o que lembra o clímax de dois outros contos do livro: "São Marcos" e "Corpo fechado".

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É correto afirmar que

A. apenas II é verdadeira.

B. apenas III é verdadeira.

C. apenas I e III são verdadeiras.

D. apenas II e III são verdadeiras.

E. I, II e III são verdadeiras.

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"E não é sem assim que as palavras têm canto e plumagem. E que o capiauzinho analfabeto Matutino Solferino Roberto da Silva existe, e, quando chega na bitácula, impõe: - 'Me dá dez 'tões de biscoito de talxóts!' - porque deseja mercadoria fina e pensa que 'caixote' pelo jeitão plebeu deve ser termo deturpado. E que a gíria pede sempre roupa nova e escova. E que o meu parceiro Josué Cornetas conseguiu ampliar um tanto os limites mentais de um sujeito só bi-dimensional, por meio de ensinar-lhe estes nomes: intimismo, paralaxe, palimpsesto, sinclinal, palingenesia, prosopopese, amnemosínia, subliminal..."(João Guimarães Rosa, fragmento do conto "São Marcos", de SAGARANA.)

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Considerando a visão de mundo e a linguagem de autores representativos da ficção brasileira do século XX, escolha as alternativas corretas:

(A) A obra de Guimarães Rosa enfatiza a separação entre a cultura popular, que tende a conservar a língua, e a cultura erudita, entendida como principal fonte da renovação constante do vocabulário.

(B) Os enredos secundários e a citação de versos populares, que aparecem com freqüência nos contos de SAGARANA, têm função ilustrativa, criando apenas uma espécie de pano de fundo para a estória narrada, e poderiam ser suprimidos sem qualquer prejuízo para a compreensão.

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(C) A ênfase na experimentação lingüística e na metalinguagem leva Guimarães Rosa a dispensar pouca atenção ao enredo, especialmente nos contos de SAGARANA, que praticamente não narram história alguma.

(D) A obra de Guimarães Rosa realiza em grande medida algumas reivindicações de autores significativos do Movimento Modernista, que propuseram o direito permanente à pesquisa estética e a estabilização de uma consciência criadora nacional.

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O conto "Conversa de bois" integra a obra SAGARANA, de João Guimarães Rosa. De seu enredo como um todo, pode afirmar-se que

a) os animais justiceiros, puxando um carro, fazem uma viagem que começa com o transporte de uma carga de rapadura e um defunto e termina com dois.b) a viagem é tranquila e nenhum incidente ocorre ao longo da jornada, nem com os bois nem com os carreiros.c) os bois conversam entre si e são compreendidos apenas por Tiãozinho, guia mirim dos animais e que se torna cúmplice do episódio final da narrativa.d) a presença do mítico-lendário se dá na figura da irara, "tão séria e moça e graciosa, que se fosse mulher só se chamaria Risoleta" e que acompanha a viagem, escondida, até à cidade.e) a linguagem narrativa é objetiva e direta e, no limite, desprovida de poesia e de sensações sonoras e coloridas.

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O conto "São Marcos", que integra a obra "Sagarana", de João Guimarães Rosa, apresenta linguagem marcadamente sinestésica, isto é, que ativa os órgãos sensoriais como meios de conhecimento da realidade, em suas diferentes situações narrativas. No ponto culminante da narrativa, o narrador é afetado em sua capacidade sensorial, particularmente ligada

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a) ao olfato, que lhe permite perceber o "cheiro de musgo. Cheiro de húmus. Cheiro de água podre", bem como o "odor maciço, doce ardido, do pau d'alho".

b) à visão, que lhe permite contemplar as plantas, as aves, os insetos, as cores e os brilhos da natureza, como em "debaixo do angelim verde, de vagens verdes, um boi branco, de cauda branca".

c) ao tato, que se ativa "com o vento soprando do sudoeste, mas que mudará daqui a um nadinha, sem explicar a razão", além de lhe permitir sentir o "horror estranho que eriçava-me a pele e os pêlos".

d) ao paladar, ativado na mastigação "de uma folha cheirã da erva-cidreira, que sobe em tufos na beira da estrada", e usada, segundo a personagem, para "desinfetar".

e) à audição, que lhe faculta "distinguir o guincho do paturi do coincho do ariri, e até dissociar as corridas das preás dos pulos das cotias, todas brincando nas folhas secas".

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João Guimarães Rosa, em Sagarana, permite ao leitor observar que:

a) explora o folclórico do sertão.

b) em episódios muitas vezes palpitantes surpreende a realidade nos mais leves pormenores e trabalha a linguagem com esmero.

c) limita-se ao quadro do regionalismo brasileiro.

d) é muito sutil na apresentação do cotidiano banal do jagunço.

e) é intimista hermético.

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