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........................................................................................... 7

................................ 9

.......................................................................... 11

................................................................................ 12

................................................................................................... 13

AS AVENTURAS DO JOÃO SEM VIDA .................................................. 17 O JOÃO SEM VIDA E O FANTASMAS DAS CUECAS ROTAS.................... 21 O JOÃO SEM VIDA E OS CLINTSONES ................................................. 24 O JOÃO SEM VIDA NO VATICANO ...................................................... 27 O JOÃO SEM VIDA ENCONTRA O GRANDE EURICO A. CEBOLO ........... 30 O JOÃO SEM VIDA NO EGIPTO ........................................................... 34 O JOÃO SEM VIDA NA CAPELA SISTINA.............................................. 37 O JOÃO SEM VIDA NO AUTO DA BARCA DO INFERNO ........................ 41 A REENCARNAÇÃO DO JOÃO SEM VIDA ............................................ 45 AS AVENTURAS DO NOVO JOÃO REENCARNADO .............................. 51 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O TEMÍVEL MONG .......................... 57 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O GRANDE SHAKESPEARE .............. 60 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O PADRE MARCELO ROÇA .............. 63 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O HOMEM-CATÁLOGO.................... 67 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O PRIMO DO MACACO ANDRÉ ....... 71 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O DAMBI ........................................ 74 A CRISE EXISTENCIAL DO NOVO JOÃO REENCARNADO ...................... 76 O NOVO JOÃO REENCARNADO NO PAÍS DAS MIL MARAVILHAS ........ 79 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O GRANDE FREUD .......................... 85 O NOVO JOÃO REENCARNADO E A GRANDE ENTROPIA ..................... 91 AS AVENTURAS DO JOÃO IRREAL ...................................................... 95 O JOÃO IRREAL E OS JETSETSONS ...................................................... 99 O JOÃO IRREAL E O PEQUENO ELEFANTE NEGRO BUMBO................ 105 O JOÃO IRREAL E O PEQUENO PATO LINDO ..................................... 109 O JOÃO IRREAL E O INQUIRIDOR MISTERIOSO ................................ 113 O JOÃO IRREAL EM VÉNUS .............................................................. 117 O JOÃO IRREAL E O GRANDE BUDA ................................................. 121 O JOÃO IRREAL E OS TRÊS PORQUINHOS ......................................... 126

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O JOÃO IRREAL E OS TRÊS PORQUINHOS ......................................... 131 O FIM DO JOÃO IRREAL ................................................................... 135 AS AVENTURAS DO JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ ..................................................................................... 143 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ EM JERUSALÉM ..................................................................................... 146 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E O GRANDE ALÁ ................................................................................... 150 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NA PRÉ-HISTÓRIA ........................................................................................ 153 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E O ALI BABASSE ......................................................................................... 156 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E O ALI BABASSE ......................................................................................... 158 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E O GRANDE REI ARTUR ........................................................................ 163 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NA FLORESTA DE CHAIRWOOD ............................................................. 168 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NOS JOGOS OLÍMPICOS .......................................................................... 170 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E O MARQUÊS DO SADO ....................................................................... 173 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NA ILHA DO TESOURO .................................................................................. 177 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ E OS CAÇADORES DE GAMBOZINOS ........................................................ 181 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NO CARNAVAL DO RIO .......................................................................... 184 O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NÃO EXISTE MAIS ................................................................................... 187

.................................................................................. 191

........................................................................... 192

....................................................................................... 193

............... 194

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Pois é. Após tanto tempo de espera* eis que chega às

vossas mãos o segundo volume das aventuras do

personagem mais complexo, mais simples, mais íntegro

e mais díspare da literatura.**

Para aqueles que estão a pensar: “Mas ele não tinha

morrido no outro livro?”, então não pensem, falem. Se

não falarem eu não vos oiço. Não é que eu vos vá ouvir

mesmo, mas sempre fica melhor.

Portanto, para aqueles que estão a perguntar: “Mas

ele não tinha morrido no outro livro?”, a minha resposta

é: não é “tinha morrido”, é “morreu”. Aprendam a falar

bem.

Para além dessa pequena correcção, devo dizer-vos

que são muito cépticos se acham que é uma coisinha tão

insignificante como a morte que vai parar um

personagem destes. Só para verem, a primeira parte

desta livro é toda ela passada com o personagem morto e

depois continua até à reencarnação, até à irrealidade, até

à realidade e até ao fim. Definitivo? Não sei. Aqui não

dá para ter certezas.

Mas, por agora, vamos fazer uma pausa.

* Espero não estar enganado. É que esta página foi escrita antes

do livro estar acabado. (Primeira Nota Não-Creditada do Autor) **

Podia perfeitamente trocar o “mais” por “menos”. Não ia fazer

qualquer diferença. (Segunda e última Nota Não-Creditada do

Autor)

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Poema do pescador

O pescador acorda cedo para apanhar peixe.

Se o pescador se porta mal não há quem o deixe

Apanhar peixe fresco.

O pescador leva sempre uma rede e um cesto.

O pescador vai para o alto mar

Para o seu peixe apanhar.

O pescador tem um pequeno barco de madeira

Mas gostava de ter uma traineira.

O pescador usa um anzol

Com uma minhoca

E à noite tapa-se com um lençol.

O pescador quer ir para os mares do norte

E, apanhar uma foca.

Mas, o pescador não tem sorte.

Para que é que serviu este poema?

Para gastar tinta

Para ocupar espaço na folha

Para eu escrever

Para vocês lerem

Para nada

Destas cinco respostas, qualquer uma delas é

válida. O mesmo acontece em relação a este livro.

Ninguém é obrigado a lê-lo e gostar. Nem tão pouco são

obrigados a ler. Agora, não se admirem se estiverem com

os vossos amigos e começarem a ser postos de lado por

não saberem do que é que eles estão a falar. A culpa é e

será toda vossa.

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Não leiam isto, por favor. Está muito mal escrito e é

apenas o último recurso de alguém tem como intuito

obter dinheiro fácil à custa dos outros.

Pessoas assim deviam ser queimadas vivas,

espetadas num pau e acusadas de fraude. Exactamente

por esta ordem.

Parasitas da sociedade, é o que eles são! Andam

entre nós, tipo lobos em pele de cordeiro e assim que um

de nós se distrai… pumba! Saltam-nos para cima.

Eles não se lembram que as pessoas têm um vida

para tratar? As pessoas hoje em dia não têm tempo para

ouvir sempre a mesma lengalenga, sempre as mesmas

pessoas. Ainda por cima, a maioria desses charlatões não

tem certeza daquilo que está a falar.

Um dos onze, perdão, dez mandamentos, o primeiro

ou o segundo… (Ou seria o terceiro? Acho que é o

quarto…) Bom, não interessa. Dizia eu que um desses

mandamentos diz que não devemos enganar o

próximo… acho eu. Mas, esse mandamento (supondo

que exista mesmo) é tanto válido tanto para as pessoas

que estão próximas como para as que estão afastadas.

Enganar as pessoas é feio!

Pedia-vos agora que fizessem um minuto de silêncio

em homenagem a todos aqueles que já foram enganados.

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Minuto de silêncio em homenagem a todos

aqueles que já foram enganados.

Vêem como custou? Um minuto não chega para

tanta gente!

Por isso, se não querem fazer parte desse conjunto

de pessoas, não leiam este livro. é um aviso de Deus,

nosso Senhor.

E, por falar em Deus, já adquiriu o seu seguro pós-

vida?

Não? Então, despache-se. A apólice custa apenas

quinhentos mil euros por mês.

Entre outras vantagens, este seguro dá-lhe a

possibilidade de morrer em qualquer parte do mundo,

mesmo em território muçulmano ou hindu ou budista ou

pagão, e ter sempre a garantia de ir para o Paraíso

cristão.

Compre já!

FIM DO COMUNICADO

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Neste espaço irei enunciar os nomes das pessoas que, de

algum modo, contribuíram para a origem desta obra.

Muitos deles não os conheço, mas a sua influência foi de

grande influência. Alguns deles, fizeram uma

contribuição póstuma (no sentido em que já estão

mortos) o que torna a sua presença neste livro ainda mais

interessante.

Obrigado a:

Mim

Paulo Lameira (co-autor da primeira história do

pequeno João)

Deus

Gil Vicente Vicente

Eurico A. Cebolo

Padre Marcelo Rossi

Líderes de canais de televisão públicos e privados

William Shakespeare

Walt Disney

Irmãos Grimm

Freud

Marquês de Sade

Robert Louis Stevenson

Lewis Carroll

Não incluo o nome dos meus amigos e familiares

porque quero respeitar a privacidade deles. Aliás, para

ser honesto, não quero é que eles saibam que tiveram

qualquer coisa a ver com isto.

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Neste espaço pretendo enumerar algumas pessoas a

quem este livro é dedicado. Como são muitas, optei por

uma conversão universal separada por diversas

categorias.

Este livro é dedicado a:

todas as pessoas que leram o primeiro livro e

gostaram

todas as pessoas que lerem o segundo livro e

gostarem

todas as pessoas que lerem o primeiro e o

segundo livro e gostarem

se alguém não ler ou não gostar do primeiro ou

do segundo livro, fica excluído da página de

dedicatórias

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“Lê-se.”

Rui, jovem irreverente e sem instrução

“O elemento humano é de uma extrema

complexidade quando em ambientes hostis.”

Narrador de documentários não-emitidos

“A divisão entre o personagem e a realidade que o

envolve é parca.”

Pseudo-comentador de assuntos diversos

“Mais outro não!”

Fernando

“É o melhor livro que eu já escrevi.”

Eu

“É o melhor livro que ele já escreveu.”

Quem leu e gostou

“Neste livro, vemos as taxas de juro subindo em

flecha e… É pá! Enganei-me no livro!”

Jovem empresário licenciado em Economia

à procura do primeiro emprego

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Num belo dia de Verão o João sem vida estava

acabando de terminar sua viagem até à Zona da

Morte.1 Aí, o João sem vida chegou ao fim do túnel

e viu uma luz branca.2 Aí, o João sem vida olhou

para o sítio donde estava a luz… era duma lâmpada.

E à mais à frente estava… outra lâmpada. E à mais à

frente estava… outra lâmpada. E à mais à frente

estava… outra lâmpada. E ainda mais à frente estava

não outra lâmpada mas sim… 3

…. o Purgatório.4 Aí, o João sem vida olhou5 e

1 É difícil explicar porque é que era Verão, estando ele morto. Por

isso, não me peçam para explicar isso, está bem? (P. N. A.)

(Primeira Nota do Autor) 2 Não se pode variar muito nestes tópicos sobre a vida e a morte.

Não existem muitas teorias comprovadas cientificamente que

comprovem essas mesmas teorias. (S. N. A.) (Segunda Nota do

Autor) 3 Estou a tentar criar suspense. Se bem que é um suspense um

pouco forçado. (T. N. A.) (Terceira Nota do Autor) 4 Tanta coisa e nem sequer pus um ponto de exclamação. Não é

que o Purgatório seja um sítio muito especial, antes pelo

contrário, mas podia ter dado um bocadinho mais de ênfase. Só

um bocadinho de nada. (Q. N. A.) (Quarta Nota do Autor) 5 Se estão a pensar como é que um morto consegue andar, ver e

fazer todas as coisas que fazia quando estava vivo, não pensem

mais nisso. Alguém consegue explicar porque a gravidade não

nos puxa para cima? (Q. N. A.) (Quinta Nota do Autor)

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viu o Guardião do Purgatório - era o Purgador.

Depois de ter morrido, o João sem vida6 tinha

que ser avaliado pelos seus actos afim de determinar

se iria para o Céu ou para o Inferno. Embora, o João

sem vida já tivesse visitado tanto o Céu como o

Inferno. E até o Paraíso. E tinha sido expulso de

todos. Ou seja, uma entidade morta que não pode ir

para o Céu nem para o Inferno, nem para o Paraíso

vai para onde?

– João.

- João sem vida.

- Calado! Tu morreste há três horas! Porque é

que demoraste tanto tempo a chegar aqui?

- Perdi-me.

- Como é que te perdeste? O túnel é sempre em

frente.

- Só descobri isso depois de ter atravessado

aquela parede.7

- Qual parede?

- A parede do túnel.

- Qual delas?

- Não sei. Estava escuro.

- Então como é que sabes que era uma parede?

Podia ser o tecto, não podia?

- Podia.

- Continuando… Diz aqui no teu processo que

foste expulso do Céu, do Inferno e do Paraíso. É

6 Reparem bem que ele só recebeu o nome de João sem vida

depois de morrer. (S. N. A.) (Sexta Nota do Autor) 7 Qualquer morto que se preze é capaz de atravessar uma parede

sem ter que a partir. O que não é o caso do João sem vida. (S. N.

A.) (Sétima Nota do Autor)

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verdade?

- Acho que sim.

- E como é que isso aconteceu?

Sei lá. Sei que do Inferno fui expulso por

morder a cauda do pequeno demónio Satã. E fui

expulso do Céu porque tinha sido expulso do

Paraíso porque não tinha ajudado o grande pai Deus

a acabar com as minhocas que estavam comendo

suas maçãs premiadas.

- Ah…8

Aí, o Guardião do Purgatório levantou-se da sua

cadeira e foi pedir aconselhamentos aos espíritos

mortos.9

Depois de ter falado com os espíritos mortos o

Guardião do Purgatório disse:

- Decidi que… Ai! OK! Decidimos que irás

fazer uma viagem pela Dimensão da Negação. O

sítio para onde enviamos os mortos sem destino.

- Eu não posso ir para aí.

- Porquê?

- Porque assim eu passo a ter um destino.

- Tens razão. Então vais para a Terra. Se provares

que consegues viver na Terra, ficas lá e reencarnas.

Senão vens para aqui trabalhar como varredor.

Pessoalmente não sei o que era pior - isto até que está a

precisar duma varridela - mas, não me apetece nada ter

8 Esta expressão designa toda a compreensão que é possível

mostrar numa frase. (O. N. A.) (Oitava Nota do Autor) 9 Os espíritos mortos eram os espíritos dos mortos que tinham

morrido depois de viver. Se os mortos podem andar e falar como

se estivessem vivos, porque é que não hão-de poder morrer? (N.

N. A.) (Nona Nota do Autor)

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que te aturar.

- Tá bom!

- Agora… põe-te a andar!

Aí, o João sem vida saiu do Purgatório e voltou

ao túnel e voltou à Terra. Só não voltou à vida

porque tinha tido tanto trabalho a morrer que era

chato ressuscitar já.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava

passeando pelo planeta Terra.10 Estava um lindo dia.11

– Ei! Quer parar de dizer o que é que não me faz

diferença?

Aí, o autor parou de dizer ao João sem vida o que é

que não fazia diferença ao João sem vida.12

Obrigado.13

Pára com isso! Queres que ele desista?14

Vamos continuar então.

Aí, o João sem vida assustou-se.

– Ai! Que susto!

Ou melhor, o João sem vida assustou-se de forma

convincente.

– Ai! Que susto convincente!15

10

Falo do planeta Terra em geral porque, sendo o João sem vida

uma entidade espiritual, podia passear por onde bem lhe

apetecesse. (D. N. A.) (Décima Nota do Autor) 11

Embora isso não lhe fizesse qualquer diferença. (D. P. N. A.)

(Décima Primeira Nota do Autor) 12

Eu já parei de dizer ao João sem vidao que é que lhe faz

diferença. (D S. N. A.) (Décima Segunda Nota do Autor) 13

Embora isso nao lhe faça muita diferença. (D. T. N. A.)

(Décima Terceira Nota do Autor) 14

Não me importava nada. Tinha era que arranjar outro emprego.

(D. Q. N. A.) (Décima Quarta Nota do Autor)

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À sua frente estava o Fantasma das Cuecas Rotas.16

O Fantasma das Cuecas Rotas estava a pendurar o seu

lençol branco numa corda. Podia se perceber que era o

Fantasma das Cuecas Rotas porque via-se um par de

cuecas flutuando no ar. Ou isso, ou alguém estava

passando um trote no João sem vida.

– Ei! Quem é você?

– Sou o Fantasma das Cuecas Rotas.

– Sei… E aí?

– Não me arranjas um par de cuecas?

– O quê?

– Não me arranjas um par de cuecas?

– Hã?

– Não sabes o que são cuecas?

– Não sei. O meu autor nunca me despiu, por isso

não sei o que trago debaixo desta roupa.

Eu nunca te despi porque tenho medo do que possa

encontrar.

– Tá bom… Então, você quer um par de cuecas, né?

– É.

– E se em vez disso for agulha e linha? Aí, você

podia cozer as suas cuecas.

É coser com “s”, não é com “z”.

– Nada disso. Para cozer tem de ser mesmo com

15

Era para ter sido um susto com o Vicente, mas como eu não

conhecia ninguém chamado Vincente que estivesse disposto a

pregar um susto, teve de ser assim. (D. Q. N. A.) (Décima Quinta

Nota do Autor) 16

Estava à sua frente porque o João sem vida tinha-se virado para

o lado oposto ao qual ele estava virado quando o Fantasma das

Cuecas Rotas surgiu. (D. S. N. A.) (Décima Sexta Nota do

Autor)

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agulha e linha.

– Que grande ideia! Tens aí agulha e linha?

– Não.

– Seu idiota!

– Eu sei que foi uma grande ideia.

– Seu idiota!

– Não é preciso ficar sempre repetindo isso.

– Seu… eu… eu… eu…

– Seu quê?

Aí, o João sem vida aproximou-se um pouco mais e

viu que as cuecas rotas do Fantasma das Cuecas Rotas

estavam penduradas por um fio e no chão (ou na relva)

estava um gravador tocando.17

– Eu… eu… eu…

Aí, o João sem vida viu que o Fantasma das Cuecas

Rotas tinha desaparecido.18

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

17

A teoria confirma-se. Estavam a burlar o João sem vida. Eu já

sabia disso mas, como quiseram que eu ficasse calado, não lhes

disse nada. Agora, o que me incomoda mais no meio disto tudo é:

como é que eles sabiam o que o João sem vida ia dizer antes dele

o dizer? Será que estas histórias são assim tão previsíveis? (D. S.

N. A.) (Décima Sétima Nota do Autor) 18

Na verdade, uma vez que ele nunca chegou a ver o Fantasma

das Cuecas Rotas, o “desaparecido” neste caso é meramente

acessório. (D. O. N. A.) (Décima Oitava Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João sem vida resolveu

aproveitar as vantagens da sua forma mortal e viajar até

à Pré-História19. O seu objectivo era encontrar o seu

velho amigo Eduardo Mãos-de-Sílex.20

Aí, o João sem vida chegou à Pré-História mas, era

uma Pré-História diferente, um pouco mais avançada.

Em todas as cavernas estavam cartazes feitos de pedra:

“VOTE EM CLINTSTONE” ou “VOTE EM AL

ROCK”. Por isso, sendo as cavernas feitas de pedra, os

cartazes estavam gravados nas próprias paredes.

Aí, o João sem vida ficou muito surpreendido.

- Que lugar é este? Isso aqui mudou muito desde a

última vez.

Aí, uma multidão aproximou-se do João sem vida e

agarrou o João sem vida, ou melhor, tentou agarrá-lo

mas, como o João sem vida estava morto eles não

podiam agarrá-lo. Na verdade, eles não podiam ver o

João sem vida por isso mesmo. A multidão estava atrás

doutra pessoa, era o cara que estava no cartaz21 - o

candidato Clintstone.

19

Na sabiam que uma entidade sem vida podia viajar pelo

tempo? (D. N. N. A.) (Décima Nona Nota do Autor) 20

Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (V.

N. A.) (Vigésima Nota do Autor) 21

O que estava no cartaz era só o retracto do candidato

Clintstone, não era o próprio candidato Clintstone. (V. P. N. A.)

(Vigésima Primeira Nota do Autor)

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Aí, a multidão agarrou no candidato Clintstone e

colocou-o num saco22 e levou-o para um esconderijo

secreto que não devia ser tão secreto assim já que eles

sabiam onde é que ficava.

Aí, o João sem vida decidiu seguir a multidão. Aliás,

ele decidiu fazer isso antes da multidão ir para o

esconderijo secreto, o que lhe deu algum tempo de

avanço.

Quando chegou ao esconderijo secreto, a multidão

colocou o candidato Clintstone numa prateleira. O João

sem vida estava perguntando o que se estava passando

ali mas, ninguém lhe respondia porque ninguém o via.

- O que se está passando aqui? Ninguém me

responde? Será que ninguém me vê?

Aí, o João sem vida chegou a uma brilhante

conclusão: as pessoas que estavam no esconderijo

secreto eram todas cegas, surdas e mudas.

Aí, o João sem vida tentou agarrar no saco que tinha

o candidato Clintstone mas, como era um ser etéreo23

não conseguiu agarrar em nada.

Aí, o João sem vida saiu do esconderijo secreto e

continuou o seu passeio pela Pré-História moderna.

Quando ao candidato Clintstone, morreu sufocado e

a sua família teve que se candidatar a um subsídio de

pobreza.

22

De pedra, claro. (V. S. N. A.) (Vigésima Segunda Nota do

Autor) 23

Consegui escrever isto sem ir ver ao dicionário mas, continuo a

não ter certeza do que é. (V. T. N. A.) (Vigésima Terceira Nota do

Autor)

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NOTA: Esta história surge fora de tempo, dado que

a família Clintstone já não se encontra no centro das

atenções. Mas, não se preocupem, no próximo volume

irão ter um pequeno extra: AS AVENTURAS DO

PRESIDENTE DESTEMIDO CONTRA OS LÍDERES

DO TERRORISMO INTERNACIONAL.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava sentindo

um grande peso na sua consciência e resolveu ir ao

Vaticano confessar-se. O que era uma ideia

completamente inútil, uma vez que um ser sem vida não

tem consciência. A única consciência que eventualmente

pode ter é a de que está morto. E, mesmo que tivesse

outra consciência para além dessa, não teriam qualquer

peso, nem material e muito menos moral.

Mas, mesmo assim, o João sem vida decidiu ir até

ao Vaticano para se confessar. (Embora um ser sem vida

não tivesse poder de decisão.)24

Quando chegou ao Vaticano, o João sem vida foi

directamente até à sala de confissões. Ou quase

directamente… Antes tinha passado pela casa de banho

para ver os vitrais.

Aí, o João sem vida pegou numa cadeira e

aproximou-se do Confessionário.25 Aí, o João sem vida

sentou-se numa cadeira e disse para o padre.

- Oi, cara! Eu quero me confessar.

- Não pode estar sentado enquanto se está a

confessar.

24

Mais uma para acrescentar à desigualdade entre as classes. (V.

Q. N. A.) (Vigésima Quarta Nota do Autor) 25

Ao fazer isto, é óbvio que ele já tinha saído da casa de banho. A

não ser que o Confessionário estivesse lá. (V. Q. N. A.) (Vigésima

Quinta Nota do Autor)

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- Porque não?

- Porque não. Tem que se pôr de joelhos.

- Mas porquê? Você tá pensando que eu sou uma

secretária?26

- Tens que te pôr de joelhos, meu filho.

- Filho? Vá chamar filho a outro!

- Não posso. Não está aqui mais ninguém.

- Então vá bugiar!

- Não sejas grosseiro. Olha que Deus castiga-te.

- Esse? Esse já não me pode fazer nada. Já me

expulsou do Céu e do Paraíso. Não tenho medo nenhum

dele.

- Ainda vais para o Inferno se continuas com essas

blasfémias.

- Já fui para o Inferno e também já fui expulso de lá.

- O que é que fizeste?

- Mordi a cauda do pequeno demónio Satã.

- Pois… Ele detesta quando lhe fazem isso. E o que

é que estás a fazer aqui? Posso saber?

- Vim me confessar.

- Não. Porque é que estás aqui?

- Porque me quero confessar.

- Não é isso! És burro ou quê?

- Você não se explica.

26

Não façam caso a esta piada. Mesmo que o João sem vida

fosse uma secretária, seria uma secretária morta. A não ser que o

padre fosse um necrófago. E mesmo que o João sem vida

estivesse vivo, e fosse uma secretária viva e o padre gostasse de

transformistas ainda havia a parede do Confessionário entre o

João sem vida e o padre. (V. S. N. A) (Vigésima Sexta Nota do

Autor)

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- O que eu quero saber é porque é que estás aqui se

já estás morto?27

- Ah! Já podia ter dito que era isso. Estou aqui

porque o Guardião do Purgatório me mandou para a

Terra.

- Para fazeres o quê?

- Hã… Não sei.

- E não achas que era melhor ires-te embora?

- Mas, eu ainda não me confessei.

- Deixa estar. Eu perdoo-te desde que te vás embora.

- Tá bom.

Aí, o João sem vida foi-se embora. E, acrescento

isto, se ele tivesse uma consciência ela estaria muito

mais tranquila agora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

27

O padre havia deduzido que o João sem vida estava morto, não

por ser um representante de Deus na Terra e isso tudo mas,

porque o João sem vida, sempre lento em tudo, só agora é que se

começara a decompor. (V. S. N. A.) (Vigésima Sétima Nota do

Autor)

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava se

sentindo muito triste. Aliás, ele não se estava sentindo

triste porque estava morto e já não podia sentir nada

mas, havia qualquer coisa na sua morte que o estava

incomodando. E não era a sua lenta decomposição. Não.

Faltava qualquer coisa. Qualquer coisa que o animasse.28

Música! É isso aí! Música para o seu coração e os

ouvidos.29

Agora só faltava encontrar alguém que desse música

ao João sem vida.30 Alguém como…

- Eurico A. Cebolo!

Sim, pode ser.

- Não. Eurico A. Cebolo está à minha frente.

Está?

Olha, pois está.

Com efeito, à frente do João sem vida estava o

grande Eurico A. Cebolo.

- Tá vendo?

Mas, ele já está morto.

28

Animar aqui vem no sentido de algo que pode alegrar. (V. O. N.

A.) (Vigésima Oitava Nota do Autor) 29

Embora o seu coração esteja parado e os seus ouvidos já não

ouçam nada. (V. N. N. A.) (Vigésima Nona Nota do Autor) 30

Literalmente falando. (T. N. A.) (Trigésima Nota do Autor)

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- E daí? Eu também tou.31

Pois é.

Aí, o João sem vida aproximou-se do grande Eurico

A. Cebolo.

- Oi! Você é o grande Eurico A. Cebolo?

- Grande Eurico A. Cebolo? Sim, acho que me podes

chamar isso.

Porque é que lhe perguntaste se ele era o grande

Eurico A. Cebolo, se já sabias que ele era o grande

Eurico A. Cebolo?

- Era só para a confirmar.

Passa lá à frente, mas é!

- Mas, se eu passar à frente dele isso não é falta de

respeito?

E desde quando é que tu tens respeito por alguma

coisa?

- Mas, assim fico com menos ainda.

Então, olha, mete-te ao lado dele.

Aí, o João sem vida colocou-se ao lado do grande

Eurico A. Cebolo.

- O que você tá fazendo aqui?

- Estou a passear.

- Mas, você está morto, não está?

- De corpo, sim. Mas, a alma… essa vive para

sempre!

- Tá bom. É como você quiser.

- Eu sei.

- Mas o que eu queria saber era o que você tá

fazendo aqui na Terra.

31

Finalmente ele compreendeu que está morto. (T. P. N. A.)

(Trigésima Primeira Nota do Autor)

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- Estou à procura dum sentido para a morte.

- Ah… Deve ser sempre em frente.

- Em frente não é porque foi donde eu vim.

- Você veio foi de trás.

- Não eu vim em frente mas o frente donde eu vim

agora é trás.

- Tá bom. Oiça, você não me quer ensinar a tocar

uma música?

- Pode ser.

Aí, o grande Eurico A. Cebolo fez duas violas

aparecerem do nada.

- Legal!

Aí, o João sem vida pegou numa das violas e

começou tocando muito depressa, muito depressa, muito

depressa, muito depressa, muito depressa, muito

depressa, muito depressa, muito depressa, muito

depressa, muito depressa, muito depressa, muito

depressa, muito depressa, até que… partiu as cordas.32

- Quem é que te mandou seres bruto? Agora, ficas aí

quieto e ouves.

Aí, o grande Eurico A. Cebolo começou tocando.

Mas… a música era ruim para caramba! Seria pelo

grande Eurico A. Cebolo estar morto e já não saber tocar

bem?

Aí, o João sem vida colocou as mãos nos ouvidos e

gritou:

- Você não tem dó, não?33

32

Convém dizer que as violas, obviamente, também estavam

mortas. (T. S. N. A.) (Trigésima Segunda Nota do Autor) 33

Ele destapou os ouvidos quando estava a gritar, para confirmar

que o grande Eurico A. Cebolo o estava a ouvir. (T. T. N. A.)

(Trigésima Terceira Nota do Autor)

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- Tenho. Pões este dedo aqui e este aqui. E depois

fazes: 34 Aí, o João sem vida finalmente desistiu de ouvir o

grande Eurico A. Cebolo tocar e foi-se embora, deixando

o grande Eurico A. Cebolo tocando para o boneco. 35

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

34

O som era tão mau que nem me atrevo a descrevê-lo. Também,

mesmo que quisesse, ou melhor, mesmo que me obrigassem, não

o podia fazer. Estas folhas não funcionam com som e eu também

não sei escrever pautas. (T. Q. N. A.) (Trigésima Quarta Nota do

Autor) 35

Um boneco de borracha que alguém tinha deixado ali. (T. Q. N.

A.) (Trigésima Quinta Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João sem vida gostaria de estar

num sítio verde e belejante, perdão, belo e verdejante.

Mas, em vez disso, estava num sítio arenoso36 tentando

subir uns degraus enormes.

Como sempre, o João sem vida estava numa

situação inexplicável e, mesmo que soubesse porquê,

não a poderia evitar, uma vez que já estava nela.

Lentamente, o João sem vida foi subindo os degraus.

Primeiro subiu um. Depois subiu outro. E depois…

outro. E depois… outro. E depois… outro. E depois…

outro. E depois… outro.37 Aí, quando o João sem vida

chegou ao cimo, ele teve que descer tudo de novo.38

Mas, enquanto estava a descer, o João sem vida

reparou numa entrada secreta.39

Aí, o João sem vida resolveu entrar na pirâmide.40

36

Que tem areia. (T. S. N. A.) (Trigésima Sexta Nota do Autor) 37

Para quem ainda não percebeu, ele está a subir uma pirâmide.

(T. S. N. A.) (Trigésima Sétima Nota do Autor) 38

O motivo desta descida é muito simples: não me apetecia ir ter

com ele para continuar a história. (T. O. N. A.) (Trigésima Oitava

Nota do Autor) 39

Que não devia ser assim tão secreta já que ele a viu. (T. N. N.

A) (Trigésima Nona Nota do Autor) 40

Se ele queria entrar na pirâmide podia muito bem atravessar a

parede. Não era preciso nenhuma entrada secreta. (Q. N. A.)

(Quadragésima Nota do Autor)

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NOTA: O texto que se segue é a transcrição do

relato da viagem do João sem vida no interior da

pirâmide feita a mim pelo João sem vida.

NOTA 2: O que ele fez foi a viagem, não a pirâmide.

Quando entrou na pirâmide, o João sem vida

caminhou por um corredor escuro em busca de luz. Aí, o

João sem vida chegou numa sala muito grande iluminada

por quatro archotes. (Um em cada parede.) No centro da

sala estava uma tumba. O João sem vida estava se

sentindo mal.

- O que estou fazendo aqui?

Aí, o João sem vida ouviu uma voz vindo da tumba.

- Está aí alguém?

- Quem falou?

- Está aí alguém?

- Se eu estou falando, é porque estou aqui, né?

- Ajuda-me a sair daqui.

- Porquê?

- Porque eu estou-te a mandar!

- Tá bom.

Aí, o João sem vida abriu a tumba41 e saiu de lá de

dentro uma múmia – a múmia do Faraó Flipzés I.

- Obrigado.

- O que você estava fazendo aí?

- Estou sepultado.

41

Ele conseguiu abrir a tumba porque a pedra estava morta.

Depois de tantos milénios ali presas era natural que as pedras não

estivessem vivas. (Q. P. N. A.) (Quadragésima Primeira Nota do

Autor)

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- E você não se cansa disso?

- Não. É chato é pela sujidade. A mulher da limpeza

só vem cá uma vez por século.

- Pois.

- Importas-te de me ajudar a trocar as ligaduras?

- O que é que eu tenho que fazer?

- É só ajudar-me a trocar as ligaduras.

- Como?

- Agarras aqui nesta ponta e puxas.

Aí, o João sem vida agarrou na ponta e puxou.

- Tem cuidado para não espirrares.

- Atchim!

Esqueçam lá isso…

- Ei! Cê tá me ouvindo?

Aí, como o Faraó Flipzés I não respondeu, o João

sem vida resolveu ir-se embora dali e sair da pirâmide e

ir ter comigo à esplanada da cidade mais próxima.42

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

42

Pensavam que eu estava à espera dele ao sol? Cancro da pele.

Diz-vos alguma coisa? (Q. S. N. A.) (Quadragésima Segunda

Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava

visitando a Itália de há muitos séculos atrás quando um

impulso irresistível o atraiu uma modesta capela. Um

impulso na forma de um íman gigante.

Aí, o João sem vida ficou preso no íman gigante,

juntamente com muitas outras almas. O cheiro deveria

ser insuportável se os espíritos deitassem cheiro43, o que

não acontecia.

Felizmente, alguém desligou a tomada do íman

gigante ou fez qualquer coisa assim do género tipo isso.

O que é certo é que o íman gigante deixou de funcionar e

o João sem vida e as outras almas mais desprevenidas

caíram no chão; as mais sábias flutuaram para fora da

capela. Saíram todos da capela, ou quase todos, o João

sem vida foi o único que ficou para observar melhor

aquele lugar.

O João sem vida começou caminhando pela capela.

Fazia-lhe lembrar aquele igrejinha do Vaticano mas, não

tinha nada a ver. O tecto era muito esquisito – tinha

umas pinturas mal acabadas e um cara em um andaime

pintando o tecto.

43

Passada a fase da decomposição corporal, o João sem vida

entrava agora na fase da decomposição espiritual. (Q. T. N. A.)

(Quadragésima Terceira Nota do Autor)

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Aí, o João sem vida gritou:44

- Ei! Que é que você está fazendo aí?

Aí, o cara que estava pintando o tecto da capela

desequilibrou-se e caiu. Caiu mas, não morreu. Ficou a

olhar para o João sem vida por alguns momentos e

depois disse:

- Meu Deus!

- Não sou eu, não. Esse aí que você tá falando é um

velho de barbas.

- Ai que desgraça! Agora quem é que vai pintar o

tecto?

- Ora… você.

- Eu? Com uma perna partida?

- E daí? É a perna que tá partida, não é o braço.

- Tu é que me assustaste! Foi por tua causa que caí!

Aguentem aí um bocadinho.

BREVE INTERLÚDIO

Na qualidade de autor do João sem vida45 decidi dar-

lhe a capacidade de falar com qualquer personagem seja

ela histórica ou criada por mim (excepções feitas ao

rapaz do quisto, ao pequeno rapaz hispânico-masoquista

e outros que não me atrevo a mencionar só para não vos

lembrar que fui eu que os criei.

Podem continuar.

44

Gritou porque, como já não tinha cordas vocais, tinha medo

que não o ouvissem. (Q. Q. N. A.) (Quadragésima Quarta Nota

do Autor) 45

Até certo ponto… (Q. Q. N. A.) (Quadragésima Quinta Nota

do Autor)

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- Tá bom, eu pinto. Mas, você tem que me dizer

como é que é.

Aí, o grande pintor Michelangelo46 tirou um papel

do bolso.

- Faz como está aqui.

Aí, o João sem vida olhou para o papel e disse:

- Isso é muito difícil. Posso fazer outra coisa?

- Hum… podes. Mas vê lá o que é que fazes.

Aí, o João sem vida subiu no andaime e pegou no

pincel e no balde de tinta e começou pintando o tecto da

capela.

Começou por pintar uma bola branca, depois um

triângulo branco, depois um quadrado, depois um

rectângulo, depois um hexágono, depois um pentágono,

depois um octógono, depois um trapézio e depois um

casal de trapezistas.47

Aí, o grande pintor Michelangelo gritou:48

- Desce já daí! Pára com isso!

- Mas, para eu descer, tenho que parar primeiro.

- Não me respondas! Desce daí e vai-te embora!

Aí, o João sem vida desceu do andaime.

- Olhem só para isto! Agora vou ter que dar duas de

46

Eles aproveitaram o interlúdio para se apresentarem. (Q. S. N.

A.) (Quadragésima Sexta Nota do Autor) 47

Tanto o quadrado, como o rectângulo, como o hexágono, como

o pentágono, como o octógono, como o trapézio, como o casal de

trapezistas eram brancos. Não me apeteceu estar sempre a

escrever a mesma coisa. (Q. S. N. A.) (Quadragésima Sétima

Nota do Autor) 48

Não por ter medo que o João sem vida não o ouvisse mas por

estar zangado. (Q. O. N. A.) (Quadragésima Oitava Nota do

Autor)

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mão. Tanto trabalho para nada. Vai-te já embora!

Aí, o João sem vida saiu da capela e foi-se embora.

Entretanto o grande pintor Michelangelo ficou à

espera que a sua perna ficasse curada e depois foi acabar

de pintar o tecto.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava

passeando por um lugar inospitamente estranho. Era um

sítio quente e escuro mas, o João sem vida estava

reconhecendo aquele sítio. Fora por ali que ele tinha

vindo quando tinha vindo ali pela primeira vez. Era o

caminho para o inferno do pequeno demónio Satã!

E à frente do João sem vida estava algo que ele

nunca tinha reparado antes: um stand de barcos e

automóveis49 do inferno. Aí, o João sem vida decidiu ir

pedir um barco para atravessar o rio dos mortos e dar um

olá para seu velho chapa, o pequeno demónio Satã.

Aí, o João sem vida chegou junto do dono do stand e

disse50:

- Oi! Importa-se de me emprestar um desses barcos

aí?

- Não.

- Então, vou escolher.

- Não é “Não, não me importo.” É “Não, não

empresto.”

49

É claro que ele já tinha visto um stand de automóveis antes. A

novidade era haver um ali. (Q. N. N. A.) (Quadragésima Nona

Nota do Autor) 50

Na verdade, a pessoa que estava lá era um simples empregado.

O dono tinha ido para as Caraíbas mas, isso não interessa nada

para a história. (Q. N. A.) (Quinquagésima Nota do Autor)

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- Porquê não?

- Porque os barcos são para alugar.

- Eu não quero alugar. Só quero levar emprestado.

- Não podes. Se queres atravessar o rio tens que ir

naquela barca.

- Aquela barca?

- Sim, a… Barca do Inferno!

Música tenebrosa.51

INÍCIO DUMA PAUSA NARRATIVA

Nunca gosto de fazer isto, mas sinto-me no dever de

vos esclarecer sobre um assunto: esta história era para

ser focalizada, inicialmente, no stand de barcos e

automóveis do inferno mas, acabei por mudar de ideias.

Acho que para melhor.

FIM DUMA PAUSA NARRATIVA

Aí, o João sem vida subiu a bordo daquela barca que

ia para o inferno. Era uma barca pequena.52

Aí, o João sem vida olhou para os outros

passageiros: um empresário53, o seu empregado54, um

51

De meter medo. Não confundir com músicas de discoteca que,

apesar de meterem medo, não se enquadram no espírito desta

história. Até certo ponto… (Q. P. N. A.) (Quinquagésima

Primeira Nota do Autor) 52

Era o mínimo que se podia dizer. (Q. S. N. A.)

(Quinquagésima Segunda Nota do Autor) 53

Condenado por enganar toda a gente. (Q. T. N. A.)

(Quinquagésima Terceira Nota do Autor)

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anjo55, um cara com disfunções mentais56, um

sapateiro57, um padre58, uma mulher da praça59, um

judeu60, um Juiz e um advogado61, um homem sem

cabeça62 e quatro cantores de rap63.

Aí, os quatro cantores de rap começaram cantando e

todo mundo começou discutindo e falando frases sem

sentido.

Aí, o João sem vida disse:

- Esta barca é pequena demais para nós todos!

Aí, o capitão da barca, um sujeito alcoólico e

54

Condenado por ser enganado por toda a gente. (Q. Q. N. A.)

(Quinquagésima Quarta Nota do Autor) 55

Desconheço se este anjo fazia parte de algum ajuntamento

musical. (Q. Q. N. A.) (Quinquagésima Quinta Nota do Autor) 56

Condenado por falta de espaço no Céu. (Q. S. N. A.)

(Quinquagésima Sexta Nota do Autor) 57

Talvez tenha sido condenado ao inferno por usar couro de

segunda categoria. (Q. S. N. A.) (Quinquagésima Sétima Nota

do Autor) 58

Condenado por heresia e pedofilia. (Q. O. N. A.)

(Quinquagésima Oitava Nota do Autor) 59

Condenada por vender peixe podre. (Q. N. N. A.)

(Quinquagésima Nona Nota do Autor) 60

Condenado por fazer circuncisões mal feitas. (S. N. A.)

(Sexagésima Nota Do Autor) 61

Condenados por razões óbvias. (S. P. N. A.) (Sexagésima

Primeira Nota do Autor) 62

Era para ser um homem enforcado mas, com a decomposição

do corpo, a sua cabeça caiu. (S. S. N. A.) (Sexagésima Segunda

Nota do Autor) 63

Dignos representantes da nova mensagem espiritual. (S. T. N.

A.) (Sexagésima Terceira Nota do Autor)

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enganado pela mulher64 disse:

- Tens razão.

Aí, o capitão da barca lançou o João sem vida pela

borda fora.

A barca continuou o seu caminho até chegar ao mar

de lava onde ardeu por completo.

Quanto ao João sem vida, desistiu de ir ter com o

pequeno demónio Satã porque, entretanto, se lembrara

que não gostava dele, e foi-se embora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

64

Portanto, era vermelho, tinha cornos e um grande rabo. (S. Q.

N. A.) (Sexagésima Quarta Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava sentindo

um formigueiro mental. Quase como se um bando de

formigas estivesse passeando dentro de sua cabeça. Mas,

não era bem isso que estava acontecendo. O formigueiro

estava agora em todo o seu corpo. Alguma coisa estava

prestes a acontecer. O João sem vida conseguia sentir

isso.65

Aí, sem mais nem menos, mas com um sinal de

vezes e outro de dividir na cabeça, surgiu a imagem do

Guarda do Purgatório.66

– João!

– Já disse pra você que é João sem vida! Ainda não

aprendeu direito, não?

– Cala-te! Os meus pais não podiam pagar a

faculdade. Tenho estado a observar-te.

Não deve ter mais nada que fazer.

– E?

– E tal como te tinha dito, caso ficasses apto,

65

Logicamente, ele não sentia pois o seu sistema nervoso já

estava morto. Quanto à tal sensação de formigueiro, é apenas um

pequeno adiantar de acontecimentos que irão surgir brevemente.

(S. Q. N. A.) (Sexagésima Quinta Nota do Autor) 66

Na verdade, a imagem surgiu apenas ali. Era para ter surgido

em todo o lado por causa do efeito cénico, mas depois pensei que

as outras pessoas não iam ter qualquer interesse em ver o

Guardião do Purgatório. (S. S. N. A.) (Sexagésima Sexta Nota do

Autor)

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poderias regressar à vida na Terra.

– Sei.

– Bom, a verdade é que não passaste no teste.

– Tive negativa?

– Sim.

– Quanto é que tive?

– Não faço ideia… Não conseguimos descobrir que

número é aquele. Mas, é também verdade que não podes

vir para aqui porque nós não queremos. Os meus

superiores julgam que a tua presença na Terra pode levar

muita gente a cometer suicídio, homicídio, talvez, quem

sabe, genocídio, e isso poderia ajudar a combater o

aumento da densidade populacional que tanto ameaça a

vida deste planeta.

– Cê tá querendo dizer que eu vou ficar aqui?

– Eu não estou a querer dizer nada. Eu estou mesmo

a dizer.

– Sabe, é que eu tenho estado sentindo aqui um

formigueiro e…

– É o teu corpo que está a voltar à vida.

– Então não vou ter um corpo novo?

– Pensas que isto aqui é o quê? Algum stand de

corpos? Levas esse e já vais com sorte.

Aí, o Guardião do Purgatório desapareceu do céu.

Aí, o João sem vida começou sentindo o formigueiro

aumentando. O seu corpo transparente estava começando

a ficar sólido.67 O sangue estava de novo fluindo em suas

veias. Conseguia mexer seu corpo e fazer tudo o que

fazia antes de ter morrido. O João sem vida havia

67

Sólido e visível. (S. S. N. A.) (Sexagésima Sétima Nota do

Autor)

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reencarnado!68

– Agora que já reencarnei que tal um nome novo?

Estás muito calmo. O que é que se passa?

– Nada. Já me acostumei a estas mudanças.

Então, a partir de agora, serás o novo João

reencarnado.

Aí, o novo João reencarnado colocou as mãos nos

bolsos e foi dar um passeio.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

68

Já perceberam que o corpo é o mesmo, não já? Por isso, para

mim, essa história da reencarnação é mas é uma grande treta. (S.

O. N. A.) (Sexagésima Oitava Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando pela rua, sentindo uma alegria imensamente

imensa. Ele estava vivo de novo!69 Ele tinha regressado

para que suas velhas glórias pudessem ser de novo

relembradas.

E, para provar isso, nada melhor que enviar o novo

João reencarnado para um canal de reposições para que o

próprio público se possa deliciar com o seu passado

glorioso.70

– O que é que você está querendo dizer?

Estou a querer dizer que vamos para a televisão.

– Então diga!

Vamos para a televisão.71

Assim, o novo João reencarnado caminhou por entre

corredores cheios de programas que outrora foram

grandes sucessos junto do público e que agora estavam

condenados a viver uma existência forçada junto de

69

É uma nota um pouco inútil esta. Mesmo morto ele fazia tudo

como se estivesse vivo. Redundante, não acham? (S. N. N. A.)

(Sexagésima Nona Nota do Autor) 70

É o passado do novo João reencarnado e não o passado do

público. (S. N. A.) (Septagésima Nota do Autor) 71

Não estou nada confiante em relação a isto. (S. P. N. A.)

(Septagésima Primeira Nota do Autor)

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audiências fantasmas.72

Aí, o novo João reencarnado chegou junto do

Revivador, o cara que pegava em objectos de

entretenimento lúdico que tiveram um sucesso

considerável junto do público em eras remotas e

conseguia reavivá-los de tal modo que eles eram

apresentado como sendo algo completamente novo.

Estou a empatar um pouco, não estou?

Aí, o novo João reencarnado chegou junto do

Revivador e disse:

Esperem. Primeiro tenho que estabelecer um plano

de aproximação.

Narrativa oculta.73

Já sei.

Aí, o novo João reencarnado disse:74

– Oi. Cê não quer colocar minhas histórias aí, não?

– Não! Quem és tu?

– Sou o novo João reencarnado.

– O que é queres daqui?

– Quero que transforme minhas histórias em

72

No máximo, está poético. No mínimo, é tudo mentira. (S. S. N.

A.) (Septagésima Segunda Nota do Autor) 73

Isto significa que mesmo que eu tivesse escrito alguma coisa,

vocês não poderiam ler. Isto é bastante prático, porque poupa-me

o trabalho de escrever. (S. T. N. A.) (Septagésima Terceira Nota

do Autor) 74

Mesmo sabendo que é um plano de aproximação, não nos

podemos esquecer que o novo João reencarnado já estava

próximo do Revivador. (S. Q. N. A.) (Septagésima Quarta Nota

do Autor)

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objectos de cultivo.

Não é “cultivo”, é “culto”

– Para você também.

– O quê?

– Não é com você.

– Bom, conta-me lá algumas dessas histórias.

– Bom, teve uma vez em que eu caí de um abismo e

fui salvo três vezes durante a queda e depois caí. Teve

outra vez que eu ajudei o Pai Natal e…

– Pára! Pára! Que histórias são essas de cair dum

abismo e ajudar o Pai Natal? Tanto quanto sei o Pai

Natal não existe e quando alguém cai dum abismo

geralmente costuma morrer.75 A não ser que esteja a ser

filmado.76

Aí, o novo João reencarnado contra-argumentou:

– É verdade que quando alguém cai de um abismo,

morre. Mas, eu não sou qualquer, eu sou o novo João

reencarnado.

– E o que é que eu tenho a ver com isso?

– Hã… que eu saiba, nada. O que eu quero dizer é

que eu não morro facilmente. Só morro se quiser.

– Gostava de ver isso.

É melhor não te pores com experiências.

– Fique tranquilo. Ele não vai fazer nada.

75

Isto do “costuma morrer” aplica-se apenas uma vez por pessoa,

dado que, uma vez morto, pode-se saltar do abismo quantas vezes

se quiser sem que haja qualquer perigo de morrer. (S. Q. N. A.)

(Septagésima Quinta Nota do Autor) 76

É uma piada pessoal. Só uma pessoa é que a percebe… eu. De

qualquer modo, decidi colocá-la na mesma. Pode ser que alguém

a perceba. Alguém que não seja eu, entenda-se. (S. S. N. A.)

(Septagésima Sexta Nota do Autor)

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– Não vou? Aí é que tu te enganas!

Aí, o Revivador deu um tiro no novo João

reencarnado mas não aconteceu nada. Aliás, não

aconteceu nada do que era esperado.

Como o novo João reencarnado era lento, o seu

corpo ainda não estava totalmente ressuscitado e a bala

atravessou um bocado de espírito que ainda estava a

descoberto.

– Tá vendo? Ainda estou vivo. Agora… Vai passar

minhas histórias para aí ou não?

– Sabes… O problema é que as tuas histórias não

têm grande interesse temporal.

– Interesse temporal?

– Sim.

– É que eu já viajei através do tempo várias vezes.

Se for esse o problema–

– Não é nada disso. As tuas histórias são muito giras

e eu gosto muito delas. O problema é que as histórias são

escolhidas segundo as audiências que tiveram enquanto

eram exibidas num canal principal.

– Não compreendo.

– O que eu quero dizer é que as pessoas que

escolheram as séries a serem reavivadas são muitas

vezes demasiado broncas para perceber quando é que

uma coisa tem qualidade.77 E mesmo que gostassem das

tuas histórias, elas só poderiam ser reavivadas se já

tivessem existido antes num canal principal e, para isso

acontecer, as pessoas teriam que gostar das tuas histórias

77

Não quero dizer com isto que estas histórias têm qualidade.

Quer dizer, hão-de ter qualquer coisa, mas eu ainda não consegui

descobrir o que é. (S. S. N. A.) (Septagésima Sétima Nota do

Autor)

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sem as ver.

– Fiquei na mesma.

Eu também.

– Eu também.78

Eu acho é melhor passarmos à realidade.79

Aí, a história regressou à realidade.80

– … por isso, só daqui a muitos anos é que as tuas

histórias poderão ser reavivadas e já que se tratam de

livros, isso será feito através de segundas, terceiras e

quartas edições. Até lá, podes esperar.

– Sentado?

– Sim. Desde que não esperes aqui.

– Posso esperar lá fora?

– Podes.

Aí, o novo João reencarnado foi esperar na sala de

esperas até que fosse chegada a hora de reavivar suas

histórias.

Uma hora depois…

Aí, um cara se chegou junto do novo João

reencarnado e disse:

– Vai fechar.

– Hã?

– Vai fechar.

– Vou fechar o quê?

– Tu não vais fechar nada, eu é que vou fechar isto.

78

É melhor explicar de novo. Acho que ninguém percebeu. (S. O.

N. A.) (Septagésima Oitava Nota do Autor) 79

Óptima ideia. (S. N. N. A.) (Septagésima Nona do Autor) 80

Tanto quanto possível. (O. N. A.) (Octogésima Nota do Autor)

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– Ah… Faliu, foi?

– Não. Ainda não.

– Eu estou esperando que o Revivador me chame.

– Quem?

– O Revivador. Um cara que está ali dentro daquele

escritório.

Aí, o novo João reencarnado apontou para a porta do

gabinete do Revivador.

– Ali? Ali é o armário das vassouras.

– Não é não.

Aí, o cara abriu a porta e o novo João reencarnado

viu duas vassouras. E o cara também as viu.

– Vês? Agora, se não for pedir muito, põe-te a andar.

Aí, o novo João reencarnado foi-se embora.

Quanto ao personagem do Revivador foi

considerado desinteressante pelo público autorial… (eu)

e foi condenado a ver a sua vil e apagada existência

reduzida ao máximo da sua nulidade.81

E assim termina a história de um homem como

tantos outros, um homem que viu a sua vida arrastada

para os meandros mais recônditos e obscuros da… Zona

do Crepúsculo.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

81

Esqueci-me do que ia pôr aqui. (O. P. N. A.) (Octogésima

Primeira Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando quando de repente sentiu um tremor. E não

era ele que estava tremendo – era o chão82. O chão

estava tremendo por todo o lado. O céu estava vermelho

e estava chovendo fogo. Era um verdadeiro inferno!

Aí, uma nave surgiu do céu e apanhou o novo João

reencarnado com um gancho.

O novo João reencarnado foi parar dentro da nave.

Era uma nave como qualquer outra: uma decoração

italiana estilo século XVI com influências barrocas mas

estava muito desarrumada. Havia muita coisa espalhada

pelo chão. Era um caos total! Quem seria a mente insana

responsável por tudo aquilo? Aí, uma porta abriu-se e o

responsável por tudo aquele caos surgiu – o temível

Mong.

Aí, o novo João reencarnado começou rindo da cara

do temível Mong.83

– Pára! Ninguém se ri assim do temível… Mong!

– Quem?

– O temível… Mong!

82

Aliás, como ele estava em cima do chão que tremia, era natural

que ele tremesse também. (O. S. N. A.) (Octogésima Segunda

Nota do Autor) 83

Se vocês o vissem também se riam. Acreditem… (O. T. N. A.)

(Octogésima Terceira Nota do Autor)

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– Que som é esse?

– Som? Que som?

– Você não tá ouvindo?

– Não.

– Diga lá seu nome outra vez.

– Temível… Mong.

– Agora já ouviu?

– Espera um pouco.

Aí, o temível Mong carregou duas vezes num botão

e dois guardas vindos do nada caíram no chão e ficaram

carbonizados instantaneamente.84

– Quem são esses?

– São, eram a minha guarda pessoal. Agora têm,

tinham a mania que são, eram músicos. Já não os podia

ouvir!

– Porque não? Cê tava surdo?

– Hoje de manhã, sim. Fui assistir a um

bombardeamento em Tetretia ontem à noite. Aquela

barulheira toda deixou-me surdo.

– Mas agora já ouve não já?

– Já.

– E quando é que eles começaram tocando?

– Foi assim que tu apareceste.

– Cê tá querendo dizer que a culpa disso foi minha? – Estou. Porquê. Tens problemas?

– Tenho, mas você não tem nada que ver com isso.85

84

O mais certo é terem caído do tecto. (O. Q. N. A.) (Octogésima

Quarta Nota do Autor) 85

Tendo dois intervenientes tão dotados como o novo João

reencarnado e o temível Mong, esta conversa até que está a ter

um certo nível. (O. Q. N. A.) (Octogésima Quinta Nota do

Autor)

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– Não fales assim comigo!

– Então falo como?

– Sobes para cima daquele degrau, depois

equilibras-te na perna esquerda, levantas o braço direito

e inclinas a cabeça para trás num ângulo de…

– Eu vou é embora daqui!

– Ai sim? E como é que vais fazer isso?

– Não sei. Mas…

– Mas o quê?

– Mas, nada.

– Ah!

– Ah! Já sei! Mas, se você conseguiu me trazer até

aqui também me pode enviar de novo para donde eu

vim.

Aí, o novo João reencarnado começou carregando

em tudo o que era botão. E então… aconteceu: os

desastres na Terra pararam86, o novo João reencarnado

regressou de volta à Terra e a nave do temível Mong

explodiu.

Aí, uma vez de novo na Terra, o novo João

reencarnado foi dar um bem merecido passeio.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

86

Desastres como chuvas de fogo e terramotos artificiais. Os de

viação continuaram. (O. S. N. A.) (Octagésima Sexta Nota do

Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando por um sítio que não visitava há muito tempo.

Era um sítio nebuloso onde o novo João reencarnado

encontrara pela primeira e última vez o velho empirista

de ângulo sexo-sónico. A única diferença é que o novo

João reencarnado na altura era conhecido por pequeno

grande João.87

Hoje estava menos nevoeiro mas, o sítio também

estava diferente. Era o mesmo sítio mas, havia ali

qualquer coisa de estranho. As luzes não podiam ser

porque não se via luz nenhuma.

Aí, o novo João reencarnado quase que ia sendo

atropelado por uma carroça. E, então, o novo João

reencarnado percebeu o que tinha acontecido: (ou

melhor, eu percebi e fiz de conta que ele também tinha

percebido) aquela névoa transportara o novo João

reencarnado através dos tempos para uma época

desconhecida.

Aí, o novo João reencarnado decidiu ir dar uma

passeio para ficar a conhecer melhor aquele sítio igual

mas, diferente ao que ele tinha conhecido antes e que

87

Ver O PEQUENO GRANDE JOÃO E OS EMPIRISTAS DE

ÂNGULO SEXO-SÓNICO in A SAGA DO PEQUENO JOÃO I

(O. S. N. A.) (Octagésima Sétima Nota do Autor)

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agora estava igual mas, diferente em relação àquele sítio

onde ele estava agora.

Aí, o novo João reencarnado chegou numa casa

muito estranha. Além de ser a única casa naquela rua, era

transparente.88 Aí, o novo João reencarnado viu um cara

sentado numa secretária escrevend. Aí, o cara levantou-

se, a secretária parou de escrever e escondeu-se atrás

duma árvore.89

Aí, o outro cara gritou:

– Raios e coriscos! Assim não dá! Esta gaja não me

inspira nem um bocadinho!

Aí, o novo João reencarnado decidiu ir ajudar aquele

cara zangado, que não era nem mais nem menos, mas o

próprio… Shakespeare, o grande William Shakespeare!

- Porque é que eu tenho de ir?

Porque sim.

– Mas porquê? Eu não conheço esse cara de lado

nenhum.

E desde quando é que isso te faz diferença?

– Desde agora. Vai lá ter com ele.

Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do

grande Shakespeare e disse:

– Oi. Eu venho… ajudar você.

– Vens me ajudar, é?

– Você é surdo? Foi o que eu falei, não foi?

88

Podemos concluir duas coisas: uma, ele já tinha saído da casa e

estava agora no campo; duas, a casa tinha janelas grandes. (O. O.

N. A.) (Octagésima Oitava Nota do Autor) 89

Das duas, três: ou a árvore estava dentro de casa ou a porta

estava aberta ou não havia nenhuma casa. (O. N. N. A.)

(Octogésima Nona Nota do Autor)

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– Sim, tu disseste que eu era surdo, mas…

– Eu não disse que você era surdo, eu disse que você

é surdo.

– Mas, não sou.

– Já podia ter dito. E aí, o que é que você quer que

eu faça?

– Eu preciso que alguém me inspire. Inspira-me se

conseguires.

Aí, o novo João reencarnado tentou inspirar o

grande Shakespeare. Primeiro pela narina esquerda. Não

conseguiu. Depois pela narina direita. Também nada. Aí,

o novo João reencarnado tentou inspirar o grande

Shakespeare pela boca90 mas, também não conseguiu.

Desiludido mas, ao mesmo tempo, satisfeito por

dado o seu melhor, o novo João reencarnado foi-se

embora à procura de uma saída de volta para a sua

época.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

90

O que deve ser muito incómodo porque já se sabe que a boca

não tem filtros para filtrar as impurezas do ar. (N. N. N. A.)

(Nonagésima Nona Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando em frente a uma igreja quando ouviu alguém

cantando. Pior ainda, era alguém cantando mal, mas mal

mesmo.

Aí, o novo João reencarnado entrou na igreja e ficou

surpreso com o que viu. A igreja por dentro era um

armazém e em cima dum monte de caixotes estava um

cara de branco cantando. E mais estranho ainda era o

facto de estarem dentro dessa igreja-armazém pessoas

ouvindo esse cara de branco cantando. E mais estranho

ainda era o facto dessas pessoas que estavam dentro da

igreja-armazém ouvindo o cara de branco que estava

cantando estarem gostando de ouvir o cara de branco

cantando!

Aí, o cara de branco começou cantando uma música

diferente e aí as pessoas começaram indo embora.

Aí, o cara de branco se pôs de joelhos e começou

rezando no seu telemóvel de último modelo:

– Perdoa-lhes, Senhor. Eles não sabem o que fazem.

E do outro lado ouviu-se uma voz profunda,

tenebrosa e grave91:

– Mas é melhor que aprendam. Ando a gastar muito

dinheiro contigo.

91

Grave no sentido de não ser aguda. (N. P. N. A.) (Nonagésima

Primeira Nota do Autor)

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Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do

“palco” e disse para o cara de branco.

– Oi.

– Quem está aí? Ah! Olá. Vejo que ficou aqui.

Gostou da música, foi? Já tem um lugar garantido no

Céu.

– Não gostei de sua música, não. Ela é muito ruim!

E já estive no Céu e não gostei.

– Quem é você?

– Sou o novo João reencarnado.

– João da parte da mãe e reencarnado da parte do

pai?

– Deve ser. Não sei.

– Muito prazer. Eu sou o padre Marcelo Roça.

– Marcelo da parte da mãe e Roça da parte do pai?

– Ao contrário.

– Eu não consigo dizer isso tudo ao contrário!

– Tente.

– Iap od etrap ad açoR e eãm ad etrap ad olecraM?92

- Não era isso que eu queria dizer.

– Ah! Pai do parte da Roça e mãe da parte da

Marcelo?

– Não!

– Roça da parte do pai e Marcelo da parte da mãe?

– Não…

– Roça da parte da mãe e Marcelo da parte do pai? – Sim.

– Já podia ter dito antes, né? Não era preciso ficar

perdendo esse tempo todo.

Aí, o novo João reencarnado perguntou:

92

Notem que fui eu que escrevi isto ao contrário. (N. S. N. A.)

(Nonagésima Segunda Nota do Autor)

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– Porque é que aqueles caras foram embora?

– Acho que eles não gostam da minha música.

– Você quer que eu o ajude a fazer uma música

nova?

– Pode ser. Como é que você acha melhor?

Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e uma

música começou.

Aí, o novo João reencarnado perguntou:

– Ei! Como é que você fez isso?

– Shiu…

Aí, o novo João reencarnado se calou e o padre

Marcelo Roça começou cantando.

Ó meu Deus, ó Deus meu!

Aleluia, irmãos e irmãs!

Ele é o Senhor do Céu

Que abençoa nossas manhãs!

Coro:

Ele é o Salvador!

Ele é o Salvador

Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e a música

parou.

– Gostou?

– Hum… não. Tente outra coisa.

Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e outra

música começou. Era a mesma música só que dessa vez

estava mais rápida.

Ó Deus meu, ó meu Deus!

Vós que abençoais nossas manhãs!

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Vós sois o Senhor dos Céus!

Aleluia, irmãos e irmãs!

Coro:

Ele é o Redentor!

Ele é o Redentor!

Aí, a música parou. Mas, desta vez, foi o novo João

reencarnado quem bateu palmas.

– Acho que você devia desistir de cantar e dedicar-se

à pesca.

– Acha que eu canto assim tão mal?

– Pior.

– Óptimo! Vou aceitar seu conselho.

Aí, o novo João reencarnado foi-se embora daquela

igreja-armazém e continuou seu caminho.93

Quanto ao padre Marcelo Roça, dedicou-se à pesca e

terminou seus dias pescando bacalhau nos mares do

norte.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

93

Isto de continuar o seu caminho não quer dizer que ele andava

a fazer uma estrada. (N. T. N. A.) (Nonagésima Terceira Nota do

Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando pelas ruas de uma cidadezinha quando sentiu

um cheiro muito ruim. Um cheiro parecido com aquele

que ele tinha quando estava morto e em decomposição.

Aí, ele apareceu. Vinha vestido de preto e tinha a

cabeça parecida com um porco-espinho.

Aí, o novo João reencarnado tentou falar com ele.

– Oi.

– Olá!! Posso ajudar-te nalguma coisa?

– Eu sou o novo João reencarnado.

– Encantando! Eu sou o Emperor-Man, ou em

português, Homem-Catálogo94!

– Porque é que você cheira tão mal?

– Eu não cheiro mal! Isto é o cheiro do sucesso!

– É? Pois esse seu sucesso não me está cheirando

bem, não.

– Achas isso, é? Quero ver o que é que dizes do meu

parceiro, o…

– Não é preciso. Eu acredito em você.

– Mas acreditas no quê?

– No que você quiser.

– Óptimo.

94

A tradução não é das melhores, mas estou no meu pleno

direito. Com as traduções que se fazem por aí, esta até está muito

boa. (N. Q. N. A.) (Nonagésima Quarta Nota do Autor)

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– O que é que você faz, então?

– Ajudo as pessoas a expandirem os seus horizontes.

– Não acredito.

– Ainda agora disseste que acreditava em tudo o que

eu dissesse.

– Sim, mas só no que fosse verdade. O horizonte é

do mesmo tamanho para todo mundo.

– Aí é que tu te enganas! Se uma pessoas estiver

muito perto do horizonte ele parece mais pequeno do que

se estiver longe. É ou não é?

– É. Tem razão. E que mais você faz?

– Sou capaz de decorar catálogos de música…

– Completos?

– Sim, completos, e de identificar qualquer música

através dum simples nota.

– Já pensou em ir até à televisão?

– Não. A fama não me interessa.

Aí, o novo João reencarnado olhou à sua volta. Por

todo o lado estavam cartazes com a cara do Homem-

Catálogo. Um avião voava no céu deixando uma

mensagem com fumo: “O HOMEM-CATÁLOGO É

VESTIDO PELA MÃE.”95

– Quer dizer que vcoê é um super-herói?

– Um, não! O super-herói! E dos bons!

– E tem muitos inimigos?

– Alguns. Os piores são o Super Feijão Verde

Atómico, o Fantasma das Bandas Desconhecidas, o

Homem-Gás e o Professor Doutor Carlos Alberto.

95

Desnecessário será dizer que o avião estava a deitar aquele

fumo todo porque estava a cair, mas eu digo na mesma: o avião

estava a deitar aquele fumo todo porque estava a cair. (N. Q. N.

A.) (Nonagésima Quinta Nota do Autor)

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– Puxa vida! E como é que você os consegue vencer

a todos?

– Bom, consigo disparar o meu cabelo a dez metros

de distância.

– O seu cabelo?

– E tenho também a minha arma secreta, o meu bafo

super-poderoso a alho. Queres experimentar?

– É melhor não.… Mas, e se por acaso algum dos

seus inimigos cortar seu cabelo e tapar sua boca? O que

é que você faria?

– Em primeiro lugar, o meu nome não é Faria, é

Homem-Catálogo! E se isso acontecesse, usava a minha

arma ultra-secreta: emanações odoríficas sovacais.

Quem as respirar, desmaia.

– E se eles estiverem usando máscaras?

– Não há máscara que resista a isso.

– E se houver?

– Se houver, posso sempre contar com a ajuda do

meu fiel parceiro.

– E se o seu parceiro também estiver preso?

– Ouve lá! O que é que tu queres, afinal? Queres que

eu deixe de ser um super-herói, é?

– Não era má ideia, não. Você é o super-herói mais

ridículo que eu já vi em toda a minha existência. E olhe

que eu já vi muitos.

– Bom, mas eu não vou desistir! Vou continuar a ser

o Homem-Catálogo até ao fim dos meus dias!

– Faça como você quiser, eu vou-me embora.

– Óptimo! Esta cidade é pequena demais para nós os

dois.

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Aí, o novo João reencarnado foi-se embora daquela

cidade, deixando sob a protecção do Homem-Catálogo e

do seu fiel parceiro, o Rapaz-Sagaz.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando por uma praia quando ouviu um barulho

estranho. Aí, o novo João reencarnado saiu da praia e

entrou numa floresta, sempre ouvindo aquele barulho

estranho. Aí, o novo João reencarnado encontrou um

macaco com as mãos em sua barriga.96… 97

Aí, o novo João reencarnado e perguntou:

- Que é que você tem?

- Fome! Quem és tu?

- Sou o novo João reencarnado. E você, quem é?

- Sou o primo do macaco André.

- Não conheço. E você, quem é?

- Sou o primo do macaco André.

- Você não se cansa de ficar sempre repetindo o

mesmo? Qual é o seu nome?

- É este! Primo do macaco André!

- Posso tratá-lo por você?

- Podes.

Aí, o barulho aumentou.

- Ai! Ajuda-me, por favor!

- O que é que você quer que eu faça?

96

Na parte de fora da barriga. (N. S. N. A.) (Nonagésima Sexta

Nota do Autor) 97

Na barriga do macaco. (N. S. N. A.) (Nonagésima Sétima Nota

do Autor)

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- Preciso de bananas.

Aí, o novo João reencarnado olhou à sua volta e só

viu bananeiras.98

- Mas, você tem aqui muitas bananas.

- Não são destas. São umas bananas azuis. Só

crescem numa ilha perdida no meio do mar. Vou-te

desenhar um mapa.

Aí, o… símio falante99 pegou num graveto e

desenhou um mapa no chão.

- Vês? É aqui no x.

- Mas, se é aqui porque é que você está tão

preocupado?

- Não é aqui… é aqui!

- É o que eu tou dizendo.

- Olha, é assim: vais até à água, nadas sempre em

frente e páras na primeira ilha que encontrares.

- Tá bom.

Aí, o novo João reencarnado foi-se embora para a

praia e nadou até à primeira ilha que encontrou.

Quando lá chegou pegou num ramo de bananas e

nadou de volta para a outra margem.100 Aí, o novo João

reencarnado foi ter com o símio falante.

98

Ele até viu mais coisas, mas, o que interessa para agora é que

ele tenha visto as bananeiras. (N. O. N. A.) (Nonagésima Oitava

Nota do Autor) 99

Estou a usar esta designação só para simplificar. Este símio

falante não tem nada a ver com os símios falantes da história O

NOVO PEQUENO JOÃO NO PLANETA DOS SÍMIOS

FALANTES. Ver a SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais

detalhes. (N. N. N. A.) (Nonagésima Nona Nota do Autor) 100

Ele podia não ter feito nada disto. Se bem se lembram, o

primo do macaco André só lhe disse para ir até à ilha, não disse

para fazer mais nada. (C. N. A.) (Centésima Nota do Autor)

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- Aqui estão suas bananas.

Aí, o símio falante pegou nas bananas, apalpou-as,

provou uma e depois deitou-as fora.

- E aí? Gostou?

- Não! Tão molhadas! Sabem a sal! E estão muito

maduras! Para a próxima não me ajudes!

- Tá bom.

Aí, o novo João reencarnado foi-se embora e o símio

falante morreu de fome.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passando por um bosque encantado quando ouviu um

animal chorando.101 Aí, o novo João reencarnado foi à

procura e encontrou um filhote de veado. E esse filhote

de veado estava chorando porque tinha uma de suas

patas presas em uma armadilha para ursos.102 Aí, o novo

João reencarnado tentou falar com o filhote de veado.

- Oi. Cê precisa de ajuda aí?

Mas, o filhote de veado não respondeu porque os

animais não falam e porque isto não é uma fábula.

- Cê tá me ouvindo?

Como o filhote de veado não respondeu, o novo

João reencarnado concluiu que aquele filhote de veado

estava surdo. Aí, o novo João reencarnado disse:

- Fazemos assim: eu falo e você diz que “sim” ou

que “não” com a cabeça103, tá bom?

Aí, o filhote de veado fez que “sim” com a cabeça e

o novo João reencarnado reformulou a sua teoria: aquele

101

Neste caso, não seria bem chorar mas, o equivalente. (C. P. N.

A.) (Centésima Primeira Nota do Autor) 102

Portanto, ele estava a chorar por ter sido apanhado numa

armadilha destinada a outro animal. Já viram tamanha xenofobia

entre animais? (C. S. N. A.) (Centésima Segunda Nota do Autor) 103

Sendo o “sim” para sim e o “não” para não. (C. T. N. A.)

(Centésima Terceira Nota do Autor)

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filhote de veado sofria de um problema na fala.104

Aí, o novo João reencarnado sentiu um cheiro de

queimado. Aí, o filhote de veado começou se debatendo

e o novo João reencarnado soltou a pata do filhote de

veado. Aí, o filhote de veado começou correndo e o novo

João reencarnado foi atrás dele sem saber porquê.

E aí, de repente, todos os animais do bosque

estavam correndo e lá atrás tudo vinha em último lugar

um cara com um lança-chamas pegando fogo em tudo.

Aí, todo o mundo chegou junto dum abismo e aí, todo

mundo conseguiu saltar o abismo. Isto é, todo o mundo

menos o novo João reencarnado e o cara do lança-

chamas que caiu e bateu com a cabeça numa rocha e teve

morte imediata. O novo João reencarnado caiu nas água

dum rio e deixou-se levar pela corrente.

Os outros animais, enganaram-se no caminho e

foram parar numa zona de caça onde tiveram morte

imediata. Todos menos o filhote de veado, Dambi, que

foi apanhado numa armadilha para veados e morreu feliz

de forma lenta agonizante.

FIM

105

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

104

O mais estúpido nisto tudo é o novo João reencarnado pensar

que o filhote de veado percebe o que ele diz. (C. Q. N. A.)

(Centésima Quarta Nota do Autor) 105

O filhote de veado morreu de negligência autorial. (C. Q. N.

A.) (Centésima Quinta Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, que estava prestes a tornar-se

menos belo, o novo João reencarnado estava se sentindo

muito estranho. O novo João reencarnado tinha uma dor.

Mas, não era uma dor física, era uma dor metafísica106.

O novo João reencarnado sabia que havia algo se

passando com ele mas, não sabia o quê.

Aí, o novo João reencarnado tentou perceber o que

se estava passando com ele e recordou todos os

momentos que vivenciara desde sua primeira história107

E aí, o novo João reencarnado chegou a uma

conclusão.

- Como é que você sabe tanto de mim? Porque é que

eu não me lembro de nada do que aconteceu antes de

minha primeira história?

E então, eu vi-me obrigado a responder-lhe:

Eu sei tanto de ti porque fui que te criei e…

- Você o quê???

Fui eu que te criei e sou eu quem escreve as tuas

histórias.

- Então, tudo o que eu falo, faço penso e digo…

106

Dor metafísica é uma dor com uma meta. (C. S. N. A.)

(Centésima Sexta Nota do Autor) 107

A HISTÓRIA DO PEQUENO JOÃO. Ver A SAGA DO

PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (C. S. N. A.) (Centésima

Sétima Nota do Autor)

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Sou eu que escrevo.

- Não acredito nisto.

Mas é verdade. E o motivo de não te lembrares de

nada do que aconteceu antes da tua primeira história, é

porque eu não escrevi histórias contigo antes disso. Pelo

menos, ainda não…

- Porque é que você nunca me disse nada antes?

Tu nunca perguntaste.

- E como é que eu podia saber disso?

Não me digas que nunca tinhas desconfiado de nada.

- Não.

Pensavas que a falares com vozes ocultas eras o

quê?

- Um padre.

Podias ser mas, não era.

- Um maluco.

Também.

- Tá vendo? Eu podia ser outras coisas sem ser um

personagem de ficção.

Mas, ser um personagem de ficção faz parte da tua

natureza.

- Faz, porque você diz que faz.

Não. Faz porque eu escrevo que tu dizes que faz.

- Mas, eu podia ser outra coisa!

Não podias! Tens que compreender duma vez por

todas que as tuas histórias são muito importantes.

- Importantes para o quê?

Primeiro, porque ajudam-me a gozar com as pessoas

sem elas saberem e segundo, porque posso prestar

homenagem às coisas que gosto de forma pessoal.

- Só por isso?

Não. É também porque gosto de escrevê-las. Tens

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que ver uma coisa, tu sem as minhas histórias não

existias. Mas, eu sem ti também não existia.

- Como é que você sabe que sem você eu não

existia?

Não sei. Mas, percebes o que eu digo ou não?

- É. Acho que você tem razão.

Então, o que me dizes a acabar esta história e passar

para outra?

- Pode ser uma no País das Mil Maravilhas?

Pode.

- Então, vamos lá!

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando no País das Mil Maravilhas.108

- Brigadão!

Aí, o novo João reencarnado viu um camelo branco

saltitando. O que era muito estranho, pois o novo João

reencarnado sabia que ali não deviam estar camelos

brancos, ali era a zona das senhoras cenouras cantoras.

Aí, surgiu um cão recitando Nietzsche e o novo João

reencarnado reparou que alguém tinha trocado as coisas

todas ali no País das Mil Maravilhas.

Aí, o novo João reencarnado foi ter com o chefe do

local, o Xeque de Paus para saber o que estava passando.

Mas, quando chegou ao palácio do Xeque de Paus, o

Xeque de Paus não estava lá. Em vez do Xeque de Paus,

estava o Sultão de Ouros.

Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do

Sultão de Ouros.109

- Ahá! O que é que tu queres?

108

Como podem ver, cumpri a missa promenha, perdão, minha

promessa. (C. O. N. A.) (Centésima Oitava Nota do Autor) 109

Obviamente, o Sultão de Ouros estava protegido por vários

guardas. E foram esses guardas que pegaram no novo João

reencarnado e levaram-no junto do Sultão de Ouros. Vistas as

coisas, não foi nada mau: ele não se cansou nada. (C. N. N. A.)

(Centésima Nona Nota do Autor)

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- Quem é você? O que é que você está fazendo no

lugar do Xeque de Paus?

- Sou o Sultão de Ourros.

Eu já sabia.

- Já podia ter dito.

- Só agorra é que perrguntaste.

- O que é que você fez com o Xeque de Paus?

- Mandei encerrá-lo.

- Encerrá-lo?

- Não, encerrá-lo. Ele estava todo riscado.

- E quem é que trocou os camelos brancos de sítio.?

- Fui eu. Não gostava de os verr onde eles estavam.

Agora sou eu quem manda aqui. Vou mudarr isto tudo.

- E aquele cão? Ele não costumava recitar Nietzsche.

Ele sempre gostou de Kant e de Hegel.

- Isso não me interressa.

Essa foi a gota de água! Se havia coisa que o novo

João reencarnado não suportava era crueldade com os

animais.

- Onde é que estão os outros?

- Quais outrros?

- Os outros dois, o Marajá de Copas e Princesa de

Espadas?

- Não sei. Estão em lua-de-mel.

- Isso aí é mentira! O Marajá de Copas é diabético.

Eu vou procurá-los e contar-lhes o que você está fazendo

aqui.

Aí, o novo João reencarnado saiu do palácio do

Xeque de Paus, agora ocupado pelo Sultão de Ouros e

foi procurar o Marajá de Copas e a Princesa de Espadas.

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FLASHBACK ou ANDALÉPCE

Este é um momento novo nas aventuras do novo

João reencarnado. Pela primeira vez irei realizar uma

andalépce.

Uma andalépce, por definição, é quando o autor e

narrador, neste caso eu, recua atrás na acção para

explicar acontecimentos que estão ocorrendo no presente

e que não foram explicados ao leitor.

Como é que o novo João reencarnado sabe tanto

acerca do País das Mil Maravilhas se é a primeira vez

que ele o visita?

Na verdade, não faço a menor ideia. Se bem se

lembram, o espaço temporal entre esta história e a

história anterior é quase nulo, ou seja, não houve tempo

para o novo João reencarnado visitar o País das Mil

Maravilhas previamente nem antes disso.

Mas, não se preocupem. Esta história irá confundir-

vos ainda mais do que as outras.

ACÇÃO PRENDA

Aí, o novo João reencarnado pegou num tapete

voador e voou até à lua-de-mel.

O caminho foi fácil, apesar de alguma turbulência.

O pior foi mesmo para aterrar – a abelha rainha não

queria dar autorização ao novo João reencarnado para

ele aterrar. Mas, por fim, a abelha rainha acabou por ir

para a cama com um zangão e o novo João reencarnado

aterrou na lua-de-mel.

Aí, o novo João reencarnado procurou pelo Marajá

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de Copas e pela Princesa de Espadas mas, eles não

estavam lá. Tal como o novo João reencarnado

suspeitava. Porque é que ele tinha ido lá? Para perder

tempo e para eu acrescentar mais espaço à história.

Aí, o novo João reencarnado voltou ao seu tapete

voador e enquanto estava voando, uma vaca voadora110

se aproximou do novo João reencarnado e passou em

direcção ao céu mas, ainda teve tempo de dizer ao novo

João reencarnado:

- Camelo!

- Camelo é você, sua vaca!

Mas aí, o novo João reencarnado começou

pensando. Aquela vaca sabia que nem ele nem ela eram

camelos.111 Por isso, o que é que ela poderia estar

querendo dizer?

Aí, o novo João reencarnado ouviu a voz da vaca ao

longe:

- Cão!

- É você!

Aí, o novo João reencarnado compreendeu tudo. Ou

por outra, compreendeu o que era necessário

compreender nesta altura.

- O cão e o camelo branco! É isso!

110

A vaca não tinha asas. Ela usava um cinto anti-gravitacional.

Infelizmente, para ela, o cinto só ligava, não desligava e a vaca ia

em direcção às estrelas. (C. D. N. A.) (Centésima Décima Nota

do Autor) 111

Não sei qual dos dois está mais longe. (C. D. P. N. A.)

(Centésima Décima Primeira Nota do Autor)

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Ainda sem saber o que isso “É isso!” queria dizer112,

o novo João reencarnado decidiu voltar ao local onde a

história tivera início.

E assim, o novo João reencarnado voltou ao País das

Mil Maravilhas. E quando chegou lá é que ele reparou

em uma coisa: o cão tinha um símbolo de copas na sua

coleira e o cam; duas coisas: o cão tinha um símbolo de

copas na sua coleira e o camelo branco tinha o símbolo

de espadas numa bossa e não era; três coisas: o cão tinha

um símbolo de copas na sua coleira e o camelo branco

tinha o símbolo de espadas numa bossa e não era um

macho.

Feitas as contas, o novo João reencarnado percebeu

que alguém tinha dado os símbolos de copas e de

espadas àqueles animais para eles os guardarem.

Aí, o novo João reencarnado tirou a coleira do cão e

tirou o autocolante da bossa da camela branca e aí, uma

coisa espantosamente previsível aconteceu: o cão

transformou-se no Marajá de Copas e a camela branca

transformou-se na Princesa de Espadas.

- Ei!

- Obrigado por nos teres salvo.

- Depressa! Temos que voltar para o palácio.

Aí, o novo João reencarnado, o Marajá de Copas e o

Princesa de Espadas voaram no tapete voador até ao

palácio mas, foram derrubados por um míssil terra-ar. Aí,

o novo João reencarnado olhou para baixo113 Era o

112

Isto é ridículo. Uma expressão não pode querer dizer nada,

porque as expressões não falam. (C. D. S. N. A.) (Centésima

Décima Segunda Nota do Autor) 113

Isto enquanto caía. (C. D. T. N. A.) (Centésima Décima

Terceira Nota do Autor)

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exército das senhoras cenouras cantoras, que estavam

fartas daquela inércia governamental e resolveram dar

um golpe cenoural. Os outros dois regentes, o Xeque de

Paus e o Sultão de Ouros já tinham sido eliminados, só

faltavam o Marajá de Copas e a Princesa de Espadas.114

Aí, o novo João reencarnado parou de cair para

baixo e começou caindo para cima, pois a vaca voadora

tinha conseguido consertar o cinto anti-gravitacional e

estava levando o novo João reencarnado para fora do

País das Mil Maravilhas.

Mas, muitas perguntas ficaram por responder:

Afinal, como é que o novo João reencarnado

conhecia aquilo tudo se era primeira vez que ele estava

lá?115

E a resposta é: eu não sei, ele também não e vocês

muito menos.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

114

Mas já falta pouco. (C. D. Q. N. A.) (Centésima Décima

Quarta Nota do Autor) 115

Todas as outras perguntas podem-se englobar nesta. (C. D. Q.

N. A.) (Centésima Décima Quinta Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

sonhando com aquela garota116 que tinha conhecido uma

vez.117 Era um sonho muito erótico para os padrões de

censura do novo João reencarnado por isso, como o novo

João reencarnado não tem qualquer tipo de padrões de

censura, daqui a algumas linhas podem imaginar como é

que o sonho seria.

Aí, o novo João reencarnado acordou mas a garota

continuava lá. Agora estavam numa praia e ela estava…

Aí, o novo João reencarnado acordou (desta vez a

sério). Ela tinha desaparecido.

Aí, o novo João reencarnado levou com uma folha

de papel na cara e aí, o novo João reencarnado

perguntou:

- Que negócio é esse aqui?

É um papel.

- Não. Aí no papel.

Ah! É “Sigmund Freud, psiquiatra especializado”

116

Ele estava a sonhar sozinho e não acompanhado porque a

partir do momento em que ele estivesse a sonhar acompanhado já

não estaria a sonhar sozinho. E vice-versa. (C. D. S. N. A.)

(Centésima Décima Sexta Nota do Autor) 117

Até se esquecer dela e conhecê-la de novo, só a terá conhecido

uma vez. (C. D. S. N. A.) (Centésima Décima Sétima Nota do

Autor)

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- O que é isso?

O quê?

- Um psiq… psiq…

Tás engasgado?

- Não. Não consigo dizer psiq…

Não consegues dizer o quê?

- Psiq… psiq…

Fala!

- Psiq… psiq…

Não consegues dizer psiquiatra?

- Não.

Então é o quê?

- É isso.

Isso o quê?

- Você tá complicando tudo porquê? Quem complica

as coisas aqui sou eu, tá ouvindo?

Adiante…

Um psiquiatra é uma pessoa que analisa os sonhos

das pessoas e tenta perceber porque é que as pessoas se

comportam de determinada maneira.

- E isso quer dizer o quê?

Não sei. Mas, se estás tão preocupado, porque é que

não vais ter com ele?

- É. Acho que vou indo.

Se vais não achas que vais é porque vais mesmo.

- Quer parar com isso?

Já me calei!

Aí, o novo João reencarnado foi até ao consultório

do grande Freud e depois de bater à porta do gabinete do

grande Freud, o novo João reencarnado entrou no

gabinete do grande Freud.

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- Oi. Posso entrar?

- Entra. Deita-te aí.

Aí, o novo João reencarnado deitou-se118 e dormiu.

- Acorda!

Aí, o novo João reencarnado acordou.

- Não era para dormires.

- Eu vim aqui para saber o que se está passando

comigo.

- Eu sei.

- Como é que você sabe?

- O teu autor contou-me. Ele é meu paciente.

Então e a minha privacidade?

- Pois… Como se eu fosse o único a saber dos teus

problemas.

- Ei! É a minha vez agora!

- Vamos começar então. Tocaste à campainha com

que mão?

- Não toquei à campainha, bati à porta.

- Tens medo de tocar à campainha?

- Não.

- Então porque é que não tocaste?

- Porque não havia nenhuma campainha.

- Ahá! E bateste à porta com que mão?

- Com a direita.

- Porque é que não bateste com a esquerda?

- Porque tava coçando a cabeça com ela.

- Costumas coçar sempre coçar a cabeça com a mão

esquerda enquanto bates à porta com a mão direita?

118

Não sei bem onde é que o grande Freud mandou o novo João

reencarnado deitar mas, deve ter sido num daqueles sofás que os

psiquiatras costumam ter nos seus gabinetes. (C. D. O. N. A.)

(Centésima Décima Oitava Nota do Autor)

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- Não. Foi só agora.

- Porquê?

- Pergunte para ele. Ele que está escrevendo.

Eu não sei de nada.

- Porque é que dormiste quando eu te disse para te

deitares aí?

- Porque tava com sono.

- Ainda tens sono?

- Sim.

- E porque é que não dormes?

- Você disse para não dormir.

- Gostas de dormir.

- Gosto.

- Gostas de sonhar?

- Às vezes.

- Quando é que não gostas?

- Às vezes sonho com uma garota que conheci e nós

estamos a…

- Estão a quê?

- Você sabe.

- Como é que eu hei-de saber?

- Ele não contou para você?

- Nós não estamos a falar dele.

- Tá bom. Eu digo no seu ouvido.

Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do

grande Freud e disse o que ele e a garota faziam em seus

sonhos.119

119

Estão todos a pensar em sexo, não é? Para quem não sabe,

essa garota misteriosa surgiu na história A INICIAÇÃO

SEXUAL DO NOVO PEQUENO JOÃO QUE JÁ NÃO É

GRANDE. Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I. (C. D. N. N.

A.) (Centésima Décima Nona Nota do Autor)

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Podem imaginar agora.

- Deita-te lá. Deixa-me respirar um pouco. Ufa! Isso

tudo?

- Não conte a ninguém, tá bom?

- Porquê? Achas que comer cem biscoitos duma só

vez é assim tão mau?

- Eram de chocolate! E eu disse-lhe para não contar!

- Agora já contei.

- Você ainda não me disse o que é que se está

passando comigo.

- Calma. Ainda faltam algumas perguntas. Como é

que é a tua relação com o teu autor?

Vê lá o que é que dizes.

- Sabe, ele às vezes é um pouco chato. Tou sempre

dizendo e fazendo a mesma coisa. E isso é muito chato

para um personagem multi-facetado como eu.

- Consideras-te um figura imaginária?

- Sim.

- Não acreditas que és real?

- Não.

- Quem é que te disse isso? Não vês, não sentes, não

falas?

- Sim.

- Achas que se fosses irreal, fazias isso tudo?

- Não…

Isso é ridículo! Ele é um personagem de ficção!

Qual é a discussão?

- Não o oiças! Conta-me mais. Não te preocupes

com ele que ele tem medo do escuro.

Não tenho nada!

- Tens sim que eu sei! Fala!

Não fala nada!

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- Não tenhas medo dele!

- Ele é muito possessivo. Tem que ser sempre do

jeito dele.

Isso é mentira!

- E nunca aceita que os outros tenham razão.

Mentira!

- Nunca me deixa falar sobre os meus problemas.

Agora chega! Não te deixo falar, é? Sou chato? Sou

possessivo? Sabes o que é que este chato e possessivo

vai fazer? Vai acabar com a história!

FIM

Quero ver com quem é que tu falas agora.

- Eu falo com quem quiser!

Só se eu quiser!

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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120

Num belo dia de Verão… o novo João reencarnado

desapareceu.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

120

ENTROPIA: s. f. Medida da capacidade de um sistema em

poder efectuar transformações espontâneas; termodinâmicante, a

variação de entropia numa variação infinitesimal é igual ao calor

absorvido dividido pela temperatura absoluta a que se deu a

absorção; estatisticamente, medida do grau de desordem ou caos

de um sistema. (N. A. M. D. C. U. D. L. P. C. S. P. S. S. E.)

(Nota do Autor que Mesmo Depois de Consultar Um Dicionário

de Língua Portuguesa Continuou Sem Saber o que é a

Entropia) (D. V. N. A.) (Centésima Vigésima Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João irreal estava navegando

pelos mares salgados de um oceano qualquer quando…

- Espere! Que ideia é essa de me tar chamando João

irreal?

Pensava que já soubesses.

- Não. Não sabia.

Ficas a saber agora. Posso continuar?

- Pode.

Aí, o João irreal chegou numa ilha. Devia ser uma

ilha deserta mas, estava cheia de gente.

- Que sítio é este?

Deixa-me ver no mapa. Espera aí. Ah! É a ilha da

dona São.

- Quem é essa dona São?

Não faço ideia.

- O que é que se gente toda tá fazendo aqui?

E eu é que sei?

- A história é sua.

E lá por a história ser minha, sou obrigado a saber

tudo? Pergunta lá a alguém.

Aí, o João irreal aproximou-se de um cara e tentou

falar com esse cara:

- Oi. O que vocês estão fazendo aqui?

Mas, o cara não respondeu. O João irreal pensou que

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o cara fosse surdo ou mudo.121

Mas, na verdade, o cara não respondeu porque não

viu o João irreal.

- Ah! Ele é cego, é?

Não. Tu é que não existes.

- Não existo?

Se és irreal é porque não existes.

- Isso não tem nada a ver. Se eu sou irreal é porque

não sou real e eu nunca fui real. Fui sempre uma figura

de ficção.

Desde quando é que tu pensas tanto?

- Deve ser passageiro…

Queres saber o que é que eles estão a fazer?

- Pensava que você não sabia.

Mas sei.

- Então, porque é que você me disse para perguntar?

Para ocupar espaço.

- Só por isso?

Não. Era para ver se eles tinham alguma ideia

melhor que a minha.

- Se calhar ajudava se eles me pudessem ouvir.

Se calhar.

- E qual é a sua ideia?

Isto que está a acontecer aqui é um reality-show.

- Você quer dizer um irreality-show, né?

Não queiras tudo também.

- Isso aí é o quê?

Bem, eles reúnem várias pessoas e depois filmam

121

Mas rapidamente deixou de pensar que fosse mudo a partir do

momento em que o ouviu falar. E, assim, também não podia ser

mudo. (C. V. P. N. A.) (Centésima Vigésima Primeira Nota do

Autor)

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tudo que essas pessoas fazem.

- Ah! E que é que elas fazem?

Nada.

- E os que não sabem nadar?

Morrem afogados ou são comidos pelos tubarões.122

- E fora isso?

Falam, passeiam. Sei lá.

- Tipo minhas histórias, né?

Mais ou menos.

- Sem graça, desinteressantes. O povo vê, fala nos

cafés mas, não percebe nada.

Ei! Nada de auto-críticas!

- Não posso falar mal de mim?

Não. Quando falas mal de ti estás a falar mal de

mim porque sou eu que controlo as tuas acções.

- Isso não quer dizer nada. E se eu quiser participar

nesse tal de irreality-show?

Não podes.

- Não posso? Espere para ver!

Aí, o João irreal aproximou-se da equipa de

filmagens mas, a reacção foi igual:123 ninguém lhe ligou

nenhuma.

Desanimado, o João irreal voltou para o sítio onde

estava antes.

- Droga.

Conseguiste?

122

Nesse caso, podemos supor que mesmo os que sabem nadar

são comidos pelos tubarões. (C. V. S. N. A.) (Centésima

Vigésima Segunda Nota do Autor) 123

Igual à reacção do outro cara com que o João irreal tinha

tentado falar antes. (C. V. T. N. A.) (Centésima Vigésima

Terceira Nota do Autor)

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- Não.

Vês? Eu avisei-te.

- Porque é que não me ligam nenhuma?

Já te expliquei que é por seres irreal.

- E eu já disse que o oposto do irreal é o real e se eu

não sou real é porque sou um personagem de ficção.

Não compliques as coisas ainda mais do que elas já

estão! Não existes e acabou-se!

- Você sabia de tudo, não sabia?

Se soubesse, fazia alguma diferença?

- Não.

Nesse caso, sabia.

Aí, o João irreal regressou ao seu barco e navegou

para fora daquela ilha.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Ferão, o João irreal estafa se

interrogando como seria a actual sociedade elitista que

pofoafa as refistas cor-de-rosa daqui a muitos anos.124

A actual sociedade PMI, Pessoas Muito

Importantes125 é um enigma que os psicólogos do nosso

tempo ainda não conseguiram explicar. Uma raça que

por desígnios misteriosos do destino coloca-se à parte de

outras espécies, fifendo num isolamento total. Mas, isto

não interessa para nada, o que interessa é… como é que

essa classe será daqui a fários anos?

- Você além de tar repetindo tudo ainda por cima tá

repetindo tudo errado.

Se eu estou a repetir mal é porque não estou a

repetir, estou a dizer a mesma coisa de maneira

diverente.

- Pois acho que já era altura de você me enviar para

esse tal sítio.

Qual sítio?

- Onde a história se vai passar.

A história fai-se passar aqui na volha. Onde é que

querias que vosse?

124

Entende-se por revistas cor-de-rosa, todas as revistas que

tenham artigos que toquem no coração das pessoas, ou seja,

revistas para cardíacos. (C. V. Q. N. A) (Centésima Vigésima

Quarta Nota do Autor) 125

Não confundir com PMI – Pessoas Muito Imbecis. (C. V. Q.

N. A.) (Centésima Vigésima Quinta Nota do Autor)

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- Porque é que você tá falando assim?

Assim como?

- Assim. Trocando as letras todas.

Oufiste-me a trocar alguma coisa?

- Deixe para lá… Eu tava falando do espaço da

história.

Como é que queres que eu saiba o espaço da história

se ainda não a escrefi? Quando chegar ao vim logo fejo o

espaço que ela ocupa.

- Você não tá entendendo? Local da história!

Percebeu?

Mau! Tás a gozar comigo ou quê? 126

Tu também? Tou a acabar a história não tarda.

- Eu passo bem sem você.

Ah é? Diz-me como.

- Eu falo, né? E o cara das notas escreve a acção.

Qual acção?

- Quer ver? 127

- Ei! Você tem que pôr isso aqui! 128

- Não dá, não. Tem que ser você a escrever.

Eu afisei-te.

Aí, um milagre aconteceu. Aliás, não voi um milagre

126

Acho que já era tempo de parares com isso e começares a

trabalhar. Estamos fartos desses impasses. (C. V. S. N. A.)

(Centésima Vigésima Sexta Nota do Autor) 127

Aí, o João irreal falou para (C. V. S. N. A.) (Centésima

Vigésima Sétima Nota do Autor) 128

Só posso escrever aqui. (C. V. O. N. A.) (Centésima Vigésima

Oitava Nota do Autor)

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mas, um mero despertar de uma consciência

anteriormente adormecida.

Tu quando estavas a dizer local querias dizer sítio,

não era?

- Não. Queria dizer local mesmo.

Mas, sítio é a mesma coisa.

- Eu sei.

Está bem. Vou-te enfiar, perdão, enviar para lá.

Aí, o João irreal fiajou para o vuturo.129

Vuturo.130

Quando lá chegou, o João irreal vicou espantado

com o que fiu. Parecia uma cidade do vuturo.131

Aí, o João irreal procurou alguém que o pudesse

informar sobre a sociedade PMI daquela era. Aí, o João

irreal caminhou pela cidade até encontrar algum PMI. 132

O quê?133

Ah! Já sei. É assim: quando escrefi “enviar” e

apareceu “enfiar”, resolfi escrever “enfiar” para que

aparecesse “enviar”.134

129

Para onde? (C. V. N. N. A.) (Centésima Vigésima Nona Nota

do Autor) 130

Ah… (C. T. N. A.) (Centésima Trigésima Nota do Autor) 131

Talvez porque fosse mesmo uma cidade do futuro. (C. T. P. N.

A.) (Centésima Trigésima Primeira Nota do Autor) 132

Como é que fizeste aquilo lá atrás? (C. T. S. N. A.)

(Centésima Trigésima Segunda Nota do Autor) 133

Quando disseste “Vou-te enfiar, perdão, enviar para lá.” (C. T.

T. N. A.) (Centésima Trigésima Terceira Nota do Autor) 134

Sabes o que é que se está a passar? (C. T. Q. N. A.)

(Centésima Trigésima Quarta Nota do Autor)

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Sei lá. Acho que apanhei um vírus no computador.135

Deve ser psicológico.

Foltando à história…

Aí, o João irreal encontrou uma vamília de PMIs, os

Jetsetsons.136

Como é que pode? Já estiveste no futuro?137

Se estás agora não é vuturo, é presente.138

- Como é que vocês são? 139

Idem.

- Isso quer dizer o quê?

Quer dizer que concordo com ele. Vaz outra

pergunta.

- Já tou farto de fazer perguntas!

Ainda só vizeste uma!

- Fiz mais quando vocês estavam falando um com

outro.

Mas, tu não podes vazer isso!

- Mas fiz.

E o que é que perguntaste?

- Como é que se chamavam, o que é que faziam…140

135

É estranho é isso só aparecer quando és tu a falar. (C. T. Q. N.

A.) (Centésima Trigésima Quinta Nota do Autor) 136

Isso por acaso não é inspirado naquela família do futuro? (C.

T. S. N. A.) (Centésima Trigésima Sexta Nota do Autor) 137

Estou agora. (C. T. S. N. A.) (Centésima Trigésima Sétima

Nota do Autor) 138

Continua lá com isso! (C. T. O. N. A.) (Centésima Trigésima

Oitava Nota do Autor) 139

Que pergunta idiota. Ele não tem olhos? (C. T. N. N. A.)

(Centésima Trigésima Nona Nota do Autor)

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Não. Era circunstancial. Ou por outra, ele quis

convirmar se eles não tinham mudado de nome, não era?

- Não. 141

E o que é que eles responderam?142

- Nada. Ignoraram-me por completo. Era como se eu

não existisse.

Mas, tu não existes.143

- A quem é que você tá chamando inferior?144

- É verdade.

Vamos mas é foltar para o presente.145

Se eu quisesse dizer passado, tinha dito passado.146

Mas não queria.

E agora acabou-se a discussão.

Aí, o João irreal foltou ao presente147

140

Ele perguntou-lhes como é que eles se chamavam? Isso quer

dizer que aquele nome que tu disseste dos Jetsetsons era falso?

(C. Q. N. A.) (Centésima Quadragésima Nota do Autor) 141

Como é que ele podia saber se eles mudaram de nome sem

saber o nome anterior? (C. Q. P. N. A.) (Centésima

Quadragésima Primeira Nota do Autor) 142

Não respondes? (C. Q. S. N. A.) (Centésima Quadragésima

Segunda Nota do Autor) 143

Isso é verdade. Mas, também pode ser que estes PMIs sejam

iguais aos PMIs do passado e ignorem todos os seres inferiores.

(C. Q. T. N. A.) (Centésima Quadragésima Terceira Nota do

Autor) 144

A ti. Eles eram maiores que tu, não eram? (C. Q. Q. N. A.)

(Centésima Quadragésima Quarta Nota do Autor) 145

Passado, queres tu dizer. (C. Q. Q. N. A.) (Centésima

Quadragésima Quinta Nota do Autor) 146

Pensava que querias dizer passado. (C. Q. S. N. A.)

(Centésima Quadragésima Sexta Nota do Autor)

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Presente.148

- É melhor ser eu a acabar isto:

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

147

Passado. (C. Q. S. N. A.) (Centésima Quadragésima Sétima

Nota do Autor) 148

Passado. (C. Q. O. N. A.) (Centésima Quadragésima Oitava

Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João irreal estava caminhando

por um sítio desselado desolado quando ouviu um grito

de sofrimento.149

Aí, o João irreal, qual bom samaritano, decidiu ir

procurar a fonte do sofrimento gritante porque aquele

barulho já o estava incomodando.150

Aí, o João irreal viu uma jaula e dentro da jaula

estava um pequeno elefante negro.

Aí, o João irreal aproximou do pequeno elefante

negro.

- Oi. Tudo bem?

- Não. Quem és tu?

- Eu até dizia o meu nome mas não vale a pena. E

você?

- Eu sou o pequeno elefante negro Bumbo.

- Pequeno elefante negro Bumbo? Que raio de nome

é esse?

- E eu é que sei? Eu não escolhi o nome antes de

nascer!

- E você tá preso porquê?

149

Este grito de sofrimento, embora pudesse ter origem em dor

física, tinha origem em dor psicológica. (C. Q. N. N. A.)

(Centésima Quadragésima Nona Nota do Autor) 150

É mais sensível do que eu pensava. (C. Q. N. A.) (Centésima

Quinquagésima Nota do Autor)

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- Sou uma aberração.

- Isso não é razão para estar preso. Há muita gente

aberrante por aí andando à solta. Eu, por exemplo.

Deixa-te estar calado.

- Isso eu não sei.

Aí, o João irreal reparou em algo no pequeno

elefante negro Bumbo que chamou logo151 sua

atenção.152

- Puxa vida! Você tem uma grande tromba!

Aí, o pequeno elefante negro Bumbo começou

chorando.

- Porque você está chorando? Eu só disse que você

tinha uma grande tromba.

Aí, o pequeno elefante negro Bumbo começou

chorando ainda mais.

- Não é preciso ficar assim. Tá chorando de alegria

porque eu disse que sua tromba é grande, né?

Aí, o pequeno elefante negro Bumbo começou

chorando ainda mais e o João irreal, seguindo a lógica do

“quem cala, consente” ou, neste caso, “quem não diz

não, quer dizer sim mesmo que não diga nada”, resolveu

animar ainda mais o pequeno elefante negro Bumbo.

- Você tem uma tromba grande! Você tem uma

tromba grande! Você tem uma tromba grande! Você tem

uma tromba grande! Você tem uma tromba grande! Você

tem uma tromba grande! Você tem uma tromba grande!

Você tem uma tromba grande!

151

Não foi logo, foi mesmo no próprio momento. (C. Q. P. N. A.)

(Centésima Quinquagésima Primeira Nota do Autor) 152

Se ele tinha reparado em qualquer coisa, é porque a atenção

dele já tinha sido chamada. Ou talvez não. (C. Q. S. N. A.)

(Centésima Quinquagésima Segunda Nota do Autor)

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Ainda não percebeste que eles está a chorar por

causa disso?

- Eu sei. Por isso é que estou gritando. Ele está

chorando de alegria.

Se ele estivesse contente, ria-se.

- Isso é porque ele está tão contente que já nem

consegue rir.

Talvez ele seja negro e não seja branco.

- Que frase estúpida é essa? Ele já é negro.

Só tu é que as podes dizer?

- Por regra, sim.

Está bem. Só não digas que ele tem a tromba grande.

- Quem disse isso?

Tu.

- Eu não disse isso não!

Ainda há pouco estavas só a gritar que ele tinha uma

tromba grande.

- Não. Eu gritei que ele tinha uma grande tromba,

não uma tromba grande.

E não é a mesma coisa?

- Não. 153

Ai, o pequeno elefante negro Bumbo desculpou-se:

- Então, peço desculpa, fui que percebi mal. Pensava

que estavas a gozar pelo facto de ter um órgão pequeno

em relação aos meus conterrâneos.

- Hã?

153

A parte mais chata destas interacções é que o protagonista fica

relegado para segundo plano. Mas, também… se fosse só ao

protagonista que acontecesse isso… Se falar em construção

gramatical, é melhor ficar calado. (C. Q. T. N. A.) (Centésima

Quinquagésima Terceira Nota do Autor)

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- Pensava que eu era o alvo da tua escórnia devido

às diminutas dimensões da minha parte pendurada.

- Hã?

- Esquece.

Mas, afinal qual é o teu problema?

- Eu não percebo nada do que ele está falando!

Ora, é muito simples. Admira-me não saberes.

- É o quê?

É… hã… ele diz que tem… Posso interromper?

- Pode.

Aí, o pequeno elefante negro Bumbo disse para o

narrador.

- Se por acaso passar a ser um ponto central duma

forma de gozo perpetrada por ti, agredir-te-ei com o meu

órgão adjacente.

Isso quer dizer o quê?

- Se não te calas, dou-te com a tromba.

Já me calei.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

- Ainda não me disse o que ele estava falando.

Se não te calas, dou-te com a tromba.

- Não. Antes disso.

Thump!!! 154

154

É o problema das onomatopeias. Muitas vezes, nem com a

imaginação percebemos o que querem dizer. (C. Q. Q. N. A.)

(Centésima Quinquagésima Quarta Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João irreal estava sentado no

cimo duma ponte quando ouviu alguém cantando. A sua

voz era aguda, estridente e estava espantando os pássaros

da zona. A princípio, o João irreal pensou que fosse um

corvo mas, depois que olhou para baixo e viu um cara

baixinho de branco lá em baixo saltitando de um lado

para o outro, mudou de ideia.

O mais curioso nisto tudo, é que esse… “cantor”

tinha óculos e a letra de sua música era bem diferente de

todas as outras:

“O imposto é pago todos os anos!

Somos felizes por contribuir!

Ohhhhhh!”

Aí, o João irreal saltou da ponte e caíu em terra.155

- Ai!

Quem gritou?

A – o João irreal

B – o “cantor”

Resposta certa: C

Fui eu que gritei. O “-” era só para disfarçar.

155

Era suposto cair num rio e caiu mas, o rio estava seco. (C. Q.

Q. N. A.) (Centésima Quinquaségima Quinta Nota do Autor)

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MOMENTO DE MATURAÇÃO OU

AMADURECIMENTO

Esta não teve piada. Desculpem…

Continuando.

- Oi! Quem você que está cantando tão mal?

- O destino destinou-me um nome pelo qual os

homens me possam chamar. Podereis tratar-me por…

Tó.

- Tó?

- Diminutivo de Pedro Miguel.

- E as mulheres chamam-lhe o quê?

- Não gosto de mulheres.

- Tou vendo… Então… Eu vou indo. Foi um prazer

conhecer você! Adeus…

Onde é que tu vais? Posso saber?

- Vou para longe. Ele diz que não gosta de mulheres,

só gosta de mulheres.

Ele não disse que só gostava de homens, pois não?

- Não, mas…

Eu sei que não disse porque fui que escrevi.

E mesmo que gostasse de homens, achas que isso

iria colocar-te no centro das atenções dele?

- Não percebi.

Vai ao dicionário e vê.

- Porque é que você canta tão mal?

Mudaste logo de assunto, não foi?

- É uma canção de revolta contra a revolta contra o

sistema. Temos que ser submissos e fazer o que nos

mandam.

- Você é um pau mandado! Não gosta dos pássaros,

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não?

- Gosto, porquê?

- Porque você os está espantado com essa berraria.

NOTA: Apesar do título desta história ser O JOÃO

IRREAL E O PEQUENO PATO LINDO, não irão ver

aparecer aqui nenhum pato, seja ele pequeno, médio,

grande, lindo ou feio. O “pequeno pato lindo” desta

história é uma metáfora sob a forma dum eufemismo

utilizada para criar um estereótipo.

Este “cantor de sucesso” é uma antítese a todos os

cantores de imagem que aparecem no topo das tabelas e

que falam das namoradas dos outros porque andam

muito ocupados a dormir com os companheiros de

grupo.

Os outros cantores são burros e este é esperto. Não

digo inteligente porque não é preciso chegar a tanto.

- Isso quer dizer o quê?

- Os pássaros?

- Não. Aquilo que o narrador escreveu.

- Você também o vê? Não sou só eu? E eu que

pensava que fosse maluco.

- Se ele escreve os meus diálogos, porque é que não

hei de poder ver o resto?

- Bem visto.

Vamos falar então. Tu vais para uma posição

secundária.

- Qual é o teu problema?

O meu problema? Eu só disse a verdade. Tu és feio e

esperto porque se fosses bonito, eras burro que nem uma

porta.

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- O meu pai era bonito, tás a chamá-lo burro?

Se a tua mãe fosse uma mula, SIM!

- Não fales assim da minha mãe!

Eu falo como quiser. Fui eu que te criei. Aliás, vou

descriar-te, vou vetar-te ao esquecimento.

- Ahhhhh…

É para aprenderes a não ser esperto.

Mas o que é que eu estou a dizer? Ele só era esperto

porque eu queria.

Bem, vistas as coisas, aprendi uma grande lição.

Onde é que eu tinha a cabeça quando resolvi

inventar um personagem baseado num cantor de imagem

esperto?

- Já posso voltar?

Se perguntaste isso é porque já voltaste, não é?

- Pois. Deve ser.

Aí, o João irreal atravessou o rio e foi para a outra

margem.156

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

156

Ele não era nenhum Messias, embora caminhasse sobre as

águas, porque as águas estavam secas. (C. Q. S. N. A.)

(Centésima Quinquagésima Sexta Nota do Autor)

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Num bem aventurado belo dia de Verão, o onírico João

irreal deslocava-se pelos fortuitos e tortuosos caminhos

do desconhecido voraz.

Estava numa estrada de pedra; uma pedra tão dura

como a vida que levava, uma estrada tão longa como a

sua vida. Tentava orientar-se através da luz pálida das

estrelas que alumiavam o seu caminho mas, hoje em dia,

as estrelas são efémeras, rotineiras como o tempo.

O João irreal interrogava-se não sobre as respostas

mas sobre as perguntas com que deveria confrontar o

desconhecido que surgira à sua frente.

O indivíduo trajava um fato de tecido acinzentado e

olhava o João irreal com um olhar de surpresa, o mesmo

olhar com que um falcão olha para a presa que sabe que,

por mais que tente, é impossível escapar à penitência do

ser que tem perante si.

Com uma voz grave e ressonante, o indivíduo

dirigiu-se ao João irreal.

- Muito boa tarde. Por acaso estou a falar com o Sr.

João irreal?

- Oi pra você também.

- Gostaria de resolver um assunto que tem pendente.

- Isso é o quê?

- Quer dizer pendurado.

- Seu tarado! O que eu tenho pendurado não é da sua

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conta não!

- Sr. João irreal, tem aqui uma notificação de

despejo.

- Não tenho não. Você é que tem.

- Mas deixarei de ter a partir do momento em que a

entregá-la a si.

- Eu não quero isso.

- Não se trata de uma questão de querer, Sr. João

irreal.

- Eu sei. É uma questão de não querer.

- Sr. João irreal, eu vou ser claro.157

- Pare de me chamar isso!

A agressividade para com o seu velho companheiro

de tantas andanças poderia significar várias coisas mas,

por serem muitas, ficou-se apenas por uma: o João irreal

estava zangado.

- Ao que tudo indica você tem circulado por este

planeta sem nunca ter pago um imposto ou taxa na sua

vida. Temos também a indicação que você morreu,

reencarnou no mesmo corpo e, passo a expressão,

irrealizou.

- Você tá me perguntando isso?

- Estou-lhe a explicar a sua situação.

- Se você sabe que eu sei que fiz isso é porque eu já

sabia antes de saber que eu tinha feito aquilo que sabia.

- O problema, Sr. João irreal,

- Já disse para não me chamar isso!

- Desculpe. Como estava prestes a dizer-lhe, existe

um débito quanto à sua pessoa que deve ser esclarecido.

157

Com esta expressão é mais fácil perceber que este tal

inquiridor misterioso devia ter problemas epidérmicos. (C. Q. S.

N. A.) (Centésima Quinquagésima Sétima Nota do Autor)

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- Hã?

- Quando você morreu, reencarnou e irrealizou, você

não pagou o I. L. C. E.158

- Isso não existe!

- Pois não. Mas, a agravante que torna o seu caso

ainda mais grave é você não tomar a iniciativa de tornar

isso real. As minhas ordens são claras: você tem até ao

fim do livro para me convencer que essas passagens

foram feitas involuntariamente, que houve alguém que o

manipulou.

- Houve alguém que manipulou isso tudo, sim! Foi o

narrador.

- Desculpe mas, a pessoa a quem se refere não

existe. Na verdade, você também não existe e o facto de

eu estar a falar consigo prova que eu também não existo.

Mas, isso são pormenores meramente secundários. A

verdade nua e crua significa que a última história pode

mesmo ser a última história.

- É claro que se for a última é mesmo a última.

- Depois dessa não há mais nenhuma.

- E antes?

- Antes pode ser.

- E no meio?

- Também. Mas, depois não. E agora, peço desculpas

mas tenho que ir ser atropelado.

Nesse momento, o inquiridor misterioso colocou-se

no meio da estrada e sentiu o impacto indolor de dois

camiões a dividirem o seu corpo em vários

158

Imposto de Livre Circulação Espiritual. (C. Q. O. N. A.)

(Centésima Quinquagésima Oitava Nota do Autor)

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pedacinhos.159

O João irreal continuou parado no mesmo sítio por

alguns instantes, acomodando as informações recentes

no seu cérebro. Ao fim de alguns momentos, esqueceu-

se do que tinha passado, colocou as mãos nos bolsos

furados e contemplou a sua viagem pela estrada da vida.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

159

Dois pedaços já são mais que um, logo já se pode dizer que

são vários. (C. Q. N. N. A.) (Centésima Quinquagésima Nona

Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão escaldantemente frio, o João

irreal estava sentindo uma brisa quente arrefecendo o seu

corpo morno.160

Bem como o estava o João irreal que, nesse

momento, começava a sentir o suave factor forte dos

elementos castigando o seu corpo com mil carícias. A

falta de roupa era desde há muito tempo uma realidade,

mas só agora é que ele reparara nela.161

Todos aqueles farrapos, ou melhor, a falta deles

deixava-o desconfortável. Era urgente cobrir o seu corpo

com qualquer coisa.162

Assim, o João irreal caminhou pela rua abaixo e

chegou ao que parecia ser um grande empreendimento

160

No meio de todas estas contradições, uma coisa permanece

certa: o clima estava instável. (C. S. N. A.) (Centésima

Sexagésima Nota do Autor) 161

Nela, a falta de roupa, não a realidade. Não se esqueçam que

ele é irreal. (C. S. P. N. A.) (Centésima Sexagésima Primeira

Nota do Autor) 162

Não era o pudor que o preocupava nem tampouco a falta dele

– era mais o frio. Embora, como personagem fictício, ele devesse

ser insensível aos elementos. Resta então a já mencionada

hipótese do pudor, se bem que convém lembrar que a

visualização máxima que pode ser feita sobre o personagem é

meramente especulativa e, como tal, todo o pudor que puderem

imaginar ou não será apenas um produto da vossa imaginação.

(C. S. S. N. A.) (Centésima Sexagésima Segunda Nota do

Autor)

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comercial.163

Mais tarde. (Já depois de ter descoberto que aquele

grande empreendimento comercial era afinal uma loja de

roupas.)

Aí, o João irreal resolveu resolver o seu problema de

roupa. Mais concretamente, a falta delas. Não que ele

estivesse nu ou isso.164

Mesmo assim, com todas estas complicações

metafísicas (chamam-se assim porque são complicações

físicas – tipo dores musculares ou tubos de ensaio

furados – que têm uma meta a atingir, seja aumentar as

dores ou destruir todos os tubos ou vice-versa.165)

Adiante que se faz tarde.

O João irreal estava já dentro da loja. Restava-lhe

agora o mais difícil – escolher o tipo de roupa a escolher.

Uma coisa ele já sabia: ia escolher roupa de homem ou

163

Mais tarde, ele descobriu que aquele empreendimento

comercial era afinal uma loja de roupas. (C. S. T. N. A.)

(Centésima Sexagésima Terceira Nota do Autor) 164

Não sei definir bem o que é o “isso”. Penso que será o estar

vestido como estado contrário ao de estar nu. Mas, sabendo tão

bem como eu sei que o João irreal não gosta de usar roupa de

mulher, é difícil acertar no significado do “isso”. (C. S. Q. N. A.)

(Centésima Sexagésima Quarta Nota do Autor) 165

Por vice-versa não se entenda diminuir os tubos de ensaio e

destruir as dores musculares. (C. S. Q. N. A.) (Centésima

Sexagésima Quinta Nota do Autor)

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algo muito próximo disso.166

A loja era toda ela em tons de vermelho, azul,

branco e muitas outras cores, tantas quantas as que

restam. A decoração do local era medianamente insólita,

uma vez que nos pólos mínimos e máximos continuava a

ser insólita com os seus pilares de borracha e cortinas de

látex semitransparente.

Aí, uma empregada resolveu encurtar a distância

entre ela e o João irreal.

- Posso ajudá-lo nalguma coisa?

- Eu vinha aqui para comprar qualquer coisa para

vestir.

- Lamento muito mas aqui só vendemos roupa.

- Mas é isso mesmo que eu quero.

- Só temos camisas de látex.

- E isso não serve para vestir?

- Bom, serve mas…

- Me dê uma então!

- Não pode vestir isso na rua.

- Eu experimento aqui então.

- Não. Esqueça. Não o posso deixar levar isto.

- Porquê?

Mas tens que ser tão teimoso. Ela trabalha na loja,

ela sabe o que está a fazer, não achas?

- Tá bom.

Finalmente o João irreal compreendeu a verdade.

- Quer dizer que vocês não têm roupas.

166

O mais próximo de roupa de homem que estou a ver é roupa

de mulher mas, como já disse, o facto de ele não estar nu não

quer dizer que ele tenha um vestido vestido nem que esta história

tenha que fazer sentido. (C. S. S. N. A.) (Centésima Sexagésima

Sexta Nota do Autor)

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- Não.167

A verdade era agora lúcia, perdão, lúcida;

completamente opaca em relação à mentira ou à

especulação que pretendia ser antes de ser realidade – o

João irreal estava em Vénus, não a loja mas, o planeta –

ou talvez não estivesse porque, no meio desta parábola

interplanetária, o João irreal apercebeu-se de outra coisa:

ele não podia estar em Vénus ou, pelo menos, não devia.

O seu passaporte não estava actualizado, melhor ainda,

ou pior (conforme o ponto de vista que se tomar), o João

irreal nem sequer tinha passaporte. Por isso, o João irreal

acordou na Terra e o sonho terminou.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

167

Isto não quer dizer que os funcionários e os clientes

estivessem todos nus. Embora estivessem todos com roupas

curtas de cabedal justo ou borracha transparente. (C. S. S. N. A.)

(Centésima Sexagésima Sétima Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão ensolarado168, o João irreal

estava decidido a evoluir espiritualmente. Uma função

semelhante ao upgrade que fizera no Tibete169 há algum

tempo atrás com a sagrada Bundha Aber-Tah. Mesmo

sem ter a certeza se um novo upgrade faria alguma

diferença num espírito irreal o João irreal fez as malas e

partiu para o templo budista mais próximo.170

Talvez tivesse sido o facto de se ter perdido que

levara o João irreal até aquele local místico.171 Ou isso

ou então foi apenas uma mera coincidência. Apesar de

tudo, o João irreal decidiu entrar.

QUEBRA

A história começa um pouco mal, eu sei. Quer

dizer… não é começar mal, simplesmente comecei a

história a partir de um certo ponto omitindo algumas

informações que, embora possam considerar relevantes,

irei dar depois. Gosto de criar alguma expectativa. Não

168

Porque também os há chuvosos. (C. S. O. N. A.) (Centésima

Sexagésima Oitava Nota do Autor) 169

Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (C.

S. N. N. A.) (Centésima Sexagésima Nona Nota do Autor) 170

O que foi muito rápido já que ele não tinha malas para levar e

o templo budista mais próximo estava à sua frente. (C. S. N. A.)

(Centésima Septuagésima Nota do Autor) 171

Talvez por não ter nada para fazer. (C. S. P. N. A.) (Centésima

Septuagésima Primeira Nota do Autor)

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sou como alguns autores de telenovelas portuguesas que

revelam a história toda nos primeiros três episódios e

depois passam seis meses a encher chouriços.172

CONSERTO (entenda-se como conserto e não

concerto. Qualquer um dos dois faria sentido pelas

razões que irão ver mas, dado que a história tem que ter

uma continuidade narrativa, o conserto surge como

consequência da quebra. Portanto, ao falar aqui em

continuidade narrativa, não quer dizer que não possa

falar de acontecimentos passados. Essa possibilidade

existe e eu sei usá-la.)

Após esta breve lição de gramática que em nada

contribuiu para a sua felicidade, o João irreal entrou no

templo budista.173 Era um lugar lúgubre174 e

amendontrador, do género daqueles que metem medo ao

susto. Não pela desarrumação; uma vez que os budistas

não são materialistas e não podem ter objectos para

deixar desarrumados mas, pela quietude e silêncio do

172

Sinceramente, não percebo como é que uma actividade tão

tradicionalmente portuguesa, pode ser aplicada a tantas coisas.

Deve ser um eufemismo. (C. S. S. N. A.) (Centésima

Septuagésima Segunda Nota do Autor) 173

Com estes empates todos, ele ainda não tinha atravessado a

estrada. Na verdade, o trânsito estava um caos e se não fossem

estes empates narrativos, iríamos ficar muito tempo à espera que

a acção tivesse lugar. Não que isso vá acontecer. Pelo menos, não

em larga escala. (C. S. T. N. A.) (Centésima Septuagésima

Terceira Nota do Autor) 174

Do latim lugubris. (C. S. Q. N. A.) (Centésima Septuagésima

Quarta Nota do Autor)

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lugar (e também pela cor das paredes)175.

Aí, o João irreal acendeu uma vela e a luz revelou a

figura estática176 da entidade suprema do budismo, o

grande Buda. Para o João irreal era apenas um gordo

careca dormindo mas, um observador mais atento

constataria que estava na presença duma divindade.177

Aí, o grande Buda178 abriu os olhos e falou:179

- Que horas são?

Ou talvez uma frase mais profunda.

- Ganda ressaca!

Aí, o grande Buda reparou na figura do João irreal

que era mesmo o próprio João irreal e não apenas uma

figura e falou:

- Quem és tu? Que queres daqui?

- Vim cá para melhorar o meu espírito.

- Aqui?

- Sim.

- O que é que queres fazer?

175

Apesar de não serem materialistas, é engraçado ver como os

templos budistas são tão grandes e como as estátuas do Buda têm

tanta aceitação junto dos fiéis e não só. (C. S. Q. N. A.)

(Centésima Septuagésima Quinta Nota do Autor) 176

Sem electricidade. (C. S. S. N. A.) (Centésima Septuagésima

Sexta Nota do Autor) 177

Na verdade, era mesmo um gordo careca dormindo mas, era

chato estragar a história só por isso, não acham? (C. S. S. N. A.)

(Centésima Septuagésima Sétima Nota do Autor) 178

Mesmo sabendo que ele não é o grande Buda, vou continuar a

tratá-lo assim só para não fazer confusão. (C. S. O. N. A.)

(Centésima Septuagésima Oitava Nota do Autor) 179

Notem que ele podia muito bem falar sem abrir os olhos mas,

caso o fizesse, poderia dar a imagem de ser maluco. (C. S. N. N.

A.) (Centésima Septuagésima Nona Nota do Autor)

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- Quero que você me ajude a atingir o Nirvana.

- Qual deles?

- Hã? Não percebi.

- Qual deles?

- Isso eu percebi, não percebi foi a pergunta.

- Mas tás a gozar comigo ou quê?

Diz-lhe que é o significado da pergunta que tu não

percebes.

- É o significado da pergunta que você não percebe.

- Eu é que não percebo? Agora sou burro, é?

És tu que não percebes.

- É você que não percebe.

- Já me começas a chatear com essas bocas!

Vamos lá a ter calma.

Aí, o grande Buda acalmou-se e respirou fundo.

- Eu estou calmo… Então é assim, eles eram três. Só

que um morreu e os outros dois foram para outra

religião.

- O quê?

- Posso arranjar um boneco, se quiseres.

- Pode ser.

Aí, o grande Buda arranjou um boneco de borracha

do Nirvana e deu três pedras ao João irreal.

- Toma. Dá-lhe com força. - Isso não é um pouco violento?

- Não. Ele é de borracha não se queixa.180

Aí, o João irreal lançou as três pedras e atingiu o

Nirvana três vezes seguidas. Aí, o João irreal sentiu-se

180

Faz sentido. É a prova de que a violência só existe quando as

vítimas se queixam. (C. O. N. A.) (Centésima Octagésima Nota

do Autor)

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bem e foi-se embora. Quanto ao grande Buda continuou

a sua vida de ócio e uma semana depois morreu devido a

uma cirrose.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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VERSÃO A

Num belo dia de Verão, que parecia ser maior do que os

outros181, o João irreal estava passeando por um bosque

frondoso. Atento ao que se passava à sua volta, o João

irreal estava perdido no seu mundo interior182. Um ruído

ensurdecedor ressoava nas folhas – o João irreal estava

ficando com fome.

Aí, o João irreal caminhou alguns metros183 e

chegou numa clareira.184

181

Isto já contando que os dias de Verão são maiores que os dias

de Inverno. (C. O. P. N. A.) (Centésima Octagésima Primeira

Nota do Autor) 182

Infelizmente, ele ainda não é capaz de concentrar em duas

coisas ao mesmo tempo. É pena. (C. O. S. N. A.) (Centésima

Octagésima Segunda Nota do Autor) 183

Seria fácil dizer quantos metros foram se tivesse uma fita.

Mas, como não tenho fita, tem de ser assim. Aliás, eu penso que

foram três metros por isso, mesmo que tivesse uma fita com três

metros, e fosse mais de três metros, o máximo que poderia

colocar seria três metros e tal. Não acho que isso seja muito

preciso. Não é que assim seja mas, pelo menos, sempre fica tudo

igual. (C. O. T. N. A.) (Centésima Octagésima Terceira Nota do

Autor) 184

Clareira define-se como sendo um espaço aberto no meio da

floresta. Sei que a definição não é das melhores mas, quando

compraram isto, não deviam estar à espera dum dicionário, pois

não? (C. O. Q. N. A.) (Centésima Octagésima Quarta Nota do

Autor)

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No meio da clareira estava uma casa de palha,

possivelmente de algum cidadão sem abrigo que

recebera aquele domicílio como prémio de consolo. 185 A

casa era composta por vários montes de palha presos

com um fio amarelecido pelo sol e humedecido pela

chuva. Não era o melhor dos sítios para se viver por isso

não era de estranhar que no interior desta casa rústica186

não se encontrasse uma pessoa mas, um porco. Não no

sentido alegórico do termo mas, no sentido real. Um

porco na verdadeira acepção da palavra. E, fora da casa

de palha, batendo à porta de palha da casa de palha,

estava o lobo mau.187 Passível de ser confundido com um

senhorio impiedoso ou um fiscal das finanças

inoportuno, o lobo mau era mesmo um lobo, embora não

fosse tão mau como faziam crer, tinha era fome. E foi

justamente essa proximidade de ruídos provocados por

zonas estomacais (aliado ao mau cheiro e à não

existência de ambos) que levou o João irreal a ajudar o

lobo mau a arrombar a porta de palha da casa de palha e,

uma vez lá dentro, a pôr o porco do inquilino188 no

espeto.

Serviram-no com batatas cozidas. O lobo, apesar de

185

Não há nada como um bom eufemismo. (C. O. Q. N. A.)

(Centésima Octagésima Quinta Nota do Autor) 186

Outro eufemismo. (C. O. S. N. A.) (Centésima Octagésima

Sexta Nota do Autor) 187

Sabendo que o lobo mau estava lá fora, é possível saber que

alguém se encontra dentro da casa. Encontra-se não quer dizer

que esse alguém esteja a passar por uma crise de identidade, quer

dizer apenas que está alguém em casa. (C. O. S. N. A.)

(Centésima Octagésima Sétima Nota do Autor) 188

Que neste caso é o próprio inquilino. (C. O. O. N. A.)

(Centésima Octagésima Oitava Nota do Autor)

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mau, sabia cozinhar bem e os dois lá conseguiram calar

os estômagos um bocadinho.

- Soube bem, não soube?

- É… mas eu ainda tenho fome.

Assim, o João irreal e o lobo saíram da casa de palha

que entretanto ardera devido à grande ideia que tiveram

de deixar o lume aceso e seguiram à procura de novos

petiscos.189

Chegaram numa casa de madeira velha190 situada

num bairro-da-lata qualquer. Era o lar do segundo porco

da história.191 O lobo mau bateu à porta mas, ninguém

respondeu. Talvez não estivesse ninguém ou talvez este

porco não seja burro ao ponto de responder como o

outro.192 Mas, apesar da cautela que teve, o porco não se

safou do tacho. Sim, porque apesar das implicações que

isto possa ter, foi por culpa do primeiro porco que o

destino do segundo porco ficou traçado.

Eu explico: o João irreal sentiu-se mal e como não

havia nenhuma casa-de-banho ali perto, resolveu pedir

ao lobo para arrombar a porta para poder usar a casa-de-

189

Aqui está uma frase simples. (C. O. N. N. A.) (Centésima

Octagésima Nona Nota do Autor) 190

Tanto a casa como a madeira eram velhas. (C. O. N. N. A.)

(Centésima Nonagésima Nota do Autor) 191

Também em sentido alegórico. (C. N. P. N. A.) (Centésima

Nonagésima Primeira Nota do Autor) 192

Isto não significar responder literalmente da mesma maneira.

(C. N. S. N. A.) (Centésima Nonagésima Segunda Nota do

Autor)

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banho. Qual não foi a sua surpresa193 ao verem o porco

sentado no sofá.194

A preparação do segundo porco foi mais simples e

num lapso de bom cidadanismo decidiram assar o porco

ali mesmo queimando a barraca de madeira contribuindo

assim para o desaumento das barracas.195196

Tudo corria bem e, segundo a velha máxima popular

“não há duas sem três”, o João irreal e o lobo seguiram

até ao último pitéu do dia.

O terceiro porco vivia num apartamento na

Almirante Reis. Pela primeira vez, o lobo mau estava

com dificuldades. Primeiro, porque a porta do prédio

estava fechada e ninguém do prédio a queria abrir.

Segundo, porque por mais que soprasse, não havia meio

do prédio cair. Terceiro, porque não havia nenhuma

terceira razão mas máxima repete-se.

Pareciam ter chegado ao fim do seu rally quando o

193

Surpresa para qualquer um deles. (C. N. T. N. A.) (Centésima

Nonagésima Terceira Nota do Autor) 194

Afinal a surpresa tinha sido para todos eles, menos para o

porco, ou seja, apenas deles os dois, sendo que nenhum deles era

porco sem ser eufemisticamente. Resta dizer que o porco só se

surpreendeu quando lhe espetaram um garfo no lombo. (C. N. Q.

N. A.) (Centésima Nonagésima Quarta Nota do Autor) 195

É o que se chama unir o útil ao agradável embora, a meu ver

comer seja mais útil que queimar barracas. É o que eu acho. Não

vejo nada de agradável nisso, principalmente se eu morasse

numa. (C. N. Q. N. A.) (Centésima Nonagésima Quinta Nota do

Autor) 196

Outra frase simples. (C. N. S. N. A.) (Centésima Nonagésima

Sexta Nota do Autor)

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milagre aconteceu.

O prédio todo entrou em derrocada e o terceiro e

último porco viu-se ao ar livre.197 O João irreal e o lobo

não esperaram mais. Agarraram o porco antes que ele

fugisse e resolveram comê-lo mesmo cru.198 Foi o

melhor da noite e o que se pode chamar um final em

beleza porque, graças a um alvará mal dado, o João

irreal e o lobo tiveram uma farta refeição.

Aí, depois de palitar os dentes, o João irreal foi-se

embora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

197

Graças ao espelho que tinha na mão. (C. N. S. N. A.)

(Centésima Nonagésima Sétima Nota do Autor) 198

Quando o resolveram comer, já o porco já estava a comer. (C.

N. O. N. A.) (Centésima Nonagésima Oitava Nota do Autor)

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VERSÃO B

Num belo dia de Verão, o João irreal continuava

cheio de fome apesar de ter comido três porcos na

história anterior.199 Era essa a razão que levava o João

irreal a procurar pelo menos mais um porco.

Mas onde é que o João irreal iria encontrar um

porco? Num talho? A hipótese era demasiado ridícula

para ser ponderada.200

Ali na cidade o João irreal nunca iria encontrar um

porco. Aí, o João irreal decidiu sair da cidade e ir para

uma zona rural.201 Chegando lá, o João irreal viu três

porcos pastando.202 Rapidamente, o João irreal correu

199

Bem, não foram exactamente três porcos, uma vez que ele não

os comeu sozinho. Deve ter sido um porco e meio. Aliás, como o

lobo mau só era mau quando tinha fome, o João irreal só deve ter

comido um porco. Não me perguntem o que é que ele andou a

fazer durante o resto da história. (C. N. N. N. A.) (Centésima

Nonagésima Nona Nota do Autor) 200

Tão ridícula que nem devia ter sido mencionada, só que agora

é tarde para apagar. Quer dizer, ainda posso apagar mas, depois o

que é que eu faço com esta nota de rodapé? (D. N. A.)

(Duzentima Nota do Autor) 201

Campestre. (D. P. N. A.) (Duzentima Primeira Nota do

Autor) 202

Na verdade eram leitões. (D. S. N. A.) (Duzentima Segunda

Nota do Autor)

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atrás do porco mais próximo que estava junto dele203 e,

rapidamente, o porco correu à frente do João irreal. Os

outros dois porcos ficaram olhando. Estavam muito

calmos para quem estava numa situação daquelas. Talvez

eles soubessem que o João irreal já tinha comido pelo

menos um porco e pensassem que mais um iria matar-lhe

a fome mas, mesmo que soubessem quantos porcos é

que o João irreal tinha comido, é impossível calcular o

tamanho do estômago do João irreal. Por isso, só um

deles é que devia estar e não os dois. Talvez pensassem

que se dois não chegassem, três seriam conta certa e um

deles iria se safar.

Aí, o João irreal apanhou o porco e, no momento em

que ia fincar o dente no lombo, um cara num cavalo

vestido de branco surgiu galopando204 e impediu o João

irreal de cometer tão pérfido acto.

- Pára!

- Porquê?

- Porque Deus manda ser amigo de todos, até dos

porcos.205

- Eu não ligo para o que esse cara diz não.

- Estás a cometer um sacrilégio!

- Olhe a minha cara de preocupado.206 Se você

203

Dele do João irreal e não dele do próprio porco. (D. T. N. A.)

(Duzentima Terceira Nota do Autor) 204

O cavalo é que vinha galopando. (D. Q. N. A.) (Duzentima

Quarta Nota do Autor) 205

Talvez seja por isto que os porcos se estavam a rir. (D. Q. N.

A.) (Duzentima Quinta Nota do Autor) 206

Bem gostaria que conseguissem ver a cara dele neste

momento porque, efectivamente, ele não está preocupado. (D. S.

N. A.) (Duzentima Sexta Nota do Autor)

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continuar me chateando assim desse jeito, eu não vou ser

seu amigo não!

- Bolas!

Tudo parecia indicar que o cara no cavalo vestido de

branco207 iria desistir. Bom, não era exactamente tudo,

apenas a grande maioria dos factores relacionados com o

caso.

- Já sei! Não podes comer esse porco por causa do

embargo!

- Tá bom… Eu como só os outros dois.

- Não. Também não podes. É a toda a carne de

porco.

- Droga!

- Também não podes.

- Não é droga no sentido de droga, é droga no

sentido de droga.208

- Vá. Vai-te embora.

PAUSA

Entramos agora num momento de softgorenarrativo.

- Você toma banho?

207

Era mesmo o cavalo que estava vestido de branco. O cavaleiro

tinha um vestido cor-de-rosa. Talvez fosse por isso que ninguém

o levasse a sério. (D. S. N. A.) (Duzentima Sétima Nota do

Autor) 208

Isto soa bem dito. A entoação ajuda muito. É claro que eu

podia criar o efeito pretendido com uma melhor pontuação. Mas,

também podia ser médico e cientista astrofísico se quisesse, não

é? Uma coisa não impede a outra. (D. O. N. A.) (Duzentima

Oitava Nota do Autor)

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- Sim. Porquê?

- Existe algum embargo à carne humana?

- Não.

Aí, o João irreal saltou para cima do cavaleiro

vestido com um vestido cor-de-rosa, sentado no cavalo

vestido de branco e fincou os dentes no seu pescoço209

mas, o cavaleiro do vestido cor-de-rosa sentado no

cavalo vestido de branco sabia tão mal que o João irreal

vomitou-o e foi-se embora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

209

O João irreal fincou os dentes no pescoço do cavaleiro do

vestido cor-de-rosa sentado no cavalo vestido de branco. (D. N.

N. A.) (Duzentima Nona Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, que iria ficar muito feito210, o

João irreal estava sentado numa pedra pensando na sua

vida. Não que tivesse uma vida muito interessante para

pensar ou mesmo sequer a capacidade de fazer isso mas,

soa melhor do que escrever que ele não estava a fazer

nada.211

Num belo dia de Verão, o João irreal estava sentado

numa rocha sem fazer nada.212

(Querias que fosse literal onde? Na televisão?)

E digo mais, era uma rocha granítica.213

É para não dizeres que eu não disse que a rocha era

granítica e depois eles pensam que é basáltica.214

Mas o que é que tu percebes disso? És algum

rochólogo?215

210

Não seria bem o dia que iria ficar feio. Embora eu preveja

alguns acontecimentos para esta história é possível que esses

acontecimentos só aconteçam à noite. (D. D. N. A.) (Duzentima

Décima Nota do Autor) 211

A desonestidade para com o leitor soa melhor, não é? (D. D. P.

N. A.) (Duzentima Décima Primeira Nota do Autor) 212

Não é preciso ser tão literal. (D. D. S. N. A.) (Duzentima

Décima Segunda Nota do Autor) 213

Não creio que isso vá ter muito interesse para a história. (D.

D. T. N. A.) (Duzentima Décima Terceira Nota do Autor) 214

Na verdade, a rocha é sedimentar. (D. D. Q. N. A.)

(Duzentima Décima Quarta Nota do Autor) 215

Isso é o quê? (D. D. Q. N. A.) (Duzentima Décima Quinta

Nota do Autor)

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Alguém que estuda as rochas.216

Isso é quem estuda o gelo.217

Continuámos nesta conversa sem nexo até que o

João irreal interrompeu-nos.

- Ei!

“Ei!” o quê? O que é que queres?

- Eu não quero nada. Você é que me disse para

interromper.

E tinhas logo que fazer esse “Ei!”?218

Tu cala-te!219

Mas pode avisar.220

Agora que falas nisso. Sabes dalguma coisa?221

Eu bem me queria parecer que faltava qualquer

coisa. Qual é o título?222

O FIM DO JOÃO IRREAL. Vamos lá pensar em

216

Não queres dizer geólogo? (D. D. S. N. A.) (Duzentima

Décima Sexta Nota do Autor) 217

Não te esqueças que o gelo também pode vir em pedras. (D.

D. S. N. A.) (Duzentima Décima Sétima Nota do Autor) 218

Sempre soa melhor que “Vou interromper.” (D. D. O. N. A.)

(Duzentima Décima Oitava Nota do Autor) 219

Calo-me porquê? Quando alguém vai interromper não diz que

vai interromper, interrompe e pronto. (D. D. N. N. A.)

(Duzentima Décima Nona Nota do Autor) 220

Se quiser. O mais engraçado é que parece que estamos a

esquecer-nos de qualquer coisa. (D. V. N. A.) (Duzentima

Vigésima Nota do Autor) 221

Não. Desde a história começou que ainda não parámos de

discutir. (D. V. P. N. A.) (Duzentima Vigésima Primeira Nota do

Autor) 222

O FIM DO JOÃO IRREAL. (D. V. S. N. A.) (Duzentima

Vigésima Segunda Nota do Autor)

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qualquer coisa. - Para o meu fim?

Tu não pensas.

- Isso já eu sei.

Não é isso. Não pensas na história, fica só para nós

os dois que somos as partes não intervenientes.

- Parece é que vocês andam interferindo demais.

O que é queres dizer com isso? Queres dizer que por

termos a maior percentagem de texto desta história que

estamos a monopolizá-la?

- Não.

Mas pensaste, não foi?

- Você disse que eu não penso.

O. K.

Aí, nós começámos pensando numa história para a

ideia.223 Não! É uma história para a ideia! A ideia já

temos, é o fim dele, só nos falta a história.

PAUSA PARA INSPIRAÇÃO

Inspira…

PAUSA PARA EXPIRIÇÃO

Expira…

Já sei!224

Vais ver.

223

Ou uma ideia para a história. (D. V. T. N. A.) (Duzentima

Vigésima Terceira Nota do Autor) 224

Não me digas que tiveste uma ideia dum só fôlego? Deve ser

uma bela ideia… (D. V. Q. N. A.) (Duzentima Vigésima Quarta

Nota do Autor)

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Aí, o João irreal levantou-se e caminhou para longe

da rocha.225

Tem lá calma contigo!

Após tantas andanças, o João irreal decidira que

estava farto de ser irreal.

- Estou?

Sim, estás.226

Vem a propósito da história.227

Ora! Real, é claro.

- Mas o Real não é claro.228

É por não ser claro que se torna mais visível.

- Então eu vou ser real de novo?

Vais.

- Como?

Deixa isso comigo.

Aí, o João irreal foi parar num laboratório

pertencente a um cientista maluco.229

Como? Sei lá como! Foi! É preciso saber mais o

quê?230 Tu fazes o mesmo!231 Sim. Andas sempre a

225

Até agora não vi nada. (D. V. Q. N. A.) (Duzentima Vigésima

Quinta Nota do Autor) 226

A que propósito é que vem essa ideia? (D. V. S. N. A.)

(Duzentima Vigésima Sexta Nota do Autor) 227

Não. A ideia de não querer ser irreal. Vai ser o quê? (D. V. S.

N. A.) (Duzentima Vigésima Sétima Nota do Autor) 228

Um pequena piada de âmbito pessoal. (D. V. O. N. A.)

(Duzentima Vigésima Oitava Nota do Autor) 229

Como? (D. V. N. N. A.) (Duzentima Vigésima Nona Nota do

Autor) 230

Omissão de factos. (D. T. N. A.) (Duzentima Trigésima Nota

do Autor)

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omitir que és parvo!

- Ei! A história é minha!

Tu cala-te! Vou despachar-te já!

Aí, o João irreal foi agarrado por um cientista

maluco e foi colocado numa máquina e ficou real.232

Eu disse-lhe.233

Eu disse-lhe.

Aí, o João irreal decidiu chamar-se João que já foi

irreal mas que agora existe outra vez.

- Decidi?

Sim. E a história acabou.234

Ele já era maluco. Se não fosse não tinha aceitado235

entrar na história.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

231

Eu?! (D. T. P. N. A.) (Duzentima Trigésima Primeira Nota do

Autor) 232

Como é que o cientista sabia que o João irreal estava lá? (D. T.

S. N. A.) (Duzentima Trigésima Segunda Nota do Autor) 233

Como é que ele sabia que tu estavas lá? (D. T. T. N. A.)

(Duzentima Trigésima Terceira Nota do Autor) 234

Esqueceste-te de dizer que o cientista só ficou maluco depois

de conhecer o João irreal. (D. T. Q. N. A.) (Duzentima Trigésima

Quarta Nota do Autor) 235

É aceite que se diz. (D. T. Q. N. A.) (Duzentima Trigésima

Quinta Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez decidiu partir numa missão secreta

à lua. De facto, a missão era tão secreta que ninguém,

nem mesmo ele, sabia da sua existência.236 Assim, o João

que já foi irreal mas agora existe outra vez entrou num

foguetão e partiu em direcção à lua.237

A culpa não foi minha!238

- Importam-se de me dar uma mão?

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez foi parar na lua.239

Cala-te.240

No outro lado.241

236

Coloca-se assim o porquê da missão. (D. T. S. N. A.)

(Duzentima Trigésima Sexta Nota do Autor) 237

Ou teria partido se alguém não tivesse calculado mal a

trajectória. (D. T. S. N. A.) (Duzentima Trigésima Sétima Nota

do Autor) 238

Tu é que te picaste. (D. T. O. N. A) (Duzentima Trigésima

Oitava Nota do Autor) 239

Sabes que isso não é muito convincente, não sabes? (D. T. N.

N. A.) (Duzentima Trigésima Nona Nota do Autor) 240

Em que lado é que ele calhou? (D. Q. N. A.) (Duzentima

Quadragésima Nota do Autor) 241

Como é que sabes que é o outro lado e não o lado de cá? (D.

Q. P. N. A.) (Duzentima Quadragésima Primeira Nota do

Autor)

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Porque a partir do momento em que existem dois

lados, passam os dois a ser opostos em relação ao outro

lado. Percebes?242

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez levantou a gola do seu sobretudo e ajeitou os seus

óculos escuros e…243

Alguma vez viste alguém partir numa missão secreta

sem sobretudo e óculos escuros?244

Então como é que sabes que o sobretudo e os óculos

escuros não fazem parte dos itens recomendados?245

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez partiu em direcção à base lunar.246

A base lunar que está na lua.247

É onde se vai passar a acção.248

- Posso falar?

242

Quase. (D. Q. S. N. A.) (Duzentima Quadragésima Segunda

Nota do Autor) 243

Calminha aí! Sobretudo e óculos escuros? Donde é que isso

veio? (D. Q. T. N. A.) (Duzentima Quadragésima Terceira Nota

do Autor) 244

Eu nunca vi ninguém a partir numa missão secreta para lado

nenhum. (D. Q. Q. N. A.) (Duzentima Quadragésima Quarta

Nota do Autor) 245

Não sei. De qualquer modo, és tu que pagas. (D. Q. Q. N. A.)

(Duzentima Quadragésima Quinta Nota do Autor) 246

Qual base lunar? (D. Q. S. N. A.) (Duzentima Quadragésima

Sexta Nota do Autor) 247

É claro que a base lunar está na lua!!! Se é uma base lunar é

porque está na lua! Eu quero saber é o que ela faz lá. (D. Q. S. N.

A.) (Duzentima Quadragésima Sétima Nota do Autor) 248

Mas a acção não se vai passar na lua. (D. Q. O. N. A.)

(Duzentima Quadragésima Oitava Nota do Autor)

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Não! Isto é conversa de gente grande! Não te

metas!249

E não achas isso estranho? Porque é que não

existem? Porque alguém não quer que elas existam.250

Gostavas de viver na lua?

- Não.

Então vai passear!

- Tá bom.

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez foi passear para a Terra e a missão secreta acabou.

Acabou por não haver pois ninguém sabia o que era para

fazer.

E o homem do casaco branco fez xeque ao rei.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

249

Que interesse é que a base tem para a história? Nem sequer

existem bases lunares. Nem na lua, nem em lado nenhum. (D. Q.

N. N. A.) (Duzentima Quadragésima Nona Nota do Autor) 250

Talvez ninguém as tenha construído ainda. Já pensaste nisso.

Pergunta lá a ele se gostava de viver na lua? (D. Q. N. A.)

(Duzentima Quinquagésima Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez, imbuído de espírito natalício251, o

João que já foi irreal mas agora existe outra vez resolveu

pôr em prática o maior número de boas acções possível.

A melhor opção seria talvez apostar nas empresas

privatizadas, nos grandes grupos económicos ou nos

negócios de vanguarda. Assim, o João que já foi irreal

mas agora existe outra vez resolveu ir num lugar onde

suas boas acções seriam muito mais apreciadas –

Jerusalém.252

Dito e feito! O João que já foi irreal mas agora

existe outra vez estava em Jerusalém.253

251

Era o João que já foi irreal mas agora existe outra vez que

tinha o espírito natalício e não o dia. No Verão, não há Natal. (D.

Q. P. N. A.) (Duzentima Quinquagésima Primeira Nota do

Autor) 252

Na verdade, qualquer razão é válida uma vez que o título

implica que ele vai para lá de qualquer. Sendo que “de qualquer

maneira” não só se refere ao motivo da viagem como também ao

meio de deslocação. (D. Q. S. N. A.) (Duzentima

Quinquagésima Segunda Nota do Autor) 253

E agora a primeira fala da História. Não da História em si,

apenas desta. (D. Q. T. N. A.) (Duzentima Quinquagésima

Terceira Nota do Autor)

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- Uau!

O João que já foi irreal mas agora existe outra vez

estava pasmado. Aquilo era só areia.

- Em quem é que eu vou praticar as minhas boas

acções?

Já viram um espírito tão generoso?254

- Cambada de idiotas que só me tão fazendo perder

tempo!

Aí surgiu a primeira vítima do dia.255 Era um

homem velho e careca e com uma barba branca e grande.

Aí o João que já foi irreal mas agora existe outra vez

aproximou-se e perguntou para ele.

- Você precisa de ajuda?

Aí o velho começou falando numa língua estranha256

e o João que já foi irreal mas agora existe outra vez

percebeu o que se passava com ele257 - o velho não sabia

falar. Aí o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez deu uma valente surra no velho.258

254

Com esta expressão não estou a desejar que o João que já foi

irreal mas agora existe outra vez morra, nem tão pouco estou a

compará-lo a um vinho. (D. Q. Q. N. A.) (Duzentima

Quinquagésima Quarta Nota do Autor) 255

Resta saber se era vítima antes ou depois. (D. Q. Q. N. A.)

(Duzentima Quinquagésima Quinta Nota do Autor) 256

Por língua, entenda-se dialecto. Embora, para alguns, uma

língua seja sempre uma língua, neste caso não é. (D. Q. S. N. A.)

(Duzentima Quinquagésima Sexta Nota do Autor) 257

Com ele, o velho. (D. Q. S. N. A.) (Duzentima

Quinquagésima Sétima Nota do Autor) 258

O que não o curou nem o pôs a falar bem. Mas, como não

voltou a falar mal, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez achou que estava tudo bem. (D. Q. O. N. A.) (Duzentima

Quinquagésima Oitava Nota do Autor)

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Aí o João que já foi irreal mas agora existe outra vez

mandou o velho embora. A primeira vítima estava

curada.

Pouco depois259, apareceu a segunda pessoa. Era

uma criança que também não sabia falar bem mas aí, o

João que já foi irreal mas agora existe outra vez não quis

ajudá-la.

- Porque não?

Porque pensaste como não há duas sem três, o resto

das pessoas também deve falar mal.

- Pensei, é?

Não é “pensei, é?”, é “pensei, foi?”

- Foi?

Foi.

- Porquê?

Porque chegaste à conclusão que cometeste um erro.

- Cheguei?

Mas tu és estúpido ou fazes-te? Não tens vontade

própria para assumires os teus actos?

- Não.

Claro que não! Hã… Espera lá. Sou eu que estou a

escrever isto, não é?

- Não é “não é?”, é “não sou?”.

Não és o quê?

- Nada.

Eu sei disso.

- O quê?

Esquece.

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

259

Isto ao leitor não faz muita diferença. Ser pouco depois,

depois ou muito depois – o tempo de leitura é o mesmo. (D. Q.

N. N. A.) (Duzentima Quinquagésima Nona Nota do Autor)

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vez esqueceu-se do estava a fazer ali.

- O que é eu estou fazendo aqui?

Vêem? Ele quando quer até sabe.

E assim, o João que já foi irreal mas agora existe

outra vez decidiu ir para um sítio onde as pessoas

falassem bem e foi-se embora.

- Decidi partir para um sítio onde as pessoas falem

bem e vou-me embora.

Agora, estás a ser chato.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

260

Ele não espancou o resto das pessoas. Queres

melhor boa acção do que essa?

260

Então e o resto das boas acções? (D. S. N. A.) (Duzentima

Sexagésima Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez estava perdido no lado do

deserto.261 Parecia inevitável o que ia acontecer e tanto

era que aconteceu mesmo – o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez perdeu-se no deserto. Aí, o João

que já foi irreal mas agora existe outra vez começou

avançando à procura da saída.262

Sim, mas se ele fizesse isso a história acabava aqui.

É isso que tu queres?263

Não, obrigado.

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez caminhou pelo deserto. E, algum tempo depois,

estava perdido no deserto. Aí, o João que já foi irreal

mas agora existe outra vez começou ficando com fome e

sede e frio e264

261

Digo lado porque ele ainda não tinha saído da zona periférica.

(D. S. P. N. A.) (Duzentima Sexagésima Primeira Nota do

Autor) 262

Sem saber que bastava voltar para trás. (D. S. S. N. A.)

(Duzentima Sexagésima Segunda Nota do Autor) 263

Isso é uma pergunta de retórica, não é? (D. S. T. N. A.)

(Duzentima Sexagésima Terceira Nota do Autor) 264

Frio?! (D. S. Q. N. A.) (Duzentima Sexagésima Quarta Nota

do Autor)

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Era de noite.265o João que já foi irreal mas agora

existe outra vez estava desesperado pois tinha perdido as

chaves de casa.

- Mas eu não tenho casa.

Aí tens mais um motivo para ficares desesperado,

não achas?

- Mas se eu não tenho a culpa é sua.

Ai é assim que retribuis a minha generosidade?266

Tu cala-te que a conversa não é contigo.

Assim, o João que já foi irreal mas agora existe

outra vez continuou com fome e sede e frio mas já não

estava tão desesperado como antigamente.267

Importas-te?

Aí, o personagem central268 desta história surgiu

perante um António, perdão, atónito269 João que já foi

irreal mas agora existe outra vez – o grande Alá. O

grande Alá tinha uma missão – converter o João que já

foi irreal mas agora existe outra vez à não-violência.

- Ahbakroa jfreg ihssmolek.

- Oi para você também.

Em troca, o grande Alá diria ao João que já foi irreal

mas agora existe outra vez como sair do deserto.

265

Tens sempre resposta para tudo, não tens? (D. S. Q. N. A.)

(Duzentima Sexagésima Quinta Nota do Autor) 266

Tu é que começaste. (D. S. S. N. A.) (Duzentima Sexagésima

Sexta Nota do Autor) 267

Embora continuasse sem casa. (D. S. S. N. A.) (Duzentima

Sexagésima Sétima Nota do Autor) 268

É central porque o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez encontrou-o no centro do deserto. (D. S. O. N. A.)

(Duzentima Sexagésima Oitava Nota do Autor) 269

Do latim atonitum. (D. S. N. N. A.) (Duzentima Sexagésima

Nona Nota do Autor)

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- Fahzi fohlar ahkbir.

- É isso aí.

O único problema é que o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez não conseguia perceber nada do

que o grande Alá estava falando. Por isso, o João que já

foi irreal mas agora existe outra vez decidiu ir-se embora

e voltou para trás.270

Eu nunca disse que ele não sabia, o que eu disse foi

que se ele tivesse voltado atrás logo no início, não ia

haver história271

- Eu também não gostei.

Mas tu aqui não mandas nada.

Assim, o João que já foi irreal mas agora existe

outra vez saiu do deserto e continuou sem mandar nada.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

270

Afinal, ele sabia. (D. S. N. A.) (Duzentima Septuagésima

Nota do Autor) 271

E achas que assim houve? (D. S. P. N. A.) (Duzentima

Septuagésima Primeira Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez decidiu regressar ao passado.272

Mais concretamente à Pré-história, à época e local273

onde conhecera o seu velho amigo274 Eduardo Mãos-de-

Sílex.275

- Porquê?

Porquê o quê?

- Porquê que eu vou para a Pré-História?

Não leste o primeiro parágrafo?

- Sim, mas já é a segunda vez que eu vou para a Pré-

História neste livro.

Não é a segunda, é a primeira, a outra primeira não

contou.

- Aquilo não era a Pré-História?

272

Chama-se regresso porque ele já tinha estado no passado

antes. Basta estar no presente para ter estado no passado, não é?

(D. S. S. N. A.) (Duzentima Septuagésima Segunda Nota do

Autor) 273

Não tenho muito certeza quanto ao local. (D. S. T. N. A.)

(Duzentima Septuagésima Terceira Nota do Autor) 274

Desde a Pré-História já deve ser um fóssil. (D. S. Q. N. A.)

(Duzentima Septuagésima Quarta Nota do Autor) 275

Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (D.

S. Q. N. A.) (Duzentima Septuagésima Quinta Nota do Autor)

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Mais ou menos, era a Pós-Pré-História.

E assim, sem que o João que já foi irreal mas agora

existe outra vez reparasse, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez foi parar na verdadeira Pré-

História.276

- E o que é que eu vou fazer quando o vir?

Dizes olá.

- E depois?

Ainda não sei.

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez viu o seu amigo Eduardo Mãos-de-Sílex.

- Hã… Esqueci.

Olá…

- É isso. Oi.

Não é “oi”, é “olá”.

- Oi.

Olá!

- Oi.

Olá!!!

- Olá para vocês também.

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez e eu ficámos surpreendidos. Desde quando é que o

Eduardo Mãos-de-Sílex conseguia falara tão bem?

- Tive que aprender. Afinal de contas, o gestor da

primeira multi-cavernal da História277 não pode ser um

bruto selvagem e insensível. Quer dizer, nem sempre…

Como é que tu viste o outro parágrafo?

276

Não que a outra fosse falsa. (D. S. S. N. A.) (Duzentima

Septuagésima Sexta Nota do Autor) 277

É a primeira porque ainda não se tinha falado de nenhum

antes. (D. S. S. N. A.) (Duzentima Septuagésima Sétima Nota do

Autor)

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- Faz parte da minha consciência universal.

- Eu não gosto dele! Quero ir embora!

Eu também. Não suporto gente que pensa.

- É por isso que você anda comigo?

É.

- O que é que você quis dizer com isso?

Nada, nada.

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez voltámos ao presente278 e a história acabou.

Quanto ao Eduardo Mãos-de-Sílex, continuou na

Pré-História e fez da Fumo-Pizza uma empresa de

prestígio.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

278

Não importa onde eles vão. É sempre presente se estiverem lá

presentes, perceberam? (D. S. O. N. A.) (Duzentima

Septuagésima Oitava Nota do Autor)

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VERSÃO A

Num belo dia de verão, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez sentiu uma apetência gravítica

proveniente do chão.279 Antes de se levantar do chão280 o

João que já foi irreal mas agora existe outra vez ficou

com o ouvido encostado no chão e ouviu um trotar

várias vezes.281 Aí, o João que já foi irreal mas agora

existe outra vez levantou-se e olhou para o horizonte e

não viu nada.282 Aí, o João que já foi irreal mas agora

existe outra vez olhou para trás e viu um bando de caras

cavalgando em camelos.283 Eram muitos, tantos que o

João que já foi irreal mas agora existe outra vez não os

279

Acho que isto é uma queda. (D. S. N. N. A.) (Duzentima

Septuagésima Nona Nota do Autor) 280

Foi mesmo uma queda. (D. O. N. A.) (Duzentima Octagésima

Nota do Autor) 281

Ele não ouviu um várias vezes, ouviu vários várias vezes, mas

como vinha tudo junto era difícil distinguir. (D. O. P. N. A.)

(Duzentima Octagésima Primeira Nota do Autor) 282

Porque eles vinham do outro lado. (D. O. S. N. A.)

(Duzentima Octagésima Segunda Nota do Autor) 283

Cavalgar também dá para camelos, não dá? (D. O. T. N. A.)

(Duzentima Octagésima Terceira Nota do Autor)

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conseguia contar. Aí, o João que já foi irreal mas agora

existe outra vez tentou fugir, mas antes que tivesse

tempo de pensar em fazer isso284 o bando dividiu-se e

rodeou o João que já foi irreal mas agora existe outra vez

por todos os lados.285 O João que já foi irreal mas agora

existe outra vez estava cercado.286

Aí, o bando parou e todos desceram dos seus

camelos. Todos menos um. Aí, o João que já foi irreal

mas agora existe outra vez pensou:

“Deve ter medo de descer e não conseguir subir.”

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez resolveu ir junto do cara que estava no camelo, mas

antes que fizesse isso287 o resto do grupo288 agarrou no

João que já foi irreal mas agora existe outra vez e

afastou-o do cara que estava no camelo. O João que já

foi irreal mas agora existe outra vez estava preso por um

bando de malfeitores.289 Este era o bando dos cinquenta

ladrões290 e o cara que estava no camelo era o seu chefe

284

E em fugir. (D. O. Q. N. A.) (Duzentima Octagésima Quarta

Nota do Autor) 285

Menos por cima e por baixo. (D. O. Q. N. A.) (Duzentima

Octagésima Quinta Nota do Autor) 286

Menos por cima e por baixo. (D. O. S. N. A.) (Duzentima

Octagésima Sexta Nota do Autor) 287

Esta foi um bocado fora de tempo. (D. O. S. N. A.)

(Duzentima Octagésima Sétima Nota do Autor) 288

Não foi todo o resto. Foram só dois ou três. (D. O. O. N. A.)

(Duzentima Octagésima Oitava Nota do Autor) 289

O “possivelmente” refere-se ao bando ser de malfeitores e não

ao João que já foi irreal mas agora existe outra vez estar preso.

(D. O. N. N. A.) (Duzentima Octagésima Nona Nota do Autor) 290

A contar com o chefe. (D. N. N. A.) (Duzentima Nonagésima

Nota do Autor)

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Ali Babasse, um facínora sanguinário com grandes

problemas de incontinência salivar. Aí, um dos

malfeitores colocou um balde debaixo do queixo do

chefe Ali Babasse e o chefe Ali Babasse disse:

- Tu! Foi o suficiente para o balde ficar cheio. O malfeitor

pegou logo noutro balde e colocou-o debaixo do queixo do

chefe Ali Babasse.

- Quem? Eu?

- Estás a ver mais alguém?

Mais cinco baldes e um copo para o ponto de

interrogação.

- Tou. Olhe aí tanta gente.

- Eles não contam.291

Mais três baldes.

- Sabes para que lado é que fica o horizonte?

Mais nove baldes e um copo.

- É sempre em frente.

Aí, o bando de malfeitores foi-se embora e o João

que já foi irreal mas agora existe outra vez ficou sozinho

com dezoito baldes e dois copos cheios de saliva.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

291

Isto não significa que eles não sabem contar, significa que a

opinião deles não interessa. Isto também não quer dizer que a

opinião deles nunca interessa. Neste caso, não. (D. N. P. N. A.)

(Duzentima Nonagésima Primeira Nota do Autor)

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VERSÃO B

Num belo dia de Verão, a sede era tanta que o João

que já foi irreal mas agora existe outra vez não podia

aguentar mais com tanto sofrimento. Teria sido bem

melhor se em vez de ter ido para o deserto, tivesse ido

para uma lanchonete ou qualquer outro sítio onde

houvesse água. Potável, de preferência.

- Foi você que quis começar a história no deserto e

não eu.

Porque é que só abres a boca para me criticares?

- Não tou criticando, tou reclamando.

- E não é a mesma coisa?

- Não.

Ai não? Então qual é a diferença?

- Não sei.

Não sabes?

- Não.

Então se não sabes qual é a diferença como é que

sabes que não é a mesma coisa?

- Porque sei.

Mas como? 292

292

Eu explico. (D. N. S. N. A.) (Duzentima Nonagésima

Segunda Nota do Autor)

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Sou todo ouvidos.293

Isso quer dizer que ele tem inveja de mim?294

Ai é? Então agora é que começo mesmo a história

no deserto!295

Não. A história começa agora.

Vagueando pelas tórridas areias do deserto, sob um

sol escaldante, o João que já foi irreal mas agora existe

outra vez andava em busca de água. E tudo porque é um

personagem muito mal agradecido.

- Você não é capaz de aceitar uma crítica!

Ai agora já é crítica? Agora não quero saber!

Então, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez chegou numa zona habitacional296 e perguntou se

tinham água.

- Vocês t-

Mas, antes que o João que já foi irreal mas agora

existe outra vez pudesse concluir a sua pergunta, eles

responderam logo:

- Não!

- Porque é que você não me deixou terminar a

293

Reclamar é quando não gostamos daquilo que um pessoa faz

ou fez. Criticar é quando gostamos daquilo que uma pessoa faz

ou fez mas dizemos que não gostamos daquilo que essa pessoa

faz ou fez porque temos inveja daquilo que essa pessoa faz ou

fez. (D. N. T. N. A.) (Duzentima Nonagésima Terceira Nota do

Autor) 294

Não. Quer dizer que ele não gosta do que você faz ou fez. (D.

N. Q. N. A.) (Duzentima Nonagésima Quarta Nota do Autor) 295

Pensava que isto era já a história. (D. N. Q. N. A.) (Duzentima

Nonagésima Quinta Nota do Autor) 296

Habitacional no sentido de ter casas. (D. N. S. N. A.)

(Duzentima Nonagésima Sexta Nota do Autor)

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pergunta?

Porque eu disse “antes que o João que já foi irreal

mas agora existe outra vez pudesse concluir a sua

pergunta” e não “depois do João que já foi irreal mas

agora existe outra vez concluir a sua pergunta”.

- Mas você tinha dito antes que eu ia fazer a

pergunta toda.

Mudei de ideias. Tens algum problema, vai-te

queixar ao autor.

- Mas o autor é você!

Que pouca sorte a tua.

- Você tá fazendo tudo isso só porque eu disse aquilo

no início da história?

Quem? Eu? Alguma vez eu era capaz de guardar

rancor só porque um mísero e insignificante personagem

teve a ousadia de me criticar pela escolha de um espaço

para acção que tanto trabalho me deu arranjar?

- Sim.

Pois enganas-te. Eu seria incapaz de guardar rancor

só porque um mísero e insignificante personagem teve a

ousadia de me criticar pela escolha de um espaço para

acção que tanto trabalho me deu arranjar. Ouviste bem?

- Aposto que essa gente tem água. Você é que não

quer dizer. É verdade ou não é?

É verdade.

- Eu sabia! Eles têm água. Você é que não quer

dizer.

Eu não quero dizer ou por outra eu não não quero

dizer. É que a água que eles têm não é das melhores.

- Não me interessa! Eu quero água!

Está bem. Se é isso que tu queres.

Então as pessoas daquela zona habitacional deram

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água ao João que já foi irreal mas agora existe outra vez

que a bebeu sofregamente.297

- Ah…

Mas depois cuspiu-a porque aquela água em saliva.

- Porque é que você disse que era saliva?

Eu disse-te. Tu é que não quiseste ouvir.

- Você não disse que era saliva, você disse que era

água em péssimas condições.

Não andei muito longe da verdade.

- Você não sabe explicar as coisas e depois os outros

é que ficam encrencados.

Olha, sabes que mais? Estou farto das tuas críticas!

- Eu não estou criticando! Eu estou reclamando!

Ai é? Então vai reclamar para outro lado porque a

história acaba aqui.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

298

297

Como um alarvo. (D. N. S. N. A.) (Duzentima Nonagésima

Sétima Nota do Autor) 298

Tem piada que eu nem dei pela história começar. (D. N. O. N.

A.) (Duzentima Nonagésima Oitava Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, nas verdes e frondosas colinas

do norte de Inglaterra, o João que já foi real mas agora

existe outra vez corria desenfreado à frente dum grupo

de ameaçadores cavaleiros que queriam pegar o João que

já foi real mas agora existe outra vez e dar uma baita

duma surra no João que já foi real mas agora existe outra

vez. E porquê?

– Isso gostava eu de saber. Esse negócio de começar

a história com gente querendo me bater não tem jeito

não!

Calma que eu vou fazer uma andalépce.

– E isso aí é o quê?

É algo que vai servir para explicar porque é que eles

te perseguem.

– Ah! Tipo uma explicação?

Sim… Mais ou menos.

– E porque é que não explicou antes?

Mas quem é que escreve a história afinal? És tu ou

sou eu?

– Só queria sa–

És tu ou sou eu?

– É você.

Então, se sou eu que escrevo, sou eu que sei como é

que as coisas devem ser feitas e, como tal, não devo

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explicações a ninguém. Muito menos a um personagem

tão insignificante como tu.

– Anda logo, vai.

FLASHBACK299:

Tudo começou quando o João que já foi real mas

agora existe outra vez resolveu ir para Inglaterra.300

Perguntam eles, não. Perguntas tu.301

Porque a história passa-se na Inglaterra.

Esclarecido?302

Chegado a Inglaterra, o João que já foi real mas

agora existe outra vez deu de caras com um pais303

O quê?304

Mas tu tás parvo ou quê? Onde é que “pais” leva

acento?305

Mas “país” já tem acento.306

Continuado…

Aí, o João que já foi real mas agora existe outra vez

299

Vai em inglês porque a história passa-se na Inglaterra. (D. N.

N. N. A.) (Duzentima Nonagésima Nona Nota do Autor) 300

E porque é que ele resolveu ir para Inglaterra?, perguntam

vocês. (T. N. A.) (Trizentima Nota do Autor) 301

Prontos. Pergunto eu. (T. P. N. A.) (Trizentima Primeira Nota

do Autor) 302

Muito. (T. S. N. A.) (Trizentima Segunda Nota do Autor) 303

Falta-te o acento. (T. T. N. A.) (Trizentima Terceira Nota do

Autor) 304

Falta-te um acento em “pais”. (T. Q. N. A.) (Trizentima

Quarta Nota do Autor) 305

Não é “pais”, é “país”. (T. Q. N. A.) (Trizentima Quinta Nota

do Autor) 306

Esquece. (T. S. N. A.) (Trizentima Sexta Nota do Autor)

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deu de caras com um país sem rei.307

Porque o último rei tinha falecido e não tinha

deixado nenhum sucessor.308

(Espaço necessário para o autor pensar num possível

motivo para a envolvência do rei Artur e na coerência de

toda esta história, tendo em conta que o motivo principal

de interesse acabou de ser negado.)

É sobre… é sobre… é porque ele disse qualquer

coisa aos soldados309

São soldados também, não são?310

E isso significa o quê?311

Portanto, o João que já foi real mas agora existe

outra vez proferiu em relação àqueles que o perseguem,

certos vocábulos passíveis de serem considerados

diminuidores de estatuto e imagem.312

– Eu fiz isso tudo?

Não. Estás a fazer. Isto é passado, lembras-te?

– Mas como é que eu posso tar fazendo uma coisa

que já fiz?

Porque isto ainda é a andalépce e na andalépce, a

acção passa-se no passado dito no tempo presente. O que

307

E porquê? (T. S. N. A.) (Trizentima Sétima Nota do Autor) 308

Espera lá! Isto por acaso nao terá nada a ver com aquela

história da espada na pedra? (T. O. N. A.) (Trizentima Oitava

Nota do Autor) 309

Cavaleiros. (T. N. N. A.) (Trizentima Nona Nota do Autor) 310

Sim, mas como têm cavalos, são também cavaleiros. (T. D. N.

A.) (Trizentima Décima Nota do Autor) 311

Nada. (T. D. P. N. A.) (Trizentima Décima Primeira Nota do

Autor) 312

Actividade lúdico-recreativa também conhecida por ofender

ou insultar. (T. D. S. N. A.) (Trizentima Décima Segunda Nota

do Autor)

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significa que tu não podes falar do que vai acontecer no

tempo posterior ao da andalépce.313

Não.314

É lógico que não. Se a andalépce é passado, o tempo

posterior será o presente.315

ACÇÃO PASSADA NO MOMENTO POSTERIOR

À ANDALÉPCE:

De volta à perseguição, o João que já foi real mas

agora existe outra vez continuava a ser perseguido.

– Estou ficando cansado disso aqui, viu?

E agora?316

Em que tempo verbal é que a acção se passa?317

Ainda bem que admites. Posso terminar a história

aqui.

FIM

– Muito obrigado. 318

313

Que é o futuro. (T. D. T. N. A.) (Trizentima Décima Terceira

Nota do Autor) 314

Não? (T. D. Q. N. A.) (Trizentima Décima Quarta Nota do

Autor) 315

Mas tu mesmo disseste que a andalépce é dita no presente e a

seguir ao presente vem sempre o futuro. (T. D. Q. N. A.)

(Trizentima Décima Quinta Nota do Autor) 316

Agora o quê? (T. D. S. N. A.) (Trizentima Décima Sexta Nota

do Autor) 317

No presente. (T. D. S. N. A.) (Trizentima Décima Sétima

Nota do Autor)

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Não faltou não. Simplesmente, confiei na tenacidade

mental dos leitores para deduzirem esse tipo de

informações. 319

Isso também eu gostava de saber. 320

Em Inglaterra. Se é lá que a história se passa, é

natural que ele estivesse lá. Se a história se passasse em

França, eu não iria colocar o rei Artur nela.321

O que é que queres dizer com isso?322

FIM

(mesmo a sério)

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

318

Faltava dizer que os cavaleiros ou soldados deixaram de

perseguir o João que já foi real mas agora existe outra vez. (T. D.

O. N. A.) (Trizentima Décima Oitava Nota do Autor) 319

Ficou ainda por saber qual foi a ofensa que o João que já foi

irreal mas agora existe outra vez fez. (T. D. N. N. A.) (Trizentima

Décima Nona Nota do Autor) 320

E o rei Artur? Onde é que ele estava? (T. V. N. A.) (Trizentima

Vigésima Nota do Autor) 321

Tal como não colocaste nesta? (T. V. P. N. A.) (Trizentima

Vigésima Primeira Nota do Autor) 322

Nada. (T. V. S. N. A.) (Trizentima Vigésima Segunda Nota do

Autor)

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Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez estava sentado numa cadeira de

madeira no meio da floresta de Chairwood.323 Perante os

seus olhos ávidos de sangue e violência desenrolava-se

um espectáculo cheio de sangue e violência: o combate

entre o xerife e o cara que roubava a quem tinha para dar

a quem não tinha ia entrar no terceiro round. O público

estava a delirar com o espectáculo.

O árbitro anunciou a partida. Aí, o João que já foi

irreal mas agora existe outra vez levantou-se e foi-se

embora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

Nota: Tomei a liberdade de antecipar algumas

questões que decerto acabaram de surgir nas vossas

323

Tal como já disse noutras histórias, a posição geográfica da

cadeira de madeira em relação ao espaço físico onde está

colocada não é exacta. (T. V. T. N. A.) (Trizentima Vigésima

Terceira Nota do Autor)

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pequenas mentes. Tomei também a liberdade de colocar

apenas as respostas.

1 – Não, a história não se passa na Inglaterra. Eu sei

que parece que é mas não é.324 Também acho.

2 – A acção está centrada na acção do João que já foi

irreal mas agora existe outra vez. Se lerem o título,

aperceber-se-ão de que tal como o título o diz, o João

que já foi irreal mas agora existe outra vez estava na

floresta de Chairwood. Portanto, bastava-me ter escrito a

primeira frase e o objectivo da história estaria cumprido.

Só que como eu sou uma pessoa simpática, decidi ir um

pouco mais longe. Mas só o suficiente para descrever a

acção à volta do João que já foi irreal mas agora existe

outra vez. O título da história era “O JOÃO QUE JÁ

FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ NA

FLORESTA DE CHAIRWOOD” e não “O JOÃO QUE

JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE OUTRA VEZ

NA FLORESTA DE CHAIRWOOD ASSISTINDO A

UM COMBATE SANGRENTO E VIOLENTO ENTRE

O XERIFE E O CARA QUE ROUBAVA A QUEM

TINHA PARA DAR A QUEM NÃO TINHA QUE IA

ENTRAR NO TERCEIRO ROUND E QUANDO

COMEÇASSE, O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS

AGORA EXISTE OUTRA VEZ VAI-SE EMBORA”.

Habituem-se àquilo que eu vos dou que é muito bom.

- Oi.325

324

Que má frase. (T. V. Q. N. A.) (Trizentima Vigésima Quarta

Nota do Autor) 325

A única fala do personagem nesta história. Ou depois dela, não

interessa. Sem qualquer sentido útil, mas quem é que disse que

isto era uma ferramenta ou um antibiótico? (T. V. Q. N. A.)

Trizentima Vigésima Quinta Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez estava fazendo um aquecimento

para iniciar sua prestação na prova de atletismo.

- Oi! Oi! Pera aí! Eu tou fazendo o quê?

Estás a fazer um aquecimento.

- Com esse calorão? Cê tá maluco?

É aquecer no sentido de te prepares.

- De me preparar para o quê?

Para uma prova de atletismo. É logo a primeira frase

da história. Não me digas que não viste.

- Vi. Mas pensei que fosse depois.

Não é depois. É agora.

- Eu acho isso uma tremenda falta de

responsabilidade.

O quê?

- Marcar a prova assim de repente sem me dar

tempo para mim de estudar.

Estudar o quê?

- Nossa! Você hoje está lento! Estudar para a prova.

Mas tu queres estudar o quê? Isto é só para correr.

- Como assim? É só correr e passo?

Sim. Tens é que chegar em primeiro.

- Quantos concorrentes é que são?

Dez. A contar contigo.

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- Assim fica mais difícil. Não posso ser só eu?

Não.

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez foi parar na linha de partida. O juiz estava prestes a

dar a partida. Foi então que o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez reparou numa coisa.

- Reparei numa coisa.

Mas tu tens que reparar em tudo?

- Foi você que disse que eu tinha reparado.

“Fui eu que disse. Fui eu que disse”326 Que raio de

desculpa é essa?

- Não é desculpa, não. Foi você que disse.

Reparaste em alguma coisa?

- Não.

Não reparaste que os outros atletas estão nus?

- Pensei que estivessem com um uniforme bem

curtinho.

- Sabes o que tens a fazer, não sabes?

- Não. O quê?

Tens que tirar a roupa.

- Porquê?

Porque é um sinal de pureza.

- Não é pobreza que você tá querendo dizer?

Não. É pureza. O desprendimento total das coisas

materiais. A união entre o Homem e o seu espírito.

- É pobreza mesmo.

Não interessa. Tiras a roupa

- Não.

Então adeus.

326

Deve-se ler com um tom sarcástico. (T. V. S. N. A.)

(Trizentima Vigésima Sexta Nota do Autor)

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Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez foi desclassificado e foi-se embora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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(INCLUI CAMEO DO RAPAZ DO QUISTO)

Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez viu-se subitamente transportado

para um local que ele já não via fazia muito tempo.327

Havia sido aí que o João que já foi irreal mas agora

existe outra vez sofrera sua primeira transformação física

nas mãos do cara da armadura azul com riscas amarelas.

Nessa altura,328 o João que já foi irreal mas agora

existe outra vez era apenas329 o pequeno João330 e andava

fugindo do rapaz do quisto.

Pausa para breve rectificação

Tal como tinha anunciado no entre parêntesis depois

327

Não gosto de parágrafos introdutórios. Aqui é sempre a abrir.

(T. V. S. N. A.) (Trizentima Vigésima Sétima Nota do Autor) 328

Não considerem isto como um flashback. É apenas para

aqueles incultos que não leram o primeiro livro perceberem. (T.

V. O. N. A.) (Trizentima Vigésima Oitava Nota do Autor) 329

A palavra “apenas” não implica inferioridade em relação ao

seu estado actual. (T. V. N. N. A.) (Trizentima Vigésima Nona

Nota do Autor) 330

Até porque não houve uma evolução assim tão grande. (T. T.

N. A.) (Trizentima Trigésima Nota do Autor)

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do título, aqui está a participação relâmpago do rapaz do

quisto.

De volta à história… 331

Sim.332

Por isso mesmo. Foi tipo um relâmpago. Vush!333

Sim. Tu só vês um relâmpago a passar, não o vês a

ficar ou vês?334

Olha se continuas assim, mas vale ficarmos por

aqui.335

Um relâmpago quando passa deixa rasto, não é?336

Ora, aí é que tu te enganas. Pois olha à tua volta. Vê

como as paredes estão destruídas e o castelo cheio de

teias de aranha. Queres melhor prova que o rapaz do

quisto esteve aqui?337

Claro que não. Foi ainda há bocado.338

331

Chamas a isso uma participação relâmpago? (T. T. P. N. A.)

(Trizentima Trigésima Primeira Nota do Autor) 332

Mas ele nem chegou a aparecer! (T. T. S. N. A.) (Trizentima

Trigésima Segunda Nota do Autor) 333

Vush? (T. T. T. N. A.) (Trizentima Trigésima Terceira Nota do

Autor) 334

Vush? (T. T. Q. N. A.) (Trizentima Trigésima Quarta Nota do

Autor) 335

Não, espera. Diz lá outra vez. (T. T. Q. N. A.) (Trizentima

Trigésima Quinta Nota do Autor) 336

Sim, o que não é o caso. (T. T. S. N. A.) (Trizentima

Trigésima Sexta Nota do Autor) 337

Que ele esteve aqui, sei eu. Só não foi agora. (T. T. S. N. A.)

(Trizentima Trigésima Sétima Nota do Autor) 338

Não percebo. (T. T. O. N. A.) (Trizentima Trigésima Oitava

Nota do Autor)

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É muito simples. Se ele esteve aqui uma vez, é

natural que ninguém tenha voltado aqui com medo de

encontrar novamente. Por isso é que o castelo está

abandonado.

- Nesse caso, o que estou fazendo aqui?

(Acordou agora este.)

Não te preocupes que ele já não aparece mais.339

Podemos continuar ou não?

- Vamos nessa.340

Aí surgiu o actual proprietário do castelo. O temível

Marquês do Sado.341

Uma vírgula aonde?342

Ó inteligência! E depois ficava o “O” grande a

seguir à vírgula? Queres que os leitores pensem que nós

não temos cuidado com a ortografia?

- Por favor! Importam-se de me dar atenção?

Aguenta os cavalos um bocadinho!

- Assim não dá. Ó miúdo!

- Quem, eu?

- Sim, tu. Vai-me ali comprar uma caixa de

parafusos. Dos maiores que tiverem

- Tá bom.

- Diz que é para pôr na minha conta.

339

Mas ele não apareceu ainda sequer. (T. T. N. N. A.)

(Trizentima Trigésima Nona Nota do Autor) 340

Vá lá. (T. Q. N. A.) (Trizentima Quadragésima Nota do

Autor) 341

Acho que devias ter posto uma vírgula em vez de um ponto.

(T. Q. P. N. A.) (Trizentima Quadragésima Primeira Nota do

Autor) 342

Depois de “castelo”. (T. Q. S. N. A.) (Trizentima

Quadragésima Segunda Nota do Autor)

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Não vais nada lá. Ficas aí.

- Vai sim porque eu mandei.

Mas quem é que tu pensas que és?

- Eu sou o protagonista desta história! Exijo que me

tratem com respeito!

Começas a falar muito e a gente vai-se embora e

pomos aqui o rapaz do quisto!

- Não! Eu… eu não sei o que me deu. Foi qualquer

coisa que… eu não queria dizer isto.

Tarde demais.

Aí, todo o mundo foi-se embora, menos o Marquês

do Sado e o rapaz do quisto que passou de uma

participação relâmpago para uma aparição permanente.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

Depois disto, o Marquês do Sado saiu para ir

comprar parafusos e nunca mais voltou. O rapaz do

quisto continua aguardando pelo seu regresso com

impaciência.

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Num belo dia de Verão, ainda longe do Outono, o João

que já foi irreal mas agora existe outra vez estava à beira

do mar observando o horizonte. Até agora não tinha

visto nada pois o horizonte era sempre o mesmo. Mas, a

sua capacidade de percepção estava com níveis tão

elevados que qualquer coisinha que passasse no

hemisfério perante os seus olhos seria o suficiente para

despoletar um gatilho no seu cérebro e captar a sua

atenção.

Infelizmente, não era isso que estava acontecendo. A

mosca estava zumbindo no ouvido do João que já foi

irreal mas agora existe outra vez fazia tempo e ele não

fazia nada para a mandar embora. Talvez só mesmo os

grandes eventos tomassem a sua atenção. Talvez ele

estivesse num plano acima de nós, comuns mortais.343

O quê?344

Por acaso ainda não.

Ei tu! Estás a dormir?345

343

Ou talvez estivesse a dormir. (T. Q. T. N. A.) (Trizentima

Quadragésima Terceira Nota do Autor) 344

Já pensaste nisso? (T. Q. Q. N. A.) (Trizentima Quadragésima

Quarta Nota do Autor)

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- Eu? Não. Estava apenas concentrado.346

E viste alguma coisa de interessante?

- Não sei. Tem ali qualquer coisa ali bem no fundo

que eu não sei bem o que é.

Achas que é uma ilha?

- Não sei.

Queres ir lá ver?

- Tá bom.347

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez viu-se transportado para aquela coisa ao bem no

fundo que ele não sabia bem o que era, mas que era

afinal uma ilha e já não estava ao fundo uma vez que o

João que já foi irreal mas agora existe outra vez estava

agora lá. Estranhamente, o horizonte continuava no

mesmo sítio.

- E a agora? O que é que eu faço?

Não sei. O que é que diz o título?348é isso! Tens que

procurar o baú com o tesouro.

345

Eis que se deve chamar uma pergunta estúpida. Se ele não

responder é porque está dormir. Se responder, será que está a

dormir ou só a fingir. A escolha é sua. Use o fórum do pequeno

João. Quando este for criado… (T. Q. Q. N. A.) (Trizentima

Quadragésima Quinta Nota do Autor) 346

Parece que me enganei. (T. Q. S. N. A.) (Trizentima

Quadragésima Sexta Nota do Autor) 347

Que péssima introdução. (T. Q. S. N. A.) (Trizentima

Quadragésima Sétima Nota do Autor) 348

O JOÃO QUE JÁ FOI IRREAL MAS AGORA EXISTE

OUTRA VEZ NA ILHA DO TESOURO. (T. Q. O. N. A.)

(Trizentima Quadragésima Oitava Nota do Autor)

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- Mas como?! Essa ilha é enorme!349

Só tens de procurar o “x”.

- Boa ideia!

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez começou procurando pelo “x” que marcava o baú do

com o tesouro.350sim?351

E?352lá tinhas de vir tu com o teu espírito

negativo!353

- Você não é o único.

Cala-te e procura!

Aí o João que já foi irreal mas agora existe outra vez

continuou procurando até que encontrou um baú com a

letra “x” gravada na tampa.354

Cala-te! 355

Tu! Abre a arca!

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez abriu a arca e perante os seus olhos surgiu uma

montanha de acções de grandes empresas.

349

Olha, se isto é a tua maneira de tornares esta história num

épico de grandes dimensões, terás de fazer melhor. (T. Q. N. N.

A.) (Trizentima Quadragésima Nona do Autor) 350

Eu não queria ser chato nem nada, mas… (T. Q. N. A.)

(Trizentima Quinquagésima Nota do Autor) 351

Normalmente o “x” vem no mapa. (T. Q. P. N. A.) (Trizentima

Quinquagésima Primeira Nota do Autor) 352

Bom, uma vez que não temos mapa, pensei que… (T. Q. S. N.

A.) (Trizentima Quinquagésima Segunda Nota do Autor) 353

Só acho que estamos a perder tempo. (T. Q. T. N. A.)

(Trizentima Quinquagésima Terceira Nota do Autor) 354

Tu és mesmo… (T. Q. Q. N. A.) (Trizentima Quinquagésima

Quarta Nota do Autor) 355

Eu terei a minha vingança. (T. Q. Q. N. A.) (Trizentima

Quinquagésima Quinta Nota do Autor)

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O João que já foi irreal mas agora existe outra vez e

o autor da história estavam ricos!356

Infelizmente o quê?357

De volta ao seu estatuto económico nulo, o João que

já foi irreal mas agora existe outra vez regressou ao

outro lado e continuou observando o horizonte.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

356

Infelizmente… as acções estavam fora de prazo. (T. Q. S. N.

A.) (Trizentima Quinquagésima Sexta Nota do Autor) 357

Eu disse-te que ia ter a minha vingança. (T. Q. S. N. A.)

(Trizentima Quinquagésima Sétima Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez continuava observando o

horizonte tal como fizera na história anterior.358

Aí, farto de fazer isso, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez resolveu erguer seu corpo e

caminhar ao longo da margem. O João que já foi irreal

mas agora existe outra vez foi caminhando e dentro de

pouco tempo chegou numa floresta.

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez olhou em volta e não viu ninguém. Nem gente, nem

animal. Nada. O João que já foi irreal mas agora existe

outra vez não sabia o que estava acontecendo mas a

resposta era simples: os animais haviam sido todos

devorados pelos humanos que depois de tão farta

refeição haviam caído num sono profundo.

- E agora o que é que eu como?

O instinto começava a fazer-se notar. Seria a fera

que tomava o lugar do homem? Seria o ar ancestral da

floresta que despertava nele um sentimento de ligação

com a natureza? Algo que todos nós possuímos, mas

esquecemos como usar?

358

O exactamente refere-se à actividade e não à posição. (T. Q.

O. N. A.) (Trizentima Quinquagésima Oitava Nota do Autor)

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- Não é nada disso! É mesmo fome que eu tenho!

Mas não te sentes um bocadinho em comunhão com

o espaço envolvente?

- Não! Eu quero é comer!

Prontos! Vai lá comer…

Eu bem tento dar um sentido diferente, mas isto vai

sempre dar ao mesmo.

O que é queres comer?

- Não sei. O que é que tem?

Aí, antes que o narrador pudesse responder, surgiu

um bando de homens barbudos e fortes.

- Não viste aí nenhum gambozino?

- Nenhum quê?

- Gambozino. É um bicho assim redondo. Deste

tamanho. Mais ou menos. Com pêlo.

- Não vi, não. O que é que cês querem fazer com

eles?

- Comê-los.

- A carne de gambozinos é boa?

- Ó! Maravilha! É de se lhe tirar o chapéu!

- Mas nenhum de vocês está usando chapéu.

- Mas se estivéssemos, tirávamos.

Qual é o objectivo de ter um chapéu e depois tirá-lo?

Para isso mais vale não ter.

- Você já provou para saber que é boa?

- Não. Mas já me disseram que é.

- O que é que você acha?

Podes comer.359

Cala-te.

359

Não lhe vais contar a história dos gambozinos? (T. Q. N. N.

A.) (Trizentima Quinquagésima Nona Nota do Autor)

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- Que história dos gambozinos?

Nada. Não ligues.

Tu deixa-te estar calado!360

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez seguiu o bando de caçadores pela floresta. Cada um

com o seu saco de apanhar gambozinos.361

Está bem! Eu conto!

- Conta o quê?

Eu menti-te acerca dos gambozinos.

- Você mentiu?

Sim. Os gambozinos não… não…

- Os gambozinos não… não quê?

Os gambozinos… não…362não prestam para comer.

- Não!

Não. São muito duros. E picam na língua.

- Tá bom. Então arranje outra coisa.

OK.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 363

Nunca estás contente com nada, tu.

360

Já não digo nada. (T. S. N. A.) (Trizentima Sexagésima Nota

do Autor) 361

Eu acho que devias contar-lhe. (T. S. P. N. A.) (Trizentima

Sexagésima Primeira Nota do Autor) 362

Desembucha! (T. S. S. N. A.) (Trizentima Sexagésima

Segunda Nota do Autor) 363

Sabes que não era isso que devias ter contado. (T. S. T. N. A.)

(Trizentima Sexagésima Terceira Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João que já foi irreal mas

agora existe outra vez estava com uma vontade enorme

de sambar.

- Quem foi que disse isso?

Mau! Ainda agora comecei e já tás a reclamar?

Aguenta só um bocadinho. Já só faltam duas histórias

para o fim do livro.364

Como assim “que livro?”? Este livro.365

Porque me apeteceu. Não posso?366

Mas porque é que havia de ser por fascículos?367

Estás-te a esquecer duma coisa.368

Eu não faço isto por dinheiro. 369

364

Que livro? (T. S. Q. N. A.) (Trizentima Sexagésima Quarta

Nota do Autor) 365

Porque é que puseste dois pontos de interrogação? (T. S. Q. N.

A.) (Trizentima Sexagésima Quinta Nota do Autor) 366

É só porque eu pensava que isto era por fascículos. (T. S. S. N.

A.) (Trizentima Sexagésima Sexta Nota do Autor) 367

Dava mais dinheiro. (T. S. S. N. A.) (Trizentima Sexagésima

Sétima Nota do Autor) 368

Do quê? (T. S. O. N. A.) (Trizentima Sexagésima Oitava Nota

do Autor) 369

Deve ser lido com uma entoação altiva e pomposa. (T. S. N.

N. A.) (Trizentima Sexagésima Nona Nota do Autor)

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Pausa para o autor calcular o lucro que poderia ter

obtido se tivesse lançado a primeira história a sessenta

cêntimos e as restantes a oitenta e a encadernação a

quatro euros e depois chorar se o resultado for bom ou

suspirar de alívio se até não for nada por aí além

Fim da pausa para o autor calcular o lucro que

poderia ter obtido se tivesse lançado a primeira história a

sessenta cêntimos e as restantes a oitenta e a

encadernação a quatro euros e depois chorar se o

resultado for bom ou suspirar de alívio se até não for

nada por aí além

- Se você disse que não está fazendo isso pelo

dinheiro, porque é que fez essa pausa?

Foi para ver o preço da minha convicção. 370

Diz.371

- Não podemos ir tortos?372

Ei! Quem faz as piadas aqui sou eu!

Aí, o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez foi parar no meio de um desfile de samba.

- Ei! Me tirem daqui!

370

Sabem uma coisa? (T. S. N. A.) (Trizentima Septuagésima

Nota do Autor) 371

Pensei que talvez por estarmos tão perto do fim, pudéssemos

ir direitos à história. (T. S. P. N. A.) (Trizentima Septuagésima

Primeira Nota do Autor) 372

Pausa para o autor e eu lamentarmos a má piada. (T. S. S. N.

A.) (Trizentima Septuagésima Segunda Nota do Autor)

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Aproveita mas é!

- Ei! Me tirem daqui!

Não sabes outra frase? 373

E o que é que sugeres?374

É que o Carnaval do Rio só sugere samba.375

Não devo ter mais nada para fazer.376

Bem dito.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

377

Para quê se isto mal teve início?

- Adeus!

E tu cala-te!

373

Eu também não acho que esta história do samba tenha muita

piada. (T. S. T. N. A.) (Trizentima Septuagésima Terceira Nota

do Autor) 374

Não sei. (T. S. Q. N. A.) (Trizentima Septuagésima Quarta

Nota do Autor) 375

Podias fazer uma história sobre a estratificação social. (T. S.

Q. N. A.) (Trizentima Septuagésima Quinta Nota do Autor) 376

Então acaba. Se é para estarmos a enrolar, mais vale ficarmos

por aqui. (T. S. S. N. A.) (Trizentima Septuagésima Sexta Nota

do Autor) 377

Podias ter posto uma frase de conclusão. (T. S. S. N. A.)

(Trizentima Septuagésima Sétima Nota do Autor)

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Não sei se foi num belo dia de Verão ou não que isto

aconteceu, o que eu sei é que assim que escrevi este

título apercebi-me que não valia a pena continuar.

Não sei onde é que ele foi parar (juro!) mas, uma

vez que ele não se encontra mais connosco, já não tenho

que me preocupar se isto fica bom ou não. (Até porque

nunca me preocupei com isso antes.)

Adeus e obrigado pelo tempo dispensado.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Ajuda o João sem vida a descobrir as sete diferenças

entre a vida e a morte.

VIDA

MORTE

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Ajudem o novo João reencarnado a chegar à

sanidade mental.

A

B

C

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Ajuda o João que já foi irreal mas agora existe outra

vez a solucionar estes enigmas:

1 – Qual o número que adicionado a dez dá um e

depois multiplicado por dois, dá metade do número

inicial?

2 – Como é que a galinha e o ovo apareceram sem

um galo?

3 – Qual a cor que misturada com verde dá

vermelho?

4 – Qual a diferença entre uma pergunta e uma

questão?

5 – Porque é que as ambulâncias chamam-se

ambulâncias e não retro-escavadoras?

6 – Porque é que estão a perder tempo a responder a

isto?