saes, d. l. as residencias multiprofissionais em saude na formação do to para sus_2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA MATERNIDADE CLIMÉRIO DE OLIVEIRA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE MATERNO INFANTIL DÉBORA LACERDA SAES AS RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE NA FORMAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL PARA O SUS Salvador 2012

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Page 1: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAMATERNIDADE CLIMÉRIO DE OLIVEIRA

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE MATERNO INFANTIL

DÉBORA LACERDA SAES

AS RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE NA FORMAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL PARA O SUS

Salvador 2012

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DÉBORA LACERDA SAES

AS RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE NA FORMAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL PARA O SUS

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Federal da Bahia, Maternidade Climério de Oliveira, Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Materno Infantil, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Saúde Materno Infantil, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima Hanaque Campos.

Salvador 2012

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AS RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE NA FORMAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL PARA O SUS

Débora Lacerda Saes

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Federal da Bahia, Maternidade Climério de Oliveira, Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Materno Infantil, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Saúde Materno Infantil, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima Hanaque Campos.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima Hanaque Campos

__________________________________________________M.ª Suely Maia Galvão Barreto

___________________________________________________Ter. Ocup. Josaildes Antunes Ribeiro

Salvador, aprovada em 30 de julho de 2012.

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RESUMO

A formação de recursos humanos para a saúde começou a ser pensada de modo mais organizado a partir da criação do Sistema Único de Saúde. Entendeu-se que não se podiam transformar práticas que estavam sendo feitas há anos sem modificar o modo como esses profissionais eram formados. É nesse contexto que se inscrevem os Programas de Residência Multiprofissional em Saúde. A motivação inicial desse trabalho foi conhecer os aportes científicos, sociais e simbólicos que os programas poderiam ofertar à Terapia Ocupacional e quais seriam as contribuições que os terapeutas ocupacionais poderiam trocar com esses programas. O objetivo geral foi conhecer as trocas entre as residências multiprofissionais e a Terapia Ocupacional. A metodologia de coleta e análise de dados utilizou pesquisa documental em fontes oficiais e revisão de literatura. Os autores consultados que debatem a formação de recursos humanos em saúde partem da premissa de que não há satisfação com a graduação atual dos profissionais de saúde no sentido de não se direcionarem para o SUS. Aqueles que debatem as residências multiprofissionais localizam seus limites e suas potencialidades demonstradas pela análise dos documentos oficiais. Os programas de residência apresentam-se como uma política bem estruturada e respaldada oficialmente e estão espalhados por todo território nacional. A interseção dialética entre o que representam para a consolidação do SUS e qualificação de seus profissionais, e entre a Terapia Ocupacional e seus campos de atuação na saúde evidenciou-se igualmente importante. Por fim, esse estudo apontou a necessidade de outros trabalhos que pesquisem as inserções posteriores dos residentes egressos para conhecer a prática que desenvolvem e os conceitos e compreensões que balizam seu trabalho, procurando estabelecer nexos com sua formação/qualificação a partir da residência multiprofissional em saúde.

Palavras-chave: Recursos Humanos em Saúde; Residência Multiprofissional; Terapia Ocupacional.

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ABSTRACT

The training of human resources for health began to be thought in a more organized form the creation of the Unified Health System. It was understood that could not change practices that were being made for years without changing the way these professionals were trained. In this context are parts of a Multidisciplinary Residency Programs in Health. The initial motivation was to know the scientific, social and symbolic contributions that programs could offer to Occupational Therapy and what are the contributions that occupational therapists could exchange with these programs. The main objective was to trade between the multidisciplinary residency programs and Occupational Therapy. The methodology for collecting and analyzing data was documentary research on official sources and literature review. The authors found that discuss the formation of human resources for health are based on the premise that there is dissatisfaction with the graduation training for the SUS. Those who debate the residences located multidisciplinary limits and capabilities that are demonstrated by the analysis of official documents. The residency programs are presented as a policy backed by well-structured and supported officially and that are scattered throughout the national territory. The dialectic between the intersection representing the consolidation of SUS and qualification of its professionals, and between Occupational Therapy and their fields of expertise in health are also highlighted important. Finally, this study identified the need for further work to research the posterior insertions of resident graduates to meet who develop and practices the concepts and understandings that guide their work, trying to establish links with their qualification from the multidisciplinary residence with in healthcare.

Key-words: Human Resources for Health; Multidisciplinary Residence; Occupational Therapy.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................07

2. A FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE NO BRASIL...............11

2.1. Características das Obras.....................................................................11

2.2. Temáticas Gerais....................................................................................14

2.3. Temáticas Específicas...........................................................................15

3. METODOLOGIA....................................................................................................24

3.1. Tipo de Estudo........................................................................................24

3.2. Coleta de Dados......................................................................................24

3.3. Análise dos Dados..................................................................................26

4. OS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL NO BRASIL: breve

explanação................................................................................................................28

5. A TERAPIA OCUPACIONAL E AS RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS.....35

6. A TERAPIA OCUPACIONAL NO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM SAÚDE

MATERNO INFANTIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA: algumas

considerações..........................................................................................................46

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................48

8. REFERÊNCIAS......................................................................................................51

9. ANEXOS

A. Modelo de Estrutura dos Programas de Residência Multiprofissional..........56

B. Exemplos de Semana Padrão.............................................................................57

C. Relatório do MEC sobre as Residências com Terapia Ocupacional..............58

10. LICENÇA DA OBRA............................................................................................66

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1. INTRODUÇÃO

O Sistema Único de Saúde (SUS), por ter sido o primeiro sistema ordenado

de práticas em saúde brasileiro de acesso universal, buscou estabelecer

mecanismos que garantissem seu funcionamento como havia sido pensado: um

sistema que realmente atendesse a todos os cidadãos e que resolvesse todas as

demandas de saúde apresentadas por eles. Para isso, estabeleceu princípios e

diretrizes, formas de distribuição dos serviços e uma hierarquização tanto no que

disse respeito ao funcionamento de suas unidades de saúde, quanto em relação às

três esferas de gestão, a saber: federação, estados e municípios.

A formação de trabalhadores de saúde no Brasil esteve em foco desde os

momentos que antecederam e suscitaram a criação do SUS mas, de acordo com

Almeida (2007), iniciou-se como um processo ordenado, com preocupações em se

estabelecer uma política própria para a formação dos recursos humanos somente a

partir do final dos anos 1990, devido às pressões sociais por isso.

Tendo em vista que o início do movimento em prol da Reforma Sanitária foi

protagonizado pelos trabalhadores de saúde, a temática do trabalho em saúde,

como se processa (limites e possibilidades) e as condições nas quais isso acontece,

sempre recebeu um olhar diferenciado. Estava bastante claro aos trabalhadores e

aos intelectuais1 desse processo que não adiantaria modificar todo o sistema, e seu

modo de funcionamento, se o trabalho continuasse a ser realizado pelos

trabalhadores com a mesma formação de outrora.

Investir na formação significaria propiciar aos profissionais o contato com

essa nova forma de pensar saúde ainda durante a graduação e atuar coerentemente

com o sistema proposto. Por outro lado, educar os trabalhadores que já estavam em

serviço era inerente à implantação e implementação do sistema.

Nesse sentido, Feuerwerker (2006) assevera que o trabalho em saúde se

processa a partir de um encontro entre o profissional e o usuário, “espaço de

liberdade e autonomia” (FEUERWERKER, 2006, p. 78) e, portanto, de nada

1 Castro (2008) defende que o início da organização do movimento social pró Reforma Sanitária no Brasil foi possível pela participação nesse processo de um grupo de militantes intelectuais que, aliados à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), propôs os primeiros projetos atrelados diretamente à formação de recursos humanos em saúde.

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resolveria modificar a estrutura das práticas em saúde sem haver um investimento

na formação do trabalhador que, em última instância, é quem faz a saúde acontecer.

Essas discussões resultaram em dois modos distintos, porém convergentes,

de propor políticas de recursos humanos para o SUS: políticas de capacitação,

pautadas pela educação permanente/continuada2 para todos os profissionais de

saúde que já estavam trabalhando; e, políticas de investimento na formação

profissional em nível médio e superior, como a reforma das matrizes curriculares da

graduação, por exemplo.

A primeira forma coube não somente nos momentos iniciais de implantação

do SUS, como também está presente até os dias atuais por entender o Sistema

Único de Saúde como ainda em processo de consolidação. Reflete-se sobre a

necessidade das políticas de educação permanente/continuada devido a inúmeros

fatores como, por exemplo, surgimento de novas políticas e programas de saúde

que alteraram em todo ou em parte o funcionamento de alguns serviços3; os cursos

de graduação em saúde que seguiram formando profissionais respaldados em

paradigmas que contrariam, de certo modo, a lógica do próprio SUS, com alteração

desse quadro somente a partir dos anos 2000; entre outros.

Por conseguinte, propostas de investimento em cursos de pós-graduação

poderiam contemplar todos os tipos de formação dos recursos humanos para

atuação no SUS, uma vez que seria possível abarcar os profissionais que já

estavam trabalhando, aqueles que se formaram ainda com lógicas divergentes ou

contrárias ao SUS, e também aqueles que viriam a se formar. É nesse contexto que

se inscrevem as Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS)4.

2 Tanto no campo da saúde quanto da educação existem debates diversos acerca do que os conceitos de educação permanente e/ou continuada representam, as concepções das quais se encontram impregnados e mesmo a polissemia que trazem. Contudo, isso não foi foco do presente trabalho e tampouco foi abordado pelos autores consultados, motivos pelos quais isso não será explorado.

3 Em relação às políticas e programas que vieram anos após a criação do SUS, sempre em consonância com suas diretrizes e princípios, diversos exemplos podem citados como a Estratégia Saúde da Família, a Política Nacional de Humanização, a Política de Saúde Mental que teve os Centros de Atenção Psicossocial como carro chefe, entre outros.

4 Apesar de distintas denominações atribuídas a essa modalidade de ensino de pós-graduação, a exemplo de Residência(s) Integrada(s) em Saúde (SHAEDLER, 2010; FERREIRA, 2007) padronizou-se, no presente trabalho, a adoção de “Residência(s) Multiprofissional(is) em Saúde”.

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Pautadas pela lógica de formar trabalhadores para atuarem no SUS, como

também deveriam fazê-lo os cursos de graduação em saúde, diversos autores como

Oliveira (2009) atestam que as RMS surgem como momento privilegiado de contato

dos estudantes de pós-graduação com a realidade do sistema, preparando-os para

nele trabalharem.

Pensadas a partir das Residências Médicas e de Enfermagem, as

Multiprofissionais em Saúde se configurariam como uma ponte entre a academia e

os serviços de saúde, de modo a levar para a prática o pensamento acadêmico, e

não o contrário. Em paralelo a isso, deveriam propiciar o contato estreito com outras

profissões de saúde, com o trabalho em equipe e direcionarem o olhar dessa equipe

no sentido do cuidado integral e da construção de saberes coletivos.

Foi a partir da atuação como residente em dois programas diferentes de RMS,

em duas áreas distintas de atuação da Terapia Ocupacional, que a autora do

presente trabalho interessou-se por essa temática. Ambas as vivências tornaram

possível reflexões sobre o funcionamento do SUS como um todo e, em especial, no

estado da Bahia e na cidade de Salvador; sobre o papel desempenhado pelos

diversos profissionais envolvidos com os programas de residência (incluindo

residentes, trabalhadores dos serviços e representantes das universidades,

geralmente docentes); e, ainda, sobre a própria contribuição das residências aos

profissionais e suas profissões.

Em relação à Terapia Ocupacional, pôde-se observar que campos que não se

encontravam “suficientemente demarcados”5, mesmo que existisse a atuação

anterior de terapeutas ocupacionais em diversos locais do Brasil, apresentaram

maior abertura através dos programas de RMS, como é o caso do Programa de

Residência Multiprofissional em Saúde Materno Infantil ao qual esse trabalho de

conclusão será submetido.

Isso posto, teve-se como inquietação principal conhecer os aportes

científicos, sociais e simbólicos que os programas de RMS poderiam ofertar à

Terapia Ocupacional e quais seriam as contribuições que os terapeutas

ocupacionais poderiam trocar com os programas propostos a partir de práticas que

não estavam suficientemente demarcadas. Ressaltou-se, inclusive, a própria

5 O conceito de campos “suficientemente demarcados” em Terapia Ocupacional foi proposto por Galheigo (2008) e será debatido no decorrer do trabalho.

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experiência da autora que poderia fornecer um prisma diferenciado. Desse modo,

tomou-se como questão norteadora: quais são as trocas entre os Programas de

Residência Multiprofissional e a Terapia Ocupacional?

Na tentativa de responder a essa questão, o objetivo geral foi conhecer as

trocas entre as RMS e a Terapia Ocupacional. Como objetivos específicos foram

propostos: apreciar a situação das RMS no Brasil, especialmente no que tange à

participação de terapeutas ocupacionais; analisar os programas de residência que

possuem terapeutas ocupacionais atuando em contextos hospitalares; estabelecer

um panorama das discussões científicas em torno da formação de recursos

humanos para o SUS; e, colaborar com a discussão sobre as RMS do ponto de vista

de quem foi constituinte desse processo.

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2. A FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE NO BRASIL

As produções acerca da formação dos trabalhadores de saúde para o SUS

são muitas e variadas, abrangendo inúmeros aspectos. Contudo, interessou ao

presente trabalho estabelecer um panorama geral das discussões realizadas nos

últimos cinco anos (de 2007 a 2011) sobre esse assunto.

Os trabalhos selecionados (10 (dez) artigos científicos, 07 (sete) dissertações

de mestrado e 03 (três) teses de doutorado) serão expostos em três subcapítulos, a

saber: características das obras utilizadas; temáticas gerais; e, temáticas

específicas.

2.1. Características das Obras

Apresentar os aspectos gerais das obras selecionadas visou apreender de

maneira global o conteúdo a que se teve acesso. Foram consideradas as

informações referentes ao ano de publicação dos artigos e defesa de teses e

dissertações; à área de concentração ou à profissão do(s) autor(es); a localidade de

origem do estudo ou do(s) autor(es); e, a principal metodologia utilizada.

Referente ao ano dos trabalhos, foram encontrados 04 (quatro) no ano de

2007; 05 (cinco) em 2008; 03 (três) em 2009; 06 (seis) em 2010; e, 02 (dois) no ano

de 2011. Nota-se que há uma distribuição praticamente uniforme entre os anos

pesquisados, excetuando-se o baixo volume de obras no ano de 2011. Isso pode ter

ocorrido já que a pesquisa bibliográfica foi realizada no início de ano de 2012 e pode

ter excluído publicações do final do ano e, pelo próprio funcionamento do Banco de

Teses da CAPES, defesas realizadas no correr do ano anterior.

Sobre a localidade de origem, foi considerada primeiramente a localidade

onde os estudos foram desenvolvidos e, caso isso não se aplicasse, consideradas a

origem dos autores. As dificuldades de estabelecer essa informação tiveram relação

com a metodologia usada uma vez que, principalmente os estudos que acessaram

bases de dados secundários, nem sempre deixavam claro a localidade de onde se

11

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partia. Porém, considerou-se essa uma informação relevante e foi feito esforço6 no

sentido de obtê-la tendo em vista as possibilidades de analisar, posteriormente, qual

o alcance das práticas formativas de recursos humanos em saúde.

Dessa forma, foram encontradas 06 (seis) produções na região Sul do país:

com 03 (três) no Rio Grande do Sul, 02 (duas) em Santa Catarina e 01 (uma) no

Paraná. No Sudeste foram localizadas 13 (treze) obras sendo que 08 (oito) são de

São Paulo; 02 (duas) de Minas Gerais; 01 (uma) do Rio de Janeiro; e, parcerias

entre Rio de Janeiro e Minas Gerais e Rio de Janeiro e São Paulo foram

responsáveis por 01 (uma) publicação cada. A única publicação da região Nordeste

é originária do Rio Grande do Norte. Os demais estados da região Nordeste, bem

como os das regiões Norte e Centro-Oeste não apresentaram nenhum trabalho.

Nesse aspecto, observou-se a enorme discrepância referente aos locais

estudados e/ou originários dos autores: enquanto a região Sudeste possui mais que

o dobro dos trabalhos da região Sul, ambos concentram as produções brasileiras em

detrimento às demais regiões e estados. Isso pode influenciar fortemente o conteúdo

abordado uma vez que o Brasil possui dimensões continentais e,

consequentemente, realidades extremamente diferentes, mas somente alguns

prismas das mesmas são abarcados.

Em relação à área de concentração das produções, para essa

categorização, no entanto, considerou-se primeiramente o que foi expresso como

área de concentração do estudo, determinada por seus autores e, na inexistência de

tal delimitação, a profissão dos autores em questão. Observou-se a impossibilidade

de categorizar apenas 02 (dois) estudos que não trouxeram nenhum tipo de

informação a esse respeito.

Os demais foram distribuídos em 06 (seis) áreas/profissões, a saber: 06 (seis)

trabalhos em Enfermagem; 04 (quatro) em Saúde Coletiva; Educação e Psicologia

apresentaram, cada uma, 02 (dois) trabalhos; e, Fonoaudiologia e Medicina, 01 (um)

cada. Ainda, 02 (duas) obras em que essa informação estava acessível tinham

diversas profissões em sua autoria.

Nota-se, desse modo, a concentração das produções em Enfermagem e

Saúde Coletiva, em detrimento às demais e às outras áreas de saúde que sequer

6 As obras que não explicitaram tal informação foram lidas minuciosamente com o intuito de obter confirmações a respeito da localidade das quais poderiam ser consideradas originárias.

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foram citadas. Reflete-se, sobre isso, no sentido de que a profissão de Enfermagem

é uma das profissões de saúde mais antiga no Brasil, possui certa tradição

acadêmica e interesse por temáticas como essa, ao passo que Medicina, por

exemplo, apesar de semelhante quanto sua consolidação científica, abarca outros

temas.

A Saúde Coletiva, por sua vez, como área de concentração, configura-se

como uma interseção entre diferentes áreas e profissões de saúde, possibilitando

uma abrangência que agrega diversos profissionais, e ao mesmo tempo diferentes

temáticas e abordagens.

O destaque nesse tópico seriam os trabalhos que estão no campo da

Educação, mesmo sendo somente 02 (dois), porque as relações entre saúde e

educação constituem uma interface bastante polêmica e com muito ainda a ser

explorado. Como será discutido adiante, alguns autores tratam das convergências

envolvendo a formação de recursos humanos em saúde e papeis/funções dos

Ministérios da Saúde e da Educação.

O último aspecto geral a ser apresentado nesse tópico relaciona-se com as

metodologias utilizadas para a feitura dos estudos. Apesar de nem todas as obras

selecionadas deixarem explícito o desenho do estudo, isso é facilmente dedutível a

partir da leitura do material. Contudo, como houveram termos diferentes

empregados, optou-se por uma sistematização que define 05 (cinco) categorias:

pesquisa documental; revisão de literatura; ensaio formal; estudo de caso; e, estudo

empírico. Essa sistematização considerou as principais fontes de dados utilizadas,

sendo que as três primeiras utilizaram principalmente dados secundários enquanto

as duas últimas, dados primários.

A pesquisa documental abrangeu 03 (três) estudos que utilizaram bases de

dados oficiais como principais fontes para seu trabalho. Os trabalhos que se

configuraram como revisão de literatura foram 02 (dois). E 03 (três) obras adotaram

os ensaios formais como metodologia.

Os estudos empíricos, os mais numerosos dentre os selecionados, foram

compostos por 09 (nove) trabalhos ao todo. Os estudos de caso, que são

considerados por diversos autores como um tipo de estudo empírico, foram

13

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compostos por 03 (três) obras, sendo que 02 (duas) delas definiram-se como estudo

de “caso-pensamento” (PASINI, 2010; SHAEDLER, 2010).

2.2. Temáticas Gerais

Apesar de distintos jeitos de tocar no assunto sobre a formação de recursos

humanos para o SUS, notou-se que a maioria das obras possuía uma abrangência

que as assemelhavam entre si: historiaram, detalhadamente ou não, como essa

discussão foi sendo feita no período da ditadura militar e/ou no pós-ditadura, a partir

da redemocratização do país e surgimento de movimentos sociais progressistas

como o movimento de Reforma Sanitária, culminando na criação do SUS e de um

novo olhar para a saúde e para o trabalho em saúde; até os dias atuais. Acredita-se

que isso aconteceu porque a maioria dos autores entendeu que, ao debater o

cenário atual dos trabalhadores de saúde, assim como sua formação, deveria

contextualizá-lo, apresentando e avaliando seus determinantes.

Nesse sentido, o que pode demonstrar as peculiaridades a partir das quais os

autores escolheram fazer essa retomada histórica diz respeito aos elementos

analisados, que se relacionam igualmente a seus objetivos, debatidos mais

detalhadamente no próximo item.

Enquanto Almeida (2008), Castro (2008) e Almeida (2007) analisaram a

história partindo de documentos e fóruns oficiais como, por exemplo, as

Conferências Nacionais de Recursos Humanos para a Saúde e os programas

implantados pela OPAS/Representação do Brasil, além de algumas organizações e

movimentos sociais; Batista e Gonçalves (2011), Albuquerque et. al. (2009) e

Oliveira (2008) o fizeram do ponto de vista dos marcos de educação em saúde, da

construção do conhecimento e do poder agregado às disciplinas em saúde e, dos

modelos de cuidado, respectivamente.

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2.3. Temáticas Específicas

A apreensão das temáticas apontadas pelos estudos selecionados

possibilitou observar que esses poderiam ser apresentados a partir de três

agrupamentos diferentes: trabalhos que trataram de questões gerais relacionadas à

formação de recursos humanos em saúde; trabalhos que debateram a graduação

dos cursos de saúde; e, aqueles que abordaram cursos de pós-graduação.

Os trabalhos que trataram de questões gerais relacionadas à formação

de recursos humanos em saúde foram 05 (cinco), a saber: Batista e Gonçalves

(2011); Castro (2008); Oliveira (2008); Almeida (2007); e, Cotta et. al. (2007).

Castro (2008) e Almeida (2007) centraram-se nas políticas de formação para

os trabalhadores em saúde. A primeira autora buscou entender como a

OPAS/Representação do Brasil contribuiu para as políticas brasileiras acerca dessa

formação, tendo como pressuposto que tanto influenciava quanto foi influenciada

pelas mesmas.

Castro (2008) descreveu como se deu o processo de parceria entre a OPAS e

o Ministério da Saúde, à época da redemocratização do país, consolidada através

do Programa de Cooperação em Desenvolvimento de Recursos Humanos em

Saúde, e dos quatro principais projetos propostos. Ela concluiu que mesmo a OPAS

não tendo o caráter de instituição de ensino, teve extrema relevância “na formulação

e execução de projetos de educação que contribuíram para [...] instituições públicas

de saúde no Brasil” (CASTRO, 2008, p.191).

Já Almeida (2007), ao analisar as políticas que direcionam a formação de

profissionais de saúde, debateu os processos acerca da formação e capacitação.

Isso pode ser devido ao fato de que haviam profissionais sendo formados, mas

também aqueles que já trabalhavam e precisavam de algum tipo de educação

permanente/continuada ou “capacitação”. Ou seja, de um lado estaria a formação

que acontece nos cursos universitários e de outro, a capacitação em serviço tanto

para trabalhadores da assistência quanto docentes.

O autor destacou a importância dos movimentos organizados de

trabalhadores em saúde que, a partir de suas lutas e reivindicações, conseguiram

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repercussões nas políticas públicas de saúde objetivando o estabelecimento do SUS

e dos direitos dos trabalhadores. No entanto, localizou a persistência de alguns

problemas até os dias atuais como, por exemplo, os baixos salários a que os

profissionais precisam se submeter para trabalhar no serviço público e, ainda, a falta

de articulação entre a formação dos profissionais e as necessidades do sistema de

saúde (ALMEIDA, 2007, p. 86).

Oliveira (2008) apontou quatro transições que encontra no cenário brasileiro

no que tange aos modelos de cuidados em saúde e como determinam o trabalho

interdisciplinar e multiprofissional, exigindo “respostas e reestruturação em vários

setores da sociedade”:

(1) transição demográfica e epidemiológica da população brasileira; (2) mudança [...] do modelo assistencial do SUS e reorientação do trabalho com a implementação da Estratégia da Saúde da Família e [...] construção da prática da integralidade em saúde; (3) mudança do enfoque teórico-metodológico e também prático [...] na ESF — caráter inter e transdisciplinar na abordagem da saúde [...] (4) mudança da educação dos profissionais de saúde na direção do SUS (OLIVEIRA, 2007, p. 348).

A autora lembrou que essas transições são simultâneas e coexistem no cená-

rio brasileiro apesar de possuírem seus marcos. Para ela, é necessário que seja

aprimorado e realizado cotidianamente debate acerca do cuidado em saúde, envol-

vendo os diversos atores do ensino e dos serviços numa “permanente reflexão”

(OLIVEIRA, 2007, p. 354).

E, ainda, Cotta et. al. (2007) que expuseram profundamente reflexões sobre

as necessidades de mudança da formação dos profissionais de saúde mas que es-

sas sejam pautadas a partir da realidade brasileira. Para as autoras, injustiça e desi-

gualdades sociais, assim como a pobreza, são consideradas dinâmicas e “multidi-

mensionais” e vão além das questões socioeconômicas, interferindo “na saúde dos

indivíduos e populações” (COTTA et. al., 2007, p. 280).

Desse modo, se os profissionais de saúde deveriam ser ensinados a observar

como as desigualdades sociais intervêm no âmbito da saúde, ao mesmo tempo, as

instituições de ensino deveriam ter como papel fundamental “devolver à sociedade

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um profissional que seja capaz, precisamente de dialogar” (COTTA et. al., 2007, p.

283).

Os trabalhos que trataram da graduação em saúde o fizeram enfocando

principalmente discentes (ERDMANN, 2009; CANÔNICO; BRETAS, 2008) e docen-

tes (GONZE; SILVA, 2011); e avaliações a partir das políticas de saúde (ALMEIDA,

2008), de conceitos como autonomia (FERREIRA et. al., 2010) e cidadania (GUIMA-

RÃES; SILVA, 2010), e dos currículos dos cursos de saúde (ALBUQUERQUE et. al.,

2009), totalizando 07 (sete).

Albuquerque et. al. (2009) analisaram as “grades disciplinares”, fazendo alu-

são a um aprisionamento do saber em disciplinas estruturadas e divididas em ciclo

básico e profissional. As autoras fizeram algumas constatações e propuseram modi-

ficações para superar a lógica do “saber confinado”.

Observaram que as disciplinas biológicas têm maior investimento que as de

humanidades e, portanto, discussões éticas e que pautam relações interpessoais, fi -

cam em segundo plano. Apontaram que a integração entre os diversos conteúdos

tratados em diferentes disciplinas, desejável a qualquer profissional de saúde, é con-

seguida por poucos estudantes (ALBUQUERQUE et. al., 2009, p. 265).

Como resultado, têm-se profissionais que são direcionados para a especiali -

zação, que estão mais atentos aos problemas individuais do que aos coletivos e que

tendem a desconsiderar a influência de fatores psíquicos e culturais, por exemplo,

nos processos de adoecimento (SIQUEIRA-BATISTA et. al., 2004; SAIPPA-OLIVEI-

RA et. al., 2006, apud ALBUQUERQUE et. al., 2009, p. 264). Dessa forma, as auto-

ras acreditam que a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e o pensamento

complexo devem servir como referenciais teóricos na busca pela ultrapassagem da

lógica disciplinar (ALBUQUERQUE et. al., 2009, p. 261).

Erdmann et. al. (2009) também discutiram as mudanças curriculares mas sob

a ótica dos estudantes e acreditam que há bastante expectativa em torno da atuação

dos egressos formados a partir dos novos currículos como forma de “comprovar ou

não o investimento material e humano” feitos nesse novo modelo de formação em

saúde (ERDMANN et. al., 2009, p. 293).

As autoras investigaram o conhecimento dos mesmos sobre os princípios do

SUS, sobre controle social e a Carta de Direitos dos Usuários do SUS. Observaram

17

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mudanças no perfil discente em consonância com as diretrizes curriculares do Minis-

tério da Saúde e interesse declarado em trabalhar no SUS.

Para os estudantes consultados, o fator impeditivo de atuação no SUS é a

baixa remuneração, o que demonstra convergência entre Erdmann et. al. (2009) e

os achados de Almeida (2007) quando ressaltou os baixos salários como problemas

persistentes para os profissionais dos serviços públicos de saúde. Encontraram, no

entanto, fragilidades desses estudantes quanto ao conhecimento da Carta de Direi-

tos dos Usuários e a pouca valorização do controle social e participação social, ape-

sar de constatarem que concordam com a Política de Humanização.

As autoras defendem que as práticas educacionais a serem adotadas devem

priorizar, como modelo educacional, uma participação crítica e reflexiva por parte

dos estudantes. Recomendaram, por fim, que sejam desenvolvidas outras pesquisas

sobre mudanças e adequações curriculares em saúde e o quanto contribuem para a

consolidação do SUS.

Também buscando a perspectiva estudantil, Canônico e Bretas (2008) objeti-

varam conhecer o significado do projeto Vivências e Estágios na Realidade do Siste-

ma Único de Saúde (VER-SUS) durante a graduação. Analisaram a experiência de

estudantes dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Odontologia e Psico-

logia que participaram do VER-SUS a partir de três categorias: o conhecimento do

SUS durante a formação; o papel do VER-SUS na inserção política dos estudantes

(movimentos sociais); e, a influência do mesmo na formação acadêmica.

As autoras argumentaram que, apesar da pequena abrangência do VER-SUS

em relação ao montante de profissionais formados, o projeto contribui sobremaneira

com a formação dos participantes e sua inserção no movimento estudantil e, ainda,

possibilita um conhecimento interdisciplinar e interprofissional no âmbito da gradua-

ção. Para elas, a cooperação entre os Ministérios da Educação e da Saúde é im-

prescindível para que exista a integração entre as universidades e o SUS e apontam

os movimentos sociais mais “progressistas” como parceiros valiosos (CANÔNICO;

BRETAS, 2008, p. 261). Destacaram a parceria que pode ser estabelecida com o

movimento estudantil uma vez que esse propicia a formação política dos futuros pro-

fissionais que irão atuar no SUS, enquanto que participar desse movimento torna os

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estudantes aptos à formulação, execução e avaliação de políticas, favorecendo mu-

danças positivas na educação e na saúde (CANÔNICO; BRETAS, 2008, p. 261).

Gonze e Silva (2011) pesquisaram a formação na graduação em saúde sob o

enfoque dos docentes dos cursos. Buscaram apreender a formação orientada para o

princípio da integralidade na perspectiva dos docentes dos cursos de Educação Físi-

ca, Enfermagem, Farmácia e Bioquímica, Fisioterapia, Medicina, Odontologia, Psico-

logia e Serviço Social.

Uma das primeiras constatações feitas pelas autoras relacionou-se ao fato de

que os docentes expressaram envolvimento com os “valores” da Reforma Sanitária.

Partiram então da categoria analítica que abrangeu o modo como os princípios do

SUS orientam a formação dos profissionais para chegarem à integralidade. Compro-

varam a polissemia do conceito de integralidade uma vez que os docentes, ao esta-

belecerem tal conceituação, fizeram-no de acordo com sua categoria profissional o

que, para elas, expressam reflexões acerca do mesmo e não definições engessadas

e memorizadas (GONZE; SILVA, 2011, p. 140).

Concluíram afirmando que a ótica dos professores sobre a integralidade des-

vela uma crença de que esta alcançou um status que a superpõe a diretrizes e leis

do SUS, tornando-se uma característica que se deseja a qualquer profissional de

saúde, um meio de alcançar a qualidade na assistência ou, como diria Mattos, trans-

formando-se numa “imagem-objetivo” (MATTOS, 2001, apud GONZE; SILVA, 2011,

p. 142).

Para encerrar a apresentação dos autores que estudaram a formação em

saúde durante a graduação, serão apresentados os três últimos trabalhos. Almeida

(2008), conforme dito anteriormente, ressaltou as Conferências Nacionais de Recur-

sos Humanos para a Saúde, assim como as políticas que traduziram, analisando

suas problemáticas. O autor concluiu que é possível observar evoluções na forma-

ção da graduação no que tange aos aspectos político, teórico e prático. Para ele, “a

complexidade da gestão do trabalho no SUS” implica relações com as instituições de

ensino, com os serviços de saúde “e com as políticas intergovernamentais [...] entre

MS e MEC7” (ALMEIDA, 2008, p. 97).

7 As siglas MS e MEC correspondem, respectivamente, aos Ministérios da Saúde e da Educação.

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Ferreira et. al. (2010) buscaram estabelecer uma reflexão crítica sobre a for-

mação em saúde trazendo os conceitos de autonomia, integralidade, cuidado, aco-

lhimento e humanização. Para elas, algumas contradições ainda precisam ser supe-

radas para que aconteça uma transformação da graduação em saúde como, por

exemplo, superar os paradigmas impostos pela categoria médica.

Também defenderam a superação da dicotomia que atribui ao profissional do

serviço o papel de supervisionar as atividades dos estudantes em estágio, enquanto

ao docente - supervisor geral - estaria reservado o papel de contribuição teórica. Os

marcos dessa superação, de acordo com as autoras, estariam no entendimento de

que os serviços funcionam como um dos cenários da formação e que os trabalhado-

res são parceiros nesse processo (FERREIRA et. al., 2010, p. 307).

As autoras entraram numa polêmica semelhante àquela das “grades discipli-

nares” proposta por Albuquerque et. al. (2009) e defenderam o “currículo orientado

por competências” como forma de atender ao modelo dialógico de educação dos

profissionais de saúde (FEUERWERKER; SENA, 2002, apud FERREIRA et. al.,

2010, p. 308).

Já Guimarães e Silva (2010) buscaram refletir sobre alternativas de transfor-

mação das graduações em saúde a partir da análise do contexto no qual se inscre-

vem esses cursos. Para eles, as perspectivas possíveis apontam para a transdisci-

plinaridade nas “ciências de saúde”, em paralelo a uma “formação para a cidadania”

(GUIMARÃES; SILVA, 2010, p. 2557).

A respeito dos trabalhos que abordaram cursos de pós-graduação, todos

estudaram aspectos referentes às Residências Multiprofissionais em Saúde. Entre-

tanto, como alguns aspectos referentes a essa modalidade de pós-graduação serão

debatidos em capítulo específico, serão apresentados somente os achados pertinen-

tes aos objetivos das obras em questão.

Lobato (2010), Nascimento (2008) e Oliveira (2007) partiram das especificida-

des das Residências em Saúde da Família; Pasini (2010) e Ferreira (2007), de Resi-

dências com ênfase em Intensivismo; Marin et. al. (2010) e Oliveira (2009) de Resi-

dências em Saúde da Família e Intensivismo, e Saúde Coletiva e Intensivismo, res-

pectivamente; e, Shaedler (2010) discutiu de modo geral as Residências Multiprofis-

sionais em Saúde, sem enfocar nenhuma área de concentração.

20

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É interessante ressaltar que todas essas pesquisas partiram do entendimento

de que as RMS são projetos que traduzem uma política de formação de profissionais

para atuação no Sistema Único de Saúde e não, simplesmente, mais uma modalida-

de de especialização de profissionais de saúde. Logo, essa compreensão embasou

e sustentou teoricamente seus pressupostos e hipóteses de estudo.

Isso permite refletir que os autores em questão consideraram, a priori, que os

programas de RMS são experiências positivas, mesmo que apresentem dificulda-

des, pela profundidade das experiências vivenciadas completamente diferentes da

graduação pelos pós-graduandos, como deixa claro Oliveira (2009) no excerto abai-

xo:

O espaço de circulação pela rede, o acúmulo de leituras e compreensões sobre as diretrizes e fundamento do SUS, que em geral não são oferecidas [...] [na] graduação, são peças-chave para a formação de um trabalhador mais qualificado pela capacidade de compreensão do sistema como um todo (OLIVEIRA, 2009, p. 101).

Destarte, propuseram avaliações dessas experiências no que tange seus limi-

tes e potencialidades (PASINI, 2010; OLIVEIRA, 2009; FERREIRA, 2007; OLIVEI-

RA, 2007), assim como aspectos específicos: como os programas de RMS contem-

plam a dimensão política na formação dos profissionais (LOBATO, 2010); propostas

de construção de competências para orientação das RMS (NASCIMENTO, 2008);

avaliação das metodologias ativas utilizadas nos programas (MARIN et. al., 2010); e,

auxílio no processo de avaliação dos programas de RMS como um todo (SHAED-

LER, 2010).

Para Lobato (2010) a formação política do trabalhador de saúde é extrema-

mente importante já que são eles que potencialmente podem fortalecer o SUS. Nes-

se sentido, as RMS são “potentes dispositivos para a formação do trabalhador da

saúde em defesa do SUS” (LOBATO, 2010, p. 99).

À premissa de que deve ser modificada a formação dos profissionais de saú-

de para que existam transformações no modo como as práticas acontecem – defen-

dida pela maioria dos autores que debatem a formação de recursos humanos em

saúde – Lobato (2010) acrescentou que esses trabalhadores também precisam

acreditar e defender a consolidação do SUS. Ou seja, assevera que “não haverá

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mudanças nas práticas de cuidado sem a formação de sujeitos desejantes de um

SUS fortalecido” (LOBATO, 2010, 99).

Por sua vez, Nascimento (2008) delimitou diversas competências que os resi-

dentes em Saúde da Família precisam desenvolver com as experiências nas RMS.

Para ela, as competências referentes aos saberes “ser”, “fazer”, “conhecer” e “convi-

ver” são determinadas de acordo com cada “área de domínio” propostas por Witt

(WITT, 2005, apud NASCIMENTO, 2008, p.118). Contudo, apesar de se referirem

apenas ao campo da Saúde da Família, entendeu-se que a maioria dos saberes diz

respeito às características aspiradas aos residentes de quaisquer programas, motivo

pelo qual serão abordadas adiante.

Marin et. al. (2010) avaliam as experiências de adoção de metodologias ativas

de ensino-aprendizagem em determinados programas de RMS e, nesse aspecto,

encontram a primeira limitação de seu estudo: trata “de uma realidade específica”

(MARIN et. al., 2010, p. 341).

Igualmente à Lobato (2010), as autoras asseguraram que para efetivar as mu-

danças na formação de recursos humanos para a saúde (onde as RMS são tomadas

como exemplos), e consequentemente, nas práticas de assistência, é preciso que se

insiram modificações metodológicas das RMS. Enquanto a primeira considera a ne-

cessidade de politização dos residentes, Marin et. al. (2010) garantiram mudanças

de postura quando os futuros trabalhadores “aprendem a aprender”. Apresentaram,

então, a “Pedagogia da Problematização”, baseada nos métodos e propostas de

Paulo Freire, e a “Aprendizagem Baseada em Problemas”, sugerida por Barrows e

Tamblyn (1980) (MARIN et. al., 2010, p. 333).

As metodologias ativas, para as autoras, são tão fundamentais que recomen-

daram a expansão das mesmas para outros programas de residências, além de po-

derem contribuir para o “replanejamento” dos programas existentes e “implantação

de outros” (MARIN et. al., 2010, p. 342).

Por fim, Shaedler (2010) objetivou contribuir com o processo avaliativo das

RMS tendo em vista serem propostas que integram o trabalho e a educação e, ne-

cessariamente, precisam de inovações no mesmo. Para ela, a avaliação desses cur-

sos de pós-graduação deve considerar se a aprendizagem está sendo “SUS- impli-

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cada”, ou seja, “propor práticas onde o sistema de saúde se converta em convite

para intervenção e [...] aprendizagem inventiva” (SHAEDLER, 2010, p. 69).

Assim, para chegar à sua “carta de navegação” por meio da qual seriam feitas

as avaliações das RMS, a autora discutiu as interseções entre os campos da saúde

e da educação, sobre o que seriam as práticas multiprofissionais e os desafios ine-

rentes às residências no que se refere às disputas pelos “territórios-identidades” das

profissões. Para ela, o processo avaliativo deve se configurar numa “má-

quina-de-inventar-perguntas [...] propondo perguntas que valem à pena” e fugindo

de uma “avaliação-clichê” (SHAEDLER, 2010, p. 153).

Nesse aspecto, a autora reitera e polemiza, ao mesmo tempo, com o imaginá-

rio acerca das RMS no que diz respeito à sua positividade como formação de recur-

sos humanos para atuação no SUS, conforme debatido na introdução dessa discus-

são. Shaedler (2010) afiança a importância de “justo uma avaliação” para que as re-

sidências se mantenham inovadoras.

23

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3. METODOLOGIA

3.1. Tipo de Estudo

O estudo em questão configurou-se como exploratório de abordagem

quantitativa e qualitativa, no qual foi realizada pesquisa documental em bases de

dados oficiais e revisão de literatura.

A opção pela abordagem qualitativa se deu a partir das considerações de

Minayo (1992) sobre a adequação desse tipo de estudo à pesquisa em saúde. Para

ela, a pesquisa qualitativa

Trabalha com o universo de significados, motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variável (MINAYO, 1992, p. 22).

Nesse sentido, os “processos” e “fenômenos” que se buscou apreender,

expressam uma realidade tão complexa que merecem a articulação de diferentes

campos de saber com o intuito de aprofundamento na problemática tratada. Além

disso, a autora desse trabalho desenvolveu outras pesquisas utilizando essa

metodologia e pôde certificar-se que seria a mais apropriada.

3.2. Coleta de Dados

A coleta de dados processou-se de maneira diferenciada em relação à

pesquisa documental feita em bases de dados oficiais e à revisão de literatura

acerca da formação de trabalhadores para atuarem no SUS.

A pesquisa documental utilizou os sítios eletrônicos dos Ministérios da

Saúde e da Educação para conhecer as políticas e legislações acerca das

Residências Multiprofissionais em Saúde, além de resoluções da Coordenação

Nacional de Residências Multiprofissionais em Saúde (CNRMS) e documento

enviados sob solicitação acerca dos programas que oferecem vagas para Terapia

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Ocupacional, cadastrados pela CNRMS, incluindo também aqueles que ainda não

tinham sido aprovados.

A revisão de literatura teve por objetivo delinear um panorama geral do

debate brasileiro acerca da formação de recursos humanos para atuação no SUS e

foi realizada nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Banco

de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) utilizando principalmente dois descritores: formação em saúde, e recursos

humanos e saúde.

A partir dessa primeira pesquisa, foram lidos os resumos de todos os

trabalhos encontrados para identificar de que maneira explanavam sobre o assunto.

Como tratar de questões restritas somente às profissões não era relevante, foram

excluídas as produções que tratavam especificamente de Enfermagem, Fisioterapia,

Medicina, Odontologia e Veterinária.

Em relação às teses e dissertações outro filtro utilizado disse respeito à

obtenção das mesmas na íntegra, sendo utilizados os sítios eletrônicos das

universidades que disponibilizam esse serviço e o portal Domínio Público8, mantido

pelo Ministério da Educação como uma biblioteca virtual para facilitar o acesso a

diversos conteúdos, inclusive para download. Foram excluídas as obras que não

estavam online pois o conhecimento somente de seus resumos limitaria o acesso ao

conteúdo desenvolvido pelos autores. Em contrapartida, às produções acerca de

Residências Multiprofissionais em Saúde foi dada ênfase por relacionam-se

especialmente com o tema desse trabalho.

Ao final, foram selecionados 10 (dez) artigos científicos, 07 (sete)

dissertações de mestrado e 03 (três) teses de doutorado, totalizando 20 (vinte)

obras.

Como também foi objetivo do presente trabalho identificar as atuações de

terapeutas ocupacionais a partir das RMS, utilizando diversos descritores (residência

multiprofissional; residência em saúde; terapeuta ocupacional; terapia ocupacional;

etc.) verificou-se a dificuldade em encontrar tais obras, mesmo que não fossem

escritas por terapeutas ocupacionais mas abordassem suas atividades. Assim

8 O portal Domínio Público foi lançado em 2004 e “permite a coleta, a integração, a preservação e o compartilhamento de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o de promover o amplo acesso às obras literárias, artísticas e científicas”. O acesso se dá através do endereço www.dominiopublico.gov.br.

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sendo, ampliou-se a busca e utilizaram-se sítios de consulta populares como meio

de alcançar tal objetivo. Essa pesquisa resultou em apenas 02 (dois) artigos.

3.3. Análise dos Dados

Para analisar as informações encontradas foram consideradas as colocações

de Bardin (1979) a respeito da “análise de conteúdo” do material coletado e

propostas previamente categorias analíticas, diferentes em cada método utilizado,

que tiveram sua pertinência verificada após contato com o material.

A análise de literatura sobre a formação de recursos humanos em saúde

considerou, inicialmente, três categorias analíticas:

- características gerais das obras selecionadas;

- principais temáticas levantadas; e,

- modo de abordagem da questão.

Com a leitura integral de todos os trabalhos, observou-se a possibilidade de

apresentá-los a partir de suas semelhanças e diferenças, confirmando algumas

categorias e acrescentando outras para análise do material.

Foram propostas então três divisões didáticas onde os trabalhos foram

expostos, num primeiro momento, a partir das características gerais das obras

selecionadas como ano de publicação/defesa; estado e região de origem; área de

concentração; e, desenho metodológico. Posteriormente, partindo do modo como

abordaram a formação de recursos humanos em saúde no Brasil, foram analisadas

as temáticas gerais abordadas; e, as temáticas específicas, que foram subdivididas

em outros três pontos: considerações gerais sobre a formação em saúde;

considerações acerca da graduação; e, sobre a pós-graduação (RMS).

A análise dos documentos oficiais, feita após a revisão de literatura,

considerou, previamente, apenas duas categorias analíticas, quais sejam:

- estrutura formal das RMS; e,

- as RMS e a profissão de Terapia Ocupacional.

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Contudo, após o contato com o material levantado e com a realização da

revisão de literatura, reiteraram-se as categorias iniciais como relevantes, compondo

um capítulo com cada uma delas, e foram suscitadas subcategorias que se

incorporaram na análise.

Acerca da estrutura das RMS, foram incorporadas as subcategorias: histórico

das residências no Brasil; estrutura, organização e funcionamento das RMS; e,

credenciamento de programas de RMS.

Sobre as residências com Terapia Ocupacional, foram incorporadas as

seguintes subcategorias: distribuição das residências/vagas por estado e região de

origem; áreas de concentração das residências; e, áreas do conhecimento.

Finalmente, é necessário salientar que as informações coletadas por meio da

pesquisa nas bases de dados oficiais e pela revisão de literatura foram analisadas

nas relações que poderiam ser estabelecidas entre ambas. Assim sendo, reuniram-

se análises e informações oriundas das diferentes fontes de modo a articulá-las

criticamente em um todo coerente, o que resultou nos dois capítulos seguintes: “4.

OS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL NO BRASIL: breve

explanação” e “5. A TERAPIA OCUPACIONAL E AS RESIDÊNCIAS

MULTIPROFISSIONAIS”.

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4. OS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL NO BRASIL:

breve explanação

Os programas de residência no Brasil, inspirados pelas propostas

internacionais (NASCIMENTO, 2008), surgiram como forma de especializar os

médicos formados para atuar nas diversas áreas de saúde por volta de 1940. Desse

modo, foram incorporados à formação do médico e considerados “indispensável[is]”

para sua qualificação (FERREIRA, 2007, p. 20). A outra categoria que adotou essa

modalidade de formação e qualificação de profissionais foi a enfermagem que, cerca

de vinte anos após a medicina, teve seus primeiros programas no país (FERREIRA,

2007, p. 27).

Contudo, tendo sido criada a primeira RMS no Rio Grande do Sul no final da

década de 1970 (FERREIRA, 2007; LOBATO, 2010), programas com enfoque

multiprofissional começaram a ser financiados pelo Ministério da Saúde somente em

2002 (NASCIMENTO, 2008) quando foram adotados como parte das mudanças na

“formação de trabalhadores em saúde, com perspectiva da construção

interdisciplinar [...] trabalho em equipe [...] educação permanente” (LOBATO et. al.,

2006, apud LOBATO, 2010, p. 33).

Vale salientar que até possuir legislação própria, os programas de RMS

seguiam a legislação das residências médicas no que diz respeito à praticamente

todos os âmbitos de estrutura, funcionamento e financiamento, mesmo observando-

se que a residência multiprofissional certamente apresentaria particularidades, a

começar pelo seu caráter de atuação multiprofissional das diversas profissões

citadas.

Desse modo, as residências em áreas de saúde9 (com exceção da

Medicina)10 foram instituídas somente em 2005, com a promulgação da Lei nº 11.129

9 A Lei utiliza a denominação “Residência em Área Profissional de Saúde” abarcando todos os programas de residência com uma ou mais profissões, excetuando-se a médica, mesmo que esses programas tenham caráter multiprofissional. Para efeitos do presente trabalho, continuará sendo adotado o termo Residência(s) Multiprofissional(is) em Saúde (RMS) com o objetivo de padronizar a terminologia.

10 As categorias profissionais de saúde (totalizando quatorze) beneficiadas pelos programas de residência são aquelas definidas pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 287 de 1998, a saber: Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia

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de 30 de junho. Em seu artigo 13, essa lei definiu a residência como “pós-graduação

lato sensu, voltada para a educação em serviço”. No artigo 14, igualmente à

Comissão Nacional de Residência Médica, constituiu a Comissão Nacional de

Residência Multiprofissional em Saúde (CNRMS) que, estando no âmbito do

Ministério da Educação, sua “organização e funcionamento” seriam responsabilidade

conjunta do Ministério da Saúde e Educação (BRASIL, 2005).

A lei também definiu outros pilares nos quais as RMS se respaldam, quais

sejam: inserção dos trabalhadores em áreas prioritárias do SUS; regime de

dedicação exclusiva por parte dos residentes; cooperação entre “setores da saúde e

da educação”; e, através do Programa de Bolsas para Educação pelo Trabalho,

estabelece o pagamento de bolsas aos residentes, tutores e preceptores em mesmo

valor praticado pela residência médica (BRASIL, 2005).

Nota-se que pela referida lei, as RMS possuem não somente o caráter de

formar para atuação no Sistema Único de Saúde como devem considerar áreas que

sejam prioritárias e que atendam às realidades dos locais onde se desenvolverem.

Após a instituição das RMS em 2005 e com a criação da CNRMS, foram

publicadas diversas portarias e resoluções que tinham o objetivo de padronizar os

programas em âmbito nacional e versaram sobre o funcionamento dos mesmos,

como deveriam se estruturar e organizar, como poderiam se credenciar, além de

questões específicas como a definição dos valores de bolsa, os processos

avaliativos dos residentes, entre outras.

Desse modo, a Portaria Interministerial nº 1.077 de 2009, estabeleceu que os

cursos de “pós-graduação lato sensu destinado[s] às profissões de saúde, sob a

forma de curso de especialização” deveriam ter carga horária semanal de 60

(sessenta) horas e “duração de mínima de 02 (dois) anos”. A portaria deliberou

acerca de 12 (doze) eixos norteadores que deveriam ser contemplados pelas RMS,

dentre eles, destacam-se:

Ocupacional.

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I - cenários de educação em serviço representativos da realidade sócio-epidemiológica do País; II - concepção ampliada de saúde que respeite a diversidade, considere o sujeito enquanto ator social responsável por seu processo de vida, inserido num ambiente social, político e cultural [...] IV - abordagem pedagógica que considere os atores envolvidos como sujeitos do processo de ensino-aprendizagem-trabalho e protagonistas sociais [...] VII - integração de saberes e práticas que permitam construir competências compartilhadas para a consolidação da educação permanente, tendo em vista a necessidade de mudanças nos processos de formação, de trabalho e de gestão na saúde [...] XI - estabelecimento de sistema de avaliação formativa, com a participação dos diferentes atores envolvidos, visando o desenvolvimento de atitude crítica e reflexiva do profissional, com vistas à sua contribuição ao aperfeiçoamento do SUS; XII - integralidade que contemple todos os níveis da Atenção à Saúde e a Gestão do Sistema (BRASIL, 2009).

Através desses eixos, pode-se observar qual é o perfil desejado pelos

Ministérios da Educação e da Saúde para os programas de RMS que, de um modo

geral, devem sempre considerar a realidade local do SUS, metodologias que

priorizem uma formação diferenciada para o profissional de saúde e, em última

instância, atuação de acordo com princípios e diretrizes do sistema de saúde

partindo de um profissional mais critico e engajado num processo diferenciado do

cuidar em saúde (conforme exposto exaustivamente no capítulo que tratou desse

assunto).

A mesma portaria regula as atribuições da CNRMS como normativas e

deliberativas, responsáveis pelo credenciamento, aprovação e reconhecimento das

residências, analisar a aplicação das leis específicas a essa modalidade de ensino,

determinar as diretrizes gerais a serem seguidas pelos programas, entre outros

(BRASIL, 2009).

Outra normatização relevante para orientar a estrutura e funcionamento dos

programas de RMS foi a Resolução nº 03 de 04 de maio de 2010 da CNRMS pois

trata de pontos relativos à avaliação dos residentes, cumprimento de carga horária e

distribuição de carga horária teórica, teórico-prática e prática.

De acordo com essa resolução, os programas de residência devem ter, no

mínimo, 5.760 (cinco mil setecentas e sessenta) horas no total sendo 80% de

atividades práticas e 20% de atividades teóricas ou teórico-práticas. Para tal,

determinou as diferenças entre cada tipo de atividade no artigo 2º:

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§ 1º Atividades práticas são aquelas relacionadas ao treinamento em serviço para a prática profissional, de acordo com as especificidades das áreas de concentração e das áreas profissionais da saúde, obrigatoriamente sob supervisão de docente ou preceptor.§ 2º Atividades teóricas são aquelas cuja aprendizagem se desenvolve por meio de estudos individuais e em grupo, em que o Profissional da Saúde Residente conta, formalmente, com a orientação de docentes, preceptores ou convidados, visando à aquisição de conhecimentos teóricos e técnicos que possibilitem a elaboração de modelos teórico-práticos.§ 3º As atividades teórico-práticas são aquelas em que se faz a discussão sobre a aplicação do conteúdo teórico em situações práticas, com a orientação de docente, preceptor ou convidado, por meio de simulação em laboratórios e em ambientes virtuais de aprendizagem e análise de casos clínicos ou de ações de prática coletiva (BRASIL, 2010).

Essa resolução, ainda, tratando dos processos avaliativos, expôs que a

avaliação “deve ter caráter formativo e somativo”, com periodicidade semestral e

estar vinculada à submissão de monografia ou artigo científico, individual, “ao final

do treinamento”. Os programas de RMS devem dar conhecimento ao residente dos

critérios adotados para avaliação e dos resultados que obteve. Assim, condicionou a

aprovação do residente para o ano seguinte e para a obtenção do título ao

“cumprimento integral da carga horária prática [...] e mínimo de 85% da carga

horária teórica e teórico-prática” e aprovação nos critérios estabelecidos pela

Comissão de Residência Multiprofissional (COREMU)11.

Em seu penúltimo parágrafo, essa resolução definiu que todo o corpo

docente-assistencial, para realizar a supervisão do treinamento dos residentes,

deveria ter qualificação mínima de especialista na área profissional ou de

concentração do programa (BRASIL, 2010).

Por fim, a resolução determinou um prazo de 06 (seis) meses para

adequação das RMS às resoluções estabelecidas com exceção da qualificação do

corpo docente-assistencial, no qual o prazo foi de 02 (dois) anos a partir da

publicação (BRASIL, 2010).

A CNRMS aprovou em plenária um documento exposto no sitio eletrônico do

Ministério da Educação, sessão de Residência Multiprofissional, denominado

“Perguntas mais Frequentes”, com o objetivo de esclarecer dúvidas de diversas

ordens por parte do corpo discente e docente-assistencial dos programas. As

perguntas e respostas foram dispostas em quatro blocos, a saber: “Carga Horária”;

“Gestão Local”; “Conceitos”; e, “Legislação” (BRASIL, 2005-2011a). 11 Órgão decisório local dos programas de residência.

31

Page 32: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

Esse documento abrange questões relativas ao funcionamento dessas

residências, responsabilidades dos residentes, férias, acidentes de trabalho e, entre

outras, possibilidades de aportes teóricos e práticos à formação do residente como a

participação em congressos e seminários e o intercâmbio entre RMS. Dos assuntos

abordados, chama atenção a pergunta que se refere à “função docente assistencial”

e a resposta dada pela CNRMS: “A função docente assistencial é caracterizada pela

atuação integrada entre ensino e serviço” (BRASIL, 2005-2011a, p. 03).

Acreditou-se relevante, ainda, citar outro documento presente no sítio

eletrônico do Ministério da Educação acerca de um modelo de “Projeto de

Residência Integrada Multiprofissional em Saúde”12, utilizado para credenciamento

dos programas. Segundo esse documento, o projeto de uma RMS deve contemplar

quatro itens principais: “Identificação do Programa”; “Caracterização do Programa”;

“Projeto Político Pedagógico”; e “Processo Seletivo” (BRASIL, 2005-2011b).

No que tange à identificação do programa, para submissão do mesmo, é

necessário identificar a instituição formadora (universidade), a instituição executora

(onde serão desenvolvidas as práticas) e dados detalhados do coordenador do

programa, assim como nome e área de todo o corpo docente-assistencial, composto

por “preceptores/tutores/docentes” (BRASIL, 2005-2011b, p. 01).

A respeito da caracterização do programa, além da área de concentração,

das profissões contempladas e seu respectivo número de vagas anuais, é

necessário especificar a carga horário total e as cargas horárias prática e teórica

(BRASIL, 2005-2011b, p.02).

O Projeto Político Pedagógico foi o item mais extenso no documento e

solicitou detalhamento da relevância da RMS em relação à realidade local do SUS e

de suas políticas; de sua estrutura, organização e funcionamento; incluindo a matriz

curricular do programa e das áreas de concentração, a metodologia de avaliação

dos residentes e o perfil que o residente egresso deve ter; finalizando com um

modelo de “semana padrão” das atividades do residente (BRASIL, 2005-2011b, p.

05).

12 Essa denominação é a constante no referido documento. Por motivos explicitados em nota anterior, reitera-se a convenção de utilizar Residência(s) Multiprofissional(is) em Saúde (RMS) nesse trabalho.

32

Page 33: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

O quarto e último item abordou o processo seletivo nos aspectos relativos à

inscrição, perfil inicial dos candidatos, quais os documentos necessários para

ingresso e os critérios e etapas de seleção, incluindo prova, entrevista, análise de

currículo, entre outros (BRASIL, 2005-2011b, p. 05).

Finalizando o documento, a CNRMS disponibilizou dois anexos que

exemplificam a estrutura das RMS (Anexo A) e de “semana padrão” dos residentes

(Anexo B).

Para concluir esse capítulo, acreditou-se relevante tecer alguns comentários

acerca do tratamento oficial da temática das RMS. Nota-se uma preocupação

importante do governo federal em normatizar e regulamentar o funcionamento desse

tipo de curso de especialização em saúde. Isso pode ser devido à importância

atribuída à formação e qualificação do profissional de saúde para atuação no SUS,

como denotaram alguns dos autores citados: Pasini (2010), Shaedler (2010) e

Oliveira (2007), entre outros.

O financiamento proposto pelo Programa Nacional de Bolsas para Residência

Multiprofissional e em Área Profissional de Saúde (BRASIL, 2009), inclusive,

também foi considerado ao defender-se a importância atribuída às RMS. Em termos

de quantia investida, pode-se afirmar que é uma soma extremamente relevante.

Ao tratar apenas do investimento nos últimos dois anos, isso se torna um

montante incalculável tendo em vista que as bolsas são previstas para o corpo

docente-assistencial, além dos residentes; que o total de residentes pode ter

variado; que houve aumento do benefício percebido no início do ano de 2011 13; e,

entre outras coisas, que as parcerias estabelecidas com as Secretarias Estaduais e

Municipais podem ter ou não contrapartida financeira.

Outro aspecto relevante é o apresentado no documento “Relação de

Programas de Residência Multiprofissional e em Área Profissional de Saúde

Aguardando Avaliação pela CNRMS”, onde foram trazidas 155 (cento e cinquenta e

cinco) RMS de todo o país cadastradas no chamamento público realizado em 2008,

que alegaram que estariam em funcionamento no ano de 2010. Na divulgação desse

documento tais programas ainda seriam “avaliados para fins de autorização e

13 A mobilização dos residentes médicos no final do ano de 2010, cujo valor de bolsa foi vinculado aos residentes multiprofissionais pela citada lei nº 11.129 de 2005, concretizou aumento dos valores percebidos de R$ 1.916,45 (mil, novecentos e dezesseis reais e quarenta e cinco centavos) para R$ 2.338,06 (dois mil, trezentos e trinta e oito reais e seis centavos).

33

Page 34: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

reconhecimento” (BRASIL, 2008). Isso traduz o interesse nacional em participar

dessa política de formação de recursos humanos para o SUS, fortalecendo-a e, ao

mesmo tempo, demonstrando legitimidade e fidedignidade em todas as regiões

brasileiras.

34

Page 35: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

5. A TERAPIA OCUPACIONAL E AS RESIDÊNCIAS

MULTIPROFISSIONAIS

A Terapia Ocupacional no Brasil se estabeleceu como profissão de nível

superior em 1969 (BRASIL, 1969), recebendo reconhecimento de algumas de suas

práticas - como a atuação em saúde mental, por exemplo - e legalidade para ampliar

outras práticas. Atualmente, os terapeutas ocupacionais trabalham em todas as

fases da vida e em diversos âmbitos da vida humana, como saúde, trabalho,

educação, arte e cultura. Contudo, é inegável ser na área de saúde que seus

profissionais encontram-se plenamente estabelecidos.

Devido à amplitude de possibilidades do trabalho terapêutico ocupacional, de

um lado, e a dificuldade em obter reconhecimento político, econômico, científico e

social desses diversos trabalhos, de outro lado, são gerados intensos debates

internos nessa profissão. Galheigo (2008) discute, baseada em Bourdieu, que os

campos de atuação constituem um “espaço social” que dependem de capital

“econômico [...] cultural [...] social [...] e [...] simbólico” para serem legitimados

(BONNEWITS, 2003; ORTIZ, 2003, apud GALHEIGO, 2008, p. 22).

A autora denomina esses espaços como sendo campos “suficientemente

demarcados”, ou seja, apesar de terem várias nomenclaturas em nível nacional,

“apresentam coerência interna no que diz respeito à população atendida, às políticas

sociais a que se filiam e aos grupos profissionais com quem dialogam", apresentam

identidade própria e correspondência quanto à população a que se destinam, bem

como suas necessidades de atenção, sejam elas sociais ou de saúde. Para ela, em

Terapia Ocupacional, os campos que seriam suficientemente demarcados seriam

“Saúde Mental, Saúde e Trabalho, Gerontologia, Reabilitação da pessoa com

deficiência, e Terapia Ocupacional Social” (GALHEIGO, 2008, p. 21).

Nesse sentido, analisar a presença de terapeutas ocupacionais nas RMS tem

a função de averiguar quais são os campos em que essa profissão está presente

bem como as possibilidades de contribuição desses programas de residência à

demarcação de campos que não se encontram consolidados.

35

Page 36: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

Para essa discussão, esse capítulo utilizará principalmente o Relatório

encaminhado pelo Ministério da Educação (Anexo C) contendo informações acerca

das residências multiprofissionais com vagas para terapeutas ocupacionais14.

O Relatório do Ministério da Educação forneceu informações acerca da

Unidade da Federação na qual os programas são executados; a instituição de

ensino superior executora; tipo de programa; área de concentração e área do

conhecimento; e, total de residentes de Terapia Ocupacional. São 46 (quarenta e

seis) programas de residência ao todo que possuem 109 (cento e nove) terapeutas

ocupacionais.

A distribuição das RMS pelas unidades da federação é a que se observa, a

seguir:

Gráfico 1 – Estado de Origem das RMS com vagas para Terapeutas Ocupacionais

(SAES, 2012)

Nota-se que são 11 (onze) estados de 04 (quatro) regiões. Enquanto as

regiões Sul, Sudeste e Nordeste concentram 12 (doze), 15 (quinze) e 14 (catorze)

programas de RMS, respectivamente, a região Norte tem apenas 02 (dois) e a

região Centro-Oeste não possui nenhum cadastrado até 2011. E, a partir do

Relatório em questão, observa-se que somente 03 (três) programas não tiveram sua

origem identificada.

14 O referido documento foi encaminhado a partir de solicitação dessa autora no sítio eletrônico do Ministério, na sessão de CNRMS, no que foi prontamente atendida no mês de junho de 2011.

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Page 37: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

Isso pode ser devido ao fato das regiões mais citadas também comportarem a

maioria dos cursos de graduação em Terapia Ocupacional, tanto em universidades

públicas quanto privadas, ao passo que encontramos apenas 02 (duas) instituições

de ensino superior na região Centro-Oeste15 e 04 (quatro) na Norte16 que ofertam tal

curso.

No entanto, em relação à distribuição dos residentes por estado e região,

observa-se a seguinte disposição:

Gráfico 2 – Distribuição dos Terapeutas Ocupacionais por Estado

(SAES, 2012)

Percebe-se que, ao verificar o número absoluto de terapeutas ocupacionais

residentes, a tendência dos estados da região Nordeste é a mesma em relação à

origem dos programas, mas na região Sudeste e Sul isso se modifica. Apesar de

Minas Gerais e Rio de Janeiro sediarem, ambos, 05 (cinco) programas, na

quantidade de terapeutas o primeiro leva vantagem sobre o segundo, com 13 (treze)

e 05 (cinco) vagas, respectivamente.

Já na região Sul, houve inversão do gráfico uma vez que o Paraná sedia 05

(cinco) RMS mas tem 15 (quinze) residentes de Terapia Ocupacional, ao passo que

o Rio Grande do Sul sedia 07 (sete) programas mas possui 13 (treze) residentes. Ou

15 As instituições em questão são a Universidade de Brasília (Distrito Federal) e a Faculdade União de Goyazes (na cidade de Trindade, Goiás).

16 As instituições são Universidade da Amazônia e Escola Superior da Amazônia (privadas) e Universidade do Estado do Pará e Universidade Federal do Pará (públicas).

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Page 38: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

seja, o primeiro estado possui o triplo de terapeutas ocupacionais em relação ao

número de residências cadastradas e o outro estado tem menos que o dobro de

residentes em relação aos programas cadastrados junto ao Ministério da Educação.

Em ambos os gráficos o estado de São Paulo leva vantagem sobre os demais

por possuir o maior número de RMS e de terapeutas ocupacionais residentes. A

respeito das vagas cujo estado de origem não foi identificado a partir do Relatório

fornecido, pode-se notar que também são em número considerável (catorze).

Foi possível, ainda, analisar as informações referentes à Área de

Concentração das RMS (Tabela 1) e Área do Conhecimento (Gráfico 3).

Tabela 1 – Área de Concentração e Número de RMS e residentesÁrea de Concentração Residências Residentes

01 Saúde da Família 7 1902 Saúde Coletiva 1 203 Vigilância em Saúde 1 104 Saúde Mental 8 2505 Saúde Renal 2 406 Atenção Cardiovascular 3 707 Atuação em Terapia Intensiva 1 208 Atenção em Urgência/Emergência 1 309 Atenção em Oncologia 1 210 Onco-hematologia 2 411 Saúde do Adulto e do Idoso 4 912 Saúde do Idoso 3 713 Saúde do Adulto 2 414 Saúde da Criança e do Adolescente 2 415 Saúde da Criança 1 216 Saúde da Mulher 2 517 Saúde da Mulher e da Criança 2 318 Atenção Integral no Sistema Público de Saúde 3 6

(SAES, 2012)

Segundo o referido Relatório, são 18 (dezoito) áreas de concentração nas

quais se encaixam os 46 (quarenta e seis) programas de RMS e os 109 (cento e

nove) terapeutas ocupacionais residentes. É possível ressaltar que o maior número

de RMS (08) e de residentes (25) situam-se na área de concentração “Saúde

Mental”, podendo estabelecer um diálogo com Galheigo (2008) quando afirma que

esse é um dos campos “suficientemente demarcados” em Terapia Ocupacional.

Desse ponto de vista, não surpreende que os 02 (dois) únicos artigos

encontrados que são de autoria de residentes de Terapia Ocupacional (junto com

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Page 39: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

outros profissionais) situam-se exatamente em Saúde Mental. Enquanto Carneiro et.

al. (2010) escrevem sobre sua experiência de promover educação popular em

Saúde Mental a partir de sua inserção nos campos de residência, Alves, Casais e

Santos (2009) descrevem sua experiência nos serviços de Residência Terapêutica,

também a partir de sua inserção enquanto residentes de Saúde Mental.

A partir dos dados apresentados (Tabela 1) é possível atestar, ainda, que a

atuação do terapeuta ocupacional acontece junto a todas as faixas etárias e diversos

campos em saúde já que as residências se propõem a formar recursos humanos

para atuação no SUS. Desse modo, caso esses campos não estejam

“suficientemente demarcados” seja por falta de capital científico, simbólico ou

mesmo político, ter RMS qualificando esse profissional pode ser demasiado

importante para somar capital(is) e valorizar o trabalho de quem já executa tais

práticas, ao mesmo tempo em que pode exercer pressão positiva para que outros

terapeutas o façam.

Para expor as informações acerca da Área do Conhecimento a que estão

filiados os programas, acreditou-se relevante considerar somente a quantidade de

programas de RMS e não de residentes uma vez que isso pareceu mais coerente ao

analisar tal aspecto.

Gráfico 3 – Área do Conhecimento das RMS

(SAES, 2012)

39

Page 40: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

Antes de iniciar a análise dessas informações é necessário fazer ressalvas

com relação às classificações presentes no Relatório. O modo como foram

classificados os programas de residência relativos à área do conhecimento é

desconhecido e acredita-se que as próprias RMS, ao pleitearem credenciamento

junto ao Ministério da Educação, devem fazê-lo (conforme modelo de projeto de

RMS, apresentado anteriormente). Esse comentário é pertinente na medida em que

é possível perceber, por exemplo, que uma das residências cuja área de

concentração é Saúde Mental, entretanto, não considerou a mesma como área do

conhecimento – integrando a área de Atenção Básica/Saúde da Família e

Comunidade/Saúde Coletiva. Isso é importante porque os debates e análises que

serão feitos em relação aos dados obedecerá somente o que foi acessado no

Relatório, independente das disparidades que possam ser apontadas.

Assim sendo, registra-se o fato de que a maioria das residências está

localizada na Alta Complexidade (com 22 no total), seguidas pela Atenção Básica

(com 17). Isso vai ao encontro do apontado por autoras como Nascimento (2008) no

que se refere ao surgimento das residências médica e de enfermagem, que teriam

iniciado pautando as práticas hospitalares, cuja complexidade demandaria uma

formação complementar à da graduação. Dessa forma, a resposta a uma graduação

“genérica” em Terapia Ocupacional e/ou que fosse balizada pelos campos

“suficientemente demarcados” como Saúde Mental, Saúde da Pessoa com

Deficiência, Saúde e Trabalho, entre outros, seria a especialização em áreas que

demandam um conhecimento específico ao mesmo tempo em que ainda estão em

consolidação na profissão, como as práticas em contextos hospitalares.

Conforme também apontado por diversas autoras (LOBATO, 2010;

FERREIRA, 2007; OLIVEIRA, 2007), ademais, as RMS começam a ser financiadas

e, consequentemente, incentivadas no âmbito da Saúde da Família, o que também

explicaria a grande concentração de RMS encontradas nessa área do

conhecimento.

Por outro lado, somente a Saúde Mental poderia se configurar como um

campo “suficientemente demarcado” em Terapia Ocupacional, o que leva a supor

que, para ofertar vagas aos terapeutas ocupacionais na Alta Complexidade e na

Atenção Básica, outros aspectos foram pensados que não têm relação com aqueles

40

Page 41: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

definidos por Galheigo (2008) e refletiu-se sobre algumas hipóteses que justifiquem

tal fato.

A primeira hipótese estabeleceu um paralelo entre a distribuição dos cursos

de graduação em Terapia Ocupacional e a distribuição dos programas de RMS com

vagas para essa profissão, que se assemelham. Isso pode levar ao entendimento de

que os proponentes das RMS consideraram primeiramente a área em que esse

curso de especialização seria ofertado e, posteriormente, as profissões que

poderiam compor a equipe multiprofissional, possivelmente optando por abarcar a

Terapia Ocupacional por conhecer a profissão.

Outra hipótese acredita que os campos de atuação dos terapeutas

ocupacionais tiveram um avanço nos últimos anos no que tange à sua

“demarcação”, conferindo um “espaço social” a esse profissional e tornando-o peça

importante na composição da equipe multiprofissional. Um argumento que reitera

essa hipótese é o fato de que o corpo docente-assistencial da residência deve ter

integrantes de todas as profissões envolvidas, seja no sentido de compor a equipe

multiprofissional, seja para respaldar os conhecimentos específicos da profissão em

questão, logo, uma residência com vagas para terapeutas ocupacionais, deve ter

algum profissional dessa mesma categoria para atestar sua viabilidade.

Ao tentar atingir um dos objetivos inicialmente propostos a esse trabalho,

determinou-se uma interseção entre as práticas desenvolvidas em contexto

hospitalar17 e as áreas de concentração das RMS e averiguou-se a distribuição

apresentada abaixo:

17 Práticas Hospitalares ou Contextos Hospitalares é expressão utilizada para definir a atuação de terapeutas ocupacionais em “processos saúde-doença, principalmente aqueles ligados aos transtornos orgânicos, que requerem cuidados de clínica médica e cirúrgica” (GALHEIGO, 2008, p. 21) e abarcaram as áreas relativas ao Apoio Diagnóstico e Terapêutico/Especialidades Clínicas/Especialidades Cirúrgicas e Intensivismo/Urgência/Emergência.

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Page 42: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

Gráfico 4 – Área de concentração das RMS as partir das Práticas Hospitalares

(SAES, 2012)

A partir disso é relevante assegurar que, mesmo restringindo a análise

somente às praticas em contextos hospitalares, o terapeuta ocupacional continua

atuando em todos os segmentos populacionais. A distribuição praticamente

homogênea entre as áreas de concentração e a quantidade de programas de RMS

requer o estabelecimento de outras analogias.

Para esse debate, considerou-se o artigo de Galheigo (2007) que, ao

pesquisar obras entre 1990 e 2006 sobre a Terapia Ocupacional no campo das

práticas hospitalares, determinou cinco “domínios” aos quais essas obras

correspondem, a saber: “atenção à gestante, puérpera e neonato”; “atenção à

criança e ao adolescente em enfermarias pediátricas”; “atenção ao adulto e ao idoso

em hospital geral”; “atenção às pessoas com câncer e/ou HIV/AIDS”; e,

“fundamentos históricos, filosóficos, metodológicos”.

Entendeu-se que os “domínios” propostos para as produções até o ano de

2006 não são as mesmas “áreas de concentração” das RMS com Terapia

Ocupacional – o que pode significar que as práticas estão além das publicações e

divulgações científicas – porém, reitera-se a possibilidade de que sejam feitas

algumas aproximações como modo de dialogar com a referida autora.

Compreendeu-se que o último domínio proposto que trata dos fundamentos da

prática em contextos hospitalares, por definição, não se aplica às áreas de

concentração das residências e não foi contabilizado para efeitos de análise,

42

Page 43: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

restando os outros quatro domínios. Em paralelo a isso, também as áreas de

concentração das RMS que abrangem “Terapia Intensiva”; “Urgência e Emergência”

e “Atenção no Sistema Público de Saúde” foram descartadas para essa discussão.

Partindo do domínio que trata da “atenção à gestante, puérpera e neonato”,

observa-se de início uma diferenciação entre o que foi encontrado pela autora e as

práticas desenvolvidas pelas residências uma vez que, mesmo que as RMS cujas

áreas de concentração sejam “Saúde da Mulher” e “Saúde da Criança” abordem os

processos de parto e nascimento, por apresentarem-se separadas, diferenciariam os

enfoques dado pelo meio científico. Além disso, acredita-se que por ser denominada

“Saúde da Criança”, essa área é mais abrangente do que restrita ao neonato. Desse

ponto de vista, enquanto Galheigo (2007) encontra aproximadamente 19,75%18 das

obras nesse domínio, nenhuma prática, do modo como exposta no Relatório, pode

ser considerada.

Cabe lembrar que um dos programas cuja área de concentração é “Saúde

Materno Infantil” e poderia ser encaixado no mesmo domínio proposto pela autora,

por ter sido apresentado no Relatório como pertencente à Atenção Básica, não pode

ser considerado nessa análise, conforme explicitado acima.

Já em relação ao domínio “atenção à criança e ao adolescente em enfermaria

pediátrica”, que corresponde à aproximadamente 29,62% dos achados de Galheigo

(2007), excetuando-se o fato de que os cenários de prática não foram contemplados

no Relatório do Ministério, pode-se afirmar que corresponderia a aproximadamente

10% das RMS em contextos hospitalares.

Sobre a “atenção ao adulto e ao idoso em hospital geral”, Galheigo encontrou

cerca de 30,86% dos trabalhos enquanto que, comparando-se às áreas das

residências, se forem incluídas as áreas com grande probabilidade de serem

praticadas no hospital geral, “Saúde Renal”, “Cardiovascular” e “Saúde da Mulher”,

têm-se mais da metade dessas práticas (aproximadamente 76,47%). Considerando-

se que “Saúde da Mulher” pode estar associada à área de “Oncologia”, ainda assim

seriam aproximadamente 64,70%.

Em relação ao último domínio proposto pela autora, “Atenção às pessoas com

câncer e/ou HIV/AIDS", que perfaz cerca de 20% dos estudos selecionados, no que

18 Cálculo realizado por essa autora para fins de comparação.

43

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diz respeito às áreas de concentração que abarcam, incluindo novamente “Saúde da

Mulher”, e abrindo exceção ao fato de não haver nenhum programa de residência

que abranja a atenção a pessoas com HIV/AIDS, têm-se aproximadamente 23,52%

das RMS.

Desse modo, partindo das oportunidades de comparação e análise do

Relatório do Ministério da Educação sobre as RMS com Terapia Ocupacional e os

trabalhos encontrados por Galheigo (2007), é possível asseverar uma importante

diferença entre o que foi produzido cientificamente entre 1990 e 2006 e o que está

sendo praticado pelos terapeutas ocupacionais e proposto como áreas de

formação/qualificação para atuação no Sistema Único de Saúde, via política pública

de Residência Multiprofissional em Saúde.

Isso pode acontecer devido à limitação do estudo (GALHEIGO, 2007) de não

ter alcançado possíveis mudanças nos últimos cinco anos nas produções científicas

em Terapia Ocupacional, incluindo as práticas em contextos hospitalares, que

podem ter atualmente uma característica mais abrangente, como o que foi defendido

por Saes e Fúlfaro (2012) em relação à atuação em cuidados paliativos.

Outra possibilidade teria relação com as diferenças estabelecidas entre a

atuação prática e a científica/acadêmica em Terapia Ocupacional, fazendo que as

publicações não correspondam às práticas desenvolvidas e nem aos campos que,

mesmo que insuficientemente demarcados, começam a assegurar atuação desse

profissional. Entretanto, essa hipótese somente pode ser considerada se as áreas

de concentração das RMS com Terapia Ocupacional forem tomadas como

fidedignas à atuação dos trabalhadores dessa categoria, para além dos programas

de residência.

Em contrapartida a isso, se a tese verdadeira for a inversa, ou seja, de que as

produções científicas localizadas pela autora é que correspondem à atuação

profissional do terapeuta ocupacional, tem-se que as RMS localizam-se em áreas

onde essa prática é restrita ou de pouco significado interno para essa profissão,

razão pelo qual não teria capital simbólico, cultural, político, entre outros, para

publicações científicas.

Se assim fosse, poderiam ser levantados dois lados dessa situação. O

primeiro pode ser definido como negativo na medida em que todo o investimento

44

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público realizado não estaria destinado às áreas de interesse e/ou consolidadas

pelos profissionais terapeutas ocupacionais. Isso poderia significar, por exemplo,

que mesmo com uma qualificação bastante diferenciada, após a residência, esse

trabalhador não seria absorvido para atuar na área onde é especialista mas em

outras áreas, que podem ou não incluir o SUS como cenário. E, novamente, o

objetivo dos programas de residência, formar recursos humanos para o SUS, não

estaria sendo atingido.

Se esse fosse o diagnóstico, caberiam mais estudos de modo a avaliar a real

absorção do terapeuta ocupacional pelo SUS e na área de sua especialidade,

buscando também motivos pelos quais isso não aconteceria, a fim de direcionar a

abertura de vagas nas RMS para áreas onde esse profissional possa ser

aproveitado e, consequentemente, contribuir.

Porém, há outro lado dessa discrepância que pode ser considerado positivo

mesmo se for confirmado que as áreas em que são ofertadas vagas para Terapia

Ocupacional não estão consolidadas e/ou pertencem aos campos que não estão

“suficientemente demarcados”. Isso poderia acontecer no limite em que a política

pública de formação para atuação no SUS, que embasa as propostas de RMS,

demonstra força o suficiente, como analisado acima, para imprimir capital simbólico,

cultural e científico, e sobretudo político, à legitimação de determinada área/campo

da Terapia Ocupacional, contribuindo para sua demarcação e posterior

estabelecimento como prática do terapeuta ocupacional (especialmente) no SUS.

Aqui, não somente os objetivos dos programas de residência teriam sido cumpridos,

como iriam além, contribuindo com os cursos de graduação e com a própria Terapia

Ocupacional, uma das hipóteses que motivou o presente estudo.

De um jeito ou de outro, seriam necessários outros estudos que

aprofundassem a discussão a respeito das produções científicas versus as áreas de

conhecimento das RMS versus os campos de atuação do terapeuta ocupacional

(especialmente no SUS) com o intuito de verificar discrepâncias, trocas e

contribuições possíveis.

45

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6. A TERAPIA OCUPACIONAL NO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM

SAÚDE MATERNO INFANTIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA:

algumas considerações

O Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Materno Infantil da

Universidade Federal da Bahia teve inicio com a primeira turma em abril de 201019,

tendo como campo de prática a Maternidade Climério de Oliveira, da mesma

Universidade, e a Unidade Básica de Saúde Prof. Mário Andrea. Iniciou oferecendo

06 (seis) vagas para profissionais formados em Enfermagem, e 03 (três) vagas para

profissionais formados em Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição,

Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional, totalizando 27 (vinte e sete) vagas

a 08 (oito) profissões de saúde. A segunda turma do programa começou em março

de 2011 e contou com 01 (uma) vaga para cada uma das profissões descritas.

No que diz respeito à Terapia Ocupacional, conforme explicitado

anteriormente (Tabela 1), existe somente outra residência no Brasil que abarca a

área de Saúde da Mulher e da Criança, fazendo que com que esse programa de

residência seja uma iniciativa de extrema relevância.

Durante a atuação como residente de Terapia Ocupacional na Residência em

Saúde Materno Infantil, cuja maior experiência deu-se no âmbito das práticas em

contextos hospitalares, vivenciou-se o que Galheigo (2008) relata a respeito da

necessidade de demarcação desse campo de atuação. Isso porque foram

encontradas dificuldades de diversas ordens que vão desde o entendimento por

parte da equipe multiprofissional do papel que o terapeuta ocupacional tem ao

participar de sua composição, até dificuldades de respaldo teórico/científico para

auxiliar a prática das residentes.

Apesar de relatar essas dificuldades, foi possível observar que muitas delas

podem se relacionar a aspectos subjetivos dos profissionais da equipe e dos

terapeutas e, logo, puderam ser resolvidos no cotidiano do trabalho como, por

exemplo, o estabelecimento dos locais e atuações da Terapia Ocupacional nos

diversos âmbitos da atenção materno-infantil; o papel desse profissional na equipe

19 Da qual fez parte a autora desse trabalho e que está em finalização.

46

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multiprofissional; as especificidades do atendimento terapêutico ocupacional em

casos de risco social e vulnerabilidades das pessoas assistidas, entre outros.

Todavia, algumas dificuldades sentidas dizem respeito a aspectos mais

amplos como os “capitais” apontados por Galheigo (2008) e esses são pouco

influenciados pelo cotidiano dos serviços nos campos em consolidação. Nesse

sentido, a escassez de material científico para consulta, por exemplo, depende de

investimentos de outras ordens (econômicas, políticas, culturais), nas quais se

acredita que programas de RMS podem influenciar, conforme suscitado no capítulo

anterior.

Dessa forma, ao abordar brevemente o programa de residência em questão,

acreditou-se ter sido extremamente relevante o oferecimento de vagas para Terapia

Ocupacional como modo de iniciar ordenadamente a formação/qualificação desses

profissionais para atuarem nessa área de concentração.

Em primeira instância, os residentes puderam compreender através de uma

inserção privilegiada em vários setores da Maternidade e na Unidade Básica de

Saúde, como é o cotidiano desses serviços principalmente no que tange à

organização, funcionamento e população atendida. Além disso, observando que

ambos os cenários de prática pertencem à rede pública e ao SUS, a atuação dos

residentes terapeutas ocupacionais (inseridos na equipe multiprofissional) voltou-se

completamente ao sistema, propiciando uma compreensão prática de princípios,

diretrizes e conceitos como equidade, universalidade, integralidade, rede sócio-

assistencial, referência e contra-referência, hierarquização, entre outros. O

conhecimento agregado por esses profissionais em formação abrangeu também

extenso conhecimento das políticas públicas de saúde que dizem respeito à linha do

cuidado materno-infantil.

Assim sendo, se o programa de residência contribui com a formação de

terapeutas ocupacionais para o SUS (no SUS e a partir dele), gerando uma

motivação de que esses profissionais qualificados retribuam posteriormente ao

trabalharem pela consolidação do próprio sistema através de sua atuação como

trabalhador qualificado; a representação política e o investimento econômico nessa

RMS também fortalecem esse campo de atuação da Terapia Ocupacional,

respaldando práticas que acontecem em todo o país.

47

Page 48: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há que se desvelar um projeto de educação para fazer frente [...] [àqueles projetos] que pautam a escolarização na conservação do existente, no momento atual caracterizado pela alienação, pelo individualismo, e pelo crescente embrutecimento das relações sociais. Ao mesmo tempo, há que se implementar projetos de educação para a emancipação (PEREIRA, 2008, p. 418).

A formação de recursos humanos para a saúde começou a ser pensada de

modo mais organizado a partir da criação do Sistema Único de Saúde que,

objetivando alterar o paradigma do cuidado em saúde e também do trabalho

propriamente dito, passou a considerar condição sine qua non investir na educação

do trabalhador em saúde. Entendeu-se que não se podiam transformar práticas que

estavam sendo feitas há anos sem modificar o modo como esses profissionais eram

formados.

Em outras palavras, modificar toda a saúde, organizá-la em um sistema único

bem estruturado e planejado, visando modificar também o paradigma norteador da

prática, não teria sentido nem muito menos eficácia se os trabalhadores que fazem

com que a saúde aconteça continuassem a ser formados a partir de modelos

proscritos e anacrônicos.

Foram propostas, então, alterações nos diversos níveis de escolaridade que

educam trabalhadores em saúde (técnico, graduação, pós-graduação) visando

modificar a postura dos trabalhadores que viriam a ser formados e contribuir para

qualificar aqueles que já estavam formados e/ou atuando no SUS. É nesse contexto

que se inscreve a política de Programas de Residência Multiprofissional em Saúde.

Os autores consultados que debateram a formação de recursos humanos em

saúde, em especial aqueles que trataram das RMS, partiram da premissa de que

não há satisfação com o modelo atual da graduação dos profissionais em saúde (ou

formação hegemônica) no sentido de não se direcionarem para o SUS. Mesmo sem

debater isso de modo mais extenso, fizeram suas pesquisas a partir de propostas de

mudanças e transformações e/ou buscaram avaliar modelos novos implementados,

bem como seus avanços, localizando os limites desses programas de RMS e,

sobretudo, suas potencialidades.

48

Page 49: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

Esses autores concordaram que as metodologias utilizadas, a inserção dos

profissionais no campo de modo protegido (como estudantes de pós-graduação), os

subsídios dados à formação política dos residentes, intercedem de modo positivo na

qualificação desses trabalhadores especificamente para o SUS e,

consequentemente, para contribuírem com sua consolidação.

Por sua vez, demonstrado a partir da análise de documentos oficiais e do

investimento realizado sob a forma de financiamento de bolsas aos residentes e ao

corpo docente-assistencial, as RMS apresentam-se como uma política bem

estruturada e respaldada oficialmente, além de estarem espalhadas por todo

território nacional, demonstrando novamente sua relevância.

A interseção dialética entre o que representam as RMS para a consolidação

do SUS e qualificação de seus profissionais, e entre a Terapia Ocupacional e seus

campos de atuação na saúde evidenciou-se igualmente importante. Ao primeiro

olhar, destaca-se o fato de que essa profissão é uma das catorze que integram as

profissões de saúde e, desse modo, também deve ser alvo das políticas de

formação de recursos humanos para o SUS, auxiliando na construção desse

sistema, objetivo que se acredita estar sendo alcançado pelas residências.

Em outro aspecto, também a força dessa política parece contribuir com a

Terapia Ocupacional na medida em que vai além dos campos suficientemente

demarcados, podendo contribuir com capital simbólico, econômico, político, cultural

e científico para demarcação de outros campos e práticas, como o caso das práticas

em contextos hospitalares que se encontram abarcadas pelas RMS com vagas a

terapeutas ocupacionais.

De uma forma ou de outra, esse estudo aponta a necessidade de outros

trabalhos para aprofundarem a discussão a respeito das produções científicas

versus as áreas de concentração das RMS versus os campos de atuação do

terapeuta ocupacional (especialmente no SUS) com o intuito de verificar

discrepâncias, trocas e contribuições possíveis.

Outros apontamentos vão ao sentido de pesquisar as inserções posteriores

dos residentes egressos para conhecer, entre outras coisas, a prática que

desenvolvem e os conceitos e compreensões que balizam seu trabalho, procurando

49

Page 50: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

estabelecer nexos com sua formação/qualificação a partir da residência

multiprofissional em saúde.

50

Page 51: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

8. REFERÊNCIAS

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51

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53

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54

Page 55: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

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SCHAEDLER, L. I. Por um Plano Estético da Avaliação nas Residências Multiprofissionais: construindo abordagens avaliativas SUS-implicadas. (Tese). 2010. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educação. 165 p.

55

Page 56: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

9. ANEXOS

A. Modelo de Estrutura dos Programas de Residência Multiprofissional

(BRASIL, 2005-2011b, p. 06).

56

Page 57: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

B. Exemplo de Semana Padrão

(BRASIL, 2005-2011b, p. 07).

57

Page 58: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

C. Relatório do MEC sobre as Residências com Terapia Ocupacional20

NºNome do Programa

IES Formadora UFIES

ExecutorasTipo de

ProgramaNome Área

ConcentraçãoNome Área de Conhecimento

ProfissãoTotal de

Residentes em TO

1Residência Multiprofissional em Saúde da Família

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE ALAGOAS - UNCISAL

AL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CIENCIAS DA SAUDE DE ALAGOAS - UNCISAL

Multiprofissional Saúde da Família

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

2

2

Residência Multiprofissional em Saúde Materno-infantil

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

BAUNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

MultiprofissionalAtenção à Saúde da Mulher e da Criança

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

2

3

Curso de Especialização sob a forma de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva com Área de Concentração em Saúde Mental

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

BAUNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

MultiprofissionalAtenção à Saúde Mental

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

3

4Residência Multiprofissional em Saúde da Família

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO VALE DO ACARAÚ

CESOBRAL PREFEITURA

Saúde da Família

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

3

5

Residência Integrada Multiprofissional em Atenção Hospitalar a Saúde: Saúde Mental

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CEUNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARA

MultiprofissionalAtenção à Saúde Mental

Saúde MentalTerapia Ocupacional

1

20 As alterações feitas no conteúdo enviado somente dizem respeito à formatação do mesmo tendo em vista ter sido outra extensão de arquivo.

58

Page 59: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

NºNome do Programa

IES Formadora UFIES

ExecutorasTipo de

ProgramaNome Área

ConcentraçãoNome Área de Conhecimento

ProfissãoTotal de

Residentes em TO

6

Residência Integrada Multiprofissional em Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

MA

FUNDACAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHAO

MultiprofissionalAtenção à Saúde Renal

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

2

7

Residência Integrada Multiprofissional em Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

MA

FUNDACAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHAO

MultiprofissionalAtenção Cardiovascular

Intensivismo / Urgência/Emergência

Terapia Ocupacional

2

8

Residência Integrada Multiprofissional em Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

MA

FUNDACAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHAO

MultiprofissionalAtenção em Terapia Intensiva

Intensivismo / Urgência/Emergência

Terapia Ocupacional

2

9

Residência Integrada Multiprofissional em Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

MA

FUNDACAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHAO

MultiprofissionalSaúde do Adulto e Idoso

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

2

10

Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde do Hospital das Clinicas da Universidade Federal de Minas Gerais

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

MGUNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

MultiprofissionalAtenção à Saúde do Idoso

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

2

59

Page 60: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

NºNome do Programa

IES Formadora

UFIES

ExecutorasTipo de

ProgramaNome Área

ConcentraçãoNome Área de Conhecimento

ProfissãoTotal de

Residentes em TO

16

Programa de Residência Multiprofissional em Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PAUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA

MultiprofissionalAtenção em Oncologia

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

2

17

Residencia Multiprofissional Integrada em Saúde da Família - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

PE

FUNDACAO UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

Saúde da Família

Saúde da Família

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

3

18Residência Integrada Multiprofissional em Atenção Hospitalar

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PRUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA

MultiprofissionalAtenção à Saúde da mulher

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

3

19Residência Integrada Multiprofissional em Atenção Hospitalar

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PRUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA

MultiprofissionalAtenção Cardiovascular

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

3

20Residência Integrada Multiprofissional em Atenção Hospitalar

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PRUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA

MultiprofissionalAtenção em Urgência e Emergência

Intensivismo / Urgência/Emergência

Terapia Ocupacional

3

21Residência Integrada Multiprofissional em Atenção Hospitalar

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PRUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA

Multiprofissional Onco-hematologia

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

3

60

Page 61: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

NºNome do Programa

IES Formadora

UFIES

ExecutorasTipo de

ProgramaNome Área

ConcentraçãoNome Área de Conhecimento

ProfissãoTotal de

Residentes em TO

22Residência Integrada Multiprofissional em Atenção Hospitalar

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PRUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA

MultiprofissionalSaúde do Adulto e Idoso

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

3

23

Residência Multiprofissional em Saúde da Criança e do Adolescente Cronicamente Adoecidos

FUNDACAO OSWALDO CRUZ

RJFUNDACAO OSWALDO CRUZ

MultiprofissionalSaúde da Criança e do Adolescente

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

1

24

Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Gestão e Atenção Hospitalar no Sistema Público de Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

RSUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

MultiprofissionalAtenção à Saúde da Mulher e da Criança

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

1

25

Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Gestão e Atenção Hospitalar no Sistema Público de Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

RSUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

MultiprofissionalAtenção à Saúde Mental

Saúde MentalTerapia Ocupacional

1

26

Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Gestão e Atenção Hospitalar no Sistema Público de Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

RSUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

Multiprofissional Onco-hematologia

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

1

61

Page 62: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

Nº Nome do ProgramaIES

FormadoraUF

IES Executoras

Tipo de Programa

Nome Área Concentração

Nome Área de Conhecimento

ProfissãoTotal de

Residentes em TO

27

Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Gestão e Atenção Hospitalar no Sistema Público de Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

RSUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

Multiprofissional

Saúde do Adulto com Ênfase em Doenças Crônico Degenerativas

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

1

28

Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Sistema Público de Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

RSUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

Multiprofissional Saúde da Família

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

1

29

Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Sistema Público de Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

RSUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

MultiprofissionalVigilância em Saúde

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

1

30

RESIDÊNCIA INTEGRADA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE MENTAL COLETIVA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

RS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

MultiprofissionalAtenção à Saúde Mental

Saúde MentalTerapia Ocupacional

5

31Residência em Terapia Ocupacional: Contextos Hospitalares

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

SP

SOCIEDADE CAMPINEIRA DE EDUCACAO E INSTRUCAO

Em Área Profissional da Saúde

Saúde do Adulto e Idoso

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

2

32ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

SP

HOSPITAL DAS CLINICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RPUSP

MultiprofissionalAtenção Integral no Sistema Público de Saúde

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

1

62

Page 63: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

NºNome do Programa

IES Formadora

UF IES ExecutorasTipo de

ProgramaNome Área

ConcentraçãoNome Área de Conhecimento

ProfissãoTotal de

Residentes em TO

33ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

SP

HOSPITAL DAS CLINICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RPUSP

MultiprofissionalAtenção Integral no Sistema Público de Saúde

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade

Terapia Ocupacional

1

34

Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

SP Multiprofissional Saúde da Família

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

5

35

Residência Multiprofissional Integrada em Atenção Hospitalar

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

SP

SPDM - ASSOCIACAO PAULISTA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA

MultiprofissionalAtenção à Saúde da Criança

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

2

36

Residência Multiprofissional Integrada em Atenção Hospitalar

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

SP

SPDM - ASSOCIACAO PAULISTA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA

MultiprofissionalSaúde do Adulto e Idoso

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

2

37

Programa Residência Multiprofissional em Atenção à Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

SP

SECRETARIA MUNICIPAL DE SAUDE, IRMANDADE DA SANTA CASA DE MISERICORDIA DE SANTOS

Multiprofissional Saúde Coletiva

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

2

38 Saúde MentalUNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

SP

SPDM - ASSOCIACAO PAULISTA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA

MultiprofissionalAtenção à Saúde Mental

Saúde MentalTerapia Ocupacional

2

63

Page 64: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

NºNome do Programa

IES Formadora

UFIES

ExecutorasTipo de

ProgramaNome Área

ConcentraçãoNome Área de Conhecimento

ProfissãoTotal de

Residentes em TO

39

Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do Hospital das Clínicas da UFPE

Sem vínculo com a instituição formadora

PEPERNAMBUCO SECRETARIA DE SAUDE

MultiprofissionalAtenção à Saúde da mulher

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

2

40

Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do Hospital das Clínicas da UFPE

Sem vínculo com a instituição formadora

PEPERNAMBUCO SECRETARIA DE SAUDE

MultiprofissionalAtenção à Saúde Renal

Apoio Diagnóstico e Terapêutico / Especialidades Clínicas / Especialidades Cirúrgicas

Terapia Ocupacional

2

41

Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da UFPE ( PREMUSF/UFPE)

Sem vínculo com a instituição formadora

PEPERNAMBUCO SECRETARIA DE SAUDE

Multiprofissional Saúde da Família

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

1

42

Residência Multiprofissional em Saúde Mental - Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco

Sem vínculo com a instituição formadora

PEPERNAMBUCO SECRETARIA DE SAUDE

MultiprofissionalAtenção à Saúde Mental

Saúde MentalTerapia Ocupacional

3

43Residência Integrada em Saúde - Saúde Mental Coletiva

Sem vínculo com a instituição formadora

SECRETARIA DA SAUDE

MultiprofissionalAtenção à Saúde Mental

Saúde MentalTerapia Ocupacional

6

44residencia multiprofissional em saude mental

Sem vínculo com a instituição formadora

INSTITUTO PHILIPE PINEL SMS/RJ

MultiprofissionalAtenção à Saúde Mental

Saúde MentalTerapia Ocupacional

4

64

Page 65: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

NºNome do Programa

IES Formadora

UFIES

ExecutorasTipo de

ProgramaNome Área

ConcentraçãoNome Área de Conhecimento

ProfissãoTotal de

Residentes em TO

45

Residencia Multiprofissional em Saúde de Familia e Comunidade

Sem vínculo com a instituição formadora

MultiprofissionalAtenção Integral no Sistema Público de Saúde

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

4

46

Residencia Multiprofissional em Saúde de Familia e Comunidade

Sem vínculo com a instituição formadora

Multiprofissional Saúde da Família

Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade / Saúde Coletiva

Terapia Ocupacional

4

65

Page 66: SAES, D. L. As Residencias Multiprofissionais em Saude na Formação do TO para SUS_2012

10. LICENÇA DA OBRA

O trabalho “AS RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE NA

FORMAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL PARA O SUS” de SAES, Débora

Lacerda foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 3.0 Não

Adaptada.

<a rel="license"

href="http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/deed.pt"><img alt="Licença

Creative Commons" style="border-width:0"

src="http://i.creativecommons.org/l/by/3.0/88x31.png" /></a><br />O trabalho <span

xmlns:dct="http://purl.org/dc/terms/" href="http://purl.org/dc/dcmitype/Text"

property="dct:title" rel="dct:type">AS RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM

SAÚDE NA FORMAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL PARA O SUS</span>

de <span xmlns:cc="http://creativecommons.org/ns#"

property="cc:attributionName">SAES, Débora Lacerda</span> foi licenciado com

uma Licença <a rel="license"

href="http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/deed.pt">Creative Commons -

Atribuição 3.0 Não Adaptada</a>.

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