saberes que se cruzam na formação de mulheres rurais

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Saberes que se cruzam na Formação de Mulheres Rura is Edição Especial - ANO I - N º 01 - Janeiro/2015 PROJETO DE CAPACITAÇÃO Formação, dialogo e autonomia MULHERES E AS POLÍTICAS PÚBLICAS Quais políticas públicas as mulheres podem acessar?

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Revista que culmina as atividades do Projeto de Capacitação e Formação de Mulheres Assentadas e Acampadas na Bahia.

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Saberes que se cruzam na Formação de

Mulheres Rurais

Edição Especial - ANO I - N º 01 - Janeiro/2015

PROJETO DE CAPACITAÇÃOFormação, dialogo e autonomia

MULHERES E AS POLÍTICAS PÚBLICASQuais políticas públicas as mulheres podem

acessar?

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SumárioSaberes que se cruzam na Formação de

Mulheres Rurais

Comissão Editorial

MARIA ROSA C. OLIVEIRA / MARIA DO CARMO CONCEIÇÃO SANTOS / WESLEY OLIVEIRA LIMA / SELMA PEREIRA GOMES SOUZA

Revisão

MARIA ROSA C. OLIVEIRA

Produção de Conteúdo

MARIA ROSA C. OLIVEIRA / MARIA DO CARMO CONCEIÇÃO SANTOS / WESLEY LIMA / SELMA PEREIRA GOMES SOUZA

Diagramação

WESLEY OLIVEIRA LIMACoordenação Geral

MARIA ROSA C. OLIVEIRA / ELIZABETH ROCHA SOUSA

Formadores

ALEXANDRA ESPERINA DOS SANTOS / MARIA DOS SANTOS UMBELINA / LUCINÉIA DURÃES DO ROSÁRIO / MARIA DO CARMO CONCEIÇÃO SANTOS / DOMINGAS FARIAS DOS SANTOS / MARIZA DA SILVA BATISTA / SELMA PEREIRA GOMES SOUZA

EDITORIAL 04

UM BRASIL MAIS JUSTO COM AS MULHERES

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DEPOIMENTOS 08

A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA

TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

MULHERES DO MST CRIAM NOVAS RELAÇÕES DE GÊNERO

10AS POLÍTICAS PÚBLICAS E

AS MULHERES RURAIS

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BRINCANDO DE CIRANDA

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UMA PROPOSTA EM MOVIMENTO

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Mulheres do Núcleo de Formação Santa Brígida 02 Assentamento Nova Vida - Santa Luz (Bahia)

Editorial

Plantando saberes e colhendo Mudanças

A mulher em sua trajetória histórica foi marcada pelas constantes lutas por direitos sociais e pelo combate a todo tipo de violência que reprime e a condiciona a um espaço sem legitimação política. A Trabalhadora Rural dentro deste contexto está margem de qualquer desenvolvimento social e político, aprisionada nos padrões machistas herdados do modelo patriarcal. Sua legitimação resume-se aos espaços

domésticos, servindo a família e principalmente aos interesses de seu conjugue. Seexistemdoiscamposemquestão,éprecisounificarasbandeiras feministaseperceberosdiversos espaços sociais que aprisionam a mulher, dando lhe autonomia para construir sua própria história. Com o título “Saberes que se Cruzam na Formação de Mulheres Rurais” está revista é resultado do Projeto de Capacitação de Mulheres Assentadas e Acampadas do Estado da Bahia para o Acesso a Políticas Públicas realizado com mulheres ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). OProjetofoiconstruídopelaseparamulherestendocomofinalidadeocuparasáreasdeReformaAgrárialevandooficinasquediscutamahistóriaearealidadevividapelastrabalhadorasrurais,assimcomo, a construção de sua autonomia através do acesso as diversas políticas públicas do estado. Nesta revista você ficará a par das principais discussões e conhecerá mais de perto ahistória destas mulheres guerreiras que aliam a luta pela terra à construção de sua autonomia. Conhecerá a organização, a gestão do projeto de Capacitação, um pouco de nossas canções e a simbologia das cirandas para o MST. Compreendemos que a pluralidade cultural disseminada nos territórios baianos provam mais uma vez que o campo em sua totalidade é um espaço de desenvolvimento. O povo Sem Terra protagoniza a gestão agrícola brasileiro e as mulheres são de fundamental importância para a consolidação de um projeto político igualitário.

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Uma proposta em Movimento

O projeto de C a p a c i t a ç ã o de Mulheres Assentadas e Acampadas no Estado da Bahia

para o acesso a Politicas Publicas foi desenvolvido de forma participativa, com a atuação de agentes multiplicadores nas ações que possibilitaram após 17 oficinas temáticas, trocaremsaberes, experiências e construir linhas de atuação que visam a organização das Mulheres Sem Terra. Com o objetivo de desenvolver atividades que contribuam na construção da autonomia econômica das mulheres agricultoras assentadas e acampadas através de estímulos e que garanta a sua participação no processo produtivo, o projeto mobilizou mais 500 trabalhadoras rurais em toda Bahia.

Além disso, conseguiu compartilhar os saberes sobre o acesso as políticas públicas e demais intervenções direcionadas a agricultoras familiares do programa de Reforma Agrária, contribuindo na busca da autonomia econômica, financeira e deidentidade social das mulheres assentadas e acampadas. De acordo com a coordenação do projeto, foi possívelintensificaraformaçãode uma nova consciência

sobre as relações de gênero no campo e discutir amplamente os direitos das trabalhadoras, observando a perspectiva de gênero, raça/etnia, geração e orientação sexual. Pensando nestas questões, o processo teve inicio através dos espaços de formação continuada visando o desenvolvimento das potencialidades e habilidades das agricultoras, pressupondo a organização e a condução de empreendimentos associativos de produção e gestão feminina. O projeto foi coordenado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e conseguiu atingir 18 territórios de identidade, sendo eles: Vitoria da Conquista, Itapetinga, Médio Sudoeste, Litoral Sul, Baixo Sul, Médio Rio de Contas, Extremo Sul, Costa do Descobrimento, Sertão do São Francisco, Semiárido Nordeste II, Metropolitana, Portal do

“Com o objetivo de desenvolver atividades

que contribuam na construção da autonomia

das mulheres (...) o projeto mobilizou mais

500 trabalhadoras rurais”

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Sertão, Piemonte, Paraguaçu ,Chapada Diamantina. A metodologia utilizada constituiu na formação de 17 núcleos, a partir das regionais/territórios de atuação do MST. Cada núcleo teve entre 20 a 30 mulheres da mesma região, considerando a proximidade geográfica e asquestões produtivas, sociais e econômicas semelhantes. Após participarem dos processos de capacitação se constituíram como núcleos de multiplicação. Após a etapa das capacitações, as lideranças já formadas mais 50 mulheres mobilizadas durante o processo, participaram do

Seminário de Integração, Culminância e Avaliação, onde foram discutidos temas centrais como a Conjuntura e o Avanço nos Direitos das Mulheres, as Políticas Publicas, além de uma avaliação do processo e a construção de uma plataforma com ações para o próximo período. Para o desenvolvimento das atividades (oficinase seminário) contamos também com a colaboração de educadoras infantis que desenvolveram atividades lúdicas educativas com as crianças entre dois e seis anos de idade. A proposta contou com a

atuação de duas coordenadoras, representantes do MST, além de colaboradores locais e institucionais como a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Pastoral da Mulher - Juazeiro, Centro de Referência Albertina Vasconcelos em Vitoria da Conquista, Consulta Popular, Marcha Mundial Mulheres (MMM) e o Setor de Gênero do MST. O projeto é uma iniciativa do MST em parceria com a SPM, Companhia de Ação Regional (CAR) e a Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico,Econômico, Sociocultural e Ambiental (Fundesf).

“O projeto é uma iniciativa do MST em parceria com a SPM, Companhia de Ação Regional (CAR) e a

Fundesf”

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QUADRO DE LOCALIZAÇÃO DOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO

Formadora/o Responsável

Região Sede Território Famílias Assentadas

Mulheres Assentamentos/Acampamentos Contemplados

Wesley Oliveira Lima Santa Brígida Semiárido Nordete II 190 57/02 NF Olga Benário, Mauro Filho, Alto Bonito,Bom Jardim

Alexandra Esperina dos Santos

Juazeiro Sertão do São Francisco 1.419 55/02 NF São Francisco, Luiz Nunes, Vale da Conquista, Moca, Vitoria, Antônio Conselheiro, Campo Verde,Canaâ, Antônio Conselheiro, Pá Cacimba da Torre

Selma Pereira Gomes Souza

Barra do Choça Vitoria da Conquista, Itapetinga, e Médio

Sudoeste

1.244 51/ 02 NF Mutum, Conquista do Rio Pardo, Olho D´’ Água, CIPÓ, Baixão, Lagoa e Caldeirão, Mocambo, Canguçu, Pátria Livre, Maria Zilda, Etelvino Campos, Amaralina, Cedro, União, primavera, Cama de Vara, Boa Sorte, Zumbi dos Palmares, Riacho das palmeiras, Marcha Brasil

Domingas Farias dos Santos

Maria dos Santos Umbelina da CostaAna Claudia Oliveira

Gonçalves

Itaberaba Piemonte Paraguaçu, Chapada Diamantina

2.288 80/ 04 F Barra Verde, Beira Rio, Cambui, Grotão, Aliança, Che Guevara, Polinesia, Nossa Senhora, 1 de Abril, São Sebastião de Utinga, Jaqueira, Bela Flor, Moreno, patis, Santa Helena, 2 de Julho, Chapda de Paulo, Boa Sorte, Dandara, Florestan Fernandes, Florentina, Moçambique, Santa Clara, União da Chapada, Europa e Baixão

Rita Maria de Souza Queiroz

Arataca Litoral Sul 1.073 49 /02 NF Açucena e Recordação, Nova Ipiranga, Rio Aliança, Terra Vista, Orion Cerqueira, Boa Esperança, Luanda, Rosa de Luxembrugo, Ojeferson Santos, Israel Sena, Linda Flor, Cruzeiro do Norte

Maria do Carmo Conceição Santos

Santo Amaro Recôncavo, Região metropolitana, e portal

do Sertão

805 30 /01 NF São Domingos, 5 de Maio, Bela Vista, Eldorado, Pulo Cunha, Patalim, Panema, Maju, União, Santa Maria, Menino jesus

Lucineia Durães do Rosário

Wenceslau Guimarães

Baixo Sul e Médio Rio de Contas

697 49/ 02 NF Oziel Alves, Che Guevara, Flavio Henrique, Mangerona, Limoeiro, Margarida Alves, Cascata, Lucas Dantas, 17 de Abril, Antonio Conselheiro, Paulo Freire, Marina, Paulo Jackson, São João, Euclides Neto, Poder Divino

Marizada Silva Batista Itamaraju Extremo Sul e Costa do Descobrimento

1.588 60/ 02 NF 4045, Corumbal, Riacho das Ostras, Santa Luzia, Três Irmãos, Guaira, 1. De Abril, Bela Vista Movelar, Nova Dely, Pedra Bonita, Jequitiba, Zumbi, Roseli Nunes,Gildasio Barbosa, Chico Mendes, Coroa, Macadamia.

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Depoimentos

M e chamo Andrelita da Paixão Santos, tenho 58 anos e

moro no Assentamento Lucas Dantas no Baixo Sul da Bahia. Recentemente participei de um espaço de formação com outras Trabalhadoras Rurais Sem Terra para conhecer a história da mulher na sociedade e principalmente as lutas travadas todos dias contra as diversas violências sofridas. Eu acredito que a união é a força e nós mulheres precisamos saber os nossos

direitos. Nós não o conhecemos porque o machismo esconde isso da gente afirmando que o papel da mulher é cozinhar o feijão, lavar a roupa, pegar água para dentro de casa. Esse tipo de pensamento reprimi as mulheres impedindo de estar mais presente nos espaços de luta e estudo. Fazer as coisas dentro de casa é importante, mas isso não pode fazer com que nossa vida se resuma apenas nisto . Através do estudo podemos nos orgulhar da luta que muitas mulheres travaram e construir novas relações que

nos garanta um novo olhar diante da sociedade e dos problemas que enfrentamentos em nosso dia a dia. Hoje estamos colocando o dedo na cara da repressão, pois compreendemos que os direitos são iguais. Se a mulher cozinha o feijão, o homem também pode cozinhar. Se a mulher lava a roupa é dever do homem fazer o mesmo. Se nós estamos na roça o dinheiro deve ser compartilhado com aqueles que trabalham na terra. Para mudar uma realidade de opressão a união é a resposta.

“Se a mulher cozinha o feijão, o homem também pode cozinhar. Se a mulher lava a roupa é dever do homem fazer o mesmo. Se nós estamos na roça o dinheiro deve

ser compartilhado com aqueles que trabalham na terra”

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E u sou Elitânia Souza do Nascimento, tenho 41 anos. Fui convidada para participar de um espaço

de formação com algumas amigas e outras mulheres que ainda não conhecia. Para mim foi muito enriquecedor está ali compartilhando com outras companheiras nossas experiências de vida e acima disso, estudando e conhecendo um pouco mais das lutas que muitas de nós

enfrentamos todos os dias. Até então, eu descobri muitas coisas que eu não sábia. Em todos os momentos eu entendi qual é o meu papel quanto mulher inserida em um movimento popular e os meus direitos diante da sociedade. Eu venho de uma realidade onde muitas mulheres não podem participar destes espaços porque precisam ficar em casa cuidando domarido e dos filhos. Não

são dadas oportunidades para estudar e entender o mundo de uma outra maneira. Eu acreditava que a única verdade vinha de meu esposo e sempre o obedecia. Hoje eu vejo que preciso respeitá-lo, porém a minha vontade e meus desejos precisam estar em primeiro lugar. Afirmo que a forçada mulher não tem limite e essa energia pode levar aonde quisermos.

“Para mim foi muito enriquecedor está ali compartilhando com outras companheiras nossas experiências de vida e acima disso, estudando e conhecendo um pouco mais das lutas que muitas

de nós enfrentamos todos os dias”

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A s políticas públicas traduzem a forma de agir do Estado mediante aos diversos programas que objetivam dar materialidade aos direitos constitucionais. Tais políticas orientam as ações a fim de combater problemas decorrentes que inviabilizam oprocesso de participação social, democratizando os direitos e construindo espaços que protagonizam a inserção de mulheres e homens em todos os espaços políticos sociais. O acesso à terra, à documentação, ao crédito, à assistência técnica,

à comercialização da pequena produção familiar, entre outras medidas são exemplos de políticas públicas que articuladas contribuem para a inserção produtiva das mulheres rurais. Para essas mulheres, a conquista da autonomia econômica supõe um processo de diálogo permanente entre a sociedade civil organizada e setores do governo, com a determinação de superar barreiras e produzir resultados. No período de 2003-2010 foram implantados programas que garantem a cidadania e inclusão produtiva para as mulheres, tais como: o Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural (2004); Crédito Especial para Mulheres – Pronaf Mulher (2003/2004); Assistência Técnica Setorial para Mulheres (2005); Programa de Organização Produtiva para as Mulheres Rurais (2008); Criação da Modalidade Adicional de Crédito para Mulher na Reforma Agrária – Apoio Mulher (2008). Temos alguns benefícios previdenciários, como aposentadoria por idade, aposentadoria por invalidez, auxilio doença, auxilio acidente, salário maternidade e pensão por morte. Todas essas políticas estão voltadas para a agricultura familiar visando estimular uma maior participação das mulheres na produção remunerada, como também na emancipação econômica das mulheres rurais.

Programa Nacional de Documentação das Trabalhadoras Rurais

(PNDTR)

O PNDTR é uma ação fundamental para a inclusão social das trabalhadoras rurais, seja na reforma agrária ou na agricultura familiar, ao possibilitar a emissão gratuita de documentos civis, trabalhistas e de acesso aos direitos previdenciários, por meio de mutirões itinerantes de documentação. As Mulheres da agricultura familiar, acampadas e assentadas da reforma agrária, atingidas por barragens, quilombolas, pescadoras artesanais, extrativistas e indígenas são o foco prioritário do Programa. São emitidos registros de nascimento, cadastro de pessoa física (CPF), carteira de identidade, carteira de trabalho, previdência social (CTPS), declaração de aptidão ao Pronaf (DAP), registro no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), Carteira de Pescador, dentre outros. Além de garantir cidadania, a documentação básica é condição para acesso a programas como o Pronaf, além de políticas públicas do governo federal e benefícios previdenciários.

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Produção de uma colcha coletiva no Núcleo de Formação Itaberaba

As Políticas Públicas e as Mulheres Rurais

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As Políticas Públicas e as Mulheres RuraisPRONAF - Mulher

O Programa é um investimento para atividades agropecuárias, turismo rural, artesanato e outras atividades de interesse da mulher agricultora. As beneficiadas são asMulheres agricultoras integrantes de unidades familiares de produção. Criadoemjunhode2003significaum aspecto positivo para as mulheres agricultoras, pelo fato de representar a única oportunidade de serem reconhecidas como “trabalhadoras” pelo Estado através de ações do governo e pela família a partir da possibilidade de sua emancipação econômica. As atividades do Programa se iniciam reconhecendo a condição das mulheres enquanto trabalhadoras em situações de dependência, retirando-as deste modelo familiar que historicamente as manteve assentadas numa lógica na qual não existiam, se não como membros de agrupamentos familiares.

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é uma ferramenta importante para o acesso das mulheres à comercialização, estimulando o fortalecimento de suas organizações produtivas. A fim de promover a autonomia econômica das mulheres, incentivando atroca de informações, de conhecimentos técnicos, culturais, organizacionais, de gestão e de comercialização, valorizando os princípios da economia feminista e solidária. O PAA foi criado em 2003 como uma das políticas estruturantes da Estratégia Fome Zero. O objetivo é garantir o acesso aos alimentos em quantidade, qualidade e regularidade necessárias ás populações em situação de inseguranças, alimentar podem ser adquiridos alimentos diretamente de agricultores familiares. O program abre ainda uma importante perspectiva para venda de produtos processados, tradicionalmente utilizados no consumo da casa ou vendidos em pequenas quantidades, e que permitem agregação de valor aos produtos da agricultura familiar. A lista destes produtos é bastante extensa e reflete a cultura e os produtos de cada região.As geléias de frutas, conservas, massas, pães e biscoitos feitos com goma, diversos doces de frutas, biscoitos de polvilho e de fubá, além dos queijos e pães de queijo em Minas Gerais. Os bolos de macaxeira, de tapioca, de mesocarpo, babaçu, a massa de puba ou massa de macaxeira (para fazer mingau ou bolo) são produtos adquiridos nos estados do nordeste.

Barraca das mulheres Artesãs do Extremo Sul da Bahia

Roda de Conversa no Núcleo de Formação Wenceslau Guimarães

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Lei Maria da Penha

A mulher é a maior vitima da violência de gênero. De acordo com as estatísticas, em 95% dos casos de violência praticada contra a mulher, o homem é o agressor. Assim a violência doméstica e familiar esta definidanoartigo5ºdalei11.340/06(veja os parágrafos da lei abaixo). Pensando nestas questões, a Lei Maria da Penha resultou na ampliação das formas de manifestação contra a violência doméstica . Além da mais praticada, a violência física, incluiu-se também a moral, sexual, psíquica e patrimonial.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 25% do total de 29% das mulheres agredidas no Brasil, em 2005, não contaram a ninguém sobre a violência que sofreram; 60% nunca deixaram o lar, nem por uma noite, em função das agressões sofridas; menos de 10% procuraram serviços especializados de saúde ou segurança. Em média, a mulher demora 10 anos para pedir ajuda pela primeira vez. A lei foi criada para garantir mecanismos de repressão e prevenção à violência de gênero, expressão utilizada para fazer referência às diversas condutas praticadas contra as mulheres, condutas estas que resultam em danos físicos, psicológicos, morais, sexuais e materiais. Caracterizando-se pela imposição de uma submissão do gênero feminino perante o controle do gênero masculino, fato que remonta de um passado de subordinação feminina nessa relação de poder.

Artigo 5º da lei 11.340/06 “Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual”.

Mística do Seminário de Integração, Culminância e Avaliação

do Projeto de Capacitação.

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Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae)

A produção de mulheres que atuam na agricultura familiar é prioridade nas compras do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). É o que determina a proposta aprovada no dia 23 de outubro de 2013 pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). ALeinº11.947/2009determinaautilizaçãode,nomínimo,30%dos recursos repassadospelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para alimentação escolar, na compra de produtos da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações. A aquisição de gêneros alimentícios será realizada, sempre que possível, no mesmo município das escolas, que poderão complementar a demanda entre agricultores do território rural, estado e país. Os produtos são adquiridos junto à agricultura familiar, tendo prioridade os assentamentos da reforma agrária, comunidades indígenas e quilombolas.

Quais são os produtos comprados?

As Entidades Executoras (secretarias estaduais de educação e redes federais de educação básica ou suas mantenedoras, que recebem recursos diretamente do FNDE) deverão publicar a lista de produtos que pretendem adquirir da agricultura familiar para alimentação escolar.

Como acontece a publicação?

Por meio de Chamada Pública, em jornal de circulação local, regional, estadual ou nacional, em página na internet ou na forma de mural em local público de ampla circulação.

Quais documentos é preciso?

CPF, DAP de cada agricultor participante e Projeto de Venda (para Grupos informais) e CNPJ, DAP Jurídica, cópias das certidões negativas junto ao INSS, FGTS, Receita Federal e Dívidas Ativas da União, cópias do estatuto e Projeto de Venda (para Grupos formais).

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Direitos Previdênciarios

Salário Maternidade

O salário maternidade é um benefício da Previdência Social, pago à segurada que tem um/afilhonaturalouadotivo.Tem direito a receber o salário-maternidade: empregadas, doméstica, trabalhadora avulsa, contribuinte individual (autônoma, empresária, etc.), segurada especial (trabalhadora rural) e segurada facultativa. A Carência dada é o tempo entre a data de inscrição como segurada da Previdência Social e a data do pedido do benefício. As trabalhadoras rurais, empregadas e domésticas não precisam de tempo de carência para ter direito ao salário-maternidade. Desde o primeiro mês que se inscrevem como seguradas da Previdência Social passam a ter este direito.

Aposentadoria por Idade

A aposentadoria por idade é o benefício concedido ao segurado da Previdência Social que atingir a idade considerada risco social. A matéria é regulamentada pela Lei 8.213/91, arts. 48 a 51; e pelo Regulamento da Previdência Social, Decreto 3048/99, arts. 51 a 55. A aposentadoria por idade é certamente o benefício previdenciário mais conhecido e tem o objetivo de garantir ao segurado sua manutenção da família em caso de idade avançada do mesmo. A aposentadoria paga pelo INSS, aos 60 para a mulher, é um benefício assistencial, sem precisar de qualquer tempo de contribuições, disposto na Lei Orgânica de Assistência Social (LOPS),

Auxilío-Doença

O auxílio-doença é um benefício da Previdência Social concedido ao segurado do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) que fica impedido detrabalhar, em decorrência de doença, por mais de 15 dias consecutivos. É o perito médico que determina o tempo em que o trabalhador ficará afastadorecebendo o benefício.

Para ter direito ao benefício, é preciso ter contribuído com a Previdência Social por, no mínimo, 12 meses. Se o trabalhador deixou de fazer o pagamento, as contribuições feitas anteriormente somente são consideradas se ele pagar pelo menos quatro parcelas que, somadas ao que foi quitado antes, totalizem no mínimo 12.

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Um Brasil mais justo com as Mulheres

Por Eleonora Menicucci

Estamos vivendo um importante momento de constatação de conquistas de direitos pelas mulheres. Isso é forte sinal do grau de consciência das brasileiras, por um lado, e da solidez do compromisso do governo, por outro. É gratificante e significativoquando a conjugação desses esforços obtém resultados concretos e substanciais. Esses chegam por meio das Estatísticas de gênero - Uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010, que o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), a Secretaria de Políticas para as mulheres da Presidência daRepública (SPM-PR) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) acabam de lançar. Aanálisecomparaoscensosdemográficosde2000e2010,mascomosrecortesinéditosdegêneroeraça.Abaseescolhidafoiocensodemográfico,umdospoucosdagradedoIBGEquepermitemdesagregar dados, por parâmetros de raça e gênero, até o nível do município - no qual as pessoas vivem. Fomos além. Criamos um instrumento de consulta, o Sistema Nacional de Indicadores de Gênero (SNIG), disponível para consulta pública. Basta acessar www.ibge.gov.br/apps/snig/v1/ ou baixar o aplicativo para celular. Temos a partir de agora uma ferramenta precisa para o conhecimento detalhado do universo das mulheres reais. Fundamental para elas, para a missão desta SPM-PR e, lá no município, para os organismos de Políticas para as mulheres (OPMs). As estatísticas constatam: as brasileiras escolarizam-se mais do que os homens e avançam no mercado de trabalho, e se reduz a gravidez entre adolescentes, dentre outros dados. A educação revela as mulheres de 15 a 17 anos no ensino médio quase 10 pontos percentuais à frente dos homens: 52,2% ante 42,4%. No superior, 12,5% das mulheres com 25 anos ou mais têm ensino universitário, para 9,9% de homens. Sãomensuradosperfis preocupantes naqualificaçãodessas jovens.Umé a das que sótrabalham, sem estudar. Essas se mostram, mesmo assim, em patamar relativamente melhor

Seminário de Culminância, Inegração e Avaliação São Gonçalo dos Campos - Bahia

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do que o dos homens: são quase a metade (4%, para 7,6%). Já uma condição ainda pior - das pessoas nessa faixa que não trabalham nem estudam - tem 12,6% para elas, ante 9,1% para eles. No trabalho e nos ganhos, alguns índices positivos. O aumento do rendimento médio das brasileiras foi maior do que o dos homens: 12,8%, ante 7,9%. Outra fonte que corrobora a boa notícia é a Relação Anual de Informações Sociais (Rais/2013). Nela se lê que o crescimento dos salários delas entre 2012 e 2013 supera o deles: 3,34%, contra 3,18%. Já a absurda disparidade de salários de mulheres e homens para as mesmas funções, conforme a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-IBGE/2013) se reduz: de 2012 para 2013, passou de 72,8% para 73,7% do masculino. Ainda assim, o fosso é inaceitável. Quando falamos

nessedesequilíbrio,ébomenfatizaradificuldadedeascensãona carreira. Basta comparar o número de mulheres nos postos mais altos das organizações e nos conselhos empresariais. Nessa que é a linha divisória entre a garantia e a precariedade de direitos - a carteira assinada -, duas vitórias. Aumentaram as brasileiras registradas (de 51,3% para 57,9%). Idem com as mais discriminadas, as pretas e pardas: passaram de 43,3% para 50,8%.É necessário lembrar o papel fundamental das creches nesse esforço. São elas que permitem às mães assumir empregos formais. Essa necessidade mereceu recente reafirmação de compromisso por parte da presidenta Dilma.Finalmente, uma queda a ser celebrada, por ser básico para qualquer avanço: a proporção das adolescentes com filhos caiu mais de 20%. Era 14,8%. Agora, 11,8%. Um quadro com essa consistência, de um lado anima para novos avanços, e, de outro, reapresenta desafios.A SPM-PR reenergiza suas políticas, programas e ações. Articula-se no Congresso Nacional para aprovar projeto de lei que estipula o óbvio: salário igual para trabalho igual. E reforça os programas destinados a promover maior equidade de gênero e raça nas empresas e organizações. Criamos e apoiamos ações para combinar o avanço na escolarização com o ingresso nas carreiras ainda consideradas “masculinas”. Isso inverteria a tendência, também apontada na pesquisa, de que as carreiras ligadas à educação e às artes concentram mais mulheres.Finalmente, enfrentamos permanentemente um dos maiores desafios para o Brasil do século 21: o de banira desigualdade de gênero em todas as esferas, os preconceitos, as discriminações e a cultura da violência.

Artigo publicado no Correio Braziliense em 16/11/2014

Mulheres do Núcleo de Formação Itamaraju na Escola Popular Egídio Brunetto

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A participação da mulher na transformação social

Por Christiane Campos

Durante muito tempo se c u l t i v o u entre os movimentos s i n d i c a i s ,

sociais e partidos de esquerda no Brasil uma compreensão de que a sociedade se divide entre ricos e pobres. Por isso a luta pela transformação social deveria ser orientada para acabar com a desigualdade de classe. As reivindicações das mulheres, pessoas negras/indígenas, de homossexuais, eram consideradas lutas das “minorias” e deveriam ser feitas depois da sonhada igualdade social. Na prática, essa concepção da luta de classe ainda é muito forte nas organizações trabalhistas e camponesas e só contribui para fortalecer o padrão de gênero machista de nossa sociedade. O machismo aparece de várias formas: na valorização da mulher só como mãe ou como objeto sexual; na linguagem quando só nos dirigimos aos companheiros; nas piadinhas e nasmúsicasquedesqualificamas mulheres; nos meios de comunicação em que a mulher é usada para vender todos os tipos de mercadoria; nas religiões em que Deus é pai e aqui na terra os homens controlam as igrejas em seu nome porque as

mulheres simbolizam o pecado; na economia em que as mulheres trabalham mais horas e recebem salários menores; mesmo nas organizações populares em que as mulheres são excluídas ou tem presença

simbólica nos espaços de negociação, de tomada de decisões estratégicas. Enfim, cotidianamente a“superioridade” masculina é vista, sentida, falada, manifestada em pensamentos e ações como naturais, não como uma construção social e histórica. Isso faz com que mesmo dentro das classes pobres, tanto do campo quanto da cidade, a vida dos homens seja um pouco mais fácil. Segundo o censo do IBGE, nós mulheres já somos 51% da população brasileira,

“As mulheres são 51% da população brasileira, mas é

como “minoria” que continuamos a ser

tratadas”

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A participação da mulher na transformação social

mas é como “minoria” que continuamos a ser tratadas. Tanto que as políticas direcionadas às mulheres em áreas de saúde ou combate à violência são consideradas não como atendimento de necessidades sociais da maioria da população e sim como benefícios. E as reivindicações das mulheres não são entendidas como direitos e sim desejos, sonhos, ou questões femininas relegadas a segundo plano, tanto pelos movimentos quanto pelo Estado. A partir dessas breves

reflexõespode-seconcluirqueas mulheres são maioria entre as pessoas descontentes com o tipo de sociedade. Nesse sentido, são candidatíssimas a abraçar a luta pelo socialismo. A história de países que construíram o socialismo revela

que derrotar o capitalismo não é suficiente para acabarcom a discriminação das mulheres. James Petras em um texto sobre a relação entre a luta de gênero e classe revela que em várias revoluções na América Latina as mulheres foram participantes ativas e após a conquista do poder os companheiros revolucionários as mandaram de volta para casa. As classes oprimidas são compostas por pessoas que tem diferenças de gênero (são masculinas e femininas), de idade, de etnia, etc.Tratar igualmente situações desiguais é manter a injustiça social. O projeto só será popularcomofimdaopressão. Um projeto para ser efetivamente popular deve se fundamentar nas necessidades da maioria da população. E como a maioria do povo brasileiro, especialmente a população pobre, é constituída por mulheres, elas precisam ser sujeitas dessa construção. Caso contrário, o projeto não será popular e não servirá de instrumento para que se construa uma sociedade sem exploração e dominação. Nesse sentido a participação das mulheres no projeto popular não é para que ele seja mais sensível, bonito e delicado. É necessário que ele seja real, incorporando as

Foto

Rep

rodu

ção

“Derrotar o capitalismo não é

suficiente para acabar com a discriminação

das mulheres.”

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reivindicações e sugestões de quem mais sofre com o capitalismo. No caso da luta camponesa, a participação das mulheres é fundamental para se discutir agroecologia, soberania alimentar, diversidade de produção e resgate de sementes porque historicamente é o trabalho agrícola feminino que gera a maior parte dos alimentos da população do campo. Mas a participação feminina não pode ser um projeto para o futuro. Ela precisa ser garantida desde agora pelas organizações das classes trabalhadora e camponesa. Temos que aprender um novo jeito de fazer luta de classe, respeitando as diferenças e de fato criando as condições objetivas e subjetivas para as mulheres participarem. Isso implica em ampliar a participação de mulheres nos espaços de decisão política e econômica, fazer a formação de lideranças femininas, criar espaços para as crianças,

combater internamente as desigualdades e os preconceitos, e exercitar a democracia interna. É a partir da participação efetiva de um número cada vez maior de mulheres nas organizações políticas, sociais, sindicais, que vamos ampliar as conquistas femininas e sinalizar para a maioria do povo brasileiro que vale a pena lutar pela transformação social. Para isso, a luta pelo socialismo precisa incorporar o feminismo e nesse campo muitas cercas ainda precisam ser rompidas. A maioria dos homens e mulheres que dizem não gostar do feminismo nem

sabem o que ele significa. Também já aprendemos com a história que a opressão só é vencida por quem é oprimida e/ou oprimido. No caso da luta contra o machismo, as mulheres é que são as maiores vítimas por isso precisam assumir o comando e garantir que a participação feminina na luta de classe, no projeto popular, não seja apenas simbólica, só um elemento místico. Nesse sentido precisam se organizar, construir alianças entre mulheres do campo e da cidade, fortalecer lutas em que as mulheres sejam protagonistas como o 8 de março. Para aqueles e aquelas que sempre argumentam que as mulheres não estão preparadas, vale lembrar que tudo na vida se aprende fazer fazendo. Portanto, é participando que se aprende a participar e se eleva o nível de consciência, forjando lutadoras e lutadores não apenas por cidadania, mas por uma sociedade efetivamente justa, uma sociedade socialista.

“A partir da participação

das mulheres as organizações políticas

vão ampliar asc onquistas femininas”

Mulheres durante marcha do VI Congresso Nacional do MST Brasília - DF

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Mulheres do MST criam novas relações de gênero

Desde a criação do MST, sempre esteve presente o desafiodaparticipação e

envolvimento de toda a família no processo de luta pela terra: homens, mulheres, jovens, idosos e crianças são todos e todas protagonistas de sua própria historia. A participação das mulheres possibilitou a organização de coletivos de auto – organização e discussão sobre sua situação de opressão de classe e de gênero. O conjunto do Movimento foi provocado a se envolver e isso criou as condições para o debate de como construir novas relações de gênero. A construção do setor de Gênero e a participação das mulheres no MST No I Congresso Nacional do MST, realizado em 1985, foram aprovadas dentre as normas gerais a organização de comissões de mulheres dentro do MST para discutirproblemasespecíficos,o estimulo à participação das mulheres em todos os níveis de atuação, instâncias de poder e representatividade, assim como combater toda a forma de discriminação das mulheres e a luta contra o machismo. Por meio da organização destas comissões e coletivos de mulheres do/no

MST, as lideranças femininas começaram a estudar e debater o conceito de gênero a partir de meados dos anos 1990. A necessidade de envolver o todo da organização neste debate culmina na criação do setor de Gênero no Encontro de produzir materiais, propor atividades, ações e lutas que contribuíssem para a construção de condições objetivas para participação igualitária de homens e mulheres, fortalecendo o próprio MST. Várias linhas políticas foram tiradas a partir dessa definição,comoporexemploa participação de 50% de mulheres em todos os espaços do Movimento nas instancias, nos processos produtivos, de formação e educação, nas mobilizações, etc; o debate da ciranda infantil; o debate da inclusão do nome da mulher nos documentos de concessão de posse e uso da terra de forma conjunta.

Mesmo que várias destas metas sejam ainda umdesafiopermanente,a construção do setor de gênero possibilitou um novo significadodalutapelaterra,onde todos e todas sentem-se sujeitos participantes de um processo de mudança. A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadorias! Além da nossa luta cotidiana, temos dois momentos no ano em que organizamos ações de enfrentamento ao capital, por Reforma Agrária e contra toda forma de violência contra as mulheres: é no 8 de Março – Dia Internacional das Mulheres e no dia 25 de novembro – Dia Mundial de Combate à Violência Contra a Mulher. Nesse ano não será diferente. É por isso que já estamos cantando nas nossas assembleias e ecoando esse grito no nosso VI Congresso: Pode ter copa e eleição, as mulheres em luta seguirão!

Por Kelli Mafort

Núcleo de Formação Juazeiro

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Brincando de CirandaN

a luta pela terra estamos todos juntos. Mulheres, Homens e Sem Terrinhas levantam a bandeira da Reforma Agrária e lutam na construção de uma

sociedade mais Justa e Igualitária para todos. Enquanto os adultos estão participando de espaços de estudo e formação, nossas crianças estão na

ciranda infantil, aprendendo brincando.A ciranda é fruto da nossa própria luta e das crianças Sem Terrinha. Ela

vem nos ajudar a conhecer o mundo que existe além da sala de aula ou da nossa casa e acima de tudo, nos motiva a continuar na luta, sendo crianças.

“Ser Sem Terrinha é se divertir. Gosto muito de está viajando com meus

país. Gosto mais ainda de conhecer outras crianças”.

João Pedro (08 anos)

“Eu gosto muito de brincar na ciranda. As professoras cuidam da gente, mostra a

natureza e nos ensina muita coisa boa”.

Talita Assunção (10 anos)

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Brincando de Ciranda

“Sou muito curiosa, pergunto um monte de coisa

e gosto de passear com as outras crianças. Gosto também, muito de brincar

de bola também”.

Patrícia Souza (09 anos)

“Na ciranda eu aprendi a cuidar da natureza não

jogando lixo no chão e nem nos rios. Gosto muito de

passar o dia aqui”.

Junior Felipe (11 anos)

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REALIZAÇÃO:

Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra

APOIO:

SPM - BA

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